caderno dia das mães - edição 3024- 03/05/2014

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Segredos para ser uma boa mãe Aos 92 anos, Joana Bruschi conta sua história de vida e como educou seus nove filhos em meio às dificuldades da época [email protected] Silvia Dalmas SILVIA DALMAS 3 de maio de 2014 Da janela da sua cozinha, Joana Ana Geremia Bruschi vê a reportagem do Jornal Sema- nário chegar. Sem deixar a vai- dade de lado, se arruma para a foto com brincos e lenços e não dispensa a maquiagem. Ela também coloca uma mesa farta de bolos e cucas, e essa prepa- ração virou rotina na casa, já que familiares e amigos a visi- tam todos os dias. “A gente diz que é a casa da nonna Joana”, brinca o filho Gregório Bruschi. E a família é grande. Joana criou nove filhos – Jurandir, Jaime, Helena (falecida), Clé- dio, Mário (falecido), Lurdes (falecida), Gregório, Paulo e Egídio –, 14 netos e uma bis- neta. “Era pecado não ter filho naquela época”, conta Joana. Filha de pais italianos, casou- -se aos 22 anos com Francisco Antonio Bruschi, com quem viveu 59 anos. Natural de Mu- çum, mudou-se com a família para Bento Gonçalves há duas décadas, onde vive até hoje na sua casa, no bairro Progresso. A cada pergunta sobre sua história de vida, seu olhar se distancia e um sorriso discreto aparece no rosto, como se esti- vesse recordando as boas lem- branças dos seus 92 anos. “São muitas alegrias: os nascimen- tos, aniversários, batizados e confraternizações”. Sua memó- ria, aliás, é ótima, assim como sua saúde, e os médicos sempre lhe dizem que é uma forte can- didata aos cem anos. Educação “Os netos às vezes não acre- ditam quando eu conto como era, hoje é outra realidade”, diz ela, referindo-se a forma como educou seus filhos. Para Joana, que sempre foi muito ativa, criar os nove filhos foi uma experiência gratifican- te e sua dedicação com a famí- lia serve de exemplo para mui- tas mães. Ela conta que teve o primeiro filho aos 23 anos e se revezava entre os cuidados a família e o trabalho na lavoura: “Era tudo assim aquele tempo, não tinha empregada para nos ajudar e os mais velhos cuida- vam dos mais novos. De noi- te, eu dormia bem, porque me cansava muito”, brinca. O segredo, segundo a apo- Hoje, a aposentada gosta de passar os dias em sua casa, recebendo a visita de parentes e amigos sentada, é estar sempre pre- sente na vida dos filhos. “Hoje, algumas mães tem um só e não conseguem dar conta, fica a desejar, falta estrutura. Eu levava para catequese, para a missa, estávamos sempre jun- to, acompanhando e tentava manter a boa convivência entre todos, nunca briguei com nin- guém”. Joana também conta que sempre teve muita fé em Deus e isso ajudou a superar as dificuldades: “Rezávamos o terço todas noites”. Hoje, Joana revela que se sente realizada e feliz. “Não es- perava chegar aos 92 anos, foi muito sacrifício na vida. Tudo que tenho foi Deus que me deu e eu agradeço muito”.

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Bento Gonçalves/RS

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Page 1: Caderno Dia das Mães - Edição 3024- 03/05/2014

Segredos para ser uma boa mãeAos 92 anos, Joana Bruschi conta sua história de vida e como educou seus nove filhos em meio às dificuldades da época

[email protected]

Silvia DalmasSI

LVIA

DA

LMA

S

3 de maio de 2014

Da janela da sua cozinha, Joana Ana Geremia Bruschi vê a reportagem do Jornal Sema-nário chegar. Sem deixar a vai-dade de lado, se arruma para a foto com brincos e lenços e não dispensa a maquiagem. Ela também coloca uma mesa farta de bolos e cucas, e essa prepa-ração virou rotina na casa, já que familiares e amigos a visi-tam todos os dias. “A gente diz que é a casa da nonna Joana”, brinca o filho Gregório Bruschi.

E a família é grande. Joana criou nove filhos – Jurandir, Jaime, Helena (falecida), Clé-dio, Mário (falecido), Lurdes (falecida), Gregório, Paulo e Egídio –, 14 netos e uma bis-neta. “Era pecado não ter filho naquela época”, conta Joana.

Filha de pais italianos, casou--se aos 22 anos com Francisco Antonio Bruschi, com quem viveu 59 anos. Natural de Mu-çum, mudou-se com a família para Bento Gonçalves há duas décadas, onde vive até hoje na sua casa, no bairro Progresso.

A cada pergunta sobre sua história de vida, seu olhar se

distancia e um sorriso discreto aparece no rosto, como se esti-vesse recordando as boas lem-branças dos seus 92 anos. “São muitas alegrias: os nascimen-tos, aniversários, batizados e confraternizações”. Sua memó-ria, aliás, é ótima, assim como sua saúde, e os médicos sempre lhe dizem que é uma forte can-didata aos cem anos.

Educação

“Os netos às vezes não acre-ditam quando eu conto como era, hoje é outra realidade”, diz ela, referindo-se a forma como educou seus filhos.

Para Joana, que sempre foi muito ativa, criar os nove filhos foi uma experiência gratifican-te e sua dedicação com a famí-lia serve de exemplo para mui-tas mães. Ela conta que teve o primeiro filho aos 23 anos e se revezava entre os cuidados a família e o trabalho na lavoura: “Era tudo assim aquele tempo, não tinha empregada para nos ajudar e os mais velhos cuida-vam dos mais novos. De noi-te, eu dormia bem, porque me cansava muito”, brinca.

O segredo, segundo a apo-

Hoje, a aposentada gosta de passar os dias em sua casa, recebendo a visita de parentes e amigos

sentada, é estar sempre pre-sente na vida dos filhos. “Hoje, algumas mães tem um só e não conseguem dar conta, fica a desejar, falta estrutura. Eu levava para catequese, para a missa, estávamos sempre jun-

to, acompanhando e tentava manter a boa convivência entre todos, nunca briguei com nin-guém”. Joana também conta que sempre teve muita fé em Deus e isso ajudou a superar as dificuldades: “Rezávamos o

terço todas noites”.Hoje, Joana revela que se

sente realizada e feliz. “Não es-perava chegar aos 92 anos, foi muito sacrifício na vida. Tudo que tenho foi Deus que me deu e eu agradeço muito”.

Page 2: Caderno Dia das Mães - Edição 3024- 03/05/2014

A persistência da mãe de coraçãoNo sonho de ter filhos, Andréia e Rogério passaram por cinco fertilizações sem sucesso e dez anos na fila de espera da adoção

Sábado, 3 de maio de 20142

Vitória [email protected]

Manuela e Pedro atenderam a porta, junto com a mãe, am-bos de sorriso no rosto. Pedro, com sete anos, e Manuela, com quatro, são parecidos em cor de pele, cabelo e carisma, mas a mãe garante: não são irmãos de sangue.

A fisioterapeuta Andreia Lunelli relatou a história da família, disse que o desejo de ser mãe sempre existiu e que, nas primeiras tentativas de en-gravidar, há mais de dez anos, veio a notícia de que não seria possível. “Não é fácil saber que você não vai poder gerar seu próprio filho. Mas tínhamos a possibilidade de fertilização, então havia muita esperança ainda”, conta.

A primeira fertilização foi feita e não deu resultado posi-tivo e assim seguiu com mais quatro, todas negativas. Ela tinha miomas no útero e pre-cisou retirá-los. “Quando mar-quei a quinta fertilização, eu já não tinha mais esperança, me inscrevi na fila de adoção aqui de Bento e comecei a aguar-dar”, comenta.

Andreia passou, junto com o esposo Rogério, cinco anos na fila de adoção. Ela diz que é um processo demorado, mesmo que ela tivesse feito poucas exigên-cias. “Não me importavam as características, apenas pedi que fosse uma criança de zero a dois

A família se diverte junto com o mascote Lohan, que tem 16 anos

VITÓRIA

LOVAT

anos e que não tivesse doença neurológica, porque eu não sa-beria passar por isso”, resgata.

“Ele olhou pra mim e gritou: mamãe!”

Quando o casal já estava na fila há cinco anos, a fisiotera-peuta conta que não havia mais esperanças. “Nunca vou me esquecer, era 11h da manhã, e meu marido me ligou dizendo que nosso filho tinha chegado. Como assim chegado? Que fi-lho? Fiquei confusa e demorei a me dar conta. Mesmo que tudo era incerto ainda e que tínhamos muito caminho para percorrer, foi uma emoção que eu não consigo explicar”, diz.

Os olhos de Andreia mare-jam ao contar a primeira vez que viu Pedro. “Ele estava se segurando na grade, olhando pra gente e gritou: mamãe! Foi um dos momentos mais mar-cantes pra mim”. Agora come-çava o processo de adaptação da criança. Extasiada com a realização do sonho, ela voltou para a fila de adoção.

“A adaptação é um período incerto, porque tu não sabe como a criança vai reagir. Pe-dro teve alguns problemas de saúde, eu mal dormia porque tinha medo, mas sabia que tudo estava bem”, relembra. Durante os primeiros seis me-ses, há o risco de a criança vol-tar para o orfanato ou a mãe biológica pode recorrer da guarda.

Depois da chegada do Pedro, mais cinco anos se passaram na fila de adoção para a chega-da da recém-nascida Manuela. “Com a Manu, a minha insegu-rança foi pior ainda, pois nos primeiros seis meses, se a mãe biológica se arrependesse de tê-la entregado para adoção,

eu seria obrigada a devolver a guarda da menina para ela”.

Os filhos precisam conhecer a sua história

Andreia diz que os filhos têm o direito de conhecer sua histó-ria, de saber de onde vieram e o

porquê. Pedro sabe que não é fi-lho biológico, mas não faz mal, segundo ela, é filho do coração.

“Eu conto o que ele me pergun-ta, esclareço as dúvidas sendo verdadeira, mas não falo mais do que o necessário. Sei que um dia ele vai querer conhecer seus pais biológicos, então vou procurá--los, e levar o Pedro até eles”, en-fatiza. Manuela, segundo a mãe, ainda é muito pequena, nunca perguntou nada, mas quando questionar, também vai saber da verdade. “A gente vive completo e feliz, hoje, é quase impossível imaginar que eles não saíram de mim”, conclui.

Companheirismo para todos os momentos

Durante a entrevista, o ca-chorro da família, Lohan, não saiu de perto de Andreia. Dócil e tranquilo, o chow chow de 16 anos acompanhou o processo. Eles o compraram durante as primeiras ideias de engravidar, como uma primeira experiência de cuidado e atenção. “O nosso primeiro filho foi o Lohan, nós queríamos ver como era não estar mais sozinhos, ter alguém com quem se preocupar”, diz.

“O Lohan é mais do que ami-go, ele acompanhou tudo de perto, ele me viu chorar, quase desistir, viu a nossa espera e an-gústia, mas depois viu também a gente chegar em casa com o Pedro e, mais tarde, com a Manu, ele também viu alegria, realização e conquista”.

Page 3: Caderno Dia das Mães - Edição 3024- 03/05/2014

O primeiro Dia das Mães de MarliContra os indícios médicos, a manicure de Bento Gonçalves conseguiu engravidar e tem cesárea marcada para quarta-feira

Sábado, 3 de maio de 2014 3

Vitória [email protected]

“É impossível vocês terem filhos pelos métodos natu-rais”, diziam os médicos. Na busca de ter um filho, foi alto o número de médicos consul-tados pelo casal Marli e Rui Oliveira. Todos respondiam a pergunta deles da mesma forma: o casal não poderia ter filhos. O desejo de ser mãe de Marli aumentava cada vez mais, mas o retorno negativo dos especialistas fazia com que o casal, aos poucos, per-desse as esperanças.

“Os médicos acabaram com qualquer esperança de ter um filho pelos métodos naturais. Todos diziam que era impos-sível, que a gente deveria bus-car outro meio de fazer isso”, lembra Marli. Depois de qua-tro anos de tentativas de en-gravidar, o casal optou por aceitar o conselho dos médi-cos e agendar uma insemina-ção, para o dia 11 de setembro do ano passado.

“Não havia mais esperança

Marli e Rui cancelaram a inseminação artificial ao receber a boa notícia

de engravidar normalmente, mas ainda havia muita espe-rança de ser mãe”, relata. Ela conta que dividiu as angús-tias de todo o processo junto com as clientes do seu salão de beleza e que elas sempre a apoiaram.

“Uma semana antes da in-seminação, eu estava envolvi-da em um evento de trabalho, isso me tomou todas as aten-ções e, por alguns momentos, me esqueci de tudo aquilo. Depois que o evento acabou, percebi que havia algo dife-rente em mim, fiz um teste de farmácia, deu positivo. Fiz mais quatro testes e to-dos os cinco deram positivo. Não convencida, fiz o exame de sangue e, aí sim, eu ti-nha a certeza de que estava carregando a minha menina Eduarda”, conta.

O processo artificial foi desmarcado e o acompanha-mento pré-natal começou a ser realizado. A cesárea foi marcada para a próxima quarta-feira, sete de maio: será o primeiro dia das mães da futura mamãe. Marli diz

AN

DRÉIA

D. FOTO

GRA

FIA

que está sendo uma gestação tranquila, mas que estes últi-mos dias, para ela, são quase uma eternidade. “Cada vez que ela se mexe eu sinto von-tade de chorar de alegria, é uma felicidade indescritível. Eu sinto que todas as mulhe-res deveriam passar por isso, quem tem esse sonho, não pode perder a esperança”, destaca.

Marli conta que as clientes do salão estão na expectativa junto dela, levam lembranci-nhas e estão ansiosas para co-nhecer Eduarda. “Deus sabe o que faz, eu confiei Nele em to-dos os momentos, tenho pes-soas incríveis comigo e agora vou ter minha menina, é uma realização completa”, conclui.

Page 4: Caderno Dia das Mães - Edição 3024- 03/05/2014

Tesouros e riquezas de Lesandra

As lágrimas que escorrem pelo rosto dela não são de

tristeza. A emoção que toma conta de Lesandra é capaz de contagiar até mesmo os cora-ções mais gelados. Enquanto conta sua história, ela bus-ca na memória os momentos mais marcantes sem perder nenhum detalhe. Mas ela não precisa ir muito longe para relembrar. A felicidade de Lesandra corre em frente a seus olhos: os filhos Antonio, 2 anos, e Antonia, 4 anos, que brincam na sala da casa, são o motivo de seu sorriso.

Para entender a coragem dessa mãe é preciso voltar dez anos. Em 2004, após quatro meses de casamento, Lesandra Dalla Costa, com 26 anos na época, descobriu que estava com câncer color-retal. “Foi um choque muito grande. Quando descobri que estava com câncer, toda famí-lia adoeceu junto”, comenta. Mesmo assim ela foi em fren-te, optou for concluir o curso de Arquitetura na Unisinos e participar da formatura. “Foi uma decisão importante. Não podia desistir apenas por cau-sa da doença”, afirma.

Depois disso ela encarou sete meses de quimioterapia que literalmente mudaram a sua vida. “As pessoas acham que eu sou louca, mas hoje agradeço por ter tido um cân-cer. Minha vida mudou com-pletamente. Eu precisava de

Após passar por um câncer e receber a notícia de que não poderia engravidar, dez anos depois ela espera seu terceiro filho

Com Antonia e Antonio, Lesandra espera o seu terceiro filho Lesandra agradece a Deus e a Santo Antônio por seus tesouros

[email protected]

Josiane Ribeiro

Sábado, 3 de maio de 20144

um momento para mim, para repensar tudo. Há anos eu não parava para ver TV. Meus hábitos também mudaram desde alimentação até os pen-samentos. Foi uma oportuni-dade para parar e começar de novo”, destaca.

Quando a quimioterapia acabou, Lesandra precisaria fazer radioterapia que redu-ziria a zero a chance dela en-gravidar. Mas o sonho de ser mãe falou mais alto. “Já com a quimioterapia as chances de eu engravidar seriam muito pequenas. Então decidi enca-rar de frente e não fiz radio. Decidi me tranquilizar e espe-rar uma resposta de Deus”.

A resposta não demorou a chegar. Em 2008, Lesandra e

o marido Rogério receberam o convite do padre Izidoro Bi-golin para serem festeiros da festa em honra a Santo Antô-nio. Na dúvida se aceitavam ou não, receberam um tempo para pensar. “Todas as noites nós rezamos o terço e lemos trechos da Bíblia. Aquele dia era nosso prazo final, então pedi um sinal para Deus”. Ao abrir a Bíblia, uma passagem de Isaías: “Irei eu mesmo diante de ti, aplainando as montanhas, arrebentando os batentes de bronze, arrancan-do os ferrolhos de ferro”, re-corda Lesandra. No momen-to, a certeza de que deveriam aceitar o convite. “A passagem também dizia ‘Dar-te-ei os te-souros enterrados e as rique-

zas escondidas’. Deus nos fez uma promessa aquela hora e foi fiel”.

Antes da festa de Santo An-tônio terminar, Lesandra des-cobriu que estava grávida. “No quinto mês de gestação sonhei com Santo Antônio que me dizia que tudo ia dar certo”. E realmente deu. A primei-ra filha, Antonia, nasceu em janeiro de 2010. “Mas na sua promessa, Deus me prometeu vários tesouros. A promessa foi no plural”, comenta.

Em dezembro de 2011 nas-ceu o segundo filho de Le-sandra, o pequeno Antonio. “Ninguém acreditava que eu iria conseguir engravidar, imagina ter um segundo filho. Realmente foi uma bênção de

Deus”, agradece. Grávida de três meses de seu

terceiro filho, Lesandra trans-parece a alegria de viver e o orgulho e prazer de ser mãe. “Eu e meu marido estamos abertos à vida. Todos os filhos que Deus nos mandar vamos receber com amor”. Com Deus e a família como prioridades, a arquiteta é um exemplo de superação. “A minha história mudou a vida de toda minha família. Eu não seria uma boa mãe se não tivesse passado por tudo isso. Confiei muito em Deus e entreguei meus dese-jos a ele. Em troca ele me deu esses tesouros. Quando nasce um filho, também nasce uma mãe. Até eu morrer eu não vou deixar de me emocionar”.

FOTO

S JOSIA

NE RIBEIRO