budge, sir e a w - a religião egípcia [livro]

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Sir, E. A. WALLIS BUDGE A RELIGIÃO EGÍPCIA Idéias Egípcias Sobre a Vida Futura Tradução de OCTÁVIO MENDES CAJADO EDITORA CULTRIX SÃO PAULO

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Page 1: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

Sir, E. A. WALLIS BUDGE

A RELIGIÃO EGÍPCIA Idéias Egípcias Sobre a Vida Futura

Tradução de OCTÁVIO MENDES CAJADO

EDITORA CULTRIX SÃO PAULO

Page 2: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

Título do original inglês:

Egyptian Religion Egyptian Ideas of the Future Life

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Edição 2-3-4-5-4-T-8-9-10

SO-91-9J-93-94-M Todos os direitos reservados

Rua nr U- „• EDIT0RACULTRIXLTDA. Rua Dr. Mario Vicente, 374 - 04270 - São Pauta, SP - Fone:272-1399

impresso nas oficinas gráficas da Editora Pensamento.

I

!

PARA

SIR JOHNÍ EVANS, K.C.B., D.C.L., F .R .S , etc., etc., etc.

1 Como gfata recordação

de : muita ajuda e muito estímulo amigo

Page 3: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

índice

Prefácio

AS IDÉIAS EGÍPCIAS SOBRE A VIDA FUTURA

I. A Crença em Deus Todo-poderoso II. Osíris, o Deus da Ressurreição

III. Os "Deuses" dos Egípcios IV. O Julgamento dos Mortos V. A Ressurreição e a Imortalidade

Page 4: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

V

I.

II.

1III.

I

IV.

y.

VI.

ILista de Ilustrações

A CRIAÇÃO . . . . . . . . . . i I I ' ISIS AMAMENTA HORO NOS PÂNTANOS DE PA-PIROS 1

OE O S i p E A ALMA DE RA ENCON-TR^M-SE EM TATU: RA, NA FORMA DE UM

? M V À S C 0 R T A A C A B E Ç A D A s e r p e n t e DAS

O JULGAMENTO DOS MORTOS NA SALA DE M A A I I I

OSIRK E C I D ? -É C O N D U Z I D O À PRESENÇA DE í ' ' ' ; ' ' ' l i

O S S E Q U E T J A A R U OU " C A M P O S E L Í S E O S "

( í ) DO PAPIRO DE NEBSENI (2) DO PAPIRO1 DE ANI (3) | p o PAPIRO DE ANHAI

Page 5: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

«i:

Prefácio

As páginas seguintes destinam-se a colocar diante do leitor, de forma conveniente, uma exposição das principais idéias e crenças dos antigos egípcios acerca da ressurreição e da vida futura, intei-ramente derivada de obras religiosas nativas. Vasta é a literatura egípcia que versa tais assuntos e, como era de se esperar, produto de diferentes períodos que, no todo, cobrem diversos milhares de anos; e é dificílimo reconciliar, às vezes, os enunciados e crenças de um escritor num período com os de um escritor em outro. Até o presente, não se descobriu nenhum relato sistemático da doutrina da ressurreição e da vida futura, e não há razão para esperar que uma coisa dessas venha a ser encontrada algum dia, pois os egípcios não pareciam julgar necessário escrever uma obra dessa natureza., A dificuldade inerente ao assunto e a impossibilidade natural de que homens diferentes, que vivem em lugares diferentes em épocas diferentes, pensem da mesma maneira a respeito de assuntos que, afinal de contas, pertencem à região da fé, tornam mais do que improvável que algum colégio de sacerdotes, por poderoso que fosse, se sentisse capaz de formular um sistema de crenças aceito em todo o Egito, assim pelo clero como pelos leigos, e copiado pelos escribas como um trabalho final e autorizado sobre a escatologia egípcia. Além disso, o gênio e a estrutura do idioma egípcio são de tal ordem que excluem a possibilidade de nele se comporem obras de caráteT filosófico ou metafísico no verdadeiro sentido das palavras. Em que pese a tais dificuldades, todavia, é possível colher grande cópia de informações importantes sobre o assunto nas obras funerárias e re-ligiosas que chegaram até nós, sobretudo no que toca à grande idéia central da imortalidade, que existiu, imutável, por milhares de anos e formou o eixo em torno do qual girou a vida religiosa e social dos antigos egípcios. Do princípio ao fim de sua existência, o egípcio se preocupava sobretudo com o viver no além-túmulo, o talhar daj sua sepultura na rocha e o apetrechá-la; tais atividades, cujas me-nores minúcias eram prescritas pelos costumes do país, absorviam-lhe

11.'

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os melhores pensamentos e ampla cota dos bens terrenos, man-tendo-o sempre atento ao instante em que o seu corpo mumificado seria conduzido à "morada eterna" no rechão ou no mprro de

• pedra calcária.

_ A principal fonte de nossas informações concernentes à dou-trina da ressurreição e da vida futura, esposada pelos egípcios é a grande coleção de textos religiosos conhecida pelo nome de Livro dos Mortos". As várias recensões dessas composições mara-

vilhosas abrangem um período de mais de cinco mil anos, e refletem com fidelidade não só as crenças sublimes, os ideais alevantados e as nobres aspirações dos egípcios cultos, mas também as superstições, a pueril veneração dos amuletos, os ritos mágicos, e os encanta-mentos, herdados, provavelmente, de seus avós pré-dinásticos, e ha-vidos por essenciais à sua salvação. É forçoso ter em mente que muitas passagens e alusões do Livro dos Mortos permanecem obscuras e que, em determinados trechos, qualquer tradutor se verá em palpos de aranha para tentar verter certas palavras importantes num idioma europeu moderno. Seria absurdo, porém, tachar de fal-seado quase todo o texto do Livro dos Mortos, pois personagens régias, sacerdotes e escribas, para não falar nas pessoas cultas comuns não teriam mandado fazer cópias dispendiosas de uma obra tão extensa e ilustrá-las por artistas habilidosíssimos, se ela não lhes fosse de algum valor, além de necessária ao alcançamento da vida de além-túmulo. Os "achados" dos últimos anos no Egito redun-daram na recuperação de textos valiosos, por cujo intermédio se esclareceram inúmeras dificuldades; e devemos esperar que os erros cometidos hoje na tradução sejam corrigidos pelas descobertas de amanha. Apesar de todas as complexidades, quer de texto quer de gramatica, já se sabe hoje o bastante da religião egípcia para provar que os egípcios possuíam, há seis mil anos, uma religião e um sis-tema de moral que, despidos de todos os acréscimos corrutores nada ficam a dever aos desenvolvidos pelas maiores nações do mundo.

E . A . WALLIS BUDGE

Londres, 21 de agosto de 1899.

12

IDjÉli^S1 EGÍPCIAS SOBRE A VIDA FUTURA !

1 1 ! , I

i ' ! ''li Capitulo I ' t I I ! A crença em Deus Todo-poderoso |

1 I j, ! '

[Uni, estudo dos antigos textos religiosos do Egito convencerá o leitor de que os egípcios acreditavam em Um Deus existente por si mesmo, imortal, invisível, eterno, onisciente, todo-poderosoj e ines-crutável; autor dps ,;céus, da terra 1 e do mundo inferior; Icriádor do céu e do mar,, dps homens e das mulheres, dos animais e 'dos, pasparpp, c}os peixes e d ^ coisafe que1 rojam, das árvores e das plantas, e dos seres incorpóreos,, mensageiros encarregados de cumprir-lhe os desejos e as, o^dená. Fprça ,é colocar esta definição da primara parte da1 crença dtp .egípciò no (princípio do primeiro capítulo^ deste resumo das principais idéias, religiosas que ele adotava, poiã nisápl se estribava o conjunto da sua teologia q da sua religião; e forçà é também acrescentar que, por mais que retrocedamos na esteira1 da sua literatura, nunca parecemos'aproximar-nos de um tempo em que ele viveu sçm essa creiiça notável. pÇ verdade que ele também de-senvolveu idéias e creriçlas politeístas, que as cultivou com diligência em certos ( períodos i^a, sua ftistória, e de tal maneira, que as nações circunvizinhas e até o estrangeiro em seu país, induzidos em erro pelos sei s atos,, descreviam-no como um idólatfa politeístaJ Sem embafgo, porém, db todo 'esse afastamento das observâncias cujo cumprimento era .prpprio dos qi*e acreditavam em Deus e em sua unidade, nunca se'pbrdeu de vista essa idéia sublime; fao contrário

!da veip reproduzida na literatura religiosa de todos os períodos Nmguejn poderá, èzei^dè onde procede essa característica notável da religião egípcia e não existe prova alguma que justifique a teoria de que ela foi levada ab Egito por imigrantes vindos do Leste, fomd

' ' ! ' '13

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dissecam alguns, ou que era o produto natural de povos indígenas que formavam a população do vale do Nilo há coisa de dei; mil anos, nó 'dizer de outros. Só se sabe que ela já existia ali num período tão remoto que seria inútil tentar medir por ands o !intervalo de tempo ' idecorrido desde o seu crescimento e desenvolvibento na mente de homens, e que é muito para duvidar tenhamos algum dia um conhe- | cimepto muito definido desse ponto tão iptetíessapte. ! '

_ Mas embora nada saibamos sobre o péríOdo em que áurgiu noj , Egito a crença na existência de1 um Deus i Uno todo-poderoso, mostram-nos as inscrições que [se dava a este Sei1 um nome iparecido 1

com JJeter,1 cujo sinal ideográfico era um? çabeça_dç_machado, provavelmente de pedra, enfiada num' longo cabo de madeira. O ' ideograma colorido mostra que a cabeça do machado, presa ao cabo , 1

por | tiras de couro ou cordas, devia te;r sido tima, arma'formidável em mãos fortes e hábeis, a julgar pêlo aspecto geral do objeto,J Aventou-se recentemente a hipótese de que, o' lideograiría representa 1

um bordão com um trapo colorido> amarrado qo'topo, nias esta di- ' ficilmente será aceita por um arqueólogo. As linhas que cruzam o ladoI da, cabeça do macha'do representam cordas ou tiras de, couro e indicam que ela era feita de pedra, a qual^ sendo quebradiça,

I estava sujeita a fender-se; os idèdgramas que |delineiami q objeto nas dinastias ulteriores mostram que 'o metal tomôu <o lugar da pedra

; na cabeça do machado e que, por ser rija,1 a nova substância dis-perisáva o suporte. [O homem mais poderoso nos dias pré-históricos era o i que possuía a melhór arma e sabia, mánejá-la de modo que prçdúzisse o maior efeito;' quando o herói pré-histórico de muitos combates e vitórias afinal descansava, sua própria arma, ou outra semelhànte, enterrada com ele, permitia-lhe guerrear com pxito no outro mundo.^Ç) homem mais robusto possuía 0 machado ttiaior, e este veio assim a tornar-se símbolo do homem mais vkproso. E , como ele, mercê da narrativa amiúde ,repetida de seus, feitos de co-ragem 30 pé da fogueira, no acampamento pré-histórico, 'ao1 bair da tirde, passasse,[com o tempo, ,da condição de herói'pa^a a ,de deus, o machado passou igualmente de símbolo db herói a. ísímbolo do deus J Nos tempos remotíssimos em que auroreceu a civilização |, no Egitó, o objeto que identifico como maclia^lo'pôde ter tido outra significação mjas, se a teve, esta se! perdeu muito antes do período de • domínio das dinastias naquele país. i ' i 1

Passando agora a considerar o signififcadó do npme dado1 a Deus, neter, constatamos a existência, entrfe osl egiptólogos, de grande '

1. Não existe e no idioma egípcio, e esta vogal ê acrescentada tão-so-1

mente para tornar a palavra pronunciável. i ! ,

diversidade de opinião sobre o assunto. Adotando o ponto de vista de que existe em copta o equivalente da palavra sob a forma de Nuti, e porque o copta é um antigo dialeto egípcio, buscaram alguns deduzir-lhe o sentido procurando, naquela língua, o radical de que se teria derivado a palavra. Mas todas essas tentativas deram em agua de barreia, porque a palavra Nuti tem vida própria e, em lugar de derivar de um radical copta, equivale ao egípcio neter,2 e dela se apossaram os tradutores das Sagradas Escrituras para expressar as palavras "Deus" e "Senhor". Não se pode ligar, de maneira algu-ma, o radical copta nomti a nuti, e só se fez a tentativa de provar que as duas são associadas com o objetivo de ajudar a explicar os

, princípios fundamentais da religião egípcia por meio de analogias sanscríticas e outras analogias arianas. É muito possível que a pa-lavra neter signifique "força", "poder", e que tais, mas estes são apenas alguns significados derivados, e temos de examinar as ínscriçpes hieroglíficas para poder determinar-lhe o sentido mais provável. O eminente egiptólogo francês E. de Rougé ligou o nome de Deus, neter, à outra palavra jieier, "renascimento" ou "renovação".

Í e dir-se-ia, de acordo com o seu ponto de vista, que á""idéia fun-damental de Deus_ era á do _Set que tinha o poder de renovar-se perpetuamente — ou, em outras palavras, "existência independente". ° finado Dr. H. Brugsçh aceitou em parte esse mo3o de ver, pois definiu neter como "o poder ativo que produz e_cria-coisas f.m recorrência regular; que lhes confere vida nova e lhes devolve ó vigor juvenil." 3 Não parece haver dúvida de que, na medida em qué élmpüsslvel encontrar alguma palavra que traduza neter adequada é satisfatoriamente, as expressões "existência independente" e "què' possui o poder de renovar indefinidamente a vida", juntas, podem' ser tomadas como o equivalente de neter em nossa língua, ti Sr. Maspero combate com justeza a tentativa de fazer de "forte" o significado de neter (masc.), ou neterit (fem.) com estas palavras:' "Será certo que nas expressões 'uma cidade neterit, um braçõ' neteri',. . . 'uma cidade forte', 'um braço forte', nos dão o primitivo sentido de neteri Quando, entre nós, alguém fala em 'divina música',' 'poesia divina', 'o divino sabor de um pêssego', 'a divina beleza dé uma mulher', [a palavra] divina é uma hipérbole, mas seria um erro

i asseverar que ela, originalmente, significava 'maravilhoso' porque nas frases que imaginei é possível aplicá-la como 'música maravilhosa','

i 'poesia maravilhosa', 'o maravilhoso sabor de um pêssego', 'a ma-' ravilhosa beleza de uma mulher'. De maneira semelhante, em egípcio,' : '; ' *

2. A letra r desapareceu no copta graças à decadência fonética. 3. Religion und Mythologie, pág. 93.

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'uma cidade neteri? é 'uma cidade divina'; 'um braço neteri é 'um braço divino', e neteri se emprega metaforicamente em egípcio como [a palavra] divino em francês, sem que seja necessário atribuir-lhe o significado primitivo de 'forte', como não o é atribuir a''divino' o primitivo significado de 'maravilhoso'."4 Pode ser, naturalmente, que neter tivesse outro significado, agora perdido, mas parece que a grande diferença entre Deus e seus mensageiros e coisas criadas é ser ele o Ser existente por si mesmo e imortal, ao passo que eles não existem por si mesmos e são mortais. <

^ Os que afirmam estar a antiga idéia egípcia de Deus no mesmo nível da idéia desenvolvida por povos e tribos relativamente próximos de animais muito inteligentes, objetarão, a esta altura, que concepções, elevadas como a da existência independente e da imortalidade per-tencem a um povo já num grau elevado de desenvolvimento e civilização. Pois é este, precisamente, o caso dos egípcios quando primeiro os conhecemos. Na realidade, nada sabemos a respeito de suas ideias sobre Deus antes que se desenvolvessem o suficiente para erguer os monumentos que sabemos que ergueram, e antes que possuíssem a religião, a civilização e o sistema social complexo que

,-i/ sçus escritos nos revelam.[Nos mais. remotos tempos pré-históricos é jyovável que suas opiniões acerca de E,eus e da vida futura fossem pouco melhores que as das tribos selvagens, ora vivas, com as quais alguns os compararam. O deus primitivo era uma característica essencial da família e a sua fortuna variava com a fortuna da família-o deus da cidade em que o homem vivia era considerado o soberano da cidade e o povo citadino tanto pensava em deixar de provê-lo do que cuidava devido à sua dignidade e posição quanto pensava em deixar de suprir às próprias necessidades. O deus da cidade tornou-se o centro_da_estrutura social urbana, e c á d ã l I m T õ s seus habitantes herdava7~ãutõmaficãmentêr^5rtos devereiT^ul^descum-

- pnmento iüe icarretava sofrimentos e penalidades específicas J A notável peculiaridade da religião egípcia é que ó conceito primitivo do deu.s da cidade está sempre surgindo nela de repente, razão pela qual encontramos idéias semi-selvagens de Deus ao lado de algumas concepçoes sublimes, e ele, naturalmente, constitui a base das lendas dos deuses em que estes possuem todos os atributos humanos Em seu estado semi-selvagem, o egípcio não era melhor nem pior do que qualquer outro homem no mesmo estádio de civilização, mas ele sobressai facilmente entre as nações por sua capacidade de desen-volvimento e de criar concepções respeitantes a Deus e à vida fu-

4. La Mythologie Êgyptiewie, pág. 215.

16

tura, proclamadas còmo o produtp peculiar das nações cultas do nosSo tempo. , !' |

Precisamos vçr a^ora, no entanto, como se emprega em tqxtos ' religiosos1 e nas ob|ras que' contam preceitos morais a palavra rieter, destinada, a nomear Deus. No texto de Unas,5 que reinou por volta de 3300'fi.C., encontramos este passo: — "O que é mandado pelò teu ca venp a ti, o que é mandado poi1 teu pai vem a ti, o que é mandado por Ra vem a ti, e chega no séquito do teu Ra. És puro, t^us ossos ção os deuses |e as deusas-do céu, existes ao lado de Deus, és solto,, aproximas-te | de tua alma, pois todas as más palavras ^ou coisas) escritas erh nome de Unas foram pqstas de parte." E de novo, no texto dé, Teta,0 no trecho que se refere ao sítio na parte orientàl do céu ,"onde os deuses parem a si mesmos, onde nasce aquilo que eles'i parem,, e onde eles renovam fcua juventude"

, diz-se desse rei: "Tçta ergue-se na forma da es t re la . . . pesa I palavras (ou ensàiaí feitos), e, vede, Deus presta atenção ao que ele fdiz." Em outro lugar \ do mesmo texto lemos: "Vede, Teta chegou às culpinâncias, tio péu, e os seres henmemet o viram; o barco Semquetet8 o conhece1, jf é Teta quem o dirige, e o barco Mantchet9

o chama, e é Tetá qudm o imobiliza. Teta viu seu corpo no barco Semquetet, ele conhece o uraeus que está no barco Mantchet e

i Deus chaipou-p pêlo ríòme. . . ,d leivou-o à presença de Ra." E temos novamentp: 10 "Recebeste a forma (ou atributo) de Deus, p tor-naste-te grande com, ela, perante Os deuses"; e de Pepi I, que reinou' por volta do ano 300Ò a.C., diz-se: "Este Pepi é Deus, o filho de Deus."11 1 , |

, Ora, a alusão que se faz nestas passagens endereçasse ao Ser iSupremo no outro mundo, o Ser que tem o poder de invocar e obter uma recepção favbráVel por parte de Ra, o deus-sol, tipo e símbolo de, Deus, ao, r d 'falecido. Claro está que se poderá insistir, em que a palavra neteri' neste ponto, se refere a Osíris, mas não1 é costume .mencioná-lo dessa maneira1 nos textos; e ainda que ádmi->' tosemos o contrário,lisio mostraria tão-somente que os poderes de' Deus haviam sido,1 atrjbuídos a Osíris, o qual se acreditáva' que :

ocupasse,' erq relação a Ra e ao falecido, a posição ocupada jjelo

1 5! 'Ed., Maspero, Pyramides de Saqqarah, pág 25 i 6. Ibid.j pág. 113. ' 7. Ibid., pág. lll. ! | , 8'. O ibarco matutino db sol. 9. O barco vespertino do sol.

10. ,lbid., pág. 1Í0. 11. Ibid., pág. 222.' ' 1

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'ját

próprio Ser supremo. Nos dois últimos ,qdtatoá acima citàdos po-derios 1er "um deus" em vez de "Deus", n>as não há sentido algum em receber o rei a forma ou os atributos de um deus inominado- 'e a menos de Pepi tornar-se filho dei Deus, a horíra 'que o red'ator desse texto pretende atribuir ao rei torna-se pequena e até ridícula.

Passando dos textos religiosos a obras que contêm' preceitos morais, encontramos muita luz projetada sobre, a idéia de Deu& pelos, escritos dos primitivos sábios do Egito, Os primeiros e niais notáveis dentre eles são og "Preceitos de Caqueitana" e os "Preceitos de Pta-hetep", obras compostas1 já em 13000 aJC. O exemplar mais antiáo que possuímos data, infelizmente, de 25001 a.C., mas ésse fato nao 'invalida a nossa tese. Tais "preceitos" destinam-se a dirigir e orientar o jovem no cuniprimento do seu dever, para comi a socie-dade em que vivia e para com Deus! Mahda â justiça que se diga que (o leitor neles buscará em vão o? conselhos' encoijtraÜos em eiscritos de natureza semelhante corhpostos ulteriormente; mas como obra1 destinada a demonstrar "todo o dever, do hpmem" à juventude do tçmpo em' que a Grande Pirâmide ainda era urtia ccftistt^çãb re-cente, os "preceitos" são nôtabilíssimos. Os, trebhos seguintes ilustram a idéia de Deus sustentada por Ptá-hetep: —i 1

1 1. "Não incutirás medo em homem nefti em mulher, pois Deus se opõe a isso; e se algum homem disser que'viverá por e&se meio Ele o [fará carecer de pão." 1 1 '

_ 2 . "Quanto ao nobre que possui abundância de bens, pode agir de acordo com seus próprios ditames; e pode ! fazeir1 consigõ mesjno o que lhe apraz; se não fi^er absolutamente nadà, iáso tam-bém será como lhe apraz. Pelo simples fato f(de éstender a' mão, o nobre faz o que a humanidade (ou uma pessoa) não alcança; mas na medida em que o comer do pão está dé, ácòrdo com |0 plano de Deus, não^ se pode negá-lo." 1 , 'I . ' , í

3. "Se tens chão para lavrar, trabalha nb campo que Deus te t deu;1 melhor do que encher tua boca com p qpe pertence aos téus f

vizinhos é aterrorizar o que tèm po'sses |[pa^a que tàs dê]." 1 , 4 . "Se te humilhas no serviço dé um homem perfeito,> tua con-

duta será justa aos olhos de Deus." I 1

5. "Se quiseres ser um homem sábio, k z e que teu - filho sejai' agradável a Deus." 1, , • •

6. "Satisfaze aos que dependém de ti até ,pnde fores capaz dç' fazê-lo; isso deve ser feito por aqueles a quem Deuè favoreceu,"

7. "Se, tendo sido sem nenhujna importância, tu te tornaste' grande; se, tendo sido pobre, tu te tornaste rico; e se te tornaste

l! ;

i s I , ' 1 j 1 ,

1

governador da cidade, não sejas duro de coração em virtude dò teu progresso, porque te tornaste tão-só o guardião das coisas que Deus proporcionou."

8. "Deus ama a obediência; e detesta a desobediência." 9 . "Na verdade um bom filho é uma dádiva de Deus ." 1 2

A mesma idéia de Deus, porém consideravelmente ampliada em alguns sentidos, encontra-se nas Máximas de Quensu-hetep, obra provavelmente composta durante a XVII I dinastia e estudada em suas minúcias por certo número de eminentes egiptólogos; e se bem tenha súrgido entre eles considerável divergência de opinião no to-cante a pormenores e sutilezas gramaticais, o sentido geral das máximas ficou claramente estabelecido. Para ilustrar o emprego da palavra neter, dela se escolheram as seguintes passagens: 13 —

1. "Deus enaltece o seu nome." 2 . "A casa de Deus detesta a demasia no falar. Faze com o

coração amante todos os pedidos que estão em secreto. Ele levará a cabo teus negócios, ouvirá o que dizes e aceitará tuas oferendas."

3. "Deus decreta o que é justo." 4 . "Quando fizeres uma oferenda ao teu Deus, guarda-te das

coisas que ele abomina. Contempla-lhe os planos com teus olhos, é consagra-te à adoração do seu nome. Ele dá almas a milhões dé formas e enaltece quem o enaltece." i

5 . "Se tua mãe erguer as mãos para Deus ele lhe ouvirá as preces [e te repreenderá]." ; .

7 . "Entrega-te a Deus, e conserva-te diariamente para Deus." Ora, se bem revelem a idéia exaltada que os egípcios faziam'

do Ser supremo, os lugares que acabamos de citar não nos fornecem nenhum dos títulos e epítetos que lhe eram aplicados; para conhecê-los precisamos recorrer aos belos hinos e meditações religiosas que cons-tituem parte tão importante do "Livro dos Mortos". Antes, porém-de citá-los,fcumpre-nos mencionar os neteru, ou seja, seres ou exis- y tências que, de certo modo, partilham da natureza ou do caráter de Deus, e são habitualmente denominados "deuses". As nações'

12. O texto foi publicado por Prisse d'Avennes com o título de Facsi-mile d'un papyrus Égyptien en caractères hiératiques, Paris, 1847. Sobre uma1

tradução da obra toda veja Virey, Études sur le Papyrus Prisse, Paris, 1887.-13. Elas são apresentadas com transliteração e tradução em meu Pa-

pyrus of , Ani, pág. lxxxv e seguiu es, onde se encontrarão referências à lite-'" ratura mais antiga sobre o assunta • t

19

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• "aiureza aesses seres, e vários escritores ocidentais

•de í o v S a m o r n 1 1 0 ^ e q U Í V 0 C 0 " Q u a n d o os examfnamo fases ou a t í S T n q T S a ° , m a i s d o 1 u e f o r m a s . manifestações, rases, ou atributos de um deus, deus esse que era Ra o deiís solar tipo e símbolo de Deus.!Não obstante, o culto dos D e w egípcios deu origem à acusação de "idolatria g r o s s e i r a " a u ^ t l

S ^ t m T v i v t d 6 e m H r a Z a ° ^ ^ representados por mguns como vivendo no baixo nível intelectual das tribos selvaeens É certo que, desde os tempos mais remotos, a religião egTpck tendeu L t e x t o T i m n o f 0 , 6 ^ ^ ^ P ° d e s e r o â e r v ^ d f e m todo « s r r ^ £g- ^

« deuses foram multiplicados pela adição de deuses íocais e ná S t o S . ^ k ? Í S ° ? , M r Í 5 n h " a T c , d > ™ s mono t t í smo" /

gs^^jssses» podo da origem da religião egípcia, relativamente tardios de onde yem, portanto, encontrarmos neles os três elementos misturados uns aos outros e a certo número de assuntos est a n h o T o l torna impossível descobrir qual deles é o mais antigo Não se node dar melhor exemplo do modo frouxo com que idéias di erente ÍS3S adiamte^(linha 42) a c S S m ^ N ã ^ i V S S ^

pág. 25. A l t \ t t S T Í S ^ S T í - t ° U d h e i d > Amsterdã, 1893, vações sobre o assunto 8 y P " a n R e h s l o n ^eblem apresenta valiosas obser-

15. Le Livre des Morts (Resenha em Muséon, tom. xiii, 1893).

20

minha cidáde". Dir-se-á qpe aqui indicamos duas camadas diferentes de crença, a mais .velha das quais é representada pela alusão ao deus dà cidade", caso em que recuaria para o tempo em que o

estilo de vida egípcio era muito primitivo. Se presumirmos que Deus (mencionado n(a linhp 38) é Osíris, isso não eliminará o fato de ßernele, çonsideradp um ser inteiramente diferente do "deus da cidade" e_ tão importante que merecia, se lhe dedicasse uma linha da 'Confissão". Os egípcios não viam incongruência em colocar referencias aos. "deuses" ao lado de alusões a um deus que, só j po-demos ídèntificár cpm o Ser Supremo e o Criador do mundo; suas ideias e crenças,, pbr conseguinte, tristemente mal representadas, fo-J ram transformadas por certos escritores 1 em objeto de chacota Que poderia ser, por exemplp, uma, descrição mais tola do culto edpcio do que est?? "Quem não conhpce> ó Volúsio de Bitínia, a espécie de monströs que o Egito, em sua insensatez, adora? Uma parte venpra o crocodilo; oiitra, < estremece diante de um íbis empantur-rado de serpentes. A imagem de um macaco sagrado reluz em ouro onde soam os mágicos acordes de Mémnon partidi pela metade' e a antiga Tebas jazi sepultada em ruínas, com suas cem portas' Num lugar cultuam os peixes do mar, em outro os peixes dos rios-ali, cidadÈs inteifaai adoram um cão: ninguém adora Diana É um

I ato ímpio violar ou quebrar com os dentes um alho-porro ou uma -cebola, Ó santas haçõdáL cujos deuses prolificam nos jardinsi Todas as mesas.se abstêm de animais lanígeros: é um crime ali matar um cabrito. Mas a cafrie .humana |é comida legítima." 16

Os epítetos que 9s egípcios aplicavam aos seus deuses também representam valioso testemunho das idéias que faziam de Deus Já dissemos |que os "deuses" são meras formas, manifestações e fases

° Í U S 0 l ' ftipi°^ 6 S Í m b o l o s d e D e u s > e a n a í ^ e z a desses epítetos evidencia que 'só se aplicavam aos "deuses" porque • repre-

" 1 I . 1

™ J 6 ' S á t í r a X T ( t ! l a d u ? ã 0 de Evan na Bohrís Series, pág1 180) e° r d v e u T - ^ ^ ° n ° S S ° b ° m Ò e ° r g e H e r b e r t Í C h u ^ u Z í j

L d ^ í r A 6 l e ( Í S t ü P e c ^ d ° ) f o i o Egito e semeou Jardins de deuses, que todo aao prpduziam Frescas e belas divindàdes. Pagavam alto preço 1 Os que, por um dèys,1 perdiam claramente uma salada 1 Ah, como e triste o homem desprovido de graça ' , 1

Quç adora o alho com' semblante humilde E implora] sua comida àquilo que pode comer1 ' i

, Q que faz de uma raiz seu deus, quão baixo será, Sje Deus e ö homem fqrem infinitamente separados' Que misèrabilidade 1 pode dar algum espaço àquele Que adora uma vassourp enquanto a casa está suja? 1 1

1 1

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sentavam alguma qualidade ou atributo que teçíam aplicado a Deus' se tivessem por hábito dirigir-se a Ele.( Toinemos por exemplo òs epítetos aplicados a Hapi, o deus do Nilo. fc> formoso hino " diri-' gido a esse deus principia da seguinte maqeira: — '

"Homenagem a ti, ó Hapi! Apaifeces nèsta terra e chegas em' paz para fazer viver o Egito, ó oculto, guia da escuridão quando1

quer I que te apraz guiá-la. Irrigas .os campos' que Ra criou, fazes viver todos os animais, e a terra beber sem cessar; desces o caminho do ceu, es o amigo da comida e dai bebida, o dador da semente, e fazes reflorir todos os locais de trabalho, ó ptá!'. . . Se viessôs a ser

I vencido no ceu, os deuses cairiam de ponta-cabeça e o gênero hu-manò pereceria. Fazes o gado abrir (ou afàr) a terra toda, e o1

príncipe e o camponês deitam-se para descansar, j . Sua disposição (ou fo rma) é a de Cnemu; quando ele brilha sõbre a terra há re-gozijo, pois todas as pessoas estão contentes,, o homem (?) pode-roso t-ecebe sua comida e não há um dente sequer que não tenha alimento para èonsumir." ,,

depois de exaltá-lo pelo que ele faz em prol da humanidade e dos animais, e por fazer a relva crescer para o uso de todos os homens, diz o texto: — .'. 1

_ , '"Ele não pode ser figurado em-pedra; 'não deve ser ivisto nds imagens esculpidas sobre as quais os homeis colocam as coroas unidas do Sul e do Norte guarnecidas de uraei; nem trabalhos nem oferendas lhe podem ser feitos; e não é possível obrigá-lo a sair do seu ,lugar secreto. Não se conhece o sítio %m. que ele vivte; não • o encoritramos em santuários inscritos; não existe habitação capaz i de contê-lo; e não podes conceber-lhe a forma em teu colação."

Notamos primeiro que a Hapi se dãt> os nomes de Ptá e ,Cne-|mu, não por cuidar o autor que os três deuses fossem üm; só,' mas porque Hapi, como o grande fornecedor de água ao Egito, se tor-nou^ por assim dizer, um deus criador, como Ptá e CÁpmu. Em,1

seguida, lemos a declaração de que é imposgíyel retratá-lo 'em pin-turas, ou mesmo imaginar-lhe a forma, pois éle é desconhecido, sua1

morada nao pode ser encontrada e ríenhum lugaf pode contê-lo. Na realidade, contudo, várias imagens e 1 esculturas I de Hapi se preser-varam, e sabemos que o pintam geralmente em forma de dois deu- 1

ses,; um deles tem sobre a cabaça um pé dè papiro, ao passo que o outro ostenta um pé de loto. O primeiro é o deus-Nilo do Sul e o ^egundo, o deus-Nilo do Norte. Em1 outros lugares represeníam-no

t o c o 1 7 ' ° h i n 0 i n t e i r 0 f o i P u b M c a d o Por Maspero em Hymne au Nil, Paris 'o68- il ' . n , '

' li: ' I i 22

em forma de um homenzarrão com seios de mulher. É claro por-tanto que os epítetos citados se lhe aplicam unicamente como â uma forma de Deus. Em outro hino, muito apreciado na XVIII e na XIX dinastias, Hapi é denominado "Um" e diz-se que ele mesmo se criou; mas como mais adiante, no texto, Hapi se identifica com Ra, aplicam-se-lhe os epítetos que pertencem ao deus-sol. O fa-lecido Dr. H. Brugsch coligiu18 grande número de epítetos apli-cados aos deuses, respigando-os em texto de todos os períodos- e por eles podemos ver que is idéias e crenças dos egípcios sobre Deus eram quase idênticas ÍS dos hebreus e muçulmanos em pe-ríodos subseqüentes. Classific idos, os epítetos diziam deste teor: —

"Deus é Uno e só, e nenhum outro existe com Ele; Deus é o Único, O que fez todas as coisas.

, "Deus é espírito, espírito oculto, espírito dos espíritos, o grande espírito dos egípcios, o espírito divino.

"Deus é desde o princípio, e tem sido desde o princípio; existe desde ha muito e era quando nada mais tinha ser. Existia quando nada mais existia, e o que existe foi criado por Ele depois que Ele veio a ser. Ele é o pai dos princípios.

"Deus é o eterno, Ele é eterno e infinito; e dura para todo o sempre; tem durado por séculos sem conto, e durará por toda a eternidade. "-,:•

• A -"Deus é o Ser oculto, e homem algum Lhe conheceu a formai/

Nenhum homem foi capaz de achar-Lhe o semblante; escondido dos deuses e dos homens, Ele é um mistério para as suas criaturas. '

"Nenhum homem sabe como conhecê-lO. Seu nome permanece oculto; Seu nome é um mistério para Seus filhos. Seus nomes são inumeráveis, múltiplos, e ninguém lhes conhece o número.

"Deus é verdade, vive da verdade e dela se alimenta. Rei da verdade, descansa sobre a verdade. Afeiçoa a verdade, e executa-a através do mundo todo.

"Deus é vida, e só através d'Ele pode o homem viver. Ele dá vida ao homem, e sopra o sopro da vida em suas narinas.

"Deus é pai e mãe, pai dos pais, e mãe das mães. Gera, mas nunca foi gerado; produz, mas nunca foi produzido; Ele Se gerou e Se produziu. Cria, mas nunca foi criado; é o fazedor da própria forma, e o modelador do próprio corpo.

"Deus é existência. Vive em todas as coisas, e vive de todas as coisas. Dura sem aumento nem diminuição. Multiplica-se mi-'

18. Religion und Mythologie, págs. 96-99.

23

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lhões de vezes, e possui multidões de formas e multidões de membros.

•.j. "Deus fez o universo e criou quanto está nele: Ele é o Criador •'do que está neste mundo, do que estava, do que está e do que estará. Criador do mundo, foi Ele Quem o modelou com Suas mãos antes de haver qualquer começo; e consolidou-o com o que saiu d'Ele. Criador dos céus e da terra, é o Criador dos céus, e da terra e do mar, o Criador dos céus, e da terra, e do mar, e das águas e das montanhas. Deus estendeu os céus e fez a terra. O que Seu coração concebia acontecia imediatamente, e quando Ele falou Sua palavra aconteceu, e durará para sempre. i

"Deus é o pai dos deuses e o pai do pai de todas as divin-dades; fez soar a sua voz e as divindades nasceram, e os deuses passaram a existir depois de haver Ele falado com a Sua boca Formou o gênero humano e afeiçoou os deuses. É o grande Mestre o Oleiro primevo que fez sair homens é deuses de Suas mãos, é formou homens e deuses sobre uma mesa de oleiro.

"Os céus descansam sobre a Sua cabeça e a terra supdrta-Lhe ps pés; o céu Lhe oculta o espírito, a terra Lhe oculta a forma e o mundo inferior encerra-Lhe o mistério dentro de si. Seu corpo é

M m ? r ? , a r , ' L ° c é u r e p o u s a s o b r e S u a c a b eSa> e a nova inundação [do Nilo] Lhe contem a forma.

"Deus é misericordioso com os que O reverenciam, e ouve o que O mvoca. Protege os fracos contra os fortes e escuta o grito do que está agrilhoado; decide entre os poderosos e os fracos. Deus conhece o que O conhece, recompensa o que O serve e protege o que O segue." 6

Cumpre-nos agora considerar o emblema visível, tipo e sím-bolo de Deus, a saber, o deus solar Ra, adorado no Egito em tem-pos pré-históricos .f De acordo com os escritos dos egípcios, houve umi tempo em que não existia céu nem terra e nada era senão a água primeva1 9 sem limites, amortalhada, contudo, em densa es-curidão. Nessas condições permaneceu a água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro em si os germes das coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo Por fim, o espírito da água primeva sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito antes de pronunciar a palavra que redundou na criação. O ato de criação

19. Veja Brugsch, Religion, pág. 101.

24

. 1 1

seguinte foi a formação j de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, y deus-sól, dentro'11de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espírito divino..""'

Tal1 foi o esboço da criação, qual o descreveu o finadoj Dr. H. 1 Brugsfch, e ç curioso verificar ò modo com que suas opiniões coin-cidem estreitamente com um capítulo do Papiro de Nesi Amsu pre-servado no Museu Britânico.20 Na terceira seção desse papiro [en-cOntraiftos um trabalhb 'escrito com o objetivo exclusivo de derrubar Xpep, 6 grande ínjmigjo ae Ra, e na própria composição encontra-mos duas versões dp capítulo que descreve a criação da terra e de todas as coisas qúe ela contém. Quem fala é o deus Neb-er-tcher, que djp: — > 1 ! i • ,

"Desenvolvi' o evolver das evoluções. Desenvolvi-me sob a for-ma das evoluções dó| deus Quépera, desenvolvidas no começo de todos os • tempos.I Ddsenvolvi-me com as evoluções do deius Quér pera; desenvolvi-me pela evolução das evoluções — o que quer dizer, fjíesenvoRi-me, a\ partir da matéria primeva1 que eu fiz, |dé-t£-senvolvi-me a partir, da matéria primeva. Meu nome é Ausares (Osíris),, germe | d!a matéria primeva. Realizei inteiramente miiha vontade nesta terrâ, éstendi-me e', enchi-a, fortaleci-a [com] miijha mão. Eu estava só, j^ois nada havia sido gerado; eu ainda não emitira'de mim .mesmo nem Xu nem Tefnut. Pronunciei mèu.prp- ' prio nome, como uma palavra de poder, com minha própria bocà,,, e desenyplvi-me incqntinenti. Desenvolvi-me sob a forma das , evo-luções do deus Quépera e desenvolvi-me a partir da matéria piá-!1

meva, que desenvolveu multidões de evoluções desde o princípio dos tempos. Nadà existia sobre a terra, e fiz todas as coisas. Ninguém mais trabalhava | comigo nesse tempo. Executei todas as evoluçáès por meio da Alma divina .quejali afeiçoei, e que permanecera ino-perante no abismo aqüífero. Nao encontrei lugar algum em que pu-desse ficar. Mas eu era forte em meu coração, fiz uma base parq mim e fiz tudo o qúé fo i feitp. Eu estava só. Fiz uma basô para o meu coração (ou vontade), e criei multidões de coisas que evol-veram como as evoluções do deus Quépera, e sua prole 'veio a existir mercê das bvoluçoes dos seus nascimentos. Emiti de mim

'mesmo 051 deuses Xu e Tefnut, e com ser Uno 'tornei-mej Trino; eles saltaram de min), e passaram a existir na t e r r a . . . Xu ei Tefnut geraram Seb e Nut, e Nut gerou Osíris, Horo-quent-an-maa,. Sut, Isis e Néftis no mesnjio parto." _í 1 -

20. NL 10.188. Veja mi nha transcrição c tradução de todo o papiro CM Archaeoloçia, vol. '52, Londres, 1891. ,' 1

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o b a f c S n £ , e r g u e" s e- d a á g u a p r i m e v a e s t ó t e n t a ^ maos L . x; ' d e u s " s ° . que está acompanhado 'de certo núrrtero de di-1

vindades Na porção superior da cena vê-se a' região do mundo inferior! fe-' hr 3 « , C °; P 0 d e 0 s í r i s ' s o b r e c u j a c a b e?a está. a deusa í iut com os braços estendidos para receber o disoo do Sol) "

I ' ! ,1

• O fato de existirem duas versões deste Capítulo notável prova que, a composição é muito mais antiga do que o papiro 21 em que se encontra, e as várias interpretações que locorrfem em cada uma evidenciam a dificuldade que os escribas egípcios encontravam para compreender o que estavam escrevendo. Pode1 dizer-se que essa ver-são .da cosmogonia é incompleta, porque nao explica a ò r i & m d e nentam dos deuses, exceto os que pertencem ao ciclo de Osíris e a .objeção e válida; neste lugar, porém, só nós' interessa .mostrar que Ra, o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra

! 21. Cerca de 300 a.C. 1

' ' ' i 26 1 , ,

deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome. i Os grandes deuses cósmicos, como Ptá e Cnemu, aos quais se fará alusão mais tarde, são frutos de outro grupo dê opiniões religiosas, e a cosmogonia em que desempenham os papéis principais é totalmente diversa. Há que notar, de passagem, que o deus cujas palavras citamos 1 á pouco declara haver evolvido sob a forma de Quépera, e que se i nome é Osíris, "a matéria primeva da matéria primeva", sendo Osíris, em resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita às suas evoluções. A palavra qiie se traduz por "evoluções" é queperu, literalmente, "rolamentos"; e a palavra traduzida por "matéria primeva" é paut, a "substância" original da qual tudo se fez. Em ambas as versões somos inteirados de que os homens e as mulheres nasceram das lágrimas caídas do "Olho" dé Quépera, o que quer dizer, do Sol, o qual, diz o deus, "fiz tomar seu lugar no meu rosto, e depois governou a terra toda".

Vimos como Ra se tornou o tipo visível e símbolo de Deus,1

criador do mundo e de quanto há nele; podemos agora considerar a posição que ocupava no tocante aos mortos. Já no período dà' IV dinastia, por volta de 3700 a.C., era havido pelo grande deus do céu, rei de todos os deuses e seres divinos e dos mortos bem-aventurados que ali moravam. As decisões sobre a posição dos bem-aventurados no céu são tomadas por Ra, e de todos os deuses que ali se acham só Osíris parece ter o poder de reclamar proteção para seus seguidores; as oferendas que os falecidos fariam a Ra são-lhe, na verdade, apresentadas por Osíris. Em determinada oca-sião, ao que tudo indica, a maior esperança do egípcio era poder tornar-se não só "Deus, filho de Deus", por adoção, mas também vir a ser, realmente, filho de Ra. Pois no texto de Pepi I,2® está escrito: "'Pepi é filho de Ra, que o ama; surge e eleva-se ao céu. Ra gerou Pepi, que surge e se eleva ao céu. Ra concebeu Pepi, que surge e se eleva ao céu. Ra deu origem a Pepi, que surge e se eleva ao céu." Substancialmente, tais idéias permaneceram as mes-mas desde os tempos mais remotos até os mais recentes, e Ra man-teve sua posição como o grande cabeça das companhias, em que pese à elevação de Amon a um lugar de destaque, e à tentativa para fazer de Aten o deus dominante do Egito pelos chamados "adora-dores do Disco". Os bons e típicos exemplos de Hinos a Ra, que se seguem, foram tirados dos exemplares mais antigos da Recensão tebana do Livro dos Mortos.

22. Ed. Maspero, linha 576.

27

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I. Tirado do Papiro de Ani.23

• •em tua mae Nut (isto é, o céu); és coroado re dos deuses Tua

A r e g i ã o T Z l T c T 3 Ü C o m a™bas ^ m í

cer.24 Salve todos vos, deuses do Templo da Alma « que oesais o 1

S a L 6 T a S n ^ o u f S ^ 6 ^ ^ C ° m i d a d i v i n a V L S S S ia e F ^ e d o r da subsfânrin H1CO'H^Ue * ° C r Í a d o r d o S ê n e r o humano L . substancia dos deuses do sul e do norte, do oeste e do leste! Vmde e aclamai Ra, senhor do céu e Criador dos deuses vino b r ^°o . e m S U a b d a f ° r m a <*Uando ^ manhã em seu S

•nas ^ f S d e S ^ ^ S V n ^ J n \ í t u r a s e o s

rteu c u ™ i rf^H ^ 7 0 t ® a d e u s a M a a * marcaram para ti : oi l a S l ao f o t n d d £ ' t 0 d 0 S 0 8 d i a s" T u a a Serpente loi iançaaa ao fogo, o demomo-serpente Sebau caiu de Donta ™ -beça; seus braços foram presos em correntes, e tu lhe cortaste as

V f r ^ S n W. t f M a e S t a d e d 0 d e u s s a g r a do aparece e avança até .à região de Manu; ele torna a terra brilhante ao nascer todos os j.dias; e prossegue viagem para o lugar em que estava ontem »

n . Tirado do Papiro de Hunefer.27

• - ' "H?menagem a ti, que és Ra quando te levantas e Temu auan

.dos que habita* nas a toas , . £ £ £

luta e infalível regularidade 6 n o m o m e n t o marcado com abso-

26. í t o I; a R Í a H ? l i 6 p o l i s m e n C Í O n a n ° r e I a t 0 d a a P * 25. 27. D o Papiro de Hunefer (Museu Britânico N.° 9.901).

28

ti

q Deus yno que 'nasceu no priacípip dos tempos. Criaste a f r i a

m J S í n ° Me?li r T S t \ ° a b i s m 0 a * r o d 0 formaste S J H 0 Nilo!),, f i as te o grande mar e dás'vida a quantos éxistem dentro deffe. Jbntaste) as montanhas umas às outras, produ-f o gênero hupapo e os animais do campo, fteeste os céus e a P « n " ^ V x ? 8 ^ Ó' tU ' a q M e m 3 d e u s a M a a t a b r a ? a d e manhã e ao átaoitecer. Viajás através do, céu com o coração transbordante de alegria;, o grantieí abismo do/céu está contente por isso O de-

K ° ; f r p e n í f N a c l 2 8 ' e s e u s b r a ? o s e s t ã 0 c o r t a dos . o barco n„P S t r e C V ^ o s favoráveis e regozija-se o coração bace l e -que está no( seu santuario. 4

"Coroado Príncipe do céu, és o Ünico [dotado de toda a; so-berania] que, aparecfe h 9 céu: Ra é o que é verdadeiro de voz.*> fcalve divino màncebo, herdeiro1 da sempiternidade, ó tu que nas-ceste de ti pesmo! Salve, ó tu, que pariste a ti mesmo! Salve! ü S ser poderoso, de miríades de formas e aspectos, rei do mundo prín-cipe de Anu (Hehâpolis), senhor, da eternidade e governador ' da

H - ê ! f tC O m ^ n h i a d o s d e u s e s regozija-se quando velejas

através do ceu, o tu qub és exaltado no barco Sectet." *

"Homenagem I a ti, À m o r i - R a q u e descansas sobre MaafW passas pelo ceuie todos os rostos te vêem. Aumentas à proporção que avança a túa Majestade, e teus raios incidem sobre todos òs rostos. És desconhecido, e nenhuma língua será capaz de descrever eu aspecto; so mesmo tu [podes fazê-lo]. És U n o . . . Os homdns'

te exaltanji em teu ribme, e juram por ti, pois és senhor deles. oTves,

ÍUS^°UVM~0? 6 ^ C01í l t e u s o l h o s - M i l h õ e s d e a n o s passaram pelo mundo. Nao, posso dizer o número dos anos por que passastS Teu coraçao decretoú um dia de felicidade em teu nome de «ViaL' jor . Passas por cima e viajas através de espaços imensos [que requerem] milhões e centenas' dé milhares de anos [para ser atra! vessados]; i passas ,por eles em paz, e segues teu camiíiho através dô ,abismo aquífero rumo ao sítio que amas; fazê-lo num ápice e depois afundas e poes termo às horas." ucpuis

1 .' V li ' 1

, 29' S c o 0 e Sm

n Z p S p d a S e r ' P e n t e d ? S t r e v a s ' R a »atava diariamente. 30 Is?o é Z À * * n a

DV e g a V5 d ° m e i 0 " d i a 3 0 entardecer. P

pítu. s o ^ e íu íS° e0ntoqU

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Egípcios" ' r C ° d 6 ' S | A m ° n 0 c a P ™ ° ^titulado "Os Deuses dos

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1 ' I 1 ( 2 9

I

Page 15: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

III. Tirado do Papiro de Ani.33

1 A formosa composição que se segue, em parte hino e em parte1

prece, encerra excepcional interesse. 1 , '

_ 'fSalve, ó Disco, ó senhor dos raios, que te ergues no horizonte dia após dia! Brilha com teus raios de luz sbl?re o rosto de Osíris Arii, que é verdadeiro de voz; pois te entoa | hinos de louvor ao amanhecer e faz que te ponhas ao entardecer com palavras de ado-ração'. Surja contigo no céu a alma Ide Ani, e siga no barco Matet. Chegue ao porto no barco Sectet, e abra seu,'caminho por entre as estrelas do céu que nunca descansam.

"Em paz e em triunfo,' Osíris Ani adora o seu senhor, o senhor cja eternidade, dizendo: 'Homenagem a ti, 'p Heru-cuti (Harma-çhif j , que és o deus Quépera, o que se criou a si mesmo; quando, te ergues no horizonte e vertes teus raios de luz sobre as regiões' db Norte e do Sul, és belo, sim, belo, e todos ©s deusès jubilam ao| contemplar-te, rei do céu. A deusa Nebt-Unut consolidou-se so-bre a tua cabeça; e os seus uraei do Sul e db Norte estão sobre a tup testa; ela toma o seu lugar diante de ti. O deus Tot está insta-lado na proa do teu barco a fim de destruir completamente todoá teujs inimigos. Os que estão no Tuat (mund;o inferior) adiantam-se ao jteu encontro e inclinam-se até ao chão papa homenagear-te, à medida que se aproximam de ti para contemplai; tüa forma venusta. Entrei à tua presença para poder estar contigí) à fim de .contemplar o teu Disco todos os dias. Não seja eu encerrado [no túmulo], não Seja eu obrigado a voltar atrás, rèmovem-se 03 membros do meu corpo quando eu contemplar a tua formosura, tal como [o são] os de todos os teus favorecidos, porque sou'um dos que te adoraram sobre a terra, chegue eu à região da eternidade, chegue até à região sempiterna, pois vê, meu senhor,,foi isso m « m ó 1 que ordenaiste park mim.' 1 1 i j

"'Homenagem a ti, que te ergues em teii hjórizonté como Ra, que descansas sobre Maat.34 Passas pelo céu; e todos os gostos te observam e observam-te o curso, pois estivestè subtraídp aos seus olhares. Mostrasse ao amanhecer e ao entardecer, dia após dia. O barco Sectet, dentro do qual está tua Majestade, prossegue coip força; teus raiòs estão sobre [todas] as faqes; os raios1 vetínelhos e amarelas não podem ser conhecidos, e teus raios brilhantes não podem ser contados. As terras' dós deuses: e' às rterras' orientais do

f ( • 33. Estampa 20. r i ' ' 34. Isto é, lei imutável'e inalterável. , ' , ,

30

Ponto ^ precisam ser vistas antes que se possa medir o mie está escondido [em ti].»«Mostras-te só e por tuas próprias forçaf[quan-do] surges acima de Nu. Avance eu como tu avanças; nunca cesse eu [de prosseguir] como não cessa tua Majestade [de prosseguirl nem que seja por um momento; pois, com algumas passadas, num, ' instante, atravessas espaços que [o homem] precisaria de ccnteD de milhares, sim, de milhões de anos para atravessar; fazes [ stoT e d e P° l s a f u n d a s P ^ a descansar. Pões fim às horas da noite e ti'* ;

mesmo as contas; dás cabo delas na oportunidade do teu próprio - ;< momento e a terra se ilumina. Encetas a tua tarefa à s e m S j a ' . de Ra; sobes no horizonte.' v |

"Osíris, o escriba Ani, proclama seus louvores a ti quando bril í lhas e, quando te levantas ao despontar da aurora, grita de alesria :

pelo teu nascimento, dizendo: — .

" 'Coroado com a majestade da tua formosura, afeiçoas teus membros à proporção que avanças, e os produzes sem trabalhos de '

,na f o r m a d \ R a > a maneira que te ergues na altura celestial. Concede que eu chegue ao céu eterno e à montanha onde vivem teus favoritos. Junte-me eu aos seres cintilantes, santos e perfeitos que estão no mundo inferior; e saia com eles para contemplar tua ' pulcritude quando resplandeces ao entardecer e voltas para tua mãe ' . Nut. Colocas-te no oeste, e minhas mãos [te] adoram quando t e ' 1

poes como um ser vivo-" Eterno criador, és adorado [como tal , ' * quando] te poes no céu. Dei-te meu coração sem titubear, ó tu mie ' es mais poderoso do que os deuses.' > l

"Um hino de louvor a ti, que te ergues como se foras de ouro/" e mundas o mundo de luz no dia do teu nascimento. Tua mãe tê i ' da a luz, e imediatamente dás luz no caminho do [teu] Disco ó grande Luz que cintilas nos céus. Fazes que floresçam as gerações • de homens através da cheia do Nilo, e que exista alegria em todas as terras,, em todas as cidades, em todos os templos. Ês glorioso em razao dos teus esplendores, e fortaleces teu CA (isto é Duplo) 1

com alimentos divinos, ó poderoso nas vitórias, ó Poder dos Po- ' deres, que robusteces teu trono contra os demônios perversos — ó tu que és glorioso de Majestade no barco Sectet e poderosíssimo no barco Atet!" 38

costafdoIrordt ,St:S

daCAfrica0rÍentaÍS 6 d ° M a r V e r m e , h 0> 6 -36. Tenho dúvidas acerca do significado desse trecho. i 1

37. Isto e, "porque quando te pões não morres" fyj 38. Respectivamente, o barco matutino e o barco vespertino do sol

31

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Esta seleção pode ser conveniei temente rematada com um hi-n o » 8 curto que, embora de data mais recente, reproduz em forma breve os elementos essenciais dos hinos mais extensos da XVIII di-nas tia (por volta de 1700 a 1400 a.C.). 1

"Homenagem a ti, Ser glorioso, dotado [de toda a soberania] O Temu^Harmachis,« quando te elevas no horizonte do céu, um grito de alegria sobe para ti da boca de todas as pessoas. Ó formoso

_» <£e t e i n o v a s em tua época na forma do Disco dentro de tua mae Hator;« eis porque, em todos os lugares, todos os corações se enchem de alegria quando te ergues para sempre. As regiões do -Norte e do Sul vêm a ti com homenagem e desferem aclamações ao ver-te subir no horizonte do céu; iluminas as duas terras com raios de luz turquesa. Salve, Ra, ó tu que és Ra-Harmachis, divino infante-homem, herdeiro da eternidade, autogerado e autonasCido, íei da terra, príncipe do mundo inferior, governador das regiões dê Auquert (isto é, o mundo inferior)! Saíste da água, saltaste do deus Nu, que te quer e te ordena os membros. Salve, deus da vida,

' d ° a m o r > t o d o s o s homens vivem quando brilhas; és coroado : rei dos deuses. A deusa Nut rende-te homenagem, e a deusa Maat

te abraça em todas as ocasiões. Os que fazem parte do teu séquito . cantam para ti com alegria e prosternam-se, tocando o solo com a 5 fronte» quando se encontram contigo, senhor do céu, senhor da { terra, rei da Justiça e da Verdade, senhor da eternidade, príncipe

I i da sempiternidade, soberano de todos os deuses, deus da vida cria-I dor d a eternidade, fazedor do céu, em que estás instalado com fir-

Imeza. A companhia dos deuses alegra-se com o teu nascimento, a , $ ta?? e x u l t a quando contempla os teus raios; as pessoas mortas há 3 muito tempo surgem com gritos de júbilo para admirar cotidiana-

mente tua formosura. Avanças todos os dias sobre o céu e sobre a ' terra, e todos os dias tua mãe Nut te fortifica. Passas airavés das

. alturas do ceu com o coração pleno de alegria; nisso se 'compraz o f a b ' s m o do ceu. O demônio-serpente caiu, os braços lhe foram cor-f tados e a faca separou-lhe as juntas. Ra vive em Maat, a bela O

barco Sectet prossegue e chega ao porto; o Sul e o Norte o Oeste |i e o Leste voltam-se para louvar-te, ó substância primeva da terra | que nasceste de teu moto próprio. Isis e Néftis te saúdam, en-* toam-te cantos de alegria quando te levantas no barco, protegem-te 1

l com as maos. As almas do Leste te seguem, as almas do Oeste

39. Do Papiro de Nect (Museu Britânico n.° 10 471) 40 . O sol vespertino e o sol matutino, respectivamente

em que o T nasce. d ° ^ P a r t i c u l ~ t e da região dele

©

e x a l t a m - És o soberano $ todos os deuses, e tens alegria de icoraçao no interior do teu santuário; pois o demônio-serpente Nac foi condenado ao fogo 'e teu coração se alegrará para sempre." _ j

„, ' Pelas considerações expendidas nas páginas anteriores, pelos . e* ratos de textos reliçiósps de vários períodos e pelos hinos citados, o leitor poderá julgár p 9 r si mesmo as convicções do egípcio antigo em relaçao a Deus TOdo-poderoso e seu tipo visível e'símbolo, Ra

'Q deus-spl. Os egiptólfgos, diferem 'em suas interpretações de certos , t ^ h o s , mas concordaria no tocante aos fatos gerais. No lidar com os^ fatos nunca ^setó demasiado repetir que as idéias religiosas do e g i ^ j r é j n s t o n c o diferiam muito das idéias (To -sacerdote culto d ^ M e n f i s l I a T ™

' d e u f d o solTpõente, na IV dinastia. Os compüadores de textos religiosos de , todos os períodos conservaram muitas crenças rudes, foscamente supersticiosas; que bem sabiam sér produto da imaginação dos seus1 antepassados selvagens ou semi-selvagenl não porque elçs mesmos acreditassem nelas, ou pensassem que os leigos para os quais oficiavam as aceitariam', mas por reverência às tra-dições herdadas. Os seguidores de cada grande religião do mundo nunca, se|,livraram completamente das1 superstições que, em todas as gerações, herdaram dos seus avós; e o que é verdadeiro em relação aos povos do passàdp é Verd^deüjo, .até certo ponto, em relação aoá povos de< hoje. No Cliente, 'quanfq mais velhas forem, tanto àa i s sagradas se tornarão asPidéias,, crenças e tradições; o que não im-pediu que homens, ali,, desenvolvessem elevadas concepções morais e espirituais e continuassem a crê-las; e eAtre elas é mister incluir a do Deus Uno, aútogerado e 'auto-existente, que os egípcios ado-ravam. , ^ •' .' ' i 1 1 ,

3|3

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ÉF

! Capítulo II ' 1I , \ | ! r

Osíris, o deus da Ressurreição i

'' 1 r , 1 ' ' >' 1 j 1

t [ Os egípcios de todos os períodos que conhecemos acreditavam que "Osíris, de origem divina, padeceu a morte !e a mutilação às mãos dias potências do mal e, após um grande combate com essas potên-cias,! voltou a levantar-se, tornando-se, dali p'or diante, rei do mundo }pferior e juiz dos mortos;; acreditavam outrossim que, por ter ele vencido a morte, os virtuosos também podem vencê-la; e guindavam-P° a uma posição tão exaltada no céu que Osíris passou a ser o li^ual e, em certos casos, o superior de Ra, o deus' solar, imputando-Ihé atributos pertencentes a Deus. pjor mais que|recuémos no tem-po, lencontramos sempre a suposição de que essas opiniões a respeito'

Osíris eram conhecidas do leitor de textos, religiosos e aceitas por i ele, e já no primeiro dos livros fúnebres a pdsição de Osíris com res-

peito à dos outros deuses é idêntica à , que ele ácupa nos exemplares majs.recentes, do Livro dos Mortos. Os primeiros autores dos antigos textos hieroglíficos fúnebres e seus mais recefrtes compiladqres pre-supiram de maneira tão completa que a história de Osíris 'era co-nhecida de todos,os homens, que npnhum, ao1 que nps consta, julgou necessário redigir uma narrativa coerente dá vid'a e dos sofrimentos1

desáe deus na terra ou, se o fizeram, ela não nos chegou ãs mãos; Até na) V dinastia vemos Osíris e os deuses dò séu ciclq.ou com-panhia, ocupando um lugar peculiar e espeéíal ,nas composições es-critas por intenção dos mortos, e a pedra e ioutrds monumentos, que , pertencem a períodos ainda mais recuados, irienlcionam,. cerimônias cuja celebração assumia a exatidãó'substancial'dá história de Osíris, tal como no-la transmitiram escritores mais recentes. Teixos, tódavia, uma história coerente de Osíris que, femborá não fosse,'escrita e h egípcio, contém tanta coisa de origem égí^ciaique podemos afirmar haver o autor sacado suas informações de fohteá egípcias! JRefiro-me à obra De Iside et Osiride, do escritor grego Plutarco, que floresceu

í ' i 1 , ' li 1

34 , , I . ' • ,

por volta do meado do primeiro século da nossa era. Nela, infeliz-mente, Plutarco identifica deuses egípcios com deuses gregos e acres-centa certo número de afirmações apoiadas na sua imaginação ou resultantes de informações erradas. A tradução,42 da autoria de. Squire, reza deste teor:

"Réia,43 dizem eles, tendo acompanhado Saturno44 pela calada, foi descoberta pelo Sol,45 que, diante disso, lançou uma maldição sobre ela, pela qual a deusa 'não poderia dar à luz em nenhum mês ou ano' — Mercúrio, no entanto, que também estava apaixonado pela deusa, em paga dos favores que dela recebera, jogando gam^o com a lua, ganhou-lhe a sétima parte de cada uma das suas lumi-nárias; em seguida, juntando essas diversas partes, que formaram, ao todo, cinco dias, acrescentou-os aos trezentos e sessenta que com-punham anteriormente o ano, motivo pelo qual esses dias ainda hoje são chamados pelos egípcios a Epacta, ou acrescentados, e observados por eles como os dias aniversários dos seus deuses. Pois no 'primeiro, dizem, nasceu Osíris; e no exato momento em que Osíris éstava entrando no mundo, ouviu-se dizer uma voz: "Nasceu o senhor de toda a terra". Alguns, todavia, referem a circunstância de maneira diferente; segundo estes, certa pessoa, de nome Pamiles, estava buscando água no templo de Júpiter, em Tebas, quando ouviu uma voz que o mandava proclamar a brados que 'o bom e grande rei Osíris acabava de nascer'; razão pela qual Saturno o incumbiu da edu-cação da criança. Em memória desse evento, foram mais tarde insti-tuídas as Pamílias, festival muito parecido com á Faliforia ou as Priapéias dos gregos. No segundo desses dias nasceu AROUERIS,46

que alguns chamam de Apolo, e que outros distinguem pelo nome de Oro, o Velho. \No terceiro veio ao mundo Tífon,48"A que não nasceu na ocasião apropriada, nem pelo lugar apropriado, senão forçando sua passagem através de um ferimento por ele produzido na ilharga de sua mãe. ISIS nasceu, no quarto dia, nos pântanos do Egito e, no derradeiro, nasceu NÊFTIS, a quem alguns chamam Teleute e Afrodite, e outros Nique — Agora, quanto aos pais dás crianças, dizem que os dois primeiros foram gerados pelo Sol, Isis por Mercúrio, Tífon e Néftis por Saturno; e, concordantemente, por

42. Plutarchi de Iside et Osiride liber: Graece et Anglice. Por S. Squi-re, Cambridge, 1744.

43. Isto é, Nut. 1 44. Isto é, Seb.

45. Isto é, Ra. ; 46. Isto é, Heru-ur, "Horo, o Antigo". 46-A. Isto é Set. ;

35

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a ^ s i s s s « * « refresco enquanto não chegassea noite v l tomavam nenhum Tí fon casou com N é f t i s e S u e uSí l a s , a c r e . s

Jc e n t a i ° que

ção mútua, am^ram- e ^ m ao n trn ° S m S ' P o r u m a

nascer, comércio do ^ a U u r g V C u r l " o n f ^ ^ • m ã ? 3 n t e S d e

cognominavam Oro, 'o V«5E>?o os ^ g ò s ^ o L ^ 0 5 I g U a l m e n t e

seus S e r S o f T e s v l r n Í o°s S f , " ^ ^ ^ a

gente e bárbaro além d í o L ? " " a n t l g ° CSt Í1° d e v i d a> i n d i "

na reverência^ X « mais tarde, p d o resS do l í T* 1 1 ! ? b ° a d i s P o s l ? ã o ' v i a i™, a p a r t e , a submeterse à s u f 5 k r ? A r r ^ ~ n d 0 a s P e s s o a s ' e m toda

r^assÉSase circunstância essa da qual osTreeof denr inH 01211108 m u s i c a i s :

mesmo Dionísio ou Baco E f a u S t o o S ? q U C d c e r a 0 s e u

reino, Tífon não teve n e n h u m a J l e f v e a u s e n f e do seu no estado, pois Is is se m n í r o 0 p 0 r t u m d a d e d e realizar inovações sempre de K V j g Ü a n t e n ° g 0 y e ™ ' e

meiro persuadido setenTa e l í n • S S ° ' e n t r e t a n t o , tendo pri-conspiração, j u n L S t ^ * • ^ 3 e l e n a

que acertava de estar n o ^ i t o na S ã o r f ^ ' ^ A & ° ' gema pa ra alcancar seus inf l ! ^ ' T l f o n S I Z 0 U U m estrata-gredo as medidas do c o ^ f d e n V ^ 1 0 8 ; T e n d o t o m a d o se-g m e n t e desse L a n h o tão ' m

+a n d ° U f a Z e r u m a a r c a c á -

todos os ornamentos da ' a te P°S S Í V e 1 ' 6 a c r e é c i d a

de banquetes; onde depo de w T d í * a r C a ' J e v o u " a à sua sala os presentes, Tífon s S u L d o Z ™ m m t 0 1 a d m i r a d a P°r todos dá-la à pessoa cm o c o ™ s e z h J Z ? T * b r m c a d e i ^ > prometeu Diante disso, toda a S m n a E P e 5 f e i t a m e n t e ao seu tamanho, arca; mas como ela n ío se í d i r P° 1 S d ° ° U t r ° ' e n t r o u n a

nela p o r último; tanto que o fez f * ™ e a í m > ° s í r i s ^ t o u - s e se juntaram, p u s ^ a m depressa a L Z C O " s P l r a d o r e s imediatamente fora com pregos derramando V ^ S ° b r e

ue l a e Pregaraçi-na por

Feito isso, c a r r e g a r a ™ c h u ™ b o d e t i d o sobre ela. para o mar pela ^ ^ T n a t a a t a l " o^ m a D d a r « é amda objeto da máxima a b o m i n a d o s £ ^ 36

nomeiam senão cotai riiarcas apropositadas de detestaçao. Dizem que essas coisas foram executadas no 17 . °« dia do njês de Atir, quando o sol estava em Escorpião, no 2 8 ° ano do reinado de Osíris- em-bora outros teimepv |em assegurar-nos que ele não tinha mais de 28 anos de idade àquele tempo.

1 "O? iprimeirosj ,qúe tiveram notícia do acidente que vitimara o t 6 0 5 s á t i r 0 s habitavam a região pefto de

Chemmis (Banopolis);, e, iriteirando imediatamente o povo do acon-tecido; deram a primeira ocásião à expressão Terrores pânicos a qual, a partir desse momento, foi sempre usada para significar qual-quer medo súbito ou estupefação da multidão. Quanto a Isis, logo que a nova lhe chegoü aos ouvidos,, cortou imediatamente uma das madeixas do cabelp,« e vestiu um trajo.de luto no mesmo lugar em que lhe: sucedia-ést^r, 'o qual, por conseqüência, em razão desse acidenfle, foi desde entã®, denominado Coptis, ou cidade do luto em-bora alguns sejarij d'e ç^kiião que a palâvra significa antes privação. Depois; disso, vagueoti por, ^odos os cantos do país, inquieta ,e pbr-plexa, 'em busca da arca, perguntando a todas as pessoas que èn-contrava,. ate algumas crianças; se sabiam ou não o que fora fèito i dela. Ora, acontecik que as crianças tinham presenciado o que: os cúmplices de Tifo* haviam feito com o corpo e, por conseguinte indicaraip-lhe a t^ca do Nilo 'pela qual ele fora dar ao mar, -I? por essa razão q u t os egípcios' cdnsideram as crianças deitadas de uma como1 faculdade d,b adivinhação, em decorrência do que'lhes pbs_ervam ,com muita çurioridade as tagarelices acidentais enqúanto estão .brincando (mormente,se for num local sagrado), tirando dela augunos P( presságios - Durante esse intervalo, 'informada de que Osiri^, enganado por sua irmã Néftis, que estava apaixonada por ele, se unira involuntariamente a,ela, Néftis, em vez de unir-se à esposa, Isis, como Idèpreendia da, grinalda de trevos-de-cheiro 48 U e 'que ele deixara c ç m l é l a í s i s decidiu igualmente procurar a 'çrian-Ç

ma ; r T

d ® comércio ilegal (pois sua irmã, receando a cólera do mando, Tífon á abandonara assim que ela nascera) e, por conse-quência, depois ae muitos trabalhos e dificuldades, por meio de al-guns caes q u q a conduziram ao sítio em que estava o meninb encontrou-o e cnou-o; de tal sorte que', com o correr do tempo, çSte

nefasto.' N ° ^ M r i p ' 1 egípcio èsse dia era assinalado como Triplanfente

na b m 0 S Í n a l d e l u t 0> e r a habitualmente! colocjado

49. Isto é, uma coroa de trevos. |1

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i > se tornou set guarda e servidor fconstante,,1 de onde lhe adveio o

< nome dp Anúbis, pois se supunha que ele vigiada e .guardava ds d e u -ses, como fazem os cães em relação ao gênéyo humano; i j

"Por fim, ela recebeu notícias da arca, que ^orà carregada pelas • ; ondas do mar para a costa de Biblo,5? e ali' gentilmente depositada

nos ramos de um tamarindo novo, que, em curto' espaço cie tempo se desenvolveu e transformou numa grande e linda, árvore, que' crescei^ em volta da arca, fechando-a de todds os lados, 'de modo ' que ela não podia ser vista; e soube mais, ique, assombrado peta tamanho descomunal da árvore, o'reji mandata "cortá-la e fizera da, parte do tronco que escondia a arca úm pilar para kstentar o telha-do da sua casa. Tendo sido essas coisas, dizem .eles, comunicadas a Isis de modo extraordinário pelo relato de! Demônios, ela. partiu ' imediatamente para Biblo; onde, instalando-se à beira de uma fonte, recusou-se a falar com quem quer qàe fosse, excètuando-sç apenas as mulheres da rainha que adergavam de éstar;,lá; a estas; tom1 efei-to, cortejou e ^çarinhou da maneira mais bondosa ;possível, entran-çando-lhes os cabelos e transmitindo-lhes pa'tfè do perfume riiarávi-lhosamente agradável que emanava do seu corpo, ó que lhes despertou na ama, a rainha, um grande desejo, de ver a .estrangeira que possuía a admirável faculdade de transfundir tão fragrante odor nos cabelos e na pele de outras pessoas. NÍandoú, portanto,', que á levassem à corte e, após conhecê-la melhor, fê-la, ama de um dos seuS filhos. Ora, o nome do rei que então reinava eip 1 Biblo era Melcartus, e o da sua rainha, Astarte, ou, de acordo com ' outros, 1

Saosis, bem que houvesse quem lhe chamasse. Nemanoun, hoirie que corresponde ao grego Atenais. - 1 '

1 I "Isis amamentou a criança dando-lhe pahj chupar o dedo em

lugar do seio; d,a mesma forma, pünhà-à todas as noites no fogo para que este lhe consumisse a parte mortal, enqpanto ela mesma, transformada em andorinha, girava em'torno Ido pilar lastimando b , seu triste fado. E assim continuou por ^lguiii tempo, até que a ' rainha, que andava a vigiá-la, vendo o filho1 envolto em, chamas,i abriu a gritar, privando-o, dessa maneira, da imortalidade' que, dê outro modo, lhe teria sido conferida.' Diante ' d|isso, a Deusa, des-1' cobrindo-se, solicitou que o pilar, que sustentava o tetq, lhe fosse dado; a seguir, deitou-o abaixo e, depois de |cort£-lo com facilidade

- i , . • • i 50. Nao e a Biblo da Síria (Jebel), sénão os pântanos de papiros do

U6it<ã.

li 38 , • ,

I

e de tirar de dentro dele o que desejava, envolveu o restante o tronco em panos finos de linho e, derramando óleo perfumado sobre ele depô-lo de novo nas mãos do rei e da rainha (pedaço dé madeira que ate hoje se conserva no templo de Isis, onde é adorado pelo povo de Biblo). Feito isso, atirou-se sobre a arca, lamentando-se com brados tao altos e terríveis que o mais novo dos filhos do rei ouvindo-a, morreu de susto. Mas ela, levando consigo o mais velho' fez-se de vela, com a arca, para o Egito; e como já fosse de manhã e o rio Fedro lançasse um ar áspero e cortante, secou-lhe a corrente.

"Tanto que chegou a um lugar deserto, onde se cuidava só abriu sem detença a arca e, encostando o rosto no rosto do marido morto,:abraçou-lhe o cadáver e chorou amargamente; percebendo porem, que o menininho, deslocando-se em silêncio para trás dela descobrira o motivo da sua dor, virou-se de repente ej colérica lhe dirigiu um olhar tão feroz e tão severo que ele imediatamente mor-reu dé medo. Afiançam outros que a morte dele não ocorreu dessa forma, senão, como foi sugerido acima, que ele caiu no mar, rece-4 bendo, depois, as maiores honras por amor da Deusa; por isso o Maneros,51 que os os egípcios evocam com tanta freqüência nos ban-quetes, outro não é senão esse mesmíssimo menino. Tal narrativa e contestada pelos que nos dizem ser o verdadeiro nome da criança Palestino, ou Pelúsio, em cuja memória a Deusa construiu a cida-de desse nome; acrescentando que o Maneros supracitado é assim honrado pelos egípcios em seus festins por ter sido o primeiro a inventar a música. Outros ainda afirmam que Maneros não é nome de pessoa alguma em particular, porém mera forma consuetudinária e maneira de saudação empregada pelos egípcios em suas relações recíprocas nas festas e banquetes mais solenes, que por esse modo so pretendiam desejar que o que estavam em vias de fazer se lhes revelasse afortunado è feliz, sendo esta a verdadeira acepção da pa-lavra. Do mesmo jeito, dizem eles, o esqueleto humano, que nos momentos de festa, transportado numa caixa, se mostra a todos os convivas, não se destina, como imaginam alguns, a representar os infortúnios de Osíris, senão lembrar-lhes a própria mortalidade e por esse modo, excitá-los a usar e desfrutar livremente as boas coisas colocadas diante deles, visto que depressa se tornariam como o que la viam; e que esta é a verdadeira razão por que o apresentavam nos banquetes — Mas prossigamos com a narrativa.

ródoto' i i F 7 9 ° d ° p r i m e i r 0 r e i e>'Pc io> m o r t ° ainda muito jovem; veja He-

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Tencionando fazer uma visita a seu filho Oro, que estava sen-do educado em Buto, depositou a arca, entrementes, num sítio re-moto e não freqüentado: Tífon, contudo, caçando certa noite à luz

l u f ' d e u acidentalmente com ela; e, conhecendo o corpo que nela se achava encerrado, fê-lo em pedaços, catorze ao todo, e disper-sou-os por diferentes partes do país — Quando soube desse acon-tecimento, Isis, mais uma vez, saiu em busca dos fragmentos dispersos do corpo do mando, utilizando um barco feito de canas de papiro a fim de facilitar a passagem pelas partes mais baixas e pantanosas do pais — razao pela qual, dizem, c crocodilo nunca toca pessoa alguma que viaje nesse tipo de barco, ou porque receia a cólera da deusa, ou porque a respeita por havê- a, de uma feita, transportado A esse motivo portanto, deve imputar-se o haver tantos sepulcros diferentes de Osins no Egito; pois, segundo nos contam, toda vez i que Isis deparava com algum membro disperso do marido, ali o en-terrava. Outros, todavia, contradizem esse relato e nos informam que a variedade de sepulcros se deve antes à política da rainha que em vez do corpo verdadeiro, oferecia às diversas cidades apenas a' imagem do marido: o que fazia não só para que as honras que por esse meio seriam prestadas à memória dele, fossem mais extensas mas também para poder, assim, iludir a busca maldosa de Tífon' o qual, se suplantasse Oro na guerra que logo travariam, furioso dián-

^ P 3 d e d e s e P u l c r o s > t a lvez desesperasse de encontrar o verdadeiro — Contam-nos também que, a despeito de toda a sua procura, Isis nunca pôde descobrir o falo de Osíris, o qual, atirado no Nilo, fora devorado pelo lepidoto, pelo fagro e pelo oxirrindo peixes que sao, por esse motivo, especialmente evitados pelos epíp-cios entre todos os mais. Entretanto, para compensar de certo modo a perda Isis consagrou o Falo, feito à sua imitação, e instituiu um solene festival em sua memória, até hoje observado pelos egípcios.

"Depois dessas coisas, voltando do outro mundo, Osíris apare-ceu a seu filho Oro, animou-o para a batalha e, ao mesmo tempo mstruiu-o no exercício das armas. Em seguida, perguntou-lhe 'qual era no seu entender a ação mais gloriosa que um homem poderia executar?' ao que Oro replicou: 'Vingar as afrontas feitas a seu , pai e a sua mae. Mas Osíris voltou a indagar 'que animal supunha fosse mais util a um soldado?' e como lhe fosse respondido 'o cavalo, a resposta provocou-lhe o pasmo, de modo que o pai lhe ' perguntou ainda 'por que preferia ele um cavalo a um leão''' 'Porque' acudiu Oro, 'se bem o leão seja a mais útil criatura pára quem'

40

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esta necessitado de ajúdp, o cavalo52 é mais útil no alcançar e deter um adversário em fu^a1'. Tíiis respostas muito agradaram a Osíris, 'pois lhe mostravânr que o filho estava suficientemente preparado para o seu inimigo — Contam-nos ainda que, entre os muitos que desertavahi de contínub o parfido de Tífon, figurava sua concubina Tueri's, e que uma serpente, que: a perseguia quarido ela se encami-nhava para Oro, 'foi' morta pelps seus soldados — ação cuja lem-

jbrança, dizem, ainda sq preserva na corda arremessada no meio das suas assembléias,, è depois cortada em pedaços — Mais tardei, tra-vou-se 1 uma batalha^i que durou muitos dias; mas a vitória, afinal, pendeu para Oro d Tífon foi feito prisioneiro. Isis, porém, a cuja guarda o entregarap, tão lojnge estava de mandá-lo matar, que até lhe desiatou os laçòs e'pô-lo ein, liberdade. O procedimento da mãe exasperou por tanta maneira Oro, que esta lhe deitou a mão ei ar-rancou-lhe11 o emblema de realeza que ela usava na cabeça; e, em lugar do emblema, Hfermes enfiou-lhe na cabeça um e,lmo em fqrma de cabeça de boi Depois disso, Tífon acusou publicamente lOro de bastardia; mas, poip a assistência de Hermes (Tot) sua le^iti-,

( mídade foi plenamente ( estabelecida por julgamento dos próprios Deuses —j Houve aliada mais duas batalhas travadas entre eleJ ç, nas duas, Tífon levou a pioi. Diz-se, além disso, que Isis se juntou a Osíris depois da, morte dele .e, em conseqüência disso, pariu H i -pócrates, que vei<j)\ao mundo antes do tempo e coxo dos membros inferiores." :i, ^ ~ • Quando examinamos essa história à luz dos resultados dá dè-

cifraçao hieroglífica, constatamos que grande parte dela é icompro-váda pelos .textos egípcios: por exemplo, Osíris era filho de Seb e Nut; a lEpacta e conhecida nos Calendários como "os cinco diás adicionais do ano"; o(s cinco deuses, Osíris, Horo, Set, Isis e Néftls nasceram nos dias, meqcionádols por Plutarco; o 17° dia de Atir (Hator) e assinalado como triplamente infausto nos Calendários-1

descrevem-se as peregrinações e dificuldades de Isis, e as "lamenta-r e s que se supõe, tenha ela proferido encontram-se nos textos- as listas Idos^ntuários d^, Osíris estãb preservadas em várias inscrições-o haver Horo vingado seu .pai ê fato amiúde mencionado em papiros ,e outros documentos; o confjito entre Set e Horo vem descrito, na íntegra, num papliro conservado no Museu Britânico (N 0 110 184) -um hino no papiro de. Hunefer relata tudo o que Tot fez em' favpr

V v m 2 V P a l i - c e q u e i ° C*V a I° s ó s e t o r n o u conhecido no Egito a partit da XVIII dinastia; epsa parte da versão da História de Osíris, de Plutarw deve de ser, portanto; .posterior a 1500 a C '

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Mu

de Osíris; e a geração de Horo por Osíris é mencionada .num hino a Osíris da XVIII'dinastia no seguinte p a s s o : — 'i

"Tua irmíã exerceu por ti o seu ppder( protetor, dispersou em diferentes direções os seus inimigos, afastou la, má so^te, 'pronunciou poderosas palavras de poder, feziastuta a sua língua e silas' pklàvràs não| falharam. A gloriosa Isis esteve perfeita no'ordenar ie kó falar, e vingou seu irmão. Buscou-o sem cessar, vagou por todos òs cantos (ia terra desferindo gritos de dor e não descansou (ou pousou) enr quanto não o encontrou. Lançou sombras soire' èle com suàs penas, fez ar (ou vçnto) com suas asas e despediu, griíds no sepultamento de seu irmão. Ergueu a forma prostrada daquel^ cujo coração parou de bater, tirou dele um pouco da sua essêrícia, concebeu e dek à' luz um filho, amamentou-o em segredo le rjlng^iém ficõu 'satibndo'o lugar em que estava; e o braço da criança cresceu fort^ na grande casa de Seb. Rejubila-se a companhia dos Reuses e alegra-se com a chegada de Horo, filho de Osíris, e firme cie coração e triunfanté, está o filho de Isis, herdeiro de Osíris."63

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É impossível dizer a forma qué tomaram os pormenores da his-tória de Osíris nas primeiras dinaptias e não sabemos'se Osíris era, o deusj da ressurreição para os egípcios pré-dinásticos ou prç-histó-ricos, nem se essse papel lhe foi atribuído depois que Mèna prin-cipiou a reinar no Egito. Há, contudo, boã{ razões para presumir que, nos primeiros tempos dinásticos, ele ocupava, a posição c e deus e juiz dos que se haviam erguido dentre os mortos com sua' ajuda, pois já na IV dinastia, por volta dé 3800 a.C.; o rei Men-cau-Ra (o Miquerino dos gregos) é identificado cony ele1 e, em seu ataúde, não só lhe chatiam "Osíris, Rei do Sul e dp Nprte, Men-cau-Ra, que vive para sempre", mas também lhe atribuem! a genealogia de Osíris Ç dele se declara ser "nascido do céu, desceridente de Nut, carne e ossos de Seb". É evidente que os sacerdotes de Heliópolis "organi-zaram" os textos religiosos copiados e multiplicados no Colégio para ad,equá-los às suas próprias opiniões mas, nos primeirop tempob, quando encetaram o seu trabalho, o culto de Osíris estava tão difun-dido e a crença nele como deus da iressurreiçãp tão profundamente arraigada no coração dos egípcios, que) até no sistema helíppolitano de teologia Osíris e seu ciclo, ou companhia de deuses, vieram a ocupar posição proeminente. Ele representava piara os homens a idéia de Um ser que era, ao mesmo tempo, deus e hpmem, e tipificou para

53. Este hino notável foi divulgado, pila primeira vez, , por, Chabas, que publicou uma tradução sua, acompanhada de notas, na Revuè Archéo-logique, Paris.. 1857', t. xiv, pág. 65 e seguintes.

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os egípcios de todas as épocas a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. A idéia da sua personalidade hu-mana também lhes satisfazia os anseios pelo intercâmbio com um ente que, conquanto em parte divino, tinha muita coisa em comum com eles mesmos. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de certos deuses, triunfara da morte e alcançara a vida eterna. Mas o que Osíris tinha feito eles também poderiam fazer, e o que os deuses tinham feito por Osíris, teriam de fazer por eles também e, assim como o haviam ressuscitado, assim teriam de ressuscitá-los, e assim como o tinham feito soberano do mundo inferior, assim teriam de fazê-lo entrar em seu reino e ali viver tanto tempo quanto vivesse o próprio deus. Em alguns dos seus aspectos, identificava-se Osíris com o Nilo, c( m Ra e com diversos outros "deuses" conhecidos dos egípcios, m; s era em seu aspecto de deus da ressurreição e da vida eterna quu ele encantava os homens do vale d o Nilo; e por milhares de anos, homens e mulheres morreram acreditando que, como tudo o que fora feito por Osíris seria feito i simbolicamente por eles, voltariam a erguer-se e herdariam a vida eterna. Por mais que retrocedamos no tempo acompanhando as idéias religiosas dp Egito, nunca nos aproximamos de uma época em que podemos dizer que não existia a crença na Ressurreição, pois em

[_toda a parte se presume haver-se Osíris erguido dentre os mortos; céticos devem ter existido, e é provável que fizessem a seus sacer-dotes a pergunta que os coríntios fizeram a São Paulo: "Como se erguerão os mortos? E com que corpo virão?" Mas, sem dúvida, a crença na^ Ressurreição foi aceita pelas classes dominantes do Egito. As cerimônias realizadas pelos egípcios com a intenção de assistir ao "falecido no ordálio do julgamento e na vitória sobre os inimigos no outro mundo, serão descritas em outro lugar, como o será também a forma em que se erguiam os mortos; voltamos, portanto, à história teológica de Osíris.

_ O centro do culto de Osíris no Egito durante as primeiras di-nastias foi Abido, onde se 'dizia estar enterrada a cabeça do deus. Com o c o r r e r ã o tempo, ele se espalhou para o norte e para o sul e várias grandes cidades afirmavam possuir um ou outro1 membro do seu corpo. Os vários episódios da vida do morto constituíram tema d e solenes representações no templo e, a pouco e pouco, a execução dos serviços obrigatórios e não-obrigatórios em conexão com eles ocupava, em alguns templos, a maior parte do tempo dos

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sacerdoteis. Esqueceram-se as idéias originais relacionadas com o deus e nova,s idéias surgiram; depois de haver sido o exemplo do homem que se erguera de entre os mortos e lograva a vida eterna, ele passou a ser a causa da ressurreição dos mortos, transferindo-se dos deuses para ele o poder de ionceder a vida eterna aos mortais. O alegado desmembramento' de 'Osíris foi obscurecido pelo fato de que ele Imo-rava num corpo perfeito no mundo inferior e, desmembrado ou não, se tornara, depois çla morte, pai de Horo, em conseqüência dejsuá união com Isis. Já pa XII dinastia, por volta de 2500 a.C., o culto desse deus se universalizara, ou quase, e um milhar de anos depois Osíris passara a ser um como deus nacional. Eram-lhe imputados os atributès dos grandes deuses cósmicos e ele se apresentava áo Üo-. mem não. só como deus e juiz dos mortos, mas também como criador do mundo1 e de tqdas as coisas nele existentes. Filho de Ra, tor-nou-se o igual de s|3u pai e tomou seu lugar ao lado dele no céii;

Uma prova interessante; d^ identificação de Osíris com Ra dá-nòs o Capítulo. XVII do Livro dos Mortos. Não nos esqueçamos de que esse Capítulo consiste numa série do que quase poderíamos deno-

m i n a r artigos de fé1, pada um deles acompanhado de uma ou mais explanações, que : representam opiniões totalmente distintas uma da

I outra; o Capítulo também é seguido de uma série de Vinhetas. Na linha 11,0 está dito:! "Sou a alma que mora nas duas tchafi.Si Quç é isto? É Qsíris quando vai a Tatu (isto é, Busíris) e ali encontra a alma de Ra; ym dei^s abraça o outro, e almas passam a existir dentro 'das duas tchafi.'\ Na Vinhetji que ilustra este trecho vêem-se as almas de Ra e de Osírig pip fofma de falcões pousados num pilono e de frente um para o outro; o primeiro traz um disco' sobre a cabeça e o segundo, ,com CaÜeça humana, a coroa branca. É muito para notar que até,no encoritro com Ra a alma de Osíris preserva o rosto hu-manó, , sinal do seu1 parentesço com o homem. |

, , Assirh Osíris se tornou não só o igual de Ra, porém, ein muitos :jentidòji,lum deus maior do que ele. Diz-se que das narinas da sua cabeça, sepultada em Abido, saiu o escarabeu 5S que logo se tornou o emblema e o tipo ido deus Quépera, autor da'existência de todas as coisas e da ressurreição. Dessa maneira, Osíris tornou-se fonte e origem de deuses, homens e coisas e sua condição humana foi es-quecida. O passo segúinte era imputar-lhe os atributos de Deus e nas ^ V I I I e XIX dinastias ele, parece ter disputado a soberania

54. Isto é, as almas de Osíris e Ra. 55. Veja Von| Bergmahn enj Aeg. Zeitschrift, 1880, pág. 88 e seguintes.

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n ô.--^' £; t i x ^ f ^ ,

i H õ t ó c ^

I tvr j l l ,

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Á alma de Ra (1) encontra-se com a alma de Osíris (2) em Tatu. O gato (isto é, Ra) ao pé do abacateiro (3) corta a'cabeça da iserpente quei tipifica a noite.

das três companhias de deuses, o que queri dizer, a trindade das trindades de trindades,50 com Amon-^a, a este tempo usualmente chamado "rei dos deuses". As idéias sobre Osíris nesse período se-rão melhor avaliadas pelos seguintes extratoã|de hinos, contempo-râneos: —

' , "Glória57 a ti, ó Osíris, Un-nefer, o grande deus dentro de Abtu (Abido), rei da eternidade, senhor da, sempiternidade,' que passâs por milhões de anos em tua existência., Filho mais velho do Vèntre de Nut, gerado por Seb, o Antepassadq [dos deuses], senhor

| 56. Cada companhia dos deuses era formada de três trindades ou tríades. 57. Veja Chapters of Corning Forth by Day (tradução, pág. 11).

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das coroas do Sul e do Norte, senhor da sublime coroa branca; como príncipe: de deuses e de homens ele recebeu o bastão e o açoite, e a dignidade dos seus divinos pais. Alegre-se o teu coração, que assiste na montanha de Ament, pois teu filho Horo está instalado em teu trono. Foste coroado senhor de Tatu (Busíris) e soberano de Abido."

"Louvores58 te sejam lados, ó Osíris, senhor da eternidade, Un-nefer, Heru-Cuti (Harmachis) cujas formas são múltiplas e cujos atributos são grandes, que és Ptá-Sequer-Tem em Anu (Heliópolis), senhor ido lugar oculto e criador de Het-ca-Ptá (Mênfis) e dos deuses [lá dentro], guia do mundo inferior, a quem [os deuses] glo-rificam quando te instalas em Nut. Isis abraça-te em paz e afasta os demônios da boca dos teus caminhos. Voltas o rosto para Amen-tet e fazes brilhar a terra como se fosse revestida de cobre refinado. Levantam-se os mortos para ver-te, respiram o ar e olham para o teu rosto quando o disco emerge no horizonte; seus corações estão em paz, na medida em que te contemplam, ó tu que és eternidade e sempiternidade."

No último extrato identifica-se Osíris com os grandes deuses de Heliópolis e Mênfis, onde existiam santuários do deus-sol em tempos quase pré-dinásticos e, finalmente, é declarado "eternidade e sempiternidade"; unem-se, destarte, as idéias de ressurreição e imortalidade no mesmo ser divino. Na seguinte Litania continua o processo de identificação com os deuses: —

1. "Homenagem a ti, que és as cintilantes divindades de Anu e os seres celestiais de Quer-aba;69 ó tu, deus Unti,60 mais glorioso do que os deuses escondidos em Anu. Dá-me um caminho por onde eu possa passar em paz, pois sou justo e verdadeiro; não proferi mentiras cientemente, nem fiz coisa alguma com dolo."

2. "Homenagem a ti, An em Antes, Harmachis; caminhas pelo céu com largas passadas, ó H arinachis. Dá-me um caminho", etc.61

3. "Homenagem a ti, alma de perenidade, tua Alma que re-side em Tatu, Un-nefer, filho de Nut; és senhor de Aquert (isto é, do mundo inferior). Dá-me um caminho", etc.

58. Ibid., pág. 34. 59. Distrito próximo de Mênfis. 60. Deus que caminha à frente do barco do deus Af, segurando uma

estrela em cada mão. 61. O pedido está escrito apenas uma vez, mas destina-se a ser repe-

tido depois de cada uma das nove seções da litania.

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4 . "Homenagem a ti em teu domínio sobre Tatu;1 a coroa Ureret está consolidada sobre tua cabeça; és o Ünico que faz a força que a si mesma se protege, e habitas em paz em Tatu. Dá-me um caminho", etc.

5 . "Homenagem a ti, senhor da Acácia,62 o barco Sequer«3

está colocado sobre a sua zorra; fizeste recuar o Demônio, o fautor do Mal, e fazes o Utchat (isto é, o Olho de Horo ou de Ra) des-cansar em seu lugar. Dá-me um caminho", etc.

6. "Homenagem a ti, que és poderoso em tua hora, grande e poderoso Príncipe, que habitas em An-rut-f,64 senhor da eterni-dade e criador da sempiternidade, senhor de Suten-henen (isto é Heracleópolis Magna). Dá-me", etc.

7 . "Homenagem a ti, que repousas na Justiça e na Verdade, senhor de Abido, cujos membros estão juntos em Ta-tchesert (isto é, a Terra Santa, o mundo inferior); és o que detesta a fraude e a perfídia. Dá-me", etc.

8 . "Homenagem a ti, que estés dentro do teu barco, trazes Hapi (isto é, o Nilo) da sua nascenti; a luz brilha sobre teu corpo e és o que mora em Nequen. Dá-me etc.

9 "Homenagem a ti, criador dos deuses, rei do Sul e do Norte, ó Osíris, vitorioso, soberano do mundo em tuas graciosas es-tações; és o senhor do mundo celestial. Dá-me", etc.

E de novo: "Ra se pôs como Osíris com todos os diademas dos espíritos divinos e dos deuses de Amentet. Ele é a forma divina a forma escondida do Tuat, a Alma sagrada à testa de Amentet Ún-neter, cuja vida durará para sempre."68

p a l a v r Í T u e t e T ' à ^ ^ T o t a I§ ÍS ^ u a n d o I h e entregou as palavras que lhe fizeram reviver o marido morto, mas o melhor resumo dos benefícios feitos a Osíris por esse deu está num hin"

f d e d d o - 0 - U n £ f e r ' ° n d e 5 6 P 0 e m e s t a s P ^ v r a s na boca do

estava^ "sentado S f * 0 * * 0 é, o So.

brava-se a í r S p t t í u r o ^ ° ^ S ° b r e a ^ — cele-

fiS4' v i U ™ ° n d e m e d r a - 0 mundo inferior. 66: l ! l Í T m o f n s F o r t h b y D a y - p á g - 3 3 4 -

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' « ' •• • i ' ' "Vim .a ti, o filho de Nut, Osíris, Príncipe da perpetuidade;

estou no'séquito do déi^ Tot e rejubilei-me com tudo o que ele fez por ti. Infundiu ò ap- fragrarite no interior das tuas narinas e vida e força no teu belo rosto; e trouxe o vento norte, que vem de Temu, para as tuas narinas, ó senhor de Ta-tchesert. Fez que o deus Xu brilhasse áobre o teu 'corpo; iluminou-te o caminho com raios de luz;,destruiu para ti as faltas e defeitos dos teus membros pelo poder mágico das palavras ide sua boca; fez que Set e Horo permanecesjsçm

|em pazl por amor de ti; destruiu o vento de tempestade e o furacão; .obrigou os dois còmtiatentes (isto é, Set e Horo) a serem gratiosos e as duas, terras a''estarem em paz diante de ti; acabou com a cólera que havia em seus peitos e cada qual se reconciliou com o seu irmão (isto é, tu mesmo). . i

"Teu filho Horo triunfa nk presença da plena assembléia dos deuses,, foi-lhe outorgada a soberania sobre o mundo e o seu'do-mínio se estende até | às partes mais remotas da terra. O trono do deus Seb lhe foi concedido, juntamente com a posição criada (pelo deus Temu,' estabelecida por decretos [feitos] na Câmara dos jAr-quivos e inscrita nu'ma' tabuinha de ferro de acordo com as ordens !

de teu pai Ptá-Tanen quandp se assentou no grande trono. Instalou seu irmão sobre o 'que o dkis Xu sustenta (isto é, os céus), para estender as éguas sobre as montanhas, fazer surgir o que cresce tias colinas e o grão (?) que brota na terra, e dá proventos por água' e por terra. Deuses celestes e deuses terrestres transferem-se pata o serviço de teu filho Horo e seguem-no até à sua sala [ondp] se expede W decreto pelo qual ele será o senhor e eles lhe farão 'í||a vontade] num abrir e fechar de olhos. , ;

"Rejübile-se ,o ''tpu coração, o senhor dos deuses, rejubilejse grandemente; o Egito e a Terra Vermelha estão em paz e serveta, humildes, sob o teu ppder solberano. Os templos estão instalados sobrei suas próprips (terras, cidades e nomos possuem, em segurança; os bens que' têm em, seus nomes, e far-te-emos as divinas oferendas que somos obrigados,a fazer, e' ofereceremos sacrifícios em teu nome para,sempre. Aclamam-te o nome, fazem-se libações para o,teu CA, refeiçpes sepulcrais [té são trazidas] pelos espíritos da tua comitiva! e asperge-se á g u a . . . de cada lado das almas dos mortos nesta terra! Completaram-se 'todos os planos decretados para ti por ordem de Ra de,sde o principie). Agora, portanto, ó filho de Nut, és coroado como se coroa Neb-ertcher| ao nascer. Vives, estás instalado, renovas tua juventude e és verdadeiro e perfeito; teu pai Ra fortifica ,teus membros e a companhia dos deuses' te aclama. A deusa Isis está

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contigo e nunèa te deixa; [não és] jderru Md o pelos teus inimigos. Os senhores de todas as terras exaltam-te a formosura, como exaltam Ra quando nasce no princípio de cada dia. Elevas-te' como 'um ser exaltado sobre o teu pedestal, tua, formosura ergue' o rqsfo iÇdo .ho-mem] e alonga-lhe os passos. Fòi-te outorgadaí a soberania do' teu pai Seb e a deusa Nut, tua mãé, que pariu os,, deuses, deu-te à luz como o primogênito de cinco deuses, criou j tiila. beleza e |afeiçooU teus membrosj. Estás consolidado 'comlo rei, a coroa branca adorna-te a cabeça & empolgaste com as mãos o bastãq»1 e o açoite; enquanto estavas no ventre, e ainda não havias saído <Je Impara o mundo, foste coroado senhor das duas terras, e a corqa 'jfítef' de Rai te ornava la, testa. G)s deuses vêm a ti inclinando-se profundamente até ao chão,'

i e temem-te; recuam e partem quando te vêe^ com o tei±or de Ra, e a vitória de tua Majestade está em seus 'corações. Tens ' a vida contigo, e oferendas de comida e bebida te aco'ippanham, e o que1' te é devido se oferece diante do te.u rosto." , 1 !

Num parágrafo de outro hino mais ou-mènos semelhante descrevem-se outros aspectos de Ósíris e, deptoià, 'das palavras "Ho1

menagem a ti, ó Governador dos que estão em |\mentet", chamam-lhè , o ser que "dá à luz homens e mulheres pel^lsegunda yez",67 istò,'é, "que faz que os mortais nasçam de novo". Como todo o1 parágrafo se, refere a Osíris "renovando-se" e fazendo-se, "jovem como Ra , todos os dias", não pode haver dúvida de que. a ressurreição dos,'1

mortos, a saber, o seu nascimento para uma rtova vida, e ò qúe tem,; em. mente o ajutor quando fala no segundo nascimento de homens e mulheres. Por essa passagem podfemos vetf1 também que Osíris se !

tornou o igual de Ra e deixou de ser o deus dos mortos para ser o deus dos vivos. De mais a mais, na ocasiã^ em que, os extratos acima foram copiados, não só se presumia que Osíris ocupava a ppsição anteriormente ocupada por Ra, más também que seu filljio Horo, gerado após a sua morte, era reconhecido, em virtude da vi-tória sobre Set, como herdeiro e sucessor de Osíris. E i ele não só ; sucedeu à "posição e dignidade" de seu pai Osíris, ma^ também, como "vingador do pai", atingiu, aos pouco?, la posição pèculiar de intermediário e intercessor em favor dos filhos dos homens. Assim, na Cena do Julgamento, conduz o falecido à precença de Osíris e roga ao pai que faculte ao falecido o gozo dos' benefícios gqzados por todos os "verdadeiros de voz" e justifi'cadols no julgamento. E p.| egípcio acreditava que um apelo dessa natureza feito a Osíris, em

66-A. Veja Chapters of Corning Forth by Day, pág. 342. 67. As palavras são mes íememu em nem. <

presença de Isis, pelo filho nascido em circunstâncias tão notáveis seria fatalmente deferido; pois o filho gerado após a morte do corpo do pai era, naturalmente, o melhor advogado para o falecido.

Mas conquanto prevalecessem, de um modo geral, durante a XVIII dinastia (por volta de 1600 a.C.), tais idéias exaltadas sobre Osíris é sua posição entre os deuses, há indícios de que alguns acre-ditavam pudesse o corpo decompor-se, apesar de todas as precauções, pelo que era necessário fazer um apelo especial ao deus a fim de evitar esse desastre. A notável oração que se segue foi encontrada, pela primeira vez, escrita numa atadura de linho, que envolvera a múmia de Tutmósis III mas, a partir desse tempo, o texto, hiero-glífico, foi encontrado inscrito no Papiro de Nu,68 e figura no recente papiro preservado em Turim, que o finado Dr. Lepsius -pu-blicou em 1842. Esse texto, agora geralmente conhecido como o Capítulo CLIV do Livro dos Mortos, intitula-se "Capítulo de não deixar que o corpo pereça". Inicia-se o texto com as seguintes pa-lavras: —

"Homenagem a ti, ó ireu divino pai Osíris! Vim procurar-te para que embalsames, sim, embalsames meus membros, pois não quero perecer e chegar ao f m, [mas quero ser] como meu divino pai Quépera, cujo divino tipo nunca viu a corrupção. Faze, pois, que eu tenha o domínio da minha respiração, ó senhor dos ventos, que enalteces os seres divinos como tu. Consolida-me e fortalece-me,

I ó senhor da arca funerária. Concede que eu entre na terra da pere-nidade, como te foi concedido a ti, e a teu pai Temu, 6 tu cujo corpo não conheceu a corrupção, ó tu que jamais conheceste a corrupção. Nunca fiz o que detestas, antes proferi aclamações com os que amaram o teu CA. Nío ' permitas que o meu corpo se trans-mude em vermes, mas livra-me [deles] como tu mesmo te livraste. Suplico-te, não me deixes cair na podridão como deixas os deuses, as deusas, os animais e os reptis conhecerem a corrupção depois que a alma deles se aparta após a morte. Pois quando a alma se vai, o homem conhece a corrupção e os ossos do seu corpo apodrecem e tornam-se totalmente nojentos, os membros se decompõem em pe-daços, os ossos se desfazem em massa inerte, a carne se converte em líquido fétido e ele se torna irmão da decomposição que o salteia. E transforma-se numa infinidade de vermes, e se demuda numa massa de vermes, e chega ao fim, e perece à vista do deus Xu, como acon-

68. Museu Britânico, n.° 10.477, folha 18. Publiquei o texto no meu Chapters of Corning Forth by Day, págs. 398-402.

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tece com todos os deuses, deusas, aves emplumadas, peixes, seres rastejantes, reptis, todos os animais e todas as coisas, sejam quais forem. Quando os vermes me virem e conhecerem, deixa-os cair sobre seus ventres, e que o medo de mim os aterrorize; e assim seja com todas as criaturas após a [minha] morte, quer se trate de animal de pássaro, de peixe, de verme ou de réptil. E da morte surja a vida.' N ã o permitas que a ruína causada por qualquer réptil dê cabo [de mim], e não permitas que eles venham contra mim em suas várias formas. Não me entregues àquele carniceiro que mora em sua câ-mara (?) de torturas, que mata os membros do corpo e os deixa apodrecer, que provoca a destruição de muitos corpos mortos, ao passo que ele próprio permanece escondido e vive da chacina- con-sente que eu viva e execute sua mensagem, e faça o que ele ordena. Não me entregues aos seus dedos e não deixes que ele ganhe domínio sobre mim, pois estou sob as tuas ordens, ó senhor dos deuses.

"Homenagem a ti, ó meu divino pai Osíris, tens o teu ser com os teus membros. Não apodreceste, não te mudaste em vermes não te tornaste em corrupção, não te putrificaste e não te desfizeste em vermes.

E o falecido, identificando-se com Quépera, o deus que criou Osíris e sua companhia de deuses, diz:

XT- " S ° j ° d e U S Q u é P e r a > e m e u s membros terão existência eterna. Nao apodrecerei, não me decomporei, não me putrefarei, não me transformarei em vermes, não conh :cerei a corrupção sob os olhos do deus Xu. Terei o meu ser, terei' c meu ser; viverei, viverei; germi-narei, germinarei, germinarei; desper.arei em paz. Não me putrefarei-minhas entranhas não perecerão; não serei ferido; meu olho não' apodrecerá; não se desfará a forma do meu semblante; meus ouvido^ nao se tornarão surdos; minha cabeça não será separada do meu pescoço; a língua não me será arrancada; ninguém cortará meus ca-belos; minhas sobrancelhas não serão raspadas, e nenhum ferimento sinistro me será produzido. Meu corpo, consolidado, não cairá em rumas nem será destruído nesta terra."

^ A julgar pelos textos acima citados, podemos pensar que alguns egípcios esperavam a ressurreição do corpo físico, e a menção dos vários membros do corpo parece corroborar esse ponto de vista Mas o corpo cuja incorruptibilidade e imortalidade são afirmadas com tantas energia e o SAHU, ou corpo espiritual, que passava a existir ao sair do corpo físico, transformado graças às orações recitadas e às cerimonias realizadas no dia do sepultamento, ou no dia em que

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foi depositado no túmulo. É interessante notar que não se faz rrenção de coipidft ou bebida no Capítulo CLIV e a única coisa que o fa-lecido afirma ser necessária à sua existência é o ar, que obtém através do deus1 Temu, o deus sempre retratado em forma humana,, aqui. mencionado em seu aspecto de Sol noturno, em contraste com. Ra, o Sol diurno, visando 'a fazer uma comparação entre a morte d-iái;ia do Sol e a' morte do falecido. Já se mencionou o depósito em Abido da cabeça do homem-deus Osíris e era comum em todo o Egito a crença de que el,a ali' se conservava. Mas no texto acima, diz o falecido: "Minha (cabeça não será separada do meu pescoço", o 'que 1

parece indicar que ele desejava manter intacto o seu corpo, múfto • | embora Osíris, todo-poderoso, pudesse restaurar os membros è re-constitqir o corpo, como fizera com seus próprios membros e Corpo,, feitos em pedaços pbr Set. O Capítulo XLI1I do Livro dos Mortos'68

tambénji traz importante referência à cabeça de Osíris. Intitula-se j "Capítulo de não dekar que a cabeça de um homem lhe seja déce-pada no mundo inferior", e deve ter considerável antigüidade. Nele diz o falecido: "SQU O Grande pno , filho do Grande Uno; sou Fqgo, :i' filho do Fogo, a qüeni foi devolvida a cabeça depois de decepada. A cabeça de, Osíris^ não lhe foi tirada, não deixes, portanto, que à ''do falecido lhe seja tirada. Juntei minhas partes úmas às outras (ou reconstitui-me); fizí-me inteiro e completo; renovei minha juventude; 'sou Osíris, o senhor1 da, eternidade."

Do que acima fica dito colhe-se que, de acordo com uma versão da história de OsirfS, a sua cabeça não somente foi cortada, senão que também passou pelo fogo; e se for muito antiga, como prova-velmente é, essa vprsão nb^ leva de volta aos tempos pré-históricos do Egito, quando se tnutilavam e queimavam os corpos dos mortos. Supõe o Prof. Wiedemann 70 que a mutilação e o despedaçamento dos cadávères resultavam da crença de que, para o CA, ou "duplo", deixar e^ta terra, era mister despedaçar o corpo a que ele pertencia; e o professor ilustr1^ a sua hipótese com o fato de objetos de toda casta seirem quebrados na ocasião em que se colocavam nos túmulos. Ele também registra1 uip costume efêmero nas sepulturas pré-histó-,ricas do Egito, qnde, parece que se misturavam os métodos de en-terrar o corpo ihteiçó e eni pedaços, pois conquanto em algumas o corpo foi quebrado, é evidente que se fizeram tentativas bem-suce-didas para recoijistjtuí-|lo, colocando os pedaços, o quanto possível, nos lugares' apropriados. E pode ser a esse costume !que se faz refe-

69. iVeja The Chapters of Coming Forth by Day, pâg. 98. i 70. Veja J. de Morgan, Ethnographie Préhistorique, pâg. 210.'

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rência em vários lugares do Livro dos portos,, quando o falecido 'declara haver reunido seus memb|ros "e tornádo seu corpo inteird 'outra vez", e quando, já na V dinastia o Rei Teta é assim inter-ipelado — "Ergue-te, ó Teta! Recebeste tua, cabeça, juntaste teus ossos,71 reuniste teus membros."

; 1 i I , Investigou-se a história de Osíris, deus'da ressürreipão,, desde

c s teijnpos mais primitivos até o fim do período do domínio, dos sa--|cèrdotes de Amon (cerca de 900 a.C.), ocasião em que: Amon-Ra foi introduzido entre os deuses do njundo inferior e se faziam orações Ç ele, em certos casos, em vez de se fazerem f Osíris.' A partir desse momento manteve Amon essa posição'destacada e, no período ptole-ípaico, num discurso endereçado ao finado .Qüeraxer, lemos: "Teu. rosto brilha diante de Ra, tua alma viie diante dé Amon, e teu corpo s^ renova diante de Osíris." E' também se1 dfsse: "Amon está junto dè ti para fazer-te viver outra vez. . . Amon vai a ti com o sopro

ida vida e faz-te respirar dentro de tua casa| funérea." Apesar disso, porém, Osíris manteve e conservou a posição' inais elevada na mente dos egípcios, do princípio ao fim, como o homem-deus, ser divino' ehumano a um tempo; e nenhuma invasão estrangeira,' nenhum dis>-túrbio político ou religioso, nenhuma influência eventualmente exer-cida por algum povo de fora sobre, os egípcioà consegúirairi fazê-los considerar o deus como algo menos qlie a tfausá,, o símbolo e o ti,po dal ressurreição e da vida eterna. Durante cerda de cinco mil anos npmificaram-se os homens à imit3ção da forma mumificada de Osí-ris; e eles foram para os seus túmulos crenieside que1 seus .corpos venceriam os poderes da morte, o pimulo e a decomposição,' porque Osíris os vencera; e alimentavam a esperánça; de ressurreição' num corpo imortal, 'eterno e espiritual, porque Osíris' se erguera numi corpo espiritual transformado, e subira ao'céu, 'onde se, tornara ,'rei e ijuiz dos mortos, e ali alcançara a Vida jèterna.' !

, _ A principal razão da persistência do, cúltõ, de Osíris no Egito' foi, provavelmente, o prometer elé assim a ressurreição conio a vida eterna 1 aos fiéis. Mesmo| depois de haver abraçado o criãtianismò, continuaram os egípcios a mumificar seus mortps e, por myito tempo ainda, a misturar os atributos do seu Deus e 'dos, seus "deuses" aos de peus Todo-poderoso e aos do (Cristo,. Por sú!a vontade, os> egípcios íhunca se afastaram da crença de 'que 1 é preciso mumificar o corpo para assegurar a vida eterna aos mortos,i mas,os cristãos, embora preguem a mesma doutrina da(ressqrreiçãy, derám um pàssò! a mais e

71. Recueil de Travaux, tom. v, pág. 40 (1.287).

insistiram em que não se fazia mister mumificar os defuntos. Santo Antônio, o Grande, rogou aos seus seguidores que não lhe embalsa-massem o corpo nem o guardassem numa casa, senão que o enter-rassem e não contassem a ninguém onde fora inumado, não viessem os que amavam tirá-lo da cova e mumificá-lo, como costumavam fazer com os corpos dos que eles haviam por santos. "Há muito tempo", disse, "venho suplicando aos bispos e pregadores que exor-tem o povo a descontinuar a observância desse costume inútil"; "e ajuntou, referindo-se ao próprio corpo: "No dia da ressurreição dos mortos eu o receberei do Salvador incorruptível".72 A divulgação dessa idéia desferiu na arte da mumificação o golpe de misericórdia, e embora, fosse por conservantismo inato, fosse pelo desejo de ter à sua beira os verdadeiros corpos dos mortos queridos, os egípcios continuassem, por algum tempo, a preservá-los como dantes, aos poucos se esqueceram as razões para mumificar, perdeu-se o conhe-cimento da arte, abreviaram-se as cerimônias fúnebres, as orações se tornaram letra morta e o costume de fazer múmias obsoletou-se. Com a morte da arte morreram também a crença em Osíris e o seu culto, passando Osíris de deus dos mortos a deus morto e, ao menos para os cristãos do Egito, seu lugar foi ocupado pelo Cristo, "as primícias dos que dormiram", cuja ressurreição e poder de assegurar a vida eterna estavam sendo pregados, nessa época, na maior parte do mundo conhecido. Em Os ris encontraram os egípcios cristãos o protótipo de Cristo, e nas gravuras e estátuas de Isis aleitando o filho Horo, distinguiram os protótipos da Virgem Maria e do seu Filho. Jamais encontrou o Cristianismo em qualquer outra parte do mundo um povo cuja mente estivesse tão preparada para receber-lhe as doutrinas quanto os egípcios.

Este capítulo pode ser apropriadamente rematado por uns pou-cos excertos dos Cantos de Isis e Néftis, entoados no Templo de Amon-Ra em Tebas por duas sacerdotisas que personificavam as duas deusas.113

"Salve, ó senhor do mundo inferior, Touro dos que estão aí dentro, Imagem de Ra-Harmachis, Infante de pulcra aparência, vem a nós em paz. Repeliste teus desastres, afastaste a má sorte; Senhor, vem a nós em paz. Ó Un-nefer, senhor da comida, chefe, 6 tu, cuja majestade é terrível, Deus, presidente dos deuses, quando inundas a terra [todas] as coisas são engendradas. Ês mais afável do que os

72, Veja Rosweyde, Vime Patrum, pág. 59; Life of St. Anthony, de Atha-nasius (Migne) , Patrologiae, Ser. Graec. tom. 26, col. 972.

73. Veja o meu Hieratic Papyrus of Nesi-Amsu (Archaeologia, vol. l i i ) .

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deuses. As emanações do teu corpo f izem viver os mortos e os vivos, ó senhor da comida, príncipe das ervas verdes, poderoso senhor! bordão da vida, dador das oferenda ; aos deuses e das refeições se-pulcrais aos mortos bem-aventurados. Tua alma voa para Ra, brilhas ao aurorecer, pões-te ao anoitecer, levantas-te todos os dias; elevar-te-ás na mão esquerda de Atmu para todo o sempre. És o glorioso, o vigário de Ra; a companhia dos deuses vem a ti invocando o teu rosto, cuja chama atinge teus inimigos. Nós jubilamos quando reúnes teus ossos, e quando inteiras teu corpo todos os dias. Anúbis vem a ti, e as duas irmãs (Isis e Néftis) vêm a ti. Elas obtiveram for-mosas coisas para ti, e reúnem teus membros para ti, e procuram juntar os membros mutilados do teu corpo. Limpa as impurezas que estão neles sobre nossos cabelos e vem a nós sem nenhuma lembrança do que te causou tristeza. Vem com o teu atributo de 'Príncipe da terra', deixa de lado a tua trepidação e está em paz conosco, ó Senhor. Serás proclamado herdeiro do mundo, deus Uno, realizador dos desígnios dos deuses. Todos os deuses te invocam! vem, pois, ao teu templo e não tenhas medo. ó Ra (isto é, Osíris) | és amado de Isis e Néftis; descansa em tua habitação para sempre."

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Capítulo III

i Os| "deuses" dos egípcios ' , " 1

1 , • Em todo este livro tivemos de referir-nos com íreqüência aos

"deuses^' do Egito; |CB|egou a hora de explicar quem eram e o que eram eles. Já tivemos ocasião de mostrar o quanto o lado monoteísta da,religião egípcia semelha a religião das modernas nações cristãs, e terá sjdó Surpresa para alguns que um povo, que possuía idéia^ tão aleVant^das d^ Deus como os egípcios, viesse a ser algum dia motivo de riso^ cqmo ele oi foi, mercê do seu suposto culto a uma multidão de "deuses" em várias fprmas. É verdade que os egípcios honravam grande Inúmero de deuses, um número tão vasto que só a lista dos seus nonies encheria 'um volume, mas é igualmente verdade que as suas classes cultas jamais colocaram os "deuses" no mesmo nível ide Deus e nunca imaginaram que suas opiniões sobre esse ponto pu-dessem pjér mal-interpiWdas.l Nos teinpos pré-históricos, toda aldeia-zinha ou cidade pequena, todo distrito e província e toda cidade grande tinham o sesjj de'us particular; podemos da:r mais um passo,ie dizer que 'toda famijia de alguma) riqueza e posição tinha o seu' pró-prio deus. A faníília rica escolhia alguém para servir ao deus e pro-ver às suas necessidades, e a família pobre contribuía, de acordo com os meios de qjile dispunha, para um 'fundo comum destinado1 a acudir às necessidades de moradia, vestuário, etc., do deus em tela. Mas o deus fazia {jante integrante ,da> família, rica ou pobre, e o seu destino estava praticamèqte ligado ao dela. A ruína da família acar-retava a ruína do', deusf e pèríodos de prosperidade resultavam' em oferendas ' abundantes, novas roupas, talvez um novo santuário, e coisas assim. Conquanto fosse um ser mais importante, o deus da aldeia poderia ser lçVado ao cativeiro juntamente com os demais ha-bitantes, mas depois de uma vitória dos seus fiéis numa incursão ou numa batalha ampli^aip-se as honras que lhe eram prestadas e lhe idavam nóvo destacjup ao renome .j"

Í ' : li ' .1 57

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( _ Aos deuses das províncias ou das cidades grandes, forçosamente, m a i o r e f Que os das aldeias e famílias particulares, dedicayamrse ca-sajs grandes, isto é, templos, onde se encontrava um número, consi-derável de divindades, representadas por estátuas. Às vezes, impu-taram-se^ os atributos de um deus a outro, às vepí! dois ou mqis deu-sès se "fundiam" ou uniam para formar um' terceiro, as vezes se importavam deuses de aldeias e cidades rembtás,1 e até de países es-trangeiros e, de longe em longe, uma Icomun^dadé ou Cidade repu-diava o seu deus, ou deuses, e • adotava um j fonjunto novinho em' folha de algum distrito vizinho. Desse modo,-o número idos numes estava sempre mudando, e a posição relativa das deidádes indi-viduais não cessava de alterar-se;' um deu:} Iócal,''hoje obscuro e quafee desconhecido, poderia transformar-se, graças a uma vitória nas armas, no deus principal de uma cidade, ao mèsmo terrípo que um deus adorado com abundância de oblatas e grandes cerimônias nurp mês Ipoderia mergulhar na insignificâhcia e Jorna^-se, para todos os efeitos e propósitos, um deus morto no1 mês sepuinte, Mas além doâ deuses da família e da aldeia haviam ainda demete nacionais, deuses dos rios e das montanhas, deuses da, terra e do,céu, todos os'quais, em conjunto, formavam um número formidável de seres > "divinos"! cüja boa vontade cumpria, assegurar e cuja má vontade urgia aplacar.' Além desses deuses, certos animais, por serem consagradps' a èlei, eram também havjdos por "divinos", e 'tantcjb o rçiedo quanto o amor levavam os egípcios a aumenta^ suas numero^s classes de numqs.

Os deuses do Egito cujos nomes nos são Conhecidos não repre-sentam a totalidade dos que foram concebidos péla imaginação egíp-cia, pois em relação a eles, como em, relação! a1 muita outra coisa,; funciona a lei da sobrevivência dcj> mais apto, , Nada'sabemos dos dèusés do homem pré-histórico, mas é| mais do que prdVável que alguns deuses adorados em tempos dinásticos1 representem, em forma modificada, as divindades do egípcio secagem1 ou semi-splvagem que lhe influíram na mente poí mais tempo, pasta-nos um èxemplo típico de um deus assim: J o ^ cujo emblema original era o macaco coin cabeça de cachorro. Em1 tempos mujto recuados devotava-se enorme respeito a esse animal em virtude da sua sagacidade, inteli-gência e astúcia;] e o egípcio simplório,, ouvindo-o tagarelar antes do nascer do sol e'xio ocaso, presumia que ele estava, de alguih modo, conversando com o astro-rei ou que lhe era intimamente lidado. Essa idéia aferrou-se-lhe à mente, e vamos descobrir! ,nos tempbs dinás-ticos! n a vinheta que representa o sol nascente, que os maçados, que dizem ser os abridores transformados das portas dd céu, formãm uma

verdadeira companhia dos deuses e, ao mesmo tempo, uma das mais notáveis características da cena. Assim sendo, uma idéia nascida nos tempos mais remotos passou de geração a geração até cristalizar-se nos melhores exemplares do Livro dos Mortos, num período em que o Egito se achava no zénite do seu poder e da sua glória. A espécie peculiar do macaco com cabeça de cachorro, representada em está-tuas e papiros, é famosa por sua astúcia, e foram as palavras por eles ministradas a Tot,, o qual, por sua vez, as transmitiu a Osíris, que permitiram a este último ser "verdadeiro de voz", ou triunfante sobre seus inimigos. É provavelmente nessa capacidade, isto é, como amigo dos mortos, que o macaco com cabeça de cachorro aparece sentado no topo do pedestal da Balança em que o coração do fale-cido está sendo posto em confronto com a pena simbólica de Maat; Ipois os títulos mais comuns do deus são "senhor dos livros divinos", "senhor das palavras divinas", isto. é, as fórmulas que permitem ao falecido ser obedecido por amig DS e inimigos no outro mundo. Mais tarde, quando Tot veio a ser i apresentado pelo íbis, seus atributos se multiplicaram e ele tornou-se o deus das letras, da ciência, da ma-temática, etc.jjna criação, parece ter desempenhado um papel seme-lhante do da 'sabedoria", tão formosamente descrito pelo autor dos Provérbios (veja o Cap. VIII, vv. 23-31).

Quando e onde quer que os egípcios tentassem estabelecer um sistema de deuses sempre constatavam que era preciso tomar em consideração os velhos deuses locais e encontrar um lugar para eles no sistema. Isso podia fazer-se incluindo-os em tríades, ou grupos de nove deuses, ora comumente denominados "enéades"; mas, de um modo ou de outro, eles tinham de aparecer. As investigações levadas a cabo nos últimos anos mostraram que deve ter havido diversas grandes escolas de pensamento teológico no Egito, cujos sacerdotes, em cada uma delas, faziam o máximo possível para proclamar a su-perioridade dos seus deuses. jNos tempos dinásticos houve, de certo, grandes colégios em Heliópolis, Mênfis, Abido e em um ou mais lugares do Delta, para não mencionar' as escolas menores de sacer-dotes, que provavelmente existiam em sítios de ambas as margens

1 do Nilo, de Mênfis para o sul. Das teorias e doutrinas de todas essas escolas e colégios, as de Heliópolis sobreviveram de maneira mais completa e, pelo exame atento dos textos fúnebres inscritos nos mo-numentos dos reis do Egito da V e da VI dinastias, podemos di-zer o que pensavam a respeito de muitos deuses. No princípio, o grande deus de Heliópolis foi Temu ou Atmu, o sol poente, a quem os sacerdotes locais imputavam os atributos que com razão pertencem

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i - f l t t ju^o ^ ^ KaAicÉpoK? - â . V ^ y » \u>-ff a

a R a , deus-sol diurno. Por uma ou outra razão, eles formularam a idéia de uma companhia de nove deuses, que foi cognominada a "grande companhia (paut) dos deuses", a cuja testa colocaram o deus Temu. No Capítulo XVII do Livro dos Mortos 7 4 damos com a seguinte passagem:

•k r "Sou o deus Temu em seu levantar; sou o Ünico. Nasci em Nu. Sou R a que se ergueu no princípio."

Vem depois a pergunta, "Mas quem é este?" E a resposta: "Este é Ra quando, no princípio, se ergueu ia cidade de Suten-henen (He-racleópohs Magna) coroado como un rei ao levantar-se. Os pilares do deus Xu ainda não tinham sido criados quando ele já estava em cima da escada do que assiste em Quemenu (Hermópolis Magna) " Por essas afirmativas verificamos serem Temu e Ra o mesmíssimo deus, primeiro filho do deus Nu, a massa aqüífera primeva, da qual nasceram todos os deuses. Mas o texto prossegue: "Sou o grande deus N u que pariu a si mesmo e fez existirem os seus nomes, que formaram a companhia dos deuses. Mas quem é este? É Ra, o cria-dor dos nomes de seus membros, nascidos na forma dos deuses que estão n a comitiva de Ra." E de novo: "Sou o que não é repelido entre os deuses. Mas quem é este? É Tem, o que mora em seu disco ou como outros dizem, é Ra quando se ergue no 'horizonte oriental do céu. Aprendemos assim que Nu foi autoproduzido e que os deuses sao os nomes dos seus membros; mas Ra é Nu e os deuses do seu séquito ou comitiva são meras personificações dos nomes dos seus membros. O que não pode ser repelido entre os deuses é Temu ou

/Ra, e assim chegamos à conclusão de que Nu, Temu e Ra são 'um único deus. Colocando Temu à testa da sua companhia dos deuses os sacerdotes de Heliópolis deram a Ra, e a Nu, um lugar muito honroso; lograram, inteligentemente, guindar o seu deus local à po-sição d e chefe da companhia mas, ao mesmo tempo, brindaram os deuses mais antigos com posições importantes. Dessa maneira ado-radores de Ra, para os quais o seu era o mais antigo dos deuses teriam poucos motivos de queixa quanto à introdução de Temu ná companhia dos deuses, e a vaidade local de Heliópolis estaria plena-

m e n t e satisfeita. F

M a s além dos nove deuses que fnrmavam a "grande companhia" de deuses da cidade de Heliópolis, b;via um segundo grupo de nove deuses denominado a "pequena companhia" dos deuses, e ainda um terceiro, também de nove deuses, que constituíam a companhia me-nor. Ora, se bem se esperasse que a paut, ou companhia de nóve deu-1

74. Veja Chapters of Coming Forth by Day, pág. 49.

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ses, contivesse sempre nove, este não era o caso, e o número nove assim aplicado é„ p o r . k z e s , enganoso. Existem diversas passaeens nos textos em que se enumeram os deuses de uma paút, e o número

, total se as vezes é de' nove, às vezes, é de onze. Explica-se fácil- V mente p fato: basta-nos lembraiLque os egípcios deificavam as vá-" a ? / ? r i n £ ? : ™ L a s | ^ õ s T n n F ^ r ~ o u a s váriaT!ãsês~dê~lsuã~vida Destarte, o j o T p o e n t e , , phamado Temu ou Atmu, e õ sol nal^íTtei chamado Quepera, e o Uol do meio^dia, chamado Ra, 'eram três!Si-mas do mesmo deus; e se qualquer uma delaslosse incluída numa :

\paut, ou companha de move dquses., as outras duas também o seriam ptor imphcaçao, mesmo1 que a paut passasse a conter, nesse caso, on-ze em lugar de nove deuses. Do mesmo modo se supunha que as vá-'has formas de cada ,deus, ou deusa, da paut figuravam nela, por maior que i viesse a tornasse o número total dos deuses. Não devemos portanto, jmagmar que ap três companhias de deuses fossem limita-das em numbro a 9 x 3, ou vinte e sete, ainda que o símbolo de deus figurasse ,vinte e setjè vqzes nos tectos. , ,Já aludimos ao grande número de deuses conhecidos dos egíp-

cios, mas não será diíípiHimaginar que apenas os que lidaVam com o destino do homemj aqui e na, outra vida, obtinham o culto e a reverenciai do povo. Epte^ eram em número relativamente limitado e na verdade, pode dizet-se que consistiam nos membros da grande companhia de deuses db 'Heliópolis, o que quer dizer, nos deuses pertencenlps ,.4o gelo de Osíris. Que podem ser brevemente de ic r i fe daiseguime i malei ta:

L ffi^17'- Í S t° é ' 0 " f e c h a d ° r " do dia, exatàmente h Z r H f 3 ° , a 5 n o r ld 0 d i a ' N a h i s t ó r i a d a ele declara Que é o6 . S i ? ' ? 5 a f 0 r ™ d 0 d e u s Q u é P e r a e> hinos, diz-se que e o fazedor dos 'deuses", o "criador de homens", etçj Usurpou , a posição de Ra en t r e i s ,deuses do Egito: Sey culto já devia ser muito1

antigo ao tempo dos reis da V dinastia, pois sua íorma tradicional e a de umjihomem daquele tçmpo.1 1

r e t l ^ n t ; f Í n ? 0 g ê n Í t ° , 6 T e m U ' c o n s o a n t e uma lenda, saiu di-u Z Z r r t - d e f ' e ' . c o n á o a n í e oVtra, da deusa Hator, sua mãe; e ,i uma terceira/lenda a f i ^ a ser èle fi|ho de Temu e da deusa I u s a s k Foi ele quem abriu cabinho.entrç os deuses Seb e Nut e ergueu esta uhima para formar o céu, crença essa comemorada pelas figuras do,

Í s c o d U n \ 0 , r ' P r e S e n t t m L m n U m e a e r S u e r " s e d a t e " a com o d sco,do sol nos ombros. Como potência da natureza, tipificava a luz e, em pe, np topo de Uma escada é p Hermópolis Magna," er-

75. Veja . acima, págs. 49 le 59j I l' , • 1

i , ' 61

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guia o céu e sustentava-o durante o dia. Para 'ajudá-lo qesse traba-lho, colocava um pilar em cada um dos (pontos cardeais, de,sqrte q^e os fsuportes de Xu" são os esteios do céu. J. j • 1 ,, ; (

1 , j 3. TEFNUT era irmã gêmèa de Xu; como potênéia, da natu- '

rçza, tipificava a umidade ou algum aspecto : do calor do > sol mas, como divindade dos mortos, parece ter estado, |de certa maneira, as-sociada ao fornecimento de bebida ao falecido. Seu irmão Xu era o • olho direito 'de Temu e ela, o esquerdo, ist,ô é, Xu representava un? aspecto do Sol e Tefnut, um aspecto da Lua. <ps deuses Temu, ^Cu e ' Tefnut formavam, assim, uma trindade e,j na história da criação, 1 • depois de haver descrito o modo com que Xu e Tefnut saíram dele,

I diz o deus Temu: "assim, sendo um deus, fornei-me três". J í 4. J j £ J 3 era filho do deus Xu. Chamaim-ttie o "Erpa", isto é,

"chefe hereditário" dos deuses e "pai dos deuses",, sendo, estes, na-turalmente, Osíris, Isis, Set e Néftis. Originalmente deus da terra, passou a ser, mais tarde, um deus dos mortos, representando a terra em cujo seio os jmortos eram depositados. ,Uma lenda identifica-oj com o ganso, o pássaro que, em tempos mais jrécentes, lhe foi con-sagrado", e ele é amiúde denominado o "Grande Cacarejador", em alusão à idéia de que fez o ovo primevo do qual,surgiu o inundo. T1

T5. NUT, esposa de Seb e mãe de Osíris, Isis1, Set e Néftis, originalmente personificação do céu, representava o princípio femi-j' nino ativo na criação do universo. De acordo, com uma• velnai teoria,| Seb jé Nut existiam no abismo aqüífero primevo ao lado 'de Xu e' Tefnut; mais "farde, Seb passou a ser a terra ei Nut, o céu. Supunha-se que essas divindades se uniam todas as noites e permaneciam abra-çadas até a manhã, quando o deus Xu as separava e colocava a deusa do céu sobre os seus quatro pilares até à noite., Considérava-se Nut, naturalmente, mãe dos _deuses e de todas ap coisas vivas, e ela e seu marido Seb eram tidos como os dadòres de comida, não só aos vWos ' mas também aos mortos.^ Se bem circulassem no Egito opiniões dife-rentes quanto à exata localização do céu dos mortos bem-avénturados, • todas as escolas de pensamento em todos os períodos situavam-no em certa região do firmamento, e as copiosas alusões, ericontradas1

no? textos, aos corpos celestiais — isto,é, ao sol, à lua e às estrelas; — ;Com as quais moravam os defuntos, provahi qúe a habitação final' das almas dos virtuosos não ficava na tferra.^A deusa Nut é, às ve-i zes, representada como uma f ên i ea_aQLl .onRQ_^g_çu io corpo viaja o' ' i

j io l e, às vezes, como uma vacada árvore que lhe fora, consagrada era ò sicômoro. 1 1

6. A história de£oSIRIS, filho dé Seb e cie NutJmarido de Isis. e pai de Horo, é narrada em outro lugar deste livro de modo

tao completo que basta aqui fazer-lhe breve referência.! Havido nor homem embora de origem divina, vivia e reinava como r d na t e m quando foi traiçoeiramente assassinado pelo irmão, S? t% eS como cortado em catorze pedaços, espalhado pelo Egito; depois da suá morte, uühzando fórmulas mágicas que lhe dera To Isis conseeSu faze-lo voltar à vida e ele gerou um filho chamado' S r o q S o Horo cresceu, empenhou-se num combate com Set, venceu-o e as-

, r o r S T S6U P f ;- P ° r m e ! ° d e f ó r m u l a s m ^ c a s fornecidas por I Tot Osiris reconstituiu e revivificou seu corpof passando a ser o

S a i S S U e r r d Ç ã 0 H ° S í m b 0 l ° d a Í m o r t a l Í d a d V e r a também a eSpe-S - J

c d e u s d 0 S m o r t o s provavelmente até em tempos pré-

dmasticos. Em certo sentido, foi uma divindade solar e o r i S m e n t e parece ter representado o sol de ,ois que este se punha mas é tamSm identficado com a lua . jNa XVIII dinastia, contídò já se S u a t

f o r t i t S d r 6 ' ° S a t r Í b U t 0 S ^ D C U S C d e t 0 d 0 S ° S

1 7. esposa de Osíris e mãe de Horo tinha mmn ri«,.,« da natureza um lugar no barco do sol no instante da c r S quan do, provavelmente, tipificava a j u r o r a . Em razão do seu bom S o no revivifiçar o c o r p o _ d o m a r . d F l ^ r meio da pronunciacão l ^ ó r mulasmágicas é c h a n ^ ^ f f i õ l j ^ ^ grinaçoes em busca do corpo de Osíris, a ^ r i i t i i T q u e sendu ao da a luz e ao criar seu filho no pântanos de papiros do Del a e a perse gmçao que sofreu às mãos dos inimigos do marido, con kuem aísun to de muitas alusões nos textos de todos os períodos. PossS vários aspectos, mas um dos que mais encantaram a? imaginação dos eSp cios foi o de "divina mãe"; nessa qualidade, milhares de estátuas S -

~ " o e ? h r a d a > a m a m e n t a n d ° ° f Í l h ° ' H 0 r ° ' que ela segura

^ S i S S S S ^ O A S I ? O Aroeuns dos gregos. Set representava a noite, ao passi que Ho°o representava o dia. Cada um desses d e u s e s ^ c u t o u m u i t o s s e ^ s o " " : 6 2 3 / ™ 3 / 0 5 3 P , a r a 0 8 m o r t o s e ' outros, ergueu e segu-

rou a escada pela qual os falecidos subiam desta terra para o c R ajudando-os a escalá-la. Num período subseqüente, t odav í , as S moe, dos eg,pcios tocantes a Set se modificaram l o g o depois do

por ba°se oO SnomeCÍ a m ;d O S " S e t Í " Í S t 0 é ' ^ U e , e s CUÍ0S - - e S a m por base o nome do deus, tornou-se a personificação de todo o mal de tudo o que é horrível e terrível na n a l ^ V o m õ W ^ S l o o deserto em sua mais desolada forma, a borrasca e'a^empesTa^e,'

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etc. Como potência da natureza, estava sempre em guerra com Horo o Antigo, vale dizer, a noite estava sempre em guerra com o dia em_busça_da_supremacia; ambos os deuses, no entantõT'provinham da mesma fonte, visto que as cabeças de ambos, numa cena apa-recem unidas ao mesmo corpo. Quando Horo, filho de Isis, cresceu batalhou com Set, que assassinara Osíris, seu pai, e venceu-o; em inúmeros textos, as duas lutas, originalmente distintas, se confundem como também se confundem os dois deuses Horo. A vitória dê Horo sobre Set no primeiro_janflitQj£pjficava apenas ã~vTtória do dia sobre a noite, mas a derrota de Set no segundo parece ;er sido entendida como a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o m d . O símbolo de ^S6TêrãHim~ãM5ig1^hm->a^ COm a de um camelo, mas ainda não satisfatoriamente identificada; as figuras do deus não são comuns, visto que os egípcios as destruíram em sua maioria, quando mudaram de opinião a respeito de le . n

N E F T I S - i r m ã de Isis e sua companheira em todas as peregrinações e dificuldades, tinha, como ela, um lugar no barco do Sol no momento da criação, quando provavelmente tipificava o cregusculo ou a sobretarde. Era, segundo .reza a lenda, mãe de Anúbis, nascido da sua união com O s í r i s n o s textos, pôrSmTse declara que o pai de Anúbis é Kai Nos papiros fúnebres, nas esteias etc., Néftis sempre acompãnEã~IsTs~em suas ministrações aos mortos e, assim como assistiu Osíris e Isis a derrotar a maldade do próprio m a n d o (Set), assim assistia os falecidos a superar os poderes da morte e do túmulo, 7

Temos aqui, portanto, os nove deuses da divina companhia de Heliopolis, mas não se faz menção alguma de Horo, filho de Isis que desempenhou tão importante papel na história de seu pai Osíris' e nada se diz a respeito de Tot; esses dois deuses, porém, são in-cluídos na companhia em vários passos do texto e pode ser que a omissão deles seja o resultado de um erro do escriba. Já demos os principais detalhes da história dos deuses Horo e Tot e só nos falta agora nomear rapidamente os deuses principais das outras companhias.

N U , "pai_dos_deuses", progenitor da "grande companhia dos deuses , era amassajãgjíiífera primeva, de onde procederam todas as coisas.

PTÁ, um dos mais ativos dos três grandes deuses que puseram em ação as ordens de Tot e deram expressão, em palavras, à von-tade d o Poder criador primevo, aut xr iado, era uma forma de Ra

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o deus-soj, como, "Abridor" do dia. Infere-se de certas alusões constantes do"" Livro | dos Mortos que ele "abrira a boca" 76 dos deuses, e foi' nessa capacidade que se tornou um deus do ciclo de Osíris. Seu equivalente fbminino era a deusa SEQUET, e o tetceirp membro da tríade encábeçada por ele era NEFER-TEMU. I,

PTÁ-SEQUÈR e o deus duplo formado pela fusão de Sequel, nome egipciano da encarnação do Boi Apis de Mênfis, com Ptá.

PTÁ-SEQUER-AUSAR, três deuses em um, simbolizava a ' vida, a morte e a ressurreição. i'

CNEMU, 1 um dos velhos deuses cósmicos, ajudava Ptá a, i cumprir] as ordens de Tot e deu expressão verbal ao Poder criafivo !• primevo; descrevem-no como "autor das coisas que são, origeAi das coisas icriadas, pai dos pais e mãe das mães". Foi ele quem,1 a "| crermos numa lenda, modelou o homem numa roda de oleiro^ !

QUEPERA, velho deus primevo e o tipo da matéria que cóni-tém em si o germe d^ vida dm vias de rebentar numa nova exis-j tência, representava o corpo morto do qual estava prestes a surgir ' J). corpo espiritual. iPintadp na forma de um homem com cabeça1

dp besouro, fez que èsse inseto se tornasse o seu emblema porque p supunham autogerado e autoproduzido. Até nos dias atuais certos habitantes do Sudão moém o escarabeu, ou besouro, seco e bebem-nb, com água, crentes de que ele lhes prodigalizará numerosa pro-génie. O nome "Quépera" significa "aquele que rola", e quando se toma em consideração o hábito que tem o inseto de rolar a sua bola cheia de ovos, j tornk-se aparente a propriedade do nome. À proporção que a bola de ovos vai rolando, os germes amadurecei!} e explodem, em vidas; e à proporção que o sol rola pelo céu emi-tindo luz, calor e, com eles, vida, as coisas terrenas são produzidas e adquirem existência.

RA era, provavelmente, o mais velho dos deuses adorados no EgitolT|Seú| nome pertence a um período tão remoto que já não , Se lhe conheçe o significado. Emblema visível de Deus em tódos os períodos_era o deus desta terra ao q u a f l ê " faziam diariamente" ofe-rendas e sacrifícios; o tempo principiou quando Ra apareceu acima do horizonte, no momento da criação, em forma de Sol, e a vida do homem tem sido Comparada ao seu curso diário desde uma data assaz remota. Supunha-se, que Ra velejasse pelo céu e m dois barcos, o b a r c o ' A T E t ou MATET, em que viajava desde o nascer do sol

, 76. "Que o deus Ptá ,abra minha boca"; "que o deus Xu abra minha bcjica com1 o séu instrumento de ferro, com o qual abriu a boca dos deuses" (Cap. XXIII) . | |

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I m i

i até ao meio-dia, e o barco SECTET, e in'qye viajava 'desde

S S ^ W » P Ô r " d ° ' S 0 L A ° n a S c e r ' e r a a t ^ a d o Por Apep P C °

deroso dragao ou serpente, tipo do mall e das trevaá, e combatS d e X n V t q U e 0 5 d 3 r d 0 S a r d e m e S q U e ^ c a r r e g a ^ no corpo aue s S l í a r S ' C T m - 6 - q U C Í m a V f m ' n t e ' r a m e n t e ; os demônios que serviam o terrível inimigo eram I também destruídos pelo fogo e ?eus corpos cortados em pedaços. EncoAtra-se uma repetição dessa historia na lenda da luta entre Horo e Set, qué em ambls as foiSas?

I J l ? , 0 n g l i ; a I m e n t e a I u t a s e supunha traVar-se, todo I o dias, entre a luz e as trevas, Depois, entretanto, quando Osíri

usurpou a posição de Ra, e Horo representava um p o t e d i J S o V e s t e a vingar a morte cruel do pai, e o agravo queP lhe fora feho a , concepções m o r i s do certo e do errado, ; d p bem e do mal da

H o r o e a Se t . ^ ^ * ^ ^ ^ » ^ o u t j a / *

V i s t 0 i g L ^ L Q , "Pai dos deuses", nada mais natural aue cada e quê- ele Y e p F e i - é S S g d a um

g ^ d e u s e s . B ^ O ^ g õ ^ fato rtos fornece um Hino" a Ra

d ° a n ° 1 3 7 0 " a - , C ' C d ° * * * * *

q U e e n t r a S naSi

' i s c o n d e n i n ^ A ^ K 5 ^ 3 5 ' rÓ R a ' e x a l t a ^ ' P o d e r , que , entras no esconderijo de Anúbis, vê [teu] corpo é Quqpera. • 13 "Louvado sejas, ó Ra, exaltado Poder, cuja i vida tem

,maior duraçao que a das formas ocultas, vê, [teu] corpo é Xu.

1 ié'Tefmit " L ° U V a d ° s e j a s ' ó Ra> e x a l t a d o P o d e r . . . vê [teu] corpo'

, 1 5 . "Louvado sejas, ó Ra, exaltado Poder; 'que produzes coisas' Verdes em sua época, vê [teu] corpo é Seb.

N 16. "Louvado sejas, ó Ra, exaltado Poder,' poderoso ser que Julgas,. . . ve [teu] corpo é Nut. , , ,

' c j p p o é í s i s L 0 U V a d ° S e j a S ' Ó R a ' e x a l t a d 0 S o d e r > ' s e n h ° r - • • vê [teu]

' • , 1 8 . "Louvado sejas, ó Ra, exaltado ,Poder, cuja • cabeça dá luz ao que esta diante de ti, vê [teu] corpo é, Néftis.

hro, " L o U v a d o f i a s ' ó R a - exaltado Poder, origem dos mem-

corpo é mHoS;oqUe £S 6 t r a Z é S à 1UZ Q q U S f 0 i g e r a d 0 ' v ê [ t e u >

6 6 ,

20. "Louvado sejas, ó Ra, exaltado Poder, que habitas nas profundezas celestes e as iluminas, vê [teu] corpo é Nu . " 7 7

Nos parágrafos que se seguem identifica-se Ra com grande numero de deuses e personagens divinos, cujos nomes não ocorrem com tanta frequência nos te> tos quanto os já nomeados e, de um modo ou de outro, os atributo; de todos os deuses lhe são imputados Na ocasião em que o hino foi escrito é claro que o politeísmo, e não o pahteismo, como querem alguns, estava em ascensão, em que pese o fato de estar sendo o deus tebano Amon gradualmente for-çado a! assumir o primeiro lugar das companhias de deuses do fcgito, topamos, em toda a parte, com a tentativa de enfatizar a tese de que cada deus, estrangeiro ou nativo, era um aspecto ou forma de Ra.

O deus Amon, a que acabamos de referir-nos, originalmente um deus local de Tebas, teve o seu santuário fundado, ou recons-truído, já na XII dinastia, por volta de 2500 a. C. Esse deus "oculto", que tal é o sentido do nome Amon, era essencialmente um deus do sul do Egito mas, quando os reis tebanos derrotaram seus inimigos do norte e se tornaram senhores de todo o país, Amon passou a ser um deus de primeiríssima importância, e os reis da XVIII; da XIX e da XX dinastias prodigalizaram aos seus templos suntuosa^ dotaçoes. Os sacerdotes do deus lhe chamavam "rei dos deuses'' e procuraram fazer que o Egito inteiro o aceitasse como tal mas, a despeito de todo o seu poder, perceberam que só poderiam obter esse resultado se o identificassem com os mais antigos deuses do pais. Declararam-no representante do poder oculto'e misterioso que criou e sustenta o universo, simbolizado pelo sol; acrescentaram-lhe portanto, o nome ao de Ra e, dessa maneira, a pouco e pouco, ele usurpou os atributos e os poderes de Nu, Cnemu, Ptá, Hapi e outros grandes deuses. Durante a XVIII dinastia, uma revolta capitaneada por Amon-hetep, ou Amenófis IV (cerca de 1500 a .C . ) estalou contra a supremacia de Amon, mas sem êxito. Esse rei odiava tanto o deus e seu nome que mudou o próprio apelido para o de

Cu-en-Aten , isto é, "glória do Disco solar", e ordenou que o nome de Amon fosse riscado, sempre que possível, dos templos e de outros grandes monumentos; o que realmente foi feito em muitos lugares. É impossível dizer com exatidão quais eram as opiniões religiosas do rei, mas é certo que ele desejava substituir

(ed. u f é b ^ S , °pàris,0 T m A T l y S d " M ü S é e G u i m e ' : U T ° m b e a u d e S e t i 1

67

Page 34: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

o culto de Arnon pelo de Aten, forma do deus-sol adorado em Anu (isto e On ou Heliópolis) em épocas muito remotas "Aten" significa, literalmente, "Disco do Sol" e, posto seja difícil compreen-der, depois de tanto tempo, em que consistia a diferença entre o culto de Ra e o culto de "Ra em seu Disco", podemos estar certos de que havia uma sutil distinção teológica entre eles. Mas fosse qual fosse a diferença que pode ter havido, bastava obrigar Ame-nófis a abandonar a velha capital, Tebas, e a recolher-se a um lugar a alguma distância ao norte da cidade, onde ele continuou adorando o seu querido deus Aten. Nas gravuras do culto de Aten que nos chegaram, o deus aparece na forma de um disco do qual procedem braços e mãos, que conferem vida aos seus adoradores Apos a morte de Amenófis, o culto de Aten declinou, e Ainon re-conquistou sua influência sobre a mente dos egípcios.

dos £ i , S a H ? e A S p a S ° V£da I ÍnSerÇã° a q U Í d e u m a l i s t a c o m P l e t a dos títulos de Amon, e um breve extrato do Papiro da Princesa' Nesi-Quensu - nos fará conhecer o conceito em que o deuT e a

l d ° J n r í? a n ° 1 0 0 0 a ' C" N e l e ' A m o n é chamado de "de" sagrado, senhor de todos os deuses, Amon-Ra, dono dos tronos do mundo, príncipe de Apt (isto é, Carnaque), 'alma santa ue ve a existir no principio, o grande deus que vive do direito e da justiça primeira eneade que deu origem às outras duas,*» o ser no qual todos o s deuses existem, o único de único, criador das coisas que vieram a existir quando a terra tomou forma no começo, cujos nascimentos sao ocultos, cujas formas são múltiplas e cujo cresci-

P ° d e , S V 0 n h e C Í d 0 - F o r m a s a S r a da , amada, terrível e poderosa . . . senhor do espaço/possante Uno da forma de Quépera que veio a existir através de Quépera, senhor da forma de Quéper a

:

quando passou a existir, nada existia senão ele mesmo. Brilha sobre l ^ r a d e s d e ° s t e m P ° s Primevos, ele, o Disco, o príncipe da luz L e i 1 5 ' ' • • Q u a n d ° e S S e d e u s s a g r a d 0 se modelou a s

E l e ° l oeDSiscn dterTa f 0 r a m f f 0 S p e l ° s e u c o r a ? ã o mente) rei ' indefeso p h p l f C U J a f o r m o s u r a ™pregna céus e terra, até oue se nõe l ' ? ? V O n í a d e g e r m i n a d e s d e <V» *ascê atê que se poe de cujos divinos olhos procedem homens e mu-lheres, de cuja boca provêm os deuses, [por quem] a Comida T a

79 marcado pelas ruínas de Te!l-el-Amarna.

p e r o ^ 4 ° ^ , ™ ? 5 9 4 ^ f f i S . ^ Ma,

cada companhia' d°S

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bebida sao feitas le fornecidas, e [por quem] são criadas as coisas que existem. Senhor do tempo, atravessa a eternidade; ancião que renova sua juventudk . . é o Ser que não pode ser conhecido, e está majs escondido que todos os deuses . . . Dá vida longa aos que favprecp e multiplic^-,lhes òs anis; magnânimo protetor do que se instala em seu coração, é o modelador da eternidade e da perpe-tuidade. . Rei do Norte b dq Su|, Amon-Ra, rei dos deuses,' senhpr do céu, 'dâ terra, da^,águas è das| montanhas, com cujo surgimehto a terra começou a'existir, p poderoso, mais esplêndido que todos'os deuses da primeira1 companhia." ( '

No extrato acima notar-se-á que Amon é cognominado o "Üiiico • de Único",i ou o, "Único1 Único", título que, segundo já; se explicou, não se relábipna de máneira alguma com a unidade de, Deus tal 'como é compreendida nos tempos modernos: mas; se epas ^alaVras nãq ,se, destinam a expressar a idéia d'e unidadet que significam elas? Diz-se também que ele é "sem secundo", de modo que não há, a menor dyvida de que, ao declarar o seu deus Único e sem segundo, os egípcios queriàm dizer precisamente o que queriam dizer hebreus e árabes ao afirman que o seu deus era Único.81 Um Deus nessas condições era üm Ser totalmente distinto das personi-ficações dos poderes da' natureza e das existências que, à faltai de riome . melhor, fofaçri dbnorpinados "deuses".

Map, além de Ra, existiu em tempos muito remotos um deus chamado HORO, simbolizado pelo falcão, que parece ter sido a primeir^ coisa viva 'que 'os egípcios adoraram; Horo era o deus-spl, como Ra em épocas mais recentes, foi confundido com Horo,' filho de, Isis. Suas principais formas apresentadas nos textos são as seguintes: 1) HERU-UR (Aroueris), 2) HERUrMERTI ,'3) HERU-NUB.I 4) 'HERU-QUENT-CAT, 5) HERU-QUENTUN-MAA, 6) HERU-CUTI, 7) HERU-SAM-TAUI, 8) HERU-HE-QUENU, 9) HERU-BEHUTET. Associados a uma das formas ^e Horo çstavam, originalmente, os quatro deuses dos pontos cardeais; ou os "quatro espíritos de Horo", que sustentavam o céu em seus quatro( cantos; chamavam-se , HAPI, TUAMUTEF, AMSET ' e QUEBSENUF, e representavam o norte, o leste, o sul & o oestí,, respectivamente. Embalsamavam-se os intestinos do morto e ccjlo-cavam-sô| em quatro jarros, ficando cada um deles sob a protèçãp de um dos quatro' deuses. Outros deuses importantes dos mprtos sao: 1) ANÚBIS,| filho de Ra ou Osíris, que presidia à morada

81.' Veja Deuteronômio, vi, 4; e o Corão, capítulo cxii.

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fwierária n c h i ^ partilhava do domínio da «mèntanha M h f H V ™ b 0 l ° d e s s e s d e u s e s u m chacal. 2) HU e SA

J hos de Temu ou Ra, que aparecem na barca do sol na é p o S da cnaçao e, posteriormente, na Cena do Julgámento. 3) A deusa

I n i í l à direito" " T V * * ^ M 0 b r a d a 0 — S real t l í r ' - ° q U e é c o r r e t o > ' verdadeiro, autên-tico real, genuíno, integro, virtuoso, justo, firme, inalterável,. etc. í o f r t e T H E J - ™ R T ( H a t o r ) . i s to é, a "casa de Horo", ou cônPsa ado T " M 6 5 0 1 n a S C C 6 SC PÕe- |0 sicômoro f o r k h e

' c o S l i ' . ? , ° ff a l e c l d 0 o r a v a P a r a q ^ pia,, o alimentasse com

colhida celestial fornecida por ele. 5) A deusa MEH-URT que r e p i n t a v a ,parte do céu por onde o sol faz 6 seu trajeto diário de acordo com uma teoria sustentada pelo nienos durante um pe-,

d a W r T " ' ° i u > a m e n t 0 d 0 falecido. ' 6) NElHH,' a mãe ; nACT t a m b e m d a P ° r ç ^° o r i e n t a l d 0 7) SEQUET l l r & f - ' r e P | ' e s e i ? t a d o s c o m a cabeça de uh< léão e de um gato Respectivamente símbolos do poder destruidor e causticante 'do sol e do seu suave calor. 8) SERQ, uma forma dd Isis. 9) TA-URT

S t n T 6 ^ ' f T u 1 Z d o s d e u s e s - 1 0 ) U A t t H Ê T , uma fdrma de ÎŒÔUEBFT pra 2 d 0 m í n i 0 d 0 C é u s f t e n t " o n a l ' assim comol NfcQUEBET era senhora do céu, meridiòna. 11) NEHEB-CA deusa que possuía poderes mágicos'e, em certos sentidos, se parecia com Isis em seu atributos. 12) SEBAC, forma, do deusrsòl, poste-A^?Te

Tnte c o n f u n í J l d o c o m Sebac, ou Sebec, amigo de 'Set 13)

AMSU (ou MIN ou QUEM), personificação dos pdderes geradores

n - ? , ? ^ 1 " ^ n a t U r e Z a ' 1 4 1 B E B , o u B A B A ' "Primogênito d l u sms . 15) HA.PI, deus do Nilo, com o qu'ai a maioria dos grandes deuáes se identificava. , • h i B

\ 1 I ^ I I

Os nomes dos seres que, num oili noutro1 tempo, foram cha-mados "deuses" no Egito pão ião numerosos que uma simples lista deles encheria vintenas de páginas, q nurp trabalho deste' gênero estaria deslocado. Recomendo, portanto, ao leitor,que consulte a Mitologia Eguia, de Lanzone, on'de se enuméra e descréve um numero considerável deles. i ' !

22

Capítulo IV

O julgamento dos mortos

A crença em que os atos praticados no corpo seriam submetidos a uma análise e a um exame minucioso pelos poderes divinos, após a morte do homem, pertence ao período mais primitivo da civili-zação egípcia e subsistiu, substancialmente a mesma, em todas as gerações. Conquanto não tenhamos informações sobre o local em que ocorria o Ültimo Julgamento e sobre se a alma egípcia passava para a sala do julgamento logo após a morte do corpo, ou depois que, terminada a mumificação, se depositava o corpo no túmulo, é quase certo que a crença no julgamento estava tão arraigada nos egípcios quanto a crença na imortalidade. Tudo indica não ter ha-vido nenhuma idéia de um julgamento geral, quando os que tinham 'vivido no mundo receberiam seu prêmio pelos atos praticados no corpo; todos os indícios de que dispomos, ao contrário, mostram que se lidava com cada alma individualmente, e ou lhe permitiam passar p reino de Osíris e dos bem-aventurados, ou a destruíam incontinenti. Certas passagens do texto parecem sugerir a idéia da existênbia de um lugar para os espíritos que houvessem partido e onde as almas condenadas no julgamento poderiam morar; cumpre não esquecer, todavia, que habitavam essa região os inimigos de Ra, o deus-sol; e não é possível imaginar que os poderes divinos que presidiam ao julgamento permitissem às almas dos maus viver depois de condenadas e tornadas inimigas dos puros e bem-aventu-rados. Por outro lado, se dermos alguma importância às idéias dos coptas, sobre o assunto, e considerarmos que elas representam crenças antigas havidas tradicionalmente dos egípcios, teremos de admitir que o mundo inferior egípcio continha regiões em que as almas dos maus eram punidas durante um período indefinido. As vidas de santos e mártires dos coptas estão cheias de alusões aos sofri-mentos dos danados, mas nem sempre se poderá dizer se as des-

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cnçoes se.devem a imaginação do egípcio cristão ou à tendência das opmioes do escriba. Quando ponderamos que o inferno coo a pouco mais era que uma forma modificada do antigo Amen i esíocio ou Amentet, e difícil acreditar que só se tomava m p r e t a o o nomé do mundo inferior egípcio e que as idéias e crençasdos a n S E - V ° r t e S ~3 6 l e n ã ° C r a m ^u l t aneamente absorvidas Algun

autores cristãos sao mu,to minuciosos em sua classificação dos mau

H s ê i c e o ™ 0 ' b i r ° d eP o e T S V 6 r - P d 0 S e g U Í n t e e X t r a t 0 vida d

risencio, bispo de Queft, no século VII da nossa era O santo homem refugiara-se numa tumba- cade haviam sido empi lha is algumas múmias e, quando leu a lis a dos nomes das pTssoas a ] enterradas, deu-a ao seu discípulo para repô-la no lugar Em se r D a ; U f S d ? , ^ a 0 d Í S T 1 0 ' a d m o - t o u - o P que fizesse o t r a l h o ser c ^ m o T g e iÍC i a ' a d v e r t l n d ° - ° d e q ^ todo homem precisava "E a?Íuns'' dT,eC m a S ^ " m Ú m Í 3 S ^ Ía z i a™ diante deles À m J n r t ^ , ; ' , 0 S p e c a d o s f o r a m m u i t°s> estão agora em te de nZ aãS t r e V 3 S e X t e r Í ° r e S ' O U t r O S a i n d a ^ poços e fossos deu descanso E n ^ ri° d e f ° g 0 ; a e s t e s ú l t i m o * nmguém aeu descanso. E outros, da mesma forma, estão num sítio de repouso, em razão das suas boas obras.» Depois que o dS L i o

r d d a 0 d e S d ? E r n T e n T 3 M a r C ° m U m a d 3 S - m i a s nafur Aericofaos F S H ' T ^ T ^ 6 C u j ° p a i e m ã e s e chamavam de n n í r r l ' A d o f a d o r d e P ^ o n , nunca ouvira a notícia de que Cristo viera ao mundo. "E ai de mim", disse ela "ai de mim que nasci no mundo. Por que não se tornou meu túmulo o ventre de minha mae? Quando foi necessário que eu morresse os an os Cosmocratores foram os primeiros a vir rodear-me £ m d todo os pecados que eu cometera, e me disseram: 'Deixa qu?venha cá o que pode salvar-te dos tormentos a que serás arremessão' TT

taZ 1 Z Z 5 d % f e r r ° 6 a g U Í l h Õ e s p o n t u d o s semelhantes a lanças aguçadas, que enfiaram em minhas ilhargas, rangendo os S m P v ? a T o t

Q U a n d 0 ' / 0 l V Í d 0 3 l g U m t e m p o — «lhos s abmam, vi a morte pairando no ar em suas múltiplas formas e r c o r o o 0 T a í m ' a

a J J 0 S d e s a p Í e d a d o s a P a — r a m e me arrancaram do corpo a alma desgraçada e, tendo-o amarrado sob a forma de r l T ' C ° n d U Z Í r a m - m e P a r a Amenti. Maldito seja odo

pecador, como eu, que nasceu no mundo! O meu amo e pai fui S d a d e r T 6 a s ? ã 0 S d e u m a ™ltidão de atormentadores sem godade, cada_ um dos quais tinha uma forma diferente. Que infi-m d a d e d e a n i m a i s se^vagens vi pelo caminho! Que infinidade de

82. Ed. Amélineau, Paris, 1887, pág. 144 e seguinte.

72

poderes havia ali a .infligir-me castigos! Quando fui lançado às trevas exteriores, i vi; ififn grande poço de mais de duzentos côvados de profundidade, cheio de reptis, cada um dos quais tinha sete cabeças e corpo de escorpião. Nesse lugar vivia também o ,Grande Verme', cuja simples kista aterrorizava quem o mirasse. Na boca, ostentava dentes que se diriam estacas de ferro. Um dos reptis me pegou e 'atirou a esse verme, que nunca parava de comer;: e imediatamente todos efe' [outros] animais se juntaram em torno dele, e quando ele encheu a boca [cipm minha carne], os que estavam por ali enchefam a sua.", Em reápqsta à pergunta do santo homem pobre se'gozara de âlgum descanso ou de algum período sem sofri-mento enquanto ali estivera, a múmia replicou: "Sim, meu pai, os que estão em1 tormentpS são tratados com piedade todos os sábados >e domingos. Mas tanto que finda o domingo, somos lançados aos tormentos que merecekpos, para podermos esquecer os anoá que passamos no mundo; e assim que nos esquecemos da dor desse suplício, somos atiradoíj1 a putro ainda mais doloroso."

, _ , Ora, é fácil deduzir! da descrição das torturas que se supunha' viviam os maus a sofrer,' que o autor tinha em mente alguns quadros com os quais estamos agora familiarizados, graças às escavações de túmulos feitas no^ Ejgito nos últimos anos; e também é fácil ver cjue ele, como muitos* outros autores coptas, não lhes captou direito a intenção. As trevas éxteriores, isto é, o lugar mais negro de tqdos no munqlo 'inferior, o rio e os poços de fogo, a cobra, o escorpião e , coisas ,desse Jaez, todos têih seus análogos, ou melhor, seus ori-ginais, nas jcenas anexas aos textos que descrevem a passagem do

,,sol através do mundo inferioy durante as horas da noite. Mal inter-pretado o; sentido geral de tais cenas, era fácil converter os inimigos de Ra, o deus-sol, nas,almas dos proscritos e encarar a queima desses inimigos — que,'afinal de contas, não passavam de poderés personificados da natureza — como o merecido castigo aplicado aos que perpetraram d mal na terra! Não se pode dizer até que ponto1 os coptas reproduziram inconscientemente as opiniões dos seus antepassados, ir^as niesmp depois de se dar um bom desconto ai essa possibilidade, aípda falte explicar grande número de creiiças' e teses que parecem ter sido o, produto peculiar da imaginação do cristão egípcio. •

! i _ Foi dito acima qye a idéia do julgamento dos mortos é anti-

quíssima^ no • Egito; itão aptiga, com pfeito, que seria inútil tentar averiguar a data do período em que'principiou a desenvúlver-se. Nos textos religiosos mais i primitivos que conhecemos ,há indicações

i' 1 ' • '

105

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de que os egípcios esperavam uni julgamento; r ias tão 'pouco defi-nidas que nao nos permitem argumentar tornando-as .por base; e e . d uvidoso pensar que o julgamento fossé tão completo e minu-cioso quanto o fpi em períodos ulteriores. Já no reinado de Men-cau-Ra, o Micenno dos gregos, por volta 1 dei' 3600 a.'C., príncibe reart Heru ta t a f« encontrou um texto religioso, que mais tarde formpu o. Capitulo 30B do Livro dos, Mortos, inscrito, numa laje de ferro ná caligrafia do deus Tot. Não se pode dizer quÜ fosse' o propósito original da composição do texto, mas não há dúvida, de que ele sè déstinava a beneficiar o fklecido no julgamento ç,,se lhe traduzirmos literalmente o texto, a impedir que o'seu toração "caísse no mundo

«Li ° r " ' N a P r i m e i r a Par te> dePd>is dç conjürár o cora,çãb, diz o falecido: "Nada surja para opor-se1 a iúim po jiilgamento; .não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos; não haja se-paraçao entrè mim e ti na pripsençfi do ifue guarda a Balànçà!. . . Nao deixem os funcionários da corte de Qsí^is (em egípcio Xenit), qye estipulam as condições da vida dos homens, que rtieu nome cheire mal! Seja [o julgamento] satisfatório para mim, seja a au-diência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que b falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amentèt." | 1. 1

Ora, ainda que o papiro em que se encontram esta deòiaíação'1

e ésjta prece fosse escrito dois mil, anos após o reinado de Nlen-cau-Ra, não há dúvida de que elas foram tiradas de textos1 também copiados em período muito anterior, k de que' a hisfória da descor berta) do texto inscrito numa laje de ferrp > é contemporânea do seu efetivo descobrimento por jJarte' de Heptataf . Não cabe aqui indagar se. a palavra "achar" (em egípcio' geç) significa ou não uma descoberta autêntica, mas é claro que bs que mandaram copiar'

( o papiro não viam absurdeza riem impropriedade em atribuir o tçxto ao período de Men-cau-Rn. Outro texto, que ao depois se transfor-mou igualmente num capítulo do Livro dós Mortos sob o título de "Capítulo de não permitir que o coraçãi do falecido lhe seja1

arrebatado no mundo inferior", foi inscrito num ataúde da XÍ dinastia, cerca do ano 2500 a. C.,- e nele encontramos a seguinte petição: "Nada se oponha a mim no julgamento em presença do^ senhores do juízo (literalmente, "sÈnhores das', coisas"); não se diga de mim nem do que fiz, que 'Ele praticou atos contrários ao que é muito justo e verdadeiro'; nada seja contra mim na presença'do

83. Veja Chapters of Coming Forth by Day, tradução, pág. 80.

74 I I

Grande Deus, Senhor de Amentet." " Diante dessas passagens temos o direito de presumir que, antes do fim da IV dinastia, a idéia de ser pesado na balança" já se desenvolvera; que as escolas religiosas do Egito haviam atribuído a um deus a obrigação de vigiar a ba-lança durante o julgamento dos casos; que a pesagem na balança ocorria na presença dos seres chamados Xenit, os quais, consoante a cren(ça geral, controlavam os atos e feitos dos homens; que se pensava que, no julgamento, os inimigos poderiam produzir provas desfavoráveis ao falecido; que a pesagem acontecia na presença do Grande Deus, Senhor de Amentet; e que o coração do falecido poderia faltar-lhe, física ou moralmente. O falecido dirige-se ao coraçao chamando-lhe sua "mãe" e, logo, o identifica com o seu ca, ou duplo, associando a menção do ca ao nome do deus Cnemu-tais_ latos, importantíssimos, provam que, para o falecido, o co-raçao era a fonte da vida e do ser, e a menção do deus Cnemu recua , a data da composição para um período coevo dos primórdios do pensamento religioso no Egito. Foi o deus Cnemu quem ajudou Tot a executar as ordens de Deus na criação, e uma escultura muito interessante em File mostra Cnemu no ato de modelar o homem numa roda de oleiro Ao mencionar-lhe o nome, o falecido parece invocar-lhe a ajuda como modelador do homem e o ser responsável, em certos sentidos, pelo seu estilo de vida na terra.

No Capítulo 30A não se faz menção do "guardião da balança", e; diz o falecido: "Nada se me oponha no julgamento em presença dos penhores das coisas!" Os "senhores das coisas" tanto podem ser os senhores da criação", isto é, os grandes deuses cósmicos, quanto os senhores dos negócios [da sala do julgamento]", isto é, do processo. Neste capítulo o falecido não se dirige a Cnemu, mas "aos deuses^ que habitam as nuvens divinas, exaltados mercê dos seus cetros , a saber, os quatro deuses dos pontos cardeais, chamados Mesta, Hapi, Tuamutef e Quebsenuf, que também presidem aos principais orgaos internos do corpo humano. Aqui, novamente, se tem a impressão de que o falecido estava ansioso por tomar esses deuses, de certo modo, responsáveis pelos atos executados por ele em sua vida, visto que, como presidentes dos seus órgãos, eram os motores primeiros de suas ações. Seja como for, ele os considera intercessores, pois lhes supl ca que "falem palavras favoráveis a Ka em seu nome e que o façam prosperar diante da deusa Ne-

N e s t e c a s ° . procura-sn o favor de Ra, o deus-sol, emblema

84. Chapters of Coming Forth by Day, pág. 78.

75

Page 38: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

T ° q U C V e r C o m 0 5 d e s t i n ° s dos mortos Não se f S nenhuma alusao ao Senhor de Amentet - Osíris

n i , , i ^ m e s d e P a s s a r m o s a considerar o modo com que se descreve o julgamento nos mais belos exemplos dos papiros ilustrados orca

ni ^ r l t o e n n n e a b s o r a papiros de Nebse-aÔ ser i ^ n, ^ d°1 S p a p Í r ° S v e m o s a f i S u r a d ° falecido ao ser pesado na balança em confronto com o próprio coracão

S r o corno O P L . g ! C U r S 0 111112 c r e n ? a n a Possibilidade de ser o corpo pesado em confronto com o coração, a fim de descobrir que seja™no° en fam ° b e d e d d ° 3 ° S d Í t a m 6 S d ° - g u n d o ; comT qu to C a & f n i n n T l 6 C e r t ° q U e e s s a n o t á v e l variante da vinheta dois papiros da í v í n T S Í g n Í f Í C a d ° C S p e C Í a l C' C o m o o c o r r e ^ que renresenta iirn^ d m a S t i a ' J U S t i f i c a " s e a n ^ s a presunção de T q S f mane ra n Ç a , V I g e n t e ^ p e r í ° d ° ^ o mais antigo,

rfn m ™ a n e i r a> o julgamento aqui descrito tem de ser dife-r a n d o s t l t e q r i ^ T i v n T C e H a Í m P f s s i o n a ^ nos papiros Hus-iraaos ulteriores da XVIII dinastia e das dinastias subseqüentes

já eramabcehateenm

ham0S-Pr0VaC!0 q U £ a i d é i a d o i s e n t o dos mortos 3600 a r J £ S C " t 0 S r e l i S i o s o s d a IV dinastia, por volta de iz l ^ r ^ ^ i r r s L é s s z

nennuma Cena do Julgamento e, quando a vemos faltar comenta. de tanto peso quanto o Papiro de NeSeni e o de Nu -

s ^ s - ç s s s i è

85. Museu Britânico, N . ° 9.900 86. Museu Britânico, N . ° 9.964 87. Museu Britânico, N . ° 10.477 88. Museu Britânico, N.° 10 470 89. Museu Britânico, N . ° 9^01!

76

os hinos sejam .diferentes, .0 arranjo é o mesmo. Justifica-se nor-itanto, a nossa presunção de que os hinos e a Cena do Julgamento ilormavarn, juntos, uma seção introdutória ao Livro dos Mortos e e possível que ela indique a existência da crença, ao menos durante 10 período de maior pode,r dos sacerdotes de Amon, de 1700 a C a 800 a. C de c K o julgameríto dos mortos pelos'atos praticados no corpo I lhes precedia a admissão ao reino de Osíris. Como os

, hinos que acompanham a Cena do Julgamento são magníficos exemplos de uma' altà1 classe de composições devotas, apresentamos a seguir ;a traduçãò dp alguns.

Hino a Ra.80

t I 1 '

"Homenagem a ti, que te ergues em Nu ," e que, graças' à tua Manifestação, deixas o fnundo brilhante de luz; toda a comèanhia dos deuses entoa hinos de louvor a ti depois que apareces As di-vinas deusàs Merti,92 que te ajudam, estimam-te como o Rbi do Norte e do Sul, o belo e amado homem-infante. Quando te ergues homens e mulheres vrnfcn. As nações regozijam-se em, ti e as Almas' de Anu 3 (Heliópolis) entoam para ti cânticos de aletria. As Almas da cidade, de Pe 94 e ás Almas da cidade de Nequem »* te exaltam os macacos da aurora te adoram e todos os animais e todo o gado' te louvam unânimes. A deusa Seba derruba teus inimigos, e por isso tens jubilb em teu. barco; ali se alegram teus marinheiros Al-cançaste o barco Atet e teu coração se expande de alegria. Quando os criastes, ó senhor dos deuses, eles gritaram eufóricos. A cerúlea deusa Nut te abraça P pr todoi ds lados, e o deus Nu te inunda com

r a i o s d e l u z - Lança tua luz sobre mim e deixa-me ver tua for-mosura; e quando! passares sobrè a terra entoarei louvores ao teu venusto rosto. Ergues-te no horizonte do céu e teu disco é adorado quando repousa sobre * montanha para dar vida ao mundo."

1 í -

' I o?' Xeja- fhe Cha.P'erK°f^Corning FoYth by Day, pág. 7 O ceu personificadd.

92. , Literalmente, i s do i s Olhos, isto é, Isis e Néftis 93. Isto é, Ra, Xu e Tefnut.

M e s t r e SapL ^ ^ ^ B U t ° ( P è r " U á t c h i t > - A s Almas de Pe eram Horo, 1 95. , Isto é, Horo, Tuamutef e Quebsenuf.

96. O barco em que o sol viaja até ao meio-dia.

77

Page 39: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

I . 7 " t e ê r S u e s ' tu te ergues, e sais do deus Nu Renova, t„ a juventude e pões-te no lugar em que estavas ontem S Z n o In-fante que a ti te criaste, não sou capaz de [descrever-Jte Vieste

euí aios T ° r a S ' e, d d X a S t e ° C é u e 3 t e r r * -splandencVnles com S V ? r p u r a I u z e s m e r a ^ i n a . A ter!ra do P o n t o " 'festá c o ? solidada [para dar] os perfumes que aspiramVtuas narinas Nasces" ó Ser maravilhoso, e as duas deusas-serperttes, Mert es ão insta-'

odos os s L f h a í f ' É S ° l e Í S ' Ó S ' e n h o r d ° mundo e de todos os seus habitantes; todos os deuses te adoram." i i i

Hino a Osíris.98 l' 1

i ' 1 :

Abid7re a i S l a ^ " í ' Ó 0 S í . d S U n - n e f e r ' S r a n d e d e u * dentro de Abido, rei da eternidade e senhor da perpetuidade, deus aue n a s « ,

d ? Nu fos td e an°H £ m t U a e X Í S t ê n d a velho?do S E

í n h n ^ n ê C m d , ° P ° r S e b ' 0 Antepassado dos deuses és o SncToe dos d 0 3 3 d ° ? r t e 6 d Ô S U I d a sublime coroa branca? Príncipe dos deuses e dos homens/ recebeste o cajado o chicote e a dignidade dos teus divinos pais. . Alegrete o teu coração aue reside na montanha de A m e n t " p o i s ' o . t e V í i l h o H o ? o e s t á ^confir-mado no teu trono. Foste coroado senhor dé- Tatu (MendesT e soberan o d e Abtu (Abido). Através de ti enverdec 0 munío L tnunfo diante da força de Neb-er-tcher.™ Conduzes e S túa ca

levas A t e r r a a^reb ^ 3 m d a ^ é ^ t e U ^ T a - t ^ n S i 1'pJderoso em fe , n ^ d e ' S e c 4 u e r ' ; é s excessivamente

IS , 'nome Te 'Un-nefer '"6 ^ ' ' d U r 3 S P 3 " t 0 d ° ° S e m P r e e m

cine Z ° n e n a g e mt a ^ t Í ' J

Ó R e i d o s r e i s ' S e ? h o r d o s senhores; Prín-cipe idos príncipes! Desde o ventre de Nut iovernaste o mundo X mundo mfenor. Teu corFo é de metal brilhante e r e ° p S e c e n t e £ k í £ Ç a 6 a 2 u l - c o b a l t 0 ' e o f^gor da túrquesa te 'envolve ó dbus An, que existes há milhões de anos, penetras toda^as cSsas com o teu corpo, és belo de semblante na Terra da Sant dade ( to

; r r a r on d

t r i u l e n 0 r ) ' ^ ^ ° e s P l e n d o r ' ™ <éu, a ,força na terra e o triunfo no mundo inferior. Consentq que eu navegue para

da Áfr i ca .^ 0 é' * d e 3 m b ° S ° S I a d o s d o M a r V e r ^ ° e do Nordeste 98. Veja The Chapters of Corning Forth by Dúy, pâg. 11. i 99. Isto e, o mundo inferior. , ' i

100. Um dos nomes de Osíris. 1 , i

78 ! ' 1

I , 1

Tatu como uma alma viva, e para Abtu como a fénix; e consente que eu entre e saia pelos pilonos das terras do mundo inferior sem impedimento e sem empecilho. Sejam-me dados pães na casa do frescor e oferendas de comida e bebida em Anu (Heliópolis), e uma herdade para todo o sempre no Campo dos Caniços 101 com trigo é cevada para esse fim."

No longo e importante hino do Papiro de Hunefer1 0 2 ocorre a seguinte petição, colocada na boca do falecido: —

"Consente que eu siga na comitiva de tua Majestade, como fiz sobre a terra. Seja minha alma chamada [à presença] dos senhores da justiça e da verdade e seja ela encontrada ao lado deles. Vim à Ci-dade de Deus, a região que existia no tempo primevo, com [minha] alma, com [meu] duplo, e com [minha] forma translúcida, para morar nesta terra. O seu Deus, senhor da justiça e da verdade, senhor da comida tchejau dos deuses, é sacratíssimo. Sua terra atrai para si todas as terras; o Sul navega rio abaixo para lá, e o Norte, dirigido pelos ventos, para lá se enc iminha diariamente a fim de ali foliar, de acordo com a ordem do seu Deus, Senhor da paz. E não é ele quem diz: 'Da sua felicidade me encarrego eu'? O deus que ali mora pratica a justiça e a verdade; ao que as exerce dá idade avançada e ao que as segue, posição e honras, até que, afinal, atinja um feliz funeral na Terra Santa" (isto é, no mundo inferior).

Tendo recitado tais palavras de oração e adoração a Ra, sím-bolo do Deus Todo-poderoso, e a seu filho Osíris, o falecido "entra na Sala de Maati, para poder ser apartado de todo pecado que haja cometido e contemplar os rostos dos deuses." 103 Desde os tempos mais remotos, as Maati eram as duas deusas Isis e Néftis, assim chamadas porque representavam as idéias de retidão, integridade, honradez, o certo, a verdade, etc.; a palavra Maat significava, origi-nalmente, caniço ou vara de medir. Supunha-se que elas se sentavam na Sala de Maat, fora do santuário de Osíris, ou ficavam em pé no santuário, ao lado desse deus; ver-se-á um exemplo da primeira posição no Papiro de Ani (Estampa n.» 31), e da última no Papiro de Hunefer (Estampa n.° 4) . Segundo a sua idéia original, a Sala de Maat ou Maati continha quarenta e dois deuses, fato que po-demos deduzir do seguinte passo da Introdução ao Capítulo CXXV do Livro dos Mortos. Diz o falecido a Osíris: —

101. Uma divisão dos "Campos de Paz", ou Campos Elíseos. 102. Veja The Chapters of Corning Forth by Day, págs. 343-346 103. Esta citação é do título do Capítulo CXXV, do Livro dos Mortos

79

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Maat! v r r r m e \ % 2 r e d n e D e U % Ó ^ d a s d u a s ^ u s a s templar-te a b d e z T C o n o t e c o n Z Í T 3 * P a r a P ° d e r c o n " nomes dos quaren t a e d o T s d e u , « n ? ° n ° m e ' 6 C o n h e Ç ° os de Maat i , que vTvem como & 2 C 0 n t i g 0 n e s t a S a l a

sangue deles no dia em Z d g P e c a d o r e s e se nútrem do são avaliados (ou ornadoT em ^ f v i d a s ) d o s h ™ s Un-nefer. Na ÍTZTTdZ T S S S L ? S ? ^ gemeas dos dois olhos) Srnhnr ^ „ ^ 7 I VÍ ( s t 0 e> a s l r m a s Na verdade vim a

« J ^ ^ S t S J T Z 0pSuroeCaso0S ° U a g r a V 0 S q u e n ã 0

puro. Minha pureza é a pureza do f r H RU p U r ° ; s o u P u r 0 ; de Suten-henen ( H e r a c l e ó S J q U C e S t á n a c i d a d e

respiração, que f ^ v v ^ g ne ro^umann ^ d ° D e u s d a

de R a está cheio em Anu S ó Í S ' n ° td l \ e m ^ ° Olho

da estação PERT.^^-a y t o O m T ^ v n ° d o s e * u n d o mês Anu;1 0 4 por conseguinte I m , 7 R a q u a n d o e s t á c h e i o em nesta Saía de S f a f porque o n h ? ^ m a l a I g U m n e s t a t e r r a "em se acham lá dentro » q h e Ç ° ° S n o m e s d o s d e ^ e s que

são emanúmer°o de t u S n í a " M • S a ? d e M a a t c o m Osíris mencionados quarenta^e d o t pecado,' ^ d e 6 S p e r a r f °«en. dirige o falecido; não é este porém T r T ™ * n M M ã S q u e l h e s

mérados na Introdução n í n V S L , ' P°1 S ° S p e C a d o s e n u " papiros ilustrados da XVl í l e d a S T T ™ ™ ' N o s g r a n d e s

grado ao fato de se menc ona? na ^ Z ™ V / m 0 S ^ m a l ~ pecados que o falecido d e d a r a í Ç 3 ° g r 3 n d e quantidade de artistas acrescenta am uVa r e d e d ^ ^ C ° m e t Í d ° ' 0 5 e s c r i b a s e de quarenta e d,Ia n ^ J T " ! . u e c í a r a Ç°es negativas, em número dentemente, de uma tentetíva 1 * t a b u l a r T r a t a " s e ' e v i" igualem em númvo d a Saía ^ m e n d o n a d ^ preferissem dar uma forma f n t e i r ^ I , 3 3 t ' 6 d i r " s e " i a eles capítulo a qualquer tentação S n ° V 3 3 e s t a s e « ã o d o 125.« antiga. Os a n i s t ^ T o ^ r . ^ l ! ™ ! 1 1 ^ ^ o u iterar a seção mais escancaradas, e a comZ foffifadf M a a t C o r a a s P o r t a s

Maat. Sobre a metade £ ™ d e u r a e i e P e n a s> símbolos de metade da cornija, uma divindade, sentada, estende

coptas" Mequir!' 0 * ° ^ d i a d o s e x t 0 ^ do ano egípcio, chamado pelos

104. A alusão aqui parece ser ao Solstício do Verão ou do Inverno.

80

I 1 !lí

as mãos, a direita1 iSobrfe o 0 \ í q de Horo, e a esquerda sobre um lago. Na extremidade da Sala estão sentadas as deusas de Maat1

isto e, Isis e Néftis, | enquanto o falecido adora Osíris, instalado num trono; veem-se ainda uma balança com o coração do falecido i)um dos pratos, 'e,, a pluma, símbolo de Maat, no outro e Tot que pinta uma grande „ pena. Nesta Sala se assentam os quarehtà e dois deuses e, ao passar por cada um deles, o falecido o interpela pelo nome e, ao • mesmo tempo, declara não haver cometido deter-minado pecado. Um exame dos diferentes papiros mostra que 'Os escribas se equivocaram amiúde ao redigir a lista de deuses e a dos pecados e, em' resultado disso, o falecido é obrigado a recitar dian e de um deus a confissão que, a rigor, pertence a outro. Como' •Vã ft d e P r o n u n c i a r 0 n°me de cada deus, semprq fdiz

Nao çometi" tal' e tal .pecado, todo o grupo de falas rewbeu 8 nome de. Confissão Negativa". As idéias fundamentais de religião e moral implícitas1 ma Confissão são velhíssimas e delas podemos inferir, com tolerável clareza, o que o antigo egípcio acreditada ser o seu dever pára com Deus f para com os semelhantes.

W n f , e i ] D l Í C a r ° f a t ° d e s ó q u a r e n t a e d o i s deuses s e r e m interpelados, pomo também é impossível dizer por que, se adotou esse, numero. Acreditaraín alguns que cada um dos quarenta s é c í n d a d ? U S T r e p r e s ç " t ! v a u m do Egito, e essa teoria é secundada , pela constatàçao- de que a maioria das listas arrola qua-renta e dois nomos; acontece, todavia, que as listas também1 não sao concordes. Os autores clássicos diferem igualmente uns ! dos

joutros, pois ao passo que alguns afirmam serem os nomos trinta nnHpm e ™ m e r T q d a r e n t a e seis. Tais diferenças, contudo,! podem ser facilmente ' explicadas, uma vez que a administração central,! a qualquer momento, poderia ter aumentado ou diminuído o numero de nomos, atendendo a considerações de ordem fiscal ou outras, de sortç que provavelmente não erraremos ao presumki tah^'ilar° t e T ° £ m ^ 5 6 r e d Í g Í U 3 Confissão Negativa em fprma auàren; a

q U lH ' , en

n c o n t l ' a m o s , n a XVIII dinastia, os nomos èram quarenta e'dois. Outr3 c9isa Ique parece apoiar essa tese é o fato

ao S a n n ? v í ? r m a d a C o n f i s s ã 0 ' q^e constitui a Introdução ^ ^ mencionar menos de quarenta pecados. A

proposito, convém notar que os quarenta e dois deuses, subordina-ido a Osíris, ocupam ui^ia posição menor na Sala de Julgamento

< qu lhe d e c l n 0 / ' 3 P é S a g e m d ° C O r a ? ã o d 0 f a l e c i d ^ na balança que lhe depide o futuro. Antes de passarmos à descrição da S<üa , J u l g a m e n t o . «"de está instalada a balança, faz-se mister trans-

' I 1 ti 81

Page 41: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

crever a Confissão Negativa, que o falecido recita, presumivelmente antes da pesagem do seu coração na balança; ésta é tirada do Papiro de Nu.105 I ,1 ' i

1. "Salve Usec-nemtet (isto é, Longo de passoè), que' sais de Anu (Heliópolis), não obrei iniqüidadb. i

2. "Salve Hept-Sexet (isto é, Abraçado pela chama), que sais de Quer-aba,105 não roubei com violência. , ' 1 i

^ 3. "Salve Fenti (isto é, Nariz), que, sais de Quemenu (Her-mopolis), nao pratiquei violência'ccjntra honieríi algum. í

4. "Salve Am-caibitu (isto é, Cpmedor de sombras), que sai? de Quereret (isto é, a caverna onde nasce <p| Nilo), não furtei.

5. "Salve Neha-hra (isto é, Rosto qal-cheiroso), que sais de Restau, não matei homem nem mdlher. ' 1

_ |6. "Salve Rereti (isto é, duplo deus-leão), que sais do céu I nao aligeirei o alqueire. 1 ,

7. "Salvle Maata-f-em-sexet (isto é, Cj)lhos ferozes), que sais de Sequem (Letópolis), não obrei com dolo. 1 1 ,

_ 8. "Salve Neba (isto é, Chama), que ,sais e tornas a entrar, nao i furtei as coisas que pertencem a Deus.

; i,9. "Salve Set-quesu (isto é, Esmaga'dor de1 ossos)i, que sáis de Suten-henen (Heracleópolis), não pronunciei falsidade. i 10. "Salve Quemi (isto é, Demolidor), que sais ,de Xetait (jsto^é, o lugar oculto), não me apossei de tpens à forçai-

1. "Salve Uatch-nesert (isto é, Vigoroso de Chama), que sais, de Het-ca-Ptá (Mênfis), não pronunciei palavras' torpes (ou mas). | | ^

12. "Salve Hra-f-ha-f (isto é, Aquele cujo rosto !está atrás de si), que sais da caverna e das profundeza? do oceano, não me apossei de comida à força. |

13. "Salve Querti (isto é, duplo imanancial do Nilo), que sais do mundo inferior, não agi com falsidade} •' , (

1

__ 14. "Salve Ta-ret (isto é, Pé-selvagem)* que1 sais da escuridâp,, nao comi meu coração (isto é, não perdi á, paciência nem me1

zanguei). i • i 1

15. "Salve Hetch-abehu (istoj é, Dente? brilhantes), que sais de Ta-xe (isto é, Faium), não invadi [as terras de ninguém).

1 105. Museu Britânico, N.° 10.477. ' • 106. Cidade próxima de Mênfis. i'

h ' , ' ''M ' | 82, . '

16. "Salve Am-senef (isto é, Comedor de sangue), que sais da casa do cepo, não matei animais que são propriedade de Deus.

17. "Salve Am-besec (isto é, Comedor de entranhas), que sais de Mabet, não devastei terras aradas.

18. "Salve Meb-Maat (isto é, Senhor de Maat), que sais da cidade das duas Maati, não meti o bedelho em negócios nara semear a discórdia. r

19. "Salve Tenemi (is'o é, O que recua), que sais de Bast (isto e, Bubaste), não pus milha boca em movimento contra homem nenhum.

^ 20. "Salve, Anti, que sais de Anu (Heliópolis), não dei vazão a cólera sem motivo justo.

21. "Salve, Tututef, que sais do nomo de Ati, não pratiquei fornicação nem sodomia.

22. "Salve, Uamenti, que sais da casa da matança, não me poluí.

23. "Salve, Maa-ant-f (isto é, O que vê o que lhe é trazido), que sais da casa do deus Amsu, não me deitei com a esposa de nenhum homem.

24. "Salve, Her-seru, que sais de Nehatu, não incuti medo em homem nenhum.

25. "Salve, Neb-Sequem, que sais do Lago de Caui, não deixei que minha fala se queimasse de ira.107

26. "Salve, Sexet-queru (isto é, Ordenador da fala), que sais de Urit, não fiz ouvidos de mercador às palavras da justiça e da verdade.

27. "Salve, Nequem (isto é, Infante), que sais do Lago de Hecat, não fiz ninguém chorar.

28. "Salve, Quenemti, que sais de Quenemet, não proferi blasfêmias.

29. "Salve, An-hetep-f (isto é, O que traz sua oferenda), que sais de Sau, não agi com violência.

30. "Salve, Ser-queru (isto é, Arbitro da fala), que sais de Unsi, não apressei meu coração.108

107. Literalmente, "Não fui quente de boca". 108. Isto é, agi sem a devida consideração.

I 83

Page 42: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

do deus. p e l e ( ? ) ' e n a o m e vinguei

nha Sk ^ ^ " X o * ^ ^ -

n u n c a ' ' *

corrente. q U e V e n s d e T a t u > n to poluí a água

fala. 3 6 " " S a l V e ' A r i " e m " a b - f ' sais de Tebti, não exaltei minha

D e u s 3 7 ' " S a I V 6 ' A h Í ' q U e S 3 Í S d e N u> n ã 0 P~fer i maldição contra

me c o n d u 7 S ' i S S S U Í t ^ d ° ^ ™ »*>

belecf d i s t S õ e s e í o 9N e h e b - n e f e r t ' q u e s a i s d ° * u templo, não esta-

m i n h a ° r i q l a â V e ; e n ã o e nor" ' ^ T d a t U a c a v e r n a ' aumentei minha. q ° P ° r m e i ° d a s c o i s a s <Jue *ão propriedade

maldições ^

sais S - I S V S & r ^ - ^ do egípcio r j ^ h S ^ m ° S t r a ^ ° C Ó d Í g° d e m 0 r a l

ato, cuja prática fosse Í 2 ' * m U Í t 0 d i f í c i l d e s c o b r i r um fissko",J n a ? r i n d ^ r n h u a

m ? : r n o u T a a t r a d n d , ° V « ^ 3 " C ° n -palavras correspondentes a c e r " o s D L d - ^ A s t r a d u Ç Õ e s d a s

ou exatas, porque não c o n h S S o ? « f n ^ S ã ° c l a r a s

desse notável documento O S S n p r 6 C I S 3 d o P l a n e Í a dor dições contra Deus ním d e l r e t u o d e H ^ f ° l ã n Ç ° U m a I "

^ j K s r - I P 1 ^ í s k « imperioso ^ S T Í S £

109. Isto é, não fui culpado de favoritismo.

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cipitado, pem hipóqim, nem subserviente, nem blasfemador nem astuto,,hem avaro, nem,fraudulento', nem surdo a palavrasP°edos*

orgulho, nao aterrorizou homeni algum, não enganou nin2u»m na

faz i ^ d a d ^ C 0 t e u n ! d a d e - Es ta é, em suma, a confissão 'que, taz o falecido e o afo seguinte na Cena ,do Julgamento é a pesagem

SLTvro0rdoas0Ma r b a l a n Ç a - ? ° m ° n e n h U m ^ P ™ - a i s " n f o " do Livro dos Mortos, ijos fornece uma representação desta cena

emos de acorrer 'ko, melhorés dentre o.s papiros ilus do dà

ofes d a S a d o a T ^ I n ^ 6 d a b a s t i a S ^ p o r m e -m n t n c Julgamento variam consideravelmente nos vários, papiros, mas suas partes essenciais são sempre preservadas S e 3 se uma descrição do , juLgamento de Ani, tal como aparece em V u maravilhoso papiro, conservado no Museu Britânico

Sala d e ° M r td ° ^ T 1 0 1 ' ' 6 n a P 0 r ? ã 0 d e l e a 1 u e s e dá o nome de

do fafeçido O b « £ * C m q U £ S 6 r á P £ S a d o 0

do pede í l ?eitn ^ V S U S P / n S 0 P O r u m a n e l s o b r e u m a Projeção ao pedestal, feito em forma de pena, símbolo de Maat ou do oná ie da e

h a T r d a d e i r ° - Q u a n d 0 0 braço fica exatamente'no n i v e l o ' fiel da balança, pres9 a ele, é tão direito quanto o pede lai i quando uma oü outra extremidade do braço se inclina para baixo o fiel nao permanece em posição p e r p e n d i c u l a r T p £ ÏÏ' P í r e í i z S f o e S ' 6 S P e r a V a q U e ° C O r a Ç ã ° ' c o Ü ^ ^ . São ' n J P ' q U e e S t a V a 110 o u t r o > i n c l i n a r o braço; pois nao se pedia nem requeria ao| falecido senão que seu córacão contrabalançasse exataineW o símbolo da lei O pedestal era Ï vezes, encimado de uma cabeça humana que o s L f a v a a pena d

A n ú í i s V V e à s e S ; P í ^ ^ ^ d e C h a C a 1 ' a n i m a l c o n s a g r a d o ! á To nn P d f U m a C a b e ç a d e íbis> pássaro consagrado a Tot, no Papiro de Ani,, um macaco com cabeça de cachorro companheiro de Tot, está sentado no topo do pedï îal Em Pápiros (como por exemplo, nos de Ani no THunefer m ) além

Seu ciclo ou companhia aparecem como testemunhas do juramento

Britânicor0duaas c o ^ 0 ? q U e 5 6 e n c o n t r a no' Museu britânico, duas companheiras dos deuses, a grande e a n e n n h T testemunhas, n^as o artiste fo f tão d e s l e L ^ q S

110. Cerca de 1500 a.C 111. Cerca de 1Í70 a.C. 112. Cerca de 1000 a.C

; ! * 1 ' ' 85

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i

em lugar de nove deuses em cada grupo, pintou seis num grupo e cinco no outro. No papiro de Turim1 1 3 vemos os quarenta e dois deuses, para os quais o falecido recitava a "Confissão Negativa", sentados na sala do julgamento. Os deuses presentes à pesagem do coração de Ani são: —

1. RA-HARMACHIS, com cabeça de falcão, deus-sol do amanhecer e do meio-dia.

2. TEMU, deus-sol do entardecer, o grande deus de Helió-polis, sempre retratado em forma humana e com o rosto de homem, o que prova que, num período muito primitivo, ele já havia pas-sado por todas as formas em que se representam os deuses e chegara à do homem. Traz na cabeça as coroas do Sul e do Norte.

3. XU, com cabeça de homem, filho de Ra e Hator, perso-nificação da luz solar.

4. TEFNUT, com cabeça de leão, irmã gêmea de Xu, per-sonificação da umidade.

5. SEB, com cabeça de homem, filho de Xu, personificação da terra.

6. NUT, com cabeça de mulher, equivalente feminino dos deuses Nu e Seb; personificação da água primeva e, mais tarde, personificação do céu.

7. ISIS, com cabeça de mulher, irmã-esposa de Osíris e mãe de Horo.

8. NEFTIS, com cabeça de mulher, irmã-esposa de Osíris e mãe de Anúbis.

9. HORO, o "grande deus", com cabeça de falcão, cujo culto foi, provavelmente, o mais antigo do Egito.

10. HATOR, com cabeça de mulher, personificação da parte do céu em que o sol nasce e se põe.

11. HU, com cabeça de homem, e 12. SA, também com cabeça de homem; esses deuses estão

presentes no barco de Ra nas cenas que descrevem a criação. Num dos lados da balança, ajoelhado, o deus Anúbis, com

cabeça de chacal, segura o peso do fiel da balança na mão direita, e atrás dele Tot, o escriba dos deuses, com cabeça de íbis, segura nas mãos um caniço com o qual anotará o resultado da pesagem.

113. Escrito no período ptolemaico.

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Perto dele está sentado o animal triforme Am rr.it n «n 1 J Mortos", q u e espera a ocasião de devorai" t . ç ã o ^ l n i t se constatar que este é leve. No Papiro de Neb auet ^ P •

" a ^ t 30 ^ ^ Um l3g0 ^ ^ esta sentado um macaco com cabeca de rarhnrm- „ ,

H e , » « °0 C n L e u q n i a q d , e ^ N « ' Í S ' S S H S p E S mããmmm 88

i , i

? n Ç m ^ ' , C ? n f f r Í a S a Ú d e 3 0 5 s e u s membros.1» Desses cinco deuses sis N^ t i iMesquençt, Hequet e Cnemu, os três primemos, a 3

Isis, Ne tis e, Mesquehet, estão presentes ao julgamento de Ani'

S r a U d i a m e e r e na

a d 0 ° ° ^ d £ A n i P a r a ° s e u » « ç í (veja mais adiante), e apenas, Hequet não está representada. J

Ani - ° M ^ r 0 , X Í m a - " S | ° u 0 m e n t 0 d a P e s a S e m d 0 s e u coração, diz corácão^ndr o i Ç a ° ' m ã e ! M e U C O r a ? ã o ' m i n h a mãe! Meu coração por cujo mtef!nedio nasci! Nada se oponha a mim no

í?KrnrhaiIja,°Pb-SÍ 'a ^ na Pr£SenÇa d o s P ^ fíuaXa fiTní P l 1 a Ç a 0 > n t r e m i m 6 l i e m Presença do que m&^ãmãÊ

serás quando te ergueres < m t runfo ' " granae

Em resposta a estè ,relato, a companhia dos deuses denominada

sai r i a Z T ^ T o t ^ ^ Osíris o escriba Ani T ^ f 6 h a b U a S 6 m Q u e m e n u (Hermópolisjj,

glífica/estampas f e T o ' . B e r l i m > "50, transcrição hiero, l

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no Campo da Paz, como as que se1 concedem aos seguidores de Horo."1 1 5 I |

• I Aqui notamos de pronto que |o falecido 'se identifica com

(psííis, deus e juiz dos mortos, e que lhe foi, conferidd o próprio nome do deus; a razão disto é a seguinte. Como os amidos do fa-lecido executaram, por ele, todas as cerimônias e ritos que Isis e Néftis executaram por Osíris, presumiu-se que,, em resultado disso, as mesmas coisas que ocorreram em favor d^ Òsíris ocorreriam em favor' do falecido, e que este, de fato, |viria a ser a contrapartida de òsíris. Em toda a parte dos textos do Livro dos Mortos o falecido se identifica com Osíris, desde 3400 a. C. até ad período romano. Outro ponto digno de nota é a aplicação das palavras ' maa queru ao falecido, expressão que, à míngua de palavra melhor, traduzi por "triunfante". Essas palavras, na realidade, significam'"verdadeiro de vòz" ou "certo de palavra" e iijdicam qfte a pessoa 'à qual se aplicam adquiriu o poder de usar sua voz de 'maneira que, quando interpelados por ela, os seres invisíveis lhe prestarão todos os serviços1

q'ue ela obteve o direito de exigir. £ sabidd que, em outrps tempos,1

íhagos e bruxos costumavam interpelar espíritos ou demônios num t<j)m de voz especial e que todas as fórmulas ^mágicas1 eram recitadas dç' maneira semelhante; o emprego do som ou do tom de voz errados acarretaria as mais desastrosas conseqüências ao i homem que falara, talvez até a morte. O falecido tinha de abrjr caminho através de unha serie de regiões do mundo inferior e passai* por muitas séries èe salas, cujas portas eram guardadas por seres que, se não fosseni apropriadamente abordados, estavam preparados1 para hostilizar o fècém-chegado; era-lhe também preciso fazer uma viagem de'barco è,obter a ajuda dos deuses e dos poderes das Várias localidades pelas quais desejava transitar se quisesse chegar em .segurança ao lugar oi|ide lhe cumpria estar. O Livro dos Mortos, proporcionava-lhe todds oSj textos e fórmulas que ele teria de récitaj- a firri d^ garantir esse

, resultado mas, a não ser que as, suas palavras i,fossem pronunciadas da maneira adequada e ditas num tom apropriado !de voz, 'não teriam efeito sobre os poderes do mundo inferior. A expressão| maa queru, que raro se aplica aos vivos, emprega-se comumente em se tratando

'dei mortos, os quais, de fato, eram ós rriais precisados do poder1

indicado por essas palavras. No ckso de Ani,' aceitando o relato

| 115. Há umâ classe de seres mitológicos, cju seplideuses, cjuk já n a ' V dinastia se supunha recitassem orações por intenção jQo falecido' e Ajudassem Horo e Set a celebrarem cerimônias fúnebres. Veja! o meu Papyrus of Aki, pág. CXXV. ! > • f • 1

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favorável da pesagem do coração de Ani, levada a efeito por Tot, os deuses lhe chamam maa queru, ou seja, conferem-lhe poder para debelar toda e qualquer oposição com que possa topar. Dali por diante, todas as portas se abrirão a uma ordem sua, todos os deuses se apressarão em obedecer-lhe imediatamente depois de ouvir-lhe o nome, e aqueles cuja obrigação consiste em fornecer comida ce-lestial para os bem-aventurados farão o mesmo por ele quando a ordem for dada. Antes de passar a outros assuntos, convém reparar em que a expressão maa queru não é aplicada por Ani a si mesmo na Cena do Julgamento, nem por Tot, o escriba ,dos deuses, nem por Horo, quando este o apresenta a Osíris; só os deuses são capazes de fazer um homem maa queru, e, por esse modo, ele também escapa ao Devorador.

Concluído o julgamento, Horo, filho de Isis, que assumiu todos os atributos do pai, Osíris, pega a mão esquerda de Ani com a sua mão direita e condu-lo ao santuário em que o deus Osíris está sentado. Ostentando a coroa branca de penas, segura o nume nas mãos um cetro, um cajado, um chicote ou mangual, que tipificam a soberania e o domínio. Seu túmulo é uma tumba, cujas portas aferrolhadas e cuja cornija de uraei se vêem pintadas do lado. Pen-de-lhe da nuca o menat, ou símbolo da alegria e da felicidade; à sua mão direita está Néftis e, à esquerda, Isis. À frente, em pé sobre uma flor de loto, estão os quatro filhos de Horo, Mesta, Hapi, Tuamutef e Quebsenuf, que presidem aos intestinos dos mortos e os protegem; perto dali vê-se pendurada a pele de um touro, à qual parecem ter sido associadas idéias mágicas. O cimo do santuário em que o deus está sentado é cercado de uraei, que usam discos na cabeça, e a cornija é também decorada de maneira semelhante. Em diversos papiros vê-se o deus em pé no santuário, às vezes com as deusas Isis e Néftis e às vezes sem elas. No Papiro de Hunefer encontramos uma variante interessantíssima desta parte da cena, pois o trono de Osíris repousa sobre a água, ou nela. Isso nos recorda a passagem do Capítulo CXXVI do Livro dos Mortos, em que o deus Tot pergunta ao falecido: "Quem é aquele cujo telhado é de fogo, cujas paredes são uraei vivos e cuja casa tem por piso um curso de água corrente? Quem é ele?" Responde o falecido: "Ê Osíris", e o deus ordena: "Adianta-te; pois, na verdade, serás men-cionado [a ele]".

Depois de conduzir Ani, Horo dirige-se a Osíris, dizendo: "Vim a ti, Un-nefer, e trouxe-te o Osíris Ani, Constatou-se que o seu cora-ção é virtuoso e saiu da balança; não pecou contra nenhum deus e

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nenhuma deusa. Tqt pesou-o de acordo com o decreto que lhe foi 'transmitido pela companhia dos deuses; e ele é assaz verda ' 3 o e justo. Cqncede-lhe bolos e cerveja; deixa-o entrar à tua p r e í n í a possa cfle • fer como os seguidores de Horo para sempre!"' D poi & $ ! ' • a j 0 e l ? a n d ° - s e i a o l a d ° mesas de oferendas de S o flores, etq,, que trouxe para Osíris, diz Ani: "õ Senhor de Amente ' estou em tua presença. N ã o há pecado em mim, não menti de caso

, pensado,; nem fiz coisa.'alguma com um coração falso Concede aúe eu seja como os favorecidos que andam 'à t?ua luta e q u e e u S

Z S T Í T 0 ° r v f b d r ,d° f 0 r m 0 3 ° d 6 U S 6 a m a d 0 Senhor do d e M a a t ' q U e ° a m a ' A n i ' d i a n t e

do co rado ' , C h , e g a 7 $ ' a s $ i m> 3 0 f i m d a cena da pesageip Ao homem que passou por essa prova difícil cabe agora enfren,

« p i ^ A ^ 0 - ^ ' 6 ° d o s Morfos m i S as palavras que o ;coraçao virtuoso e sen pecado" lhes dirá Uni dos textos mais completos e corretos "da fala do falecido ao

. verdadeiro d 6 voz, d a ^ a l a das deqsas Maati" - acha-e no ?ap? o 'de, Nu, em que diz o fáleqido: * no rapiro

1 M t o t l ^ S S T o s ^ S ? ' í d è u s e s , q u e m o r a i s na S a l a d a s d e u s a s .maaii , conneço-vos e cbnheço vossos nomes. Não me deixeis cair

o d e u s W n f a C a S d S m : U a ^ a - n ã 0 & ^ a i s minha perve^dade n ^ r l , J a C O m i t l v á e s t a i s ; ! e n ã 0 deixeis que a má sorte me persiga por vosso intermédio. Deçlarai-me verdadeiro de vo7 n ,

K ( i s t o V t ^ V - q U e f * ° q U g é Jus^° e verdadeiro e l i ^ mera (isto e ( Egi to) , Nao .amaldiçoei Deus e portanto não

dqxeis qqe a m á ^ r . t e ^me persiga aíavés do Rei q T m S a Tm

Maati H o u T s o ? s e t n a ^ i ' 6 d e U S £ S ' q U £ h a b i t a i s n a S a I a das deusas s K 3 B P ? « £

e ahmento-me da iustica e da v^rHari» n e aa vejrüade « a s s i m ^ ^ « c â ^ ^ ^ - a S pedido^e ^ " T S f S u v í l o ^ " S V ° S Í r Í S ' ' é- Ani faz seu1

lavras certas da maneira c e r t o V n o ^ T S r S ' d / v T 5 * ^ " ^ n / . i-ilho primogénito de Osíris. I

I i

• ' • '

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fiz que Deus ficasse em paz [comigo fazendo] a, sua vontade. Dei pão ao homem faminto e água ao sedento, roupas ao nu e um barcp ao marinheiro [naufragado], Fiz offerendasi santas aos deuse^ e. refeições sepulcrais aos mortos bem-aventurados. Sede,'pois1, meus

lilibertadores, sede, pois, meu protetores, e não'façais acusação contrai mim !na presença de [Osiris]. Sou limpo de boca'e de mãos;'portanto, : seja-me dito pelos que me contemplarem. 'Vem ém paz, vem em páz.' :Ouvi a palavra poderosa que cjs corpoi espirituais disseram ao G^to ]18 na casa de Hapt-re. Testemunhei na presença de Hra-f-ha-f, e, (ele deu [sua] decisão. Vi as coisas sobre as' quais o abacateiro se expande dentro de Re-stau. Sou ' o que dirigiú orações aos deuses e lhes i conhece as pessoas. Vim e adiantei-me para fazer a decla-rbçãp da justiça e da verdade e instalar a Balança no que $ susten-tava na região de Auquert. '. [

! "Salve, ó tu que és exaltado sobre o teu pedestal (isto é, Osíris), senhor da coroa 'Atefu', cujo nome é proclamado como 'Senhor dps ventos' livra-me dos teus mensageiros por cuja causa acontecem cóisas terríveis, que dão origem a calamidades e não têm cobertura pata seus rostos, pois fiz o que é justo e verdadeiíq para o Senhor da Ijustiça e da verdade. Purifiquei-me e pi^rifiqudi meu peito com libações, e minhas partes traseiras com as coisas qup limpam, e minhas partes internas foram [imensas] na Lagda i da Justiça e da Verdade. Não há um único membro meu carente de justiça e de verdade. Fui purificado na Lagoa do Sul e déscansei na!Cidade do Ndrte, que se ergue no Campo dos Gafanhotos, onde os divinos marinheiros de Ra se banham na segunda hdra da noite e 'na tercei-1

ra hora do dia; e o coração dos deuses sé regozija depois que passa-ram por isso, seja de noite, seja de dia. E ^u quisera que me' dissessem, 'Avança', e 'Quem és tu?'.e 'Quáil é p. !teu nome!?' Estas são as palavras que eu quisera ouvir dos deuses. [E eu redargüiria] j 'Mieu nome é O que está provido de flores,, e Habitante da sua ôliveira'. E eles me diriam de pronto "Passa'1', ë eu passaria,para a cidade ao norte da Oliveira. 'E qpe verás aqui?' [indagam eles. E eu respondo]: |A Perna e a Coxa'. 'Que :Ihès dirias?' [tornam eles.] 'Deixai-me ver regozijos na terra do Fencu' [replico]. ' Q u e t e darão eles?' [indagam,]. 'Uma chama ardente e uthá tabuinha de icrist^l' [retruco]. 'Que farás com elas?' ' [insíétemi1 eles?]. "Enterrá-las-ei ao pé do sulco de Maat como Coisas para a n^itç' • [respondo]. 'Qpe entontrarás ao pé do sulco dè M3at?' [perguntam]. 'Um cetro de

118. Isto é, Ra como Aiatador da serpente dds tremas, cuja cabeça ele corta com uma faca. (Veja acima, pág. 46) f A tradução' usual é "qi e o Burro disse ao Gato"; o Burro seria Osíris e o Gato, Ra. , ,

sílex chamado Dador de Ar' [sobrevenho]: 'Que farás com a chama ardente e a tabuinha de cristal depois que as tiveres enterrado?' [inquirem eles]. 'Recitarei palavras diante delas no sulco. Extinguirei o fogo, quebrarei a tabuinha e farei um poço de água' [respondo]. Deixai, então, que os deuses me digam:'Vem, entra, passa pela porta desta Sala das deusas Maati, pois tu nos conheces'."

A essas notáveis orações segue-se um diálogo travado entre cada uma das partes da Sala de Maati e o falecido, que reza deste teor:

Ferrolhos de porta. "Não permitiremos que entres, passando por nós, a não ser que digas nossos nomes."

Falecido. " 'Língua do sítio da Justiça e da Verdade' é o vosso nome."

Poste direito. "Não deixarei que entres passando por mim enquanto não disseres o meu nome."

Falecido. " 'Lâmina do ascensor da justiça e da verdade' é o teu nome."

Poste esquerdo. Não deixarei que entres passando por mim se não disseres o meu nome."

Falecido. " 'Escala de vinho' é o teu nome." Limiar. "Não consentirei que passes sobre mim até que digas o

meu nome." Falecido. " 'Boi do deus Séb' é o teu nome." Cadeado. "Não abrirei para ti a não ser que digas o meu nome." Falecido. " 'Osso da perna de sua mãe' é o teu nome." Buraco do bocal. "Não abrirei para ti enquanto não disseres o

meu nomç." Falecido. ' "Olho vivo de Sebec, senhor de Bacau', é o teu

nome." Criado. "Não abrirei para ti se não disseres o meu nome." Falecido. " 'Cotovelo do deus Xu quando se coloca para prote-

ger Osíris' é o teu nome." Postes laterais. "Não te deixaremos passar por nós a menos

que digas nossos nomes." Falecido. " 'Filhos das deusas-uraei' é o vosso nome." "Tu1 nos conheces; por conseguinte, passa por nós" [dizem estes]. Soàlho. "Não te deixarei pisar em mim porque sou silencioso

e santo, e porque não conheço os nomes dos teus pés com os quais andarias sobre mim; portanto, dize-mos."

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e esquerdo ^ ^ ^

PortZ '0NheCeS: PaSSa'-P0ÍS' P°r dma de mim" ^ ele], o m e u ? ' N a ° a n U n C i a m ° t e u enquanto não disseres

teu n o m e ? 0 ' " ' D Í S C e r n Í d o r corações e buscador dos rins' é o

lhe o><nome." é ° d 6 U S q U C h a b i t a s u a hora? Pronuncia-

Falecido. " 'Maau-Taui> é o seu nome." Porteiro. "E quem é Maau-Taui?" Falecido. "É Tot."

Tot. "Vem! Mas por que vieste?"

Falecido. "Vim e insisto em que o meu nome seja mencionado." J.ot. bm que estado estás?"

c o n t r f o ? t s l r t r o P s 1 Í s a d o u d e ^ " C0ÍS3S m á s * R e g i d o deles." r ° S d ° S q u e v i v e m n «tes dias; não sou um

í a o * quem é soalho é um curso d ^ g u a f S e m e l ^ l r VÍV0S 6 C U j°

Falecido. "É Osíris."

n o m e r T e u ? b Ó L T ; ; - ; ãP f S

d oN ^ ; o

e t d ^ S e r " l h e - á a c i o n a d o teu Olho de Ra; e tuas r S e s semí . r , u ' * t U a C e r v e Í a t ^ á ] do de Ra ." e i Ç 0 £ S s eP u^ c r a is sobre a terra, [virão] do Olho

m a n e f r r c o m q u P o T a T e d S o l : 3 ° ^ 0 C a p í t u l ° CXXV. Vimos'a e a maneira c Z q ^ ^ K t P r ° V 3 d Í f í d l d ° J u l » t 0 ' as palavras de uma confffão d e S n / ^ T ^ h i n ° s e o r a ^ s , e através da terrível Saía das díu as Maari ? f T " " 3 p a s s a ^ m

registrou a resposta que se sunõ? ttnh !f Í' I n f e h z m en te , não se filho Horo em relação ao falecido m l 1 ° d e u s 0 s í r ^ a seu entender dos egípcios ela K • f n a o h á d ú v i d a de que no permissão para f n C r ^ toÍas H Z ^ 6 0 d e U S d a * a

Ihar dos deleites desfruTados L os ' ^ « , 0 ^ parti-domínio de Ra e de Osíris bem-aventurados sob o

96

• í ^ r T r -

l' Capítulo V

' í '' !i 1 Í . ' 1

A ressurreição e a imortalidade

• e g í p c i a prim ^ Í S a T e Ü l e r a t U r 3 d ° S

qüência das alusões à vida f u t u r a o i m P r e s s l o n a 0 espírito é a fre-Os autores das vSías obra e Z ^ M ^ q W ^ ^ r e sP e i t o" os períodoi da Mstória etípc a aue no' T 3 5 ' P e r t e « c e n t es a todos e completamente aue o í n , V c h e 2 a r a m ' Presumem tácit* sua v 4 no mundTde .além L 7 f r a m " T m u n d o " ™ a r a m " que o tempo dehe' deeffi A K ° ' ^ — 3 VÍVem 6 viverão a té

lhes possa, atribuir t ^ i p r o b S d a d H ' P° I S n e n h u m a d a t a 1 u e s e

sua estada no vale do Nilo tentaram nr e g i p C ' ° S ' n o i n í c i o d a

da mumificação.119i Se feles' Í T / ™ s e u s m o r t o ^ P°r meio rps ali chegados depois d e a S , g £ n t e p e n s a ' i n v a s o " e o deserto oriLtaT £ S i l o Z T 3 A r á b Í 3 ' ° M a r V e ™ e I h o habíto de preservar s e i m o r Z ' T ^ C O n s ^ ° 3 i d é i a e o1

em forma m o K í S j Z f n r f ? m ° - t a m b 6 m P ° d e m t e r ado tad4>. aborígines que c ^ t ^ Z ? ^ ^ °s habitantS um desses casos é' cèrío m í t? ? E g l t 0 ; 6 m <3ualquer

' C e r f ° q U e t e n t a r a m Preservar seus mortos pel9

Veja J. de Morgan, EthnograpMe PréhUicrtçue, Paris, 1897, pág. 139.

! i I 97/

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tpso de substâncias capazes de deter a decomposição e, em determina- 1

ao sentido, sua tentativa foi coroada de êxito. ',

A existência de habitantes não-históricos do Egito foi-nos reve-lada recentemente por meio de escavações felizes feitas no Alto

.Egitoj de ambos os lados do Nilo, por diversos1 exploradores euro-peus è nativos,, e um dos resultados maife hptáveis vèio a ser a déscoberta de três tipos diferentes de inumaçõés, pertencentes, sem dúvida, a três períodos diversos, como se depreende do, lexame de vários objetos encontrados nos túmulos primitivos de Nacadá e outros .sítios não-históricos da mesma época è do: mesmo tipo. Nas sepulturas mais velhas depara-se-nos o esqueleto 1 deitado sobre o, ladp esquerdo, com os membros arqueados: joélhos no nível do peito ej mãos diante do rosto. A cabeça,, p^r via de regia, está, voltada para o sul, mas não parece que se tenha observado uma regra) invariável no tocante à sua "orientação'''. Àntep' de ser depositado1

no chão, o corpo era envolto em 'pele dte gazelá ou deposto eijn grama fofa; a substância usada cbm 'a finalidade de enyolvimento dependia, provavelmente, da condição social dó falecido. Nos enter-ros dessa natureza não há vestígios de mumjficação, riem, de queima-dura, nem de arrancamento da carne dps o^sos. Nos túmulos mais velhos, depois dos primeiros, constata-se qbe os cadáyerès forapi ' total ou parcialmente despojados da ,sua , carne;, no prihleiro caso, .vêém-se todos os ossos arremessados' indiácrimiriaaamenté ao túmu-lOi, ao passo que, no segunjdoi ofe ossos das te^os e dps. pés estão 1, juntos, enquanto o resto do esqüeleto foi éspalhado em' 'terrível confusão. Os túmulos desse período estão orientados para o norte ou para o sul e os corpos em seu inferior têm, geralmente ia 'cabeça separada do resto; às vezes, é evidente que os corpos foram "junta-dos'! para ocupar menos espaço, b e vez eqí quando se'.encontram èorpos deitados de costas, com as pernas e ps bpços dobrados sobre eles; nesse caso estão inteiramente cobertds de úm revestimento de argila. Em certos sepulcros, aiqueima do corpo é patente.' Ora, em todas as classes de túmulos do período pré-histórico no Egita encon-tramos oferendas de vasos e vasilhas de todo gêriero, fato que prova, 1

sem nenhuma sombra de dúvida, que os construtores dessas túmulos acreditavam que seus amigos e parentes mortos viveriam1 de novo em algum lugar (de cuja localização talvèz tivessem a mais 'vaga' das idéias) uma vida que não era, presumivelmente, mui^ò; diferente da que viviam na terra. Os instrumentos de sílex, faéas, raspadeiras e quejandos indicam que, ao ver deles, os mbrtps caçariaip, mata- , riam a caça quando a derrubasseih e combateriam os inimigas; e os objetos de xisto encontrados nos túmulos, que para M. de Morgan

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sao amuletos, mostram que até nesses tempos primitivos acreditava o homem poder proteger-se dos inimigos sobrenaturais e invisíveis por meio de talismãs. Para caçar e lutar no outro mundo o homem deveria tornar a viver; e se tornasse a viver só poderia fazê-lo em seu corpo antigo ou num corpo novo; no primeiro caso, o corpo teria de ser revivificado. Mas tendo imaginado uma vida nova pro-vavelmente num corpo novo, o egípcio pré-histórico com certeza esperaria que uma segunda morte estivesse fora dos limites da possi-bilidade. Eis aqui, portanto, a origem das idéias da RESSURREI-ÇÃO e da IMORTALIDADE.

Temos motivos de sobra para acreditar que o egípcio pré-histó-rico esperava comer, beber e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu, e não há dúvida de que, no seu enten-der, o corpo em que ali viveria não seria diferente do corpo que tivera enquanto esteve na terra. Nessa fase, suas idéias a respeito do sobrenatural e da vida futura seriam iguais às de qualquer homem da mesma raça que se achasse no mesmo nível na escala da civili-zação, mas contrastava, em todos os sentidos, com o egípcio que Vivia, digamos, no tempo de Mena, o primeiro rei histórico do país, cuja data, por amor da conveniência foi colocada em 4400 a.C O intervalo entre o tempo em que os egípcios pré-históricos fizeram os túmulos acima descritos e o reinado de Mena deve ter sido considerável e podemos acreditar que abrange alguns milhares de anos; rpas, seja qual for a sua duração, concluímos que o tempo nao foi suficiente para eliminar as idéias primitivas, comunicadas de geraçao a geração, nem para modificar algumas crenças que sabemos terem existido num estado pouco alterado no período mais recente da história egípcia. Nos textos organizados pelos sacerdo-tes de Heliópolis, encontramos referências a um estado de coisas no que diz respeito a questões sociais, que só poderia existir numa sociedade de homens semi-selvagens. E, compulsando obras ulterio-res, quando se fazem extratos dos textos mais antigos que contêm tais referências, vemos que as passagens em que ocorrem alusões repreensiveis são de todo omitidas ou modificadas. Sabemos com certeza que os homens cultos do Colégio de Heliópolis não pode-riam ter-se entregue aos excessos a que, segundo se presumia, se entregavam os reis falecidos, para os quais preparavam os textos fúnebres, e só se permitiu que perdurasse neles a menção da abomi-nação sem nome infligida pelo egípcio selvagem ao inimigo derrota-do, por motivo da própria reverência à palavra escrita.

Cumpre mencionar, de caminho, que as idéias religiosas dos homens sepultados sem mutilação de membros, sem despojamento da

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s ^ ^ i s ^ r r a * d e v e m ter sid°diferent- *» enterrados na p o S n e natS H ? m ° r t ° S ' 0 s P ^ e i r o s são vermos nesse costume o s ^ L í " ™ 9 * ' * ^ S e j u s t i f i c l u e 0

parece indicar que c o n s o a i í «,,„ proteger o corpo, outra vez. Os fios S m u t i l é * X p e C t a t l V 3 ' 0 c o r p o n a s c e r i a

S . espi-

à s i d é i a s

z s i z £ £ ? 1 — - S S

f X ^ ù E s r = s ' « y

modo notável estava o CA ou "duo o» T £ C ° r p ° d e a l g u i ?

Pendente, « a « ^ W J ^

347. 3 2 5 3 ) V e j a R e C U e Ü d e T r a V ™ * > "»»• v, Págs. 55 e 185 (linhas .69,

100 1

I I

vam a. alimenta, o CA, que irá capaz, segundo se supunha ° f c o m e r "

ï = c e r f ™ " ° d ? P ™ ™ tempos separa-

como » s a c e r d M « ' L r ï " M ' h o m e n s e r a m conhecidos

ela „ f „ ^ X , í a m a V a " S e B A > a s i d é i S S d o s relativas a

• î S w ' F S » « S '

. S ^ â í ^ p H S S ele. Como o coração1 ÀR ™ " f í™"1 0 e m a n t ^ conversação com vida dorhotbem. S s ° a i ^ d T m S n T ^ S 6 n t Í d ° S ' a> d a

céu' com, os deuses e ali n r S h f b e m - a v e n t u r a d ° s - o r a v a ! no gozos 'celestiais. a h ' P e a v a m , para sempre, de todos os

foU d 0 denominava-se do corpo os n i l f ' 9 2 b n l h a n t e ' Ominosa e intangível v i v i a T c L os d e u l s C f s n T r ' — 6 d e S 6 r e s celestiais ^ e

' os C A Z - p o ^ ^ ' à S i ï S * 0 ^ . 0 * 0 , s ã 0 claras; Como catástro è SÊ c L p u n h a S ' e Í f T * 0 6 ' P 3 r a ° b v i a r a e s s a

CU, ia ».para o l ë u o u t r a n a S í 6 i m , i l a ? e S p e c i a i s ' A l é m d ° hom'em, a saber; o séu ^EOlteVT A ™ p ° r s s i m a da entidade do1 "ter o domínio ' d e í l g u m a ^ o f s l ' ! ^ ^ l i t e r a ^ t e , í textos primitivos s i S à o S ? ' ' , C ° m ° é e m P r e § a d a nos

• de alguma coisa ' to "podïr" A n T V ^ t C r ° , d o m í n i o

homem era a s ù a X S J £ i " A p a r e n t e m e n t e , o SEQÚEM do ( . , . sua ^ fcprça vital ou vigor personificado, e criam os

|| 1 i i

• 1 ' ' ' 101

Page 51: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

I , egípcios que, em certas condizes,' poderia , seguir, e seguia, ao céu o que 6, possuísse na terra. Outra parte do homemicliamava-se CAIBIT, ou "sombra", a miúdo mencionada em conexão com a alma e, em épocas mais recentes, sempre considerada próxima dela. Por 'fim,

! mencionemos o REN, ou "nome" dd homem, corpo uma! de suas partqs constituintes mais importantes.1 0,s egípcibs,, em comum com tddas as nações orientais, davam enorme ímpqrtancia à preservação do nome e, no seu entender, qualquer pessoa1 que levasse a efeito 'a eliminação do nome de um homem destruía-o fambém. c W i o CA, erâ uma porção da identidade especialíssima dp homem, e é fácií ver por que lhe foi atribuída tamanha importância; um ser sem nome não poderia ser apresentado aos deuses e,' coiho i nenhuhia coisa criada existe sem nome, o homem que nãc) tinha nome estava em ípior situação diante dos poderes divinos do qtie o mais frágil dos objetos inanimados. O bom filho se obrigava a perpetrar d).,nome do pai e manter os túmulos dos mortos em bom estado de conservação1,,1

de njodo que todos pudessem ler os nomes doij! que neles Be afchavam enterrados, era um ato muito meritório. Por outro lado,1 sé o fale-, eido conhecesse os nomes de seres divinos, foSgeml eles amigos oui inimigos, e soubesse pronunciá-los, obtinha inlcohtinenti podèr sobre eles e era capaz de obrigá-lós a 'fazer • a sua, yontade.

Vimos que a entidade do homem consistia rio, corpo, no duplo, na alma,1 no coração, na inteligência espirrai), ou espírito, nõ )podeí|, na sombra e no nome. Essas oito partes pòdèm. reduzir-se a três,'

, deixando-se de lado o duplo, o coração, o,,1 poder; a sòmbr^ é> o nome como representantes de crénças produzidas pelos egípcios à medida que subiam, pouco a .pouco, na escala da' civilização e por • serem o produto peculiar da sua raç.a; podemos dizer, portanto, que, o homem consistia em corpo, alma e espírito. Mas subiam, todos ao mundo de alémrtúmulo e lá vivi^mf Os textos egípcios respondem! de maneira precisa a essa pergunta; a lalma e o espírito dos yirtuosos saíam do corpo e iam viver no céu com os bem-aventurados e, os deuses; o corpo físico, porém, não tornava á [erguer-se; e,acrpdita-va-se que nunca deixaria a sepultura. Pessoas ignorarttes' ácredita-vam, sem dúvida, no Egito, na ressurreição do 'corpo corrutível e figuravam a nova vida como algo muito semelha,ntf a um prossegui-mento da vida que viviam neste mundo; m a s ' o egípcio que Seguia os ensinamento^ dos seus escritos sagrados conjhecia que tais crenças não se coadunavam com as opiniões djos sacerdotes e ^ias pessoa^ cultas em geral. Já na V dinastia, por volta áe 3400 a.C., afirma-va-se de modo preciso: — — 1

i 02

"A alma para o céu, o corpo para a terra";121 e três mil anos depois, o escritor egípcio declarou a mesma coisa, porém com pala-vras diferentes, ao escrever: 122

"O céu tem a tua alma e a terra, o teu corpo". O egípcio esperava, entre outras coisas, navegar pelo céu no

barco de Ra, mas sabia-se incapaz de fazê-lo enquanto estivesse em seu corpo mortal; acreditava firmemente que viveria milhões de anos mas, com a experiência da raça humana à sua frente, conhecia que isso seria impossível se o corpo em que teria de viver fosse o mesmo em que vivera na terra. A princípio, cuidou que o seu corpo físico poderia, à maneira do sol, "renovar-se diariamente" e que a sua vida nova semelharia a do emblema do deus-sol, Ra, com o qual procurava identificar-se. Mais tarde, entretanto, a experiência ensi-nou-lhe que o corpo mais bem mumificado era, por vezes, destruído, já pela umidade, já pelo caruncho, já pela decomposição, e que a só mumificação não bastava a assegurar a ressurreição ou o alcan-çamento da vida futura; e descobriu que nenhum meio humano po-deria toijnar incorrutível o que é de seu natural corrutível, pois até os aninhais em que os deuses se encarnavam adoeciam e morriam na época marcada. É difícil dizer por que os egípcios continuaram a mumificar os mortos visto que já não esperavam ver o corpo físico levantar-se outra vez. Pode ser que lhe achassem a preservação ne-cessária ao bem-estar do CA, ou "duplo", e ao desenvolvimento do corpo novo que dele resultaria; aliás, a persistência do costume também pode ter sido conseqüência de intenso conservantismo. Mas, fosse qual fosse a razão, nunca deixaram de tomar todas as precau-ções possíveis para preservar intacto o corpo morto e buscavam ajuda em sua dificuldade de outra procedência.

Cumpre lembrar que, ao dar com o corpo morto do marido, Isis pôs-se a trabalhar imediatamente por protegê-lo. Afugentou os inimigos e tornou sem efeito a má sorte que se abatera sobre ele No intuito de produzir esse resultado "fortaleceu sua fala com toda a força da sua boca, pois era perfeita de língua, e não se detinha em sua fala," e pronunciou uma série de palavras ou fórmulas que Tot lhe dera; dessa maneira, conseguiu "agitar a inatividade do Coração-que-parou-de-bater" e realizar o seu desejo em relação a ele. Seus gritos, inspirados pelo amor e pela dor, não teriam tido efeito algum no corpo morto se não fossem acompanhados das

121. Recueil de Travaux, tom. iv, pág. 71 (1. 582) 122. Horrack, Lamentations d'Isis, Paris, 1866, pág. 6.

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Decidido como estava a promover T Pronunciá-las {an-uh). parentes pelos mesmos me os e Z r e . a T n n ? ? 0 d ° S " " a m i ^ 0 s e

las de Tot, o egípcio de outrorT tinh P ° / tÍ S 1 S ' I s t 0 é- a s fórmu-

objetivo, a cada pessoa morta ? 5 6 f a t ° e m m e n t e = c o m tal se inscreviam no seu a L d J o u m £ T ^ ^ d e t e x t o s> efeito idêntico ao das palavra, £ T ? 6 a m u l e t o s > e que teriam os parentes do falecdotamhJ™ t u P r 0 n u n c i a d a s Isis. Mas caso, a saber, o d^propórcTon^ ~e T * * 1 " u m d e v e r "esse de cerimônia s imboP lcasd'anteL Ç 3 ° d e ° I 3 Ç Õ e s e a e x e c u ? ã ° depositado no jaSgo pa a de" ansar a T a , T r " 0 q U e d e f o s s e

fício, a que assistiam o falecido , 3 U r g l a o f e r e c e r ™ sacri-cada cerimônia era "companhia 6 SCUS P a r e n ^ , e que tudo houvesse sido T i f o e d t d e » r n T * a P r o P r i a d a s : depois dos sacerdotes, levava-se o com« n t j d ° C ,0m a s de te™inações múmia. Mas as palavras de Tn^ / ^ c P s e u l u 8 a r n a câmara da corpo se t r a n s a s s e num "SAHU"'ou °S S a C e r d ° t e S f a z i a m q U C 0

vel, que passava diretamente da t.VmL ° r p ° £ ? p i n t u a l i n c o r™tí-com os deuses. Q u a n d o n o L i v r o ^ J " ? ° C é u ' o n d e c o ™ v i a

."Eu existo, eu existo; eú Z 0 e u \ w ^ T * ' ° M e Ü à ° e x d a m a :

e de novo, " eu germino o m o \ s p L as'' ™nT' e U S ™ " ' 1 2 3

seu corpo físico está lancanrir» ™ P ' n a o ^ u e r dizer que • senão um corpo epr i tu a l ? "Lm ^ n T ° S d e ° U t r ° C O r p o ^ ção, como Ra». Para o SAHU f ® J 3 m 3 1 S s o f r e r á d i m i ™i-corpo do homem na terra e dir-s ia n u f o " ' ' 3 l m a q u e v i v e r a n o

formasse a morada da alm! ™ - q C 0 r p 0 n o v o ' incorrutível, fora a sua morada t e r e t T A s r ^ T * ™ ^ C ° m ° 0 c o r P° f í ^ o vam a mumificar seus morfos a s Z T f S e g í p d o s c o n t i n u a " por acreditar que os s e u s c o í p o s S 0 I J í f ° ã 0 ° f a z i a m

desejarem que" o corpo e s p i r i t u a l ^ ^ m 3 S p o r

e, se possível - ao menos é o que pareS r g f ™ i n a S f d e I e s

corpo físico. Dessa maneira q • P e c e r e v e s t i s s e a forma do e nesse corpo vinham a S C I 3 m m ° r t 0 S ' s e g u n d o o s egípcios,

da ami°jdu:drr c í " t^sr6 nio haver - - p- ^ a r imortalidade, e a p r o S g?ra

d ° i m o r t o s e " a

arqueológicas como r e l i l L f f « ' , H 2 d e c o n s i d e r aÇÕes assim via, quanto a o J ç ^ ^ V ^ S Tão velha, toda-

V * e a c r e n ? a especifica num corpo espiri-J23. Veja o cap. cliv. 124. Veja o cap. lxxxviii, 3.

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tuai. (SÀH ou SAHU), que já encontramos em textos da V dinas immmm ! S l e f u n T t' P ° r V O l t a d£ | 3 3 0 0 a ' C > h á um uecho em que o rei de fun to a terror iza todos los poderes do rV>„ P ^ ,„ 4

"surge como uma alma (BA) m 1 J ? " a P ° r q U â

"Consome n Z l US6S q u e a P a r e c e m em formas visíveis

d di in^e o espirito dos deuses estão nele."

' va g en?de 0 tnS Sc

t e P á S f ° - C r Í S t a H n a ' U m a a I u s ã o costume dos sei-

' :sítíos ím re.aS??á ^ c s o l e V ï C e ° e m alS""s

' ' ' '' ' , ; '

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I 1 I'

mesmo rei: "Vê, não foste pomo um mdrto,! mas. como um viyo, sentar-te no trono de Osíris";12"' e nuin plapiro escrito quase,dois mil anos depois o próprio rei falecido diz: "Minha ajma é Deus, minha alma é eternidade",120 prova evidente) identidade da^ idéias sobre à existência de Deus e a eternidade. Mais uni exemplo, contu-do,, merece ser citado, ainda que seja apenas, {para mostrar o cuidado! com que os autores de textos religiosos impfiniiam no espírito dos leitores a idéia da imortalidade da alma. De acordo com o Capítulo CLXXV do Livro dos Mortos, o'falecido enèoritta-se num, lugar em' que não há água riem ar, de "profundeza insondável, negro como a mais negra das noites, onde os homens ^rram, desamparados. O homem não pode ali viver com o coração 'sereno, pem ali podem ser satisfeitos os anseios de amor. Mas," diz o falecido 90 deus Tot, "seja-me dado o estado dos espíritos em lugar 'dei água, de ar e da satisfação dos anseios de amor, e seja-me; dáda a serenidade dej coração em Ijigar de bolos e cerveja. O deus TemU decretou que i verei teu rosto e que não me farão padece^ as coisas que ' te fize-ram sofrer; transmita cada deus a ti (tó Osíris] seu tronô por milhões de ,ands! Teu trono passou para teu filho Horo e o deuS Temu determinou-lhe o curso entre os príncipes sagrados. Na verdade, ele reinará sobre o teu trono e herdará o troitq do Habitante cjlp Lago dós Dois Fogos. Na verdade se 'decretou que ele verá erh mim sua semelhança,127 e que meu rosto' olhará para o rosto do ideus Tem." Recitadas estas palavras, o falecido pergunta a Tot: "Ifor quanto tempo viverei?" ao que o deus retruca: "Está decretado que viverás milhões e milhões de anos, uma vida de milhões de anos." Querendo dai; ênfase e maior efeito às suas palavras, o deus fala tautologica-mente, para que nem o mais inculto dos homfens deixe de pompreen-der-lhes o significado. Um pouco adiadte, no mesmo Capítulo,1 diz I o falecido: "Ó meu pai Osíris, fizeste por mim o que fezt por ti teu pai Ra. Por isso morarei na terra permanentemente, cçnservarei a posse do meu assento; meu cabelo será forte; toieu jazigo e meusi amigos, que estão sobre a terra, floresderão;' meus inimigo^ ser^o votados à destruição e aos grilhões da deusa ,Serc. Sou' teu filho, ei Ra é meu pai; para mim também, farás vida, força e saúde!" interessante notar que o falecido primeiro idbiitifica Osíris com F^ , e depois se identifica com Osíris; dessa mari^ira, identifica-se com Ra.'1

Ao lado dos temas da ressurreição e da imortalidade, força é íjiencionar as freqüentes referências, nos textos' religiosos de todos os

125. Recueil de Travau.r,, tom. v, pág. 167 (1. 65) . , 126. Papiro de Ani, Es tampa 28, 1. 15 (capítulo Ixxxiv).

h ; 127. Isto é, serei como Horo , f i lho de Osír is . ' 1

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períodos, à comida e à bebida de que se nutriam os seres que, segun-do se acreditava, viviam no mundo de além-túmulo. Em épocas pré-históricas era muito natural que os amigos do morto lhe colo-cassem comida no túmulo, por acharem que ele teria necessidade dela em sua jornada ao outro mundo; esse costume também pressu-punha que o falecido teria um corpo igual ao que deixara para trás na terra e que esse corpo necessitaria de comida e bebida. Na V dinastia, criam os egípcios que os mortos bem-aventurados se alimen-tavam de comida celestial e não sofriam de fome nem de sede: , comiam o que comem os deuses, bebiam o que eles bebem, eram o que eles são, e tornavam-se, em assuntos como esses, os equivalentes dos deuses. Em outro passo, lemos que trajavam roupas de l inho ' branco, calçavam sandálias brancas e iam para o grande lago, bem no meio do Campo da Paz, onde se assentam os grandes deuses, que lhes davam de comer da comida (ou árvore) da vida, que também os sustentava. É certo, porém, que havia outrossim os que esposavam outras opiniões acerca da comida dos mortos, pois já na V dinastia se cogitava da existência de uma região, denominada

JssquÊicAaru, ou Sequet-Aanru, a que a alma do egípcio piedoso almejava chegar. Não temos meios de dizer onde se situava Sequetr Aaru e os textos não nos oferecem a menor pista da sua localiza-ção; cuidam alguns eruditos que ela ficava longe, a leste do Egito, mas é muito mais provável que representasse algum distrito do' Delta, na sua porção norte ou na sua porção nordeste. Felizmente, temos uma descrição dela no Papiro de Nebseni,128 provavelmente o mais velho dos papiros, da qual podemos inferir que Sequet-Aaru, l s t 0 é> 0 "Campo" dos Caniços", tipificava uma região fertilíssima, onde podiam ser levadas a cabo com facilidade ê~bom êxifõ~~õpera-ções agrícolas, pois nela abundavam canais e cursos-d'água. Numa de suas seções, dizem-nos, habitavam os espíritos dos bem-avéntu-rados; a gravura representa, provavelmente, um "Paraíso" tradicio-nal ou "Campos Elíseos", e as características gerais dessa terra feliz são as de uma herdade grande, bem conservada e bem provida, situada a pequena distância do Nilo ou de um de seus principais afluentes. No Papiro de Nebseni, as divisões do Sequet-Aaru contêm o seguinte: —

1. Nebseni, o escriba e artista do Templo de Ptá, com os braços pendentes, entra nos Campos Elíseos.

2. Nebseni faz uma oferenda de incenso à "grande companhia dos deuses".

128. Museu Britânico, N . ° 9.900; este documento pertence à XVIII dinastia.

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Os Campos Elíseos dos egípcios de acordo com o Paniro de MM, • (XVIII dinastia) P d e N e b s e a l -

símbolos d f S d T b a r C 0 ' N e b S e n Í «áma do barco há três

4. Nebseni dirige-se a uma figura barbuda e mumificada.

5- Tres Lagoas ou Lagos chamados Urti, Hetep e QMetquet. N e b s e m r e a l i z a - sega em Sequet-hetepet

na ftLoIS3r2tKaa °c5ÜS?? 5r&SapoIei™do num pedestal;

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Lto*«M$£l«°Á NebSenl 3SpÍra ° perfume de uma flor: reza o texto. Milhares de poisas boas e puras para o CA de Nebseni."

9. 'Uma mesa de oferendas. ' Pa (?)°'e §eUtep0 ^ ^ L ' a g ° S C h a m a d ° S N e b W a U 1 ' Uaca,

11. Com o auxílio de bois, Nebseni ara a terra à mareeik de um curto d agua qilfe ffem mil [medidas] de comprimen o e cuia largura nao se podei dizer; nele não há peixes n e m T m e s J

_ 12, Com o aujtfip de 'bois , Nebseni ara a terra numa 'ilha cujo comprimento e a extensão' do céu"

e s s s •jsxs&sb

escada.( O sitio e m i . p e está chama-se "Domínio de Net" 16. Duas Lagoas, de nomes ilegíveis }

!l

s s f d S ^ ^ » (pena ^ f p a i e t í n i . ^ ^ T u t u 6 T o t ' q u e l h e e m P ™ h * a I pena e a paleta. Anr moye um barco a poder de remos Ani diríop1

r S M -

I 129. ' Museu Britânico, N.° 10.470, Estampa 35. I

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4. O sítio de nascimento do "deus da cidade"; uma ilha na qual há uma escada; uma região cognominada o "lugar dos espíri-tos" com sete côvados de altura, em que o trigo mede três côvados, e onde os SAHU, ou corpos espirituais, o colhem; a região Axet, habitada pelo deus Un-nefer (isto é, uma forma dé Osíris); um barco com oito remos largado na extremidade de um canal; e um barco a flutuar num canal. O nome do primeiro barco é Behutu-tcheser, e o do segundo, Tchefau.

Vimos até agora que no céu e no mundo de além-túmulo o falecido só encontrou seres divinos, e os duplos, as almas, os espíritos e os corpos espirituais dos bem-aventurados; mas nenhuma alusão se fez à possibilidade de os mortos se reconhecerem, ou de serem capazes de prosseguir nas amizades ou relações que mantinham na terra. No Sequet-Aaru, entretanto, o caso é diferente, pois temos três razões para acreditar que as relações, reconhecidas, constituíam motivo de júbilo. Assim, no Capítulo LII do Livro dos Mortos, composto com a idéia de ser o falecido, à míngua de comida apro-priada no mundo inferior, obrigado a comer imundícies,130 e com o objetivo de obstar a uma coisa tão medonha, diz ele: "Não me deixeis comer o que é uma abominação para mim, o que é uma abominação para mim. Uma abominação para mim, uma abominação para mim é a imundície; não seja eu obrigado a comê-la em lugar dos bolos sepulcrais oferecidos ao CAU (isto é, "duplo"). Não toque ela o meu corpo, não seja eu obrigado a segurá-la com as mãos; nem compelido a pisar nela com minhas sandálias." " -

Algum ser, ou seres, provavelmente os deuses, perguntam-lhe, então: "De que viverás, agora, na presença dos deuses?" E ele redar-güi: "Venha a mim a comida do lugar da comida e seja-me permi-tido viver dos sete pães que serão trazidos como alimento diante de Horo, e do pão que será trazido diante de Tot. E quando os deuses rtie disserem, 'Que tipo de comida terias dado a ti mesmo?' replicarei: 'Deixai-me comer a minha comida debaixo do sicômoro da minha senhora, a deusa Hator, e deixai que eu passe o tempo entre os seres divinos que, ali pousaram. Tenha eu o poder de orde-nar meus campos em Tatu (Busíris) e minhas colheitas em Anu. Deixai-me viver do pão feito de grãos brancos e da cerveja feita de

130. Esta idéia é uma sobn vivência de tempos pré-históricos, quando se supunha que, se as refeições sep ílcrais apropriadas não fossem depositadas, a intervalos regulares, num lugar im'<jue o CA ou "duplo" do falecido pu-desse alcançá-las, este se veria ob igado a vaguear por ali e colher o que quer que pudesse encontrar para comer em seu caminho.

111

Page 56: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

meu pai e

eu sadio e forte tenha S P ° r d e n a r m i n h a h e r d a d e - Seja de sentar-me onde S m ^ m ° V e r - m e ' e s eÍa c aPa*

ter suEaStproCpaSd°; e l ^ t T n o f ^ ° f a I e d d o d e s e Í a v a

do IX nomo ^ B a i L Egito (Busirhe^ ^ t - f é ' ^ p e r t ° d a c a P i t a l

de Semenud (isto é L b e n h n ! S n t ° p r O X I m o d a c i d a d e

do maior ^ t ^ M S ^ S e d e

S S E S T Í Í 5 3 : s s r r » que a branca T a a guard e da oort^d ^ ^ m e i ! O S c o m u m d o

falecido as "formas (ou n e s s L Í I d a S U a P r oP"edade pede o confirma o d e s e j o d a ^ L t e do e U / 3 1 6 d e S u a m ã e "> 0 ^ encetada na terra fora o c L n l ' P C 1 0 ' d e , C O n t i n u a r a v i d a familial dessas se não houVesse a p e rsDec fva T ^ ° ã ° p e d i r i a u m a c o i s a

mundo. Interessante prova disso no« f C ° n h e C e r S 6 U S p a i s n o o u t r o

Sequet-Aaru, os Campos Elís os e s ^ L t T ' aD

r e p r e S e n t a ç ã o dos sacerdotisa de A m o 7 q u e v veu n í v P f n ° P a p i r ° d e A n h a i > m

a.C. Vemo-la aqui enírandn n,' p r o ! a v e I m e n t e > P«r volta de 1000 dirigindo-se a d^ias pe^soTs dignas acima1 de ^ d ° ^ 6

tas as palavras "sua mãe' ' a c o m n f n h ^ ^ 6 U m a d e l a s e s t ã o e s c " " que se segue é, provavelmente T d o nal e í n 0 m e , N e f e r i t u - A forma za de que os egíocios T c r e d L L m S S I m P ° d e m o s t e r a c e r t e "

0 U t r °A ^ ^ que f o Z 7 o % ^ x T L l t S S ^ T ^ ^ ^ t e X t 0 ' grande quantidade de i n f o r m a ^ r r e l a t i v ^ 0 1 ' 0 - ^ 0 1 1 1 0 d e m i n i s t r a

tempos primitivos a resp ito dessa rt£L . ^ ! d f m s esposadas nos

a vida semimaterial a u e J S J ® ° e p r 0 j e t a m u i t a sobre

131. Museu Britânico, N.° 10.472.

112

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«k

Sequet-Aaru; de estar em Sequet-Hetepet, região poderósa, sepliora dos ventos; de ter poder ali; de se tornar um espírito (CV) ; ^ e colher; de comer; de beber; de fazer amor; e de realizár ali quanto1 realiza o'homem sobre a terra." Diz a falecida: ',

"Set agarrou Horo, que olhava com osi dois olhos1 3 2 para ; a construção (?) em torno de Sequet-hetep, "mas libertei, Horo [e

tirei-o] de Set, e Set abriu o caminho dos dbis fclhos [que estão] no céu. Set lançou (?) sua umidade aos'ventos sobre a alma que tem o seu dia e mora na cidade de Mert, e libertou o interior do coifpo de Horo dos deuses de Aquert. , 1 1 | ' ]

"Ved,e-me agora, faço o poderosé barpo, viajár pelo Lago de Hetep,! e trouxe-o, à força, do palácio'de X u ; , o domínio de• suas' estrelas rejuvenesce e renova a força,que ele item há muito. Levei, o barco para os lagos dali, para , poder apátécer nas cidadès, e ijaveguei em sua divina cidade de. Hetep. E vede,; é porque estou em, paz com suas estações, sua direção, seu território, e com a com-panhia dos deuses que são seus primogênitos. , Ele faz Horo ,e Set fiçíjr em paz com os que vigiam os vivos que criou em bela fôrma,. e ttaz a paz; faz Horo e Set estar em paz coiA' os que os vigiam.' Cortai o cabelo de Horo e Set, afasta a tempestade dos indefesos

j e mantém apartado dos espíritos (CU) todo ó mal. Deixai4mè ter j domjnio dentro desse campo, pois o conheço, e naveguei pelos feeus I, latos para poder chegar às suas cidades. Minhai boca é firme,133 ' I ésíòu aparelhado para resistir aos espíritos ( C U ) : e , pqrtanto, eles

i, não| terão domínio sobre mim. Deixa que eu iejà recompensado cqih os teus campos, ó deus Hetep; mas faze o, que é teu desejo, ó selnhor dos ventos. Torne-me eu um espírito ali, copia, beba, lavre a terra, ceife as messes, lute, faça amdr, sçjám minhas .palavras 1

podelrosas; nunca chegue eu a um estado d'e sirvidão;, mas tenha autoridade ali. (Fortificaste a boca (ou porta) e a garganta, (?) de ' Hetep; Quetet-bu é o seu nome. Ele está instalado'sobre os pilares134

de }Çu, e está ligado às coisas agradáveis de Ra'. Èle é o divisor de anosi está oculto de boca, sua boca é> muda, o que, profere é secreto,

k i 1 • , ' ! 132. Isto é, o Olho de Ra e o Olho de Horo., 11' 133. Isto é, sei como pronunciar as palavras de poder que possuo com

vigor.1 ! " | i' 134. Isto é, os quatro pilares, colocados em cada um dos pontos, car-

j deais, que sustentam o céu. i ( ,

1.14' ' , . i

completa a eternidade e possui existência perpétua, como Hetep, o senhor Hetep.

"O deus Horo faz-se forte como o Falcão que mede mil côvados de 'comprimento e dois mil [de largura] em vida; traz equipamentos consigo, viaja e chega onde o trono de seu coração deseja estar nos Lagos [de Hetep] e nas suas cidades. Gerado na câmara de nascimento do deus da cidade, recebe oferendas do deus da cidade, faz o que convém fazer, promove a união e leva a cabo tudo o que diz respeito à câmara de nascimento da cidade divina. Quando se põe na vida, como cristal, executa todas as coisas, e as coisas que faz são como as que se fazem no Lago do Fogo Duplo, onde ninguém se regozija, e onde iiá toda sorte de coisas más. O deus Hetep entra, e sai, e volta para trás [no] Campo, que reúne todo o tipo de coisas para a câmara de nascimento do deus da cidade. Quando se põe na vida, como cristal, executa todas as coisas que são como as que se fazem no Lago do Fogo Duplo, onde ninguém se regozija e onde há toda a sorte de coisas más.

"Deixai-me viver com o deus Hetep, vestido e não saqueado pelos senhores do norte, e deixai que o senhor das coisas divinas me traga comida. Deixai-o fazer-me progredir, deixai-me sair, e deixai-o levar-me ali o meu poder; deixai-me recebê-lo, e seja o meu equipamento proveniente do deus Hetep. Deixai-me òbter o domínio sobre a grande e poderosa palavra que está em meu corpo neste lugar, pois por seu intermédio me lembrarei e esquecerei. Deixai-me progredir em meu caminho e deixai-me arar a terra. Estou em paz com o deus da cidade e conheço as águas, as cidades, os nomos e os lagos de Sequet-Hetep. Existo, sou forte, tornei-me um espírito (CU) , como, semeio sementes, colho a messe, lavro a terra, faço amor e ali estou em paz com o deus Hetep. Vede, es-palho sementes, navego pelos lagos e me encaminho para as cidades, ó divino Hetep. Vede, minha boca está provida de meus [dentes, que são como] chifres; concedei-me, portanto, um suprimento su-perabundante da comida de que vivem os "Duplos" (CAU) e os Espíritos (CU). Passei pelo julgamento a que Xu submeteu o que o conhece, portanto deixai-me partir para as cidades de [Hetep], navegar por entre os seus lagos e caminhar em Sequet-Hetep. Vede, Ra está no céu e o deus Hetep i a dupla oferenda dali. Adiantei-me para a terra [de Hetep], atei ; s ilhargas e apareci, a fim de que me sejam dados os presentes que me devem ser dados, estou con-tente, e apossei-me da minha força, que o deus Hetep aumentou grandemente para mim."

115

Page 58: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

. mi~nha í " a v e i 0 a p ó s m i m > terras,136

q u e consolidaste nSS, , m a o s ' ó S e n ^ a das duas lembro e esqurço ^ P o r intermédio me agravo me fseja f ito Concede l m C Ó I u m \ e s e m que,nenhum ração; faz-me estar em n ^ í ' ° c 0 n c e d e " m e ' alegria de co-e faz-me receber o a r " P ' 8 3 ^ t £ n d Õ e s e m e u " ó s c u l o s ,

mostrd - U r n h T ; h a b e e S f a l i ? R ^ d ° S V 6 n t ° S ' e n t r e i - * * e a deusa Hast permanece à Í o n a ™aS e u e s t o u ^ o r d ^ d o ram-se obstáculos S de mim n , ? d u r a n t e 3 n o i t e ' C o I o c a -Estou em minha cidade.» ' m 3 S r 6 U m 0 q u e R a e m i t ^ -

para ' u a q u t - ^ S o u ^ f / o u r o ' C ° l h e i t 3 e ^ n t o - m e Campo do Touro, o senhor da r • e m J U r q U e S a ' 0 s e n h o r do em suas horas. <3 U a q u e e n t r e i e S * d a d e U S a S e P t e t < S ó t i s ) mínio de pedaços escolWdo! I ' / T m e u P ã o ' l ogrei o do-e os pássaros í x T r n ^ r L ^ T & b f 6 d 3 S a v e s d e P e n a s> 'Duplos' ( C A U J ? d 3 d 0 S ; a P & os deuses e os divinos

veni-me I ^ o C ã o ^ V 6 S t Í m e n t a s e P -que ali moram seguem-no e eu t a r n Z V e ' d e C S t á n o c é u ' hetep, senhor d a s d u a s / e l ! ? * ° S l g 0 n o c é u ' 0 Unen-em-de Tchesertj con emp . r a g o r r S i s 6 ? ^ 6 m e r g u l h e i n o s

de mim. O Grande DeuTcre °ce ah e ! ' 3 S U J Í d a d e s e a P a r t ™ preparei armadilhas para as ves L n i ' f c ° m i d a

melhores." P S a v e s e m P l u m a d a s e alimento-me das

^ ' S S T X f & eamroe; e a ^ e V Í ° ^ ^ f q ü e h á ali] e l iberte 1 T n „ i ? P ° S V C r m e s e a s s e r P ^ t e s f ronte d a d í u s a S e e ^ ^ e m ^ " í ® d ° d e u s está de-e le co lhe , m a s eu a r 0 'c h o ° S h S 0 S 6 é p r ° V Í d ° d e

Í365: S r f a g o % f s ™ d a g rr

a e l - d e

137. Literalmente ® d e S ^ u e t " A a r u .

Í I I : & de um t £ £ fiSS ^ d e

140. Nome de um d i s t r i t a ^ f r C g l a 0 d e S e 9 ^ - A a r u . 141. Nome de um í g Ó da J w T d e S e ^ t - A a r u .

d a P o e i r a região de Sequet-Aaru. 116

' ' ' i > "Ó Hast,1« enfrei em ti e afugentei os que queriam chegar

G r L T S é u : ' ? ^ d a — P ^ a dos d e u ^ O Grande ,Déus deu-me a cabeça, é o que em mim a ligou f<Ji 0

i s t o A r i - e n - a b - f *

divino." ? e r t ' 1 4 3 C h e g U d , a à C a S 3 e m q U e m e é t r a z í d 0 0 Emento

"Ó Smam,144 cheguei a ti. Meu coração vigia e estou provido da coroa branca. S^u levado a regiões telestia% e faço floresce? as coisa* da terra;, há! alegria de cqração para b Tou o, p a r a T s seres -cé&tes e para a cofepanhia dos deuses. Sou o deus que é o Touro, o senhor dos depões quando sai da turquesa [céu]"

p a r a ? e d l n e ^ n ° T d ° ^ * | d a C £ V a d a ' v i m a ü> adiantei-mé Para ti, e peguei o que me segue, vale dizer, a melhor das libações1

da companhia dos, deuses. Amarrei meu b,arco nos lagos ce es t ia?

S T Z P 0 S Í - , a n C ° r a g e m ' r e c i t e i a s Palavras p fScn t om ^ , V 0 Z ' touvores aos. deuses que habitam em SequeN

. Outra^ alegrias, contiido,, além das já descritas aguardam i o hopiem que 1 passou de modo satisfatório pelo julgamento e a M u caminho para o reino dos deuses. Pois, em t e s p X T Í m l o n S petição no .pap i ro de Api, acinja apresentada (veja a pág 30 l seguintes),1 o deu5 fya promete ao falecido- "Entrarás no L passaras sobre o firmamento,í serás'acrescentado às d S a d e s c S lantes como estrelas. Louvores te serão entoados' em teu b a S '

« T ^ M f c t í r . . - s f o 4 S S

e cheea ao nnTng i T Í 1 - / 6 1 1 1 0 p r Ó S P e r 0 ' e 0 b a ^ o Sectet avança e chegç a©' porto. Rejubilam-se os marinheiros de Ra e o coracãn !

ao chfo"veCrá?H° ' ' " 3 l 6 g r a ' P°ÍS ° « S ao chao. Veras Horo po, lugar do piloto do barco, e Tot e Ma{t

143* SCme Se um ' f e ^ ^ ^ d e S e t l ^ t - A a r u . i l á M • j m ' l a g 0 d a t e r c e ' r a região de Sequet-Aaru í u f ' í í 0 m e i i e , u ® a®? d a ' t e r c ^ a região de Sequet-Aaru 145. Nome de U m peixe mitológico que /adava na p £ a £ T a r d o de Ra |

í 1 " ' !l 1 • 117,1

Page 59: BUDGE, Sir E A W - A Religião Egípcia [livro]

quando 7 r Á 7 J t ^ h d ° ^ T ° d ° S 0 5 d e u s e * f i l a r ã o â n t S Í T S i f r t m p f p a r a f a z e r v i v e r 0 5 c ° ra ões dos s e ^ ^ & s r s » 6 5 ^ 3 dos descendentes d°!s

. M a s > n a o contènte com navegar no barco de R* „o j-

falecido: — y a p i t u l ° X U I d o L l v ™ dos M o r t o s d i z o

"Meu cabelo é o cabelo de Nu. '

"Meu rosto é o rosto do Disco.

"Meus olhos são los olhos de Ha :or. '

"Meus ouvidos são os ouvidos d : Ap-uat. 1

"Meu nariz é o npriz de Quenti-Cas. ' ''

"Meus lábios sã<j> os lábios de Anpu. , '

. "Meus dentes são os dentes de Serquet. 1 ' '

"Meu pescoço é o pescoço da divina deusa Isis '

"Minhas mãos são as mãos de Ba-neb-Tatu

"Meus antebraços, são os antèbraços de Neit, Senhora dé Sais Minha coluna vertebral é a coluna vertebra} de Suti

"Meu falo é o falo de Osíris. • Í 1

"Meus rins são bs rins dos Senhores de >Quer-aba.

"Meu peito >é o peito do Poderoso do terror

S e q u e l 1 1 1 1 3 ^ í * ^ C 0 s t a s s ã o a barriga e',as dostas de

"Minhas nádegas são as nádegas do Olho de f íoro '»'

^Minhas ancas e minhas pernas são as ancas é as pernas de Nut Meus pes são os pés de Ptá.

o s . o s T p L " 1 ' l i L S ' • » » - o « „ oi

ÍIT Y ^ C ^ " °f CominS For'h by Day, pág. 93

118

rnmn g - P 0 1 S ' d l Z 0 f a l e c i d o : " N ã o h á m e * b r o algum do -ieu corpo qup nao seja o membro de um deus. O deus Tot fom escudo todo o meu corpo e eu sou Ra dia após d i a »

Vemos, assim, pòr que meios acreditavam os egípcios pudesse o homem mortal renascer dos mortos e alcançar a vida eterna A re surrcçao era o objetivo com que se recitava cada ora ã o e si celebrava cada cerimônia, e todos os textos, amuletos e fórmulas de todos os períodos! destinavam-se a permitir ao, m o a í r S S

rificZ d e ? V Í V e r e t e r n a m e n t e «um corpo trlnsformado glo-rificado. Se se tiver esse fato em mente, muitas dificuldades apa-rentes se desfarão aos olhos do leitor neste exame dos textos egípcTos e ver-se-a que a religião egípcia possui uma coerência de propósitos

parece c a r e c e r , P r Í n d p i ° S ^ q U C ' p a r a a l g U n S ' à P ' ^ ™ vista,

105

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A

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