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Educação FOLHA DIRIGIDA www.folhadirigida.com.br 18 a 24 de abril de 2013 CADERNO DE Mestre em educação pela UFRJ e doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Havana, em Cuba, o professor Julio Furtado ressalta o papel da gestão escolar para a melhoria da qualidade do trabalho pedagógico nas escolas A gestão como foco na busca pela qualidade “A escola precisa deixar claro o seu projeto e qual é o papel dos pais dentro dele. Deve ter claro e bem discutido um código de conduta e deve cuidar para que o mesmo seja cumprido. Quando houver necessidade de rediscutir qualquer componente do projeto político pedagógico, o gestor deve fazê-lo de forma coletiva e aberta, sempre ratificando o espaço da escola e o espaço dos pais.” “A relação de poder é uma relação necessária quando surge a necessidade de controle. Uma vez que não exista a necessidade de se controlar nada, a relação pode e deve ser horizontal. As crianças e jovens percebem e até mesmo desejam esse perfil de gestor, ou seja, aquele adulto que conversa, brinca, troca, mas que assume imediatamente a postura de autoridade quando surge a necessidade de controle.” Educador Julio Furtado ressaltou que o maior desafio do gestor é envolver a equipe no projeto político pedagógico da escola JOÃO LUIZ FILHO N o dia a dia das escolas, os profissionais enfrentam muitos desafios. Falta de infraestrutura, alunos com dificuldades de aprendizagem, professores desmo- tivados, casos de violência, situações de indisciplina, entre outros. Para enfrentar estes e outros problemas, o papel do gestor escolar é cada vez mais decisivo. Mas, será que os profissionais que comandam as escolas, de maneira geral, estão preparados para lidar com os desafios da gestão es- colar? Na opinião do professor Julio Furtado, mes- tre em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de maneira geral, falta esta qua- lificação àqueles que estão à frente das instituições de ensino. “Os gestores geralmente são educadores experientes, porém lhes falta conhecimento na área da gestão. Esse fato é responsável por gestores sem visão sistêmica e isso os leva a se concentrar em pontos que não deviam e deixar de atuar em pontos essen- ciais”, salienta o professor, que também é graduado Pedagogia e Psicologia, além de ser diplomado em Psicopedagogia e doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Ha- vana, em Cuba. O especialista, inclu- sive, chama a atenção para o fato de pesqui- sas já terem evidenci- ado que os diretores de escolas, muitas vezes, gastam tempo demais em atividades de natureza operaci- onal, que poderiam ser delegadas, e dedi- cam pouco tempo a práticas mais relacio- nadas ao gerencia- mento das diversas áreas de uma institui- ção de ensino. “Traba- lham muito no “vare- jo” e pouco no ‘ataca- do’”, salienta. Não é por acaso que muitas prefeituras e estados têm procurado profissionais que não são da área pedagógica para comandar suas redes. Dois exemplos estão no estado do Rio: o secretário esta- dual de educação, Wilson Risolia, e a secretária mu- nicipal de educação, Claudia Costin, ambos econo- mistas. Júlio Furtado acredita que o conhecimento do processo pedagógico é fundamental no processo de gestão. Mas, salienta que, somente isto, não é su- ficiente para administrar bem uma instituição ou uma rede de ensino. Para ele, um bom gestor, assessora- do por uma equipe com boa base e experiência na área pedagógica, pode alcançar melhores resultados em termos de aprendizagem. “Quando o Secretário de Educação tem uma forma- ção sólida em gestão e lhe faltam conhecimentos pedagógicos, ele deve ter um subsecretário de sua inteira confiança com sólida formação pedagógica. A realidade nos mostra que essa dobradinha costu- ma funcionar melhor do que o inverso”, analisa Ju- lio Furtado que, também é reitor do Centro Univer- sitário Abeu (UniAbeu). FOLHA DIRIGIDA — QUAIS AS CARACTERÍSTICAS CO- MUNS A UM BOM GESTOR? Júlio Furtado — Um bom gestor tem, acima de tudo, compromisso com a causa. Sabe deixar isso claro para todos e coloca esse compromisso acima de tudo. Pos- sui habilidade para ser firme sem ser grosseiro e ser direto sem ser ofensivo. É observador, variando o foco de seu olhar continuamente entre o micro e o ma- cro. É habilidoso em tornar o objetivo da escola um objetivo de todos. É cuidadoso com a condução do Projeto Político Pedagógico, levando todos os per- sonagens da escola a se comprometerem com o mesmo. Sabe usar a autoridade sem ser autoritário. TEM SIDO COMUM GOVERNOS ESCOLHEREM PARA CO- MANDAR SECRETARIAS DE EDUCAÇÃO, PESSOAS COM PERFIL DE GESTOR QUE, MUITAS VEZES, NÃO SÃO EDUCADORES. COMO ESSE TIPO DE ESCOLHA? UM SECRETÁRIO GESTOR, PARA GRANDES REDES, É MAIS ADEQUADO QUE ALGUÉM COM PERFIL PEDAGÓGICO? O conhecimento do processo pedagógico é essenci- al. Não é possível liderar o que não se conhece. A questão é que somente o conhecimento pedagógi- co não é suficiente. É, igualmente, essencial conhe- cer processos de gestão. Acontece que esse profissi- onal com sólida formação nas duas áreas é escasso no Mercado. Quando o Secretário de Educação tem uma formação sólida em gestão e lhe faltam conhe- cimentos pedagógicos, ele deve ter um subsecretá- rio de sua inteira confiança com sólida formação pedagógica. A realidade nos mostra que essa dobra- dinha costuma funcionar melhor do que o inverso. O QUE DIFERENCIA UM GESTOR ESCOLAR DE UM GES- TOR PEDAGÓGICO? Um gestor escolar precisa ter a formação sólida em gestão conforme falamos anteriormente, pois ele é o responsável pelo funcionamento de toda a esco- la. Um gestor pedagógico precisa ter, essencialmen- te, sólida formação pedagógica, além de grande ex- periência como professor. A visão do gestor peda- gógico (que geralmente é conhecido como coorde- nador, orientador ou supervisor pedagógico) preci- sa estar voltada essencialmente para o processo en- sino-aprendizagem, seu planejamento, sua execu- ção e sua avaliação. COMO AVALIA A QUALIDADE DOS GESTORES, DE MA- NEIRA GERAL? ELES ESTÃO PREPARADOS PARA OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DOS DIAS DE HOJE? Em geral não estão preparados. Os gestores geralmente são educadores experientes, porém lhes falta conhe- cimento na área da gestão. Esse fato é responsável por gestores sem visão sistêmica e isso os leva a se con- centrar em pontos que não deviam e deixar de atuar em pontos essenciais. Pesquisas mostram que os ges- tores escolares gastam muito de seu tempo em ativi- dades operacionais que poderiam ser delegadas e, por outro lado, não se concentram em atividades essen- ciais para que possam acompanhar e ter clareza dos rumos que a escola está tomando. Trabalham muito no “varejo” e pouco no “atacado”. QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A GESTÃO DE UMA ESCOLA PÚBLICA NOS DIAS DE HOJE? O maior deles, em minha opinião, é tornar a equi- pe escolar comprometida com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Depois vem o desa- fio de conseguir circular habilmente entre os ca- minhos truncados dos processos administrativos públicos de forma a garantir as condições que sua escola precisa para funcionar bem. Em terceiro lugar, vem o desafio de construir uma relação real de parceria com as famílias e com a comunidade em que a escola se localiza. E NA REDE PRIVADA? OS DESAFIOS SÃO DIFEREN- TES? POR QUE? Embora tenham alguns pontos comuns, são de- safios bem diferentes. São comuns os desafios de comprometer a equipe com o projeto político pe- dagógico e construir uma relação de parceria com as famílias. Ganham maior destaque os desafios de manter a escola financeiramente sustentável e criar e manter os diferenciais competitivos que for- neçam a escola condições de ocupar uma boa po- sição no Mercado. O QUE É FUNDAMENTAL PARA UM GESTOR MOTIVAR SEUS PROFISSIONAIS? Que ele respire e se alimente da causa da escola. O comprometimento do gestor com o alcance dos ob- jetivos da escola, somado a boas habilidades de li- derança são os ingredientes fundamentais para que ele motive sua equipe. É claro que estamos falando daquilo que depende do gestor. Não desconsidera- mos a extrema necessidade de esses profissionais terem condições dignas de trabalho, começando por um salário decente. Conhecemos, pois, gestores tão motivadores que conseguem sucesso mesmo sem essa condição. QUAL DEVE SER A POSTURA DE UM GESTOR COM RE- LAÇÃO AOS ALUNOS? COMO MANTER UMA PROXIMIDA- DE IMPORTANTE PARA TER A CONFIANÇA E UM BOM RE- LACIONAMENTO COM ELES E, AO MESMO TEMPO, NÃO PERDER A AUTORIDADE QUE É NECESSÁRIO TER? A Relação de poder é uma relação necessária quan- do surge a necessidade de controle. Uma vez que não exista a necessidade de se controlar nada, a relação pode e deve ser horizontal. As crianças e jovens percebem e até mesmo desejam esse perfil de gestor, ou seja, aquele adulto que conversa, brin- ca, troca, mas que assume imediatamente a pos- tura de autoridade quando surge a necessidade de controle. Quando falo para professores, costumo dizer que eles podem brincar e se relacionar de forma leve com os alunos, mas quando chega a hora de cobrar a atividade, suspenda o riso e se preciso for, a leveza junto. UM DOS DESAFIOS DE UM GESTOR ESCOLAR, CERTA- MENTE, É LIDAR COM OS PAIS. MUITAS VEZES, OS RES- PONSÁVEIS, PARA SUPERPROTEGER SEUS FILHOS, FI- CAM CONTRA AS ESCOLAS. COMO LIDAR COM ESSE TIPO DE SITUAÇÃO? Nesse caso aplica-se o velho ditado “combinado não sai caro”. A escola precisa deixar claro o seu projeto e qual é o papel dos pais dentro dele. Deve ter claro e bem discutido um código de conduta e deve cuidar para que o mesmo seja cumprido. Quando houver necessidade de rediscutir qual- quer componente do projeto político pedagógi- co, o gestor deve fazê-lo de forma coletiva e aberta, sempre ratificando o espaço da escola e o espaço dos pais. As regras devem ser baseadas em prin- cípios morais relativos à boa convivência e à igual- dade de direitos e deveres. Dessa forma, não há espaço para exclusividades e os pontos duvido- sos são coletivamente resolvidos. QUE TIPO DE PROFISSIONAIS SÃO FUNDAMENTAIS PARA DAREM SUPORTE ÀS ATIVIDADES DE UM GES- TOR? Essencialmente, um bom gestor administrativo e um bom gestor pedagógico. O gestor escolar, jun- to a esses dois profissionais, forma um trio capaz de apoiar e supervisionar todos os processos da escola. Ao gestor administrativo cabe a liderança dos processos que garantam um bom funcionamen- to da escola (recursos materiais, finanças, conser- vação, relações trabalhistas, etc.). Ao gestor peda- gógico cabe a liderança dos processos que garan- tam a efetividade da aprendizagem (planejamento, metodologias, avaliação, projetos, etc.). Profissi- onais de apoio como Psicólogo, Nutricionista, Fo- noaudiólogo e Assistente Social são importantes mas podem ser buscados quando necessários. na busca pela qualidade

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EducaçãoFOLHA DIRIGIDA

www.folhadirigida.com.br18 a 24 de abril de 2013

CADE

RNO

DE

Mestre em educação pela UFRJ e doutor emCiências da Educação pela Universidade de Havana,em Cuba, o professor Julio Furtado ressalta opapel da gestão escolar para a melhoria daqualidade do trabalho pedagógico nas escolas

A gestão como foco

na busca pelaqualidade

“A escola precisa deixar claro o seu projeto e qual é o papel dos pais dentro dele. Deve terclaro e bem discutido um código de conduta e deve cuidar para que o mesmo seja cumprido. Quando

houver necessidade de rediscutir qualquer componente do projeto político pedagógico, o gestordeve fazê-lo de forma coletiva e aberta, sempre ratificando o espaço da escola e o espaço dos pais.”

“A relação de poder é uma relaçãonecessária quando surge a necessidadede controle. Uma vez que não exista anecessidade de se controlar nada, arelação pode e deve ser horizontal. Ascrianças e jovens percebem e até mesmodesejam esse perfil de gestor, ou seja,aquele adulto que conversa, brinca, troca,mas que assume imediatamente apostura de autoridade quando surge anecessidade de controle.”

Educador JulioFurtado

ressaltou que omaior desafio do

gestor é envolver aequipe no projetopolítico pedagógicoda escola

JOÃO LUIZ FILHO

No dia a dia das escolas, os profissionaisenfrentam muitos desafios. Falta deinfraestrutura, alunos com dificuldadesde aprendizagem, professores desmo-tivados, casos de violência, situações

de indisciplina, entre outros. Para enfrentar estes eoutros problemas, o papel do gestor escolar é cadavez mais decisivo. Mas, será que os profissionaisque comandam as escolas, de maneira geral, estãopreparados para lidar com os desafios da gestão es-colar? Na opinião do professor Julio Furtado, mes-tre em Educação pela Universidade Federal do Riode Janeiro (UFRJ), de maneira geral, falta esta qua-lificação àqueles que estão à frente das instituiçõesde ensino. “Os gestores geralmente são educadoresexperientes, porém lhes falta conhecimento na áreada gestão. Esse fato é responsável por gestores semvisão sistêmica e isso os leva a se concentrar em pontosque não deviam e deixar de atuar em pontos essen-ciais”, salienta o professor, que também é graduadoPedagogia e Psicologia, além de ser diplomado em

Psicopedagogia edoutor em Ciênciasda Educação pelaUniversidade de Ha-vana, em Cuba.O especialista, inclu-sive, chama a atençãopara o fato de pesqui-sas já terem evidenci-ado que os diretoresde escolas, muitasvezes, gastam tempodemais em atividadesde natureza operaci-onal, que poderiamser delegadas, e dedi-cam pouco tempo apráticas mais relacio-nadas ao gerencia-mento das diversasáreas de uma institui-ção de ensino. “Traba-lham muito no “vare-jo” e pouco no ‘ataca-do’”, salienta.Não é por acaso quemuitas prefeituras e

estados têm procurado profissionais que não são daárea pedagógica para comandar suas redes. Doisexemplos estão no estado do Rio: o secretário esta-dual de educação, Wilson Risolia, e a secretária mu-nicipal de educação, Claudia Costin, ambos econo-mistas. Júlio Furtado acredita que o conhecimentodo processo pedagógico é fundamental no processode gestão. Mas, salienta que, somente isto, não é su-ficiente para administrar bem uma instituição ou umarede de ensino. Para ele, um bom gestor, assessora-do por uma equipe com boa base e experiência naárea pedagógica, pode alcançar melhores resultadosem termos de aprendizagem.“Quando o Secretário de Educação tem uma forma-ção sólida em gestão e lhe faltam conhecimentospedagógicos, ele deve ter um subsecretário de suainteira confiança com sólida formação pedagógica.A realidade nos mostra que essa dobradinha costu-ma funcionar melhor do que o inverso”, analisa Ju-lio Furtado que, também é reitor do Centro Univer-sitário Abeu (UniAbeu).

FOLHA DIRIGIDA — QUAIS AS CARACTERÍSTICAS CO-MUNS A UM BOM GESTOR?Júlio Furtado — Um bom gestor tem, acima de tudo,compromisso com a causa. Sabe deixar isso claro paratodos e coloca esse compromisso acima de tudo. Pos-sui habilidade para ser firme sem ser grosseiro e ser

direto sem ser ofensivo. É observador, variando o focode seu olhar continuamente entre o micro e o ma-cro. É habilidoso em tornar o objetivo da escola umobjetivo de todos. É cuidadoso com a condução doProjeto Político Pedagógico, levando todos os per-sonagens da escola a se comprometerem com omesmo. Sabe usar a autoridade sem ser autoritário.

TEM SIDO COMUM GOVERNOS ESCOLHEREM PARA CO-MANDAR SECRETARIAS DE EDUCAÇÃO, PESSOAS COMPERFIL DE GESTOR QUE, MUITAS VEZES, NÃO SÃOEDUCADORES. COMO VÊ ESSE TIPO DE ESCOLHA? UMSECRETÁRIO GESTOR, PARA GRANDES REDES, É MAISADEQUADO QUE ALGUÉM COM PERFIL PEDAGÓGICO?O conhecimento do processo pedagógico é essenci-al. Não é possível liderar o que não se conhece. Aquestão é que somente o conhecimento pedagógi-co não é suficiente. É, igualmente, essencial conhe-cer processos de gestão. Acontece que esse profissi-onal com sólida formação nas duas áreas é escassono Mercado. Quando o Secretário de Educação temuma formação sólida em gestão e lhe faltam conhe-cimentos pedagógicos, ele deve ter um subsecretá-rio de sua inteira confiança com sólida formaçãopedagógica. A realidade nos mostra que essa dobra-dinha costuma funcionar melhor do que o inverso.

O QUE DIFERENCIA UM GESTOR ESCOLAR DE UM GES-TOR PEDAGÓGICO?Um gestor escolar precisa ter a formação sólida emgestão conforme falamos anteriormente, pois ele éo responsável pelo funcionamento de toda a esco-la. Um gestor pedagógico precisa ter, essencialmen-te, sólida formação pedagógica, além de grande ex-periência como professor. A visão do gestor peda-gógico (que geralmente é conhecido como coorde-nador, orientador ou supervisor pedagógico) preci-sa estar voltada essencialmente para o processo en-sino-aprendizagem, seu planejamento, sua execu-ção e sua avaliação.

COMO AVALIA A QUALIDADE DOS GESTORES, DE MA-NEIRA GERAL? ELES ESTÃO PREPARADOS PARA OSDESAFIOS DA EDUCAÇÃO DOS DIAS DE HOJE?Em geral não estão preparados. Os gestores geralmentesão educadores experientes, porém lhes falta conhe-cimento na área da gestão. Esse fato é responsável porgestores sem visão sistêmica e isso os leva a se con-centrar em pontos que não deviam e deixar de atuarem pontos essenciais. Pesquisas mostram que os ges-tores escolares gastam muito de seu tempo em ativi-dades operacionais que poderiam ser delegadas e, poroutro lado, não se concentram em atividades essen-ciais para que possam acompanhar e ter clareza dosrumos que a escola está tomando. Trabalham muitono “varejo” e pouco no “atacado”.

QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A GESTÃO DEUMA ESCOLA PÚBLICA NOS DIAS DE HOJE?O maior deles, em minha opinião, é tornar a equi-pe escolar comprometida com o Projeto PolíticoPedagógico (PPP) da escola. Depois vem o desa-fio de conseguir circular habilmente entre os ca-minhos truncados dos processos administrativospúblicos de forma a garantir as condições que suaescola precisa para funcionar bem. Em terceirolugar, vem o desafio de construir uma relação realde parceria com as famílias e com a comunidadeem que a escola se localiza.

E NA REDE PRIVADA? OS DESAFIOS SÃO DIFEREN-TES? POR QUE?Embora tenham alguns pontos comuns, são de-safios bem diferentes. São comuns os desafios decomprometer a equipe com o projeto político pe-dagógico e construir uma relação de parceria com

as famílias. Ganham maior destaque os desafiosde manter a escola financeiramente sustentável ecriar e manter os diferenciais competitivos que for-neçam a escola condições de ocupar uma boa po-sição no Mercado.

O QUE É FUNDAMENTAL PARA UM GESTOR MOTIVARSEUS PROFISSIONAIS?Que ele respire e se alimente da causa da escola. Ocomprometimento do gestor com o alcance dos ob-jetivos da escola, somado a boas habilidades de li-derança são os ingredientes fundamentais para queele motive sua equipe. É claro que estamos falandodaquilo que depende do gestor. Não desconsidera-mos a extrema necessidade de esses profissionaisterem condições dignas de trabalho, começando porum salário decente. Conhecemos, pois, gestores tãomotivadores que conseguem sucesso mesmo semessa condição.

QUAL DEVE SER A POSTURA DE UM GESTOR COM RE-LAÇÃO AOS ALUNOS? COMO MANTER UMA PROXIMIDA-DE IMPORTANTE PARA TER A CONFIANÇA E UM BOM RE-LACIONAMENTO COM ELES E, AO MESMO TEMPO, NÃOPERDER A AUTORIDADE QUE É NECESSÁRIO TER?A Relação de poder é uma relação necessária quan-do surge a necessidade de controle. Uma vez quenão exista a necessidade de se controlar nada, arelação pode e deve ser horizontal. As crianças ejovens percebem e até mesmo desejam esse perfilde gestor, ou seja, aquele adulto que conversa, brin-ca, troca, mas que assume imediatamente a pos-tura de autoridade quando surge a necessidade decontrole. Quando falo para professores, costumodizer que eles podem brincar e se relacionar deforma leve com os alunos, mas quando chega ahora de cobrar a atividade, suspenda o riso e sepreciso for, a leveza junto.

UM DOS DESAFIOS DE UM GESTOR ESCOLAR, CERTA-MENTE, É LIDAR COM OS PAIS. MUITAS VEZES, OS RES-PONSÁVEIS, PARA SUPERPROTEGER SEUS FILHOS, FI-CAM CONTRA AS ESCOLAS. COMO LIDAR COM ESSETIPO DE SITUAÇÃO?Nesse caso aplica-se o velho ditado “combinadonão sai caro”. A escola precisa deixar claro o seuprojeto e qual é o papel dos pais dentro dele. Deveter claro e bem discutido um código de condutae deve cuidar para que o mesmo seja cumprido.Quando houver necessidade de rediscutir qual-quer componente do projeto político pedagógi-co, o gestor deve fazê-lo de forma coletiva e aberta,sempre ratificando o espaço da escola e o espaçodos pais. As regras devem ser baseadas em prin-cípios morais relativos à boa convivência e à igual-dade de direitos e deveres. Dessa forma, não háespaço para exclusividades e os pontos duvido-sos são coletivamente resolvidos.

QUE TIPO DE PROFISSIONAIS SÃO FUNDAMENTAISPARA DAREM SUPORTE ÀS ATIVIDADES DE UM GES-TOR?Essencialmente, um bom gestor administrativo eum bom gestor pedagógico. O gestor escolar, jun-to a esses dois profissionais, forma um trio capazde apoiar e supervisionar todos os processos daescola. Ao gestor administrativo cabe a liderançados processos que garantam um bom funcionamen-to da escola (recursos materiais, finanças, conser-vação, relações trabalhistas, etc.). Ao gestor peda-gógico cabe a liderança dos processos que garan-tam a efetividade da aprendizagem (planejamento,metodologias, avaliação, projetos, etc.). Profissi-onais de apoio como Psicólogo, Nutricionista, Fo-noaudiólogo e Assistente Social são importantesmas podem ser buscados quando necessários.

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