caderno3 analise de risco

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  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    1/41

    Marcelo Firpo de Souza Porto

    Engenheiro de Produo e Doutor pela COPPE/UFRJ. Pesquisador do Centro de

    Estudos da Sade do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Sade

    Pblica da Fundao Oswaldo Cruz (CESTEH/ENSP/FIOCRUZ).

    Anlise de riscosnos locais de

    trabalho:conhecer

    para transformar

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    2/41

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

    -4 -

    INTRODUO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .05

    O CONCEITO DE RISCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .08

    EXEMPLOS DE RISCOS NOS LOCAIS DE TRABALHO,

    SEUS EFEITOS PARA A SADE DOS TRABALHADORES

    E ATIVIDADES ONDE SE ENCONTRAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15

    ASPECTOS IMPORTANTES PARA A AO SINDICAL . . . . . . . . . .15

    COMO CONHECER OS RISCOS

    NOS LOCAIS DE TRABALHO ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .20

    COMBATENDO OS RISCOS:

    ESTRATGIAS DE PREVENO E CONTROLE . . . . . . . . . . . . . . . .24

    O PROGRAMADE PREVENO DE

    RISCOS AMBIENTAIS - PPRA(NR-9) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33

    A CIPA (NR-5) E O MAPA DE RISCOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .35

    A ANLISE DE ACIDENTES

    NOS LOCAIS DE TRABALHO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .37

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41

    ndice

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    INTRODUO

    Durante muito tempo foi vendida a idia de

    que o problema dos acidentes e doenas rela-cionadas ao trabalho era um tema s para

    certos especialistas: engenheiros de segu-

    rana, mdicos do trabalho, a gerncia das

    empresas e outros tcnicos especializados

    seriam os nicos detentores do conhecimento

    para analisarem os riscos nos locais de traba-

    lho e proporem solues. Nessa viso, os tra-

    balhadores seriam meros e passivos coadju-

    vantes, ora fornecendo informaes aos espe-

    cialistas, ora indo aos exames e respondendo

    perguntas aos mdicos, ou mesmo sendo acu-sados como responsveis pelos acidentes,

    atravs do conceito de ato inseguro, que per-

    verso e cientificamente errado.

    Essa viso tambm privilegiava a compensa-

    o financeira ou monetizao dos riscos, atra-

    vs da concesso dos adicionais de insalubri-

    dade e periculosidade, e possua uma atuao

    preventiva extremamente limitada. Essa viso

    atrasada de segurana e sade ocupacional

    acabava trabalhando somente no final da linha,

    ou seja, aps a ocorrncia de eventos como aci-dentes e doenas, e no controle dos prprios tra-

    balhadores. Para os tcnicos dessa viso, a pre-

    veno se restringia s normas de segurana e

    aos equipamentos de proteo individual, nem

    sempre com fornecimento e treinamento ade-

    quados. Deixava-se de lado as causas mais pro-

    fundas que geram os acidentes e doenas nos

    locais de trabalho, como os projetos de tecnolo-

    gias, a organizao do trabalho e as caractersti-

    cas da prpria sociedade, como a legislao e a

    atuao dos trabalhadores e as instituies.

    Obviamente, esta viso no verdadeira enem interessa aos trabalhadores, embora ainda

    hoje esteja presente em muitas empresas e ins-

    tituies no Brasil, que tentam inculcar esta

    ideologia nos prprios trabalhadores. A anlise

    dos riscos nos locais de trabalho deve necessa-

    riamente incorporar a vivncia, o conhecimento

    e a participao dos trabalhadores, j que eles

    realizam o trabalho cotidiano e sofrem seus

    efeitos e, portanto, possuem um papel funda-mental na identificao, eliminao e controle

    dos riscos. Alm disso, os processos produtivos

    afetam a vida da populao em geral e o meio

    ambiente, atravs da poluio crnica ou dos

    acidentes ambientais, como os que ocorrem em

    fbricas qumicas e nucleares, sendo um tema

    a ser debatido pelo conjunto da sociedade.

    Por isso, os riscos nos locais de trabalho

    no so um problema somente tcnico:

    tambm de natureza tica e poltica, e tem mais

    a ver com as relaes de poder na sociedade enas empresas do que com o mundo restrito da

    cincia e da tcnica. Os riscos decorrentes de

    processos produtivos e tecnologias que igno-

    ram ou desprezam as necessidades de seres

    humanos e do meio ambiente no so enfrenta-

    dos s tecnicamente por especialistas e cientis-

    tas, mas pela atuao organizada dos trabalha-

    dores e dos cidados em geral na luta pela

    defesa da vida e da democracia.

    Nas ltimas dcadas, principalmente nos

    pases da Europa e na Amrica do Norte, temhavido uma mudana substancial no enfoque

    dos profissionais que trabalham com os riscos

    nos locais de trabalho. Em vez de sistemas

    compensatrios e de fim de linha, busca-se

    enfatizar mais o aspecto preventivo, ou seja,

    atuar no controle e eliminao dos riscos na

    fonte, e no aps a ocorrncia de acidentes e

    doenas. Tambm a organizao do trabalho e

    as prticas gerenciais passaram a ser reconhe-

    cidas como importante foco de anlise, seja

    como causadoras de acidentes, doenas e sofri-

    mento, ou como integrantes fundamentais daspolticas de segurana e sade nas empresas.

    Alguns princpios de interesse para os tra-

    balhadores que devem ser destacados nesta

    concepo mais moderna so enumerados a

    seguir:

    -5 -

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    O foco principal da anlise de riscos nos

    locais de trabalho a preveno, ou seja, os

    riscos devem ser eliminados sempre que poss-

    vel, e o controle dos riscos existentes deveseguir os padres de qualidade mais elevados

    em termos tcnicos e gerenciais;

    Os trabalhadores so sujeitos fundamentais

    na anlise e controle dos riscos, seja porque

    conhecem as situaes reais de trabalho do

    cotidiano, seja porque suas vidas esto em jogo

    e precisam lutar para que a defesa de sua

    sade seja considerada nas decises tomadas

    pelos governos e pelas administraes das

    empresas, confrontando as prioridades e solu-

    es, por exemplo, nos investimentos realiza-dos, na escolha de tecnologias, na compra de

    equipamentos e nas formas de contratao,

    treinamento e diviso de tarefas dos trabalha-

    dores;

    O risco sade dos trabalhadores, popula-

    o e ao meio ambiente deve fazer parte de

    uma gesto integrada das empresas. A s

    empresas so geradoras de riscos, e como tal

    so responsveis pelo controle dos mesmos.

    De outro lado, de pouco adiantar ter profissio-

    nais especializados nesta rea se as decisessobre investimentos, controle de produtividade

    e manuteno forem tomadas sem considerar

    os aspectos de segurana, sade e meio

    ambiente, enfim, dos riscos outros alm dos

    econmicos.

    O debate em torno dos riscos um impor-

    tante instrumento para a democratizao dos

    locais de trabalho e da prpria sociedade, pois

    coloca em jogo o tipo de sociedade que temos

    e queremos construir. Este debate coloca em

    discusso quem, como e com que critrios so

    definidos os riscos para as vidas dos trabalha-dores, das pessoas em geral e do meio

    ambiente.

    A anlise de riscos nos locais de trabalho

    no um mero instrumento burocrtico: um

    processo contnuo, que precisa periodicamente

    ser revisado, principalmente quando surgem

    novas circunstncias, como mudanas tecnol-

    gicas ou organizacionais nas empresas;

    A anlise de riscos no substitui as exign-cias legais que obrigam as empresas a adota-

    rem mecanismos de proteo sade dos tra-

    balhadores. A anlise de riscos nos locais de

    trabalho deve se pautar tambm nas normas e

    leis existentes, ao mesmo tempo em que

    devem super-las, pois nem todas as realida-

    des especficas de cada setor, regio ou

    empresa, e nem as estratgias de eliminao e

    controle dos riscos em mundo dinmico podem

    ser cobertos integralmente pela legislao. Tal

    argumento, contudo, no deve servir de apoioao discurso neoliberal que prega a reduo do

    poder do estado e um aumento da autorregula-

    o pelas empresas, principalmente num pas

    latino-americano marcado por injustias sociais

    onde o estado ainda est longe de cumprir o

    seu papel de defesa constitucional dos traba-

    lhadores e do meio ambiente.

    Infelizmente a concepo moderna de an-

    lise e gerenciamento de riscos encontra-se

    bastante distante da prtica de muitas empre-

    sas brasileiras. Em muitas, espera-se a ocor-rncia de tragdias como acidentes e doenas

    graves para se tomar alguma atitude, e fre-

    qentemente os trabalhadores so acusados

    como principais responsveis pelos mesmos,

    atravs do uso do conceito de ato inseguro.

    Investe-se pouco em preveno, como conse-

    qncia do pouco poder e participao dos tra-

    balhadores nos locais de trabalho, bem como

    das baixas conseqncias legais e econmi-

    cas dos acidentes e doenas para as empre-

    sas. Essa externalizao dos riscos ocupacio-

    nais tem por base: (a) a baixa capacidade doestado e da justia de punir os responsveis

    por acidentes e doenas nas empresas; (b) os

    baixos salrios dos trabalhadores e o paga-

    mento coberto pela Previdncia Social do

    benefcio do seguro-acidente, quando o tra-

    - 6-

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

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    balhador afastado dos locais de trabalho,

    retirando o nus do pagamento das empresas

    aps o 15o dia de afastamento. Em outras

    palavras, se uma empresa gera muitos aciden-tes e doenas, no punida, tampouco

    recompensada por investimentos preventivos

    que melhoram o seu desempenho.

    No Brasil, principalmente a partir dos anos

    80, com a luta pela democracia e o revigora-

    mento do movimento sindical, os trabalhadores

    e vrias instituies brasileiras vem construindo

    prticas mais democrticas e eficientes, pauta-

    das na atuao dos trabalhadores e suas repre-

    sentaes. Dentro dos sindicatos, vrias expe-

    rincias foram desenvolvidas atravs da cria-o de departamentos e aes de sade do tra-

    balhador e meio ambiente. Como exemplos,

    podemos citar a criao do Departamento Inter-

    sindical de Estudos e Pesquisas de Sade e

    Ambientes de Trabalho (DIESAT) em 1980 e,

    no mbito da CUT, do Instituto Nacional de

    Sade e Trabalho (INST/CUT) em 1988.

    No campo da Sade Pblica, dentro da luta

    pela criao do Sistema nico de Sade

    (SUS), foi desenvolvido o campo da sade do

    t r ab a l h ad o r, com vrios programas e aesdesenvolvidos no mbito dos estados e muni-

    cpios. Estes programas vm trabalhando junto

    com os trabalhadores e suas organizaes na

    implementao de suas atividades, tendo por

    referncia inicial a experincia do movimento

    sindical e da reforma sanitria da Itlia desen-

    volvida nos anos 70. Dentro do SUS, desta-

    cam-se as aes de vigilncia dos ambientes

    de trabalho exercidas pelos servios pblicos

    de sade com a finalidade de controlar ou eli-

    minar os riscos sade existentes nos

    ambientes de trabalho. Tambm o Ministrio doTrabalho, fortemente criticado nos anos 80

    pelo movimento sindical por prticas burocrti-

    cas e patronais, vem buscando incorporar em

    diversas aes a participao ativa do movi-

    mento sindical, como no caso do acordo

    desenvolvido nos anos 90 para a substituio

    de mquinas injetoras na indstria plstica no

    estado de So Paulo.

    Mas a realidade dos anos 90 se ops fron-talmente com as expectativas de redemocrati-

    zao conquistadas nos anos 80. Os governos

    de nvel central desde ento no implementa-

    ram nenhuma poltica nacional efetiva e inte-

    grada de sade dos trabalhadores. Embora

    tenham ocorrido avanos localizados, as aes

    dos setores trabalho, sade e previdncia

    social, alm do meio ambiente, continuam des-

    conexas e sem articulao.

    A globalizao e a restruturao produtiva,

    intensificadas ao longo dos anos 90, geramnovos e imensos desafios para os trabalhado-

    res e a defesa de sua sade. Com o aumento

    da excluso social, do desemprego, da terceiri-

    zao e do trabalho temporrio, e a tentativa de

    fragmentao e reduo do poder de barganha

    dos sindicatos, estratgias que fazem parte da

    flexibilizao das relaes de trabalho - que o

    discurso neoliberal denomina de moderniza-

    o-, a luta por melhores condies de traba-

    lho e sade f ica bastante difcil. Tambm vrias

    instituies pblicas vm passando por sriascrises, diante da falta de polticas integradas e

    de investimentos pelos governos. Outra conse-

    qncia desta modernizao neoliberal tem

    sido a intensificao do trabalho em vrios

    setores econmicos, com implicaes para a

    sade dos trabalhadores. Um exemplo a ver-

    dadeira epidemia de leses por esforos repeti-

    tivos (LER) que vem ocorrendo com trabalha-

    dores nos setores de servios, bancos e seto-

    res de embalagem e linhas de montagem de

    vrias indstrias. As LER tm sido respons-

    veis por cerca de 80 a 90% dos casos de doen-as profissionais registrados na Previdncia

    Social nos ltimos anos.

    Mas o momento tambm abre espao para

    uma atuao mais consistente dos trabalhado-

    res. O discurso em torno da qualidade, mais

    -7 -

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    voltado normalmente para clientes, produtos e

    processos, no costuma beneficiar os trabalha-

    dores. Paradoxalmente, sem a melhoria das

    condies de trabalho e da participao dos tra-balhadores, torna-se invivel um salto de quali-

    dade nas propostas modernas de gerencia-

    mento, vital para o sucesso das empresas no

    atual clima de competitividade. Alguns setores

    e empresas de ponta vm buscando atuar

    dentro desta lgica, e buscam negociar com os

    trabalhadores, seus sindicatos e instituies

    novas formas de participao e compromissos

    relacionadas a melhorias das condies de tra-

    balho e novas estratgias de gerenciamento de

    riscos. dentro deste espao histrico de desa-fios, contradies e possibilidades que se

    coloca a contribuio deste manual.

    O CONCEITODE RISCO

    A noo de risco tem a ver com

    a possibilidade de perda ou

    dano, ou como sinnimo de

    perigo. Apalavra risco utili-

    zada em muitas reas e comvrios significados, como a

    matemtica, a economia, a

    engenharia e o campo da

    sade pblica.

    Neste manual, adotare-

    mos uma concepo abran-

    gente de risco de interesse

    sade dos trabalhadores,

    significando toda e qualquer

    possibilidade de que algum

    elemento ou circunstncia

    existente num dado processoe ambiente de trabalho possa

    causar dano sade, seja

    atravs de acidentes, doenas

    ou do sofrimento dos trabalha-

    dores, ou ainda atravs da

    poluio ambiental. Os riscos podem estar pre-

    sentes na forma de substncias qumicas,

    agentes fsicos e mecnicos, agentes biolgi-

    cos, inadequao ergonmica dos postos detrabalho ou, ainda, em funo das caractersti-

    cas da organizao do trabalho e das prticas

    de gerenciamento das empresas, como organi-

    zaes autoritrias que impedem a participao

    dos trabalhadores, tarefas montonas e repeti-

    tivas, ou ainda a discriminao nos locais de

    trabalho em funo do gnero ou raa.

    claro que a sade dos trabalhadores

    muito mais abrangente do que os riscos nos

    locais de trabalho, e tem a ver com as condies

    mais gerais de trabalho e vida, como salrio,moradia, alimentao, lazer, existncia de

    creche no trabalho e a participao nas decises

    da sociedade. Tambm bom lembrar que o tra-

    balho pode ser uma importante fonte de sade,

    se realizado de forma gratificante e num

    ambiente saudvel. Neste manual,

    nos concentraremos basica-

    mente na anlise dos riscos

    presentes nos locais de tra-

    balho, mas no devemos

    nos esquecer que estaanlise deve considerar os

    aspectos mais gerais de

    interesse da sade e vida

    dos trabalhadores. .

    O termo risco usado

    de diferentes formas por

    profissionais de sade e

    segurana. O quadro 1

    resume alguns destes

    conceitos, seus significa-

    dos, vantagens e limita-

    es. Conforme podemosver neste quadro, nem

    sempre estes conceitos e a

    forma como eles so aplica-

    dos correspondem aos inte-

    resses dos trabalhadores.

    -8 -

    Anlise de riscos nos locais de tr abalho

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    -9 -

    QUADRO 1

    Usos do termo risco , seus significados, vanta gens e limites

    USO DOTERMO RISCO

    QUEM COSTUMAADOTARE COM QUE SIGNIFICADO

    VANTAGENS E LIMITES

    Risco

    ocupacional

    Agente de

    risco

    Fator de risco

    Utilizado por profissionais de

    higiene e segurana do traba-

    lho, para se referir aos riscos

    para a sade ou a vida dos

    trabalhadores decorrentes de

    suas atividades ocupacionais.

    Usado por profissionais de

    higiene industrial e da enge-

    nharia de segurana. Refere-

    se principalmente aos agen-

    tes fsicos, mecnicos, qumi-

    cos e biolgicos presentes

    nos ambientes de trabalho,embora alguns autores men-

    cionem agentes ergonmicos

    e os psicossociais.

    Adotado por profissionais de

    sade pblica, mais especifi-

    camente da epidemiologia.

    Embora similar ao conceito de

    agente, tambm pode incluir

    outras caractersticas ambien-tais e pessoais (como o sexo

    e ser fumante) para classificar

    grupos populacionais propen-

    sos ao desenvolvimento de

    problemas de sade.

    O conceito vlido para definir os principais

    riscos que os trabalhadores de determinadas

    categorias e setores econmicos esto

    expostos. Um problema da utilizao deste

    conceito est na possibilidade de se aceitar

    passivamente que determinados riscos so

    inerentes a estas profisses ou empresas,

    favorecendo a monetizao do risco, quando

    vrios riscos podem ser eliminados ou contro-

    lados ao longo do tempo.

    de fcil classificao, porm tende a

    menosprezar os riscos relacionados organi-

    zao do trabalho e outros aspectos qualitati-

    vos para a contextualizao dos riscos. A

    maioria das normas tcnicas relativas ava-

    liao ambiental e medidas de proteo

    refere-se aos agentes clssicos, principal-mente os fsicos e qumicos.

    um conceito utilizado nos estudos epide-

    miolgicos que buscam relacionar a exposi-

    o de certos grupos de trabalhadores a

    determinados fatores de risco, e o acometi-

    mento de problemas especficos de sade,

    por exemplo, substncias qumicas e cncer.Este conceito v o risco de forma esttica

    enquanto caracterstica de um grupo popula-

    cional, e no como inserido em processos de

    trabalho e contextos especficos.

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

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    Anlise de riscos nos locais de trabalho

    - 1 0 -

    Risco como

    probabilidade

    Risco comoperigo

    Situao e

    Evento de

    Risco

    Grau de risco

    Usado na anlise de riscos

    como forma de quantificar orisco existente num projeto,

    tecnologia ou situao de tra-

    balho (por exemplo, nmero

    de mortes ou doenas por

    ano previstas). Em ingls, a

    palavra risk adotada para

    expressar a probabilidade de

    ocorrncia vezes a magnitude

    do dano provocado.

    Em ingls usada a palavraHazard, traduzida como risco

    ou perigo, significando uma

    caracterstica potencialmente

    danosa sade de um

    agente, substncia, mquina,

    processo ou ambiente.

    Utilizado por profissionais que

    trabalham com anlise e

    gerenciamento de riscos de

    acidentes

    Classificao adotada pelos

    Ministrios do Trabalho e

    Emprego e da Previdncia e

    Assistncia Social, que fixauma escala crescente para os

    riscos presentes nos diferen-

    tes ramos de atividade econ-

    mica.

    Embora possa servir como parmetro para

    avaliar se um risco aceitvel ou se compa-

    rar os riscos envolvidos em diferentes tecno-

    logias e processos de trabalho, estes nme-

    ros so complicados, de difcil compreenso

    e nem sempre confiveis.

    semelhante ao conceito de agente de risco,mas utilizada, em sua concepo de perigo,

    para destacar um risco importante ou uma

    situao de risco grave e que esteja mais fora

    de controle. O problema aqui a possibilidade

    de se menosprezarem situaes de risco con-

    sideradas sob controle e no a considerarem

    como um perigo, quando em verdade podem

    gerar acidentes ou doenas srias. Em outras

    palavras, um risco pode indevidamente no

    ser considerado como perigo, e por isso ser

    avaliado como irrelevante.

    Estes conceitos so importantes na anlise de

    acidentes por separar o risco em duas fases

    no processo de trabalho: o momento latente

    ou potencial (situao de risco), e o momento

    da gerao do dano (evento de risco ou o aci-

    dente quando de sua ocorrncia).

    Esta tipologia adotada para classificar as

    atividades econmicas em termos de percen-

    tuais que as empresas devem pagar para o

    Seguro Acidente de Trabalho (SAT). Alm de

    eventuais crticas a esta classificao, o prin-

    cipal problema que diferentes empresas de

    um mesmo setor pagam o mesmo valor, inde-

    pendente se geram muitos acidentes com

    mortes ou se investem em preveno.

    USO DOTERMO RISCO

    QUEM COSTUMAADOTAR ECOM QUE SIGNIFICADO

    VANTAGENS E LIMITES

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    -11-

    QUADRO 2

    Principais reas de atuao das cincias do risco

    CINCIAS DO RISCO:

    REA DE ESTUDO E

    ESPECIALIDADES ENVOLVIDAS

    OBJETIVOS E AES DESENVOLVIDAS,

    VANTAGENS E PROBLEMAS

    Avaliao de riscos

    (engenharias diversas, toxicolo-

    gia, epidemiologia e especialistas

    em riscos especficos, como a

    biossegurana, a radioproteo...)

    Percepo e comunicao

    de riscos

    (psicologia, antropologia

    e sociologia)

    uma metodologia que visa caracterizar os efeitos

    sade esperados como resultado de uma certa exposi-

    o a um determinado agente, provendo tambm esti-

    mativas em termos da probabilidade de ocorrncia

    destes efeitos em diferentes nveis de exposio. Busca

    ainda caracterizar situaes de risco especficas, e

    envolve a identificao de perigo, o estabelecimento derelaes de exposio-efeito e a avaliao da exposi-

    o, conduzindo caracterizao do risco. Sua aplica-

    o fornece critrios para a aceitao ou rejeio de

    novos investimentos como tecnologias, processos e

    substncias qumicas antes dos mesmos serem imple-

    mentados e difundidos

    Sua aplicao no Brasil ainda bastante restrita. Alguns limi-

    tes da avaliao de riscos surgem quando realizada por

    profissionais que ignoram a participao dos trabalhadores

    no processo. Tambm seus resultados podem ser parciais a

    favor daqueles que financiam tais estudos, muitas vezes as

    empresas interessadas. H uma preocupao maior com os

    estudos quantitativos que qualitativos.

    Os estudos de percepo visam analisar como popula-

    es diferentes percebem e reagem frente a determina-

    dos riscos industriais. Tal anlise ajudaria na formulao

    de programas de comunicao de riscos, Tais programas

    buscam implementar os mecanismos mais eficientes de

    se comunicar certos riscos s populaes atingidas -

    como trabalhadores e moradores em reas de risco - porparte das instituies governamentais ou das empresas

    geradoras de riscos. Tambm fazem parte do gerencia-

    mento de riscos, como no estabelecimento de planos de

    emergncia e evacuao em casos de acidentes indus-

    triais ampliados.

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    Anlise de riscos nos locais de tr abalho

    -12-

    CINCIAS DO RISCO:READE ESTUDO E

    ESPECIALIDADES ENVOLVIDAS

    OBJETIVOS E AES DESENVOLVIDAS,VANTAGENS E PROBLEMAS

    gerenciamento de riscos

    ( engenharia de segurana e

    higiene do trabalho, medicina,

    toxicologia, ergonomia, engenha-

    rias diversas, cincias sociais e

    da administrao, economia ...)

    Estudos Sociais e de Equidade

    (cincias sociais e polticas, antro-

    pologia, epidemiologia social,

    estudos interdisciplinares...)

    Termo usado por profissionais de anlise de riscos e de

    segurana. Em termos de riscos ocupacionais, o gerencia-

    mento de riscos envolve as decises e aes que ocorrem

    em dois nveis principais: (i) dentro da sociedade e pelos

    governos, atravs de polticas pblicas, exigncias legais,

    normas e padres, que fundamentam a aceitabilidade de

    determinado risco e as prticas nos locais de trabalho; (ii) no

    interior das empresas, atravs das prticas gerenciais que

    podem ajudar a prevenir (ou agravar, no caso das falhas

    gerenciais) os riscos nos locais de trabalho.

    Enquanto a avaliao de riscos um procedimento cient-

    fico que prov uma base para o gerenciamento de riscos,este mais pragmtico, envolvendo decises e aes na

    sociedade, setores econmicos e no interior de empresas

    em funcionamento, apontando para a preveno e controle

    dos riscos para a sade de trabalhadores, comunidades cir-

    cunvizinhas e o meio ambiente.

    O gerenciamento de riscos leva em considerao, alm dos

    scio-econmicos, aspectos como a viabilidade tecnolgica e

    a gesto adequada de recursos humanos frente s exigncias

    de sade e segurana, incorporando as melhores tecnologias

    disponveis para a sade dos trabalhadores e o meio

    ambiente. Em sociedades capitalistas e pouco democrticas,existe um conflito permanente com as exigncias de lucro e

    produtividade, exigindo uma luta constante dos trabalhadores

    e da sociedade para imporem seus critrios de defesa da vida

    nas decises e aes tomadas pelos governos e empresas.

    Visa a compreenso do fenmeno da desigualdade na distri-

    buio dos riscos na sociedade. Estudos epidemiolgicos mos-

    tram como, mesmo em sociedades industrializadas ditas

    democrticas, a distribuio dos efeitos de vrios riscos ocupa-

    cionais e ambientais - como acidentes e doenas do trabalho e

    doenas provocadas pela poluio industrial - atingem mais

    determinados segmentos da populao, de acordo com a sua

    classe social, gnero ou raa. Vrios estudos tambm mos-

    tram a tendncia dos riscos migrarem de pases onde h maior

    controle para outros pases, geralmente do terceiro mundo, ou

    mesmo de padres diferenciados de controle entre matriz e

    filiais de indstrias multinacionais, o chamado duplo padro.

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    11/41

    Certamente algumas sofisticaes tcnicas ou

    cientficas so importantes, mas no faz parte

    do objetivo principal deste manual este aprofun-

    damento.O objetivo deste manual o de fornecer

    subsdios para a luta dos trabalhadores por

    melhores condies de trabalho, fornecendo

    conceitos e mtodos gerais de compreenso,

    bem como estratgias de interveno e con-

    trole dos riscos nos locais de trabalho.

    Por isso, os termos riscos, anlise de riscos

    e outros usados neste manual no correspon-

    dem exatamente s diversas classificaes e

    conceitos usados por diferentes profissionais.

    O quadro 2 oferece uma possvel classificaosobre as cinco principais reas de atuao das

    Cincias do Risco, dentro das quais esto

    includas os vrios especialistas que atuam no

    tema dos riscos ocupacionais e ambientais.

    Historicamente, o conceito de risco nos

    locais de trabalho foi inicialmente concebido

    como os riscos ocupacionais clssicos que

    geram conseqncias mais diretas e visveis,

    gerando os acidentes de trabalho e as doenas

    diretamente relacionadas ao trabalho. Esta

    concepo foi influenciada por reas como aengenharia de segurana, higiene do trabalho,

    medicina do trabalho, fisiologia do trabalho,

    toxicologia e epidemiologia. Estes riscos esto

    relacionados principalmente a certas caracte-

    rsticas fsicas, qumicas, mecnicas, biolgicas

    de mquinas, equipamentos, materiais, proces-

    sos e ambientes com o potencial de prejudicar

    a sade dos trabalhadores.

    Posteriormente, com a luta dos trabalhado-

    res e os avanos de campos como a ergonomia

    e as cincias do risco, outros conceitos foram

    desenvolvidos, como os de cargas de trabalhoou exigncias, que visa expressar os esforos

    fsicos e mentais dos trabalhadores ao realiza-

    rem uma atividade de trabalho, e o de falhas

    gerenciais, que busca revelar como os proble-

    mas da organizao e gerenciamento das

    empresas influenciam no surgimento e agrava-

    mento dos riscos. Estes conceitos ao mesmo

    tempo avanam e complementam o conceito

    de risco, pois consideram outros elementos fun-damentais para a anlise da sade dos traba-

    lhadores. Entre eles, destacamos:

    Os acidentes e doenas relacionadas ao tra-

    balho revelam simultaneamente a existncia

    dos riscos e o descontrole destes, e demons-

    tram os limites dos modelos preventivos em

    vigor. Infelizmente, muitas vezes aes preven-

    tivas e corretivas so tomadas somente aps a

    ocorrncia de acidentes e doenas, mas estes

    eventos s acontecem porque os riscos exis-

    tem e normalmente podemos levantar falhasgerenciais que propiciam o agravamento dos

    mesmos.

    Os riscos no so apenas conseqncias do

    ambiente fsico, das mquinas, equipamentos,

    produtos e substncias, mas esto inseridos

    em processos de trabalho particulares, com

    organizaes do trabalho e formas de gerencia-

    mento prprias, e sua anlise deve levar em

    conta o conjunto destes fatores. A organizao

    do trabalho est relacionada ao treinamento,

    diviso de tarefas, aos procedimentos, cobrana de produtividade, intensificao do

    trabalho, aos mecanismos de coero e puni-

    o. Outros elementos fundamentais da organi-

    zao envolvem a terceirizao, a reduo de

    efetivos, e a forma como a manuteno reali-

    zada. Alm disso, absolutamente estratgico

    para os trabalhadores e suas organizaes a

    forma como eles atuam e participam das deci-

    ses que lhes dizem respeito nos locais de tra-

    balho. Todos esses elementos influenciam

    direta ou indiretamente na gerao de aciden-

    tes, doenas ou outras formas de sofrimentodos trabalhadores.

    As conseqncias do trabalho para a sade

    no so apenas aquelas mais diretas e visveis

    ou mensurveis, mas envolvem outras formas

    de sofrimento, ou ainda contribuem para doen-

    - 1 3 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    12/41

    as que possuem outras causas alm do traba-

    lho, agravando-as. Como seres humanos, os

    trabalhadores possuem dimenses fsicas,

    mentais e afetivas, e os riscos podem afetarno somente o corpo fsico, mas o trabalhador

    enquanto pessoa, alm de sua famlia. Como

    exemplos, podem ser citados os problemas

    relacionados: fadiga fsica; postura, ao tra-

    balho esttico e repetio dos movimentos

    (como as LER); s dores diversas, sensao de

    cansao, distrbios do sono e outros sintomas

    no especficos em funo da exposio a dife-

    rentes substncias e outros riscos; ao sofri-

    mento decorrente das exigncias de organiza-

    es do trabalho autoritrias e pouco participa-tivas, ou com tarefas montonas e vazias de

    contedo; angstia frente a situaes de risco

    graves ou instabilidade de emprego; ao traba-

    lho em turnos noturnos ou alternantes; ou ainda

    violncia provocada por discriminaes de

    raa ou sexo nos locais de trabalho. Da mesma

    forma, organizaes e ambientes de trabalho

    podem ser mais saudveis quando incorporam

    as necessidades dos trabalhadores enquanto

    pessoas e cidados.

    Os riscos no podem ser analisados deforma esttica, pois as empresas, os ambientes

    e as organizaes esto freqentemente

    mudando, e as anlises de riscos precisam ser

    periodicamente revistas. Alm da introduo de

    novas tecnologias, uma tecnologia, mquina ou

    equipamento pode, com o passar do tempo, se

    degradar em funo da falta de manuteno ou

    uso de gatilhos ou gambiarras que compro-

    metem a segurana. Tambm uma mudana na

    organizao, como a terceirizao ou reduo

    de efetivos, pode introduzir trabalhadores dire-

    tos ou terceirizados em situaes de riscograves.

    Os riscos podem gerar efeitos sade de

    curto prazo, como no caso dos acidentes, ou a

    mdio e longo prazo, como nas doenas rela-

    cionadas ao trabalho. O rudo crnico no pro-

    voca a surdez ocupacional de um dia para o

    outro, e uma pessoa exposta a uma substncia

    cancergena como o asbesto pode vir a desen-

    volver o cncer muitos anos aps as primeirasexposies.

    Existe sempre uma diferena entre o traba-

    lho prescrito nas regras, procedimentos e ins-

    trues de manuais e gerncias, com o traba-

    lho em situaes reais, e as anlises dos riscos

    nos locais de trabalho sempre devem conside-

    rar as situaes reais de trabalho, com a parti-

    cipao ativa dos trabalhadores. Os riscos no

    so apenas informaes tericas, dadas por

    especialistas e pelas gerncias das empresas a

    partir de seus documentos e conhecimentostcnicos. Eles fazem parte do trabalho real

    vivido no dia a dia dos trabalhadores, e muitas

    vezes as anlises de risco apresentadas por

    especialistas e pelas gerncias das empresas

    aos fiscais ou auditores externos so muito

    diferentes das situaes de risco reais vivencia-

    das pelos trabalhadores.

    Este ltimo tpico um dos principais moti-

    vos para que as anlises de risco nos locais de

    trabalho realizadas sem a participao dos tra-

    balhadores sejam irreais. No Brasil, isso aindaocorre com freqncia, o que autores do campo

    da sade dos trabalhadores vem chamando de

    gerenciamento artificial de riscos. Neste tipo de

    gerenciamento, os acidentes e doenas so

    subnotificados, os trabalhadores com proble-

    mas de sade relacionados com o trabalho so

    demitidos ou afastados sem o reconhecimento

    desta relao, e os acidentes so analisados de

    forma arbitrria, sem que os trabalhadores par-

    ticipem das anlises, e acabam sendo transfor-

    mados de vtimas em culpados. Trabalhadores,

    membros das CIPAs ou comisses de fbrica,delegados e dirigentes sindicais que cumprem

    seu papel de analisar os riscos e denunciar as

    situaes mais graves ou omisses so impedi-

    dos ou coagidos de atuarem. As inspees de

    autoridades pblicas do Ministrio do Trabalho,

    - 14 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    13/41

    do Sistema nico de Sade, dos Ministrios

    Pblicos, ou mesmo de sindicatos, quando con-

    seguem entrar, freqentemente enviesada

    por um mascaramento dos ambientes: mqui-nas perigosas e ruidosas deixam de funcionar

    sob a alegao de estarem em manuteno,

    equipamentos de proteo individual novos so

    repentinamente distribudos e usados por tra-

    balhadores, e locais sujos e empoeirados

    passam por faxinas de ltima hora.

    EXEMPLOS DE RISCOSNOS LOCAIS DE TRABALHO,

    SEUS EFEITOS PARA

    A SADE DOS TRABALHADORESE ATIVIDADES ONDESE ENCONTRAM

    O quadro 3 apresenta alguns exemplos de

    riscos existentes nos locais de trabalho, seus

    efeitos para a sade dos trabalhadores e seto-

    res econmicos onde estes riscos encontram-

    se mais freqentes.

    Cada risco especfico possui metodologias

    particulares de avaliao, tanto quantitativa

    como qualitativamente, sendo muitas delasextremamente complexas, o que pode implicar

    na assessoria ou incorporao estratgica de

    especialistas em sua anlise. Esta incorpora-

    o um dos elementos fundamentais para o

    sucesso das aes preventivas. s vezes, para

    podermos avaliar a legislao, um risco precisa

    ser medido atravs de equipamentos e tcnicas

    especficas, que podem tambm ser bem

    caras. As medies atmosfricas de vrias

    substncias qumicas e de material radioativo

    so exemplos de riscos deste tipo. Nem

    sempre as empresas e os rgos fiscalizadorespossuem equipamentos apropriados ou se dis-

    pem facilmente a realizar tais medies.

    Tambm preciso verificar quem e como

    realiza tais anlises. Como muitas vezes so

    vrios os interesses em jogo, as anlises

    podem envolver diferentes abordagens e nfa-

    ses metodolgicas, gerando diferentes nun-

    cias nos aspectos considerados e resultados

    obtidos. Por isso importante que os trabalha-dores acompanhem as anlises, e contem com

    tcnicos e instituies confiveis. Nos casos

    dos riscos mais crticos e complexos, ou de

    empresas de grande poder econmico e pol-

    tico, consideramos salutar a presena de dife-

    rentes especialistas e instituies agregando

    foras e abarcando a confiana do maior

    nmero possvel dos grupos envolvidos no pro-

    cesso.

    Alm dos prprios assessores sindicais, dos

    profissionais do Ministrio do Trabalho e doSUS que atuam nas aes de sade do traba-

    lhador nos estados e municpios, vrios espe-

    cialistas de universidades pblicas, centros de

    pesquisa e de assessoria tcnica tm tido atua-

    es importantes na investigao de riscos nos

    locais de trabalho. Outra instituio que passou

    a se destacar ao longo dos anos 90 foram os

    Ministrios Pblicos, sejam os de mbito fede-

    ral ou estadual. Em muitos casos onde ou as

    empresas so muito poderosas ou as institui-

    es fiscalizadoras so fracas ou descompro-missadas, os Ministrios Pblicos so impor-

    tantes ao receberem denncias sindicais e

    darem continuidade s aes de investigao e

    responsabilizao das empresas, embora nem

    sempre com o sucesso desejado.

    ASPECTOS IMPORTANTESPARA A AO SINDICAL

    Do ponto de vista dos trabalhadores, alguns

    princpios so fundamentais para podermos

    conhecer e intervir sobre o riscos nos locais detrabalho:

    Mobilizar os trabalhadores, principalmente

    os de base, e fortalecer suas instncias organi-

    zativas no processo de construo do conheci-

    mento sobre os riscos;

    -1 5 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    14/41

    Anlise de riscos nos locais de tr abalho

    - 16 -

    QUADRO 3

    Exemplos de riscos existentes nos locais de trabalho

    EXEMPLOS DE RISCOS EXEMPLOS DE EFEITOSPARAA SADE

    EXEMPLOS DE SETORESOU CATEGORIAS

    Riscos Fsicos

    Temperaturas extremas:

    calor, frio e umidade

    Rudo

    Iluminao

    Eletricidade

    Presses anormais

    Vibraes

    Radiaes Ionizantes

    Radiaes No Ionizan-

    tes (como ondas eletro-

    magnticas e ondas de

    rdio) bem como o infra-

    som e o ultra-som

    Riscos Mecnicos

    Acidentes com quedas

    Acidentes com veculos

    Acidentes com mquinas

    Fadiga, gripes e resfriados

    Surdez, nervosismo (estresse)

    Problemas de viso, dores de

    cabea, risco de acidentes

    Choques eltricos, inclusive

    fatais; fontes de incndios.

    Afogamentos, distrbios neu-

    rolgicos, embolia pulmonar,

    Distrbios steo-musculares

    Cncer de vrios tipos

    Problemas neurolgicos

    Traumatismos diversos at a

    morte.

    Trabalho a cu aberto; ambientes

    fechados com ar condicionado; tra-

    balho junto a fornos, caldeiras e

    outras fontes de calor, como side-

    rrgicas e fundies.

    Trabalhos com mquinas barulhen-

    tas e outras fontes de rudo.

    Ambientes mal iluminados

    Eletricitrios, eletricistas, trabalha-

    dores de manuteno

    Mergulhadores sub-aquticos

    Operadores de mquinas pneumti-

    cas, motoristas de nibus e tratores.

    Indstrias nucleares, trabalhadores

    de sade (raio X), ou que lidam

    com material radioativo

    Eletricitrios e trabalhadores prxi-

    mos a sub-estaes de eletricidade

    e estaes de transmisso

    Trabalhadores da ind. da const. civil;

    motoristas de transportes coletivos;

    operadores de mquinas em vrios

    setores, como o metalrgico e agri-

    cultura; trabalhadores em geral.

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    15/41

    - 1 7 -

    EXEMPLOS DE RISCOS EXEMPLOS DE EFEITOSPARAA SADE

    EXEMPLOS DE SETORESOU CATEGORIAS

    Riscos Qumicos

    Substncias, compostos

    ou produtos que possam

    penetrar no organismo,

    por exposio crnica ou

    acidental, pela via respi-

    ratria, nas formas de

    poeiras, fumos, nvoas,

    neblinas, gases ou vapo-

    res, ou que, pela natu-

    reza da atividade ou da

    exposio, possam ter

    contato ou serem absor-vidos pelo organismo

    atravs da pele ou por

    ingesto. Tambm

    incluem os riscos qumi-

    cos desencadeadores de

    exploses e incndios.

    Riscos Ergonmicos

    Esforos Fsicos

    Posturas Foradas

    Movimentos Repetitivos

    Riscos Biolgicos

    Microorganismos pato-

    gnicos (bactrias,

    fungos, bacilos, parasi-

    tas, protozorios, vrus,

    entre outros)

    Animais peonhentos

    Presena de vetores

    (mosquitos, ratos...) e

    outras mordidas de ani-

    mais

    Efeitos decorrentes de aciden-

    tes qumicos, como exploses

    e incndios.

    Contaminaes qumicas

    gerando efeitos carcinogni-

    cos, teratognicos, sistmi-

    cos(como os neurotxicos),

    irritantes, asfixiantes, anest-

    sicos, alergizantes, entre

    outros.

    Problemas na coluna, dores

    musculares,

    Doenas contagiosas diver-

    sas, inclusive gripes e resfria-

    dos;

    Envenenamento por picada de

    cobra ou escorpio

    Doenas contagiosas e feri-

    das por mordidas

    Indstria qumica, petroqumica e

    de petrleo (solventes orgnicos

    como o benzeno, riscos qumicos

    diversos)

    Garimpo de ouro e Indstria de

    cloro-soda com tecnologia de

    amlgama (mercrio);

    Fbrica de baterias (chumbo);

    Minas de amianto e setor de fibro-

    cimento (amianto)

    Jateadores de areia no setor meta-

    lrgico e naval (slica)Trabalhadores em geral

    Estivadores; carregadores; traba-

    lhadores de linha de montagem;

    Postos de trabalho mal projetadosem geral e com trabalho esttico

    ou repetitivo;

    Trabalhadores em ambientes

    fechados com ar condicionado;

    Profissionais de sade; Laborat-

    rios de pesquisa em sade pblica

    e anlises clnicas;

    Trabalhadores agrcolas (mordidas

    de cobra);

    Carteiros (mordidas de ces) e tra-

    balhadores em geral

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    16/41

    Ter clareza dos objetivos para os quais esteconhecimento est sendo produzido: um reco-

    nhecimento dos principais problemas da cate-

    goria, a denncia a rgos pblicos e imprensa,

    a participao em propostas de mudanas nos

    locais de trabalho, a incluso de clusulas em

    acordos coletivos, entre muitos outros;

    Definir o espao no qual tal levantamento

    ser realizado: dentro de uma categoria como

    um todo, uma regio, uma empresa, em cate-

    gorias ou postos de trabalho especficos. Os

    sindicatos, confederaes e centrais tendem a

    realizar estudos mais globais, enquanto as

    representaes locais, como CIPAs, comisses

    de fbrica e delegados sindicais realizaro tra-

    balhos mais localizados nas empresas.

    Gerar aes concretas, fazendo da informa-

    o uma base para a ao, atravs da definio

    de prioridades e implementao de estratgiasde ao.

    Reconhecer os riscos nas situaes reais de

    trabalho, fornecendo um quadro o mais prximo

    da realidade;

    Conhecer a legislao que as empresas

    devem cumprir obrigatoriamente com relao

    aos riscos investigados, fundamentando poss-

    veis denncias e aes legais pelos trabalhado-

    res;

    Definir o tipo de aprofundamento a que se

    quer chegar sobre os riscos a serem analisa-

    dos, o que depender dos objetivos, do

    momento e dos recursos disponveis.

    Definir o perodo de tempo com o qual se tra-

    balhar, levando em considerao que os

    dados de 10 anos atrs podem ser totalmente

    diferentes em funo de mudanas ocorridas.

    -1 8 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

    EXEMPLOS DE RISCOS EXEMPLOS DE EFEITOSPARAA SADE

    EXEMPLOS DE SETORESOU CATEGORIAS

    Riscos Diretamente

    Relacionados Organi-

    zao do Trabalho

    Trabalho Repetitivo e

    Montono

    Trabalho em turnos

    noturnos e alternados

    Trabalho sob forte pres-

    so e cobrana

    Trabalho precrio, com

    fragilidade de vnculo tra-

    balhista e representao

    sindical

    Assdio Sexual

    Leses por Esforos Repetiti-

    vos, desmotivao e estresse.

    Distrbios do sono, estresse

    Fadiga fsica e mental, predis-

    posio a acidentes, estresse

    Maior predisposio a aciden-

    tes e doenas em geral, senti-

    mento de insegurana

    Violncia sexual, insegurana

    e estresse

    Trabalhadores de banco, processa-

    mento de dados e linhas de monta-

    gem, freqentemente mulheres;

    Indstrias de processo contnuo,

    plantonistas de sade

    Setores em crise ou aps reestru-

    turaes produtivas, reduo de

    efetivos e aumento de responsabili-dades

    Trabalhadores terceirizados e tem-

    porrios, com menor treinamento e

    sem medidas preventivas adequa-

    das.

    Mulheres trabalhadoras em locais

    machistas

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    17/41

    Analisar criticamente as fontes de dados dis-

    ponveis. Este ponto particularmente impor-

    tante na realidade brasileira. Os dados oficiais

    disponveis em rgos como a PrevidnciaSocial e o Ministrio do Trabalho freqente-

    mente so incompletos.

    Desenvolver parcerias com instituies e

    tcnicos comprometidos com a sade dos tra-

    balhadores, e denunciar as omisses. Infeliz-

    mente determinadas instituies podem, em

    funo do governo e seus dirigentes, atuarem

    contra os interesses dos trabalhadores, o que

    no impede que existam tcnicos srios e qua-

    lificados nestas instituies.

    Discutir e avaliar, juntos s empresas ergos fiscalizadores, as propostas de soluo,

    negociando as alternativas de medidas preven-

    tivas de maior interesse aos trabalhadores;

    Acompanhar a implementao das medidas

    preventivas definidas.

    Neste manual, sugerimos quatro passos

    bsicos para a definio de um mtodo de ao

    sindical voltado anlise de riscos nos locais

    de trabalho:

    PASSO 1Definio da Estratgia Sindical.

    Antes de fazer qualquer ao mais con-

    creta, necessrio definir os objetivos, estrat-

    gias e recursos que comporo a ao sindical,

    a partir de um diagnstico mais geral da cate-

    goria, dos interesses dos trabalhadores, de

    suas condies de trabalho, da legislao e

    atuao dos rgos fiscalizadores no setor, e

    do prprio nvel de organizao do sindicato e

    seu histrico de lutas. Alm de melhorar as con-

    dies de sade e vida dos trabalhadores, aanlise de riscos nos locais de trabalho pode

    ter como objetivo e estratgia o envolvimento

    dos trabalhadores e o debate sobre os riscos

    na sociedade, visando sua democratizao.

    Para levar a cabo suas estratgias de ao, o

    sindicato precisa assumir tais aes como prio-

    ridade interna, e ter quadros envolvidos e res-

    ponsveis por estas aes. No basta apenas

    ter um departamento ou diretor responsvelpela sade do trabalhador e meio ambiente,

    necessrio que a direo como um todo

    assuma tal prioridade, e avalie a necessidade

    de ampliar seus recursos, seja atravs da parti-

    cipao dos trabalhadores da base, da eventual

    contratao de tcnicos, da ao integrada ao

    nvel de sindicatos da mesma categoria, de

    confederao ou de central, ou ainda do traba-

    lho integrado e suporte tcnico de instituies

    pblicas confiveis.

    PASSO 2

    Identificando os Riscos e Definindo

    os Problemas Prioritrios

    Para se intervir nos problemas, neces-

    srio primeiro conhecer os riscos da catego-

    ria. Isto pode ser feito de vrias maneiras,

    que sero aprofundadas mais frente. O

    importante que as lutas prioritrias corres-

    pondem s reais necessidades da categoria,

    que podem ser bastante abrangentes,dependendo da diversidade dos processos e

    condies de trabalho existentes numa cate-

    goria e regio. Um aspecto importante a ser

    mencionado que, aps a definio do(s)

    problema(s) prioritrio(s), o sindicato possa

    desenvolver uma estratgia de ao visando

    a divulgao e denncia interna na categoria

    e na prpria sociedade, destes problemas.

    Alm das denncias aos rgos respons-

    veis, como os Ministrios Pblicos, o Minis-

    trio do Trabalho e os programas de sade

    do trabalhador do SUS, a insero naimprensa escrita e falada uma importante

    estratgia de mobilizao, pois cria um clima

    favorvel para os rgos fiscalizadores e as

    empresas darem respostas s reivindicaes

    dos trabalhadores.

    - 19 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    18/41

    PASSO 3

    Discutindo e Negociando as Solues

    De nada adianta se conhecer os riscos seno houver mudanas nos locais de trabalho,

    atravs de medidas preventivas que eliminem

    ou controlem tais riscos. No Brasil, os espaos

    e instncias de discusso e negociao com

    as empresas e rgos fiscalizadores nem

    sempre existem ou so fceis. As organiza-

    es nos locais de trabalho, como as CIPAs

    nas empresas, seriam um espao privilegiado

    na definio de programas preventivos, mas

    com freqncia os trabalhadores no pos-

    suem liberdade e poder para interferir. A snegociaes sindicato/empresas so difceis,

    mas podem envolver tambm os acordos cole-

    tivos de trabalho. O acompanhamento do pla-

    nejamento e das aes dos rgos pblicos,

    como os Ministrio Pblicos, o Ministrio do

    Trabalho e a vigilncia do SUS podem ser

    espaos importantes,

    quando estes rgos so

    democrticos e possuem

    espaos para a participa-

    o dos trabalhadores,

    como os conselhos esta-

    duais e municipais de

    sade do trabalhador exis-

    tentes em alguns estados e

    municpios onde o SUS

    mais organizado nesta

    rea. Na Frana existe um

    importante exemplo de

    legislao avanada que

    pode nortear a luta dos tra-

    balhadores no Brasil. L, a

    comisso de sade dasfbricas que, diferente-

    mente da CIPAbrasileira,

    composta somente por

    representantes dos traba-

    lhadores, pode indicar um

    auditor tcnico reconhecido pelo governo para

    analisar uma situao crtica e conflitiva entre

    os trabalhadores e a gerncia da empresa,

    como a anlise de um acidente grave ocorrido,ou uma tentativa de mudana na organizao,

    como reduo de efetivos. A empresa no

    pode recusar a indicao feita, e o relatrio

    tcnico produzido pelo auditor contribui para

    viabilizar novas negociaes sobre o pro-

    bl e m a .

    PASSO 4

    Acompanhamento e Reavaliao das Aes

    Mesmo que os trs passos anteriorestenham sido dados com sucesso, nada garan-

    tir que determinados compromissos acorda-

    dos entre os trabalhadores, as empresas e os

    rgos pblicos sejam efetivados e com

    sucesso. Para tanto, necessrio definir uma

    estratgia de acompanhamento das medidas

    acordadas, bem como de sua

    eficincia e do nvel de satis-

    fao dos trabalhadores.

    Como j dito, com o tempo

    surgem outras necessidadese prioridades, e de tempos

    em tempos os sindicatos pre-

    cisam redefinir suas estrat-

    gias de ao sobre os riscos

    nos locais de trabalho, reini-

    ciando de novo do passo 1

    um novo programa de ao.

    COMO CONHECEROS RISCOS NOS

    LOCAIS DE

    TRABALHO ?

    Os riscos nos locais de

    trabalho esto relacionados

    s caractersticas do pro-

    cesso de trabalho, seu

    -2 0 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    19/41

    ambiente e organizao. Por isso, uma primeira

    etapa consiste no reconhecimento dos princi-

    pais riscos existentes dentro de cada categoria,

    setor econmico, regio do pas, empresa elocal de trabalho.

    Cada categoria vivencia situaes particula-

    res, e um trabalho fundamental a identificao

    das prioridades de cada momento. Por exem-

    plo, para o setor bancrio e de processamento

    de dados um problema prioritrio pode ser o

    das leses por esforos repetitivos; para a

    construo civil o acidente por queda de altura;

    para os trabalhadores rurais a contaminao

    por agrotxicos; para o setor siderrgico a con-

    taminao por benzeno; para o setor moveleiroos acidentes com mquinas; para os mergulha-

    dores subaquticos na prospeco de petrleo

    os acidentes de mergulho em guas profundas;

    para os trabalhadores qumicos e petroleiros a

    contaminao com substncias qumicas e os

    acidentes qumicos; para os motoristas de

    nibus os acidentes com veculos; para os pro-

    fissionais de sade de hospitais o estresse ocu-

    pacional, e assim por diante.

    Alm das diferenas entre as categorias,

    tambm as diferentes regies do pas podemter caractersticas bem distintas dentro de um

    mesmo ramo de atividade ou categoria, com

    um universo de situaes de risco bastante

    heterogneo. Uma diferena se refere ao tama-

    nho das empresas, com as de pequeno porte

    com freqncia sendo normalmente mais fr-

    geis, com inexistncia ou fragilidade de CIPAs,

    SESMETs e representaes sindicais. Outro

    aspecto o das relaes de trabalho, pois tra-

    balhadores de menor qualificao, terceiriza-

    dos, com vnculo temporrio e ganho por pro-

    dutividade tendem a estarem expostos emsituaes de risco mais graves. Outro ponto

    importante o das relaes de gnero: homens

    e mulheres possuem situaes de trabalho bem

    distintas, e freqentemente as mulheres encon-

    tram-se em situaes de trabalho com riscos

    invisveis, pois suas condies penosas no

    so reconhecidas enquanto tal, frente discri-

    minao existente na sociedade, e s vezes no

    prprio movimento sindical.Uma questo importante que todo pro-

    cesso de trabalho e toda atividade de trabalho,

    sejam eles exercidos no campo, em fbricas

    ou dentro de escritrios, podem possuir dife-

    rentes riscos simultaneamente. Tanto um tra-

    balhador rural, de escritrio ou de uma fbrica

    qumica pode estar exposto simultaneamente

    aos riscos qumicos, ao calor intenso, ao

    rudo, ao risco de uma queda, ou pode ainda

    sofrer problemas de coluna em funo das

    posturas e esforos fsicos realizados. A m a g-nitude do risco e do dano sade vai depen-

    der de cada situao particular, que deve ser

    objeto de anlise e interveno.

    O pargrafo anterior indica que, mesmo

    quando se levantam prioridades para um setor

    ou categoria, a anlise e preveno de riscos

    somente sero plenamente levadas a cabo

    quando realizada no cotidiano dos locais de tra-

    balho, junto com os trabalhadores que viven-

    ciam suas situaes particulares. Quanto maior

    a diversidade de processos de trabalho e con-dies de trabalho existentes dentro de um sin-

    dicato ou categoria, maior a necessidade de

    se levar em conta essa heterogeneidade e as

    estratgias de organizao dos trabalhadores

    nos locais de trabalho.

    Para conhecer e sistematizar o processo de

    trabalho de cada empresa ou local de trabalho,

    existem algumas tcnicas e documentos que

    podem ajudar bastante, em conjunto com as

    informaes dos trabalhadores. Estes docu-

    mentos e informaes podem ser:

    organograma da empresa, incluindo os prin-cipais setores e departamentos;

    fluxograma de produo da empresa, cons-

    tando dos principais passos para a fabricao

    dos produtos produzidos ou dos servios gera-

    dos na empresa;

    -2 1 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    20/41

    lay-out ou planta baixa com os principais

    equipamentos e instalaes;

    descrio das principais caractersticas da

    organizao do trabalho: equipes de trabalho,jornada de trabalho, existncia de turnos notur-

    nos ou alternantes, e quando houver necessi-

    dade de maior detalhamento nos locais de tra-

    balho, a descrio das principais tarefas e ativi-

    dades realizadas pelos trabalhadores, bem

    como suas freqncias.

    descrio dos principais equipamentos e ins-

    talaes podendo incluir detalhes como capaci-

    dade de produo e outras caractersticas;

    listagem das principais matrias-primas, pro-

    dutos em processo e produtos acabados, e osresduos produzidos ao longo do processo de

    fabricao, assim como sua destinao final e

    formas de tratamento;

    Existem vrias estratgias para o levanta-

    mento de informaes sobre os riscos. Uma

    das mais importantes previstas na legislao

    brasileira a elaborao do PPRA, a ao da

    C IPA e a construo do mapa de riscos na

    empresa, previstos inclusive na legislao bra-

    sileira, e que sero objeto de maior aprofunda-

    mento deste manual mais frente. A seg u i rcomentaremos algumas das principais estrat-

    gias para o levantamento de informaes e a

    identificao de riscos:

    Envolvendo diretamente os trabalhadores:

    questionrios e grupos focais

    Os trabalhadores conhecem melhor que

    ningum suas reais condies de trabalho, e

    sua mobilizao necessria para transfor-

    mar as situaes, eliminado e controlando os

    riscos. Uma primeira possibilidade de envolvi-mento atravs de questionrios distribudos

    para os trabalhadores de base, que devem

    ser bem montados, visando o fcil entendi-

    mento e o posterior trabalho de alimentao

    de um banco de dados. Este banco de dados

    deve ser alimentado pelos questionrios e

    analisado, mostrando os principais problemas

    e prioridades dos trabalhadores. Outra possi-

    bilidade a reunio de trabalhadores damesma categoria, empresa ou setor de traba-

    lho, ou ainda que vivenciem situaes de tra-

    balho semelhantes. Esta atividade muito

    rica, pois propicia o intercmbio, entre os pr-

    prios trabalhadores, de suas experincias e

    estratgias de luta. Estas reunies, tambm

    chamadas de grupos focais (pois um encon-

    tro focalizado num tema especfico, no caso

    trabalhadores que forneam um quadro o

    mais completo dos riscos nos seus locais de

    trabalho), devem ao final gerar relatrios ondeos problemas e prioridades dos trabalhadores

    sejam apontadas.

    Um aspecto importante, e s vezes difcil

    de compreender, que os trabalhadores, sozi-

    nhos, nem sempre podem compreender a glo-

    balidade dos problemas relacionados aos

    riscos. Um motivo a complexidade de alguns

    riscos e processos de trabalho, que pode

    tornar imprescindvel a presena de especia-

    listas em certas tecnologias, na avaliao

    ambiental e mdica. Exemplos so os riscosinvisveis ou no facilmente perceptveis,

    como as radiaes ionizantes e substncias

    qumicas inodoras e incolores, ou ainda os

    acidentes mais raros, que podem dar uma

    sensao de que nunca iro acontecer, dei-

    xando-se de lado as medidas preventivas

    e s s e n c i ai s .

    Outro ponto muito importante a chamada

    percepo de riscos pelos trabalhadores.

    Muitos fatores podem interferir nesta percep-

    o, inclusive fazendo com que os trabalhado-

    res no percebam ou mesmo neguem a pre-sena de riscos s vezes muito graves. Um

    destes fatores a chamada estratgia defen-

    siva, que faz parte da do mecanismo psquico

    humano. Como resultado da angstia frente

    aos riscos graves e sem perspectivas de

    -2 2 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    21/41

    mudanas, algumas pessoas acabam negando

    de forma subconsciente os prprios riscos. Este

    ponto revela um aspecto estratgico no lidar

    com o risco: no se deve simplesmente levan-tar os problemas, sem simultaneamente buscar

    solues, pois isso pode acarretar num

    aumento do sofrimento dos trabalhadores e

    num descrdito frente s prprias lideranas

    sindicais e instituies que atuam sem levar em

    considerao estes aspectos.

    Histrico das lutas sindicais (arquivos de aci -

    dentes e CATs, boletins sindicais, reportagens

    na imprensa, acordos coletivos passados)

    Normalmente todo sindicato possui um his-

    trico de lutas passadas que indicam os proble-

    mas passados e presentes da categoria. Esta

    histria se encontra nos arquivos de boletins

    sindicais, acordos coletivos, reportagens na

    imprensa, bancos de acidentes e CATs, aes

    civis e criminais, e outras denncias. A rev iso

    destes documentos deve servir de base tanto

    para a estratgia de ao sindical como para a

    identificao dos problemas da categoria.

    Informaes sobre queixas e problemas de

    sade da categoria

    Muitos sindicatos possuem departamentos

    ou setores mdicos, com a atuao de profis-

    sionais de sade. A assistncia aos trabalhado-

    res, prtica comum de vrios sindicatos, vem

    sendo redirecionada por uma prtica mais vol-

    tada a priorizar a preveno, atravs da elimi-

    nao e controle dos riscos. Desta forma, os

    profissionais de sade que atuam nos sindica-

    tos buscam levantar informaes sobre queixase problemas de sade para relacion-los com o

    trabalho, inclusive porque esta deveria ser uma

    prioridade de atuao dos servios mdicos

    das empresas, que normalmente no o fazem

    adequadamente. Alm de visar garantir os direi-

    tos dos trabalhadores afetados por problemas

    de sade relacionados ao trabalho, este tipo de

    atuao subsidia o levantamento dos riscos,

    atravs das queixas e sintomas de sade rela-tados pelos trabalhadores.

    Estatsticas de acidentes e doenas nas empre -

    sas e instituies que possuem bancos de dados

    As empresas deveriam possuir e disponibi-

    lizar aos trabalhadores e seus representantes

    as estatsticas de acidentes e doenas relacio-

    nadas ao trabalho, assim como s instituies

    pblicas como o Ministrio da Previdncia, o

    Ministrio do Trabalho e os servios de sadedo SUS. Muitas destas estatsticas oficiais so

    falhas, devido a subnotificao, e fornecem

    dados agregados por atividade econmica ou

    regio do pas. De qualquer maneira, estes sis-

    temas de informaes devem ser utilizados,

    inclusive para que sejam denunciadas as suas

    falhas.

    Levantamento bibliogrfico em livros e mate -

    riais especializado

    Existem vrios documentos, materiais e

    mesmo manuais tcnicos produzidos por orga-

    nizaes sindicais, que levantam informaes

    sobre os principais riscos e medidas de preven-

    o e controle dentro de cada categoria, ativi-

    dade econmica ou processo de trabalho parti-

    c u lar. Uma importante fonte bibliogrfica a

    Enciclopdia de Sade e Segurana Ocupacio-

    nal da Organizao Internacional do Tr a balh o,

    que rene milhares de verbetes sobre o tema, e

    onde possvel encontrar referncias sobre

    praticamente todos os tipos de riscos ocupacio-nais existentes na atualidade. Outra referncia

    bsica a legislao brasileira, em particular a

    Portaria 3.214, que contm as Normas Regula-

    mentadoras do Ministrio do Trabalho. Tambm

    muitos sindicatos e organizaes sindicais

    -2 3 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    22/41

    internacionais, vm produzindo importantes

    cartilhas e manuais endereados aos trabalha-

    dores, especficos por categorias, ramo de ativi-

    dade ou tipo de risco. Exemplos so os cader-nos de sade do trabalhador publicados pela

    CUT, do qual este manual parte.

    Relatrios de inspeo ou de anlises de aci -

    dentes de empresas e rgos de fiscalizao,

    como o Ministrio do Trabalho, o SUS e os

    Ministrios Pblicos

    As empresas, dependendo do porte e ramo

    de atividade, possuem setores internos respon-

    sveis pela anlise e elaborao de banco dedados e relatrios sobre os riscos nos locais de

    trabalho, com destaque para os SESMTs e

    CIPAs. Atravs destas e outras instncias, so

    produzidos manuais de segurana, relatrios

    de acidentes e relatrios peridicos sobre a

    atuao e os resultados da empresa nesta

    rea. Estes materiais so importantes fontes

    no somente para identificao dos riscos, mas

    para se saber o que as empresas esto

    fazendo, ou deixando de fazer e omitindo. Alm

    disso, as empresas so obrigadas a cumprir, nomnimo, as obrigaes dispostas na legislao

    em vigor. Os rgos fiscalizadores, sejam por

    atuao regular ou atravs de denncias, fisca-

    lizam e eventualmente autuam as empresas

    infratoras, exigindo o cumprimento das normas

    vigentes. Esta atuao dos rgos pblicos

    registrada em relatrios tcnicos, autos de

    infrao e outros tipos de documentao em

    processos diversos. Estas fontes so importan-

    tes para identificar os riscos nas empresas,

    suas inadimplncias, bem como a prpria atua-

    o dos rgos fiscalizadores. Se umaempresa que gera acidentes e doenas graves

    no fiscalizada ou autuada aps inspeo,

    isto um indicador da fragilidade ou omisso

    do poder pblico frente ao problema. Alm dos

    relatrios destes rgos, o prprio acompanha-

    mento de inspees e fiscalizaes por parte

    dos sindicatos e trabalhadores um importante

    instrumento de informao e controle social.

    Relatrios tcnicos e outras produes (proje -

    tos e relatrios de pesquisa, teses, artigos de

    pesquisa e outros) de instituies de pesquisa,

    ensino e cooperao tcnica.

    Apesar da limitao e das dificuldades

    enfrentadas, existem vrias instituies, como

    universidades, instituies de pesquisa e outras

    entidades de cooperao tcnica que atuam e

    produzem importantes materiais sobre os

    riscos nos locais de trabalho. Destacam-se asuniversidades com departamentos de medicina

    preventiva ou de sade coletiva, os que reali-

    zam pesquisas em ergonomia e anlise de

    risco, alm de instituies ligadas aos minist-

    rios da sade e do trabalho, como a FIOCRUZ

    e a FUNDACENTRO. A sede nacional desta

    ltima, em So Paulo, possui uma excelente

    biblioteca especializada nesta rea.

    Alm destas fontes, existem outras de

    grande importncia previstas na prpria legisla-

    o brasileira como o PPRA e o mapa deriscos, que sero aprofundados mais frente.

    COMBATENDO OS RISCOS:ESTRATGIAS DE

    PREVENO E CONTROLE

    Aps a identificao dos principais riscos

    existentes numa categoria, ramo de atividade,

    empresa ou posto de trabalho, chegamos ao

    grande objetivo da anlise de riscos que como

    eliminar ou controlar estes riscos evitando

    danos sade dos trabalhadores, ao meioambiente e sade da populao em geral.

    A palavra chave para esta pergunta encon-

    tra-se no termo preveno, que aqui adotado

    como o conjunto de medidas objetivas que

    buscam evitar a ocorrncia de danos sade

    -2 4 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    23/41

    dos trabalhadores, atravs da eliminao e do

    controle dos riscos nos processos e ambientes

    de trabalho. Estas medidas podem ocorrer

    tanto ao nvel das empresas como da socie-dade, atravs da elaborao de polticas pbli-

    cas, de legislao, da atuao das instituies

    pblicas e da ao organizada dos trabalhado-

    res e outros grupos sociais interessados. Em

    outras palavras, agir antes que os trabalhado-

    res tenham acidentes, doenas e outros sofri-

    mentos. Como diz o dito popular, melhor pre-

    venir do que remediar.

    claro que as medidas preventivas no so

    estticas, e evoluem de acordo com o estado

    tcnico da arte sobre o reconhecimento e ocontrole dos riscos de cada tecnologia e pro-

    cesso produtivo. Esta evoluo resulta tanto da

    luta dos trabalhadores como do maior conheci-

    mento sobre os riscos e os efeitos sade e ao

    meio ambiente. Por exemplo, existia uma

    grande ignorncia sobre os efeitos de vrias

    substncias qumicas, que mais tarde foram

    reconhecidas como cancergenas. Mesmo que

    seja superada a fase de ignorncia cientfica

    sobre determinado risco, o reconhecimento do

    mesmo um processo poltico e de luta svezes longo e desgastante, pois muitas empre-

    sas e grupos profissionais temem as conse-

    qncias polticas, econmicas e legais deste

    reconhecimento.

    Um papel fundamental dos trabalhadores e

    suas organizaes lutar para que a preven-

    o em todos os locais de trabalho evolua con-

    tinuamente e atinja os nveis mais elevados vol-

    tados defesa da sade dos trabalhadores e

    do meio ambiente.

    As fases bsicas de atuaoda pr eveno

    Existem trs fases bsicas de atuao da

    preveno, de acordo com o momento de evo-

    luo do prprio risco. So elas a fase do pro-

    jeto e do planejamento, a fase das situaes

    reais de trabalho e de risco e a fase da reme-

    diao ou atenuao dos riscos. A seguir apro-

    fundaremos cada uma destas fases.

    Fase do projeto e do planejamento

    A primeira fase da preveno envolve o pla-

    nejamento e o projeto no desenvolvimento de

    tecnologias e processos produtivos, atravs de

    suas organizaes, tarefas, produtos, equipa-

    mentos, materiais, postos de trabalho, prdios

    e instalaes que fazem parte de qualquer pro-

    cesso e ambiente de trabalho. A primeira fase

    se refere no apenas s novas tecnologias emempresas ou plantas industriais novas, mas

    tambm instalao de novos setores, fbri-

    cas, equipamentos, materiais, ou ainda novas

    formas de organizao, em empresas j exis-

    tentes. A atuao nesta fase fundamental,

    pois um projeto ou planejamento mal feito

    causa do surgimento ou agravamento de

    muitos riscos nos locais de trabalho, s vezes

    irreversveis ou inviveis economicamente.

    Existem muitos exemplos disso: as guilhoti-

    nas, que no passado j mutilaram milhares detrabalhadores grficos, reduziram radicalmente

    os acidentes medida que incorporaram novos

    dispositivos de proteo, como sensores fotoe-

    ltricos que interrompem imediatamente o

    movimento da lmina. Tarefas repetitivas e can-

    sativas, ambientes sem ventilao com fontes

    de calor, cadeiras horrveis para se sentar ao

    longo da jornada, mquinas ruidosas prximas

    umas das outras, substncias perigosas que

    poderiam ser substitudas por outras menos

    txicas: quem no conhece ou j viveu na pele

    um exemplo de risco em funo de um projetoou planejamento mal feito?

    No caso de fbricas e tecnologias mais peri-

    gosas, como plantas nucleares e qumicas,

    refora-se ainda mais uma questo desta fase:

    quais os critrios para se aceitar uma empresa

    - 25 -

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

    24/41

    ou tecnologia de alto risco num determinado

    lugar? Quem participa deste processo decisrio

    e de que forma ? Normalmente, cada pas e

    estado possuem uma poltica e legislaoespecfica que regulamentam os relatrios de

    anlise de riscos e impacto ambiental para os

    novos empreendimentos. Numa sociedade

    democrtica, todos os grupos sociais envolvi-

    dos deveriam participar da deciso, influen-

    ciando na recusa ou aprovao sob determi-

    nadas condies - do projeto proposto. Infeliz-

    mente nem sempre isso ocorre, principalmente

    em pases sem tradio democrtica ou com

    falta de recursos econmicos, tcnico-cientfi-

    cos e humanos. Quando isto ocorre, as deci-ses podem se dar em cpulas onde tecnobu-

    rocracias do Estado, polticos e empresas deci-

    dem sozinhos, apoiando-se principalmente no

    critrio de rentabilidade econmica do projeto.

    Infelizmente, uma grande quantidade de

    tecnologias e indstrias perigosas existentes j

    foi instalada com pouca ou nenhuma anlise

    dos riscos para a sade e o meio ambiente

    decorrentes destes projetos. Com isso, queima-

    se uma etapa fundamental da preveno e

    adia-se para o futuro uma eventual avaliaoda inaceitabilidade de uma certa indstria peri-

    gosa numa determinada regio. Neste

    momento, muitos efeitos desastrosos j podem

    ter ocorrido, e as dificuldades para um eventual

    reordenamento produtivo ou mesmo fecha-

    mento da indstria tendem a aumentar, face

    dependncia scio-econmica da regio onde

    a indstria est inserida.

    Fase das situaes reais de trabalho

    e do gerenciamento de riscos

    A segunda fase ocorre com a empresa em

    funcionamento, aps a construo do prdio e

    o funcionamento do processo produtivo, enfim,

    com as pessoas trabalhando em processos de

    trabalho particulares. Nesta hora, os riscos que

    permanecem ou decorrem da primeira fase

    transformam-se em situaes reais de risco

    vividas pelos trabalhadores. Em outras pala-

    vras, o trabalhador pode ainda no ter se aci-dentado ou adoecido, mas o risco est pre-

    sente numa dada situao, e pode gerar um

    efeito ao trabalhador a qualquer momento. Para

    evitar isso, a empresa ser obrigada a controlar

    essas situaes permanentemente atravs do

    gerenciamento dos riscos existentes. Esta fase

    envolve uma ampla legislao tcnica e fiscali-

    zao por parte das autoridades responsveis

    no cumprimento da legislao.

    O gerenciamento de riscos consiste, alm

    do reconhecimento e monitoramento perma-nente das situaes de risco, no controle e

    melhoria contnua dos elementos do processo

    de trabalho relacionados segurana e sade

    dos trabalhadores. Alguns dos principais objeti-

    vos do gerenciamento de riscos existentes so

    mencionados a seguir:

    a confiabilidade de mquinas, equipamen-

    tos, instalaes e ambientes, o que inclui sua

    manuteno preventiva para manter ou melho-

    rar as condies de funcionamento e segu-

    rana. No Brasil, muitos equipamentos semmanuteno adequada, velhos e obsoletos

    continuam em funcionamento atravs de gati-

    lhos, gambiarras ou solues improvisadas,

    provocando o que os ergonomistas chamam de

    modo degradado de produo, afetando as

    condies de segurana.

    uma organizao do trabalho adequada que

    capacite e fortalea os trabalhadores ao lidarem

    com as situaes de risco. Fazem parte desta

    organizao, dentre outros: treinamento e quali-

    ficao adequados; existncia de informaes e

    procedimentos operacionais para operaes derotina ou de emergncia sob segurana; tarefas

    planejadas com exigncias fsicas e mentais

    compatveis com as qualificaes existentes e

    necessidades de sade dos trabalhadores, evi-

    tando sofrimento, doenas e a ocorrncia de

    - 2 6 -

    Anlise de riscos nos locais de trabalho

  • 8/14/2019 Caderno3 Analise de Risco

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    erros humanos. Muitas vezes, trabalhadores

    sem qualificao adequada so colocados em

    situaes de risco grave, ou recebem ordens

    para alcanar nveis de produtividade em cir-cunstncias incompatveis com as exigncias

    de segurana e sade dos trabalhadores.

    o monitoramento da exposio aos riscos

    sobre o ambiente ou sobre os prprios trabalha-

    dores, quando estes esto sob riscos especfi-

    cos em seus locais de trabalho, como os qumi-

    cos. Os riscos no ambiente so monitorados

    atravs da quantificao e qualificao, e sobre

    os prprios trabalhadores, atravs de exames

    peridicos, de acordo com o risco em questo,

    que visam detectar exposies elevadas adeterminados agentes antes que os efeitos

    mais graves ou irreversveis surjam.

    a anlise de falhas, atravs do registro e

    anlise de incidentes, quase-acidentes ou ocor-

    rncias anormais, alm do registro e anlise

    dos acidentes j ocorridos. Normalmente, antes

    que um acidente ocorra, vrias falhas j ocorre-

    ram anteriormente, sendo sinais de que um

    acidente est prximo de ocorrer. Essas falhas

    ou anormalidades so prenncios de futuros

    acidentes, e deveriam ser objeto de registro,anlise e controle, evitando desta forma aciden-

    tes mais graves. Principalmente em indstrias

    de processo, como os setores qumico, petro-

    qumico, nuclear e siderrgico, esta estratgia

    fundamental para evitar a ocorrncia de aciden-

    tes mais graves.

    a existncia de espaos coletivos de discus-

    so e deciso nas empresas, com a participa-

    o dos trabalhadores, sobre os temas de inte-

    resse para a sua sade. Este tpico de

    grande importncia, e sem ele os todos objeti-

    vos anteriores ficam prejudicados. Idealmente,CIPAs (que freqentemente so coagidas e

    no desempenham seu papel de defesa da

    sade dos trabalhadores), outras comisses e

    os sindicatos deveriam discutir as decises

    sobre temas tais como investimentos, novas

    formas de organizao, relaes de trabalho,

    terceirizao, manuteno, controle do tempo e

    produtividade.

    Fase da remediao ou

    atenuao dos riscos

    Esta fase se refere a quando uma situao

    de risco se transforma num evento, como um

    acidente ou doena, que pode gerar um deter-

    minado efeito sade dos trabalhadores, e as

    medidas de preveno tm o objetivo de evitar

    que um dano maior ocorra. No caso de aciden-

    tes, esta fase remete a medidas como o plane-

    jamento de emergncias (evacuao, primeirossocorros, remoo e tratamento de feridos); e

    no caso dos riscos com efeitos crnicos de

    mdio ou longo prazo, que produzem determi-

    nados efeitos ou sintomas, so necessrias

    medidas como o monitoramento mdico dos

    trabalhadores expostos, a retirada imediata dos

    locais de trabalho dos trabalhadores afetados e

    o conseqente tratamento mdico adequado.

    Muitas vezes o pior ocorre justamente por falta

    destas medidas.

    Outro aspecto desta fase de atenuao dosriscos diz respeito aos direitos previdencirios e

    jurdicos que visam proteger os trabalhadores e

    suas famlias quando tiveram suas vidas afeta-

    das pelos riscos nos locais de trabalho. Estes

    direitos podem incluir os benefcios cobertos

    pelo seguro acidente de trabalho, e as aes

    indenizatrias na justia a serem pagas pelas

    empresas responsveis pelo dano,

    No caso de indstrias de risco como as qu-

    micas, petroqumicas e nucleares, a elaborao

    e eficcia dos planos de emergncia devem

    envolver necessariamente a participao inte-grada dos trabalhadores, comunidade, autori-

    dades pblicas locais, defesa civil, servios

    mdicos de emergncia, indstria e a mdia,

    entre outros. A inexistncia ou ineficcia destes

    planos pode multiplicar radicalmente o nmero

    -2 7 -

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    de vtimas decorrentes de um acidente

    ampliado. Tambm nas indstrias poluidoras do

    meio ambiente, a poluio provocada poder

    requerer medidas de remediao ambiental,para eliminar ou reduzir o nvel de poluio e os

    riscos para a sade da populao e o meio

    ambiente em reas contaminadas.

    Os Nveis da Ao Pr eventiva:oTrabalhador/Indivduo ,

    o Posto/Setor de Trabalho ,aEmpresa e a Sociedade em Geral

    A tabela apresentada mais a frente mostra

    algumas modalidades de preveno tcnicapossveis envolvendo os riscos nos locais de

    trabalho, de acordo com os quatro nveis da

    ao preventiva que vai do trabalhador indivi-

    dual ao nvel mais geral da sociedade e do

    ambiente. Todos os nveis so importantes,

    mas um problema central da preveno

    quando ela se limita ao nvel do trabalhador

    individual ou de medidas limitadas nos locais de

    trabalho, e no atinge a organizao e o geren-

    ciamento da empresa como um todo, nem ana-

    lisa os aspectos mais gerais da organizaosocial que impedem ou propiciam implementar

    condies mais efetivas de preveno.

    Aengenharia de segurana e a medicina do

    trabalho clssicas tendem a privilegiar a pre-

    veno prescrita do primeiro nvel, a do traba-

    lhador individual. Isso pode se dar: atravs do

    uso obrigatrio de equipamentos de proteo

    individuais - eventualmente inevitveis - que

    podem gerar uma fonte adicional de carga para

    os trabalhadores, principalmente em climas

    quentes; do cumprimento de normas de segu-

    rana, freqentemente incompatveis com asexigncias de produo e qualidade; ou atravs

    da realizao de exames mdicos, muitas

    vezes realizados como critrios de seleo e

    demisso de trabalhadores.

    Os Equipamentos de Proteo Individual

    ( EP I s), por exemplo, devem ser adotados s

    quando no existam outras alternativas, sendo

    algumas vezes inevitveis. Se no forem ade-

    quados, podem gerar uma sobrecarga e dificul-tar o trabalho. As normas de segurana e

    outros procedimentos operacionais sempre

    precisaro existir onde houver riscos nos locais

    de trabalho, mas em conjunto com outras medi-

    das gerenciais e organizacionais, como o trei-

    namento e informaes adequados, e devem

    ser compatveis e mais importantes que outras

    normas e ordens de produo. Os trabalhado-

    res devem ter o direito de recusa a trabalhar em

    situaes de risco grave e iminente, assim

    como devem receber os resultados dos examesperidicos, e medidas devem ser tomadas ime-

    diatamente para evitar o agravamento de algum

    sintoma ou doena diagnosticada.

    Conforme j dito na introduo deste

    manual, a mudana de um enfoque individua-

    lista punitivo para uma modalidade preventiva

    coletiva mais eficiente vem ocorrendo principal-

    mente a partir da dcada de 60 nos pases cen-

    trais, atravs do desenvolvimento de disciplinas

    e implementao de medidas mais coletivas e

    eficientes de controle dos riscos. AErgonomia eo desenvolvimento da Engenharia de Segu-

    rana Sistmica so exemplos desse processo.

    Esses avanos propiciaram a compreenso da

    importncia dos nveis mais elevados de pre-

    veno, como o gerenciamento de riscos e a

    noo de falha gerencial. Este termo significa

    que um acidente ou doena pode ocorrer no

    apenas em funo das falhas ou acontecimen-

    tos imediatamente anteriores aos efeitos

    sade, ou ao comportamento dos trabalhado-

    res. Ou seja, a questo fundamental aqui veri-

    ficar como uma empresa analisa e gerenciaseus riscos, cumpre a legislao e implementa

    as medidas preventivas mais adequadas.

    No Brasil, contudo, principalmente s a

    partir dos anos 80 que vem se dando um pro-

    cesso de introduo de novos enfoques pre-

    - 28 -

    Anlise de riscos nos locais de tr abalho

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    Anlise de riscos nos locais de trabalho

    -30-

    NVEL DAAO PREVENTIVA EXEMPLOS DE PREVENO POSSVEL

    3- Nvel Coletivo da Empresa:

    Organizao do Trabalho e

    Gerenciamento de Riscos

    5- Sociedade e Ambiente em

    Geral

    (Polticas Integradas ao nvel da

    Sociedade como um todo)

    acidentes, doenas e resultados do monitoramento ambien-

    tal e clnico dos trabalhadores.

    Estabelecimento e priorizao da poltica preventiva, e res-

    ponsabilidades na estrutura hierrquica da organizao;

    Desenvolvimento e seleo de tecnologias de processos,

    produtos, mquinas e equipamentos mais adequados

    sade dos trabalhadores.

    Mudana de tecnologias atrasadas para tecnologias mais

    seguras;

    Cumprimento de legislao e normas tcnicas sobre osriscos;

    Existncia de manuais internos, normas e procedimentos

    sobre segurana e sade do trabalhador, principalmente

    para atividades e situaes de risco perigosas;

    Planos de emergncia em instalaes de risco, incluindo

    o treinamento atravs de simulados;

    Polticas Econmica, Trabalhista, Tecnolgica, de Sade,

    Ambiental, Previdenciria, Judiciria, de Educao e For-

    mao, entre outras.

    Organizao e atuao sindical e dos trabalhadores nos

    locais de trabalho

    Legislao vigente

    Atuao das instituies reguladoras e fiscalizadoras,

    bem como da justia

    Crises econmicas em empresas e setores econmicos

    Planejamento Territorial em reas de Risco

    Anlise de Impacto Ambiental de novos Investimentos eProjetos

    Estrutura Assistencial e Emergencial (brigadas, primeiros

    socorros, assistncia mdico emergencial, saneamento

    de reas contaminadas)

    Este tipo de preveno que

    s atinge o trabalhador indivi-

    dual, colocando sobre ele a

    responsabilidade sobre os aci-

    dentes e doenas, faz parte de

    uma estratgia de gerencia-

    mento artificial dos riscos e de

    controle dos trabalhadores, e

    deve ser combatida e denun-

    ciada pelos trabalhadores e

    suas organizaes.

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    ventivos, que enfrentam ainda a hegemonia do

    enfoque individualista punitivo, presente ampla-

    mente na formao dos quase 120 mil profis-

    sionais de segurana do trabalho formados nasdcadas de 70 e 80 como resultado da poltica

    oficial preventiva do governo brasileiro desta

    poca. Alm disso, as relaes de trabalho

    autoritrias presentes em inmeras empresas

    brasileiras - fenmeno que reflete as caracters-

    ticas scio-polticas gerais do modelo de

    desenvolvimento econmico do pas nas lti-

    mas dcadas - limitam as possibilidades de rei-

    vindicao e participao ativa dos trabalhado-

    res nos locais de trabalho, condio sine qua

    non para a implementao de polticas efetivasde gerenciamento de risco.

    Este ltimo pargrafo aponta para o ltimo

    nvel de preveno, que envolve a sociedade

    como um todo. Uma coisa atuar sobre uma

    empresa, mas s vezes, como diz o dito popu-

    la r, o buraco mais embaixo. Uma empresa

    pode alegar que no existe legislao ou que

    cumpre a existente sobre determinado risco, e

    neste caso a luta pode ser a de criar a legisla-

    o no Brasil. Por exemplo, algumas substn-

    cias cancergenas podem ser proibidas emoutros pases, mas ainda no foram banidas no

    Brasil. Para alcanar esta meta, necessria

    muita fora social e poltica, que ser tanto

    maior quanto maior fo