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Caderno Pedagógico

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CIRSA DOROTEIA ALVES

Campo Mourão

2011

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Caderno Pedagógico

Educação em Valores: a escola como espaço de formação

para a cidadania na sociedade contemporânea

Tema: Prática Escolar

Área de concentração: Pedagogia

Professora PDE: Cirsa Doroteia Alves

Escola: Colégio Estadual Dom Bosco – Ens. Fundamental e Médio

Professor orientador: Ricardo Fernandes Pátaro

Universidade Estadual do Paraná

Câmpus de Campo Mourão/Fecilcam

Secretaria de Estado da Educação/NRE - Campo Mourão

Município: Campo Mourão - PR

E-mail: [email protected]

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SUMÁRIO

Apresentação .................................................................... 05

Introdução ....................................................................... 06

Unidade I

1.1 Primeiras Palavras ....................................................... 08

1.2 Objetivos da Educação e Formação para a Cidadania ........ 09

1.3 Considerações Finais .................................................... 14

1.4 Atividades ................................................................... 16

1.5 Materiais Complementares ............................................ 17

Unidade II

2.1 Primeiras palavras ....................................................... 18

2.2 Valores, Cidadania e Direitos Humanos ........................... 19

2.3 O que são valores? ...................................................... 22

2.4 Considerações finais ..................................................... 24

2.5 Atividades ................................................................... 26

2.6 Materiais complementares ............................................. 26

Unidade III

3.1 Primeiras palavras ....................................................... 28

3.2 A Declaração Universal dos Direitos Humanos – Um breve

histórico ........................................................................... 29

3.3 Os princípios da transversalidade ................................... 31

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3.4 Atividades ................................................................... 34

3.5 Educação e Direitos Humanos ........................................ 36

3.6 A DUDH em Sala de Aula .............................................. 38

3.7 Considerações Finais .................................................... 42

3.8 Atividades de Finalização .............................................. 44

3.9 Materiais complementares ............................................. 45

Referências Bibliográficas ................................................... 46

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APRESENTAÇÃO

O caderno pedagógico “Educação em Valores: a escola como

espaço de formação para a cidadania na sociedade

contemporânea” aborda questões relacionadas ao papel da escola

na sociedade contemporânea, direitos humanos e formação em

valores.

A proposta que trazemos é a de uma educação voltada para

a construção de uma sociedade mais igualitária e humana. Por

isso, acreditamos que à escola cabe o trabalho com os

conhecimentos científicos e também com a formação ética de

crianças e jovens capazes de construir relações sociais mais

justas e solidárias, contemplando o que chamamos de educação

em valores.

Acreditamos que esse caderno apresenta questões, ideias,

reflexões e temáticas de relevância que podem contribuir para o

debate dos desafios contemporâneos vividos pela escola.

Diante disso, o presente caderno pedagógico destina-se a

professores e professoras da Escola Básica e foi planejado com a

preocupação de buscar caminhos para que a formação em valores

ocorra nas práticas pedagógicas cotidianas. Esperamos que esse

seja mais um passo rumo à uma escola pública de qualidade,

aberta à práticas democráticas e que priorize a formação de

crianças e jovens autônomos, críticos e que almejem uma

sociedade mais justa e solidária.

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INTRODUÇÃO

Esse caderno pedagógico está organizado da seguinte

maneira:

• Unidade I: apresenta os objetivos da educação de acordo

com nosso desejo de transformar a escola em um espaço

de aprendizagem significativa. Por acreditarmos que o

papel da escola é ajudar na formação ética de

cidadãos(ãs) críticos(as) e conscientes de seu papel na

sociedade, consideramos que a escola deve se preocupar

com a instrução das futuras gerações e também com a

formação em valores, condição para o desenvolvimento

intelectual, moral e para o pleno exercício da cidadania.

• Unidade II: define o que é educação em valores e sua

importância na construção da personalidade de crianças e

jovens em idade escolar. A Unidade II também aborda o

trabalho com a Declaração Universal dos Direitos

Humanos em sala de aula como uma maneira de formar

cidadãos e cidadãs comprometidos com a justiça,

igualdade e valorização dos direitos humanos.

• Unidade III: nessa unidade é apresentado um breve

histórico da Declaração Universal dos Direitos Humanos e

também os princípios da transversalidade, que nos

ajudam a ter um novo olhar sobre a escola e permitem

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encarar seus dois objetivos – a instrução e a formação em

valores – ao mesmo tempo. A unidade traz também um

exemplo de sequência didática em que os conteúdos são

trabalhos transversalmente a partir de um tema de

relevância social baseado na DUDH. O objetivo é abordar

tanto os conhecimentos científicos historicamente

construídos pela humanidade quanto as questões

relacionadas ao cotidiano de alunos e alunas, no intuito de

formar sujeitos aptos a exercerem sua cidadania.

Acreditando que a escola pode ajudar na formação ética de

sujeitos capazes de se indignarem com as injustiças e construírem

relações sociais mais justas e solidárias – contemplando o que

chamamos de educação em valores – esperamos que esse

caderno pedagógico contribua para a prática cotidiana de

professores e professoras na escola. Além disso, esperamos

também que as reflexões e ideias presentes nesse caderno

pedagógico despertem o interesse docente de formar cidadãos e

cidadãs conscientes de seu papel na sociedade e engajados na

luta por uma sociedade mais justa.

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UNIDADE I

A educação [...] não pode fundar-se na compreensão dos homens como seres

―vazios‖ a quem o mundo encha de conteúdo [...] mas nos homens como

―corpos‖ conscientes, e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens

em sua relação com o mundo. (FREIRE, 1997 p.67)

1.1 PRIMEIRAS PALAVRAS

As questões colocadas anteriormente nortearão a discussão

apresentada nessa unidade. Nosso objetivo será o de discutir o

papel da escola atualmente. Para tanto, partimos do pressuposto

de que a escola é uma instituição criada pela sociedade para

educar as futuras gerações. Mas, o que compreende a palavra

―educar‖? Como essa educação pode ser vista quando

consideramos a importância que a escola tem na formação dos

seres humanos? O que entendemos por formação e em que

medida a escola verdadeiramente tem possibilitado essa

formação? Essas são algumas das questões que serão

brevemente abordadas nessa unidade.

Quais são os objetivos

da educação na

sociedade de hoje?

O que vem a ser formação

para a cidadania na

escola?

Como a escola pode se

transformar em um espaço de

formação para a cidadania?

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1.2 OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PARA A

CIDADANIA

De acordo com Araújo (2003), os dois objetivos centrais da

educação atualmente são a instrução e a formação ética. É

importante ressaltar que esses dois objetivos são tidos como

indissociáveis e corroboram para a formação dos futuros cidadãos

e cidadãs. A instrução, segundo o autor, é o trabalho com os

conhecimentos construídos historicamente pela humanidade,

geralmente relacionados às áreas disciplinares como Língua,

História, Artes, Matemática, Geografia etc. Já a formação ética é

[...] a busca pelo desenvolvimento de alguns aspectos que dêem aos jovens e às crianças as condições físicas,

psíquicas, cognitivas e culturais necessárias para uma vida pessoal digna e saudável e para poderem exercer e

participar efetivamente da vida política e da vida pública da sociedade, de forma crítica e autônoma. (ARAÚJO,

2003, p. 31)

Ao lado da instrução, portanto, um dos objetivos da

educação é desenvolver nas crianças e jovens em idade escolar as

condições para que possam exercer e participar da vida em

sociedade de forma crítica e autônoma, o que chamaremos de

condições para o exercício da cidadania. São essas as condições

que a escola pode ajudar a desenvolver em seus alunos e alunas,

para que, de maneira crítica, os futuros cidadãos e cidadãs sejam

capazes de se indignarem com as injustiças sociais que

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presenciam e almejarem uma vida mais digna para si próprios e

para toda a sociedade.

Observando os projetos político-pedagógicos das escolas

atualmente é comum encontrar os dois objetivos citados por

Araújo. De acordo com o PPP do Colégio Dom Bosco1:

Deparamo-nos com um Brasil que enfrenta profundas

desigualdades sociais, econômicas e culturais. Vivenciando um processo histórico de disputa de vários

interesses sociais divergentes e contraditórios. Diante deste quadro encontra-se a escola pública que tem por

função social formar o cidadão, isto é, construir conhecimentos, atitudes e valores que o tornem um

―homem‖ solidário, crítico, ético e participativo. (PPP Colégio Estadual Dom Bosco, 2010, p.62 – grifos nossos)

De maneira geral, é possível perceber também que os

documentos relacionados à educação apontam a relevância da

escola adotar como objetivo central tanto a instrução quanto a

formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Recorrendo à Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96,

encontramos, dentre outros, os seguintes artigos que fazem

menção aos objetivos da educação:

Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado,

inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

[...] Art. 9º A União incumbir-se-á de: [...]

IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes

para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino

1 Escola em que acontecerá o curso de capacitação docente apoiado no presente caderno

pedagógico.

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médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;

[...] Art. 22º. A educação básica tem por finalidades

desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e

fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.

[...] Art. 27º. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes:

I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem

comum e à ordem democrática; (BRASIL, 1996 – grifos nossos).

Nos trechos da LDBEN 9394/96 citados anteriormente

podemos perceber o destaque que é dado aos dois objetivos

considerados como finalidades da educação: a instrução – ou

seja, a necessidade de um currículo que assegure conteúdos

mínimos e uma formação básica comum – e também a formação

para o exercício da cidadania, o que Araújo (2003) denomina

como formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs.

As mesmas preocupações podem ser encontradas na versão

preliminar do Plano Estadual de Educação do Estado do Paraná,

quando o documento destaca os objetivos e metas da escola:

Garantir aos alunos do Ensino Fundamental o acesso e a participação efetiva em projetos ou atividades que

favoreçam o exercício da cidadania, bem como uma perspectiva de ampliação de tempos e espaços de

aprendizagem. [...]

Proporcionar ao aluno do Ensino Fundamental, por meio das diferentes áreas do conhecimento, a apropriação de

saberes que favoreçam o exercício da cidadania e a continuidade de seu processo de escolarização. (PEE PR,

2005, p.19 – grifos nossos)

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Mais uma vez, os trechos anteriormente citados demonstram

a ênfase que o PEE-PR atribui tanto para a instrução das futuras

gerações – ou seja, o trabalho com a apropriação de saberes das

diferentes áreas do conhecimento – quanto para a necessidade de

desenvolver atividades que favoreçam o exercício da cidadania

por crianças e jovens em idade escolar.

Diante do exposto, constatamos que os objetivos centrais da

educação citados por Araújo (2003) estão presentes em vários

documentos relacionados à educação. Contudo, o que

frequentemente ocorre no cotidiano escolar é uma preocupação

maior com os objetivos relacionados à instrução. A formação para

o desenvolvimento da cidadania acaba relegada a segundo plano.

Para a reflexão que desejamos desenvolver, partimos do

pressuposto de que os dois objetivos centrais da educação – a

instrução e a formação para a cidadania – são indissociáveis. A

partir disso, consideramos que à escola cabe o trabalho com a

formação dos futuros cidadãos e cidadãs, tarefa que implica não

somente no aprendizado dos conteúdos historicamente

construídos pela humanidade e organizados em disciplinas

escolares, mas também o desenvolvimento das condições físicas,

psíquicas, cognitivas e culturais imprescindíveis para que crianças

e jovens tenham uma vida digna e saudável, como destacado

anteriormente por Araújo (2003).

Com relação à indissociabilidade entre instrução e formação,

recorremos novamente à LDBEN 9394/96, quando destaca a

importância do aprendizado da leitura, escrita e cálculo (aspectos

do aprendizado associados à instrução escolar), mas também o

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desenvolvimento de valores como a solidariedade, a tolerância e a

compreensão da sociedade em que se vive.

Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se

aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº

11.274, de 2006) I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo

como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em

que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem,

tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se

assenta a vida social. (BRASIL, 1996)

Encontramos o mesmo tipo de reflexão no PEE-PR (2005)

quando destaca a insuficiência dos aspectos instrutivos ao se

definir o termo educação, ampliando-o para o exercício da

cidadania e a busca pela melhoria da qualidade de vida.

Não basta ensinar a ler e a escrever. O conceito de educação ao longo de toda a vida, que há de se iniciar com a alfabetização, deve inserir a população no exercício

pleno da cidadania, melhorar sua qualidade de vida e de fruição do tempo livre e ampliar suas possibilidades de

geração de trabalho, emprego e renda. (p.41 – grifos nossos)

Enfim, sabemos que a discussão acerca dos objetivos da

educação é polêmica, pois são diversas as compreensões

possíveis do tema. Por outro lado, consideramos que essa

discussão é importante para os profissionais da educação que têm

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interesse em transformar a escola e a sociedade de maneira

geral. Apoiados na ideia de que os objetivos da escola giram em

torno da instrução e também da formação para o exercício da

cidadania, entendemos que a escola precisa desenvolver práticas

pedagógicas que levem alunos e alunas a analisar e atuar

criticamente diante da realidade. Por conseguinte, trazer o

trabalho com a formação ética para o espaço escolar significa

enfrentar o desafio de incorporar nas práticas pedagógicas

cotidianas alguns princípios e valores muito conhecidos, mas

pouco praticados de maneira geral. Contudo, antes de

abordarmos quais medidas concretas poderíamos adotar na

escola para incorporar nas práticas pedagógicas tais princípios e

valores, consideramos importante compreender brevemente o

que são valores e suas relações com a educação, como veremos

na próxima unidade.

1.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para construir a discussão presente nessa primeira unidade,

partimos do pressuposto de que a escola possui dois objetivos

básicos:

a Instrução: entendida como o trabalho com os

conhecimentos historicamente construídos pela

humanidade e manifestados na escola através de

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conteúdos curriculares como matemática, português,

história, geografia, artes, etc.

e a Formação Ética dos futuros cidadãos e cidadãs:

entendida como o desenvolvimento de condições –

tanto físicas, quanto psíquicas, cognitivas e culturais –

que possibilitam o exercício da cidadania e a busca por

uma sociedade mais justa e igualitária.

Como vimos na Unidade I, tanto a instrução quanto a

formação para a cidadania são objetivos da escola previstos em

lei e considerados importantes para o pleno desenvolvimento de

crianças e jovens em idade escolar.

Embora tais objetivos sejam citados por documentos

relacionados à educação e perseguidos por muitas escolas

brasileiras, consideramos que ainda há muito por fazer com

relação à formação ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Cientes

da importância de se transformar a escola em um espaço de

formação para a cidadania na sociedade contemporânea

propomos o desafio de incorporar, nas práticas pedagógicas do

dia-a-dia, o trabalho com princípios e valores desejados por todos

nós, mas pouco trabalhados de forma intencional e sistemática.

Mas, o que são valores e como trabalhar com eles na escola?

Como formar o(a) cidadão(ã) críticos que tanto se almeja? Essas

são algumas das questões que serão abordadas nas próximas

unidades.

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1.4 ATIVIDADES

Depois de entrar em contato com as questões levantadas em

nossa primeira unidade, vamos refletir. Primeiramente, leia o

trecho destacado abaixo e em seguida responda coletivamente às

questões que se seguem:

A comunidade-escola não pode ficar reduzida a uma instituição

reprodutora de conhecimentos e capacidades. Deve ser entendida como um lugar em que são trabalhados modelos

culturais, valores, normas e formas de conviver e de relacionar-se. É um lugar no qual convivem gerações diversas,

em que encontramos continuidade de tradições e culturas, mas também é um espaço para mudança. A comunidade-

escola e a comunidade local devem ser entendidas, acreditamos, como âmbitos de interdependência e de

influência recíprocas, pois [...] indivíduos, grupos e redes

presentes na escola também estarão presentes na comunidade local, e uma não pode ser entendida sem a outra. (SUBIRATS,

2003, p.76)

1. O que significa dizer que ―A comunidade-escola não pode ficar

reduzida a uma instituição reprodutora de conhecimentos‖?

2. Qual seria a alternativa para que a escola não se restrinja

apenas à sua função de instrução?

3. Escolha 3 (três) palavras-chave para caracterizar o espaço-

escolar, já que nele convivem gerações diversas. Escreva-as e

apresente-as ao seu grupo.

4. O trecho lido faz uma reflexão sobre a relação de

interdependência que existe entre escola e comunidade, ou

seja, entre as práticas que professores e professoras

desenvolvem na escola e a vida que circunda a instituição

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escolar. Lembre-se de sua vivência como profissional na escola

e dê exemplos dessa interdependência. Como aproveitá-la

para a formação em valores dos futuros cidadãos e cidadãs?

1.5 MATERIAIS COMPLEMENTARES

A seguir, disponibilizamos a referência de alguns materiais

que podem ser consultados para saber mais a respeito dos temas

discutidos na presente unidade.

No artigo disponível no site abaixo, Juarez Dayrell (Doutor

em Educação e professor adjunto da Faculdade de Educação

da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG) discute

algumas questões relacionadas à juventude e a escola na

sociedade contemporânea. Vale à pena conferir!

http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf

Já o artigo indicado no endereço a seguir pode ajudar a

aprofundar algumas questões relacionadas à escola e à

formação para a cidadania.

http://www.pucsp.br/revistacordis/downloads/numero1/artigos/1_esco

la_novas_demandas.pdf

No artigo indicado abaixo, você encontrará uma reflexão

complementar sobre os objetivos da educação.

http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/459.%20quais%20os%20objetivos%20da%20educa%C7%C3o.pdf

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UNIDADE II

Adquirir um valor é ter aprendido os comportamentos que ele pressupõe e ter

considerado até aceitar como próprias as razões e motivos que dão aval aquele

valor. (PUIG, 2007, p.111)

2.1 PRIMEIRAS PALAVRAS

É comum surgirem muitas dúvidas quando se aborda a

questão do trabalho com valores na escola. Comumente associado

unicamente à família, o processo de formação dos valores de

futuros cidadãos e cidadãs é complexo e demanda o

desenvolvimento de aspectos relacionados ao âmbito social,

cultural, psíquico, político, afetivo, entre outros. Por isso,

acreditamos que a escola tem muito a ajudar no processo de

formação em valores das futuras gerações. Essas e outras

questões serão a base da discussão que apresentamos a seguir.

O que entendemos por

educação em valores? Como a escola pode

instruir e também formar

valores?

O que se pode fazer na escola

para trabalhar com a formação

em valores dos futuros

cidadãos e cidadãs?

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2.2 VALORES, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

Atualmente, é muito comum discutir-se na escola a ideia de

―crise de valores‖. Em tempos difíceis, de violência, indisciplina e

falta de perspectiva para a juventude, essa noção adquire

proporções crescentes nos debates entre professores(as) e a

sociedade em geral. Diante disso, consideramos que é necessário

voltarmos nossos olhares para a educação em valores, tarefa que

julgamos indispensável para a construção da personalidade dos

futuros cidadãos e cidadãs, comprometidos com a justiça,

igualdade e valorização dos direitos humanos.

Ao abordarmos o tema da educação em valores, no entanto,

não fazemos referência a um possível retorno aos antigos

modelos de educação e de valores tradicionais, “idealizados como

eficientes tanto como em relação aos conteúdos enfocados quanto

em relação à transmissão de determinados valores alicerçados

nos postulados religiosos.” (ARAÚJO, 2001, p.9). Essa educação

em valores que aqui destacamos – e consequentemente o

processo de formação de cidadãos e cidadãs – solicitam da escola

a formação de sujeitos críticos, conscientes de seus direitos e

deveres. Diante disso, passamos a considerar que à escola cabe

uma nova postura, diferente da idealizada nos modelos

tradicionais de educação. Acreditamos que a função da instituição

escolar, hoje, deve contemplar os dois objetivos básicos

discutidos na unidade anterior: a instrução e também a formação

ética dos futuros cidadãos e cidadãs. Isso deve ocorrer a partir

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não somente do trabalho sistematizado com o conhecimento

historicamente construído pela humanidade como também

mediante a formação ética do cidadão e da cidadã. Essa formação

ética, por sua vez, visa o desenvolvimento de condições

necessárias para uma vida digna que possibilite a participação em

sociedade de forma crítica e autônoma, como destaca Araújo

(2003).

Com base nesses ideais, acreditamos que a escola possa

formar sujeitos capazes de construir relações sociais mais justas e

solidárias, contemplando o que chamamos de educação em

valores. Para que isso ocorra, vários autores (CANDAU, 1995;

DALLARI, 1998; FESTER, 1989; MOSCA e AGUIRRE, 1985;

ARAÚJO, 2001, 2003; ARANTES, ARAÚJO e PUIG, 2007) apontam

o caminho indicado pela Declaração Universal dos Direitos

Humanos (DUDH), que traz consigo uma série de princípios e

valores relacionados à justiça, igualdade, equidade e

solidariedade. Tais princípios podem se revelar como um caminho

frutífero para a elaboração de programas educacionais que

objetivem a educação em valores no mundo contemporâneo, já

que os artigos da DUDH estão baseados em contextos e

problemáticas reais vividas pela sociedade contemporânea.

Partindo de tais considerações e das vivências frequentes de

professores(as) que deparam-se com a indisciplina, violência e

apatia dentro de sala de aula, consideramos que o trabalho com a

DUDH pode oferecer subsídios para a prática educacional de

docentes da escola básica que lutam contra as desigualdades da

sociedade brasileira e almejam a formação crítica dos futuros

cidadãos e cidadãs.

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Apoiados na ideia de que os objetivos da escola giram em

torno da instrução e também da formação para o exercício da

cidadania, entendemos que a escola precisa desenvolver práticas

pedagógicas que levem alunos e alunas a analisar e atuar

criticamente diante da realidade. Por conseguinte, trazer o

trabalho com a formação ética para o espaço escolar significa

enfrentar o desafio de incorporar nas práticas pedagógicas

cotidianas alguns princípios e valores muito conhecidos, mas

pouco praticados de maneira geral. É neste ponto que recorremos

à Declaração Universal dos Direitos Humanos, como documento

que busca reconhecer a “dignidade inerente a todos os membros

da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis”.2

Acreditamos que o trabalho com a DUDH na escola é necessário

tanto para difundir a DUDH quanto para implementar, por meio

da educação, algumas medidas concretas que assegurem o

reconhecimento dos princípios e valores contidos em tal

documento. Antes de abordarmos quais medidas concretas seriam

essas, porém, consideramos importante compreender brevemente

o que são valores e suas relações com a educação, como veremos

a seguir.

2 Trecho das considerações introdutórias da DUDH, adotada e proclamada pela Resolução

nº 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Assinada pelo Brasil na mesma data.

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2.3 O QUE SÃO VALORES?

Mas, afinal, o que vem a ser educação em valores? O que a

escola pode fazer para intervir na formação dos futuros cidadãos

e cidadãs? Como participar desse processo, normalmente tido

como responsabilidade dos pais? Essas e outras preocupações,

como afirma Arantes, devem estar presentes entre os

educadores.

Compreender o que são valores e como cada um e

todos os seres humanos se apropriam da cultura e se inserem eticamente no mundo faz parte do rol de

preocupações daqueles interessados em estudar o citado binômio [educação e valores] e suas possíveis

relações. Afinal, os valores seriam inatos, herdados

geneticamente, transmitidos pela cultura ou resultariam de interações complexas entre as pessoas e o

mundo/cultura em que elas vivem? (ARANTES, 2007, p. 9)

Para a autora, a escola precisa reconhecer que a educação

em valores é um processo complexo constituído de diferentes

aspectos – sejam sociais, culturais, psíquicos, políticos etc. – e

suas relações mútuas. Isso quer dizer que para educar em valores

precisamos levar em consideração não apenas a cultura e a

sociedade, mas também os aspectos concernentes ao sujeito,

como seus sentimentos e convicções, por exemplo.

Para Jean Piaget, da mesma forma, os valores pessoais

referem-se a uma troca afetiva que um determinado sujeito

realiza com o exterior, ou seja, com objetos ou pessoas. Assim,

os valores estão relacionados à dimensão geral da afetividade e

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às projeções afetivas que o sujeito faz sobre objetos ou pessoas.

Isso nos leva a afirmar que Piaget “recusa tanto as teses

aprioristas de que os valores são inatos quanto as teses

empiristas de que eles são resultantes das pressões do meio

social sobre as pessoas.” (ARAÚJO, 2007, p.20). Diante disso,

adotamos a concepção de que os valores não estão

predeterminados geneticamente na pessoa ao nascer e nem são

internalizados de fora para dentro, mas são o resultado das ações

do sujeito no mundo em que vive. Dessa forma, como nos traz

Araújo:

(...) uma ideia ou uma pessoa tornar-se-ão um valor para o sujeito se ele projetar sobre ela sentimentos

positivos. Na direção contrária, as pessoas também projetam sentimentos negativos sobre objetos e/ou

pessoas e/ou relações e/ou sobre si mesmas. (ARAÚJO, 2007, p. 21)

Outro autor que pode nos ajudar a entender o que são

valores e sua importância para os processos de formação crítica

do sujeito é Puig:

Mas o que significa ―ter valores‖ e como se produz sua

aquisição? Ter valores significa possuir um conjunto de hábitos de reflexão. Significa estar disposto a repetir

comportamentos desejáveis, algo próximo das virtudes, mas, além disso, comportamentos desejáveis que

assumidos não apenas por tê-los aprendido, que seria

apenas um hábito mecânico, mas porque temos a convicção de que devemos manifestá-los. Uma

convicção de emoções que surge da consideração reflexiva de emoções e de razões que avalizam os

hábitos de valor. Portanto, os valores são hábitos que aprendemos – comportamentos que podemos repetir –,

mas que, além disso, tornamos nossos, considerando e

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avaliando – refletindo – as motivações que nos são oferecidas pelas emoções e pelas razões. (Puig, 2007,

p. 110)

Puig segue refletindo sobre como são adquiridos tais hábitos

de reflexão e cita um exemplo que nos é particularmente

importante, as práticas socioculturais, categoria em que estão

inseridas as práticas escolares. Diante disso e de tudo o que

vimos discutindo em nosso caderno pedagógico acreditamos que

a escola é um espaço adequado para a prática de formação para a

cidadania e para a formação em valores das crianças e jovens.

Por outro lado, também nos preocupamos com questões mais

práticas relacionadas à como trabalhar com a educação em

valores na escola? Como fazê-lo sem deixar de lado o trabalho

com os conteúdos historicamente construídos pela humanidade?

Essas inquietações nos levam a questionamentos e propostas

importantes para nosso trabalho, que serão apresentadas em

nossa próxima unidade.

2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação em valores, comumente associada a práticas

exclusivamente familiares, não pode ficar relacionada a antigos

modelos de educação ou de valores tradicionais que enfocam a

transmissão de postulados relacionados exclusivamente a

questões religiosas. Para além dessa maneira de pensar, a

educação em valores a qual destacamos no presente texto

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relaciona-se ao processo de formação de cidadãos e cidadãs e

solicitam da escola a formação de sujeitos críticos, conscientes de

seus direitos e deveres.

Para isso, a educação em valores precisa ser encarada como

um processo, ou seja, os valores não nascem com as pessoas –

não são predeterminados geneticamente – e nem são

internalizados de fora para dentro do sujeito, ou seja, os valores

também não são apenas fruto das pressões do meio. Assim, caso

a escola deseje de fato formar eticamente os futuros cidadãos e

cidadãs, é preciso entender que uma ideia torna-se um valor para

alguém quando se projeta sentimentos positivos sobre essa ideia.

Consequentemente, os sentimentos positivos projetados

despertam a disposição de repetir os comportamentos desejáveis,

não como um hábito mecânico, mas como algo que aprendemos e

que, além disso, refletimos e avaliamos segundo as motivações

que nos são apresentadas pelas emoções e razões, como afirma

Puig (2007).

Acreditamos que é sobre esse processo que a escola pode

intervir intencionalmente, com o objetivo de formar pessoas

capazes de se preocuparem e almejarem uma vida mais digna

para todos os homens e todas as mulheres da sociedade em que

vivemos. A partir disso, nosso próximo passo é buscar investigar

como formar sujeitos capazes de se indignarem com as injustiças

sociais e atuarem rumo à transformação do modelo de sociedade

em que vivemos? Isso é o que abordaremos a seguir, em nossa

última unidade.

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2.5 ATIVIDADES

Após a discussão das temáticas abordadas na segunda

unidade de nosso caderno pedagógico, leia o trecho abaixo e

reflita em um pequeno grupo sobre como as palavras de Freire

relacionam-se ao que foi estudado até o momento. Elabore uma

síntese da discussão para apresentar ao grupo-classe.

Por que não aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em

áreas da cidade descuidadas pelo poder público para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à

saúde das gentes. Por que não há lixões no coração dos bairros ricos e mesmo puramente remediados dos centros urbanos? É

pergunta de subversivo, dizem certos defensores da democracia.

Por que não discutir com os alunos a realidade concreta que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é

muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma ―intimidade‖ entre os saberes curriculares

fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? (FREIRE, 1996, p.33-34)

2.6 MATERIAIS COMPLEMENTARES

As referências abaixo indicam alguns materiais de apoio que

podem ajudar a aprofundar os estudos iniciados nessa unidade.

O artigo ―Valores na Escola‖, de Maria Suzana de Stefano

Menin, versa sobre o que são valores morais ou éticos. Traz

também as diferenças entre a educação moral que adota

formas doutrinárias, relativistas, entre outras. O artigo não

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apresenta uma receita de como ensinar valores, pois não é

esse o caminho que procuramos, pelo contrário, defende a

ideia de uma educação moral que se faz pela ação orientada

por princípios como a justiça, a dignidade, a solidariedade,

etc. Confira abaixo:

http://www.scielo.br/pdf/ep/v28n1/11657.pdf

• O filme ―Escritores da liberdade‖, de Richard La

Gravenese, é uma coprodução entre EUA e Alemanha

realizada no ano de 2007, e pode ser uma fonte de

reflexão sobre o ofício docente. Baseado em uma história

real, o filme descreve os acontecimentos de uma sala de

aula em que os vínculos entre docente e discentes

tornam-se significativos e passam a contribuir na

educação de jovens e adolescentes. Vale à pena assistir!

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UNIDADE III

Os seres humanos nascem iguais, mas a sociedade os trata, desde o começo, como se fossem diferentes, dando muito mais oportunidades a uns do que a

outros.E isso é apoiado pelas leis e pelos costumes, que agravam ainda mais o tratamento desigual e criam grande número de barreiras para que aquele que foi

tratado como inferior desde o nascimento consiga uma situação melhor dentro da sociedade. (DALLARI, 1998, p.47)

3.1 PRIMEIRAS PALAVRAS

Na Unidade III serão abordados a Declaração Universal dos

Direitos Humanos e os princípios da transversalidade, que nos

ajudam a entender a proposta de utilização dos artigos da DUDH

em sala de aula. O objetivo é trabalhar com os direitos e deveres

contidos na DUDH e relacioná-los ao cotidiano de alunos e alunas,

o que pode nos ajudar a pensar na importância de garantir a

dignidade da pessoa humana frente a situações do cotidiano que

ferem tais princípios. Em nossa opinião, essa é uma das

possibilidades de formar sujeitos éticos capazes de se indignarem

com as desigualdades e injustiças que presenciamos em nossa

sociedade.

Como a DUDH pode

ajudar no trabalho em

sala de aula?

O que é a Declaração Universal

dos Direitos Humanos e como

está estruturada?

Qual o potencial da DUDH

para a formação em valores

na escola?

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3.2 A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

UM BREVE HISTÓRICO

―Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras

com espírito de fraternidade.‖

(Artigo 1 da Declaração dos Direitos Humanos – ONU)

Após o saldo decorrente da II Guerra Mundial, foram

estabelecidas, na Conferência de Yalta (Ucrânia, 1945), as bases

para a construção do documento hoje conhecido como Declaração

Universal dos Direitos Humanos, ou DUDH, como a chamaremos

daqui por diante.

Nessa época, ocorreu a criação de uma organização para

gerenciar as negociações relacionadas a conflitos internacionais, a

Organização das Nações Unidas – ONU. O objetivo era evitar

guerras, promover negociações pacíficas entre os povos e

fortalecer os Direitos Humanos.

Foi essa organização, a ONU, que elaborou e aprovou a

DUDH em 1948. Como nos lembra Araújo:

A proposta da DUDH era – e continua sendo – a de se tornar senão um pacto universal, pelo menos uma

referência moral, entre todos os países signatários, no que diz respeito ao desenvolvimento e fortalecimento

do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos, sem nenhuma exceção.

(Araujo, 2001, p.22)

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Do ponto de vista formal, segundo Araújo, a DUDH contém,

além do preâmbulo, trinta artigos, cada qual contemplando um

direito fundamental. De forma breve, pode-se dividir o documento

em quatro partes:

Primeira parte: artigos I e II: carrega os direitos

fundamentais que dão a base para todos os outros;

Segunda parte: dos artigos IV a XV: elenca os direitos

civis e políticos;

Terceira parte: dos artigos XVI a XXVII: reúne os

direitos econômicos, sociais e culturais;

Quarta parte: que vai do artigo XXVII até o XXX: cita

os mecanismos de manutenção dos direitos

promulgados pela DUDH.

Acreditando na importância dos artigos contidos na DUDH,

desejamos uma educação voltada para a dignidade e para a paz

entre as nações, os povos e os cidadãos e cidadãs. Para que isso

seja possível, almejamos a transformação das práticas escolares,

para que permitam o trabalho com os direitos humanos contidos

na DUDH, direitos que são, como afirma Araújo:

―Indivisíveis porque não se pode contemplá-los pela metade [...]; indissociáveis porque um direito não se

sustenta sem o outro; interdependentes porque não se pode opô-los; um exige a efetivação do outro.‖ (2001,

p.27)

Contudo, antes de adentrarmos a utilização dos artigos da

DUDH em sala de aula, é importante delimitar mais um princípio

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teórico que embasa nossa proposta de educação. Tal princípio nos

ajudará a entender como é possível trabalhar com os conteúdos

curriculares ao mesmo tempo em que se forma eticamente as

futuras gerações. Trata-se do conceito de transversalidade, como

veremos a seguir.

3.3 OS PRINCÍPIOS DA TRANSVERSALIDADE

O pressuposto por nós adotado de que à escola cabe o

trabalho com a instrução e formação em valores das futuras

gerações nos leva, consequentemente, à proposta de

transversalidade de Montserrat Moreno (1998).

Para a autora, os conteúdos curriculares tradicionalmente

trabalhados na escola – representantes do trabalho com a

instrução – devem ser meio para atingir a formação em valores

de crianças e jovens em idade escolar e alcançar a melhoria da

sociedade e da humanidade.

Ao se perguntar sobre como podemos trabalhar com os

conteúdos escolares sem deixar de lado as problemáticas mais

atuais que visam à formação de futuros cidadãos e cidadãs, a

autora faz a seguinte proposta:

Uma solução viável para esse conflito é a integração dos saberes. É preciso retirar as disciplinas científicas

de suas torres de marfim e deixá-las impregnar-se de vida cotidiana, sem que isto pressuponha, de forma

alguma renunciar às elaborações teóricas imprescindíveis para o avanço da ciência. Se

considerarmos que estas duas coisas se contrapõem,

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estaremos participando de uma visão limitada, que nos impede contemplar a realidade de múltiplos pontos de

vista.‖ (MORENO, 1998, p.35)

Assim, vemos que a integração de saberes proposta por

Moreno indica uma possível articulação entre as dimensões do

científico e do cotidiano, no sentido de aproximar as matérias

disciplinares aos temas da realidade social vivida por alunos e

alunas. Uma das ideias centrais dessa integração é a de que, para

aprender, é preciso que exista compreensão do significado do

objeto estudado. A articulação entre os temas do cotidiano e os

conteúdos científicos é feita, portanto, para atribuir significado às

aprendizagens escolares.

Com a proposta de inserção de temáticas transversais na

escola, as duas dimensões do conhecimento escolar

(disciplinar/científico e temas transversais/cotidiano) são

consideradas complementares, pois são trabalhadas de forma

entrecruzada e levam em consideração os dois objetivos da

educação: a instrução e a formação. A partir disso, as

aprendizagens escolares assumem como ponto de partida tais

temas, chamados de transversais e baseados em contextos reais

vividos pela sociedade. É nesse ponto que acreditamos ser

possível lançar mão dos artigos presentes na DUDH, por serem

baseados em contextos reais vividos pela sociedade atualmente.

Em resumo, a proposta de um ensino transversal sobre a

qual estamos falando traz para o interior da sala de aula o

trabalho com temáticas contextualizadas nos interesses e

necessidades da maioria das pessoas e expressas nos artigos da

DUDH. São preocupações sociais – que podemos chamar de

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saberes não-disciplinares – e que estão intimamente ligadas a

questões éticas de melhoria da sociedade e não a conteúdos de

interesse de pequenas parcelas da população.

Quando se propõe o estudo de um tema transversal que está

relacionado à realidade dos estudantes, disciplinas como

matemática, língua, história, artes – que continuam presentes no

contexto escolar e são fundamentais ao ensino – podem adquirir

maior significado. Assim, as aprendizagens escolares deixam de

acontecer em um contexto distante e passam a ter relações com

o que acontece cotidianamente na vida de alunos e alunas fora da

instituição escolar. Em outras palavras, as disciplinas curriculares

passam a ajudar no estudo de temáticas relacionadas à educação

em valores, com ajuda da DUDH. As disciplinas adquirem sentido

quando são estudadas para ajudar a entender as temáticas

transversais retiradas do mundo em que vivem crianças e jovens

em idade escolar.

Em resumo, o que propomos é uma contextualização dos

conhecimentos escolares. Acreditamos que tal contextualização

deve existir como princípio fundamental para o desenvolvimento

integral de alunos e alunas. Nesse sentido, os princípios da

transversalidade abrem as portas para pensarmos nossos alunos

e a alunas como pessoas que interagem com o seu meio social a

partir de suas vivências e do conhecimento adquirido na escola,

contribuindo para a construção e desenvolvimento da sociedade.

Acreditamos que essa é uma das maneiras de contemplar o

que consideramos os dois objetivos da educação: a instrução e a

formação ética das futuras gerações. A seguir, apresentamos uma

proposta possível de trabalho a partir dos princípios de

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transversalidade que destacamos anteriormente, é o trabalho com

a Declaração Universal dos Direitos Humanos em sala de aula.

Antes, porém, consideramos importante realizar algumas

atividades sobre os princípios da transversalidade, como veremos

a seguir.

3.4 ATIVIDADES

Leia os trechos a seguir, retirados das músicas ―Estudo

errado‖ e ―O reggae‖, destacando as ideias principais e/ou o que

lhe chamar mais a atenção.

Estudo Errado (de Gabriel, o Pensador)

Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra

aprender? Ou será que é pra aceitar, me

acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu

pai não me bater Sem recreio, de saco cheio porque eu não fiz o dever

A professora já tá de marcação, porque sempre me pega disfarçando,

espiando, colando toda prova dos colegas E ela esfrega na minha cara um zero

bem redondo E quando chega o boletim lá em casa

eu me escondo. Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude, mas meus pais só querem que eu "vá

pra aula!" e "estude!" Então dessa vez eu vou estudar até

decorar cumpádi Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde [...]

Na hora do jornal eu desligo porque

eu nem sei nem o que é inflação — Ué, não te ensinaram?

— Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil.

Em vão, pouco interessantes [...] Então eu fui relendo tudo até a prova começar

Voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova. Me

dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova. Decorei toda lição, não errei nenhuma questão.

Não aprendi nada de bom, mas tirei dez (boa filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não

entendi Decoreba: esse é o método de

ensino Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino. Não aprendo as

causas e consequências só decoro os

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fatos. Desse jeito até história fica chato [...]

Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida Discutindo e ensinando os problemas

atuais E não me dando as mesmas aulas

que eles deram pros meus pais, com

matérias das quais eles não lembram mais nada [...]

Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos

nossa personalidade

O Reggae (Renato Russo e Marcelo Bonfá)

Ainda me lembro aos três anos de idade, o meu primeiro contato com

as grades O meu primeiro dia na escola, como eu senti vontade de ir embora

Fazia tudo que eles quisessem, acreditava em tudo que eles me

dissessem, me pediram pra ter paciência, falhei, gritaram: - Cresça e apareça!

Cresci e apareci e não vi nada, aprendi o que era certo com a

pessoa errada Assistia o jornal da TV e aprendi a roubar pra vencer

Nada era como eu imaginava, nem as pessoas que eu tanto amava

Mas e daí, se é mesmo assim vou ver se tiro o melhor pra mim.

Após a leitura dos trechos da música ―Estudo errado‖, de

Gabriel, o Pensador, e ―O Reggae‖, de Renato Russo e Marcelo

Bonfá, discuta em grupo como algumas formas de organização da

escola, atualmente, podem incentivar a separação entre o estudo

dos conhecimentos científicos (a instrução) e a formação para o

exercício da cidadania. Pense em exemplos dessa organização

escolar e compare-os com os citados nas músicas. Pense também

em como os princípios da transversalidade podem ajudar a

superar isso. Ao final da discussão, elabore uma síntese que

servirá de base para um debate coletivo, agora com toda a classe.

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3.5 EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS

Como destacado anteriormente, a DUDH é um documento

internacionalmente reconhecido que reúne uma série de princípios

relativos aos direitos fundamentais dos seres humanos.

Acreditamos que o trabalho com tais princípios no cotidiano

escolar pode ajudar a pensar na importância de garantir a

dignidade da pessoa humana frente a situações do cotidiano que

ferem tais princípios. Essa seria uma maneira de formar sujeitos

éticos capazes de se indignarem com as desigualdades e

injustiças que presenciamos cotidianamente em nossa sociedade.

Em nossa forma de ver, abordar na escola as questões

referentes aos diretos humanos é uma alternativa possível para o

trabalho com a formação em valores de crianças e jovens na

medida em que a prática educativa do pedagogo volta sua

preocupação para a necessidade de respeito à dignidade humana.

Essa é uma possibilidade de concretizar a preocupação com a

função da escola na sociedade contemporânea, diante do

potencial da DUDH para a discussão acerca de questões polêmicas

e dilemáticas relativas a direitos e deveres do ser humano.

Como colocado anteriormente, se o papel da escola não é só

propiciar o conhecimento intelectual que faz parte de sua grade

curricular e se a intenção é construir uma sociedade mais justa,

deve-se preparar o(a) estudante para tal tarefa. Assim,

acreditamos que se queremos que alunos(as) passem a agir como

verdadeiros cidadãos(ãs), é necessário fazer com que a cidadania

e os direitos humanos sejam vivenciados no cotidiano escolar.

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Diante de tal proposta, o trabalho com os artigos da

Declaração dos Direitos Humanos em sala de aula é

essencialmente a formação de uma cultura de respeito à

dignidade humana através da promoção e vivência dos valores da

liberdade, da cooperação, da tolerância e da paz. A vivência de

tais valores acontece mediante o uso de metodologias

diversificadas, que ajudem a levar alunos e alunas a se

depararem com as problemáticas vividas por eles mesmos no

cotidiano. É neste aspecto que consideramos importante buscar

apoio nos princípios da DUDH, que trazem questões e

preocupações atuais e que podem ser estudadas de forma

transversal, ou seja, junto aos conteúdos curriculares.

O que sugerimos é, portanto, um novo olhar sobre o papel

da escola. A formação como prática educativa do cotidiano escolar

é considerada um dos grandes desafios da escola contemporânea.

Educar não é apenas instruir, mas oferecer experiências

significativas que preparem crianças e jovens para a vida em

sociedade. Diante disso, o espaço escolar não pode apenas

preocupar-se com a formação intelectual do educando, mas

também com a sua formação enquanto ser humano autônomo e

participante da vida pública da sociedade.

Dessa forma, configura-se uma proposta possível de

concretização da formação ética que pode ajudar a proporcionar

às futuras gerações as condições para o desenvolvimento da

autonomia – entendida aqui como capacidade de posicionar-se

diante da realidade, fazendo escolhas, estabelecendo critérios e

participação de ações coletivas. Assim, o desenvolvimento da

autonomia e formação do cidadão e da cidadã tornam-se

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objetivos comuns a todas as áreas do conhecimento trabalhadas

na escola e, para alcançar tais objetivos, é preciso que elas se

articulem transversalmente.

A seguir, apresentamos um exemplo de trabalho transversal

com a DUDH em sala de aula.

3.6 A DUDH EM SALA DE AULA

A proposta de atividade a seguir foi retirada do livro ―Os

Direitos Humanos na sala de Aula: a ética como Tema

Transversal‖ (ARAÚJO e AQUINO, 2001, p. 29-33).

Artigo I

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem proceder uns

em relação aos outros com espírito de fraternidade.

Liberdade, igualdade e fraternidade: eis os pontos de partida

do primeiro e mais importante artigo da DUDH. Dentre os princípios aqui propostos, o primeiro – a liberdade

– refere-se à premissa de que toda ação que remeta à escravidão, sob qualquer forma, é inadmissível. Todos já nascem livres, e assim

devem permanecer por toda a vida, dia a dia. Isso significa que reconquistamos nossa liberdade à medida que nossos direitos (tanto quanto nossos deveres) são levados a cabo cotidianamente.

De todo modo, com a DUDH o princípio da liberdade passa a representar um direito "natural", ou seja, inato à própria condição

humana, no que se refere à dignidade de toda e qualquer pessoa. Se o princípio da liberdade é algo relativamente bem

conhecido hoje, o mesmo não se pode dizer acerca do princípio da igualdade. A ideia de que nascemos iguais, embora sejamos tão

diferentes uns dos outros, ainda é, nos dias atuais, algo difícil de ser compreendido.

Nascido na tradição cristã e mais tarde promulgado pela Revolução Francesa, sendo transformado num princípio de fato

universal apenas após a Segunda Guerra Mundial com a DUDH, o

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conceito de igualdade entre os homens nos é ainda um velho desconhecido.

Vale esclarecer que, apesar de todos termos, a rigor, a mesma origem e o mesmo destino (em última instância, de sermos

descendentes da mesma espécie), o_princípio da igualdade não se refere aqui à equidade em todos os planos da vida, mas tão-

somente ao plano da dignidade e dos direitos. Por essa razão, devemos nos contrapor a toda forma de opressão, de discriminação

e de arrogância, agindo solidariamente uns com os outros. Eis aí o terceiro princípio fundamental do primeiro artigo da DUDH.

Liberdade, igualdade e fraternidade: os três pilares de uma

vida em comum justa e digna.

Orientações didáticas (Com a colaboração de Marta Fuentes Rojas.)

Artigo: I Direito aludido: à liberdade e à igualdade

Metodologia empregada: clarificação de valores Conteúdo trabalhado: discriminação racial

Para o desenvolvimento da atividade sugerimos a utilização da técnica "clarificação de valores", proposta por Puig (1998).

Objetivamos, com isso, que: ao se exercitarem no processo de valoração, descoberta e tomada de consciência daqueles aspectos

que são importantes na sua vida, alunos e alunas tomem consciência de seus próprios valores, crenças e sentimentos,

favorecendo, assim, a coerência de seus pensamentos e condutas. Iniciar a atividade solicitando que alunos e alunas relatem

situações de racismo que tenham experienciado e/ou de que tenham conhecimento. Pode-se, também, apresentar um texto curto retirado de jornais ou revistas. Como exemplo de texto

abordando o racismo no Brasil, apontamos um artigo publicado na Folha de São Paulo (23/8/98, p. 3-2):

Para "boy", racismo acontece todo dia

O Office-boy Gilberto Aparecido Ribeiro, 22, sorriu quando ouviu a

pergunta se já havia sido vítima de preconceito racial alguma vez na vida. "Na vida? Esse negócio acontece todo dia, várias vezes por

dia, cara." Sem ter que parar para pensar; Ribeiro listou rapidamente as diversas situações de discriminação que vieram à

memória. "No banco, na minha rua, em qualquer loja que eu entre, na fila do ônibus, a caminho do trabalho. Tá bom, já?"

Nunca pensou em ir à polícia para prestar queixa. "Para quê? Muitas vezes são os homens (policiais militares) que te tratam mal

só porque você é preto." Uma das vezes foi em um ponto de ônibus, A fila, diz Ribeiro, era

grande. Mas o policial que parou o carro de polícia do outro lado da rua veio em sua direção.

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"Ele me tirou da fila e passou a maior revista, na frente de todo

mundo. Eu não tinha feito nada de errado, mas ele me humilhou grandão, mesmo assim", disse.

A outra vez foi em uma rua no calçadão do centro de São Paulo. "Eu estava indo para o banco com uns documentos do trabalho

dentro de uma pasta. Pronto. Já me pegaram e passaram revista, bagunçaram os documentos todos. Parece até que é de propósito."

Nem em seu local mais frequente de trabalho, o banco, Ribeiro está livre do preconceito, diz. A armadilha, agora, está nas portas giratórias instaladas na entrada das agências. "Já aconteceu um

montão de vezes. Todo mundo vai entrando, vai entrando, chega na sua vez, trava. Aí é aquele negócio de tirar tudo do bolso. 'Não

tem mais uma moeda? Uma chave? E todo mundo atrás, achando que você vai tirar é um trabucão do bolso. Só falta pedir para você

tirar a roupa."

Com o texto selecionado em mãos, ou a partir dos relatos

feitos, convidar os alunos e as alunas para que pensem e reflitam livremente sobre a temática abordada, Para motivar a reflexão,

pode-se apresentar algumas perguntas, tais como:

- O que acham da situação?

- Alguém já experienciou situações semelhantes? - Como avaliam situações como essas?

Após, aproximadamente, 15 minutos de discussão, solicitar que cada aluno/a redija uma dissertação curta, de cerca de 10

linhas, expondo sua opinião sobre a discriminação relatada no texto e/ou relatos, tendo como objetivo a clarificação de seus próprios

pensamentos. Em seguida, formar um círculo na sala de aula para a

realização de uma plenária pelo grupo-classe. Apresentar na lousa o

artigo I da DUDH e pedir ao grupo que estabeleça relações entre o artigo e a discussão anterior. Durante o debate, levar os/as

estudantes a relacionarem o tema da discussão com o seu cotidiano, para que compreendam o significado que a igualdade de

direitos deve ter para a vida deles e das demais pessoas. Antes de concluir esta primeira aula, pode-se dividir a turma

em pequenos grupos, que se encarregarão de trazer para a aula seguinte materiais jornalísticos que retratem, por exemplo,

situações de discriminação de que determinadas pessoas e/ou grupos minoritários foram vítimas, no Brasil ou no mundo. Uma

possibilidade é solicitar que alguns dos grupos tragam materiais jornalísticos em que o direito de igualdade entre os seres humanos

é defendido na mídia, ou que caracterizem o espírito de fraternidade que deve guiar as condutas humanas.

Na segunda aula, além da apresentação do material trazido

pelos grupos, é importante garantir uma discussão centrada nos três princípios presentes no artigo I da DUDH: liberdade, igualdade

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e fraternidade. Uma ideia interessante para enriquecer o debate é convidar uma pessoa pertencente a grupos minoritários que sofrem

constantes discriminações para relatar a realidade que impera no cotidiano da sociedade.

Legislação complementar para consulta: Artigo 10 da lei 7.716, que trata do racismo no Brasil e diz que "Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

A proposta apresentada aborda o artigo I da DUDH – que

versa sobre o direito à liberdade, igualdade e fraternidade – e

configura-se apenas como o início de uma atividade que deve

continuar a ser desenvolvida. Percebemos que a proposta

possibilita tanto o trabalho com questões éticas relacionadas ao

preconceito racial no Brasil, quanto um trabalho com os

conteúdos curriculares relacionados à Língua Portuguesa, na

medida em que possibilita a escrita e correção de pequenos

textos, além do trabalho com textos jornalísticos que contempla

um gênero textual comumente abordado nas escolas. Dessa

forma estão contemplados, de forma transversal, os dois

objetivos da educação.

Se continuarmos a analisar as potencialidades da proposta,

veremos que é possível trabalhar ainda com o conteúdo de

matemática a partir de dados estatísticos oriundos de pesquisas

realizadas por alunos(as) ou também história, ao abordar

questões relacionadas à formação do povo brasileiro.

Enfim, assim como a proposta apresentada anteriormente,

inúmeras outras aulas podem ser elaboradas a partir dos artigos

presentes na DUDH, dada a riqueza de temas de relevância social

contidos nesse documento.

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3.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação ética de crianças e jovens pode ser promovida

pela escola através da vivência de valores como a liberdade, a

cooperação, a tolerância, entre outros. A vivência de tais valores

pode acontecer mediante o uso dos artigos da Declaração

Universal dos Direitos Humanos em sala de aula, como vimos na

terceira unidade de nosso caderno pedagógico.

Além do uso de metodologias diversificadas – que levem

alunos e alunas a se depararem com as problemáticas vividas por

eles mesmos em seu cotidiano – o que sugerimos é um novo

olhar sobre o papel da escola. A formação ética para a cidadania é

um dos desafios da escola contemporânea, visto que educar não é

apenas instruir, mas também oferecer experiências significativas

que preparem crianças e jovens para a vida em sociedade.

Diante disso, a escola precisa se preocupar com a instrução

intelectual do educando e também com a sua formação enquanto

ser humano autônomo e participante da vida pública da

sociedade. Acreditamos que, ao mesmo tempo em que instrui, é

papel da escola desenvolver uma formação ética que proporcione

às futuras gerações as condições para o desenvolvimento da

autonomia, entendida aqui como capacidade de posicionar-se

diante da realidade, fazendo escolhas, estabelecendo critérios e

participação de ações coletivas.

Para que esse ideal de escola seja possível, lançamos mão

dos princípios da transversalidade, que nos permitem encarar os

dois objetivos da escola ao mesmo tempo. Se à escola cabe o

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trabalho com os conhecimentos historicamente construídos pela

humanidade (a instrução) e também o trabalho com a formação

ética das futuras gerações, não podemos deixar de lado nenhum

desses dois objetivos. Assim, trabalhando transversalmente com

assuntos escolhidos por sua relevância social (momento em que a

DUDH tem participação essencial), podemos realizar esses dois

objetivos: instruir e formar crianças e jovens, que tornam-se

conhecedores da herança cultural presente nos conhecimentos

científicos e também cidadãos e cidadãs aptos a exercerem sua

cidadania e desejosos de uma sociedade mais justa e igualitária.

Assim, a partir do que apresentamos, o desenvolvimento da

autonomia e formação do(a) cidadão(ã) torna-se o objetivo

comum a todas as áreas do conhecimento trabalhadas na escola,

e para alcançar tal objetivo é preciso que essas diferentes áreas

se articulem transversalmente, em prol da formação para a

cidadania. Dessa forma desenvolvemos em nossas escolas:

―Uma educação que inclua os principais âmbitos da

experiência humana e a aprendizagem ética que cada um deles pressupõe: aprender a ser, aprender a

conviver, aprender a participar, aprender a habitar o mundo.‖ (ARAÚJO e PUIG, 2007, p.67).

Esperamos que as reflexões abordadas no presente material

frutifiquem em práticas pedagógicas que busquem a formação de

cidadãos e cidadãs que valorizem o diálogo, a justiça, o respeito

mútuo, a solidariedade, a tolerância, e lutem por uma vida digna

para todos os seres humanos.

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3.8 ATIVIDADES DE FINALIZAÇÃO

Observe a charge abaixo:

Fonte: http://www.google.com.br/search?q=imagens+sobre+valores+humano

Escolha um artigo da DUDH e elabore uma aula para

trabalhar a situação apresentada na charge acima. Durante o

planejamento, que pode ocorrer em duplas, lembre-se de levar

em consideração os princípios da transversalidade e outras ideias

que estudamos ao longo de nosso caderno pedagógico. Caso seja

necessário, faça uma retomada!

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3.9 MATERIAIS COMPLEMENTARES

Os sites abaixo apresentam informações sobre Direitos

Humanos, bem como a própria Declaração Universal dos

Direitos Humanos. Faça uma visita a cada um deles!

http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm http://www.dhnet.org.br/direitos/selo10/

http://www.direitoshumanos.usp.br/

Uma alternativa para abordar os direitos humanos com

crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental é utilizar

a Declaração dos Direitos da Criança. Com isso, é

possível abordar aspectos da vida infantil e relacioná-los

com os direitos e deveres inerentes a todos os seres

humanos. O site abaixo traz os 10 princípios da Declaração

dos Direitos da Criança, além de outros materiais

relacionados à saúde, higiene, cidadania, ambiente e cultura.

http://www.canalkids.com.br/unicef/declaracao.htm

Você conhece o CD ―Canção dos Direitos das Crianças‖? É

um trabalho organizado por Toquinho que reúne várias

músicas relacionadas à Declaração dos Direitos da Criança.

Vale a pena conferir! Veja os nomes das músicas:

1. Bê-a-bá 2. Cada um é como é

3. Castigo não 4. De umbigo a

umbiguinho 5. Deveres e direitos

6. É bom ser criança 7. Errar é humano

8. Gente tem sobrenome 9. Herdeiros do futuro

10. Imaginem 11. Natureza distraída

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MORENO, Montserrat et al. Temas transversais em Educação: Bases para uma formação integral. São Paulo: Ática, 1998. MOSCA, J. J. e AGUIRRE, L. P. Direitos humanos: pauta para uma educação libertadora. São Paulo: Vozes, 1985. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Plano Estadual de Educação: uma construção coletiva (versão preliminar). Curitiba, setembro 2005. PIAGET, Jean. Os procedimentos da educação moral. In MACEDO, Lino de. Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. PUIG, Josep Maria. Ética e valores: métodos para um ensino transversal. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998. SUBIRATS, J. Educação: responsabilidade social e identidade comunitária. In: GÓMEZ-GRANELL & VILA (org.). A cidade como projeto educativo. Porto Alegre: Artmed, 2003, p.67-83.