caderno de resumos nietzsche e kant

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  • I CONGRESSO INTERNACIONAL NIETZSCHE E A TRADIO

    FILOSFICA

    NIETZSCHE E A TRADIO KANTIANA

    CADERNO DE RESUMOS

    Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas/UFMG

    Belo Horizonte

    02 a 04 de Outubro de 2012.

    Instituto de Filosofia, Artes e Cultura/UFOP

    Ouro Preto

    05 a 06 de Outubro de 2012.

    Promoo:

    Grupo Nietzsche da UFMG/CNPq (GruNie) Programa de Ps-Graduao em Filosofia/UFMG

    Departamento de Filosofia/UFMG Programa de Mestrado em Esttica e Filosofia da Arte da UFOP

    Departamento de Filosofia da UFOP

    Apoio:

    CAPES FAPEMIG

    FAFICH FUNDEP PROEX

    Programa de Ps-Graduao em Filosofia da UFMG

    Programa de Mestrado em Esttica e Filosofia da Arte da UFOP

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    FACULDADE DE FILOSOFIA E CINCIAS HUMANAS

    DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FILOSOFIA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

    INSTITUTO DE FILOSOFIA, ARTES E CULTURA

    DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

    PROGRAMA DE MESTRADO EM ESTTICA E FILOSOFIA DA ARTE

    Comit organizador

    Prof. Dr. Rogrio Lopes (Filosofia/UFMG)

    Profa. Dra. Giorgia Cecchinato (Filosofia/UFMG)

    Prof. Dr. Bruno Guimares (Filosofia/UFOP)

    Profa. Dra. Cntia Vieira (Filosofia/UFOP)

    Comit Cientfico

    Prof. Dr. Oswaldo Giacoia Jnior (Filosofia/Unicamp)

    Prof. Dr. Zeljko Loparic (Filosofia/PUC-PR)

    Profa. Dra. Virgnia de Arajo Figueiredo (Filosofia/UFMG)

    Prof. Dr. Olmpio Pimenta (Filosofia/UFOP)

    Profa. Dra. Giorgia Cecchinato (Filosofia/UFMG)

    Prof. Dr. Rogrio Lopes (Filosofia/UFMG)

    Equipe de apoio

    Alice Parrela Medrado (Mestranda Filosofia/UFMG)

    Daniel Carvalho (Doutorando Filosofia/UFMG)

    Oscar Santos (Doutorando Filosofia/UFMG)

    William Mattioli (Doutorando Filosofia/UFMG)

  • SUMRIO

    Religio e cristianismo em Nietzsche e Kant .......................................................................... 6

    Liberdade, ao e soberania ...................................................................................................... 7

    Nietzsche, Kant e o (des)interesse do belo .............................................................................. 8

    O querer para si em Kant e Nietzsche a mxima da ao e o carter como uma obra .. 8

    Peripcias do esprito livre: do respeito ao desprezo pelo dever ........................................ 9

    Una perspectiva del proyecto tico y educativo de Nietzsche y Kant, diferencias y

    complementariedades .............................................................................................................. 10

    Teses sobre o estatuto subjetivo do significar e comunicar: algumas aproximaes entre

    Kant e Nietzsche ....................................................................................................................... 11

    Ilustracin, ciencia y filosofa en el animal parlante: entre Kant y Nietzsche ................. 13

    Nietzsche contra Kant: crtica da razo normativa e filocracia ...................................... 14

    Apeiron and Noumena: Nietzsche on Anaximander and German Idealism .................. 15

    Nietzsche: coisa em si, devir e falsificao ............................................................................ 16

    Notas sobre Hegel, Nietzsche e a linguagem ....................................................................... 16

    Conhecimento e Verdade: uma abordagem acerca da objetividade do conhecimento a

    partir da crtica nietzschiana filosofia kantiana ................................................................ 17

    A crtica de Schopenhauer ao conceito de intuio emprica kantiana ............................ 19

    Beleza e Bildung em Schiller e Nietzsche ............................................................................. 19

    Sobre as Leis da Liberdade ..................................................................................................... 20

    La Naturaleza como Arte y el Arte como Naturaleza ......................................................... 20

    Nietzsche contra Kant: a vulgarizao da filosofia transcendental ................................... 21

    A More Severe Morality: Nietzsche's Critique of Kant ....................................................... 22

    Kant e Nietzsche: caminhos e descaminhos da razo ......................................................... 23

    Metaphysics makes strange bedfellows: Nietzsche's Neo-Kantian Theory of Causality

    ..................................................................................................................................................... 24

    The Will to Knowledge and the Will to Power .................................................................... 25

    A esttica de Kant na genealogia da arte nietzcheana: gnio, forma e criao............... 27

    Nietzsche e a retomada do projeto crtico kantiano: discusso acerca da leitura

    deleuzeana ................................................................................................................................. 28

    A verdade na religio; consideraes schopenhauerianas acerca do aforismo 110 de

    Humano demasiado humano ....................................................................................................... 29

  • Objees a Kant de Schulze a Nietzsche: Vermge eines Vermgens? ................................. 30

    Suicdio e Valor da Vida em Nietzsche ................................................................................. 31

    Nietzsche: para alm de uma simples crtica ......................................................................... 31

    Paul Feyerabend um Nietzsche de nossa poca? .......................................................... 32

    Das Verdades em Schopenhauer Negao da Verdade em Nietzsche .......................... 33

    Schopenhauer: Things-in-themselves, Phenomena, and the Naturalization of

    Transcendental Philosophy ..................................................................................................... 34

    Nietzsche on Truth and Science ............................................................................................. 35

    (Im)Possibilidades de uma leitura do texto O que esclarecimento? sob uma

    perspectiva nietzscheana ......................................................................................................... 37

    A arte como suspenso da vontade e afirmao da vida: A influncia de Schopenhauer

    na filosofia da arte de Nietzsche ............................................................................................ 38

    A crtica de Nietzsche dualidade entre fenmeno e coisa em si no aforismo 16 de

    Humano, demasiado humano ...................................................................................................... 39

    Kant e Nietzsche: a propsito da relao entre Filosofia e idiotia..................................... 39

    Entre Nietzsche e Kant: sobre os limites da razo humana e da metafsica atravs da

    Histria de um erro ..................................................................................................................... 40

    Ficcionalismo e realismo nos aforismos pstumos de maturidade .................................. 41

    Fenmeno como verdade, verdade como iluso ................................................................. 41

    Nietzsche e Teichmller: da projeo do eu ao eu como projeo .................................... 42

    O impulso a verdade metafrica: divergncias na leitura francesa de Nietzsche .......... 43

    Ttulo do trabalho: Acerto de contas esttico entre Nietzsche e Kant .............................. 44

    Niilismo e idiotia em O Anticristo: a propsito da crtica tardia de Nietzsche a Kant ... 45

    Criao e recepo na esttica nietzschiana .......................................................................... 45

    Primeiras reflexes sobre a metafsica: um dilogo com o Kant de Schopenhauer ........ 46

    Una relectura de la msica segn la Crtica del Juicio a la luz de El Origen de la Tragedia.

    ..................................................................................................................................................... 47

    O papel de Nietzsche no projeto habermasiano de superao do paradigma cartesiano

    ..................................................................................................................................................... 48

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 6

    Religio e cristianismo em Nietzsche e Kant

    Adolfo Miranda Oleare

    (IFES Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Esprito Santo)

    De modo enfaticamente contrrio concepo edificante do discurso tradicional, e tambm na

    contramo das consideraes destas modernas, a religio crist aparece no pensamento de

    Nietzsche como uma das instituies de valor promotoras da decadncia do homem. Inmeras

    passagens de sua obra radiografam o esprito ocidental, desvendando as trs instncias capitais de

    despotenciao da humanidade, a partir da fundao do Ocidente, a saber: religio, moral e

    filosofia. Para Nietzsche, a religio ocidental veio a ser uma forma implacvel de plasmar um tipo

    torpe de homem, uma vergonhosa inverso da fora aristocrtica antecessora. Baseando sua prxis

    na salvao, o cristianismo alienou o homem do tempo, do sensvel e do mundo, fazendo-o voltar-

    se fundamentalmente para o transmundo, para a vida futura, para a eternidade. O homem, outrora

    vigoroso em sua destinao terrena, foi tornado tsico da alma. Cem anos antes, o cristianismo

    era concebido por Kant como poderosa fonte de esperana e caminho para a libertao humana do

    vcio, da superstio e do autoritarismo. certo que ambos os pensadores so concordantes no que

    diz respeito a um profundo desprezo pelas prticas religiosas ligadas ao culto, ao sacerdcio e ao

    comrcio humano com Deus, traduzido na expectativa por milagres, proteo e favorecimentos

    pessoais. Contudo, justamente o aspecto moral da religio, repugnante para Nietzsche, aquele

    que servir a Kant como justificao da prpria existncia humana. De fato, Kant ataca

    veementemente a f histrica desenvolvida pelas igrejas. Para ele, a religio significa uma

    representao sensvel de contedos supra-sensveis da razo pura prtica, necessrios em funo

    da precariedade racional humana, que acaba por demandar incentivos mundanos, figurativos,

    imagticos. Nesse sentido, o arqutipo de obedincia lei moral se relaciona exclusivamente f

    racional pura, isto , ao mbito supra-sensvel, no qual se deve realizar a pureza do querer.

    Compreendem-se, nessa equao, a f na virtude (enquanto fora contra resistncias) e a

    credulidade moral humana. No livro A religio nos limites da simples razo, Kant estabelece uma

    converso racional de contedos bblicos, derivando da Bblia uma filosofia da religio, isto , uma

    lgica para a esperana, voltada para a fundamentao moral do agir humano. Estabelece,

    portanto, uma religio moral, baseada no ncleo racional-prtico da ao moralmente arquetpica

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 7

    de Jesus no mundo, e alheia valorizao de sua presena histrico-emprica entre os homens.

    Esta comunicao quer dialogar com as concepes de cristianismo encontradas em Kant e

    Nietzsche, focando sobretudo noes como liberdade e autonomia moral

    ***

    Liberdade, ao e soberania

    Adriano Correia

    (Universidade Federal de Gois / CNPq)

    O tema da liberdade central s anlises da tica e da poltica levadas a cabo por Hannah Arendt,

    e central s suas reflexes a compreenso da liberdade, inspirada em Agostinho e em Kant, como

    a capacidade de iniciar algo novo, de desencadear uma srie nova de eventos. Arendt jamais

    admitiu que a liberdade pudesse se esgotar em algum determinado estado de esprito ou pudesse

    se dar sem ao. Antes o contrrio, a liberdade se d na ao, e isso significa que para alm da

    relao do indivduo consigo mesmo entre sua conscincia e sua conduta, por exemplo e da sua

    capacidade de iniciar algo, pe-se o fato de que sua ao se d sempre no mundo e em meio a

    outros. A hiptese que aglutina nossa reflexo a de que a anlise fenomenolgica da atividade da

    ao na obra de Arendt em alta medida tributria do exame da relao entre agente, ato, motivos,

    propsitos e consequncias, levada a cabo na obra nietzschiana em seus vrios movimentos. Antes

    de encontrar Nietzsche no mbito das reflexes sobre a necessria redeno poltica das

    vicissitudes desencadeadas pela ao, Arendt partilha com ele a rejeio da rgida separao

    metafsica entre agente e ato, por um lado, e a compreenso da ao como mobilizada por um

    impulso marcadamente agonstico por distino. Por se efetivar na ao que sempre se d em uma

    teia de relaes estabelecidas em um espao pblico de interao com outros agentes, a liberdade

    da ao poltica sempre mundana, limitada e no soberana. A concepo arendtiana da ao

    poltica, a recusar a assimilao tradicional entre ao, liberdade e soberania, no se d

    inteiramente compreenso sem a considerao da nfase nietzschiana no carter iniciatrio e de

    virtuosidade da ao humana. Com efeito, a pluralidade, para Arendt, contamina a ao com uma

    irredutvel contingncia, ela mesma o signo de uma liberdade no inteiramente controlvel. Se

    Nietzsche concebe a imagem de um indivduo soberano, supramoral, que pode responder por si

    no porvir, considera tambm a contingncia da ao humana e o imenso carter ocasional de todas

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 8

    as combinaes. Nosso propsito, em nossa apresentao, ser articular o carter iniciatrio e

    virtuosstico da ao com a contingncia interna do agente e a contingncia externa de sua ao no

    mundo, a partir da apropriao das posies de Kant e Nietzsche por Arendt no que tange

    especificamente a sua compreenso da liberdade no mbito da filosofia prtica.

    ***

    Nietzsche, Kant e o (des)interesse do belo

    Alexandra M. Lopes

    (Mestranda Universidade Federal de Minas Gerais)

    Pretendemos apresentar uma breve reflexo sobre as crticas tecidas por Nietzsche em relao

    assertiva kantiana belo o que agrada sem interesse, presente no 2 da Crtica da Faculdade de

    Julgar (CFJ). Exploraremos por que esta considerao expressa os sintomas da dcadence, mesmo

    sabendo que Nietzsche no a trata necessariamente como um problema relacionado ao

    desinteresse pela vida. Nesse sentido, evidenciaremos que o desinteresse kantiano, na realidade,

    tem como pano de fundo um interesse, sugerido no 6 da terceira dissertao da Genealogia da

    Moral: o do torturado que quer livrar-se de uma tortura. Essa pressuposio parte da tese do

    belo como smbolo do bem moral, presente no 59 da CFJ, em que Kant enuncia que o gosto torna

    possvel a passagem da atrao sensvel ao interesse moral habitual, sendo o belo o que produz em

    ns o interesse pela elevao da faculdade de desejar.

    ***

    O querer para si em Kant e Nietzsche a mxima da ao e o carter como uma obra

    Alexandre Roque Ott Junior

    (Mestrando Universidade Federal de Santa Catarina)

    Na Fundamentao, Kant vislumbra, no princpio da boa-vontade, o fundamento da ao com

    carter moral: ele o nico bem ilimitado em comparao a quaisquer outros bens empricos.

    Todos estes so relativos a fins que se queira; aquela possuiria valor intrnseco. Logo, se no

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 9

    agimos visando um fim, agimos por dever e ele contm em si a boa-vontade. O dever o cume do

    juzo moral, pois afasta as motivaes sensveis do fundamento do arbtrio - as suas inclinaes to

    somente realam o dever, diante das quais ele se erige. Com efeito, seu fundamento s pode residir

    na mxima que o sustenta. Ela o princpio (subjetivo) do querer que em nossa conscincia norteia

    a ao. Nesse sentido, segundo Bittner, a mxima no pode ser confundida com meros propsitos:

    estes incidem apenas externamente na ao - determinando-a especificamente -, ao passo que

    aquela determina internamente o escopo da sua ao - determinando-a amplamente; este

    entendido como fim que desejo obter, aquela como um princpio que baliza o ser humano que

    pretendo ser. Assim, o agir moral quando a vontade consuma-se segundo princpios tais que

    sejam a representao da lei sancionada pela razo. Considerando tudo isto, podemos ento,

    comparar o conceito de mxima em Kant com Bittner - com a noo de estilo do carter, posto

    no aforisma 290, de A Gaia Cincia. Ali, Nietzsche apresenta o trabalho de moldar a si mesmo como

    um fazer artstico, onde nada que constitua o indivduo pode ser desperdiado, nem mesmo as

    fraquezas. Utilizando tanto a sensibilidade quanto a razo, ele se auto-interpreta, questionando e

    escolhendo o qu de instintivo deve ser mantido e o qu deve ser trabalhado. Ao final, percebe que

    houve neste processo um gosto predominante, e alegra-se ao encontrar algo que lhe prprio.

    Aquele que for forte, ser capaz de fazer seu corpo e seus instintos obedecerem a este estilo, pois

    a autntica expresso do seu querer - ser senhor de si, pois desenvolveu seu modo de viver como

    sua prpria individualidade. Tal arte envolve sensibilidade e razo. Exige auto-conhecimento e

    vivncia: conhecer suas potencialidades e limites; reconhecer as influncias do meio externo.

    Nietzsche visa com isto, sobretudo, o estar satisfeito com o que se . Em resumo, pretendemos

    traar um paralelo entre estas concepes acerca da determinao da ao pelo prprio sujeito,

    atentando para suas aproximaes e distanciamentos.

    ***

    Peripcias do esprito livre: do respeito ao desprezo pelo dever

    Alice Mendes Melo e Ana Teresa Campos Souza

    (Graduandas Universidade Federal de Minas Gerais)

    Sem inteno de exauri-lo enquanto conceito, pretendemos refazer o trajeto do esprito livre, o

    personagem criado por Nietzsche que deu vida a seu projeto de crtica moral no perodo

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 10

    intermedirio de sua obra. Educado na tradio e envolvido por ela (HH p. 3) a ponto de ter seus

    afetos j educados pela mesma, o esprito livre acometido por uma sbita curiosidade pelo

    mundo encoberto pelo pudor da tradio, o que o leva a tomar uma repulsa pelo dever e a se

    afastar de tudo que amava e respeitava. Por outras palavras, o esprito livre sente necessidade de

    experimentar-se e de viajar por outras perspectivas (HH p. 4) e ento, tendo j conquistado a

    madura liberdade do esprito, cultivada pela disciplina e autodomnio de seus afetos, volta para

    casa com um novo olhar sobre a tradio que o faz desej-la mais do que antes. (HH p. 5). Este

    retorno que nos permitir retirar algumas concluses acerca do que est em jogo quando

    Nietzsche critica a tica kantiana, pois demonstra que no apenas o contedo da moral kantiana

    que Nietzsche pretende atacar, mas a noo de dever e o sentimento que esta provoca no agente

    em relao a si mesmo. Por outros termos, a divergncia de Nietzsche com Kant no incide tanto

    na concepo normativa da tica do dever, mas na figura do agente que essa tica prope.

    Nietzsche concorda com a nfase dada, por esta, ao agente moral, contudo, no pode aceitar a

    imagem do agente moral autnomo proposta por Kant, como aquele que, por meio de um

    processo de deliberao interior ou pela mera consulta de um padro racional universal, se v livre

    de tudo o que o determina: inclinaes naturais e a insero na tradio. Nietzsche acredita que a

    ruptura com a tradio se faz por um processo muito mais complexo, que envolve, no tanto uma

    reforma de nossos atos, mas de nossos afetos (Abbey, e A 103). O que est em questo no so

    ainda nossas aes, mas o que nos motiva e como nos sentimos em relao s mesmas. Ao

    contrrio de Kant, que restringe a moralidade s aes por dever, Nietzsche amplia as

    possibilidades de motivao do agente, que podem ser interessadas e passionais. O ideal alcanado

    pelo esprito livre , na verdade, a confluncia de seus interesses e da lei moral, sem que este

    precise se sujeitar ao respeito pelo dever.

    ***

    Una perspectiva del proyecto tico y educativo de Nietzsche y

    Kant, diferencias y complementariedades

    Andrea Daz

    (Universidad de la Repblica, Uruguay)

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 11

    Se puede decir que se entiende una filosofa, cuando se logra comprender cules son los

    interlocutores hacia los que la misma se refiere o se opone. Son reiteradas las veces en que

    Friedrich Nietzsche se refiere a Immanuel Kant en toda su obra, pero sobre todo para

    oponerse a l, en todas sus "crticas", tanto en su teora del conocimiento, como en su

    postura tica, como en su postura esttica. Lo que vamos a analizar aqu es el Kant de

    Nietzsche, figura que por cierto es resultado de una interpretacin, de una perspectiva que

    "da mucho que pensar" (de un encuentro explosivo entre un autor y su intrprete-dinamita).

    Y esto no slo nos permite entender mejor a Nietzsche, o tener otra perspectiva para

    criticar a Kant y a los kantianos, sino que no es un tema menor analizar en algn aspecto la

    oposicin de la que hablamos, teniendo en cuenta, que gran parte de la filosofa

    contempornea es deudora de estos filsofos, y quizs en sentido opuesto (aunque podra

    entenderse como complementario).

    ***

    Teses sobre o estatuto subjetivo do significar e comunicar: algumas

    aproximaes entre Kant e Nietzsche

    Andr Luis Muniz Garcia

    (Universidade de Braslia)

    Apesar de a Kant ter sido legado um papel secundrio na reflexo filosfica sobre a linguagem, a

    pesquisa mais recente tem mostrado no apenas a importncia da mediao lingustica na anlise

    kantiana da funo do juzo para o saber especulativo (uma vez que, nesse caso, o juzo porta a

    unidade de significao disso que sujeitos racionais entendem, de modo determinado, por objeto

    ou experincia, enquanto unidade de um nexo o que se diz da coisa e a prpria coisa

    existente e fundamentado [Cf. CASSIRER, E. Filosofia das Formas Simblicas: A Linguagem]), mas

    tambm sua seminal funo em sua filosofia prtica (Cf. SIMON, J. Kant: Die fremde Vernunft und

    die Sprache der Philosophie). Para nossos propsitos, interessa-nos uma temtica especfica: a

    linguagem, ou o aspecto significativo e comunicativo a ela inerente, ocupa papel central na noo

    kantiana de crena (Glaube), porquanto no s um conceito-limite para aquilo que o

    entendimento pode conhecer, mas tambm um conceito para aquilo que o entendimento significa e

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 12

    comunica em sua orientao no mundo. Crena um conceito que valida subjetivamente a razo

    prtica ao promover tanto a significao daquilo que no compete ao uso terico da razo quanto

    uma proposta de interatividade comunicativa entre os sujeitos. No Cnon da Razo Pura, alocado na

    primeira Crtica, Kant esclarece que crena um modus da racionalidade em seu tomar-por-

    verdadeiro (Frwahrhalten) algo, que se distingue de outros como opinar e saber. A crena representa,

    manifestamente, a possibilidade [de ser] comunicado algo, isto , por meio dela o sujeito tem

    conscincia de poder-tornar algo de algum modo inteligvel para algum (KANT, I. Kritik der reinen

    Vernunft. B849 / A821). A sntese (subjetiva) alcanada por essa comunicao uma espcie

    de compreenso ou significao prtica de algo-possvel tornado algo com sentido mais ou menos

    claro para outro ser racional, isto , de algo que um certo sujeito racional pode dizer de tal e tal

    maneira e, consequentemente, ser entendido por um outro, resguardando a sempre a

    indeterminadade cognitiva do contedo significado e comunicado. Isso defendido por Kant em

    uma importante passagem da terceira Crtica: Crena (como Habitus, no como Actus) o modo

    de pensar moral da razo [die moralische Denkungsart der Vernunft] no tomar-por-verdadeiro aquilo

    que para o conhecimento terico inacessvel (Kritik der Urteilskraft 91, B462 / A456). Tomar-

    por-verdadeiro nada mais seria, grosso modo, do que um ato racional que se abre para a dimenso

    da comunicao dos (pensamentos de) sujeitos entre si; a dimenso na qual se torna algo-

    possvel (algo apenas pensvel) para um sujeito racional em algo-compreendido (algo com

    significado) por outro. Ora, tome-se como exemplo o modo como Kant justificou as assim

    chamadas ideias da razo, partindo de sua mera possibilidade

    sua evidncia ou autocompreensibilidade para todo e qualquer sujeito, na medida em que valem

    apenas como crenas (racionais) prticas. Orientamo-nos assim como se algo-possvel (tal como

    a liberdade) no apenas portasse significado para um sujeito, mas engendrasse significao para

    outro sujeito racional ao ser comunicada pelo ato habitual do pensamento de tomar-por-verdadeiro: a

    esse processo, no qual o pensar jamais pode colocar a pergunta pela determinadade do seu objeto,

    mas o conserva em sua plausibilidade semntica, o uso terico da razo no tem acesso, e por esse

    motivo sua validade no se encontraria na determinao normativa do entendimento sobre isso (o algo

    comunicado) que desde sempre subjetivo. Esse poder-comunicar algo no qual se cr, de tal modo que

    comporte significado para um outro, constitui-se enquanto busca subjetiva da razo [aus eigenen

    Vernunft] no estabelecimento de um horizonte de entendimento (Kant fala do conceito

    de berzeugung) com uma razo estranha [fremde Vernunft], horizonte esse que, por sua vez,

    jamais alcanaria validade objetiva. A partir dessas premissas, pretende-se mostrar como

    Nietzsche, sob essa tica, se torna um privilegiado interlocutor de Kant. Para tanto, pretendemos

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 13

    apresentar basicamente algumas teses sobre a crtica de Nietzsche noo de conscincia como

    capacidade de comunicao (entendida como vontade de estabilizao de sentido das vivncias

    e experincias dos indivduos) presente nos aforismos 354 de A Gaia Cincia e 268 de Para Alm de

    Bem e Mal. Neles, tornar-se- mais claro a irredutibilidade da proposta nietzscheana quanto ao fato

    de que em todo horizonte de comunicao, em todo horizonte de entendimento ou os dados ou

    fatos do mundo compartilhados so assumidos com a condio de que algum sempre pode mal ou

    diferentemente entend-los e comunic-los ou qualquer fator individualizante de qualquer viso e

    compreenso de mundo erradicado (em virtude daquilo que Nietzsche denomina perspectiva

    de rebanho).

    ***

    Ilustracin, ciencia y filosofa en el animal parlante: entre Kant y

    Nietzsche

    Arduino Tomasi

    (Universidad Casa Grande, Ecuador)

    Ser que antes hay que romperles los odos

    para que aprendan a or con los ojos? (Nietzsche, As habl Zaratustra)

    iek escribe que es mediante el reconocimiento de las huellas e improntas de un filsofo en

    nuestra experiencia cotidiana, cuando podemos dar cuenta de nuestra autntica medida de la

    pasin por l. Secundando esa postura, partimos de ah para proponer en el presente trabajo un

    anlisis de la crtica de Nietzsche al hombre moderno, con base en el discurso ilustrado

    inaugurado por Kant: la demanda del sapere aude y la aparente salida del hombre de una minora

    de edad. Y nos interrogamos: cmo leer hoy, en el marco de un aumento exponencial de

    produccin de tecnologas, de dilogos e interacciones en las hipermediaciones nunca antes visto

    (desde Twitter hasta Skype), de la (super)especializacin en alguna de las ramas de la ciencia, la

    crtica tanto al hombre moderno como al discurso ilustrado? Esto es, en ltima instancia, cmo

    mirar y escuchar al mundo contemporneo a travs de los gruesos lentes de Nietzsche, retomando

    su agudo sealamiento de que lo moderno se trata de un discurso de hombres vencidos y

    sometidos al nuevo dominio de la ciencia; lo cual, como seala Vanessa Lemm, va de la mano con

    una negacin de la animalidad del ser humano en tanto es interpretada como una amenaza a la

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 14

    humanidad, a la civilizacin. Por ello, el texto propone -a su vez- la necesidad de desempolvar el

    papel del autntico filsofo nietzscheano, aquel que, consciente de su animalidad, extiende su

    mano creadora hacia el futuro, como hombre necesario del maana y del pasado maana,

    derrumbando todo ideal del hoy.

    ***

    Nietzsche contra Kant: crtica da razo normativa e filocracia

    Bernardo Carvalho Oliveira

    (Ps-doutorando IFCS Universidade Federal do Rio de Janeiro)

    Para Nietzsche, a filosofia de Kant representa o refinamento dogmtico das estratgias teolgicas

    de dominao e produo de valores. E, de fato, se analisarmos os textos de Kant dedicados a

    pensar a histria e a poltica (sobretudo em Idia de uma histria universal de um ponto de vista

    cosmopolita), perceberemos alguns dos elementos listados por Nietzsche na constituio do tipo

    sacerdotal: a impessoalidade do pensamento gregrio, que se deseja para todos; a ciso entre

    mundo verdadeiro e mundo aparente representado pela introjeo moral da lei; a equivalncia

    das aes e a razo como elemento abstrato, externo e regulador. Mas, aos olhos de Nietzsche, o

    que parece limitar a crtica kantiana a edificao da razo como princpio puro, em outras

    palavras, como incondicionado. Justamente porque a convico o manteve inevitavelmente

    preso ao sono dogmtico, Kant no percebeu a razo como um valor que, com objetivos

    diversos, passou por uma srie de apropriaes e deformaes. Nietzsche, ao contrrio, pergunta:

    quem deseja a razo e por que desejvel reconhec-la como um a priori? no questionamento

    deste a priori que concentra seus ataques Kant. Deus est morto, mas Kant o substituiu por

    uma responsabilidade, cujo critrio de valorao permanece abstrato e impessoal. Assim, a

    filosofia crtica de Kant incorpora uma espcie de platonismo moderno, prefigurando um

    mundo coordenado por sbios e burocratas (ou filocratas), aptos a decodificar e cumprir a lei.

    Porque busca compreender as motivaes e nuances que direcionam a constituio do corpo social,

    a crtica nietzschiana acaba por indicar uma outra direo, vinculada necessidade de fomentar

    outras formas de vida e de pensamento em suma, uma outra possibilidade de filocracia,

    transfiguradora e de carter no-normativo.

    ***

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 15

    Apeiron and Noumena: Nietzsche on Anaximander and German

    Idealism

    Christopher Mountenay

    (Doutorando Duquesne University/Pittsburgh/USA)

    Nietzsches unfinished 1873 manuscript, Philosophy in the Tragic Age of the Greeks, has sadly been

    neglected by most scholars, but manages to provide a fascinating look at his philosophical

    evolution during a transitional period in his career. In his earliest work, Nietzsche had been a

    fairly devout Schopenhauerian, but PTAG shows some of his first conflict with his philosophical

    idol. While ostensibly a philological work on Pre-Platonic philosophy, PTAG is also a collection

    of philosophical archetypes that correspond to more contemporary figures.

    Perhaps the most blatant correspondence between a Greek master and his German doppelganger

    is the relation between Anaximander and Schopenhauer. While Schopenhauer never made any

    direct reference to Anaximander, Nietzsche believes that Schopenhauers philosophical pessimism

    and idea of cosmic justice originated in the Anaximander fragment. Nietzsche translates the

    fragment as saying Where the source of things is, to that place they must also pass away,

    according to necessity, for they must pay penance and be judged for their injustices, in accordance

    with the ordinance of time. To Nietzsche, the philosophical problem raised by Anaximander is

    primarily one regarding the notion of cosmic justice, particularly why it is that things come into

    existence and leave it. If things deserved to exist, would they not continue to exist indefinitely? If

    there is cosmic justice, then why is the world so transitory?

    Nietzsche believes that Anaximanders fragment corresponds to Schopenhauers own idea of

    cosmic justice. The world is consistently punishing itself for its own injustice. The cosmos acts as

    both executioner and executed. The things of this world do not exist eternally because they

    deserve to be destroyed. This, according to Nietzsche, is the first philosophical conception of the

    world that gives it a moral significance.

    Moreover, the world is broken into the transitory objects of becoming and the eternal being. For

    Anaximander this eternal being is the indefinite apeiron. Nietzsche equivocates the apeiron

    with later philosophical ideas that exist beyond the realm of perception, most notably the Kantian

    Ding-an-sich and the Schopenhauerian Will. Thus Anaximander is the author of the first

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 16

    philosophical system that attempts to explain away the imperfections of lived existence by laying

    down a more foundational world of eternal, unchanging being. Thus the Kantian tradition,

    continued by Schopenhauer, had its groundwork laid in the Milesian philosopher, Anaximander.

    ***

    Nietzsche: coisa em si, devir e falsificao

    Daniel Filipe Carvalho

    (Doutorando Universidade Federal de Minas Gerais)

    A comunicao pretende discutir a questo da teoria do erro ou tese da falsificao em

    Nietzsche, a qual pode ser suscintamente definida como a concepo segundo a qual os nossos

    sentidos e (ou) os nossos conceitos falsificam a realidade. As diversas abordagens do problema

    divergem no apenas em relao ao que falsifica, se nossos sentidos e nossos conceitos ou se apenas

    estes ltimos, mas tambm em relao ao que falsificado: a coisa em si, um caos de sensaes, um

    devir absoluto, um fluxo, etc. Inicia-se, pois, com uma breve apresentao da interpretao de

    Maudemarie Clak para o problema, seguida de objees que lhe foram endereadas por alguns

    autores, em especial por Batrice Han-Pile e Nadeem Hussain. Passa-se, ento, a uma anlise do

    tema a partir da obra Humano, demasiado humano, culminando com a anlise das passagens de

    Crepsculo dos dolos (A razo na filosofia, 2 e 3) segundo as quais os sentidos no mentem,

    o que fazemos do seu testemunho que introduz a mentira. Procura-se mostrar que a base para a

    tese de que o conhecimento falsifica estaria ligada, por um lado, leitura naturalizada do

    transcendental empreendida por Nietzsche (em dilogo com Friedrich Lange) e, por outro,

    aposta na ideia heraclitiana de devir (em dilogo com Afrikan Spir). A partir da interpretao da

    referida passagem procura-se mostrar que mesmo no contexto do perodo final da obra de

    Nietzsche mantm-se a tese da falsificao, na medida em que o filsofo pensa as condies

    perspectivas da vida em sua relao com o mundo do devir.

    ***

    Notas sobre Hegel, Nietzsche e a linguagem

    Erick Lima

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 17

    (Universidade de Braslia)

    Ao procurar caracterizar as tendncias diretivas da filosofia no sculo XX, Rorty sustentou, de

    forma bastante geral, que o linguistic turn se associou, sobretudo, a um nominalismo metodolgico

    que imprimiu filosofia terica um novo ritmo, a saber: a decidibilidade dos problemas

    tradicionais estaria circunscrita ou investigao emprica da relao entre universal e particular,

    ou anlise das regras de uso de expresses lingusticas (RORTY, 1962, 11). verdade que nem

    todas as tendncias comumente relacionadas a este movimento se deixam classificar, sem mais,

    sob a rubrica de um programa nominalista (WITTGENSTEIN, 1984, 1, 263/264). Seja como for, a

    virada lingustica deve o carter radical de sua principal imposio epistemolgica segundo a

    qual nos negado um acesso direto, no mediatizado pela linguagem, realidade nua a uma

    laboriosa gestao ainda no sculo XIX, emblematicamente por personagens como Frege e

    Humboldt (HABERMAS, 1999, 7 e 65-82). Hegel e Nietzsche no constavam, tradicionalmente,

    como nomes tpicos relacionados a esta gestao, embora tenham nutrido forte e especfico

    interesse pelas implicaes filosficas da linguagem. Na presente ocasio, eu gostaria,

    primeiramente, de perceber a relao de Hegel e Nietzsche a duas teses que me parecem bastante

    importantes para o linguistic turn em sua mais ampla envergadura, que abarca, para alm do

    nominalismo, as tendncias contextualistas e hermenuticas: por um lado, a ideia de uma tenso,

    constitutiva do meio lingustico, entre a singularidade da vivncia e o convencionalismo das

    expresses; por outro lado, a ideia de que a linguagem estrutura, em seu carter intersubjetivo, a

    experincia do mundo e, por conseguinte, a prpria cognio. Neste contexto, tentarei mostrar que

    e como, apesar de intimamente ligados, cada um a seu modo, ao direcionamento lingustico da

    filosofia contempornea, Hegel e Nietzsche no aderem ao nominalismo metodolgico usualmente

    associado a este direcionamento (1). Em segundo lugar, eu gostaria de indicar como Hegel e

    Nietzsche conectam respectivamente atravs da tese da incompletude intrnseca ao repertrio

    lingustico das posturas prtico-tericas culturalmente radicadas (a), e da tese da fluidez da forma

    e do sentido como base metodolgica da cincia histrica (b) suas consideraes sobre a

    linguagem crtica anti-essencialista da metafsica, bem como crtica da modernidade (2).

    ***

    Conhecimento e Verdade: uma abordagem acerca da objetividade

    do conhecimento a partir da crtica nietzschiana filosofia kantiana

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 18

    Gabriela Terra Deptulski

    (Mestranda Universidade Federal do Esprito Santo)

    De que modo so possveis os juzos sintticos a priori? se perguntava Kant.[...] Mas [...] chegou o

    tempo de substituir a pergunta de Kant: Como so possveis juzos sintticos a priori?, por uma

    outra pergunta: Por que necessria a crena em tais juzos? [...] (NIETZSCHE, Alm do Bem e do

    Mal, 11). Essa citao resume bem o tema da pesquisa que teve durao de um ano, feita pela

    atual mestranda Gabriela Terra Deptulski (UFES) durante a graduao nessa mesma universidade,

    sendo orientada pelo professor Fernando Mendes Pessoa. Tal pesquisa, agora em forma de

    comunicao, acontecer no mbito da abordagem nietzschiana a respeito dos conceitos

    conhecimento e verdade, tendo como foco principal a crtica ao modo kantiano de trat-los.

    Immanuel Kant, partindo da existncia de faculdades a priori do sujeito, ou seja, capacidades

    existentes necessariamente em todo e qualquer homem, afirma a existncia de um conhecimento

    capaz de criar juzos completamente objetivos. Friedrich Nietzsche questiona a existncia desse

    tipo de conhecimento, assim como de juzos desinteressados dele advindos (juzos esses aqui

    tratados como verdades absolutas). Nietzsche compreende que o conhecimento s possvel

    como uma pulso de conservao e superao que leva o homem no verdades absolutas, mas

    verdades histrico-temporais e condicionais. Para melhor compreender isso, primeiro se

    discursar a respeito de uma importante noo do pensamento nietzschiano: a vontade de

    verdade. Segundo Nietzsche, o que moveu Kant a fazer essa interpretao do conhecimento foi

    uma vontade de obter verdades eternas. Para Nietzsche, isso ocorre porque Kant mais um

    herdeiro da tradio que idealizou uma instncia atemporal e eterna, a qual seria possvel ao

    homem alcanar com seu conhecimento. Nesse sentido se esclarecer de que modo Nietzsche

    compreende a tradio filosfica como firmada a partir do modo de lida de um tipo de homem que

    se sente sempre impulsionado a criar para si algo eterno e imutvel; em seguida se discorrer

    porque Nietzsche entende que Kant continua e corrobora essa tradio. Por fim, a partir da crtica

    feita ao modo kantiano de abordar conhecimento e verdade, mostrar-se- a proposta nietzschiana

    de substituio da vontade de verdade por uma vontade de criao, o que abrir espao para

    apontar um novo modo de compreender conhecimento e verdade, a saber: no mais como

    possibilidade de fazer afirmaes incondicionais, mas sim como possibilidade de conservar e

    superar sempre condicionadas por diversos fatores, sejam eles momento histrico, cultura,

    experincias pessoais, etc.

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 19

    ***

    A crtica de Schopenhauer ao conceito de intuio emprica

    kantiana

    Gildete dos Santos Freitas

    (UNIMONTES/Doutoranda Universidade Federal de Minas Gerais)

    A Esttica Transcendental segundo a apreciao de Schopenhauer a parte mais coerente e

    original da filosofia kantiana, tanto que a teoria do tempo e do espao mantida na teoria do

    conhecimento schopenheaueriana como formas a priori da sensibilidade. Contudo, em relao

    Analtica Transcendental, Schopenhauer no faz uma apreciao afirmativa. Ele nega toda a

    Analtica, considerando-a a parte mais fracassada da filosofia de Kant, pois nela, ele no s

    manteve a lacuna acerca da intuio emprica (que no ficou bem esclarecida na Esttica) como a

    submeteu as suas doze categorias. Em seu texto Crtica da filosofia kantiana Schopenhauer apresenta

    seus argumentos contra a exposio kantiana acerca do processo cognitivo, que tem sua raiz na

    determinao de que a intuio possui um carter puramente sensvel e que por isso, a partir dela,

    no possvel cogitar um conhecimento propriamente dito, esse conhecimento para Kant uma

    tarefa que compete ao Entendimento com suas doze categorias. Porm, o Entendimento, de acordo

    com a Crtica da razo pura no est situado na esfera da intuio e sim na abstrao. O que

    Schopenhauer pretende marcar a aprioridade do conhecimento intuitivo em relao ao

    conhecimento abstrato. nesse ponto que ele pensou ser necessrio distinguir o conhecimento

    abstrato do conhecimento intuitivo. E aqui nos aproximamos do real motivo que levou

    Schopenhauer a rejeitar a teoria Kantiana, a saber, a falta de distino entre essas duas dimenses

    de conhecimento.

    ***

    Beleza e Bildung em Schiller e Nietzsche

    Giorgia Cecchinato

    (Universidade Federal de Minas Gerais)

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 20

    ***

    Sobre as Leis da Liberdade

    Imaculada Kangussu

    (Universidade Federal de Ouro Preto)

    Atravs da exegese e interpretao de passagens da Metafsica dos Costumes (1785), a proposta

    destacar, na fundamentao kantiana da tica, a autonomia atribuda ao sujeito. Como se sabe, ao

    apresentar as leis morais leis da liberdade sob a mxima do imperativo categrico, Kant no

    determina quais as normas a serem seguidas. Ao contrrio, a forma vazia deste atribui ao agente a

    responsabilidade no apenas da ao moral, como tambm a de estabelecer qual essa ao. A

    indeterminao normativa da lei moral ser apresentada no como o limite da tica universalista

    proposta pelo filsofo e sim, distintamente, como o mago irredutvel da autonomia moral,

    justamente por deixar o sujeito diante do abismo da liberdade. A ausncia de regras de condutas

    especficas a serem seguidas coloca-o na situao de responsvel por traduzir a injuno abstrata,

    incondicional e universal do imperativo categrico, em comportamentos concretos diante de

    realidades materiais. Surge ento a pergunta sobre como enfrentar a insegurana e o relativismo

    implicados na renncia s garantias das regras normativas, que a prpria condio da tica

    verdadeiramente autnoma. Julgamos poder encontrar na filosofia kantiana ndices para

    responder a tal questo.

    ***

    La Naturaleza como Arte y el Arte como Naturaleza

    Ins Moreno

    (Universidad de la Repblica del Uruguay)

    Afirmar que, para expresar en imgenes la apariencia de la msica el lrico concibe la naturaleza entera, y

    a s mismo dentro de ella, tan slo como lo eternamente volente, deseante, anhelante tal como lo expresa

    Nietzche en el Origen de la Tragedia, fue resultado de grandes transformaciones que la reflexin

    filosfica sobre el arte sufri desde la primaria definicin de la antigedad clsica del arte como

    mmesis. La intencin de diferenciar claramente la belleza natural y la artstica de la esttica

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 21

    moderna, se contrapone a la ingenua concepcin del arte como rplica del mundo. Los romnticos

    la expresan a travs de la inversin de la relacin de dependencia en la que la naturaleza deja de

    actuar como modelo exterior de la creacin artstica -y termina por transformar el concepto

    mismo de naturaleza. Defendiendo la creacin, como un impulso natural a partir del cual el artista

    produce; imitando, no a la naturaleza en su aspecto exterior, sino a su fuerza generadora. Es

    posible, atribuir a Kant el origen de la distincin clara entre belleza natural y belleza artstica que tuvo las

    consecuencias sealadas para la reflexin esttica? Aunque no encontramos en su teora sobre el arte

    ninguna afirmacin explcita en ese sentido, y su proyecto parece ser el opuesto: mostrar que en el

    arte rigen los mismos fundamentos considerados en la reflexin sobre la belleza natural, tal como

    lo formula al final de la Primera Introduccin a la obra mencionada. Detectamos, en su tratamiento

    de los problemas referentes al arte all, un alejamiento significativo de los problemas de los que se

    ocup en la primera parte de la obra relativos al juicio de gusto; fundamentalmente desde la

    necesidad de explicar y justificar la legitimidad de la aspiracin de universalidad para el juicio

    sobre lo bello. El conocido pasaje de la Tercera Crtica , puede ser la clave de esta cuestin La

    naturaleza era bella cuando al mismo tiempo pareca ser arte, y el arte no puede llamarse bello ms que

    cuando, teniendo nosotros conciencia de que es arte, sin embargo, parece naturaleza. ( 45)

    Me centrar en el anlisis de este pasaje observaciones realizadas Juan Fl ( Notas para una

    lectura sintomtica de la Crtica de la Facultad de Juzgar, Papeles de Trabajo, FHUCE, UDELAR.

    Noviembre 2005) quien considera que es posible encontrar rastros de una posible intencin de

    Kant de manera algo crptica- que apunta al hiato mencionado.

    ***

    Nietzsche contra Kant: a vulgarizao da filosofia transcendental

    Ildenilson Meireles

    (Universidade Estadual de Montes Claros)

    Nosso propsito apresentar alguns elementos que constituem certa interpretao nietzschiana de

    Kant que tem como escopo a vulgarizao da filosofia transcendental como filosofia insidiosa,

    perigosa e dogmtica, e que se consuma na caricatura feita por Nietzsche de um Kant

    comprometido com o ideal de verdade da tradio, de modo especial com o ideal do cristianismo.

    Nos orientamos pela perspectiva de que o Kant apresentado por Nietzsche nos escritos a partir de

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 22

    Aurora, mas principalmente e com mais nfase nos escritos a partir de Alm de Bem e Mal, faz parte

    de uma estratgia argumentativa que pretende tornar manifesta a filosofia transcendental como

    filosofia de fachada, isto , Nietzsche no considera que Kant tenha cumprido rigorosamente com

    seu projeto crtico por estar preso ao preconceito dogmtico, que alcanaria termo na formulao

    da distino coisa em si e fenmeno. As anlises feitas em Alm de Bem e Mal e posteriormente em O

    Anticristo representam todo o esforo de Nietzsche em mostrar que a filosofia transcendental de

    Kant, malgrado todo o ar solene de filosofia crtica, esconde em suas barbas um velho preconceito

    teolgico. O que interessa a Nietzsche nessa referncia direta a Kant como filsofo insidioso no

    propriamente uma contra-argumentao, no sentido meramente especulativo, em relao s teses

    defendidas por Kant, mas desmascarar a filosofia transcendental na sua pretenso ao

    conhecimento seguro e inserir os resultados alcanados por Kant, os xitos de seu projeto crtico,

    no quadro estrito de uma teologia. Pretendemos argumentar que o modo como Nietzsche ataca a

    filosofia de Kant parece revelar menos um desprezo que um profundo interesse de Nietzsche em

    recolocar os problemas epistmicos fundamentais da filosofia transcendental, desta feita no

    registro de um programa moral. Ao explicitar a considerao vulgar de filosofia transcendental

    objetivamos mostrar que as investidas de Nietzsche contra Kant fazem parte de uma estratgia

    argumentativa que lana luz sobre as questes fundamentais do debate filosfico-cultural da

    modernidade no sentido de abrir espao para uma considerao moral daquilo que Kant

    considerou propriamente um problema especulativo, o que nossa argumentao pretende mostrar.

    ***

    A More Severe Morality: Nietzsche's Critique of Kant

    Jennifer Lynn Hudgens Brown

    (DoutorandaUniversity of Kentucky, EUA)

    Immanuel Kants moral philosophy is notoriously severe, perhaps most famously because of his

    claim that truth is such an unconditional duty that exceptions to a duty to truth would destroy

    the universality on account of which alone they bear the name of principles (On a Supposed

    Right to Lie, 430, p. 67). Critics from Hegel to contemporary philosophers have accused Kant of

    being too rigid, formalistic, or strict. However, Nietzsches criticisms of Kants philosophy do not

    center around how severe Kantian moral philosophy is, but rather on how hypocritical and self-

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 23

    undermining Kantian moral philosophy is. Indeed, Nietzsche considers his own morality to be

    quite severe; after all, in a draft of a letter to Paul Ree from 1882, Nietzsche writes, referring to Lou

    von Salome She told me herself that she had no morality and I thought she had, like myself, a

    more severe morality than anybody. (The Portable Nietzsche, p. 102).

    I will move from Nietzsches earliest discussion of Kants moral theory in Human, All Too Human to

    his last in The Antichrist and attempt to explain how Nietzsches criticisms address real problems

    with Kants practical philosophy, particularly those pertaining to internal consistency. Nietzsches

    primary objections to Kant center around rejecting reason as primary in morality, universal

    morality and universal principles in morality on the grounds that such principles are impossible

    for limited human beings, as well as the fact that Kant appears to devalue subjective judgment and

    the individual in favor of purported objectivity and the value of humanity as a whole. I hope to

    show that while both Nietzsche and Kant claim to do critical work in the field of moral

    philosophy, Nietzsches criticisms of Kant are more internally consistent than Kants Critiques.

    ***

    Kant e Nietzsche: caminhos e descaminhos da razo

    Joo Bosco Batista

    (Universidade Federal de So Joo del-Rei)

    A crtica kantiana s provas tradicionais da existncia de Deus, o argumento cosmolgico e o

    fsico-teleolgico pertencem s aporias e problemas da teologia natural. Em outros termos, no

    possvel a demonstrao da existncia de Deus a partir do mundo. Kant contesta que, a partir do

    mundo contingente e condicionado, possamos chegar ao do incondicional absoluto, ainda que a

    razo necessite do ideal do Ser Supremo como seu princpio regulador e esteja tentada a deduzir

    sua realidade de um predicado lgico. Ele ressalta a finitude do sujeito cognoscente, mantendo ao

    mesmo tempo suas pretenses de autonomia e universalidade na ordem prtica, por meio da

    moral. O filsofo submete a ao moral do indivduo ao reino dos fins. Ao assumir o fim como

    um valor absoluto, no s subjetivo, estabelece-se uma meta objetiva em que se enraza o bem

    supremo em que convergem a virtude moral e a plenitude do homem. Desta forma, convergem

    deontologia e teleologia, imperativo categrico formal e o bem supremo como fim ltimo material

    que torna possvel a felicidade (agir em concordncia com as mximas universais). Deste modo, a

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 24

    racionalidade e a moral convergem e no podem se dissociar. A lei moral formal e abstrata,

    claramente dissociada da ordem natural (o dever inerente prpria razo obrigatoriedade

    moral). Kant um dos maiores intrpretes da filosofia da conscincia moderna (sujeito

    transcendental). Com Nietzsche, presenciamos a busca de um novo paradigma que rompe com a

    herana humanista da filosofia da conscincia (juntamente com Marx e Freud). Nietzsche liga-se ao

    vitalismo, como Schopenhauer, que contrape o saber experimental e vivencial ao racionalismo

    ilustrado, por meio de um enraizamento na corporeidade e mundanidade das sensaes (pura

    imanncia). Nietzsche combina a genealogia, como mtodo, para chegar s origens e relativizar os

    valores, e o perspectivismo, como enfoque pluralista e realce da situao histrica. Ele no parte da

    razo como fez Kant, mas analisa, como Hegel, seu processo ou devir. A razo no existe como

    uma entidade absoluta, todavia h diversas razes que se do sempre enquadradas numa

    linguagem e numa cultura. Da ser possvel falar em arbitrariedade da razo: as razes da razo

    no so mais que construes da vontade de poder, as racionalizaes no passam de projees

    subjetivas e arbitrrias que se impem na cultura, ou seja, de interpretaes moralistas e projees

    voluntaristas. Eis o impasse da razo!

    ***

    Metaphysics makes strange bedfellows: Nietzsche's Neo-Kantian

    Theory of Causality

    John P. McGuire

    (Pratt Institute & Hofstra University, EUA)

    Although Nietzsches views on causality have often been critically compared with those of Hume,

    surprisingly little attempt has been made to understand their relation to the views of Kant. What

    makes this especially surprising, is that Nietzsche himself invites such a comparison in Gay Science

    357, where he exhorts his reader to recall [] Kants tremendous question mark that he placed

    after the concept of causalitywithout like Hume, doubting its legitimacy altogether. What this

    passage suggests is not only that Nietzsche is not, as he has been often interpreted, a nihilist about

    causation, but also that he recognized in Kant a way of overcoming the causal nihilism he

    apparently attributes to Hume. My purpose in this paper will be to explicate what I take to be

    Nietzsches critical engagement with Kants views on the metaphysics of causality, and the role

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 25

    they play in shaping not only Nietzsches anti-Humean views about causation, but also his

    ultimately anti-Kantian views. Specifically, I will argue that Nietzsche finds in Kants conception

    of mutual causality, or the concept of reciprocal action or community, argued for in his Third

    Analogy of Experience (with which Nietzsche was likely familiar from his reading of Kuno

    Fishers commentary) an alternative to Humes metaphysics of causation. Where for Hume,

    causation involves, or is supposed to involve, a temporally asymmetric, dyadic, and external

    relation between discrete, distinct existences, which are usually understood as events, in the Third

    Analogy Kant argues, contra Hume, for a metaphysics of causation which involves a temporally

    symmetric, dyadic, and external relation between distinct existences, which Kant understands as

    substances. What Kant, I shall argue, inherits from Kants answer to Humes challenge is the

    concept of symmetrical causal relations, he rejects both Humes and Kants metaphysics of the

    relata that are the constituents of such a relation. On Nietzsches radicalization of Kants regional

    view of reciprocal action all causality is to be understood as involving a symmetric or reciprocal,

    dyadic, and internal relation between distinct existences, what Nietzsche understands as a relation

    between powers and their respective manifestations.

    Nietzsche rejects the metaphysics that underlies Kants solution to Humes problem of causality,

    namely the challenge of justifying a necessary connection in nature.

    Although Nietzsche allies himself with Kant against the nature and extent of Humes skepticism

    about causation, he nevertheless disagrees with Kant about the metaphysics that may be thought

    to legitimate the philosophical belief in causation. Where for Hume, any causation worthy of the

    name would have to involve a necessary, asymmetrical (temporal) relation between two events, on

    Kants alternative view (as articulated in the third Analogy)

    On Nietzsches view of causality, the causal relata are neither Humean events nor Kantian

    substances. Rather,

    ***

    The Will to Knowledge and the Will to Power

    Karen Walker

    (Doutoranda York University, Canad)

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 26

    Kants epistemology is subject to Nietzsches critique of skepticism (BGE, VI: 208). Kants

    philosophy is a skepticism in the sense that it claims that we cannot have propositional knowledge

    of the noumenal. For Kant, because we know that our judgements are subjective, we can conceive

    of an in itself that lies beyond knowledge, but we cannot experience or have knowledge of the

    noumenal. Kant thus wants philosophical thought to restrict itself to the realm of knowledge and

    abstain from the realm of the noumenal (whether conceived of as a substantial entity or as a limit

    concepti.e. depending on how Kant is interpreted). Nietzsche is critical of Kants skepticism

    because it is an example of binary thought. For Nietzsche, Western rationality has been defined by

    thinking in oppositions; a value can assert itself only in opposition to another value. Because

    values can be asserted only by saying no to what is, new values can only show up as the

    negation of what exists. This is to say that the Kantian framework of noumena/phenomena levels

    difference. Nietzsches contention with epistemology, then, is that it is a slave morality. Due to its

    levelled structure, the will to knowledge is unable to command; any new value asserted is

    qualitatively the same as existing values and differs only quantitatively. For example, the

    racialized subject is defined as the other of whiteness insofar as he or she is conceived of as lacking

    the characteristics attributed to whiteness, but metaphysical thought cannot conceive of the

    racialized subject as qualitatively different from the white subject. The will to knowledge is unable

    to command insofar as any new value remains within the horizon of an existing value structure;

    aesthetic production is impossible.

    Whereas the will to knowledge is a slave morality, the will to power commands. My paper will

    argue that, if the will to knowledge describes is a single perspective or a single imperative of

    power that levels other perspectives (such as the way that whiteness is dominates insofar as it

    appears not as the other of non-whiteness but as neutral), then the will to power describes a

    hierarchical structure of wills. I will further argue that, while this interpretation of the will to

    power interprets Nietzsche as claiming that domination in some form is necessary, such a

    hierarchy of wills is consistent with Nietzsches explicit rejection of racialized structures such as

    nationalism and anti-Semitism. As stated above, such forms of domination inhere in binary or

    levelled structures of thought and being rather than in the will to power.

    ***

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 27

    A esttica de Kant na genealogia da arte nietzcheana: gnio, forma

    e criao

    Laurici Vagner Gomes

    (Doutorando Universidade Federal de Minas Gerais)

    Em Humano, demasiado, humano, Nietzsche realiza uma genealogia da arte atravs da qual torna

    pblico, de maneira peculiar, uma problematizao dos prprios pilares de sustentao de sua

    chamada metafsica de artista do perodo de juventude. Atravs dessa genealogia, Nietzsche

    discute o processo de desenvolvimento da arte e sua manifestao na modernidade, construindo,

    entre outras, duas teses extremamente significativas, que nem sempre so lidas em sua conexo.

    Servindo como fio condutor do empreendimento desmistificador, a primeira tese afirma que,

    expulso da religio pelo iluminismo, o sentimento religioso encontrou acolhimento na arte, o que a

    tornou mais profunda e capaz de produzir efeitos que 27ietzschiana27 no lhe eram possveis.

    Nesse contexto, Nietzsche realiza uma desmistificao da figura do Gnio, demarcando seu

    carter humano e afirmando que a obra de arte tornar-se objeto de mistificao na medida em que

    seu vir-a-ser ocultado. Essa mistificao esta na base do que Nietzsche chama de culto ao Gnio.

    A segunda tese a que afirma a existncia de um progressivo processo de dessensualizao da arte.

    A evoluo da arte moderna exige um exerccio cada vez maior do intelecto que acaba por

    conduzir ao embotamento dos sentidos, neste percurso tanto a audio como a viso se

    intelectualizam e o prazer transferido para o crebro. Em grande medida, essa tese baseada na

    anlise do 27ietzsch evolutivo da msica moderna. Atravs da discusso sobre a noo de msica

    absoluta, o filsofo chega a constatao, no aforismo 215 de Humano, demasiado, humano, que o

    simbolismo da forma, e no a prpria forma, o pr-requisito para essa intelectualizao dos

    sentidos. No confronto com essas duas teses, nas obras do segundo perodo surge uma nova

    orientao esttica, que desemboca no conceito de estilo. O objetivo da comunicao , tendo em

    vista essa nova orientao, mostrar como essa tese da dessensualizao da arte envolve, alm de

    outros aspectos, uma problematizao da teleologia subjetiva da forma, como se apresenta na

    esttica kantiana, e tendo em vista que essa experincia da forma crucial na caracterizao da

    relao entre Arte e Natureza na Terceira Crtica, analisar como a abordagem 27ietzschiana nos

    conduz ao ponto frgil dessa caracterizao: o problema da intencionalidade envolvida na criao

    da forma artstica, que Kant procura responder atravs do estratgico conceito de Gnio.

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 28

    ***

    Nietzsche e a retomada do projeto crtico kantiano: discusso acerca

    da leitura deleuzeana

    Leonardo Arajo Oliveira

    (Graduando Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

    Clement Rosset acusa Deleuze de privilegiar, em sua interpretao da filosofia de Nietzsche, o

    aspecto crtico, e afirma que uma filosofia afirmadora da vida s pode ter, em si, a crtica, como um

    componente secundrio. Ora, a grande ruptura da filosofia de Nietzsche, enquanto um

    pensamento afirmador da vida, no teria sido precisamente esse deslocamento da crtica,

    retirando-a do centro da filosofia? Se no ocorresse dessa maneira, o autor de Ecce Homo no

    estaria ainda atrelado a uma tradio filosfica que culmina em Kant, autor do grande projeto

    crtico da histria da filosofia? Deleuze argumenta que Nietzsche retoma o projeto crtico kantiano,

    porm, com novas bases, ao ponto de marcar as diferenas entre Kant e Nietzsche do ponto de

    vista dos princpios e das conseqncias, e de afirmar que o plano da Genealogia da moral precisa

    ser pensado como uma reformulao da Crtica da razo pura; de modo que a inovao de

    Nietzsche, assim como interpretamos a leitura deleuzeana, no estaria em uma ruptura com a

    filosofia crtica, mas em uma nova concepo de crtica, que a levasse at o fim de sua potncia,

    abarcando, inclusive, o projeto kantiano de uma crtica totalizante e de uma concepo de filosofia

    que faa da crtica o seu aspecto mais positivo. O que se pretende com o presente texto discutir a

    interpretao deleuzeana da relao entre o pensamento de Nietzsche e o de Kant no que diz

    respeito crtica em filosofia, e para isso, sem ignorar contra-argumentos, como o de Rosset,

    necessita-se levar em conta, principalmente, alguns elementos da filosofia de Nietzsche, como a

    noo de valor, o conceito de vontade de potncia e o problema da vontade de verdade, bem como

    noes que Deleuze formula a partir do pensamento do criador de Zaratustra, como o problema da

    imagem do pensamento ponto de suma importncia dentro da reflexo sobre o aspecto crtico

    das filosofias de Kant e Nietzsche, pois nesse mbito que Deleuze pensa uma imagem dogmtica

    do pensamento, que, no atacada inteiramente pelo filsofo de Knigsberg, teria sido demolida

    apenas pelo filsofo do martelo, pois soube criar uma relao diferencial com a questo da

    verdade.

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 29

    ***

    A verdade na religio; consideraes schopenhauerianas acerca do

    aforismo 110 de Humano demasiado humano

    Leo Staudt

    (Universidade Federal de Santa Catarina)

    A comunicao pretende expor as diversas relaes entre religio e filosofia a partir do escrito de

    Schopenhauer sobre a religio, mostrando justamente que os dois personagens do dilogo,

    Demopheles e Philalethes, retratam os diferentes olhares, sombrios e cordiais, em relao ao valor

    da religio. E diferentemente do que Nietzsche afirma no aforismo 110 da obra Humano demasiado

    Humano, a concepo de Schopenhauer no pode ser simplesmente identificada com a do

    personagem Demopheles. No pensamento de Schopenhauer ns encontramos as duas posies.

    Por isto importante situar a origem comum da filosofia e da religio na necessidade metafsica de

    todo homem, e apontar as diferenas entre elas e em relao cincia. As diferenas que Nietzsche

    apresenta entre Iluminismo e Romantismo, as crticas que faz as religies j encontramos nos

    textos de Schopenhauer. E antes de a filosofia de Schopenhauer ser uma interpretao moral-

    religiosa dos homens e do mundo, ele parte da distino entre fenmeno e coisa-em-si, e no

    aceit-la, como Nietzsche o faz, por exemplo, no aforismo 10 de Humano demasiado Humano , altera

    toda compreenso da sua filosofia, no caso tambm da verdade na religio, nas cincias e na

    prpria filosofia. Tambm iremos apresentar uma interpretao do sentido alegrico da linguagem

    da religio a partir da esttica. Com isto o senso alegrico no conduz simplesmente superstio,

    ou expressa o carter mtico da linguagem na perspectiva iluminista/positivista, mas uma ponte

    que conduz a uma verdade intua e profundamente sentida. Por fim, daremos nfase s diferenas

    entre Religio, Filosofia e Cincia no pensamento de Schopenhauer, distanciando-se, ao mesmo

    tempo, do Iluminismo e do Romantismo. E se nele encontramos algumas convergncia com o

    Romantismo, com a tradio iluminista que procura pr fim s iluses e na opinio de

    Horkheimer, em a atualidade de Schopenhauer, um pessimista esclarecido. Penso que esta uma

    boa questo para tratar a temtica do modernidade a partir do pensamento de Nietzsche e

    Schopenhauer.

    ***

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 30

    Objees a Kant de Schulze a Nietzsche: Vermge eines Vermgens?

    Lucas Nascimento Machado

    (Mestrando Universidade de So Paulo)

    Em nossa apresentao, discutiremos as ligaes da crtica de Nietzsche a Kant, quanto sua

    fundamentao da filosofia (e, mais especificamente, dos juzos sintticos a priori) com crticas

    feitas a Kant por filsofos contemporneos a ele e tambm inseridos no que veio a se chamar de

    idealismo alemo, tais como Schulze e Jacobi. Nesse sentido, veremos que a objeo nietzschiana

    est intimamente a um problema central da filosofia crtica, sendo um dos principais fatores que

    estimulou o seu desenvolvimento posterior e, por conseguinte, o desenvolvimento do idealismo

    alemo como um todo. Mais do que isso, caber notar como a objeo de Nietzsche a Kant, ao tocar

    em um problema fundamental da filosofia crtica, toca tambm, em verdade, no problema da

    modernidade e sua possibilidade de auto-fundamentao por meio da razo. Em verdade, como

    pretendemos mostrar, precisamente por crticas do tipo que Nietzsche faz a Kant

    problematizarem a possibilidade de auto-fundamentao da razo por si prpria, ou da

    modernidade por meio da razo, que alguns dos filsofos de maior destaque do idealismo alemo,

    tais como Fichte, Schelling e Hegel, teriam visto a necessidade de reformular a filosofia crtica e

    30oloca-la acima de objees que, de maneiras fundamentais, se identificam com a objeo

    nietzschiana. Mais especificamente, veremos como as objees cticas de Schulze filosofia crtica

    so em larga medida idnticas objeo nietzschiana, na medida em que afirmam que Kant teria

    incorrido em petio de princpio, ao valer-se da mente como fundamento de nossas

    representaes e do conceito de coisa em-si. Em seguida, veremos como essas objees, por um

    lado, desencadeiam um processo de tentativas e esforos para proteger a filosofia crtica dos

    ataques cticos avanados por filsofos como Schulze e, por outro, j esto inseridas em uma

    dinmica fundamental ao idealismo alemo de embate entre ceticismo e filosofia, dinmica que j

    est em atuao na inaugurao do idealismo alemo pela Crtica da Razo Pura. Em outras

    palavras e em suma, buscaremos mostrar como a objeo de Nietzsche a Kant se insere no contexto

    do embate entre ceticismo e filosofia, de cujo resultado, por sua vez, depende o sucesso ou o

    fracasso de um projeto de modernidade, subjacente aos esforos de alguns dos filsofos de maior

    destaque do idealismo alemo.

    ***

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 31

    Suicdio e Valor da Vida em Nietzsche

    Lcio Vaz

    (Doutorando Universidade Federal de Minas Gerais)

    O texto realiza uma anlise crtica dos escritos de Nietzsche, publicados ou no, concernentes

    direta ou indiretamente ao suicdio. A estrutura geral de meus argumentos consiste em apontar a

    relao de sua filosofia com dois vizinhos tericos mais importantes: os estoicos e Kant. Em

    oposio ao segundo e aproximao dos primeiros, Nietzsche rejeita a possibilidade de avaliao

    sobre o valor da vida e o suicdio a partir de princpios universalmente vlidos e a fortiori de

    princpios morais universais. Entretanto, indo alm da ideia estoica de uma liberdade individual e

    singular de determinao do ponto de sada (eulogon exagog) da existncia, Nietzsche igualmente

    repele a doutrina prudencial de equilbrio e conteno prpria daquela escola helenstica. Por fim,

    mostro que a filosofia sobre o ato de se matar em Nietzsche, embora radicalizando a noo de uma

    singularidade do ato de se matar, guarda estreita ligao com uma valorizao muito pessoal sobre

    a histria da cultura e da vontade de poder.

    ***

    Nietzsche: para alm de uma simples crtica

    Luhan Galvo Alves

    (Graduando Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

    Em seus escritos, Nietzsche deixa claro o seu descontentamento com a tradio filosfica,

    promovendo uma srie de denncias s verdades produzidas e disseminadas pelo mundo ocidental,

    que ora circunscrevem o homem, para aqum de suas capacidades ora falseiam a realidade, para

    alm da cotidianidade. Para Nietzsche, as pessoas e seus maiores perscrutadores se resignaram em

    expor razes para a vida, para o mundo etc., esquecendo-se, porm, da prpria humanidade e da

    importncia de estarem a todo o momento criando, construindo, destruindo e interferindo na

    ordem preestabelecida.

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 32

    Nietzsche se preocupou com o que estava prximo, desta forma, rebaixou diversos temas

    recorrentes na filosofia, tratando-os como convices dogmticas imaginadas por profetas da

    verdade, indivduos mistificadores, covardes e amargurados com a vida. perceptvel o ataque

    que faz queles que restringiram a ao e o pensamento humano em nome da razo. Sua averso

    aos projetos filosficos de homens imoderados e incondicionais, que reflexionaram sobre a vida a

    partir de uma inapreensvel conscincia interior e uma incontornvel causalidade exterior revolve a

    uma dura censura estranha atitude filosfica de dizer sobre a liberdade humana, universalmente,

    o que, efetivamente, no passa de uma viso limitada a um intelectualismo particular.

    Estremecendo os pilares da razo (tradicional), da moralidade, da historicidade, das doutrinas

    teleolgicas e da constante insero da teologia dentro da filosofia, que, sob a aparente manta

    cientfica, proporcionou uma srie de dualidades ao conhecimento, Nietzsche se ps acima das

    crticas e levantou questionamentos que se desprendem da circunscrita liberdade oferecida pelos

    filsofos. No caso em questo, contundente a forma como confronta Kant, se referindo a ele como

    uma pessoa perigosa para as mais sublimes manifestaes do esprito.

    Abstendo-nos de agremiar uma das duas filosofias, encetamos a tarefa de explorar alguns aspectos

    antagnicos entre estes dois autores, ressaltando a postura de Nietzsche diante do que Kant

    chamou de liberdade prtica. Contudo, no restringimos a discusso liberdade. A conduo deste

    ensaio traz uma srie de temas recorrentes no campo tico, metafsico e outros temas capitais em

    seus pensamentos. A perspectiva no promover uma disputa entre os autores nem revelar fatores

    primrios ou secundrios na discusso, mas um ponto especfico, que permita o entendimento das

    duras crticas empreendidas por Nietzsche ao pensamento kantiano, evidenciando sua atitude

    antiptica s explicaes que tentam fundar caminhos e princpios estticos para o homem, para a

    vida e para o mundo.

    ***

    Paul Feyerabend um Nietzsche de nossa poca?

    Luiz Henrique de Lacerda Abraho

    (IFMG Ouro Preto/Doutorando Universidade Federal de Minas Gerais)

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 33

    Alguns intrpretes do pensamento nietzschiano, tais como Nola (1987) e Robinson (1999),

    sustentam uma categrica paridade entre certas noes epistemolgicas constitutivas da filosofia

    de Nietzsche (em particular a doutrina do perspectvivismo e uma tendncia naturalizao do

    conhecimento) com a investigao concernente ao conhecimento cientfico empreendida pelo fsico e

    filsofo austraco Paul Feyerabend. Estudiosos do corpus feyerabendiano, a exemplo de Corvi

    (1991), reiteram a similitude: reportam-se, para tanto, inicial situao marginal de ambos no

    cenrio acadmico de seu tempo, rejeio do realismo epistemolgico ou exaltao do esprito

    livre. Porm, uma anlise imanente dos escritos de Feyerabend indica um panorama bastante

    mais intricado. No existe qualquer referncia quelas noes em Contra o Mtodo (1975), A Cincia

    em uma Sociedade Livre (1978) ou Adeus Razo (1987), os livros mais significativos do austraco. Nas

    poucas vezes que Feyerabend referiu-se diretamente a Nietzsche, as fontes foram, exclusivamente,

    os pstumos A Filosofia na poca Trgica dos Gregos e Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-moral,

    ambos de 1873. Tais citaes, cujo contedo no engloba aquelas temticas, constam nos seguintes

    documentos: uma carta enviada em 1963 ao filsofo analtico Jack Smart, uma nota do artigo

    Reply to Criticism (1965), no ensaio Wissenschaft als Kunst (1984) e em dois escritos da coletnea

    A Conquista da Abundncia (1999). Fora isso, restam apenas outras duas menes ao pensador

    alemo: em sua autobiografia Matando o Tempo (1994), Feyerabend mencionou uma visita ao

    Nietzsche Haus Museum e adimitiu uma influncia da retrica de Assim Falou Zaratustra no perodo

    em que foi membro do exrcito nazista; e nos Dilogos sobre o Conhecimento (1991) classificou

    Nietzsche como um poeta sem talento potico, embora astucioso. Assim, partindo de um atento

    exame bibliogrfico, constatamos, em consonncia como Oberheim (2006), que Feyerabend no se

    filia textualmente s argumentaes nietzschianas com vistas a retomar, por exemplo, a teoria do

    conhecimento kantiana em chave scio-construtivista. Por isso, se entendida como expresso

    radical de uma filiao filosfica, a ilustrativa sugesto de Hollinger (1980) de que Feyerabend

    seria o Nietzsche de nossa poca nos parece inadequada. Com efeito, inspirados no estudo de

    Heit (2009), consideramos que uma hiptese de leitura mais frtil acerca da interlocuo filosfica

    entre aqueles pensadores consiste na verificao de suas releituras historiogrficas acerca do declnio

    espiritual da cultura helnica provocado pela emergncia do racionalismo filosfico ocidental.

    ***

    Das Verdades em Schopenhauer Negao da Verdade em

    Nietzsche

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 34

    Luiz Felipe Arajo

    (Universidade Federal de Viosa)

    Um dos traos caractersticos de Nietzsche que ele pode ser considerado como o eterno

    insatisfeito de vises unilineares do universo e da vida. Sua filosofia prova disso, principalmente

    com relao ao conhecimento e o problema da verdade. Eis uma temtica que acompanhar sua

    obra at o final, aprofundando e radicalizando sua postura. Todavia, poucos intrpretes

    aproximam essa reflexo sobre o conhecimento a partir da filosofia schopenhaueriana,

    principalmente quando o arquirrival de Hegel abre o segundo volume do Mundo como Vontade e

    como Representao, passagem esta marca claramente a tese inicial de Verdade e Mentira no sentido

    extramoral. Deve-se ressaltar que os problemas do conhecimento da realidade e da verdade

    perpassam a obra de Schopenhauer para adentrar no pensamento de Nietzsche, onde tais temas se

    radicalizaro. O Filsofo da Vontade em especial na sua primeira obra, derivada de sua tese

    doutoral, Da Quadrupla Raiz do Princpio da Razo Suficiente, se preocupa com o conceito de

    Verdade. Entretanto, Schopenhauer ainda est demasiadamente influenciado pela filosofia do seu

    tempo, quando todos os filsofos ainda tentavam reconstruir a possibilidade da Verdade aps a

    ciso kantiana. Schopenhauer assume a distino kantiana entre Coisa em Si e Fenmeno, que em

    sua Filosofia encontrar sua respectiva dualidade, mutatis mutandis, entre Vontade e

    Representao. Todavia, o Filsofo de Danzig, mesmo aceitando a existncia de um princpio

    metafsico, no aceitar que exista uma Verdade Metafsica. O que h para ele to somente uma

    essncia por detrs das coisas, uma realidade ocultada pela Representao, mas esse princpio no

    fundamenta a Verdade. O que importa nesta comunicao apresentar como as teses

    schopenhauerianas sobre a verdade (Verdade Lgica, Verdade Emprica, Verdade Transcendental

    e Verdade Metalgica) so relidas por Nietzsche no primeiro perodo de sua obra. O ponto de

    chegada para Nietzsche ser a completa negao da verdade, levada ao limite em relao prpria

    questo do conhecimento e da possibilidade do conhecimento. Nietzsche em muitos aspectos um

    continuador do projeto kantiano, mas alm de Kant e contra Kant.

    ***

    Schopenhauer: Things-in-themselves, Phenomena, and the

    Naturalization of Transcendental Philosophy

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 35

    Marco Segala

    (University of LAquila)

    Schopenhauers role in attracting Nietzsche towards philosophy is well known. Nietzsches

    enthusiasm for The world as will and representation, his deep acknowledgment of Schopenhauers

    importance in Schopenhauers as educator, and the comparison between the two philosophers

    notions of will are recurrent themes in scholarship. But some other elements of Schopenhauers

    philosophy deserve careful attention and can enlighten our understanding of Nietzsches approach

    to metaphysical problems.

    This paper will focus on the relationship Schopenhauer established between thing-in-itself and

    phenomenon and will analyse the image he proposed of himself as the authentic heir of Kantian

    philosophy. Such an investigation can contribute to understand how Nietzsche intended to posit

    himself in relation to the metaphysical tradition.

    Also this paper will show how Schopenhauer contributed to the development of the naturalized

    account of transcendental philosophy. Schopenhauer view of intellectual knowledge as a

    physiological process is an essential element of both his thought and his relationship with the

    Kantian tradition. A survey of both the importance of physiology in Schopenhauers analysis of

    knowledge and his extensive readings on neurophysiology will show how his main works defined

    a new interpretative paradigm of Kants

    transcendental philosophy. Already in the 1860s some authors (Noir and Lange) considered

    Schopenhauers version of the transcendental epistemology as essential to Darwinism and

    materialism. Such an intellectual history deserves closer attention if we want better understand

    Nietzsches ideas on the subject.

    ***

    Nietzsche on Truth and Science

    Matthew Keeler

    (Texas Tech University)

  • I Congresso Internacional Nietzsche e a Tradio Filosfica Nietzsche e a tradio kantiana

    Caderno de Resumos 36

    A recent and fruitful debate between Maudemarie Clark and Nadeem Hussain centers around the

    related questions of (a) whether Nietzsche holds a falsification thesis (the view that any claim we

    make is in principle false) and (b) whether and in what respect Nietzsche takes science to be a

    cogent explanatory worldview. Clark thinks that Nietzsche is a falsificationist in his early career, a

    position he later abandons once his mature thinking takes a more "scientific turn," while Hussain

    thinks that Nietzsche is a falsificationist throughout his career who nonetheless holds a coherent

    scientific outlook. The primary interpretive task for understanding Nietzsches view on truth is to

    reconcile (if possible) his disparaging remarks about traditional conceptions of truth and cognition

    with his apparent commitment to empiricism; for, as Hussain observes, "much of Nietzsche's

    philosophical work, in particular his famous critiques of Christianity and morality, seem to rest on

    empirical truths."

    I will argue that Nietzsche's invectives against truth and knowledge can be understood as a

    consequence of an anti-metaphysical methodology that rejects appeals not only to Kantian

    noumena but also the idea of beings broadly construed. The result of this rejection, for Nietzsche,

    is a collapse of the traditional distinction between appearance and reality: appearance is reality,

    where reality is no longer taken to be composed of noumena, but continuous change and

    becoming. Importantly, Nietzsche's view of the world as becoming neither commits him to a

    falsification thesis nor precludes his philosophy from an endorsement of empiricism, but, as we

    shall see, it does preclude the possibility of knowledge. The argument of this essay will be

    advanced in two sections: In the first, I will begin by discussing some important passages from

    Nietzsche's early work in order to draw out two different senses in which he uses the term "truth":

    one that refers to the apparent, sensible world, and one that refers to a supra-sensible, Kantian

    noumenal world. As will become clear, Nietzsche's attitude toward the prospect of truth in

    reference to the sensible world is primarily skeptical he practices Pyrrhonian epoch

    (suspension of judgment) wherever equipollent argument is possible. Such practice does not

    amount to a claim that there is no truth, only that the truth has not been unequivocally