caderno diário roma 1213

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Page 1: Caderno Diário Roma 1213

EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 2! 7 DE OUTUBRO DE 2012

! PÁG. 1

Aprendizagens relevantes

• Localizar o espaço imperial romano.

• Reconhecer o carácter urbano da civilização romana.

• Distinguir formas de organização do espaço das cidades do Império, tendo em conta as suas funções cívicas, políticas e culturais.

• Identificar na romanização da Península Ibérica os instrumentos de aculturação das populações submetidas ao domínio romano.

• Salientar a importância do legado político-cultural romano.

Como foi possível uma cidade dominar quase todo o mundo conhecido e mantê-lo unido durante séculos?

Alicerçada em múltiplos factores, a unidade do mundo romano contou, em primeiro lugar, com o prestígio do próprio imperador, figura emblemática e sagrada, símbolo da paz e da unidade. Contou, também, com a sabedoria dos juristas que, fazendo do Direito uma ciência, criaram um conjunto de leis notável que serviu de suporte à administração e à justiça. Nenhuma outra disciplina revela melhor o sentido de organização deste povo, a sua capacidade para adequar a teoria à prática e daí retirar benefícios.

Mas, acima de tudo, a unidade do Império construiu-se

com espírito de abertura e tolerância bem como a capacidade de estender, aos povos conquistados, o estatuto superior da cidadania.

Determinados a manter a paz o que tinham conseguido pela guerra, os Romanos espalharam por todo o Império a sua cultura: os padrões urbanísticos, as construções arquitectónicas, as concepções artísticas, as grandes obras literárias, tornaram-se no património comum de todo o mundo romano e no legado cultural que mais marcou a nossa civilização.

Este processo de aculturação fez-se sentir claramente na Península Ibérica. Aqui, os Romanos desenvolveram a vida urbana, fomentaram as actividades económicas,

O modelo romanoA herança da Antiguidade Clássica

Caderno Diário

incutiram valores e hábitos, em suma, transformaram em romanos povos anteriormente hostis.

Cidades, obras de arte, pontes e estradas lembram, no nosso território, a presença de Roma. Nenhum vestígio, porém, permanece mais vivo do que a língua em que se registam estas palavras.

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EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 2! 7 DE OUTUBRO DE 2012

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A INFLUÊNCIA GREGA

“Depois de teres seguido, durante um ano, os ensinamentos dados por Crátipo, tendo um mestre de tão grande autoridade e numa cidade tão rica de exemplos, deves, meu querido filho Marco, ter absorvido grande número de preceitos e doutrinas. Eu, que cultivo a filosofia e arte oratória tanto em latim como em grego, penso que deves, também, esforçar-te por dominar fluentemente as duas línguas. (...)

Continuarás a estudar sob a égide do filósofo mais notável do nosso século o tempo que quiseres (...) mas aproveitarás também com a leitura dos seus escritos, que se afastam pouco da doutrina dos deuses, visto que buscamos, eles e eu, inspiração em Sócrates e Platão (...).

No que respeita à filosofia, reconheço que muitos me são superiores, mas, no que toca à composição do discurso, à propriedade da linguagem, à capacidade de fazer valer as ideias pela forma de as exprimir, tenho o direito de me gabar, pois dediquei a minha vida à aquisição destes méritos.”

Cícero, Sobre os Deveres, 44 a. C.

1. Apresente evidências da admiração que os Romanos devotavam pela cultura grega.

2. Indique alguns aspectos em que os Romanos se sentiam superiores aos Gregos.

O PRAGMATISMO ROMANO

“A prudência romana e m p r e g o u - s e pr inc ipa lmente em coisas que pouco atenção receberam dos Gregos – pa v imentação da s estradas, construção de aquedutos e esgotos. De facto , os Romanos calcetam as estradas aber ta s a t ra vés de montes e vales, a fim de as mercadorias poderem ser transportadas em carros desde os portos. Os esgotos, feitos de pesadas pedras, são tão largos, em alguns lugares, que podem passar sobre

eles os carros carregados. O fornecimento de água por meio de aquedutos é tão abundante, que pode d izer- se que os r ios correm para as cidades, e quase todas as cidades, providas de canalizações, possuem fontes.”

Estrabão, Geografia, 64 a. C. – 24 d. C.

1. Indique de que forma se revela o sentido prático dos Romanos.

O MUNDO ROMANO

“De todas os cantos da terra e dos mares a f luem a Roma os produtos de todas as nações, os dos rios e dos lagos, e tudo o que pode produzir a indústria dos Gregos e dos Bárbaros (...).

Tantos navios de transporte vêm abordar ao cais do Tibre, que Roma é , de a l guma maneira, como que o mercado universal do mundo. Os frutos da Índia e da Arábia (...), os tecidos da Babilónia, as

jóias da Barbaria mais long ínqua chegam a Roma em grande quantidade e com muita facilidade.”

Públio Élio Aristides, Elogio de Roma,

século II d. C.

1. Poderemos afirmar que Roma é a primeira cidade verdadeiramente cosmopolita e global?

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O RUÍDO DE UMAS TERMAS

“Imagina todas as espécies de vozes. (...) Enquanto os desportistas treinam e se exercitam nos halteres, (...) ouço gemidos; de cada vez que retomam o fôlego, segue-se um silvo e uma respiração aguda. Quando se trata de um preguiçoso ou de alguém que se contenta com uma fricção barata, ouço uma mão a bater nos ombros (...). Se, além disso, surgir um jogador que comece a contar as boladas, está tudo acabado! Acrescente-se ainda o quezilento, e o ladrão apanhado em flagrante, e o homem que se diverte a ouvir a sua própria voz enquanto toma banho. Juntem-se a tudo isto as pessoas que saltam para a piscina salpicando os outros de água. Mas todas estas pessoas têm, pelo menos, uma voz normal. Agora imagina a voz aguda e estridente dos depiladores (...) que de repente dão gritos, sem nunca se calarem, a não ser quando depilam as axilas aos outros, obrigando-os, então, a gritar por sua vez. Há ainda os gritos variados dos pasteleiros, vendedores de salsichas e de patés e de todos os moços de taberna que anunciam as suas mercadorias numa melopeia característica”.

Séneca, Cartas a Lucílio, 4 a. C. - 65 d. C.

1. Na opinião de Juvenal, que inconvenientes graves apresentavam as insulae?

VIVER EM ROMA

“Vivemos numa cidade suportada por frágeis vigotas. Porque é des te modo que o administrador repara a casa prestes a cair: tapa a fissura de uma velha fenda e d iz -nos que durmamos tranquilos enquanto a catástrofe pa i ra sobre a nossa cabeça! Não, não, tenho de viver onde não haja tantos fogos , tantos alarmes nocturnos. (...) O terceiro andar já está em chamas e tu ainda não deste por nada . Desde o rés-do-chão que todos estão em pânico mas o último a assar é o locatár io da s água s -furtadas que só tem a protegê-lo as telhas onde ternas pombas vêm pôr os ovos. (...)

Se te conseguires afa star dos jogos de circo, podes comprar

uma excelente domus em Sora,  pelo mesmo que pagas, num ano, por um túgurio em Roma. (...)

A maior i a dos doentes , em Roma, morre de insónia (...), pois que sono é possível num apar tamento? Quem, senão os ricos, consegue dormir em Roma?”

Juvenal, Sátiras, séculos I – II d. C.

1. Indique de que forma se revela o sentido prático dos Romanos.

O ENSINO

“Se qu i s i r para Roma, não foi para obter maiores honorários ou maiores honra s – p romessa s que me faziam os amigos que me incentivavam a partir – e , mesmo se ta i s considerações também influenciassem o meu esp í r i to , a r azão principal e por assim dizer única foi que, de acordo com as minhas in formações , l á , o s jovens estudavam muito mais calmamente e eram cont idos por uma disciplina mais severa: e l a impede -os de irromper, desordenada e descaradamente, na sala de aulas dos que não são seus professores, não sendo aí admitidos senão com autor ização expressa do mestre.

Em Cartago, pelo contrário, o deixa andar

dos estudantes é horrível e descontro lado : levantam-se de forma intempestiva e, quais dementes, poderia dizê-lo, perturbam a ordem que cada mest re estabeleceu no interesse dos seus alunos. ( . . .) Pensam a g i r impunemente enquanto a cegue i ra do seu comportamento lhes acarreta um prejuízo i n c o m p a r a v e l m e n te maior do que aquele que inflingem”.

Santo Agostinho, Confissões, 398 d. C.

1. Que atractivos oferecia o ensino em Roma?

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ROMANOS E LUSITANOS

“A norte do Tejo estende-se a Lusitânia, habitada pela mais poderosa das nações ibéricas e que entre todas por mais tempo deteve as armas romanas. (...)

Os Lusitanos são excelentes para armar emboscadas e descobrir pistas, são ágeis e destros. O escudo de que se servem é pequeno, só com dois pés de diâmetro, a parte anterior é côncava (...). Armam-se com um punhal ou grande faca; a maioria tem couraças de linho. (...)

Os Lusitanos sacrificam frequentemente aos deuses, examinam as entranhas sem as arrancar do corpo das vítimas, observam também as veias do peito e tiram certas indicações do simples contacto. Consultam até em certos casos as entranhas humanas, servindo-se para isto dos prisioneiros de guerra, que revestem previamente duma veste para o sacrifício (...).

Todos estes montanheses são sóbrios, bebem geralmente só água, deitam-se no chão (...). Nas três quartas partes do ano, o único alimento na montanha são as glandes de carvalho, que, secas, quebradas e pisadas, servem para fazer pão, que pode guardar-se por muito tempo. (...)”

Estrabão, Geografia, 63 a. C. – 24 d. C.

1. Compare o nível civilizacional de Romanos e Lusitanos.

A ACÇÃO DE UM GOVERNADOR ROMANO

“A fim de que estes homens incultos, e por isso inclinados a guerrear, se acostumassem a uma vida agradável e pacífica (…), exortou-os (…) e ajudou-os a empreenderem a construção de templos, fóruns, habitações. Deste modo, uma rivalidade de prestígio substituía a violência.

Entretanto, iniciava os filhos dos notáveis no estudo das letras, (...) de tal maneira que os mais inclinados outrora a rejeitar a língua de Roma ardiam agora de zelo em falá-la com eloquência. Depois, mesmo os nossos trajos tinham honra em usar e a toga multiplicou-se; progressivamente, acabaram por apreciar até aos nossos vícios, as delícias dos banhos e o refinamento dos banquetes; e estes noviços levaram a sua inexperiência ao ponto de chamar civilização ao que não era mais do que um aspecto da sua rejeição.”

Tácito, Vida de Agrícola, séculos I-II d. C.

1. Identifique no relato de Tácito elementos característicos da civilização romana adoptados pelos povos bárbaros.

A EDUCAÇÃO NA LUSITÂNIA

“Mas o que melhor os conquistou [aos Lusitanos] foi o que fez em relação aos seus filhos. Porque, reunido em Osca, uma grande cidade, os jovens das melhores famílias de todos os povos submetidos, deu-lhes mestres de grego e de latim. Eram na realidade reféns; mas na aparência instruía-os a fim de os fazer participar, quando homens, na administração e governo do país, Os país tinham um prazer extraordinário em ver os seus filhos, vestidos com a toga, frequentar regularmente a escola.”

Plutarco, Vidas Paralelas

1. Com base no documento, refira a importância do ensino na Romanização.

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EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES N.º 2! 7 DE OUTUBRO DE 2012

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AS INVASÕES BÁRBARAS

“Na era de 408 da Era Cristã, os Vândalos, os Alanos e os Suevos ocuparam a Hispânia, mataram e destruíram muitos nas suas sangrentas incursões, incendiaram cidades e saquearam as propriedades assaltadas, de forma que a carne humana era devorada pelo povo na violência da fome. As mães comiam os filhos; e também os animais, que se haviam acostumado aos cadáveres dos que morriam pela espada, de fome ou de peste, eram mesmo levados a destroçar os vivos; desta maneira quatro pragas dizimaram toda a Espanha, sendo cumprida a predição divina que há muito tinha sido escrita pelos profetas.

Na era de 411, depois da terrível devastação das pragas pela qual a Hispânia foi destruída, os Bárbaros, decididos finalmente pela graça de Deus a fazer a paz, sortearam as províncias para as ocupar. Os Vândalos e os Suevos ocuparam a Galécia; os Alanos, a província da Lusitânia e a Cartaginense; porém os Vândalos (…), abandonada a Galécia e depois de terem devastado as ilhas da província Tarraconense, voltando a trás tiraram à sorte a Bética. (…)

Os hispanos (...) que tinham conseguido escapar à praga dos bárbaros apoderados das províncias, submeteram-se à servidão.”

Idácio, Bispo de Braga, Crónica, 395–468, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais

1. Que “quatro pragas” assolaram a Hispânia romana?

AS CULTURAS BÁRBARA E ROMANA

“A solícita preocupação de um príncipe está cumprida quando foram providenciados os benefícios para futura utilidade dos povos. Nem a ingénita liberdade [do príncipe] deve deixar de exultar quando, quebradas as forças sem razão o casamento de pessoas que são iguais por dignidade e linhagem. E por isto, removida a sentença da antiga lei (…) sancionamos esta lei que há-de valer para sempre: que o Godo possa, se quiser, ter uma mulher romana e que a Goda possa casar com um romano (…) e que o homem livre possa casar com qualquer mulher livre […] obtido o solene consenso dos parentes e a licença do conde.”

Corpus Iuris Germanici Antiqui, in Fernanda

Espinosa, Antologia de Textos Históricos Medievais

1. Tendo em conta os documentos anteriores, explique como se processou a aproximação das culturas bárbara e romana.

O COSTUME E A LEI

“50 – Sobre o lábio cortado – Se alguém cortar lábio a outrem, dê-lhe de composição dezasseis soldos, e se apareceram um, dois ou três dentes, dê-lhe de composição vinte soldos.

51 – Sobre os dentes dianteiros – Se alguém arrancar a outrem um dente que a apareça no riso, dê-lhe dezasseis soldos; se forem dois ou mais dentes, aparecendo no riso, façam por esse número uma composição e um preço.

62 – Sobre o corte de uma mão – Se alguém cortar uma mão a outrem, dê-lhe de composição metade do preço que teria sido avaliado se o matasse; e se a paralisar mas não a separar do corpo, dê-lhe de composição a quarta parte deste preço.

74 – Em todas estas chagas e feridas acima transcritas que podem acontecer entre homens livres, estabelecemos uma composição maior do que a dos nossos antepassados, para que a vingança que é inimizade seja relegada depois de aceite a citada composição e não seja esta mais exigida nem permaneça o desgosto, mas dê-se a causa por terminada e mantenha-se a amizade. (…)"

Monumenta Germaniae Histórica – Legum, in Fernanda Espinosa, Antologia de Textos Históricos

Medievais