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De 21-07-2014 a 27-07-2014TRANSCRIPT
REVISTA SEMANAL 142
DE 21-07-2014 A 27-07-2014
BRIEFING INTELI|CEIIA » TRANSPARÊNCIA || 2014
Revista de Imprensa29-07-2014
1. Jornal de Notícias, 27-07-2014, Caso Monte Branco investigado por mais seis meses 1
2. Correio da Manhã, 27-07-2014, BES financiou partidos com 15 milhões 4
3. Diário de Notícias, 26-07-2014, Suíços abriram as contas de Ricardo Salgado ao MP 7
4. Expresso, 26-07-2014, Berlusconi absolvido mas não reabilitado 12
5. Expresso, 26-07-2014, Suíça travou negócio a Ricardo Salgado 13
6. Jornal de Notícias, 26-07-2014, Fortunas na Rioforte a um mês da falência 17
7. Público, 26-07-2014, Caução imposta a Salgado é uma das maiores de sempre 21
8. Correio da Manhã, 25-07-2014, A Angola na origem da detenção 24
9. Correio da Manhã, 25-07-2014, 60 milhões da corrupção em seis meses 32
10. Diário de Notícias, 25-07-2014, SNS e Segurança Social ´roubados´ em 47milhões
33
11. Diário de Notícias, 25-07-2014, Reino Unido acusa Alstom de corrupção 35
12. Diário de Notícias, 25-07-2014, Informador e perigo de fuga levaram à detençãode Salgado
36
13. Diário de Notícias da Madeira, 25-07-2014, Ricardo Salgado constituído arguido 41
14. Diário Económico, 25-07-2014, Salgado libertado sob caução de três milhões 43
15. i, 25-07-2014, Ricardo Salgado. PJ vigiou o novo escritório antes das buscas do MP 50
16. Jornal de Notícias, 25-07-2014, Suspeito de burlar e esconder milhões 57
17. Negócios, 25-07-2014, Presente de 14 milhões torna Salgado suspeito de crimes 63
18. Público, 25-07-2014, Ricardo Salgado constituído arguido no dia em que o GESimplodiu
68
19. Público, 25-07-2014, Maioria PSD/CDS desvaloriza missão a Munique do inquéritoaos submarinos
73
20. Sol, 25-07-2014, Salgado retirou 17 milhões 74
21. Público, 24-07-2014, Socialistas querem enviar a Munique missão de inquérito aossubmarinos
77
22. Público, 24-07-2014, Funcionários da CGD acusados de manipularem o mercadopara valorizar e desvalorizar acções
78
23. Visão, 24-07-2014, Os segredos bem guardados dos alemães 79
24. Correio da Manhã, 23-07-2014, Padre compra carta por 2000EUR 83
25. Jornal de Notícias, 23-07-2014, Alto quadro de instituição de crédito acusado desaque
85
26. Público, 23-07-2014, A cimeira de duas ausências reveladora de uma ansiosapresença
86
27. Diário de Notícias, 22-07-2014, Novo julgamento no caso Independente 92
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A QUEDA DE UM IMPÉRIO
Caução imposta a Salgado é uma das maiores de sempre
A caução de três milhões
de euros que o juiz Carlos
Alexandre impôs a Ricardo
Salgado esta quinta-feira pa-
ra o manter em liberdade,
apesar das suspeitas que im-
pendem sobre ele de branqueamento
de capitais, burla, falsifi cação e abuso
de confi ança, é uma das maiores de
sempre da justiça portuguesa.
Se não concordar com esta medida
de coacção ou com as outras duas
que lhe foram aplicadas — proibi-
ção de sair do país e de “contactar
com determinadas pessoas”, como
consta de um comunicado divulga-
do pela Procuradoria-Geral da Repú-
blica — resta ao banqueiro recorrer
das exigências de Carlos Alexandre
para o Tribunal da Relação, o que
poderá fazer no prazo de um mês.
Caso não o faça, tem dez dias para
pagar os três milhões, seja através de
transferência bancária seja através
de garantia bancária ou da hipoteca
de imóveis, por exemplo, mas, como
já decorrem as férias judiciais, esse
prazo só termina em Setembro. Se a
opção de Ricardo Salgado não for o
pagamento em numerário, cabe ao
mesmo juiz decidir se aceita ou não
as garantias apresentadas.
Em Janeiro passado Carlos Alexan-
dre aplicou ao milionário Ricardo Oli-
veira, ligado ao caso BPN, aquela terá
sido a maior caução de sempre im-
posta a uma só pessoa em Portugal:
cinco milhões de euros. Em troca da
sua liberdade o arguido ofereceu as
acções de uma empresa detentora de
vários imóveis que estavam, porém,
na sua grande parte hipotecados,
razão pela qual o juiz recusou esta
forma de pagamento, seguindo as-
sim a posição do procurador do De-
partamento Central de Investigação
e Acção Penal encarregue do caso,
Rosário Teixeira. É também Rosário
Teixeira quem tem em mãos o pro-
cesso Monte Branco, no âmbito do
qual Ricardo Salgado foi constituído
arguido esta quinta-feira.
Cuidados como os que foram to-
mados relativamente a Ricardo Oli-
veira servem para evitar situações
como a de Vale e Azevedo, que con-
seguiu sair da cadeia em liberdade
condicional depois de pagar cauções
de milhões de euros com garantias
falsifi cadas.
Em casos como o de Ricardo Sal-
gado os critérios para a fi xação dos
montantes das cauções que permi-
tem aos arguidos continuarem em
liberdade têm sobretudo em conta a
sua situação fi nanceira – e não, como
noutros processos, assegurar o pa-
gamento a eventuais credores. Caso
fuja ou não compareça às diligências
que lhe são marcadas pelo tribunal,
o arguido fi ca sem o dinheiro da cau-
ção, que é depositado numa conta à
ordem do processo em causa.
No caso BPP o Ministério Públi-
co chegou a defender a prestação
de uma caução de dois milhões por
João Rendeiro, mas o juiz que presi-
dia ao colectivo encarregue de julgar
os antigos administradores do ban-
co recusou o pedido, tendo alegado
que não existia perigo de fuga do
foram constituídos arguidos, o enten-
dimento legal da questão é de que
esses prazos são meramente indica-
tivos, e não obrigatórios. A especial
complexidade do caso fez com que,
na Primavera passada, Rosário Tei-
xeira tenha visto aceite um pedido
seu para prorrogar as investigações
por mais 20 meses.
O processo não corre, porém, o ris-
co de prescrever, assegura a mesma
fonte de informação, adiantando que
isso só sucederia se tivessem passa-
do 10 a 15 anos entre os factos e o
seu julgamento. O branqueamento
de capitais, burlas e restantes ilíci-
tos de que os arguidos podem vir a
ser formalmente acusados deverão
ser considerados, pelas circunstân-
cias em que ocorreram, “crimes de
execução permanente” — ou seja, a
infracção foi cometida constante-
mente ao longo do tempo —, sendo
por isso a sua prescrição mais dila-
tada no tempo do que se se tratasse
de crimes confi nados a determinado
momento.
A constituição de Ricardo Salga-
Banqueiro tem até Setembro para pagar 3 milhões de euros ou um mês para contestar as medidas de coacção aplicadas pelo juiz Carlos Alexandre
Ana Henriques
Ricardo Salgado numa imagem de arquivo (em 2010), quando prestava declarações à imprensa
arguido, dadas as suas frequentes
saídas de Portugal. “É normal haver
cauções até um milhão nos grandes
processos. Já os três milhões pedi-
dos a Ricardo Salgado são um valor
praticamente inédito”, observa fonte
ligada à investigação da criminalida-
de económica.
Sem risco de prescreverO até aqui presidente executivo do
Banco Espírito Santo é o oitavo sus-
peito do caso Monte Branco, sendo
que as medidas de prisão preventi-
va aplicadas a três destes arguidos
— num dos casos domiciliária, com
pulseira electrónica — se extingui-
ram já, dada a demora na investi-
gação. Todos tiveram de ser liber-
tados.
O PÚBLICO perguntou à Procura-
doria-Geral da República se existe
um prazo para a conclusão da inves-
tigação, não tendo, porém, obtido
qualquer resposta. Apesar de a lei
estabelecer prazos máximos para
a duração dos inquéritos, especial-
mente importante nos casos em que
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Corte: 2 de 3ID: 55013051 26-07-2014
Quando se pensava que
a situação do Banco
Espírito Santo (BES) estava
estabilizada e que o foco
das atenções se tinha
virado para os outros
negócios da família, eis
que as nuvens de incerteza voltam
a virar-se para a instituição liderada
por Vítor Bento. Ontem, os títulos
do BES, que nos últimos dias tinham
registado valorizações, voltaram às
perdas. E signifi cativas. Um recuo
de 7,6%, para 0,450 euros, distantes
dos 0,487 euros que as acções do
banco tinham batido na quarta-feira
passada. E o Banco de Portugal viu-se
na necessidade de reafi rmar, através
de comunicado, o que já tinha dito
antes, ou seja, “não existem motivos
que comprometam a segurança dos
fundos confi ados ao BES, pelo que
os seus depositantes podem estar
tranquilos”. O supervisor lembra
que os depósitos até 100 mil euros,
“por instituição e por depositante”,
estão garantidos por lei.
Apesar dos esforços que estão a
ser feitos para separar o caminho do
banco dos percursos dos restantes
negócios da família Espírito Santo,
há muitos nós que ainda não foram
desatados. E o anúncio, na quinta-
feira, de que o ESFG – Espírito Santo
Financial Group (que controla 20,1%
do capital do banco) pediu também
Gestão controlada na ESFG atira acções do BES para uma queda de 7,6%
adesão ao regime de gestão controla-
da com protecção dos credores veio
agravar os receios sobre os impactos
que a implosão do GES poderá ter
na instituição fi nanceira.
A opção do ESFG segue-se a pedi-
dos idênticos formulados, igualmen-
te no Luxemburgo, pela ESI – Espí-
rito Santo Internacional (cabeça do
grupo) e pela Rioforte, onde estão
concentrados os negócios não-fi nan-
ceiros do clã. No comunicado, a em-
presa justifi ca a decisão “devido ao
facto de não estar em condições de
cumprir as suas obrigações no âmbi-
to do programa do papel comercial,
nem as obrigações relacionadas com
as suas dívidas”.
Este pedido agrava o quadro de
impactos que os problemas no GES
podem ter no Banco Espírito Santo.
A instituição já tinha reconhecido
uma exposição directa aos negócios
do grupo que ascende a cerca de
1200 milhões de euros, a que se so-
José Manuel Rochamam cerca de 300 milhões à Escom
(que geria os negócios em Angola
e está envolvida num complicado
processo de venda à Sonangol).
Mas agora o problema agrava-se
porque os clientes do retalho são
credores de cerca de 750 milhões
de euros referentes a produtos das
holdings do grupo Espírito Santo
que foram adquiridas aos balcões
do BES e que estão todas em regime
de protecção dos credores.
O banco assumiu, recentemente,
que iria ressarcir os seus clientes do
retalho que compraram esses pro-
dutos e que, depois, executaria a
garantia de 700 milhões de euros
que o ESFG emitiu precisamente
para acautelar estes pagamentos.
Mas isso aconteceu ainda antes do
pedido de gestão controlada. Com a
mudança de quadro, essa execução
fi ca adiada não se sabe para quando
e também não é certo se o ESFG dis-
põe de activos que possam vir a co-
brir todos os seus compromissos.
Produtos semelhantes de holdings
do GES foram colocados pelo ban-
co junto de investidores institucio-
nais, num valor que ultrapassa os
2000 milhões de euros. Mas, neste
caso, o BES não se sente responsá-
vel pelas aplicações, considerando
que se trata de “investidores quali-
fi cados de acordo com os critérios
legais aplicáveis e, portanto, com
maior capacidade de avaliação do
risco”.
O banco vai divulgar resultados
na próxima quarta-feira e é provável
que os prejuízos possam chegar aos
mil milhões de euros. O presidente
da CMVM, Carlos Tavares, afi rmou
no Parlamento, na quarta-feira pas-
sada, que há “informação relevante”
sobre o BES que ainda não foi di-
vulgada e que há indícios de prática
de crimes que estão a ser investi-
gados. Estas declarações acabaram
também por pressionar as acções
em baixa, além de terem causado
alguma estranheza, pelo seu teor,
nos mercados.
Apesar de ter anunciado que dis-
põe de uma almofada de capital de
2100 milhões de euros, o Banco Es-
pírito Santo poderá não escapar a
um aumento de capital ou, então,
ao recurso à linha de recapitalização
pública da banca.
Um aumento de capital pode estar na calha. Novo presidente do BES quer recuperar a confiança dos mercados
Impactos nas propostas da EGF
A crise desencadeada no final de Junho pela situação do GES está a condicionar a capacidade
de alguns candidatos à privatização da EGF garantirem os financiamentos necessários à operação. O PÚBLICO sabe que alguns candidatos têm enfrentado dificuldades na negociação dos financiamentos e falam mesmo num “estrangulamento” provocado pelo tumulto do GES.
É uma situação que “assusta os bancos internacionais” e “reduz o valor da EGF” porque as condições de financiamento acabam por ser mais penalizadoras para as empresas, explicou ao PÚBLICO o responsável de uma das candidaturas.
Em causa está não só o valor da EGF, mas também a dívida de 220 milhões de euros da empresa (da qual grande parte corresponde a um empréstimo do BEI, com garantia estatal), que terá de ser refinanciada pelo comprador.
Este crédito do BEI é considerado por alguns candidatos “como o maior constrangimento” no processo de privatização, disse outra fonte, admitindo que as propostas pelo capital da empresa que recolhe e trata o lixo da maioria dos portugueses poderão reflectir essa dificuldade.
Algumas das empresas interessadas na EGF vêem com bons olhos a extensão do prazo para entrega de propostas vinculativas, que termina a 31 de Julho. Dois dos concorrentes, os agrupamentos Portugal Ambiental (das brasileiras Odebrecht e Solví) e EGEO/Antin solicitaram o adiamento à Parpública (holding que controla as participações sociais do Estado) até Setembro, mas o Governo diz querer manter o prazo previsto. Na corrida estão ainda a Suma (Mota-Engil), a DST, a belga Indaver e a espanhola FCC.
do como arguido motivou algumas
reacções. Uma delas foi do dirigente
socialista Eurico Brilhante Dias, que
escreveu no Facebook: “Quem sabe,
sabe e o Ricardo sabe. E se ele conta
o que sabe? E o que saberá? 22 anos
é muito tempo. 30 anos depois das
reprivatizações acomodadas com
fundos comunitários. Estradas, casas
e cimenteiras. Bancos e imobiliário.
De Miami às Ilhas Caimão”.
Já o líder da CGTP, Arménio Car-
los, afi rmou que Ricardo Salgado já
“era um caso de polícia” há vários
anos e que o banco que liderou é
“outro caso de polícia” que deve ser
investigado. “O processo em que es-
tá envolvido esse senhor, que é do
sector fi nanceiro, já era um caso de
polícia há três anos, e não é de ago-
ra”, declarou o dirigente sindical, ci-
tado pela Lusa. “Há pessoas detidas
há dois anos, não se percebe porque
é que só agora é que foi chamado.
Não queremos fazer juízos de valor,
mas, como dizem os espanhóis, a
gente não acredita em bruxas, mas
que há bruxas há”.
FÁBIO TEIXEIRA/ARQUIVO
SARA MATOS
Títulos que tinham registado valorizações voltaram às perdas
2100Uma almofada de capital de 2100 milhões de euros poderá não evitar o recurso a aumento de capital ou à linha pública
750milhões de euros é a dívida do BES a clientes a retalho referentes a produtos das holdings do grupo
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Caução imposta a Ricardo Salgado é uma das maiores de sempre p2/3
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Salgado libertado sobcaução de três milhõesLígia Simõ[email protected]
O ex-presidente do BES, que foiontem de manhã detido parainterrogatório no Tribunal Cen-tral de Instrução Criminal(TCIC), saiu sob caução de trêsmilhões de euros. Após o inter-rogatório a Ricardo Salgado,durante cerca de seis horas, aProcuradoria Geral da Repúbli-ca (PGR) deu conta que foramobtidos elementos de prova porvia da cooperação judiciária in-ternacional no âmbito da inves-tigação ‘Monte Branco’ que ale-gadamente envolve a maiorrede de fraude fiscal e de bran-queamento de capitais detecta-da em Portugal.
Ricardo Salgado está aindaproibido de sair do País e decontactar “determinadas pes-soas” por ser suspeito de crimesde “burla, abuso de confiança,falsificação e branqueamentode capitais”, informou a PGRem comunicado, onde avançaque foram recolhidos novos in-dícios que justificaram as dili-gências de busca que, ontem,foram levadas a cabo e culmi-naram na detenção do ex-pre-sidente do BES para interroga-tório. Já ao final do dia, RicardoSalgado garantia, em comuni-cado, a sua “total disponibilida-de para colaborar com a justiçano apuramento da verdade,como já o fez, no âmbito doprocesso, há cerca de doisanos”. E frisou que “acreditaque a verdade e a justiça acaba-rão por prevalecer”.
A detenção do banqueirosurgiu depois de, na quarta-fei-ra, ter sido ouvido pelo procu-rador Jorge Rosário Teixeira noMinistério Público (MP), paraonde foi levado pelos investiga-dores directamente do seu es-critório improvisado no HotelPalácio, no Estoril, onde teráestado a trabalhar desde quesaiu do banco. Nestas diligên-cias, que contou também cominspectores tributários e a PSP,os investigadores iam já com
um mandato de detenção que seviria a concretizar ontem demanhã na sua casa em Cascais.
“No âmbito do processoMonte Branco foram identifi-cados movimentos financeirosque, numa primeira fase, leva-ram à inquirição como teste-munha de Ricardo Salgado.Após essa audição prossegui-ram diligências de investigaçãocom a cooperação da Autorida-de Tributária, designadamentecom a obtenção de elementosde prova por via da cooperação
judiciária internacional, tendosido recolhidos novos indíciosque justificaram um conjuntode diligências de busca que,ontem, foram levadas a cabo”,refere a PGR.
Salgado foi ouvido em 2012O presidente executivo do BESfoi ouvido no final de 2012 noDCIAP no âmbito da operaçãoque investiga um conjunto demovimentos financeiros queterão ocorridos entre 2006 e2012, no âmbito da operaçãoMonte Branco (ver texto aolado). Num despacho de Janeirode 2013, a PGR acabaria por di-zer que Ricardo Salgado não erasuspeito, nem havia indícios àdata para lhe imputar práticade ilícito fiscal. Na altura,quanto às notícias sobre a suaadesão ao programa RERT (re-gularização de capitais no es-trangeiro) e rectificações dadeclaração de rendimentos, opresidente executivo do BESfalou pela primeira vez do as-sunto, deixando uma garantia:“Nunca fugi aos impostos nemsou suspeito disso ou de qual-quer outra coisa”.
No âmbito da operação MonteBranco, o MP terá investigado 12transferências de cerca de 27,3milhões efectuadas entre Julhode 2009 e Julho de 2011, já depoisde ter começado a alegada “ma-nipulação” das contas das hol-dings do Grupo Espírito Santo.Aqueles movimentos terão par-tido do BES Angola para contasde empresas com sede no Pana-má e cujos beneficiários terãosido Ricardo Salgado e AmílcarMorais Pires. Em causa estarãocontas no Credit Suisse da Savoi-ces e da Allanite, ambas identifi-cadas na investigação “MonteBranco” e dos fundos geridospela Akoya. A Savoices, que esta-rá ligada a Salgado, terá recebido13,8 milhões de dólares. O ban-queiro terá liquidado a última detrês rectificações de IRS, num to-tal de 4,3 milhões de euros, 11dias antes de se ter deslocado aoDCIAP para prestar depoimento.
Monte Branco Ex-presidente do BES foi ontem detido e ouvido como arguido no âmbitode investigação de rede de branqueamento de capitais. Juiz proibiu-o de sair de Portugal.
Um presente de 14 milhõesRicardo Salgado nunca deu ex-plicações públicas sobre astransferências feitas pelo cons-trutor José Guilherme para a Sa-voices, a sua sociedade offshore.Nem perante a família esclare-ceu a razão destes rendimentos,que não foram de 8,5 milhões[avançado na altura], mas sim14 milhões. Salgado terá expli-cado ao Banco de Portugal e aoDCIAP que foi uma oferta em di-nheiro de um construtor agra-decido pelos conselhos do ban-queiro. E apontou o acto comenquadramento jurídico enome: “liberalidade”, revelou olivro “O Último Banqueiro”, daautoria das jornalistas MariaJoão Gago e Maria João Babo.
Negócio de venda da ESCOMNa mira dos investigadores estáalegadamente ainda o negóciode venda da participação daESCOM, em 2011, à Sonangol,em que estarão envolvidos al-tos quadros do grupo, e quetambém na quarta-feira terálevou a diligências aos escritó-rios da advogada luso-angola-na Ana Bruno. Neste caso, osinvestigadores procuram in-teirar-se se Ana Bruno estaráenvolvida naquele negócio equais eventuais relações comRicardo Salgado.
Em causa estarão transfe-rências de montantes alegada-mente relacionados com o sinalprestado pela ESCOM, que te-rão sido depositados no CréditSuisse através da Akoya, a ges-tora de fortunas que alegada-mente está no centro da inves-tigação do caso Monte Branco.Na mira dos investigadores es-tarão transferências efectuadaspelos angolanos de 85 milhõesde euros, cujo rasto está a serinvestigado. A ESCOM terá es-tado ainda envolvida no casoPortucalle e alegadamente nonegócio das contrapartidascom os submarinos. O BdPobrigou o GES já este mês a re-gistar uma exposição de 300milhões à ESCOM. ■
D DESTAQUE RICARDO SALGADO INVESTIGADO
Ricardo Salgado garantiu, emcomunicado, a “total disponibilidadepara colaborar com a justiçano apuramento da verdade,como já o fez, no âmbito doprocesso, há cerca de dois anos”.
QUEM JULGA, QUEM ACUSA E QUEM
Carlos AlexandreJuíz de instrução criminal
Há vários anos que é a grandefigura na investigação demegaprocessos de naturezaeconómica e financeira. CarlosAlexandre é o juiz-presidentedo Tribunal Central de InstruçãoCriminal – conhecido por ‘Ticão’ –e é ele que tem estado à frentedos mais mediáticos processos –Face Oculta, Operação Furacão,BPN ou Freeport. Foi tambémeste magistrado, a quem muitoschamam de ‘super-juiz’, que emitiuo mandado de detenção contra
SUSPEITAS DE CRIMES
● Branqueamento de capitaiscom moldura penal até 12 anosde prisão.
● Falsificação, cujo crime épunido até cinco anos de prisão.
● Abuso de confiança punívelde um a oito anos de prisãose a coisa móvel é de valorconsideravelmente elevado.
● Burla é um crime punido compena de prisão até três anos oucom pena de multa. Se o prejuízopatrimonial for de valor elevado,com pena de prisão até cinco anos.
MEDIDAS DE COACÇÃO
● Caução de três milhõesde euros.
● Proibição de ausênciado território nacional.
● Proibição de contactoscom determinadas pessoas.
Ricardo Salgado divulgou umcomunicado ao final do dia para dizerque está disponível para colaborarcom a justiça e que acredita quea verdade acabará por prevalecer.
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PONTOSCHAVE
● O ex-presidente-executivo do BESvolta a ser interrogado pelo TribunalCentral de Instrução Criminal e parasair em liberdade teve de apresentaruma caução de três milhões de euros.
● Operação Monte Branco começou emJunho de 2011 com o antigo BPN e já temoito arguidos, Ricardo Salgado é o último.● No mercado de capitais, a gestãocontrolada do ESFG ameaça a trégua
registada nos últimos diasnas acções do BES.● Carlos Tavares, presidente da CMVM,diz que BES deve fazer reembolsode clientes.
Monte Branco é amaior investigaçãode fuga ao fiscoRede tinha ramificaçõesa Suíça, Portugal e CaboVerde e envolve branqueamentode fortunas.
Inês David [email protected]
A maior operação de caça àfraude fiscal e branqueamentode capitais feita em Portugaldeu ontem um novo passo coma constituição de Ricardo Sal-gado como arguido, o oitavodesta mega-investigação. Arede tem ramificações a outrospaíses e tem como clientes cen-tenas de empresas e ilustresportugueses. Chama-se opera-ção Monte Branco e está no ter-reno desde 2011.
1COMO E QUANDO COMEÇOUA operação Monte Branco está adecorrer desde Junho de 2011 efoi um dos processos que nasceuda investigação ao BPN. Verbasmovimentadas no âmbito darede eram depositadas no BPNde Cabo Verde e é na sequênciada investigação a este bancoque surgem indícios da existên-cia desta rede.
2COMO FUNCIONAVAO ESQUEMA?O esquema tem o seu ponto ne-vrálgico na Suíça, na empresa degestão de fortunas Akoya, detidapor Michel Canals e Nicolas Fi-gueiredo, antigos quadros dobanco suíço UBS. Em Lisboa, es-tava Francisco Canas (são os trêsarguidos), que tinha uma casa detroféus e de câmbios onde rece-bia, alegadamente, o dinheirodos clientes não declarado ao fis-co. As verbas eram enviadas paraCanals que através da Akoya asdepositavam em bancos suíços,seguindo depois para uma contado BPN em Cabo Verde. Maistarde as mesmas iam para Portu-gal e eram entregues aos clien-tes, já devidamente integradasno circuito bancário. Foram de-tectados movimentos entre2006 e 2012 num total de 200milhões de euros.
3O PAPEL DE ‘ZÉDAS MEDALHAS’Francisco Canas era o interme-diário de Michel Canals em Por-tugal. Da sua lista constam, diz--se, mais de 450 mil clientes,muitos conhecidos empresáriosportugueses ou ilustres ligadosao mundo da política, da eco-nomia e do futebol. DuarteLima e Manuel Vilarinho reco-nheceram ser clientes de MichelCanals. ‘Zé das Medalhas’ pedia1% por cada movimento. Mas alista tem sido um quebra-cabe-ças para os investigadores por-que tem muitas siglas, alcunhase designações em código.
4ARGUIDOS E DILIGÊNCIASNo âmbito da operação MonteBranco, levada a cabo peloDCIAP, existiam até ontemsete arguidos. Ricardo Salgadoé o oitavo. Michel Canals, Ni-colas Figueiredo, FranciscoCanas, José Pinto, Ricardo Ar-cos Castro (dono da empresade gestão de fortunas Arcofi-nance) e um sobrinho de Fran-cisco Canas são os outros ar-guidos. Alguns estiveram emprisão domiciliária. Em trêsanos foram feitas 30 buscas aempresas e casas e já foramapreendidos 450 mil euros.
5COMO ENTRA RICARDOSALGADOO então presidente-executivodo BES já tinha sido ouvido pelaJustiça no final de 2012 por terefectuado movimentos quepassaram pela Akoya. Mas aprópria PGR veio dizer que nãose apuraram indícios de ilícitocriminal. Um ano depois, e jácom Ricardo Salgado fora doBES, é detido e constituído ar-guido no âmbito do MonteBranco. Os investigadores,avançavam ontem vários ór-gãos de comunicação, queremsaber a razão do “presente” de14 milhões de euros feita peloconstrutor José Guilherme.Também a venda da ESCOM,com envolvimento da Akoya,está em causa. ■
Paula Nunes (arquivo)
M DEFENDE...
Rosário TeixeiraProcurador no DCIAP
Especializado no combateà criminalidade económicae ao branqueamento de capitais,o procurador Jorge RosárioTeixeira tem sido a figura centralde alguns processos mediáticos.Foi ele quem deteve DuarteLima e foi ele, também, quemliderou as investigações ao BPNe à Universidade Moderna.É um dos homens-fortes deAmadeu Guerra no DCIAP,onde está há anos, e tem agoraem mãos o Monte Branco.
Francisco Proençade CarvalhoAdvogado
Foi o advogado Francisco Proençade Carvalho quem ontem esteveao lado de Ricardo Salgado nointerrogatório judicial. Franciscoé filho de Daniel Proença deCarvalho, o advogado pessoaldo ex-banqueiro mas ontem,por impossibilidade do pai, esteveno ‘Ticão’ a defender Salgado.O advogado ingressou na UríaMenéndez - Proença de Carvalhoem Abril de 2010 e especializou-senas áreas de Direito Comercial.
Ricardo Salgado no âmbitodo processo Monte Branco. Efoi, de novo, este magistrado queontem a partir das 10h00 começoua interrogar o ex-presidente--executivo do BES, dando-lhe,no final, a medida de coacção depagamento de uma caução de trêsmilhões de euros. CarlosAlexandre sucedeu à juíza FátimaMata-Mouros à frente do ‘Ticão’já lá vai mais de uma década.É ele que tem em mãos na fasede investigação a criminalidademais grave e organizada, ondese inclui o crime económicoe financeira que é investigadopelo Departamento Centralde Investigação Penal. É ele quefaz o primeiro interrogatório dearguido e é ele, também, que apósa acusação, se houver recursodo arguido, decide se este vai ounão a julgamento. Já levou muitosilustres a julgamento. I.D.B.
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D DESTAQUE RICARDO SALGADO INVESTIGADO
Caso GES Em apenas um mês, o banqueiro passou de presidentedo BES a arguido no caso Monte Branco, proibido de sair de Portugal.
Cronologia da quedanão anunciadade Ricardo SalgadoMaria Ana [email protected]
Um mês bastou para que Salgadocaísse, a uma velocidade e di-mensão que porventura poucosimaginaram possível. Algunsfactos importantes simbolizam eexplicam essa mesma queda.
A CRISES FINANCEIRAE A CRISE SOBERANAEm 2008, a banca portuguesafoi, à semelhança do restantemundo ocidental, afectada peloeclodir de uma crise financeira.Dois anos depois rebenta a criseda dívida soberana e em 2011Portugal pede ajuda externa.Vários bancos pediram ajuda aoEstado para se recapitalizarem.O BES foi sempre bem visto pe-los mercados por ter consegui-do fazer os reforços de fundospróprios necessários sem re-correr a dinheiros públicos. Osmeios encontrados para garan-tir os fundos que permitissemque a família mantivesse o con-trolo do banco terão sido umdos ‘pecados’ de Salgado.
O CASO MONTE BRANCOEm 2012, vêm a público as in-vestigações das autoridades nocaso ‘Monte Branco’, escândalofinanceiro de alegado branquea-mento de capitais e fuga ao fisco,envolvendo a gestora de fortu-nas Akoya Asset Management.Ricardo Salgado foi ouvido nessemesmo ano mas o Ministério Pú-blico viria depois a dizer que oentão CEO do BES não era sus-peito no caso, não havendo indí-cios de ilícito fiscal. Ainda assim,o banqueiro regularizou 4,3 mi-lhões de euros de IRS.
A ZANGA COM ÁLVAROSOBRINHOA guerra aberta com Álvaro So-brinho, antigo CEO do BES An-gola, é considerada um dos fac-tores que ditou o princípio dofim da hegemonia de RicardoSalgado no Grupo Espírito Santo(GES), a par dos problemas com
Queiroz Pereira, como mais àfrente se verá. Fonte oficial doBES chegou mesmo a acusar So-brinho de passar informaçõesfalsas para os jornais.
A GUERRA DA SEMAPAE O CORTE DE RELAÇÕESCOM QUEIROZ PEREIRAA luta de poder na Semapa, em2013, ditou o fim de uma aliançahistórica entre a família de Pe-dro Queiroz Pereira e os EspíritoSanto, simbolizada com o des-cruzamento das participaçõesentre os dois grupos. Seria me-ses depois notícia a entrega, porparte de Queiroz Pereira, de do-cumentos ao Banco de Portugal(BdP) alegadamente incrimina-tórios para o Grupo EspíritoSanto. Mais uma guerra que Ri-cardo Salgado comprou e nãoganhou.
O REBENTAR DA GUERRAENTRE PRIMOSEm finais do ano passado vem apúblico uma guerra interna nafamília Espírito Santo - tendocomo protagonistas RicardoSalgado e José Maria Ricciardi -e durante algum tempo pareciaaté que era este o problemacentral no universo EspíritoSanto: a sucessão do então pre-sidente da comissão executivado BES. Ricardo Salgado man-teve até à última a expectativade perpetuar a sua herança,com a escolha de um homem dasua confiança, Amílcar MoraisPires, para seu sucessor. E JoséMaria Ricciardi a apostar na vi-ragem de página, de preferênciacom o próprio incluído nessenovo capítulo. Nem o primeiroficou, directa ou por interpostapessoa, nem o segundo conse-guiu a tão ambicionada suces-são ao primo Ricardo.
O BURACO NA ESINuma auditoria externa pedidapelo Banco de Portugal, e cujoconteúdo o BES foi obrigado adivulgar no prospecto do au-mento de capital de 1.045 mi-
lhões de euros que fez em Ju-nho, ficou a saber-se que foramencontradas “irregularidadesnas suas contas” e concluiu-se“que a sociedade apresenta umasituação financeira grave”.Num extenso rol de problemasconta-se a “não contabilizaçãode passivos financeiros de ele-vada dimensão” e a “sobrevalo-rização de activos”. A ESFGcontabilizou, em resultado, 700milhões de euros de imparida-des nas contas de 2013, almofa-da que acabou por não conse-guir estancar os efeitos da polí-tica de comercialização de pa-pel comercial, que o grupo foifazendo para se financiar. Comoum castelo de cartas, caiu a ESIe a Rioforte e agora a EspíritoSanto Financial Group (ESFG).
OS CRÉDITOS SEM DONODO BES ANGOLANum processo que parece não terfim quanto ao volume de proble-mas detectados, o BES Angola émais um e porventura um dosmais relevantes e onde faltaráainda explicar muita coisa. O Es-tado angolano concedeu umagarantia de aproximadamente4,2 mil milhões de euros para osriscos de cerca de 70% da cartei-ra de crédito do BES Angola. Agarantia soberana, concedida a31 de Dezembro de 2013, foi assi-nada pelo próprio presidenteangolano, noticiou o Expressorecentemente. O mesmo jornalnoticiaria que, quanto a boa par-te dos 5,7 mil milhões de eurosque compõem a carteira de cré-dito do BES Angola, não há ga-rantias ou colaterais e, em várioscasos, não se sabe a finalidade ouo destinatário do mesmo.
SALGADO É DETIDOPARA INTERROGATÓRIOO ex-presidente do BES foi on-tem detido para interrogatório eé agora arguido no processoMonte Branco. Pagou uma cau-ção de três milhões de eurospara sair em liberdade e nãopode deixar o País. ■
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Gestão controladado ESFG ameaçatrégua nas acçõesdo BESTítulos do BES resistiramontem, mas foram perdendofulgor ao longo da sessão.
As acções do BES até resistiramna sessão de ontem às notícias aenvolver o banco. Mas na sessãode hoje os investidores terão defazer contas a um dado adicio-nal: a revelação que o próprioEspírito Santo Financial Group(ESFG) pediu protecção contracredores. Essa divulgação dogrupo ocorreu depois do fechodo mercado.
Além do ESFG deter 20,1%do BES (sendo que 20% estarãodados como garantia numaemissão de obrigações conver-tíveis de 200 milhões de euros)é a entidade do GES a que obanco agora liderado por VítorBento tem maior exposição. DoGES, é ao ESFG que o BES temmaior exposição: 927 milhõesde euros dos 1,2 mil milhões deexposição ao GES, segundo ainformação revelada pelo BES a10 de Julho. Daqueles 927 mi-lhões, 324 milhões dizem res-peito ao ES Bank Panama, quepassou a ser controlado pelasautoridades desse país.
O pedido de “gestão contro-lada” da ESFG é mais um dadoque poderá pesar sobre os in-vestidores. Isto depois das ac-ções terem perdido força aolongo da sessão de ontem. Ape-sar de terem valorizado, os ga-nhos começaram a moderar-seapós o presidente da CMVM,Carlos Tavares, ter aconselhadoos investidores a estarem aten-tos à divulgação das contas dobanco. Isto depois do BES teradiado a apresentação de resul-tados para a próxima quarta--feira. O plano inicial apontavapara que isso ocorresse hoje.
Antes do regulador ser ouvi-do no Parlamento, as acções doBES até estavam a prolongar assubidas consideráveis conse-guidas na quarta-feira, dia emque ganharam 14,35%. Nos pri-meiros minutos da sessão deontem ainda dispararam até aos0,527 euros, uma subida de
quase 11%. Mas rapidamente osganhos se moderaram, com otítulo a atingir o mínimo da ses-são perto das 11 da manhã, altu-ra em que transaccionou a 0,478euros. Acabariam o dia a valer0,487 euros, uma subida de1,88%. Isto apesar da incertezaque paira sobre o banco e da no-tícia avançada pela Lusa de queo Banco de Portugal e a CMVMiriam fazer uma auditoria con-junta às actividades do banco.
Apesar do desempenho posi-tivo das últimas três sessões, oBES ainda está longe de apagaras perdas sofridas nos últimostempos. As acções cedem36,75% no espaço de um mês e48,14% desde o início do ano, opior desempenho das 19 cota-dos do PSI 20. A acompanhar deperto estas quedas estão as ac-ções da Portugal Telecom. On-tem deslizaram 0,74%. Perdem37,57% no espaço de um mês edesvalorizam 44,46% desde oinício do mês. ■
Fonte: Bloomberg
BES MODEROU GANHOS
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23 Jul 2014 16:30 24 Jul 2014 16:30
Evolução das acções do BESdurante a sessão de ontem.(valores em euros)
1 José Maria Ricciardienfrentou o primo,Ricardo Salgado numaluta pela sucessãono Banco EspíritoSanto que acaboupor ser a primeirade muitas polémicasem torno do GESe do banco. Ambosperderam a batalhaquando o Bancode Portugal determinouo afastamento deelementos da famíliada gestão do banco.
2 A guerra entrePedro Queiroz Pereirae Ricardo Salgadono caso Semapa ditouo fim de uma aliançahistórica. QueirozPereira terá entreguedocumentosincriminatórios ao BdP.
3 Ricardo Salgadoincompatibilizou-secom Álvaro Sobrinho,antigo presidentedo BES Angola.
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D DESTAQUE RICARDO SALGADO INVESTIGADO
BES arriscaassumir 800milhões dedívida do GES
Filipe [email protected]
O BES vai incluir nas contas doprimeiro semestre “informaçãorelevante” sobre a sua exposiçãoao Grupo Espírito Santo (GES),disse ontem o presidente daCMVM. Ao que o Diário Econó-mico apurou, o BES deverá re-conhecer como perda grandeparte dos 1,2 mil milhões de eu-ros emprestados a empresas dogrupo. O BES deverá tambémassegurar o reembolso de 800milhões de euros em papel co-mercial das holdings insolven-tes Espírito Santo International(ESI), Rio Forte e Espírito SantoFinancial Group (ESFG).
O BES divulga as contas doprimeiro semestre a 30 de Ju-lho. Os números são ainda daresponsabilidade da anteriorgestão liderada por Ricardo Sal-gado e o novo presidente-exe-cutivo, Vítor Bento, fez questãode se demarcar. A nova gestãoestá a preparar medidas de op-timização do balanço, comvenda de activos e um provávelreforço do capital, para enfren-tar as perdas com a exposição àsempresas do GES e ao reembol-so da dívida subscrita por clien-tes de retalho.
“Os investidores devem estaratentos aos resultados que o BESvai apresentar a 30 de Julho e quevão incluir informação relevan-te”, disse Carlos Tavares na suaaudição na comissão parlamen-tar de Orçamento e Finanças.Recorde-se que as três principaisholdings do GES - ESI, Rio Forte eESFG - pediram protecção contracredores (ver página 36).
Para além das imparidadesno crédito a estas empresas, oBES terá ainda de reembolsar osclientes de retalho a quem ven-deu papel comercial da Rio For-te e da ESI. No final de Março,
CMVM Carlos Tavares diz que BES deve fazerreembolso de clientes. Resultados vão incluir comoperdas grande parte do crédito ao GES.
sob pressão do Banco de Portu-gal (BdP), a ESFG constituiuuma provisão de 700 milhõesdestinada a acautelar o reem-bolso da dívida colocada nosclientes de retalho, mas, com opedido de protecção de credo-res, ontem anunciado, a ESFGdeixou de poder honrar a ga-rantia. Ora o BES comprome-teu-se a assumir o reembolso sea ESFG não o pudesse fazer.
Em causa estão 808 milhõesde euros em dívida das socieda-des Rioforte (342 milhões), ESI(255 milhões) e ESFG (211 mi-lhões). Além de dívida destasholdings, o BES vendeu dívidada ESCOM no valor de 64 mi-lhões, 144 milhões da ES Tou-rism e 44 milhões de duas sub-sidiárias da Rio Forte. Vendeuainda cerca de dois mil milhõesa clientes institucionais, masestes são considerados investi-dores qualificados.
O presidente da CMVM espe-ra que o BES proceda ao reem-bolso e que faça uma distinçãoentre clientes que fizeram apli-cações de poupança e os quetêm perfil “especulativo”. “Es-pero que os clientes de retalhopossam recuperar a maior partedos seus investimentos”, frisou,acrescentando que “terá de ha-ver consequências para a vendade dívida com base em infor-mação não-verdadeira” sobreas holdings, referindo-se às ir-regularidades das contas na ESI.
Segundo o documento en-tregue pelo supervisor aos de-putados, a que o Económicoteve acesso, a CMVM vai cola-borar com o Banco de Portugal(BdP) numa auditoria ao BES.Na semana passada, o governa-dor do BdP, Carlos Costa, reve-lou que terão lugar duas audito-rias ao BES, para reforçar a con-fiança e atrair potenciais inves-tidores para o banco. ■
O presidente da CMVM, Carlos Tavares,foi ouvido na comissão parlamentardurante duas horas e meia.
Paula Nunes (arquivo)
“Auditores e órgãos internos da PTnão podem dizer que não sabiam”Carlos Tavares atirou em váriasdirecções, na sua audiçãona Assembleia da República.
A intervenção de Carlos Tavaresperante a comissão parlamentarde Orçamento e Finanças foirica em declarações. O presi-dente da CMVM apontou bate-rias aos auditores e órgãos decontrolo interno da PT, a res-peito da aplicação em dívida daRioforte, alertou para os riscosde uma supervisão “barata” edefendeu que os administrado-res de bancos devem estar aci-ma de qualquer suspeita.
AUDITORES E ÓRGÃOSINTERNOS DA PT DEVEM SERRESPONSABILIZADOSTavares disse que os auditores eórgãos de fiscalização internada PT terão de ser responsabili-zados pelo arriscado investi-mento na dívida da empresa do
Grupo Espírito Santo, que estáinsolvente.
“Não podem dizer que nãosabiam. Se não sabiam, deviamsaber onde tinha a empresa in-vestido 900 milhões de euros”,frisou. Carlos Tavares adiantouque a CMVM vai actuar no queestiver dentro das suas compe-tências - “faremos denúnciasde eventuais comportamentoscriminais se for caso disso” -mas defendeu que “os accionis-tas também terão de tirar con-clusões”.
“A SUPERVISÃO BARATASAI CARA”O presidente da CMVM defen-deu que “a supervisão barata saicara, sobretudo quando as res-trições orçamentais não sãoaplicáveis a todas as entidadesreguladoras”, numa alusão im-plícita ao Banco de Portugal, queescapou aos referidos cortes de-
vido à autonomia de que goza.Adiantou: “Mas não uso issocomo desculpa. No dia em queachar que não consigo fazer omeu trabalho, deixo a CMVM”.
“BANQUEIROS DEVEM ESTARACIMA DE QUALQUERSUSPEITA”O presidente da CMVM disseque os administradores de ban-cos devem ser pessoas que asse-gurem a credibilidade das insti-tuições financeiras. Se necessá-rio, deixando de lado o princí-pio da presunção de inocência.
“Há quem defenda que sedeve respeitar o princípio dapresunção de inocência nestescasos, mas - o que vou dizerpode chocar os defensores dosdireitos humanos - numa ins-tituição financeira as pessoastêm de estar acima de qual-quer suspeita”, disse CarlosTavares. ■ F.A.
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“Poderososconseguem atrasarJustiça em Portugal”Supervisor transmitiu indíciosde infidelidade, abuso deconfiança e ‘insider trading’para o Ministério Público.
A CMVM instaurou um total de 20processos de contra-ordenaçãocontra entidades do Grupo Espí-rito Santo, segundo Carlos Tava-res. Adiantou que foram realiza-das várias diligências e apuradosindícios da prática de crimescomo infidelidade, abuso de con-fiança e abuso de informação pri-vilegiada, que foram comunica-dos ao Ministério Público.
“Permita-me o desabafo, masàs vezes também tenho essa dú-vida. A nossa lei permite àquelesque têm poder económico diferirno tempo a aplicação da lei”, dis-se Carlos Tavares quando ques-tionado por um deputado do Blo-co de Esquerda sobre se em Por-tugal existe uma justiça para ri-cos e pobres, dado o ‘timing’ dadetenção de Ricardo Salgado.
“Mas para a CMVM são todosiguais e já demos prova disso”,referindo-e aos casos BCP e GES.“Se houvesse uma justiça rápida,metade dos problemas do país es-tariam resolvidos”, disse. ■ F.A.
“Haveráconsequênciasda venda de papelcomercial do GES”Tavares avisa que responsáveispela venda de papel comercialdo GES serão responsabilizados.
Questionado pelos deputados, opresidente da CMVM disse ontemque terá de haver “consequên-cias” para a venda de papel co-mercial do GES nos balcões doBES com base em contabilidademanipulada, referindo-se às irre-gularidades nas contas da EspíritoSanto Internacional, que escondiaum passivo não reconhecido novalor de 1,2 mil milhões de euros.
“Terá de haver consequên-cias”, disse Carlos Tavares,lembrando que a CMVM não ti-nha competências para super-visionar esse papel comercialpor serem colocações privadas,em séries muito pequenas.
Em causa estão cerca de 800milhões de euros em papel co-mercial que foi vendido a investi-dores de retalho. Já os investido-res qualificados, que aplicaramcerca de dois mil milhões de eu-ros nesta dívida, não deverão serreembolsados pelo banco. ■ F.A. Página 48
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Pau
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un
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AquedaA detenção de RicardoSalgado, ontem, no âmbitoda operação Monte Branco,foi mais um golpe nareputação do ex-presidentedo BES. O banqueiro, quereafirma a sua inocência,saiu sob uma caução detrês milhões de euros eenfrenta uma longainvestigação às suspeitasde fraude e branqueamentode capitais. Tudo no mesmodia em que o presidenteda CMVM, ouvido noParlamento, não poupou ogrupo financeiro a críticas.
Banco arriscaassumir 800milhões dedívida do GES
Como Salgadopassou debanqueiro aarguido num mês
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A QUEDA DE UM IMPÉRIO
Ricardo Salgado constituído arguido no dia em que o GES implodiu
Ricardo Salgado saiu ontem
ao fi nal da tarde do Tribunal
de Instrução Criminal, em
Lisboa, indiciado por crimes
graves: burla, abuso de con-
fi ança, falsifi cação e bran-
queamento de capitais. Com escassos
minutos de diferença a holding-estre-
la da família Espírito Santo, a Espírito
Santo Financial Group (ESFG), infor-
mou que pedira a protecção de cre-
dores. Dois episódios que traduzem
um virar de página, com o fi m de um
centro de poder considerado o mais
infl uente da vida política, social e
fi nanceira em Portugal dos últimos
15 anos.
Ontem, quando a ESFG, que pos-
sui 20% do Banco Espírito Santo
(BES) e 100% da seguradora Tranqui-
lidade, entregou o pedido de protec-
ção contra credores nos tribunais do
Luxemburgo, a implosão do Grupo
Espírito Santo (GES) foi ofi cializada.
Isto porque o grupo sempre se de-
fi niu como estando articulado em
torno de três sociedades: a Espírito
Santo Internacional (dona da Riofor-
te e com 49% da ESFG), a Rioforte
(hotéis Tivoli, Comporta, ES Saúde,
ES Viagens e ES Properties) e a ESFG.
E todas as holdings assumiram nos
últimos dias a falência ao declara-
rem-se incapazes de honrar os com-
promissos com os seus credores, ou
seja, sem condições de pagar as suas
dívidas. Os gestores de falência en-
traram já nas empresas.
A queda de um centro de poder
com a natureza do GES tem sempre
impacto pois está em causa o desa-
parecimento de uma rede de infl u-
ências em várias esferas: económi-
ca, política e social. Mas os impactos
directos da insolvência do GES em
Portugal são, ainda assim, limitados,
desde logo pela dimensão (não tem
grande peso na economia nacional)
e admitindo ainda, como tem sido
referido, que algumas das empre-
sas geram proveitos e não estão in-
capacitadas de se manter a operar
(podem ser vendidas).
Há outra consequência, esta para
os subscritores de papel comercial
das sociedades do GES que pediram
a protecção de credores e que não
vão recuperar as suas aplicações.
As perdas estimadas para os in-
vestidores institucionais que com-
praram dívida através do BES (os
particulares serão reembolsados)
e para os clientes do suíço Banque
Privée (que acaba de ser vendido
pela ESFG no quadro do seu sanea-
mento) podem ultrapassar mais de
mil milhões de euros. O impacto é
todavia difícil de contabilizar pois
parte da verba em risco não circula-
capital próprio é superior a 6000
milhões de euros e a margem de
capital face aos mínimos exigidos
é de 2100 milhões. Vítor Bento tem
pela frente um desafi o: compensar
o enfraquecimento das operações
internacionais que até aqui têm si-
do geradoras de receitas e que estão
comprometidas como acontece com
o BES Angola.
A perda de confi ança de muitos
depositantes portugueses nas au-
toridades que deixaram a situação
no GES derrapar é uma das conse-
quências do processo. Também a
imagem externa do país foi afecta-
da como fi cou expresso nas notícias
que saíram na comunicação social
internacional, que deu grande des-
taque ao tema. Os juros da dívida
portuguesa a dez anos, que tinham
tido uma trajectória de descida, pas-
saram as últimas semanas a ter uma
evolução de carrocel. Não há volta a
O ex-presidente do BES foi ouvido no tribunal em Lisboa no âmbito da investigação do processo Monte Branco. Ao mesmo tempo, o Espírito Santo Financial Group declarava-se incapaz de solver os seus compromissos
Cristina Ferreirava no universo fi nanceiro português.
O que teria realmente importân-
cia do ponto de vista da economia
nacional era se algo acontecesse ao
BES (uma falência descontrolada, o
que não é, por agora, expectável).
O banco agora liderado por Vítor
Bento prepara-se para apresentar
na próxima semana prejuízos que
podem superar os mil milhões de
euros, contas a divulgar ainda pela
anterior equipa liderada por Ricardo
Salgado, que deixou a instituição há
um mês.
Desafi o para Vítor BentoSe a avaliação do Banco de Portu-
gal (BdP) “bater” certa, no míni-
mo o BES terá de reconhecer uma
imparidade de 1500 milhões pela
exposição ao GES e pode mesmo
ter de assumir que parte da verba
não será recuperada. O banco tem
meios para absorver as perdas: o
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dar. O afastamento de Ricardo Salga-
do do BES, no fi nal de Junho, ajudou
a revelar a verdadeira situação do
grupo que o banqueiro dirigiu nos
últimos 22 anos e colocou as auto-
ridades perante um problema: num
mês o GES ruiu. O chefe do clã, que
se tornou um actor importante em
vários círculos da sociedade, so-
freu ontem um duro revés ao sair
do tribunal depois de várias horas
de inquirição não com um simples
tributários, para além de se ter des-
locado à sede do GES, na rua de São
Bernardo, em Lisboa, onde funcio-
na o Conselho Superior, esteve no
escritório da advogada Ana Almeida
Bruno, ligada à Newsgroup. Tal co-
mo Salgado, a advogada era cliente
da Acoya, envolvida no caso Monte
Branco.
A acção dos investigadores ditou
o fi m de um ciclo marcado pela
ideia de infalibilidade do banquei-
ro, que tem como advogados Daniel
Proença de Carvalho e o seu fi lho,
Francisco Proença de Carvalho. Se
a matéria fosse para brincar podia
dizer-se que a Operação Furacão,
da qual deriva a investigação com
o nome de código Monte Branco a
que Salgado surge associado, é um
“ovo” que está ser chocado há quase
dez anos. E que a “galinha” que o
tem estado a aquecer é o procurador
Rosário Teixeira.
O ex-presidente executivo
do Banco Espírito Santo
(BES), Ricardo Salgado, fi -
cará em liberdade e sujeito
à prestação de uma caução
de três milhões de euros.
O banqueiro foi inquirido ontem
no Tribunal Central de Instrução
Criminal, onde prestou declarações
no âmbito do processo Monte Branco,
que investiga a maior rede de bran-
queamento de capitais descoberta
em Portugal.
Ao fi nal do dia, um porta-voz do
banqueiro emitiu um comunicado
referindo que Salgado – que foi in-
terrogado pelo juiz Carlos Alexan-
dre entre as 10h30 e as 18h, com in-
tervalo para almoço – “acredita que
a verdade e a justiça acabarão por
prevalecer”. Segundo a Procurado-
ria-Geral da República, Salgado está
indiciado por crimes de burla, abu-
so de confi ança, falsifi cação e bran-
queamento de capitais. De acordo
com o que foi defendido pelo pro-
curador, após o interrogatório, e
ordenado pelo juiz, Salgado fi cou
ainda proibido de se ausentar do
território nacional e de contactar
pessoas relacionadas com o caso.
“Ricardo Salgado veio aqui cola-
borar com a justiça e prestar a sua
visão sobre os factos. Seguirá agora
normalmente para casa. Continuará
a colaborar com a justiça”, disse à sa-
ída o advogado do banqueiro, Fran-
cisco Proença de Carvalho.
O comunicado também dá tam-
bém conta dessa “total disponibili-
dade para colaborar com a justiça no
apuramento da verdade, como já o
fez, no âmbito do processo, há cerca
de dois anos”, deixando, ainda, um
recado à comunicação social: o ban-
queiro diz “confi ar na objectividade
da informação pública divulgada” pe-
los jornalistas. Nem este sucinto co-
municado nem o advogado fi zeram,
porém, qualquer alusão, por mínima
que fosse, ao facto de o banqueiro ter
sido constituído arguido, nem às sus-
peitas que sobre ele impendem. Os
muitos jornalistas que ontem fi caram
durante horas à porta do Tribunal
Central de Investigação Criminal à
Banqueiro libertado com caução de três milhões
espera de informações sobre o que
se estava a passar lá dentro nunca vis-
lumbraram sequer Ricardo Salgado,
que terá saído dali pela garagem, em
vez de usar a porta principal.
Salgado havia sido detido manhã
cedo em casa, no Estoril. Procu-
radores, inspectores tributários e
agentes da PSP realizaram lá buscas.
O banqueiro tinha sido ouvido co-
mo testemunha, em Janeiro de 2013,
como, aliás, recorda a Procuradoria-
Geral da República. No processo,
foram identifi cados movimentos fi -
nanceiros que tinham levado à sua
inquirição como testemunha. Na al-
tura, a PGR garantiu que não recaí-
am sobre o banqueiro suspeitas de
ter estado envolvido em “qualquer
ilícito fi scal”. Agora, porém, o ex-
homem forte do BES entrou e saiu
como arguido.
A investigação que se seguiu no
Departamento Central de Investiga-
ção e Acção Penal (DCIAP), com a co-
laboração da Autoridade Tributária e
Aduaneira, permitiu a “obtenção de
elementos de prova por via da coo-
peração judiciária internacional”, e
“novos indícios que justifi caram um
conjunto de diligências” levadas a
cabo quarta-feira, aponta a PGR.
Anteontem, o DCIAP já tinha fei-
to buscas na sede do Grupo Espíri-
to Santo (GES), em Lisboa, e esteve
noutras empresas fora do grupo, mas
que têm, ou tiveram, relações com
o GES. Dessas buscas resultaram in-
dícios que comprometiam Ricardo
Salgado, o que justifi cou a detenção
e o interrogatório.
No intervalo de cerca de uma hora
que teve para almoçar, o banqueiro
não comeu a refeição que a PSP serve
às pessoas detidas para interrogató-
rio no Tribunal Central de Instrução
Criminal, entregue por uma empresa
de catering. Ao contrário de Vale e
Azevedo ou de Carlos Cruz, que pas-
saram por circunstâncias idênticas,
Salgado nem sequer desceu à cela
para almoçar, como sucede habi-
tualmente com os arguidos, tendo
mandado vir comida de fora, que
lhe foi levada pelos homens que o
acompanhavam. Comeu na sala usa-
da pelos advogados para falar com os
clientes. Segundo fonte próxima do
banqueiro, almoçou apenas “umas
sandes”.
ENRIC VIVES-RUBIO
60Autoridades querem saber onde foi parar 60 milhões pagos pela angolana Newsgroup à Rioforte, pela compra de 67% da Escom
22Número de anos durante os quais Ricardo Salgado dirigiu o Grupo Espírito Santo, que ruiu num mês
termo de residência, mas sujeito a
medidas de coacção, proibição de
ida ao estrangeiro e de comunicar
com certas pessoas relacionadas
com o processo. E, sobretudo, in-
diciado por crimes de burla, abuso
de confi ança, falsifi cação e branque-
amento de capitais. Se não tivesse
pago uma caução de três milhões de
euros fi caria detido.
As autoridades procuram apurar
os detalhes de várias operações, no-
meadamente, saber onde foi parar
o sinal de 60 milhões de euros pago
pela angolana Newsgroup à Riofor-
te, pela compra de 67% da Escom
(uma empresa instrumental do GES
para os negócios “não públicos”). E
que nunca terá chegado à holding
do GES. O negócio deveria permitir
ao grupo português encaixar cerca
de 500 milhões de euros, mas aca-
bou por não se concretizar. Ante-
ontem o DCIAP, com inspectores
O afastamento de Ricardo Salgado do BES ajudou a revelar a verdadeira situação: num mês, o GES ruiu
Pedro Sales Dias e Ana Henriques
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A QUEDA DE UM IMPÉRIO
O caso Monte Branco é
o exemplo de como a
complexa finança pode,
afinal, seguir caminhos
simples ainda que ilícitos.
A teia começava numa
comum loja da Baixa lisboeta, na Rua
do Ouro. Francisco Canas, conhecido
como o “Zé das Medalhas”, era o
primeiro contacto. A Monte Negro
& Chaves, que ganhara fama como
casa de câmbio após o 25 de Abril
de 1974, serviu de porta de saída de
pelo menos 3400 mil milhões que
rumaram à Suíça. Canas recebia uma
comissão por cada transacção.
Entre 2006 e 2012, pessoas in-
fl uentes no país, nomeadamente
advogados, políticos e empresários,
usaram o esquema para fugir ao fi s-
co e branquear capitais. O plano te-
rá causado um prejuízo ao Estado de
mais de 200 milhões de euros.
O dinheiro dava a volta ao mun-
do numa viagem pela banca entre
Portugal, Suíça, Cabo Verde e de
novo Portugal. Tornava-se, no fi -
nal, insuspeito e livre de impostos.
Michel Canals, sócio da Akoya, na
Suíça, uma sociedade de gestão de
fortunas, recebia o dinheiro dos
clientes portugueses. Enviava-o de-
pois para os seus sócios na empresa
suíça que o depositava em bancos
de Genebra e Zurique. Daí, as somas
eram transferidas para uma conta
do BPN IFI, em Cabo Verde, opera-
do a partir de agências em Portugal
(ver infografi a).
No fi nal, o mesmo dinheiro era
transferido para contas no BCP, em
Portugal, regressando aos clientes
de Canals. As verbas fi cavam assim
“limpas”. Integravam o circuito
bancário nacional com uma origem
aparentemente justifi cada. São sete
as personagens – e arguidos – prin-
cipais do enredo fi nanceiro. Além
de Francisco Canas e Michel Canals,
o núcleo da rede inclui Nicolas Fi-
gueiredo, também administrador
da Akoya, o sobrinho de Canas com
o mesmo nome, José Pinto, gestor
na Akoya, Ricardo Arcos Castro, ex-
administrador da Arcofi nance, outra
sociedade sob investigação, e José
Carlos Gonçalves, empresário do
ramo imobiliário e da construção
civil de Alenquer.
Em Maio de 2012, a rede viria a
ser desmantelada com 30 buscas a
casas e escritórios. A investigação
está, porém, longe do fi m. O Minis-
tério Público pediu, em Março, mais
20 meses para investigar. Canas dei-
xou de estar em prisão domiciliária
em 2013 e Michel Canals e Nicolas
Figueiredo já haviam sido libertados
(sujeitos a cauções de 200 mil euros)
em 2012 após cinco meses em prisão
preventiva.
A lista de clientes de Michel Canals
tem 180 nomes. Quando foi desco-
berta pelas autoridades, irrompeu
o sobressalto entre os detentores de
faustosas fortunas no estrangeiro.
Muitos aderiram ao Regime Extra-
ordinário de Regularização Tributá-
ria, o que lhes proporcionou o arqui-
vamento do processo. Interessava
reparar as perdas para o Estado.
Segundo as Finanças, foram decla-
rados 3400 milhões de euros, tendo
o Estado arrecadado 258,4 milhões
em imposto.
Nessa lista surgiram várias off sho-
res ligadas a gestores do BES, entre
os quais Ricardo Salgado. A empresa
de Construção Civil Bento Pedroso
Construções – que integra o grupo
internacional Odebrecht – seria um
dos principais clientes. Só ela terá
transferido 6,1 milhões.
Como funcionava a rede
Fonte: PÚBLICO
Os clientes portugueses entregavam o seu dinheiro, não declarado ao fisco, a Michel Canals, um dos detentores da sociedade suíça de gestão de fortunas, Akoya
Michel Canals enviava o dinheiro paraos seus sócios na empresa, na Suíça
Daí, as somas eram depois transferidas para uma conta do BPN IFI (do grupo Banco Português de Negócios, nacionalizado em 2008), em Cabo Verde
O BPN, em Cabo Verde, era operadoa partir de agências do BPN em Portugal. O dinheiro era depois transferido para contas no BCP, em Portugal, regressando aos clientes de Canals
As verbas ficavam assim “limpas”, uma vez que integravam o circuito bancário nacional com uma origem aparentemente justificada e insuspeita
Pedro Sales Dias
Monte Branco deu a volta ao mundo e lavou mais de 3000 milhões em seis anos
Tudo começava numa pequena loja lisboeta de câmbios onde acorria gente infl uente. Dinheiro passava pela Suíça e Cabo Verde e regressava insuspeito à banca portuguesa
O próprio Francisco Canas surgia
na lista como pivot de toda a família.
Donos de várias propriedades nos
arredores de Lisboa, terão movi-
mentado dois milhões de euros.
O caso começou a ser investigado
em Junho de 2011. Foi aberto com
indícios que surgiram durante a
operação Furacão. Esta investiga-
ção, que rebentara em 2005, contou
com buscas ao BCP, Finibanco, BPN
e BES. Dois procuradores, Rosário
Teixeira e Paulo Gonçalves, tinham
em mãos essas duas megafraudes.
Pela dimensão dos seus interve-
nientes, cedo o caso Monte Branco
alcançou contornos que criaram até
uma crise política como quando o
primeiro-ministro, Pedro Passos
Coelho e o ministro dos Assuntos
Parlamentares de então, Miguel Rel-
vas, foram apanhados em escutas,
entre Setembro de 2011 e Fevereiro
de 2012.
As escutas visavam apenas Jo-
sé Maria Ricciardi, presidente do
Banco Espirito Santo investimento
(BESI). Na malha das intercepções,
Ricciardi falava com os governan-
tes sobre as privatizações da REN e
da EDP. Só Ricciardi foi constituído
arguido. Nas seis vezes em que foi
escutado, terá tentado pressionar o
primeiro-ministro.
Ricardo Salgado também tinha
sido apanhado nas escutas durante
a investigação, mas não foi constitu-
ído arguido. O alarme que o nome
do banqueiro fez soar aos investiga-
dores levou a que fosse ouvido co-
mo testemunha, em Dezembro de
2012. Os investigadores pretendiam
explicações sobre a origem de um
conjunto de movimentos fi nanceiros
suspeitos. Salgado saiu livre e insus-
peito. O MP garantiu então que não
recaiam sobre o banqueiro quais-
quer indícios de ilícitos fi scais.
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A crise no Grupo Espírito
Santo não terá apenas
consequências negativas
para o país. Joaquim
Aguiar, economista e
investigador associado
do Instituto de Ciências Sociais da
Universidade Técnica de Lisboa,
defende que, Portugal “vai entrar
num novo regime, quer económico,
quer político, em que as ocultações
serão, pelo menos, de t ipo
diferente”.
Em declarações ao PÚBLICO, o
consultor e gestor de empresas, re-
fere como grande responsável por
essa mudança a União Europeia,
através da criação da união ban-
cária, de que resultou o aperto de
regras de supervisão por parte do
Banco Central Europeu (BCE).
“A ameaça dos stress tests, que vão
ser feitos com supervisão do BCE,
está na origem da precipitação des-
ta crise, que se manifesta em várias
frentes. Tudo o que era artifi cial vai
ser comprimido e revelado porque
o supervisor europeu vai actuar no
mercado português já no corrente
semestre”, adianta.
Mas os efeitos no futuro serão po-
sitivos. “Toda a estrutura de poder
empresarial e política vai ser interfe-
rida por essas novas regras”, refere
o consultor de empresas e adminis-
trador do grupo José de Mello, que
destaca ainda que “os capitais que
vão entrar para preencher os vazios
agora abertos vêm do exterior, com
regras exteriores, e isso também vai
ser benéfi co para o país”.
Recuperando uma analogia fei-
ta pelo presidente do BPI, Fernan-
do Ulrich, o gestor defende que a
supervisão do BCE “é como quem
tem um abcesso e retira o abcesso:
dói na altura, mas a seguir é um
alívio”.
E a tentação do poder político de
ter bancos de regime é grande. “O
regime político serviu-se do BES
e de outros bancos para fi nanciar
políticas que se revelaram um fra-
casso, com consequências na dívi-
da pública, mas também com con-
sequências na dívida privada das
famílias”. Foi o caso das parcerias
Portugal vai deixar de ter “bancos do regime” graças ao travão do Banco Central Europeu
público-privadas, mas também o
fi nanciamento no crédito à habita-
ção, utilizado para criar um cresci-
mento artifi cial. A tentação de ter
bancos de regime decorre ainda “da
vontade do poder político de ter
políticas económicas distributivas,
que são da preferência do eleitora-
do e dos agentes económicos”. Es-
sas políticas consistem “em assumir
posições a partir das quais recebem
benefícios que não correspondem à
produtividade e à competitividade,
e existiram nos últimos 40 anos”,
recorda.
“O que aconteceu não é nenhum
mistério”, diz Joaquim Aguiar “e
todos são responsáveis, poder po-
lítico, empresarial, supervisores
e Justiça.” A Justiça já deveria ter
assumido, há uns anos, um protago-
nismo maior. “A Justiça é um pouco
como as radiografi as. O que fracas-
sou na nossa Justiça e na regulação,
designadamente a do Banco de Por-
tugal, foi a capacidade para produ-
zir estas radiografi as, porque nada
disso começou ontem”, afi rma. E
acrescenta: “Rebentou, porque vi-
nha aí um homem com um aparelho
de radiografi a diferente — que era o
BCE. Sem isso continuaríamos mais
algum tempo a circular com a dívida
de um lado para o outro.”
Na génese do problema refere
ainda o excessivo endividamento
contraído pelos grupos económicos
que foram às privatizações, uma si-
tuação que o poder político deixou
“deliberadamente acontecer, para
Rosa Soares
Esses sócios depositavam as quantias em bancosde Genebra e Zurique
O advogado Francisco Proença de Carvalho (esq.), ontem, depois da inquirição de Ricardo Salgado em Lisboa
RUI GAUDÊNCIO
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) encontrou indícios de eventuais
crimes no Grupo Espírito Santo, que remeteu para o Ministério Público.
Ontem, numa audição parlamentar sobre o Grupo Espírito Santo (GES), que detém o Espírito Santo Financial Group (por sua vez, dono de 20,1% do BES), o presidente da CMVM, Carlos Tavares, afirmou que, nos últimos anos, foram instaurados 20 processos de contra-ordenação a entidades do grupo, e que os indícios de actividade ilícita foram entregues às autoridades. Em causa estavam, entre outros, eventuais crimes de abuso de informação privilegiada e abuso de confiança.
O presidente da CMVM disse também não descartar a possibilidade de comportamentos ilícitos no caso do investimento de 897 milhões de euros feito pela PT na Rioforte, a holding que agrega os negócios não-financeiros do GES. “Não nos basta aquela afirmação de que não sabiam. Novecentos milhões de euros não se escondem em qualquer sítio”, argumentou Tavares, notando que o mercado tem o direito de conhecer os riscos da operadora. O investimento foi tornado público no final de Junho, em plena crise do GES, e levou Zeinal Bava, o presidente executivo da Oi (com a qual a PT está em fusão) e presidente da PT Portugal (uma das sociedades através das quais foi feito o empréstimo à Rioforte), a dizer publicamente que não tinha conhecimento do negócio.
Tavares chamou ainda a atenção para a próxima quarta-feira, dia em que o BES comunica resultados semestrais, referindo que há “informação relevante” sobre a situação do banco que é desconhecida e que será então pública. J.P.P. com Lusa
CMVM encontrou indícios de crime
ALEX GRIMM/REUTERS
Supervisor europeu actua no mercado português já neste semestre
melhor os poder controlar”.
Joaquim Aguiar defende que os
grupos nacionalizados, para irem às
privatizações, tiveram de contrair
dívida, mas “o importante, a partir
daí, é se essa dívida foi entendida
como capital ou se mereceu um tra-
tamento especial”, com vista à sua
redução.
Sem querer particularizar, o
economista defende que, “quando
se considera a dívida capital, há a
tentação de contrair mais dívida,
o que, tratando-se de empresas no
sector fi nanceiro, fi ca ainda mais
facilitado”.
Na prática, assegura, “no sector
fi nanceiro há a possibilidade de ir
compondo os balanços até ao ponto
de explosão”.
Apesar do elevado endividamen-
to contraído, o economista conside-
ra que “os grupos nacionalizados
não estavam condenados a fracas-
sar, desde que soubessem distinguir
entre dívida e capital”.
A família accionista a fazer parte
dos órgãos de gestão, em alternativa
a uma aposta em quadros técnicos,
agrava ainda mais o problema. “A
família com capital tem sempre a
tendência de dizer: ‘Eu é que man-
do.’ Famílias com dívida a única
coisa que pedem é que as tirem do
meio da dívida. É uma difi culdade
para os quadros técnicos, porque
têm mais difi culdade em fi nanciar
as expansões, mas têm mais facili-
dade em gerar resultados para secar
a dívida”, observa.
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Corte: 5 de 5ID: 54996016 25-07-2014NUNO FERREIRA SANTOS
BurlaAbuso de confi ançaFalsifi caçãoBranqueamento de capitaisDestaque, 2 a 5
Suspeito
Ricardo Salgado foi detido e inquirido ontem, no âmbito do processo Monte Branco, que investiga a maior rede de branqueamento de capitais descoberta em Portugal
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Maioria PSD/CDS desvaloriza missão a Munique do inquérito aos submarinos
Há um novo acordo entre o Estado e o consórcio alemão que construiu os submarinos para a substituição do projecto do Hotel Alfamar por um investimento de 220 milhões de euros no reforço da produção eólica
DANIEL ROCHA
Vai ser votado alargamento do prazo da comissão de inquérito de 5 para 20 de Setembro
Embora sem ter sido ainda realiza-
da a votação da proposta, tornou-
se ontem evidente a irritação tanto
do PSD como do CDS em relação ao
requerimento do PS para enviar à
Alemanha uma delegação de depu-
tados da comissão de inquérito aos
programas militares para se reunir
com os investigadores que trabalha-
ram no processo judicial que levou
a um conjunto de condenações por
corrupção no negócio dos subma-
rinos.
Durante uma reunião de trabalho
da comissão que debatia a suspen-
são dos trabalhos ou a sua prorroga-
ção, o deputado do CDS Filipe Lobo
d’Ávila comentou a proposta afi r-
mando que “não faz qualquer senti-
do e seria até caricato” ir a Munique.
O deputado do PSD António Prôa
classifi cou o requerimento como um
“fait divers para criar algum ruído”.
A proposta foi mesmo, ao longo
da reunião, menorizada pela for-
ma como os deputados se referiam
a esta. Prôa usou a expressão “petit
comité”. João Semedo, do BE, op-
tou por recorrer à expressão “di-
gressão”.
A missão à Alemanha foi proposta
pelo PS para recolher documenta-
ção e ouvir os investigadores que
trabalharam no processo, poucos
dias depois da Procuradoria-Geral
da República ter recusado ceder
uma cópia da sentença do proces-
so em causa.
O requerimento indicava que a
delegação devia ser composta pelo
presidente da comissão, o centrista
Telmo Correia, os coordenadores de
cada um dos grupos parlamentares
com assento na comissão e o depu-
tado relator. O momento sugerido
para a deslocação era Agosto. A co-
missão deverá votar o requerimento
na próxima segunda-feira.
O debate ocorreu antes da audi-
ção ao ex-presidente da Comissão
Permanente para Avaliação das Con-
trapartidas (CPAC), Torres Campos.
Do seu depoimento resultou a ideia
de que o antigo responsável enten-
dia ser preferível tratar da aquisição
de equipamento militar sem recur-
so à negociação de contrapartidas.
“Tenho tendência para afi rmar que
é melhor fazer a aquisição sem con-
2002, durante o exercício de fun-
ções de Governos liderados pelo
socialista António Guterres e, pos-
teriormente, pelo social-democrata
Durão Barroso.
Enquanto os deputados inquiriam
Torres Campos sobre as contrapar-
tidas, o Governo anunciou a revisão
de um desses contratos. O Ministé-
rio da Economia deu conta de um
novo acordo entre o Estado e o con-
sórcio alemão German Submarine
Consortium (que construiu os dois
submarinos para a Marinha) para a
substituição do projecto do Hotel
Alfamar, no Algarve, por um inves-
timento de 220 milhões de euros no
reforço da produção eólica. O pro-
jecto, designado Âncora, resulta de
um acordo entre a Ventiveste (maio-
ritariamente detido pela Galp Ener-
gia e Martifer) e a Ferrostaal GmbH
e prevê a construção de um conjun-
to de parques eólicos em Portugal,
num total de potência instalada de
171,6 Megawatts (MW).
Foi já depois de ter sido tornado
público esse acordo que os depu-
tados se envolveram numa acesa
troca de palavras sobre a datação
dos trabalhos, com o BE e o PCP a
acusarem a maioria de pretender
“afunilar” audições durante o mês
de férias para “condicionar” os re-
sultados do inquérito. Os deputados
da maioria insistiram que estavam
apenas interessados em fazer cum-
prir o prazo estipulado da comissão.
Depois disso, os deputados do PSD
e CDS fi zeram aprovar o recomeço
dos trabalhos a 26 Agosto, com a
abstenção do PS e os votos contra
do PCP e BE. A prorrogação do pra-
zo da comissão, de 5 para 20 de Se-
tembro, já teve direito a aprovação
por unanimidade. Uma extensão
que terá de ser aprovada hoje em
plenário.
DefesaNuno Sá Lourenço
to melhor não haver. Até seria pos-
sível arranjar melhores condições
se não houvesse contrapartidas”,
assumiu Torres Campos, adiantando
que “as propostas dos fornecedores
(de equipamento militar), em vez de
virem com o preço 100, punham um
preço 120”.
O engenheiro admitiu ainda, pe-
rante os deputados, a percepção de
que a CPC que dirigia “não estava su-
fi cientemente inserida no processo
de aquisição”. “Elaborava termos de
referência, tomava conhecimento
das contrapartidas apresentadas pe-
los concorrentes e dava parecer so-
bre qual lhe parecia a mais adequa-
da. Contactava, sugeria indústrias
em Portugal para eventual substitui-
ção ou acrescento e entregava esse
relatório à entidade que concretiza-
va o negócio”, descreveu.
Torres Campos presidiu à CPAC
entre Junho de 2000 e Outubro de
trapartidas. Quando há contrapar-
tidas, os vendedores tendem a au-
mentar o preço”, disse.
Torres Campos acrescentou que
essa era a posição manifestada pe-
los responsáveis das Forças Arma-
das. “Para o comprador, as Forças
Armadas, as contrapartidas eram
uma condicionante a mais. Era mui-
“As contrapartidas eram uma condicionante. Era muito melhor não haver. Até seria possível arranjar melhores condições se não houvesse”
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RUI GAUDÊNCIO
Socialistas querem enviar a Munique missão de inquérito aos submarinos
Ministro da Defesa foi questionado sobre as contrapartidas, mas remeteu para o Ministério da Economia
O PS entregou ontem um requeri-
mento na comissão de inquérito aos
programas militares no sentido de o
Parlamento enviar uma missão à Ale-
manha para recolher documentação
e ouvir os investigadores que traba-
lharam no processo que levou a um
conjunto de condenações por corrup-
ção no negócio da compra dos sub-
marinos para a Marinha portuguesa.
A proposta socialista foi entregue
na mesa da comissão poucos dias de-
pois de a Procuradoria-Geral da Re-
pública ter recusado ceder uma cópia
da sentença em causa aos deputados
que integram a comissão de inquérito
à aquisição de material militar.
O socialista José Magalhães con-
fi rmou a iniciativa e justifi cou-a ao
PÚBLICO. “Uma coisa é aceder à
sentença, outra é o contacto com os
investigadores”, disse o deputado.
A proposta indica que a missão de-
ve ser composta pelo presidente da
comissão — o centrista Telmo Correia
—, os coordenadores de cada um dos
grupos parlamentares com assento
na comissão e o deputado relator. A
altura sugerida para a deslocação é
o mês de Agosto — período durante o
qual os trabalhos parlamentares e o
prazo da comissão estão suspensos.
O requerimento deverá ser deba-
tido hoje em comissão, na reunião
agendada entre os coordenadores.
No início do mês, o principal par-
tido da oposição havia solicitado ao
órgão superior do Ministério Públi-
co a cedência da sentença alemã e o
“teor integral da acusação”. A PGR
recusou, aconselhando os deputados
a fazer o mesmo “pedido”, mas “ao
Governo federal alemão”.
Os trabalhos da comissão come-
çaram ontem com a audição ao ac-
tual ministro da Defesa, José Pedro
Aguiar-Branco, que, depois de de-
fender a utilidade dos submarinos
da Marinha, teve de responder às
críticas relacionadas com a reduzida
taxa de execução das contrapartidas
relacionadas com as aquisições de
equipamento militar.
A sua resposta foi apontar na di-
recção de um colega de governo. “A
responsabilidade nessa área é do mi-
nistro da Economia, em articulação
com o Ministério da Defesa, uma vez
que se trata de contratos celebrados
no regime anterior (em que se recor-
ria a contrapartidas) e o Ministério
da Defesa deve dar os elementos à
gestão, que é do Ministério da Eco-
nomia”, adiantou Aguiar-Branco,
especifi cando ser matéria a cargo
da Direcção-Geral das Actividades
Económicas (DGAE).
Mas aproveitou para lembrar que
o regime das contrapartidas era
agora uma coisa do passado, com a
“transcrição para o direito interno”
da directiva europeia que “acabou
com o regime das contrapartidas em
termos de negócios de aquisição de
equipamentos militares”, preparada
pelo seu antecessor, Augusto Santos
Silva, e por si concretizada.
Horas depois foi a vez de Álvaro
Barreto, ex-ministro da Economia
de Santana Lopes, comparecer na
comissão para responder sobre os
processos de contrapartidas assina-
dos durante a vigência do XVI Gover-
no. E até admitiu que estas podiam
ser “uma opção correcta”, apesar de
serem de difícil concretização.
Mas Barreto deu conta do seu total
distanciamento em relação ao dos-
sier, justifi cando-o com a curta du-
ração desse executivo e a delegação
dessa responsabilidade na secretária
de Estado Graça Proença de Carva-
lho. Acrescentou depois que a mes-
ma, durante esse período, não levan-
tou “nenhuma dúvida, nenhum pedi-
do de orientação, nenhuma questão”
sobre contrapartidas.
Mariana Mortágua (BE) lembrou
que dois contratos de contraparti-
das — os blindados Pandur e os tor-
pedos para os submarinos — tinham
sido assinados nesse período e que
havia “responsabilidade bipartida”
entre os ministérios da Defesa e da
Economia sobre as contrapartidas.
Barreto admitiu que o seu antecessor
no cargo, Carlos Tavares, pudesse ter
mais a acrescentar.
Foi depois de uma pergunta do
comunista Jorge Machado que o ex-
ministro precisou que o seu único
contacto remoto com o dossier fora
um “jantar formal” com a delegação
da Steyr austríaca no dia em que foi
celebrado o contrato de aquisição
das Pandur. Machado quis saber se
as contrapartidas tinham sido abor-
dadas. “Foi um jantar formal com a
Kátia Guerreiro a cantar muito bem”,
respondeu Barreto. “Os austríacos
devem ter gostado muito do jantar”,
rematou o deputado comunista.
PS pretende ouvir investigadores alemães do processo que levou a condenações por corrupção. Proposta foi entregue poucos dias depois de a PGR ter recusado ceder uma cópia da sentença em causa
DefesaNuno Sá Lourenço
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Corte: 1 de 1ID: 54976860 24-07-2014
A Bolsa de Lisboa foi, durante um
ano, diariamente inundada com
milhares de ofertas de venda de ac-
ções, segundos antes do seu fecho.
O objectivo era, sem possibilidade
de reacção por parte do mercado,
conseguir alterar o preço em alta ou
em baixa, infl uindo dessa forma o
valor a que os títulos seriam vendi-
dos no dia seguinte.
O plano foi elaborado, segundo a
acusação do Ministério Público (MP)
à qual o PÚBLICO teve acesso, por
quatro funcionários da Caixagest,
sociedade gestora de fundos de in-
vestimento mobiliários e gestão dis-
cricionária de carteiras, e do Caixa
BI (Banco de Investimento), ambos
do universo da Caixa Geral de De-
pósitos (CGD).
As irregularidades foram detec-
tadas pela Comissão de Mercado
de Valores Mobiliários (CMVM) em
2012, aplicando multas às duas so-
ciedades, cada uma de 150 mil eu-
ros. O supervisor enviou depois o
caso para o MP, que acusou agora
dois traders, um responsável pela
área de acções na Caixagest e um
director.
Tal como o PÚBLICO já avançara,
as operações ocorridas entre fi nais
de 2007 e fi nais de 2008 tinham por
base transacções ilícitas de acções
do Finibanco (hoje Montepio Geral),
da Cofi na, da SAGgest, da Martifer e
da Impresa. O objectivo era valori-
zar os activos nas carteiras dos fun-
dos de investimento geridos pelo
banco estatal.
Houve ainda a intervenção da
Funcionários da CGD acusados de manipularem o mercado para valorizar e desvalorizar acções
Fincor, como corretora, e do Ban-
co BIG, que “recebeu e executou or-
dens relativas aos títulos da Cofi na,
dadas pelos arguidos da Caixagest”.
Estas duas entidades, que agiram
apenas como intermediários, não
são visadas na acusação do MP.
O Departamento de Investigação e
Acção Penal de Lisboa (DIAP) consi-
derou estarem em causa operações
fi ctícias, de marcação de preço de
fecho ou ainda de sustentação de
preço. Os arguidos, entre os 39 e
os 47 anos e a quem é imputado o
crime de manipulação de mercado,
JustiçaPedro Sales Dias e Cristina FerreiraFuncionários da Caixagest e da Caixa BI lançavam oferta fictícia de acções no fecho do mercado para garantir preço no dia seguinte
cada um auferia uma verba remu-
neratória variável que dependia dos
resultados alcançados com a perfor-
mance dos fundos em causa.
As operações fi cavam ainda mar-
cadas por outro ardil. Quem vendia
e comprava era a mesma pessoa,
o que colocou em causa a função
do mercado, aponta o DIAP. “Vais
comprar a ti próprio, meu!”, diz um
funcionário da Caixagest ao da Caixa
BI numa das conversas gravadas no
sistema de trading. “Não faz mal”,
responde o colega que mantém a
ordem.
Pelo teor dessas conversas, per-
cebe-se ainda que os arguidos espe-
ravam contar com a desatenção de
todos. “Tenho de experimentar uma
de cada vez. Às tantas, os gajos, se
não reparam, também são otários”,
diz um deles numa conversa citada
na acusação.
Por outro lado, as ofertas de com-
pra tão depressa entravam como
eram canceladas só para testar “a
reacção do preço teórico de fecho
antes da inserção da oferta desti-
nada a marcar o preço de fecho”,
aponta o MP.
A 9 de Janeiro de 2013, a duas
entidades da CGD entregaram à
CMVM dois requerimentos onde se
declararam disponíveis para pagar
as multas de 300 mil euros. Mas com
uma condição: que o regulador não
divulgasse a sua decisão no site ofi -
cial (coimas e fundamentos). Em
contrapartida, não recorreriam
judicialmente, mas também não
assumiam “a culpa” dos delitos. A
CMVM recusou.
Um dos objectivos da CGD era o
de travar o acesso do tribunal à au-
dição das transcrições das gravações
das conversas, que é obrigatória na
actividade, de forma a evitar riscos
materiais e reputacionais.
O MP não acusou nenhum dos
actuais administradores da Caixa-
Gest — João Faria, Luís Martins e
Fernando Maximiano —, em funções
desde 2001.
vão aguardar julgamento sujeitos a
termo de identidade e residência,
a medida de coacção menos gra-
vosa.
A moldura penal prevista para
este crime foi agravada, aquando
da alteração do Código de Valores
Mobiliários em 2009, para um má-
ximo de cinco anos de prisão, mas,
como os factos se reportam a anos
anteriores, aplica-se ainda a versão
anterior da lei, de três anos de pri-
são, no máximo.
Conhecendo bem a performance
dos fundos e do mercado, os ar-
guidos delinearam estratégias que
“permitissem limitar perdas em
mercado”, alterando “as condições
normais de formação de preços rela-
tivamente a acções, facto que fi nan-
ceira e profi ssionalmente lhes seria
benéfi co”, diz o MP. De referir que
GONÇALO PORTUGUÊS
Quatro arguidos ficaram sujeitos a termo de identidade e residência
CMVM já tinha aplicado multa de 300 mil euros às empresas
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Pág: 5
Cores: Cor
Área: 26,94 x 30,05 cm²
Corte: 4 de 6ID: 54959286 23-07-2014
Página 89
Tiragem: 34442
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Informação Geral
Pág: 6
Cores: Cor
Área: 26,48 x 30,37 cm²
Corte: 5 de 6ID: 54959286 23-07-2014
Página 90
Tiragem: 34442
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Informação Geral
Pág: 1
Cores: Preto e Branco
Área: 5,09 x 4,66 cm²
Corte: 6 de 6ID: 54959286 23-07-2014
Página 91
A92
Tiragem: 31025
País: Portugal
Period.: Diária
Âmbito: Informação Geral
Pág: 18
Cores: Cor
Área: 4,86 x 7,13 cm²
Corte: 1 de 1ID: 54939805 22-07-2014
Página 92