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O Turismo no Espao Rural: uma digresso pelo tema a pretexto da
situao e evoluo do fenmeno em Portugal
J. Cadima RibeiroMaria Marlene de Freitas
Raquel Bernardette Mendes
Escola de Economia e Gesto
Universidade do Minho
Braga
RESUMO
Lanado experimentalmente em Portugal no final da dcada de setenta, o Turismo no
Espao Rural fez, desde ento, um percurso bastante dinmico, atravessado por algumas
hesitaes e dificuldades. Como instrumento de desenvolvimento regional, conforme foi
tomado amide pelas entidades pblicas, a controvrsia sobre o seu impacte subsiste.No presente trabalho, ensaia-se um reflexo sobre o tema, ao jeito de balano do que foi
realizado. Como expresso concreta da trajectria percorrida, retm-se o caso do
Concelho de Braga.
Na sntese da reflexo mantida, conclui-se que o produto turstico Turismo no Espao
Rural possui efectivas qualidades para apoiar dinmicas de desenvolvimento a nvel
regional. Cumpre, no entanto, que no seja tomado como panaceia que tudo pode
solucionar.
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Introduo
O turismo , em Portugal, como em vrios outros pases da Europa do Sul, e no
s, uma das actividades mais importantes na gerao de emprego e de rendimento. No
contexto da crise do mundo rural, no surpreender, assim, que o turismo se tenha
oferecido ao decisor pblico e aos actores sociais como um instrumento privilegiado de
criao de oportunidades econmicas e de reanimao do espao rural.
No presente trabalho, ensaia-se uma reflexo sobre o tema, ao jeito de balano
do percurso realizado em Portugal desde os finais da dcada de setenta. Como
particularizao dessa trajectria retm-se o caso do Concelho de Braga. Antes, porm, o
quadro conceptual enunciado de modo sumrio, e o retrato do turismo no espao rural
feito, nas vertentes oferta e procura.
1. O quadro conceptual de referncia
A origem da expresso turista parece estar na palavra francesa tour e ter
aparecido para exprimir a ideia de viagem por prazer. Era efectivamente este o
contexto em que se desenvolviam as viagens por lugares histricos e culturais da Europa
realizadas por membros da aristocracia e burgesia endinheirada nos sculos XVIII (a
partir de meados do sculo) e XIX.
Na sua acepo moderna, o termo turista refere-se s pessoas que se deslocam
para fora da sua residncia habitual e a permanecem durante um certo tempo
(supostamente, um perodo no inferior a 24 horas) com propsito distinto do exerccio
de uma actividade remunerada. Esta , grosso modo, a definio proposta pela
Organizao Mundial do Turismo (cf. Cunha, 1997, p. 6). A nfase sobre o perodo de
permanncia e a motivao pretende destrinar, por um lado, turista de excursionista
(aqueles que realizam visitas muito breves a esses mesmos lugares) e, por outro lado,
turista de emigrante, empresrio ou agente de negcios
O Instituto Nacional de Estatstica (INE), considera ainda o visitante, como
sendo o indivduo que se desloca a um lugar diferente da sua residncia habitual, por
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uma durao inferior a 365 dias, desde que o motivo principal da viagem no seja o de
exercer uma actividade remunerada no lugar visitado (INE, 1995).
A primeira definio de turismo foi estabelecida por Hunziker e Krapt, em 1942,
segundo os quais este o conjunto das relaes e fenmenos originados pela deslocao
e permannica de pessoas fora do seu local habitual de residncia, desde que tais
deslocaes e permanncias no sejam utilizadas para o exerccio de uma actividade
lucrativa principal, permanente ou temporria (c.f. Cunha, 1997, p.8). O conceito
entretanto tem implcitas implicaes diversas em matria de uso ou disfrute de bens e
servios por parte do turista, especialmente no local de visita. Da que o turismo seja,
contemporaneamente, pensado antes de tudo enquanto actividade econmica; um
actividade econmica que vive de uma complexidade de dependncias e articulaes com
ramos econmicos to diversos quanto o so transportes e seguros, hteis, restaurao eagricultura, lazer e cultura. Isto , conforme o considera Vitor Santos (1998, p. 4), o
turismo um produto compsito, resultado de uma cadeia multisectorial complexa e
interactiva de actividades em que cada participante contribui com uma pequena parcela
do produto final.
A heterogenidade do produto turstico cria uma diversificao de segmentos de
mercado. A cada segmento de mercado pode corresponder um ou mais produtos,
dependendo da combinao das diversas componentes que caracteriza cada um desses
produtos.
2. O produto turstico T.E.R.
Perante estruturas pouco diversificadas e onde escasseiam as oportunidades
econmicas, o turismo pode oferecer-se como um importante factor de desenvolvimento.
Assim na medida em que for capaz de valorizar o potencial endgeno dos territrios,
expresso em patrimnio, ambiente e cultura, e, da, introduzir os estmulos e a
racionalizao das estruturas produtivas indutoras do desenvolvimento econmico.
Esta realidade marcada por arcasmos estruturais e atrasos de desenvolvimento
algo bem presente em muitos espaos rurais, da que se tenha sugerido a actores sociais e
entidades pblicas a ideia de fazer do turismo o motor da dinamizao desses espaos,
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fazendo da articulao da tradio, da ruralidade e do patrimnio existente os elementos
distintivos de um produto turstico comummente designado Turismo no Espao Rural
(T.E.R.)
No existe uma acepo nica de T.E.R.. O Guia Oficial da Direco Geral do
Turismo (1998, p.3) considera que o turismo rural consiste no conjunto de actividades e
servios realizados e prestados, mediante remunerao, em zonas rurais, segundo
diversas modalidades de hospedagem, de actividades e servios complementares de
animao e diverso turstica, tendo em vista a oferta de um produto turstico completo e
diversificado no espao rural. Lcinio Cunha, por sua vez (1997, p. 167), prefere dirigir a
nfase para a utilizao dos factores naturais, culturais e sociais que so prprios destas
zonas (rurais) e para a escala (pequena) da explorao, a preservao dos valores e a
recusa do carcter urbano das construes ou equipamentos que so postos ao dispor daactividade turstica.
A definio avanada pela Comisso Europeia, por seu turno, entende relevar,
de idntico modo, a dimenso da unidade de explorao, associada ideia do tratamento
personalizado do utente, a manuteno da autenticidade do meio (rural) fsico e humano,
e a participao do visitante nas actividades, costumes e modos de vida dos habitantes
(c.f. Vassilaras, 1990, p.4)
Em Portugal, o Turismo no Espao Rural emergiu nos finais dos anos 70 (1978),
de forma experimental, em Ponte de Lima, Vila Viosa, Castelo de Vide e Vouzela.
Chamou-se ento turismo de habitao e foi concebida pela entidade pblica como
forma de tirar partido da riqueza arquitectnica, histrica e paisagstica de algumas
regies. Da a escolha dos casos ploto antes enumerados.
A dinmica posterior da oferta, ditada pela recuperao de casas senhoriais, em
muito casos parcialmente suportada por fundos pblicos, levou evoluo, mais tarde
(1986) para o conceito legal de Turismo no Espao Rural, que abarcava as seguintes trs
figuras: Turismo de Habitao; Turismo Rural e Agro-Turismo (c.f. D.L. 256/86). Em
1989 surge uma nova modalidade, o Hotel Rural, e bastante mais recentemente (em
1997) aparece o Turismo de Aldeia e as Casas de Campo (D.L. 169/97).
Como contributo para a clarificao da natureza do produto turstico em apreo,
o Decreto-Lei ultimamente mencionado indica que integram-se ainda no turismo no
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espao rural as actividades ou diverso que se destinem ocupao dos tempos livres dos
turstas e contribuam para a divulgao das caractersticas, produtos e tradies das
regies, designadamente o seu patrimnio natural, paisagstico e cultural, os itinerrios
temticos, a gastronomia, o artesanato, o folclore, a caa, a pesca, os jogos e os
transportes tradicionais, e sejam declaradas de interesse turstico (DL. 169/97, art 4). A
dificuldade que nos sugere a definio que, pela ambio de abrangncia, corre o riso
de roubar a singularidade que esteve na origem do produto T.E.R..
3. Os nmeros do T.E.R. em Portugal
Antes de avanarmos na anlise da evoluo do turismo no espao rural em
Portugal, cumpre referir que s existem dados estatsticos comparveis desde o ano de1989, ocasio em que se procedeu reclasificao das unidades tursticas. Acresce que,
em expresso da contingncia ditada pela evoluo das nomenclaturas oficiais, a anlise
retm s as unidades de Turismo de Habitao, Turismo Rural e Agro-Turismo. A leitura
de resultados tomar por referncia o ano de 1998 e os dados estatsticos usados so os
disponibilizados pelas Diviso de Recolha de Informao e Estatsticas da Direco Geral
do Turismo (DGT) e pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE).
3.1. A oferta
Na linha do que se considera no Livro Branco do Turismo (DGT, 1991), a
oferta turstica engloba aquilo que o local de destino tem para oferecer aos seus utentes
actuais e potenciais, sendo representada por bens, servios e atraces que determinaro
a preferncia do visitante. Ou, se se quiser, constituda por todos os elementos que
contribuem para a satisfao das necessidades de ordem psicolgica, fsica e cultural que
se encontram na origem das motivaes dos turistas (DGT, 1991, p. 67).
O quadro que se apresenta de seguida (quadro n 1) retrata a situao e evoluo
do sector, entre 1989 e 1998, expressa em nmero de estabelecimentos, organizados pelas
modalidades antes explcitadas (Turismo de Habitao, Turismo Rural e Agro-Turismo).
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Quadro n 1. Nmero de estabelecimentos entre 1989 e 1998
Modalidades 1989 1992 1994 1996 1998
TH 107 147 167 181 213
TR 72 157 187 214 248
AT 15 49 75 98 108
Total 194 353 429 493 569
Fonte: D.G.T.
Do que os nmeros permitem evidenciar, sublinhe-se i) o crescimento acentuado
do nmero de unidades, no seu todo, ii) o ponto de partida diferenciado das distintas
modalidades, fruto do arranque pioneiro no final dos anos 70 da modalidade Turismo de
Habitao (TH) e iii) o desenvolvimento acelerado no perodo em referncia dasmodalidades Turismo Rural (TR) e Agro-Turismo (AT). Essa evoluo especialmente
impreeionante no primeiro perodo, isto , entre 1989 e 1982.
Na sua expresso desagregada por regies tursitcas, o quadro de situao em
1998 o que se oferece na Figura n 1.
Figura n 1:N de Estabelecimentos de TER por modalidades e por regies tursticas
(1998)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Costa
Verde
Costade
Prata
Costade
Lisboa
Montanhas
Plancies
Algarve
Aores
Madeira
N. Estabelecimentos
N. Quartos
N. Camas
Da figura em considerao, retenha-se a expresso dominante em termos de
TER da Costa Verde, das Montanhas e das Plancies, especialmente da primeira regio
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turstica mencionada, a dar expresso de atributos culturais, arquitectnicos e
paisagsticos nicos, e tambm do lugar pioneiro que tomou na explorao deste mercado
turstico. Este destaque mais notrio pelo paralelo que a figura documenta de pouca
expressividade de regies tursticas de tanta tradio quanto o so a Costa de Lisboa, o
Algarve e a Madeira; tradio, todavia, afirmada em segmentos de mercado alternativos.
3.2. A procura
O Quadro n 2, que se apresenta de seguida, sintetiza a informao disponvel
sobre a procura de T.E.R. no perodo que medeia entre 1992 e 1998, para o total do pas e
por regies tursticas.
Quadro n 2. Dormidas no TER de 1989 a 1998(em Milhares)
Regies 1992 1994 1996 1998 Var % - 92/98
Costa Verde 21880 26778 41188 51336 134,6
Costa de Prata 11457 18308 16925 21746 90,0
Costa de Lisboa 8218 5229 10056 11971 45,7
Montanhas 14093 22057 36046 35889 154,7
Plancies 24371 17601 28475 27995 14,9Algarve 6153 17601 9950 11877 93,0
Aores 240 7812 0 335 *
Madeira 0 0 0 1271 *
Total 86412 97785 142640 162420 86,6**
Fonte: D.G.T.
* Dados no comparveis.
** Excludas as dormidas dos Aores e Madeira
Numa breve anlise dos dados, nota-se de imediato que as ilhas no constituem
um mercado turstico importante deste produto. Sobressai, tambm, o crescimento
genrico da procura, com especial destaque para as Montanhas (que registam um
acrscimo de dormidas de 154,7%) e para a Costa Verde (que acolheu um adicional de
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dormidas entre os 2 perodos extremos em anlise de 134,6%). Adicionalmente, reparar-
se- que os nmeros da Costa Verde so os que denunciam uma evoluo mais
consistente, isto , sem oscilaes cclicas.
Uma outra faceta do fenmeno a merecer considerao prende-se com a
sazonalidade da procura que enfrentam as unidades tursticas do T.E.R., sabido que o
turismo , por excelncia, um sector com um mercado dominado por grandes oscilaes,
no curso das estaes do ano.
A informao sobre esta vertente reportada a 1998, disso bem expressivo
(Figura n 2), com picos acentuados no perodo de Vero (Junho a Setembro), mais
notrios ainda exactamente para as regies tursticas dominantes (particularmente a Costa
Verde). O pico das dormidas atinge-se em Agosto, oferecendo-se tambm saliente a
emergncia de pequenos picos por ocasio da Pscoa e do Natal.
Figura n 2 - Dormidas no Total das Unidades de TER por regies tursticas
(Mensal, 1998)
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
Jan.
Fev.
Mar.
Avr.
Mai.
Junh.
Julh.
Ag.
Set
Out.
Nov.
Dez
Milhares
Costa VerdeCosta de Prata
Costa de Lisboa
Montanhas
Plancies
Algarve
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Naturalmente que as condies climatricas so um elemento fundamental
subjacente s oscilaes da procura que se registam. Outro elemento importante, a
articular com o primeiro, so os hbitos e tradies dos utentes em matria de gozo de
frias e procura de descanso e lazer. Estes aspectos so tanto mais relevantes para a
compreenso da realidade vidida pelo sector quanto a procura por parte dos nacionais tem
vindo a tomar maior expresso na ocupao das unidades de turismo no espao rural.
4. Um estudo de caso: o Concelho de Braga
Em termos de rea turstica, o concelho de Braga integra-se na Costa Verde.
Apesar da dominante urbana que o caracteriza, o concelho de Braga mantm uma
periferia com expresso rural ainda marcada, nomeadamente na sua faceta paisagstica. tendo por pano esse fundo o quadro genrico que foi desenvolvido este estudo
de caso, sobre as realidades e a dinmica do fenmeno T.E.R. no espao territorial em
epigrafe. A informao, numa parte recolhida atravs de inqurito directo, visou o
universo das unidades instaladas sob o "rtulo" de turismo no espao rural.
Em termos prvios, importa, em todo o caso, que se diga que a oferta de Braga
se restringe modalidade Turismo de Habitao. Adicionalmente, anote-se que uma das
unidades (denominada "Castelo do Bom Jesus", no se mostrou disponvel para
responder ao questionrio implementado, da que os dados que se lhe referem tenham
sido coligdos unicamente a partir das fontes estatsticas oficiais.
O quadro que se segue (Quadro n 3) identifica as "casas" existentes e situa-as
por referncia distncia ao centro urbano. Da se pode concluir, de uma parte, que estas
unidades tursticas esto presentes apenas em trs das cinquenta e duas freguesias do
concelho e, doutra parte, que, com excepo de um caso, se localizam na vizinhana do
prprio centro urbano. Isto , a Casa de Lages a nica das quatro referenciadas que tem
insero ntida no espao rural. Merecer meno tambm a circunstncia de duas das
unidades beneficiarem da proximidade do chamado "Santurio do Bom Jesus".
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Quadro n 3 - Localizao das Casas de Turismo de Habitao
Casas de TH Distncia sede do concelho Freguesia
Casa da Pedra Cavalgada 2 Km Palmeira
Casa de Lages 11 Km Pousada
Casa dos Lagos 5 Km Tenes
Castelo do Bom Jesus 5,5 Km Tenes
Fonte: Recolha prpria
Trata-se de casas de elevado valor histrico e arquitectnico, que sofreram
alteraes ligeiras face sua traa original oitocentista. Todas elas foram restauradas no
seu interior para oferecer aos turistas as comodidades exigidas para a afirmao da
vocao turstica, tendo os proprietrios declarado que adquiriram mobilirio e peas
decorativas para embelezar os interiores das suas casas de forma a torn-las aprazveis.
Do ponto de vista das caractersticas das unidades e evoluo da propriedade, o
quadro n 4 sintetiza alguns elementos adicionais relevantes.
Quadro n 4 - Breve caracterizao das Casas de TER do concelho de Braga
Casas de TH
rea Total
da Propriedade
Sc. de
Construo
Geraes na
Famlia
Antes de ser
T.E.R.Casa da Pedra Cavalgada 6000m2 XVIII Desde
sempre
Anexo
Casa de Lages *Nr XVIII Desde
Sempre
Habitao
Casa dos Lagos *Nr XVIII Adquirida Habitao
Castelo do Bom Jesus 10Ha XVIII *Nr *Nr
*Nr - No respondeu
Fonte: Recolha prpria
Se bem que em dois casos os inquiridos no tenham sabido precisar as reas
totais das suas propriedades, pela observao no local pode concluir-se que se se tratava
de pequenas reas. Nem sempre assim ter sido, j que, no passado, as casas constituiram
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a cabea de grandes exploraes agrcolas e pecurias que, com o tempo, se foram
fragmentando.
Na actualidade, em nenhum dos casos so exercdas actividades agrcolas ou
pecurias complementares da actividade turstica. Da que os terrenos circundantes
tenham dado lugar a espaos ajardinados e de equipamentos de diverso.
No caso da Casa da Pedra Cavalgada, complementarmente ao alojamento
T.E.R., foi instalado um restaurante com servio de gastronomia minhota, que serve, para
alm dos turistas que a unidade aloja, o pblico em geral. O restaurante, que tem a
mesma designao da unidade turstica, constitui, assim, igualmente um complemento
(aprecivel) de rendimento.
As unidades referenciadas surgiram na dcada de oitenta, a primeira das quais (a
Casa dos Lagos) em 1984.O pioneirismo da Casa dos Lagos no ser alheio ao facto da sua proprietria
conhecer pessoalmente uma das impulsionadoras do Turismo de Habitao em Portugal.
Em nenhum dos casos houve recurso a apoios financeiros pblicos para as
benfeitorias efectuadas, tendo sido privilegiado o emprego de capitais prprios.
O inqurito conduzido permitiu, igualmente concluir que a explorao das
unidades tursticas conduzida pelas mulheres dos proprietrios que, num ou noutro
caso, tm j idade avanada: a mdia de idades identificada situa-se nos 65 anos. A
actividade turstica permite, assim, um acrscimo de rendimento famlia, para alm de
ocupar tempos que, doutra forma, seriam tempos livres.
Avanando algo mais no perfil dos proprietrios das unidades referenciadas,
note-se que so, no geral, detentores de formao acadmica de nvel superior. Com a
excepo de um caso, e conforme se anotava do quadro n 4, as casas passaram de
gerao em gerao para os actuais detentores. Todos tm nacionalidade portuguesa e so
naturais do concelho de Braga e, mesmo, salvaguardada uma nica excepo, da prpria
freguesia onde est instalada a unidade T.E.R..
Do ponto de vista das caractersticas das unidades, o quadro n 5 fornece-se-nos
um retrato resumido.
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Quadro n 5 - Salas disposio dos turistas
Salas Disponveis
Castelo do
Bom Jesus
Casa de
Lages
Casa dos
Lagos
Casa da
Pedra
Cavalgada
Sala de refeies X* X* X* X**
Sala de estar privativa X X X X
Sala de estar comum X X X X
Sala de leitura X X X X
Bar X X X X
Sala de jogos/bilhar X X - -
* Serve refeies mediante solicitao do cliente
** Dispe de restaurante
Fonte: Recolha prpria
Da se pode concluir que, com excepo de uma que possui desde perodo
recente um restaurante, as casas s servem refeies aos seus clientes quando
expressamente solicitadas. As razes aduzidas para que assim seja so as da
disponibilidade nas imediaes desse tipo de servio, com qualidade, e, adicionalmente, acircunstncia da estadia efectiva nas unidades ser curta, j que os turstas as usam,
sobretudo, como ponto de apoio para a explorao do territrio envolvente. O Castelo do
Bom Jesus a nica unidade que dispe de uma ampla variedade de equipamentos de
diverso, que vai do ginsio sauna, da natao equitao e ao tnis.
Considerando agora o recrutamento de pessoal de apoio, os dados recolhidos
evidenciam o seguinte:
i) a mo-de-obra contratada maioritariamente feminina - s no caso da Casa da
Pedra Cavalgada tal no acontece (por ventura, em razo da explorao de um
restaurante);
ii) predomina o recurso a empregados com baixo nvel de instruo - quase
exclusivamente habilitaes a nvel do ensino bsico (primrio);
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iii) contrariamente ao que comum na generalidade do sector turstico, os
assalariados existentes trabalham todo o ano (nesta vertente, no consideramos o
Castelo do Bom Jesus, por no termos tido acesso aos dados que lhe respeitam).
iv) em trs das quatro casas consideradas, os empregados no se dedicam
exclusivamente prestao de suporte actividade turstica;
v) a idade dos assalariados varia entre os 40 e os 60 anos, com excepo de dois em
onze que tm menos de 20 anos, que so, alis, os detentores de habilitaes a
nvel do secundrio (tal como em iii, no so aqui considerados os dados
referentes ao Castelo do Bom Jesus);
Em termos complementares, do levantamento feito s unidades TER a operar no
concelho de Braga, retenha-se: a existncia de picos de procura coincidentes com oVero; a permanncia dos turistas, em mdia, de dois a sete dias, sendo que os nacionais
revelam preferncia pelos fins de semana prolongados, pontes e ferados e festividades,
diferindo nisso dos estrangeiros, que predominantemente se instalam durante a semana; a
menor sazonalidade da procura por parte dos no-nacionais; a provenincia maioritria
dos pases do Sul da Europa (Espanha, Itlia e Frana) dos turistas que demandam estas
casas; a predominncia dos grupos etrios dos 41 a 65 anos e mais de 65 entre os utentes
com origem estrangeira e uma maior procura dos nacionais situados na faixa etria dos 16
aos 40 anos, incluindo-se aqui a procura por parte de casais em lua-de-mel.
Como nota derradeira, refira-se, por um lado, a associao que os proprietrios
das unidades T.E.R. de Braga fazem entre as festas religiosas existentes e a procura que
tm as suas casas e, por outro lado, a insatisfao que revelam pelo que se reporta
promoo da sua oferta, estendendo a sua crtica dos organismos oficiais (nacionais,
regionais e locais) s associaes de operadores T.E.R., PRIVETUR e TURIHAB.
5. Alguns elementos de reflexo
O aproveitamento turstico do espao rural e, em particular, o desenvolvimento
do produto a que temos vindo a reportar-nos gerou grande expectativa em muitas reas
em Portugal e foi seguido com grande curiosidade por acadmicos e outros agentes
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preocupados com as questes do desenvolvimento, que, para ser desenvolvimento, tem
que ser desenvolvimento regional.
Alis, o turismo, na sua faceta mais tradicional, de sol e praia, marcou o
desempenho econmico nas trs ltimas dcadas de regies como o Algarve e a Madeira,
e, em menor grau, Lisboa.
Aproveitando o potencial natural desses territrios, o sector confirmou-se como
importante gerador de emprego e de rendimento, acabando, entretanto, por converter-se
em mais uma causa da conformao fortemente assimtricas e litoralizada de
desenvolvimento de Portugal.
Para constituir-sem um instrumento de desenvolvimento dos territrios deixados
esquecidos pelo modelo a que acabmos de reportar-nos, o turismo portugus precisaria
de desconcentrar-se e diversificar-se, aproveitando o potencial das regies e configurandoprodutos tursticos alternativos. Num certo sentido, era essa a ideia enformadora do
ordenamento turstico do territrio lanado em 1986. No entanto, o "Plano Nacional de
Turismo" que lhe dava forma foi rapidamente abandonado, tendo-se perdido a nfase
poltica de base regional que prosseguia. A inrcia consequente se encarregou de retomar
a senda desequilbrada e redutora do potencial de aproveitamento dos recursos presentes
no territrio, subsistente partida.
E, todavia, a beleza das paisagens, a riqueza arquitectnica de edifcios
seculares, a exuberncia da gastronomia e de muitas manifestaes culturais so uma
realidade incontrolvel da identidade de mltiploas regies portuguesas, como disso d
expresso o Minho e o Concelho de Braga, a que antes nos referimos no contexto do
estudo de caso que foi conduzido. A limitar a explorao comercial dessa beleza, desses
recursos, tem estado o excessivo investimento promocional feito no turismo de sol e praia
e o correspondente dfice de empenho noutros produtos, porventura menos massificados,
mais exigentes em matria de qualidade de servios prestados, mas, seguramente
portadores de progresso numa lgica de desenvolvimento mais sustentvel e mais
territorialmente equilibrado. Disso se queixa o T.E.R. e se lamentam quantos teimam em
ver neste produto turstico um factor gerador de riqueza e de emprego.
parte os recursos financeiros emprestados promoo, faltar tambm (assim
o entendem os interpretes mais imediato do processo - a isso nos reportmos em ocasio,
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oportuna) a articulao de esforos entre os agentes envolvidos nas diferentes
componentes de realizao da oferta (administrao e privados) para que se cumpra o
objectivo de qualidade que o T.E.R. significa e de eficincia na explorao do mercado
potencial, que ningum dvida que exista.
Nesse ensejo, cumpre, bem assim, assegurar a identidade do produto turstico
TER, posta em causa quando, fora de lhe pretender alargar no curto prazo e os
mercados naturais, se ensaia uma definio que o passa a identificar com toda e qualquer
manifestao associada ao meio rural, como nos sugerido pelo Decreto-Lei n 169/97
(artigo 4). Percebe-se nisso a ambio de alargar a estadia do turista e, da, alargar
oportunidades de emprego e impactes econmicos sobre o tecido econmico regional, no
seu todo. Labora-se, todavia, na confuso entre mercado ou produto turstico e carteira de
oferta turstica, com todos os riscos da descaracterizao de cada produto singular e deconfuso sobre a permutabilidade das clientelas.
Manifestamente, duvidoso que o utente da unidade T.E.R. seja exactamente o
mesmo do turismo Ambiental ou Ecolgico, do Turismo Religioso ou do Turismo de
Festas e Romarias. Entretanto, bem verdade que haver quem procure cada uma dessas
expresses tursticas, e elas somadas, acrescidas de outras eventuais, constituiro o
potencial turstico das regies.
Por outro lado, na nsia de congregar factores de desenvolvimento regional e
local, amide, pe-se esperana excessiva na capacidade criadora de emprego e
rendimento da actividade turstica associada ao T.E.R.. Diriamos a propsito que, se os
resultados sero magros numa e noutra dessas vertentes, so mais minguados sobretudo
em razo do excesso de expectativas que nisso foi posto.
O espao rural foi tradicionalmente um universo de actividades, em que cada
uma fornecia uma parte dos recursos que sustentavam as comunidades instaladas.
Remonta revoluo industrial e urbanizao progressiva subsequente a perda de
diversidade funcional do campo. No se queira, portanto, atacar os males de que padece,
e que tm conduzido ao seu empobrecimento e esvaziamento humano, com a receita
Turismo no Espao Rural. Obviamente, o T.E.R. pode ser um contributo de relevo, e de
tanto maior relevo quantos as polticas para o promoverem sejam consequentes, mas
dificilmente ser soluo nica. A prpria expresso escassa e localizada dos recursos
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que lhe do sustentculo lhe inviabiliza essa ambio. E tambm em razo dessa
afirmao localizada e particular que no faz sentido pensar que ser resposta para toda e
qualquer parcela do territrio nacional. Isto , semelhana do que sucede com o turismo
de sol e praia, o T.E.R. ter (tem) a expresso concentrada territorialmente que lhe ditam
a dotao dos recursos singulares das regies. Isso mesmo nos posto em evidncia pela
expresso actual da manifestao geogrfica do produto no espao nacional e,
seguramente, nalguma medida, pelo que o exemplo de Braga nos aporta.
Concluso
Em sntese, o turismo no espao rural possui efectivas qualidades para apoiar
dinmicas de desenvolvimento a nvel regional, isto , pode ser um instrumento til degestao de alternativas para as economias locais/regionais, ao valorizar recursos
endgenos e ao potenciar o recuperar de plurifuncionalidade destes territrios.
Para o efeito, cumpre, no entanto, que no se tome este recurso como uma
panaceia que tudo permite ultrapassar, mesmo o esquecimento de dcadas e o continuado
empobrecimento do seu capital humano. Doutra forma, corre-se o risco de definitiva
delapidao do potencial ambiental, de patrimnio e cultura existente ou de suscitar
frustao entre os actores prximos do processo de mobilizao dos ditos recursos.
Nalguma medida isso acabou por acontecer em Portugal, pese embora no seja legtimo
afirmar que o T.E.R. no esteja j a dar os seus "frutos". Tal no significa dizer que o seu
desenvolvimento potencial no esteja aqum do possvel. Est-lo-, seguramente, j
porque subsiste a ausncia de um plano e de uma poltica consequente de ordenamento
do sector turstico, j porque no existe um organismo a nvel nacional que coordene
reservas, promoo e controlo de qualidade do produto, j porque, enfim, subsiste a
lacuna de uma concepo integrada de aproveitamento e gesto do desenvolvimento das
regies e do pas, como um todo.
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