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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
CADERNO PEDAGÓGICO
ABORDAGENS DO MOSAICO NO AMBIENTE ESCOLAR
Autora: Mary Rosane Vicente Dacól
Orientadora: Keila Kern
CURITIBA 2008
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................... 4
1 UNIDADE 1 – MOSAICO ..................................................................................................................................................5
1.1 Tessela.............................................................................................................................................................................6
1.2 Meu primeiro encontro com o mosaico/1ª experiência na escola....................................................................................8
1.3 Atividades .......................................................................................................................................................................11
2 UNIDADE 2 – ORIGEM E BREVE HISTÓRIA DO MOSAICO..........................................................................................15
2.1 Curiosidades sobre Pompéia .........................................................................................................................................18
2.2 Território geográfico da Arte Musiva ..............................................................................................................................19
2.3 Mosaico do antigo ao novo, o que mudou? ...................................................................................................................23
2.4 Como não falar de Gaudí ...............................................................................................................................................24
2.5 Mosaico: Método direto e indireto ..................................................................................................................................25
2.6 Atividades.......................................................................................................................................................................26
3 UNIDADE 3 - MOSAICO NO BRASIL, AONDE TUDO COMEÇOU................................................................................30
3.1 Calçadas Portuguesas/Calçadas Brasileiras..................................................................................................................32
3.2 Exemplos de calçadas em mosaico................................................................................................................................33
3.3 Atividades .......................................................................................................................................................................34
4 UNIDADE 4 - CURITIBA E O MOSAICO ........................................................................................................................39
4.1 Franco Giglio ..................................................................................................................................................................39
4.2 Poty Lazarotto e o mosaico ............................................................................................................................................42
4.3 Artistas brasileiros e o mosaico no Brasil........................................................................................................................43
3
4.4 Atividades ........................................................................................................................................................................46
5 UNIDADE 5 MOSAICISTAS DE CURITIBA FAZENDO HISTÓRIA.................................................................................49
5.1 Guido Schille .................................................................................................................................................................. 49
5.2 Vera Romano, uma dentista que se tornou mosaicista ..................................................................................................52
5.3 A mosaicista Selma de Oliveira ......................................................................................................................................56
5.4 Mosaico, arte, artesanato. Qual é a fronteira ..................................................................................................................57
5.5 Reaproveitamento ...........................................................................................................................................................58
5.6 Mauro Dacól, um empresário que descobriu a Arte Musiva ...........................................................................................61
5.7 Bea Pereira, a artista que escreveu um livro: “Mosaico sem segredos”..........................................................................65
5.8 Atividades .......................................................................................................................................................................70
5.9 Exposições de mosaico em Curitiba ..............................................................................................................................72
6 UNIDADE 6 PRODUÇÃO DE MOSAICO COM BASE EM MDF ...................................................................................75
6.1 Considerações finais ......................................................................................................................................................77
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................................78
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INTRODUÇÃO
ARTE DO MOSAICO E POSSÍVEIS ABORDAGENS NO AMBIENTE ESCOLAR
Este é um caderno pedagógico que vai abordar o tema “Mosaico” a fim de tornar possível o conhecimento dessa
arte na escola. Através de uma abordagem teórica e também prática, apresento sugestões de atividades artísticas que
vão de encontro a novas maneiras de trabalhar o mosaico no ambiente escolar.
O caderno pedagógico compõe o Projeto de Intervenção na Escola e se constitui de abordagens sobre o mosaico
através de textos, imagens, depoimentos de artistas, atividades de produção, numa tentativa de levar a você, aspectos
relevantes da arte do mosaico do passado e mais precisamente do panorama da Arte Musiva na atualidade, por
acreditar na extrema importância do assunto no contexto da arte e como conhecimento para o aluno. É uma proposta
de encaminhamento para o professor, acompanhado de sugestões de atividades para os alunos, pautada num estudo
teórico e prático da arte do mosaico.
As sugestões de atividades priorizam o trabalho com conceitos de “construção, planejamento e trabalho em
etapas”, elementos essenciais quando se trata da produção de mosaicos e podem ser adaptados ao contexto escolar.
Cada Unidade do Caderno Pedagógico contém texto/imagens, atividades e o indicativo das mídias, cd ou dvd que
complementam cada Unidade.
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1 MOSAICO
Mosaico é uma técnica artística executada com pequenas peças de pedra ou de outros materiais (vidro, mármore,
cerâmica ou conchas), formando determinado desenho. O objetivo do mosaico é preencher algum tipo de plano, como pisos
e paredes.
A palavra "mosaico" tem origem na palavra grega mouseîn, a mesma que deu origem à palavra música, que significa
próprio das musas.
É uma forma de arte decorativa milenar, que nos remete à época greco-romana, quando teve seu apogeu. Na sua
elaboração foram utilizados diversos tipos de materiais e teve diferentes aplicações através dos tempos
A técnica da arte musiva (relativo à mosaico), consiste na colocação de tesselas, que são pequenos fragmentos de
pedras, como mármore e granito, pedras semi-preciosas, pastilhas de vidro, seixos e outros materiais, sobre qualquer
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superfície. Nos dias de hoje, o mosaico ressurgiu, despertando grande interesse, sendo cada vez mais utilizado,
artisticamente, na decoração de ambientes interiores e exteriores.1
No dicionário, o significado de Mosaico, é um embutido de pedrinhas ou de outras peças de várias cores dispostas de
modo a formar desenhos. Qualquer trabalho composto de várias partes distintas. (BARBOSA e PEREIRA, 2002, p.468).
1.1 O QUE É UMA TESSELA?
Tessela, deriva da palavra tessere, que significa cubo. É usada para denominar as peças com que são executados os
mosaicos. Elas existem em diferentes materiais tais como pedra, seixos rolados, vidro, sementes, argila, madrepérola,
conchas, louças quebradas, azulejos, entre outros.
As tesselas também são chamadas de pastilhas e há diversos tipos, sendo que as mais comuns são as de vidro. As
tesselas são os fragmentos de uma composição musiva, assim como os elementos formais das artes visuais são partes
integrantes da composição. Fayga Ostrower, tem uma explicação para os elementos formais fora de um contexto:
“Num processo de composição na área de artes visuais, os elementos formais – linha, superfície, volume, luz e cor”
não têm significados preestabelecidos, nada representam, nada descrevem, nada assinalam, não são símbolos de nada,
não definem nada - nada, antes de entrarem num contexto formal “. (OSTROWER 1983, p. 65)”.
Assim, são os fragmentos na composição musiva, onde os caquinhos (tesselas) passam à significação quando se
unem formando um mosaico. Essa proposta pedagógica considera fragmentos, tanto os elementos formais das artes
1 Texto baseado no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mosaico
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visuais, que passam a ter significação apenas no contexto, como qualquer material que resulte em composição musiva:
cacos, pedras, vidro, papel, sementes, tesselas em geral.
A proposta apresentada nesse caderno pedagógico é de ampliar o significado e a utilização das tesselas, de cacos e
usar “fragmentos de imagens impressas” com a função de tesselas. Utilizar também imagens inteiras associadas a outras,
como partes de um mosaico e outras formas de fragmentação possíveis de serem feitas com papel, buscando novas
soluções de composição.
O mosaico é uma técnica de representação artística e como tal, exige o conhecimento de composição e o exercício da
mesma, além de estar contextualizada na História.
As composições musivas, na história podem ser compreendidas através das técnicas específicas em parede (parietal),
chão (pavimental), no teto de igrejas, nas casas e, sobretudo com a evolução de materiais, como foi com a descoberta do
“smalti”, ou “pasta vítrea”, que hoje conhecemos como pastilhas de vidro se assemelhando ao smalti. Muitos foram os temas
dessas composições no passado, e hoje, basta querer conhecer e produzir mosaicos, pois os materiais são abundantes.
Através dos exercícios de composição, é possível trabalhar:
- Gêneros: retrato: frontal/perfil; paisagem, natureza-morta, cenas históricas, cotidianas, religiosas, mitológicas.
- Recursos Formais de Representação: figuração, abstração, estilização, deformação, realismo, idealização.
- Formatos: retangulares, circulares, triangulares, isso é possível de acordo com o suporte (base) escolhido.
- Estrutura da composição: divisão em partes, com figura e fundo, fundo chapado, fundo em perspectiva.
Muitos são os recursos para aprimorar a composição, mas para isso, se faz necessário exercícios com conteúdos
estudados e conhecidos dos alunos, porém que se materializem nas representações em mosaico: peso visual, ritmo visual,
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equilíbrio simétrico, assimétrico, elementos formais, tipos de formas, cor e luz, enfim, um conjunto de elementos que venham
dar coerência e significado à produção artística.
O papel é um material acessível para esses exercícios de composição e cria infinitas possibilidades através de
fragmentos em papel, representando tesselas.
Dessa forma, vamos trabalhar a colagem com a idéia de mosaico e o mosaico propriamente dito e buscar soluções
compositivas para cada conjunto dos materiais a ser utilizado, mas, sobretudo conhecer a Arte Musiva e sua importância
histórica.
Os conteúdos estruturantes e específicos que orientam as Diretrizes Curriculares de Arte 2008 estão sendo
considerados em todo o encaminhamento da proposta desse caderno pedagógico.
1.2 MEU ENCONTRO COM O MOSAICO E PRIMEIRA EXPERIÊNCIA NA ESCOLA
JUSTIFICATIVA
No ano de 2005, fui fazer um curso de mosaico no Centro de Artes Guido Viaro, quando o Centro ainda funcionava em
uma sala do Colégio Estadual do Paraná. O curso foi ministrado pela professora Rita Reinchen e os participantes de um
modo geral, eram professores das redes Estadual e Municipal. Foi um convite a gostar do mosaico, pois pude perceber a
magia e riqueza da técnica e a grande possibilidade de trabalhar conteúdos de arte associados ao mosaico.
A professora Rita usou uma metodologia apropriada para ser aplicada posteriormente na escola. Propôs materiais de
fácil aquisição, usou muito o papel e suportes como MDF, isopor, vidro e papelão.
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A partir desse primeiro contato, busquei mais informações e fiz a primeira experiência com alunos das sétimas e
oitavas séries no Colégio Estadual, Dr. Xavier da Silva em Curitiba.
Logo que comecei a trabalhar com os alunos, um fato novo acontecia na escola, as árvores passavam por um
processo de poda, inclusive com algumas árvores cortadas por estarem condenadas. Algumas estavam ocas. Retiraram as
árvores e serraram em pedaços. Percebi a chance de fazer mosaicos nos troncos das árvores. Fiz alguns por experiência e
lancei a proposta para os alunos. Eles interagiram, fizeram poesias, pequenos textos, ilustrações sobre o assunto, tudo
acontecendo durante o processo. Foi muito motivante continuar, pois percebi a importância do processo, muito mais que o
resultado final, até porque descobri que troncos de madeira sofrem dilatação, portanto não são ideais para mosaico, caso
fiquem em ambientes que recebam, sol e chuva. Foi um aprendizado.
A escola por iniciativa própria mandou dois trabalhos para uma exposição que estava acontecendo no Núcleo Regional
de Ensino de Curitiba: “Mulheres da Educação”. Imagens dos trabalhos:
Mary 2005 Mary 2005
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Os alunos se interessaram, produziram outros mosaicos, fizeram coleta de materiais, compraram outros e pesquisaram
períodos da história com o referencial da arte do mosaico. Compreendi nessa experiência, que muitos alunos tinham uma
imensa dificuldade em planejar suas ações, queriam resolver tudo imediatamente e muitas vezes se frustravam com o
resultado. A questão do tempo era uma barreira, e a busca pelo resultado imediato eliminando algumas etapas da
construção do mosaico, foram determinantes para a decepção de alguns alunos. Então nesse misto de sucesso e fracasso
e a certeza que o Mosaico era importante para trabalhar arte com os alunos, resolvi rever os métodos, aprimorá-los, e assim
cheguei a uma proposta apresentada nesse caderno pedagógico. Acredito que o mosaico seja um instrumento de acesso
para o aluno se deparar com conceitos de organização, planejamento e trabalho em etapas, numa contramão da velocidade
que está acostumado a ter no universo proporcionado pelas redes virtuais via Internet e também por todas as facilidades
proporcionadas pelo mundo atual. Por outro lado, a Internet é um veículo excelente para se conhecer a arte, aproximando
pessoas de diversas culturas e possibilitando o acesso à informações de todos os períodos históricos da arte.
Percebi no mosaico um grande exercício para desenvolver planejamento e uma forma de trabalhar a técnica associada
à história, da mesma forma que a evolução e diferenças compositivas em alguns períodos e culturas.
O fato de o mosaico ser uma arte que sobreviveu ao tempo, com caráter duradouro nos faz refletir sobre o caráter
efêmero da sociedade de consumo, onde se descarta muito e o lixo é um problema mundial. A arte não é alienada e
alienante, portanto discute o homem e sociedade, e assim tem sido uma constante em períodos históricos. Quero poder
discutir consumo, problemas ambientais através do mosaico, por que não?
A arte também é invenção, (...) Ela é um tal fazer que, enquanto faz, inventa o por fazer e o modo de fazer, (...) Nela concebe-se executando, projeta-se fazendo, encontra-se a regra operando (...) “(PAREYSON, 1989, p. 31).
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Descobri que não preciso ser uma mosaicista para entrar em contato com a técnica e ainda assim, posso orientar
trabalhos de mosaico com alunos com objetivos amplos de unir teoria e prática em uma produção musiva. É nesse contexto
que encontrei significado e motivação para trabalhar com mosaico.
1.3
1 O PRINCÍPIO DO MOSAICO: FRAGMENTAR E RECOMPOR
Essa atividade quer deixar claro, o que é fragmentar e recompor. O fragmento pode ser obtido a partir de uma imagem
qualquer, de revista, fotocópia, foto, entre outros.
Fragmente a imagem em alguns pedaços. Pode fazer isso, escolhendo o formato das tesselas (partes do papel).
Tesselas são os cacos, os fragmentos do mosaico, que nessa atividade, são os papéis em pedaços.
Cole as partes sobre papel colorido, compondo-o novamente, porém deixe espaços (interstícios). A cor que fica entre
os espaços, representa o rejunte da mesma forma que em mosaicos feitos com materiais específicos.
Ficou claro o que é fragmento, interstício, rejunte? Esse é o princípio para se conhecer mosaico.
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2 MOSAICO: ANDAMENTO
Para ter a compreensão do Andamento, recorte papéis coloridos em formato quadrado e pequeno, aproximadamente
de 1,5cm. Nessa atividade, não pense em formar desenhos, apenas cole os papéis, fazendo exercícios de repouso,
movimento, calma, dinamismo, como se fosse uma linha. Perceba os efeitos dos espaços entre as tesselas e mude
propositalmente a direção das linhas. Desta forma, você estará conhecendo um elemento muito importante na execução de
mosaicos para obter ritmo no trabalho.
3 ANDAMENTO NO MOSAICO COM ESCOLHA DE TEMA
Nas composições musivas, o Andamento, é a maneira como as tesselas são colocadas para representar movimento,
calma, energia, rigidez, ordem desordem. Nessa atividade, a proposta é representar calma. Escolha um tema central (flor,
vaso, árvore, rosto, etc), e um fundo que não tire a atenção do desenho principal. Para isso, escolha várias cores
encontradas em revistas. Rasgue em pedacinhos, separe por cores, tons. É muito bom trabalhar com cores de revistas, pois
há vários tons de uma mesma cor, enriquecendo a qualidade do mosaico. Use uma pinça para facilitar a colagem e use cola
branca. Faça o mosaico em suporte de papelão, isopor ou cartolina. Cole primeiramente o motivo principal e depois faça o
fundo. As cores frias, no fundo, podem dar uma sensação de distanciamento do motivo principal, ao contrário das cores
quentes.
As etapas desse trabalho são: escolha do tema, seleção de cores, fragmentação dos papéis, separação por cores,
esboço do desenho no local do mosaico, colagem do motivo principal, fundo. Deixe interstícios (espaços entre as tesselas).
Dica para diferenciar seu trabalho: ao fragmentar seu papel, deixe algumas tesselas propositalmente maiores que outras.
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Essa diferença pode ser uma boa solução compositiva. Procure sempre organizar seu material, guardando os papéis
fragmentados em envelopes, pois o trabalho em mosaico, mesmo em papel, demora a ser concluído havendo necessidade
de ter o material sempre organizado.
4 MOSAICO EM CAIXA DE SAPATO OU PAPELÃO
Agora o suporte para o mosaico, é uma caixa de sapato ou outra que achar interessante, podendo ser até em MDF
(aglomerado de média densidade), ideal para mosaicos, por reter pouca umidade.
Escolha imagens de revista e papéis coloridos lisos.
Recorte as imagens, dê um formato a elas, quadradas, retangulares. Recorte as imagens, umas maiores, menores e
faça o mesmo com papéis coloridos. Vá compondo a caixa, intercalando imagens e os outros papéis.
Use pincel para passar a cola. Forre o fundo da caixa. Para esse trabalho, use sobreposição de imagens. Esse
trabalho não precisa ter necessariamente um tema, apenas um jogo de imagens, que vão formando uma composição. Mas
pode ser muito interessante fazer a caixa com um tema específico, fica aí a sugestão.
Dê um acabamento com cola extra PVA, use pincel de cerdas duras. Veja imagens de mosaicos em papel de Vera
Romano, mídia em dvd.
Nesse tipo de trabalho, é possível usar o recurso de sobreposição, o que amplia as possibilidades de intercalar
diversos tipos de papéis, cores, imagens.
A seguir, exemplos de composições com abordagens diferentes, a partir de imagens de revistas:
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Caixa de papelão imagens em sobreposição
Composição: Vera Romano Composição: Vera Romano
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2 ORIGEM E BREVE HISTÓRIA DO MOSAICO
A palavra Mosaico é de origem grega (mosaicon) que significa “paciente, digna das Musas”, no sentido de “obra
paciente”.
Digna das Musas, porque se trata de trabalho de rara beleza, feito com materiais que duram séculos e por isso tem um
sentido de eternidade.
A origem do mosaico é muito discutida. Como nasceu e porque nasceu permanece no campo das hipóteses, sendo
controversas as opiniões dos estudiosos e faltando elementos para localizar com certa exatidão, o lugar e a época de seu
primeiro aparecimento.
Na antiga cidade de Ur, atual Iraque, foram encontrados alguns mosaicos sumerianos que, segundo o arqueólogo
Leonard Wooley (1880-1960), pertencem a um período de aproximadamente 3.500 a.C. A descoberta aconteceu durante as
escavações arqueológicas nos anos de 1927 e 1928.
O assim chamado “Estandarte de mosaico de Ur” compõe-se de dois painéis retangulares de 55 cm de comprimento
por 22,5 cm de largura, e de mais dois outros, também retangulares, se supõe que fixados em uma haste, serviam de
estandarte para cortejos rituais. Esses mosaicos, feitos de arenito avermelhado e lápis-lazúli representam cenas da vida
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sumeriana, com numerosas figuras, carros, cavalos e guerreiros. Esse mosaico foi encontrado dentro de um túmulo real de
Ur e representava as seguintes cenas:
- banquetes, com trajes típicos e utensílios;
- condução de animais sacros para os sacrifícios;
- um grupo de prisioneiros;
- um grupo de guerreiros com armas e armaduras;
- carros de guerra (uso deste, introduzido na história pelos sumerianos).
Estes elementos que retratam detalhes da vida dos sumerianos, só foi possível conhecer, através desta descoberta
arqueológica.
Em 1930, os ingleses transportaram essa peça da Mesopotâmia para a Inglaterra onde pode ser vista no “British
Museum de Londres”.
Para conhecer o mosaico de Ur, entre nos sites2 indicados abaixo ou no cd que compõe este caderno pedagógico.
Com as escavações que são realizadas para a construção de edifícios, túneis, metrôs, de tempos em tempos
importantes descobertas acontecem. A cada novo sítio arqueológico encontrado, muito da história antiga é resgatada.
Pompéia, uma cidade que foi soterrada pela erupção do Monte Vesúvio no ano de 79 d.C. foi redescoberta em 1748
revelando uma cidade congelada no tempo, com inúmeros mosaicos em muito boas condições. A seguir, uma imagem de
mosaico que se encontra na cidade de Pompéia (cedida pela Artista Bea Pereira):
2 Sites Mosaico de Ur: http://planeta.terra.com.br/lazer/jogosantigos/programas/ur.exe, www. pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Britânico, http://yonelins.tripod.com/historia/
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Para ver mais imagens de mosaicos encontrados em Pompéia, entre nos links:3 ou no cd de fotos, pasta Mosaicos de
Pompéia.
3 http://maria-francisca-benedita.blogspot.com/2008/06/pompeia-v-mosaicos.html, http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u13790.shtml,
fotosgratis.allfreephoto.com/details/pompeia/mosaicos.foto.php?gid=86&sgid, www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio/painel.php?cod=271,
interata.squarespace.com/jornal-de-viagem/2008/2/5/pompeia-que-lugar.html
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2.1 CURIOSIDADES SOBRE POMPÉIA
Segundo MUCCI (1962, p.32), um motivo decorativo muito usado em pisos e paredes de Pompéia, era relacionado à
“morte”, e sua representação se dava através de desenhos e mosaicos de esqueleto. Mucci explica que este costume de
decorar com motivos macabros o lugar onde se reuniam os convidados para as ceias e banquetes tinha origem filosófica
Epicurista e esta prescrevia esquecer na mesa os problemas da vida olhando para a imagem macabra da morte. Era uma
forma de valorizar mais a vida, diante dos problemas.
Pompéia foi um viveiro de mosaicistas, e nesta cidade pode-se avaliar a importância que tinha o mosaico no mundo
romano, pois não somente os poderosos e os abastados apreciavam essa arte, mas também o povo. Isso é comprovado
com a difusão do motivo “canis catenarium”, também conhecido como “cave canem”, que foi encontrado em residências
luxuosas, bem como em habitações do povo e representavam um cachorro acorrentado, no ato de querer agredir um
possível intruso. Os mosaicos encontrados em Pompéia eram basicamente pavimentais.
No fim do século XX, em Piazza Armerina, na Sicília, foram encontrados alguns dos mais lindos mosaicos
remanescentes da Antigüidade Romana. Inaugurado em 30 de outubro de 2002, o sítio arqueológico “dei Tappeti Pietra”,
encontrado há pouco mais de uma década em Ravena (Itália), conserva maravilhosos mosaicos de um grande palacete
bizantino do século V d.C.
O passado histórico ainda pode ser revelado com muitas outras descobertas arqueológicas.
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O Mosaico abaixo é um dos muitos encontrados recentemente em Piazza Armerina (imagem cedida pela artista Bea
Pereira), e acessando os links indicados, poderá ver outros mosaicos desse sítio arqueológico.4
Imagem cedida por Bea Pereira
2.2 TERRITÓRIO GEOGRÁFICO DA ARTE MUSIVA
4 Sites sobre Piazza Armerina: http://totinhoaracaju.blogspot.com/2007/10/biquni-moda-que-libertou-mulher.html, http://www.lasicilia.es/piazza_armerina/
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Segundo Joaquim Chavarria, mosaicista e autor do livro “O Mosaico” (1998), o florescimento da Arte Musiva se deu em
um território geográfico limitado à Europa, ao Norte da África e ao Próximo Oriente, o que não aconteceu com as Artes mais
Universais.
As culturas pré-colombianas, apesar de possuírem interessantes exemplos de mosaico, utilizaram-na unicamente na
cobertura de objetos rituais religiosos, de uso doméstico e em máscaras funerárias.
Joaquim Chavarria após muitos anos de estudos sobre a arte do mosaico constatou que houve poucas variações ao
longo do tempo na maneira de se fazer mosaicos. As diferenças ficam por conta dos materiais e faz uma síntese sobre a
utilização das tesselas.
“Se as cenas figuradas da Suméria estavam cortadas em pedra e, na Grécia, os mosaicos eram de pavimento com
seixos rolados, com os Romanos, houve um grande esplendor, através do uso de tesselas em mármore. Os bizantinos
trasladam os mosaicos para as paredes e utilizam tesselas de pasta vítrea. Nos séculos posteriores esta arte mantém-se,
contudo sem o ímpeto dos precedentes. Atualmente, com a introdução de conceitos abstratos nas composições, integram-
se novos materiais, com tesselas de formas variadas e de grandes dimensões, impensáveis em outras épocas”.
É também necessário saber que os mosaicos grego e romano são quase que exclusivamente pavimentais, e através
da pujança e expansão do cristianismo, houve o desenvolvimento de uma arte parietal que, livre da funcionalidade do
pavimento, utiliza tesselas de pasta vítrea, o que implica uma mudança, quer em termos técnicos, quer artístico, na
realização da arte do mosaico. Isso se concretiza nos mosaicos bizantinos.
O mosaico pavimental é relativo a pavimento, chão e é o mais antigo, muito utilizado com pedras de seixos rolados, e
tem um caráter de funcionalidade.
Um mosaico pavimental muito antigo foi encontrado em Pela, Macedônia (375-300 a.C.) e têm lâminas de chumbo
incrustradas: “A Caça do Leão”. Outro exemplo do Mosaico Pavimental é o já citado “Canis Caternarium”, muito comum nas
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residências da cidade de Pompéia, tanto das mais simples, como as mais luxuosas, demonstrando o acesso da Arte Musiva
a todas as classes.
O Mosaico Parietal é o mosaico feito em parede e evoluiu com a descoberta da “pasta vítrea”, assim o mosaico ganhou
cor e requinte, os mosaicos bizantinos são grandes exemplos da arte parietal. O mosaico parietal do exemplo é um
mosaico bizantino, feito com “pasta vítrea” ou “smalti” e agora chamado de “pastilhas ou tesselas de vidro”. Um mosaico
muito significativo e histórico é o da Imperatriz Teodora e se encontra em Ravena na igreja de “S. Vitale”.
EXEMPLOS DE MOSAICOS PAVIMENTAIS (MUSEU DO VATICANO)
Imagens cedidas por Bea Pereira
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EXEMPLOS DE MOSAICOS PARIETAIS (MUSEU DE SANTA SOFIA, ISTAMBUL)
Mosaicos bizantinos de “pasta vítrea”
Imagens cedidas por Bea Pereira
Veja mosaicos bizantinos no cd de fotos.
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2.3 MOSAICO: DO ANTIGO AO NOVO... O QUE MUDOU?
Para alguns especialistas no assunto, dentre eles, a mosaicista curitibana Bea Pereira (2006), o método de construção
do mosaico não sofreu alterações significativas ao longo dos séculos, pois os mosaicistas preparam tesselas que são
assentadas com algum tipo de adesivo. A grande mudança ocorrida desde o tempo dos romanos, se dá com os materiais. O
mosaico, inicialmente usado apenas na arquitetura, passou a revestir todo e qualquer tipo de objeto.
Com a ampliação de possibilidades de suportes para mosaicos, consequentemente, ampliaram-se também os tipos de
materiais e hoje é possível fazer mosaicos em qualquer base: madeira, cimento, ferro, vidro. O que muda é o adesivo, ou
seja, o tipo de cola que sustenta as tesselas.
“Para Joaquim Chavarria, a pedra” dos seixos rolados ao mármore e granito “, são comuns a todas as épocas. A maior
descoberta para o mosaico foi a” pasta vítrea “, aumentando consideravelmente as possibilidades cromáticas nas
composições musivas”.
Muitos mosaicos, dentre eles, os bizantinos utilizaram pedras semipreciosas e preciosas, caracterizando-os como
requintados e ricos. A outra grande mudança com materiais se deu mais recentemente com “Gaudi” em Barcelona,
revolucionando a Arte Musiva.
Podemos contar atualmente com uma infinidade de tesselas no mercado: pastilhas de vidro com muitas variações além
das pastilhas de porcelana, cristal, espelhada, de casca de coco, madrepérola, entre muitas outras. As ferramentas são
usadas de acordo com o tipo de material: martelos, torqueses, escopros, serras de marchetaria e na atualidade,
instrumentos mecânicos ou elétricos têm facilitado a fragmentação dos materiais para a elaboração de mosaicos.
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A evolução das ferramentas de corte fica por conta de algumas específicas para cada tipo de material, como a torquês
para vidro, por exemplo, além da evolução de máquinas de corte elétricas.
Mas é possível perfeitamente usar poucas ferramentas e fazer excelentes mosaicos, porque mosaico não é somente
técnica, é você e ela, numa parceria que envolve a formação dos sentidos estéticos através do estudo das artes visuais.
2.4 “COMO NÃO FALAR DE GAUDÍ?”
O grande arquiteto Antoni Gaudí (1852-1926) não poderia deixar de ser citado nesse caderno pedagógico, pela
importância e reconhecimento do trabalho musivo que fez em Barcelona e sua repercussão mundial. A partir dele, o
mosaico teve outra trajetória diante do mundo, e consequentemente a Arte Musiva se transformou.
Gaudí levou os mosaicos a novos patamares, literalmente revestindo prédios, bancos de jardim e até telhados da
cidade, com uma multiplicidade de mosaicos de cerâmica multicolorida, abrindo caminho que seria seguido por outros
construtores de mosaicos. Sua influência forjou uma linha de mosaicos, onde a liberdade de expressão encorajou artistas
como Klint, Chagal e Kokoschka a desenhar mosaicos arrojados e inéditos. Entre as obras mais significativas de Gaudi
estão a Igreja da Sagrada Família (ainda inacabada), Cripta da Colônia Güell, o Parque Güell, a casa Bartló e a casa Milá,
mais conhecida como a Pedreira. Para falar de Gaudí, teria que ser um trabalho exclusivo somente sobre ele, e para tal,
uma complexidade de informações e imagens que mereceriam uma pesquisa exclusiva. Abaixo, alguns sites com imagens e
histórias sobre a obra de Gaudí:5 5 http://yonelins.tripod.com/historia/, http://www.voyagesphotosmanu.com/gaudi_espanha.html, www.depositodaordem.com.br
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2.5 MOSAICO: MÉTODO DIRETO E INDIRETO
Há duas maneiras de se fazer mosaicos, através do método direto ou indireto e delas derivam muitas outras. Para
optar entre as duas, tudo depende do tamanho, das dificuldades de execução e da especificidade que cada método oferece.
Pense num painel muito grande, com milhares de tesselas para assentar em uma parede. Que método seria mais viável?
MÉTODO DIRETO
Entende-se por método direto a colocação direta das tesselas ou pastilhas na parede ou sobre outra superfície
estável, por meio de argamassas especiais ou outro tipo de adesivo, dependendo da superfície.
Esse método permite a visualização total do trabalho, pois a parte superior das tesselas se transforma na superfície do
mosaico final.
Esse método é também chamado de bizantino ou ravenato.
MÉTODO INDIRETO
Entende-se por método indireto, o mosaico feito às avessas, ou seja, o desenho é preparado sobre papel e as
pastilhas são coladas pela face que ficará exposta depois de colado o trabalho em uma superfície. Exemplo, se eu quiser
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fazer um mosaico com a palavra amor, devo fazer pelo método indireto a palavra roma. Para aplicar esse mosaico, usa-se a
sequência: argamassa, mosaico, secagem, remoção do papel com água e depois o rejuntamento.
É muito importante nesse método, a utilização de pastilhas de vidro, pois elas são coloridas por igual. Somente
pastilhas que tenham as mesmas cores nas duas faces, podem ser utilizadas no método indireto. Pense como seria difícil
fazer um mosaico pelo método indireto, utilizando azulejo, por exemplo.
O método indireto é também chamado de veneziano ou de rebatimento.
A técnica inversa ou método indireto foi uma inovação dos mosaicistas Salviatti , Del Turco e Facchina, no século XIX.
Com esse método, encontraram um modo de agilizar e baratear os trabalhos, porém houve um aumento do nivelamento das
peças impedindo os relevos. A refração obtida pela irregularidade das tesselas, como nos mosaicos bizantinos, se perdeu
deixando os mosaicos muito planos.
Oficialmente é atribuída ao atelier de Facchina a descoberta do método inverso, mas existe uma possibilidade dos
romanos já terem usado essa maneira de se fazer mosaicos.
2.6
MOSAICO PELO MÉTODO DIRETO
SUGESTÃO 1
27
Materiais: - azulejo inteiro ou piso cerâmico;
- pedaço de MDF um pouco maior que o azulejo ou piso escolhido;
- rejunte para azulejo;
- cola branca extra PVA;
- martelo, tecido, chinelo de borracha, esponja de louça, fita adesiva.
Com um pano qualquer, enrole a peça de azulejo e use o martelo para fragmentá-la. Dê apenas uma pequena batida,
para partir a peça. O tecido evita lascar o azulejo e elimina possíveis ferimentos.
Com cola branca, cole os pedaços de azulejo no MDF, no mesmo formato anterior, somente deixe espaços para o
rejunte. Passe fite adesiva nas laterais para evitar que suje a peça. Escolha a cor do rejunte e na dúvida, o cinza médio
(indicação da mosaicista Selma de Oliveira). Rejunte 24 horas depois de colar as peças.
Após secagem, faça o rejunte, misturando o pó com um pouco de água, consistência cremosa e passe com esponja ou
borracha de chinelo. Deixe secar, e limpe o excesso logo que perceber que está secando. Faça a limpeza final no dia
seguinte. Essa atividade visa à compreensão do método direto e da experimentação de materiais, sem exigências
compositivas. A partir dela, você pode criar muitos mosaicos.
SUGESTÃO 2
MOSAICO COM SUPORTE EM VIDRO E FOLHAS DE REVISTA
28
Materiais: -Pote de vidro;
-Cola branca extra PVA;
-Pincel de cerdas duras;
-Pinça, aguarrás (opcional), estopa para limpeza;
-Folhas de revistas: escolher vários tons de uma mesma cor. Não use imagens, somente pedaços de folhas com cores
diferentes. Selecione as cores, fragmente-as, rasgue em pedaços.
-Passe a cola somente no lugar que vai colar, use a pinça para pegar os papéis, facilitando muito o trabalho.
-Não deixe espaços entre os papéis.
Acabamento: - Passe cola, se quer um efeito mais brilhante.
-Passe aguarrás, se quer um efeito envelhecido. Nesse caso, use estopa e faça isso em lugar muito arejado. A
aguarrás retira um pouco da cor, desgastando-a e proporcionando um efeito envelhecido.
MÉTODO INDIRETO
MOSAICO DE PASTILHAS DE VIDRO
Materiais: pastilhas de vidro, rejunte, desempenadeira dentada, papel pardo, cola branca ou cola de polvilho, sandália
de borracha, esponja, papel de seda, lápis.
29
Escolha um motivo sem muitos detalhes para o primeiro mosaico em método indireto, pode ser um nome ou número. O
suporte (base) ideal para esse tipo de mosaico é parede, chão, muro.
Desenhe o motivo principal: número ou palavra. Copie esse desenho em papel transparente tipo seda ou sulfurizê.
Transfira esse desenho para um papel pardo, de modo invertido, se escolheu, por exemplo, o número 90, ele deverá ser
passado invertido: 09. O papel de seda faz isso por você, só deve cuidar em passar ao contrário, no papel pardo. Comece a
colar as pastilhas de vidro, corte-as quando necessário, utilizando torquês para vidro. Um detalhe importante: cole as
pastilhas do lado liso direto no papel. A cola deve ser diluída, pois esse papel será retirado depois. Prepare a argamassa,
passe com desempenadeira dentada e aplique o mosaico. Pressione o papel com as tesselas coladas. Deixe secar por dois
dias. Com uma esponja de água, molhe o papel, retire-o totalmente e após estar bem limpo, prepare o rejunte, consistência
cremosa. Passe o rejunte com chinelo de borracha, limpe os excessos e quando começar a secar limpe novamente. Está
pronto o mosaico.
O método indireto possibilita fazer mosaicos de maior porte e ser transferido na parede em partes. Mas é bom também
fazer experiências com argamassa, caso faça um mosaico em ambientes externos. Antes de aplicar o mosaico, converse
com profissionais da construção civil para obter um melhor resultado.
Sempre lembrar que não pode ser feito mosaico externo com a base em MDF, pois a dilatação da madeira faz com que
as tesselas se soltem com o tempo.
Observe como é possível fazer trabalhos grandes com esse método e colá-los em partes.
30
3 MOSAICO NO BRASIL: QUANDO TUDO COMEÇOU.............
Tudo começou com a Imperatriz Tereza Cristina, mulher de D. Pedro II.
Tereza Cristina (1822-1889) era italiana, da região de Nápoles. Essa região é famosa, pois o vulcão do monte Vesúvio
e as ruínas de Pompéia e Herculano localizam-se lá, favorecendo o turismo local.
Tereza Cristina veio para o Brasil em 1843 para se casar com D.Pedro II, embora seu contrato de casamento tenha se
efetivado em 1842 e assinado em Viena. Tereza Cristina era uma pessoa muito ligada à arte e quando chegou ao Brasil em
1843, em sua frota também vieram artesãos, artistas, intelectuais e cientistas.
A imperatriz Tereza Cristina quando cuidava de suas filhas em um dos jardins do Palácio de São Cristóvão, no Rio de
Janeiro, denominado então Jardim das Princesas demonstrou um de seus dotes artísticos pessoais, o mosaico. Com
conchas, recolhidas nas praias do Rio de Janeiro, e com cacos das peças de serviço de chá da Casa Imperial, ela recobriu
os bancos, tronos, fontes e paredes do Jardim das Princesas, sendo assim a precursora da Arte Musiva no Brasil, coisa
31
pouquíssima divulgada pelos historiadores e especialistas em arte. Aproximadamente cinqüenta anos depois, Antoni Gaudí
e Josep Maria Jujol "revolucionaram" o mundo das artes com um trabalho em bem maior proporção, porém semelhante ao
de Tereza Cristina já realizava em São Cristóvão.
A pesquisa arqueológica no Palácio aonde viveu a Imperatriz, foi realizada em meados da década de 1990 pela
arqueóloga “Maria Beltrão” e publicada pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro em 1997.
Atualmente é muito difícil ver esses trabalhos da princesa, pois esta área do museu está fechada ao público após
longos anos de vandalismos sofridos por parte de visitantes que recolhiam pedaços, lascas e até cacos inteiros como
lembrancinhas dos trabalhos da princesa. Veja imagens dos mosaicos da Imperatriz, no cd de fotos, pasta Imperatriz.
Tereza Cristina era filha do rei das “Duas Sicílias”, quando morava na Itália chegou a financiar escavações
arqueológicas, pois se interessava muito pelo assunto. Quando as cidades de Pompéia e Herculano passavam por estudos
arqueológicos, através de seu irmão que permaneceu na Itália, mandou vir peças das escavações dessas cidades e muitas
delas se encontram no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A coleção “Tereza Cristina" fica exposta quase permanentemente no Museu Nacional (Museu Nacional/UFRJ - Quinta
da Boa Vista, São Cristóvão - Rio de Janeiro), coleção que foi organizada no século XIX a partir de duas origens distintas:
uma parte do acervo veio do Real Museo Borbonico (hoje Museo Nazionale Di Napoli), com peças presenteadas pelo irmão
da Imperatriz Tereza Cristina, Fernando II Rei das Duas Sicílias.
Outra parte veio da própria Imperatriz que financiou e promoveu escavações arqueológicas na localidade de Veio,
outrora município romano de origem etrusca. Veja imagens dos mosaicos, no cd de fotos, pasta Imperatriz.6
6 Site: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id9.html Acesso em 20/10/2008
32
3.1 CALÇADAS PORTUGUESAS, CALÇADAS BRASILEIRAS...
MOSAICOS PAVIMENTAIS NO BRASIL
Desde o início do século XIX, em Portugal e particularmente em sua capital Lisboa, vinha sendo usado como
decoração de calçadas, um mosaico “opus tesselatum”, feito com pedaços de basalto e calcário, geralmente branco e preto,
tendo algumas vezes variações de pedras de outra cor formando motivos geométricos ou ornatos de várias formas.
Segundo Mucci, esse belíssimo tapete de pedra, de herança greco-romana, harmonizou-se por seu toque humano, ao
conjunto poético de uma cidade vivaz e característica: Lisboa.
“Quantas vezes uma necessidade estética nasce de uma sensibilidade interior de humanizar o que nos cerca?”
Para Mucci, as calçadas em mosaico constituem a mais simples e a mais contínua forma de arte “ao ar livre”, arte para
todos: os que querem e os que não querem olhar, harmonia que às vezes, apenas sentimos, passando apressadamente,
mas que existe na sua monocromia singela, na sua composição que enriquece de algo humano, a fria e negra faixa das
modernas ruas de asfalto e complementa: as calçadas em mosaico dão vida e poesia à dura matéria por meio da
transformação em belo. Para Mucci, ”mosaicos são verdadeiras poesias eternas”.
No Brasil, as calçadas em mosaico, começaram a ser construídas por volta de 1905 no Rio de Janeiro por iniciativa de
Pereira Bastos, então prefeito do Rio de Janeiro, denominado “o remodelador da cidade”. Esse foi o início de uma série de
outras calçadas construídas em cidades importantes do Brasil.
33
Tecnicamente, o mosaico das calçadas pode ser considerado como “opus tesselatum” em duas cores, colocado pelo
sistema direto.
Depois do Rio de Janeiro, outras capitais como Manaus, Belo Horizonte fizeram calçadas em mosaico e atualmente
muitas outras cidades brasileiras, entre elas Curitiba, têm lindos mosaicos em calçadas.
3.2 EXEMPLOS DE CALÇADAS EM MOSAICO
Açores - Portugal Açores - Portugal Copacabana - Brasil
34
3.3
A importância da Imperatriz Tereza Cristina como uma precursora da Arte Musiva no Brasil, não é muito valorizada
pelos historiadores e vale lembrar que a Imperatriz era italiana, e Roma, tinha muitos mosaicistas importantes, talvez daí seu
grande interesse pelo mosaico. Baseado no que leu sobre o assunto procure imagens de mosaicos feitos pela Imperatriz,
descubra se houve pesquisas no assunto e observe que tipo de material a Imperatriz utilizava para fazer mosaicos, visto
que o Brasil do início do século XIX, não dispunha de recursos para tal atividade artística.
Veja fotos dos mosaicos da Imperatriz no material de apoio: pasta Imperatriz Tereza Cristina.
A Imperatriz fez que tipo de abordagem do mosaico?
Procurem coletar materiais possíveis de se fazer mosaicos e classificá-los por tipo e organizá-los em recipientes
transparentes, que podem ser de garrafas PET. Essa atividade pode ser feita em longo prazo, pois é uma pesquisa para
posteriores produções de mosaico a partir desses materiais alternativos coletados durante um certo período. Sempre que
encontrar materiais que podem ser usados em mosaico, reserve e guarde.
2 PROJETO DE CALÇADA, EM MOSAICO
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Essa atividade tem o objetivo de pesquisar calçadas de Curitiba feitas na técnica do mosaico, compreender o método
direto na realização de calçadas e buscar novas idéias compositivas no Projeto proposto.
Sugestão do tema: “Novas calçadas em Curitiba”, e pode ser representado com desenhos simbólicos, estilizados,
assim como o que você vê em calçadas (pinhão, araucárias, símbolos, etc).
Em primeiro lugar, observe as calçadas, fotografe-as, se possível, passe as imagens na TV pendrive. Faça estudos de
desenhos para seu projeto de calçada. Escolha o material: pedras, mármore, pastilhas de vidro, azulejo, piso cerâmico.
Compre um pedaço de tela para mosaico. A tela será o suporte provisório para o mosaico. Faça o desenho na tela, cole as
peças de modo direto. Espere secar e aplique no chão, com desempenadeira dentada e argamassa. Depois, rejunte e faça a
limpeza.
Para entender melhor, veja o dvd, pasta Vera Romano. Ela faz tapetes em mosaico, que tem a mesma técnica de
calçada. Veja também o cd de fotos, pasta Guido Schille.
O ponto principal dessa atividade é o Projeto, o processo de composição e não a execução, pois fazer uma calçada
implica em algo mais complexo, mas é importante conhecer como se faz.
ATIVIDADE 3
MOSAICO A PARTIR DE IMAGENS DE REVISTA
Escolha um tema, exemplo: pessoas, flores, rostos, consumo, felicidade, rostos, olhos, olhares, origem do mundo,
história do Brasil, queimadas, mudanças climáticas, entre outros.
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Recorte imagens relativas ao tema escolhido. Caso ache interessante, pode fotocopiar algumas imagens, ampliando-
as, reduzindo-as. Dessa forma, é possível também trabalhar o contraste de cores entre as imagens coloridas das revistas e
o preto e branco das fotocópias.
As imagens nesse trabalho serão suas tesselas. Toda tessela tem um formato: quadrado, triangular, arredondado,
quebrado aleatoriamente como cacos, entre outros. Dê um formato diferente às suas figuras e escolha uma base para colar:
papel canson, cartolina, papel cartaz. Use cola branca.
Comece a compor as gravuras na base. Pode colar deixando pequenos espaços como os mosaicos tradicionais ou
usar sobreposição, o papel permite esse recurso.
Os exemplos abaixo são colagens estilo mosaico, da artista curitibana Vera Romano. Outros mosaicos com a utilização
de tesselas estão disponíveis no cd de fotos, pasta Vera Romano.
Agora é a sua vez!
Não se esqueça que para fazer um bom trabalho, é necessário planejar e seguir as etapas necessárias para sua
produção.
37
Uma câmera digital e um bom tema são suficientes para criar um painel com características de um mosaico. Se
considerar que o mosaico é uma espécie de construção a partir de cacos, organizados lado a lado, formando uma imagem,
então podemos pensar em imagens de fotos, como se elas fossem os cacos. Para se fazer mosaico, é necessário um
projeto para que as etapas de sua realização sejam respeitadas. Nesse trabalho, as etapas se dividem assim:
- escolha um tema;
- fotografia de várias imagens que possam compor este tema (faça as fotos, se possível);
- escolha algumas imagens e imprima;
-se sua câmera tiver cartão, faça a leitura das imagens na TV multimídia;
-uma dica muito interessante para se usar imagens, é destacar algumas através de ampliação ou redução. No
computador essas imagens podem ser mexidas, distorcidas, tornando-as mais horizontais, verticais, etc.
Tendo as imagens, agora é hora de compor. Se quiser variar, dê um formato diferente à sua foto, como um efeito
rasgado, por exemplo.
- escolha um suporte: papel A3 é um bom tamanho, o A1 é ideal, mas pode ser uma cartolina e até mesmo papel
pardo.
Componha essas imagens, organizando-as no seu painel, pode deixar espaços ou usar a sobreposição. O importante
é compor e gostar do seu trabalho. Essa colagem não é um mosaico tradicional, mas o processo de sua realização se
assemelha muito à elaboração de um mosaico.
Essa sugestão de atividade pode ser feita com imagens de revistas, caso não tenha uma câmera digital.
ATIVIDADE 5
38
s MATRIZ DE ESTÊNCIL PARA SIMULAÇÃO DE TESSELAS
Essa atividade tem um objetivo de trabalhar o andamento, ritmo, e criar novas possibilidades de se pensar o ritmo e
trabalhar os exercícios de composição musiva.
A Matriz pode ser de transparência para retroprojetor, cartolina ou material de radiografia.
Corte a matriz em 4 partes iguais. Em cada um, desenhe e vaze formatos de tesselas. Faça o desenho no formato de
tessela na matriz e vaze com estilete. Não faça muitos desenhos (apenas um ou dois), pois a quantidade se dará, quando
passar para um suporte repetindo a operação várias vezes. A princípio, pense somente em fazer exercícios de andamento,
depois pode pensar em formar algum desenho.
Pegue um rolinho de espuma, tinta guache ou serigráfica, bandeja de isopor. Passe o rolinho sobre a matriz, em vários
sentidos, dando o andamento desejado. Use cores variadas e faça andamentos diferentes.
Essa atividade é interativa, pois os alunos podem trocar matrizes e descobrir muitas maneiras diferentes de trabalhar
com andamento.
O livro de Bea Pereira: Mosaico Sem Segredos, p. 49 a 53, traz exemplos de vários tipos de andamento e mosaicos
que os representam.
Importante frisar, que a idéia de algumas atividades desse caderno, são novas abordagens do mosaico na escola e
não a formação de mosaicistas.
Essa possibilidade de uso do estêncil consequentemente pode te trazer novas idéias, novas soluções.
Que tal você sugerir uma nova atividade a partir do uso do estêncil, relacionando-o ao mosaico?
Fica aí a sugestão.
39
4 CURITIBA E O MOSAICO
A Arte Musiva em Curitiba está se desenvolvendo progressivamente e buscando espaço perante outras artes.
Basta ir aos Museus e procurar por Mosaicos, é raro encontrar alguma obra. As exposições que acontecem são
geralmente iniciativas dos próprios artistas mosaicistas que se unem e mostram sua arte em outros espaços. Mas mosaico
em Curitiba tem nome e esse representante importante da Arte do mosaico, é Franco Giglio (1937-1982).
4.1 FRANCO GIGLIO
Franco Giglio nasceu na Itália em 1937 e veio ao Brasil com 21 anos de idade. Morou em Minas Gerais e trabalhou
com um grande mosaicista, Alfredo Mucci, também italiano e que na década de 1960 desenvolvia trabalhos em mosaico no
Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
40
No final dos anos 50, Alfredo Mucci convidou Franco Giglio para fazer um painel em mosaico em Juiz de Fora: “A
Evolução da Moeda Através dos Tempos”. Esse painel fica na Secretaria Estadual da Fazenda e se encontra bem
preservado.
Franco Giglio tornou-se muralista, fixou residência em Curitiba onde realizou muitos trabalhos em mosaico: Cemitério
Municipal, Assembléia Legislativa, Colégio Lins de Vasconcelos e em várias residências particulares.
Giglio executava seu projeto na íntegra, diferentemente de alguns mosaicistas que recorriam à outros para executar
obras assinadas por eles.
Um importante mosaico de Franco Giglio, o do Cemitério Municipal está passando por um intenso e minucioso trabalho
de restauro, por conta da condição que se encontra. A restauração está sendo feita através do Programa de Recuperação
do Patrimônio Histórico da Prefeitura de Curitiba e coordenado pela Fundação Culltural de Curitiba.
Franco Giglio ficou muito amigo de Poty Lazarotto, que confiou à Giglio, a realização do famoso painel em azulejo do
Monumento ao Tropeiro, na cidade da Lapa.
Em 1975, Franco Giglio se casou com Roseli de Almeida e retornou à Itália. Faleceu muito cedo, aos 44 anos no ano
de 1982.
No Bairro do Bigorrilho funciona a Biblioteca Franco Giglio e também no Solar do Barão, há uma sala permanente com
o nome do artista.
Recentemente, com a restauração de um mosaico de Franco Giglio em Curitiba, o jornal “Notizie d’Itália” que veicula no
Brasil e Itália, fez uma matéria sobre o assunto. 7
7 Jornal : http://www.italiaoggi.com.br/not07_0908/ital_not20080704b.htm Residência Nelson Justus: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id42.html
41
Imagens de mosaico de Franco Giglio podem ser vistas, acessando o site “mosaicos do Brasil” e no cd de fotos.
42
4.2 POTY LAZAROTTO E O MOSAICO
Napoleão Potyguara Lazzarotto, conhecido simplesmente como Poty (1924-1998) foi um desenhista, gravurista,
ceramista e muralista brasileiro. Mas o que poucas pessoas sabem, é que Poty também era mosaicista, uma técnica
artística que se assemelha um pouco aos murais que fazia.
Filho de italianos, Poty começou a se interessar por desenho ainda bem criança. Seu pai era ferroviário e sua mãe
mantinha um restaurante na cidade, o “Vagão do Armistício”, muito freqüentado por intelectuais paranaenses.
Ao longo de sua vida trabalhou principalmente com desenhos, gravuras, murais, serigrafia, litografia, pintura.
Para muitos críticos de arte, os murais são o trabalho mais representativo de sua obra. Em sua execução, Poty
empregava materiais diversos, como madeira, vidro, cerâmica, azulejo, e concreto aparente, esse último um de seus
materiais de predileção.
Há obras de Poty espalhadas por diversas cidades do Brasil e do exterior, incluindo murais em Portugal, na França, e
na Alemanha.
Suas obras também podem ser vistas em diversos locais públicos de Curitiba, como os painéis do pórtico do Teatro
Guaíra, no saguão do Aeroporto Afonso Pena na Praça 29 de Março, na Praça 19 de dezembro (Curitiba) e na Torre da
Telepar. Embora Poty Lazarotto seja reconhecido por outros trabalhos por ser um artista múltiplo, foi também um grande
mosaicista. Mas é interessante saber, que nem sempre um trabalho em mosaico assinado por um artista, tenha que ser
43
necessariamente executado por ele, como foi o caso de mosaicos de Poty realizados por Franco Giglio e mesmo murais de
Poty assinados por ele e executados por outros artistas.
O último trabalho de Poty antes de falecer, foi um mosaico, apesar de sua importância na arte não ser tão associada à
Arte musiva. O painel em mosaico fica no Teatro Calil Haddad em Maringá, concluído em 1997, mas inaugurado em 2000.
Este painel é de Poty e realizado por outro artista chamado Adoaldo Lenzi, um grande ceramista que tem trabalhos
reconhecidos no Brasil e na Europa. Seu Atelier fica no bairro Pilarzinho, em Curitiba. Veja a imagem do mosaico de Poty
em Maringá acessando o site8: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id9.html e no cd de fotos.
Artistas como Alfredo Mucci, Franco Giglio, Poty Lazarotto, têm uma história não somente com Curitiba, ampliaram
esse universo artístico com obras que pertencem à história da humanidade.
4.3 ARTISTAS BRASILEIROS E O MOSAICO NO BRASIL
A importância da arte do mosaico no Brasil é pouco considerada por historiadores e críticos de Arte e é bem possível
compreender isso, quando buscamos grandes nomes de artistas brasileiros ou estrangeiros conhecidos no Brasil que não
são reconhecidos por fazer trabalhos musivos, a exemplo de Poty em Curitiba. Aqui, tentarei apenas dar alguns exemplos,
pois esse tema renderia muito mais que um tópico de um caderno didático. A compreensão mais clara do que relato se
8 Mosaico de Poty: http://mosaicosdobrasil.tripod.com/id9.html
44
encontra numa tese: COELHO, Isabel Ruas Pereira “ A Produção de painéis em mosaico no período pós-guerra em São Paulo: Industrialização e modernidade versus tradição artesanal. Campinas, 2003. 9
Quem de fato quer compreender ou tentar entender o porque da Arte Musiva estar ou se ausentar no cenário artístico
brasileiro, precisa ler esse artigo de Isabel Ruas Pereira, principalmente quando entramos no contexto de arte, artesanato,
industrialização. Para isso, é necessário conhecer quais eram os principais centros de mosaico no mundo na época.
O mosaico artístico tem as melhores escolas em Ravena e Paris e essas escolas defendem o uso de tesselas
irregulares, sem características industriais, assim como eram as tesselas do período bizantino e ainda reforçam a
importância do mosaicista executar sua obra, ao contrário do período da invenção das tesselas industriais (1731 em Roma
por Mattioli), e depois com expansão em Paris.
No final do século XIX aplicam-se mosaicos em grande escala, em edifícios como o da Ópera de Paris, criada por
Charles Garnier em 1875, com uma enorme área revestida em mosaico.
Essa produção industrial, longe de gerar uma renovação na expressão artística do mosaico, leva a uma
descaracterização da sua linguagem plástica, processo análogo ao que aconteceu, no mesmo período, em outras artes.
A partir do início do séc. XX, os artistas modernos da Escola de Paris redescobrem o mosaico, procuram renovar sua
linguagem com base em uma produção totalmente artesanal, baseada nos princípios do mosaico de Ravena (sécs V a XV),
abandonando a pesquisa formal desenvolvida pelas fábricas de mosaico do século XIX.
No Brasil, a industrialização veio tardia comparada à Europa e o que ocorreu com o mosaico em seu período de auge
(após Segunda-Guerra Mundial), foi a execução de mosaicos pelas indústrias, porém assinados por artistas, em forma de
“cartão para mosaico”. Esse cartão era um projeto em mosaico assinado por um artista e executado geralmente pela
indústria que fabricava as tesselas, como foi o caso da Vidrotil. Muitos painéis foram feitos dessa forma, descaracterizando o
9 Artigo retirado do site: http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/062R.pdf
45
mosaico como obra de arte realizada por um artista. Um cartão para mosaico, poderia se transformar em qualquer outra
técnica como pintura, gravura, tapeçaria, perdendo a especificidade da linguagem de mosaico.
Para refletir: não estaria aí uma das causas da desvalorização da Arte Musiva no Brasil com relação às outras artes?
“Di Cavalcanti”, consagrado artista brasileiro, produziu “cartões para mosaico”, para painéis em São Paulo.
Apesar de ter estudado a técnica musiva em Paris, não adotou em seus painéis, características artísticas típicas das escolas
européias na execução dos mosaicos, ficando suas obras com aspectos plásticos típicos dos mosaicos industrializados.
“Nos principais centros de renovação moderna da arte do mosaico, Ravena e Paris, foram introduzidas novas maneiras
de ver a relação entre criação e execução do mosaico, propondo a não existência na separação entre criação e execução do
mosaico, assumindo, portanto uma forma de trabalho necessariamente artístico.
Procuraram também criar uma nova “gramática” do mosaico, voltando a tirar partido dos seus elementos estruturais: a
forma da tessela, o espaço livre entre as tesselas e o andamento. Esta atitude propunha o fim da separação entre o projeto
do mosaico – ou seja, o cartão – e a sua elaboração material. Dois dos principais artistas modernos que trabalharam com a
renovação da linguagem do mosaico foi Gino Severini (1883-1966) e Lino Melano. Severini, artista que tinha pertencido ao
movimento futurista italiano e realizado mosaicos desde a década de 30, na Itália, Suiça e França, criou em Paris a École
d’Art Apliqué, nos anos 50. Nela se ensinava a cerâmica de Faenza e o mosaico de Ravena. Vários artistas brasileiros
passaram por esta escola em Paris, entre eles, Jorge Mori, Flávio Shiró e Antonio Carelli.
“Para estes artistas, ao contrário de Di Cavalcanti, a criação do mosaico deveria ser feita diretamente pelo artista e não
passar por uma fábrica”. COELHO, Isabel Ruas Pereira. 10
10 Retirado do site: http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/062R.pdf
46
Após Di Cavalcanti, outros artistas se dedicaram ao mosaico no Brasil: Bramante Bufoni, Serafino Faro (1915), Antonio
Carelli (1928) e Paulo Werneck (1907).
O artista Paulo Werneck (1907), nos anos 40 inaugurou no Rio de Janeiro, uma tradição de uso do mosaico nos
edifícios modernos brasileiros que se prolongou até aos anos 60. Nesse período, as obras em mosaico apresentavam um
repertório formal moderno, uma mudança total de concepção em relação a esses mosaicos do período anterior, que tinhas
aspectos totalmente industrializados. As obras musivas passam a ser utilizadas com definição e tratamento de superfícies
murais, “como obras de arte”, assinadas pelo autor, e projetadas de acordo com os novos princípios de integração arte -
arquitetura.
Na atualidade, grandes nomes estão surgindo e a Arte Musiva recupera aos poucos, o espaço que perdeu na história.
4.4
47
1 CARTÃO PARA MOSAICO
Após leitura da Unidade 4, para ficar bem clara a questão de “cartão para mosaico”, a proposta é de criar um cartão,
porém o autor deverá especificar materiais, suportes, cores e fazer um roteiro de execução do mosaico. Pode propor uma
calçada (pavimental), parede (parietal) ou em outros suportes como madeira, vidro, papel. A proposta agora é sua, e todas
as etapas de elaboração deverão ser respeitadas:
- escolha do tema;
-esboço do desenho;
-suporte do mosaico;
-tipo de tesselas;
-cores de tesselas;
-cor de rejunte
-demais materiais.
Faça um projeto de um mosaico (com execução ou não) para a compreensão do processo do “cartão de mosaico
assinado por um artista”. Deixe registrada sua opinião sobre o uso de “cartão para mosaico” com conotação de obra de arte.
Pense, sugira outra atividade de “cartão para mosaico”.
48
2 MOSAICO DE MOSAICO, INTERVENÇÃO....
Na Unidade 4, alguns importantes artistas foram citados. Escolha dois artistas citados e pesquise suas obras em
mosaico. Caso não encontre obras especificamente desses artistas, escolha outro, mas as imagens em mosaico são
necessárias. Imprima imagens das obras. Faça fotocópias de uma mesma imagem de forma reduzida, ampliada, distorcida e
monte um grande painel. Intercale com papéis coloridos e dê um tílulo ao seu trabalho. Importante citar obra e artista
pesquisados, pois deve referenciar sempre a autoria de uma imagem. Faça interferências, cole outras imagens, pinte, faça
texturas. O suporte deve ser preferencialmente o papel em tamanho A1, ou o papel pardo em tamanho semelhante. É uma
boa opção de trabalho em equipe.
49
5 MOSAICISTAS DE CURITIBA FAZENDO HISTÓRIA.........
5.1 GUIDO SCHILLE
Guido Schille nasceu em Curitiba em 1962, graduou-se em Escultura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná
em 2005. Começou a atuar como artista plástico em 1997, realizando principalmente trabalhos em mosaico, ministrando
oficinas e cursos, bem como, desenvolvendo esculturas em diferentes técnicas e materiais, principalmente o mármore e o
granito.
50
Conheça mais sobre os trabalhos de Guido Schille, acessando o site do artista, que além de mosaicos, têm grandes
esculturas em mármore e granito.11
Guido Schille trabalha o mosaico integrado à arquitetura, assim como os mosaicos antigos conhecidos na história. Tem
uma grande afinidade com o desenho, e a organização de seu trabalho segue minuciosamente as etapas estabelecidas,
procurando seguir um projeto. O trabalho a seguir, é um tapete em mosaico aplicado em um consultório dentário infantil.
As imagens mostram a sequência do projeto, desde o desenho, etapas de execução e mosaico final. Esse caráter de
perenidade e durabilidade de um tapete em mosaico é típico dos mosaicos antigos. O tapete do exemplo é feito pelo método
indireto, embora se faça também outros tipos de tapetes pelo método direto.
TAPETE EM MOSAICO: DO PROJETO À EXECUÇÃO
11 Site Guido Schille: www.guidoschille.art.br/index.htm
51
52
5.2 VERA ROMANO, UMA DENTISTA QUE SE TORNOU MOSAICISTA
Vera Romano é dentista e divide seu tempo entre sua profissão e a Arte Musiva e diz: “odontologia também é juntar
cacos”, só que sem a possibilidade de usar a cores. “A Arte do mosaico aprimorou ainda mais a minha paciência e como
dentista que sou, tenho que restaurar a forma e a função de um dente sem poder dar-lhe cor, o mosaico me permite juntar
cacos, porém coloridos e navegar no universo das cores!” (Vera Romano, 2008).
Para Vera Romano, o mosaico permite deixar a imaginação navegar por caminhos ladrilhados por cacos coloridos.
Sempre se interessou por mosaico, observava igrejas e espaços que continham mosaicos e ao passar pelo Depósito
da Ordem, local do curso da artista Bea Pereira, sentiu naquele momento uma sintonia com a arte que viu, e uma enorme
vontade de produzir uma peça em mosaico.
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Fez um curso em 2003 e não parou mais. Seu trabalho é muito bom, diferenciado e consegue fazer mistura de
materiais, diz que isso é básico quando se trata de mosaico. Reutiliza louças quebradas, azulejos, vidros, blindex, pedras
que traz da praia, cacos em geral e peças de bijouterias. Consegue harmonizar cores, faz muitos estudos de composição,
misturando materiais e tem resultados excelentes.
Fez uma experiência de colagem (que para ela não deixa de ser mosaico), em um hospital e percebeu uma melhora
incrível dos pacientes e o envolvimento que isso causou entre as pessoas.
Sua preferência é fazer tapetes e tampos de mesa em mosaico. Ela diz que gosta de trabalhos que não ocupem muito
espaço, sejam permanentes e enfeitem ambientes.
Para fazer tapetes, usa peças de vidro (vidrotil) e explica que o vidro por ter cor única, pode lascar e não perde a cor,
ao contrário de um azulejo que tem a cor somente como revestimento e também exige uma força maior ao cortar, o que
poderia prejudicá-la em sua profissão de dentista.
Para fazer tampos de mesa internos ou externos, a única diferença fica por conta da base: para ambiente interno, usa
é MDF e externo uma espécie de Fibrocimento. Vera Romano usa muitos materiais descartados da construção civil:
azulejos, vidro, granito, mármore, pastilhas e a “reutilização” é uma constante, associada à muita imaginação.
Vera Romano quando pensa em um mosaico, diz que visualiza mentalmente, planeja como fazer e realiza um trabalho
em etapas e diz que para um bom trabalho é preciso: paciência, dedicação, capricho e muito cuidado ao combinar cores,
que para ela é algo intuitivo. Na dúvida de combinação de cores, coloca todas as peças, lado a lado, e só cola quando
consegue harmonizar.
O fato de usar materiais alternativos, como pedras de rio, louças quebradas, vidros quebrados, misturados às pastilhas
específicas de mosaico, dão ao seu trabalho, um diferencial e uma harmonia única. Em seu atelier, os armários têm
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colagens em papel, que são verdadeiros mosaicos, além de ter todo o material organizado por separação de cores e tipos
de tesselas.
Explica todos os passos para fazer um tapete (apenas a técnica) e conclui: “mosaico, é sonhar colorido”. Vale à pena ver a entrevista que consta no dvd que compõe esse caderno pedagógico. Abaixo, alguns trabalhos da
artista: tampos de mesa, com materiais reutilizados, azulejos, fusing, micro mosaico e tapete com pastilhas vidrotil.
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5.3 A MOSAICISTA SELMA DE OLIVEIRA
A artista Selma de Oliveira tem formação acadêmica na EMBAP, Faculdade de Música e Belas Artes na cidade de
Curitiba e tem uma linda história com o mosaico, o qual se dedica a alguns anos. Participou de exposições, tem artigos
publicados em jornais de grande veiculação no Paraná.
É uma artista que comercializa seus trabalhos na Feira do Largo da Ordem, no Centro Histórico de Curitiba e ministra
cursos de mosaico em seu atelier no bairro Campo Comprido.
Selma de Oliveira tem um estilo muito particular, gosta muito de trabalhar com azulejo e cerâmica. O corte arredondado
que faz no azulejo é algo inusitado, ela de fato molda suas tesselas, como se estivesse desenhando através do azulejo ou
cerâmica.
Selma de Oliveira gravou uma entrevista para compor esse caderno pedagógico e explica com detalhes como produz
seus trabalhos, onde comercializa, dá dicas preciosas de escolha e economia de materiais. Sua preferência de material é
azulejo e cerâmica, onde é especialista.
Acredita que é possível fazer mosaicos de qualidade, mesmo sem ferramentas especializadas. Recomenda o livro de
Joaquim Chavarria, pela qualidade e por ter sido traduzido em português. Selma conheceu Chavaria em seu atelier em
Barcelona e admira muito seu trabalho como artista, escritor e professor de universidade..
Sobre Gaudi, Selma dá sua opinião: Gaudí inovou o mosaico com a utilização de cerâmicas e azulejos, porque o que
se conhecia antes eram mosaicos de materiais ricos, como vidro, mármore, granito, ouro, pedras preciosas, entre outros.
Para ela, Gaudi era um idealizador, um grande arquiteto que mudou a visão do mosaico para o mundo, quando usou
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determinados tipos de materiais. Conta que no Parque Guell, além de materiais cerâmicos que conhecemos, têm telhas
vitrificadas que recebiam o mesmo tratamento da vitrificação de pisos cerâmicos, não comuns aqui no Brasil e que coloriam
as belas composições musivas.
5.4 MOSAICO, ARTE, ARTESANATO.... QUAL É A FRONTEIRA ?
O assunto arte/artesanato é extremamente polêmico quando se quer definir se uma obra é artística ou apenas
artesanal. Muito ainda se discute o que é arte, há inúmeras opiniões em vários momentos da história e não existe uma
definição de consenso, muito menos na Arte Contemporânea. Para Selma, “a fronteira entre artesanato e arte no mosaico
não é delimitada, pois, “a arte está nos olhos de quem vê”.
A arte que atravessou séculos perde sua importância em determinados momentos. Tem uma frase, de autoria
desconhecida, porém muito usada por mosaicistas para explicar o surgimento e a ausência do mosaico em determinados
momentos históricos, frase essa, citada também por Selma de Oliveira:
“A arte do mosaico flui através da história como um grande rio que atravessa um deserto poroso, desaparecendo e reaparecendo novamente”.
O fato de o mosaico surgir, sumir como se fosse moda, ou fora dela, Selma explica dando um exemplo de calçadas
feitas em construções mais simples e que faz parte da lembrança de muitas pessoas da atualidade: fazia-se muitas calçadas
de cacos, restos de cerâmica em muitas residências. Por ser de reaproveitamento, as pessoas associaram esse tipo de
trabalho, com pobreza, coisas de mau gosto, algo feio. Para Selma, é muito bonita a maneira que as pessoas simples se
expressam, sem medo e sem censura: arte espontânea, porém confundida com algo de gosto duvidoso. Para ela, esse foi
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um dos fatores do preconceito com o mosaico, além do caráter apenas utilitário de algumas peças reforçarem esse
preconceito. O mosaico hoje resgata esse tipo de trabalho, mas com um valor mais artístico.
É uma apaixonada por seu trabalho e diz que quando produz um objeto de mosaico, tem uma parte dela junto, não é
mais só o objeto e por isso só trabalha quando pode se dedicar integralmente.
Conclui: “mosaico torna real, o que está somente no Ideal”.
5.5 REAPROVEITAMENTO
Selma de Oliveira, fala do uso de materiais descartados pela construção civil, como um forma de se fazer mosaicos por
projetos, “quando o objetivo é reaproveitar”, mas acredita que isso não possa ser feito de maneira profissional. Explica que
ao fazer um trabalho profissional, é necessário contar com um número certo de cada tipo de material e cor, o que
inviabilizaria um trabalho com restos de materiais, mas encoraja a fazê-lo, desde que sejam claros os objetivos a serem
atingidos. Diz que a composição é algo que assimilamos durante a vida e acabamos compondo naturalmente quando
trabalhamos com arte.
“Selma realmente modela azulejos para mosaicos”, e dá um tratamento às peças como ninguém executando
trabalhos desde números para casas, tampos de mesas, até grandes painéis artísticos.
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Veja o cd de fotos, pasta Selma de Oliveira e para conhecer mais sobre o trabalho da Selma, assista a entrevista no
dvd Selma de Oliveira e fotos no cd, pasta Selma de Oliveira.
Site12:
Abaixo, alguns de trabalhos, com características diferenciadas quanto ao corte arredondado das tesselas. Observe que
os materiais usados são azulejos e pisos cerâmicos.
12 Site Selma de Oliveira: http://selmamosaicos.vilabol.uol.com.br/mosaico.html
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5.6 MAURO ANTONIO DACÓL, “UM EMPRESÁRIO QUE DESCOBRIU A ARTE MUSIVA”
Mauro é um artista que descobriu o mosaico recentemente, mas sempre teve afinidade e contato com a arte através
do desenho, pintura, ourivesaria e também o teatro. É um professor universitário e empresário na área de Ciências Atuariais.
Seu encontro mais próximo com o Mosaico se deu no Depósito da Ordem, onde foi apenas comprar um material que
precisava e se deparou com os mosaicos de Bea Pereira. Percebeu que aqueles mosaicos tinham algo diferente de um
simples artesanato, era algo a mais. Então pediu informações e iniciou um curso. A proposta do curso era de fazer um
tampo de mesa e um vaso. Começou pelo tampo de mesa. Interessante, que ao fazer o tampo de mesa, não queria que a
mesa fosse algo utilitário e sim expressivo, que ocupasse adequadamente um espaço. Pensou em levar a mesa para sua
chácara na Lapa e escreveu no tampo: Seja bem-vindo! Dessa forma, encontrou uma justificativa menos utilitária para a
mesa. E o vaso, que era parte do curso, já não queria mais fazer. Nesse momento, já pensava em outras coisas, as idéias
emergiam e a vontade de fazer mosaico artístico era grande. Resolveu fazer um santo: São Francisco foi o primeiro e era
pra ser pequeno, mas ficou com 2 metros por um. Esse trabalho foi o início de todo o percurso e através desse mosaico, já
demonstrou ter um diferencial: misturou cascas de árvores, sobrepôs algumas pedras criando relevo, usou mármore para o
rosto, utilizou uma infinidade de materiais e foi compondo até chegar a o resultado desejado. Na época em que fez o São
Francisco, uma mosaicista austríaca que estava dando curso no Depósito da Ordem elogiou o trabalho e queria conhecer o
autor pra discutir técnicas de sustentação de materiais, pois achou as soluções do trabalho muito bem pensadas. Nesse
momento, Mauro acreditou que tinha potencial para o mosaico e assim não parou mais.
Continuou a fazer santos, se identificou com a temática, inventou nova maneira de fazer rostos, introduziu a gravura
aliada ao mosaico, criou um método. Percebia que quando fazia seu trabalho, outras pessoas copiavam, nesse caso, era
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possível entender a diferença do trabalho artístico e a cópia artesanal, pois as soluções encontradas para compor seu
trabalho artístico, eram copiadas de forma mais limpa, plastificada, pois as soluções já tinham sido dadas anteriormente, e
as diferenças eram visíveis. Ficou muito atrelado e conhecido no meio, como o mosaicista dos santos, já era um rótulo,
então partiu para outras temáticas e está desenvolvendo mosaicos, numa leitura de pinturas de artistas paranaenses.
Mosaico é arte ou artesanato?
Para ele, artesanato é algo facilmente executável, copiável e que basta somar o que gastou, para cobrar pelo trabalho.
Na arte não, você elabora, imagina soluções diferenciadas para um problema, “é muito de você na obra”, então é difícil
colocar preço.
Uma simples flor em mosaico pode ter uma beleza artística ou apenas artesanal. Posso fazer um artesanato com os
melhores materiais e ter apenas um valor comercial, e posso fazer uma flor mais artística usando apenas restos de vidro.
Vejo o valor artístico, não pelo que se gasta, mas pelas soluções encontradas por quem faz. Você lê, relê uma flor através
do mosaico, é a tradução da flor em arte sob a ótica do artista. Mauro é enfático: ou o mosaico é bonito ou feio, tem que ter
uma boa composição. Para ele, na há padrão, então há uma subjetividade no olhar, e diz quem quer ganhar dinheiro deve
fazer artesanato e quem quer fazer arte, pode ganhar reconhecimento e satisfação.
Para fazer mosaico, acredita que não seja necessária uma formação acadêmica, mas é imprescindível a noção
espacial, noções de composição, que na verdade é uma bagagem que trazemos de nossas observações e complementa
dizendo que o mosaicista tem que ter sensibilidade.
Para ele, “mosaico é tudo”, o que o alivia, extravasa, absorve. Tem sempre que conciliar com sua profissão,
pois o mosaico o absorve a ponto de ficar horas num trabalho e esquecer o restante, se concentra muito.
Traz uma frase assim: No mosaico, você se mostra, se revela. Quem não quer se mostrar, não deve fazer
mosaico, porque ele escancara as pessoas. Não admite trabalhar sob encomenda, pois a lógica e a expectativa do cliente
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pode não ser a sua. O mosaico vem de dentro pra fora, nesse caso prefere nunca trabalhar com pedidos, só faz o que
gosta e acredita. Abaixo, imagens da primeira fase, quando fazia santos, sendo o primeiro com rosto em mosaico, o
segundo com rosto em gravura e os demais, os atuais mosaicos, leituras das obras de artistas paranaense.
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5.7 BEA PEREIRA, A ARTISTA QUE ESCREVEU UM LIVRO: “MOSAICO SEM SEGREDOS"
Bea Pereira é uma mosaicista muito conceituada no Paraná e tem uma história quase recente com o mosaico, porém
muito intensa.
Tudo começou em 1998 com uma viagem à Barcelona. Viu obras de Gaudi e se impressionou muito a ponto de
resolver fazer mosaico. De volta ao Brasil, não encontrou quem a ensinasse, então a partir do que observou na Espanha,
selecionou e comprou os materiais: argamassa, rejunte, azulejos, ferramentas, etc. Fez uma mesa em seu jardim e conta
que a mesa continua intacta apesar dos anos, porém da maneira que a vê hoje, usa como um exemplo de “como não se faz
mosaicos”, isso porque a parte artística e a colocação das peças, deixam muito a desejar. São dez anos de experiência,
uma auto-didata que buscou a escola da observação.
Para Bea, mosaico é um vício, é algo mágico que possibilita extravasar sua criatividade, colocar seu sentimento
materializado em suas obras, dando um sentido maior à sua vida. Conheceu pessoas maravilhosas através do mosaico,
abrindo um novo caminho em sua vida.
Sua opinião sobre diferenças entre “arte e artesanato em mosaico”, consiste na autenticidade de uma peça artística ser
única e isso se dá em qualquer atividade artística, não é um diferencial somente do mosaico e conclui que uma
manifestação artística, jamais pode ser uma cópia.
Quando a pergunta foi sobre mosaico amador e profissional, respondeu com mais perguntas: ser profissional é quando
se vende, se comercializa, ou complementa a renda? Algo difícil de diferenciar Bea define o mosaico como a arte de fracionar para depois recompor.
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Fala que ao ministrar aulas de mosaico, acaba reconhecendo a “marca” do trabalho de cada aluno, onde seu estilo é
reconhecido até na maneira do corte das tesselas, na colocação das peças, escolha de cores.
Bea Pereira também trabalha com uma nova tendência do mosaico, que é o Mosaico Contemporâneo e descreve que
esse tipo de mosaico valoriza substancialmente o movimento, textura, volume, independentemente de ser abstrato ou
figurativo.
A artista Bea Pereira fez recentemente uma exposição no Memorial de Curitiba, onde o tema foi “TRANSFORMAÇÃO”,
exposição essa com uma preocupação ambiental muito consciente das questões que envolvem o mundo pós moderno:
poluir/ despoluir, descartar/reciclar, consumir/reutilizar. Essa exposição, além da beleza, tem uma mensagem de apelo
ambiental que coloca a arte no contexto atual, de forma a provocar uma discussão do presente e futuro. Alguns de seus
alunos expuseram com o desafio de produzir mosaicos a partir de reutilização de materiais, aproveitamento e muita
pesquisa de materiais. O mosaico de apresentação da exposição é de Bea Pereira e tem uma mensagem que provoca a
reflexão acerca da situação ambiental da atualidade. Coloca a Arte como forma de discutir o mundo atual, através do
mosaico de visível qualidade estética.
Falar dessa artista é um privilégio, pois admiro seu trabalho e coragem de escrever um livro sobre o assunto, pois
quando teve interesse por mosaico, poucas referências encontrou no Brasil. Seu livro: “Mosaico Sem Segredos”, faz um
resumo da história do mosaico e traz todas as técnicas que aprendeu durante os anos dedicados a essa arte. É um livro
bem didático e conta com trabalhos de seus alunos, nos mais variados temas e estilos. O livro é um convite a quem
deseja conhecer e produzir mosaicos, pois mostra vários tipos de suportes, materiais, ferramentas e demais materiais
necessários. O diferencial, é que mostra como fazer, sem tirar a liberdade de criar. Não é uma receita, mas um caminho
para quem deseja se aventurar nesse juntar de cacos.
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Trecho do texto sobre a exposição:
Cacos de vidro, restos de madeira de demolição, cerâmica, metais e pedras transformam-se em vasos, mesas,
espelhos e painéis, resultado de um trabalho delicado que se reveste de paciência, organização e consciência ambiental. O
mosaico, arte de rara beleza, encerra em seu propósito a transformação de materiais e isso pode ser constatado nas peças
em exposição.
O mosaico – Nenhum mosaico é idêntico ao outro, pois cada trabalho oferece a oportunidade de criação individual.
Formado por peças chamadas tesselas, que são colocadas e fixadas de forma ordenada em uma superfície rígida e unidas
por rejunte, é a arte de fragmentar para depois reordenar, onde a criatividade permite criar obras únicas, nascidas do desafio
de vencer os limites impostos pela dificuldade no manuseio e corte dos diversos materiais empregados.
Veja fotos dos mosaicos da exposição, no cd de fotos pasta Bea Pereira, exposição Transformação. Os mosaicos a
seguir, são da artista:
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5.8
SUPORTE DE ISOPOR PARA MOSAICO
O que é possível fazer com bandejas de isopor como suporte para mosaicos?
SUGESTÃO 1: utilizar o suporte para fazer mosaicos figurativos ou abstratos, usando cores das folhas de
revistas e acabamento com cera de betume ou cola.
Materiais: -Cola PVA extra
-Bandejas de isopor em formato qualquer
-Folhas de revistas sem imagem, somente cores
-Pincel de cerdas achatadas e firmes
-Cera de betume (opcional).
Escolha as cores e um tema para seu trabalho. Faça um esboço a lápis no isopor (suporte)
Rasgue os papéis coloridos, separe por cores e comece a colar. Deixe espaços entre os papéis (tesselas), como
os mosaicos tradicionais. Use a pinça para facilitar a colagem.
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Deixe secar e dê um acabamento com a própria cola ou passe cera de betume para dar um aspecto de
envelhecimento no trabalho. Nesse caso, os interstícios ficam pretos, como se fosse o rejunte.
SUGESTÃO 2: utilizar discos de isopor e construir Mandala de mosaico. A técnica é a mesma da sugestão 1, porém sem a utilização de cera de betume.
Faça estudos compositivos antes de fazer sua mandala. Impermeabilize com cola branca ou verniz acrílico.
MOSAICO ALTERNATIVO COM EMBALAGENS PLÁSTICAS DE SHAMPOO
Materiais: -embalagens vazias de shampoo;
-tesoura;
-cola;
-pincel;
-base em papelão grosso ou MDF;
-massa corrida;
-corante de tinta;
Recorte as embalagens, utilize os pedaços possíveis de fazer tesselas.
Recorte em formatos variados: triangulares, quadrados, redondos, irregulares.
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Escolha um tema, faça um desenho no suporte escolhido, de preferência um papelão bem resistente ou MDF, que é o
ideal para esse trabalho.
Cole as tesselas, deixe interstícios com espaços regulares. Faça sua composição, deixe secar.
Escolha a cor do rejunte, para isso, pegue a massa corrida branca e coloque m pouco de corante. Passe a massa
corrida com a ajuda de uma esponja ou com os próprios dedos. Alise bem, veja se os espaços foram preenchidos, espere
secar, passe um pano para tirar o excesso. A limpeza final fica para o dia seguinte.
SUGESTÃO: esse mosaico pode ser feito em lata usada em achocolatado, porém é necessário que seja revestida com
papel antes de receber as tesselas em plástico. . O restante segue igual à sugestão 1.
Observação: este tipo de mosaico tem uma técnica parecida com mosaico tradicional, porém não tem a mesma
durabilidade.
5.9 EXPOSIÇÕES EM CURITIBA, A VEZ DA ARTE MUSIVA
Por iniciativa de artistas mosaicistas, muitas exposições têm acontecido em Curitiba, demonstrando a beleza e
qualidade da Arte Musiva. E assim, a antiga e importante arte do mosaico vai ganhando espaço e inovação através dos
artistas mosaicistas, que estão fazendo história em Curitiba.
A seguir, algumas imagens de divulgação de exposições já realizadas em Curitiba:
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"Lambrequins: recortes e fragmentos", com obras dos artistas plásticos András Vörös e Selma de Oliveira
Casa Culpi - Av. Manoel Ribas, 8450, 8450 - Santa Felicidade
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6 PRODUÇÃO DE MOSAICO COM BASE EM MDF Mosaico, agora essa aventura, é com você!
Esta Unidade finaliza a proposta desse caderno pedagógico, com a execução de um trabalho em mosaico e os
materiais que você coletou durante um certo tempo e também os específicos de mosaico. Agora coloque em prática o que
aprendeu através de textos, exercícios propostos, observação de imagens. A aventura agora é sua!
Materiais: uma base em MDF, cola branca extra (PVA), rejunte para azulejo, torquês, martelo, tesselas em geral.
Tesselas em geral, se resume em todos os materiais alternativos coletados: vidros temperados quebrados, cacos de
azulejo, peças de bijouterias, pedras de rio, retalhos de mármore, gemas de vidro, entre outros, mais as tesselas compradas
especialmente para mosaicos.
Experimentar diferentes materiais dará uma noção das próximas escolhas.
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Por onde começar?
Faça um projeto, com o esboço do desenho que irá executar. Passe o desenho (sem muitos detalhes) para o MDF.
Escolha os materiais e as cores do trabalho.
Corte as peças no formato desejado. Tudo vai depender das ferramentas que dispuser para isso. É possível fazer
bons mosaicos, mesmo sem formatos de tesselas tão elaborados. Pode usar martelo e “torquês de azulejista” (para azulejo
e cerâmica) e ” torquês com vídea”, caso use pastilha de vidro, pois ela pode estilhaçar se a ferramenta não for apropriada.
A idéia aqui é buscar soluções alternativas na questão de materiais, ferramentas e também nas composições musivas,
iniciando um trabalho sem regras rígidas.
Antes de começar a colar, coloque as peças, troque, faça simulações, só depois que conseguir harmonizar, comece a
colar. Uma pinça ajuda muito na colocação das tesselas.
Deixe secar, nunca rejunte um trabalho no mesmo dia que colou as tesselas.
Escolha a cor do rejunte. Eis um problema sério: a escolha do rejunte pode comprometer todo o trabalho de mosaico.
É possível colocar um pouco do pó de rejunte nos interstícios (espaços entre as tesselas), antes de rejuntar, depois
você retira com um pincel. Dá um pouco de trabalho, o acabamento final e o bom resultado depende desta ação.
-Selma de Oliveira diz que na dúvida, use cinza claro.
-Bea Pereira recomenda nunca usar a cor daquilo que queremos destacar: margaridas brancas com miolos amarelos,
se rejuntadas com branco se transformam em ovos fritos. A artista tem sua primeira mesa de mosaico como um exemplo
típico da escolha errada da cor, fez flores brancas que se perderam no rejunte branco.
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Proteja com fita adesiva, os lugares que não deve sujar, como as bordas do trabalho.
Prepare o rejunte: coloque o pó de rejunte e água aos poucos, dose a água sem colocar direto da torneira, pois assim,
pode correr o risco de exagerar e ter que colocar mais rejunte para equilibrar.
A consistência ideal não é líquida, tende mais para uma massa de bolo bem grossa. Passe o rejunte, espalhando com
um chinelo tipo havaiana recortado ao meio. Espalhe bem, observe se o rejunte penetrou em todos os interstícios. Quando
começar a secar, retire o excesso de rejunte com uma esponja macia ou pano seco. Não é possível calcular esse tempo de
secagem antes da limpeza final, devido á variação climática. Todos esses detalhes se aprendem com a prática.
Após a secagem, limpe o mosaico e caso queira dar um acabamento mais bonito, impermeabilize com cera incolor. É
uma experiência que nos ensina a planejar, fazer projetos e elaborá-los seguindo etapas para um bom resultado.
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A minha expectativa com relação a esse caderno é de ter mostrado um caminho possível para se conhecer e produzir
mosaicos na escola, sem distanciamento da história, mas participando dela de forma mais atuante, consciente dos
problemas do mundo pós-moderno e contribuindo para a qualidade do ensino da arte.
O mosaico tem uma trajetória histórica e técnica que possibilitam enxergar o mundo de forma mais sensível e humana,
trabalhando e reelaborando conceitos tão esquecidos e importantes quando a essência é “construir. Com o mosaico, ele
passa a ser “construir com arte”. Acredito que se de alguma forma, consegui mostrar esse caminho ou provocar a busca por
outros, terei assim cumprido parte dessa trajetória que de forma alguma acaba aqui. É apenas o começo.....Mary Dacól.
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA e PEREIRA. Minidicionário Luft São Paulo: Ática, 2002. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CHAVARRIA, Joaquim. O Mosaico. Espanha: Editorial Estampa,1998. MUCCI, Alfredo, A Arte Do Mosaico. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1962. OSTROWER, Fayga. A Sensibilidade do Intelecto. Rio de Janeiro: Campus, 1998. OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis: Vozes, 1987. OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Rio de Janeiro: Campus, 1983. PARANÁ, Secretaria do Estado de Educação. Diretrizes Curriculares de Arte Para os Anos Finais do Ensino Fundamental e Para o
Ensino Médio. Curitiba,2008.
PAREYSON, Luigi. Os Problemas da Estética. São Paulo: Martins Fontes, 1989. PEREIRA, Bea. Mosaico sem Segredos. Curitiba: Ed. do Autor, 2006. UFPR, Normas para Apresentação de Documentos Científicos, Editora UFPR, Curitiba, 2002. ARTIGOS:
COELHO, Isabel Ruas Pereira. A Produção de painéis em mosaico no período pós-guerra em São Paulo: Industrialização e modernidade versus tradição artesanal. Campinas, 2003.
Disponível em: < http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/062R.pdf >_
SITES DA INTERNET:
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