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Caderno de Resoluções4º CONGRESSO DO SINDSAÚDE/PRCURITIBA, 21 A 24 DE JUNHO DE 2006

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C A D E R N O D E R E S O L U Ç Õ E S - 4 º C O N G R E S S O D O S I N D S A Ú D E / P R - 2 0 0 6

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Caderno de Resoluções do 4º Congresso é umapublicação do SindSaúde/PR - Sindicato dosTrabalhadores e Servidores Públicos Estaduaisdos Serviços de Saúde e Previdência do Paraná.

Coordenadora geralMaria José dos Santos Teske

Diretora de ComunicaçãoMari Elaine Rodella

OrganizaçãoLuiz Henrique HerrmannLys Barbosa CordeiroMarcos Armando Alves Pereira

Edição de ArteRaro de Oliveira

ImpressãoGráfica Popular

Tiragem2000 exemplares

As resoluções contidas neste carderno foramaprovadas na plenária final do 4º Congresso.Permitida a reprodução, desde que citada afonte. Novembro de 2006.

SindSaúdeRua Marechal Deodoro, 314, 8º andar,conjunto 801, Edifício Tibagi, Curitiba, Paraná.CEP 80010-010Telefones: (41) 3322.0921, fax (41) 3324.7386,[email protected]

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Este caderno de resoluções registra a grandiosidade dos temas, debates e conclusõesque foram produzidos durante o processo de construção e realização do 4º Congressodo SindSaúde/PR.

Para que o evento fosse realmente um espaço de debate qualificado, a Direção doSindSaúde/PR e a Comissão Organizadora implementaram um amplo processo demobilização da categoria. Para tanto, 45 plenárias foram realizadas para eleger a repre-sentação de servidores de todos os locais de trabalho. Este trabalho resultou na reuniãode 300 servidores durante os 4 dias de congresso.

Além das plenárias, realizamos 8 Oficinas de formação para analisar atentamente ostemas. Ao estudá-los com maior profundidade, os delegados qualificaram sua participa-ção no 4º Congresso.

Os temas “A saúde dos trabalhadores da saúde” e “Por um PCCS próprio da saúde”,assim como “Previdência e Seguridade Social”, foram debatidos sob a ótica da superaçãodo modelo capitalista que oprime os trabalhadores e que foi tema no primeiro dia, coma mesa “O Trabalho na Sociedade Capitalista”.

O texto aprovado na plenária final inclui análises das lutas dos trabalhadores e as açõespolíticas que deverão ser desenvolvidas pelos servidores da saúde pública do Paraná notriênio 2007-2010.

Portanto, esta publicação deverá ser de uso permanente dos servidores e da direção doSindSaúde/PR no sentido de orientar as lutas e reafirmar nosso compromisso com atransformação da sociedade e com a ampliação dos direitos da classe trabalhadora.

Ressaltamos que foi marcante o clima de confraternização, o crescimento da identidadeentre os servidores e o forte compromisso com nossa organização sindical.

Por fim, agradecemos os palestrantes que, ao partilhar conosco seus conhecimentos,contribuíram decididamente para o sucesso do 4º Congresso.

Direção do SindSaúde/PR

Apresentação

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Direção Estadual do SindSaúde /PRGestão Semeando e Colhendo Vitórias

Coordenação Geral:Maria José dos Santos TeskiSecretaria Geral:Aparecida de Oliveira Zorzi1ª Secretária:Jacqueline Cardoso Durat2ª Secretária:Maria Odete Vieira1ª Suplência:Tânia Maria Escorsin2ª Suplência:Cleuza de Azevedo CostaTesouraria Geral:José Carlos Nogueira1ª Tesoureira:Jocelina Ribeiro da Silva2ª Tesoureira:Tereza Marques Nunes1ª Suplência:Mariza Cristina Pacheco Ribeiro2ª Suplência:Maria de Fátima Mendes1º Delegado junto a Federação:Sueli Aparecida Vieira2º Delegado junto a Federação:Marina Dobrantz1ª Suplência:Marlene Pereira Ozório2ª Suplência:Manoel Furlan BarberoDepartamento de Política Sindical:Eliane Fontes PukanskiDiretor Adjunto:Beatriz Alves Lucindo FerreiraDepartamento de Formação Sindical:Cristiane Regina C. MullerDiretor Adjunto:Francisca Chagas BatistaDepto de Imprensa:Mari Elaine RodellaDiretor Adjunto:Mariza Potrich Compagnoni dos ReisDepto de Assuntos Jurídicos:Neiva Ione Correa da SilvaDiretor Adjunto:Tânia Maria Pancera GavioliDepto de Saúde e Segurança no Trabalho:Eloísa Helena de SouzaDiretor Adjunto:Antonio Carlos FerrariDepto de Rel. Inter-sindicaise Rel. de Trabalho:Hilda Maria ZelazowskiDiretor Adjunto:Anália Floriano dos Santos

Departamento de Políticas Sociais:Maria Cristina Hein LacerdaDiretor Adjunto:Marilene de BritoDepartamento de Política de Seguridade:Elza StoccoDiretor Adjunto:Vandira Rodrigues Madeira

Comissão Organizadora do4º Congresso do SindSaúde /PR

Adelia Aparecida de LaraAmauri da Silva NogueiraAna Maria GonçalvesDerli Pereira MayerEucléia KugnoskiEunice Schirlei Vieira MarquesFandilla Maria RossettoMarcia PrussakMarta da SilvaNeiva Maria TorquesSonia Marize Rodrigues da LuzTerezinha Pereira SilvaVanita MarcolinoZilta Rosa de Souza Augusto

PalestrantesMesa “O Trabalho na Sociedade Capitalista”Ranulfo PelosoCEPIS – São PauloTadeu VeneriDeputado Estadual PT-PR

Mesa “A Saúde do Trabalhador da Saúde”Guilherme AlbuquerqueMédico e professor da UFPRNanci Ferreira PintoAssistente social e servidora estadual

Mesa “Por um PCCS próprio”Silvia AlbertiniAssistente social e servidora estadualDenise AgostiniAdvogada trabalhista e assessora do SindSaúde/PRMari Elaine RodellaPsicóloga, direção do SindSaúde/PR

Mesa “Previdência e Seguridade Social”Ludimar RafanhimAdvogado, assessor do SindSaúde/PR

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Embora não possamos adivinhar o

tempo que será, temos, sim, o

direito de imaginar o que

queremos que seja. Em 1948 e

em 1976, as Nações Unidas

proclamaram extensas listas de

direitos humanos, mas a imensa

maioria da humanidade só tem o

direito de ver, ouvir e calar. Que

tal começarmos a exercer o jamais

proclamado direito de sonhar? Que

tal delirarmos um pouquinho?

Vamos fixar o olhar num ponto

além da infâmia para adivinhar

outro mundo possível:

o ar estará livre do veneno que

não vier dos medos humanos e das

humanas paixões;

as pessoas não serão dirigidas

pelos automóveis, nem

programadas pelo computador,

nem compradas pelo

supermercado e nem olhadas pelo

televisor;

o televisor deixará de ser o

membro mais importante da

família e será tratado como o ferro

de passar e a máquina de lavar

roupa;

as pessoas trabalharão para viver,

ao invés de viver para trabalhar;

será incorporado aos códigos

penais o delito da estupidez,

cometido por aqueles que vivem

para ter e para ganhar, ao invés de

viver apenas por viver, como canta

o pássaro sem saber que canta e

brinca a criança sem saber que

brinca;

os economistas não chamarão

nível de vida ao nível de consumo,

nem chamarão qualidade de vida à

qualidade de coisas;

os historiadores não acreditarão

que os países gostam de ser

invadidos;

os políticos não acreditarão que os

pobres gostam de comer

promessas;

a morte e o dinheiro perderão seus

mágicos poderes e nem por

falecimento nem por fortuna o

canalha será formado em virtuoso

cavaleiro;

o mundo já não estará em guerra

contra os pobres, mas contra a

pobreza, e a indústria militar não

terá outro remédio senão declarar-

se em falência;

a comida não será uma

mercadoria e nem a comunicação

um negócio, porque a comida e a

comunicação são direitos

humanos;

ninguém morrerá de fome, porque

ninguém morrerá de indigestão;

os meninos de rua não serão

tratados como lixo, porque não

haverá meninos de rua;

os meninos ricos não serão

tratados como se fossem dinheiro,

porque não haverá meninos ricos;

a educação não será um privilégio

de quem possa pagá-la;

a polícia não será o terror de

quem não possa comprá-la;

a justiça e a liberdade, irmãs

siamesas condenadas a viver

separadas, tornarão a se unir, bem

juntinhas, ombro contra ombro;

uma mulher, negra, será

presidente do Brasil, e outra

mulher, negra, será presidente dos

Estados Unidos da América; e uma

mulher índia governará a

Guatemala e outra o Peru;

serão reflorestados os desertos do

mundo e os desertos da alma;

os desesperados serão esperados e

os perdidos serão encontrados,

porque eles são os que se

desesperam de tanto esperar e os

que se perderam de tanto

procurar;

seremos compatriotas e

contemporâneos de todos os que

tenham aspiração de justiça e

aspiração de beleza, tenham

nascido onde tenham nascido e

tenham vivido quando tenham

vivido, sem que importem nem um

pouco as fronteiras do mapa ou do

tempo;

a perfeição continuará sendo um

aborrecido privilégio dos deuses;

mas neste mundo confuso e

fastidioso, cada noite será vivida

como se fosse a última e cada dia

como se fosse o primeiro.

Eduardo Galeano – trechos

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Resoluções aprovadas na Plenária Final

11 O trabalho na sociedade capitalista

12 A Saúde como terreno de luta dos trabalhadores

14 A defesa do SUS e a luta pela saúde dos trabalhadores

17 A saúde dos trabalhadores frente às mudanças do mundo do trabalho

19 Os impactos na saúde dos trabalhadores do setor público

20 A saúde do trabalhador como estratégia de luta sindical

21 Informação epidemiológica dos agravos relacionados ao trabalho

25 Por um PCCS próprio da saúde

31 Aposentadoria: o sonho que se torna pesadelo

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Grande presença da categoria foi um traço marcante do 4º Congresso

O proletariado é a classe dos que, não sendo proprietários

dos meios de produção, só possuem como propriedade sua

força de trabalho, que eles vendem por certo tempo à

burguesia, em troca de um salário

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O trabalhona sociedadecapitalista

No capitalismo o

aumento da riqueza

acumulada não significou

a melhoria da qualidade

de vida para todos

Vivemos numa sociedade capitalista, onde existem mui-tas desigualdades. Enquanto uma minoria concentragrande quantidade de riqueza e poder, vivendo em meioà fartura e ao luxo, a maioria das pessoas possui apenaso mínimo, às vezes nem isso, para a sua sobrevivência.

Na sociedade capitalista as classes sociais fundamentaissão: a burguesia e o proletariado.

A burguesia é a classe social formada pelos donos dosmeios de produção: das fábricas, das fazendas, dos ban-cos, dos grandes comércios, dos meios de comunica-ção e outros.

O proletariado é a classe dos que, não sendo proprietá-rios dos meios de produção, só possuem como propri-edade sua força de trabalho, que eles vendem por cer-to tempo à burguesia, em troca de um salário.

Os trabalhadores assalariados são “livres” para vendera sua força de trabalho, ou então, se não quiserem fazerisso, livres para morrer de fome. Quanto maior a abun-dância de força de trabalho, ou seja, quanto maior onúmero de desempregados, maior a facilidade da bur-guesia para impor piores salários e condições de traba-lho aos trabalhadores.

No capitalismo, a maioria que trabalha diretamente nãopossui meios de produção e quem possui meios de pro-dução não trabalha diretamente.

A burguesia usa a força de trabalho dos proletários parafazer funcionar seus meios de produção, e assim pro-duzir mercadorias para obter lucros. Com esse lucro,além de viver com muito luxo e conforto, os burguesesmelhoram em quantidade e qualidade seus meios deprodução, para produzir mais mercadorias e obter mai-ores lucros. Este processo, repetido todos os dias, échamado de acumulação de capital.

A contradição fundamental das relações de produçãocapitalistas se expressa entre o caráter cada vez maissocial da produção e a forma privada e cada vez maisconcentrada de apropriação da riqueza, determinadapela propriedade privada dos meios de produção.

Estas duas classes, a dos burgueses e dos proletários,têm interesses antagônicos e inconciliáveis, se uma ga-nha a outra obrigatoriamente perde. É fundamental com-preender que este conflito surge diretamente das for-mas de exploração e dominação capitalista, independen-temente da boa ou má intenção das pessoas.

É o trabalho dos homens e das mulheres que permite aprodução de meios de vida. O desenvolvimento das for-ças produtivas, ao longo da história, tornou capaz a pos-sibilidade da satisfação das necessidades elementares detoda a sociedade.

No capitalismo, no entanto, o aumento da riqueza acu-mulada não significou a melhoria da qualidade de vidapara todos, nem a possibilidade do aumento do tempolivre para os trabalhadores, através da redução das jor-nadas de trabalho. Verifica-se, ao contrário, que o avan-ço tecnológico tem acarretado o crescimento do de-semprego, da exploração e da miséria dos trabalhado-res, além de provocar a violência e a destruiçãoambiental a todos os cantos do planeta. Grande parteda humanidade continua passando fome, morrendo dedoenças preveníveis e/ou passíveis de tratamento, nãotem onde morar, não possui acesso ao lazer e sofreminúmeras outras formas de violência.

Cabe aos trabalhadores enfrentar, através de seus ins-trumentos de organização, o enorme desafio de supe-rar os limites do capitalismo, lutando por uma socieda-de em que não existam mais explorados nem explora-dores.

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Grande presença da categoria foi um traço marcante do 4º Congresso

A Saúde comoterreno de luta dostrabalhadoresA saúde da população resulta de um conjunto dedeterminantes e condicionantes relacionados ao traba-lho, a renda, a moradia, transporte, saneamento, lazer,liberdade, posse da terra e outros, incluindo o acessoaos serviços de saúde.

A produção de bens materiais organiza toda a vida soci-al. As relações estabelecidas no processo de produçãopelos diferentes grupos sociais, a partir da relação depropriedade que estes têm com os meios de produção,denominam-se relações de produção.

As relações de produção, ou seja, a forma como os di-ferentes grupos sociais se inserem no processo de pro-dução, define a divisão de classes sociais de uma socie-dade.

Após a Revolução Industrial, o núcleo da sociedade é aprodução, resultando em bens de produção e agentesde produção. Os aposentados, desempregados, crian-ças, donas de casa têm um status rebaixado na socieda-de.

O processo saúde-doença está determinado histórica esocialmente, relacionando-se diretamente com as for-mas de organização da produção e da apropriação dariqueza. Na nossa sociedade, a saúde da classe traba-lhadora é a expressão da exploração capitalista.

Nas sociedades capitalistas as condições de vida dos tra-balhadores refletem a história do conflito de interessesentre a reprodução do capital e a luta dos trabalhado-res em defesa de seus direitos, a este antagonismo en-tre as classes sociais chamamos de luta de classes. Aluta de classes expressa, em última instância, a correla-ção de forças política existente em uma determinadasociedade.

O Brasil é periférico no sistema capitalista internacio-nal, apesar de ser uma das maiores economias do mun-do. A história de profundas desigualdades sociais, evi-denciadas pela escandalosa concentração de renda, ri-queza e poder, repercute decisivamente para a atual si-tuação de saúde da maioria da população, denunciandoque os trabalhadores brasileiros são explorados econo-micamente e espoliados socialmente.

O aparelho de Estado sempre defendeu os interessesda classe dominante, garantindo por séculos a manu-tenção da escravidão, do monopólio da terra, do cerce-amento do direito de greve, das dificuldades de organi-zação dos trabalhadores nos locais de trabalho, do pre-cário investimento em “políticas sociais” e outros. OEstado cumpre o papel de organizar a dominação e aacumulação do capital.

O Estado nunca foi “neutro”, pois materializa uma rela-ção de forças sociais e políticas. O poder é uma relaçãosocial, portanto, não significa uma “coisa” que pode sertomada ou é produto da mera ocupação de cargos noaparelho de Estado. O poder se constitui num conjuntode relações políticas (econômicas, sociais, institucionais,ideológicas e militares) que expressam a correlação deforças de uma determinada sociedade.

A classe dominante, proprietária dos meios de produ-ção, detém o poder econômico e através do aparelho deEstado busca manter a dominação política na sociedade.

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A SAÚDE COMO TERRENO DE LUTA DOS TRABALHADORES

O Estado busca organizar a dominação e a acumulaçãodo capital valendo-se do consenso e da coerção. O con-senso traduz a legitimação do Estado através do apoiopolítico de setores da população e a coerção define agarantia da “manutenção da ordem” através da utiliza-ção do aparato jurídico-militar do Estado (muitas vezesvalendo-se da repressão de ditaduras civis ou militares).

A atuação dos meios de comunicação, das escolas, dasigrejas e da própria família colabora decisivamente paraa legitimação da sociedade capitalista, através da cons-trução do consenso (apoio).

Nos momentos de crise política, quando os mecanis-mos de construção de consensos já não são suficientespara garantir a exploração e a dominação dos trabalha-dores, é que o aparelho de Estado demonstra com mai-or clareza seu caráter de classe. Nesta hora as institui-ções políticas do Estado não vacilam em assumir a defe-sa dos interesses das classes dominantes, utilizando oaparato repressivo para garantir seus privilégios.

Todas as políticas do Estado possuem impacto diretosobre as condições de vida da população. Costuma-se,erroneamente, fragmentar a explicação da atuação doEstado diferenciando as chamadas políticas econômicasdas “políticas sociais”, como se as políticasmacroeconômicas não tivessem elevadíssimo impactosocial. Esta diferenciação se presta aos interesses da clas-se dominante, buscando mascarar os efeitos e afastaros trabalhadores das decisões econômicas.

As chamadas “políticas sociais” surgem como uma res-posta do Estado ao conflito da luta de classes, ou seja, àpressão organizada da classe trabalhadora. Pode-se afir-mar que as “políticas sociais” são produtos da dinâmicae da correlação de forças da luta de classes. As conquis-tas sempre foram frutos de intensas lutas dos trabalha-dores.

Existem momentos da história em que a mobilização eorganização dos trabalhadores conseguem impor con-quistas legais e ampliar os investimentos nas políticas desaúde, previdência, educação, moradia, reforma agráriae outros, voltados à melhoria das suas condições de vida.

É importante reconhecer o caráter contraditório daschamadas “políticas sociais”. As “políticas sociais” nãoobjetivam inviabilizar os lucros do capital, mas visamamenizar os conflitos existentes na sociedade. No en-tanto, contraditoriamente, este processo também inte-ressa aos trabalhadores que buscam ver incorporadassuas demandas pelo Estado.

É importante buscar compreender a dinâmica da lutade classes. Entendendo que a classe dominante neces-sita manipular (cooptar) setores da classe trabalhadora,visando manter o “controle da situação”, preservandoa sua iniciativa política e a garantia da reprodução docapital (hegemonia).

As “políticas sociais” configuram um campo de conflitode interesses, tanto na sua formulação como na suaimplementação, ainda mais se incidirem diretamentesobre as facilidades de lucro dos patrões.

O Estado e as entidades que defendem os interesses daclasse dominante sempre buscaram bloquear, desviar eimpedir o desenvolvimento autônomo e independentedos movimentos sindical e popular. Para isso, adotampráticas autoritárias que restringem o acesso às infor-mações, cortam direitos dos trabalhadores e esvaziamos mecanismos de participação – limitando suas atribui-ções, retardando decisões ou remetendo-as às instân-cias superiores – ou, ainda, freqüentemente se utilizamda compra (cooptação) de lideranças populares em trocade benefícios pessoais ou políticos.

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Foram as lutas dos trabalhadores no Brasil, ao longo dahistória, que permitiram a conquista legal do SistemaÚnico de Saúde – SUS, com seus princípios de atençãointegral à saúde para todos e direito da participaçãopopular na formulação e fiscalização das políticas de saú-de.

O novo arcabouço jurídico inscrito na Constituição de1988 deu origem ao SUS e incorporou várias conquis-tas, fruto desta longa trajetória de lutas dos movimen-tos sindical e popular.

Tornar direitos reconhecidos em lei em direito de fatoe ir além, são tarefas de todos aqueles que lutam pelaconsolidação de um sistema público de saúde no Brasil.

Os movimentos sindical e popular devem lutar pelaampliação do espaço público na definição e controle daspolíticas do Estado, desde as políticas macroeconômicas

até as chamadas “políticas sociais”. Pautando essa atua-ção pela postura autônoma e independente, sem se res-tringir à lógica da dinâmica institucional dos conselhos econferências de saúde.

A defesa da Seguridade Social – Saúde, Previdência eAssistência Social – assume caráter estratégico para osmovimentos dos trabalhadores.

É fundamental resistir aos ataques do capital contra aSeguridade Social, entendendo que esta luta não podese restringir à defesa de um sistema público de saúde,previdência e assistência social, mas exige profundastransformações na sociedade que alterem a estruturada distribuição de renda, riqueza e poder no país.

Em suma, estão em disputa diferentes projetos políti-cos de sociedade.

A defesa da

Seguridade

Social – Saúde,

Previdência e

Assistência

Social – assume

caráter

estratégico para

os movimentos

dos

trabalhadores.

Delegação dos servidores de locais de trabalho da 10ª RS – Cascavel

A defesa do SUS e aluta pela saúde dostrabalhadores

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1. Exigir profundas mudanças na política econômica,com a imediata suspensão do pagamento da dívidaexterna, fim do superávit fiscal, drástica redução dosjuros e efetivação de ampla reforma urbana e agrá-ria.

2. Participação do SindSaúde nas lutas gerais, incenti-vando a organização e o envolvimento de todos ostrabalhadores no enfrentamento das situações deexploração e dominação.

3. Incentivar a criação de Fóruns Populares de Saúdeem todos os municípios.

4. Criar instrumentos de formação permanente paraos trabalhadores da saúde nos aspectos políticos esociais, através do Coletivo de Formação doSindSaúde e do Fórum Popular de Saúde – FOPS,visando a reflexão crítica dos rumos da construçãodo SUS-Paraná e a transformação da sociedade.

5. Denunciar permanentemente a precariedade daatenção à saúde no Estado do Paraná, utilizando to-dos os meios de comunicação existentes, organi-zando a luta dos trabalhadores da saúde.

6. Exigir o imediato cumprimento e regulamentaçãoda EC-29.

7. Denunciar à sociedade o descumprimento da Emen-da Constitucional nº 29 (EC-29) pelo governo doEstado do Paraná, que no período de 2000 a 2004deixou de investir aproximadamente 1 bilhão e 600mil reais na saúde.

8. Cobrar a assinatura de Termo de Compromisso, pe-los candidatos ao executivo estadual nas eleições2006, onde se comprometam a investir nas ações eserviços de saúde a totalidade dos recursos finan-ceiros previstos na EC-29.

9. Organizar os trabalhadores do SUS na luta pelo fi-nanciamento da saúde.

10. Combater todas as formas de terceirização, exigin-do a realização imediata de concurso público paratodos os setores da Secretaria do Estado da saúdedo Paraná, garantindo educação permanente paratodos os trabalhadores da saúde.

11. Exigir o cumprimento da data-base, garantindo areposição de perdas e aumentos reais de salário aostrabalhadores da administração pública do Paraná.

12. Lutar pela revisão das leis que tratam dos benefíci-os de vale-transporte e vale-alimentação, lutando

pela garantia da participação dos trabalhadores nasua elaboração.

13. Lutar pelo direito de escolher, por meio de eleiçãodireta, as chefias dos locais de trabalho, que deve-rão ser servidores de carreira, impedindo que aven-tureiros sem qualificação profissional e perfil assu-mam cargos de coordenação na saúde pública.

14. Organizar dossiê das terceirizações, desvios de fun-ções e levantamento do número de estagiários esuas tarefas para denunciar irregularidades.

15. Lutar pela regulamentação do número e das fun-ções dos estagiários que atuam no serviço públicoestadual, estabelecendo que os estagiários não ve-nham a exercer atividades com o intuito de substi-tuir a carência de servidores de carreira, mas queos estágios sejam direcionados ao aprendizado e aformação do estudante.

16. Fazer levantamento do número de servidores quevêm sendo substituídos por estagiários eterceirizados, lutando pela realização de concursopúblico para o preenchimento dessas vagas.

17. Organizar encontros periódicos com os represen-tantes do Sindsaúde nos conselhos municipais e es-tadual de saúde, organizados pelo Coletivo de For-mação do SindSaúde.

18. Divulgar e cobrar o cumprimento das resoluçõesdas Conferências de Saúde, através do Boletim In-formativo do Sindsaúde.

19. Lutar pela imediata criação de Conselhos Gestoresnos Hospitais próprios ou conveniados/contratadosao SUS e nos Hemonúcleos, de caráter deliberativoe composição paritária (50% usuários, 25% traba-lhadores de saúde e 25% gestores), permitindo aparticipação dos trabalhadores e suas representa-ções na definição das diretrizes, prioridades e con-cepções de trabalho dos serviços de saúde.

20. Inserir na pauta de reivindicação do Sindicato apriorização da formação/capacitação permanentedas equipes de saúde.

21. Organizar amplo debate sobre o Serviço de Assis-tência à Saúde do Servidor – SAS no segundo se-mestre de 2006.

22. Elaborar fita de vídeo com as palestras e debatesdo 4º Congresso do SindSaúde, visando à ampla di-vulgação nos locais de trabalho.

Propostas:

A DEFESA DO SUS E A LUTA PELA SAÚDE DOS TRABALHADORES

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O uso de novas tecnologias e as mudanças nos

métodos gerenciais ampliou o desemprego e a

precarização das relações de trabalho.

Representantes da 20ª RS – Toledo

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O agravamento da crise mundial do capitalismo traz asmarcas da violenta intensificação da exploração da for-ça de trabalho, do reduzido crescimento econômico eda ampliação do desemprego, provocando uma maiorfragilização dos movimentos sindical e popular, fatos querepresentam um grande desafio para luta e a organiza-ção dos trabalhadores.

A reestruturação produtiva do capital, desencadeada nopaís a partir da década de 90, trouxe conseqüênciasdanosas à saúde do trabalhador. O uso de novastecnologias e as mudanças nos métodos gerenciais am-pliou o desemprego e a precarização das relações detrabalho. A desregulamentação e perda de direitos tra-balhistas e sociais, através da legalização do trabalhotemporário e da informalização do trabalho, têm reper-cutido diretamente nas condições de saúde dos traba-lhadores.

A precarização das relações de trabalho vem acompa-nhada da intensificação e/ou aumento das jornadas detrabalho, com acúmulo de funções, maior exposição afatores de risco, descumprimento da legislação de pro-teção à saúde, rebaixamento dos níveis salariais e au-mento da instabilidade. A terceirização e a flexibilização(bancos de horas, contratos temporários e outros) sig-nificam “maior liberdade” para as empresas exploraremos trabalhadores, buscando impor menores salários epiores condições de trabalho.

A precarização das condições de trabalho e saúde, empaíses da periferia do sistema capitalista, como o Brasil,encontra uma desigual capacidade de organização sin-dical dos trabalhadores, refletindo diretamente sobre oviver, o adoecer e o morrer destes trabalhadores.

Modifica-se no Brasil o perfil de adoecimento dos tra-balhadores. Persistem os elevados números de aciden-tes e doenças relacionadas ao trabalho, característicosdo período anterior à reestruturação produtiva (que serelacionam fundamentalmente aos agentes químicos, fí-sicos, biológicos e mecânicos), e surgem, de maneiraexplosiva, os agravos decorrentes do processo dereestruturação, principalmente as lesões por esforçosrepetitivos – LER, o estresse, os transtornos mentais,as doenças cardiovasculares, os cânceres e outros. Esteduplo perfil epidemiológico, em que se associam anti-gos e novos problemas de saúde, expressa a dimensãoda perversidade e complexidade do problema.

Os riscos/cargas e danos à saúde, que existem nos am-bientes e processos de trabalho, são causados direta-mente pelas relações de produção capitalistas. A suaresolução depende muito mais de relações de poder ede capacidade reivindicativa do que de problemas téc-nicos.

A organização autônoma e independente dos trabalha-dores frente aos governos e os patrões são imprescin-díveis para alterar a atual correlação de forças e buscara retomada da iniciativa política pelos trabalhadores.

A saúde dostrabalhadoresfrente às mudançasdo mundo dotrabalho

Os riscos/cargas e danos à

saúde, que existem nos

ambientes e processos de

trabalho, são causados

diretamente pelas relações

de produção capitalistas.

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Trabalho em grupo: oportunizou a troca de informações e aprofundou conhecimentos

Os trabalhadores do setor público são quem

faz acontecer as políticas públicas, e neste

contexto sofrem diretamente os efeitos do

desmonte do aparelho de Estado.

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O agravamento da crise capitalista pressiona duplamentea execução das chamadas “políticas sociais”. Por um ladoocorre o aumento das demandas das classes trabalha-doras devido ao desemprego e precarização das condi-ções de vida, por outro, aguça o ataque voraz do capitalaos recursos públicos.

A implementação dos programas de ajuste fiscal no país,seguindo os ditames do Fundo Monetário Internacional– FMI, levou à redução do investimento público em “po-líticas sociais”; à privatização dos serviços públicos po-tencialmente lucrativos; e à retirada de direitos traba-lhistas e previdenciários dos trabalhadores.

O constante desfinanciamento das chamadas “políticassociais” e a não realização de concursos públicos têmsucateado os serviços, comprometendo a qualidade doatendimento à população. Simultaneamente, sãoimplementadas “seletivamente” diferentes formas deprivatização dos serviços que podem gerar lucro aoscapitalistas (venda do patrimônio público; terceirizações;consórcios; organizações sociais – OS; organizações dasociedade civil de interesse público – OSCIPs; parceriaspúblico-privado – PPPs; cooperativas de mão-de-obrae outros).

Os trabalhadores do setor público são quem faz acon-tecer as políticas públicas, e neste contexto sofrem di-retamente os efeitos do desmonte do aparelho de Esta-do.

A Constituição Federal estabelece que “A saúde é direi-

to de todos e dever do Estado”, no entanto, é evidentea contradição entre as atribuições do Estado de pro-mover a atenção integral à saúde da população e de fis-calizar o cumprimento da legislação sanitária, e sua atu-ação como contratante de força de trabalho.

Os serviços de saúde ocupacional e as perícias médicasno setor público estão organizados de forma idênticaaos serviços existentes nas empresas privadas. Basean-do-se em um modelo explicativo reducionista (médico-biológico), que não busca considerar o saber dos traba-lhadores e, em geral, nega-se a reconhecer a relação dotrabalho com o aparecimento de doenças como as le-sões por esforços repetitivos – LER, doençascardiovasculares, transtornos mentais e outras. Confi-gura-se em um modelo patronal, tecnicista e distancia-do dos trabalhadores. Além disso, não há garantias detratamento e reabilitação dos trabalhadores com seqüe-las de agravos relacionados ao trabalho.

O campo de atuação da saúde do trabalhador, entendi-do como um conjunto de saberes e práticas, de caráterinterdisciplinar e interinstitucional, influenciado direta-mente pelo movimento da medicina social latino-ame-ricana e da experiência italiana de reforma sanitária, re-conhece a determinação social do processo saúde-do-ença e confere ao trabalhador um papel de protagonis-ta da transformação dos ambientes e condições nocivasà saúde. A saúde do trabalhador e a saúde ocupacionalnão são sinônimos, pois expressam bases teórico-conceituais e prático-metodológicas muito diferentes.

Os impactos nasaúde dostrabalhadores dosetor público

O constante desfinanciamento das chamadas

“políticas sociais” e a não realização de concursos

públicos têm sucateado os serviços, comprometendo

a qualidade do atendimento à população.

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O objetivo maior dos trabalhadores e de suas organiza-ções não pode se limitar a reivindicar leis mais avança-das, uma maior vigilância externa sobre o local e traba-lho ou o cumprimento da legislação existente. O objeti-vo deve ser o de tornar efetiva a proposta sindical detransformação da organização do processo de trabalhoatravés da análise, previsão e eliminação dos riscos/car-gas do trabalho, realizada pelos trabalhadores, atravésde suas organizações por local de trabalho e a partir desuas experiências, valores e expectativas.

A organização por local de trabalho torna-se indispen-sável para a efetiva modificação da nocividade dos am-bientes e processos de trabalho e para a conquista damelhoria das condições de saúde. Neste processo sãofundamentais os instrumentos de formação política.

A política de formação sindical deve contemplar a análi-se de determinantes, riscos e danos à saúde; a interven-ção política e o controle da organização do trabalho (bus-cando transformar as necessidades e problemas de saú-de em lutas coletivas dos trabalhadores).

A saúde dotrabalhador comoestratégia de lutasindical

O debate sobre a situação da saúde dos trabalhadoresdo setor público requer uma profunda análise das trans-formações que vêm ocorrendo no mundo do trabalhoe no Estado brasileiro, visando identificar e compreen-der a relação entre as causas estruturais/fatores gera-dores e seus impactos na saúde dos trabalhadores.

Ampliar este debate entre os sindicatos de trabalhado-res, estruturando os Coletivos de Saúde e ampliando amobilização e a organização nos locais de trabalho; bus-car construir políticas de atuação junto aos trabalhado-res informalizados e precarizados; apoiar a organizaçãodos trabalhadores vitimados pelo trabalho; e fortalecerinstrumentos de luta como os Fóruns Populares de Saú-de – FOPS constituem-se em tarefas prioritárias dosmovimentos sindical e popular para o próximo perío-do.

A organização desta base social constitui-se em elementofundamental para a resistência e a efetivação de con-quistas, muitas delas, inclusive, já previstas em lei.

Trabalho em grupo: sem organização e luta não há saúde

A organização

por local de

trabalho torna-

se indispensável

para a efetiva

modificação da

nocividade dos

ambientes e

processos de

trabalho

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Informaçãoepidemiológicados agravosrelacionados aotrabalhoNa administração pública do Estado do Paraná existemevidências da ocorrência de muitos acidentes e doen-ças relacionadas ao trabalho, mas o conhecimento dascondições de saúde dos trabalhadores encontra-se en-coberto pela precária informação disponível. Pode-seafirmar que existe um verdadeiro silêncioepidemiológico sobre a situação de saúdedos trabalhadores do setorpúblico.

Inexistem avaliações dos ris-cos presentes nos ambientese processos de trabalho, nãosão realizadas ações demonitoramento da saúde dostrabalhadores, não sãodisponibilizadas as informa-ções sobre a situação de saú-de dos trabalhadores, apesarde existirem inúmeras ativida-des penosas, insalubres e peri-gosas sendo executadas pelosetor público.

Entre os trabalhadores do SUSsão inúmeros os fatores relacio-nados à organização do trabalhopotencialmente geradores deagravos à saúde, como: a desvalorização do trabalho;pouco reconhecimento social da atividade profissional;o convívio com a dor e o sofrimento dos usuários; osbaixos salários; a centralização das decisões administra-tivas; gestão autoritária; a diminuição dos espaços dediscussão coletiva; tripla jornada; formação deficiente;postura corporal; ruído; intensidade do processo de tra-balho; inexistência de pausas; culpabilização pelos re-sultados negativos; e exposição a contaminantes quími-

VEJA AS PROPOSTAS NAS PÁGINAS SEGUINTES >

cos, físicos e biológicos. Soma-se a esse quadro ainfraestrutura precária, a burocratização e hierar-quização das relações de trabalho, bem como a carên-cia de recursos materiais e humanos que acentuam asobrecarga de trabalho desses trabalhadores.

As chamadas “políticas de humanização” do SUS visamesconder as raízes do mau atendimento à população,na medida em que não reconhecem os reais fatores ge-radores do descontentamento. Estas políticas ignorama organização do trabalho e os trabalhadores dos servi-ços de saúde, especialmente a escassez de pessoal, asobrecarga de trabalho decorrente da demanda porserviços de saúde pública, as limitações de atendimento

fruto do reduzido investimento emsaúde, a desvalorização dos traba-lhadores, a ausência decapacitação permanente e outros.Fala-se de uma pretensa“humanização” como se os ser-viços de saúde não fossem exe-cutados por e para seres huma-nos.

Torna-se urgente a democrati-zação do acesso às informaçõessobre a saúde dos trabalhado-res do setor público, que de-verão estar disponíveis nosbancos de dados do SUS. Faz-se necessário o levantamen-to dos acidentes e suspeitasde doenças relacionadas aotrabalho, desagregando as in-

formações por tipo de agravo,local da ocorrência e causas. Estas informações deve-rão orientar a adoção de medidas de proteção à saúde.

A participação ativa dos trabalhadores é indispensável,somente com a mobilização e a organização dos traba-lhadores nos locais de trabalho é que será possível im-por a implementação de medidas que eliminem ou re-duzam ao mínimo a nocividade dos ambientes e pro-cessos de trabalho.

As chamadas

“políticas de

humanização” do SUS

visam esconder as

raízes do mau

atendimento à

população, na medida

em que não

reconhecem os reais

fatores geradores do

descontentamento.

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1. Estabelecer política de organização e formação sin-dical que contemple a análise de determinantes,riscos/cargas e danos à saúde, visando organizar aluta contra a nocividade dos ambientes e proces-sos de trabalho (transformar as necessidades e pro-blemas de saúde em lutas coletivas dos trabalha-dores).

2. Criar e fortalecer a organização dos trabalhadoresnos locais de trabalho – OLTs.

3. Realizar oficinas de trabalho para discutir mapa derisco e organização por local de trabalho – OLT,estimulando a criação de comissões de saúde dotrabalhador em todos os locais de trabalho.

4. Instituir formas de lutas coletivas contra anocividade dos ambientes e processos de traba-lho, partindo do entendimento de que os trabalha-dores não devem delegar aos patrões e seus re-presentantes a tutela sobre a sua saúde.

5. Lutar contra as terceirizações, denunciando aprecarização das relações de trabalho.

6. Lutar pela regulamentação da redução da jornadade trabalho para 30 horas semanais, diminuindo aexposição ao conjunto de riscos/cargas existentesno processo de trabalho.

7. Estimular os trabalhadores para que procurem osindicato em casos de acidentes e doenças relacio-nadas ao trabalho, realizando a denúncia veemen-

Propostas:te dos casos de assédio moral e sexual, com pre-enchimento da CAT – Comunicação de Acidentede Trabalho, implementando lutas para tipificaressas condutas violentas como crimes nas relaçõesde trabalho.

8. Lutar pela garantia do direito à informação sobreos riscos existentes em ambientes e processos detrabalho, pelo reconhecimento do direito de recu-sa ao trabalho em condições de risco grave e emi-nente e pela não monetização dos riscos (a saúdenão se vende!).

9. Lutar pela criação de um sistema de informaçãosobre agravos relacionados ao trabalho, que con-temple os trabalhadores do setor público, garan-tindo a transparência e o amplo acesso às informa-ções.

10. Lutar pela garantia dos direitos de todos os traba-lhadores acometidos por agravos relacionados aotrabalho (reconhecimento do nexo, tratamento edireitos previdenciários e trabalhistas).

11. Lutar para que sejam instituídas, de comum acor-do com os sindicatos dos trabalhadores, instânciaspara recorrer de laudos e condutas da perícia mé-dica, nos casos em que existam questionamentospor parte dos trabalhadores doentes ou em licen-ça.

12. Incentivar os trabalhadores a encaminharem de-núncias das condições nocivas de trabalho ao

A força da classe trabalhadora reside na sua capacidade de organização

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SindSaúde e aos órgãos de fiscalização da saúde dotrabalhador. O Sindicato deverá divulgar os ende-reços e telefones dos órgãos de fiscalização emsaúde do trabalhador.

13. Lutar pela instalação de um sistema permanentede negociação, procurando envolver as esferas degoverno federal, estadual e municipal, objetivandodemocratizar a gestão do trabalho no setor públi-co.

14. Organizar lutas conjuntas com outros sindicatos detrabalhadores dos setores público e privado, emespecial, com as categorias de trabalhadores doSUS.

15. Lutar pelo estabelecimento de uma política de re-cursos humanos que assegure a valorização,profissionalização e a atenção integral à saúde dostrabalhadores, implementando a NOB/RH/SUS.

16. Priorizar o fortalecimento de instrumentos de lutados trabalhadores, que extrapolem os limites dacategoria, como o Fórum Popular de Saúde – FOPS,APLER, CNTSS e CUT.

17. Participar das lutas nacionais em defesa da saúdedo conjunto da classe trabalhadora:

• Apoio ao Projeto de Lei Federal nº3307/04, doDeputado Federal Roberto Gouveia, que regula-menta a organização das ações e serviços de saúdedo trabalhador no país.

• Lutar pela aprovação da PEC 393/01, que reduza jornada dos trabalhadores do setor privado de44 horas semanais para 40 horas e 35 horas sema-nais, sem redução de salário, combinada com es-tratégias que permitam controlar os ritmos e a in-tensidade de trabalho.

• Redução das horas extras através de legislaçãoespecífica, fixando limites máximos – anuais, semes-trais, mensais e diários – de horas extras por tra-balhador.

• Instituir as Comissões de Saúde, Trabalho e MeioAmbiente com autonomia e totalmente eleitas pe-los trabalhadores, em substituição às CIPAS, inde-pendentemente do número de trabalhadores, danatureza do trabalho e grau de risco.

• Defesa do Seguro de Acidente do Trabalho - SAT

Público.

• Estabelecer o nexo epidemiológico dos agravosrelacionados ao trabalho na concessão de benefí-cios previdenciários, invertendo o ônus da prova.

• Apoio ao chamamento de CPI para apurar a co-nivência entre peritos do INSS e médicos de em-presa.

• Exigir a imediata implementação das ações re-gressivas pelo INSS, visando o ressarcimento à pre-vidência pelas empresas que causem danos à saú-de do trabalhador.

18. Sensibilizar as universidades para realizar estudossobre a saúde dos trabalhadores do SUS.

19. Elaboração de um questionário padrão, peloSindSaúde, para que se estabeleça um diagnósticodos problemas de saúde dos trabalhadores, emtodos os locais de trabalho.

20. Retomar a discussão do projeto da Comissão In-terna de Saúde e Segurança – CISS.

21. Exigir que o Estado desenvolva uma política de saú-de do trabalhador para o servidor, que venha a sercumprida e fiscalizada, contemplando: programasde formação e informação quanto aos agravos àsaúde do trabalhador e a obrigatoriedade de exa-mes periódicos (médicos, laboratoriais e examespsicológicos), a serem registrados no prontuáriode cada trabalhador.

22. Exigir a imediata realização de concurso públicopara eliminar a sobrecarga de trabalho.

23. Realizar o levantamento dos recursos humanosexistentes nos locais de trabalho, visando identifi-car o número de trabalhadores necessários paraevitar a sobrecarga e o desgaste nos processos detrabalho.

24. Difundir informações entre os trabalhadores so-bre a necessidade do preenchimento da CAT, emtodos os casos de acidentes e suspeitas de doen-ças relacionadas ao trabalho, para formalizaçãodestas ocorrências.

25. Que toda CAT emitida seja encaminhada uma có-pia ao Sindicato e que se abra um processo de in-vestigação.

INFORMAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DOS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO

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Ser trabalhador da saúde é lidar com o delicado instante

entre a vida e a morte, trabalhar consciente de que

qualquer erro pode ser fatal. Portanto, há uma grande

exigência de concentração, qualificação e tranqüilidade

para tomar decisões de tamanha repercussão. Diante

dessa caracterização do trabalho na saúde é que

conquistamos o direito a ter PCCS próprio.

Categoria se confraterniza com direção sindical

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O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE EO PLANO DE CARGOS, CARREIRAS ESALÁRIOS – PCCS

A história de transformação no sistema público de saú-de brasileiro – AIS, SUDS, SUS – foi impulsionada peloconceito de valorizar o direito à saúde e à vida.

A partir da promulgação da Constituição Federal de1988, a saúde passou a ser dever do Estado e direito docidadão, conflitando com a forma excludente de orga-nização da sociedade capitalista. O SUS prevê o acessouniversal e a atenção integral à saúde.

Na sua concepção, o SUS ultrapassa a lógica na qualsomente tem acesso a ações de saúde aquelas pessoasque possuíam carteira assinada e que contribuíam parao extinto INAMPS, ou aqueles que eram atendidos pelamisericórdia das “Santas Casas”, ou ainda, aqueles quetinham dinheiro para pagar.

Em dezembro de 1990, foi aprovada a Lei Federal 8.142.Essa lei criou critérios para que ocorresse o repasse deverbas do Ministério da Saúde para os Estados e para osMunicípios. Destaca-se, entre os critérios, aobrigatoriedade de criar Conselhos de Saúde, FundoMunicipal e Estadual de Saúde e obriga a criar Plano deCarreiras, Cargos e Salários - PCCS próprio para os tra-balhadores do SUS.

Naquela época, já havia a compreensão da importânciade criar mecanismos para conferir valorização aos tra-balhadores da saúde. Por isso, a citada lei exigiu a cria-ção de PCCS próprio. Esse dispositivo, na Lei 8.142/90,demonstra o reconhecimento das especificidades dotrabalho na área da saúde. Prevalece a convicção de quetrabalhar na saúde é estar exposto a permanentes situ-ações de tensão, que geram acentuado desgaste psico-lógico e físico. Ser trabalhador da saúde é lidar com odelicado instante entre a vida e a morte, trabalhar cons-ciente de que qualquer erro pode ser fatal. Portanto, háuma grande exigência de concentração, qualificação etranqüilidade para tomar decisões de tamanha reper-cussão. Diante dessa caracterização do trabalho na saú-de é que conquistamos o direito a ter PCCS próprio.

Aprovar um PCCS do SUS é reconhecer a especificidadeda natureza do trabalho dos profissionais da saúde quelidam diariamente com várias patologias, com o sofri-mento das pessoas nos mais diversos ambientes, muitasvezes insalubres e perigosos.

MOVIMENTONACIONAL

Na década de 90, os trabalhadores da saúde, previdên-cia e assistência social organizaram a ConfederaçãoNacional de Trabalhadores de Seguridade Social -CNTSS/CUT. A CNTSS/CUT vem representando naci-onalmente os trabalhadores da Seguridade Social e de-fendendo os interesses dos trabalhadores dessa áreajunto ao Ministério da Saúde e aos Conselhos de Secre-tários Estaduais e Municipais de Saúde.

Os movimentos dos trabalhadores da Seguridade Socialtêm participado de vários espaços de pactuação: Co-missão Intersetorial de Recursos Humanos (CIRH), MesaNacional de Negociação e Comissões Especiais. Há umaComissão que debate a contratação dos trabalhadoresde saúde por outros meios que não o concurso público,e outra Comissão responsável pela elaboração da pro-posta de diretrizes dos PCCS no âmbito do SUS.

Como conseqüência desses diversos processos demobilização, surgiu o consenso de que era preciso cons-truir uma Norma que orientasse de forma única a ges-tão do trabalho no SUS, independentemente do vínculodo trabalhador de saúde. Foi assim que, após sete anosde debate, foi concluído o texto da Norma OperacionalBásica de Recursos Humanos do SUS (NOB/RH/SUS).Esta norma é muito importante, porém, os trabalhado-res ainda não conhecem o seu conteúdo. Os gestoresdo SUS, por sua vez, passaram a ignorar o texto da NOB/RH/SUS.

Toda essa movimentação gerou um texto que propõeelementos que devem constituir o PCCS-SUS. A idéia éque o PCCS seja efetivamente um instrumento de ges-tão de pessoal, instituindo uma política de ingresso, evo-lução, desenvolvimento e avaliação. Essa proposiçãoconstruída entre trabalhadores e gestores transformou-se em projeto de lei federal que está tramitando naCâmara de Deputados.

Por um PCCSpróprio da saúde

Cabe aos trabalhadores

conhecer o que estabelece a

NOB/RH/SUS e exigir o seu

cumprimento.

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LOCALIZANDOA LUTA NO PARANÁ

No período compreendido entre 1994 e 2003, o Esta-do do Paraná foi administrado seguindo os interessesdo capitalismo. O então governador Jaime Lerner colo-cou em ação o projeto de destruição da função do Esta-do, privatizando o que fosse possível. Muitas autarquiasforam extintas ou foram transformadas em serviços dedireito autônomo, leia-se, privado. Todas as categoriasde servidores sofreram o desmonte do aparelho públi-co e o arrocho salarial imposto. A política era para,deliberadamente, causar desânimo, insatisfação e trans-formar o trabalho público em um “bico”.

Foi nessa lógica que, em 2000, o ex-governador Lernerdecretou que os órgãos públicos passariam a funcionarapenas meio período. Na saúde houve oaprofundamento da precarização da relação de traba-lho.

Não havia espaço, naquele período da história, paraconquistar o PCCS próprio. Pelo contrário, o que defato aconteceu foi um grande retrocesso. Até 1997, osservidores da saúde encontravam-se num quadro pró-prio. Com certeza, esse quadro necessitava de atualiza-ção, pois o PCCS datava de 1984, mas a máquinaavassaladora de Lerner destruiu a carreira da saúde,colocando os servidores da saúde junto com demaisservidores do chamado Quadro Geral (QG).

Com certeza, esta atitude significou tomar a contramãoda história de lutas.

Já em 2002, de forma autoritária e unilateral, o governoLerner enviou mensagem de lei à Assembléia Legislativaonde fazia a transposição dos servidores do QG para oQuadro Próprio do Poder Executivo (QPPE). Demons-trando insatisfação e resistência, o SindSaúde, junto comoutros sindicatos do Fórum das Entidades Sindicais, con-testou o texto proposto pelo executivo. Nossoposicionamento público era contrário à forma como oPCCS do QPPE fora elaborado, ou seja, sem nenhumadiscussão com os sindicatos. O conteúdo do projeto delei também continha graves distorções.

Muitas contestações foram explicitadas nas reuniões comdeputados e com representantes do governo, mas nadasurtiu efeito. Sem debater com os sindicatos, deputa-dos da base do governo aprovaram o projeto de lei cri-ando o QPPE em julho de 2002.

Desde então, 40 mil servidores vivem sob a égide daLei 13.666/02. O SindSaúde manteve a defesa da im-plantação dessa lei em função da possibilidade da ob-tenção de ganhos financeiros com a implementação dapromoção, da progressão e da Gratificação de Ativida-de em Saúde - GAS. Era uma maneira de conseguirminimizar as perdas de oito anos sem reposição salari-al. De toda forma, sabíamos que o conteúdo da lei tra-

zia graves incorreções. Os mais prejudicados foram osaposentados que não tiveram a aplicação da isonomiaconforme garante a Constituição Federal. Além do que,servidores da ativa poderiam ter tido sua situação funci-onal corrigida, mas por insensibilidade e desinteressedos poderes executivo e legislativo, os erros se perpe-tuam. Com isso, queremos reafirmar que os ocupantesdas funções de auxiliar de laboratório, atendentes defarmácia, agente de saneamento e atendentes de enfer-magem possuem incontestável direito à correção na clas-sificação. O governo do Estado finge ignorar o proble-ma.

A partir dos fatos acima relatados, e seguindo as delibe-rações do 3º Congresso do SindSaúde, buscou-se orga-nizar a discussão sobre os eixos do PCCS Próprio daSaúde. Já no início do governo Requião, o SindSaúdeentregou à Sesa/Isep uma proposta de PCCS.

O Plano Estadual de Saúde (Sesa/Isep), elaborado em2003, estabelece como meta a “constituição de comis-são paritária de gestores e trabalhadores para negociaro texto do PCCS próprio”. O empenho do SindSaúdeprovocou o agendamento de reuniões com a Diretoriade Recursos Humanos da Sesa/Isep, visando elaborar otexto do projeto de lei. Infelizmente, a proposta de cons-

O Plano Estadual de Saúde

(Sesa/Isep), elaborado em

2003, estabelece como meta

a “constituição de comissão

paritária de gestores e

trabalhadores para negociar

o texto do PCCS próprio”

Mesa de seguridade e previdência

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trução do Plano de Cargos, Carreiras e Salários – PCCSPróprio da Saúde não evoluiu devido à falta de vontadepolítica da Sesa/Isep.

ELEMENTOSCONSTITUTIVOSDE UM PCCS

O PCCS é um instrumento fundamental no desenvolvi-mento profissional, estabelece mecanismos para quali-ficação, progressão e promoção profissional, define cri-térios de remuneração, de evolução salarial e avaliaçãode desempenho.

Alguns conceitos são fundamentais para entendermoso significado e importância de um PCCS.

O plano de carreira é o conjunto de normas que discipli-nam o ingresso e instituem oportunidades e estímulos aodesenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhado-res de forma a contribuir com a qualificação dos serviçosprestados pelos órgãos e instituições, constituindo-se eminstrumento de gestão da política de pessoal.

A carreira é a trajetória do trabalhador desde seu ingres-so no cargo ou emprego até o seu desligamento, regidapor regras específicas de ingresso, desenvolvimento pro-fissional, remuneração e avaliação de desempenho.

O cargo é o conjunto de atribuições assemelhadas quan-to à natureza das ações e às qualificações exigidas deseus ocupantes, com responsabilidades previstas na es-trutura organizacional e vínculo de trabalho estatutário.

A partir da análise da situação jurídico-funcional de umtrabalhador será estabelecido o cargo ou emprego, clas-se e padrão de vencimento ou de salário.

As Classes devem ser organizadas de acordo com osníveis básico, técnico e universitário.Resumindo, os Planos de Cargos, Carreira e Salários(PCCSs) tem por função garantir o constante aperfei-çoamento, a qualificação e a formação profissional, per-mitindo a evolução ininterrupta dos trabalhadores doSUS na carreira. Além do que busca melhorar aresolutividade das ações e serviços de saúde e a melhorqualidade do SUS.

Os cargos de direção, chefia, assessoramento egerenciamento da gestão do Sistema Único de Saúde,devem ser preenchidos por trabalhadores da carreirado SUS, eleitos diretamente pelos trabalhadores de saú-de. Essa defesa se sustenta no sentido de inibir osdesmandos que temos visto acontecer com muita fre-qüência. Há cargos de livre provimento que não possu-em perfil profissional para definir a política pública desaúde.

POR UM PCCS PRÓPRIO DA SAÚDE

Expositores apresentam suas formulações sobre as conseqüências maléficas do capitalismo

VEJA AS PROPOSTAS NAS PÁGINAS SEGUINTES >

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PARA O PRÓXIMO PERÍODO PROPOMOSPRIORIZAR A LUTA PELA IMPLANTAÇÃO DOPLANO DE CARGOS, CARREIRAS E SALÁRIOS– PCCS PRÓPRIO DA SAÚDE, CONTENDO OSSEGUINTES EIXOS:

1. Orientar todo o plano pelas diretrizes da propostanacional de PCCS para o SUS, considerando asespecificidades e importância social das atividadesdesenvolvidas pelos trabalhadores da saúde.

2. Criar mecanismos automáticos de enquadramentoe promoção pela maior habilitação profissional, comrespectiva remuneração.

3. Por ocasião da implantação do novo PCCS, enqua-drar os servidores em classe e nível quecorresponda a valor imediatamente superior à to-talidade dos vencimentos, nestes incluído o valorda Gratificação de Atividade em Saúde – GAS.

4. Por ocasião da implantação do novo PCCS, asse-gurar a todos os servidores reposição salarial cor-respondente a 10% incidindo sobre a totalidadeda remuneração dos servidores após o novoreenquadramento, ou seja, reenquadra-se o servi-dor na forma mencionada anteriormente e sobreeste valor aplica-se a reposição de 10%.

5. Lutar pela criação de mecanismos, na Lei do PCCS,que estabeleçam critérios de avanço na carreira quevalorizem os servidores efetivamente comprome-tidos com o Sistema Único de Saúde.

6. Lutar pela criação de mecanismos, na Lei do PCCS,que estabeleçam critérios de avanço na carreira quelevem em consideração a escolaridade, os cursosrealizados, o tempo de serviço do trabalhador e oseu merecimento, alternadamente.

7. Lutar pela isonomia entre os percentuais propor-cionais das tabelas salariais de primeiro, segundo eterceiro graus.

8. Lutar para que a Gratificação de Atividade em Saú-de – GAS seja transformada em vencimentos efeti-vos, com reajustes de acordo com os índices decorreção salarial.

9. Criar mecanismos que assegure a gestão compar-tilhada da carreira dos servidores, inclusive comavaliação do desempenho das chefias pelos traba-

lhadores, como condição de sua manutenção nocargo.

10. Estabelecer mecanismos que transforme o PCCSem instrumento de gestão; e que os cargos de di-reção, coordenação e supervisão sejam exercidosexclusivamente por servidores de carreira, eleitosdiretamente pelos trabalhadores da saúde.

11. Criar mecanismos de formação permanente dosservidores com vistas à valorização funcional e ma-nutenção da qualidade do serviço público.

12. Defender o concurso público como único meiode ingresso no serviço público, na forma do artigo37 da Constituição Federal.

13. Criar mecanismos de avanço na carreira que valo-rizem a dedicação exclusiva ao SUS.

14. Criar mecanismos de avanço na carreira que valo-rizem o merecimento do servidor sem transfor-mar estes instrumentos em competitividade entreos servidores.

15. Incluir no PCCS Próprio da Saúde a jornada de tra-balho máxima de 30 horas semanais, respeitando-se as legislações federais específicas.

16. Cobrar a assinatura de Termo de Compromisso,pelos candidatos ao executivo estadual nas eleições2006, onde se comprometam a propor a regula-mentação da jornada de trabalho de 30 horas se-manais na saúde.

17. Criar um grupo de trabalho para estudo intensivodo texto da NOB/RH/SUS, por meio do Departa-mento de Formação do SindSaúde, contemplan-do, pelo menos, um representante de cada Regio-nal, eleito pelos trabalhadores, com divulgação atra-vés dos meios de comunicação do SindSaúde. Estegrupo deverá assumir a responsabilidade de divul-gar à NOB/RH/SUS, promovendo debates com acategoria e com os demais trabalhadores do SUS.

18. Promover o debate da NOB/RH/SUS e do PCCSPróprio da Saúde nos conselhos de saúde e proporesta discussão na Comissão Intergestores Bipartite– CIB.

19. Lutar pela reinstalação da Mesa Estadual de Nego-ciação Permanente do SUS, incluindo os trabalha-dores do serviço público estadual, municipal e fe-deral.

Propostas:

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POR UM PCCS PRÓPRIO DA SAÚDE

20. Requerer à Sesa-PR a descrição de todas as atri-buições que fazem parte das atividades dos servi-dores cedidos a outras instituições ou serviços.

21. Estabelecer calendário de mobilização em defesado PCCS Próprio da Saúde cobrando a execuçãodo Plano Estadual de Saúde.

22. Realizar mobilizações nas visitas do governador aosmunicípios, cobrando com faixas e outros meiosde expressão, a implantação do PCCS Próprio daSaúde.

23. Apresentar a proposta de criação do PCCS Pró-prio da Saúde para os candidatos ao governo doEstado/2006, buscando a assinatura de termo decompromisso que garanta a efetiva implantação doPCCS e a participação dos trabalhadores do SUSna sua elaboração.

24. Propor a constituição de uma comissão paritáriade negociação, com poder de decisão, entre Sindi-cato e as secretarias de governo envolvidas (SEFA,SEAP, SESA, SEPLA) com objetivo de negociar otexto da lei que criará o PCCS Próprio da Saúde.

25. Levar a proposta de lei do PCCS Próprio da Saúdeao conhecimento dos deputados, da Comissão de

Saúde da Assembléia Legislativa e realizar audiên-cias públicas para dar visibilidade a essa reivindica-ção.

26. Divulgar, através dos meios de comunicação e con-selhos de saúde, o não cumprimento da lei federalnº8142/90, no que se refere à obrigatoriedade daelaboração do PCCS próprio do SUS, por partedos gestores do setor saúde e as conseqüênciasresultantes desse descumprimento.

27. Divulgar amplamente os serviços executados pe-los servidores da saúde para o conjunto da popula-ção.

28. Reivindicar que a Escola de Saúde Pública e o Cen-tro Formador de Recursos Humanos elaborem,com a participação do SindSaúde, um programainstitucional de educação permanente destinadoaos servidores da Sesa/Isep, independentementedo grau de escolaridade, com descentralização dasatividades e ampla divulgação aos servidores.

29. Reivindicar que a Escola de Governo do Paranádescentralize a realização de cursos de capacitaçãopara o interior do Estado, ofertando atividades deformação para todos os trabalhadores, independen-temente do grau de escolaridade.

Delegação de Jaguariaiva presente no Congresso

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Servidores de 15ª RS – Maringá

Como a riqueza da sociedade não é dividida

entre os trabalhadores, vivemos sob

permanente ameaçada. As freqüentes

mudanças na legislação têm aumentado o

tempo e o valor das contribuições, atacando

direitos dos trabalhadores.

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Na sociedade capitalista o trabalhador é visto como pro-duto descartável. Vale pelo lucro que gera para o pa-trão, o que não significa dizer que o salário seja equiva-lente ao valor gerado pelo seu trabalho. Quando o tra-balhador não consegue manter o nível de produção ésumariamente excluído.

Pela lógica capitalista, quando o trabalhador se aposen-ta, deixa de produzir, e quem não produz deve ter di-reitos reduzidos.

Em resumo: o interesse dos capitalistas é explorar otrabalhador de todas as formas, entre elas, dificultandoo acesso à aposentadoria.

A aposentadoria é um direito conquistado pelos traba-lhadores, ao longo de sua história de lutas. Temos dereagir contra quaisquer iniciativas que visam modificara legislação trabalhista e previdenciária que ataque osinteresses dos trabalhadores.

A produção de riquezas nunca foi tão intensa, mas ostrabalhadores continuam privados de direitos. Os tra-balhadores, aqueles que produzem a riqueza da socie-dade, não tem acesso aos frutos de seu trabalho. Nocapitalismo as riquezas são apropriadas de forma priva-da pelos donos dos meios de produção.

Como a riqueza da sociedade não é dividida entre os tra-balhadores, vivemos sob permanente ameaçada. As fre-qüentes mudanças na legislação têm aumentado o tem-po e o valor das contribuições, atacando direitos dos tra-balhadores. Nada se fala sobre taxar os lucros dos capita-listas, garantindo o bem-estar da acumulação de capital.

As propostas de "contra-reforma" da Previdência Soci-al, apresentadas pelos Governos FHC e Lula, não seconstituem em propostas originais. Chamamos de con-tra-reforma porque, ao invés de ampliar ou estenderdireitos de uma dada categoria para a totalidade dostrabalhadores, persegue a meta contrária: reduzir di-reitos.

Foi na lógica do interesse do capital que a imensa maioriados trabalhadores do serviço público e do regime

geral da previdência foi terrivelmente prejudicada pelascontra-reformas da Previdência promovidas pelo gover-no FHC, em 1998, e pelo governo Lula, em 2003.

As contra-reformas da Previdência só pouparam osmagistrados, militares, desembargadores e parlamen-tares, ou seja, os representantes das elites não perde-ram nenhum direito.

Em geral, os proventos dos aposentados têm sofridoimensa corrosão. Os aposentados do serviço públicoestadual ficaram com seus vencimentos congelados du-rante o período de 1995 até 2006. No caso dos aposen-tados pelo regime geral da previdência (INSS), a corre-ção é sempre insuficiente, diminuindo o valor das apo-sentadorias ao longo dos anos.

PERDAS DE DIREITO SEGUEM CARTILHA DOBANCO MUNDIAL

A diminuição dos direitos previdenciários foi arquiteta-da pelo Banco Mundial em 1994. O documentoorientador das contra-reformas garante a abertura deum enorme e novo espaço de acumulação capitalista. A

Aposentadoria: osonho que se tornapesadelo

O controle dos volumosos recursos financeiros pagos

pelo povo para manter a Previdência Social e o dinheiro

pago pelo Estado está na mira dos setores privados.

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proposta do Banco Mundial é de desmontar os sistemaspúblicos de Seguridade Social em geral, e de Previdên-cia Social em particular, para dar à Previdência Comple-mentar (privada) espaços de crescimento que não po-deriam existir, senão pela redução dos valores dos be-nefícios do sistema público.

O objetivo das mudanças promovidas pelos governosFHC e Lula foi verdadeiramente o de reduzir despesassociais, como também permitir que grandes grupos eco-nômicos privados possam ter mais lucro com a explora-ção da previdência, em especial, as empresas de segu-ros. Dessa forma, o Tesouro fica com mais recursos parasustentar os juros altos e destinar ao pagamento da dí-vida externa.

Por outro lado, o controle dos volumosos recursos fi-nanceiros pagos pelo povo para manter a PrevidênciaSocial e o dinheiro pago pelo Estado está na mira dossetores privados. Ou seja, empresas estariam dispostasa atender os serviços previdenciários que o poder pú-blico abandona ou deixa de prestar. A intenção delas élucrar em cima do dinheiro do trabalhador que, alémde contribuir para sua aposentadoria, pagam impostosque dão origem aos recursos do Estado.

Se este quadro de transferência da aposentadoria dosetor público para o privado se consolidar, aumentará ainsegurança dos trabalhadores com o seu futuro. Em-presas podem falir, ser vítimas de grandes golpes feitospelos próprios empresários. Nestes casos, o governoserá obrigado a socorrer a empresa privada ou o traba-lhador fica sem seu direito à aposentadoria.

FUNDOS DE PENSÃO

Existem duas formas de previdência complementar:

• ABERTA - que consiste nos planos oferecidos pe-los bancos e seguradoras,• FECHADA – que consiste nos planos de uma ca-tegoria profissional específica, ou de uma empresa,o que é denominado fundo de pensão.

Ao rebaixar o benefício da aposentadoria pública oucercear o acesso a ela, o mercado oferece aos trabalha-dores a “saída” de recorrer aos planos de previdênciaprivada, na arriscada tentativa de complementar as suasaposentadorias.

A privatização da Previdência reveste-se de conteúdo einteresse diferenciados das demais privatizações.

Os recursos previdenciários mobilizados pelos fundosde pensão se formam com surpreendente rapidez e sãocontínua e crescentemente renovados. Com aprivatização da Previdência estima-se que o mercadofinanceiro se apropriará de cerca de R$ 670 bilhões até2010.

O regime de capitalização é uma poupança individual,cuja aplicação é controlada pelo sistema financeiro, atra-vés de corretoras ligadas aos bancos que operam nomercado de capitais. O dinheiro é quase todo investidoem bolsas de valores (mercado de ações) ou em títulosdo governo. Esta é a situação, por exemplo, do Fundode Pensão do Banco do Brasil (PREVI) que tem 58% deseus ativos investidos em ações. Os Bancos Bilbao &Viscaya e Santander, em 2002, controlavam cerca de60% do mercado de fundos privados na América Lati-na.

O mercado das aposentadorias contratadas com Fun-dos de Pensão ficará sempre ao sabor do que ocorra nomercado financeiro, que é dominado pela especulação.No Chile, EUA e Inglaterra muitos deles estão em pro-cesso de falência. Só nos EUA, 470 mil trabalhadores jáperderam suas aposentadorias.

A Previdência Social pública e solidária não tem risco dequebrar, pois tudo o que é arrecadado é imediatamentedistribuído (regime de repartição simples) para as apo-sentadorias da geração que já trabalhou (solidariedadeentre gerações).

Nos últimos tempos, vemos com muita freqüência adefesa da construção de um "fundo de pensão público".Discordamos veementemente dessa chamada “alterna-tiva”.

A entrega de capitais estatais ao setor privado ou a re-núncia de atuação em espaços outrora considerados tí-picos do Estado são formas diversas de um mesmo pro-cesso: o de redução do Estado e de privatização dosrecursos públicos, essência projeto neoliberal. A insti-tuição da Previdência Complementar ajusta-se com per-feição à lógica do capital de apropriar-se de novos espa-ços da vida social e das relações humanas e transformá-los em mercadorias.

A CONTRADIÇÃO

A Constituição Federal de 1988, no capítulo da

Nos últimos tempos, vemos

com muita freqüência a

defesa da construção de um

“fundo de pensão público”.

Discordamos

veementemente dessa

chamada “alternativa”.

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Seguridade Social, trouxe conquistas legais aos traba-lhadores, no entanto, a correlação de forças políticas nasociedade não barrou a tendência de privatização.

A Seguridade Social constitui um conjunto de políticaspúblicas que visa à proteção social do indivíduo e dacoletividade, compreendendo: a Saúde, a Previdência ea Assistência Social.

As freqüentes alterações na Constituição Federal frag-mentaram e procuraram desmantelar o conceito deSeguridade Social. A Constituição garante a proteçãosocial, mas as emendas aprovadas pelas contra-refor-mas da Previdência dificultam o acesso integral a essaproteção social.

A classe trabalhadora foi extremamente prejudicada poressas reformas. Somente a pressão popular pode resta-belecer o direito a Seguridade Social de caráter público.

Todas as pessoas têm o direito à Seguridade Social, des-de antes de nascer até depois da morte. Antes de nas-cer, toda criança deve ter acesso ao pré-natal, para re-ceber um acompanhamento adequado, ser bem geradae ter um bom parto (saúde). Quando cresce, deve teracesso à alimentação e à educação infantil e, se neces-sário, à ajuda financeira (assistência social). Ao entrarno mercado de trabalho, o adulto deve ter acesso a au-xílio-doença, salário-maternidade e família, entre outros(previdência). Ao envelhecer, precisa do acesso à apo-sentadoria (previdência) ou ao salário-idoso (assistên-cia). Até depois da morte desse indivíduo, sua famíliadeve ser amparada, pela pensão (previdência) ou porauxílio à família carente (assistência).

OS APOSENTADOS EM SOFRIMENTO

Nessa linha da retirada de direitos, os governos tam-bém estabelecem a política de não cumprir o artigo daConstituição que determina a paridade entre os servi-dores da ativa e aposentados. No Paraná, os governosestabeleceram política de implantar abono somente paraservidores da ativa. Assim, os aposentados foram “pu-nidos” com 10 anos sem reposição salarial.

PARANAPREVIDÊNCIA

Na lógica do capitalismo, o governo Jaime Lerner extin-guiu o Instituto de Previdência do Paraná – IPE, que erapúblico, e criou o Paranaprevidência. Essa é a única ex-periência no Brasil de um fundo de pensão constituídoa partir da concepção de ser um serviço social autôno-mo (privado).

Muitos são os problemas que percebemos noParanaprevidência:

• O caráter privado na sua administração;• A falta de paridade entre governo e trabalhadoresnos Conselhos Fiscal e de Administração;• eleição indireta para os representantes dos servi-dores nos dois Conselhos;• Falta de transparência e participação efetiva dostrabalhadores que contribuem para a constituiçãodo fundo financeiro e do fundo previdenciário doParanaprevidência.

VEJA AS PROPOSTAS NA PRÓXIMA PÁGINA >

Trabalho em grupo: possibilitou a exposição da pluralidade de opiniões

APOSENTADORIA : O SONHO QUE SE TORNA PESADELO

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1. Organizar os trabalhadores em defesa dos princí-pios da Seguridade Social, enquanto direito da po-pulação e dever do Estado.

2. Retomar a bandeira de luta de um sistema de pre-vidência para o funcionalismo estadual de caráterpúblico com a participação dos trabalhadores naadministração e fiscalização dos recursos.

3. Lutar pela mudança das regras injustas, que estãovigentes após 1998, para conquistar a aposentado-ria. Exigir o direito à aposentadoria para a mulheraos 30 anos de contribuição e para o homem aos35 anos de contribuição, com garantia de paridadee isonomia sem idade mínima.

4. Lutar pela garantia de tratamento isonômico paraos servidores da ativa e os aposentados.

5. Promover debates com a categoria e com os de-putados sobre os perigos aos quais estamos expos-tos com a Paranaprevidência.

6. Divulgar a representação dos servidores nos Con-

selhos Fiscal e de Administração daParanaprevidência, trazendo-os para debates es-pecíficos com a categoria.

7. Denunciar ao Ministério Público, juntamente como Fórum das Entidades Sindicais, quando o gover-no estadual deixar de pagar a previdência e/ou dei-xar de dar publicidade dos balancetes doParanaprevidência em toda a mídia.

8. Constituir o coletivo de aposentados com objetivode aumentar a mobilização dos mesmos em tornodo resgate de seus direitos, elegendo representan-tes aposentados de cada regional de saúde.

9. Realizar conferências, assembléias, audiências pú-blicas para o repasse de informações sobre todasas questões relacionadas ao Paranáprevidência,principalmente em relação à transparência da apli-cação de recursos financeiros.

10. Os boletins informativos do SindSaúde deverãopublicar matérias sobre a gestão financeira doParanáprevidência.

Propostas:

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