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Revista Educação Especial ISSN: 1808-270X revistaeducaçã[email protected] Universidade Federal de Santa Maria Brasil Devalle Rech, Andréia Jaqueline; Napoleão Freitas, Soraia O papel do professor junto ao aluno com Altas Habilidades Revista Educação Especial, núm. 25, 2005, pp. 1-7 Universidade Federal de Santa Maria Santa Maria, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=313127395006 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

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Revista Educação Especial

ISSN: 1808-270X

revistaeducaçã[email protected]

Universidade Federal de Santa Maria

Brasil

Devalle Rech, Andréia Jaqueline; Napoleão Freitas, Soraia

O papel do professor junto ao aluno com Altas Habilidades

Revista Educação Especial, núm. 25, 2005, pp. 1-7

Universidade Federal de Santa Maria

Santa Maria, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=313127395006

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oo. Cadernos .. edlcáo: 2005 - N° 25 > Editorial> Índice> Resumo > Artigo

o papel do professor junto ao aluno com Altas Habilidadesl

Andrél8 Jaquellne Devalle RechSoraia Napolela Freitli!ls

Quando se discute a Educa~ao Especial é comum, num primeiro momento, lerrbrar do aluno quecorrpñe o especial na Educa~ao como aquele com deficiencia mental, auditiva, visual ou física. Noentanto, assim como essas enancas, tarrbém os alunos com altas habilidades necessitam de umatendimento especializado, pols ele também é um sujeito da Educa~ao Especial. Nesse sentido, esteartigo apresenta a defini~ao de altas habilidades, baseada na teoría de um pesquisador norte-americanoe, como foco principal algumas questñes que envolvem o professor de forma mais direta com o alunocom altas habilidades em sala de aula. Entre elas estño: questñes sobre a aprendizagem escolar dessesalunos, bem como os fatores que fazem parte desse processo, estratégias de ensino e a importancia daldentlñcacño dos alunos com altas habilidades.

Palavras-chave: Educa~ao Especial. Professor. Aluno com Altas Habilidades.

Apresentacác

A temática das altas habilidades é um assunto que tem sido objeto de estudo de diferentespesquísadores, tanto em nível nacional quanto intemacional. Assim, diversos conceitos sao utilizadospara definir quem é a pessoa com altas habilidades. Nem os próprios pesquisadores chegaram a umconsenso em rela~ao a teminologia mais apropriada para ser utilizada.

No Brasil, em 1995, a partir das Diretrizes Gerais para o Atendimento Educacional aos AlunosPortadores de Altas Habilidades/Superdota~ao e Talentos, estabelecidas pela Secretaria de Educa~ao

Especial do Ministério da Educa~ao e Desporto, foi proposta a seguinte defini~ao:

Altas habilidades referem-se aos comporta mentas observados e/ou relatados que confirma m aexpresséo de 'traeos consistentemente superiores' em rela~ao a uma rnédia (por exemplo: idade,producño ou série escolar) em qualquer campo do saber ou do fazer. Deve-se entender por 'traeos' asformas consistentes, ou seja, aquelas que permanecem com freqüéncía e dura~ao no repertório doscomportamentos da pessoa, de forma a poderem ser registradas em épocas diferentes e sltuacñessemelhantes (BRASIL, 1995, p. 13).

É importante destacar que essa defini~ao engloba os corrportarrentos/tracos acima da rnédia,quando observados e comparados aos demais, aliados a permanencia e duracño destes. Assim, nodecorrer desse trabalho, o termo altas habilidades4 será utilizado para se referir a esta parcela dapopulacéo brasileira que, segundo a Organiza~ao Mundial da Saúde (OMS), constitui cerca de 3 a 5%.Entretanto, as pesquisadoras serño fiéis a nomenclatura que os diferentes autores adotarem para sereferir a esses sujeitos.

Deve-se ressaltar que esta porcentagem estabelecida pela OMS engloba apenas os sujeitosidentificados através dos testes de QI, com escores acima de 140. Sobre esse assunto, Winner (1998,p. 15) afirma que: 'os testes de QI medem uma estreita gama de habilidades humanas, principalmentefacilidade com Iinguagem e número. Há poucas evidencias de que superdotacáo em áreas nao­acadérncas, como artes ou música, requeiram um QI excepcional". Ou seja, há uma parcela dapopulacáo que nao está incluida nestas estatísticas, já que os testes padronizados nao privilegiam áreasmais subjetivas, por exemplo, habilidades cinestésicas.

Com o intuito de esclarecer quem é a pessoa com altas habilidades, apresentaremos a concepcñode Renzulli5 sobre os alunos com altas habilidades, já que este autor é um dos mais respeitados, naatualidade, sobre a temática em questño.

A ccncepcsc de superdotacáo para Joseph RenzulliRenzulli iniciou seus estudos sobre superdotados no final da década de sessenta. Para este autor,

a superdotacéo pode apresentar-se em deteminadas sítuacñes e em outras nao. Para ele, deveria haveruma rrudenca na concepcáo de 'ser superdotado". Dever-se-ia levar em conslderacño aqueles individuosque apresentam 'comportamentos superdotados", para entáo implementar programas de enriquecimento,que iriam beneficiar um maior grupo de pessoas. Dessa forma:

l-v-l a nossa expectativa é que, aplicando bons princípios de aprendizagem para todos os alunos,diluiremos as criticas tradicionais aos programas para superdotados e faremos das escolas locais ande o

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ensino, a criatividade e o entusiasmo por aprender sejam valorizados e respeitados (RENZULLl, 2004, p.121).

Assim, a implanta¡;ao, na escola regular, de programas de enriquecimento voltados para estimularas habilidades de todos os alunos seria o ideal. Ainda, se todos os alunos fossem estimulados, naohaveria necessidade de criar um espaco próprio para o aluno com altas habilidades.

Em relacéo 11 identifica¡;ao dos indivíduos superdotados, um dado importante deve ser considerado,os testes de QI. Para Renzulli, nao há uma fonma ideal de se medir a inteligencia e, portante, deve-seevitar a prática dos testes padronizados. Contudo, na época em que sua teoria foi lancada, os testes deQI eram os principais indicadores para um individuo ser ou nao ser superdotado. Lewis Terman, em suaspesquisas que tiveram início na década de 20, tinha por objetivo identificar superdotados, estepesquisador acreditava que altos escores nos testes de QI eram condlcáo única para superdotacño(ALENCAR & FLEITH, 2001). Entretanto,

Os programas para superdotados que confiam nos procedimentos tradicionais de ldentlñcacáopode m estar atendendo os alunos certos, mas, sem dúvida, estáo excluindo um grande número de alunosbem acima da média que, se receberem oportunidades, recursos e incentivo, também sao capazes deproduzir bons produtos (RENZULLl, 2004, p. 90).

Lago, a escola deve ter um olhar direcionado para identificar alunos com altas habilidades quetranscendam um número, analisado pelo teste de QI, pois alguns alunos com altas habilidades podem tersua ldentlñcacéo prejudicada se este fator for considerado como único indicador de altas habilidades.

Continuando a análise da obra de Renzulli, constata-se que um dos marcos da sua teoría foi odesenvolvimento da Concepcño de superdotacño dos Tres Anéis (Figura 1), que envolve: altacriatividade, compromisso com a tarefa e habilidade acima da média. Mas, é importante salientar que asuperdotacño se manifesta quando ocorre a lntersecño dos tres anéis, ou seja, um único anel naocorresponde a superdotacño. Para um melhor entendimento, a seguir seráo descritos cada um dos anéis.

irng

FIGURA 1 - Modelo dos Tres Anéis (RENZULLl, 1998)

Capacidade acima da média: divide-se em duas - habilidade geral e habilidade específica. Aprimeira consiste na capacidade para processar informa¡;ao, integrar experiencias que resultam emrespostas apropriadas as quais se adaptam a sftuacñes novas, e na capacidade para utilizar opensamento abstrato. Exemplos dessa habilidade sao: raciocínio verbal e numérico, relacñes de espaco,merrória, e fluéncla verbal. Essas habilidades sao comumente medidas por testes de eptldéo geral ouinteligencia.

A habilidade específica consiste na capacidade para adquirir conhecimento, ou habilidade paraexecutar uma ou mais atividades de um tipo especializado e dentro de uma gama restrita. Exemplosdessas habilidades incluem: química, balé, matemática, corrposicño musical, escultura, e fotografia.

Diferentemente da habilidade geral, a específica nao é facilmente reconhecida na escola e aindanao é contemplada nos testes padronizados de inteligencia. Uma altemativa para avaliar as habilidadesespecíficas seria uma observacáo dessas habilidades por um deteminado período, incluindo opinié'íes dediferentes profissionais relacionados 11 área em questñc. (RENZULLl, 1998).

Comprometimento com a tarefa: Esse anel está ligado 11 motiva¡;ao que um individuo superdotadoapresenta ao realizar deteminada tarefa; é comumente observado em pessoas criativo-produtivas. Ostraeos que sao com maior freqüéncla relacionados ao comprometimento com a tarefa envolvem:perseveranca, resistencia, trabalho árduo, dedlcacéo, autoconñence, e uma convlccño na própria

habilidade para concluir um trabalho importante em que a pessoa criativo-produtiva se propós aexecutar. (RENZULLI, 1998).

Criatividade: é o terceiro agrupa mento de características que compé'íem a concepcño deSuperdota¡;ao dos Tres Anéis e, seguidamente, é utilizada como atributo da pessoa talentosa, genio,criadores eminentes ou pessoas altamente criativas. Embora, sabe-se que, na maior parte dasreellzacñes mais significativas, a criatividade está presente. Assim, a criatividade envolve, entre outros:originalidade de pensamento, aptidao para deixar de lado as convencñes e talento para projetar erealizar projetos originais.

Ele dividiu a superdotacác em dols tipos: a escolar ou academica e a produtivo-criativa. Éimportante destacar o que Renzulli (1998) escreveu sobre os dols tipos:

- Ambos sao importantes;

- Nonmalmente há uma correlacáo entre os dois tipos;

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- Os programas especias deveriam apolar ambos os tipos de superdctacáo, como tarrtlém asnumerosas ocasié5es quando os dois tipos interagem entre si.

A superdotacño académica "é o tipo mais facilmente mensurado pelos testes padronizados decapacidade e, desta forma, o tipo rraís convenientemente utilizado para selecionar alunos para osprogramas especiais" (RENZULll, 2004, p. 82). Os alunos que sao superdotados academicamente, namaioria das vezes, apresentam um rendimento acima da rnédia nas áreas mais valorizadas pela escota, amatemática e o portugués. Sobre esse assunto, Renzulli (2004, p. 82) afirma que: "I ...l sao exatamenteos tipos de capacidades mais valorizadas nas sftuacñes de aprendizagem escolar tradicional, quefocalizam as habilidades analíticas em lugar das habilidades criativas ou práticas".

Diante dísso, a supernotacño acacémca manifesta-se em diferentes graus e pode ser facilmenteidentificada pelos testes padronizados de inteligéncia. Mas, segundo Renzulli, há que se atentar para ofato de que esse indicio, o alto escore em testes de QI, nao predispé5e o aluno a obter sucesso escolar.

O outro tipo, a superdotacño produtivo-criativa, é descrito por Renzulli (ibid., p. 83) como sendo"aspectos da atividade e do envolvimento humanos nos quais se incentiva o desenvolvimento de idéias,produtos, expressé5es artísticas e originais e áreas do conhecimento que sao propositalmente concebidaspara ter um impacto sobre uma ou mais platéias-alvo". Assim, o aluno produtivo-criativo é levado autilizar seu pensamento para produzir novas ldétas, materiais inéditos; passa de simples consurridor paraprodutor de conhecimento.

Diante da descrlcño dos trés "ingredientes" que fazem parte da Concepcáo de superdotacño dosTrés Anéís, para Renzulli a superdotacáo produtivo-criativa está mais presente em dols anéís, a saber:criatividade e comprometimento com a tarefa. Já a superdotacéo académica, apresenta maiorintensidade no anel da capacidade acima da rnédia que "I ...l tende a permanecer estável no deconrer dotempo, as pessoas nem sempre mostram o máximo de criatividade ou comprometimento com a tarefa",enquanto que "as pessoas altamente criativas e produtivas tém altos e baixos no rendimento de altonivel" (RENZULll, 2004, p. 83). No entanto, tanto os alunos do tipo produtivo-criativo quanto do tipoecadémcc devem apresentar os trés anéls, embora a intensidade deles possa ser diferente nos doistipos de superdotacñc.

Após elucidar, brevemente, ao leitor sobre os tipos de superdotacño que podem sem observadosnos alunos em sala de aula abordaremos sobre como o professor pode agir com um aluno identificadocomo portador de altas habilidades.

(Re)pensando o papel do professor em sala de aula

Em se tratando das dificuldades que os alunos com altas habilidades encontram em sua trajetóriaacadérrsce, nao há como nao lerrtlrar do professor, pois este exerce grande influéncia na vida escolar detodos os alunos.

O professor deve estar atento para que as relacñes estabelecidas em sala de aula nao sejamvistas pelo aluno com altas habilidades como algo negativo. Em geral, sabe-se que "as enancesrotuladas como superdotadas térn mais problemas sociais do que as nao assim rotuladas" (WINNER,

1998, p. 179). Assím, para a enanca com altas habilidades, carregar um rétulo como esse nao é algofácil. Winner (lbld., p. 179) complementa essa sltuacáo: "I ...l rotular uma enance como superdotada apressiona a desempenhar como uma enance superdotada e aumenta seu sentimento de ser diferente".Provavelmente, quando o rétulo nao é bem trabalhado/resolvldo por parte dos professores, colegas e daprépria enanca com altas habilidades, isso pode trazer problemas para a convivéncia entre todos naescola. Sentimentos como rejei~ao e menosprezo, e até o isolamento, podem ser conseqüénclasnegativas dessas relacñes interpessoais.

Out ro comportamento, seguidamente observado, é a íntroverséo. Como observa Winner (ibid., p.175), "algumas críances superdotadas, certamente, voltam-se para dentro porque sao banidas por seremtao diferentes. Porém, críancas superdotadas de todos os tipos sao também introvertidas porque sabemcomo ficar sozinhas, sao capazes de derivar prazer da solitude [ ...l". Como essas enancas sentem-sediferentes das demais, podem apresentar dificuldades nos relacionamentos. Isso se deve as experiénciasnao tao bem sucedidas, uma vez que os interesses que a enance com altas habilidades apresenta, namaioria das vezes, nao sao os mesmos dos seus colegas e/ou amigos. Logo, poderá haver umdistanciamento natural por parte de ambos.

Essa situa~ao reflete a necessidade da cria~ao de um espaco de encontro para as críancas comaltas habilidades, pois as trocas sociais entre os pares (iguais) sao muito importantes. Costa (2002),pontua que:

É fundamental ao indivíduo permanecer no seu contexto, aprender a conviver com suas dlterencas,realizar trocas com os demais e ampliar sua cornmícacéo. Este posiciona mento nao impede, no entanto,que se desenvolvam projetos de grupos onde as pessoas portadoras de altas habilidades possam falar de

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seus sentimentos, receber críentacño e dividir com outras pessoas de mesmas caracteñsticas, osespacos de cria~ao.

Entao, a medida que elas possam trocar experiencias com outras enancas com altas habilidades,estarse, também, dividindo angústias e anseios com quem sente as mesmas dificuldades.

Dessa forma, quando a críanca com altas habilidades nao consegue estabelecer uma relacñopositiva com seus colegas, incluindo também a professora, ela pode desenvolver mecanismos de defesapara nininizar os efeitos dessas relacñes conturbadas. Alguns pesquisadores (WINNER, 1998 eEXTREMIANA, 2000) apontam o subaproveitamento como um desses mecanismos de defesa, que podemsurgir em dois casos distintos: como forma de a críance "cerruñer" a sua alta habilidade para ser aceitapelo grande grupo; ou ainda quando um ambiente escolar nao desafiante pode levá-la a desinteressar-sepelos estudos.

Winner (1998, p. 180) é pontual ao afirmar que as enancas com altas habilidades freqüentementeU[... l desempenham abaixo de sua capacidade, nao apenas porque sao subdesafiadas, mas tambémporque trabalham abaixo do seu nivel para obter aceitacáo social". Diante dlsso, o professor pode criarestratégias para ninimizar esses acontecimentos em sala de aula. Por exemplo, propor seninários dedlscussáo, nos quais cada aluno terá oportunidade para expor suas idéias, evitando assim que sempre osmesmos respondam aos questionamentos. Dessa forma, qual aluno nao gostaria de participar maisativamente de uma aula, expondo suas oplnfñes e interesses, ao invés de permanecer estático em umacadeira, por horas seguidas?

Com base nesse fenéimeno pode-se inferir considerável vantagem para o grupo de alunos queestiverem abaixo da média, pois serño pressionados para cima, mais estimulados, mais desafiados,levados a produzir mais, tendo assim a possibilidade de, em boas condtcóes, chegar a reallzacéo máximade seu potencial (GUENTHER, 2002).

Ainda, como o aluno com altas habilidades, geralmente, ternina as tarefas por primeiro, o professorpode "utlllzá-lo" como monitor, ou seja, ele pode auxiliar os demais colegas em suas dúvidas. Winner(1998, p. 190) complementa:

Também é sugerido que os superdotados podem ajudar os menos capazes a aprender, ensinando­os e estabelecendo um exemplo. Isso é considerado ter tanto de valor acadérnco (ensinar alguém maisajuda a consolidar o que se aprendeu) como social (as críancas superdotadas aprendem a interagir comenancas de todos os tipos [ ... l.

É claro, o professor deve, primeiramente, conhecer a sua turma e verificar se esta estratégia será

viável, pois nao se pretende criar um possível elitismo do aluno com altas habilidades perante seuscolegas, mas sim fazer com que ele sinta-se útil.

Extremiana (2000, p. 102) cita outra forma do subaproveitamento: o desinteresse pelos estudos.

Porque es evidente que los niños que tienen una buena compresión de los conceptos abstractos yuna elevada capacidad de razonaniento necesitan el desafío de actividades que incorporen un 'alto nivel'de habilidad y capacidad de pensamento, Antes que pedir al niño que simplemente recite o repita lo queha aprendido, es mejor pedirle que compare, contraste, clasifique, resuma, hipotetice o hagasuposiciones6.

Diante dlsso, infelizmente, aqueles alunos que nao sao desafiados pela escota, pcls os conteúdosensinados nao sao instigantes, sao levados a ter um subaproveitamento escolar. Para Winner (1998, p.193) "a falta de desafio nas nossas escolas significa que as nossas crtancas nao estño desempenhandoaaltura do seu potencial. Elas estño subempreendendo". Isso é um fato muito sério, pois a medida que aescola nao proporciona um ambiente estimulante e desafiante, nao estará prejudicando apenas o alunocom altas habilidades, mas também os demais colegas. Como já dizia Paulo Freire (1997, p. 52), "enslnarnao é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua prépria producño ou a suaconstrucáo",

Assim sendo, muitas vezes, os professores caem no comodismo: por que alterar a prática se estádando certo? Porém, será que eles estáo contemplando os interesses dos alunos ou apenas é menostrabalhoso continuar do jeito que está?

Guenther (2000, p. 63) complementa esta questño quando expñe suas idéias:

As vezes os professores usam uma forma verbal aprimorada, para a sua pergunta, mas o querealmente espera m é que o aluno evoque, como resposta, alguma coísa que ele, professor, tenha emmente, que já tenha oferecido ao grupo em exposlcñes ou no material de estudo, e nao o que o alunoefetivamente tenha pensado e trabalhado por si próprio,

A esse respeito, uma das tarefas do professor seria estimular o pensamento, a reflexáo, pernitir____ • --' L _ _._ _ _ --'_____ _ r.L' __

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07/03112 :: Revista do Centro da Educaglio ::que o ajuno que cerronsrre suas opnuoes, que uesenvoiva um senso cnnco.

o professor deve ter a consciencia de que irá ensinar, mas taniJém irá aprender corn seus alunos,pasto que a figura do professor corro o "sabe-rudo" já está mais que ultrapassada. Portanto:

É preciso um professor que seja um mediador nao somente do conhecimento, mas taniJém dacormreenséo de si próprío, de seus pontos fracos e seus pontos fortes, que seja mais um orientador doque um transmssor de conhecimentos, que ajude este aluno a integrar-se ao grupo e assim facilitar-Ihea sua integra~ao a sociedade (PÉREZ, 2002).

Diante do exposto, percebe-se que a tdentlñcacño desses alunos é algo muito ccrrplexo, Portanto,as professores, quando requisitados a identificar essas críancas, devem levar em conslderacéo,primeiramente, que elas apresentam necessidades educacionais especiais. Corro afirma Pérez (ibid):

[ ... ] embora nao apresente um perfil padronizado, geralmente possui dlterencas qualitativas equantitativas muito significativas em rela~ao a seus pares, no que tange a interesses; rrotiva~ao;

criatividade; estila e estratégias de aprendizagem; tolerancia; senso de hurror; auto-requlacáo:trata menta, tnterconexáo e utiliza~ao das informa~i5es, entre outras. Estas diferen~as geramnecessidades educativas específicas que, quando nao atendidas, costumam provocar a sua exclusáoe/ou rejei~ao, seja por parte dos educadores, dos colegas ou inclusive por parte da sua própría família.

Assim, corrpreendé-las corro sujeitos especiais que sao, seria a primeiro passo.

No entanto, muitos professores encontram-se despreparados para identificar os alunos corn altashabilidades. Por conseguinte, nao sao poucas as vezes em que esses alunos sao identificados nao corroenances com altas habilidades, mas sim corro "alunos problemas". Visto que:

Muitos professores, que nao possuem treinamento especial no reconhecimento de slnals desuperdotacáo, sírrplesrrente consideram estas enancas corro um problema e mandam relatórios para ospais de que a críanca é desrrotivada, nao deseja tentar e nao consegue sentar quieta (WINNER, 1998,p. 194).

Essa afirma~ao reforce a idéia da enanca que se desrrotiva corn os conteúdos escolares e com ametodologia utilizada por seus professores, pois a que o professor está ensinando ela já domina.

Dessa forma, muitos professores acabam encarrinhando essas críancas para uma evallacáopsicológica, temendo que elas sejam hiperativas ou que apresentem algum distúrbio de aprendizagem.Isso porque "nós tenderros muito mais a patologizar estas crtancas do que a considerar que elas podemser inquietas e desatentas porque estño entediadas" (ibid., p. 194). Sao sltuacñes corro essas quefazem os rntos que envolvem os alunos com altas habilidades tomarem-se mais presentes. Quando oprofessor nao consegue separar o rnto da realidade, conseqüentemente, o aluno com altas habilidadessofre prejuízos em sua educacño em decorréncla dessas concepcñes erróneas que persistem no sensocomum de deterrrinados educadores.

Além disso, a professor tem que dar conta de uma sala de aula superlotada de alunos, cada umcorn suas particularidades. Conseqüentemente, na maioria das vezes, as conteúdos rrinistradosprivilegiam a maioria, logo a minoria fica a margem. Nesse sentido, Winner afirma que "quando asenancas superdotadas sao cercadas por enancas que carecem de seus interesses e habilidades, elastendem a desvalorizar suas habilidades e adaptar-se a massa" (ibid., p. 194).

Em relacéo ao currículo escolar, essa autora também observa alguns fatores que podem prejudicara identifica~ao dessas enancas:

Quando o cunículo se toma um pouco mais exigente em séries posteriores, estas enancascontinuam negligentes e seu desermenho correce a declinar. Elas correcam a parecer estudanteslentos, em vez de superdotados, resultando em decréscjrros adicionais em auto-estima (WINNER, 1998,p. 196).

Para tanto, o professor deve estar atento e observar se algum fator externo está interferindo noandamento dos estudos dessas enancas. Pois, qual professor indicaria uma enanca corro possívelportadora de altas habilidades se esta apresentasse baixo rendimento escolar? Lego, essa é urnasltuacéo que o professor está sujeito a enfrentar em sua prátlca, assim é fundamental que ele estejaatento aos corrportarrentos dos seus alunos, para quando tiver que identificar características de altashabilidades em seus alunos leve em consíderacño os corrportarrentos observados por um langa período enao aqueles observados esporadicamente.

Por fim, após descrever diferentes sltuacñes que o professor pode enfrentar em sala de aulaquando entre seus alunos pode haver algum com altas habilidades toma-se necessárío que o professorconheca as necessidades educacionais especiais que podem ser apresentadas por esses alunos. Ainda,que o professor saiba distinguir certos corrpcrtarrentos do aluno com altas habilidades, ou seja, que oprofessor consiga perceber que o desinteresse ou a inquíetacño em sala de aula pode nao ser rebeldia,

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mas sim tédio e trustracao, poís o que o proressor está ensinando o aluno com altas habilidades já sabe.

Outro fator ressaltado foi a identificac;ao dos alunos com altas habilidades que deve ser muito bemanalisada por parte do professor para que equívocos nao sejam cometidos Ou ainda, que o professor sejacoerente e nao se deixe levar por suas preferéncias, indicando aquele aluno com o qual ele tem umamaior afinidade e desconsiderando o "aluno problema", aquele que nao pára no lugar, que está sempretestando os conhecimentos do professor, questionando-o, mas sim proporcionar meios para que essesalunos consiga m se ajustar na comunidade escolar, tornando o arrbiente escolar prazeroso para o alunocom altas habilidades.

Diante dlsso, estimular o talento humano deve ser um dos objetivos da escola, pois como dizGuenther (2000, p. 14) "desenvolver talentos, sob esse olhar, é ao mesmo tempo um investimento sociale uma responsabilidade ccletlve". Com ísso, é responsabilidade de todos estimular e desenvolvercapacidades e talentos, e um desses incentivadores deve ser o professor, pois como mediador noprocesso ensino-aprendizagem, caberia, tarrbém, a ele oferecer estímulos e instigar o aluno a buscarnovos desafios, uma vez que os alunos passam grande parte de seu tempo em uma sala de aula. Dessaforma, toma-se essencial o professor saber identificar quem é o aluno com altas habilidades. Casocontrário: "a facilidade com que o potencial humano pode ser desperdic;ado, permanecer dormente e naodesenvolvida, mediocrizar-se, ou simplesmente estiolar-se e perder-se, ao nivel dos indivíduos éassustadora" (ibid., p. 16).

Diante disso, uma das tarefas da escola seria impedir que o talento humano fosse perdido, ou

entáo canalizado para lados negativos da sociedade, como por exemplo, a crirrinalidade. Visto que:

Uma alarmante possibilidade é (o aluno com altas habilidades) ser absorvido por grupos ativos emorganizac;oes antí-socíaís, como tráfico de entorpecentes, crime organizado, prostítuícáo, sítuacñesonde seu potencial é estimulado e desenvolvido, mas na direc;ao contrária ao desejável para a suareallzacáo pessoal e contríbuícño efetiva a sociedade (GUENTHER, 2002).

Para que isso nao ocorra, a escola, como agente social, deve oferecer estimulos e oríentacñes afim de que esses alunos se desenvolvam de forma plena. Assim sendo, propiciar um arrbiente ecolhedor,em casa e na escola, oferecer a estas enancas atencño, amor, cormreensáo, entre out ros"ingredientesH

, sao de extrema importancia para que elas se desenvolvam de uma forma sadia.

É compreensível que o desconhecido provoque medo e incertezas na prática docente com osalunos com altas habilidades. No entanto, esse fato nao pode ser utilizado como desculpa para que oprofessor nao procure profissionais capacitados para orlentacéc em relac;ao a educecáo desses alunos.Assim, espera-se que a escola possa perceber que seus alunos, a cada dia que passa, estáo cada vezmais heterogéneos, pois cada um apresenta uma particularidade em especial, ninguém é igual a ninguém.

Referéncias

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07/03112 :: Revista do Centro da Educaglio ::t\C1'IL.VL.LJ., .J. ,;;). V 4UC e t:':)LCI ....UI:)C1 ....IIClIIICIUCl ::'UIJt:'1 UULcn~,C1V, e .... VIII) CI UC::'CIIVUIVCIII):) r UIIIClI I ta.1 V::.IJC....LIVCI

de vinte e cinco anos. Educa~ao. Tradu~ao de Susana Graciela Pérez Barrera Pérez. Porto Alegre - RS,ano XXVII, n. 1, p. 75 - 121, jan/abr. 2004.:-;-.,---;-" The three-ring conception of giftedness. In: Baum, S. M., Reis, S. M., 80. Maxfield, L. R. (Eds.).Nurturing the gifts and talents of prirnary grade students. Mansfield Center, Connecticut: CreativeLearning Press, 199B. Disponível em: <http://www.sp.uconn.edu/~nrcgt/serrVsernart13.html> Acesso em22 jul. 2004, 14: 17: 12.WINNER, E. enances superdotadas: nitos e realidades. Tradu~ao de Sandra Costa. Porto Alegre: ArtesMédicas, 199B.

Notas

1 Este artigo é resultado de um Capítulo da monografia de Especializa~ao em Educa~ao Especial - UFSM2 Deve-se ressaltar, que apesar do Conselho Brasileiro para Superdota~ao - ConsBraSD, em 2002, ter

sugerido a utiliza~ao da teminologia altas habilidades/superdota~ao,as autoras deste artigo optaram porutilizar a nomenclatura altas habilidades, já que as Políticas Públicas no Brasil adotam esta teminologiapara se referir a essas pessoas.3 Pesquisador norte-americano, professor e diretor do National Research Center on the Gifted andTalented, situado na University of Connecticut4 Tradu~ao livre: "Porque é evidente que as enancas que térn urna boa cermreensño dos conceitosabstratos e uma capacidade elevada de raciocinio necessitam de atividades desafiantes que incorporem'altos níveis' de habilidades e capacidades de pensamento. Antes de pedir a uma enanca quesimplesmente narre ou repita o que foi aprendido, é melhor pedir que ela cormare, contraste, classifique,resuma, hipotetise ou fa~a suposícñes",

Correspondencia

Andréia Jaquelina Devalle Rech - Rua Dr. Pantaleáo, 5B7 apto 212 - Centro Cep: 97010-1BO.E-mail: [email protected]

Soraia Napoleao Freitas - Universidade Federal de Santa Maria/UFSM - Centro de Educa~ao/CE ­Departamento de Educa~ao Especial.E-mail: [email protected]

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