bud rock- primeira ediçāo

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Revista ficticia criada para avaliaçāo acadêmica.

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NovidadeCourtney Love: música inéditaPágina 6

Ao vivo Com performance energética e discurso de superação, Demi Lovato emociona público em São PauloPágina 13

AC/DCBrian e Angus Contam tudo em sua entrevista exclu-siva ao nosso reporter!Página 14

Eletrônica DJs que dominam o mundoPágina 24

TopOs 100 maiores guitarristas de todos os temposPágina 45

Beatles Autógrafos dos Beatles em painel do programa The Ed Sullivan Show podem render US$ 800 mil em leilãoPágina 49

Entrevista Alice Cooper olha para o passado: “Eu não peço desculpas por nada” Página 4

HIstóriaEstúdio pede ajuda para recuperar mesa de mixagem que gravou Ten do Pearl JamPágina 69

Especial Jim Morrison - sexy, perigoso e imortal: por que o mito continua vivo?Página 8

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Alice Cooper olha para o passado: Alice Cooper olha para o passado: “Eu não peço desculpas por nada”“Eu não peço desculpas por nada”

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O astro do rock é tema do documentário Super Duper Alice Cooper, que acabou de estrear no festival Festival de Cinema de Tribeca

Por Kory Grow

“Nós não trouxemos a galinha”, diz Alice Cooper à Rolling Stone EUA, fazendo um gesto enfático com a mão em um hotel em Nova York. Em setembro deste ano, serão completados 45 anos desde que Alice Cooper se tornou Alice Cooper depois de encarar o público no show Toronto Ro-ck’n’Roll Revival, enquanto abria para John Lennon. Reza a lenda que alguém jogou a ave no palco, e, pensando que ela iria voar (“Eu sou de Detroit e nunca havia pisado em uma fazenda na vida”, ele diz até hoje), jogou-a de volta para a plateia – apenas para ver o público desmembrá-la. “Quando eu percebi que as cinco primeiras fileiras eram de pessoas em cadeiras de rodas, tudo ficou ainda mais macabro”, relembra Cooper. O frontman credita a esse dia à ins-piração para a persona que ele usa no pal-co até hoje. “Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”, diz Cooper, que ainda se veste inteiramente de preto, incluindo as calças de couro. “Eles realmente querem um vilão – e quem melhor para interpretá-lo do que eu?”

Cooper tem feito algumas reflexões profundas nestes últimos meses, depois de ter participado de um documentário sobre a vida dele, Super Duper Alice Cooper (o

filme acabou de estrear no Festival de Cine-ma de Tribeca). Com um elenco que inclui Elton John, Bernie Taupin, Johnny Rotten, Iggy Pop, a mãe de Cooper e, é claro, o próprio Cooper, Super explica como Vin-cent Furnier, de Detroit, se tornou o vilão que atrai fãs para o pesadelo que ele cria em cima do palco e em álbuns como Love it to Death e Billion Dollar Babies desde os anos 1960.

O documentário, que foi feito pelas mes-mas pessoas que produziram Beyond the Lighted Stage, sobre o Rush, combina ani-mação e gravações antigas, examina como Cooper se tornou um nome familiar e como o personagem quase levou a melhor sobre ele. Fala sobre quando o cantor conheceu Salvador Dalí, as turnês cheias de álcool e até sobre o motivo de Cooper ter encontra-do consolo no Cristianismo. É uma história de sobrevivência, resistência e força.

Como foi assistir a sua vida passar diante dos próprios olhos?

É engraçado, porque eu não não vivo no passado. Eu entendo que as pessoas queiram saber como foi que tudo deu certo,

“Eu percebi que a plateia está louca por um vilão”

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como eu comecei, e é uma história interes-sante. Mas foi divertido voltar. Eu não peço desculpas por nada – tudo aconteceu na “Era de Ouro”, quando você podia fazer referências a Jimi Hendrix e Jim Morrison e perceber: “Eu ficava bêbado com esses caras”.

À medida que você reconta essas his-tórias de pessoas como Hendrix e Morri-son, o que vem a sua mente?

O que eu aprendi com eles – tirando John Lennon, é claro, que era um lance muito diferente – é que eles viviam tudo ao extremo. Jim Morrison, Jimi Hendrix, Ja-nis Joplin, Keith Moon: todos eles tinham a mentalidade de “Preciso fazer agora, porque eu não quero estar fazendo isso aos 30”. E minha mentalidade era: “Eu preciso descobrir como separar a minha persona-lidade deste personagem, ou isso vai me matar” [risos]. Para mim, era tentar desco-brir como eliminar esse meio termo para poder ter uma vida minha, e Alice Cooper ter uma vida dele.

Você fala sobre religião no documentá-rio. Isso já limitou Alice, o personagem?

Até hoje, existe um momento em que penso: “Será que Alice faria isso?” Eu gosto do fato de existirem coisas que Alice não faria. Alice nunca xinga; isso não é legal. Existe uma elegância nele. Há músicas que eu não cantaria como Alice que eu escrevi há muito tempo, coisas que eu não quero que Alice promova.

Falando dos enforcamentos e gui-lhotinas que você usa no palco. Você já conseguiu antever algo perigoso demais antes de ir em frente?

Não perigoso demais, mas houve mo-mentos “Spinal Tap”. Já surgiram coisas do tipo: “Vamos colocar Alice em um canhão”. E compramos um canhão, e deu certo. Eu entrava no canhão, saía pela parte de trás, eles colocavam um boneco e atiravam; enquanto isso, eu já estava do outro lado e saía andando. É uma ilusão, mas fica-va ótimo. Mas nada foi muito perigoso. A guilhotina é uma lâmina de quase 20 quilos; ela por pouco não me pega todas as noites, pelos últimos 40 anos. A mesma coisa com o enforcamento – você tem que esperar que o cabo do piano tenha sido testado naquela noite. Quando você tem uma cobra python de quase quatro metros no palco, 99% do tempo ela vai estar bem – mas e se chega uma noite que ela decide fazer outra coisa? Eu sempre gostei da ideia de existir a possibilidade de alguma coisa acontecer.

O documentário inclui o show de Toronto no qual os fãs jogaram a galinha no palco, você jogou de volta e a plateia a desmembrou. Na apresentação, você estava abrindo para John Lennon. Ele te disse alguma vez o que ele achou daqui-lo?

Ah, ele amou aquilo. John Lennon era um vampiro de Hollywood. Ele era um dos que bebia. Mas era John Lennon e Yoko quando eles estavam fazendo a arte deles. Então,

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eles viram aquilo como arte; Yoko e John ficaram, tipo: “Isso é ótimo”. John achou en-graçado. E eu não matei a galinha. [Risos] Mesmo que eles quisessem, eu não teria matado a galinha. Mas eu percebi naquele momento o quão loucas por sangue esta-vam aquelas pessoas no festival

paz-e-amor – e era isso o que ele era. Eles não viam problema nenhum em matar a galinha.

Falando de estrelas do rock: tem uma cena interessante no filme, que é quando você conhece o seu empresário, Shep Gordon, no Landmark Hotel, e tromba com Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison em um quarto repleto de fuma-ça de maconha. Aquela cena deixou uma impressão sobre você.

Você precisa se lembrar que nós éramos uma banda jovem de Arizona, e que nós conseguíamos fazer um baseado durar uma semana, porque era tudo o que tínha-mos. E você entra em um quarto tão cheio de fumaça que não consegue ver a pessoa na sua frente, e quando a fumaça se dissi-pa [suspira]: “Olha, é o Jimi Hendrix ali.” E Shep, nosso empresário, abre uma gave-ta, e tem uma gaveta [de maconha], e ele pega um punhado. “Esse é o nosso empre-sário. Isso vai ser demais.” Em 68, 69, essa

era a coisa mais legal do mundo. Então, é, ver aqueles caras nos fez pirar.

O engraçado é que a nossa banda era formada por bebedores de cerveja. Era muito estranho que as bandas com uma má reputação eram formadas por bebedo-res de cerveja, enquanto Mamas and the Papas, Jackson Browne e o resto estavam usando heroína. Era o oposto do que você imaginaria ser. Os caras do The Monkees sempre usavam ácido. Nós bebíamos Bu-dweiser [risos].“John Lennon era um vampiro

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Jim Morrisonsexy, perigoso e imortal:

Jim Morrisonsexy, perigoso e imortal:

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Jim Morrison, se estivesse vivo hoje, teria 70 anos e pouco mais de um mês. Um dos mais notórios membros do chamado “clu-be dos 27”, ele definitivamente não foi feito para durar ou ter cabelos brancos e rugas. A morte não é heroica, mas a mitologia que envolve o fim do vocalista do The Doors se-gue reproduzida infinitamente. Cada grande astro do rock que surgiu na década de 50 e 60 deixou uma marca e modificou o panorama social para as gerações seguin-tes. Mas Jim Morrison foi além; no fim das contas, ele não precisava se esforçar muito para ser mais moderno do que os contem-porâneos. Na edição de janeiro da Rolling Stone Brasil, você conhece todas as face-tas de Morrison, lê uma entrevista histórica com o cantor e ainda conhece a discografia e a videografia do Doors.

Rebelde autêntico, o artista renegou a família – dizia que os pais estavam mortos, o que não era verdade. Nunca mais quis saber deles, especialmente do pai, almiran-te da Marinha norte-americana. Mais preo-cupado com a poesia do que com a cultura jovem e rock and roll, a princípio ele passou longe de toda a efervescência criada pelos Beatles e pelos Rolling Stones. Depois do surgimento do Fab Four, todo jovem dos Estados Unidos aprendeu a tocar guitarra e

Na edição de janeiro da Rolling Stone Brasil, investigamos a história do vocalista do The Doors, apresentamos uma entrevista histórica com o astro e ainda comentamos a discografia da banda

montou uma banda de garagem. Morrison, não – virou músico por acaso. Ray Manza-rek, colega dele na UCLA (Faculdade de Cinema da Califórnia), tinha uma banda iniciante chamada Rick and the Ravens. Depois do decisivo encontro na praia de Venice com Manzarek, onde Morrison mos-trou ao colega algumas das poesias que havia feito, o tecladista ficou impressionado e convidou o poeta aspirante para se unir à banda. Usando a flexível e expressiva voz de barítono que aperfeiçoou ouvindo LPs de Frank Sinatra, Morrison ganhou o cargo de frontman sem muito esforço.

Assim, com Morrison se juntando a Manzarek, Robby Krieger (guitarra) e John Densmore (bateria), o som do The Doors se formou. Os elementos básicos eram ima-gens retiradas da poesia beat e da literatura romântica, mais pitadas de música oriental e flamenca e jazz moderno da costa oeste. Mas o blues, paixão dos quatro integrantes, é que dava poder à banda e sustentava a parede sonora. E o tempero dessa salada era o ácido, a verdadeira fonte da lisergia californiana.

The Doors (março de 1967), o primeiro ál-bum, jogou uma luz escura no otimismo da contracultura. A Guerra do Vietnã, levando potenciais fãs do The Doors a morrer do ou-

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tro lado do mundo, fervia enquanto alguns sonhavam. Contendo imagens caóticas de incesto, destruição, violência, fim da noite e até misticismo, o Doors foi a trilha sonora para o conflito no leste da Ásia. “The End” parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos, que agora clamavam por uma amarga vingança.

No começo, Morrison jogou o jogo. Estudante de imagem, sabia como ven-der as feições apolíneas com as quais foi abençoado. Ele pediu a Jay Sebring (ca-beleireiro top de Los Angeles e mais tarde vítima da gangue de Charles Manson), que fizesse nele um corte de cabelo chamado “Alexandre, o Grande”. Com o peito nu e usando apenas um colar, Morrison posou para fotos promocionais que depois seriam apelidadas de “O Jovem Leão”. Essas ima-gens, feitas por Joel Brodsky, são até hoje reproduzidas e todo mundo as conhece (a mais famosa delas está na capa desta edição) – há cerca de 45 anos vendem com perfeição a ideia do jovem e sensual deus do rock. As feições de Morrison eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas.

“The End” parecia decretar que a velha geração tinha abandonado os filhos”

Só que não havia nada de feminino ou an-drógino nele. Bonito, sim, e particularmente perigoso.

No verão de 1967, o Doors era onipresen-te na cultura pop – ninguém conseguia es-capar de ouvir “Light My Fire”. Morrison, o Rei Lagarto, um xamã dionisíaco pingando sexo, desfilava pela região de Sunset Strip trajando calças de couro negro apertadas que não deixavam nada para imaginação. Com toda a arrogância do mundo, a banda contradizia o Beatles – o Fab Four dizia que “precisávamos de amor”, mas Morrison e companhia clamavam em “When the Music Is Over”: “Nos queremos o mundo e o que-remos agora”.

No começo, Morrison jogou o jogo. Estudante de imagem, sabia como ven-der as feições apolíneas com as quais foi abençoado. Ele pediu a Jay Sebring (ca-beleireiro top de Los Angeles e mais tarde vítima da gangue de Charles Manson), que fizesse nele um corte de cabelo chamado “Alexandre, o Grande”. Com o peito nu e usando apenas um colar, Morrison posou

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para fotos promocionais que depois seriam apelidadas de “O Jovem Leão”. Essas ima-gens, feitas por Joel Brodsky, são até hoje reproduzidas e todo mundo as conhece (a mais famosa delas está na capa desta edição) – há cerca de 45 anos vendem com perfeição a ideia do jovem e sensual deus do rock. As feições de Morrison eram tão perfeitas que pareciam ter sido esculpidas. Só que não havia nada de feminino ou an-drógino nele. Bonito, sim, e particularmente perigoso.

No verão de 1967, o Doors era onipresen-te na cultura pop – ninguém conseguia es-capar de ouvir “Light My Fire”. Morrison, o Rei Lagarto, um xamã dionisíaco pingando sexo, desfilava pela região de Sunset Strip trajando calças de couro negro apertadas que não deixavam nada para imaginação. Com toda a arrogância do mundo, a banda contradizia o Beatles – o Fab Four dizia que “precisávamos de amor”, mas Morrison e companhia clamavam em “When the Music Is Over”: “Nos queremos o mundo e o que-remos agora”.

Como artista, Morrison tinha uma dupla reputação. Era idolatrado por fãs adoles-centes, mas o material que produzia muitas vezes era proibido para menores de 18 anos. Não se considerava um astro do rock, um cantor virtuoso ou ídolo adolescente, e sim um poeta que cantava o material que

produzia. Vivia uma vida de vagabundo de luxo. Poderia ter a mansão mais luxuosa em Beverly Hills, mas, em vez disso, dormia em hotéis baratos ou no apartamento em Laurel Canyon que bancava para a namora-da, Pamela Courson, com quem vivia entre tapas e beijos. Carrões e bens materiais não eram do interesse dele. Dava dinheiro e presentes a mendigos e amigos bêbados. E poetas não são poetas se não enchem a cara.

Morrison nunca foi junkie. Detestava cocaína, experimentou profusamente LSD de 1965 a 1967, mas as viagens de ácido pararam quando viu que o álcool resolvia os problemas que tinha. Quando sóbrio, era um cavalheiro do sul, gentil e de fala mansa. O problema de encher a cara é que ele se tornava inconveniente e disposto a cometer mesquinharias com quem estava ao seu redor e se importava com ele. Tanto causava encrenca nos shows que chegou a ser preso em pleno palco em um show em New Haven. Costumava dizer que queria usar os métodos de provocação da trupe do Living Theater.

A grande tragédia na vida de Morrison vi-ria em 1º março de 1969, em uma apresen-tação no Dinner Key Auditorium em Miami (Flórida), justamente o estado onde o artista nasceu. O show começou com duas horas de atraso, devido a um desentendimento

Saiba mais na edição online da Bud Rock no site www.budrock.coma partir do dia 9 de maio.

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entre os promotores do evento. Morrison entrou no palco bêbado, não concluiu ne-nhuma canção e entoava discursos infla-mados para provocar a plateia. Em certo ponto, abaixou a calça de couro e ameaçou mostrar o pênis – por debaixo da calça ele usava uma cueca samba-canção. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu naquela fatídica noite – se Morrison expôs os geni-tais ou não – e nem os integrantes do Do-ors, nem os policiais ou o público de 10 mil pessoas conseguiram formar uma opinião definitiva. Finalmente, no encerramento da apresentação, o cantor pediu que o público tomasse conta do palco e o caos foi instau-rado. Morrison, antes um dos astros mais espertos e literatos do rock, agora era um palhaço alcoólatra e inconveniente. O que ninguém percebeu é que, com um gesto extremo como esse, o astro clamava por ajuda, e não por veneração barata.

Na época, a própria Rolling Stone EUA achou que o episódio foi mais constran-gedor do que ultrajante. Na famosa repor-tagem que a revista publicou na ocasião, Morrison aparecia em um pôster de “pro-curado” do velho oeste. A crítica e o movi-mento underground, que tanto incensaram o Doors em 1966 e 1967, agora decretavam que a banda era “peso leve”, e que Morri-son não passava de um bufão cantorzinho de baladas.

Poucos meses após o incidente de Mia-mi, apareceu Charles Manson, outro fantas-ma a assombrar a contracultura. Morrison

foi deixado de lado e perdeu o título de homem mais odiado dos Estados Unidos. Talvez o cantor tenha achado que o fato de ser bonito prejudicasse o desejo de ser levado a sério como artista. Para sufocar o “Jovem Leão”, ele guardou as calças de couro, engordou e escondeu o rosto atrás de uma barba e óculos escuros.

A Justiça norte-americana queria trans-formar Morrison em exemplo. Ele foi julga-do, condenado, teve de pagar pesadas multas e viu sua energia esvaída em meio a idas e vindas ao tribunal. Acabou conde-nado a seis meses de prisão. Apelou, mas temia o dia em que seria encarcerado.

Mas o Doors era uma mini-indústria, e mesmo com seu homem de frente envolto em problemas, a banda precisava produzir, gravar e se apresentar. Depois de Miami, os promotores de espetáculos achavam que Jim Morrison era uma bomba-relógio, e o número de apresentações caiu considera-velmente. Em compensação, a banda se recuperou em estúdio, lançando Morrison Hotel e gravando L.A. Woman, dois álbuns consistentes e mais focados que aponta-vam para dias melhores.

Morrison perdeu a fé, se fechou para o mundo e entrou em forte depressão. Não era fácil conviver com ele, e ele próprio sa-bia disso. Os amigos se afastaram discreta-mente. Longe de ser um mártir de alguma causa ou um herói da liberdade de expres-são, Jim Morrison era apenas um cara per-dido. Em março de 1971, foi para a França,

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mais eloquente também. Jim Morrison era assunto nas livrarias com o best-seller Nin-guém Sai Vivo Daqui e na capa da Rolling Stone com a provocativa chamada “He’s Hot, He’s Sexy and He’s Dead” (Ele é Quen-te, Ele é Sexy, Ele está Morto). Os anos 80 foram infestados de bandas que se calca-vam no som baseado em teclados e abu-savam de imagens surrealistas – de Echo & the Bunnymen a The Cult, todo mundo queria um pedacinho do The Doors.

Talvez em termos de mitologia póstuma, hoje Morrison tenha sido suplantado por Kurt Cobain como o grande garoto proble-ma do rock. O líder do Nirvana e o vocalista do Doors foram verdadeiramente heróis trágicos. Morrison, em particular, praticou o conceito da húbris – tornou-se tão arro-gante que desafiou a fonte de seus pode-res e, no processo, foi destruído. Ele ainda está enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, e todo ano a administração local toma medidas para impedir o caos e o van-dalismo que cercam a lápide do cantor, que até ficaria contente com isso. E enquanto a poderosa música do The Doors passar de geração para geração e as fotos do Jovem Leão circularem, o espectro do Rei Lagarto estará conosco.

“A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi

literalmente sepultada pelo resto da década de 70”

terra dos poetas e dos artistas surrealistas que tanto adorava. Nessa tentativa de recu-perar a musa poética em terra estrangeira, não teve tempo de produzir muito. Mas pelo menos parecia estar mais sossegado, longe do assédio e das pressões.

A morte de Jim Morrison, oficialmente vitimado por um ataque cardíaco em 3 de julho de 1971, gerou dezenas de teorias de conspiração – repassá-las aqui nem valeria a pena. Mas, ao morrer no apartamento em que vivia, Morrison teve o final que sempre quis: o do poeta nu, morto silenciosamente dentro da banheira. E não deixou de ser um dedo do meio para aqueles que o queriam atrás das grades e humilhado.

Quando Morrison se foi, os outros três membros do The Doors teimosamente seguiram em frente. Lançaram dois álbuns que passaram despercebidos e logo encer-raram as atividades. Morrison tornava tudo difícil, mas sem ele a banda perdia sua enti-dade. A poesia caótica de fim do mundo do Doors foi literalmente sepultada pelo resto da década de 70. Em tempos de glam, rock progressivo e disco music, a visão sinistra de Morrison não tinha espaço. Claro, muitos fãs do Doors acabaram militarando no punk, mas a visibilidade da banda e de seu carismático e complicado frontman parecia ter esgotado.

Em 1979, o diretor Francis Ford Coppola usou “The End” de forma decisiva no épico Apocalypse Now. As memórias da Guerra do Vietnã estavam de volta, e seu bardo

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Entrevista de Brian e Angus para a CDNEntrevista de Brian e Angus para a CDNEntrevista de Brian e Angus para a CDN

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Diante a uma bandeja com sanduíches e uma taça com frutas frescas, que parecem ser ignoradas, está Angus Young tomando chá e seu colega de banda, Brian Johnson, fumando, “Eu estou tentando parar; eu sei, eu sei, isso não existe”, ele admite.

Já faz quase um ano que turnê Black Ice terminou. Em retrospectiva, o que vocês acharam?

Brian Johnson: Rápida. Pareceu um vento. Você nem percebe, e então de repente, es-távamos dizendo adeus. Fiquei em choque por mais de duas semanas. Eu estava sen-tado em casa, e minha esposa ficava me olhando e dizendo: “Por que você não tira essa bunda daí e vai fazer alguma coisa? ” Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia mais como viver uma vida normal!

Angus Young: Eu fiquei na cama por uma semana, mas depois peguei a guitarra e fui para o estúdio trabalhar com ela. E montei alguns quebra-cabeças. Fiquei viciado!

Brian Johnson: Eu montei um quebra-cabe-ça também. Só levou três dias. Fiquei muito contente, pois na caixa dizia: “de cinco a seis anos”.

O público da América do Sul é conhe-cido por serem insanos, e aquele que aparece no DVD com certeza prova isso. A resposta do público ainda sig-nifica alguma coisa após todos esses anos?

Johnson: Claro que sim. Eles me dão

arrepios em algumas noites. Você tem que se concentrar no que você está fazendo, porque se você começar a olhar para o público, você acaba esquecendo o que tem que fazer.

Young: Em alguns shows, dá para escutar o barulho do público antes de entrar. É como se você não precisasse estar lá. Eles já estão se divertindo. E você não pode ficar falando muito com eles. Isso nunca funcio-na.

Johnson: Eu acho que se você falar muito, você começa a soar como um político ou um líder sindical. Basta ficar de bico calado e começar a tocar.

Johnson: O quê?! Você deve estar brincan-do! Nós estaríamos perdidos! Ficaríamos confusos!

Young: Lembro quando Mick Jagger me perguntou: “Você acha que Malcolm tem que ir pra frente e tocar? ” Então eu disse: “Esses passos estão enraizados nele. Esse é o seu jeito de dançar. É isso”.

E além disso, é o seu único exercício da noite.

Johnson: Oh, não. Quando sai do palco, ele está suando! Acredite em mim.

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Young: Malcolm é a “sala das máquinas”. E o que ele faz é único. Há muito poucos guitarristas como Malcolm no mundo. Há mais pessoas como eu: guitarristas. Muito poucos falam, “Só quero ficar aqui e tocar um bom ritmo. ” Malcolm é um solista muito bom. Não o subestime, ele pode solar e solar muito bem. No começo, quando tocá-vamos em bares, ele e eu revezávamos. Ele fazia um solo e eu outro. Então um dia ele me disse, “Vou me concentrar no suporte e você pode fazer todas as coisas coloridas. ”.

Johnson: Não há como imitá-lo. Vi pesso-as tentarem tocar “You Shook Me All Night Long” ou “Highway to Hell”, mas faziam tudo errado - e eram bons guitarristas. Eu não sei o que é, e obviamente eles também não!

Vocês nos fizeram esperar oito anos por “Black Ice”. Não vão fazer isso de novo não né?

Johnson: Em oito anos vamos estar todos mortos, companheiro!

Young: Promessas, promessas.

Johnson: Ha! “Oh, lá se foi mais um! ”

Daqui a quanto tempo vocês pensam em fazer outro álbum?

Young: Ainda é cedo. Mas esperamos que venha mais cedo. A única fórmula de quan-do Malcolm e eu escrevemos, é que não há fórmula. Às vezes você tem muitas e mui-tas ideias - no nosso caso, quartos cheios

delas. É uma questão de escolher a melhor - e, provavelmente, por sermos irmãos, po-demos facilmente dizer: “Isso é bom. Isso é uma porcaria. Isso é bom...”.

Johnson: Eu acho que se você colocar uma data em algo, você se coloca sob pressão. Assim vem alguém e diz “Final de novem-bro” é como, ”Ah caral***”.

Vocês tocam o mesmo setlist todas as noites. Não fica chato depois de 150 shows?

Young: Bom, eu tenho sorte. Tenho um po-der. Sempre tive isso. Tenho uma segunda personalidade. Visto o uniforme escolar e me torno mais forte. Mais poderoso. Até a minha visão fica melhor.

Johnson: Ele é o Clark Kent, po**.”.

Brian, você estava brincando quando disse que estaria morto em oito anos...

Johnson: Brincando? Eu não estava brin-cando!

Isso quer dizer que essa turnê exigiu mais de vocês do que a última?

Young: Bom, essas coisas acontecem com você. Nessa turnê, tive essa coisa com a perna. Não era na coxa, não me lembro. O médico disse que era algo com uma veia. Mas é engraçado, só me incomodava quando eu estava fora do palco. Quando subia lá, eu ficava bem.

Johnson: Mas isso é físico. O que você tem que entender é que nós fazemos o que

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um jogador de futebol faz - mas não temos quase uma semana para se recuperar. E se tivéssemos, iríamos querer apenas sentar e fumar! Então, fazendo assim ficamos em forma. E desse jeito que consigo ir à aca-demia todos os dias! Você quer se manter nesse nível. A última coisa que queremos ouvir é alguém se lamentando ao olhar pra você, dizendo: “Oh, você deveria ter visto eles antigamente. ”. A coisa é, estou me mantendo em forma, e Angus faz o mesmo que eu, mas ele tem que tocar o “banjo” ao mesmo tempo! É igual ao que eu faço - mas com uma mochila de acampar nas costas. Para ele, não é difícil. Mas todo mundo pensa que é.

Mas Angus, se você perder seus joe-lhos ou coxas, o que você gostaria de tocar se não pudesse se mover como hoje?

Young: Eu viro biônico.

Vocês gostariam que a banda continuasse sem vocês?

Johnson: Isso é uma questão discutível, acho que pode se dizer que sim.

Young: Acho que sim, se conseguissem continuar. E você gostaria de saber se eles continuaram bem.

Johnson: Bom, eu não quero ver essa me*** acontecendo. Que se fo** isso. Seria como um lápis quebrado, inútil.

Young: Bom, eles têm a tecnologia agora, poderiam me colocar no telão.

Johnson: Daqui a 20 anos vamos poder ir ao estádio nos assistir!

O 40° aniversário da banda está che-gando, será em 2013. O que vamos ganhar?

Johnson: Fogos de artifício! Nah, acho que a melhor coisa séria ainda estarmos de pé depois de 40 anos de banda e ainda tocan-do para os fãs. Eu não acho que haveria um presente melhor do que esse. Iria acabar com alguns de nariz empinado.

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