cairbar schutel - vida e atos dos apóstolos (1)

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www.autoresespiritasclassicos.com Cairbar Schutel Vida e Atos dos Apóstolos 1ª Edição - 1933 Composto e Impresso por: Gráfica da Casa Editora o Clarim (Propriedade do Centro Espírita “Amantes da Pobreza”) C.G.C. 52313780/0001-23 Inscr. Est. 441002767116 Fone: (0xx16) 282-1066 – Fax: (0xx16) 282-1647 Rua Rui Barbosa, 1070 – Cx. Postal, 09 CEP 15990-000 – Matão – SP Home page: http://www.oclarim.com.br E-mail: [email protected] 1

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Cairbar Schutel - Vida e atos dos Apstolos

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Vida e Atos dos Apstolos

1 Edio - 1933

Composto e Impresso por:

Grfica da Casa Editora o Clarim

(Propriedade do Centro Esprita Amantes da Pobreza)

C.G.C. 52313780/0001-23

Inscr. Est. 441002767116

Fone: (0xx16) 282-1066 Fax: (0xx16) 282-1647

Rua Rui Barbosa, 1070 Cx. Postal, 09

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Contedo resumidoTrata-se de compilao dos "Atos dos Apstolos", comentada e ampliada pelo Autor com dados histricos obtidos sobre a vida daqueles discpulos de Jesus Apstolo e sua ao.Sumrio

Prefcio

Atos dos Apstolos / 08Exegese Histrica dos Atos dos Apstolos / 09O Esprito Santo e a Ascenso de Jesus / 12A Eleio de um Apstolo em Jerusalm / 17O Dia de Pentecostes A Difuso do Esprito / 20O Discurso de Pedro A Profecia de Joel / 24A Cura de um Coxo e o Discurso de Pedro / 30A Priso de Pedro e Joo / 33Pedro e Joo Perante o Sindrio / 36A Impotncia do Sindrio Pedro e Joo Soltos / 38Comunidade Crist / 41Ananias e Safira / 46

Os Milagres e as Curas A Priso dos Apstolos / 50O Parecer de Gamaliel / 55Dispenseiros da Comuna / 58Estevo no Sindrio / 61A Defesa de Estevo e sua Morte / 63Grande Perseguio Contra os Cristos / 69A Ao de Filipe Converso de Simo, O Mago / 73Chegada de Pedro e Joo a Samaria Exortao a Simo / 75A Ao de Joo Evangelista / 80Filipe e o Eunuco de Candace / 84Converso de Saulo / 89A Viso de Ananias A Viso de Saulo O Esprito das Instrues / 92Estria do Novo Apstolo Paulo em Damasco e Jerusalm / 95Pedro Cura a Enias / 99Pedro Ressuscita a Dorcas / 101As Vises de Cornlio e Pedro Recomendaes do

Esprito Mensageiro / 103Dissenes Partidrias A Palavra de Pedra / 106A Propaganda na Disperso Paulo na Antioquia / 108Fala Agabo Profetizando uma Fome / 110A Morte de Tiago Pedra Novamente Preso Maravilhosas Manifestaes na Priso / 111Morte de Herodes / 114Instrues do Esprito Excurso de Propaganda / 115O Proconsul Srgio Paulo Elymas, O Falso Profeta / 117Discurso de Paulo em Antioquia / 119Paulo e Barnab se Dirigem aos Gentios / 122Os Distrbios em Iconio Paulo e Barnab em Iconio e Lystra / 124Poder e Humildade dos Apstolos A Cura do Coxo / 126Regresso de Paulo e Barnab / 129Incio das querelas dogmticas / 131Nova Excurso de Paulo / 138A Viso em Trade / 140Fenmenos Surpreendentes na Priso da Macednia Converso do Carcereiro Atitude dos Apstolos / 144Paulo e Silas em Tessalnica / 148Os Sucessos de Bera / 151Paulo em Atenas O Discurso no Arepago / 153Paulo em Corinto / 158Paulo no Tribunal do Procncul de Achaia / 161Breve Excurso de Paulo / 163Apolo chega a feso / 164Paulo em feso Recepo do Esprito / 166Paulo na Escola de Tirano Os Prodgios da Religio / 169Os Judeus Exorcistas Os Filhos de Sceva / 172Demtrio e a Diana dos Efsios / 175Paulo vai de Novo a Macednia e a Grecia O Sono de Eutico / 178A Viagem de Paulo a Mileto / 180Paulo e seus Companheiros em Tiro e Cesaria Quatro Profetisas, Filhas de Filipe / 184A Chegada de Paulo a Jerusalm / 187Paulo Arrastado do Templo e Preso / 189A Orao de Paulo e sua Defesa / 191Paulo Perante o Sindrio / 194O Senhor Aparece a Paulo / 198A Cilada dos Judeus Denncia do Sobrinho de Paulo / 200Paulo no Pretrio de Herodes Acusao de Ananias e Tertulo / 204A Defesa de Paulo A Ressurreio dos Mortos / 207Ao de Paulo ante Felix e Drusila / 210Paulo Perante Festo apela para Csar / 213A Exposio de Festo ao Rei Agripa / 215Paulo Fala ao Rei Agripa / 218A Viagem para a Itlia Previses de Paulo O Aviso de Jesus / 221Na Ilha de Malta Paulo e a Vbora O Acolhimento dos Indgenas / 225Prosseguimento da Viagem Siracusa Puteoli e Roma / 228Paulo convoca os Judeus e Prega em Roma / 230Os Apstolos de Jesus / 233Mateus / 241Andr e Bartolomeu / 243Filipe e Tom / 245Simo Judas e Matias / 247Os Apstolos Marcos e Barnab / 251Concluso / 254PREFCIO

Vida e Atos dos Apstolos uma compilao de Atos dos Apstolos comentada e ampliada com dados histricos que pudemos obter sobre a vida dos Apstolos e sua ao sob os auspcios dos Espritos mensageiros de Deus, ante a suprema direo de Jesus Cristo.

Esforamo-nos o quanto nos foi possvel para dar nesta obra uma interpretao espiritual sobre a Doutrina que os Discpulos de Jesus anunciaram e pela qual viveram e se sacrificaram.

De acordo com a orientao Esprita, que tem por fim restabelecer a Religio de Jesus Cristo, desnaturada pelos papas e conclios, a Vida e Atos dos Apstolos vem revestida de uma exegese nova, em harmonia com a lgica, a razo, e os fatos, que constituem o seu princpio fundamental. uma obra didtica para os estudantes do Novo Testamento que, estamos certos, encontraro nela, novas luzes para se aproximarem da Verdade e bem se orientarem no Caminho que vai ter a Jesus, o supremo autor e consumador da F.

Vida e Atos dos Apstolos foi escrita ao correr da pena, em um ms e cinco dias numa poca de lutas intestinas que ensangentaram o solo paulista.

Os leitores devem encontrar nela muitas lacunas que nos teriam passado desapercebidas. Alm disso, a nossa incompetncia intelectual no nos permitia fazer obra de mestre. Mas esforamo-nos tanto quanto nos foi possvel para, dceis s inspiraes dos Caros Espritos que dirigem o nosso movimento, expor com clareza e preciso, o que sabamos sobre os Apstolos, bem como fazer um estudo sinttico das elucidaes doutrinrias, pondo de lado dissertaes inteis e logomaquias vs.

Se esta obra alcanar o fim a que se destina, isto , esclarecer de certo modo a vida e os atos dos Apstolos, e guiar mesmo que seja uma nica alma para Deus, ns nos daremos por felizes. Mato, 3 de outubro de 1932.

ATOS DOS APSTOLOS

Atos dos Apstolos um dos livros do Novo Testamento, escrito em grego pelo Evangelista Lucas, o autor do 3o Evangelho. Esse livro contm a histria do Cristianismo, desde a ascenso de Jesus Cristo, at a chegada de Paulo, em Roma, segundo dizem, no ano 63. Parece ser a continuao do referido Evangelho tambm dedicado a Tefilo. Consta de 28 captulos.

Se quisssemos resumi-lo, nele veramos a histria da fundao dos primeiros ncleos cristos (Igrejas) at a morte de Herodes; o cumprimento de muitas promessas do Cristo; a prova da ressurreio e aparies do Divino Mestre; a difuso do Esprito no Cenculo de Jerusalm; o desinteresse, a caridade dos primeiros Apstolos, enfim, o que sucedeu a estes at a sua disperso, para pregarem o Evangelho em todos os lugares ao seu alcance.

O Evangelista Lucas, foi um dos grandes discpulos de Paulo. Nascido na Antioquia, exercia a medicina e afirmam ter sido um bom artista. Da o haverem-no escolhido os mdicos por seu Patrono. Mas o principal de Lucas no ter sido mdico, mas sim um grande Apstolo do Cristianismo nascente. Pelo seu Evangelho e Atos, v-se que era um homem ilustrado, de vistas largas, pois bem interpretava o movimento de reforma religiosa que se operou em seu tempo, movimento que mereceu todo o seu auxilio prestado Causa Crist com rara abnegao.

Foram unicamente estes os dados mais acertados que conseguimos obter sobre to ilustre personalidade, que assinalou sua passagem pela Terra como um super-homem, entidade dotada, pelo que se v, de faculdades admirveis que eram as insgnias de to ilustre quo elevado Esprito.

EXEGESE HISTRICA DOS ATOS DOS APSTOLOS

No primeiro livro relatei, Tefilo, todas as coisas a fazer e a ensinar, at o dia que foi recebido em cima, depois de haver, dado preceitos pelo Esprito Santo aos Apstolos que escolhera; aos quais Ele tambm, depois de haver padecido, apresentou-se vivo, dando disto muitas provas, aparecendo-lhes por espao de quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus. Atos, I 1 4.

A leitura e meditao dos Atos dos Apstolos, assim como acontece com todos os livros do Novo Testamento, nos proporcionam agradveis momentos de instruo e, ao mesmo tempo, de consolao.

Muitas proposies ressaltam aos nossos olhos, ao abrir este livro, pequenino na verdade, mas grande no seu extraordinrio escopo de levar a todos os lares os dados histricos da Misso Apostlica, em suas fases gloriosa e dolorosa, mas sempre proveitosas aos extraordinrios seguidores do Ressuscitado da Galilia e bem assim queles que quiseram e aos que querem seguir-lhes as pegadas.

O que logo ressalta s nossas vistas nesta tirada de Lucas, a confirmao que o ilustre Evangelista faz do primeiro livro por ele escrito, ou seja, do 3o Evangelho, em que h tudo o que necessrio fazer e ensinar sobre os Preceitos de Jesus, desde o nascimento do Senhor em Belm, at o dia de sua ascenso, inclusive as lies recebidas durante os quarenta dias em que o Mestre esteve com eles, aparecendo-lhes por esse espao de tempo aps sua morte.

Este fato das aparies de Jesus, relatado por todos os Evangelistas e confirmado nas diversas Epstolas inseridas no Novo Testamento, muito significativo e no pode deixar de constituir a base fundamental da Religio Crist, como j temos dito em outras obras.

Essas aparies so as provas positivas da continuidade da Vida do Divino Mestre e, portanto, do prosseguimento da sua Misso, tal como Ele mesmo declarou, segundo refere o Evangelista Joo: No vos deixarei rfos, eu voltarei a vs. Ainda um pouco, e depois o mundo no me ver mais, mas vs me vereis, porque eu vivo e vs vivereis. (XIV, 19). Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse o que me ama; e aquele que me ama ser amado de meu Pai, e eu o amarei e ME MANIFESTAREI A ELE (XIV, 21).

O ltimo trecho a recomendao solene do Mestre para que eles no sassem de Jerusalm, a fim de esperarem a promessa feita pelo Pai, a qual (disse Ele) de mim ouvistes. Essa promessa se refere difuso do Esprito, bem caracterizada primeiramente no cap. VII, 37 39 de Joo: No ltimo, no grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se algum tiver sede, venha a mim e beba. Quem cr em mim, como disse a Escritura, do seu interior manaro rios de gua viva. Disse isto a respeito do Esprito que iam receber os que nele cressem, porque o Esprito ainda no fora dado, pois, Jesus no tinha sido ainda glorificado, E depois nos captulos: XIV Se me amais, guardai os meus mandamentos, e eu rogarei ao Pai, Ele vos dar outro Parcleto, a fim de que fique sempre convosco; o Esprito de Verdade, que o mundo no pode receber, porque no o v, nem o conhece; vs o conheceis, porque Ele habita convosco e estar em vs (15,17). Eu vos tenho falado estas cousas, estando ainda convosco; mas o Parcleto, o Esprito Santo, a quem o Pai enviar em meu nome, esse vos ensinar todas as coisas e vos far lembrar de tudo o que eu vos disse (25, 26). Cap. XV: Quando, porm, vier o Parcleto, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Esprito da Verdade, que procede do Pai, esse dar testemunho de mim; e vs tambm dareis testemunho porque estais comigo desde o princpio (26, 27). Cap. XVI: Ainda tenho muitas coisas que vos dizer, mas vs no as podeis suportar agora; quando vier, porm, aquele Esprito de Verdade, ele vos guiar em toda a verdade; porque no falar de si mesmo, mas dir o que tiver ouvido e vos anunciar as coisas que esto para vir. Ele me glorificar porque h de receber do que meu e vo-lo h de anunciar (12-14).

Na parte final do trecho acima transcrito, ns observamos a ntima ligao existente, entre a vinda do Parcleto e o Batismo referido pelo Batista: Eu vos batizei com gua, mas atrs de mim vem quem vos batizar com o Esprito Santo e com fogo (Mateus, III, 11).

Jesus confirma o que disse Joo Batista: Porque Joo, na verdade, batizou com gua, mas vs sereis batizados com o Esprito Santo dentro de poucos dias (Atos, 1, v. 5).

O ESPIRITO SANTO E A ASCENSO DE JESUS

Eles, pois, estando reunidos outra vez, perguntaram-lhe: Senhor, agora, porventura, que restabeleces o reino de Israel? E Ele lhes respondeu: A vs no vos compete saber os tempos e as pocas, que o Pai fixou por sua prpria autoridade; mas recebereis poder, ao descer sobre vs o Esprito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm, como em toda a Judia e Samaria, e at as extremidades da Terra, E tendo dito estas coisas, foi Jesus elevado vista deles, e uma nuvem o recebeu e ocultou aos seus olhos. E estando eles com os olhos fitos no cu enquanto Ele subia, eis que dois vares com vestiduras brancas se puseram ao lado deles, e lhes perguntaram: Galileus, porque estais olhando para o cu? Esse Jesus que dentre vs foi recebido no cu, assim vir do modo como o viste ir para o cu. (Atos, I v. 6 a 11) .

Em uma obra anterior, fizemos esclarecimentos a respeito da palavra Esprito Santo, que a cada passo se encontra nos Evangelhos.

No ser demais, entretanto, estendermo-nos em certas consideraes a esse respeito, para que os leitores melhor compreendam o sentido das Escrituras, especialmente os Atos dos Apstolos que nos propomos a respigar.

As antigas Escrituras no continham o qualificativo santo quando se falava do Esprito.

Todos os Apstolos reconheciam a existncia de Espritos, mas entre estes, bons e maus.

No Evangelho de Lucas, X, l-se: Aquele que pede, obtm; o que procura, acha; abrir-se- ao que bater; se vs sendo maus sabeis dar boas ddivas aos vossos filhos, com muito mais forte razo vosso Pai enviar do Cu um bom Esprito queles que o pedirem. (10 a 13).

Foi s com a traduo das antigas Escrituras e constituio da Vulgata que esse qualificativo foi acrescentado, com certeza para fortificar o Mistrio da Santssima Trindade, tirado de uma lenda hindu, aventado por comentadores das Escrituras, que desde logo aps a morte de Jesus, viviam em querelas, em discusses sobre modos de se interpretar as Escrituras. Essa mesma Trindade que foi proclamada como artigo de f, pelo Conclio de Nicia, em 325, aps ter sido rejeitada por trs conclios.

O mistrio da S. S. Trindade veio criar uma doutrina nova sobre a concepo do Esprito, atribuindo a este, quando revestido do qualificativo Santo, um ser misterioso, incriado, tambm Deus e coeterno com o Pai.

Desvirtuada por completo de sua verdadeira significao, a promessa de Jesus no representa para as Igrejas Romana e Protestante, a difuso do Esprito, ou antes dos Espritos, que, por ordem de Deus e enviados por Jesus, viriam restabelecer todas as coisas, mas sim um dom sobrenatural, um movimento de crebro e de corao que Deus operou unicamente nos Apstolos, no dia de Pentecostes.

Ns vamos ver adiante, pelo enredo dos trechos dos Atos, que esta doutrina absolutamente errnea, no s errnea como tambm obstrutiva dos princpios cristos, inutilizando por completo as Palavras de Jesus, sua vida e os Ensinos Apostlicos, nicos capazes de quando recebidos em sua verdadeira significao, transformar o homem, guiando-o bem aos seus destinos imortais.

Para maior esclarecimento desta tese, convidamos o leitor a consultar a importante obra de Lon Denis Cristianismo e Espiritismo, lendo, com especialidade, o 4o, 5o, e 6o cap. desta obra, bem como a 6a Nota Complementar.

Ao estudar a Bblia, todo o juzo preconcebido nos obscurece o entendimento.

O qualificativo Santo que se encontra na Bblia para designar esprito bom, no deve absolutamente, ser interpretado como um ente misterioso, sibilino, que constitui a 3a pessoa da S. S. Trindade. Mas sim, como sendo um Esprito adiantado, de bondade, de amor e sabedoria.

Ns vemos, por exemplo, no Antigo Testamento (Daniel, XIII, 45), a seguinte notcia: O Senhor suscitou o esprito santo de um moo chamado Daniel.

Por a se conclui claramente, que, tratando a Bblia, em sua moderna publicao, de Esprito Santo, o qualificativo santo representa as qualidades superiores de um indivduo.

bom que os leitores tomem nota desta elucidao, pois, ao transcrever as passagens dos Atos, havemos de encontrar muitas vezes a palavra Esprito Santo, que no pode deixar de ser ligada a uma pessoa.

Desejavam os discpulos saber de Jesus a poca do restabelecimento do Reino de Israel, mas o Senhor lhes respondeu que a eles no competia saber tempos, nem pocas, pois a sua tarefa era serem suas testemunhas no s em Jerusalm, como em toda a Judia, Samaria e at nas extremidades da Terra.

Ora, sabemos que as extremidades da Terra, ao tempo de Jesus, eram muito limitadas, e se essa tarefa ficasse adstrita unicamente queles seus discpulos, excluindo-se a lei da Reencarnao e o prosseguimento da sua ao do Mundo Espiritual em estado de Espritos, ela ficaria absolutamente resumida a uma nao, e ento a Religio do Cristo seria uma religio nacional, e no uma Religio Mundial, como o seu verdadeiro carter.

Sendo a Doutrina de Jesus permanente, eterna, palavra que no passa, s considerando-a espiritualmente, sem o vu da letra, poderemos acolh-la hoje com um crebro forte e um corao que palpita, desejoso de Verdade e de progresso.

Ficamos compreendendo, alm de tudo, que Jesus conversava com os seus discpulos, depois de ter morrido, dando-lhes instrues e ordenando-lhes a observncia de seus Ensinos. Esses quarenta dias em que o Mestre esteve com eles, foram aproveitados, para lhes repetir os seus Ensinamentos, firmar-lhes a F, e tornar queles que deveriam levar por todo o mundo a Palavra da Ordem, fiis obreiros, trabalhadores dedicados e intemeratos, pois teriam a seu lado Espritos para os auxiliar em todas as conjunturas e fazerem com que persistissem at o fim.

E foi s depois de lhes ter dito tudo o que era preciso, de lhes ter dado todas as instrues necessrias que, segundo refere Lucas, o Mestre elevou-se s alturas, desmaterializando-se diante dos olhos de todos.

Os espritas compreendem bem esses fenmenos de materializao e desmaterializao, to extraordinariamente verificados com Jesus e referidos nos Evangelhos.

E diz o texto que, enquanto eles tinham os olhos fitos no cu, maravilhados da ascenso de Jesus, eis que apareceram e se puseram ao lado deles dois vares com vestiduras brancas e lhes perguntaram: Galileus, porque estais olhando para o cu? esse Jesus que dentre vs foi recebido no cu, assim vir do modo como o viste ir para o cu.

Esta sesso foi verdadeiramente imponente, pois at os vares, materializados, falaram, dando explicaes e revelando coisas futuras, como a nova vinda de Jesus, como todos esperamos, e no reencarnado, mas sim semelhante sua estada, quando ressuscitado, ou seja, materializado.

E quem seriam esses vares, que vieram trazer-lhe o seu testemunho? O Evangelista no o diz, mas ns julgamos que foram os mesmos que se mostraram aos Apstolos no Tabor, como testemunhos da Excelsa Misso de Jesus, Moiss e Elias: um representando a Lei, outro os Profetas, que, ao ver de Jesus, so includos nos seus preceitos de Amor a Deus e ao prximo.

A ELEIO DE UM APSTOLO EM JERUSALM

Ento voltaram para Jerusalm do Monte chamado Olival. que est perto de Jerusalm, na distncia da jornada de um sbado. E quando entraram, subiram ao Cenculo, onde assistiam Pedro, Joo, Tiago e Andr; Felipe, Tom, Bartolomeu e Mateus; Tiago, filho de Alfeu e Simo, o Zelote e Judas, filho de Tiago. Todos esses perseveraram unanimemente em orao com as mulheres e com Maria, me de Jesus e com os irmos d'Ele.

Naquele dia levantou-se Pedro no meio dos irmos (estava ali reunida uma multido de cerca de cento e vinte pessoas) e disse: Irmos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Esprito Santo predisse por boca de David acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus, porque era ele contado entre ns e tomou parte neste ministrio. Ora, este homem adquiriu um campo com o preo da sua iniqidade e, precipitando-se de cabea para baixo, arrebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram. E tornou-se isto conhecido de todos os habitantes de Jerusalm, de maneira que em sua prpria lngua esse campo era chamado Akeldama, isto , campo de sangue. Pois est escrito no livro Salmos: Fique deserta a sua habitao, e no haja quem nela habite; e: Tome outro o seu ministrio.

necessrio, pois, que dos homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre ns, comeando desde o batismo de Joo, at o dia em que dentre ns foi recebido em cima, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreio. E, apresentaram dois Jos, tambm chamado Barsabs, que tinha por sobrenome Justo e Matias. E, orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os coraes de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para tomar parte deste ministrio e apostolado, do qual Judas se transviou para ir ao seu prprio lugar. E a respeito deles deitaram sortes; e caiu a sorte sobre Matias, e foi ele contado com os onze Apstolos. Atos, Cap. I, vv. 12-26.

Os Apstolos no so eleitos, mas sim escolhidos e a sua escolha no pode deixar de ser feita sem o assentimento dos Espritos encarregados da Espiritualizao da humanidade.

Assim compreenderam aqueles que foram chamados por Jesus para a alta investidura de transmitir as Novas da Salvao s gentes.

Neste captulo se verifica que, obedientes s ordens do Divino Mestre, eles permaneceram em Jerusalm, onde perseveraram unanimemente em orao e juntamente a eles as mulheres, inclusive Maria, me de Jesus, os irmos do Senhor e mais pessoas que constituam uma multido de cerca de cento e vinte indivduos.

Este trecho dos Atos digno de recordao, porque vamos verificar que no foram s os doze Apstolos que receberam o esprito, mas sim todos os que l estavam.

Havia falta de um membro entre os principais Apstolos, pois estavam s onze, quando deveriam ser doze, ou seja os representantes das Doze Tribos de Israel, que continuariam a se esforar para o estabelecimento do Reinado de Deus, na Terra.

Ento, Pedro, fazendo referncia a Judas que havia falido em sua tarefa, pelo que deliberou suicidar-se, lembrando que esse fato dava cumprimento a uma profecia muito remota narrada nos Salmos, props a escolha de um dos presentes para preencher o lugar ocupado anteriormente.

Mas era preciso que o escolhido tivesse acompanhado a Jesus, desde o tempo do seu Batismo, at o dia da Ascenso.

Foram encontrados dois que se achavam nestas condies: Jos Barsabs, tambm cognominado o Justo, e Matias.

Eles fizeram uma splica ao Senhor, para que escolhido fosse o substituto e tirando sortes, recaiu esta em Matias, ficando assim completo o nmero dos Apstolos maiores.

Dizemos Apstolos maiores, porque julgamos que os demais que ali se achavam no deixavam tambm de ser Apstolos, como se vai ver ao tratarmos da exploso de Pentecostes.

Faz-se interessante insistir mais uma vez sobre o nmero de pessoas que se achavam em constante orao no Cenculo, calculado em cento e vinte pessoas.

Estando este captulo em ntima relao com o que segue, preciso que o estudante evanglico o retenha para bem compreender o relato de Lucas de que nos vamos ocupar em seguida.

O DIA DE PENTECOSTES A DIFUSO DO ESPRITO

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e de repente veio do cu um rudo, como de um vento impetuoso, que encheu toda a casa onde estavam sentados; e lhes apareceram umas como lnguas de fogo, as quais se distriburam, para repousar sobre cada um deles; e todos ficaram cheios do Esprito Santo, e comearam a falar em outras lnguas, conforme o Esprito lhes concedia que falassem.

E habitavam em Jerusalm judeus, homens religiosos, de todas as naes em baixo do cu: e quando se ouviu este rudo, ajuntou-se ali a multido e ficou pasmada, porque cada um os ouvia falar na sua prpria lngua. E estavam atnitos e maravilharam-se, perguntando: No so galileus todos esses que esto falando? E como os ouvimos falar, cada um na lngua do nosso nascimento, partos, medas, e elamitas, e os que habitam a Mesopotmia, Judia e Capadcia, o Ponto e a sia, a Frgia, a Pamfilia, o Egito e as partes da Lbia prximas a Cirene, e forasteiros romanos, sendo uns judeus e outros proslitos, cretenses e rabes; como que o ouvimos falar em nossas lnguas as grandezas de Deus? E ficaram todos atnitos e perplexos e perguntavam uns aos outros: Que quer dizer isto? Outros, zombando, diziam: Esto cheios de mosto. Atos, II, 113.

A explicao deste captulo j foi dada em uma obra anterior Parbolas e Ensinos de Jesus pg. 317, que recomendamos ateno dos leitores.

Vamos limitar a nossa exposio aos interessantes fenmenos de Xenoglossia, ou seja a faculdade de falar ou escrever em uma ou mais lnguas estranhas, desconhecidas do mdium, durante o transe medinico.

Este fenmeno, est bem caracterizado por Paulo, em sua 1a Epstola aos Corntios, cap. 12, v. 10, com o ttulo diversidade de lnguas. Essa faculdade medinica vem de tempos imemoriais.

Parece que nos tempos de Paulo, era bem avultado o nmero de indivduos que gozavam desse dom, e naturalmente se jactavam, julgando que bastava-lhes possu-lo para j serem considerados no Reino do Cu. Foi provavelmente o que levou o Apstolo a dizer no Cap. XIII, Epstola 1a aos Corntios: Se eu falar as lnguas dos homens e dos anjos, e no tiver caridade, tenho-me tornado como o bronze que soa, ou como o sino que tine.

O dom de lnguas no tem absolutamente o carter sobrenatural que as Igrejas de Roma e Protestante lhe querem dar, atribuindo-o a um milagre peculiar, exclusivamente dado aos Apstolos, pela 3a Pessoa da S. S. Trindade. Essas manifestaes foram inmeras na poca do Cristianismo nascente e delas participavam homens e mulheres, livres e servos, como se ir verificar na continuao do estudo dos Atos dos Apstolos.

A mediunidade poliglota, na fase esprita, desde o seu incio, se salienta, de modo admirvel, nos relatos dos sbios e investigadores.

Para no multiplicar citaes, limitamo-nos a lembrar o caso da filha do Juiz Edmonds, de New York.

Joo W. Edmonds, 1o Juiz do Tribunal Supremo, de New York, foi um habilssimo magistrado, homem muito benquisto pela sua honorabilidade. Ocupou nos ltimos tempos os mais elevados cargos judiciais com talento, perspiccia e valor.

Referindo-se aos trabalhos do Juiz Edmonds, o grande sbio Alfred Russel Wallace escreveu:

Os trabalhos do Juiz Edmonds so provas convincentes de fatos resultantes das experincias desse magistrado. Sua prpria filha tornou-se mdium, e ps-se a falar lnguas estrangeiras que lhe eram totalmente desconhecidas o Ele exprime-se do seguinte modo sobre o assunto:

Ela no seu, salvo ligeiro conhecimento de francs, aprendido na escola. No obstante isso, tem conversado freqentemente em nove ou doze idiomas diferentes, muitas vezes durante uma hora, com a segurana e a facilidade de uma pessoa falando sua prpria lngua. No raro que estrangeiros se entretenham, por seu intermdio com seus amigos espirituais e em seu prprio idioma. Cumpre-nos dizer como se passou tal fato em uma das circunstncias.

Uma noite em que doze ou quatorze pessoas se achavam em meu pequeno salo, o Sr. E. D. Green, um artista desta cidade, foi introduzido em companhia de um cavalheiro que se apresentou como sendo Evan Gelides, natural da Grcia. Pouco depois, um Esprito falou-lhe em lngua inglesa, por intermdio de Laura, e tantas cousas lhe disse que ele reconheceu estar por seu intermdio em relao com um amigo que falecera em sua casa alguns anos antes, mas de quem ningum tinha ouvido falar. Nessa ocasio, por intermdio de Laura, o Esprito disse algumas palavras e pronunciou diversas mximas em grego, at que, enfim, o Sr. E. perguntou se ele poderia ser compreendido quando falasse em grego. O resto da conversao transcorreu durante mais de uma hora, da parte do Sr. E. inteiramente em lngua grega; Laura tambm falava em grego e algumas vezes em ingls. Em certos momentos, Laura no compreendia a idia sobre a qual ela ou o Sr. Gelides falavam; mas, em outras ocasies, a compreendia, posto que falasse em grego e ela prpria se servisse de termos gregos.

Vrios outros casos so conhecidos e est averiguado que essa jovem tem falado as lnguas espanhola, francesa, grega, italiana, portuguesa, latina, hngara, hindu, assim como em outras que eram desconhecidas das pessoas presentes. Esses idiomas eram falados em nome de pessoas falecidas que conversavam com os seus parentes e conhecidos presentes.

Ultimamente as revistas psquicas e espritas tm noticiado muitos casos de Xenoglossia observados por pessoas de responsabilidade moral e cientfica.

Foram esses fenmenos que se verificaram no dia de Pentecostes, no Cenculo, e maravilharam povos de todas as partes da Judia, da sia, do Egito, etc.

Mas, como diz o Eclesiastes o que foi, o que , e o que , o que h de ser ontem como hoje, no faltaram negadores sistemticos que, sem saber o que pensavam, nem o que diziam, afirmavam que todas aquelas pessoas reunidas no Cenculo, em nmero de cento e vinte almas, j hora terceira (9 horas da manh) se achavam embriagadas.

O homem continua a julgar os outros por si, sem pensar nos juzos temerrios que externa. Se o homem julgasse pela reta justia, ficaria compreendendo que aqueles fatos, outra cousa no eram que manifestaes de Espritos que vieram dar cumprimento Promessa de Jesus.

Outro fenmeno, muito clssico hoje, que tem sido observado em inmeras sesses espritas e tem sido relatado pelos experimentadores, so as luzes, flocos de luzes, bolas de luzes, que assinalam a presena dos Espritos, fenmenos verificados no Cenculo e qualificados por Lucas como umas como lnguas de fogo.

O DISCURSO DE PEDRO A PROFECIA DE JOEL

Mas Pedro, estando em p com os onze, levantou a voz e disse-lhes: Homens da Judia e todos os que habitais em Jerusalm, seja-vos isto notrio, e prestai ouvidos s minhas palavras. Pois estes homens no esto embriagados, como vs supondes, visto que ainda a hora terceira do dia; mas cumpre-se o que dissera o profeta Joel:

E acontecer nos ltimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Esprito sobre toda a carne; e vossos filhos e vossas filhas profetizaro, vossos mancebos tero vises; e os vossos velhos sonharo; e tambm sobre os meus servos e minhas servas derramarei do meu Esprito naqueles dias, e profetizaro.

E mostrarei prodgios em cima no cu e sinais em baixo na Terra; sangue e fogo, vapor e fumo; o Sol se converter em trevas e a lua em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor. E acontecer que todo aquele que invocar o nome do Senhor ser salvo. v. v. 1421.

O discurso de Pedro no termina nestes versculos. Continua at o versculo 36. Para no tomar espao deixamos de transcrever a ltima parte, recomendando-a a ateno dos leitores, pois em qualquer Novo Testamento com facilidade encontra-la-o. Nessa parte o Apstolo lembra aos Israelitas os grandes poderes de Jesus, os prodgios por Ele operados e os sinais que Deus fez por meio d'Ele, bem como o seu crucificamento por mos de inquos, a sua ressurreio, a incorruptibilidade de seu corpo, as antigas profecias avisando tudo o que ia suceder, etc.

Pedro foi um dos primeiros discpulos que Jesus escolheu. Se lermos atentamente os Evangelhos, veremos que esse homem era um excelente mdium, intuitivo e inspirado. J anteriormente ele tomara a palavra e falara inspirado pelo Esprito, em nome dos Doze.

No cap. XVI de Mateus, v. v. 15 e 16 os leitores vero que perguntando o Mestre aos seus discpulos quem diziam eles ser o Filho do Homem, foi Pedro quem falou em nome dos doze, e falou inspirado pelo Esprito, transmitindo a REVELAO, sobre a qual Jesus disse que edificaria sua igreja.

Pedro comeou o seu discurso citando a profecia de Joel, profecia esta incerta no Antigo Testamento e que anuncia os acontecimentos que se realizariam no s naquela poca, como, com mais preciso ainda, na em que nos achamos e num futuro prximo.

Essa profecia bem clara e se verificou no Cenculo com a produo de lnguas estrangeiras, pelos mdiuns poliglotas, que em nmero de cento e vinte, ali se achavam. Mancebos tiveram vises, pois, viram as chamas como que nguas de fogo repousando sobre todos.

No consta, entretanto, dos Atos, que os velhos tivessem sonhos, o que quer dizer que a profecia no foi realizada em sua totalidade.

Mas depois, conforme veremos no decorrer dos nossos estudos, outras manifestaes, como curas, etc., foram verificadas, at que chegada Era Nova, em que nos achamos, tm-se dado manifestaes de todo o gnero, como as que temos observado, segundo os relatos transmitidos pelos sbios e experimentadores que, com o auxlio de poderosos mdiuns, to poderosos como os Apstolos e, talvez mais ainda, tm prestado todo o seu servio para desmoronar o templo do materialismo, erguendo sobre a grande pirmide do Amor, o belo farol da Imortalidade.

Ns cremos, entretanto, que, por ocasio do Cristianismo nascente, muitos mdiuns, (quantidade inumervel, mesmo) se desenvolveram e foram desenvolvidos, o que levou Paulo a estabelecer regras para o bom sucesso das reunies que se efetuavam naquela poca.

Na Epstola aos Romanos, cap. XII, 4, diz Paulo:

Pois assim como temos muitos membros em um s corpo, e todos os membros no tm a mesma funo; assim ns, sendo muitos, somos um s corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. E tendo dons diferentes, segundo a graa que nos foi dada: se profecia, profetizemos, segundo a proporo da nossa f; se ministrio, dediquemo-nos ao nosso ministrio; ou o que ensina, dedique-se ao que ensina; ou o que exorta, sua exortao; o que reparte, faa-o com simplicidade; o que preside, com zelo; o que usa de misericrdia, com alegria .

bastante este trecho para nos deixar ver qual era a vida dos Discpulos e seus atos. Tarefa toda espiritual que no poderia dispensar o auxlio dos Espritos encarregados de fazer reviver neles as Palavras de Jesus, e gui-los em todas as suas aes. A est bem clara a misso do profeta, que deve salientar a profecia.

O Apstolo da Luz comparando a diversidade de membros do nosso corpo, cada qual com sua serventia e seu mister, fez ver a diversidade de dons, de faculdades psquicas, faculdades essas que devem ser orientadas pelos Preceitos do Cristo, que a Cabea (o Chefe), assim como todos os nossos membros sujeitos esto cabea.

Na 1a aos Corntios, XII, 4 31, o Doutor dos Gentios ainda mais explcito, mostrando que todas as manifestaes so orientadas, ou para melhor dizer, permitidas por Deus. Todos os rios de gua viva, aos quais o Mestre se referiu, que manariam do ventre daquele que nele cresse, fazendo aluso ao Esprito que haviam de receber, tinham uma s Fonte que Deus.

Vamos aproveitar a palavra de to ilustre Doutor:

Ora, h diversidade de dons, mas um mesmo o Esprito; e h diversidade de ministrios, mas um mesmo o Senhor; e h diversidade de operaes, mas o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um porm, dada a manifestao do Esprito para proveito. Porque a um pelo Esprito dada a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de cincia, segundo o mesmo Esprito; a outro f, no mesmo Esprito; a outro, dons de curar, em um s Esprito; a outro, operaes de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espritos; a outro, diversidade de lnguas, e a outro a interpretao de lnguas; mas todas estas coisas opera um s e o mesmo Esprito, distribuindo a cada um particularmente o que lhe apraz.

O Dom do Esprito Santo, como dizem as Igrejas, v-se bem claro que o dom da mediunidade e comunicao dos Espritos. Cada mdium tem a sua misso: sabedoria, cincia, f, curas, maravilhas, profecia, lnguas, etc., etc. Mas preciso no esquecer que existem tambm os que tm o dom de discernimento dos Espritos. Ora, se existem indivduos encarregados do discernimento dos Espritos, e se este dom foi enumerado por Paulo, parece claro e lgico que no s um Esprito que produz tudo, no sempre o mesmo Esprito que produz maravilhas, curas, profecias, etc., etc., mas sim, muitos, sendo que ha adiantados e atrasados, seno no haveria necessidade de discernimento. Quis Paulo dizer, que todos os Espritos so provenientes de Deus, e no como julgavam os judeus, que os havia por parte do diabo.

Na concluso do captulo, Paulo trata da necessidade da unidade espiritual da congregao, repetindo o que havia dito aos Romanos e acrescentando vrias consideraes elucidativas, muito ao alcance de todos e da compreenso dos que nos lem.

Depois, porm, de terminado o discurso de Pedro, a multido que o ouvia, perguntou a Pedro e aos Apstolos, o que se deveria fazer para se tornar cristo. Eles responderam: Arrependei-vos e cada um seja batizado em nome de Jesus Cristo para remisso do pecado, e recebereis o dom do Esprito Santo. Pois, para vs a promessa e para os vossos filhos e para todos os que esto longe, e a quantos chamar o Senhor nosso Deus. E os exortava: Salvai-vos desta gerao perversa. E os que receberam a palavra foram batizados, e foram admitidas naquele dia quase trs mil pessoas; e perseveraram na doutrina dos Apstolos, e na comunho, no partir do po e nas oraes. Em cada alma havia temor e muitos prodgios e milagres eram feitos pelos Apstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum, e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um.

Este trecho caracteriza perfeitamente a converso positiva daquela gente simples e humilde que foi includa nas fileiras da Nova Doutrina, de abnegao, de humildade, de bondade, de desapego, de amor, que o Cristo havia anunciado, e pela qual no temeu nem recuou morte afrontosa da cruz.

O batismo de que fala os Atos, o batismo de adoo da Nova F. No se julgue este batismo, nem se o compare com os batismos das Igrejas que desnaturaram o Cristianismo, estabelecendo cultos e sacramentos exticos, que no falam alma, nem ao corao e s tm servido para produzir incrdulos e fanticos.

O batismo dos Apstolos era um sinal que deveria imediatamente produzir outro sinal visvel de demonstrao de F, tornando o indivduo uma nova criatura, no seu falar, no seu proceder, na sua palavra, nas suas aes e at nos seus pensamentos. No passava de um sinal, sinal invisvel, porque era feito com gua que no deixa marca, mas que servia to somente no indivduo para dar uma impresso de que tinha necessidade de produzir sinais visveis da sua regenerao, da sua converso. A gua nenhum valor tinha. Mera exterioridade para satisfazer exigncias pessoais, ela no podia representar o batismo de Jesus, ou do Esprito, recomendado por Joo Batista.

E isto se conclui com toda lgica, lendo-se com ateno o cap. II, v. v. 43 e seguintes, que assinalam o modo de vida dos conversas; E em cada alma havia temor, e muitos prodgios e milagres eram feitos pelos Apstolos. E todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum, e vendiam as suas propriedades e bens e os repartiam por todos, conforme a necessidade de cada um.

O batismo produziu neles este sinal visvel e os fazia queridos de todos.

A CURA DE UM COXO E O DISCURSO DE PEDRO

Pedro e Joo subiram ao templo, para a orao da hora nona. E era levado um homem, coxo de nascena, o qual punham cada dia porta do templo, chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam; e este vendo a Pedro e a Joo, que iam entrar no templo, implorava-lhes que lhe dessem uma esmola. Pedro fitando os olhos nele, juntamente com Joo, disse: Olha para ns. E ele, esperando receber deles alguma coisa, olhava-os com ateno. Mas Pedro disse: No tenho prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda. E tomando-o pela mo direita, o levantou; e logo os seus ps e artelhos se firmaram e, dando um salto, ps-se de p, e comeou a andar; e entrou com eles no templo, andando, saltando, e louvando a Deus. E todo o povo o viu andar e louvar a Deus, reconhecendo ser este o homem que se assentava a esmolar Porta Formosa do Templo, todos ficaram cheios de admirao e pasmo pelo que lhe acontecera. Atos, III 1 a 10.

Esta narrativa muito simples, cujo fato nenhum carter miraculoso encerra, pois, so inmeros os casos de curas narrados nos Evangelhos e at no Antigo Testamento, vem demonstrar mais uma vez que a Cura dos Enfermos, por ao psquico-magntica faz parte do programa de Jesus, como bem compreenderam os Discpulos e o Espiritismo apregoa.

De fato, o trabalho, ou antes, a misso do Apostolado no consiste em cultos, nem est sob a ao de ritos desta ou daquela espcie. O seu desiderato no pode deixar de ser o de fazer o bem.

Ide por toda a parte, disse o Cristo, curai os enfermos, expeli os demnios e anunciai o Evangelho. E estudando a vida dos Apstolos e seus atos, ns vemos que todos eles, assistidos pelos Espritos do Senhor, a essas recomendaes limitaram a sua tarefa Espiritual.

A vida dos Apstolos comeou com a aprendizagem destes durante o tempo que seguiram a Jesus, desdobrando-se em grande atividade aps a passagem do Mestre para a Outra Vida, depois de terem recebido o Esprito no Cenculo. Antes do Pentecostes nada, absolutamente nada eles fizeram, a no ser aprenderem com o Senhor o modo pelo qual deveriam agir, para que a grande Religio, o Cristianismo, pudesse ser, ou antes, pudesse constituir-se a Religio Mundial.

Nesta passagem observamos: 1o que os Apstolos eram destitudos de bens; prata e ouro no tinham; mas tinham coisa muito superior prata e ao ouro, coisas que com estes metais no se pode fazer, pois que, eles as faziam com o dom de Deus; 2o que a cura do coxo foi feita por processo psico-magntico; tendo eles empregado a fixao dos olhos (olha para ns, disse Pedro), e tambm estabelecido o contato com o doente (Pedro tomando-o pela mo direita, o levantou). A cura foi rpida, os membros entorpecidos adquiriram vigor, firmando-se os ps e artelhos do paciente.

Como muito natural, todo o povo, cheio de admirao e pasmo pelo que acontecera, ficou em torno de Pedro e Joo, de olhos fixos para estes dois Apstolos, sem compreender o escopo dessa cura e como puderam eles operar.

Foi quando Pedro, no Prtico de Salomo, deliberou falar-lhes exaltando o poder do Deus, de Abraho, de Isaac e de Jacob, que glorificou a Jesus, com o auxlio de quem e por cuja f, aquele homem se havia restabelecido.

No foi, disse Pedro, por nosso poder ou por nossa piedade, que o fizemos andar. E estendeu-se em consideraes doutrinrias, relembrando a Paixo do Cristo, as profecias feitas a esse respeito, as recomendaes de Moiss aos israelitas sobre a adoo do Moo Profeta que Deus deveria suscitar, assim como as profecias de Samuel e os que o sucederam, a tal respeito.

No cap. que respigamos o leitor encontrar, do v. 11 ao 26, o discurso de Pedro no templo.

Deixamos de nos estender em mais consideraes sobre a Cura do Coxo, porque, na nossa obrinha Histeria e Fenmenos Psquicos As Curas Espritas j deixamos essa tese bem defendida, pelo que, convidamos os estudantes do Evangelho a passar em revista dita obra.

No convm repetir e repisar o assunto, pois, o nosso tempo escasso, e no nos convm sair da tese anunciada, que Vida e Atos dos Apstolos.

A PRISO DE PEDRO E JOO

Enquanto Pedro e Joo falavam ao povo, sobrevieram-lhes os sacerdotes, o capito do templo e os saduceus, enfadados. por ensinarem eles ao povo e anunciarem em Jesus a ressurreio dos mortos; e deitaram mo neles e os detiveram at o dia seguinte; pois j tinha chegado a tarde. Muitos, porm, dos que ouviram a palavra, creram; e elevou-se o nmero dos homens a quase cinco mil. Atos. IV 1 4.

Desde que a classe sacerdotal entrou no mundo, tem sido perene a luta que essa classe promoveu contra os Apstolos. Um sacerdote, seja do credo que for, no suporta absolutamente um Apstolo. Para os sacerdotes, os Apstolos so os perversores da conscincia, so magos, feiticeiros e tm demnio.

Dotados de atroz orgulho, imbudos de um egosmo mortfero, os sacerdotes, de todos os tempos, tm-se como os representantes de Deus na Terra, os chefes de tudo e de todos. S eles so sbios, s eles so virtuosos, s eles so santos, s eles interpretam a vontade de Deus. Nos banquetes, nas festas, na sociedade, na famlia, os primeiros lugares so sempre ocupados pelos padres (sacerdotes). Nas praas pblicas querem ser cumprimentados; as suas sentenas so irrevogveis e a sua palavra, infalvel.

Passe o leitor uma vista d'olhos no sacerdotalismo hebreu, no sacerdotalismo levtico, e atualmente no sacerdotalismo romano e protestante, para melhor se inteirar da nossa afirmao.

No tempo, ou no incio do Cristianismo, conforme depreendemos dos Evangelhos, foi to abjeta a ao dos sacerdotes que Jesus, o Manso, o Humilde Filho de Deus, viu-se obrigado a apostrof-los.

Quase no fim do seu trabalho messinico nas vsperas de sua condenao, Jesus no se conteve e ergueu o brado dos sete ais contra o sacerdotalismo que, no dizer do Mestre: Fechou aos homens o Reino dos Cus.

Abstemo-nos de transcrever esse libelo, no porque deixemos de ser solidrios com o Mestre, mas porque em qualquer Novo Testamento, catlico ou protestante, o leitor encontra-lo- no cap. XXIII, 13-39, de Mateus.

So eles os perseguidores de profetas, os assassinos de sbios e dos mensageiros de Deus. Raa de vboras, desconhecem a justia, a misericrdia e a f. So cheios de rapina e podrides. Devoram as casas das vivas e seus olhos esto sempre voltados para as ofertas. O seu Deus o ventre, como disse Paulo.

Como poderiam eles, que a ningum curavam, suportar a cura operada por Pedro e Joo? Como poderiam, os incrdulos e materialistas saduceus, ouvir falar na ressurreio de Jesus e na ressurreio dos mortos?

No podendo vedar a palavra aos Apstolos e proibir-lhes a cura dos enfermos, deliberaram prender os intimoratos da Nova F.

E no isto que tambm temos observado na poca atual em que o sacerdotismo protestante e romano, principalmente este, desenvolve uma atividade guerreira nunca vista, concorrendo direta e indiretamente para uma luta fratricidade que enche os campos de cadveres?

Onde est o 5o Mandamento da Lei de Deus, que a Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana mandou transcrever nos seus catecismos, e a Santa Igreja Protestante tambm mandou imprimir em seus livretos?

O mandamento s para ficar escrito; e no para ser cumprido?

Felizmente, os tempos passam, como relmpagos e o Reino de Deus se avizinha. Esses poderosos que semeiam a desolao e a morte, j esto nos seus ltimos estertores, pois com a prxima vinda do reino de Jesus, tudo ser renovado e a seara ser entregue a quem der frutos de f e de misericrdia.

Diz, finalmente, o texto, que apesar da grande presso sacerdotal, que dominava com os governos de ento, as converses eram verificadas em massa, j contando o Cristianismo, em poucos dias, s nas circunvizinhanas de Jerusalm, quase cinco mil homens.

PEDRO E JOO PERANTE O SINDRIO

No dia seguinte reuniram-se em Jerusalm as autoridades, os ancios, os escribas, Anaz que era o sumo sacerdote, Caifaz, Joo, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote; e pondo-os no meio deles, perguntavam: Com que poder ou em que nome, fizestes vs isto? Ento Pedra cheio do Esprito Santo, lhes disse: Autoridades do povo e ancios, se ns hoje somos inquiridos sobre o benefcio feito a um enfermo como foi ele curado; seja notrio a todos vs e a todo povo de Israel que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vs crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, neste Nome est este enfermo aqui so diante de vs. Ele a pedra, desprezada por vs, edificadores, a qual foi posta como a pedra angular. E no h salvao em nenhum outro; porque abaixo do cu, no h outro nome dado entre os homens em que devamos ser salvos. v. v. 5 12.

O Sindrio era, entre os judeus, o Supremo Conselho onde se decidiam os negcios do Estado e da religio. Pela narrativa acima, pode-se bem julgar a justia daquele tempo, cuja maioria de membros pertencia classe sacerdotal, cotados ainda dentre os maiores, como Anaz e Caifaz.

Imagine o leitor que atmosfera premente havia naquele meio, absolutamente hostil aos Apstolos. No era um conselho em que a Justia teria a sua cadeira principal, mas sim um conselho bastardo, apaixonado, no qual predominava o dio, o despeito e o desejo de vingana e de morte.

Mas o Esprito domina tudo. Contra o Esprito nada pode prevalecer; nem a opresso, nem o suborno, nem a malcia, nem a fora, nem as potestades terrestres.

Movidos pelos espritos, Pedro, como outrora nas bandas de Cesrea; e no Cenculo de Jerusalm, ps-se de p, e em tom severo, sem vacilar, manejando a espada de dois gumes que a palavra da Verdade e da Justia, repetiu, com todo o ardor do seu corao, o que j havia dito em seu discurso no templo, acrescentando que o nome de Jesus est sobre todos, sobre tudo e foi em virtude desse Nome que o coxo, ento presente, havia obtido o uso dos membros enfermos.

Cheios de intrepidez, sem temer a condenao e a morte, os dois Apstolos aproveitaram a oportunidade para externarem entre os maiorais que constituam o Conselho, os motivos da sua F, acrescentando corajosamente que abaixo do cu no h outro Nome em que nos pudssemos salvar, seno no de Jesus Cristo.

A IMPOTNCIA DO SINDRIO PEDRO E JOO SOLTOS

E ao verem a intrepidez de Pedro e Joo, e tendo notado que eram iletrados e indoutos, maravilharam-se; e reconheciam que haviam eles estado com Jesus; vendo com eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrrio. Mandaram-nos sair do Sindrio, e consultavam entre si dizendo: Que faremos a esses homens? Pois na verdade manifesto a todos os que habitam em Jerusalm que um milagre notrio foi feito por eles, e no o podemos negar, mas para que no se divulgue mais entre o povo, ameacemo-los que de ora em diante no falem nesse Nome a homem algum. E chamando-os ordenaram-lhes que absolutamente no falassem nem ensinassem em o nome de Jesus. Mas Pedro e Joo responderam-lhes: Se justo diante de Deus ouvir-vos a vs, antes do que a Deus, julgai-o vs, pois ns no podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. E depois de os ameaarem ainda mais, soltaram-nos, no achando motivo para os castigar por causa do povo, porque todos glorificavam a Deus pelo que acontecera; pois tinha mais de quarenta anos o homem em que se operara essa cura milagrosa. v. v. 1322.

Por mais ardis que os sacerdotes lanassem contra os dois Apstolos, no lhes foi possvel manter aqueles homens na priso. Eles mesmos reconheceram os poderes dos Apstolos manifestados publicamente no Sindrio, por Pedro e Joo. Diziam abertamente que eles haviam feito um grande milagre. Mas no lhes convinha absolutamente que a glria de Deus fosse proclamada com a manifestao de maravilhas que seus Apstolos tinham o poder de operar.

Se eles se curvassem, se eles se submetessem Voz dos Apstolos, teriam que renunciar ao mando, s primazias, aos primeiros lugares, ao brao de Csar e se aniquilariam, no seriam mais sacerdotes, e seu egosmo e orgulho no lhes permitiam tal renncia.

A ambio de mando, a submisso ao dinheiro, o desejo de figurar constituem e tem constitudo, em todos os tempos, o apangio do sacerdotalismo.

No os podendo manter em priso, pois, seria bem fcil que, se isso acontecesse, houvesse uma rebelio do povo, no tiveram remdio seno solt-los. Mas ainda assim s o fizeram aps grandes ameaas e promessas macabras caso eles falassem ou ensinassem em nome de Jesus.

Mas os Apstolos retorquiram imediatamente que no podiam submeter-se s ordens deles, em detrimento s ordens de Deus. Que eles mesmos julgassem a questo: se era possvel obedecer a eles ou a Deus.

Libertos da priso eles receberam grande manifestao de regozijo do povo, e ergueram ao Senhor fervorosa prece de graas por t-los livrado de inimigos to tigrinos, restituindo-os ao trabalho do Apostolado, sos e salvos, e ainda com mais f e mais vigor do que antes.

A bela orao, digna de ser lida, est no mesmo captulo, em que nos detemos, v. v. 2331.

Diz Lucas que, terminada a prece, tremeu o lugar onde eles estavam reunidos, o Esprito se manifestou novamente entre todos e com liberdade eles falavam a palavra de Deus.

Um trecho de dita orao verdadeiramente edificante.

Senhor! olha para as ameaas dos nossos inimigos, e concede a teus servos, que com toda a liberdade falem: a tua palavra enquanto tu estendes a mo para curar, e para que se faam milagres e prodgios pelo nome do teu santo servo Jesus.

COMUNIDADE CRIST

E da comunidade dos que creram, o corao era um e a alma uma, e nenhum deles dizia que coisa alguma das que possua era sua prpria, mas tudo entre eles era comum. E com grande poder os Apstolos davam o seu testemunho da ressurreio do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graa. Pois nenhum necessitado havia entre eles; porque todos os que possuam terras ou casas, vendendo-as traziam o preo do que vendiam e depositavam-no aos ps dos Apstolos; e repartia-se a cada um conforme a sua necessidade. v. v. 3235.

A Doutrina de Jesus a Religio da Paz, da Fraternidade, do Desapego, finalmente, do Amor no fingido. Jesus no admitia o orgulho e o egosmo, fatores principais da desorganizao social.

No encontro do Mestre com Zaqueu, das propostas deste e da proclamao de Jesus: Hoje entrou a salvao nesta casa, pode-se perfeitamente concluir o pensamento ntimo do Senhor.

A sua Palavra sobre o Rico e Lzaro, tambm muito frisante.

O trecho do seu Sermo no Monte que assim comea: No ajunteis para vs tesouros na Terra mais que categrico. No cap. VI 1934, Mateus, os leitores ajuizaro melhor esses preceitos.

As ordenaes do Senhor para que seus discpulos no carregassem ouro nem prata, nem alforges, demonstram muito bem o desapego aos bens terrenos que todos deveriam ter.

E o interessante ainda que todas essas ordenaes concordam perfeitamente com os preceitos de Joo Batista, que foi o precursor de Jesus. A pregao de Joo um apelo humildade, ao arrependimento e ao desapego aos bens da Terra.

No cap. III, 10, quando o povo perguntou a Joo o que deveria fazer, o Batista respondeu: Aquele que tem duas tnicas, d uma ao que no tem; e aquele que tem comida faa o mesmo.

A dizer com franqueza, segundo a linguagem dos tempos atuais, os dois grandes Revolucionrios Cristos, eram francamente comunistas.

Ningum h que lendo os Evangelhos e o Novo Testamento, nos possa contestar esta verdade.

Naturalmente que no se tratava de um Comunismo Materialista, que degenera em Anarquismo, mas poderamos intitul-lo Comunismo Cristo, com todas as insgnias de Fraternidade, Igualdade e Liberdade.

Estas trs palavras, sob a Paternidade de Deus, representam a trilogia divina.

Elas se estreitam e interpenetram. No possvel desuni-las, pois, perderiam o seu significado verdadeiro.

De fato, como pr em prtica e ajuizar a Igualdade sem a Fraternidade, quando s a Fraternidade poder regular com justia a Igualdade!

A Igualdade, tomada arbitrariamente de impossvel execuo. No prprio Universo ns vemos que a Lei que reina de absoluta desigualdade. No h uma estrela semelhante em absoluto outra: no h um rio que seja igual ao outro na Terra; no h duas folhas de uma rvore, assim como no h duas rvores iguais. Nas nossas prprias mos no temos dois dedos iguais.

A desigualdade o braso do Universo. Entretanto, tudo vive, tudo progride, tudo se movimenta, porque tudo regido por uma Lei, que tanto tem ao sobre o grande como o pequeno; sobre uma gota de gua, um gro de areia, como sobre os mais volumosos rios, o mais poderoso Sol, a mais portentosa Estrela que se balana no ter. O prprio ter est debaixo da direo dessa Lei de Unidade que rege a Diversidade.

A lei da relatividade descoberta por Einstein, uma pura verdade e no vigora unicamente para as grandes coisas, mas tambm para as mnimas, A Igualdade como a Liberdade so, portanto, leis que s podem ser regidas pela Lei da Fraternidade.

Na Comunidade Crist, conforme deparamos nos Atos, todos os bens dos Cristos eram reduzidos a dinheiro, sendo estes haveres depositados em bem da comunidade, isto , de 'todos, e administrados pelos Apstolos. Est bem claro no texto que a repartio se efetuava periodicamente a cada um segundo sua necessidade.

No havia, na Comunidade, propriedades reservadas, bens pessoais, mas o que havia pertencia a todos, por isso que, nenhum necessitado havia entre eles.

Essa unio, solidariedade fraterna, constitua uma contribuio forte para que o poder de Deus se manifestasse por meio deles. O testemunho que eles davam de sua F, da obedincia severa aos preceitos de Cristo, tornava-os respeitados e at temidos, devido s maravilhas que se iam verificando..

Diz o texto que Jos, companheiro de Matias, havia sido convidado pelos onze, para tomar parte no Apostolado, mas que a sorte recaiu neste, e possuindo Jos uma propriedade, um campo, vendeu-o, entregando o dinheiro aos Apstolos. Jos foi cognominado Barnab, que quer dizer filho da exortao ou seja da consolao. Jos era da Tribo de Levy, natural de Chipre.

No podemos terminar este captulo, sem fazer referncias ao modo por que tem sido interpretada pelas Igrejas oficiais, com especialidade a Romana, essa resoluo dos Apstolos sobre a constituio da Comunidade Crist.

As Igrejas, umas instituindo o dzimo, outras vivendo, com as suas numerosas associaes, confrarias, conventos, templos e sacerdotes, padres e frades, freiras, custa do povo, baseiam essa sua atitude, nos versos acima descritos, dos Atos, transviando assim por completo, o pensamento Apostlico.

Nas congregaes primitivas, como a que reuniu em Jerusalm 5.000 almas, todos participavam dos bens, todos comiam do mesmo bolo, todos se vestiam da mesma linhagem.

Na Congregao Catlica muito diferente, so os sacerdotes que vivem custa do povo e com as esprtulas e donativos que recebem, enchem as suas arcas de ouro, prata, pedras preciosas; adquirem fazendas e terrenos, edificam quintas e palcios, chegando a constituir um Estado separado, como o Vaticano. No lhes faltam carruagens, automveis, rdios, telefones, telgrafos. Os procos de todas as cidades, quando no tm propriedades, tm depsitos mais ou menos avultados nos Bancos.

Em todo o mundo as construes igrejas e catedrais so feitas custa do povo, e, entretanto, so propriedades do Catolicismo.

O Comunismo Romano uma obra de astcia admirvel. A Igreja tudo recebe e nada d.

Entretanto, so tambm Comunidades, onde todos os clrigos participam do produto recolhido em seus cofres.

No podamos deixar de salientar esse fato digno de meno, para deixar ver, mais uma vez, que a obra sacerdotal a anttese da obra Apostlica. Enquanto os Apstolos se esforam para pr em prtica os Preceitos do Senhor, os sacerdotes desnaturam e desvalorizam a obra do Cristianismo.

Os Apstolos e seus discpulos viviam para a Religio, chegando a sacrificar seus bens em benefcio da Comunidade.

Os sacerdotes vivem da Religio, traficando com as coisas santas e sugando o dinheiro dos homens para viverem comodamente, sempre fora da lei do mximo esforo.

ANANIAS E SAFIRA

Mas um homem chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, e reteve parte do preo, sabendo-o tambm sua mulher e, levando uma parte, depositou-a aos ps dos Apstolos. E Pedro disse-lhes: Ananias, porque encheu Satans o teu corao, para que mentisses ao Esprito Santo, e retivesses parte do preo do terreno? Porventura, se no o vendesse, no seria ele teu, e vendido no estava o preo no teu poder? Como formaste este desgnio no teu corao? No mentiste aos homens, mas a Deus. Ananias ao ouvir estas palavras, caiu e expirou; e sobreveio grande temor a todos os ouvintes. E levantando-se os moos, amortalharam-no e levando-o para fora, sepultaram-no. Depois de um intervalo de cerca de trs horas entrou sua mulher, no sabendo o que tinha sucedido. E Pedro perguntou-lhe: Dize-me se vendeste por tanto o terreno? Ela respondeu: sim, por tanto. Mas Pedro disse-lhe: Por que que vs combinastes provar o Esprito do Senhor? Eis porta os ps dos que sepultaram teu marido, e eles te levaro a ti para fora. Imediatamente caiu aos ps dele e expirou; e entrando os mancebos, acharam-na morta e levando-a para fora, sepultaram-na junto ao seu marido. E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos que ouviram estas coisas. Atos, V, 111.

A misso dos Apstolos, desde o seu incio no Cenculo de Jerusalm, foi acompanhada por larga contribuio de fenmenos ostensivos verdadeiramente surpreendentes e maravilhosos.

O estudante dos Atos fica absorto ao contemplar a descrio de tais fatos que, ora se assemelhavam brisa que cicia, ora fasca que atroa e aterroriza. Uma palavra dos Apstolos cura enfermos, saneia membros paralisados. De outro lado, uma acusao que qualquer deles faz, subjuga o delinqente, fui mina, abate.

O caso de Ananias e Safira , verdadeiramente, subjugador, e se meditarmos maduramente sobre o que ocorreu ao casal que aspirava entrar na Comunidade Crist, no podemos deixar de ver a ao destruidora de um inimigo da Nova F, arremessando exnime no cho tanto o marido como a mulher, simultaneamente, ao verem-se descobertos e censurados por Pedro, como o tentador que queria deprimir o Esprito Santo, trazendo para a nova agremiao indivduos submissos sua nefasta influncia. Esta expresso de Pedro nos esclarece bem este ponto: Ananias, porque encheu Satans o teu corao para que mentisses ao Esprito Santo, e retivesses parte do preo do terreno?

Seria, porventura, esta uma frase mortfera para infundir temor queles que, candidatos ao Cristianismo nascente, deveriam ter submisso s exortaes do Alto, e bastante humildade para poderem participar das ddivas celestes?

O caso que acabamos de ler nos parece um desses casos de possesso de Esprito que deixou o casal Ananias em estado de catalepsia, ou seja de morte aparente. Esses fenmenos eram muito vulgares na Judia, segundo lemos no Novo Testamento.

Nos Evangelhos temos, por exemplo, o caso da filha de Jairo, do filho da viva de Naim, e mais semelhante ainda ao que estudamos, o epiltico que era arremessado na gua e no fogo pelo Esprito (Marcos, IX, 14-29) e que ao ser ordenada a sua retirada por Jesus, arremessou o menino ao cho, deixando-o como morto, a ponto de o povo dizer, Morreu (v. 26).

Em outras obras () j tratamos mais circunstanciadamente desses casos de catalepsia, e no Livro dos Mdiuns, de Allan Kardec, os leitores estudaro melhor esses fenmenos de subjugao e possesso.

Essas crises, outrora, na Judia, eram tomadas como estado de morte e seguidas de quase imediato enterramento.

Seja como for, no caso de Ananias e Safira, somos propensos a crer que tal enterramento no se tivesse efetuado, mas que ambos, retirados pelos moos da Comunidade; passada a crise que lhes sobreviera, tornaram a si.

A narrao de Lucas incompleta, nada mais refere sobre o casal Ananias e a conseqncia de sua morte, pela qual seriam responsabilizados e severamente punidos os Apstolos. Nos Atos no registrado processo algum a tal respeito. A priso de todos eles, relatada nos versos 17 e seguintes, no foi absolutamente por crime de morte, mas sim por crime de curas.

Ora, se a audcia e o absolutismo sacerdotal naquele tempo chegavam ao auge de encerrar os Apstolos na priso por curarem doentes, o que no fariam tais sacerdotes se algum deles matasse qualquer indivduo!

E seria possvel que os sacerdotes, a polcia, os agentes do Governo, poderiam ignorar numa poca de opresso como aquela em que se achavam os discpulos de Jesus e de terrvel perseguio, que os padres e governos de ento moviam contra os Discpulos de Jesus, caso se tivesse verificado a morte de Ananias e Safira?

O que podemos concluir do captulo transcrito dos Atos, que os Apstolos no admitiam na sua Comuna, hipcritas nem mentirosos, e por isso julgaram de bom alvitre expulsar dela aqueles nefitos que, no dizer de Jesus, no se achavam, como preciso aos que comparecem ao Grande Banquete, com a tnica nupcial.

No se diga tambm que os Apstolos exigiam aos que ingressavam em suas fileiras todos os seus bens. Por estas palavras de Pedro, se observa que eles desejavam ddivas espontneas e no foradas: Porventura, se no o vendesses, no seria ele teu; e vendido, no estava o preo em teu poder?

OS MILAGRES E AS CURAS A PRISO DOS APSTOLOS

E faziam-se muitos milagres e prodgios entre o povo pelas mos dos Apstolos; e todos estavam de comum acordo no prtico de Salomo; dos outros, porm, nenhum ousava ajuntar-se a eles, mas o povo os engrandecia; e cada vez mais se agregavam crentes ao Senhor, homens e mulheres em grande nmero; a ponto de levarem os enfermos at pelas ruas e os porem em leitos e enxerges, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse algum deles. E tambm das cidades circunvizinhas de Jerusalm aflua uma multido, trazendo enfermos e atormentados de espritos imundos; os quais eram todos curados.

Levantando-se, porm, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele (que eram da seita dos saduceus), encheram-se de inveja, prenderam os Apstolos e os recolheram priso pblica. Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do crcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: Ide e, no templo, postos em p, falai ao povo todas as palavras desta vida. E tendo ouvido isto, entraram ao amanhecer no templo e ensinavam. Mas comparecendo o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sindrio e todo o senado dos filhos de Israel, e enviaram os oficiais ao crcere para traz-los. Mas os oficiais que l foram no os acharam no crcere; e tendo voltado, relataram: Achamos o crcere fechado com toda a segurana e os guardas s portas, mas abrindo-as, a ningum achamos dentro. E quando o capito do templo e os principais sacerdotes ouviram estas palavras ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto, e chegou algum e anunciou-lhes: eis que os homens que meteste no crcere, esto no templo postos em p e ensinando o povo. Nisto foi o capito e os oficiais e os trouxeram sem violncia, porque temiam ser apedrejados pelo povo. E tendo-os trazido, os apresentaram no Sindrio. E o sumo sacerdote interrogou-os, dizendo: Expressamente vos admoestamos que no ensinsseis nesse Nome, e eis que tendes enchido Jerusalm com o vosso ensino e quereis trazer sobre ns o sangue desse homem. Mas Pedro e os Apstolos responderam: importa antes obedecer a Deus que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, que vs matastes, pendurando-o num madeiro; a Eles elevou Deus com a sua destra a prncipe e Salvador, para dar arrependimento a Israel e remisso de pecados. E ns somos testemunhas destas coisas e bem assim: o Esprito Santo, que Deus deu aos que lhe obedecem. Atos, V 12 32.

O Cristianismo uma reunio, um congregado completo de boas obras. Assim como o mundo no consiste unicamente de terras, de mares e de rios, mas tudo o que nele existe de bom, de til, de indispensvel vida, instruo e ao progresso, tambm o Cristianismo substncia, luz, vida para todos os que ingressam em suas fileiras.

Todos os dons, todas as faculdades, quais clareiras abertas a um mundo novo, tudo o que indispensvel vida moral e espiritual, que exalta o corao, que consubstancia o crebro, que enobrece a alma, que eleva, dignifica e espiritualiza o homem, tudo encontramos no Cristianismo.

Observemos a unio daqueles crentes que formavam a Comuna Crist, o seu desinteresse, o seu esprito de concrdia, de paz, de humildade, e de outro lado as extraordinrias lies que os Espritos Santos lhes davam por intermdio dos Apstolos; observemos os fatos maravilhosos que se desdobravam a todo o momento s suas vistas, o desenrolar de cenas admirveis, patticas que repercutiam de quebrada em quebrada na Judia, atraindo homens, mulheres, crianas; so os que iam beber no Clice da Revelao a Sabedoria que enaltece, o Amor que embalsama, a F que salva; enfermos uns caminhando trpegos, mas por seus prprios ps, outros carregados por mos piedosas em leitos e enxerges, para que ao passar Pedro, ao menos a sua sombra cobrisse algum deles!

Imaginai as romarias que enchiam as estradas, vindas de todas as cidades circunvizinhas em direo a Jerusalm, conduzindo atormentados pelas enfermidades, e subjugados por Espritos obsessores, que recebiam a sade, o remdio que os libertavam do mal!

Observai ainda mais as pregaes dos Apstolos que conduziam numa urna triunfal a Doutrina do Ressuscitado, ao mesmo tempo que enfrentavam a sanha herodiana, dos sacerdotes e governos com aquele denodo que lhes era peculiar, com aquela coragem que s mesmo os Santos Espritos lhes podiam dar, e tereis estampado s vossas vistas um quadro ainda muito mal delineado, do herosmo em sua mais alta expresso, da Verdade com suas fulguraes modeladas em cores inditas, no s para aquele povo de ento, como at para o povo de hoje!

Poderemos, porventura, admitir que os grandes daquele tempo, os sacerdotes que se diziam guardas da Lei, no vissem diante de seus olhos o que outros, de longnquas terras observavam e compreendiam?

Viam e sabiam que uma Nova Luz havia baixado ao mundo, mas a inveja quando chega a denegrir a alma, modifica todas as cores, obscurece todo o entendimento, endurece o corao e desorienta o esprito, atirando-o nos bratros da descrena e da materialidade.

O Sumo Sacerdote e todos os que estavam com ele, feridos no seu orgulho, cheios de inveja, pois, apesar de sua grandeza no podiam fazer o que faziam os Apstolos, a despeito da sua sabedoria, sendo absolutamente impotentes para imitar os humildes pescadores, fizeram-nos prender e os recolheram na priso.

Eles no podiam prever que aquele recurso extremo que usavam, contra a lei, contra a justia, contra a verdade, seria mais uma oportunidade, proporcionada ao Esprito, para a sua ostensiva manifestao, destruindo o poder dos poderosos e dando foras aos humildes.

E assim aconteceu, o Esprito que movimenta os ares e faz tremer a terra, o Esprito que traz em suas mos potentes, as chaves de todas as prises, o fogo que tudo consome, no poderia permitir que seus representantes e intermedirios permanecessem no crcere sob o jugo dos grilhes.

E deste modo libertos da priso e com ordem expressa para pregarem no templo, assim foram encontrados aqueles que, seqestrados, afastados de sua tarefa espiritual, tiveram, a seu turno, ocasio de ver e sentir a misericrdia de Deus e seu grande poder.

Que fenmenos maravilhosos! E quem os poder esclarecer, explicar, confirmar e melhor glorificar do que o Espiritismo!

Pois, mesmo aps a deslumbrante manifestao a que acabavam de assistir, o sumo sacerdote e seus companheiros, no se deram por vencidos e tentaram, mais uma vez, subjugar os Apstolos, valendo-se para isso da sua autoridade e seu prestgio.

Mas suas pretenses no surtiram efeito, Importa antes obedecer a Deus que aos homens, disse Pedro.

Quo luminosas so estas palavras e quo poucos so os que as obedecem no dia de hoje, mesmo decorridos 1900 anos desde a manifestao do Filho do Altssimo na Terra!

A vida dos Apstolos e seus atos constituem um espelho que reflete as luzes do Puro Cristianismo. Quem os estudar e se esforar por imit-los no deixar de ter as bnos de Jesus, e a proteo dos eminentes Espritos que dirigem a falange do Consolador que j se acha no mundo.

O PARECER DE GAMALIEL

Mas eles, quando ouviram isto, se enfureceram, e queriam mat-los. Levantando-se, porm, no Sindrio um fariseu chamado Gamaliel, doutor da lei, acatado por todo o povo, mandou retirar os Apstolos por um pouco, e disse: Israelitas, atentai bem o que ides fazer a estes homens. Porque faz algum tempo que Teudas se levantou, dizendo ser alguma coisa, ao que se juntaram uns quatrocentos homens; e ele foi morto e todos quantos lhe obedeciam, foram dissolvidos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o Galileu, nos dias do alistamento e levou muitos consigo; esse tambm pereceu, e todos quantos lhe obedeciam, foram dispersos. E agora vos digo: No vos metais com esses homens, mas deixai-os; porque se este conselho ou esta obra for de homens, se desfar; mas se de Deus, no podereis desfaz-la, para que no sejais, porventura, achados, at pelejando contra Deus. E concordaram com ele; e tendo chamado os Apstolos, aoitaram-nos e ordenaram-lhes que no falassem em o nome de Jesus, e soltaram-nos. Eles, pois, saram do Sindrio, regozijando-se por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus; e todos os dias no templo e em casa no cessavam de ensinar e pregar a Jesus, o Cristo. Cap. V 33 42.

O Apstolo disse: eu, com Deus, sou tudo; e sem Deus, embora esteja com os homens, nada sou.

Aqueles que esto sob o Amor de Deus, so retos de juzo e suas sentenas so sbias.

O parecer de Gamaliel lembrado a cada passo para iluminar aqueles que caminham nas sombras da morte.

Todos os conselhos e todas as obras s podem prevalecer se forem sustentados pelo influxo divino.

Jesus disse: Tudo passa, passa a Terra, passam os cus, mas a minha palavra no passar. E em outra ocasio acrescentou: A palavra que tendes ouvido no minha, mas sim o Pai me diz como devo falar.

Quantas obras tm desaparecido neste mundo! Quantos conselhos se tm dissolvido!

Do Templo de Jerusalm, que custou quarenta anos de trabalho, no ficou pedra sobre pedra.

Onde esto os grandes monumentos que eram o orgulho das civilizaes extintas! Tudo passou e tudo passa.

Se os homens, antes de derrurem uma obra, ou extinguirem um conselho, observassem se tal obra ou tal conselho provinha ou no de Deus, tomariam, sem dvida, resolues mais acertadas e evitariam sofrimentos e dores causados por julgamentos injustos.

Gamaliel, sbio doutor da lei, membro do Sindrio, conquanto tambm fariseu, no se deixou levar pelo absolutismo sacerdotal, e, erguendo a voz naquele momento em que tinha de dar prova da sua conscincia perante Deus, comeou lembrando o fracasso dos que perseguiram a Teudas, a Judas e ao Galileu.

Mais hoje, mais amanh, os perseguidores sero perseguidos e seus juzos revelar-se-o manifesta obra de iniqidade.

O mundo, infelizmente, est sob a ao da iniqidade, mas todos aqueles que temem a Deus, devem abster-se de julgamentos injustos, baseados sempre em juzos infundados, pois a justia divina vir sem misericrdia sobre aquele que no tiver misericrdia.

Os Apstolos, pelo que estamos observando, executaram a sua tarefa com grande coragem, independncia das injunes clericais, contrariando as ordens arbitrrias dadas pelos representantes do governo de Jerusalm; aoitados, injuriados, caluniados e perseguidos, eles se glorificavam nas suas prprias chagas, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. E no se cansavam de ensinar no templo e pregar a Jesus, o Cristo.

Exemplo edificante que nos legaram!

Quem ser capaz de lhes seguir as pegadas? Quem ser capaz de imitar essa abnegao, o esprito de sacrifcio, o desapego s cousas terrestres, esse grande amor Verdade?

S assim praticando, s observando estritamente os seus preceitos e os seus atos que poderemos aproximar-nos de Jesus e merecer do Mestre, o nobre ttulo de discpulos seus.

Concluindo, relembramos aos leitores, a sentena de Gamaliel, mestre que foi de Saulo: Quando tiverem de julgar os seus semelhantes e se arvorarem em juizes dos homens: Se este conselho ou esta obra for dos homens, se desfar por si mesma; mas se for de Deus, no podereis desfaz-la, para que no sejais, por ventura. achados, at pelejando contra Deus.

DISPENSEIROS DA COMUNA

Nesses dias, porm, crescendo o nmero dos discpulos, houve uma murmurao dos helenistas contra os hebreus, porque as vivas daqueles eram esquecidas na distribuio diria. E os doze convocaram a comunidade dos discpulos e disseram: No justo que ns abandonemos a palavra de Deus e sirvamos s mesas. Mas, irmos, escolhei dentre vs, sete homens de boa reputao, cheio de Esprito e de sabedoria aos quais encarregaremos deste servio; e ns atenderemos de contnuo orao e ao ministrio da palavra. E o parecer agradou a toda a comunidade, e eles escolheram Estevo, homem cheio de f e do Esprito Santo, Filippe, Procoro, Nicanor, Timon, Parmenas, e Nicolau, proslito de Antioquia, e apresentaram-nos perante os Apstolos, e estes, tendo orado, lhes impuseram as mos. Cap. VI, 16.

O Estabelecimento da Comuna, entre os cristos, tornou-se um fato. Foi necessrio a nomeao de dispenseiros, sem o que ficaria prejudicado o trabalho dos Apstolos. Como poderiam eles satisfazer seus compromissos doutrinrios, dedicarem-se orao, cura de enfermos, etc., se ficassem ocupados com a recepo das coisas materiais e sua repartio entre toda a comunidade!

Demais, no queriam a seu cargo as finanas da Comuna. Deliberaram entregar essa tarefa a pessoas dedicadas, solcitas, de esprito de justia e sem outros compromissos especificados. Foi assim que concordaram escolher sete vares, dentre os quais se salientava o poderoso mdium (homem cheio de f e do Esprito Santo) Estevo, que, como veremos adiante, sofreu grande perseguio do farisasmo, sendo apedrejado, de cuja morte participou Saulo, como ele prprio afirmou depois de convertido em Paulo.

A organizao da Comuna tornou-se um fato de grande importncia na Judia, tendo sido esta instituio provavelmente muito combatida, pois, de forma alguma poderia agradar ao sacerdotalismo dominante, nem ao capitalismo, que viam naquelas idias novas um perigo para a sua fortuna, para seu apego ao mando e s posies.

Os Atos no do notcia circunstanciada da nova instituio crist, mas presumvel que ela se mantinha como uma organizao admirvel. Basta ver a boa vontade com que todos os aderentes se despojavam do que tinham, entregando seus haveres Comunidade, para compreender que a classe laboriosa congregada Comuna, fazia o mesmo com seus salrios para a manuteno de tal instituio.

Esta afirmao concludente, pois no se poderia conceber que uma multido composta de mais de cinco mil homens vivesse em completa indolncia, unicamente rezando. Naturalmente antes de irem para o trabalho deveriam fazer suas oraes, e noite, estudos evanglicos sob a direo de alguns Apstolos, bem como oraes, mas durante o dia entregavam-se ao labor cotidiano, tanto mais que a Comuna se compunha de homens do trabalho, lavradores, operrios, pescadores, teceles, etc.

A concepo dos Apstolos sobre a fundao da Comuna, pode ser considerada como uma idia muito adiantada para aqueles tempos. Mesmo agora, se ela fosse estabelecida, no vingaria. Idia prematura, idia irrealizvel, e quando chega a realizar-se a sua execuo de pouca durao. Foi o que aconteceu no tempo da propaganda do Cristianismo.

No discutiremos nesta obra as vantagens ou desvantagens do estabelecimento das Comunas na nossa poca. Basta dizer que a Comuna Crist no deu resultado. Aquele que quer praticar a Doutrina de Jesus Cristo, no trabalha mesmo para si, mas sim para a Comunidade. Somos devedores Humanidade de tudo o que possumos, porque esta vive perfeitamente sem o concurso de qualquer de ns e qualquer de ns no pode viver sem ela.

As doutrinas personalistas, que tm por mira o Capitalismo, so egostas e anticrists, pois o Cristo ordenou a seus discpulos o amor do prximo e o Capitalismo o amor pessoal, quando muito limitado ao amor da famlia.

Seja como for, as pregaes dos Apstolos, assistidos pelos Espritos da sbia falange, deram magnficos resultados, aumentando todos os dias o nmero de crentes, e at sacerdotes se convertiam nova F.

ESTEVO NO SINDRIO

E Estevo, cheio de graa e poder, fazia grandes prodgios e milagres entre o povo. Levantaram-se, porm, alguns dos que eram da sinagoga, chamada dos libertos, dos cirineus, dos alexandrinos e dos da Cilcia e sia, e disputavam com Estevo; e no podiam resistir sabedoria e ao Esprito pelo qual ele falava Ento subornaram homens que diziam: Temo-lo ouvido proferir palavras de blasfmias contra Moiss e contra Deus; e tambm .sublevaram o povo, aos ancios os e aos escribas, e investindo contra ele, arrebataram-no e levaram-no ao Sindrio, e apresentaram falsas testemunhas que diziam: Este homem no cessa de proferir palavras contra o lugar santo e contra a Lei; porque o temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, h de destruir este lugar e h de mudar os costumes que Moiss nos deixou. E todos os que estavam sentados no, Sindrio, fitando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo. v. v. 815.

As manifestaes de Espritos ilustram todos os livros sagrados. Tanto no Velho, como no Novo Testamento, elas constituem o fundamento sobre o qual se assenta o monumento da F que um dia h de abrigar a Humanidade inteira.

Estevo foi um grande mdium. Alm de prodgios que fazia publicamente, gozava do dom da sabedoria, de que Paulo fala em sua Epstola aos Corntios, e ainda era mdium de transfigurao, segundo se nota no trecho. O prprio Lucas, dirigindo-se a Tefilo, diz positivamente que ele falava com o auxlio do Esprito, ou para melhor dizer que o Esprito falava por ele. Era, enfim, um grande mdium falante, faculdade esta catalogada no Livro dos Mdiuns de Allan Kardec.

Mas, essas manifestaes e esses dons no agradavam ao sacerdotalismo hebreu, como no agradam hoje ao sacerdotalismo Romano e Protestante, de modo que fez-se mister por um termo a todos aqueles fenmenos, chamados hoje psquicos ou espritas.

E como Estevo era um homem impoluto, contra quem queixa nenhuma podia haver, arranjaram testemunhos falsos, homens sem pudor, sem carter e sem brio, que se venderam para acusar o grande Profeta do Senhor.

Nunca faltaram, como no faltam, Judas no mundo para atraioarem o prximo e venderem at a sua prpria alma aos plutocratas de todos os tempos. Assim como o mundo est sempre cheio de Herodes, de Pilatos, de Caifazes, a concorrer para o crucificamento do primeiro justo que encontrem.

Vemos, porm, em Atos, que apesar de toda a acusao lanada contra Estevo, os seus prprios acusadores e inimigos fitando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo.

A DEFESA DE ESTVO E SUA MORTE

A defesa de Estevo uma pea oratria de grande valor histrico.

O profeta, homem de instruo, conhecia a fundo o Antigo Testamento, e, assistido pelo Esprito, para justificar a sua atitude, dissertou largamente sobre a histria do povo hebreu, lembrando as manifestaes recebidas por esse povo, a lei Mosaica, e muitas outras passagens dignas de meno.

O sacerdotalismo judaico fundava a sua religio nos livros do Antigo Testamento, mas interpretavam-no letra, fazendo o que fazem hoje os sacerdotes catlicos e protestantes, torcendo o sentido das Escrituras, suprimindo passagens, saltando por sobre versculos, etc.

Estevo j sabia de tudo isso, isto , do sistema sacerdotal, mas quis cumprir o seu dever relembrando queles homens que concentravam em suas mos o poder e a justia, a histria bblica, na qual tambm Estevo baseava a sua doutrina.

E logo que o sumo sacerdote o inquiriu sobre a acusao de que era vtima, ele comeou a falar:

Irmos e pais, ouvi. O Deus da glria apareceu a nosso pai Abrao, estando este na Mesopotmia, antes de habitar em Charran, e disse-lhe: sai da tua terra e dentre tua parentela, e vem para a terra que eu te mostrar. Ento saiu da terra dos caldeus e habitou em Charran. E dali, depois de falecer o pai, passou por ordem de Deus para esta terra, onde vs agora habitais, e nela no lhe deu herana nem sequer o espao de um p; e prometeu dar-lhe em posse e depois dele sua posteridade, no tendo ele ainda filho. E Deus disse que a sua posteridade seria peregrina em terra estrangeira, e que a escravizariam e matariam por quatrocentos anos; e eu, disse Deus, julgarei a nao da qual forem escravos, e depois disso sairo e me serviro neste lugar. E deu-lhe a aliana da circunciso; e assim Abrao gerou Isaac e o circuncidou ao oitavo dia; e Isaac gerou Jacob, e Jacob aos doze patriarcas. E os patriarcas tendo inveja de Jos, venderam-no para o Egito, mas Deus era com ele e livrou-o de todas as suas tribulaes e deu-lhe graa e sabedoria perante Fara, rei do Egito, que o constituiu governador do Egito e de toda a sua casa. Sobreviveu, porm, uma fome em todo o Egito e em Canaan, e grande tribulao, e nossos pais no achavam que comer. Mas quando Jacob soube que havia trigo no Egito, enviou ali nossos pais pela primeira vez; e na segunda, Jos descobriu-se a seus irmos, e sua linhagem tornou-se manifesta a Fara.

E tendo Jos enviado mensageiros, mandou vir seu pai Jacob, e toda sua parentela, isto , setenta e cinco pessoas. Jacob desceu ao Egito, e ali morreu ele e nossos pais; e foram trasladados para Sichem e postos num tmulo que Abrao comprou por certo preo em prata aos filhos de Emor em Sichem. proporo que se aproximava o tempo da promessa que Deus fez a Abrao, crescia o povo e multiplicava-se no Egito, at que levantou-se ali outro rei, que no conhecia a Jos. Este rei usou de astcia contra a nossa raa e afligiu nossos pais, ao ponto de faz-los enjeitar seus filhos, para que no vivessem. Por esse tempo nasceu Moiss, e era formosssimo; e por trs meses criou-se na casa de seus pais; e quando ele foi exposto, a filha do Fara o recolheu e criou como seu prprio filho. E Moiss foi instrudo em toda a sabedoria do Egito e era poderoso em palavras e em obras. Mas quando ele completou quarenta anos, veio-lhe ao corao visitar seus irmos, os filhos de Israel. E vendo um homem tratado injustamente, defendeu-o e vingou ao oprimido, matando o egpcio. Ora, ele julgava que seus irmos entendiam que por mos dele Deus os libertava; mas eles no o entenderam. E no dia seguinte apareceu a dois, quando brigavam e procurou reconcili-los dizendo: Homens, vs sois irmos; para que maltratais um ao outro? Mas o que fazia injria ao seu prximo, repelia-o, dizendo: Quem te instituiu chefe e juiz entre ns? Queres tu matar-me, como ontem mataste o egpcio? Moiss ouvindo isto fugiu e tornou-se peregrino na terra de Madian, onde gerou dois filhos. Passados mais quarenta anos, apareceu-lhe no deserto do Monte Sinai um anjo do Senhor numa sara ardente. Quando Moiss viu isto, maravilhou-se da viso; e ao chegar-se para contempl-la, ouviu-se esta voz do Senhor: Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abrao, de Isaac e de Jacob. E Moiss ficou trmulo, e no ousava contempl-la. Disse-lhes o Senhor: Tira as sandlias de teus ps; porque o lugar em que ests, uma terra santa. Vi, com efeito, o sofrimento do meu povo no Egito, ouvi o seu gemido, e desci para o livrar; vem agora, e eu te enviarei ao Egito. A este Moiss, a quem no conheceram dizendo: Quem te constituiu chefe e Juiz? a este enviou Deus como chefe e libertador por mo do anjo que lhe apareceu na sara. Foi este que os conduziu para fora, fazendo prodgios e milagres na terra do Egito, no Mar Vermelho e no deserto, por quarenta anos. Este Moiss que disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitar dentre os vossos irmos um profeta semelhante a mim. Este aquele que esteve na igreja no deserto com o anjo que lhe falara no Monte Sinai; e com os nossos pais; o qual recebeu orculos de vida para vo-los dar, e a quem nossos pais no quiseram obedecer, antes o repeliram e nos seus coraes voltaram ao Egito, dizendo a Aaro; Faze-nos deuses que vo adiante de ns; porque quanto a este Moiss que nos tirou da terra do Egito, no sabemos o que foi feito dele. Naqueles dias fizeram um bezerro e ofereceram sacrifcio ao dolo, e alegravam-se nas obras das suas mos. Mas Deus voltou deles a sua face e os entregou ao culto das hostes do cu, como est escrito no livro dos profetas:

Oferecestes-me, porventura, vtimas e sacrifcios por quarenta anos no deserto, casa de Israel, e no levantastes a tenda de Moloch e a estrela do deus Rempham, figuras que fizestes para as adorar? Assim remover-vos-ei para alm da Babilnia.

Nossos pais tiveram no deserto o tabernculo do testemunho, como ordenou o que falou a Moiss, dizendo que o fizesse conforme o modelo que tinha visto; o qual tambm nossos pais, sob a direo de Josu, tendo-o por suas vez recebido, o introduziram na terra, ao conquist-la das naes, que Deus expulsou da presena deles at os dias de David; o qual achou graa diante de Deus, e pedia-os achar um tabernculo para a Casa de Jacob. Salomo, porm, edificou-lhe uma casa. Mas o Altssimo no habita em casas feitas por mos; como disse o profeta:

O Cu o meu trono,

E a Terra o escabelo de meus ps;

Que casa me edificareis, diz o Senhor,

Ou qual o lugar do meu repouso?

No fez, porventura, a minha mo todas estas coisas

Homens de dura cerviz e incircuncisos de corao e de ouvido, vs sempre resistis ao Esprito Santo; assim como fizeram vossos pais tambm vs o fazeis. A qual dos profetas no perseguiram vossos pais? eles mataram aos que dantes anunciaram a vinda do Justo, do qual vs agora vos tornastes traidores e homicidas, vs que recebestes a Lei por ministrio dos anjos, e no a guardastes.

Este discurso, brilhante pea oratria do grande profeta do Cristianismo nascente, como se vai ver, no agradou ao sacerdotalismo e seus sequazes. Estamos certos que no agradar tambm ainda hoje ao sacerdotalismo de batina e de casaca que continua, com suas doutrinas fratricidas a dividir a humanidade, concorrendo at com o ouro de suas Igrejas para a carnificina nos campos de batalha, como est acontecendo no momento presente com a calamidade que devasta o Estado de S. Paulo.

Ouvindo, portanto, o discurso de Estevo, o Sindrio, e mais a caterva de subservientes e fanticos submissa ao sacerdotalismo Judaico, enfureceram-se nos seus coraes, diz o texto dos Atos,