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Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 1 CABEÇA DE ARTISTA: A PERSPECTIVA TEÓRICO- METODOLÓGICA NO ENSINO DO DESENHO STAIGER, Ricardo Juliano 1 [email protected] PONCE FILHO, Lourival [email protected] Universidade Estadual de Maringá Formação de professores e intervenção pedagógica Introdução Ao relembrarmos nossas aulas de Arte ao longo de nossa formação, desde as séries iniciais da Educação Básica ao curso universitário ao qual estamos hoje, observamos que muitos são os encaminhamentos efetuados no ensino do desenho. Por meio dos estudos e discussões que cada um dos encaminhamentos metodológicos traz em si, tendências teóricas que influenciam de forma direta o trabalho do professor vimos que este, na maioria das vezes, não tem conhecimento das condições a ele impostas e que servem, em grande parte, a interesses econômicos e não ao desenvolvimento humano que devia constituir o grande objetivo da educação. Como futuros professores, reiteramos a importância de ter claro tais teorias e seus encaminhamentos metodológicos, de forma que a ação pedagógica possa constituir-se por escolhas e não por manipulações em relação ao trabalho escolar. Acrescentamos que mesmo com a possibilidade de escolhas, estamos sujeitos a elementos condicionantes aos quais não temos como nos isentar devido a atual conjuntura econômica e social. 1 Este trabalho foi elaborado na disciplina Produções Artísticas: Desenho I pela professora Tania Regina Rossetto.

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Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 1

CABEÇA DE ARTISTA: A PERSPECTIVA TEÓRICO-

METODOLÓGICA NO ENSINO DO DESENHO

STAIGER, Ricardo Juliano1

[email protected]

PONCE FILHO, Lourival

[email protected]

Universidade Estadual de Maringá

Formação de professores e intervenção pedagógica

Introdução

Ao relembrarmos nossas aulas de Arte ao longo de nossa formação, desde as

séries iniciais da Educação Básica ao curso universitário ao qual estamos hoje,

observamos que muitos são os encaminhamentos efetuados no ensino do desenho. Por

meio dos estudos e discussões que cada um dos encaminhamentos metodológicos traz

em si, tendências teóricas que influenciam de forma direta o trabalho do professor

vimos que este, na maioria das vezes, não tem conhecimento das condições a ele

impostas e que servem, em grande parte, a interesses econômicos e não ao

desenvolvimento humano que devia constituir o grande objetivo da educação.

Como futuros professores, reiteramos a importância de ter claro tais teorias e

seus encaminhamentos metodológicos, de forma que a ação pedagógica possa

constituir-se por escolhas e não por manipulações em relação ao trabalho escolar.

Acrescentamos que mesmo com a possibilidade de escolhas, estamos sujeitos a

elementos condicionantes aos quais não temos como nos isentar devido a atual

conjuntura econômica e social.

1 Este trabalho foi elaborado na disciplina Produções Artísticas: Desenho I pela professora Tania Regina Rossetto.

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Mas apontamos ser necessário encaminhar o processo de ensino e aprendizagem

em relação ao desenho como um processo criador, dinâmico, integrado a prática social

de forma que possa promover novas formas de pensar.

Partimos da questão sobre quais são os encaminhamentos relativos às tendências

teórico-metodológicas do ensino tradicional, do ensino escolanovista e do ensino

tecnicista em relação ao ensino do desenho. E quais as possibilidades de trabalho para

além desses encaminhamentos.

Isso posto, apontamos a construção do desenho como um processo que amplia a

visão do mundo, onde os aprendizes podem ter acesso ao conhecimento historicamente

elaborado de forma que o humano se constitua de fato, como direito de todos.

Objetivos

- Discutir e desvelar os fundamentos teóricos e seus encaminhamentos metodológicos

referentes a Escola Nova, a Escola Nova e a Escola Tecnicista em relação ao ensino do

desenho no contexto escolar;

- Elaborar novas possibilidades de trabalho voltadas à produção coletiva e a

contextualização histórica e social voltadas para o ensino e aprendizagem do desenho no

contexto escolar.

Metodologia

Como nossa primeira aula de desenho, saímos em busca de texturas. Isso

pareceu-nos estranho, teríamos que capturar em folhas de sulfite com giz de cera, as

texturas que estavam a nossa volta e que nos chamavam a atenção pela sua forma. Eram

texturas táteis, podíamos senti-las ao toque: parede, porta, ventilador, sola de sapato,

piso, bolsa, folhas, troncos de árvores, placas...

Após cada um de nós catalogarmos várias texturas e descrevermos cada uma

delas no verso do papel, voltamos à sala e nos reunimos ao grande grupo.

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Relatamos nossas experiências num diálogo coletivo junto ao grande grupo,

nossa busca pelas formas, nossa capturas, nosso estranhamento, satisfação, aventuras e

frustrações.

Colocamos todas as folhas contendo as texturas no centro da sala. Classificamos

por cores, por formas, por contraste, por afinidades entre outras possibilidades de

composição. Discutimos, junto ao grupo, várias formas de trabalho por meio das

imagens capturadas e transpostas para uma textura visual.

O próximo passo foi que montássemos um desenho coletivo com as folhas a

nossa frente, desenho este, que representasse a experiência do grupo. Na sequência,

cada teve que registrar de forma escrita, o processo de criação e conceitos sobre o

trabalho realizado. Tiramos fotos, registramos, relatamos de forma oral e escrita todo o

processo de criação do desenho.

Por fim, discutimos textos em relação às tendências teóricas e metodológicas

firmadas na Escola Tradicional, na Escola Nova e na Escola Tecnicista, destacando

como seria desenvolvida esta atividade em cada uma dessas escolas.

Comparamos cada uma das possibilidades de trabalho e analisamos os fatores

históricos e sociais que permeiam cada proposta em relação ao ensino do desenho que é

direcionado como cópia segundo a Escola Tradicional, como livre fazer pela Escola

Nova ou como simples domínio técnico de acordo com a Escola Tecnicista.

Analisamos o trabalho que havíamos realizado e apontamos as diferenças entre

cada encaminhamento. Os relatos e registros foram sistematizados e enviados ao e-mail

de todos.

Resultado

Segundo as Diretrizes Curriculares de Arte do estado do Paraná para a educação

Básica (2008, p. 48-49)

é comum no cotidiano das pessoas, por exemplo, a aplicação de atividades de repetição de formas, a partir de modelos pré-estabelecidos de origem natural ou não. [...] Na escola, esses

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conceitos e processos atribuem à Arte a função de reprodução mais fiel possível da realidade, pois seguem formas padronizadas e mantém o aluno no aperfeiçoamento da técnica de copiar, reproduzir, o que resulta no cerceamento de sua capacidade de criação e comunicação de novas percepções e visões de mundo. Assim, mesmo de modo não consciente, essa concepção auxilia na formação de indivíduos submissos ao sistema vigente, seja qual for, e aos modelos existentes.

De acordo com as Diretrizes (2008), diversas teorias estabelecem referências

sobre a função social da Arte que pode servir à política, a religião, a ideologia, a ética,

pode ser utilitária se transformando em mercadoria ou simplesmente proporcionar a

experiência estética.

Em relação ao ensino do desenho e aos encaminhamentos metodológicos

utilizados no contexto escolar, podemos apontar, segundo nossas próprias experiências

como alunos da Educação Básica, a utilização de desenhos mimeografados, utilizados

apenas para pintar, com temas relacionados as datas comemorativas ou personagens

infantis como Mikey, Mônica, Ursinhos Carinhosos, Moranguinho, As princesas, entre

outros. Apontamos ainda, a prática do desenho livre sem qualquer direcionamento,

resumindo-se a um mero fazer, desconectado da realidade presente. Também apontamos

encaminhamentos em relação ao ensino do desenho como cópia, que utilizam formas e

normas pré-estabelecidas, a utilização de cânones clássicos e a utilização de modelos

orientais, onde pouco se observa a construção singular do desenho e suas formas

subjetivas de se constituir. É comum a cópia de obras de arte famosas, uma proposta de

reprodução de cores e formas idênticas à do “Abaporu” de Tarsila do Amaral,

“Monalisa” de Leonardo da Vinci, “Noite estrelada” de Vincent Van Gogh, “O Grito”

de Edvard Munch, para citar apenas alguns exemplos.

Para melhor entender tais encaminhamentos em relação ao processo de ensino e

aprendizagem em relação ao desenho ao longo da história da educação, podemos definir

de forma geral, tendências educativas, presentes hoje no contexto escolar, advindas de

três teorias educacionais distintas: a escola Tradicional, a Escola Nova e a escola

Tecnicista. Cada uma delas entende de forma diferente a relação entre educação e

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sociedade. Nesse sentido, a educação pode corrigir as distorções sociais ou acirra-las a

níveis ainda mais profundos, legitimando a marginalização.

- A Pedagogia Tradicional é centrada na figura do professor que instrui os

alunos, transmitindo-lhes os conhecimentos sistematizados por meio de aulas

discursivas e exercícios metódicos e repetitivos. Esta escola não se estende para todos,

mas nem todos que nela ingressavam estão de acordo com o tipo de sociedade que se

quer consolidar, voltada ao desejo de que todos devem ter acesso ao conhecimento de

forma equalizadora. A Escola Tradicional vigorou no Brasil até a década de 1930,

configurou-se pela cópia de desenhos europeus. O modelo utilizado para o ensino do

desenho passa pelo cânone clássico, com medidas e proporções naturalistas

correspondentes à arte do Renascimento.

A semana de Arte Moderna de 1922 vem contrapor justamente esta prática

firmada na cópia da natureza, de acordo com novas propostas já existentes fora do

Brasil vinculadas ao Movimento Expressionista que representa não as paisagens

externas e naturais, mas as paisagens internas, configurando a emoção humana por meio

das formas e das cores no espaço pictórico.

- A Pedagogia Nova surge a partir da década de 1930, mas é implantada no

Brasil a partir da década de 1950. Parte da crítica à pedagogia tradicional e não

considera fator de marginalização a falta de conhecimento, mas de falta de adaptação do

indivíduo à sociedade, aceitando as diferenças uns dos outros. A pedagogia nova propõe

a valorização do sentimento, contrário a valorização do intelecto do ensino tradicional,

passa do aspecto lógico para o psicológico, dos conteúdos cognitivos para os métodos

ou processos pedagógicos, do professor para o aluno, do esforço para o interesse, da

qualidade para a quantidade, de uma pedagogia centrada na ciência da lógica para uma

pedagogia centrada na experimentação baseada em contribuições da biologia e da

psicologia. Resumindo, é uma teoria pedagógica que considera que o importante não é

aprender, mas aprender a aprender. (SAVIANI, 1988, p. 20 - 21).

Em relação ao ensino do desenho, não traz as referências dos modelos históricos,

mas pauta-se no livre fazer do aluno, que aprende pelo seu próprio fazer, o professor é

um mero facilitador desse processo. Não há referência às obras do passado, o intuito é a

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criação do novo que emerge da prática do aluno de forma espontânea. O ensino do

desenho pauta-se, segundo encaminhamentos escolanovistas, na espontaneidade,

originalidade e expressividade.

De acordo com Saviani (1988), a Escola Nova não se estendeu a todos, devido

ao seu alto custo. Mas suas idéias são difundidas entre os professores, causando um

afrouxamento da disciplina e da forma de ministrar os conteúdos às camadas populares,

a qualidade do ensino é levado a níveis ainda mais baixos.

- A Pedagogia Tecnicista surge a partir da primeira metade do século XX

quando as idéias da Escola Nova começam a ser contestadas. Como ocorreu no processo

fabril, a proposta da escola tecnicista era tornar o processo educativo mais dinâmico,

objetivo, produtivo e operacional. O que ganha cenário, com a Pedagogia Tecnicista, é a

desvalorização da escola e a preocupação com uma educação informal e não-formal

estendida ao longo da vida. Em relação ao ensino do desenho, entra em cena os

desenhos mimeografados e as reproduções de personagens de desenhos infantis com

finais felizes e datas comemorativas, como “imposição” da ditadura militar.

Em 1970 se desenvolve na arte um movimento de contra-cultura, como reação

ao Regime Militar instaurado no Brasil na primeira metade dos anos de 1960.

A Escola Tecnicista estrutura-se neste contexto, o ensino da arte passa a ser

obrigatório na Educação Básica com a Lei 5692 de 1971. Mas esta obrigatoriedade não

converge em maior acesso aos conhecimentos artísticos, passa da cópia para a livre

expressão e com o tecnicismo volta-se para o aprendizado das técnicas. Com a técnica

desvinculada de ações concretas, há um esvaziamento de conteúdos históricos e sociais

atribuídos ao desenho, basta faze-lo sem a necessidade de atribuir-lhe significado.

Saviani (1988) compreende que em cada uma dessas pedagogias, existem

conceitos diferentes de marginalização: para a pedagogia tradicional o fator de

marginalização é a falta de conhecimento, para a pedagogia nova é a falta de adaptação

do indivíduo à sociedade, aceitando as diferenças uns dos outros e para a pedagogia

tecnicista o marginalizado é o incompetente, aquele que não é produtivo na sociedade.

Para essas terias destacadas a escola possui “autonomia em relação à sociedade

que estaria, por essa razão, capacitada a intervir eficazmente na sociedade,

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transformando-a, tornando-a melhor, corrigindo as injustiças; em suma, promovendo a

equalização social.” (SAVIANI, 1988, p. 27)

Seguindo à discussão teórica passamos ao resultado do trabalho prático que

buscou novos caminhos para pensar e elaborar o desenho, buscando superar os

encaminhamentos relativos a Escola Tradicional, a Escola Nova e a escola Tecnicista,

tendo claro que os elementos dessas tendências não desaparecem por completo em

nossa ações, mas são superados, apresentando novas possibilidades.

Novas possibilidades são apontadas por Vigotski (2009, p. 39), ao afirmar que

“o último momento do trabalho preliminar da imaginação é a combinação de imagens

individuais, sua organização num sistema, a construção de um quadro complexo (...) seu

círculo completo é concluído quando se encarna ou se cristaliza em imagens externas.”

Após o ato criativo e a cristalização em imagem externa, seguiu-se os relatos dos

participantes:

“A obra coletiva “Cabeça de Artista” é um desenho montado no chão formado

por desenhos menores, as texturas foram retiradas de qualquer lugar, e na variedade de

cores, usadas sobre o papel, deram origem ao que parece um balão colorido.”

“Este é um trabalho feito por várias mãos, uma única cabeleira que embaraça

várias formas de sentir, de perceber a realidade tátil mais imediata – como um Leviatã

de texturas. Partindo dos olhos que percebem, que trazem sentido e o sentimento

(lágrima), para uma cabeça que assim como os olhos explode numa sequencia de formas

texturas, cores e idéias. Confuso, caótico... Por quê chora? Bombardeio de imagens...”

“Formas dispersas, aparentemente sem sentido, quando organizadas geram uma

imagem que pode ter várias formas, depende de como organiza-las... É formada por

várias partes, cada uma com sua função ou lugar. Da mesma forma que não podemos

enxergar a completa verdade nos olhos de uma pessoa, as imagens dispersas na cabeça

mostram que se pode ver diferentes verdades como na cabeleira cheia de diferentes

formas e desenhos... Como nos olhos da obra, diferentes pessoas vêem diferentes

verdades...”

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“A forma com que foi composta a obra trouxe uma ideia de “perspectiva”... O

olho com a lágrima traz a visão de como cada um vê e dá sentido a uma forma, a uma

textura...”

“A utilização de diferentes formas e texturas que compõem uma imagem alheia

ao contexto de onde foi retirada reforça a ideia de procurar ver além do limite de nossa

visão. Procurando sempre um lado “B” em todas as coisas.”

“Podemos descobrir várias formas de arte na percepção das texturas, cores e tons

ao nosso redor...”

“A imagem formada apenas pela cabeça é amparada pelos olhos que choram,

pois não é capaz de sentir a textura das coisas, apenas imaginar.”

“Os olhos, janelas da alma, unem texturas distintas e trazem a idéia de união de

idéias e pensamentos, pelo olhar e pelo toque.”

“A pluralidade da produção ao compor a imagem de uma cabeça que se finca e

se apóia sobre os olhos que são órgãos que permitem absorver as cores e texturas

visuais. A cabeça se forma com as mais variadas cores e texturas como cada pessoa,

como cada interpretação gráfica e pictórica...”

“A obra remete ao caótico, descontínuo e isso gera angústia, preocupação. “Eu

olho para a obra e tento imaginar o que se passa na cabeça desse ser que chora. Não sei

se a lágrima é algo bom ou ruim.” A imagem feita por várias pessoas representa a

quantidade enorme de emoções que o “ser” sente.”

“São pequenos detalhes que fazem toda a diferença, neste caso se refere a

texturas, estas não serão reconhecidas apenas pelo olhar, mas também pelo tato... Pela

sensibilidade de pessoas atentas aos pequenos detalhes.”

“Vários sentimentos, pensamentos passam pela cabeça – cada um tem uma

forma, cada um tem uma cor, uns são mais escuros, tristes e outros são coloridos... A

figura humana se funde em uma explosão de cor e sentimentos mostrando e firmando

nossa visão de mundo. A lágrima é a emoção diante disso, viver nos faz ter outra visão

da vida e das coisas que guardamos dentro de nós mesmos.”

“A obra captura diferentes texturas que são imperceptíveis aos olhos no decorrer

do dia a dia. A obra pede cautela ao olhar, pois dentro desta “suposta mente” (onde

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habitam diferentes texturas) as cores, as formas fazem fluir a imaginação e a

criatividade.”

“A cabeça é bombardeada por imagens, sensações, tons entre tantos outros

sentidos, que acabam inçando, explodindo pela pressão do mundo exterior. Tal pressão

faz impõe um mundo que leva ao abandono do próprio “eu” que é materializado pela

lágrima.”

“O conjunto das texturas formam ideias, uma cabeça de várias formas e jeitos. O

olho é algo que envolve sentimentalismo, um olhar triste que desencadeia a Arte...

Idéias, formas e texturas – uma composição um tanto abstrata – mas tendo em mente ao

que se refere...”

A partir dos relatos ficou claro que existe um flerte com as tendências destacadas

e discutidas, elas estão presentes, mesmo na busca de novos conceitos em relação ao

desenho, por exemplo a constante valorização do sentimento.

Mas também observamos a construção coletiva, realizada por várias mãos que se

completam em trabalho mútuo, dando possibilidades de construção a todos e não apenas

a alguns poucos dotados.

“Cabeça de Artista” configura o pensar do grupo, a ação coletiva do grupo:

Imagem 1 – Cabeça de Artista I

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Imagem 2 – Cabeça de Artista II

Conclusão

O trabalho foi efêmero, mas significativo. Efêmero, pela construção de uma

cabeça que logo se desfez quando cada um buscou suas folhas no emaranhado da

construção, mas efetuou-se o registro fotográfico, este ficou e pode ser de novo

significado por outros em seu enunciado. Este trabalho trouxe momentos individuais e

coletivos em sua ação e reflexão que foram de grande importância para quebrar algumas

barreiras em relação ao desenho e formular novos conceitos.

Por meio da elaboração deste trabalho foi possível discutir e visualizar novas

possibilidades em relação as práticas educacionais desenvolvidas no contexto escolar

em relação ao ensino do desenho, quebrando estereótipos que nos apresentam de forma

inofensiva, mas que trazem em si uma carga de violência em relação às regras impostas

no ensino do desenho. Regras que trazem em si atos violentos que condensam a cultura

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humana, imobilizando e inviabilizando novas formas de fazer, dinâmica necessária para

efetuar mudanças sociais e históricas que nos são tão caras e que deviam configurar o

maior objetivo da educação escolar.

Muitas vezes já havíamos realizado essa atividade na escola, mas o objeto era

geralmente proposto pela professora, resumindo-se em moedas e folhas de árvore a

serem decalcadas no caderno. Limitávamos ao resultado plástico, na escolha das cores,

não havia composição, discussão ou outras possibilidades de trabalho, este era

finalizado antes de chegar ao seu fim, deixado em sua superficialidade. Não havia

exploração de formas à nossa volta, não explorávamos ou descobríamos “novos

mundos”, novas formas de pensar. Éramos mantidos sob controle, nossas ideias presas e

o nosso fazer despido de significações. Ficávamos apenas com a técnica, não trazíamos

ao grupo nossas experiências com o trabalho, nossas descobertas e nossa composição

com o outro.

O trabalho final “Cabeça de Artista” abre caminhos, é dinâmico, provisório,

fugaz, como a própria realidade o é. Somos passíveis de mudanças, mudanças essas que

são históricas e que nos remete a um futuro a ser construído.

REFERÊNCIAS PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Educação Básica. Diretrizes Curriculares de Arte para a Educação Básica. Curitiba: SEED/DEB, 2008. SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia: teoria da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1988. VIGOTSKI, Lev Semyonovich. Imaginação e criação na infância. São Paulo: Ática, 2009. REFERÊNCIA DE IMAGEM Imagem 1. Cabeça de Artista I . Trabalho desenvolvido pelos discentes do curso de Graduação em Artes Visuais, UEM. 1º Ano, Turma I, 2012. Disciplina: Produções Artísticas: Desenho I. Docente: Tania Regina Rossetto.

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Imagem 2. Cabeça de Artista II . Trabalho desenvolvido pelos discentes do curso de Graduação em Artes Visuais, UEM. 1º Ano, Turma I, 2012. Disciplina: Produções Artísticas: Desenho I. Docente: Tania Regina Rossetto.