brochura - 40anos engs da uc

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Sessão comemorativa - Programa Sessão de Abertura Reitor da Universidade de Coimbra Ministro da Educação e Ciência Presidente da Câmara de Coimbra Bastonário da Ordem dos Engenheiros Diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra A criação das Engenharias na Universidade de Coimbra – uma perspetiva histórica: Prof. João Manuel Cotelo Neiva Prof. José Veiga Simão Prof. José Simões Redinha A criação das Engenharias na Universidade de Coimbra: 40 anos ao serviço do país: Prof. Carlos Artur Trindade de Sá Furtado Momento musical Cocktail de encerramento 1 Comemoração dos 40 Anos das Engenharias na Universidade de Coimbra Coimbra, 19 de Dezembro de 2012, Auditório da FCTUC

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Sessão comemorativa - Programa!!!Sessão de Abertura!

Reitor da Universidade de Coimbra Ministro da Educação e Ciência Presidente da Câmara de Coimbra Bastonário da Ordem dos Engenheiros Diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra !A criação das Engenharias na Universidade de Coimbra – uma perspetiva histórica:!

Prof. João Manuel Cotelo Neiva Prof. José Veiga Simão Prof. José Simões Redinha !A criação das Engenharias na Universidade de Coimbra: 40 anos ao serviço do país:!

Prof. Carlos Artur Trindade de Sá Furtado !Momento musical!

Cocktail de encerramento

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Comemoração dos 40 Anos das

Engenharias na Universidade de Coimbra!Coimbra, 19 de Dezembro de 2012, Auditório da FCTUC

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Discursos Apresentados na Sessão Comemorativa!

!Prof. Doutor Luís José Proença de Figueiredo

Neves!

!N.: Covilhã, 24 de Março de 1961.!

Doutor em Mineralogia, Petrologia e Geoquímica, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra, 1991.!

Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desde

2005.!Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desde 2011.!

!Há 40 anos o Decreto Lei n.º 259/72, de 28 de Julho, dispunha no seu artigo 1.º: “A Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra passa a denominar-se Faculdade de Ciências e Tecnologia”; no Art.º 2.º “Na Faculdade de Ciências e Tecnologia serão professados, além dos actuais cursos da Faculdade de Ciências, também os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e Engenharia Química, conforme os planos de estudo a fixar por decreto; e no Art.º 3.º “A Faculdade compreende, quer no ramo da ciência, quer no ramo da tecnologia, departamentos e serviços científicos cujo número e funções serão especificados no seu regulamento”.!

Nestes 3 artigos podemos encontrar, com redacção simples e clara, a missão e a estrutura organizacional da actual Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Não obstante duas importantes revisões estatutárias, em 1994 e em 2008, estas permanecem no essencial inalteradas, o que comprova a visão e alcance com que o processo foi tratado em 1972.!

Ao longo destes 40 anos, perto de 11.000 profissionais graduaram-se em cursos de Engenharia na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, prestando um contributo relevante à região e ao país, num tempo marcado por grande aceleração do desenvolvimento (tabela 1). Orgulha-nos a distinção de membro honorário que a Ordem dos Engenheiros nos entendeu atribuir por ocasião do seu 75.º aniversário, e que

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Luís Neves

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simboliza de forma clara o contributo prestado na formação de profissionais qualificados na área da Engenharia.!

Actualmente permanecem na FCTUC os Departamentos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e de Computadores e Engenharia Química, os quais, em colaboração com os restantes seis Departamentos de Ciências, asseguram a frequência de 33 cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento, frequentados por 4.000 alunos – mais de 50% do total de estudantes da FCTUC e 1/6 do total de alunos da UC.!

Os Departamentos de Engenharia integram 215 docentes, mais de 90% dos quais doutorados, distribuídos por uma dezena de unidades de investigação reconhecidas pela FCT e avaliadas por painéis internacionais com classificações de topo - 5 das quais com Excelente. !

A excelência da investigação realizada é aliás bem traduzida num ranking internacional, o Essencial Science Indicators, no qual apenas são listadas 1% das melhores instituições mundiais em cada área do conhecimento. Trata-se de um ranking de natureza estritamente objectiva, o qual apenas entra em linha de conta com o impacto dos trabalhos publicados em revistas internacionais, aferido pelas suas citações. Neste ranking, e na área das engenharias, a FCTUC surge na posição 346 entre as 1200 escolas listadas, as quais, reforço, correspondem já de si a apenas 1% das existentes a nível mundial. !

No que respeita à inovação e transferência de conhecimento, tem sido igualmente muito relevante o papel das Engenharias. Para além de inúmeros contratos de prestação de serviços e projectos de apoio a empresas que decorrem na Instituição, a actividade da Universidade de Coimbra, e em particular das suas Engenharias, contribuiu certamente para que a Região Centro tenha recentemente integrado o mapa das mais inovadoras a nível europeu e que a incubadora do Instituto Pedro Nunes atingisse lugar cimeiro em rankings mundiais de base científica e tecnológica. Para além da transformação do tecido empresarial da região, são já vários os exemplos de empresas nascidas na influência da Universidade que se notabilizaram a nível nacional e internacional.!

São resultados de que globalmente nos podemos orgulhar, obtidos em condições muito adversas. De facto, a crise chegou às universidades há bastante mais tempo do que ao resto do país, e a rentablização de recursos materiais e humanos não é novidade na nossa acção. Na última década, a FCTUC reduziu em 20% o seu corpo docente e em 50% o corpo não docente, ao mesmo tempo que incrementou significativamente as actividades de investigação e de transferência de conhecimento, bem como o

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Da esquerda para a direita: Sá Furtado, Simões Redinha, Veiga Simão

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número total de alunos, agora com a exigência que decorre da maior proporção dos que frequentam segundos e terceiros ciclos. !

Este esforço, contudo, começa a ficar limitado pelo significativo envelhecimento do corpo docente, cuja idade média se situa já nos 50 anos, o mesmo acontecendo no caso dos não docentes. Situação, aliás, transversal às Instituições de Ensino Superior nacionais. A renovação dos quadros no contexto da crise económica que nos afecta é um desafio complexo, mas certamente tanto mais difícil de vencer quanto mais tardiamente for enfrentado. Desta renovação depende também a capacidade do nosso país ultrapassar o desafio de transformar um tecido económico ainda em boa parte baseado na mão de obra desqualificada, num outro suportado pelo conhecimento avançado e pela inovação. !

As Engenharias e a Universidade estarão seguramente à altura deste desafio.!

O Director da FCTUC, !

Luís Neves!

Tabela 1 – Licenciados pré-Bolonha e Mestres de Bolonha graduados na FCTUC entre 1972 e 2012.!

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Curso N.º graduados

Eng.ª Civil 3079

Eng.ª Electrotécnica/Electrotécnica e Computadores

2525

Eng.ª Mecânica 1655

Eng.ª Informática 1130

Eng.ª Química 1087

Eng.ª Geológica, Eng.ª de Minas e Eng.ª Geológica e de Minas

388

Eng.ª Biomédica 236

Eng.ª Física 221

Eng.ª Geográfica 203

Eng.ª do Ambiente 158

Eng.ª de Materiais 93

Eng.ª e Gestão Industrial 48

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!Prof. Doutor João Manuel Cotelo Neiva!

N.: Porto, 18 de Fevereiro de 1917.!Doutor em Ciências Geológicas pela Universidade do Porto, em

Novembro 1944.!Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de

Coimbra em 1949.!Fundador da Sociedade Geológica de Portugal (1941), que dirigiu

durante alguns anos.!Diretor do Museu e Laboratório Minerológico e Geológico (1950 – 1974).!

Diretor do Centro de Estudos Geológicos do Instituto de Alta Cultura (1950 – 1975).!

Diretor da Faculdade de Ciências (1963 – 1971).!Reitor da Universidade de Coimbra (1971 – 1974).!

Durante o seu reitorado ocorreu a transformação da Faculdade de Ciências em Faculdade de Ciências e Tecnologia (1972).!

Membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa!

!!Ex.mo Senhor Diretor !da Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra!

17/12/2012!

Agradeço o convite de V. Exa. para participar na sessão comemorativa dos 40 anos das Engenharias na Universidade de Coimbra. É-me impossível estar presente por me encontrar doente há perto de meio ano. Tenho muita pena de não poder participar pessoalmente.!

Envio um pequeno texto com algumas considerações sobre a criação das Engenharias na Universidade de Coimbra.!

Durante anos, trabalhei com vários Engenheiros Civis, pois de 1952 a 2004 fui geólogo consultor de diversas companhias hidroeléctricas, depois fundidas na Electricidade de Portugal, E.D.P., de companhias hidroeléctricas ultramarinas e dos Serviços Hidráulicos, tendo efectuado reconhecimentos e estudos geológicos dos terrenos de fundação de dezenas de barragens e dos terrenos atravessados por grandes túneis de derivação em Portugal, Ilha de S. Miguel, Angola, Moçambique e Espanha. Fui também colaborador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de 1962 a 1964.!

Trabalhei também com Engenheiros de Minas no estudo de jazigos minerais, pois fui colaborador do Serviço de Fomento Mineiro de 1945 a 1963.!

Dessas experiências de trabalho de colaboração surgiu-me a ideia da criação dos cursos de Engenharia na Universidade de

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João Manuel Cotelo Neiva

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Coimbra, pois então só existiam os cursos preparatórios, tendo os alunos de ir frequentar os últimos anos no Instituto Superior Técnico em Lisboa ou na Universidade do Porto.!

Como fui Diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra de 1963 a 1971, pretendia fortalecê-la. A criação dos Cursos de Engenharia era importante para esta Faculdade, para a Universidade de Coimbra e para o País. Portanto, lutei pela sua criação que se efectuou em 1972, quando eu era Reitor, transformando-se a Faculdade de Ciências em Faculdade de Ciências e Tecnologia. Foram criados os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Electrotécnica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas e Engenharia Química.!

Outros cursos de Engenharia foram criados posteriormente, como a Engenharia Geológica cerca de 1980, a Engenharia Informática e a Engenharia Física por volta de 1983, a Engenharia dos Materiais cerca de 1990, a Engenharia Biomédica e Engenharia do Ambiente por volta de 2001.!

Cerca de 2000, o Curso de Engenharia Electrotécnica mudou o seu nome para Engenharia Electrotécnica e de Computadores. Em 2001, os cursos de Engenharia Geológica e de Engenharia de Minas foram fundidos num só curso.!

Durante estes anos, vários mestrados em Engenharia foram efectuados e realizaram-se vários doutoramentos e provas de agregação em Engenharia. O empenho dos docentes e das autoridades académicas permitiram o fortalecimento da maioria dos Cursos de Engenharia. Contudo, com a entrada do modelo de Bolonha, em 2007, cessaram os primeiros ciclos em Engenharia Geográfica, Engenharia Geológica e de Minas e Engenharia de Materiais, que existem apenas como segundos ciclos e doutoramentos.!

Os Departamentos de Engenharia possuem boas instalações e estão equipados para as actividades docentes e de investigação serem bem desenvolvidas.!

Desejo que todos os cursos de Engenharia existentes consigam permanecer. Estou certo que a investigação científica em Engenharia trará progresso para a nossa Faculdade, Universidade de Coimbra e País.!

Relembro a necessidade dos Departamentos da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra contratarem docentes jovens talentosos, pois o rejuvenescimento dos Departamentos é essencial para o progresso do ensino e investigação científica.!

Desejo a todos as maiores felicidades.!

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Prof. Doutor José Simões Redinha!

N.: Condeixa, 19 de Outubro de 1927.!Doutor em Química (Ph.D.) pela Universidade de Londres em 1958.!

Doutor em Ciências Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra em 1959.!

Professor da Faculdade de Ciências e Faculdade de Ciências e Tecnologia.!

Diretor da Faculdade de Ciências (1972 – 1974). Foi durante o período em que esteve como Diretor da Faculdade que foram criados os cursos

de Engenharia e a Faculdade de Ciências passou a designar-se Faculdade de Ciências e Tecnologia.!

Presidente do Conselho do Departamento de Química (1980 – 1984 e 1991 – 1994)!

!!

Nos quarenta anos da criação dos cursos de engenharia na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de

Coimbra!

!J. Simões Redinha!

[email protected]!!Agradeço ao Senhor Director da Faculdade o convite que me dirigiu para proferir nesta sessão algumas palavras sobre a história da criação dos cursos de engenharia na Universidade de Coimbra.!O Decreto-Lei 259/72, de 28 de Julho, fundou a Faculdade Ciências e Tecnologia (FCTUC) na Universidade de Coimbra em substituição da Faculdade de Ciências criada pela reforma universitária de 1911. Com esta reforma a FCTUC passou a dispor de cursos dedicados ao estudo da engenharia a par dos cursos de ciências básicas a que se vinha dedicando desde o últimos quartel do séc.XVIII. A FCTUC foi organizada em dez departamentos, unidades de ensino e investigação, cada um deles dedicado a uma determinada disciplina científica. Esta organização administrativa conferia à Faculdade a capacidade para selecionar as matérias a lecionar sem, limites de fronteira imposto pelas áreas disciplinares convencionais. Os cursos poderiam, deste modo, ser melhor adaptados à evolução da

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José Simões Redinha

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ciência, ao interesse dos alunos e às necessidades da região e do País.!Esperava-se ainda que o regime experimental contribuísse para estender a investigação a áreas de interesse prático mais imediato, incentivasse a investigação da mais teórica à mais aplicada e ao mesmo tempo definir uma política científica mais útil. Efetivamente, a colaboração dos vários departamentos pertencentes à mesma faculdade incentivaria os estudos mais teóricos pela aplicação prática que lhes era dada e os mais aplicados pelo aprofundamento da base científica em que assentavam. Daqui resultaria ainda naturalmente a polarização da atividade científica em torno de tópicos de maior interesse nacional. Estas foram as linhas gerais do pensamento que levou ao planeamento da FCTUC.!!Até aos finais de 1920, o ensino na Faculdade de Filosofia e posteriormente na Faculdade de Ciências era marcado pela erudição. Não havia investigação científica e as aulas eram a transmissão de ciência feita contida nos compêndios. Esta era, aliás, a característica da Universidade da sociedade agrária e comercial do séc. XIX. Na segunda metade da década de 1920-30 gerou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra um movimento de inconformismo contra o atraso da ciência e o estado de abandono a que as universidades foram votadas. O mais ativo do pequeno grupo de professores que reclamavam condições de trabalho dignas para a sua faculdade foi o professor de química, Doutor Egas Ferreira Pinto Basto. !Estas, passavam pela aposta na investigação científica, o único meio, dizia ele, capaz de tirar a Universidade daquele estado de penúria e transformá-la numa instituição prestigiada. Os seus relatórios enquanto Director da Faculdade de Ciências de 1927 a 1930 dirigidos ao Reitor, Domingos Fezas Vital, são peças valiosas da história da ciência em Portugal. !A acção de Pinto Basto não se limitou à fala e à escrita, deu o exemplo pondo em prática o programa que advogava, ao enviar para Inglaterra um assistente de física e outro de química que aí se doutoraram. Um outro preparava já o seu doutoramento em Paris. !

Este movimento teve origem na Faculdade de Ciências de Coimbra e propagou-se a outras faculdades e universidades portuguesas. Para mim, esta iniciativa foi das maiores contribuições que a Faculdade de Ciências deu ao progresso da ciência em Portugal, porque dele nasceram os primeiros centros de investigação científica que se foram propagando pelo País.!

In memoriam de Pinto Basto, escreveu, em 1937, Eusébio Tamagnini, Professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra e Ministro da Educação, o seguinte: Quando um dia se fizer a evolução dos estudos superiores em Portugal se

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apreciará devidamente o alcance das suas propostas para o eficiente desenvolvimento da investigação.!Trinta anos volvidos, após a publicação dos relatórios de Pinto Basto, a Faculdade de Ciências dispunha de sectores com bom nível científico, com centros de investigação dinâmicos que atraíam os mais novos e que aí recebiam preparação para a sua profissão e para seguir uma carreira de investigador. A Universidade de Coimbra, teve, assim, uma ação relevante na transição da universidade-ensino para a universidade-investigação.!!A Segunda Guerra Mundial deu um grande impulso à tecnologia. A necessidade de inventar novas armas e aperfeiçoar as já existentes, a necessidade de suprir a falta de matérias-primas provenientes de territórios ocupados pelo inimigo, proporcionaram grandes avanços tecnológicos. Terminada a guerra, uma pujante tecnologia passou a estar, em grande parte, ao serviço de uma sociedade próspera, consumista, empenhada na construção de um mundo novo. Estávamos no auge da sociedade industrial, na qual a universidade foi chamada a participar na primeira linha da produção de bens. Ao lado do capital e de uma tecnologia com recurso ao emprego de máquinas e de técnicos com formação superior. O centro de gravidade da universidade passou para a Faculdade de Ciência. !As universidades não estavam preparadas para uma mudança tão rápida e todos nos lembramos bem dos movimentos de contracultura que incendiaram os maravilhosos anos de 60.!No que diz respeito à Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, estes tempos encontraram-na com vários sectores de bom nível científico, como já dissemos, mas não dispunha de uma estrutura adequada aos novos tempos. Faltava-lhe um sector mais voltado para a aplicação da ciência. !A Faculdade ministrava na altura o ensino dos cursos preparatórios para admissão às faculdades de engenharia. Findos os preparatórios, que tinham duração de três anos, os alunos tinham que ir para Lisboa ou para o Porto para aí completarem o curso. E muitos, por vezes os melhores, ficavam na cidade onde se formavam ou nas áreas de influência desta, perdendo o contacto com Coimbra e com a região Centro. Coimbra acusava já um menor ritmo de crescimento de profissionais de engenharia relativamente a Lisboa ou Porto e até mesmo às regiões limítrofes. !Esta situação de escola preparatória estava a prejudicar a Universidade, ao ponto de sentir dificuldades em recrutar os melhores diplomados como assistentes. Os alunos naturais da região centro, provenientes de famílias com menores recursos económicos e que desejassem cursar engenharia, viam-se impedidos de o fazer por não terem possibilidades económicas de ir viver para longe da família.!

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Apesar das desvantagens, o número de alunos que frequentavam os “Preparatórios” de engenharia era elevado. Efectivamente, no ano lectivo de 1971/1972, matricularam-se pela primeira vez na Faculdade de Ciências 472 alunos, destes, 102 destinavam-se aos cursos de ciências (matemática, física, química, geologia e biologia) e 360 aos cursos de engenharia. Isto é 78% dos alunos que se inscreveram pela primeira vez na universidade naquele ano pretendiam vir a ser engenheiros. Estes números provam o interesse despertado pela engenharia nessa altura e o peso que estes alunos representavam na frequência da Faculdade. !Uma reforma da Faculdade que pudesse oferecer licenciaturas em engenharia, era necessária. Mas não só necessária, como também a sua criação se revestia de grande urgência. Na verdade, além das razões científicas e de desenvolvimento regional apontadas, estava em marcha uma reforma das faculdades de engenharia que viria a originar graves prejuízos para a Faculdade e para a Universidade. Neste projeto de reforma, concretizado no decreto 540/70, de 10 de Novembro, a duração da licenciatura era encurtada de seis para cinco anos e os preparatórios dados nas faculdades de ciências passavam de três para dois. No terceiro ano dos novos cursos, além de algumas disciplinas de ciências, havia outras para serem leccionadas já nas faculdades de engenharia. A frequência dos alunos de engenharia em Coimbra iria decrescer, pelo menos em um terço, a avaliar pelo número de anos agora destinados aos preparatórios. Mas a quebra seria com certeza muito maior, porque era natural que um aluno se interrogasse sobre se justificaria a ida para Coimbra apenas por dois anos, em vez de ir logo directamente para a cidade onde tencionava terminar o curso. Era, pois, importante não deixar enfraquecer a corrente de alunos que procuravam Coimbra e dar aos que frequentavam o segundo ano a garantia de aqui poderem continuar até à sua formatura. O momento era crítico e exigia uma acção imediata.!!Dois modelos podiam ser seguidos para integrar os cursos de engenharia na Universidade e dos quais havia exemplos pelo mundo fora relacionados com a época em que as escolas foram criadas e o modo como surgiram. Num deles, os cursos de engenharia estavam agrupados numa faculdade própria. Este modelo fora adotado numa época recuada em que ciência e a tecnologia se encontravam separadas no tempo. As descobertas científicas que iam surgindo ficavam a aguardar algum tempo até serem aplicadas para fins práticos. Ciências e engenharia eram duas unidades separadas e hierarquizadas cujos conteúdos iam sendo combinados para resolver os problemas levantados pelo avanço da sociedade. Um outro modelo consistia na existência da engenharia e das ciências numa faculdade única que coordenava os dois domínios. Era uma visão moderna por deixar de haver razão para distinguir os fundamentos e as aplicações da ciência.

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A separação passara a ser meramente convencional e a sua coexistência fortalecia qualquer deles.!Nunca houve qualquer hesitação quanto à preferência por esta última solução. Além das razões de natureza pedagógica e científica apontadas, havia outras que a recomendavam como a maior flexibilidade na estrutura e o menor custo de instalação e manutenção. Os laboratórios serviriam para os vários tipos de cursos, a aparelhagem podia ser utilizada por alunos e investigadores quer de ciências quer de engenharia.! !Desde logo se teve a noção que o problema da inserção das ciências e engenharia na mesma faculdade dava uma dimensão à FCTUC que obrigaria, mais tarde ou mais cedo, a uma revisão da inserção desta numa universidade com a rigidez administrativa e constituída por sectores com interesses muito heterogéneos, como a Universidade de Coimbra. A dependência da Faculdade da Universidade não podia retirar àquela a visão da evolução científica, a sensibilidade para se aperceber dos problemas e a agilidade para os resolver com rapidez. Um novo modelo de gestão da Faculdade, aliás previsto no decreto, era necessário e urgente.!

! Em Setembro de 1970, a Faculdade dirigiu ao Ministério da Educação Nacional, um pedido para a criação dos cursos de engenharia integrados na Faculdade de Ciências, fundamentando o pedido nas vantagens que adviriam para a Universidade, a Faculdade, a região centro do País e para os alunos naturais desta região. Juntavam-se argumentos sobre a assinalável capacidade científica de que a Faculdade dispunha para acolher os novos cursos. !

O processo administrativo foi decorrendo normalmente e por Abril de 1972 o projeto de decreto-lei estava concluído. Foi longo o tempo que mediou entre a conclusão do texto da reforma e a publicação em decreto o que só veio a acontecer a 28 de Julho de 1972. Esta demora criou-nos algumas preocupações, apesar da confiança que depositávamos no Ministro da Educação, sempre atento aos problemas da Faculdade. Mas havia compromissos morais de várias ordens com os alunos e com professores que haviam sido contactados para vir para a Universidade de Coimbra. Com o ano lectivo prestes a terminar, vivemos esse tempo sob uma certa ansiedade. Finalmente no último conselho de ministros antes das férias grandes o decreto foi aprovado e publicado.!

Por feliz acaso a criação da FCTUC pode ser tomada como ato comemorativo da Reforma Pombalina. Pelas datas, os dois acontecimentos podiam ser correlacionados. De facto os novos estatutos da célebre reforma foram entregues à Universidade na Sala dos Actos em 29 de Setembro de 1772 pelo Marquês de Pombal nomeado Visitador por carta régia, e o decreto que criou a

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FCTUC foi publicado a 28 de Julho, duzentos anos depois. Ambos se enquadram no mesmo espírito, o de assegurar as condições para a atualização da ciência. Não haveria, portanto, forma mais digna de lembrar a memorável reforma universitária.!

Criada a FCTUC, um grande número de problemas teriam que ser resolvidos em escassos três meses: recrutamento de pessoal docente, aquisição e montagem de laboratórios, procura de instalações provisórias e local para a instalação definitiva da Faculdade, entre muitos outros. Tempo demasiado curto, tarefas pesadas e delicadas a exigirem atenção redobrada. Não devemos esquecer que os erros cometidos na fase de arranque de uma instituição podem ter reflexos que afetam a sua vida por muito tempo, senão mesmo comprometer os objectivos que levaram à sua fundação. !

Uma das tarefas era a de conseguir pessoal docente para a área da engenharia. O plano que foi traçado apostava na preparação de assistentes que revelassem qualidades, qualificá-los em universidades portuguesas e estrangeiras e introduzi-los no quadro do professorado. Não parecia aconselhável recorrer ao convite de professores de outras universidades, já em fase adiantada de carreira, para levar a cabo a reforma porque nessas condições e idade as pessoas não manifestam entusiasmo por alterações de rotina. Todavia, era necessário um professor para cada especialidade para lhe entregar as tarefas de instalação e orientação científica do respetivo departamento. E por aí nos ficaríamos na fase inicial.!Um influente professor americano, na viragem do séc. XIX para o séc. XX, Bancroft, dividiu os professores universitários em dois grupos: “diligent accumulators” e “ inspired guessers”. Desejaríamos trazer para Coimbra, nesta fase de arranque do projeto, um professor para cada departamento de engenharia, mas que fosse uma pessoa voltada para o futuro e não alguém que procurasse instalar uma faculdade moldada pelo passado. Em boa verdade, alguns dos que foram chamados realizaram um excelente trabalho num período curto.! ! No ano lectivo de 1972/73, o terceiro ano de engenharia foi frequentado por 247 alunos, com a seguinte distribuição: engenharia civil 73, mecânica 46, eletrotécnica 91, química 36 e minas 1. Durante este ano lectivo, procedeu-se à aquisição de equipamento e instalação de laboratórios didáticos. A faculdade ficou colocada neste aspeto dentre as escolas melhor apetrechadas em equipamentos de engenharia, quer em quantidade, quer em qualidade. Logo nesse ano, funcionaram dois projetos de investigação científica do Instituto de Alta Cultura, um em engenharia química, outro em engenharia mecânica. Alguns assistentes tinham já o processo de equiparação a bolseiro organizado para a sua especialização em escolas estrangeiras.!

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Um outro problema complexo e que se revestia da maior importância para o futuro da escola, era o da instalação da nova faculdade. Os departamentos da Faculdade de Ciências estavam a ser instalados no complexo universitário da Alta de Coimbra. Alguns edifícios foram construídos de raiz, outros foram adaptados, os da Física e Química aguardavam a conclusão. Não havia espaço disponível para instalar a engenharia, nem o local e os edifícios se adequavam às exigências destes cursos que necessitavam de espaços especiais para estaleiros, oficinas, instalações piloto, etc.!A teimosia em implantar as ciências na cidade universitária da alta, contra a opinião de professores atentos à evolução da ciência, foi altamente prejudicial à Universidade, por tornar impossível ampliações para fazer face às exigências que inevitavelmente iriam surgir pela evolução científica.!Era imprescindível que a nova faculdade fosse implantada num único espaço como dissemos. Por isso, este aspeto esteve no pensamento da direção desde que surgiu a ideia de estender a sua ação à engenharia. Com a ajuda de Costa Lobo, Professor do IST, pessoa ligada à Faculdade de Ciências onde o avô e o pai foram professores e que na altura era diretor do plano de urbanização de Coimbra, chegámos à conclusão de que o lugar ótimo para a instalação da faculdade seria a Quinta da Portela. Este plano acolheu a aprovação do Senado. Iriam começar as diligências para a aquisição naquela área de 40 hectares de terreno.!O programa que se pensava seguir era o de iniciar a construção dos edifícios necessários ao ensino dos cursos especializados de ciências e de engenharia e dos laboratórios de investigação. A parte propedêutica manter-se-ia na Alta, até chegar a sua vez de ser transferida para a Portela. Com a ajuda, direi providencial, do Ministro da Educação, os cursos de engenharia foram provisoriamente instalados na Quinta da Nora, em edifícios destinados ao Instituto Superior de Engenharia, tendo-se procedido à construção de mais dois pavilhões custeada pela Faculdade.!A preocupação de não retirar unidade à Faculdade, levou-nos a escrever no “Prospecto da Faculdade de 1973/74” o seguinte: na impossibilidade de ficarem junto dos departamentos da faculdade já existente, os departamentos de engenharia foram instalados na Quinta da Nora, no Calhabé, e aí terão de funcionar até ser possível a sua mudança para local adequado e com dimensão suficiente, não só para este sector, como ainda para os demais serviços que a Faculdade venha a necessitar.!Ciência e tecnologia caminhavam para uma íntima aproximação, deixando de haver distinção entre si, o que estava a dar uma outra feição ao mundo. Uma nova sociedade era já anunciada por filósofos e sociólogos no dealbar dos anos setenta, a qual foi caracterizada por Daniel Bell, Professor da Universidade de Harvard, no seu livro “The Coming of Post-Industrial

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Society”,publicado em 1973. Na Sociedade Pós-Industrial, a economia está dependente das ideias, o lugar do capital passa a ser ocupado pelo conhecimento, o da fábrica pela escola, o da experimentação e empirismo pela teoria. O mercado deixou de estar confinado a espaços protegidos e passou a ser um mercado globalizado.!

A FCTUC dispunha de potencialidades científicas para poder progredir mais rapidamente do que lhe prometiam os projetos financiados pelo Instituto de Alta Cultura e o escasso número de professores do quadro docente da altura. O desenvolvimento da investigação científica era uma diligência fundamental para que a faculdade pudesse manter a posição de vanguarda que alcançara. Na verdade a ligação da universidade moderna à atividade económica fazia com que os meios postos à sua disposição passassem a ficar na dependência da riqueza da região em que se inseria. Coimbra encontrava-se já em perda de importância económica relativamente não só a Lisboa e Porto, cidades universitárias importantes, como até a outras cidades com instituições universitárias recentes. Havia, sem demora, que dar concretização a potencialidades que a faculdade possuía nos vários sectores científicos.!Do plano de modernização a levar a cabo fazia parte a criação de um instituto interdisciplinar de investigação que tinha como objetivo promover e coordenar a investigação nos sectores mais ativos da faculdade e participar em atividades de pós-graduação. O instituto passaria a dispor de uma quadro de investigadores qualificados que conjuntamente com os professores da Faculdade que nele viessem a tomar parte o tornariam num polo científico da maior importância para a Universidade de Coimbra.!O “Instituto de Investigação na Radiação e Matéria”, como fora designado na proposta de estatutos que haviam sido submetidos a aprovação superior, chegou a figurar nos planos de investimento do Instituto de Alta Cultura. O projeto foi esquecido após a revolução de 1974.!!Os resultados que se conseguiram num tempo relativamente curto só foram possíveis mercê de fatores favoráveis e da ajuda de instituições e pessoas que aqui quero lembrar.!O governo de 1970-74 acreditava realmente no papel que a educação desempenha no progresso económico-social da população. Merece ser incluído na pequena relação dos governos que tiveram esta visão ao longo da nossa história e o único que conheci durante os sessenta e um anos que levo de vida universitária. A educação era, nessa ocasião, tema de discussão a nível da Assembleia Nacional, das escolas e do público em geral. Gerou-se, como nunca, um clima favorável ao desenvolvimento da educação. No ensino superior criaram-se novas universidades, escolas orientadas para a melhoria de ensino e de apoio à tecnologia. Das várias ações que foram

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tomadas, saliento o investimento feito na ciência com a criação de projetos de investigação e formação de investigadores. Em dois anos 70-72 o investimento em I&D passou de 0,26 para 0,38% do PIB. Nesta atmosfera favorável, a Faculdade pode ainda contar com a ajuda do Professor Veiga Simão, Ministro da Educação e distinto professor da Casa. Cotelo Neiva foi sempre um entusiasta da reforma que apoiou como professor e como reitor da universidade. Também o Subdirector da Faculdade, Dr. Ribeiro Gomes, foi sempre um colaborador leal e que nos prestou uma valiosa ajuda e o conselho escolar de então sempre deu sempre o seu apoio incondicional às medidas que foram tomadas. !É ainda de salientar a admirável integração dos professores que vieram para Coimbra e o trabalho assinalável que aqui realizaram. Portugal atravessava um período de progresso económico. O crescimento a partir dos anos sessenta era notável, atingindo em 1970 o valor de 7,9% do PIB, o mais elevado de todos os países da Europa Sul. A época era de esperança. Cheguei a sentir inveja dos que então iniciavam a sua carreira, mal sabendo o que lhes estava reservado.!Quando eclodiu a Revolução de 74, decorria o quarto ano dos cursos de engenharia. A reforma ia no seu segundo ano, vivia-se ainda a azáfama de instalação de laboratórios e as aulas decorriam normalmente e com bom nível científico. Muitos se lembrarão da agitação política e social que se verificou em todo o País. O populismo invadiu a Universidade, paralisando a sua atividade científica durante três anos. Os cursos que estavam a ser ministrados na “Quinta da Nora” deixaram as instalações e vieram para a Alta, partilhar com as ciências o espaço disponível.!A destruição foi ao ponto do Ministro da Educação do 1º Governo saído da Constituição de 1975 afirmar que a tarefa que o aguardava era a de construir um edifício em ruínas. !Para pôr ordem no funcionamento da universidade o ministro tomou as seguintes medidas: demitiu o Reitor Teixeira Ribeiro em Setembro de 1976 e, por despacho de 26 de Abril de 1977, mandou suspender as aulas da Faculdade de Ciências e Tecnologia, encarregando a direção desta de tomar as medidas necessárias para assegurar o normal funcionamento da escola. Como esta se mostrou incapaz de o fazer, o ministro encerrou todas as instalações universitárias a 13 de Maio, a fim de proceder a uma consulta por escrito aos estudantes. Perante a resposta destes, exprimindo o desejo de ver a Universidade a funcionar dentro das normas legais, esta foi reaberta a 16 de Junho. Os cursos de engenharia passaram, pois, por uma prova de fogo e só conseguiram sobreviver por estarem integrados numa faculdade suficientemente forte para resistir aos desmandos.!!A vida escolar regressou a um estado de normalidade sob o ponto de vista formal, mas sem capacidade para se libertar daqueles que tanto mal lhe haviam causado e que se mantiveram a ocupar

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lugares de gestão, adaptando-se à evolução do tempo, até porque as obrigações académicas pouco os atraíam. Entretanto, não ouvimos falar mais do Instituto de Investigação nem de novas instalações. Só em 1980 se começou a pensar nisso. Mas estas destinavam-se exclusivamente à engenharia e os departamentos de ciências iriam permanecer na Alta. Cremos que a influência de professores da engenharia na reitoria de então tê-la-iam levado a esta decisão. E a agravar esta mudança de rumo, acresce ainda que, não tendo conseguido uma verba especial para as construções, a Reitoria destinou o PIDDAC de toda a Faculdade para esse efeito. A química não tinha sido apetrechada aquando da sua entrega e assim se manteve pelos anos fora com graves reflexos para o nível do ensino.!Os departamentos de engenharia foram-se transferindo para o Pólo II durante os anos de 1990, o último deles foi o de Engenharia Química, em Março de 1999. As Ciências e a Engenharia estavam separadas, e para vincar bem a separação, os primeiros constituíam o Pólo I e os últimos os Pólo II. A orientação inicial do projeto sofrera uma alteração radical. A ligação entre os dois pólos é fraca e do que me apercebo não vai muito além da vinda de alguns professores de ciências (Pólo I) para dar aulas de disciplinas básicas no Pólo II. Naturalmente cr iaram-se problemas complicados com laboratór ios, equipamentos e colaboração científica.!

Os recursos científicos da FCTUC são grandes. Nos dez anos que decorreram entre 2002 e 2012 os departamentos da FCTUC publicaram 8407 trabalhos em revistas internacionais de grande exigência científica, dando lugar a 73.513 citações, ou seja, 8,74 citações por trabalho. É um capital valioso em qualquer parte, precioso para Portugal e merecedor da maior atenção por parte dos governantes. !Mas se a produção científica é de per si indicadora do elevado nível de cada departamento, ela não tem o mesmo impacte na vida do País como se resultasse da colaboração entre vários departamentos. Aos realizados nos de ciências puras, faltar‑lhes‑á direção para lhes dar utilidade mais imediata, aos produzidos na engenharia faltar-lhes-ão raízes que os tornem potencialmente mais fortes. Compete à Faculdade dar-lhe estas feições. E o melhor meio de o fazer é através do entrosamento dos vários departamentos.!Tenho a certeza de que o Director da Faculdade e o Reitor da Universidade não deixarão de envidar todos os esforços para resolver os problemas que se forem levantando como dignos portadores das credenciais que lhe foram entregues por uma instituição com os pergaminhos que tem a Universidade de Coimbra.!

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Prof. Doutor José Veiga Simão!

N.: Guarda, 13 de Fevereiro de 1929.!Doutor em Física Nuclear (PhD), Univ. de Cambridge, Cavendish

Laboratory, 1957.!Doutor em Ciências Físico-Químicas, Faculdade de Ciências, Univ. de

Coimbra, 1957.!Professor Catedrático da Univ. de Coimbra, desde 1961, até à sua

jubilação em 1992.!Reitor da Universidade de Lourenço Marques, Moçambique, 1963 a

1970.!Presidente do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial

- LNETI, de 1978 a 1983 e 1985 a 1992.!Governador da Agência Internacional de Energia Atómica das Nações

Unidas, 1982.!Doutor Honoris Causa pela Universidade de Witwatersrand,

Johannesburg, África do Sul, pelo Lesley College, Cambridge, USA e pelas Universidades de Aveiro e Minho.!

Presidente do Conselho de Avaliação da Fundação das Univ. Portuguesas, 1993 a 1997.!

Ministro da Educação Nacional, 1970 a 1974.!Embaixador de Portugal nas Nações Unidas, 1974 a 1975.!

Ministro da Indústria e Energia, 1983 a 1985.!Ministro da Defesa Nacional, 1997 a 1999!

!COMEMORAÇÕES DOS 40 ANOS!

CURSOS DE ENGENHARIA!FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA!

UNIVERSIDADE DE COIMBRA!!São passados 40 anos após a criação dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e Engenharia Química na Faculdade de Ciências, que passou a designar-se por Faculdade de Ciências e Tecnologia. Introduziu-se pela primeira vez nessa Faculdade a estrutura departamental. !

Esta criação, em 1972, integrou-se nos princípios da Reforma Educativa dos anos 70, sujeitos a debate nacional no ano de 1971 e teve lugar logo após medidas estruturais relacionadas com as carreiras docente e de investigação universitárias, a equiparação de doutoramentos obtidos em universidades estrangeiras, o novo regime de doutoramento e reformas de planos curriculares, de entre os quais os das engenharias, das ciências, da economia e das ciências sociais. !

Antecedeu, assim, diplomas globais relacionados com a Reforma do Sistema Educativo e, em particular, com o Ensino Superior, designadamente a Lei de Bases do Sistema Educativo e o

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José Veiga Simão

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decreto-lei da Expansão e Diversificação do Ensino Superior publicados em 1973. O projecto de Decreto-Lei de Orientação do Ensino Superior que definia o modelo orgânico e o modelo de governo das Universidades foi enviado para a Presidência do Conselho de Ministros em 16 de Março de 1974; mas não chegou a ser aprovado, sendo motivo de controvérsia.!

Era difícil compreender que na Universidade de Coimbra nos anos 70 não se cultivassem, entre outros, cursos de Engenharia, de Economia e Ciência Sociais, de Administração e Gestão, e, bem assim, cursos de Psicologia e de Ciências da Educação e de Educação Física… Ao contrário muitas das universidades congéneres europeias nascidas no e após o Século XIII já ministravam esses e outros cursos. !

Cotelo Neiva, Reitor em 1972 e um dos maiores reitores da Universidade de Coimbra, numa carta que me escreveu em 21 de Janeiro de 1986 fez uma resenha das realizações concretizadas entre Outubro de 1971 e 25 de Abril de 1974 e das iniciativas em vias de conclusão como a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação e a Escola Superior da Educação Física.!

O ano de 1972 ficou marcado pela criação dos cursos de engenharia e da economia.!

Para a criação desses cursos, como Ministro da Educação Nacional contei com o apoio inteligente e competente do Reitor Cotelo Neiva, protagonista de um processo dinâmico e coerente de modernização da nossa Universidade, acompanhado de realizações sociais de vanguarda. No caso dos cursos de engenharia o Reitor foi secundado pelo então director da Faculdade de Ciências, Doutor Simões Redinha, meu companheiro na licenciatura em Ciências Físico-Químicas, distinto obreiro da Universidade de Lourenço Marques, estrénuo defensor da nova Faculdade de Ciências e Tecnologia, de que veio a ser o primeiro director. Após um percurso com avanços e recuos a Ciência e a Tecnologia passou a ter na Universidade de Coimbra uma componente imprescindível de ensino e investigação, directamente relacionados com o desenvolvimento, satisfazendo assim uma velha aspiração do Conselho da Faculdade de Ciências e do Senado.!

As razões para a decisão política são conhecidas. O preâmbulo do Decreto-Lei menciona que o nosso País necessita em vários domínios de cientistas e técnicos altamente qualificados para satisfazer as necessidades emergentes do seu desenvolvimento económico e social e realça que já eram professados na Faculdade de Ciências os dois primeiros anos de engenharia, obrigando os alunos a terminarem os cursos na Universidade do Porto e na Universidade Técnica de Lisboa, cujas escolas já estavam superlotadas. Os cursos eram, também, essenciais ao

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cumprimento de objectivos de política e desenvolvimento regionais.!

Nesse âmbito a criação dos cursos de engenharia foi acolhida com grande júbilo pela cidade de Coimbra, dando origem a uma moção de regozijo da Câmara Municipal da cidade e a pronunciamentos de apoio de várias entidades sociais, culturais e económicas do centro do País.!

Acontece, porém, que, ao contrário do que se pode julgar, nem tudo foram facilidades, sendo o projecto de Decreto-Lei objecto de contestação por ilustres professores de reconhecido prestígio da nossa Universidade, levando mesmo a que alguns escrevessem cartas ao Presidente do Conselho protestando não abertamente contra a criação dos cursos de engenharia mas contra a sua organização departamental, considerada como nefasta à gestão da Universidade, ao mesmo tempo que se aproveitava a oportunidade para condenar a experiência da Universidade de Lourenço Marques em relação à participação estudantil em órgãos do governo universitário. A organização departamental era considerada como prenúncio dessa participação.!

É justo recordar ainda os depoimentos marcantes dos alunos de engenharia desta Faculdade por altura das comemorações dos 25 anos; e é grato constatar em 2012 que a criação da Faculdade de Ciências e Tecnologia se traduziu num inequívoco sucesso, apresentando hoje uma das mais atractivas e qualificadas ofertas formativas a nível de licenciaturas, mestrados e doutoramentos e uma intensa actividade de investigação em múltiplas áreas do conhecimento. !

Ao mesmo tempo não devemos esquecer que o nascimento da Faculdade de Ciências e Tecnologia ficou, em grande parte, a dever-se à visão dos mestres de uma Escola Moderna da Ciência, de que foram activos intérpretes Couceiro da Costa, Andrade Gouveia, Almeida Santos, Cotelo Neiva e Pinto Coelho, e, bem assim, à influência do modelo anglo-saxónico e da variante americana no binómio ensino-investigação e aos frutos colhidos na experiência de aposta na juventude obtendo doutoramentos nas melhores universidades europeias e americanas, programa que foi ensaiado com notável êxito na Universidade de Lourenço Marques.!

Registe-se que no período pós-Abril não deixou de haver tentativas, felizmente frustradas, para a extinção dos cursos de engenharia.!

O equilíbrio entre a tradição e a modernidade nunca foi de fácil gestão na sociedade portuguesa.!

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Meus Caros Amigos: !

E agora? O ano de 72 e o ano de 2012 são naturalmente diferentes na natureza e na dimensão dos problemas para os quais o “engenho” dos portugueses procurou ou procura soluções. Ambos se identificam como prelúdios de mudanças políticas, económicas e sociais no nosso País. E, se nos restringirmos ao ensino superior o ano de 72 caracteriza-se como ano preliminar de uma expansão e diversificação significativas, resultantes de estudos sócio-económicos e de planeamentos integrados em Planos de Fomento que permitiram equacionar e escolher decisões fundamentadas.!

! No seguimento de um debate nacional, de análises comparativas internacionais e de pronunciamentos de personalidades de grande prestígio, foi definida em 1973 uma rede de universidades, institutos politécnicos e escolas normais superiores, colocados estrategicamente em diversas regiões. Os “pacotes curriculares” e os seus conteúdos eram elaborados por comissões instaladoras representativas do poder académico e das comunidades circundantes, pretendendo-se evitar sobreposições que não se justificassem por estudos prospectivos do desenvolvimento económico e cultural. !

!O abandono destes princípios e o predomínio da “iniciativa voluntarista” sobre a “iniciativa estratégica” determinou uma “explosão descontrolada de instituições e cursos” que, por razões múltiplas, - demográficas, económicas, sociais e culturais – necessitam de uma racionalização através de fusões, de alianças estratégicas, de consórcios ou de acordos protocolares. Um desafio que só poderá ter uma solução sustentada e sustentável se houver uma “visão estratégica” para o futuro do nosso País.!

As Universidades e as instituições do ensino superior devem assumir a liderança neste processo, em articulação com outras instituições da sociedade civil, de modo que o “economicismo político” não se sobreponha ao “humanismo de vidas dignas de serem vividas”, num ordenamento do território que equilibre o Homem e a Natureza. É, pois, altura de dar maior visibilidade aos princípios da Magna Carta das Universidades Europeias.!

Mas então, qual é o impacto deste desafio para a Universidade de Coimbra, para a Faculdade de Ciências e Tecnologia e, em particular, para as ciências de engenharia? A resposta a esta pergunta leva-nos a outras: “Qual acontribuição que poderão dar os cursos de engenharia para o desenvolvimento do País na soc iedade do conhec imento? Qua l o seu peso na interdisciplinaridade dos saberes e da inovação aberta? Quais os

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reflexos para o desenvolvimento da região Centro, sem esquecer a universalidade e internacionalização do conhecimento? Afinal, que se pode fazer perante a crise? !

Para responder a estas questões encontrei uma oportuna reflexão, proclamada na Sala dos Capelos da nossa Universidade pelo Prof. Doutor Bernardino Machado em 16 de Outubro de 1904, na sua oração de sapiência. Disse ele: Lá fora vai a derrocada financeira? Dissipam-se improdutivamente os impostos, acumulam-se só deficits sobre deficits no Tesouro, e o dinheiro não chega para o mais pequeno melhoramento, para acudir às necessidades públicas mais instantes, nem sequer à indigência, à orfandade, como o deve fazer toda a nação, em massa, e como o exigem os sentimentos compassivos do coração português, que, por mais paciente que seja, não pode ver desperdiçados os nossos bens e em perigo a saúde e o futuro dos nossos filhos sem que o atravessem irreprimivelmente os rebates da revolta e da raiva?!

E continua: Pois tão pouco há cá dentro (da Universidade) dinheiro bastante para nada, e biblioteca, gabinetes e museus, laboratórios, observatórios, jardim botânico, hospital da nossa Universidade, debatem-se, quando mesmo não agonizam, na mais tormentosa penúria?!

A resposta, é dada por Bernardino Machado: Uma Universidade é um laboratório, uma oficina modelo, onde professores e discípulos, como verdadeiros operários e aprendizes, não têm por ocupação consumir ideias, mas produzi-las.!

Nesta altura de uma crise no País, quase de sobrevivência, a Universidade, e em particular a Faculdade de Ciências e Tecnologia, devem produzir ideias que sejam sementes de esperança.!

A Faculdade de Ciências e Tecnologia está numa posição invulgar: apresenta hoje realizações na vanguarda da sociedade do conhecimento oferecendo condições para a dinamização de Hélices Triplas que associem Instituições Públicas, as Empresas e a Universidade (em sentido lato) em espaços de cooperação, abandonando práticas redutoras de esferas de competência. Na verdade são altamente significativos e de grande mérito o roteiro de “spin offs” da Universidade e Coimbra, a qualidade promissora das patentes, o culto de inovação aberta e do empreendedorismo, deixando-nos a sensação de que uma cooperação mais intensa dos saberes intra-muros, projectaria a Universidade de Coimbra para um papel de inquestionável liderança.!

Como está a cidade a reagir a este desafio e como as políticas públicas regionais constrangem ou facilitam estratégias

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empresariais inovadoras? É um assunto a merecer análise aprofundada enquadrado numa perspectiva territorial mais ampla.!

Meus Caros Amigos:!

Apesar dos regionalismos naturais penso que estão criadas condições para um diálogo entre a Universidade de Coimbra, a Universidades de Aveiro e a Universidade da Beira Interior, os Institutos Politécnicos de Viseu, da Guarda, de Castelo Branco e de Leiria e para que em conjunto, possam desencadear um Programa que associe o litoral ao interior e contribua de forma significativa para o desígnio nacional de aumentar o grau de orientação exportadora do nosso País dos actuais 36% do PIB para valores similares aos dos países de idêntica dimensão da União Europeia, que variam entre 50 e 80%. Trata-se de um desafio para uma década, determinante do futuro para o Estado Social em Portugal.!

Tenho confiança no papel desta nossa Faculdade e da Universidade de Coimbra.!

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Prof. Doutor Carlos Artur Trindade de Sá Furtado!

N.: Vila Nova de Paiva, 30 de Junho de 1934.!Licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Universidade do Porto

(1957).!Doutor em Física (D. Phil) pela Universidade de Oxford (1971).!Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra.!

Presidente do Conselho Directivo da Região Centro da Ordem dos Engenheiros (1992 – 1995).!

Eleito Presidente do Conselho Diretivo da FCTUC, em 1 de Fevereiro de 1996.!

Actualmente, desempenha o cargo de Director da ARCA – EUAC (Escola Universitária das Artes de Coimbra).!

!A evolução das Engenharias na Universidade de Coimbra: 40 anos ao serviço do País!

Carlos Sá Furtado!

A FCTUC quis hoje, em sessão solene, comemorar os 40 anos da sua criação. Decidiram, e muito bem, o seu Diretor Doutor Luís José Proença de Figueiredo Neves, a quem agradeço a subida distinção do convite para usar da palavra, acompanhado pelos restantes órgãos da Faculdade, que assim se fizesse. A

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Carlos Sá Furtado

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Faculdade guarda a sua memória, honra-a reflectindo sobre ela, e neste rememorar se fortalece e retempera para dar resposta às dificuldades e incomodidades dos tempos presentes e garantir a continuidade segura dos caminhos do futuro. Bem vai a instituição que se recorda, se analisa e se avalia, sinal da sua fortaleza, certeza e confiança nas suas virtualidades, nas suas potencialidades. Acredita em si que é condição de pôr os seus méritos e capacidades ao serviço dos outros, da Comunidade de que faz parte.!

Na caminhada segura e fecunda destes 40 anos, muitos foram os que deram um contributo valioso para o êxito alcançado. A todos presto o meu preito de homenagem e apreço. É, porém, a todos os títulos, justo e apropriado, ninguém o poderá contestar, destacar três vultos que emergem, destacados, pela sua visão criadora, pela sua iniciativa ponderada, pela sua diligência inteligente, pelo seu cuidado sagaz. São eles, todos o sabemos: o Doutor João Manuel Cotelo Neiva, o Doutor José Veiga Simão, e o Doutor José Simões Redinha. Nunca é demais elogiá-los e mostrar-lhes a nossa muita consideração e reconhecimento. Aqui o faço, exprimindo-lhes o preito da minha muita admiração e respeito.!

Com brevidade, ensaiarei uma digressão histórica, temperada com algumas reminiscências. Espero não desmerecer da confiança que o Senhor Diretor da Faculdade Doutor Luís Neves em mim depositou, dirigindo-me o honroso convite de proferir uma evocação a propósito da feliz efeméride que comemoramos e que aqui nos reúne.!

A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra vai buscar as suas raízes bem longe no tempo, através de uma evolução continuada, concertada com as exigências culturais e sociais da Universidade de Coimbra e da Sociedade Portuguesa. !

A fusão, resultante do decreto com força de lei de 19 de Abril de 1911, das Faculdades de Filosofia e de Matemática, nascidas da Reforma do Marquês de Pombal, fez nascer a Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra. Os cursos preparatórios para admissão na Faculdade de Engenharia do Porto, os chamados Preparatórios de Engenharia, são instituídos e regulamentados pelo Decreto n.º 24396, de 22 de Agosto de 1934. Até então, a Faculdade ministrava cursos que habilitavam para a frequência posterior da Faculdade Técnica do Porto e do Instituto Superior Técnico de Lisboa. !

A necessidade de uma Faculdade de Engenharia na Universidade de Coimbra é, pela primeira vez, exposta em Conselho Escolar da Faculdade de Ciências, a 27 de Abril de 1960. Os professores membros do Conselho encontram-se divididos: uns defendem a

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criação de uma Faculdade de Engenharia, ao passo que outros advogam a integração dos cursos de Ciências e Engenharias numa só Faculdade. !

Foi, todavia, necessário esperar mais de uma década, até 1972. De novo, a polémica atrás referida veio à baila. No seio do Conselho Escolar, vieram a terreiro argumentos e contra-argumentos, não foi pacífica a escolha do tipo de estrutura a criar. Uns defendiam uma Faculdade de Engenharia, a exemplo da Universidade do Porto, outros a integração dos novos cursos numa única entidade. Ganhou esta tendência, consagrando assim esta ideia nova e frutuosa da junção numa só unidade orgânica dos cursos de Ciências e de Engenharia, o que entre nós constituiu iniciativa pioneira. !

A carta, a bula instituidora foi o Decreto-Lei nº 259/72, publicado no Diário do Governo de 27 de Julho de 1972. Os seus grandes impulsionadores foram o Doutor José Veiga Simão, então Ministro da Educação, o Doutor João Manuel Cotelo Neiva, Reitor da Universidade de Coimbra e o Doutor José Simões Redinha, Diretor à época da Faculdade de Ciências. Foram decidida e decisivamente apoiados pelo Conselho Escolar, órgão supremo de governo da Faculdade, sendo, de entre os seus membros, justo destacar pelo seu envolvimento o Subdiretor Doutor António Ribeiro Gomes.!

Revisitemos o Decreto-Lei nº 259/72, de 28 de Julho de 1972. No seu artigo 1º, estabelece: A Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra passa a denominar-se Faculdade de Ciências e Tecnologia. Deste modo estava criada a FCTUC. O Artigo 2º dizia que “Na Faculdade de Ciências e Tecnologia serão professados, além dos actuais cursos das Faculdades de Ciências, também os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e Engenharia Química, conforme os planos de estudo a fixar por decreto”.!

Foi inovador este decreto-lei por juntar Ciências e Engenharias na mesma unidade orgânica universitária, o que, entre nós, constituiu uma novidade, e por, pela primeira vez legalmente introduzir o conceito e instituir o departamento, unidade, e cito, onde se processa o ensino e a investigação científica de um dado ramo de conhecimento.!

Os cursos criados foram os das engenharias consagrados entre nós, juntando-nos como terceira faculdade do País, depois da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e do Instituto Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa, a ministrar os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química e Engenharia de Minas.!

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A caminhada da FCTUC tem sido um êxito, alicerçado no esforço, no trabalho, na persistência e devoção de várias gerações. Nisso firmemente acredito e defendo como pretendo a seguir evidenciar. Se o não conseguir a mim inteiramente se deve, podem crer, falhar no cometimento!

Criados, como já dito, os cursos nos finais de julho de 1972, começaram a ser ministrados no Outono seguinte. Ora, milagres ninguém os faz…. Isto só foi possível graças a uma programação atempada e a diligências que ao tempo tinham já sido iniciadas. Se muitos deram o seu contributo e esforço para este sucesso, estes conseguimentos, justo e elementar é destacar a dedicação e esforços do Doutor José Simões Redinha. !

A Direção da Faculdade preocupou-se e encontrou as formas de dar resposta às exigências essenciais e programáticas dos departamentos de Engenharia, lançando desde logo os seus alicerces, as suas linhas de desenvolvimento. Estabeleceu e deu realidade a um plano de formação de doutores, futuros professores, contratando jovens e talentosos licenciados que, sem detença, foram preparar as suas teses para centros universitários estrangeiros de qualidade. Confiou a gestão corrente dos departamentos a professores qualificados, com delegação de competências bastantes e adequadas ao desenvolver das actividades e dos planos estabelecidos. Encontrou instalações na Quinta da Nora que, na transitoriedade assumida da sua ocupação, foram adaptadas às necessidades lectivas mais instantes. Equipamento, livros e revistas começaram, desde logo, a ser adquiridos. Com o recrutamento de pessoal administrativo, técnico e auxiliar estavam preenchidas as condições que possibilitaram a afirmação e o desenvolvimento dos Departamentos.!

Arrancaram assim as aulas em instalações, ainda em arrastada construção, destinadas ao Instituto Industrial de Coimbra e que seriam transitoriamente ocupadas. !

Na estratégia adotada, destaco pelo seu acerto e lucidez, a decisão de cometer a responsabilidade dos cursos e o lançamento dos departamentos a personalidades criteriosamente escolhidas. Foi assim que à testa da Engenharia Civil ficaram o Engenheiro Laginha Serafim e o Doutor Vítor Graveto, da Engenharia Mecânica o Engenheiro Janeiro Borges, da Engenharia Química o Doutor Tavares da Silva, da Engenharia de Minas o Doutor Carmona da Mota e da Engenharia Eletrotécnica este vosso amigo que agora está no uso da palavra. !

Assim se fez, e logo se iniciaram as aulas, a tempo e a horas, há 40 anos, nesse ano de 1972/73, que hoje rememoramos. Matricularam-se no 3º ano das engenharias, o ano escolar que correspondia à real existência, em Coimbra, dos cursos de

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Engenharia os seguintes alunos: Engenharia Civil, 83; Engenharia Eletrotécnica, 102; Engenharia Mecânica, 54; Engenharia Química, 27; e Engenharia de Minas,1. No total, 267 alunos. O curso de Engenharia Metalúrgica também foi criado, mas descontinuado em 1974/75, por falta de frequência. !

O período subsequente à Revolução de 25 de Abril foi palco de transformações profundas em toda a sociedade portuguesa Os mais velhos o recordam. A instituição universitária foi, porventura, onde as mutações ideológicas com reflexo a nível do poder e dos comportamentos tiveram maior alcance e amplitude. A isso não ficou incólume a nossa Faculdade, com profunda perturbação no seu funcionamento. Assim, muito naturalmente, os planos estabelecidos para os departamentos nascentes das Engenharias foram questionados e alterados. !

Muitos foram os que pensaram que os cursos de Engenharia, onde em grande parte se situaram as perturbações intra-muros vivenciadas, não sobreviveriam. Alguns chegaram a pensar em terminar com eles. Responsáveis, e importantes, houve que, por ser, assim o diziam, Coimbra uma universidade tradicional, porventura tradicionalista, alguns diziam humanista para fortalecerem a sua oposição e má-vontade, a que, como argumento à mão, acresciam a inexistência de indústria significativa à sua volta, sem esquecerem as circunstâncias recentes da agitação, defenderam pôr termo a essas excrescências que eram as Engenharias. Que sim, que estas deveriam acabar. Para concretizar tão nefando intento, houve, então, propostas de um numerus clausus de zero. Nenhum novo aluno deveria entrar. Cortava-se o mal pela raiz. Cauteloso e avisado foi o ministro de então, Doutor Sottomayor Cardia, que a tanto não chegou e por isso agora o recordo. Prudentemente fixou, em 1977/78, veja-se a Portaria nº 634-A, de 4 de Outubro, um numerus clausus global de 50 para todos os cursos de Engenharia.!

Ora, certo é que se enganaram e redondamente, dando razão aos fundadores nas esperanças que puseram na nossa FCTUC. Se não vejamos. Estamos em 1974 e foi decidido abandonar as instalações da Quinta da Nora, por serem destinadas ao Instituto Industrial de Coimbra, hoje ISEC. Os cursos de Engenharia e os respectivos departamentos nascentes foram generosamente acolhidos nos edifícios da Alta, sediados por departamentos das Ciências, nomeadamente os da Física e da Química. O programa de formação dos doutorados sofre alguma perturbação, não tardando, todavia, a ser retomado e reforçado.!

Ultrapassados os tempos convulsos pós-Revolução de Abril, a Faculdade e os departamentos de Engenharia iniciaram uma normalidade sustentada, que sempre significou progresso e desenvolvimento, sempre continuados e permanentes. Momentos

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houve, iniciativas, realizações tiveram lugar com cunho marcante, representando transições que importa mencionar. Destaco duas ocorrências a ser assinaladas nesta trajetória de 40 anos. A primeira, altamente significativa pelo que representa de confiança e esperança no futuro, o que se encontra demonstrado à saciedade: a criação do Departamento de Engenharia Informática, em 1995, por iniciativa de professores oriundos do Departamento de Engenharia Eletrotécnica. A segunda, refere-se à adaptação necessária, imposta por imperativo de afirmação e de qualidade que foi o de, na reestruturação orgânica da FCTUC, criar o Departamento de Ciências da Terra com inclusão aí da Engenharia de Minas. !

Uma breve síntese diacrónica farei agora para evidenciar o muito que foi andado, iniciado, desenvolvido, nestes 40 anos que são passados.!

Novas instalações eram imprescindíveis. Mesmo antes da criação da FCTUC, o Reitor Cotelo Neiva e o Conselho Escolar da Faculdade sob a égide do Diretor Simões Redinha pensaram e tomaram a iniciativa de encontrar um amplo terreno, com 40 hectares, para expansão da Faculdade. Depois, logo em 1978, iniciativas dos órgãos da Faculdade tiveram acolhimento junto do Reitor Férrer Correia para se iniciar o processo de identificação da localização e ulterior compra dos terrenos, com a indispensável inscrição orçamental. Tal só veio a acontecer com o Reitor Rui de Alarcão, seguindo-se a adjudicação de projectos e construção dos edifícios dos departamentos das Engenharias, no que veio a ser o Pólo II. Tal se tornava imperioso para a afirmação e expansão dos departamentos de Engenharia, e do mesmo passo para a libertação de espaços imprescindíveis ao correto e justo desenvolvimento dos departamentos do Pólo I, na Alta, entretanto diminuídos de áreas que lhes eram indispensáveis.!

A partir dos finais da década de 70, a evolução dos departamentos de Engenharia realizou-se em todas as suas componentes de modo firme e continuado. !

Os departamentos de Engenharia, primeiro como estruturas in formais , depois formal e esta tu tar iamente, foram acompanhando, ao longo dos anos, os figurinos e funcionamentos desenhados pela mutante legislação. Até Abril de 1974, a sua gestão foi da responsabilidade da Direcção da Faculdade. Logo a seguir ao 25 de Abril, o seu governo foi confiado a uma Comissão de Gestão constituída por docentes, alunos e funcionários, que passa, em 1976, a ser regulado pelo Decreto-Lei n.º 781-A/76, de 28 de Outubro, sob a forma de secções autónomas. Mais tarde pelo Decreto-Lei n.º 66/80, de 9 de Abril, foram criados, a partir de 1981, legal e formalmente os departamentos de Engenharia. Posteriormente, no seguimento da Lei da Autonomia Universitária e da aprovação dos Estatutos da Universidade de Coimbra e do

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Regulamento da Faculdade, foram, em 1994, publicados os regulamentos dos departamentos. Presentemente, a gestão está definida pela Lei nº 62/2007, de 10 de Setembro de 2007 (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior).!

A evolução foi assinalável, pode-se dizer sem exagero nem vaidade. Começo por olhar ao número e qualificações dos professores. Inicialmente, já o referi, os departamentos de Engenharia iniciaram a sua actividade com um número muito reduzido de doutorados. Não podia ser doutro modo; não existiam sequer em todo o Portugal em número suficiente. Nos primeiros anos, contando bem, haveria nos cinco departamentos de Engenharia, ora criados, quatro doutorados. O ensino era assegurado praticamente por assistentes não doutorados com o contributo valioso dos professores dos departamentos de Ciências, que muito generosamente ministraram muita da carga letiva. Paulatina e seguramente, a formação de pessoal docente foi assegurada e impulsionada, o que possibilitou alcançar-se o número de hoje de 205 doutores. Assistentes não existem presentemente em três dos cinco departamentos, havendo 8 num e 1 noutro.!

Em 1980, havia 14 professores e 90 assistentes; em 2000, os números eram de 125 professores e 118 assistentes; agora são 225 e 9, respetivamente. Em percentagens crescentes, os professores preenchem 13%, 51% e 96% dos postos letivos. A política de recrutamento e formação do corpo docente, sólida e bem estruturada, com o envio de jovens e promissores licenciados para reputadas Universidades estrangeiras, de início gizada e executada, resistiu, e bem, às convulsões próprias da Revolução de Abril e à perspectiva posterior da extinção das Engenharias em Coimbra. A semente e o chão eram bons e propiciaram uma progressão permanente e segura.!

!Os alunos eram, nos primeiros tempos, nos cinco anos dos cursos de Engenharia, à roda dos 1700, registando-se um crescimento significativo, que se cifra actualmente à roda dos 3700, mais do dobro do início.!

Em 1972/73, ano da fundação, iniciaram-se 6 cursos de licenciatura: os cinco correspondentes aos departamentos, mais ainda o de licenciatura em Engenharia Metalúrgica, não previsto no decreto-lei fundador. Teve este vida curta, por falta de procura, não chegando a haver licenciados. Em 1974/75, saem os primeiros licenciados, que nos primeiros anos foram de uns 170 engenheiros. Este número foi crescendo, sendo ultimamente à roda de 360, mais do dobro do inicial, o dos engenheiros formados. O total dos diplomados em Engenharia, desde o início até hoje, foi superior a 10 000. !

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Os departamentos de Engenharia englobam uma variedade de áreas tecnológicas cada vez mais essenciais ao bem-estar da sociedade e ao desenvolvimento do País. Em todos estes sectores tem-se verificado uma evolução tecnológica acentuada, o que se traduz na necessidade de preparar os futuros engenheiros não só com a capacidade de dominar o presente estado do conhecimento, mas também de ter conhecimentos profundos em áreas de base - em particular de Matemática e Física - que lhes permitam ir fazendo uma atualização progressiva de conhecimentos ao longo da sua carreira profissional. Os planos de estudos sucessivamente adotados procuraram, em cada momento, atender à inclusão dos avanços tecnológicos mais recentes, dando lugar cimeiro à consolidação da preparação nas áreas básicas. !

Nunca os cursos de Engenharia deixaram de acompanhar, tantas vezes liderar, as transformações, oficial ou socialmente recomendadas e de modo a adaptá-los às tendências modernas das especialidades. Foi o que, recentemente em 2007/2008, de novo aconteceu com a adoção dos mestrados integrados para seguir as determinações legais emergentes do processo de Bolonha. Os propósitos, os objectivos iniciais foram mantidos, aliando os cursos a exigência de uma sólida formação teórica a uma segura capacidade de intervenção no concreto. !

!Falarei agora de investigação e desenvolvimento experimental. Naturalmente que, nos primeiros anos, a investigação não poderia institucionalizar-se, pela óbvia e simples razão de não haver professores doutorados em número suficiente. Mas a política de formação de doutorados, a política das pedras vivas de que falava António Sérgio, foi desde a primeira hora, como já disse, rota de rumo, prioridade das prioridades. E, muito naturalmente, deu os seus frutos. Em 1980, 8 anos não eram passados após o lançamento das Engenharias, foi oficialmente reconhecido e criado o primeiro centro de investigação do INIC, a que os demais em breve se vieram juntar. Nunca os professores deixaram de se organizar e colaborar nas instituições de investigação, com diferente estatuto e orgânica, que as políticas nacionais definiam e possibilitavam. Poderei afirmar, julgo sem o risco de ser contestado, que nunca houve atrasos nem demoras em colher das circunstâncias e das oportunidades vigentes o melhor que poderia servir uma actividade fecunda, consequente e de máxima oportunidade e vantagem para a afirmação e prestígio da Faculdade e da Universidade. Os resultados aí estão, claros e iniludíveis: no momento presente, os professores das Engenharias exercem o seu mester de investigadores em muitas unidades de investigação e associações para a inovação em ciência e tecnologia. São em número de 16 estas instituições de investigação, onde, poder-se-á afirmar, todos os grandes temas

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de Engenharia são abordados e tratados. Aí são desenvolvidos projetos financiados por empresas, organismos públicos nacionais e pela Comunidade Europeia. Estes projetos, que envolvem alunos finalistas, de doutoramento e de pós-graduação, têm proporcionado excelentes oportunidades para realizar trabalhos de nível avançado como resposta às necessidades do mundo empresarial. A crescente internacionalização dos projetos de investigação e desenvolvimento que envolvem os nossos alunos aparece também como urna oportunidade estratégica para lhes proporcionar uma experiência potencialmente útil para a carreira futura. !

Em consequência da crescente capacidade de investigação, conquistada e reconhecida, são publicadas, em 1983, portarias que permitem a atribuição do grau de doutor nas diversas Engenharias. Os primeiros doutoramentos, baseados em orientação e trabalho internos ocorrem em 1985. Gradualmente, a formação pós-graduada de assistentes no estrangeiro foi perdendo expressão, para passar a ter lugar maioritariamente entre nós. Também, neste domínio a afirmação se foi robustecendo e alargando. Presentemente, estão inscritos para doutoramento nas diversas Engenharias 356 alunos, 264 no 3º ciclo (regime de Bolonha) e 92 no regime pré-Bolonha, o que bem patenteia o extraordinário progresso verificado. !

Nos incertos e inquietantes tempos que vivemos, esperemos bem que haja a clarividência, a lucidez, a visão de os decisores políticos para que seja continuado e intensificado o esforço nacional em investigação e desenvolvimento experimental, que haja o mínimo de bom senso e de desígnio patriótico para ser seguido o único caminho capaz de pôr o País no trilho do desenvolvimento humano sustentado, o único que há, que é o da Ciência e da Tecnologia.!

O Ensino e a Investigação praticados pelas Engenharias alcançaram um elevado patamar de internacionalização, que beneficia e propicia em muito a sua reconhecida qualidade. Portugal é membro desde 1986 da União Europeia. Esta realidade, a que se junta a livre concorrência de produtos e bens, fez com que o mercado de trabalho dos engenheiros se tivesse progressivamente internacionalizando, o que incentiva a ajustar os nossos níveis de ensino aos níveis das melhores escolas europeias. !

Os nossos alunos têm tido igualmente um envolvimento crescente nos programas de mobilidade de estudantes da União Europeia (ERASMUS, SÓCRATES, LEONARDO). É gratificante verificar o excelente desempenho dos nossos alunos quando frequentam universidades europeias de prestígio, que se tem traduzido na obtenção de elevadas classificações. Igualmente animador tem sido, por parte das instituições onde os nossos alunos trabalham

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e estagiam, o reconhecimento da qualidade da sua formação. A propósito, faço votos, no que certamente todos estão de acordo, de que o programa ERASMUS não seja descontinuado, antes reforçado, pela Comunidade Europeia.!

A participação em projectos internacionais de I&D, em redes de cooperação internacionais e em programas de intercâmbio de estudantes garantem uma evolução progressiva dos departamentos de Engenharia, aproximando-os de escolas congéneres no estrangeiro. !

O envolvimento dos alunos em actividades de formação inseridas em redes internacionais, através do Board of European Students of Technology (BEST), contribui também para a recolha de experiências importantes e positivas.!

Ainda, uma faceta a destacar, a merecer encarecimento e realce é atestada pelos muitos prémios nacionais e estrangeiros atribuídos a docentes e alunos.!

O terceiro grande tema que me proponho tratar respeita à Ligação e Serviços á Comunidade. Multímoda e polivalente tem sido a afirmação dos departamentos e professores de Engenharia nos diferentes e variados aspectos que informam as suas intervenções e cooperações sociais.!

Desde logo, permito-me referir uma, que embora marginal à sua missão específica, cabe na sua contribuição como parte da Universidade. É o do impulso importante que deram à expansão urbanística de Coimbra. A construção do Pólo II representa uma extensão significativa e de qualidade da zona urbana da Cidade. Acresce, o que não é coisa de pouca monta, os propósitos que houve e há, o bom exemplo de construir Universidade e Cidade interligadas, harmoniosamente entremisturadas, seguindo o modelo conseguido das antigas cidades universitárias europeias entre as quais Coimbra se encontrava. Ainda, aspeto a reconhecer, plano de pormenor e edifícios exibem a assinatura de grandes arquitetos portugueses contemporâneos, que merecem atenção no mundo da arquitetura internacional.!

Regressando ao que é específico, próprio da essência da instituição universitária. Os professores das Engenharias têm dado contributo visível e útil nas suas intervenções pública e cívica, seja a nível nacional seja a nível internacional. Tem constituído uma mais-valia a realçar, sobretudo quanto à satisfação de exigências e necessidades da Região. Participam, através da gestão, da consultoria e do projeto, numa imensa variedade de setores a nível do Estado, das autarquias, das empresas e organizações, em muito contribuindo para a afirmação da Universidade e da Região, em vertentes que, de outro modo, ficariam sem qualquer expressão, pois que, é de

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todos bem sabido, a Engenharia propicia contributos para a Sociedade que são insubstituíveis. Não vai sem referir os muitos congressos e conferência internacionais levados a cabo sob a égide das Engenharias que trouxeram prestígio, visibilidade e ganhos para a Universidade e para a Cidade.!

Importa dar especial e elevado relevo à criação de empresas por parte de professores e diplomados das Engenharias, as denominadas “spin-offs”. Muitas foram aquelas que saíram deste ambiente de trabalho, de formação para a vida e de espírito empreendedor. A revitalização do tecido empresarial que se vem afirmando em Coimbra, é em grande parte resultante desta realidade.!

Neste domínio, o Instituto Pedro Nunes, cuja incubadora em actividade desde 1996 alcançou, recentemente (2010), o 1º Lugar no concurso mundial “Best Science Based Incubator Award”, muito justa e naturalmente se destaca. A sua criação e gestão muito deve, embora não só, ao espírito de iniciativa e de empenhamento dos professores das Engenharias.!

Até 2010, o IPN apoiou a criação e desenvolvimento de mais de 170 projectos de base tecnológica ou inovadora com resultados nacional e internacionalmente reconhecidos, destacando-se uma taxa de sobrevivência das empresas criadas superior a 80%. Em 2010, o volume de negócios foi superior a 75 M€, dos quais 35% exportações, e o emprego direto, muito qualificado, era superior a 1600 postos de trabalho.!

Está a Faculdade seguramente atenta a que o desenvolvimento futuro das Engenharias é, por um lado condicionado pela evolução tecnológica e por outro lado pela globalização dos mercados, seja do emprego, seja dos produtos manufacturados. São, pois, exigentes os tempos que correm e os que estão para vir. Daqui, não deixar de ser preocupante a falta continuada de recrutamento de novos professores. Na Faculdade, de 2000 a 2011, o decréscimo de professores foi de 20%. Durante os próximos 15 anos, 202 professores atingirão o limite de idade. Só para repor o número actual de professores, será necessária uma contratação média de 14 professores por ano. Este desiderato é um imperativo nacional, se quisermos manter a esperança de um futuro digno.!

Eis, pois, neste meu descolorido e desgracioso esquisso, o que foi a vida dos departamentos de Engenharia desde a sua fundação. Muito mais, e seguramente melhor, se poderia dizer sobre o que foram estes 40 anos das Engenharias em Coimbra. Procurei apontar o que de mais significativo me pareceu. Ficaram, certamente por referir acontecimentos, pessoas, êxitos e também desilusões. Que não me levem a mal e me perdoem.!

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Afirmar que não houve evolução, que a resposta da Universidade de Coimbra às exigências dos tempos e da Sociedade foi de paralisia é, julgo estar patente no que relatei, negar o Sol em dia de Agosto. O sonho alicerçado pelo realismo, a ambição perseverante estruturaram uma realidade forte, viva, os departamentos de Engenharia, que, apesar das muitas vicissitudes desfavoráveis continuam firmes e decididos a dar o seu contributo para o desenvolvimento, engrandecimento e dignidade de Portugal.!

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