bubalinocultura - apostila cetam

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BUBALINOCULTURA Luiz Felipe Material destinado aos alunos da disciplina de bubalinocultura do curso de Técnico em agropecuária pertencente ao CETAM.

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Page 1: BUBALINOCULTURA - apostila cetam

BUBALINOCULTURA

Luiz Felipe

Manaus – 2013

Material destinado aos alunos da disciplina de bubalinocultura do curso de Técnico em agropecuária pertencente ao CETAM.

Page 2: BUBALINOCULTURA - apostila cetam

I – IntroduçãoO búfalo é um animal versátil, com impressionante capacidade de adaptação e que já era

usado domesticamente, desde o terceiro milênio aC. Sua origem é do norte da Índia e sul da China em 2.500 – 2.100 aC, onde sua domesticação ocorreu na Mesopotâmia – Atual Iraque.

Pode ser usado como montaria, caso da ilha do Marajó, onde até a polícia patrulha as comunidades usando esses animais. Possui temperamento dócil, o que facilita sua criação e manejo, são rústicos, adaptando-se bem às mais variadas condições ambientais.

A criação de búfalos representa uma alternativa para os solos pobres e acidentados, várzeas ou pântanos, onde em geral a criação de bovinos é praticamente inviável. O elemento característico desses animais é a forte resistência, em razão da qual, os búfalos são frequentemente utilizados como animais de tração. Rústicos, tem capacidade de transformar alimentos pobres e inferiores em leite, carne e trabalho.

Introduzidos no Brasil a partir do final do século XIX, usualmente em pequenos lotes originários da Ásia, Europa (Itália) e Caribe, motivados muito mais pelo seu exotismo que por suas qualidades zootécnicas. Sua grande adaptabilidade aos mais variados ambientes, sua elevada fertilidade e longevidade produtiva, porém, permitiram que o rebanho experimentasse uma evolução significativa e, dos poucos mais de 200 animais introduzidos no país, resultaram num rebanho de 495 mil búfalos em 1980, com um crescimento anual médio de 10,86% entre 1961 e 1980, destacando-se que, no mesmo período, o rebanho bovino cresceu a taxas de 3,8% ao ano.

A expansão da bubalinocultura no Brasil segue tendências de mercado. A partir da década de 90, os consumidores passaram a exigir produtos de melhor qualidade nutricional e sanitária, por conseguinte, o governo passou a tomar medidas mais rigorosas em relação ao modo de preparação de alimentos. Além do aspecto da preservação de áreas destinadas a reservas naturais ter se tornado um item fundamental na política de qualidade de vida. Por essas razões acredita-se que o aumento desacelerado do número de animais no território nacional deve-se ao fato da necessidade de adequação e ajuste de mercado, que engloba desde a criação até o processamento dos produtos.

Observando as estimativas da FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), nota-se aumento do número de bubalinos no mundo de aproximadamente 98%, passando de 88.505.407 em 1961, para 174.027.155 cabeças em 2005. No brasil o crescimento foi de aproximadamente 18 vezes este percentual no mesmo período, passando para 1.200.700 cabeças. Os maiores acréscimos estão entre meados de 1980 e 1990, coincidindo com um período onde houve grande quantidade de publicações que comprovavam por meio de dados científicos a produtividade e lucratividade da bubalinocultura e até em alguns aspectos a sua superioridade em relação a bovinocultura.

O búfalo tem espaço garantido como opção pecuária. No que se refere aos produtos (carne, leite e derivados), não restam dúvidas sobre a excelente qualidade, as características sensoriais, as propriedades nutricionais e funcionais. Além disso, o búfalo tem adaptabilidade, rusticidade para transformar gramíneas em derivados de alto valor agregado e como componente em sistemas agrosilvipastoris. Quando praticada em pequenas propriedades, a bubalinocultura gera ganhos substanciais às famílias agrícolas e, por isso, tem-se mostrado relevante instrumento de progresso social.

Búfalos criados a pasto ou recebendo dietas com alto teor de matéria seca apresentam rendimentos superiores aos bovinos, para ganho de peso e produção para derivados lácteos por litro de leite. Além de sua maior rusticidade, o que permite a sua criação em regiões alagadas, que são inadequadas para bovinos. Esta espécie tem maior resistência aos ectoparasitas, apresentam menor frequência de mastite, são menos exigentes quanto à qualidade das pastagens e gramíneas, e consequentemente apresentam menor custo de produção.

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O leite de búfala tem crescido no mercado consumidor através de queijos. Rico em gorduras (12%), mas com baixo teor de colesterol (20%) e maior teor de proteínas (34%) o leite é garantia de renda para os produtores. Com apenas 3,5 litros se produz um quilo de queijo, quando com o leite de um bovino comum só se consegue um quilo de queijo com 10 litros de leite. Por isso, desde 1998, o leite de búfala representa 10% de todo o leite explorado no mundo.

Na Amazônia, as pesquisas sobre ecofisiologia de bubalinos que envolvam o manejo do ambiente físico para elevação do conforto e, como consequência, a produtividade desses animais, são escassas.

A Amazônia possui a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5,5 milhões de km2, sendo o maior reservatório de diversidade biológica do planeta. Até meados da década de 60, a sua exploração era de forma extrativista, sem significativos impactos ambientais. Entretanto, posteriormente, a exploração se intensificou para integrar a região ao processo produtivo e econômico do país. A pecuária, uma das atividades econômicas que mais se desenvolvem na ocupação e na utilização das terras, contribuiu para que grandes extensões de florestas fosse desmatadas e cedessem lugar às pastagens cultivas.

O manejo inadequado da forrageira e do animal, além do uso de espécies de gramíneas não adaptadas às condições edafoclimáticas locais, reduziram a disponibilidade e o valor nutritivo das pastagens, alcançando estagio de degradação e consequente invasão de plantas indesejáveis. Nos trópicos úmidos, o ganho inicial da fertilidade dos solos se deve ao corte e à queima da vegetação, com incorporação de grande quantidade de matéria orgânica, originalmente componente da parte aérea dos vegetais. No entanto, essa fertilidade é rapidamente reduzida, quando a vegetação original não é substituída por sistemas de uso da terra, capazes de proteger o solo e reciclar nutrientes.

O principal problema das pastagens na Amazônia é a sua degradação. Esse fato se deve, principalmente, à pressão de pastejo muito superior a sua capacidade de suporte, reduzindo sua vida útil. Outros fatores estão relacionados à fertilidade do solo, que são pobres e ligeiramente ácidos, além de pragas, doenças e invasão de plantas indesejáveis.

2 – A bubalinocultura no BrasilDe acordo com as estatísticas do Instituto FNP, em 2008, o rebanho em 1999 totalizava

882.332 cabeças e em 2008, 846.469, uma redução de 35.863 cabeças, representando 4%. Quando analisamos as tendências atuais dos sistemas de produção serem voltados para modelos sustentáveis e com geração de um produto saudável, questionamos porque o rebanho de búfalos cresce pouco no Brasil.

O Estado do Pará possui o maior rebanho, 341.933 cabeças, o Estado do Amapá tem 153.473 cabeças. Juntos representam 58 % de todo o rebanho nacional. Nas regiões Norte e Nordeste o rebanho teve aumento, porem nas demais regiões, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, diminuiu. A região Norte concentra a metade do rebanho nacional e representa 65 % do total. A produção de leite é maior na região Sudeste.

Os estados que mais cresceram foram Pará, Amapá e São Paulo, as maiores reduções foram nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

A produção de leite de búfalos cresceu 6 milhões de litros em São Paulo e 1,7 milhões delitros em Amazonas. Nos demais estados recuou, como exemplo em Minas Gerais em 14 milhões de litros, em 10 milhões no Pará e 3 milhões no Estado do Amapá.

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De acordo com o Anualpec 2008, do Instituto FNP: “Os números sugerem que a bubalinocultura brasileira tende a se concentrar cada vez mais na região Norte. As condições ambientais são mais propícias a seu desenvolvimento e as características fundiárias são mais compatíveis com uma atividade eminentemente extensiva.”

Quando comparamos os números e constatamos que o rebanho de búfalos é menor de 1milhão de cabeças e o de bovinos são 170 milhões, a produção de leite de búfalos é de 35 milhões de litros por ano e a produção de leite dos bovinos é de 25 bilhões de litros por ano. Estes dados indicam a dificuldade para a expansão da atividade, que depende do aumento na demanda dos produtos e o seu preço no mercado. Com isto evidencia-se a necessidade de estudar caminhos que permitam o crescimento do rebanho de búfalos pelo aumento da demanda do mercado.

Este caminho pode ser explorado através dos atributos da criação dos búfalos e seus produtos para atender os mercados atuais que exigem garantias de origem sobre o sistema de produção e qualificação e segurança do produto final, carne e leite.

As características e a aptidão do búfalo é similar a do bovino, europeu e indiano, como produtores que igualmente são de leite, de carne e de energia transformada em trabalho. O búfalo também é amplamente utilizado em serviços no campo, seja para montaria, aração de terras, traçãoem charretes e carroças. Sua capacidade de tração é bem maior do que dos bovinos. Os búfalos possuem boas características de docilidade e de longevidade para o trabalho e para a reprodução. O búfalo tem capacidade de conversão de alimentos de baixa qualidade em produtos como leite e carne. Existem trabalhos há bastante tempo que destaca a capacidade digestiva da celulose pelos búfalos quando comparados com os bovinos.

A capacidade de adaptação a diferentes climas, mantendo sua sanidade, é comprovada pela presença de búfalos nas diversas faixas climáticas existentes, das regiões tropicais e quentes da África até regiões frias na Ásia.

Todos estes atributos são suficientes para sustentar a hipótese sobre o desenvolvimento da criação de búfalos com bases nas suas características e vantagens competitivas, adaptação ao ambiente natural e seus produtos que atendem nos novos anseios do mercado consumidor, que é a saúde.

Para aprofundar a analise sobre o desenvolvimento de criação de búfalos com objetivos de atender a demanda de mercado que exige a preservação do meio ambiente e a conservação dos recursos naturais, alem de um produto diferenciado. Para isto consideramos os princípios da agroecologia como base para os sistemas de produção e a legislação dos alimentos orgânicos como base legal para a expansão de mercado, com os conceitos dos sistemas de garantias e avaliação da conformidade.

3- Caracterização Animal3.1 Classificação

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Família: BovinaeEspécie: Bubalus bubalis variedade bubalis

Pertencem à espécie Bubalus bubalis e em todo o mundo são conhecidos como búfalos d'água (water buffalo), sendo descritas três subespécies:

a) Variedade bubalis - é o búfalo preto que apresenta cariótipo 2n = 50 cromossomos, denominado de búfalo de rio (river buffalo), abrangendo os rebanhos da Índia, Paquistão, China, Turquia e de vários países da Europa e América, inclusive os italianos e, no Brasil, está representado pelas raças Jafarabadi, Mediterrâneo e Murrah, todas reconhecidas pela Associação Brasileira de Criadores de Búfalos - ABCB;

b) Bubalus bubalis, variedade kerebao - é o búfalo da Malásia, Indonésia, Filipinas, Tailândia, etc., apresentando cariótipo 2n = 48 cromossomos. Está representado pela raça Carabao ou Rosilha (como era denominado, no passado, na ilha de Marajó, como referência à pelagem nesse tom). É conhecido na literatura mundial como búfalo de pântano (swamp buffalo).

c) Bubalus bubalis, variedade fulvus – é o búfalo nativo da região Nordeste da Índia, especialmente do Assam, vivendo geralmente em estado selvagem ou semi-doméstico, sendo um animal de porte menor que os das subespécies anteriores. É de coloração pardacenta ou avermelhada, tendo alguma semelhança com o tipo Baio do Brasil (MARQUES, 2000).

3.1.1 – Peculiaridade dos búfalosOs búfalos de rios têm hábito de passar parte de seu tempo dentro da água ou lama,

preferindo a água. Já os de pântano possuem maior facilidade de locomoção em áreas atoladiças. São utilizados para trabalho, carne e esterco. O hábito desses animais de revolverem-se na lama e banharem-se na água está ligado não só a dissipação excesso de calor corporal, como também a proteção contra pragas e doenças. O fato do animal encher-se de lama e posteriormente secar-se ao sol e ao vento permite a formação de uma crosta que protege a pele do animal. É constatado que o búfalo é menos tolerante ao calor tropical do que o bovino, entretanto, quando à sombra elimina maior quantidade de calor corporal.

Em relação à regulação do calor corporal apresenta menor número de glândulas sudoríparas (135-42; enquanto zebuínos possuem até 3.121) em compensação são bastante eficientes e conseguem regular o calor apenas à sombra. A densidade do pelame de búfalo é baixa em relação aos bovinos, 100 – 200 pêlos/cm2 (bovinos: 550 – 1100 pelos/cm2 e zebuínos 1400 – 2600 pelos/cm2), o número de pelos declina com a idade.

Os búfalos domésticos são animais dóceis que através de um bom manejo são capazes de se tornar animais de grande utilidade na produção de carne, leite, trabalho e esterco. Os bubalinos são grandes limpadores de terrenos: Maior capacidade de ingestão de forragens grosseiras, de baixa qualidade. Apreensão de plantas existentes em locais de difícil acesso. Maior capacidade de aproveitamento do alimento; Maior eficiência de transformação da proteína e energia do alimento em produto animal. O búfalo é menos seletivo quanto aos alimentos.

Em alguns países a eficiência reprodutiva é considerada problema. Período de gestação é de um mês a mais que os bovinos (10 meses). Idade tardia a primeira cria (+/- 4 anos); Longo IP (+/- 1,5 anos); Há fortes evidências de que esses resultados sejam provenientes da criação inadequada. Em países com maior índice tecnológico 80% de fertilidade; IPC +/- 3 anos; IP pouco acima de 1 ano. Os búfalos são animais mais longevos que os bovinos (chegam a 40 anos de vida); procriam até os 15 anos (existem casos de até 20 crias durante a vida útil);

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Com 8 litros de leite de búfala se faz 1 kg de queijo. São necessários 12 litros de leite de vaca para mesma finalidade. Para 1 kg de manteiga são necessários 14 litros de búfala e 20 de vaca. Teor de gordura do leite (7 – 8%).

Vantagens da bubalinocultura Desvantagens da bubalinocultura

Curiosidades sobre o BÚFALO:

VOCÊ SABIA QUE… Cerca de 13% de todo o leite produzido no mundo é de búfalas? Na Índia, segundo país mais populoso do mundo, com apenas 30% da população de bovídeos, os búfalos produzem 70% de todo o leite consumido? O leite de búfala é mais doce, mais nutritivo e com menor teor de colesterol que o leite bovino? Após o acidente nuclear em Chernobil, na antiga União Soviética, o leite de búfalo foi o alimento que mais rapidamente eliminou os resíduos de radioatividade, a ponto de ser considerando alimento estratégico para o caso de catástrofes nucleares? O leite de búfalas contem mais proteínas e maior teor de vitaminas A, D e B2 (riboflavina) que o leite bovino? A verdadeira mozzarella italiana é feita exclusivamente com leite de búfala, havendo referencias de sua produção naquele país desde os tempos bíblicos? O que conhecemos com Mozzarella no brasil é na verdade “queijo tipo mozzarella” fabricado com leite bovino e de qualidade inferior ao produto de leite de búfala? O bravio e selvagem animal norte-americano dos filmes de western é, na verdade um “bisão”, de espécie totalmente diversa do búfalo? O búfalo, assim como o cão, situa-se entre as espécies que mais se afeiçoam ao homem?

3.2 – RaçasOcorrem várias raças e diversos grupamentos sem definição racial, cerca de 19 raças

descritas na Índia, Paquistão, Europa, países asiáticos, etc. No Brasil: 4 raças, com padrão definido e registro genealógico na ABCB (fundada em 1961 e ativa a partir de 1965).

3.2.1 Padrão e aptidões das raças bubalinas criadas no BrasilAs raças que são criadas no Brasil: Murrah, Jafarabadi, Mediterrânea e Carabao, todas do

gênero Bubalis bubalis.

3.2.1.1 Murrah

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Origem: É originária do Noroeste da Índia, difundindo-se no Norte do país e no Paquistão. No Brasil distribui-se uniformemente por diversas regiões, principalmente nos sistemas de criação mais intensivos e/ou controlados, adaptados ao temperamento mais calmo desses animais. O nome Murrah significa caracol em hindu, numa clara referência ao formado espiralado dos chifres dessa raça.Aptidões: A raça Murrah é considerada a melhor produtora de leite dentre as raças bubalinas. Sua conformação e tipo indicam

aptidão mista com prevalência do tipo leiteiro. São animais profundos e de boa capacidade digestiva, elementos muito importantes para as produtoras de leiteiras. Produção de leite de 1500 a 4000 kg em 300 dias de lactação.Temperamento: Manso ou dócil. Peso médio de 550kg nas fêmeas e 750 nos machos. Porte médio e grande. Pelagem e pele: pretas, assim como os chifres, cascos, espelho nasal e mucosas aparentes. A vassoura da cauda é branca, ou preta ou mesclada. Pele fina, macia e com raros pelos. Chifres: pequenos, relativamente finos, de seção ovulada ou triangular, saindo para trás, para fora, para baixo e para cima, com a ponta retorcida para dentro e enrolada, descrevendo curvaturas em torno de si mesmo, em forma de espiral.

A raça Murrah, nos rebanhos mais fechados, apresenta-se com a morfologia corporal “melhor acabada” em conformação, porém, com pouca variabilidade de forma. O rebanho fundador, no Brasil, teve uma base bastante estreita, o que é demonstrado pelas poucas importações realizadas, contudo, em muitos casos, foi ampliada pela introdução de genes da raça Mediterrâneo que confere uma variabilidade que muitas vezes está clara na conformação corporal, caracterizando-se como uma variedade distinta. Quando fechado, o conjunto gênico Murrah, apresenta muitos problemas congênitos (atresias, paralizações, espasmos, dentre outros), resultado da endogamia, sendo reflexo direto da pouca variabilidade existente na base genética do rebanho Murrah brasileiro. Algumas novas introduções, denominadas de “nova opção”, aumentaram esta base e, consequentemente, a variabilidade da raça, todavia, não se conhece a procedência desse germoplasma, dificultando uma análise mais profunda e concreta das gerações futuras.

3.2.1.2 JafarabadiOrigem: Na Índia é encontrada nas florestas de Gir, península Kathiavar oeste da Índia e está principalmente concentrada em Kutch e distritos de Jamnagar no estado de Gujarat.Cabeça: de perfil ultra-convexo, a pelagem é preta e bem definidaAptidões: Produção de leite e de carne.Temperamento: manso ou dócil.No brasil distinguem-se duas variedades, não distinguidas na

Índia:Palitana de grande porte e cabeça pesadaGir, búfalo mais delicado e de ossatura leve, de perfil craniano semelhante a bovinos Gir.Peso de 454 kg nas fêmeas e 590 kg nos machos adultos.Pelagem e pele pretas em todo o corpo, incluindo chifres, cascos: chifres longos, fortes e

grossos, de seção ovalada ou triangular, dirigidos para trás e para baixo, com curvatura final para cima e para dentro.

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Variedade PALITANAVariedade GIR

A raça jafarabadi é proveniente da cidade de mesmo nome localizada no bosque de gyr na peninsula de kathiawar. Na Índia também existem as duas variedades onde a variedade gir é proveniente da região de rajkot e a Palitana vem da região de bhavanagr, lá se faz um intenso trabalho de seleção genética visando a produção de leite e eles (os indianos) não fazem distinção entre as variedades. No Brasil acredita-se que seja mais numeroso o rebanho da variedade gir, pois é um bom produtor de leite e carne. Já a variedade palitana possui menor preferencia dos criadores pois apesar de ser bom produtor de carne, tem a necessidade de consumir mais alimentos para produzir, ou seja, possui menor conversão alimentar. Entre os criadores brasileiros existem uma tendencia de " formar um só Jafarabadi " ou seja uma única variedade que possua a boa produção leiteira e a conversão alimentar da variedade gir e a capacidade de produção de carne da variedade Palitana. Os búfalos da raça jafarabadi do Brasil foram importados da Índia pelo senhor Antenor Machado, Torres H. Rodrigues e Rubico.

A raça Jafarabadi, apesar de possuir indivíduos com bom potencial leiteiro, é mais encontrada em propriedades cujo interesse maior reside na exploração de carne (por volta de 46%).

Pelo seu porte, no ocidente, pode ser considerado, pelos mais desavisados, como um bom animal produtor de carne, todavia, apresenta-se muito bem nos torneios leiteiros, a exemplo do seu país de origem, a Índia, onde se pode encontrar excelentes reprodutoras, com bons níveis de produção de leite.

Pode ser criada pura, pois é de aptidão mista, isto é, leite e carne, e/ou para cruzamentos, com as raças Murrah e Mediterrâneo. Apresenta grande variabilidade no fenótipo, mostrando variadas gradações na forma, quando submetido aos acasalamentos entre as duas variedades, a Gir e Palitana. Transmitem com grande força características produtivas, principalmente, o porte e caixa óssea, “levantando” os rebanhos poucos expressivos.

O rebanho bubalino da raça Jafarabadi no Brasil é pequeno, porém é uma raça bastante utilizada em cruzamentos. Apresenta excelente performance produtiva, contudo, o rendimento de carcaça é menor de 4 a 7%, dependendo da variedade, comparando-se com as outras raças

Olhos mais fechados

Bolsa Gordurosa

Maior Seção

Chifres menores

Olhos mais abertos

Ausência de bolsa

Menor seção

Chifres longos

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bubalinas. Em condições naturais de pastagens nativas de boa qualidade, em terra inundável, pode atingir 500 ou mais quilos com idade entre 18 e 24 meses de idade.

Devido ao grande porte, deve ser criada em condições mais intensivas, em pastagens cultivadas ou em sistemas integrados de várzea / alagados e terra firme, de boa qualidade. Deve ser mineralizada e, se for o caso, quando se tratar de exploração leiteira, deve ser suplementada com ração contendo 18 % de PB e, no mínimo, 70 % de NDT.

Não obstante a isso se adapta muito bem às áreas de campos naturais abertos, em sistema extensivo, convivendo sem problemas com o ambiente natural. É de temperamento bastante dócil e impressiona pelo tamanho e formato da cabeça.

3.2.1.3 MediterrâneaOrigem: Selecionada na Itália, esta raça apresenta características das raças Murrah e Jafarabadi. No Brasil, é conhecida também como búfalo “preto” ou “italiano”.Aptidões: Embora tenha sido selecionada para a produção de leite, tem aptidão mista, para leite e carne, devido ao seu porte. Todavia, no Brasil tem sido utilizado para produção de carne.Temperamento: manso ou dócil. Peso médio de 550 kg nas fêmeas e 750 kg nos machos. Porte médio a grande. Pelagem e pele

totalmente pretas, estendendo-se também aos chifres, cascos. Chifres pretos, longos, fortes e grossos, de seção ovalada ou triangular, dirigidos para trás, para fora e para o alto terminando em forma semicircular ou de lira.

Por ter uma origem com base em várias raças apresenta grande variabilidade fenotípica, mostrando grande adaptação aos processos de seleção natural, oriundos de vários conjuntos gênicos introduzidos, há muitos séculos, nas regiões paludinosas do Sul da Itália. O rebanho fundador no Brasil apresentou um número considerável de animais, demonstrado pelas numerosas importações realizadas pelos criadores do Pará e, mais recentemente, de outros estados, principalmente, conferindo uma variabilidade que muitas vezes está evidenciada na conformação corporal e níveis de produção de leite, ou seja, aquelas que são resultantes de fortes interações entre o genótipo e o ambiente. As introduções mais recentes da Itália, com base em germoplasma conhecido, provocaram uma ampliação na variabilidade genética da base do rebanho brasileiro, permitindo, inclusive, a mensuração da produção através do progresso genético das características produtivas, principalmente, carne e leite.

Pode ser criada pura, pois é de aptidão mista, isto é, leite e carne, e/ou para cruzamentos com as raças Murrah e Jafarabadi, visando leite e com a Carabao, quando a intenção for produzir carne.

O rebanho de búfalos Mediterrâneo no Brasil é o maior dentre todos e tem participado de vários cruzamentos, principalmente, com a raça Murrah, compondo a base do rebanho brasileiro desta raça. Apresenta excelente desempenho produtivo.

3.2.1.4 CarabaoOrigem: O búfalo Carabao ou "Rosilho" é originário da Indochina, no Sudoeste da Ásia, onde échamado o “trator do Oriente". É a raça mais adaptada às regiões alagadas e pantanosas e, por isto, apresenta pelagem mais clara. Foi introduzido no Brasil, na Ilha de Marajó (PA), por volta de 1890. Foi uma das primeiras a serem introduzidas no país. No brasil há poucos rebanhos desses animais, sendo considerado um grupo genético com risco de

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extinção e/ou descaracterização. A maior população dessa raça está concentrada na Ilha de Marajó, no estado do Pará. Aptidões: Devido à rusticidade, bom desenvolvimento de massa muscular e membros fortes, a raça Carabao é usada para corte e para trabalho, tanto de tração agrícola quanto de transporte de carga e de sela. Temperamento: manso e dócil. Peso médio ao nascer, 35 kg; fêmeas adultas, de 500 a 600 kg; machos adultos, de 750 a 800 kg. Porte médio a grande. Pelagem e pele cinza escura ou rosilha. Cabeça relativamente pequena, com perfil craniano e chanfro retilíneos. Chifres longos, grandes e fortes, de seção triangular, emergindo lateralmente da cabeça e dirigindo-se em posição horizontal para fora e depois para trás e para cima. Olhos arredondados, grandes, projetados, vivos, límpidos e pretos. Orelhas tamanho médio, horizontais e, em geral, cobertas de pelos longos e claros.

Após a introdução desta raça, através da ilha de Marajó, os animais multiplicaram-se através de cruzamentos desordenados, principalmente com a raça Mediterrâneo, predispondo-a a uma descaracterização que culminou com poucos animais considerados puros (2n = 48). Quando em cruzamento com as outras raças bubalinas, o produto apresenta fenótipo dominante em relação a algumas particularidades, como: pelos mais claros na região das patas, lábios e no pescoço, bem como conformação corporal mais compatível com o padrão da raça Carabao.

Deve ser utilizado para cruzamentos visando produção de carne, devido dada à alta heterose, fato comprovado pela precocidade dos F1. É um conjunto gênico bem consolidado e homogêneo e, mesmo nos rebanhos mais fechados, não se percebe grande variação fenotípica, não havendo, inclusive, registros de surgimento de doenças hereditárias.

A criação de rebanhos puros deve ser considerada, pois a raça Carabao apresenta excelente desempenho, quando submetida às provas de ganho em peso. Em condições naturais de pastagens nativas de boa qualidade, em terra inundável, pode atingir 450 kg com idade entre 18 e 24 meses de idade.

A raça Carabao se adapta muito bem às áreas abertas, alagadas e/ou pantanosas, em sistema extensivo, sendo insuperável na movimentação nessas áreas em função da sua anatomia já adaptada a essas condições, visto que possui uma articulação a mais na região do boleto e da quartela. Em condições naturais apresenta bom convívio com as espécies silvestres e, apresar de possuir cornos longos e pontudos, não há registro de acidentes desses animais por quaisquer tipos de ataques. Por ser bastante andarilha necessita de grandes áreas, adaptando-se muito bem às criações extensivas, apresentado excelente desempenho na sua eficiência reprodutiva.

Além destas há o tipo Baio, um búfalo que integra o trabalho de conservação de recursos genéticos da Embrapa Amazônia Oriental, encontrando-se no bando de germoplasma animal da Amazônia Oriental – BAGAM, em Salvaterra, na ilha de Marajó, no estado do Pará.

3.2.1.5 Tipo Baio (BA): não é considerada raça, havendo poucos espécimes no Brasil. Alguns autores se referem a esse grupo genético como animais oriundos do Assam, na Índia, pertencente à Subespécie Fulvus, sem, portanto, comprovação científica de tal assertiva. Foi introduzido no Brasil em 1961/62, através da Usina Leão, Alagoas. Hoje, há pouquíssimos animais Baios no Brasil, sendo o rebanho do BAGAM / EMBRAPA, na ilha de Marajó, um dos únicos do País. No Brasil há pouca literatura e/ou informações sobre esse grupo, sendo

o Pará, talvez, o único estado que dispõe de informações a respeito da performance desses animais. Estes animais estão catalogados pela FAO/UNEP (2000), dentro dos grupos em perigo de extinção, estando mantidas em programa de conservação.

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Os machos adultos pesam em média aproximadamente 750 kg e as fêmeas 550 kg, com um comprimento e uma altura média de 139 cm e de 133 cm respectivamente. São animais de coloração pardacenta, de pelagem baia e possui dupla aptidão, leite e carne. Seu padrão racial pode ser resumido da seguinte maneira: cabeça leve e perfil retilíneo a ligeiramente côncavo a mediano; corpo mediano a grande; garupa mediana a grande e larga; membros medianos e fortes. Fenotipicamente, assemelha-se a raça Murrah ou apresenta características de animais mestiços entre a raça Murrah e a Mediterrâneo.

Os búfalos apresentam, mesmo em condições adversas, índices satisfatórios na sua eficiência reprodutiva, do mesmo modo que produzem, satisfatoriamente, leite e carne, o grande problema é a falta de programas de melhoramento genético, seja em nível institucional, nas associações de classe e nas próprias fazendas.

Há pouco mais de vinte anos encontrava-se, em alguns locais, bons níveis de produtividade que, hoje, apenas se mantém ou não se repetem, tanto nas instituições de pesquisa, quanto nas fazendas, as quais submetiam seus rebanhos a um processo de seleção com base nos primeiros reprodutores importados, de bom padrão genético, que imprimiram características produtivas de carne e leite aos seus descendentes que, todavia, não tiveram continuidade ao ponto de, hoje, não haver em todo o território nacional animais provados como melhoradores da espécie.

4 – Manejo geral de búfalosNo manejo com os animais os tratadores tem que ter muita calma e paciência para lidar

com os animais. Do contrário eles tendem a ficarem assustados e dificilmente colaborarão com aquilo que se deseja deles. Animais que tiveram pouco contato com humanos ou que em contatos anteriores tenham ocorrido situações traumáticas, tem menor tendência a colaborar. Nessas situações é que a calma e o cuidado devem ser redobrados no manejo.

O que ocorre geralmente no manejo de búfalos é que produtores o realizam de forma como se búfalos fossem bovinos, sem levar em consideração particularidades da espécie. Para que tais erros sejam evitados é de fundamental importância que conheçamos as principais características orgânicas, comportamentais e de hábitos desses animais.

A ideia dominante a respeito da rusticidade desses animais leva novos criadores a não se instruírem convenientemente e com isso levando ao desestimulo da criação/produção. Desta forma, serão abordados os principais aspectos em que estes se diferem dos bovinos e as consequentes implicações relativas ao manejo.

4.1 Termorregulação corporalOs búfalos sentem mais dificuldade que os bovinos e particularmente, que os zebuínos, na

regulação de sua temperatura corporal. Os búfalos possuem cerca de 10% das glândulas sudoríparas dos bovinos, não se podem se utilizar desse processo com muita eficiência. Ademais, a coloração negra de sua pele também agrava esse problema, atuando negativamente na reflexão dos raios solares.

Como consequência, inclusive da baixa oleosidade de sua pele, é desejável que as pastagens para búfalos possam contar com arvores que lhes garantam sombras, bem como com algum brejo ou banhado onde os animais possam permanecer durante as horas mais quentes do dia. As áreas sombreadas e de brejo não precisam ser extensas, basta que sejam suficientes para abrigar o numero de animais que permanecerá no pasto, em torno de 3m2/cabeça.

Em favor dessa baixa dissipação de calor que os búfalos apresentam, é desejável que não sejam manejados de forma apressada nas horas de calor intenso. Os búfalos são, por natureza, lentos, vagarosos e é assim que devemos aceita-los. Bezerros recém nascidos se manejados a grandes caminhadas sob o efeito de elevada temperatura, mostram-se ofegantes, boca aberta, salivando e com acentuada elevação de batimentos cardíacos.

Animais jovens sofrem mais que os adultos os efeitos das elevadas temperaturas e, por este motivo, recomenda-se que o pasto maternidade seja provido de sombra, onde os bezerros

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permanecerão os primeiros dias de suas vidas. Entretanto, essa área sombreada não deve ser de difícil acesso ao vaqueiro, impedindo o acompanhamento por ocasião do parto e dos primeiros dias que se seguem.Obejtvos: Monitorar a condição corporal de animais para minimizar flutuações de condição corporal e problemas de ordem produtiva e sanitária, resultante de animais que são muitos gordos ou muito magros.

A condição corporal (CC) se altera através da curva de lactação Inicio da lactação – Balanço energético negativo (despendem mais energia do que ingerem), reduzindo sua CC (mobilizando as reservas corporais). As búfalas não devem perder mais de 1 kg de PV/dia; Final da lactação – Balanço energético positivo ganham CC, repondo as reservas perdidas no inicio da lactação. Portanto, a condição corporal ideal se altera de acordo com os estágios de lactação.

Procedimento para avaliação do ECC1 – Passo: Olhar a escala utilizada para marcar a condição corporal, sendo 1 = muito magra e 5 = muito gorda.2 – Passo: Exemplos de como determinar o escore de condição corporal de uma búfala.3 – Passo: Recomendações de condição corporal de búfalas em várias fases de lactação. O ECC leva apenas em consideração o acumulo relativo de gordura corporal e o estado de magreza do animal.

Local de observação visual e táctil: Região da anca, delimitada pelos ossos do quadril (tuber coxae e tuber ischii) e inserção da cauda. Vertebras no dorso.

Identificação das partes do corpo utilizadas para avaliação da condição corporal

ECC = 1 (muito magra): Sem a presença de gordura palpável sobre os processos espinhosos, processos transversos, anca e costela. Costela e inserção da cauda projetam pronunciadamente. ECC = 2 (magra): Existe a presença de pouca gordura palpável ao longo da espinha, processos transversos, anca e costela. Costela e inserção da cauda projetam pronunciadamente. ECC = 3 (moderada): Na palpação observa-se a presença de gordura sobre as costelas e ossatura arredondada. Presença de gordura palpável na inserção de cauda. ECC = 4 (boa condição): Búfala com aparência de obesidade e acúmulo de gordura. Gordura acumulada sobre as costelas e na inserção da cauda. Presença de gordura em torno da vulva.

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ECC = 5 (muito gorda): Búfala obesa com aparência de bloco. Muita gordura em torno da inserção da cauda e costelas. Não é visível nenhuma estrutura óssea.

5. Cuidados com as búfalas paridas

5.1 Primeiro dia do parto

Nesse dia, as búfalas deverão ficar com suas crias, para que desenvolvam os seus instintos maternos (habilidade maternal), razão precípua da lactação. Muitos criadores de bovinos de leite separam as crias logo após essas ingerirem o colostro de suas mães. Tratando-se de raças taurinas leiteiras (Holandês, Jersey, etc.), com uma seleção para essa atividade há séculos, essa apartação não interfere na lactação. Esses animais já adquiriram hábitos leiteiros, tornando-as verdadeiras máquinas de produzir leite, em detrimento de suas habilidades maternas. No caso de raças zebuínas ou euro-indianas leiteiras (Gir, Guzerá, Girolando, etc.)e também no caso de bubalinos, não é aconselhado esse procedimento.Com o instinto materno aguçado desses animais, o “desaparecimento súbito da cria”, no início da parição, poderá ocasionar a interrupção da lactação. O instinto materno induz no organismo como um todo, um verdadeiro sinergismo de fatores em prol do desenvolvimento da glândula mamária.

Búfalas que perdem as suas crias no primeiro dia do parto, caso não adotem outra cria da mesma idade, na maioria das vezes terão suas lactações comprometidas. O parto é ato doloroso, podendo causar depressão na búfala. Somando-se a esse estresse o desaparecimento de sua cria, ela poderá interromper a lactação subitamente ou gradativamente em poucos dias.

Caso seja muito incomodada por cachorros ou aves de rapina(gaviões, urubus, etc.), a búfala poderá rejeitar sua cria e consequentemente haverá um corte na sua lactação.

A presença do vaqueiro na hora do parto das búfalas ou poucas horas depois é indispensável para se certificar que o recém-nascido mamou, nas primeiras 6 a 10 horas, a maior quantidade de colostro possível, pois neste período seu aparelho digestivo estará mais apto a absorver as imunoglobulinas contidas no colostro, conferindo-lhe desta forma maior imunidade. Com exceção da cura do umbigo do bezerro, deve-se evitar muita movimentação com a búfala recém-parida até que essa adquira amor pela sua cria (habilidade maternal). Cuidado especial deve ser dedicado as primíparas, que costumam abandonar suas crias quando importunadas logo após o parto. 5.2. Segundo dia após o parto

No dia seguinte ao parto, as búfalas serão conduzidas ao curral, onde, contidas por um pé, deixarão os bezerros mais novos e os mais debilitados do rebanho mamarem. O colostro, além das qualidades anteriormente mencionadas, é um alimento muito rico em proteínas e sais minerais e, um excelente laxante intestinal. Para evitar que os bezerros tenham diarréia, deve-se fazer um rodízio de bezerros mamando nessas búfalas.

É aconselhável a esgota total dos úberes das búfalas, no segundo dia de paridas. Havendo um grande acúmulo de leite na glândula mamária por um determinado tempo, caso o mesmo não seja esgotado, parte das células secretoras passarão a absorver o leite e não mais o produzirão nessa lactação.

O esgotamento total e diário dos úberes das búfalas recém-paridas é um dos principais fatores de aumento de produção deleite. Essa prática irá desenvolver um maior número de células secretoras das glândulas mamárias dessas búfalas.

5.3. Dieta das búfalas recém paridasLogo após a parição, as búfalas entram em balanço energético negativo. Assim sendo, o

volumoso que a búfala ingere não é suficiente para satisfazer as suas exigências nutricionais. O crescimento da produção de leite requer grande quantidade de nutrientes das búfalas, uma vez que

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elas passam a consumir as suas reservas corporais. Para evitar esse desequilíbrio e manter a produção, faz-se necessário uma suplementação alimentar com concentrados. Estudos revelam que, durante uma mudança na dieta dos ruminantes, há uma demora em média de 15 a 20 dias para que a flora bacteriana do rúmen se adapte totalmente a esse novo alimento. Diante desse fato, é importante ir acostumando as búfalas recém-paridas ao consumo de ração balanceada.

5.4 Ordenha em búfalas sem bezerro ao pé

5.4.1 A importância da cria para a búfalaOs bovinos leiteiros de origem europeia sofreram ao longo de muitos séculos modificações

impostas pelo homem, que transformaram esses animais em verdadeiras máquinas de produzir leite.

No Brasil, a pecuária bubalina de leite como atividade profissional, tem apenas algumas décadas de exploração. Segundo relatos de pesquisadores, as búfalas ainda não adquiriram hábitos leiteiros como as bovinas de leite de origem europeia. Por esta razão, elas apresentam grande dependência dos bezerros para proporcionar a liberação do leite. Segundo consta, esse fato se deve à necessidade desses animais de preservar a espécie. No processo de adestramento das búfalas para a ordenha sem bezerro ao pé, recomenda-se que após a ordenha, elas entrem em contato com suas crias. O procedimento proporciona às mães, um condicionamento à necessidade de produzir leite. A búfala, ao parir, produz o leite para o seu bezerro e não havendo bezerro, a natureza entende que não há necessidade de leite. Como consequência, a búfala interrompe a sua lactação. Por essa razão, nos primeiros dias subsequentes à apartação, é imprescindível que as búfalas entrem em contato com suas crias.

Após a ordenha, soltar os bezerros por 30 minutos com suas mães. Esse procedimento seria perfeito, as búfalas reconheceriam seus filhos, não interromperiam a lactação e os bezerros mamariam o leite residual. Na realidade, o manejo não funcionou porque as búfalas, ao saírem da ordenha, sentem uma inquietação nervosa (“gastura”) ao serem mamadas e para evitar esse incômodo, acabam se deitando. Estando com os esfíncteres dos tetos relaxados, surge a porta de entrada para as bactérias que provocam a mastite. Mediante tal inconveniência, a fazenda desenvolveu um curral em que as búfalas têm acesso a seus bezerros sem que estes mamem em seus úberes. A esse curral adotou-se o nome de Curral de Reconhecimento.

5.4.2. O curral de reconhecimentoO curral de reconhecimento foi criado para que as búfalas não sintam estresse em suas

apartações e também para evitar a mastite. Antigamente, após a ordenha, os bezerros eram soltos com suas mães para que essas reconhecessem as suas crias e não cortassem suas lactações. O tempo de permanência adotado era de 30 minutos. Esse procedimento acarretava um elevado índice de mastite. Ao saírem da sala de ordenha, as búfalas, com seus úberes secos, não permitiam que os bezerros mamassem e para se livrarem dos mais impertinentes, deitavam-se. Estando os tetos com seus esfíncteres abertos, possibilitava que as bactérias penetrassem pelo canal dos mesmos, ocasionando mastite.

Esse curral consiste em um corredor, em que as búfalas passam obrigatoriamente após a ordenha. Ao lado do corredor está o curral de reconhecimento onde os bezerros ficam apartados. Entre o corredor e o curral de reconhecimento, existe uma divisória que permite as búfalas colocarem suas cabeças para dentro do curral e reconhecerem os seus bezerros, sem que eles tenham acesso ao úbere de suas mães. O reconhecimento diário das crias pelas suas mães evita que as búfalas se estressem e interrompam suas lactações.

5.5 Fases das búfalas como amas de leiteDo segundo ao quarto dia de paridas, as búfalas que ainda permanecem no piquete

maternidade com suas crias, deverão ir diariamente para o curral, onde será feita a esgota de seus

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úberes. Primeiro mamarão as suas respectivas crias, depois os outros bezerros do lote das amas de leite.

A partir do quarto dia de paridas, as búfalas passarão para o lote das amas de leite. Nessa fase, elas estarão amamentando, além das suas crias, mais dois bezerros em média, ou seja, haverá uma búfala para cada três bezerros convivendo em um único rebanho. Além das recém paridas, poderão ser amas de leite as búfalas que estão com mastite clínica e as que apresentam problemas na hora da ordenha.

Pela manhã, esse rebanho é conduzido do campo para o curral, onde os bezerros, cujas mães já estão em lactação, serão apartados das amas e ficarão à espera de suas mães no curral de reconhecimento. Nesse tempo, as amas receberão uma suplementação alimentar de concentrados para compensar o balanço energético negativo e adaptar as bactérias do rúmen ao novo alimento.

O lote que está em lactação, ao sair da sala de ordenha, passará obrigatoriamente pelo curral de reconhecimento. Caso haja ainda interesse por suas crias, as búfalas colocarão suas cabeças para dentro do referido curral, cheirando e acariciando as suas crias. Terminada a ordenha matinal, bezerros e amas serão conduzidos a sala de ordenha, ou outro local apropriado. Nessa ocasião, será feita a esgota do resto de leite que porventura ainda haja nos úberes das amas.

É comum encontrar búfalas com os úberes cheios na hora da esgota, uma vez que certas búfalas só permitem que seus bezerros mamem. Inicialmente deve-se colocar para mamar os bezerros mais novos ou mais debilitados, depois o restante. Caso as amas não deixem os bezerros mamarem, deve-se amarrar um pé dessas búfalas a um mourão. A habilidade dos bezerros fará com que elas apojem.

Os bezerros permanecerão com as amas de leite até atingirem 70 a 80 kg, o que ocorre em torno dos 60 a 70 dias de idade. Nessa época estarão ingerindo provavelmente em torno de 800 gramas de ração balanceada e seus rumens deverão já estar funcionado regularmente, fato percebido pela ruminação.

Isso não quer dizer que os bezerros só mamem 20dias. As búfalas só deixarão de amamentar quando substituídas pelas recém-paridas ou outras, respeitando sempre a proporção (no caso da fazenda) de uma ama para cada três bezerros. Quem determina a proporção acima mencionada é a produção de leite da ama.

Como observação prática, ressaltam-se três situações:1) Os úberes das búfalas completamente secos e os bezerros visivelmente com fome, são indicativos de que se deve aumentar a relação ama/bezerro;2) Os úberes das búfalas ainda com leite na hora da esgota e os bezerros de barriga cheia, sem querer mamar, demonstram que se deve diminuir a relação ama/bezerro;3) Fazer semanalmente a pesagem do leite das amas para calcular a relação ama/bezerro.

O ideal seria que o bezerro mamasse 10% de seu peso, o que é economicamente inviável para bezerros acima de 50 kg. Como dieta fornecer direto das tetas das amas de 4 a 5 kg de leite, mais ração balanceada à vontade e/ou um sucedâneo do leite. Ao deixarem de ser amas de leite, as búfalas serão conduzidas ao lote de ordenha. Esse manejo satisfaz tanto ao bezerro que mama o leite com resíduo de colostro, como também ao produtor que fica com o leite sem resíduo de colostro. É sabido que o leite de búfalas, com menos de 15 dias de paridas, contém ainda resíduos de colostro, o que dificulta a fabricação de queijos de massa filada, como sejam a Mozzarella, Provolone, Caccio-Cavalo, Bocconcini, etc...

5.6 Sistema rotativo de amas de leite

Para se fazer ordenha sem bezerro ao pé é imprescindível o sistema de amas de leite. Na Fazenda Castanha Grande foi criado o sistema rotativo de amas de leite. O sistema funciona da seguinte forma: as búfalas, ao parirem, passam a serem amas de leite. Como amas, amamentam os seus filhos e mais dois bezerros, filhos das búfalas que já saíram do lote de amas para o lote de ordenha. A proporção ama/bezerro é definida de acordo com a produção média de leite das búfalas

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amas. Para se fazer essa proporção deve-se considerar que um bezerro deve mamar em torno de 4 litros leite/dia. À medida que as búfalas vão parindo, e a proporção ama / bezerro estiver excedendo em número de amas, a búfala que tiver mais tempo de parida, deixa de ser ama e vai para o lote de ordenha. Estando na ordenha, essas búfalas não amamentam mais os bezerros. Esse manejo tem aumentado muito a produção de leite das búfalas, pois, suas glândulas mamárias são muito estimuladas. Esse estímulo tem como consequência o desenvolvimento das células secretoras de leite desses animais. É importante ressaltar que as amas de leite devem estar em boa condição corporal, ser bem alimentadas com volumosos de qualidade e até concentrados caso haja necessidade.

Este sistema difere dos demais pela quase inexistência de óbitos em bezerros, maior persistência nas lactações e conseqüentemente, um aumento na produção de leite do rebanho. O sistema rotativo de amas de leite e o curral de reconhecimento são peças importantes para se fazer a ordenha sem bezerro ao pé.

5.7 Búfalas que deverão permanecer como amasTodas as búfalas após a parição, devem passar por um período como ama de leite e depois

saem para o lote de ordenha. Algumas búfalas, pelo fato de só se deixarem ordenhar com bezerro ao pé, ou por outra razão qualquer, causam atraso na ordenha. Devem ser trocadas por búfalas amas com mais dias de paridas. Búfalas com mastite não se prestam para amas, porque podem contaminar as amas sadias, fato este comprovado em nossa fazenda, quando anteriormente colocávamos as búfalas com mastite para amas de leite, experiência que não foi bem sucedida, pois contaminava as amas. Mediante tal observação, resolveu-se colocar as búfalas com mastite para alimentar os bezerros mais fracos que não mamavam mais nas amas. Provavelmente esses bezerros estarão com mais de 60 dias de nascidos.

5.8 Cuidados que antecedem a ordenha5.8.1 Deslocamento das búfalas dos pastos para o curral

As búfalas, por sua natureza, andam muito devagar. Alterar essa condição, tangendo-as com pressa, poderá causar, além do estresse, um maior consumo de energia, acarretando uma diminuição na produção do leite. Uma boa prática é se tanger as búfalas devagar e a pé.

5.8.2 Nunca tanger as búfalas com cachorrosOs búfalos têm uma verdadeira animosidade por cachorros. Eles os irritam e os levam ao

estresse, o que não é aconselhável.

5.8.3. Localização dos piquetesPara evitar o desgaste físico das búfalas e consequentemente, a redução na produção de leite,

deve-se reservar os piquetes mais próximos do curral para as búfalas em lactação e para a maternidade. Eles deverão estar, de preferência, num raio médio de 1km de distância da sala de ordenha.

5.8.4. Distribuição de ração para as búfalas de leiteÉ comum se ver a distribuição de ração balanceada sendo feita indiscriminadamente no cocho,

sem levar em consideração a produção de cada búfala. Pelas nossas observações, a melhor distribuição de ração é àquela fornecida individualmente e na proporção de 1,0kg de ração balanceada para cada 2,5kg de leite, iniciando-se a partir de uma produção diária de 5,0kg de leite. Não havendo condições de fornecê-la individualmente, deve-se dividir o rebanho em três lotes de acordo com suas produções e oferecer a ração, respeitando a proporção acima mencionada. Essa alimentação balanceada é melhor aproveitada pelo rúmen quando fornecida em maior número possível de parcelas diárias, de acordo com a conveniência.

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Entre a distribuição de ração individual e a distribuição em lotes, a diferença de aumento de produção é pequena, entretanto, comparando ambas com a distribuição indiscriminada, observou-se um aumento de produção em torno de 20% a favor da distribuição individual ou em lotes. Quando a ração não é distribuída individualmente, certas búfalas ficam a dar cabeçadas nas outras, impedindo que se alimentem. Essa atitude indesejável deve ser evitada com a contenção da búfala “encrenqueira”.

Deve-se dar uma atenção toda especial às primíparas, que, normalmente “tímidas”, sofrem discriminação por parte das multíparas, não tendo, desta forma, acesso à ração.

6 – Tipos de ama6.1 Amas primíparas

As primíparas, por não terem ainda autocontrole sobre os seus estímulos no que se refere à glândula mamária, mesmo estando estressadas, apojam com mais facilidade que as multíparas. Após ter sido adestrada, se por algum motivo desconhecido a búfala não apoja, deve-se conduzi-la a um curral de espera. Será ordenhada por último ou será solta para ser ordenhada na próxima ordenha, quando possivelmente apojará.

6.2. Amas multíparasNo início do adestramento dessas búfalas, deve-se proceder da mesma maneira como nas

primíparas. Multíparas que não foram filhas de búfalas leiteiras têm mais dificuldade de aceitar a ordenha

sem bezerro ao pé. Muitas vezes, estando no começo de lactação ou no fim, estressadas ou quando há mudança de

ordenhador, as búfalas costumam dar “sapatadas”, numa atitude de rejeição à ordenha. A melhor maneira de eliminar essa atitude indesejável consiste em amarrar um pé da búfala a uma argola presa no piso, ao lado do ordenhador, ou a um moirão próximo do pé da búfala. A princípio, as búfalas esperneiam, mas depois ficam calmas, facilitando dessa forma a ordenha.

A adoção do método de ordenha sem bezerro ao pé requer um trabalho gradativo, lento e que progride com a conscientização do ordenhador e, com o condicionamento do animal.

7. Fatores que influenciam a ordenha sem bezerro ao pé7.1 Docilidade

A docilidade é fator preponderante em uma ordenha sem bezerro ao pé. As búfalas não devem entrar estressadas em uma sala de ordenha. As búfalas que sofrem algum tipo de estresse, quer no processo de entrada do estábulo, quer na hora da ordenha, quer por não encontrarem as suas crias, ou mesmo pelo manejo inadequado do ordenhador, se tornam cada vez mais agressivas.

7.2 Úbere cheioQuando os úberes das búfalas estão cheios de leite, ficam doloridos e a ordenha alivia essa

dor. Daí a razão de hoje se utilizar em países onde a pecuária leiteira está mais avançada, o sistema de ordenha voluntária, onde o animal entra espontaneamente na sala de ordenha e pode ser ordenhado até seis vezes em 24 horas. Com isso, evita-se o estresse do úbere cheio e a produtividade da búfala aumenta. O condicionamento das búfalas a essa sensação de conforto e prazer após a ordenha é um dos fatores que as induzem a se deixarem ordenhar sem bezerro ao pé.

7.3 Boa produtora de leite