caderno 4 2ª etapa pacto

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PACTO EM - 2º Etapa

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Page 1: Caderno 4   2ª etapa pacto

Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LINGUAGENS

Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio

Etapa II - Caderno IV

CuritibaSetor de Educaccedilatildeo da UFPR

2014

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IV

AUTORES

Adair Bonini

Claudia Hilsdorf Rocha

Fernando Jaime Gonzalez

Magali Oliveira Kleber

Paulo Evaldo Fensterseifer

Ruberval Franco Maciel

COORDENACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO

Monica Ribeiro da Silva (organizadora)

Ceacuteuli Mariano Jorge

Eloise Medice Colontonio

Giacutelian Cristina Barros

Giselle Christina Correcirca

Leacuteia de Caacutessia Fernandes Hegeto

LEITORES CRIacuteTICOS

Altair Pivovar

Nelagley Marques

Sacircmia Maria Carvalho

REVISAtildeO

Giselle Christina Correcirca

PROJETO GRAacuteFICO E EDITORACcedilAtildeO

Victor Augustus Graciotto Silva

Rafael Ferrer Kloss

CAPA

Yasmin Fabris

Rafael Ferrer Kloss

ARTE FINAL

Rafael Ferrer Kloss

COORDENACcedilAtildeO GERAL E ORGANIZACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO DOS MATERIAIS

Monica Ribeiro da Silva

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO

SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA (SEB)

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA Esplanada dos Ministeacuterios Bloco L Sala 500 CEP 70047-900 Tel (61)20228318 - 20228320

Brasil Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Formaccedilatildeo de professores do ensino meacutedio Etapa II - Caderno IV Linguagens Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [autores Adair Bonini et al] ndash Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2014 47p ISBN 9788589799966 (coleccedilatildeo) 9788584650002 (v4) Inclui referecircncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio 1 Ensino meacutedio 2 Professores - Formaccedilatildeo 3 Linguagem e liacutenguas ndash Estudo e ensino 4 Artes ndash Estudo e ensino 5 Educaccedilatildeo fiacutesica (Segundo grau) I Bonini Adair II Universidade Federal do Paranaacute Setor de Educaccedilatildeo III Linguagens IV Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio V Tiacutetulo CDD 3739

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacuteSISTEMA DE BIBLIOTECAS ndash BIBLIOTECA CENTRAL

COORDENACcedilAtildeO DE PROCESSOS TEacuteCNICOS

Andrea Carolina Grohs CRB 91384

Caro Professor Cara Professora

Com vistas a garantir a qualidade do Ensino Meacutedio ofertado no Paiacutes foi instituiacutedo por meio da Portaria Ministerial nordm 1140 de 22 de novembro de 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio Este Pacto contempla dentre outras a accedilatildeo de formaccedilatildeo continuada dos professores e coordenadores pedagoacutegicos de Ensino Meacutedio por meio da colaboraccedilatildeo entre Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo e Universidades

Esta accedilatildeo tem o objetivo central de contribuir para o aperfeiccediloamento da formaccedilatildeo continuada de professores a partir da discussatildeo das praacuteticas docentes agrave luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (Resoluccedilatildeo CNECEB ndeg 2 de 31 de janeiro de 2012) Nesse sentido a formaccedilatildeo se articula agrave accedilatildeo de redesenho curricular em desenvolvimento nas escolas puacuteblicas de Ensino Meacutedio a partir dessas Diretrizes

A primeira etapa da Formaccedilatildeo Continuada em conformidade com as DCNEM trouxe como eixo condutor ldquoOs Sujeitos do Ensino Meacutedio e a Formaccedilatildeo Humana Integralrdquo e foi composta pelos seguintes Campos TemaacuteticosCadernos Sujeitos do Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral O Curriacuteculo do Ensino Meacutedio seus sujeitos e o desafio da Formaccedilatildeo Humana Integral Organizaccedilatildeo e Gestatildeo do Trabalho Pedagoacutegico Avaliaccedilatildeo no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento e Integraccedilatildeo Curricular

Nesta segunda etapa dando continuidade ao eixo proposto as temaacuteticas que compotildeem os Ca-dernos de Formaccedilatildeo do Pacto satildeo Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento do Ensino Meacutedio em consonacircncia com as proposiccedilotildees das DCNEM considerando o diaacutelogo com o que vem sendo praticado em nossas escolas a diversidade de praacuteticas e a garantia da educaccedilatildeo para todos A formaccedilatildeo continuada propiciada pelo Pacto auxiliaraacute o debate sobre a Base Nacional Comum do Curriacuteculo que seraacute objeto de estudo dos diversos setores da educaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional em articulaccedilatildeo com a sociedade na perspectiva da garantia do direito agrave aprendiza-gem e ao desenvolvimento humano dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica conforme meta estabelecida no Plano Nacional de Educaccedilatildeo

Destacamos como ponto fundamental que nesta segunda etapa seja feita a leitura e a reflexatildeo dos Cadernos de todas as aacutereas por todos os professores que participam da formaccedilatildeo do Pacto consi-derando o objetivo de aprofundar as discussotildees sobre a articulaccedilatildeo entre conhecimentos das diferen-tes disciplinas e aacutereas a partir da realidade escolar A perspectiva de integraccedilatildeo curricular posta pelas DCNEM exige que os professores ampliem suas compreensotildees sobre a totalidade dos componentes curriculares na forma de disciplinas e outras possibilidades de organizaccedilatildeo do conhecimento escolar a partir de quatro dimensotildees fundamentais a) compreensatildeo sobre os sujeitos do Ensino Meacutedio con-siderando suas experiecircncias e suas necessidades b) escolha de conhecimentos relevantes de modo a produzir conteuacutedos contextualizados nas diversas situaccedilotildees onde a educaccedilatildeo no Ensino Meacutedio eacute produzida c) planejamento que propicie a explicitaccedilatildeo das praacuteticas de docecircncia e que amplie a diver-sificaccedilatildeo das intervenccedilotildees no sentido da integraccedilatildeo nas aacutereas e entre aacutereas d) avaliaccedilatildeo que permita ao estudante compreender suas aprendizagens e ao docente identificaacute-las para novos planejamentos

Espera-se que esta etapa assim como as demais que estamos preparando seja a oportunidade para uma real e efetiva integraccedilatildeo entre os diversos componentes curriculares considerando o im-pacto na melhoria de condiccedilotildees de aprender e desenvolver-se dos estudantes e dos professores nessa etapa conclusiva da Educaccedilatildeo Baacutesica

Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 6

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio 9

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens 9

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea 10

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens 12

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens 14

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo 14

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude 16

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea 17

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem 19

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens 22

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens 31

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora 32

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem 34

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem 39

Referecircncias 42

6

Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

8

Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

10

Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

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43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

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SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

47

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 2: Caderno 4   2ª etapa pacto

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IV

AUTORES

Adair Bonini

Claudia Hilsdorf Rocha

Fernando Jaime Gonzalez

Magali Oliveira Kleber

Paulo Evaldo Fensterseifer

Ruberval Franco Maciel

COORDENACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO

Monica Ribeiro da Silva (organizadora)

Ceacuteuli Mariano Jorge

Eloise Medice Colontonio

Giacutelian Cristina Barros

Giselle Christina Correcirca

Leacuteia de Caacutessia Fernandes Hegeto

LEITORES CRIacuteTICOS

Altair Pivovar

Nelagley Marques

Sacircmia Maria Carvalho

REVISAtildeO

Giselle Christina Correcirca

PROJETO GRAacuteFICO E EDITORACcedilAtildeO

Victor Augustus Graciotto Silva

Rafael Ferrer Kloss

CAPA

Yasmin Fabris

Rafael Ferrer Kloss

ARTE FINAL

Rafael Ferrer Kloss

COORDENACcedilAtildeO GERAL E ORGANIZACcedilAtildeO DA PRODUCcedilAtildeO DOS MATERIAIS

Monica Ribeiro da Silva

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO

SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA (SEB)

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA Esplanada dos Ministeacuterios Bloco L Sala 500 CEP 70047-900 Tel (61)20228318 - 20228320

Brasil Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Formaccedilatildeo de professores do ensino meacutedio Etapa II - Caderno IV Linguagens Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [autores Adair Bonini et al] ndash Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2014 47p ISBN 9788589799966 (coleccedilatildeo) 9788584650002 (v4) Inclui referecircncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio 1 Ensino meacutedio 2 Professores - Formaccedilatildeo 3 Linguagem e liacutenguas ndash Estudo e ensino 4 Artes ndash Estudo e ensino 5 Educaccedilatildeo fiacutesica (Segundo grau) I Bonini Adair II Universidade Federal do Paranaacute Setor de Educaccedilatildeo III Linguagens IV Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio V Tiacutetulo CDD 3739

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacuteSISTEMA DE BIBLIOTECAS ndash BIBLIOTECA CENTRAL

COORDENACcedilAtildeO DE PROCESSOS TEacuteCNICOS

Andrea Carolina Grohs CRB 91384

Caro Professor Cara Professora

Com vistas a garantir a qualidade do Ensino Meacutedio ofertado no Paiacutes foi instituiacutedo por meio da Portaria Ministerial nordm 1140 de 22 de novembro de 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio Este Pacto contempla dentre outras a accedilatildeo de formaccedilatildeo continuada dos professores e coordenadores pedagoacutegicos de Ensino Meacutedio por meio da colaboraccedilatildeo entre Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo e Universidades

Esta accedilatildeo tem o objetivo central de contribuir para o aperfeiccediloamento da formaccedilatildeo continuada de professores a partir da discussatildeo das praacuteticas docentes agrave luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (Resoluccedilatildeo CNECEB ndeg 2 de 31 de janeiro de 2012) Nesse sentido a formaccedilatildeo se articula agrave accedilatildeo de redesenho curricular em desenvolvimento nas escolas puacuteblicas de Ensino Meacutedio a partir dessas Diretrizes

A primeira etapa da Formaccedilatildeo Continuada em conformidade com as DCNEM trouxe como eixo condutor ldquoOs Sujeitos do Ensino Meacutedio e a Formaccedilatildeo Humana Integralrdquo e foi composta pelos seguintes Campos TemaacuteticosCadernos Sujeitos do Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral O Curriacuteculo do Ensino Meacutedio seus sujeitos e o desafio da Formaccedilatildeo Humana Integral Organizaccedilatildeo e Gestatildeo do Trabalho Pedagoacutegico Avaliaccedilatildeo no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento e Integraccedilatildeo Curricular

Nesta segunda etapa dando continuidade ao eixo proposto as temaacuteticas que compotildeem os Ca-dernos de Formaccedilatildeo do Pacto satildeo Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento do Ensino Meacutedio em consonacircncia com as proposiccedilotildees das DCNEM considerando o diaacutelogo com o que vem sendo praticado em nossas escolas a diversidade de praacuteticas e a garantia da educaccedilatildeo para todos A formaccedilatildeo continuada propiciada pelo Pacto auxiliaraacute o debate sobre a Base Nacional Comum do Curriacuteculo que seraacute objeto de estudo dos diversos setores da educaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional em articulaccedilatildeo com a sociedade na perspectiva da garantia do direito agrave aprendiza-gem e ao desenvolvimento humano dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica conforme meta estabelecida no Plano Nacional de Educaccedilatildeo

Destacamos como ponto fundamental que nesta segunda etapa seja feita a leitura e a reflexatildeo dos Cadernos de todas as aacutereas por todos os professores que participam da formaccedilatildeo do Pacto consi-derando o objetivo de aprofundar as discussotildees sobre a articulaccedilatildeo entre conhecimentos das diferen-tes disciplinas e aacutereas a partir da realidade escolar A perspectiva de integraccedilatildeo curricular posta pelas DCNEM exige que os professores ampliem suas compreensotildees sobre a totalidade dos componentes curriculares na forma de disciplinas e outras possibilidades de organizaccedilatildeo do conhecimento escolar a partir de quatro dimensotildees fundamentais a) compreensatildeo sobre os sujeitos do Ensino Meacutedio con-siderando suas experiecircncias e suas necessidades b) escolha de conhecimentos relevantes de modo a produzir conteuacutedos contextualizados nas diversas situaccedilotildees onde a educaccedilatildeo no Ensino Meacutedio eacute produzida c) planejamento que propicie a explicitaccedilatildeo das praacuteticas de docecircncia e que amplie a diver-sificaccedilatildeo das intervenccedilotildees no sentido da integraccedilatildeo nas aacutereas e entre aacutereas d) avaliaccedilatildeo que permita ao estudante compreender suas aprendizagens e ao docente identificaacute-las para novos planejamentos

Espera-se que esta etapa assim como as demais que estamos preparando seja a oportunidade para uma real e efetiva integraccedilatildeo entre os diversos componentes curriculares considerando o im-pacto na melhoria de condiccedilotildees de aprender e desenvolver-se dos estudantes e dos professores nessa etapa conclusiva da Educaccedilatildeo Baacutesica

Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 6

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio 9

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens 9

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea 10

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens 12

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens 14

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo 14

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude 16

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea 17

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem 19

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens 22

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens 31

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora 32

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem 34

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem 39

Referecircncias 42

6

Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

7

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

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Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

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Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

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Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

15

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

16

Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

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GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 3: Caderno 4   2ª etapa pacto

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO

SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA (SEB)

MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO SECRETARIA DE EDUCACcedilAtildeO BAacuteSICA Esplanada dos Ministeacuterios Bloco L Sala 500 CEP 70047-900 Tel (61)20228318 - 20228320

Brasil Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Formaccedilatildeo de professores do ensino meacutedio Etapa II - Caderno IV Linguagens Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [autores Adair Bonini et al] ndash Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2014 47p ISBN 9788589799966 (coleccedilatildeo) 9788584650002 (v4) Inclui referecircncias Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio 1 Ensino meacutedio 2 Professores - Formaccedilatildeo 3 Linguagem e liacutenguas ndash Estudo e ensino 4 Artes ndash Estudo e ensino 5 Educaccedilatildeo fiacutesica (Segundo grau) I Bonini Adair II Universidade Federal do Paranaacute Setor de Educaccedilatildeo III Linguagens IV Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio V Tiacutetulo CDD 3739

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacuteSISTEMA DE BIBLIOTECAS ndash BIBLIOTECA CENTRAL

COORDENACcedilAtildeO DE PROCESSOS TEacuteCNICOS

Andrea Carolina Grohs CRB 91384

Caro Professor Cara Professora

Com vistas a garantir a qualidade do Ensino Meacutedio ofertado no Paiacutes foi instituiacutedo por meio da Portaria Ministerial nordm 1140 de 22 de novembro de 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio Este Pacto contempla dentre outras a accedilatildeo de formaccedilatildeo continuada dos professores e coordenadores pedagoacutegicos de Ensino Meacutedio por meio da colaboraccedilatildeo entre Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo e Universidades

Esta accedilatildeo tem o objetivo central de contribuir para o aperfeiccediloamento da formaccedilatildeo continuada de professores a partir da discussatildeo das praacuteticas docentes agrave luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (Resoluccedilatildeo CNECEB ndeg 2 de 31 de janeiro de 2012) Nesse sentido a formaccedilatildeo se articula agrave accedilatildeo de redesenho curricular em desenvolvimento nas escolas puacuteblicas de Ensino Meacutedio a partir dessas Diretrizes

A primeira etapa da Formaccedilatildeo Continuada em conformidade com as DCNEM trouxe como eixo condutor ldquoOs Sujeitos do Ensino Meacutedio e a Formaccedilatildeo Humana Integralrdquo e foi composta pelos seguintes Campos TemaacuteticosCadernos Sujeitos do Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral O Curriacuteculo do Ensino Meacutedio seus sujeitos e o desafio da Formaccedilatildeo Humana Integral Organizaccedilatildeo e Gestatildeo do Trabalho Pedagoacutegico Avaliaccedilatildeo no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento e Integraccedilatildeo Curricular

Nesta segunda etapa dando continuidade ao eixo proposto as temaacuteticas que compotildeem os Ca-dernos de Formaccedilatildeo do Pacto satildeo Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento do Ensino Meacutedio em consonacircncia com as proposiccedilotildees das DCNEM considerando o diaacutelogo com o que vem sendo praticado em nossas escolas a diversidade de praacuteticas e a garantia da educaccedilatildeo para todos A formaccedilatildeo continuada propiciada pelo Pacto auxiliaraacute o debate sobre a Base Nacional Comum do Curriacuteculo que seraacute objeto de estudo dos diversos setores da educaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional em articulaccedilatildeo com a sociedade na perspectiva da garantia do direito agrave aprendiza-gem e ao desenvolvimento humano dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica conforme meta estabelecida no Plano Nacional de Educaccedilatildeo

Destacamos como ponto fundamental que nesta segunda etapa seja feita a leitura e a reflexatildeo dos Cadernos de todas as aacutereas por todos os professores que participam da formaccedilatildeo do Pacto consi-derando o objetivo de aprofundar as discussotildees sobre a articulaccedilatildeo entre conhecimentos das diferen-tes disciplinas e aacutereas a partir da realidade escolar A perspectiva de integraccedilatildeo curricular posta pelas DCNEM exige que os professores ampliem suas compreensotildees sobre a totalidade dos componentes curriculares na forma de disciplinas e outras possibilidades de organizaccedilatildeo do conhecimento escolar a partir de quatro dimensotildees fundamentais a) compreensatildeo sobre os sujeitos do Ensino Meacutedio con-siderando suas experiecircncias e suas necessidades b) escolha de conhecimentos relevantes de modo a produzir conteuacutedos contextualizados nas diversas situaccedilotildees onde a educaccedilatildeo no Ensino Meacutedio eacute produzida c) planejamento que propicie a explicitaccedilatildeo das praacuteticas de docecircncia e que amplie a diver-sificaccedilatildeo das intervenccedilotildees no sentido da integraccedilatildeo nas aacutereas e entre aacutereas d) avaliaccedilatildeo que permita ao estudante compreender suas aprendizagens e ao docente identificaacute-las para novos planejamentos

Espera-se que esta etapa assim como as demais que estamos preparando seja a oportunidade para uma real e efetiva integraccedilatildeo entre os diversos componentes curriculares considerando o im-pacto na melhoria de condiccedilotildees de aprender e desenvolver-se dos estudantes e dos professores nessa etapa conclusiva da Educaccedilatildeo Baacutesica

Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 6

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio 9

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens 9

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea 10

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens 12

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens 14

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo 14

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude 16

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea 17

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem 19

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens 22

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens 31

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora 32

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem 34

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem 39

Referecircncias 42

6

Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

7

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

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Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

10

Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 4: Caderno 4   2ª etapa pacto

Caro Professor Cara Professora

Com vistas a garantir a qualidade do Ensino Meacutedio ofertado no Paiacutes foi instituiacutedo por meio da Portaria Ministerial nordm 1140 de 22 de novembro de 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio Este Pacto contempla dentre outras a accedilatildeo de formaccedilatildeo continuada dos professores e coordenadores pedagoacutegicos de Ensino Meacutedio por meio da colaboraccedilatildeo entre Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo e Universidades

Esta accedilatildeo tem o objetivo central de contribuir para o aperfeiccediloamento da formaccedilatildeo continuada de professores a partir da discussatildeo das praacuteticas docentes agrave luz das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (Resoluccedilatildeo CNECEB ndeg 2 de 31 de janeiro de 2012) Nesse sentido a formaccedilatildeo se articula agrave accedilatildeo de redesenho curricular em desenvolvimento nas escolas puacuteblicas de Ensino Meacutedio a partir dessas Diretrizes

A primeira etapa da Formaccedilatildeo Continuada em conformidade com as DCNEM trouxe como eixo condutor ldquoOs Sujeitos do Ensino Meacutedio e a Formaccedilatildeo Humana Integralrdquo e foi composta pelos seguintes Campos TemaacuteticosCadernos Sujeitos do Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral Ensino Meacutedio e Formaccedilatildeo Humana Integral O Curriacuteculo do Ensino Meacutedio seus sujeitos e o desafio da Formaccedilatildeo Humana Integral Organizaccedilatildeo e Gestatildeo do Trabalho Pedagoacutegico Avaliaccedilatildeo no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento e Integraccedilatildeo Curricular

Nesta segunda etapa dando continuidade ao eixo proposto as temaacuteticas que compotildeem os Ca-dernos de Formaccedilatildeo do Pacto satildeo Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico no Ensino Meacutedio e Aacutereas de Conhecimento do Ensino Meacutedio em consonacircncia com as proposiccedilotildees das DCNEM considerando o diaacutelogo com o que vem sendo praticado em nossas escolas a diversidade de praacuteticas e a garantia da educaccedilatildeo para todos A formaccedilatildeo continuada propiciada pelo Pacto auxiliaraacute o debate sobre a Base Nacional Comum do Curriacuteculo que seraacute objeto de estudo dos diversos setores da educaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional em articulaccedilatildeo com a sociedade na perspectiva da garantia do direito agrave aprendiza-gem e ao desenvolvimento humano dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica conforme meta estabelecida no Plano Nacional de Educaccedilatildeo

Destacamos como ponto fundamental que nesta segunda etapa seja feita a leitura e a reflexatildeo dos Cadernos de todas as aacutereas por todos os professores que participam da formaccedilatildeo do Pacto consi-derando o objetivo de aprofundar as discussotildees sobre a articulaccedilatildeo entre conhecimentos das diferen-tes disciplinas e aacutereas a partir da realidade escolar A perspectiva de integraccedilatildeo curricular posta pelas DCNEM exige que os professores ampliem suas compreensotildees sobre a totalidade dos componentes curriculares na forma de disciplinas e outras possibilidades de organizaccedilatildeo do conhecimento escolar a partir de quatro dimensotildees fundamentais a) compreensatildeo sobre os sujeitos do Ensino Meacutedio con-siderando suas experiecircncias e suas necessidades b) escolha de conhecimentos relevantes de modo a produzir conteuacutedos contextualizados nas diversas situaccedilotildees onde a educaccedilatildeo no Ensino Meacutedio eacute produzida c) planejamento que propicie a explicitaccedilatildeo das praacuteticas de docecircncia e que amplie a diver-sificaccedilatildeo das intervenccedilotildees no sentido da integraccedilatildeo nas aacutereas e entre aacutereas d) avaliaccedilatildeo que permita ao estudante compreender suas aprendizagens e ao docente identificaacute-las para novos planejamentos

Espera-se que esta etapa assim como as demais que estamos preparando seja a oportunidade para uma real e efetiva integraccedilatildeo entre os diversos componentes curriculares considerando o im-pacto na melhoria de condiccedilotildees de aprender e desenvolver-se dos estudantes e dos professores nessa etapa conclusiva da Educaccedilatildeo Baacutesica

Secretaria da Educaccedilatildeo Baacutesica

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 6

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio 9

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens 9

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea 10

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens 12

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens 14

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo 14

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude 16

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea 17

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem 19

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens 22

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens 31

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora 32

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem 34

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem 39

Referecircncias 42

6

Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

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Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

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Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

15

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

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Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

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Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

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Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

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Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

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Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

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CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

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CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

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GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

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VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 5: Caderno 4   2ª etapa pacto

Sumaacuterio

Introduccedilatildeo 6

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio 9

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens 9

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea 10

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens 12

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens 14

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo 14

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude 16

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea 17

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem 19

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens 22

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens 31

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora 32

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem 34

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem 39

Referecircncias 42

6

Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

7

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

8

Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

9

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

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Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

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Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

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Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 6: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

Introduccedilatildeo

Na veacutespera tendo de ir abaixo Custoacutedio foi agrave Rua da Assembleia onde se pintava a tabuleta Era jaacute

tarde o pintor suspendera o trabalho Soacute algumas das letras ficaram pintadas mdash a palavra Confeitaria e a

letra d A letra o e a palavra Impeacuterio estavam soacute debuxadas a giz Gostou da tinta e da cor reconciliou-se

com a forma e apenas perdoou a despesa Recomendou pressa Queria inaugurar a tabuleta no domingo

Ao acordar de manhatilde natildeo soube logo do que houvera na cidade mas pouco a pouco vieram vindo

as notiacutecias viu passar um batalhatildeo e creu que lhe diziam a verdade os que afirmavam a revoluccedilatildeo e vaga-

mente a repuacuteblica A princiacutepio no meio do espanto esqueceu-lhe a tabuleta Quando se lembrou dela viu

que era preciso sustar a pintura Escreveu agraves pressas um bilhete e mandou um caixeiro ao pintor O bilhete

dizia soacute isto ldquoPare no Drdquo Com efeito natildeo era preciso pintar o resto que seria perdido nem perder o

princiacutepio que podia valer Sempre haveria palavra que ocupasse o lugar das letras restantes ldquoPare no Drdquo

Quando o portador voltou trouxe a notiacutecia de que a

tabuleta estava pronta

mdash Vocecirc viu-a pronta

mdash Vi patratildeo

mdash Tinha escrito o nome antigo

mdash Tinha sim senhor ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo Esauacute e Jacoacute

Machado de Assis

Professores e professoras sintam-se convidados a adentrar o territoacuterio da linguagem Com essa

epiacutegrafe que a princiacutepio talvez possa parecer um pouco intrigante queremos comeccedilar o nosso percurso

de reflexatildeo Menos que repisar a tradiccedilatildeo trazemos Machado de Assis pelo que ele eacute capaz de nos dizer

sem dizer de nos fazer experimentar Essa eacute a histoacuteria do confeiteiro Custoacutedio que aparece como pano de

fundo da histoacuteria principal no romance Esauacute e Jacoacute Cedendo aos apelos de pessoas proacuteximas Custoacutedio

(atentem para o nome) resolveu repintar e por fim refazer a placa de identificaccedilatildeo de sua ldquoConfeitaria do

Impeacuteriordquo bem nos dias em que repuacuteblica foi proclamada Quando viu que a placa com a nova pintura iria

saltar aos olhos dos defensores da repuacuteblica e que talvez os ldquorevolucionaacuterios lhe fossem quebrar as vidra-

ccedilasrdquo resolveu voltar atraacutes tentando ldquosalvarrdquo tanto o dinheiro quanto a freguesia Sem saber que rumo dar

agrave placa revolve pedir conselho a outro personagem que lhe indica seis possibilidades refutadas em sua

maioria ldquoConfeitaria da Repuacuteblicardquo (se houver uma reviravolta perde o investimento na placa novamen-

te) ldquoConfeitaria do Governordquo (todo governo tem oposiccedilatildeo) deixar o nome e acrescentar ldquodas leisrdquo (sendo

essas duas uacuteltimas menores provavelmente as pessoas apenas veratildeo o ldquoimpeacuteriordquo) ldquoConfeitaria do Cateterdquo

(uma vez havendo outra confeitaria na rua perde freguesia para ela jaacute que as pessoas se confundiriam)

deixar a tabuleta pintada como estaacute e agrave direita na ponta por baixo do tiacutetulo mandar escrever ldquoFundada

em 1860rdquo e ldquoConfeitaria do Custoacutediordquo (ambas aceitas embora com alguma resistecircncia)

7

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

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Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

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Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 7: Caderno 4   2ª etapa pacto

7

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Essa histoacuteria eacute reveladora de como a linguagem se constitui e eacute constitutiva da praacutetica social A

mudanccedila da forma de governo nesse caso coloca uma situaccedilatildeo diferente de produccedilatildeo da linguagem na

qual a placa natildeo seraacute mais lida da mesma forma Ao mudar de ldquoConfeitaria do Impeacuteriordquo para ldquoConfeitaria

da Repuacuteblicardquo o estabelecimento de algum modo estaacute avalizando uma posiccedilatildeo e ao mesmo tempo

ajudando a sedimentar um regime de significaccedilatildeo As proacuteprias identidades e relaccedilotildees entre as pessoas se

modificam nessa alternacircncia dos nomes em questatildeo Vemos desse modo que o mundo se constitui natildeo

apenas por accedilotildees fiacutesicas mas tambeacutem por accedilotildees de linguagem e o sujeito por sua vez se constitui no

modo como atua pela linguagem

O presente texto busca oferecer subsiacutedios para se pensar o curriacuteculo escolar e os respectivos com-

ponentes curriculares da aacuterea de Linguagens que como proposto nas Diretrizes Curriculares Nacionais

para o Ensino Meacutedio ndash DCNEM (BRASIL 2012) satildeo Liacutengua Portuguesa Liacutengua Materna (populaccedilotildees

indiacutegenas) Liacutengua Estrangeira (com Liacutengua Espanhola tendo oferta obrigatoacuteria mas facultativa ao alu-

no) Arte (Artes Visuais Danccedila Muacutesica e Teatro) e Educaccedilatildeo Fiacutesica As reflexotildees e consideraccedilotildees aqui

traccediladas envolvem a elaboraccedilatildeo de uma proposta que contemple a pluralidade os contextos e a situacio-

nalidade das praacuteticas sociais e educativas da aacuterea de Linguagens abrindo espaccedilo para um processo de

aprendizagem significativo e criacutetico resultante da participaccedilatildeo democraacutetica dos sujeitos envolvidos na

escola - estudantes docentes funcionaacuterios e comunidade ndash e das buscas de conhecimento

Entendemos que essa aacuterea ganha um nuacutecleo definidor agrave medida que todos os seus componentes se

voltam para os conhecimentos e saberes relativos agraves interaccedilotildees e agraves expressotildees do sujeito em praacuteticas socioculturais Ou seja como aacuterea todos os componentes curriculares arrolados acima de algum modo

enfocam as representaccedilotildees de mundo as formas de accedilatildeo e as manifestaccedilotildees de linguagens entenden-

do-as como constitutivas das praacuteticas sociais e ao mesmo tempo por elas constituiacutedas Nesse sentido

esses trecircs elementos estatildeo presentes na proacutepria produccedilatildeo de sentidos que se daacute pela linguagem uma vez

que como vimos no exemplo da confeitaria mudar ou manter a denominaccedilatildeo implica em se alinhar a

(ou mesmo transformar) determinadas representaccedilotildees (monaacuterquicas republicanas anarquistas etc) em

agir ou ser paciente de accedilotildees de um determinado modo (tornando-se alvo dos republicanos ou dos monar-

quistas em pleno movimento de declaraccedilatildeo da repuacuteblica) em recorrer a determinadas configuraccedilotildees de

linguagem (nesse caso a placa as convenccedilotildees de formaccedilatildeo de nomes de empresas em voga nessa eacutepoca e

lugar os formatos das letras etc)

Assim como acontece com Custoacutedio noacutes e nossos estudantes tambeacutem estamos constantemente

nos defrontando com a inevitaacutevel mediaccedilatildeo das linguagens A praacutetica de um esporte a escrita de um

e-mail a accedilatildeo de fotografar e expor essa fotografia satildeo formas de produccedilatildeo de sentidos que se datildeo como

linguagens Aleacutem disso quando as praacuteticas de linguagem adentram o espaccedilo escolar elas trazem consigo

as identidades de diferentes grupos sociais e ao serem trabalhadas como conhecimento saber e reflexatildeo

elas exercem um importante papel no processo de constituiccedilatildeo do sujeito e portanto do estudante como

sujeito em constituiccedilatildeo

Nossa reflexatildeo nesse texto assim volta-se para uma atividade educativa que visa constituir saberes

a partir da proacutepria atuaccedilatildeo dos sujeitos em praacuteticas sociais enfocando especialmente as mediaccedilotildees de

linguagem pelas quais passam Busca-se assim propiciar e ampliar possibilidades de acesso a saberes e

8

Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

9

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

10

Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 8: Caderno 4   2ª etapa pacto

8

Linguagens

culturas bem como agrave sua produccedilatildeo em espaccedilos variados como os cenaacuterios urbanos e rurais a fim de que

possam ser problematizados e (re)construiacutedos referenciais voltados agrave negociaccedilatildeo das diferenccedilas e agrave busca

do respeito muacutetuo

O itineraacuterio que escolhemos envolve inicialmente uma contextualizaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens

que compreende tanto a sua caracterizaccedilatildeo como aacuterea com componentes integrados quanto os conheci-

mentos que permitem o desencadeamento das atividades educativas No momento seguinte voltamo-nos

para uma reflexatildeo sobre as especificidades que caracterizam o sujeito do Ensino Meacutedio e ao modo como

contemplando essa especificidade a atividade educativa da aacuterea de Linguagens pode produzir uma accedilatildeo

relacionada aos direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na Educaccedilatildeo Baacutesica Dando pros-

seguimento a essa reflexatildeo sobre o mundo do estudante do Ensino Meacutedio abordamos o trabalho a cultura

a ciecircncia e a tecnologia como dimensotildees da atividade educativa No uacuteltimo momento desse percurso nos

atemos agrave organizaccedilatildeo curricular e aos princiacutepios metodoloacutegicos para as atividades educativas da aacuterea de

Linguagens

Fica aqui portanto o convite agrave leitura e ao diaacutelogo conosco com vias a nossa reflexatildeo conjunta

sobre a atividade educativa em linguagens

Desejamos um bom trabalho a todos e a todas

9

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

10

Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 9: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

1 A Aacuterea Linguagens e sua contribuiccedilatildeo para a formaccedilatildeo do estudante do Ensino Meacutedio

As Linguagens constituem uma aacuterea curricular no atual quadro da Educaccedilatildeo Baacutesica Mas o que

constitui essa aacuterea como ela se formou por quecirc Essas satildeo algumas perguntas que iratildeo guiar a nossa

reflexatildeo nesta unidade Iniciamos portanto refletindo sobre a constituiccedilatildeo da aacuterea de modo bem amplo

depois passamos pelo conceito de linguagem e em seguida chegamos aos conhecimentos que permeiam

e integram os componentes da aacuterea

11 A formaccedilatildeo da Aacuterea Linguagens

A concepccedilatildeo de uma aacuterea de Linguagens como arranjo curricular da Educaccedilatildeo Baacutesica comeccedila a

tomar forma na deacutecada de 90 Nesse sentido nos PCNEM (2000) PCN+ (2002) jaacute aparecia uma aacuterea

denominada ldquoLinguagens coacutedigos e suas tecnologiasrdquo contendo os seguintes componentes Liacutengua Por-

tuguesa Liacutengua Estrangeira Moderna Educaccedilatildeo Fiacutesica Arte e Informaacutetica Haacute um comentaacuterio geral

sobre a aacuterea em ambos os documentos mas que natildeo chega a discutir a integraccedilatildeo dos componentes curri-

culares Nas Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio - OCEM (2006) a aacuterea aparece com a mesma

denominaccedilatildeo sendo considerados os conhecimentos relativos agrave Liacutengua Portuguesa Literatura Liacutenguas

Estrangeiras Espanhol Arte e Educaccedilatildeo Fiacutesica Natildeo haacute discussatildeo sobre a aacuterea ou sobre os seus compo-

nentes curriculares tema que soacute volta a entrar em pauta nos documentos mais recentes

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica ndash DCNEB (2010) a aacuterea passa

a ser definida por sua vez com o nome Linguagens compreendendo os componentes obrigatoacuterios a) Liacuten-

gua Portuguesa b) Liacutengua Materna para populaccedilotildees indiacutegenas c) Liacutengua Estrangeira moderna d) Arte e

e) Educaccedilatildeo Fiacutesica Nas DCNEM (2012) ocorre apenas uma especificaccedilatildeo do componente Arte ldquoem suas

diferentes linguagens cecircnicas plaacutesticas e obrigatoriamente a musicalrdquo

As DCNEB (2010) ainda abrem a possibilidade de que as aacutereas e componentes construam as suas

proacuteprias definiccedilotildees quando afirmam no artigo 16 que ldquoOs componentes curriculares e as aacutereas de conhe-

cimento devem articular em seus conteuacutedos a partir das possibilidades abertas pelos seus referenciais a

abordagem de temas abrangentes e contemporacircneos que afetam a vida humana em escala global regional

e local bem como na esfera individualrdquo (BRASIL 2010 p5)

Os componentes curriculares embora contemplem conhecimentos acadecircmicos natildeo equivalem agraves

disciplinas acadecircmicascientiacuteficas pois eles satildeo construiacutedos em funccedilatildeo do tipo de processo formativo em

funccedilatildeo do curriacuteculo que se quer instituir A constituiccedilatildeo da aacuterea de linguagens portanto demanda escolhas

e um esforccedilo de integraccedilatildeo de conhecimentos que no contexto universitaacuterio nem sempre satildeo produzidos

em grande proximidade seja em termos de organizaccedilatildeo departamental seja de divisatildeo de aacutereas do conhe-

cimento seja de fronteiras epistemoloacutegicas

Entendemos nesse sentido que os componentes curriculares arrolados na aacuterea Linguagens se inte-

gram como aacuterea em funccedilatildeo de todos terem como objeto a atuaccedilatildeo de sujeitos em praacuteticas sociais sejam

enunciativas artiacutesticas ou corporais como por exemplo proferir uma palestra participar de uma roda de

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Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

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Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

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Linguagens

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

47

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 10: Caderno 4   2ª etapa pacto

10

Linguagens

capoeira ou pintar uma aquarela A linguagem como forma soacutecio-historicamente definida de produccedilatildeo de

sentidos eacute constitutiva de todas essas praacuteticas e portanto fundante da aacuterea Em todas elas conforme delas

participem os sujeitos se defrontam com a inevitaacutevel questatildeo de seguir ou romper com as convenccedilotildees

estabilizadas

Outro ponto em que esses componentes convergem numa uacutenica aacuterea curricular eacute o fato de todos

ao focalizarem as praacuteticas de linguagem como parte do processo de ensino e aprendizagem dedicarem

especial atenccedilatildeo ao modo como o estudante com elas se envolve seja realizando-as seja refletindo sobre

elas Nessa aacuterea portanto a ampliaccedilatildeo de saberes envolve experienciar e contrastar praacuteticas diversas ge-

rando debates pesquisas e a reflexatildeo sobre o proacuteprio processo de inserccedilatildeo nessas praacuteticas de modo que

os estudantes desenvolvam autonomia para sua atuaccedilatildeo no mundo fora da escola

Por outro lado eacute importante mencionar que reconhecer nos diferentes componentes da aacuterea esses

elementos em comum natildeo significa que cada um destes natildeo trate de outros conhecimentos natildeo direta-

mente relacionados ao campo das linguagens Educaccedilatildeo Fiacutesica por exemplo aleacutem de tematizar as praacuteti-

cas corporais como manifestaccedilotildees da linguagem tambeacutem se ocupa de outros conhecimentos vinculados

ao campo da sauacutede da praacutetica de exerciacutecios fiacutesicos do desenvolvimento da aptidatildeo fiacutesica etc os quais

permitem interfaces efetivas com outros componentes e aacutereas do curriacuteculo da Educaccedilatildeo Baacutesica que no

entanto natildeo seratildeo aqui destacados Dar centralidade agrave dimensatildeo comum dos conhecimentos das lingua-

gens foi uma escolha produto do entendimento que nesta etapa da formaccedilatildeo se deveria enfatizar o que

aproxima os componentes da aacuterea deixando para a proacutexima etapa aleacutem do detalhamento do aqui descrito

a explicitaccedilatildeo de possiacuteveis peculiaridades de cada componente

12 A Linguagem como elo integrador da aacuterea

No escopo da Educaccedilatildeo Baacutesica em que a educaccedilatildeo escolar evidencia-se como um direito e tambeacutem

como um componente crucial para o exerciacutecio da cidadania a aacuterea de Linguagens desempenha um impor-

tante papel na medida em que eacute constitutiva das relaccedilotildees humanas perpassando assim toda e qualquer

praacutetica social e portanto todas as aacutereas especiacuteficas de construccedilatildeo de conhecimentos

As linguagens satildeo aqui compreendidas como formas soacutecio-historicamente definidas de produccedilatildeo

de sentidos sendo que elas configuram mundos e o que denominamos realidade Satildeo desse modo dis-

cursivamente orientadas ou seja a realizaccedilatildeo de uma praacutetica de linguagem implica em alinhamento a

pelo menos um regime de significaccedilatildeo que especifica o que estaacute dentro ou fora do domiacutenio Quando se

pratica futebol ruacutegbi caratecirc quando se escreve um poema posta algo em uma rede social quando se

canta um samba danccedila um forroacute em todas as ocasiotildees se produz sentido (de alinhamento rompimento

mixagem etc) de acordo com os discursos estabelecidos A linguagem entatildeo constitui visotildees de mundo

e valores sobre tudo que nos cerca Os sentidos e portanto as praacuteticas sociais de linguagens satildeo assim

manifestaccedilotildees situadas natildeo existindo de forma autocircnoma ou abstraiacuteda do contexto histoacuterico-cultural nos

quais se datildeo as relaccedilotildees humanas

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

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Linguagens

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 11: Caderno 4   2ª etapa pacto

11

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

A aacuterea de Linguagens abarca por conseguinte praacuteticas sociais diversas as quais envolvem em

toda sua pluralidade representaccedilotildees formas de accedilatildeo e de manifestaccedilotildees de linguagens culturalmente

organizadas e historicamente determinadas Em seu nuacutecleo as linguagens abarcam os mais diversos

modos de expressotildees e performances artiacutesticas e literaacuterias manifestaccedilotildees de movimento corporal e ges-

tual e vivecircncias de interpretaccedilatildeo e construccedilatildeo de sentidos O modo como se entra em uma roda de capo-

eira girando em sentido anti-horaacuterio e indo ao ldquopeacute do berimbaurdquo (agrave frente da bateria de muacutesicos) pedir

licenccedila eacute linguagem Assim como tambeacutem eacute linguagem o modo como se faz uma muacutesica para contestar

(como o rock punk a canccedilatildeo de protesto o rap) ou se lecirc uma notiacutecia observando porque tal assunto foi

colocado no tiacutetulo porque o olho destaca tal frase e natildeo outra porque a opiniatildeo de determinado partici-

pante aparece e a de outro natildeo

Representaccedilatildeo social - Em teorias do signo diz que algo estaacute em lugar de algo para representaacute-lo Nesse caso a palavra lsquocasarsquo um desenho ou fo-tografia satildeo representaccedilotildees do objeto sendo que uma representaccedilatildeo pode ser tornar objeto de outra em uma cadeia semioacutetica Mais recentemente as representaccedilotildees tambeacutem tecircm sido usadas como uma forma de observar a or-ganizaccedilatildeo social pela linguagem Segundo Serge Moscovici (2007 p 21) as representaccedilotildees sociais satildeo tanto um sistema de valores e ideias quanto de praacuteticas funcionando como forma de ordenar e orientar a accedilotildees das pessoas e como base comum para a comunicaccedilatildeo

Accedilatildeo social - Max Weber define accedilatildeo social como unidade baacutesica da or-ganizaccedilatildeo da sociedade Para ele uma accedilatildeo social se produz como causa e consequecircncia de outras accedilotildees e reaccedilotildees eacute orientada para o outro Soacute eacute accedilatildeo social aquilo que eacute percebido pelo outro como accedilatildeo

Manifestaccedilotildees de linguagens ndash As manifestaccedilotildees de linguagem ocorrem segundo Bakhtin atraveacutes de enunciados que satildeo elos na cadeia ininterrupta da interaccedilatildeo discursiva Como unidade o enunciado apresenta fronteiras de-terminadas pelo enunciado que o antecede e pelo que o sucede aleacutem de se caracterizar a) pela ldquoexauribilidade do objeto e do sentidordquo b) pelo ldquoprojeto de discurso ou vontade de discurso do falanterdquo e c) pelas ldquoformas tiacutepicas composicionais e de gecircnero do acabamentordquo

Compreender diferentes formas de linguagens como situadas significa reco-nhecer primeiramente que estas se realizam sob determinadas condiccedilotildees de produccedilatildeo Elas se realizam em decorrecircncia de uma situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo especiacutefica e satildeo assim marcadas pelos tempo e lugar histoacutericos em que se encontram envolvidos os participantes dessas relaccedilotildees sociais pelos campos sociais em que elas ocorrem pelos propoacutesitos comunicativos estabelecidos bem como pelas linguagens recursos e meios pelos quais os sentidos satildeo expressos A natureza situada das praacuteticas de linguagens adveacutem ainda do re-conhecimento de que os sentidos natildeo satildeo preestabelecidos ou estaacuteticos mas que satildeo construiacutedos de forma dinacircmica nas relaccedilotildees sociais e satildeo marcados por posicionamentos eacuteticos esteacuteticos poliacuteticos entre outros Carregam portanto interesses que marcam as posiccedilotildees assumidas pelos sujeitos que participam dessas relaccedilotildees e que consequentemente revelam relaccedilotildees de autoridade e poder entre eles

12

Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 12: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

Assim entendidas as linguagens constituem as relaccedilotildees humanas e instituem as mais variadas for-

mas de produccedilatildeo de conhecimento Eacute importante nessa perspectiva o reconhecimento de que todo e

qualquer conhecimento bem como os sentidos satildeo construiacutedos em meio agraves especificidades de uma de-

terminada cultura a qual por sua vez encontra-se sempre em movimento travando relaccedilotildees nem sempre

paciacuteficas com culturas outras e tempos histoacutericos outros marcando a natureza multi ou transcultural das

praacuteticas de linguagens

As perspectivas didaacuteticas que orientam a aacuterea de Linguagens e seus componentes pressupotildeem o

usufruto dos direitos estabelecidos pela Educaccedilatildeo Baacutesica materializados na ampliaccedilatildeo de repertoacuterios

linguiacutesticos culturais e artiacutesticos por meio do envolvimento dos estudantes em praacuteticas de criaccedilatildeo e uso

criacutetico destas formas de expressatildeo de sentidos

13 Os conhecimentos da aacuterea de Linguagens

Quando pensamos no contexto do Ensino Meacutedio com suas potencialidades e problemas e em

um trabalho educacional que se volta para o sujeito em sua constituiccedilatildeo para a ampliaccedilatildeo do potencial

humano precisamos pensar no que faz sentido em termos dos conhecimentos mobilizados para a atividade

educativa No caso da aacuterea de Linguagens eacute importante arrolar conhecimentos que sejam sensiacuteveis a esse

projeto educacional ndash que favoreccedilam a aprendizagem significativa - e que tambeacutem favoreccedilam a interdis-

ciplinaridade de componentes curriculares na aacuterea e entre aacutereas

Listamos aqui seis conhecimentos sobre linguagens que ao serem mobilizados na atividade educa-

tiva podem favorecer o alcance de direitos de aprendizagem e desenvolvimento no Ensino Meacutedio Essa

relaccedilatildeo entre conhecimentos e direitos seraacute aprofundada na proacutexima unidade desse texto Passamos entatildeo

a uma exposiccedilatildeo desses conhecimentos quais sejam

a) O conhecimento sobre a organizaccedilatildeo e o uso criacutetico das diferentes linguagens Diz respeito

agraves diversas possibilidades de uso das linguagens em praacuteticas sociais que quando chegam ao estudante de

forma significativa possibilitam uma ampliaccedilatildeo de saberes relativos agrave produccedilatildeo de identidades das rela-

ccedilotildees sociais e da proacutepria realidade

Praacuteticas de criaccedilatildeo e uso criacutetico das formas expressivas da linguagem pro-piciam a ampliaccedilatildeo das possibilidades de engajamento do sujeito em deter-minadas praacuteticas sociais pressupondo um movimento contiacutenuo de reflexatildeo sobre as condiccedilotildees de produccedilatildeo que condicionam as relaccedilotildees sociais naque-les espaccedilos assim condicionam tambeacutem as representaccedilotildees e juiacutezos de valor que balizam tais relaccedilotildees Praacuteticas orientadas por essa perspectiva implicam ainda o acolhimento e a busca por formas outras (distintas das socialmente validadas ou institucionalizadas) de construccedilatildeo de conhecimentos e de sen-tidos por meio das diferentes linguagens aleacutem de proporcionar espaccedilos de rupturas com maneiras de pensar e agir autoritaacuterias que impotildeem determina-dos valores em detrimento de outros

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

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Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

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Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 13: Caderno 4   2ª etapa pacto

13

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

b) O conhecimento sobre a cultura patrimonializada local nacional e internacional Com-

preende o acesso agrave cultura patrimonializada pelo vieacutes da reflexatildeo criacutetica sobre o proacuteprio processo de pa-

trimonializaccedilatildeo sempre envolto em ideologias interesses e jogos de poder compreendendo desse modo

tambeacutem o acesso aos bens culturais que natildeo foram institucionalizados Se por um lado tecircm-se patrimocircnios

como as cidades histoacutericas a literatura as artes plaacutesticas haacute tambeacutem todo um conjunto de expressotildees do

bairro e da proacutepria escola que satildeo bens culturais importantes para o posicionamento daqueles sujeitos na

estrutura social Muitas vezes a comunidade perde em organizaccedilatildeo social e bem-estar por natildeo conhecer e

lutar pela valorizaccedilatildeo de um patrimocircnio seu

c) O conhecimento sobre a diversidade das linguagens Estaacute relacionado agrave valorizaccedilatildeo eou des-

valorizaccedilatildeo de grupos agrave medida que compreende a construccedilatildeo das identidades socioculturais e a conse-

quente inserccedilatildeo em praacuteticas poliacuteticas eacuteticas e esteacuteticas Os estudantes podem se beneficiar do comparti-

lhamento e da reflexatildeo sobre o outro e o que o constitui O conhecimento sobre a diversidade se legitima

pela vivecircncia da diferenccedila natildeo cabendo aiacute a imposiccedilatildeo de algumas codificaccedilotildees culturais como melhores

que outras

d) O conhecimento sobre a naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas so-ciais Compreende o reconhecimento de que as manifestaccedilotildees de linguagem se estabilizam atraveacutes de um

processo histoacuterico e social que envolve relaccedilotildees de poder e hegemonia Muitas das representaccedilotildees que

tratamos como naturais e imutaacuteveis podem manter relaccedilotildees de colonizaccedilatildeo de desigualdade de gecircneros

de preconceitos eacutetnico-raciais Quando os estudantes se percebem como produto e produtores de lingua-

gens podem desenvolver-se uma dimensatildeo criacutetica sobre a linguagem que desnaturalizada favorece a

participaccedilatildeo e a mudanccedila social

e) O conhecimento sobre autoria e posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica Trata-se

de um conhecimento sobre as possibilidades e limites da proacutepria accedilatildeo que se forma pela experiecircncia da

participaccedilatildeo poliacutetica e do protagonismo Consiste aleacutem disso em uma ampliaccedilatildeo das referecircncias atraveacutes

das quais os estudantes estabelecem criteacuterios que permitem avaliar a sua proacutepria conduta e entender e

caracterizar a conduta dos outros

f) O conhecimento sobre o mundo globalizado transcultural e digital e as praacuteticas de lin-guagem Compreende as praacuteticas e problemas sociais resultantes dos ajustes e desajustes nos planos

macroeconocircmicos tecnoloacutegicos de comunicaccedilatildeo e transporte que impactam as formas de ser e agir no

mundo contemporacircneo Assim esse conhecimento diz respeito agrave praacutetica social transversal e globalizadora

decorrente do rompimento das fronteiras espaccedilo-temporais que potildeem em cena as mesticcedilagens linguiacutesticas

culturais eacutetnicas sociais etc caracteriacutesticas desse iniacutecio de seacuteculo O acesso a saberes sobre o mundo di-

gital eacute fundamental aos estudantes do Ensino Meacutedio pois 1) as praacuteticas digitais direta ou indiretamente

impactam o seu dia-a-dia 2) certamente jaacute lhe despertam o interesse o que favorece o ensino significativo

e 3) delas podem melhor se apropriar teacutecnica e criticamente para sua participaccedilatildeo social e profissional

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

15

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 14: Caderno 4   2ª etapa pacto

14

Linguagens

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

15

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 15: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

desenvolvimento do sujeito e da consciecircncia dependem da superaccedilatildeo da esfera imediata ou seja da pos-sibilidade que um humano especiacutefico tenha de conviver com outras vozes outros pontos de vista outras realidades outros discursos para aleacutem daqueles que o cercam de estar em relaccedilatildeo de transgrediecircncia de se ver a partir do ponto de vista de outro humano

Sendo assim ao desenvolver consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e da construccedilatildeo coletiva da reali-dade e das proacuteprias identidades agrave medida que supera a esfera imediata o ser humano reelabora o coletivo a partir de sua proacutepria apreciaccedilatildeo (singular individual mas natildeo individualista) do mundo Nesses termos eacute que Voese afirma

O significado pois da expressatildeo lsquoser sujeitorsquo inclui assumir que a heterogeneidade so-cial e discursiva deve ser concebida concomitantemente como produto da atividade de consciecircncias singulares e individuadas e como condiccedilatildeo de constituiccedilatildeo dos homens em individualidades (VOESE 2003 p 175)

Ingo Voese (1940-2007) foi um analista do discurso que se dedicou a pensar o papel da linguagem na constituiccedilatildeo da consciecircncia social Para ele uma das metas fundamentais da escola eacute possibilitar aos estudantes uma refle-xatildeo sobre a mediaccedilatildeo discursiva de modo que eles possam tanto ampliar seu mundo para aleacutem da esfera imediata quanto atuar pelo social em meio ao conflito e agrave gestatildeo solidaacuteria de vozes Dentre seus livros destacam-se O MST na imprensa um exerciacutecio de Anaacutelise do Discurso (1998) Argumen-taccedilatildeo juriacutedica (2001) Anaacutelise do Discurso e o ensino de Liacutengua Portugue-sa (2004)

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade discutimos a formaccedilatildeo da aacuterea de Linguagens o conceito de linguagem e apresen-

tamos os conhecimentos da aacuterea Agora vamos refletir um pouco sobre esses temas atraveacutes da discussatildeo

do filme O enigma de Kaspar Hauser do diretor alematildeo Werner Herzog que vocecirc pode assistir em

httpswwwyoutubecomwatchv=MxpuYFouR70 Consideremos a seguinte ordem na atividade

1) Assistir ao filme procurando observar e anotar quais satildeo as relaccedilotildees entre linguagem e cons-

truccedilatildeo da realidade como as praacuteticas de linguagem estatildeo atreladas aos contextos sociais e histoacutericos

como os conhecimentos de linguagem listados acimas aparecem no filme

2) Em roda de discussatildeo comparar as anotaccedilotildees e reflexotildees

3) Ainda no grupo discutir a relaccedilatildeo entre imposiccedilatildeo e opccedilatildeo na linguagem e entre reproduccedilatildeo e

mudanccedila social

2 Os sujeitos estudantes do Ensino Meacutedio e os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

No Caderno II da Etapa I do PNEM jaacute se falou sobre o sujeito do Ensino Meacutedio e aqui voltamos a ele agora nos atendo um pouco mais sobre a aacuterea da Linguagem Nesta unidade vamos passar pelo conceito de sujeito especificando o que vem a ser o sujeito jovem do Ensino Meacutedio e como sua identi-dade e seu mundo se relacionam com os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano na aacuterea de Linguagens

21 Sujeito sujeitos da escola contexto interaccedilatildeo

Sujeito eacute um termo bastante antigo na histoacuteria do pensamento mas vamos partir aqui da concepccedilatildeo de Foucault que estaacute no cerne de qualquer discussatildeo atual sobre esse termo E por que sua reflexatildeo eacute tatildeo importante Porque ele concebe o humano natildeo como categoria preacute-histoacuterica ou a-histoacuterica mas como produto das relaccedilotildees de poder que vatildeo se constituindo de modo diferente em lugares e tempos diversos Sendo assim o homem natildeo eacute uma condiccedilatildeo para que as accedilotildees sociais existam mas ele eacute o resultado delas uma imagem projetada uma identidade que ele assume como sua Assim se louco ou luacutecido enfermo ou satildeo revolucionaacuterio ou reacionaacuterio gordo ou magro o sujeito se coloca em relaccedilatildeo aos discursos que produz e que nele se produzem Esses termos satildeo jaacute interpretaccedilotildees no interior de discursos e no embate entre discursos seja o da ciecircncia o da religiatildeo cristatilde o da psicologia o da medicina etc

Se o sujeito eacute uma construccedilatildeo histoacuterica como propotildee Foucault contudo ele natildeo necessariamente eacute determinado (assujeitado) pela histoacuteria Eacute neste sentido que um autor como Ingo Voese (2003) vai defen-der que o sujeito se constitui pela mediaccedilatildeo do discurso e que como tal ele pode desenvolver consciecircncia sobre essa mediaccedilatildeo Defende em ampliaccedilatildeo ao pensamento de Paulo Freire Gyoumlrgy Lukaacutecs e Agnes Heller que o homem torna-se tanto mais sujeito quanto maior seja a consciecircncia da mediaccedilatildeo discursiva e mais desenvolvido seja seu senso de coletividade Apoia-se tambeacutem em Mikhail Bakhtin ao afirmar que o

Michel Foucault (1926-1984) foi um dos mais influentes pensadores do seacute-culo XX Sua obra que contempla temas relativos aos mais diversos campos disciplinares (tais como Sociologia Histoacuteria Filosofia Linguiacutestica Criacutetica literaacuteria Antropologia Psicologia) ateacutem-se agrave relaccedilatildeo entre conhecimento e controle social Muitos dos conceitos que propocircs (como discurso poder sujeito formaccedilatildeo discursiva dispositivo) satildeo importantiacutessimos para o deba-te acadecircmico atual e para a compreensatildeo de como a sociedade se organiza e quais posiccedilotildees os sujeitos podem ou satildeo obrigados a ocupar (ou seja as condiccedilotildees possibilidades interdiccedilotildees do sujeito) Em sua obra ele procura mostrar como as relaccedilotildees sociais satildeo constitutivamente permeadas pelo po-der que como elemento interno constitui tanto a segregaccedilatildeo quanto a junccedilatildeo das pessoas Para ter poder eacute preciso saber eacute portanto necessaacuterio fundar um campo disciplinar que diga o que eacute algo e como esse algo deve se comportar Sua obra tem duas fases no iniacutecio a arqueologia do saber (com sua busca pela gecircnese dos campos disciplinares ndash como a psiquiatria ndash e com ela a descriccedilatildeo da sociedade moderna disciplinarizada poacutes-seacuteculo XVIII) depois a genealogia do poder com os micropoderes que perpassam os dispositivos sociais como a lei a sauacutede a famiacutelia e como eles controlam a subjetividade humana O livro A ordem do discurso (1971) eacute texto de passagem entre as duas fases da obra foucaultiana

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Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

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GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

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WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 16: Caderno 4   2ª etapa pacto

16

Linguagens

A consciecircncia sobre as determinaccedilotildees e possibilidades por sua vez eacute importante pois ldquoprecisamen-

te porque soacute essa condiccedilatildeo permitiraacute por exemplo decidir com clareza sobre o que deve ser preservado e

reproduzido e o que atraveacutes de acordos pode e deve ser transformadordquo (VOESE 2003 p 170)

Quando se fala na escola portanto temos a presenccedila de inuacutemeros sujeitos sejam aqueles consti-

tuiacutedos pelo discurso pedagoacutegico como professores alunos inspetores supervisores sejam aqueles cons-

tituiacutedos pela atividade social extramuros como o catoacutelico o ateu o metaleiro o funkeiro o ecologista

O desenvolvimento da atividade educativa se daacute no contexto da constituiccedilatildeo subjetiva mediante

identidades e praacuteticas especiacuteficas seus regulamentos seus embates e acordos Para que essa atividade

educativa faccedila sentido para esses sujeitos eles precisam ser contemplados em uma interaccedilatildeo autecircntica

onde haja espaccedilo para as opiniotildees os debates as decisotildees

Quando se fala do conhecimento sobre linguagens e de uma educaccedilatildeo pautada pelos direitos agrave

aprendizagem e ao desenvolvimento humano se fala dessa possibilidade de conhecer e reconhecer as

praacuteticas de linguagem de ir aleacutem das praacuteticas cotidianas de refletir sobre o que significa aderir a elas ou

renegaacute-las sobre as possibilidades de acesso e subversatildeo Fazer musculaccedilatildeo praticar ioga pilates Como

atingem o corpo Como conferem status Quem tem acesso ao quecirc O que se pode ou se quer escolher

Falar em uma reuniatildeo corrigir um trabalho escrever um conto Que poderes essas atividades conferem ao

sujeito Como invisibilizam outras atividades e identidades

22 Subjetividade e produccedilatildeo de conhecimento na juventude

Como tatildeo bem foi tratado no Caderno II da Etapa I desta formaccedilatildeo no Ensino Meacutedio estaacute em questatildeo

um sujeito aprendiz que se identifica e eacute identificado como jovem sendo que a juventude eacute entatildeo defi-

nida como ldquouma condiccedilatildeo social e um tipo de representaccedilatildeordquo (BRASIL 2013 p 14) Eacute uma condiccedilatildeo

social pois se trata de uma fase de transformaccedilotildees fiacutesicas cognitivas e sociais Eacute uma representaccedilatildeo pois

ser jovem eacute tambeacutem uma construccedilatildeo social que muda de comunidade para comunidade e de tempo para

tempo Considerando-se as diferenccedilas em termos de condiccedilotildees sociais diversidade cultural diversidade

de gecircnero diferenccedilas territoriais natildeo existe uma mas vaacuterias juventudes

Os problemas natildeo caracterizam a juventude mas satildeo aspectos relacionados agraves demandas e carecircn-

cias proacuteprios de uma determinada sociedade e momento Tanto os problemas quanto as potencialidades e

possibilidades satildeo elementos que compotildeem a accedilatildeo transformadora da realidade se o jovem for entendido

como sujeito em constituiccedilatildeo tanto quanto o adulto o eacute

A aprendizagem demanda participaccedilatildeo e o jovem tem um modo caracteriacutestico de produzir sentido

em suas praacuteticas A escola pode contribuir com seu aprendizado na medida em que respeita suas especifi-

Pesquisem sobre as dimensotildees da Poliacutetica Nacional de Juventude desde 2005 quando houve a criaccedilatildeo da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude O Brasil eacute o uacutenico paiacutes da Ameacuterica Latina que possui um conselho voltado especificamente para os jovens Vide httpwwwjuventudegovbrpolitica

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

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Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

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Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

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Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

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Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

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Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 17: Caderno 4   2ª etapa pacto

17

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cidades possibilitando a ressignificaccedilatildeo de sua accedilatildeo e a formaccedilatildeo de repertoacuterios culturais de forma criacutetica

Nesse sentido eacute que o Caderno II da Etapa I aponta

Uma das mais importantes tarefas das instituiccedilotildees educativas hoje estaacute em contribuir para que os jovens possam realizar escolhas conscientes sobre suas trajetoacuterias pessoais e constituir os seus proacuteprios acervos de valores e conhecimentos natildeo mais impostos como heranccedilas familiares ou institucionais (BRASIL 2013 p 19)

Pode-se recorrer aqui agrave formulaccedilatildeo de Boaventura de Souza Santos (1987) de um ldquoconhecimento

consequente para uma vida decenterdquo O conhecimento no processo de ensino e aprendizagem eacute ldquoconse-

quenterdquo quando eacute mobilizado a partir da proacutepria histoacuteria de vida dos estudantes servindo para que eles

possam pensar formas de inserccedilatildeo social e de construccedilatildeo (manutenccedilatildeo retomada dependendo da situa-

ccedilatildeo) de um mundo igualitaacuterio e portanto ldquodecenterdquo

No caso das praacuteticas de linguagem (da cultura corporal de movimentos das artes das praacuteticas enun-

ciativas em liacutenguas) o jovem pode tambeacutem delas se apropriar para acessar espaccedilos sociais quanto para

refletir sobre o seu mundo e sua identidade Natildeo haacute duacutevida que saber ler escrever apreciar obras artiacutesticas

falar um idioma estrangeiro atuar sobre o corpo satildeo desafios aos profissionais da escola e aos estudantes

Eles por outro lado pouco podem se beneficiar de uma escolha que trabalhe essas praacuteticas como treino ou

como conhecimento estaacutetico Quando os estudantes vatildeo aprender a produzir um jornal escolar por exem-

plo natildeo eacute tanto o caso de aprenderem a seguir uma metodologia ou de decorar definiccedilotildees do que seja uma

notiacutecia ou uma reportagem Seria interessante que eles aprendessem a descobrir como fazer a escolher os

gecircneros a pensar o que fariam diferente em uma segunda ediccedilatildeo Os professores natildeo vatildeo estar o tempo

todo na vida desses sujeitos para dizer por onde ir e dar opccedilotildees de escolha e definiccedilotildees Quase sempre

apoacutes a fase escolar o estudante teraacute que descobrir sozinho como se integrar em um ambiente de trabalho

em um movimento social em uma igreja sindicato Nesse momento seratildeo uacuteteis algumas definiccedilotildees

mas principalmente um conjunto de estrateacutegias de busca e tratamento de informaccedilotildees de comparaccedilatildeo e

julgamento de praacuteticas

23 Praacuteticas de linguagem nos componentes curriculares da aacuterea

Como vimos falando ateacute aqui ao se pensar o ensino e a aprendizagem na aacuterea de Linguagens como

um modo de oportunizar aos estudantes a construccedilatildeo de sentidos se posicionando em meio a diversos pon-

tos de vista tem-se como centro operacional o proacuteprio processo de constituiccedilatildeo do sujeito Nesses termos

a praacutetica educativa da aacuterea visa produzir um conhecimento reflexivo e criacutetico sobre as linguagens seja

quanto agraves manifestaccedilotildees cotidianas (como as praacuteticas do meio familiar) seja quanto agraves manifestaccedilotildees de

esferas mais elaboradas (como os conhecimentos acadecircmicos artiacutesticos literaacuterios midiaacuteticos etc)

Nesses termos o trabalho com os componentes e interdisciplinarmente na aacuterea e fora dela se be-

neficia ao considerar as potencialidades e pendecircncias em termos dos conhecimentos a que os jovens tecircm

acesso e aos saberes que estatildeo formando Nossos estudantes precisam desenvolver sofisticados saberes

relacionados agrave leitura e a produccedilatildeo textual em liacutenguas maternas e estrangeiras contemplando vaacuterias es-

feras sociais e discursos precisam se apropriar criticamente das manifestaccedilotildees da cultura corporal de

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 18: Caderno 4   2ª etapa pacto

18

Linguagens

movimentos e das praacuteticas e movimentos artiacutesticos compreendendo

aleacutem disso a reflexatildeo sobre o mundo digital os projetos de vida as

possibilidades e questotildees relativas ao trabalho etc Nos componentes

da aacuterea de Linguagens portanto haacute muitas possibilidades em latecircncia

para o desenvolvimento desses saberes situados e consequentes sendo

exemplos

bull a formaccedilatildeo de rodas de leitura e compartilhamento de tex-

tos produzidos a instauraccedilatildeo de ciclos de debates e diversos outros

eventos a produccedilatildeo de miacutedias que viabilizem conhecimentos sobre a

sociedade (a relaccedilatildeo entre as miacutedias e os poderes puacuteblicos e privados

por exemplo) conhecimentos teacutecnicos (dominar por exemplo a lei-

tura e produccedilatildeo e textos jornaliacutesticos em liacutengua materna e estrangeira)

e conhecimentos pessoais (de se ver como agente social e poliacutetico)

Um recurso importante nesse caso eacute a formaccedilatildeo de convecircnios com os

jornais comunitaacuterios para trocas de experiecircncias e trabalho conjunto

bull a construccedilatildeo de foacuteruns de intercacircmbio entre estudantes falan-

tes de liacutenguas diferentes a apreciaccedilatildeo da produccedilatildeo cultural em liacutenguas

estrangeiras a participaccedilatildeo em movimentos internacionais de hip-hop

de questotildees da juventude de produccedilatildeo audiovisual etc

bull o desenvolvimento de projetos culturais (de teatro danccedila

muacutesica artes plaacutesticas) a participaccedilatildeo em movimentos jaacute instaurados

(como os cineclubes os saraus as exposiccedilotildees) a frequecircncia a apare-

lhos culturais (teatros cinemas museus feiras etc)

bull projetos esportivos as praacuteticas que trazem embutidos movi-

mentos altamente atrativos e motivacionais para os jovens como a ca-

poeira e a cultura afro a caminhada em trilhas e as causas ecoloacutegicas

o folclore e o conhecimento e preservaccedilatildeo da cultura regional (como

o Boi de Mamatildeo em Santa Catarina que jaacute conta com inuacutemeras asso-

ciaccedilotildees com as quais se pode fechar convecircnios)

Muitas dessas praacuteticas viabilizam atividades educativas que

vatildeo aleacutem do interdisciplinar ganhando um caraacuteter transdisciplinar

Caminhadas em trilhas por exemplo podem ser discutidas a partir da

cultura corporal de movimentos da preservaccedilatildeo ecoloacutegica do turis-

mo e da induacutestria cultural podem ser fotografadas podem ser textu-

alizadas e disponibilizadas em diversas liacutenguas e miacutedias A produccedilatildeo

de um jornal ou raacutedio tambeacutem podem ensejar a produccedilatildeo de seccedilotildees

e programas envolvendo diversos componentes curriculares Sempre

lembrando que na escola natildeo se trata nunca de reproduzir as praacuteticas

Consulte o acervo com-pleto da DVDteca com 162 tiacutetulos sobre arte bra-sileira e tenha acesso ao trailer e ao material edu-cativo em pdf de cada documentaacuterio disponiacutevel Acesse httpartenaescolaorgbrdvdtecacatalogo-check=amptoken=c93941f59b-1739965467ce09e18bea11b-c35fcceamptag=ampcategoria=Arte+26+matemC3A-1tica

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

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Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

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Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

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Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

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Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

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VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 19: Caderno 4   2ª etapa pacto

19

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

mas de trazecirc-las para os contextos das necessidades e potecircncias dos estudantes e sempre de forma criacutetica

comparativa reflexiva

Ao mobilizar e repensar as diversas linguagens que transitam pelo contexto juvenil a aacuterea coloca

em cena conhecimentos relacionados agraves praacuteticas socioculturais de diferentes grupos sociais Valorizam-se

assim as maneiras do jovem estar e se apresentar ao mundo de vivenciar criticamente as praacuteticas sociais

e a mediaccedilatildeo discursiva que nelas incidem As formas de interagir de se divertir de vestir de relacionar

de ser e de se expressar satildeo oportunidades valiosas para a atividade educativa bem como as janelas que

se abrem para um efetivo envolvimento dos estudantes nessas praacuteticas e na vida social como um todo

Os movimentos sociais juvenis sobretudo das classes menos abastadas emergentes de locais onde

as perspectivas satildeo escassas vecircm demonstrando mediante pesquisas e accedilotildees que tais iniciativas exercem

tambeacutem a funccedilatildeo de aumentar a autoestima dos participantes e criar uma maior identificaccedilatildeo com o seu

contexto impactando nas demandas proacuteximas agravequelas comunidades estimulando estes jovens brasileiros

a lutarem por uma realidade melhor junto agraves poliacuteticas puacuteblicas voltadas para a juventude

24 Direitos de aprendizagem e desenvolvimento humano e as praacuteticas de linguagem

Nesse texto jaacute mencionamos diversas vezes os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento hu-

mano mas o que satildeo esses direitos Entendemos que satildeo as possibilidades de reflexatildeo e accedilatildeo a que os jo-

vens podem e devem chegar e possuem a finalidade preciacutepua de assegurar o direito agrave educaccedilatildeo Falar em

direitos de aprendizagem natildeo significa elaborar uma lista de conhecimentos a serem transmitidos mas de

se pensar modos de ampliar os saberes que permitam aos estudantes realizar e analisar criticamente uma

variada gama de praacuteticas de diferentes esferas sociais Nesse sentido eacute que em consideraccedilatildeo agrave formaccedilatildeo

dos saberes dos sujeitos para a accedilatildeo as DCNEM de 2012 apontam em seu artigo 15 paraacutegrafo 2ordm que

ldquoO projeto poliacutetico-pedagoacutegico na sua concepccedilatildeo e implementaccedilatildeo deve considerar os estudantes e os

professores como sujeitos histoacutericos e de direitos participantes ativos e protagonistas na sua diversidade

e singularidaderdquo Ainda no que tange a essa ampliaccedilatildeo das possibilidades do fazer as DCNEM apontam

em seu artigo 17 inciso III a necessidade de se ldquofomentar alternativas de diversificaccedilatildeo e flexibilizaccedilatildeo

pelas unidades escolares de formatos componentes curriculares ou formas de estudo e de atividades es-

timulando a construccedilatildeo de itineraacuterios formativos que atendam agraves caracteriacutesticas interesses e necessidades

dos estudantes e agraves demandas do meio social privilegiando propostas com opccedilotildees pelos estudantesrdquo

Os direitos agrave aprendizagem e ao desenvolvimento humano portanto dizem respeito agraves experiecircncias

as quais os estudantes teratildeo acesso e aos tipos de saberes que constituiratildeo Nesse texto estamos entenden-

do que os estudantes tecircm direito

1 agrave pluralidade de praacuteticas e valores socioculturais

2 agrave consideraccedilatildeo de seus saberes na relaccedilatildeo com a experiecircncia escolar

3 agrave compreensatildeo apropriaccedilatildeo e uso de vaacuterias formas de linguagem

4 ao acesso criacutetico a patrimocircnios

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

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CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

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CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

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VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

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WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 20: Caderno 4   2ª etapa pacto

20

Linguagens

5 agrave reflexatildeo sobre as relaccedilotildees de poder e sobre as instituiccedilotildees poliacuteticas

6 agrave problematizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre cultura ciecircncia tecnologia sociedade e ambiente

7 agrave construccedilatildeo e apropriaccedilatildeo de ferramentas conceituais e procedimentais de diversas tradiccedilotildees do

conhecimento humano

8 agrave historicidade como forma de desnaturalizaccedilatildeo das condiccedilotildees de produccedilatildeo e validaccedilatildeo dos

conhecimentos

9 ao pensamento emancipador

10 ao desenvolvimento de praacuteticas refletidas e orientadas ao cuidado de si

11 agrave apropriaccedilatildeo de estrateacutegias de tratamento de dados que viabilizem pensar a produccedilatildeo e a

transformaccedilatildeo do conhecimento e da realidade

12 agrave atuaccedilatildeo consciente no que concerne aos dilemas da contemporaneidade que afetam a dignidade

humana

13 agrave vivecircncia no espaccedilo escolar de experiecircncias intencionalmente organizadas que considerem os seus

interesses especiacuteficos

14 agrave reflexatildeo sobre o trabalho humano e seu papel na construccedilatildeo das relaccedilotildees entre pessoas e destas

com as instituiccedilotildees

Na seccedilatildeo 13 pontuamos os conhecimentos da aacuterea de Linguagem que podem ser mobilizados nas

praacuteticas educativas sendo que eles dizem respeito

a) agrave organizaccedilatildeo e ao uso criacutetico das diferentes linguagens

b) agrave cultura patrimonializada local nacional e internacional

c) agrave diversidade das linguagens

d) agrave naturalizaccedilatildeodesnaturalizaccedilatildeo das linguagens nas praacuteticas sociais

e) agrave autoria e ao posicionamento na realizaccedilatildeo da proacutepria praacutetica

f) ao mundo globalizado transcultural e digital e agraves praacuteticas de linguagem

Quando esses conhecimentos ganham espaccedilo nas atividades de ensino e aprendizagem desencadea-

das na escola ao mesmo tempo remetem a direitos que nos estudantes se manifestam como potencialida-

des Nesse sentido eacute que quando trabalhamos o conhecimento ldquodrdquo em praacuteticas como um debate sobre o

eurocentrismo na arte por exemplo ou sobre a idealizaccedilatildeo do falante nativo de uma liacutengua estrangeira ou

ainda uma pesquisa sobre as condiccedilotildees de classe gecircnero etnia nos esportes estamos criando condiccedilotildees

para a efetivaccedilatildeo dos direitos de aprendizagem 5 6 8 e 9

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

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______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 21: Caderno 4   2ª etapa pacto

21

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Nesta unidade refletimos sobre o sujeito jovem as praacuteticas de linguagem e os direitos de aprendi-

zagem Para que possamos agora investigar formas de levar essas reflexotildees para a atividade edu-

cativa propomos um exerciacutecio que leve em conta a realidade dos estudantes e que compreende

quatro etapas quais sejam

a) Em conversa com seus alunos levante cinco praacuteticas de linguagem (interaccedilatildeoexpressatildeo) que

estatildeo presentes em suas vidas

b) Aponte como elas poderiam ser mobilizadas como atividades de ensino e aprendizagem

quais conhecimentos da aacuterea de linguagens estariam presentes e quais direitos agrave aprendiza-

gem e ao desenvolvimento humano seriam contemplados

c) Em uma roda de conversa exponha seu levantamento e reflexatildeo aos colegas

d) Considerando os levantamentos expostos por todos os colegas desenvolvam uma discussatildeo

contemplando o alcance dos direitos e as possibilidades de trabalhos interdisciplinares

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 22: Caderno 4   2ª etapa pacto

22

Linguagens

3 Trabalho Cultura Ciecircncia e Tecnologia na aacuterea de Linguagens

Conforme estabelecido pela DCNEM de 2012 (art 4ordm inciso VIII) o trabalho a cultura a ciecircncia e

a tecnologia satildeo dimensotildees da educaccedilatildeo e portanto do desenvolvimento curricular Nesta unidade vamos

ver como essas dimensotildees se relacionam com a aacuterea de Linguagens e seu trabalho pedagoacutegico

De modo geral pode-se dizer que essa aacuterea busca expandir a compreensatildeo dos estudantes para aleacutem

do caraacuteter instrumental das linguagens enfatizando o modo como elas contribuem para a organizaccedilatildeo das

relaccedilotildees humanas em especial as significaccedilotildees que emergem das relaccedilotildees de trabalho o empoderamento

que adveacutem do domiacutenio da ciecircncia e de questionamentos a ela endereccedilados os viacutenculos desta com as tec-

nologias o modo como estas se articulam com o trabalho e como essas inter-relaccedilotildees configuram a cultura

contemporacircnea

Nossa reflexatildeo aqui vai tematizar primeiro o trabalho depois a cultura a ciecircncia e por fim a tecno-

logia procurando sempre evidenciar as inter-relaccedilotildees que se mantecircm entre todos esses fenocircmenos sociais

O trabalho nosso primeiro tema de reflexatildeo eacute referido nas DCNEM (BRASIL 2012) na sua

perspectiva ontoloacutegica de transformaccedilatildeo da natureza como realizaccedilatildeo inerente ao ser humano e como

mediaccedilatildeo no processo de produccedilatildeo da sua existecircncia Logo ocupa ele um lugar de extrema relevacircncia na

configuraccedilatildeo das relaccedilotildees humanas na particularidade das diferentes culturas e nos grupos sociais que as

constituem

Os seres humanos encontram no trabalho natildeo soacute um modo de satisfazer suas necessidades mas tam-

beacutem de potencializaacute-las para aleacutem da dimensatildeo vital que nos iguala aos animais Por isso eacute possiacutevel dizer

que os humanos se produzem a si mesmos para aleacutem da natureza qualidade que identificamos como a

dimensatildeo ontoloacutegica do trabalho Soma-se a essa capacidade ldquoo caraacuteter teleoloacutegico da intervenccedilatildeo huma-

na sobre o meio material isto eacute a capacidade de ter consciecircncia de suas necessidades e de projetar meios

para satisfazecirc-lasrdquo (BRASIL 2012) Esta capacidade eacute que nos torna potencialmente livres capazes de

deliberaccedilatildeo acerca das nossas accedilotildees potencialidade da qual pode emergir a eacutetica a esteacutetica e a poliacutetica O

pensamento por sua vez articula-se como linguagem (logos) nas suas diferentes formas potencializando

modos de existecircncia configuraccedilotildees de mundos e o proacuteprio sentido da existecircncia o que torna compreen-

siacutevel a afirmaccedilatildeo de que quando ldquomorre uma liacutenguardquo morre uma possibilidade de mundo humano Em

se tratando de formas elaboradas de comunicaccedilatildeo humana pode-se dizer que estas satildeo possiacuteveis porque o

pensamento reflete realidades experienciadas que atribuem sentidos aos conceitos e ideias A linguagem

eacute nesses termos mediadora na construccedilatildeo da identidade do indiviacuteduo no processo dinacircmico e conflituoso

entre as pretensotildees do sujeito e o contexto social

Conforme consta no Parecer CNECEB nordm 52011 que dispotildee sobre as Diretrizes Curriculares Nacio-

nais do Ensino Meacutedio ao referir-se agrave Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (Lei 93941996) o Ensino

Meacutedio como etapa da Educaccedilatildeo Baacutesica deve possibilitar aos adolescentes jovens e adultos trabalhadores

o acesso aos conhecimentos que permitam a compreensatildeo das diferentes formas de explicar o mundo

seus fenocircmenos naturais sua organizaccedilatildeo social e seus processos produtivos Esse propoacutesito encontra na

aacuterea de Linguagens uma grande potencialidade de realizaccedilatildeo dado que o universo das praacuteticas em liacuten-

guas ndash materna ou estrangeira artiacutesticas e corporais veiculam visotildees de mundo que por um lado podem

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

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VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 23: Caderno 4   2ª etapa pacto

23

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

nos ajudar a situar os sujeitos nas suas singularidades e por outro nos fazem ver dado o incremento das

tecnologias que nos ldquoglobalizamrdquo que somos suscetiacuteveis a processos homogeneizantes (JENKINS 2009)

As linguagens e suas representaccedilotildees acabam muitas vezes cumprindo um papel ideoloacutegico que

a partir de algumas perspectivas pode ser visto como de encobrimento das distintas realidades em que

vivem os sujeitos em especial do lugar que ocupam no mundo do trabalho Outras perspectivas tratam

tambeacutem do caraacuteter ideoloacutegico da linguagem mostrando-nos que tudo o que dizemos eacute marcado por valo-

res que encontram-se sempre em uma relaccedilatildeo conflituosa e dinacircmica com outros Este fenocircmeno pode ser

problematizado pelas praacuteticas pedagoacutegicas da nossa aacuterea evidenciando as contradiccedilotildees que acompanham

muitas dessas praacuteticas Eacute o que mostra esta charge de Glauco (do livro ldquoAbobrinhas da Brasilocircniardquo) ao

tematizar a ideologia mais especificamente no que tange agrave homogeneizaccedilatildeo promovida pela televisatildeo

Podemos imaginar que a aacuterea de Linguagens poderia contribuir para que os jovens refletissem sob

vaacuterias perspectivas acerca do universo do trabalho seja no que tange aos fatores condicionantes que este

promove tais como ganhos econocircmicos que dele adveacutem seja tambeacutem pelas significaccedilotildees que o acompa-

nham incluindo nessas problematizaccedilotildees questotildees relativas a identidades socioculturais esteacuteticas poliacuteti-

cas associadas aos diferentes grupos juvenis

FONTE

httpwwwvestiprovascombrquestaophpid=9622 (2014)

24

Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 24: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

A esse respeito a aacuterea de Linguagens pode desenvolver a com-

preensatildeo de como a loacutegica da produtividade inerente ao trabalho na

sociedade capitalista tende a hierarquizar por exemplo as disciplinas

escolares estabelecendo tambeacutem categorizaccedilotildees e hierarquizaccedilotildees de

conceitos tais como razatildeo x emoccedilatildeo intelecto x corpo cogniccedilatildeo x

expressatildeo etc Ao natildeo problematizar estas configuraccedilotildees a tendecircncia eacute

que elas sejam naturalizadas (ldquoeacute assimrdquo ldquosempre foi assimrdquo) enquan-

to que ao compreendecirc-las em seu caraacuteter de construccedilatildeo histoacuterico-cul-

tural a tendecircncia eacute que as novas geraccedilotildees estabeleccedilam uma relaccedilatildeo

criacutetica e dinacircmica com tais determinaccedilotildees o que traz implicaccedilotildees em

termos do exerciacutecio da cidadania

De modo mais especiacutefico a dimensatildeo do trabalho vinculada ao

processo educativo pode nos levar a compreendecirc-lo como processos

a partir dos quais conhecimentos de diferentes maneiras satildeo cons-

truiacutedos No que diz respeito aos diversos componentes curriculares

da aacuterea de Linguagens esse trabalho envolveria tanto praacuteticas peda-

goacutegicas quanto seus resultados Em outras palavras a dimensatildeo do

trabalho abarcaria tanto os processos de ensino e aprendizagem quan-

to o uso criacutetico das diversas linguagens e formas de expressatildeo em

situaccedilotildees diversas dentro e fora da sala de aula

No que se refere agrave cultura as DCNEM (BRASIL 2012) tomam

como referecircncia um conceito que entendemos como antropoloacutegico

uma vez que a compreendem como o resultado de uma dinacircmica cole-

tiva e dialoacutegica a qual viabiliza modos de vida das diversas socieda-

des bem como a organizaccedilatildeo produtiva dos grupos humanos

Da atividade cultural resultam as representaccedilotildees e significados

que em retorno orientam as relaccedilotildees sociais e aspectos normativos de

conduta de uma sociedade Por essa perspectiva a cultura eacute compreen-

dida como a articulaccedilatildeo entre o conjunto de representaccedilotildees e compor-

tamentos e o processo dinacircmico de socializaccedilatildeo constituindo o modo

de vida de uma populaccedilatildeo determinada Portanto a cultura eacute tambeacutem

reconhecida como locus de disputa de valores e sentidos

Na perspectiva de uma formaccedilatildeo humana integral pautada pelas

Diretrizes Curriculares Nacionais o Ensino Meacutedio tanto quanto pos-

sibilitar o acesso a conhecimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos tambeacutem

tem o compromisso de promover a reflexatildeo criacutetica sobre os padrotildees

culturais que constituem normas de conduta dos grupos sociais

Dos conhecimentos sobre as linguagens identificados na pri-

meira unidade deste caderno alguns ficam mais evidentes quando se

A articulaccedilatildeo entre traba-lho ciecircncia tecnologia e cultura pode ser pensada a partir de uma leitura criacuteti-ca sobre o lugar da cultura Porto (2006 p 7) destaca que ldquo[] eacute preciso lem-brar a insuficiecircncia histoacute-rica no Brasil do debate que relaciona a cultura e a retomada da democracia cultura e direitos sociais e consequentemente cultu-ra e desenvolvimentordquo A autora destaca ainda o de-bate poliacutetico sobre o ldquofarto campo de oportunidades eou contribuiccedilotildees que uma accedilatildeo conjunta envol-vendo a educaccedilatildeo a uni-versalizaccedilatildeo dos serviccedilos culturais ndash equipamentos e programas ndash e desenvol-vimento local baseado em ativos singulares de cada comunidade a organiza-ccedilatildeo de uma induacutestria e um mercado cultural digno da capacidade e do talento de nossa diversidade criado-rardquo (PORTO 2006 p 7)

Para ampliar suas leituras sobre o conceito antropo-loacutegico de cultura leia

LARAIA R Cultura um conceito antropoloacutegi-co Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

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Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 25: Caderno 4   2ª etapa pacto

25

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

trabalha com a dimensatildeo da cultura do curriacuteculo Em linhas gerais trecircs abordagens diferentes podem ser

salientadas a apropriaccedilatildeo eou aprofundamentos de diferentes praacuteticas culturais os conhecimentos neces-

saacuterios para melhor compreender as tendecircncias culturais contemporacircneas que se manifestam nas diferentes

formas de linguagens e as possibilidades oferecidas pelo universo das diferentes praacuteticas culturais como

campo laboral

Na primeira abordagem as praacuteticas corporais as manifestaccedilotildees artiacutesticas os gecircneros literaacuterios as

diversas liacutenguas satildeo materializaccedilotildees de sistemas culturais e como tal expressam diferentes possibilidades

de perceber e exprimir a realidade Nessa perspectiva quando os estudantes tecircm a possibilidade de conhe-

cer e se apropriar das mesmas alargam suas perspectivas de mundo e suas possibilidades de refletir sobre

si proacuteprio e de intervir no contexto social

Nessa abordagem tambeacutem se inclui tanto o conhecimento sobre as manifestaccedilotildees da linguagem

enquanto cultura patrimonializada como o conhecimento sobre a diversidade das linguagens Trata-se de

tematizar o patrimocircnio cultural a partir de uma visatildeo pluralista das linguagens e culturas orientada por

uma perspectiva menos centralizadora de validaccedilatildeo de conhecimentos que permite pensar a ideia de

patrimocircnio num sentido mais alargado possibilitando valorizar tanto as praacuteticas culturais locais como

aquelas reconhecidas a niacutevel nacional eou internacional

Um olhar para as praacuteticas de linguagem pelo prisma de perspectivas natildeo essencializadas e mais

politizadas de cultura implica a possibilidade de legitimaccedilatildeo de diversas manifestaccedilotildees linguiacutesticas e

culturais que estatildeo geralmente colocadas agrave margem O reconhecimento dessa diversidade de textos lin-

guagens e saberes como modos legiacutetimos de pensar sentir ser e estar no mundo bem como de produzir

conhecimentos leva-nos a perceber o caraacuteter situado e portanto tambeacutem poliacutetico do conjunto de praacuteticas

entendidas como patrimocircnio da humanidade

Quando analisamos a inter-relaccedilatildeo entre cultura e a aacuterea de Linguagens em uma segunda aborda-

gem eacute possiacutevel vislumbrar a contribuiccedilatildeo dos componentes curriculares para que os estudantes melhor

compreendam as duas faces da cultura (BRYM et al 2006) Por um lado a face da criaccedilatildeo que consiste

na possibilidade de os sujeitos e grupos sociais inventarem novas formas de enfrentar os mais diversos

desafios da vida cotidiana bem como de expressar-se mediante ritmos gestos rituais palavras sonorida-

des que tambeacutem refletem ecircxitos necessidades sentimentos desejos etc Por outro lado haacute a face das con-

Patrimocircnio cultural no que tange agraves linguagens trata-se do conhecimento sobre as configuraccedilotildeescodificaccedilotildees especiacuteficas historicamente construiacutedas que implicam em possibilidades de ser ver sentir e atuar no mundo Inclui as expressotildees culturais reconhecidas como patrimocircnios imateriais ndash por ins-tituiccedilotildees como a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura (UNESCO) ou o Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional (IPHAN) apenas para mencionar algumas ndash as Expressotildees Orais e Graacuteficas dos Wajatildepio o Frevo o Samba de Roda do Recocircncavo Baiano a roda de capoeira - como tambeacutem liacutenguas formas de expressatildeo celebraccedilotildees danccedilas populares jogos lendas muacutesicas costumes e outras tradiccedilotildees ainda natildeo institucionalizadas que as comunidades ou grupos transmitem de gera-ccedilatildeo a geraccedilatildeo recriando-as coletivamente ao longo do tempo

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 26: Caderno 4   2ª etapa pacto

26

Linguagens

tingecircncias trata-se de reconhecer que para toda criaccedilatildeo utilizam-se

ldquomateacuterias primasrdquo e que essas satildeo os elementos culturais que existem

previamente e aos quais os sujeitos tecircm acesso Nessa perspectiva a

criaccedilatildeo cultural combina elementos preexistentes para gerar algo di-

ferente Dessa forma a cultura existente coloca certos limites no que

eacute possiacutevel pensar e fazer no momento da criaccedilatildeo dessas outras formas

de viver de se expressar e de produzir

Nesta perspectiva a cultura contemporacircnea pode ser discutida

contemplada e experimentada na aacuterea de Linguagens como uma

oportunidade para o exerciacutecio da liberdade uma vez que podemos

na atividade educativa franquear aos estudantes os conhecimentos

necessaacuterios para reconhecer e interagir com essas duas abordagens

Na primeira face da cultura acima mencionada poderiacuteamos

destacar entre muitas possibilidades a oportunidade que os estudan-

tes tecircm de ter contato com muacuteltiplas referecircncias culturais permitidas

pelas tecnologias de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo para aleacutem do seu proacute-

prio contexto social imediato bem como o contato criacutetico com os con-

teuacutedos veiculados pela miacutedia hegemocircnica Outro aspecto a se destacar

eacute a pressatildeo dos movimentos sociais os quais trouxeram diferentes

configuraccedilotildees para as praacuteticas sociais no sentido de promover a visibi-

lidade de grupos marginalizados pelas poliacuteticas puacuteblicas empresariais

e institucionais se destacando na conquista de espaccedilos sociais e na

legitimaccedilatildeo de direitos de diferentes grupos sejam raciais eacutetnicos

religiosos de gecircnero etc que constituem a sociedade brasileira

No que se refere agrave tematizaccedilatildeo da face da coerccedilatildeo presente na

cultura entendemos que natildeo poderia deixar de ser abordado com os

estudantes entre outros assuntos o consumismo caracteriacutestico da cul-

tura contemporacircnea entendido como a tendecircncia de nos autodefinir-

mos em termos dos bens e serviccedilos que compramos Nesse sentido

a aacuterea de Linguagens tem como desafio por exemplo permitir que

os estudantes entendam os mecanismos utilizados pela publicidade

natildeo apenas para destacar as caracteriacutesticas de um produto agrave venda

mas tambeacutem para associar o mesmo a ideais socialmente valorizados

como sucesso conquista juventude simpatia sensualidade beleza

Trata-se de possibilitar que os estudantes entendam as formas pelas

quais os publicitaacuterios nos ldquoensinamrdquo a associar marcas com diferentes

tipos de valores bem como a acreditar que determinados produtos

ldquodizemrdquo (ou nos transformam) no tipo de pessoa em que nos ldquonecessi-

tamosrdquo converter para sermos socialmente exitosos

Um exemplo muito cla-ro desse movimento foi a aprovaccedilatildeo da Lei n 10639 de 9 de janeiro de 2003 que inclui no curriacute-culo de todas as redes de ensino a obrigatoriedade da temaacutetica ldquoHistoacuteria e Cultura Afro-Brasileirardquo Outro marco importante a ser considerado eacute o De-creto n 8136 de 5 de ju-nho de 2013 que aprova o regulamento do Sistema Nacional de Promoccedilatildeo da Igualdade Racial vide httpwwwplanaltogovbrccivil_03_Ato2011-2 0 1 4 2 0 1 3 D e c r e t o D8136htm

Assista o viacutedeo que re-trata as manifestaccedilotildees da cultura popular brasileira na danccedila muacutesica poesia e teatro httpswwwyou-tubecomwatchv=EX8aU-Tyw2gA

27

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 27: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Finalmente uma terceira abordagem da dimensatildeo da cultura

na aacuterea de Linguagens se materializa ao abarcarmos o campo labo-

ral Nesta dimensatildeo experiecircncias pedagoacutegicas que aproximem os

estudantes dos desafios colocados por projetos de ldquoproduccedilatildeo cultu-

ralrdquo como por exemplo o Programa Mais Cultura nas Escolas em muito

podem contribuir para entender e implementar a interaccedilatildeo entre as

linguagens a cultura e o trabalho

Imaginem possibilidades como a de elaborar e executar um

projeto (por exemplo espetaacuteculos de teatro danccedila muacutesica festi-

vais mostras eventos) ou desenvolver um produto cultural (revistas

livros programas televisivos de raacutedio) nos quais possam ser con-

siderados em sua formulaccedilatildeo e realizaccedilatildeoexecuccedilatildeo tanto criteacuterios

artiacutesticos esteacuteticos editoriais etc como sociais poliacuteticos econocircmi-

cos Em processos como esses os estudantes ao se ocuparem das di-

versas fases do projeto ndash concepccedilatildeo artiacutestica e esteacutetica puacuteblico alvo

gestatildeo orccedilamentaacuteria logiacutestica captaccedilatildeo de recursos cronograma de

execuccedilatildeo produccedilatildeo montagem etc ndash teriam oportunidade de apren-

der tanto sobre as questotildees teacutecnicas implicadas no projeto como as

dimensotildees conceituais mais amplas demandadas pela praacutetica social

desenvolvida

A ldquodesconstruccedilatildeordquo de estruturas culturais naturalizadas pelo

tensionamento com a dimensatildeo do trabalho por exemplo pode ser

viabilizada pela promoccedilatildeo da pesquisa como ldquoprinciacutepio pedagoacutegi-

cordquo a partir da qual se podem articular diferentes componentes e

aacutereas do saber Esse exerciacutecio permite aos estudantes vivenciarem

o caraacuteter emancipatoacuterio de uma atuaccedilatildeo que requer a produccedilatildeo de

conhecimento relativo agraves diferentes dimensotildees do saber quer seja

cientiacutefico cultural artiacutestico poliacutetico Trata-se de promover proces-

sos que liberam-se dos estreitamentos promovidos pelo denominado

ldquosenso comumrdquo ampliando as capacidades de discernimento e criacuteti-

ca dos estudantes

Esse movimento tal como consta nas DCNEM (BRASIL

2012) permite que essas relaccedilotildees ldquonaturalizadasrdquo sejam deslocadas

de seu contexto originaacuterio e ordenadas promovendo uma necessida-

de de reelaboraccedilatildeo A proacutepria Ciecircncia na modernidade como proje-

to de compreensatildeo do mundo com pretensotildees de objetividade segu-

ranccedila racionalidade universalidade jaacute mostrou suas limitaccedilotildees As

elaboraccedilotildees fruto dessa perspectiva trazem consigo a pretensatildeo de

uma neutralidade livres do contexto em que emergem Temos en-

Quando falamos de juven-tude e cultura pressupotildee-se constante invenccedilatildeo e reinvenccedilatildeo de formas e ca-nais de comunicaccedilatildeo entre diferentes geraccedilotildees e insti-tuiccedilotildees sociais Com a so-cializaccedilatildeo das conquistas tecnoloacutegicas aceleram-se os processos de contato e se ampliam as possibili-dades de hibridismos cul-turais Assim observa-se uma potente condiccedilatildeo de a inclusatildeo digital favore-cer agraves redes de agregaccedilatildeo juvenis jaacute constituiacutedas com a formaccedilatildeo de novos tipos de interesses Dessa forma a cultura tambeacutem tem se revelado como es-paccedilo de criaccedilatildeo e manifes-taccedilotildees artiacutesticas ligadas ao mundo juvenil fomentan-do inclusive categorias de profissatildeo como por exem-plo iluminador teatral ce-noacutegrafo figurinista cujas demandas de mercado re-querem formaccedilatildeo especiacute-fica Acesse o site e saiba mais sobre esta interaccedilatildeo httpwwwdanielpuigmeeletricaphomehtml

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Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

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Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

47

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 28: Caderno 4   2ª etapa pacto

28

Linguagens

tatildeo a necessaacuteria aproximaccedilatildeo entre a teoria e a praacutetica Este esforccedilo constitui aquilo que podemos

chamar de trabalhos de ldquoconceituaccedilatildeordquo (nomeaccedilatildeo ordenamento etc) e ldquoreflexatildeordquo (revisatildeo termos e

hierarquias criados) sem os quais a ciecircncia seria inconcebiacutevel

A Ciecircncia que pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos sistematizados produzi-

dos socialmente ao longo da histoacuteria como resultado da pesquisa e do embate entre visotildees de mundo

diversas se expressa na forma de conceitos representativos dos objetos que estuda conforme propotildeem

as novas DCNEM O conhecimento dos fenocircmenos quando produzido pelas metodologias cientiacuteficas

constitui os campos da ciecircncia que satildeo as disciplinas cientiacuteficas Nestes termos a ciecircncia conforma

conceitos e meacutetodos sendo que esses ao mesmo tempo pelo menos em tese podem ser questionados e

superados historicamente no movimento sempre impregnado ideologicamente da construccedilatildeo de novos

conhecimentos

Assim sendo podemos entender que as diferentes aacutereas ou disciplinas movidas pelo princiacutepio da

pesquisa podem desenvolver praacuteticas pedagoacutegicas que rompam com o senso comum acerca dos temas

que tratam no sentido de acuacutemulo de discussotildees e criticidade mas natildeo no sentido de se chegar a uma

verdade uacuteltima das coisas nem de se tomar o conhecimento cientiacutefico como superior a outros

As representaccedilotildees que embasam nossas accedilotildees sociais natildeo soacute se constituem via discursos mas para

aleacutem disso elas adquirem existecircncia atraveacutes de discursos Como seres culturais noacutes humanos mais que

possuirmos linguagem nos movimentamos em um universo linguiacutestico que nos constitui Entendemos

assim que o esforccedilo criacutetico que a aacuterea de Linguagens pode promover ajudaria os jovens a explorar o

universo de sentidos de diversas linguagens dentre elas a linguagem cientiacutefica que no mundo contem-

poracircneo exerce grande pressatildeo sobre as praacuteticas cotidianas e sobre a organizaccedilatildeo da sociedade como

um todo

A aacuterea das Linguagens pode desse modo contribuir para que os jovens reconheccedilam o papel das

ciecircncias na produccedilatildeo de novos conhecimentos imprimindo assim um significado ao rigor cientiacutefico ne-

cessaacuterio para tal fim Por outro lado a aacuterea tambeacutem pode contribuir para que os jovens elevem suas

Max Weber considera que o entusiasmo apaixonado de Platatildeo quando es-creveu A Repuacuteblica deve-se ao fato de ter descoberto o sentido de um dos maiores instrumentos de todo conhecimento cientiacutefico o ldquoconceitordquo (WE-BER 1968)

Aprendemos com Gadamer quando este se refere a influecircncia sobre a lingua-gem do processo de estandartizaccedilatildeo cientiacutefica e teacutecnica gerando um certo nivelamento que eacute inalcanccedilaacutevel um equiliacutebrio definitivo entre a tendecircncia agrave generalidade que caracteriza os conceitos e os significados que o uso prag-maacutetico promove O que certamente torna problemaacutetica qualquer pretensatildeo uacuteltima de distinguir essecircncia e contingecircncia no que se refere ao significado dos conceitos e das palavras que os compotildeem Para saber mais sobre o pen-samento de Gadamer leia GADAMER Hans-Georg Verdade e meacutetodo I 3 ed Petroacutepolis Vozes 1999

29

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 29: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

condiccedilotildees de percepccedilatildeo frente a esta forma de discursividade realizando uma ldquocriacutetica epistemoloacutegicardquo

valendo-se dos processos mediados pela linguagem como meio de produccedilatildeo de significaccedilotildees

Algumas questotildees que poderiam orientar esta criacutetica seriam Como essa forma discursiva chamada

ciecircncia produz significaccedilotildees Com que signos ela trabalha Para responder essas questotildees eacute preciso de-

codificar des-construir pois a ciecircncia eacute uma espeacutecie de coacutedigo de construccedilatildeo ou seja uma construccedilatildeo

linguiacutestica codificada e um discurso

A aacuterea de Linguagens pode desenvolver esta reflexatildeo propondo a discussatildeo de questotildees como por

que o inglecircs eacute tomado na atualidade como ldquoliacutengua oficial da ciecircnciardquo Como lidar com isto Por que a

literatura pode valer-se de narrativas natildeo cientiacuteficas O que eacute tomado como norma culta e linguagem de

prestiacutegio Por que isso ocorre Quais os poderes e ideologias que perpassam essas ideias e praacuteticas Como

a ideia de criaccedilatildeo da arte pode dialogar com a ideia de criaccedilatildeo nas ciecircncias De que modo a ciecircncia se

relaciona com as praacuteticas corporais A arte eacute ciecircncia

O Parecer nordm 52011 sobre as DCNEM (BRASIL 2011) sintetiza o conceito de tecnologia como

a extensatildeo das capacidades humanas mediante a apropriaccedilatildeo de conhecimentos como forccedila produtiva

Nessa linha a tecnologia eacute considerada como uma transformaccedilatildeo da ciecircncia em forccedila produtiva ou me-

diaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e sua produccedilatildeo ocorre sempre atravessada pelas relaccedilotildees sociais em

que eacute gerada Ao mesmo tempo em que produzem mediaccedilatildeo e transformaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico

as tecnologias modificam as relaccedilotildees sociais na medida em que transformam os meios atraveacutes dos quais

agimos por exemplo a chegada da linha de trem em uma cidade relativamente isolada no interior do

Brasil no iniacutecio do seacuteculo XX trazia todo um conjunto de novas relaccedilotildees comerciais mateacuterias-primas

conhecimentos transformaccedilotildees culturais e do proacuteprio espaccedilo urbano As mesmas transformaccedilotildees se ve-

rificam com as novas tecnologias de comunicaccedilatildeo que mudam o modo como as pessoas se relacionam e

constroem a sociedade e a realidade

A cultura moderna delegou ao conhecimento cientiacutefico a exclusividade do saber esquecendo que ldquoa ciecircncia com todos os seus sucessos e princiacutepios continua a ser um fato de civilizaccedilatildeo e natildeo pode ser transmudada em norma de uma eacutetica ou de uma poliacutetica do conhecimentordquo (CHREacuteTIEN 1994 p 25) Ainda dar-lhe poderes absolutos eacute tornaacute-la um mito esquecendo como lembra a criacutetica epistemoloacutegica tratar-se de uma forma de saber ldquoproduto de certas civilizaccedilotildees e natildeo um dado da naturezardquo (WEBER apud CHREacute-TIEN 1994 p 213)

O que entendemos por ciecircncia Questatildeo que revela muitas vezes que nosso paradigma de ciecircncia natildeo estaacute sintonizado com o atual estaacutegio da ciecircncia Uma boa leitura a este respeito eacute a obra Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Mo-derna de Boaventura de Souza Santos

Disponiacutevel em httpwwwboaventuradesousasantosptpagesptlivrosintrodu-cao-a-uma-ciencia-pos-moderna

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Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

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Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 30: Caderno 4   2ª etapa pacto

30

Linguagens

Num mundo onde os sistemas de comunicaccedilatildeo exercem um papel estruturante e natildeo raras vezes

dominador onde as relaccedilotildees migraram do produto para o consumo a mediaccedilatildeo tecnoloacutegica eacute constante

O cotidiano das pessoas nas mais diferentes dimensotildees e das formas mais diversas eacute atravessado pela

tecnologia

Em outras palavras podemos dizer que as incessantes transformaccedilotildees sociais que marcam os tempos

atuais decorrem entre outros fatores das novas tecnologias e dos complexos processos de globalizaccedilatildeo No

campo das Linguagens essas questotildees tecircm sido bastante enfatizadas e problematizadas na medida em que

as novas tecnologias impactam as relaccedilotildees sociais redimensionando-as

Distantes de visotildees tecnicistas que reduzem a ideia de tecnologia a de objetos e recursos que nos

auxiliam a resolver problemas partimos de uma visatildeo mais ampla assumindo que as tecnologias assumem

papeacuteis cada vez mais centrais e muitas vezes problemaacuteticos nos processos de constituiccedilatildeo dos sujeitos

Assim como as linguagens portanto as tecnologias estatildeo impregnadas ideologicamente e continuamente

reorganizam relaccedilotildees sociais e redefinem os espaccedilos e os modos de participaccedilatildeo social

Nessa perspectiva as praacuteticas sociais mediadas pelas linguagens podem manter um estreito viacutenculo

com as tecnologias digitais Nesse sentido as praacuteticas educativas na aacuterea de Linguagens poderatildeo sofrer in-

fluecircncias mais diretas das tecnologias e miacutedias digitais Nesse caso eacute importante que haja problematizaccedilatildeo

e a releitura das visotildees acerca do conhecimento do papel dos estudantes e dos professores na construccedilatildeo

desses conhecimentos entre outros fatores ligados agraves visotildees de mundo e de realidade que permeiam as praacute-

ticas em que os sujeitos estatildeo envolvidos

Sendo as praacuteticas sociais mediadas ou natildeo pelas tecnologias digitais discursivamente e culturalmente

marcadas assim tambeacutem se evidenciam as praacuteticas educativas e o engajamento dos sujeitos em relaccedilotildees so-

ciais em que as diversas formas de construccedilatildeo de sentidos se faccedilam presentes Assim sendo entendemos que

ao serem trazidas para o campo educativo as tecnologias podem contribuir para o desenvolvimento dos es-

tudantes se forem tambeacutem objetos de questionamento de problematizaccedilatildeo visando a accedilatildeo criacutetica e criativa

que leva em conta o caraacuteter plural e historicamente situado da atividade humana qualquer que seja ela

Por fim vale a pena ainda destacar que o ensino na aacuterea de Linguagens amparado por essa visatildeo

faz prevalecer o pensamento de que a noccedilatildeo de cultura e identidade de trabalho ciecircncia e tecnologia assim

como a ideia de liacutengua e outros modos de expressatildeo e interaccedilatildeo satildeo construtos ideoloacutegicos nos quais estatildeo

impliacutecitos certos valores e certas formas de ver o mundo Desse modo identidades culturais satildeo criadas e

natildeo descobertas e encontram-se em constante transformaccedilatildeo Da mesma forma padrotildees linguiacutesticos esteacute-

ticos culturais satildeo normatizados e validados em meio aos tensionamentos sociais

Sendo assim na atividade educativa da aacuterea de Linguagens eacute importante que problematizemos as no-

ccedilotildees de falante nativo e de liacutengua padratildeo bem como as ideias de cacircnones artiacutesticos e literaacuterios entre muitos

outros exemplos aleacutem de questionarmos todo e qualquer tipo de estereoacutetipo cultural e de preconceito nos

acircmbitos das liacutenguas das artes e dos movimentos do corpo

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 31: Caderno 4   2ª etapa pacto

31

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Uma forma de mobilizar vaacuterios dos conceitos discutidos nesta unidade passa pela possibilidade de planejar um trabalho interdisciplinar em que linguagens e as diferentes dimensotildees do curriacuteculo trabalho cultura ciecircncia e tecnologia apareccedilam entrelaccedilados com um tema de interesse dos jovens de Ensino Meacutedio Entre tantos possiacuteveis um desses temas poderia ser estudar o que ldquofaz a cabeccedilardquo das pessoas particular-mente dos jovens em relaccedilatildeo ao padratildeo corporal o ldquoideal esteacuteticordquo a ser alcanccedilado por homens e mulheres

Para desenvolver um trabalho nessa linha uma possibilidade seria debruccedilar-se sobre uma revista ou outro artefato cultural consumido pelos jovens da sua escola na qual o padratildeo corporal fique sempre em evidecircncia Dessa forma para desenvolver essa atividade recomendamos que o grupo de professores escolha uma revista especiacutefica preferencialmente disponiacutevel em internet

Essa abordagem pode ser realizada em duas etapas A primeira delas seria a da anaacutelise Tomando como base os conhecimentos das diferentes disciplinas da aacuterea de Linguagens e de disciplinas de outras aacutereas os estudantes seriam desafiados a analisar a revista em diversas perspectivas passando tanto pelo conteuacutedo como pela identificaccedilatildeo dos gecircneros textuais predominantes os efeitos de sentidos procurados o uso das imagens o desenho organizaccedilatildeo etc

Professores tomando como referecircncia essa proposta de trabalho interdisciplinar perguntamos Qual seriam em sua perspectiva os conhecimentos mais ldquovaliososrdquo que o seu componente curricular poderia aportar para a anaacutelise Qual eacute a relaccedilatildeo desses conhecimentos com as dimensotildees trabalho cultura ciecircncia e tecnologia discutidas nesta unidade

Na segunda etapa do trabalho haveria a possibilidade de mobilizar os estudantes para a produccedilatildeo de uma revista (ou artefato similar) para tratar do tema padratildeo corporal a partir de um ponto de vista diferente daquele defendido e difundido pela revista analisada Nesse contexto a pergunta eacute Professores na perspec-tiva de seu componente curricular que conhecimentos satildeo necessaacuterios para potencializar a ldquoproduccedilatildeordquo da revista pelos alunos tanto no que se refere ao conteuacutedo como a sua forma considerando o puacuteblico para o qual ela eacute direcionada

Agora tendo respondido as questotildees referentes agraves duas etapas dessa atividade pedagoacutegica pediriacuteamos que vocecirc professor e professora discutisse com os colegas sobre as possibilidades oferecidas por projetos como este para o trabalho com os estudantes assim como para o desenvolvimento de praacuteticas de ensino interdisciplinares

4 Possibilidades de abordagens pedagoacutegico-curriculares na aacuterea de Linguagens

Nesta unidade retomamos a discussatildeo apresentada no Caderno IV da Etapa I da formaccedilatildeo de profes-

sores no acircmbito do Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Meacutedio sobre as aacutereas de conhecimento

na Educaccedilatildeo Baacutesica voltando-nos agrave discussatildeo da construccedilatildeo do conhecimento na aacuterea de Linguagens e

sua relaccedilatildeo com o curriacuteculo Partindo da ideia da linguagem como praacutetica social situada optamos por

fazer isso dando ecircnfase ao fazer pedagoacutegico e agraves visotildees que orientam as nossas accedilotildees como professores

Acreditamos que essas reflexotildees sejam importantes porque nos levam a repensar continuamente nosso

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

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SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

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SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

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______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 32: Caderno 4   2ª etapa pacto

32

Linguagens

entendimento sobre o processo educativo e seus objetivos auxiliando-nos a compreender de modo mais

articulado por que fazemos o que fazemos

Nesse sentido pensamos ser relevante primeiramente tecermos algumas reflexotildees sobre as ma-

neiras de abordarmos o curriacuteculo Nesta unidade faremos isso buscando de modo mais expliacutecito apoio

teoacuterico em alguns autores que voltaram seu pensamento agraves questotildees curriculares Entendemos que as

postulaccedilotildees desses autores em torno de diferentes posicionamentos acerca de praacuteticas curriculares podem

nos auxiliar a construir uma ideia mais bem articulada e informada sobre a relaccedilatildeo entre ideologias poliacuteti-

cas e curriacuteculo e sobre o que julgamos importante refletir Em seguida essas reflexotildees satildeo articuladas de

forma mais especiacutefica ao fazer pedagoacutegico na aacuterea de linguagens visando discussotildees acerca de accedilotildees

mais concretas em sala de aula que possam ser subsequentemente desenvolvidas

41 A educaccedilatildeo como praacutetica humanizadora

Para iniciarmos nossas reflexotildees partimos do pressuposto de que o fazer pedagoacutegico eacute sempre

marcado pela necessidade de assumirmos posicionamentos frente aos objetivos e agraves maneiras pelas quais

o desenvolvimento e a aprendizagem dos estudantes podem se promovidos Se acatarmos a ideia de que

esses estudantes podem ser vistos como sujeitos que se encontram inseridos em contextos socioculturais e

educacionais especiacuteficos com necessidades e vivecircncias particulares passaremos a defender que o pensar

e o fazer pedagoacutegico podem ser vistos enquanto ldquouma atividade praacutetica de humanizaccedilatildeo das pessoasrdquo

conforme tambeacutem pensa e defende Libacircneo (2010 p 20)

A partir dessa premissa entendemos que o pensar e o atuar no campo educacional compreendem

uma responsabilidade social e eacutetica que se orienta para o desenvolvimento humano Assim sendo essa

tarefa naturalmente envolve a reflexatildeo sobre o que fazemos em termos de praacuteticas educacionais Contudo

ao entendermos nosso fazer pedagoacutegico como praacutetica social e considerando que esta se encontra sempre

permeada por valores e ideologias torna-se igualmente importante refletirmos sobre o modo pelo qual

conduzimos nosso fazer pedagoacutegico assim como acerca das razotildees pelas quais agimos da forma como

agimos

A accedilatildeo de educar em um mundo em constante mudanccedila eacute certamente uma tarefa desafiadora se

concordarmos que as praacuteticas educativas natildeo devem perder de vista sua dimensatildeo humanizadora Nessa

direccedilatildeo parece-nos coerente dizer ainda que as experiecircncias que vivenciamos enquanto professores nos

levam a reconhecer que o ato educativo eacute um processo complexo e multifacetado de humanizaccedilatildeo de

socializaccedilatildeo e de singularizaccedilatildeo como defendem Charlot (2000) e Libacircneo (2010)

Como bem sabemos toda a dinamicidade caracteriacutestica da accedilatildeo educativa requer constante reflexatildeo

e acarreta constantemente inuacutemeros questionamentos e incertezas Contudo existem teoacutericos com os

quais concordamos como Morin (2005) que nos mostram que essas duacutevidas desconfortos e inquietaccedilotildees

natildeo precisam ser vistas como algo negativo ou contraproducente Ao inveacutes disso podemos entender o

conflito e a contradiccedilatildeo como parte da construccedilatildeo de qualquer tipo de conhecimento e de praacutetica Esse

raciociacutenio nos ajuda a compreender que tambeacutem o agir pedagoacutegico e as praacuteticas curriculares envolvem

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 33: Caderno 4   2ª etapa pacto

33

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

divergecircncias sendo o mais importante a reflexatildeo sobre elas e natildeo a ideia de superaccedilatildeo desses conflitos

em busca de uma accedilatildeo homogecircnea e uniforme que carrega consigo uma tonalidade bastante idealizada

Assim sendo uma das formas de compreendermos as praacuteticas educativas em toda sua multiplicida-

de pode ser aquela que as tomam como ldquoatividade complexardquo (LIBAcircNEO 2010 p 22) Ao entendermos

as praacuteticas educativas como tal percebemos que natildeo haacute respostas ou soluccedilotildees universais preestabelecidas

e tampouco definitivas para as duacutevidas e problemas que possam vir a surgir

Com base nesse pressuposto entendemos que quaisquer encaminhamentos sejam eles voltados ao

curriacuteculo planejamento de aulas avaliaccedilatildeo entre outros passam a ser abordados como praacuteticas sociocul-

turalmente situadas que se delineiam a partir de sua complexidade Isso quer dizer que toda e qualquer

praacutetica educativa mostra-se eminentemente poliacutetica e sofre as influecircncias das mais diversas variaacuteveis con-

textuais Desse modo torna-se sempre importante refletirmos a partir de quais perspectivas nossas accedilotildees e

escolhas estatildeo sendo fundamentadas conforme nos propusemos a fazer nessa unidade

Nessa perspectiva quando pensamos em curriacuteculo sabemos que pelo menos dois pontos revelam-

se centrais para uma reflexatildeo Um deles envolve a problematizaccedilatildeo acerca de como pensamos poliacuteticas educacionais e praacuteticas curriculares e quem satildeo os responsaacuteveis por seu desenvolvimento Outro abran-

ge os questionamentos sobre quais conhecimentos estatildeo sendo validados por meio da forma como pen-

samos direcionamos e realizamos nossas praacuteticas educativas e curriculares Nesse sentido parece ser

crucial que nos perguntemos qual o papel desses conhecimentos na vida dos alunos e em que medida esses

conhecimentos e as maneiras de conduzi-los estatildeo expandindo suas visotildees e experiecircncias de vida e para-

lelamente fortalecendo a criticidade e o potencial de agecircncia humano

Para discutirmos o primeiro ponto pensamos ser importante resgatarmos rapidamente a ideia de

poliacuteticas educacionais e seus impactos para o agir pedagoacutegico na escola Nesse sentido parece-nos igual-

mente relevante que reflitamos sobre a forma como enxergamos nosso papel como professores nesse

processo de fazeres poliacuteticos uma vez que todas as regulamentaccedilotildees e decisotildees acerca da educaccedilatildeo

incluindo-se definiccedilotildees ideias e valores sobre o seu papel objetivos curriacuteculos modelos ou propostas

pedagoacutegicas interferem no modo como construiacutemos nossa maneira de ensinar e consequentemente afeta

a aprendizagem

Ao refletirmos sobre essas questotildees podemos buscar o apoio de muitos autores entre os quais

podemos citar Ricento (2006) e Shohamy (2006) Esses teoacutericos entre outros que poderiam ser citados

aqui ajudam-nos a perceber que toda e qualquer praacutetica seja ela a elaboraccedilatildeo de uma lei norma ou uma

decisatildeo sobre um planejamento de aula ou uma atividade avaliativa estaacute sempre carregada de valores ou

seja de ideologias

O potencial de agecircncia humano estaacute re-lacionado agrave accedilatildeo humana em todas as es-feras de atividades que organizam essas relaccedilotildees

34

Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

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VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 34: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

Assim sendo podemos afirmar que haacute poliacuteticas que facilmente percebemos as quais satildeo repre-

sentadas pelas legislaccedilotildees e normatizaccedilotildees e tambeacutem aquelas que se fazem presentes em meio agraves nossas

accedilotildees ou seja que podem ser concretizadas a partir do que fazemos quando exercemos nosso papel de

educadores em nosso dia a dia como professores por exemplo

Nessa perspectiva eacute importante refletirmos sobre os mecanismos ou canais por meio dos quais as

poliacuteticas satildeo disseminadas e incorporadas na sociedade e tambeacutem na escola tais como as regras e regu-

lamentaccedilotildees e as accedilotildees e decisotildees educacionais entre outras Essa reflexatildeo eacute importante para podermos

pensar com maior propriedade na maneira pela qual certos valores e ideias estatildeo sendo colocados em

funcionamento de modo explicito ou impliacutecito a partir de fazeres pedagoacutegicos e certamente de praacuteticas

curriculares

42 O curriacuteculo e a construccedilatildeo criacutetica do conhecimento sobre a linguagem

Entendemos ser importante analisarmos o funcionamento social dos mecanismos poliacuteticos de cons-

truccedilatildeo do curriacuteculo e nosso papel diante desse processo pois tais mecanismos determinam a forma como

pensamos e abordamos o conhecimento e portanto as aacutereas a partir das quais esse conhecimento eacute cons-

truiacutedo na escola Por exemplo o funcionamento dessas poliacuteticas em muito interfere nas visotildees ou repre-

sentaccedilotildees que apresentamos diante do que seja linguagem arte ou praacutetica esportiva Podemos perceber

tais elementos de modo fragmentado como objetos estanques ou podemos abordaacute-los a partir de uma

visatildeo integradora que compreende a oralidade a escrita o som a imagem e os movimentos corporais

como formas de expressatildeo de sentidos

Dessas visotildees distintas advecircm fazeres igualmente distintos ou seja diferentes poliacuteticas e meca-

nismos pelos quais a educaccedilatildeo se concretiza Dessas poliacuteticas e mecanismos derivam tambeacutem algumas

maneiras como enxergamos o que eacute uma liacutengua e o que consideramos correto ou inapropriado no que se

refere ao seu uso Derivam ainda o que determinamos vaacutelido em relaccedilatildeo ao que possa ser visto como

expressatildeo artiacutestica ou esportiva entre tantos outros fatores

Assim sendo percebermo-nos como agentes que tambeacutem fazem e disseminam tais poliacuteticas pode

ser um diferencial importante para o nosso fazer pedagoacutegico A partir dessa ideia eacute que poderemos com

mais propriedade voltarmo-nos para a reflexatildeo e anaacutelise de quais conhecimentos podem ser considerados

mais vaacutelidos para nossos alunos as razotildees pelas quais essas escolhas se sustentam e quais seus impactos

em suas vidas e tambeacutem para a sociedade como um todo

Nessa perspectiva uma visatildeo de curriacuteculo que se sustenta eacute aquela que o compreende como um

processo ou uma experiecircncia Esse processo ou experiecircncia pressupotildee o envolvimento dos sujeitos que

participam dessa praacutetica e satildeo afetados por ela ndash educadores e estudantes ndash em um contexto especiacutefico e

socioculturalmente determinado e envolve a determinaccedilatildeo do que eacute conhecimento vaacutelido e as maneiras

como este deve ser construiacutedo

Nesse sentido podemos tambeacutem nos apoiar em alguns autores entre eles Connely e Clandinin

(1988) que reiteram a possibilidade de enxergarmos a praacutetica curricular como um processo ou experiecircn-

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

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Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

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MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

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RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

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______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 35: Caderno 4   2ª etapa pacto

35

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

cia em que seus elementos constitutivos tais como os objetivos os meios para concretizaacute-los as ideias e

valores que sustentam essas accedilotildees etc estejam sempre em uma dinacircmica relaccedilatildeo de forccedilas Essa dimen-

satildeo relacional por sua vez estaacute naturalmente articulada a uma dimensatildeo histoacuterica O que ocorre em um

momento em sala de aula estaacute sempre relacionado a accedilotildees anteriores e influenciaraacute accedilotildees futuras

Sabemos que o curriacuteculo e seus conteuacutedos tecircm sido desde muito objeto de reflexatildeo e de contesta-

ccedilatildeo Essa proeminecircncia acreditamos adveacutem tambeacutem do fato de que as praacuteticas educacionais implicam

decisotildees e accedilotildees que afetam o ldquodestino humano das pessoasrdquo como ressalta Libacircneo (2010 p 21) e assim

requerem poliacuteticas e ldquoprojetos que explicitem direccedilatildeo de sentido da accedilatildeo educativa e formas expliacutecitas do

agir pedagoacutegicordquo (LIBAcircNEO 2010 p 21)

Esse debate por sua vez estaacute intimamente ligado ao modo pelo qual compreendemos a educaccedilatildeo

seu papel e seus propoacutesitos e ainda ao modo como entendemos o mundo a realidade o sujeito social e

o conhecimento Ou seja estaacute intimamente ligado ao nosso papel ativo como pessoas e profissionais que

fazem poliacutetica(s) diariamente

Natildeo haacute como desvincularmos o fazer pedagoacutegico ou poliacutetico do momento histoacuterico que o permeia

Vivenciamos atualmente uma eacutepoca marcada por condiccedilotildees poliacuteticas econocircmicas e socioculturais que

muitos caracterizam como poacutes-moderna Parece assim importante refletirmos acerca das caracteriacutesticas

centrais do pensamento e de praacuteticas educacionais da atualidade Ao fazermos isso podemos contar com

as consideraccedilotildees tecidas por muitos autores entre eles Libacircneo (2010) Esse autor nos mostra que as

principais marcas das atividades educativas de nossa eacutepoca podem ser articuladas a partir dos seguintes

pontos

bull Relativizaccedilatildeo do conhecimento sistematizado especialmente do poder da ciecircncia destacando o caraacuteter instaacutevel de todo conhecimento acentuando-se por outro lado a ideia dos sujeitos como produtores de conhecimento dentro de sua cultura capazes de desejo e imaginaccedilatildeo de assumir seu papel de prota-gonistas na construccedilatildeo da sociedade e do conhecimento

bull Mais do que aprender e aplicar o conhecimento objetivo os indiviacuteduos e a sociedade progridem agrave medida que se empenham em alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

bull Natildeo haacute cultura dominante todas as culturas tecircm valor igual os sujeitos devem resistir agraves formas de homogeneizaccedilatildeo e dominaccedilatildeo cultural

bull Eacute preciso buscar criteacuterios de restabelecimento da unidade do conhecimento e das praacuteticas sociais que a modernidade fragmentou por meio do princiacutepio da integraccedilatildeo onde os saberem eliminem suas fronteiras e comuniquem-se entre si

bull Natildeo haacute uma natureza humana universal os sujeitos satildeo construiacutedos socialmen-te e vatildeo formando sua identidade de modo a recuperar sua condiccedilatildeo de cons-trutores de sua vida pessoal e seu papel transformador isto eacute sujeito pessoal e sujeito da sociedade

bull Os educadores devem ajudar os estudantes a construiacuterem seus proacuteprios qua-dros valorativos a partir do contexto de suas proacuteprias culturas natildeo havendo

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

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BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

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BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 36: Caderno 4   2ª etapa pacto

36

Linguagens

valores com sentido universal Os valores a serem cultivados dentro de grupos particulares satildeo a diversidade a toleracircncia a liberdade a criatividade as emo-ccedilotildees a intuiccedilatildeo (LIBAcircNEO 2010 p 27-28)

Todos esses princiacutepios nos convidam a revisitar os modos como as praacuteticas curriculares tecircm sido

pensadas ao longo dos anos e em seus possiacuteveis impactos no fazer pedagoacutegico Para tanto lanccedilamos matildeo

das ideias de autores como Santomeacute (1998) Silva (1999) Kalantzis e Cope (2008) entre outros

Concordando com esses teoacutericos reafirmamos a ideia de que a discussatildeo sobre curriacuteculo tem sido

veementemente pautada pelos seus conteuacutedos revelando um pensamento ainda bastante conservador Sem

desmerecermos a importacircncia do foco em ldquoo quecircrdquo deva ser ensinado ou aprendido entendemos que esse

enfoque limita a accedilatildeo de educadores preocupados com o papel humanizador e criacutetico da educaccedilatildeo Sabe-

mos tambeacutem a partir das praacuteticas oriundas do chatildeo da escola que o que ocorre de fato em um processo

de ensino-aprendizagem eacute marcado por uma ampla e complexa seacuterie de fatores que vai muito aleacutem do

estabelecimento de documentos regras ou outras decisotildees voltadas agrave seleccedilatildeo de conteuacutedos Nesse sentido

pensar em praacuteticas curriculares extrapola tal limite

A partir do pensamento dos autores que citamos podemos discutir as diferentes abordagens diante

do curriacuteculo com base em algumas dimensotildees especiacuteficas Uma das formas de tratar o curriacuteculo pode ocor-

rer a partir de uma visatildeo mimeacutetica cujas bases satildeo a imitaccedilatildeo e a reproduccedilatildeo As bases racionalistas desse

pensamento nos levam a olhar para a realidade de forma objetiva ou seja a entendecirc-la como independente

do sujeito que vive no mundo Nessa perspectiva haacute somente uma verdade e um modo de compreender-

mos tudo o que se passa a nossa volta e assim todo e qualquer conhecimento eacute entendido como universal

podendo este ser manipulado e transmitido

Praacuteticas pedagoacutegicas nessa vertente satildeo representadas por atividades mecacircnicas como exerciacutecios

de repeticcedilatildeo nas aulas de liacutenguas acoplada agrave transmissatildeo de visotildees que defendem uma pronuacutencia idea-

lizada e do uso a partir da noccedilatildeo de normatizaccedilatildeo Outros exemplos seriam a assimilaccedilatildeo de regras em

praacuteticas esportivas orientadas pela ideia de competiccedilatildeo e a validaccedilatildeo da arte somente a partir do que eacute tido

como canocircnico

Se buscarmos apoio em Silva (1999) perceberemos que o curriacuteculo quando visto nessa perspec-

tiva eacute pensado por meio de teorias tradicionais e portanto a partir da ideia de fragmentaccedilatildeo e compar-

timentaccedilatildeo tanto no que diz respeito aos componentes curriculares quanto aos elementos que lhe satildeo

constitutivos Assim a cada disciplina que integra o curriacuteculo cabe eleger seus objetos de ensino sendo as

praacuteticas curriculares pensadas a partir de uma multiplicidade de elementos entre eles o ensino a apren-

dizagem a avaliaccedilatildeo a metodologia a didaacutetica o planejamento os objetivos etc

Podemos tambeacutem ampliar nossas reflexotildees com base em Scheyerl (2012) Essa autora complementa

que nessa vertente praacuteticas pedagoacutegicas voltadas agraves liacutenguas por exemplo vinculam-se ao que podemos

chamar de mito do colonizador Nessa perspectiva encontramos visotildees e valores ligados a um mundo

ideal das culturas alvo que eacute geralmente um mundo branco e ocidentalizado com padrotildees linguiacutesticos

e culturais riacutegidos e normatizados vislumbrando um rigor exagerado na pronuncia nativa Isto ocorre

porque o objetivo central eacute a apropriaccedilatildeo de uma nova identidade por parte dos alunos Natildeo eacute preciso

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

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43

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44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 37: Caderno 4   2ª etapa pacto

37

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

ressaltar que subjazem nessas visotildees as noccedilotildees de liacutengua como um sistema linear de signos sendo seu

aprendizado vinculado agrave manipulaccedilatildeo do comportamento

Metodologias articuladas a esses princiacutepios e valores podem ser lidas como pedagogias da assimila-

ccedilatildeo conforme tambeacutem nos aponta Mota (2010) em que manifestaccedilotildees artiacutesticas e literaacuterias satildeo definidas

pelo prestiacutegio social do que eacute canonizado Desse modo os conhecimentos construiacutedos nessa linha limitam

os estudantes a se apropriarem de modos de pensar e agir determinados de modo impositivo e desvincu-

lado de suas experiecircncias de vida e assim possivelmente distantes de suas necessidades e expectativas

O curriacuteculo pode tambeacutem ser pensado a partir da ideia de siacutentese que desloca seu ponto central

para o estudante e para a noccedilatildeo de conhecimento como resultado de um processo ativo de construccedilatildeo de

saberes Nessa perspectiva o curriacuteculo preocupa-se com a diversidade e se volta para o agrupamento de

uma gama mais ampla de elementos elencando-os de acordo com sua relevacircncia para o contexto e as

necessidades dos estudantes conforme ressaltam Kalantzis e Cope (2008)

Nessa abordagem agrave qual alguns autores chegam a se enquadrar na perspectiva do pensamento criacute-

tico devido agrave preocupaccedilatildeo com a diversidade haacute um foco excessivo na individualidade e um teor ainda

bastante superficial em relaccedilatildeo ao modo como as diferenccedilas satildeo compreendidas Conforme ressaltado

em nossa literatura torna-se proeminente nessa perspectiva a ideia de multiculturalismo mas este tende

a ser compreendido dentro da ideologia liberal (do progressismo individualista) e conservadora De certa

forma essa abordagem pode ser entendida com um teor assimilacionista uma vez que embora trate da

diversidade cultural social e linguiacutestica o discurso de toleracircncia vigente nessa visatildeo limita-se agrave contem-

placcedilatildeo das diferenccedilas natildeo levando os estudantes agrave sua problematizaccedilatildeo

Desse modo Scheyerl (2012) apoiada tambeacutem em Mota (2010) vincula essa vertente ao mito do

melting pot (panela de fondue ndash metaacutefora do multiculturalismo) para ilustrar que diferenccedilas satildeo trazidas

para um cenaacuterio educativo e trabalhadas a partir de uma visatildeo ainda autoritaacuteria que define essas diferenccedilas

e as qualifica a partir de posiccedilotildees centralizadoras Assim sendo essa vertente pode ser ainda relacionada a

outras ideologias que se norteiam pelo consumismo e pelo capitalismo exacerbado Nesse sentido mostra-

se apropriado afirmar que de certa forma a orientaccedilatildeo pedagoacutegica muitas vezes ainda se pauta pela ideia

de pedagogia bancaacuteria conforme jaacute criticava Paulo Freire em que conhecimentos e diferenccedilas devem ser

assimilados sem uma reflexatildeo mais ampla acerca de seu funcionamento social

Outra possibilidade de pensarmos o curriacuteculo e as praacuteticas pedagoacutegicas eacute a partir de um posicio-

namento articulado agrave reflexividade Para autores como Kalantzis e Cope (2008) essa visatildeo implica em

um constante movimento em muacuteltiplas direccedilotildees por entre as mais diversas accedilotildees nas quais possamos

nos engajar para construirmos o conhecimento Essa perspectiva implica ainda na articulaccedilatildeo entre uma

ampla gama de experiecircncias de aprendizagem na busca por possibilidades de viabilizarmos modos mais

profundos e amplos de tratar o conhecimento e por fim na rearticulaccedilatildeo entre o ensino e a aprendizagem

com o mundo dentro e fora da sala de aula a partir de propoacutesitos estabelecidos com base nos diferentes

contextos em que o processo educativo ocorre

Assim como a outra vertente descrita (a da siacutentese) entendemos que tambeacutem a reflexividade pode

ser atrelada a um curriacuteculo criacutetico conforme nos mostra Silva (1999) Isto porque encontra-se nessa abor-

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Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 38: Caderno 4   2ª etapa pacto

38

Linguagens

dagem a ideia de que a accedilatildeo dos sujeitos envolvidos na produccedilatildeo de conhecimento e consequentemente

em sua accedilatildeo no mundo deva ser revisitada Satildeo eminentes a partir dessa perspectiva a noccedilatildeo de agecircncia

entendida como um processo criativo e criacutetico de accedilatildeo no mundo Passamos todos professores e alunos

a construir o conhecimento sob outras bases Os conhecimentos produzidos no processo educativo natildeo

substituem aqueles construiacutedos em nossas vivecircncias cotidianas eles se agregam agraves experiecircncias jaacute vivi-

das expandindo visotildees e reconfigurando praacuteticas

Ainda apoiados em Silva (1999) pensamos que essa abordagem encontra-se ancorada em teorias

criacuteticas estas orientadas pelas noccedilotildees de ideologia reproduccedilatildeo cultural e social poder classe social cons-

cientizaccedilatildeo emancipaccedilatildeo resistecircncia entre outros aspectos Questionamentos endereccedilados a abordagens

desse tipo recaem no fato de que elas natildeo parecem apagar as fronteiras entre instituiccedilotildees esferas e aacutereas

de conhecimento problematizando as tensotildees entre grupos ainda muito rigidamente estabelecidos Nessa

direccedilatildeo separam-se facilmente o global e o local por exemplo colocando-os em uma situaccedilatildeo de oposi-

ccedilatildeo binaacuteria Da mesma forma a autonomia do indiviacuteduo parece manter-se pensada a partir de uma posiccedilatildeo

muito individualista e unilateral

Isso dificulta e fragiliza as praacuteticas pedagoacutegicas e curriculares pois natildeo nos permite analisar o

conhecimento e sua construccedilatildeo como um processo que envolve sobreposiccedilatildeo e que acata o fato de que

nossa constituiccedilatildeo e o que produzimos como conhecimento seja algo que possa envolver a contradiccedilatildeo

por exemplo A partir dessa limitaccedilatildeo passamos a ter dificuldade em admitir que natildeo haacute hierarquias entre

conhecimentos por exemplo Mantemos nesse sentido ainda uma posiccedilatildeo bastante centralizadora que

de certa forma ainda manteacutem divisotildees de toda ordem com bases em classes e em categorias distintas e

autossuficientes

Podemos ainda pensar o curriacuteculo a partir de teorias poacutes-criacuteticas enfatizando que esse termo natildeo

implica a ideia de superaccedilatildeo mas sim de problematizaccedilatildeo conforme discute Silva (1999) Isso nos faz

tambeacutem reiterar que categorias ou abordagens aqui descritas foram trazidas para facilitar a discussatildeo do

que trazem em termos de diferenccedilas e semelhanccedilas e natildeo satildeo aqui pensadas como pacotes fechados e

linearmente idealizados

Se acatarmos o pensamento sobre as teorias poacutes-criacuteticas e sua relaccedilatildeo com as praacuteticas curriculares

lanccedilaremos matildeo de uma ampla gama de visotildees e princiacutepios que nos auxiliaratildeo a compreender ldquoos proces-

sos pelos quais atraveacutes de relaccedilotildees de poder e controle nos tornamos aquilo que somosrdquo (SILVA 1999 p

147) Em outras palavras entendemos que essas ideias podem nos ajudar a refletir criticamente acerca de

nossa constituiccedilatildeo enquanto docentes e ainda sobre a forma como materializamos o nosso trabalho por

meio de nossas praacuteticas pedagoacutegicas nosso pensamento nossas visotildees afetando a vida dos estudantes e

de outras pessoas em geral Desse modo concordamos com Silva (1999) quando ele enfatiza que o curriacute-

culo visto por esta perspectiva ldquoeacute uma questatildeo de saber identidade e poderrdquo

Eacute interessante perceber que a questatildeo do poder nessa vertente eacute pensada de forma descentralizada

e isso faz muita diferenccedila para o modo como orientaremos nossas praacuteticas A partir desse pressuposto

percebemos que esse poder pode se transformar mas natildeo desaparecer Ou seja podemos propor maneiras

mais colaborativas e menos centradas no professor para implementar o processo educativo Isso implica

por exemplo selecionarmos conteuacutedos a partir dos interesses e necessidades dos estudantes e tambeacutem a

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

40

Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 39: Caderno 4   2ª etapa pacto

39

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

partir de suas experiecircncias de vida do que consideram importante e vaacutelido Contudo devemos estar cien-

tes de que qualquer praacutetica eacute carregada valorativamente ou seja veicula certas ideologias que estabelecem

outras formas de legitimaccedilatildeo de controle as quais devem ser sempre objetos de reflexatildeo de nossa parte

Nessa perspectiva o conceito de autonomia assume uma tonalidade diferente daquelas pensadas a

partir do indiviacuteduo que deve instrumentalizar-se para agir de modo coerente na sociedade Em uma pers-

pectiva poacutes-criacutetica a autonomia eacute vista como potencial humano de agecircncia e encontra-se articulada ao uso

criacutetico do conhecimento e das linguagens vislumbrando a reconfiguraccedilatildeo de praacuteticas e o questionamento

das bases sobre as quais o funcionamento social estaacute pensado

O multiculturalismo nessa vertente eacute pensado em toda sua complexidade Daiacute advecircm as adjetiva-

ccedilotildees como multiculturalismo criacutetico por exemplo Ou seja o que estaacute em jogo eacute o processo de interpre-

taccedilatildeo de produccedilatildeo dos sentidos a partir do qual estabelecemos nossas verdades em relaccedilatildeo ao mundo e

agraves pessoas Ao abordarmos a expressatildeo esteacutetica por esse prisma por exemplo buscamos entender quais

representaccedilotildees visotildees de mundo e de sujeito estatildeo sendo veiculadas a partir dela a fim de que proble-

matizemos porque esses discursos satildeo postos em circulaccedilatildeo e como as relaccedilotildees assimeacutetricas de poder satildeo

construiacutedas

Desse modo natildeo basta trazermos o hip hop ou o funk para a sala de aula ou tampouco falarmos

das variaccedilotildees menos prestigiadas em termos de liacutenguas estrangeiras ou de portuguecircs ou das liacutenguas de

sinais como liacutengua materna Natildeo basta olharmos para as praacuteticas esportivas que satildeo aparentemente menos

populares Eacute preciso que tragamos essas praacuteticas para a escola que pensemos qual a relaccedilatildeo que estatildeo

sendo mantidas entre essas formas de expressatildeo e aquelas que a sociedade entende como valorizadas O

curriacuteculo entatildeo se torna ldquolugar espaccedilo territoacuteriordquo como enfatiza Silva (1999 p 150) a partir do qual

iremos problematizar quais identidades conhecimentos e experiecircncias estatildeo sendo silenciados em favor

de outros e porque isso acontece da forma que acontece

43 Praacuteticas de ensino e aprendizagem

Para discutirmos sobre o trabalho docente mas especificamente para refletirmos sobre as escolhas

metodoloacutegicas os recursos utilizados as visotildees filosoacuteficas que embasam nosso fazer pedagoacutegico para

fazermos determinadas escolhas entre outros aspectos recorreremos agrave metaacutefora da aacutervore com base em

Monte Moacuter (2011) como releitura de Saviani

As folhas satildeo as partes da aacutervore que possuem mais visibilidade e podem ser vistas a distacircncia

Nesse raciociacutenio a praacutetica de sala de aula corresponderia ao topo da aacutervore As questotildees mais visiacuteveis da

alusatildeo agraves folhas podem ser identificadas em aulas por meio das teacutecnicas de ensino como por exemplo

no ensino de liacutenguas nas teacutecnicas de apresentaccedilatildeo de conteuacutedos nas escolhas de recursos tecnoloacutegicos

digitais como o uso de blogs jornal online ou impresso bem como procedimentos de sala de aula como

Para saber mais sobre este tema leia SAVIANI D Educaccedilatildeo do senso comum agrave consciecircncia filosoacutefica Satildeo Paulo Ed Cortez 1984

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Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

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Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 40: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

atividades em grupos em pares escrita colaborativa entre outros Em outras palavras em qualquer um

dos componentes curriculares as folhas representam os conteuacutedos selecionados e o modo de abordaacute-los

no processo de construccedilatildeo de conhecimentos

Conforme discutimos no iniacutecio desta unidade uma visatildeo centrada nas folhas parece ser muito res-

trita principalmente porque entende os professores como reprodutores ignorando seu papel como agente

poliacutetico Desse modo essas questotildees consideradas mais praacuteticas durante muito tempo foram destaque

nas aulas de didaacuteticas dos cursos de licenciatura preocupados com a arte de ensinar evidenciando uma

despreocupaccedilatildeo com as ideias e ideologias que sustentavam tais fazeres Natildeo estamos afirmando aqui que

as atividades praacuteticas deixaram de ser importantes No entanto chamamos a atenccedilatildeo que para um trabalho

que vise o desenvolvimento humano em que o curriacuteculo eacute visto tambeacutem como uma praacutetica social olhar

para o trabalho dos professores focalizando apenas as teacutecnicas para transmissatildeo de conteuacutedos parece-nos

natildeo abrir espaccedilo para a compreensatildeo do papel educacional de maneira mais abrangente

Na sequecircncia o tronco da aacutervore corresponde a uma pedagogia que por sua vez eacute mantida pela

raiz que representa a filosofia da educaccedilatildeo Monte Mor (2011) chama a atenccedilatildeo para o fato de que alguns

professores se preocupam mais com as praacuteticas e teacutecnicas da sala de aula e parecem natildeo ter consciecircncia

das visotildees pedagoacutegicas e filosoacuteficas da educaccedilatildeo que fundamentam suas escolhas A autora enfatiza que

essa eacute uma postura que merece ser revisitada na medida em que a aacutervore interage com o meio assim como

ldquoa praacutetica a pedagogia e a filosofia da educaccedilatildeo interagem com os contextos social histoacuterico e culturalrdquo

(MONTE MOR 2011 p 315)

As reflexotildees que contemplam a aacutervore no seu todo podem ser relacionadas agrave ideia de curriacuteculo

como processo poliacutetico permeado por questotildees ideoloacutegicas e assim de poder conforme nos lembra Silva

(1999) O olhar para as folhas nessa perspectiva natildeo ocorre de forma isolada do todo mas sim a partir

da ideia da atividade pedagoacutegica como atividade complexa Pensar em conteuacutedos e teacutecnicas demandaraacute

nesse sentido a reflexatildeo sobre o que fazemos aliada agrave problematizaccedilatildeo acerca do modo como fazemos e

do por que fazemos da forma como fazemos Natildeo menos importante eacute a reflexatildeo sobre os impactos que

nossas escolhas e accedilotildees podem vir a ter na vida dos estudantes e da sociedade como um todo

Enfatizamos portanto que natildeo haacute meacutetodos perfeitos ou modos uacutenicos e corretos de agir na sala de

aula Precede essas preocupaccedilotildees a ideia de agir pedagogicamente a partir das especificidades do contexto

e das particularidades do perfil dos estudantes aliando as praacuteticas educativas a um incessante refletir sobre

seus porquecircs e sobre os valores e ideologias que elas carregam e veiculam Transformaccedilotildees advecircm dessa

problematizaccedilatildeo e da preocupaccedilatildeo em educar para o desenvolvimento humano de modo eacutetico Sempre

tendo em conta uma perspectiva situada do ensino e da aprendizagem essa praacutetica pedagoacutegica envolve o

constante pensar sobre quais satildeo os sentidos atribuiacutedos agrave ideia de eacutetica e justiccedila social

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

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Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 41: Caderno 4   2ª etapa pacto

41

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

REFLEXAtildeO E ACcedilAtildeO

Ao longo desta unidade promovemos reflexotildees em torno do fazer pedagoacutegico e sua relaccedilatildeo com

o curriacuteculo sob diversas perspectivas Retomando as reflexotildees teoacutericas sobre a atividade educativa na

atualidade influenciada pelos impactos das tecnologias digitais bem como as consideraccedilotildees de Libacircneo

aqui abordadas sobre a pedagogia como forma de humanizaccedilatildeo das pessoas considere

1 Discuta com um grupo de colegas as implicaccedilotildees dessas ideias para o seu componente curri-

cular

2 A partir das discussotildees com seu grupo reflitam em conjunto sobre a metaacutefora da aacutervore e o

fazer pedagoacutegico Procurem identificar algumas praacuteticas (recorrentes) dentro de seu componente No

contexto das folhas abordem as teacutecnicas mais usadas e articulem-nas agraves praacuteticas agraves ideias pensamentos

e valores que as norteiam ou seja ligando-as agrave raiz (filosofia educacional) e ao tronco (pedagogia)

3 Por fim discutam qual eacute a relaccedilatildeo do que foi levantado com a formaccedilatildeo humana integral dos

estudantes

FONTE(Monte Moacuter 2011Ono2013 Maciel 2014)

42

Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 42: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

Referecircncias ASSIS M (1904) Esauacute e Jacoacute Disponiacutevel em httpmachadomecgovbrimagesstoriespdfromancemarm09pdf Acesso em 1482014

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica Paracircmetros curricula-res nacionais ensino meacutedio linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2000

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Meacutedia e Tecnoloacutegica PCN+ linguagens coacutedigos e suas tecnologias Brasiacutelia MECSEMTEC 2002

BRASIL Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica Orientaccedilotildees Curriculares para o Ensino Meacutedio Linguagens Coacutedigos e suas Tecnologias Brasiacutelia MECSEB 2006

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Parecer CNE CEB nordm 52011 Diretrizes Curriculares Na-cionais para o Ensino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 24 jan 2012 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampi-d=16368ampItemid=866 Acesso em 1082014

BRASIL Conselho Nacional De Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 04 de 13 de julho 2010 Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Baacutesica Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF 09 jul 2010 Seccedilatildeo 1 p 10 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_conten-tampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Resoluccedilatildeo nordm 02 de 30 de janeiro de 2012 Define Diretrizes Curriculares Nacionais para o En-sino Meacutedio Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da EducaccedilatildeoCon-selho Nacional de EducaccedilatildeoCacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica 2012 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrindexphpoption=com_contentampview=articleampid=17417ampItemid=866 Acesso em 1072014

BRASIL Formaccedilatildeo de professores do Ensino Meacutedio Etapa I - Caderno II o jovem como sujeito do en-sino meacutedio Ministeacuterio da EducaccedilatildeoSecretaria de Educaccedilatildeo Baacutesica [organizadores Paulo Carrano Juarez Dayrell] Curitiba UFPRSetor de Educaccedilatildeo 2013 Disponiacutevel em httppactoensinomediomecgovbrimagespdfcadernosweb_caderno_2pdf Acesso em 1072014

BRYM R J LIE J HAMLIN C MUTZENBERG R SOARES E V SOUTO MAIOR H Socio-logia Thomson 2006

BAKHTIN M Os gecircneros do discurso In ______ Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Traduccedilatildeo de Paulo Bezer-ra Satildeo Paulo Martins Fontes 2006 [1953]

CHARLOT B Globalizaccedilatildeo e educaccedilatildeo Texto de conferecircncia no Foacuterum Mundial de Educaccedilatildeo 2000

CHREacuteTIEN Claude A Ciecircncia em Accedilatildeo Campinas Papirus 1994

CONNELLY F M CLANDININ D J Teachers as curriculum planners Narratives of experience New York Teachers College Press 1988

FOUCAULT M As palavras e as coisas uma arqueologia das ciecircncias humanas Satildeo Paulo Martins Fontes 2007

GLAUCO Abobrinhas da Brasilocircnia Satildeo Paulo Circo Editorial 1985

JENKINS H Confronting the challenges of participatory culture media education for the 21st century Cambridge The MIT Press 2009

KALANTZIS M COPE B New Learning Elements of a Science of Education Cambridge Cambridge University Press 2008

LARAIA R B Cultura um conceito antropoloacutegico Rio de Janeiro Zahar 2001

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 43: Caderno 4   2ª etapa pacto

43

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

LIBAcircNEO J C As teorias pedagoacutegicas modernas revisitadas pelo debate contemporacircneo na educaccedilatildeo In LIBAcircNEO J C SANTOS A (Orgs) Educaccedilatildeo na era do conhecimento em rede e transdisciplina-ridade Campinas Editora Alinea 2010

MONTE MOacuteR W Critical literacies in Brazilian university and in elementarysecondary schools the dialetics between the local and the global In MACIEL RF ARAUJO VA Formaccedilatildeo de professores de liacutenguas ampliando perspectivas Jundiaiacute Paco Editorial 2011

MORIN E Educaccedilatildeo e complexidade os sete saberes e outros ensaios 3 ed Satildeo Paulo Editora Cortez 2005

MOSCOVICI S Representaccedilotildees sociais investigaccedilotildees em psicologia social Traduccedilatildeo de Pedrinho A Guareschi 5 ed Petroacutepolis Vozes 2007

MOTA K Incluindo as diferenccedilas resgatando o coletivo novas perspectivas culturais no ensino de liacuten-guas estrangeiras In MOTA K SCHEYERL D (Orgs) Recortes interculturais na sala de aula de liacutenguas estrangeiras Salvador Edufba 2010 p 37-62

PORTO M Brasil em tempos de cultura cena poliacutetica e visibilidade Proposta n 109 junago 2006 p6-12

RICENTO T Language Policy - Theory and Practice ndash an Introduction In RICENTO T (Org) An Introduction to Language Policy ndash Theory and Method Oxford Blackwell Publishing 2006 p 10-23

SCHEYERL D Praacuteticas ideoloacutegicas na elaboraccedilatildeo de materiais didaacuteticos para a educaccedilatildeo linguiacutestica In Denise Scheyerl amp Savio Siqueira (Orgs) Materiais didaacuteticos para o ensino de liacutenguas na contempora-neidade contestaccedilotildees e proposiccedilotildees Salvador EDUFBA 2012 p 37-56

SANTOMEacute JT Globalizaccedilatildeo e Interdisciplinaridade o curriacuteculo integrado Porto Alegre Artes Meacute-dicas 1998

SANTOS B de S Introduccedilatildeo a uma Ciecircncia Poacutes-Moderna Rio de Janeiro Graal 1989

______ Um discurso sobre as ciecircncias 5 ed Satildeo Paulo Cortez 2008 [1987]

SETTON M G Miacutedia e Educaccedilatildeo Satildeo Paulo Editora Contexto 2010

SHOHAMY E Language Policy ndash hidden agendas and new approaches LondonNew York Routledge 2006

SILVA T T Documentos de identidade uma introduccedilatildeo agraves teorias do curriacuteculo Belo Horizonte Autecircn-tica 1999 [2005]

VERASZTO E V et al Tecnologia buscando uma definiccedilatildeo para o conceito PRISMACOM n 7 2008

VOESE Ingo Ah se todos fossem (ou natildeo) iguais a uma onda no mar Linguagem em (Dis)curso Tu-baratildeo v 3 n esp Identidade org por Ingo Voese p 151-177 2003

WEBER Max Ciecircncia e Poliacutetica duas vocaccedilotildees Satildeo Paulo Editora Cultrix 1968

______ Economia e Sociedade 4 ed Brasiacutelia Editora da Universidade de Brasiacutelia 2009

44

Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

46

Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 44: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

ORGANIZACcedilAtildeO DO TRABALHO PEDAGOacuteGICO NO ENSINO MEacuteDIO

Etapa II ndash Caderno IAUTORESDenise de Amorim RamosErisevelton Silva LimaFaacutetima Branco Godinho de CastroMaria Madselva Ferreira FeigesMarta Mariano AlvesRogeacuterio Justino

CIEcircNCIAS HUMANAS

Etapa II ndash Caderno IIAUTORESAlexandro Dantas TrindadeArnaldo Pinto JuniorClaudia da Silva KryszczunMarcia Fernandes Rosa NeuEduardo Salles de Oliveira BarraMarivone Regina MachadoMarcia de Almeida Gonccedilalves

CIEcircNCIAS DA NATUREZA

Etapa II ndash Caderno IIIAUTORESDaniela Lopes ScarpaFlavio Antonio MaximianoHildney Alves de OliveiraLana Claudia de Souza FonsecaSeacutergio CamargoSilmara Alessi Guebur Roehrig

LINGUAGENS

Etapa II ndash Caderno IVAUTORESAdair BoniniClaudia Hilsdorf RochaFernando Jaime GonzalezMagali Oliveira KleberPaulo Evaldo FensterseiferRuberval Franco Maciel

MATEMAacuteTICA

Etapa II ndash Caderno VAUTORESIole de Freitas DruckMaria Cristina Bonomi Viviana Giampaoli Ana Paula Jahn Italo Modesto Dutra

45

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

47

Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 45: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

FORMACcedilAtildeO E INSTITUICcedilAtildeO DOS AUTORES

Adair Bonini Doutor em Linguiacutestica pela Universidade Federal de Santa Catarina onde atualmente trabalha como professor e pesquisador

Alexandro Dantas TrindadeDoutor em Ciecircncias Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Atua como professor na Universidade Federal do Paranaacute - UFPR

Ana Paula JahnDoutora em Didaacutetica da Matemaacutetica pela Universidade Joseph Fourier (Grenoble) Franccedila e professora na Universidade de Satildeo Paulo - Instituto de Matemaacutetica e Estatiacutestica Departamento de Matemaacutetica (USPIME)

Arnaldo Pinto Junior Doutor em Histoacuteria pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP e atua como professor na Uni-versidade Federal do Espirito Santo - UFES

Claudia da Silva KryszczunEspecialista em Filosofia Moderna e Contemporacircnea Aspectos Eacuteticos pela Universidade Estadual de Londrina (2014) Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo

Claudia Hilsdorf Rocha Doutora em Linguiacutestica Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) mesma institui-ccedilatildeo em que atua como professora

Daniela Lopes ScarpaDoutora em Ciecircncias da Educaccedilatildeo pela Faculdade de Educaccedilatildeo da Universidade de Satildeo Paulo (USP) mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Denise de Amorim Ramos Mestre em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Carlos ndash Ufscar Atualmente eacute professora na Universidade Federal do Tocantins

Eduardo Salles de Oliveira Barra Doutor em Filosofia na Universidade de Satildeo Paulo e professor do Departamento de Filosofia da Univer-sidade Federal do Paranaacute UFPR

Erisevelton Silva LimaDoutor em Educaccedilatildeo pela Universidade de Brasiacutelia atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Edu-caccedilatildeo do Distrito Federal

Faacutetima Branco Godinho de CastroMestre em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute UFPR e atua na Secretaacuteria de Educaccedilatildeo do Estado do Paranaacute

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

Page 46: Caderno 4   2ª etapa pacto

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Linguagens

Fernando Jaime GonzalezDoutor em Ciecircncia do Movimento Humano pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul e professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul onde tambeacutem eacute professor

Flavio Antonio Maximiano Doutor em Quiacutemica (Fiacutesico-Quiacutemica) pelo Instituto de Quiacutemica da USP (IQUSP) Atualmente eacute docente do Departamento de Quiacutemica Fundamental do IQUSP

Hildney Alves De OliveiraEspecialista em Gestatildeo Escolar pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e especialista em Educaccedilatildeo Profissional integrada agrave Educaccedilatildeo Baacutesica pela Universidade Tecnoloacutegica Federal do Paranaacute Atualmente trabalha na Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado do Mato Grosso do Sul

Iole De Freitas DruckPhD em Matemaacutetica pela Universiteacute de Montreal Atualmente eacute professora doutora da Universidade de Satildeo Paulo

Italo Modesto Dutra Doutor em Informaacutetica na Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e profes-sor do Coleacutegio de Aplicaccedilatildeo da mesma universidade

Lana Claudia de Souza FonsecaDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal Fluminense e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro na aacuterea de Ensino de Ciecircncias e Biologia

Magali Oliveira KleberDoutora em Muacutesica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Esta-dual de Londrina

Marcia de Almeida GonccedilalvesDoutora em Histoacuteria Social pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Maacutercia Fernandes Rosa NeuDoutora em Geografia Humana pela Universidade de Satildeo Paulo e professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo de Santa Catarina

Maria Cristina BonomiDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade de Satildeo Paulo e professora nesta mesma universidade no Insti-tuto de matemaacutetica e Estatiacutestica

Maria Madselva Ferreira FeigesDoutora em Educaccedilatildeo pela Universidade Federal do Paranaacute e professora Aposentada do grupo magisteacuterio superior da mesma Universidade

Marivone Regina MachadoEspecialista em Gestatildeo Escolar Supervisatildeo e Orientaccedilatildeo Educacional pela instituiccedilatildeo Padre Joatildeo Bago-zzi Atualmente eacute professora da Secretaria Estadual de Educaccedilatildeo do Paranaacute na Disciplina de Histoacuteria

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

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Formaccedilatildeo de Professores do Ensino Meacutedio

Marta Mariano AlvesEspecializaccedilatildeo em Organizaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico pela Universidade Federal do Paranaacute Atual-mente exerce a funccedilatildeo de pedagoga na Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Paulo Evaldo Fensterseifer Doutor em Educaccedilatildeo pela Universidade Estadual de Campinas Atualmente eacute professor adjunto do De-partamento de Humanidades e Educaccedilatildeo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUIacute)

Ruberval Franco MacielDoutor em Estudos Linguumliacutesticos e Literaacuterios de Inglecircs pela Universidade de Satildeo Paulo Atualmente eacute professor efetivo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS)

Seacutergio CamargoDoutor em Educaccedilatildeo para a Ciecircncia pela Universidade Estadual Paulista Juacutelio de Mesquita Filho (UNESP) e professor na Universidade Federal do Paranaacute

Silmara Alessi Guebur RoehrigMestre em Educaccedilatildeo em Ciecircncias e em Matemaacutetica pela Universidade Federal do Paranaacute Atualmente eacute professora da Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo do Paranaacute

Viviana GiampaoliDoutora em Estatiacutestica pela Universidade de Satildeo Paulo mesma instituiccedilatildeo em que atua como professora

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