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    O Turismo no Espao Rural: uma digresso pelo tema a pretexto da

    situao e evoluo do fenmeno em Portugal

    J. Cadima RibeiroMaria Marlene de Freitas

    Raquel Bernardette Mendes

    Escola de Economia e Gesto

    Universidade do Minho

    Braga

    [email protected]

    RESUMO

    Lanado experimentalmente em Portugal no final da dcada de setenta, o Turismo no

    Espao Rural fez, desde ento, um percurso bastante dinmico, atravessado por algumas

    hesitaes e dificuldades. Como instrumento de desenvolvimento regional, conforme foi

    tomado amide pelas entidades pblicas, a controvrsia sobre o seu impacte subsiste.No presente trabalho, ensaia-se um reflexo sobre o tema, ao jeito de balano do que foi

    realizado. Como expresso concreta da trajectria percorrida, retm-se o caso do

    Concelho de Braga.

    Na sntese da reflexo mantida, conclui-se que o produto turstico Turismo no Espao

    Rural possui efectivas qualidades para apoiar dinmicas de desenvolvimento a nvel

    regional. Cumpre, no entanto, que no seja tomado como panaceia que tudo pode

    solucionar.

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    Introduo

    O turismo , em Portugal, como em vrios outros pases da Europa do Sul, e no

    s, uma das actividades mais importantes na gerao de emprego e de rendimento. No

    contexto da crise do mundo rural, no surpreender, assim, que o turismo se tenha

    oferecido ao decisor pblico e aos actores sociais como um instrumento privilegiado de

    criao de oportunidades econmicas e de reanimao do espao rural.

    No presente trabalho, ensaia-se uma reflexo sobre o tema, ao jeito de balano

    do percurso realizado em Portugal desde os finais da dcada de setenta. Como

    particularizao dessa trajectria retm-se o caso do Concelho de Braga. Antes, porm, o

    quadro conceptual enunciado de modo sumrio, e o retrato do turismo no espao rural

    feito, nas vertentes oferta e procura.

    1. O quadro conceptual de referncia

    A origem da expresso turista parece estar na palavra francesa tour e ter

    aparecido para exprimir a ideia de viagem por prazer. Era efectivamente este o

    contexto em que se desenvolviam as viagens por lugares histricos e culturais da Europa

    realizadas por membros da aristocracia e burgesia endinheirada nos sculos XVIII (a

    partir de meados do sculo) e XIX.

    Na sua acepo moderna, o termo turista refere-se s pessoas que se deslocam

    para fora da sua residncia habitual e a permanecem durante um certo tempo

    (supostamente, um perodo no inferior a 24 horas) com propsito distinto do exerccio

    de uma actividade remunerada. Esta , grosso modo, a definio proposta pela

    Organizao Mundial do Turismo (cf. Cunha, 1997, p. 6). A nfase sobre o perodo de

    permanncia e a motivao pretende destrinar, por um lado, turista de excursionista

    (aqueles que realizam visitas muito breves a esses mesmos lugares) e, por outro lado,

    turista de emigrante, empresrio ou agente de negcios

    O Instituto Nacional de Estatstica (INE), considera ainda o visitante, como

    sendo o indivduo que se desloca a um lugar diferente da sua residncia habitual, por

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    uma durao inferior a 365 dias, desde que o motivo principal da viagem no seja o de

    exercer uma actividade remunerada no lugar visitado (INE, 1995).

    A primeira definio de turismo foi estabelecida por Hunziker e Krapt, em 1942,

    segundo os quais este o conjunto das relaes e fenmenos originados pela deslocao

    e permannica de pessoas fora do seu local habitual de residncia, desde que tais

    deslocaes e permanncias no sejam utilizadas para o exerccio de uma actividade

    lucrativa principal, permanente ou temporria (c.f. Cunha, 1997, p.8). O conceito

    entretanto tem implcitas implicaes diversas em matria de uso ou disfrute de bens e

    servios por parte do turista, especialmente no local de visita. Da que o turismo seja,

    contemporaneamente, pensado antes de tudo enquanto actividade econmica; um

    actividade econmica que vive de uma complexidade de dependncias e articulaes com

    ramos econmicos to diversos quanto o so transportes e seguros, hteis, restaurao eagricultura, lazer e cultura. Isto , conforme o considera Vitor Santos (1998, p. 4), o

    turismo um produto compsito, resultado de uma cadeia multisectorial complexa e

    interactiva de actividades em que cada participante contribui com uma pequena parcela

    do produto final.

    A heterogenidade do produto turstico cria uma diversificao de segmentos de

    mercado. A cada segmento de mercado pode corresponder um ou mais produtos,

    dependendo da combinao das diversas componentes que caracteriza cada um desses

    produtos.

    2. O produto turstico T.E.R.

    Perante estruturas pouco diversificadas e onde escasseiam as oportunidades

    econmicas, o turismo pode oferecer-se como um importante factor de desenvolvimento.

    Assim na medida em que for capaz de valorizar o potencial endgeno dos territrios,

    expresso em patrimnio, ambiente e cultura, e, da, introduzir os estmulos e a

    racionalizao das estruturas produtivas indutoras do desenvolvimento econmico.

    Esta realidade marcada por arcasmos estruturais e atrasos de desenvolvimento

    algo bem presente em muitos espaos rurais, da que se tenha sugerido a actores sociais e

    entidades pblicas a ideia de fazer do turismo o motor da dinamizao desses espaos,

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    fazendo da articulao da tradio, da ruralidade e do patrimnio existente os elementos

    distintivos de um produto turstico comummente designado Turismo no Espao Rural

    (T.E.R.)

    No existe uma acepo nica de T.E.R.. O Guia Oficial da Direco Geral do

    Turismo (1998, p.3) considera que o turismo rural consiste no conjunto de actividades e

    servios realizados e prestados, mediante remunerao, em zonas rurais, segundo

    diversas modalidades de hospedagem, de actividades e servios complementares de

    animao e diverso turstica, tendo em vista a oferta de um produto turstico completo e

    diversificado no espao rural. Lcinio Cunha, por sua vez (1997, p. 167), prefere dirigir a

    nfase para a utilizao dos factores naturais, culturais e sociais que so prprios destas

    zonas (rurais) e para a escala (pequena) da explorao, a preservao dos valores e a

    recusa do carcter urbano das construes ou equipamentos que so postos ao dispor daactividade turstica.

    A definio avanada pela Comisso Europeia, por seu turno, entende relevar,

    de idntico modo, a dimenso da unidade de explorao, associada ideia do tratamento

    personalizado do utente, a manuteno da autenticidade do meio (rural) fsico e humano,

    e a participao do visitante nas actividades, costumes e modos de vida dos habitantes

    (c.f. Vassilaras, 1990, p.4)

    Em Portugal, o Turismo no Espao Rural emergiu nos finais dos anos 70 (1978),

    de forma experimental, em Ponte de Lima, Vila Viosa, Castelo de Vide e Vouzela.

    Chamou-se ento turismo de habitao e foi concebida pela entidade pblica como

    forma de tirar partido da riqueza arquitectnica, histrica e paisagstica de algumas

    regies. Da a escolha dos casos ploto antes enumerados.

    A dinmica posterior da oferta, ditada pela recuperao de casas senhoriais, em

    muito casos parcialmente suportada por fundos pblicos, levou evoluo, mais tarde

    (1986) para o conceito legal de Turismo no Espao Rural, que abarcava as seguintes trs

    figuras: Turismo de Habitao; Turismo Rural e Agro-Turismo (c.f. D.L. 256/86). Em

    1989 surge uma nova modalidade, o Hotel Rural, e bastante mais recentemente (em

    1997) aparece o Turismo de Aldeia e as Casas de Campo (D.L. 169/97).

    Como contributo para a clarificao da natureza do produto turstico em apreo,

    o Decreto-Lei ultimamente mencionado indica que integram-se ainda no turismo no

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    espao rural as actividades ou diverso que se destinem ocupao dos tempos livres dos

    turstas e contribuam para a divulgao das caractersticas, produtos e tradies das

    regies, designadamente o seu patrimnio natural, paisagstico e cultural, os itinerrios

    temticos, a gastronomia, o artesanato, o folclore, a caa, a pesca, os jogos e os

    transportes tradicionais, e sejam declaradas de interesse turstico (DL. 169/97, art 4). A

    dificuldade que nos sugere a definio que, pela ambio de abrangncia, corre o riso

    de roubar a singularidade que esteve na origem do produto T.E.R..

    3. Os nmeros do T.E.R. em Portugal

    Antes de avanarmos na anlise da evoluo do turismo no espao rural em

    Portugal, cumpre referir que s existem dados estatsticos comparveis desde o ano de1989, ocasio em que se procedeu reclasificao das unidades tursticas. Acresce que,

    em expresso da contingncia ditada pela evoluo das nomenclaturas oficiais, a anlise

    retm s as unidades de Turismo de Habitao, Turismo Rural e Agro-Turismo. A leitura

    de resultados tomar por referncia o ano de 1998 e os dados estatsticos usados so os

    disponibilizados pelas Diviso de Recolha de Informao e Estatsticas da Direco Geral

    do Turismo (DGT) e pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE).

    3.1. A oferta

    Na linha do que se considera no Livro Branco do Turismo (DGT, 1991), a

    oferta turstica engloba aquilo que o local de destino tem para oferecer aos seus utentes

    actuais e potenciais, sendo representada por bens, servios e atraces que determinaro

    a preferncia do visitante. Ou, se se quiser, constituda por todos os elementos que

    contribuem para a satisfao das necessidades de ordem psicolgica, fsica e cultural que

    se encontram na origem das motivaes dos turistas (DGT, 1991, p. 67).

    O quadro que se apresenta de seguida (quadro n 1) retrata a situao e evoluo

    do sector, entre 1989 e 1998, expressa em nmero de estabelecimentos, organizados pelas

    modalidades antes explcitadas (Turismo de Habitao, Turismo Rural e Agro-Turismo).

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    Quadro n 1. Nmero de estabelecimentos entre 1989 e 1998

    Modalidades 1989 1992 1994 1996 1998

    TH 107 147 167 181 213

    TR 72 157 187 214 248

    AT 15 49 75 98 108

    Total 194 353 429 493 569

    Fonte: D.G.T.

    Do que os nmeros permitem evidenciar, sublinhe-se i) o crescimento acentuado

    do nmero de unidades, no seu todo, ii) o ponto de partida diferenciado das distintas

    modalidades, fruto do arranque pioneiro no final dos anos 70 da modalidade Turismo de

    Habitao (TH) e iii) o desenvolvimento acelerado no perodo em referncia dasmodalidades Turismo Rural (TR) e Agro-Turismo (AT). Essa evoluo especialmente

    impreeionante no primeiro perodo, isto , entre 1989 e 1982.

    Na sua expresso desagregada por regies tursitcas, o quadro de situao em

    1998 o que se oferece na Figura n 1.

    Figura n 1:N de Estabelecimentos de TER por modalidades e por regies tursticas

    (1998)

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    1600

    1800

    Costa

    Verde

    Costade

    Prata

    Costade

    Lisboa

    Montanhas

    Plancies

    Algarve

    Aores

    Madeira

    N. Estabelecimentos

    N. Quartos

    N. Camas

    Da figura em considerao, retenha-se a expresso dominante em termos de

    TER da Costa Verde, das Montanhas e das Plancies, especialmente da primeira regio

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    turstica mencionada, a dar expresso de atributos culturais, arquitectnicos e

    paisagsticos nicos, e tambm do lugar pioneiro que tomou na explorao deste mercado

    turstico. Este destaque mais notrio pelo paralelo que a figura documenta de pouca

    expressividade de regies tursticas de tanta tradio quanto o so a Costa de Lisboa, o

    Algarve e a Madeira; tradio, todavia, afirmada em segmentos de mercado alternativos.

    3.2. A procura

    O Quadro n 2, que se apresenta de seguida, sintetiza a informao disponvel

    sobre a procura de T.E.R. no perodo que medeia entre 1992 e 1998, para o total do pas e

    por regies tursticas.

    Quadro n 2. Dormidas no TER de 1989 a 1998(em Milhares)

    Regies 1992 1994 1996 1998 Var % - 92/98

    Costa Verde 21880 26778 41188 51336 134,6

    Costa de Prata 11457 18308 16925 21746 90,0

    Costa de Lisboa 8218 5229 10056 11971 45,7

    Montanhas 14093 22057 36046 35889 154,7

    Plancies 24371 17601 28475 27995 14,9Algarve 6153 17601 9950 11877 93,0

    Aores 240 7812 0 335 *

    Madeira 0 0 0 1271 *

    Total 86412 97785 142640 162420 86,6**

    Fonte: D.G.T.

    * Dados no comparveis.

    ** Excludas as dormidas dos Aores e Madeira

    Numa breve anlise dos dados, nota-se de imediato que as ilhas no constituem

    um mercado turstico importante deste produto. Sobressai, tambm, o crescimento

    genrico da procura, com especial destaque para as Montanhas (que registam um

    acrscimo de dormidas de 154,7%) e para a Costa Verde (que acolheu um adicional de

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    dormidas entre os 2 perodos extremos em anlise de 134,6%). Adicionalmente, reparar-

    se- que os nmeros da Costa Verde so os que denunciam uma evoluo mais

    consistente, isto , sem oscilaes cclicas.

    Uma outra faceta do fenmeno a merecer considerao prende-se com a

    sazonalidade da procura que enfrentam as unidades tursticas do T.E.R., sabido que o

    turismo , por excelncia, um sector com um mercado dominado por grandes oscilaes,

    no curso das estaes do ano.

    A informao sobre esta vertente reportada a 1998, disso bem expressivo

    (Figura n 2), com picos acentuados no perodo de Vero (Junho a Setembro), mais

    notrios ainda exactamente para as regies tursticas dominantes (particularmente a Costa

    Verde). O pico das dormidas atinge-se em Agosto, oferecendo-se tambm saliente a

    emergncia de pequenos picos por ocasio da Pscoa e do Natal.

    Figura n 2 - Dormidas no Total das Unidades de TER por regies tursticas

    (Mensal, 1998)

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    Jan.

    Fev.

    Mar.

    Avr.

    Mai.

    Junh.

    Julh.

    Ag.

    Set

    Out.

    Nov.

    Dez

    Milhares

    Costa VerdeCosta de Prata

    Costa de Lisboa

    Montanhas

    Plancies

    Algarve

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    Naturalmente que as condies climatricas so um elemento fundamental

    subjacente s oscilaes da procura que se registam. Outro elemento importante, a

    articular com o primeiro, so os hbitos e tradies dos utentes em matria de gozo de

    frias e procura de descanso e lazer. Estes aspectos so tanto mais relevantes para a

    compreenso da realidade vidida pelo sector quanto a procura por parte dos nacionais tem

    vindo a tomar maior expresso na ocupao das unidades de turismo no espao rural.

    4. Um estudo de caso: o Concelho de Braga

    Em termos de rea turstica, o concelho de Braga integra-se na Costa Verde.

    Apesar da dominante urbana que o caracteriza, o concelho de Braga mantm uma

    periferia com expresso rural ainda marcada, nomeadamente na sua faceta paisagstica. tendo por pano esse fundo o quadro genrico que foi desenvolvido este estudo

    de caso, sobre as realidades e a dinmica do fenmeno T.E.R. no espao territorial em

    epigrafe. A informao, numa parte recolhida atravs de inqurito directo, visou o

    universo das unidades instaladas sob o "rtulo" de turismo no espao rural.

    Em termos prvios, importa, em todo o caso, que se diga que a oferta de Braga

    se restringe modalidade Turismo de Habitao. Adicionalmente, anote-se que uma das

    unidades (denominada "Castelo do Bom Jesus", no se mostrou disponvel para

    responder ao questionrio implementado, da que os dados que se lhe referem tenham

    sido coligdos unicamente a partir das fontes estatsticas oficiais.

    O quadro que se segue (Quadro n 3) identifica as "casas" existentes e situa-as

    por referncia distncia ao centro urbano. Da se pode concluir, de uma parte, que estas

    unidades tursticas esto presentes apenas em trs das cinquenta e duas freguesias do

    concelho e, doutra parte, que, com excepo de um caso, se localizam na vizinhana do

    prprio centro urbano. Isto , a Casa de Lages a nica das quatro referenciadas que tem

    insero ntida no espao rural. Merecer meno tambm a circunstncia de duas das

    unidades beneficiarem da proximidade do chamado "Santurio do Bom Jesus".

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    Quadro n 3 - Localizao das Casas de Turismo de Habitao

    Casas de TH Distncia sede do concelho Freguesia

    Casa da Pedra Cavalgada 2 Km Palmeira

    Casa de Lages 11 Km Pousada

    Casa dos Lagos 5 Km Tenes

    Castelo do Bom Jesus 5,5 Km Tenes

    Fonte: Recolha prpria

    Trata-se de casas de elevado valor histrico e arquitectnico, que sofreram

    alteraes ligeiras face sua traa original oitocentista. Todas elas foram restauradas no

    seu interior para oferecer aos turistas as comodidades exigidas para a afirmao da

    vocao turstica, tendo os proprietrios declarado que adquiriram mobilirio e peas

    decorativas para embelezar os interiores das suas casas de forma a torn-las aprazveis.

    Do ponto de vista das caractersticas das unidades e evoluo da propriedade, o

    quadro n 4 sintetiza alguns elementos adicionais relevantes.

    Quadro n 4 - Breve caracterizao das Casas de TER do concelho de Braga

    Casas de TH

    rea Total

    da Propriedade

    Sc. de

    Construo

    Geraes na

    Famlia

    Antes de ser

    T.E.R.Casa da Pedra Cavalgada 6000m2 XVIII Desde

    sempre

    Anexo

    Casa de Lages *Nr XVIII Desde

    Sempre

    Habitao

    Casa dos Lagos *Nr XVIII Adquirida Habitao

    Castelo do Bom Jesus 10Ha XVIII *Nr *Nr

    *Nr - No respondeu

    Fonte: Recolha prpria

    Se bem que em dois casos os inquiridos no tenham sabido precisar as reas

    totais das suas propriedades, pela observao no local pode concluir-se que se se tratava

    de pequenas reas. Nem sempre assim ter sido, j que, no passado, as casas constituiram

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    a cabea de grandes exploraes agrcolas e pecurias que, com o tempo, se foram

    fragmentando.

    Na actualidade, em nenhum dos casos so exercdas actividades agrcolas ou

    pecurias complementares da actividade turstica. Da que os terrenos circundantes

    tenham dado lugar a espaos ajardinados e de equipamentos de diverso.

    No caso da Casa da Pedra Cavalgada, complementarmente ao alojamento

    T.E.R., foi instalado um restaurante com servio de gastronomia minhota, que serve, para

    alm dos turistas que a unidade aloja, o pblico em geral. O restaurante, que tem a

    mesma designao da unidade turstica, constitui, assim, igualmente um complemento

    (aprecivel) de rendimento.

    As unidades referenciadas surgiram na dcada de oitenta, a primeira das quais (a

    Casa dos Lagos) em 1984.O pioneirismo da Casa dos Lagos no ser alheio ao facto da sua proprietria

    conhecer pessoalmente uma das impulsionadoras do Turismo de Habitao em Portugal.

    Em nenhum dos casos houve recurso a apoios financeiros pblicos para as

    benfeitorias efectuadas, tendo sido privilegiado o emprego de capitais prprios.

    O inqurito conduzido permitiu, igualmente concluir que a explorao das

    unidades tursticas conduzida pelas mulheres dos proprietrios que, num ou noutro

    caso, tm j idade avanada: a mdia de idades identificada situa-se nos 65 anos. A

    actividade turstica permite, assim, um acrscimo de rendimento famlia, para alm de

    ocupar tempos que, doutra forma, seriam tempos livres.

    Avanando algo mais no perfil dos proprietrios das unidades referenciadas,

    note-se que so, no geral, detentores de formao acadmica de nvel superior. Com a

    excepo de um caso, e conforme se anotava do quadro n 4, as casas passaram de

    gerao em gerao para os actuais detentores. Todos tm nacionalidade portuguesa e so

    naturais do concelho de Braga e, mesmo, salvaguardada uma nica excepo, da prpria

    freguesia onde est instalada a unidade T.E.R..

    Do ponto de vista das caractersticas das unidades, o quadro n 5 fornece-se-nos

    um retrato resumido.

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    Quadro n 5 - Salas disposio dos turistas

    Salas Disponveis

    Castelo do

    Bom Jesus

    Casa de

    Lages

    Casa dos

    Lagos

    Casa da

    Pedra

    Cavalgada

    Sala de refeies X* X* X* X**

    Sala de estar privativa X X X X

    Sala de estar comum X X X X

    Sala de leitura X X X X

    Bar X X X X

    Sala de jogos/bilhar X X - -

    * Serve refeies mediante solicitao do cliente

    ** Dispe de restaurante

    Fonte: Recolha prpria

    Da se pode concluir que, com excepo de uma que possui desde perodo

    recente um restaurante, as casas s servem refeies aos seus clientes quando

    expressamente solicitadas. As razes aduzidas para que assim seja so as da

    disponibilidade nas imediaes desse tipo de servio, com qualidade, e, adicionalmente, acircunstncia da estadia efectiva nas unidades ser curta, j que os turstas as usam,

    sobretudo, como ponto de apoio para a explorao do territrio envolvente. O Castelo do

    Bom Jesus a nica unidade que dispe de uma ampla variedade de equipamentos de

    diverso, que vai do ginsio sauna, da natao equitao e ao tnis.

    Considerando agora o recrutamento de pessoal de apoio, os dados recolhidos

    evidenciam o seguinte:

    i) a mo-de-obra contratada maioritariamente feminina - s no caso da Casa da

    Pedra Cavalgada tal no acontece (por ventura, em razo da explorao de um

    restaurante);

    ii) predomina o recurso a empregados com baixo nvel de instruo - quase

    exclusivamente habilitaes a nvel do ensino bsico (primrio);

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    iii) contrariamente ao que comum na generalidade do sector turstico, os

    assalariados existentes trabalham todo o ano (nesta vertente, no consideramos o

    Castelo do Bom Jesus, por no termos tido acesso aos dados que lhe respeitam).

    iv) em trs das quatro casas consideradas, os empregados no se dedicam

    exclusivamente prestao de suporte actividade turstica;

    v) a idade dos assalariados varia entre os 40 e os 60 anos, com excepo de dois em

    onze que tm menos de 20 anos, que so, alis, os detentores de habilitaes a

    nvel do secundrio (tal como em iii, no so aqui considerados os dados

    referentes ao Castelo do Bom Jesus);

    Em termos complementares, do levantamento feito s unidades TER a operar no

    concelho de Braga, retenha-se: a existncia de picos de procura coincidentes com oVero; a permanncia dos turistas, em mdia, de dois a sete dias, sendo que os nacionais

    revelam preferncia pelos fins de semana prolongados, pontes e ferados e festividades,

    diferindo nisso dos estrangeiros, que predominantemente se instalam durante a semana; a

    menor sazonalidade da procura por parte dos no-nacionais; a provenincia maioritria

    dos pases do Sul da Europa (Espanha, Itlia e Frana) dos turistas que demandam estas

    casas; a predominncia dos grupos etrios dos 41 a 65 anos e mais de 65 entre os utentes

    com origem estrangeira e uma maior procura dos nacionais situados na faixa etria dos 16

    aos 40 anos, incluindo-se aqui a procura por parte de casais em lua-de-mel.

    Como nota derradeira, refira-se, por um lado, a associao que os proprietrios

    das unidades T.E.R. de Braga fazem entre as festas religiosas existentes e a procura que

    tm as suas casas e, por outro lado, a insatisfao que revelam pelo que se reporta

    promoo da sua oferta, estendendo a sua crtica dos organismos oficiais (nacionais,

    regionais e locais) s associaes de operadores T.E.R., PRIVETUR e TURIHAB.

    5. Alguns elementos de reflexo

    O aproveitamento turstico do espao rural e, em particular, o desenvolvimento

    do produto a que temos vindo a reportar-nos gerou grande expectativa em muitas reas

    em Portugal e foi seguido com grande curiosidade por acadmicos e outros agentes

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    preocupados com as questes do desenvolvimento, que, para ser desenvolvimento, tem

    que ser desenvolvimento regional.

    Alis, o turismo, na sua faceta mais tradicional, de sol e praia, marcou o

    desempenho econmico nas trs ltimas dcadas de regies como o Algarve e a Madeira,

    e, em menor grau, Lisboa.

    Aproveitando o potencial natural desses territrios, o sector confirmou-se como

    importante gerador de emprego e de rendimento, acabando, entretanto, por converter-se

    em mais uma causa da conformao fortemente assimtricas e litoralizada de

    desenvolvimento de Portugal.

    Para constituir-sem um instrumento de desenvolvimento dos territrios deixados

    esquecidos pelo modelo a que acabmos de reportar-nos, o turismo portugus precisaria

    de desconcentrar-se e diversificar-se, aproveitando o potencial das regies e configurandoprodutos tursticos alternativos. Num certo sentido, era essa a ideia enformadora do

    ordenamento turstico do territrio lanado em 1986. No entanto, o "Plano Nacional de

    Turismo" que lhe dava forma foi rapidamente abandonado, tendo-se perdido a nfase

    poltica de base regional que prosseguia. A inrcia consequente se encarregou de retomar

    a senda desequilbrada e redutora do potencial de aproveitamento dos recursos presentes

    no territrio, subsistente partida.

    E, todavia, a beleza das paisagens, a riqueza arquitectnica de edifcios

    seculares, a exuberncia da gastronomia e de muitas manifestaes culturais so uma

    realidade incontrolvel da identidade de mltiploas regies portuguesas, como disso d

    expresso o Minho e o Concelho de Braga, a que antes nos referimos no contexto do

    estudo de caso que foi conduzido. A limitar a explorao comercial dessa beleza, desses

    recursos, tem estado o excessivo investimento promocional feito no turismo de sol e praia

    e o correspondente dfice de empenho noutros produtos, porventura menos massificados,

    mais exigentes em matria de qualidade de servios prestados, mas, seguramente

    portadores de progresso numa lgica de desenvolvimento mais sustentvel e mais

    territorialmente equilibrado. Disso se queixa o T.E.R. e se lamentam quantos teimam em

    ver neste produto turstico um factor gerador de riqueza e de emprego.

    parte os recursos financeiros emprestados promoo, faltar tambm (assim

    o entendem os interpretes mais imediato do processo - a isso nos reportmos em ocasio,

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    oportuna) a articulao de esforos entre os agentes envolvidos nas diferentes

    componentes de realizao da oferta (administrao e privados) para que se cumpra o

    objectivo de qualidade que o T.E.R. significa e de eficincia na explorao do mercado

    potencial, que ningum dvida que exista.

    Nesse ensejo, cumpre, bem assim, assegurar a identidade do produto turstico

    TER, posta em causa quando, fora de lhe pretender alargar no curto prazo e os

    mercados naturais, se ensaia uma definio que o passa a identificar com toda e qualquer

    manifestao associada ao meio rural, como nos sugerido pelo Decreto-Lei n 169/97

    (artigo 4). Percebe-se nisso a ambio de alargar a estadia do turista e, da, alargar

    oportunidades de emprego e impactes econmicos sobre o tecido econmico regional, no

    seu todo. Labora-se, todavia, na confuso entre mercado ou produto turstico e carteira de

    oferta turstica, com todos os riscos da descaracterizao de cada produto singular e deconfuso sobre a permutabilidade das clientelas.

    Manifestamente, duvidoso que o utente da unidade T.E.R. seja exactamente o

    mesmo do turismo Ambiental ou Ecolgico, do Turismo Religioso ou do Turismo de

    Festas e Romarias. Entretanto, bem verdade que haver quem procure cada uma dessas

    expresses tursticas, e elas somadas, acrescidas de outras eventuais, constituiro o

    potencial turstico das regies.

    Por outro lado, na nsia de congregar factores de desenvolvimento regional e

    local, amide, pe-se esperana excessiva na capacidade criadora de emprego e

    rendimento da actividade turstica associada ao T.E.R.. Diriamos a propsito que, se os

    resultados sero magros numa e noutra dessas vertentes, so mais minguados sobretudo

    em razo do excesso de expectativas que nisso foi posto.

    O espao rural foi tradicionalmente um universo de actividades, em que cada

    uma fornecia uma parte dos recursos que sustentavam as comunidades instaladas.

    Remonta revoluo industrial e urbanizao progressiva subsequente a perda de

    diversidade funcional do campo. No se queira, portanto, atacar os males de que padece,

    e que tm conduzido ao seu empobrecimento e esvaziamento humano, com a receita

    Turismo no Espao Rural. Obviamente, o T.E.R. pode ser um contributo de relevo, e de

    tanto maior relevo quantos as polticas para o promoverem sejam consequentes, mas

    dificilmente ser soluo nica. A prpria expresso escassa e localizada dos recursos

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    que lhe do sustentculo lhe inviabiliza essa ambio. E tambm em razo dessa

    afirmao localizada e particular que no faz sentido pensar que ser resposta para toda e

    qualquer parcela do territrio nacional. Isto , semelhana do que sucede com o turismo

    de sol e praia, o T.E.R. ter (tem) a expresso concentrada territorialmente que lhe ditam

    a dotao dos recursos singulares das regies. Isso mesmo nos posto em evidncia pela

    expresso actual da manifestao geogrfica do produto no espao nacional e,

    seguramente, nalguma medida, pelo que o exemplo de Braga nos aporta.

    Concluso

    Em sntese, o turismo no espao rural possui efectivas qualidades para apoiar

    dinmicas de desenvolvimento a nvel regional, isto , pode ser um instrumento til degestao de alternativas para as economias locais/regionais, ao valorizar recursos

    endgenos e ao potenciar o recuperar de plurifuncionalidade destes territrios.

    Para o efeito, cumpre, no entanto, que no se tome este recurso como uma

    panaceia que tudo permite ultrapassar, mesmo o esquecimento de dcadas e o continuado

    empobrecimento do seu capital humano. Doutra forma, corre-se o risco de definitiva

    delapidao do potencial ambiental, de patrimnio e cultura existente ou de suscitar

    frustao entre os actores prximos do processo de mobilizao dos ditos recursos.

    Nalguma medida isso acabou por acontecer em Portugal, pese embora no seja legtimo

    afirmar que o T.E.R. no esteja j a dar os seus "frutos". Tal no significa dizer que o seu

    desenvolvimento potencial no esteja aqum do possvel. Est-lo-, seguramente, j

    porque subsiste a ausncia de um plano e de uma poltica consequente de ordenamento

    do sector turstico, j porque no existe um organismo a nvel nacional que coordene

    reservas, promoo e controlo de qualidade do produto, j porque, enfim, subsiste a

    lacuna de uma concepo integrada de aproveitamento e gesto do desenvolvimento das

    regies e do pas, como um todo.

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