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1 Briefing em projetos de iluminação residencial: Proposta de um guia dezembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 Briefing em projetos de iluminação residencial: Proposta de um guia Marina M. N. Zenun [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação e Graduação - IPOG São Paulo, SP, 19 de março de 2014 Resumo Este artigo apresenta uma proposta de guia de briefing para projetos de iluminação residencial. Um briefing eficaz é fundamental para capturar corretamente as expectativas do cliente com relação a um determinado projeto. Porém, quais as informações devem resultar de um briefing eficaz em um projeto de iluminação residencial. Quais as perguntas devem ser feitas para capturar essas informações. O objetivo desta pesquisa é apresentar uma proposta de guia de briefing na busca da excelência em projetos de iluminação residencial. Este trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto e baseado nos resultados desta pesquisa, apresenta uma proposta de guia de briefing. Esta proposta foi validada por meio de uma pesquisa-ação. Os resultados obtidos indicam que este trabalho esta na direção certa para a busca de um briefing eficaz, resultando em requisitos completos, primeiro passo para um bom projeto de iluminação residencial, que realmente atenda às expectativas do cliente. Palavras-chave: Briefing. Projetos de Iluminação Residencial. Expectativas do Cliente. 1. Introdução Este artigo apresenta uma proposta de briefing para ser utilizado em projetos de iluminação residencial, com foco na iluminação artificial, na busca da excelência neste tipo de projeto. Um processo de briefing eficaz é fundamental para o sucesso em projetos de construção civil (SHEN et al., 2004). Como o projeto de iluminação está inserido no contexto de projetos de construção civil, pode-se extrapolar afirmando-se que um processo de briefing eficaz é fundamental para o sucesso em projetos de iluminação residencial. Enquanto muitos trabalhos tratam sobre o briefing em projetos de construção civil (SHEN et al., 2004; YU, 2007), poucos trabalhos tratam especificamente sobre o tema na área de iluminação residencial, restringindo-se em sua maioria na questão relacionada às soluções técnicas de projetos de iluminação (COSTA, 2006; IESNA, 2000). Devido à importância de um briefing eficaz para o sucesso em projetos de iluminação residencial, este trabalho busca responder às seguintes perguntas: Quais informações devem resultar de um briefing eficaz em um projeto de iluminação residencial? Quais as perguntas devem ser feitas para capturar essas informações? Para responder a essas questões, este trabalho apresenta uma pesquisa exploratória e baseia-se na revisão da literatura para propor um guia para o briefing em projetos de iluminação residencial. O guia proposto foi validado por meio de uma pesquisa-ação. Os resultados obtidos indicam que o guia é um instrumento

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Briefing em projetos de iluminação residencial: Proposta de um guia dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Briefing em projetos de iluminação residencial: Proposta de um

guia

Marina M. N. Zenun – [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós-Graduação e Graduação - IPOG

São Paulo, SP, 19 de março de 2014

Resumo

Este artigo apresenta uma proposta de guia de briefing para projetos de iluminação

residencial. Um briefing eficaz é fundamental para capturar corretamente as expectativas do

cliente com relação a um determinado projeto. Porém, quais as informações devem resultar

de um briefing eficaz em um projeto de iluminação residencial. Quais as perguntas devem ser

feitas para capturar essas informações. O objetivo desta pesquisa é apresentar uma proposta

de guia de briefing na busca da excelência em projetos de iluminação residencial. Este

trabalho apresenta uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto e baseado nos resultados

desta pesquisa, apresenta uma proposta de guia de briefing. Esta proposta foi validada por

meio de uma pesquisa-ação. Os resultados obtidos indicam que este trabalho esta na direção

certa para a busca de um briefing eficaz, resultando em requisitos completos, primeiro passo

para um bom projeto de iluminação residencial, que realmente atenda às expectativas do

cliente.

Palavras-chave: Briefing. Projetos de Iluminação Residencial. Expectativas do Cliente.

1. Introdução

Este artigo apresenta uma proposta de briefing para ser utilizado em projetos de iluminação

residencial, com foco na iluminação artificial, na busca da excelência neste tipo de projeto.

Um processo de briefing eficaz é fundamental para o sucesso em projetos de construção civil

(SHEN et al., 2004). Como o projeto de iluminação está inserido no contexto de projetos de

construção civil, pode-se extrapolar afirmando-se que um processo de briefing eficaz é

fundamental para o sucesso em projetos de iluminação residencial.

Enquanto muitos trabalhos tratam sobre o briefing em projetos de construção civil (SHEN et

al., 2004; YU, 2007), poucos trabalhos tratam especificamente sobre o tema na área de

iluminação residencial, restringindo-se em sua maioria na questão relacionada às soluções

técnicas de projetos de iluminação (COSTA, 2006; IESNA, 2000).

Devido à importância de um briefing eficaz para o sucesso em projetos de iluminação

residencial, este trabalho busca responder às seguintes perguntas: Quais informações devem

resultar de um briefing eficaz em um projeto de iluminação residencial? Quais as perguntas

devem ser feitas para capturar essas informações? Para responder a essas questões, este

trabalho apresenta uma pesquisa exploratória e baseia-se na revisão da literatura para propor

um guia para o briefing em projetos de iluminação residencial. O guia proposto foi validado

por meio de uma pesquisa-ação. Os resultados obtidos indicam que o guia é um instrumento

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valioso que orienta e facilita a atividade de briefing, corroborando para a captura de um

conjunto completo de informações, e que realmente representam as expectativas do cliente em

projetos de iluminação residencial.

A pesquisa apresentada neste trabalho, com relação a abordagem do problema, é uma

pesquisa qualitativa, pois de acordo com a classificação proposta por Silva e Menezes

(2005:14), uma pesquisa qualitativa expressa a qualidade em detrimento da quantidade, o que

é o caso deste trabalho.

Este artigo apresenta a definição de briefing (Seção 2), subsídios para um projeto de

iluminação residencial (Seção 3), trabalhos relacionados (Seção 4), proposta de um guia para

o briefing de um projeto de iluminação residencial (Seção 5), avaliação do guia de briefing

proposto (Seção 6), Resultados e discussões (Seção 7) e finaliza com conclusões (Seção 8).

2. Definição de briefing

O dicionário Aurélio apresenta 2 definições para o termo briefing: “1. Conjunto de

informações básicas, informações, diretrizes, etc., elaborado para a execução de um

determinado trabalho. 2. Reunião onde se definem essas instruções, diretrizes, etc.

(FERREIRA, 1999:332).”

Neste trabalho, considera-se briefing como a reunião presencial com o cliente, onde são

levantadas informações que traduzem as expectativas do mesmo. As informações obtidas

durante essa reunião irão compor o conjunto de informações necessárias para a execução de

um determinado trabalho, neste caso, do projeto de iluminação residencial.

As informações obtidas durante o briefing somadas a outras informações necessárias à

execução do projeto serão registradas em um documento denominado por Programa de

necessidades (MOREIRA e KOWALTOWSKI, 2009).

O principal objetivo de determinar o que o cliente espera de um projeto/produto, ouvindo a

voz do cliente, é descobrir os requisitos que realmente agradam e surpreendem

favoravelmente o cliente, pois gera benefícios que o cliente não esperava. Esses requisitos que

causam impacto no cliente agrupam características e qualidades do projeto/produto não-

verbalizadas na maioria das vezes pelos clientes. Representam os desejos ocultos e

desconhecidos, insatisfações toleradas, expectativas até agora não alcançadas, novas facetas

de uso e aplicação, e aspectos de personalização do projeto para o cliente. Esse entendimento

dos requisitos dos clientes vem confirmar que existem necessidades que nem mesmo o cliente

conhece, ou caso conheça, não sabe expressar o suficiente (ROZENFELD et al., 2006:221).

É durante o briefing que o lighting designer vai ouvir a voz do cliente e tentar capturar os

requisitos que talvez o cliente não saiba expressar o suficiente. Isto dependerá da habilidade

do lighting designer em enxergar esses “desejos ocultos” (BRANDSTON, 2005:122).

O briefing é uma das fases de um projeto e que apresenta importância relevante no processo

como um todo, pois um adequado desenvolvimento do briefing é o que garante que as

expectativas dos clientes e dos outros agentes envolvidos serão capturadas e estarão

disponíveis ao desenvolvedor ao longo das atividades de desenvolvimento por meio do

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documento do Programa de necessidades. É nessa fase que se descrevem os problemas e se

estabelecem as possíveis restrições para o encaminhamento das soluções (CARVALHO,

2012). Sendo assim, conclui-se que é durante o briefing que são levantados os subsídios que

nortearão o lighting designer na tarefa do desenvolvimento de soluções para a iluminação

residencial.

Para Brandston (2010:56), “a boa iluminação é definida no início de cada projeto com o

cliente”, ou seja, uma boa iluminação é definida durante o briefing. O lighting designer

precisa identificar as perguntas-chave para o projeto em questão. Ele pode apresentar três ou

quatro exemplos, até que o cliente comece a ter uma compreensão sobre, por exemplo, do

nível de iluminação que atenda suas expectativas.

A interação entre o entrevistador e o entrevistado (cliente), possibilitará ao entrevistador

identificar as características que diferenciam as exigências do cliente das opiniões de outras

pessoas. Na verdade, trata-se de uma depuração, através de idéias e exemplos, que

proporciona às partes envolvidas a aproximar as decisões da solução final pretendida. As

questões devem ser esmiuçadas adequadamente para se obter esse nível de entendimento

(BRANDSTON, 2010:56).

3. Subsídios para um projeto de iluminação residencial

É durante o briefing que o lighting designer tem a oportunidade de interagir com o cliente e

adquirir todas as informações necessárias ao desenvolvimento de um projeto que realmente

satisfaça as expectativas do cliente. Então, faz-se necessário saber a priori quais devem ser

estas informações.

Para o autor Costa (2006), em um projeto de iluminação residencial (total ou para recintos

separados), o lighting designer deverá possuir os seguintes elementos e/ou informações:

a) Projeto arquitetônico, cortes e detalhes da edificação;

b) Tipo do forro de cada ambiente;

c) Análise da tarefa visual executada nos diferentes recintos;

d) Projeto de interiores;

e) Cor ou textura do teto, paredes e piso;

f) Desejos do cliente;

g) Orçamento disponível do cliente.

Além dos itens acima, de acordo com a Sociedade de Engenharia de Iluminação da América

do Norte (IESNA, 2000), durante o briefing é preciso avaliar as necessidades dos ocupantes

da residência, suas capacidades visuais e físicas, sua idade e o seu estilo de vida. Pessoas mais

velhas requerem muito mais luz do que pessoas mais jovens; uma pessoa de 55 anos de idade

requer duas vezes mais luz do que uma pessoa de 20 anos para realizar a mesma tarefa.

Dos itens citados anteriormente, o mais subjetivo e talvez o mais difícil de capturar são os

desejos do cliente.

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Para ajudar a entender como os desejos do cliente podem se manifestar relacionados a um

projeto de iluminação residencial, este trabalho apresenta um paralelo entre questões técnicas

relacionadas à iluminação (nível de iluminância, estilo, aparência da cor, sistemas de

automação, a questão da reprodução de cor, e projeto sustentável) e suas variações percebidas

pelo cliente. Finaliza este paralelo discorrendo sobre a questão do orçamento disponível para

o projeto de iluminação residencial.

3.1 Nível de iluminância

A iluminância é a razão entre o fluxo luminoso incidente numa superfície por unidade de área.

O símbolo da iluminância é E e a sua unidade de medida é lux (lx). A iluminância representa

a densidade de luz necessária para a execução de uma determinada tarefa visual (COSTA,

2006:215).

A norma NBR ISO 8995 (ABNT, 2013) apresenta os valores mínimos requeridos de

iluminância média de acordo com as tarefas visuais para uma condição visual normal. Para o

estabelecimento desses valores mínimos, os elaboradores da norma consideraram os seguintes

fatores:

- requisitos para a tarefa visual;

- segurança;

- aspectos psico-fisiológicos assim como conforto visual e bem estar;

- economia;

- experiência prática.

Ainda de acordo com a ABNT (2013), os valores de iluminância devem ser aumentados em

pelo menos um nível na escala da iluminância quando:

- baixos contrastes fora do normal estão presentes na tarefa;

- o trabalho visual é crítico;

- a correção dos erros é onerosa;

- é da maior importância a exatidão ou a alta produtividade;

- a capacidade de visão dos trabalhadores está abaixo do normal.

Porém, a iluminância mantida necessária pode ser reduzida quando:

- os detalhes são de um tamanho extraordinariamente grande ou de alto contraste;

- a tarefa é realizada por um tempo excepcionalmente curto (ABNT, 2013).

3.2 Estilo

O estilo pessoal relaciona-se psicologicamente com a maneira como o usuário do espaço

comunica ao seu grupo social (e a si mesmo) a posição dele perante o mundo: conservador,

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arrojado; esotérico, incrédulo; masculino, feminino; alegre, triste; entre outros

(CIANCIARDI, 2013:19).

Pode-se dizer que o estilo é a resultante da composição harmônica entre cores, texturas,

padronagens, formas e linhas; de um determinado período histórico, presentes em um

ambiente (CIANCIARDI, 2013:19).

Os elementos da iluminação além de estarem de acordo com o estilo do ambiente, também

devem estar de acordo com a cultura que rodeia o usuário – e que é o seu país, sua região ou

mesmo o seu local de trabalho. O usuário está sujeito à influência do meio: pessoas e climas

que afetam suas preferências, seus sentimentos. É responsabilidade do lighting designer

despertar a sua sensibilidade para essas emoções, porque elas são parte da vida das pessoas.

Exemplificando: em uma cozinha no México seria mais provável que ela fosse ocupada com

louça colorida, pimentas ardidas e vozes apaixonadas à mesa de jantar, enquanto na

Escandinávia a cozinha evocaria geralmente uma estética formal com cores e temperos suaves

(BRANDSTON, 2010:123).

3.3 Aparência da cor

De acordo com a ABNT (2013), “a aparência da cor de uma lâmpada refere-se à cor aparente

(cromaticidade da lâmpada) da luz que ela emite”. A aparência da cor pode ser classificada de

acordo com a sua temperatura de cor correlata expressa em Kelvin (K).

O fato da temperatura de cor correlata ser expressa em Kelvin (K) surgiu da analogia entre a

aparência da luz emitida por uma lâmpada e a aparência de um corpo sólido (corpo negro ou

radiador absoluto) quando aquecido. Quando aquecemos um corpo sólido (corpo negro ou

radiador absoluto), ele começará a emitir uma luz vermelha escura e quando a temperatura

aumenta a cor mudará para vermelho claro, alaranjado, amarelo, branco e finalmente branco

azulado (PHILIPS, 2014a).

A classificação das lâmpadas de acordo com a sua aparência de cor dada em Kelvin (K)

geralmente é feita em três grupos (ABNT, 2013:12). A Figura 1 apresenta essa classificação.

Figura 1 – Classificação das lâmpadas quanto à aparência da cor

Fonte: ABNT (2013)

Visualmente, lâmpadas que se encontram em um desses 3 grupos geram efeitos visuais

diferentes e que podem ser ilustrados por meio de exemplos, como o exemplo apresentado na

Figura 2.

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Figura 2 – Exemplo dos efeitos visuais das lâmpadas em 3 grupos quanto à aparência da cor

Fonte: Loja Tudo (2013)

A escolha da aparência da cor é uma questão psicológica, estética e do que é considerado

natural para o cliente. A escolha depende da iluminância, cores da sala e mobiliário, clima e a

aplicação. Em climas quentes geralmente é preferencial a aparência da cor de uma luz mais

fria, enquanto em climas frios é preferencial a aparência da cor de uma luz mais quente

(ABNT, 2013:12).

Além da variação da cor da luz em torno da cor branca, atualmente, com a disseminação dos

LEDs (Light Emitting Diode) RGB (Red Green Blue), pode-se obter uma infinidade de cores

luz (PHILIPS, 2014b).

Para Costa (2006), o uso da cor em iluminação desempenha um papel preponderante para o

indivíduo. O efeito das cores atua psicologicamente nos indivíduos quanto ao tamanho das

superfícies, visto que objetos verdes e azuis parecem maiores que os vermelhos e amarelos.

Superfícies verdes e azuis parecem mais afastadas, ao passo que vermelhas e amarelas

parecem mais próximas, por uma questão do foco do cristalino. Vermelho, laranja e amarelo

são consideradas cores quentes, pois desenvolvem dinamismo, vitalidade, excitação e

movimento; já o verde, o azul e o violeta são cores frias, dando uma sensação de frescor,

descanso, paz. Pessoas nervosas e as que apresentam um temperamento instável ou sujeitas à

tensão emocional tendem a piorar em presença de cores quentes, por outro lado, estas mesmas

cores são adequadas para os deprimidos, angustiados e tristes por natureza. Os valores claros

das cores quentes são associados à feminilidade (rosa), delicadeza e amabilidade; os escuros

sugerem riqueza e poder. Os valores escuros das cores frias criam a sensação de tristeza,

mistério e melancolia.

Ao lighting designer compete, então, escolher a cor da luz de tal forma que se enquadre com a

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finalidade do ambiente (COSTA, 2006:64) e vá ao encontro da preferência do cliente.

Utilizando-se combinações de cores e lâmpadas, e controlando a intensidade da iluminação é

possível compor várias cenas. A Figura 3 apresenta um mesmo ambiente com cenas criadas

utilizando diversos efeitos obtidos com a iluminação.

Figura 3 – Cenas diversas obtidas com diferentes iluminações

Fonte: Gioda (2011)

3.4 Sistemas de Automação

Com sistemas de automação ou sistemas de gerenciamento da iluminação é possível detectar

e controlar os níveis de iluminância e a mistura de cores, permitindo grande flexibilidade e

dinamismo à iluminação (OSRAM, 2013a).

Ao permitir alterações automáticas nos níveis, cores e direcionamento da luz, os sistemas de

iluminação podem ser controlados com base na demanda, desde a utilização de controles

dependentes da luz do dia e de iluminação dinâmicas aplicadas com botões para diferentes

cenas (OSRAM, 2013a).

3.5 A questão da reprodução de cor

A reprodução de cor obtida quando um objeto é iluminado por uma luz é dada pelo Índice de

Reprodução de Cor (Ra ou IRC). O IRC de uma lâmpada é a medida de correspondência entre

a cor real de um objeto ou superfície e sua aparência diante de uma fonte de luz. A luz

artificial, como regra, deve permitir ao olho humano perceber as cores corretamente, ou o

mais próximo possível da luz natural. Lâmpadas com índice de reprodução 100 apresentam as

cores com total fidelidade e precisão. Quanto mais baixo o índice, mais deficiente é a

reprodução de cor. Os índices variam conforme a natureza da luz e são indicados de acordo

com o uso de cada ambiente (OSRAM, 2013b). Como regra geral, admite-se que:

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- IRC entre 50 e 80 reproduz moderadamente a cor;

- IRC entre 80 e 90 reproduz bem a cor;

- IRC entre 90 e 100 reproduz muito bem a cor (COSTA, 2006).

3.6 Projeto sustentável

“O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais

sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”

(ONU, 2013).

Um projeto de iluminação sustentável seria, por exemplo, um projeto empregando LEDs. Ao

considerar a sustentabilidade dos LEDs, o primeiro aspecto que geralmente vem à mente é o

baixo consumo de energia, mas há muitos outros, incluindo a redução de resíduos,

reciclagem, o uso de materiais e recursos verdes e os efeitos sobre a construção e o design

(PHILIPS, 2014c).

3.7 Orçamento

Para Brandston (2010), o bom lighting designer é percebido, entre outros fatores, se ele

respeita o orçamento do cliente. Por isto, é muito importante saber quanto o cliente está

disposto a pagar ou gastar na instalação do sistema de iluminação. É interessante ressaltar que

a questão do orçamento pode conflitar com outros itens, como, por exemplo, de um modo

genérico, a instalação de LEDs e sistemas de automação, que atualmente ainda são

considerados mais caros quando comparados a outras tecnologias.

4. Trabalhos relacionados

Muitos trabalhos abordam os assuntos técnicos relacionados a soluções de projeto de

iluminação residencial (COSTA, 2006; IESNA, 2000), porém pouco se fala sobre os

requisitos que representam as necessidades e desejos do cliente e que são capturados durante

o briefing do projeto de iluminação (COSTA, 2006; IESNA, 2000).

Durante a pesquisa realizada neste trabalho, não foi encontrado nenhum guia ou checklist para

a realização específica de brienfings em projetos de iluminação residencial. Porém, existem

guias de briefings específicos para o projeto arquitetural, como o guia proposto por Moreira e

Kowaltowski (2009) e guias específicos para o projeto de interiores como o guia proposto por

Cianciardi (2013) e, como o projeto de iluminação muitas vezes está inserido no contexto de

um projeto arquitetural ou até mesmo dentro de um projeto de interiores como um todo, esses

guias podem ser considerados como exemplos de trabalhos relacionados.

Para Rozenfeld et al. (2006), a utilização de guias/checklists auxilia o trabalho sistemático e

reduz as chances de que alguma informação importante seja desconsiderada.

Cianciardi (2013) propõe um guia/formulário para ser preenchido durante o briefing de

projetos de interiores. Este guia é apresentado na Figura 4.

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1.0 CLIENTE

Nome

Endereço

E-mail

Telefone Residencial - Comercial - Celular -

2.0 USUÁRIO

Usuário Idade Profissão Outros

3.0 ROTINA DOMÉSTICA / SEMANA

Tempo para desfrutar da casa

Manutenção

Final de semana

Convidados

4.0 ESPAÇOS

Problemas

estruturais

Função Tempo de

permanência

Metragem Armazenagem Nº de usuários

simultâneos

Sala

Lavabo

Copa

5.0 PREFERÊNCIAS PESSOAIS

Usuário Estilo Cor Textura Iluminação Hobby Lojas Revistas Animais Plantas

6.0 ELEMENTOS EXISTENTES

Usuário Coleções Quadros Mobiliário Outros

Figura 4 – Guia pra briefing de projetos de interiores

Fonte: Cianciardi (2013)

5. Proposta de um guia para o briefing de um projeto de iluminação residencial

A proposta do guia para o briefing foi elaborado baseado na revisão da literatura apresentada,

adaptando-se o guia de briefing apresentado por Cianciardi (2013).

É preciso destacar que o guia de briefing proposto é destinado a um projeto de iluminação que

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foi contratado separadamente dos demais projetos, por exemplo, o cliente contratou um

profissional de arquitetura para o projeto arquitetônico e contratou separadamente, um

lighting designer para desenvolver soluções em iluminação artificial.

O guia para o briefing consta de uma lista de perguntas e do formulário a ser preenchido. O

formulário deverá ser preenchido à medida que as perguntas forem realizadas. Os itens

relacionados aos espaços serão preenchidos com as informações obtidas através do projeto

arquitetônico e do projeto de interiores, com exceção dos itens Função e Tempo de

permanência, que serão capturados durante o briefing.

As perguntas propostas para o briefing são:

1) Quem são as pessoas que vivem na casa? Qual a idade delas?

2) Qual a sua profissão?

3) Você trabalha em casa? Se sim, em qual cômodo?

4) Quais os seus hábitos, hobbies? Qual o tempo que se dedica a esses hábitos?

5) Como considera sua acuidade visual. Gosta de trabalhar em locais mais iluminados?

6) Aplicar as perguntas de 2 a 5 para as outras pessoas da casa.

7) Existe projeto de interiores? Solicitar cópia do projeto de interiores e o projeto

arquitetônico. Se não houver projeto de interiores, solicitar que o cliente descreva

como será a decoração dos interiores.

8) Tem o hábito de receber convidados para festas, reuniões?

9) Sondar estilos e preferências do cliente.

10) Sondar as preferências do cliente com relação à temperatura de cor. Mostrar figuras

como as da Figura 2.

11) Qual a sua cor preferida.

12) Você gosta de tecnologias? Está disposto a pagar um preço mais alto para incorporar

automação ao seu projeto? Mostrar cenas (ex. Figura 3) e fotos de dispositivos de

automação.

13) Estaria disposto a gastar mais para ter um projeto de iluminação sustentável?

14) Qual o orçamento disponível?

O formulário para o briefing é um arquivo do MS-Word® e a Figura 5 apresenta esse

formulário proposto.

1.0 CLIENTE

Nome

Endereço

E-mail

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Telefone Residencial - Comercial - Celular -

2.0 USUÁRIO

Usuário Idade Profissão Trabalha

em casa

Hobby Acuidade

visual

Estilo Temperatura

Cor

Cor Tecnologias

3.0 RESIDÊNCIA

Projeto de interiores

Projeto arquitetônico

Convidados

4.0 ESPAÇOS

Restrições Função Tempo de

permanência

Metragem Tipo de forro Cor do teto,

parede, piso

Sala

Lavabo

Copa

6.0 OUTROS DADOS

Projeto sustentável

Orçamento

Figura 5 – Formulário do briefing para projetos de iluminação residencial

Fonte: Elaborado pelo autor

6. Avaliação do guia de briefing proposto

O guia de briefing proposto para projetos de iluminação foi avaliado por meio de uma

pesquisa-ação. De acordo com Silva e Menezes (2005), a pesquisa-ação é uma pesquisa

concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um pro-

blema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema

estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

O guia proposto foi aplicado pelo pesquisador que pode ser classificado como um lighting

designer em início de carreira. Foram realizados 2 briefings utilizando o guia. Os briefings

foram realizados no município de São José dos Campos, estado de São Paulo. Os 2 clientes

que participaram da pesquisa-ação contrataram a elaboração de projetos de iluminação para

suas novas residências, ambas consideradas residências de alto padrão, em condomínio

fechado de casas.

Cada briefing durou aproximadamente 1 hora. Durante o briefing, foi preenchido o formulário

apresentado na Figura 5. Após o briefing, as informações levantadas foram validadas com o

cliente. Também após o briefing, foram feitas as seguintes perguntas ao entrevistado: Você

acredita que suas necessidades ou desejos particulares foram capturados durante o briefing?

Você acredita que suas preferências foram capturadas durante o briefing? Os entrevistados

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responderam positivamente a essas perguntas.

Na opinião do entrevistador/pesquisador os resultados obtidos durante o briefing foram

considerados satisfatórios.

7. Resultados e discussões

Após o briefing, o formulário foi completamente preenchido. As informações relacionadas ao

projeto arquitetural e de interiores foram preenchidas a posteriori no formulário. O fato do

formulário ter sido completamente preenchido indica que todas as perguntas previamente

elaboradas foram capturadas. As perguntas e o formulário contribuíram para um conjunto

completo de informações que serão utilizadas para a execução de um Programa de

necessidades.

Um bom desempenho de um briefing depende das habilidades do entrevistador em conduzi-lo

e também da capacidade do entrevistado em responder as perguntas corretamente, porém as

perguntas e o formulário trazem uma orientação para o entrevistador e corrobora para que

nenhuma questão previamente levantada seja desconsiderada ou até mesmo esquecida.

O briefing é a primeira etapa na busca de um projeto que realmente atenda às necessidades do

cliente. Os resultados indicam que o briefing realizado produziu conjuntos completos e

corretos, com informações que realmente representam as expectativas dos 2 clientes.

8. Conclusão

Este trabalho apresentou uma proposta de guia de briefing para orientar o lighting designer na

tarefa de conseguir um conjunto completo e correto de informações que serão utilizadas na

confecção do Programa de necessidades, passo inicial de um projeto. Valendo-se da revisão

da literatura e de trabalhos relacionados, este artigo produziu uma lista de informações que

devem resultar de um briefing eficaz na área de iluminação residencial. Apresentou também

uma lista de perguntas para serem feitas durante o briefing para resultar neste conjunto de

informações necessárias. Os briefings realizados com o auxílio da proposta apresentada

resultaram em conjuntos completos e corretos de informações. Porém, a pesquisa-ação

realizada limita o número de casos e de participantes envolvidos, e também restringe a

pesquisa a uma determinada região, resultando em uma generalização dos resultados. Uma

sugestão de trabalho futuro é aplicar a mesma pesquisa com entrevistadores de diferentes

níveis de experiência, outros entrevistados e em outras regiões para validar os resultados

obtidos. Outra sugestão de trabalho futuro é adaptar o guia proposto para a sua utilização em

projetos de retrofit incluindo-se, por exemplo, as seguintes perguntas ao cliente: Pretende

seguir o estilo original ou quer mudar? Gostaria de mudar o que?

Referências

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