brian weiss - a divina sabedoria dos mestres

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Brian Weiss A Divina Sabedoria Dos Mestres Um guia para a felicidade, alegria e paz interior

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  • Brian Weiss

    A DivinaSabedoria

    Dos MestresUm guia para a felicidade, alegria e paz interior

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 2

    OBRAS DO AUTOR

    MUITAS VIDAS, MUITOS MESTRES(Many Lives, Many Masters, Simon & Schuster, 1989) Editora Pergaminho, 1998

    O PASSADO CURAA Terapia Atravs de Vidas Passadas

    (Through Time into Healing, Simon & Schuster, 1993) Editora Pergaminho, 1999

    S O AMOR REALA Histria do Reencontro de Almas Gmeas

    (Only Love is Real, Warner Books, Inc., 1997) Editora Pergaminho, 1999

    A DIVINA SABEDORIA DOS MESTRESUm Guia Para a Felicidade, Alegria e Paz Interior

    (Messages From the Masters, Warner Books, Inc., 2000) Editora Pergaminho, 2000Traduo de Antnio Reca de Sousa

    A DIVINA SABEDORIA DOS MESTRESUm Guia Para a Felicidade, Alegria e Paz Interior de Brian L. Weiss, M.D.

    Traduzido do originalMessages From the Masters copyright 2000 by Brian L. Weiss, M.D.

    A Warner Books Edition, New York, USA (ISBN: 0-446-52596-0)Todos os direitos reservados. Este livro no pode ser reproduzido, no todo ou em

    parte, por qualquer processo mecnico, fotogrfico, eletrnico, ou por meio de gravao, nem ser introduzido numa base de dados, difundido ou de qualquer forma

    copiado para uso pblico ou privado alm do uso legal como breve citao em artigos e crticas sem prvia autorizao do editor.Copyright da traduo: Editora Pergaminho, 2000

    Direitos reservados para a lngua portuguesa (Portugal) Editora Pergaminho, Lda. Cascais, Portugal1. edio, 2000

    1.a Reimpresso, 2001 ISBN 972-711-393-1

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 3

    Agradecimentos

    A minha esposa, Carole, uma fonte constante de amor, de apoio e encorajamento. difcil comear sequer a expressar a profundidade da gratido que sinto por ela. Foi ela que tornou possveis todos os meus livros e tem sido ela quem sempre me tem recordado a maravilha que vivermos a nossa vida com um companheiro de alma. Quero expressar a minha imensa apreciao por Joni Evans, a minha agente literria, uma pessoa extraordinria e talentosa. Trabalhar com ela uma alegria constante.

    Sinto-me tambm em dvida para com Jessica Papin e Tina Andradis da Warner Books. Jessica a minha editora. Os seus comentrios, assim como as suas excelentes capacidades literrias contriburam de um modo inexcedvel para a realizao deste livro. Tina tem realizado um trabalho extraordinrio na rea da publicidade para todos os meus livros e sinto uma enorme gratido por toda a sua competncia e tambm pelo seu bom corao.

    Quero agradecer a Larry Kirschbaum por me ter apresentado Warner Books. O seu entusiasmo e todo o seu apoio representam muitssimo para mim. Ainda h muitas mais pessoas a quem gostaria de agradecer. Estou grato a todos vs.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 4

    CAPTULO 1

    O PrincpioA nossa misso aprendermos, assemelharmo-nos a Deus atravs do conhecimento.

    Sabemos to pouco Atravs do conhecimento aproximamo-nos de Deus, e s ento podemos descansar. Nessa altura podemos voltar para ensinar e ajudar os outros.

    Para todos os leitores que me esto a ler pela primeira vez, so necessrias umas poucas palavras de introduo. J se passou tanta coisa desde aquele dia decisivo em que eu, um mdico com formao clssica, professor de psiquiatria e, garantidamente, um cptico, me apercebi que a vida humana algo muito maior e mais profundo do que tudo aquilo que a minha rigorosa formao mdica me tinha levado a acreditar.

    Licenciei-me na Universidade de Columbia e obtive o meu grau de especializao mdica na Escola de Medicina de Yale, onde mais tarde atingi a posio de diretor de servios de psiquiatria. Lecionei em vrias escolas mdicas e exerci durante onze anos as funes de presidente do Departamento de Psiquiatria do Mount Sinai Medical Centre, em Miami Beach, na Florida. Quando vi Catherine, a paciente cuja histria relatada no meu primeiro livro, Muitas Vidas, Muitos Mestres, j tinha publicado mais de quarenta trabalhos cientficos e captulos de livros e tinha obtido reconhecimento internacional nas reas da psicofarmacologia e da qumica cerebral. No constituir surpresa nenhuma dizer que, na altura, eu era um cptico empedernido em relao aos domnios no-cientficos, como por exemplo, a parapsicologia. A minha ignorncia sobre conceitos como as vidas passadas ou a reencarnao era total e, para, alm disso, tambm no queria saber.

    De uma forma algo sbita e, de algum modo, chocante, vi-me introduzido no espiritual, no crebro direito, no no-linear. Inexplicavelmente, Catherine comeou a recordar-se daquilo que pareciam ser memrias de vidas passadas. Sem sabermos bem como, verificaram-se melhorias em todos os seus sintomas clnicos atravs deste processo de regresso. Eu estava espantado, mas tinha comeado a descobrir a harmonia entre a cincia e a intuio.

    Este processo iniciou-se h vinte anos atrs. Desde ento, j procedi a mais de duas mil regresses com pacientes at fase perinatal, intra-uterina, ou at s memrias de vidas passadas. Escrevi trs livros sobre estas experincias e estes livros foram traduzidos para mais de trinta lnguas.

    Como o meu trabalho aborda temas como a reencarnao, terapia de regresso a vidas passadas e a reunio de companheiros de alma, acabei por me tornar o decano no-oficial da reencarnao. Esta classificao bem vinda. Acredito realmente que reencarnamos at aprendermos as nossas lies e atingirmos a nossa licenciatura. Alm do mais, tal como tenho vindo sempre a dizer, dispomos

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 5

    hoje em dia de provas histricas e clnicas considerveis que comprovam a realidade da reencarnao.

    Este livro reflete aquilo que ensino hoje em dia aos meus pacientes e s minhas audincias e vai muito para alm da reencarnao e da terapia da regresso. Estas so, de fato, peas importantes do puzzle. No entanto, existem outras peas que so tambm to importantes como elas. preciso conhec-las todas. preciso conhec-las bem. Estudei curadores, mdiuns, psquicos e outras pessoas envolvidas em prticas holsticas e alternativas e compreendi que existem outras vias para o despertar espiritual de cada um.

    Este livro representa o culminar de vinte anos de experincia e de estudos, no s na rea da reencarnao, mas tambm rea do movimento conhecido por Nova Era. a minha tentativa de trazer-lhe de novo memria o amor e a alegria, e de ensin-lo a recuperar estas qualidades para a sua vida, agora, enquanto existe no estado fsico presente. Aprender tcnicas para alcanar os nveis de paz interior e felicidade que lhe faltam na sua vida atual. Neste livro poder encontrar uma grande quantidade de material sobre a natureza da alma, sobre a imortalidade e os valores. O livro est repleto de conselhos prticos e tcnicas para transformar a sua vida, as suas relaes, as suas disposies e estados mentais, a sua sade fsica, o seu bem-estar e o seu destino. O conhecimento das vidas passadas no necessrio para atingir estas mudanas positivas. A chave suprema a compreenso. medida que for aumentando a sua compreenso a respeito da sua verdadeira natureza e do seu verdadeiro propsito, ocorrer uma transformao permanente na sua vida; e a partir da tornar-se- possvel comear a transformar o mundo.

    A minha vida tem vindo a mudar da mesma maneira. As vidas passadas continuam a ter um significado valioso, mas compreender, experimentar e expressar o amor, a alegria e a paz interior no meu dia a dia tem um significado ainda muito maior. Estou profundamente grato a Catherine por ter aparecido naquele dia no meu consultrio e ter criado em mim a abertura para o conceito de vidas passadas. Isso foi realmente a via para o meu despertar pessoal. Esse despertar conduziu a um crescimento espiritual e compreenso.

    Uma importante e impressionante caracterstica das regresses de Catherine era a sua capacidade, quando em estado de hipnose profunda, de canalizar ou transmitir informaes pormenorizadas e precisas, provenientes de fontes superiores de conhecimento. Este material tem servido de inspirao para milhares de pessoas em todo o planeta e est na base da transformao das suas vidas. Catherine atribua a origem desta sabedoria aos Mestres, almas superiormente evoludas numa forma no-fsica. Os Mestres passaram-lhe informaes sbias e maravilhosas, e ela transmitiu-me essas informaes. Quando emergia do estado hipntico, Catherine conseguia recordar-se de muitos pormenores das vidas passadas que tinha acabado de experimentar. No entanto, nunca conseguiu lembrar-se de nada sobre os seus contatos com os Mestres, porque as mensagens dos Mestres eram simplesmente transmitidas atravs dela, no tinham origem na sua memria.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 6

    Eu sou regularmente assediado com pedidos, por carta, ou pessoalmente nas minhas conferncias, para revelar mais mensagens dos Mestres.

    J recebeu mais mensagens? Ainda est em contato com eles?O que que aprendeu de novo?A resposta sim. A resposta este livro. Com os meus outros

    pacientes, nas minhas viagens, ou atravs da meditao, tenho aprendido tanta coisa mais.

    Para mim ficou claro que temos de aprofundar o nvel da nossa compreenso acerca de tudo aquilo que j nos foi revelado. nessa perspectiva que surgem aqui parcialmente reproduzidas, em itlico, no princpio de cada captulo e, por vezes, dentro dos captulos, as mensagens-chave dos meus livros anteriores.

    Ao estabelecer uma ligao entre o antigo e o novo, ganhei conscincia de que me tinha sido revelada toda uma filosofia espiritual. No centro dela est o amor. Estou convencido que ns, como humanos, estamos prontos para abra-la.

    O volume macio dos nossos avanos cientficos e tecnolgicos criou em ns um desequilbrio. Por isso, e muito em particular nos ltimos trinta anos, temos procurado reencontrar uma certa estabilidade, fazendo reviver a sabedoria antiga. Felizmente, toda a sabedoria antiga tem sido devidamente filtrada, de forma a podermos descartar uma srie de supersties e mitos fora de prazo. As nossas conscincias atingiram finalmente um grau de evoluo que lhes permite aceitar esta sabedoria dos tempos j devidamente filtrada.

    Estamos a nadar num mar de conscincia espiritual, holstica, da Nova Era, que parece ter rebentado as barragens das velhas crenas e da conscincia redutora. As provas esto por todo o lado. O Novo Pensamento est a tornar-se a corrente dominante.

    O Instituto Nacional de Sade est a financiar estudos na rea da acupuntura, medicina homeoptica, hipnose e da alterao dos estados de conscincia. As companhias de seguros j esto a cobrir tcnicas de tratamento alternativas e complementares. Agncias de publicidade da velha escola esto a promover produtos comerciais por meio de campanhas internacionais onde a reencarnao utilizada como um instrumento de vendas. O cinema e a televiso difundem alegremente temas da Nova Era para milhes de espectadores interessados. Por que razo est isto a acontecer?

    As pessoas andaram convencidas, durante sculos, que a tecnologia desenvolvida ao mximo seria a soluo para todos os males que afligem a humanidade; e que a cincia nos iria indicar o caminho para sairmos das cavernas, ou seja, para bem longe da doena, da pobreza e da dor.

    J descobrimos que a tecnologia e a cincia no so capazes por si s de resolver os nossos problemas. A tecnologia tanto pode ser utilizada no bom, como no mau sentido. A tecnologia pode vir verdadeiramente em nosso auxlio, mas s quando utilizada com sabedoria, com equilbrio e com

    Brian Weiss

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    clareza. Temos que encontrar o equilbrio certo. O amor est no centro desse equilbrio.

    Quando as pessoas passam por experincias espirituais intensas, a energia do amor quase sempre evocada. Esta forma de amor incondicional, absoluta e transcendente. como um pulsar de energia pura, uma energia que tambm se reveste de caractersticas extremamente poderosas, como a sabedoria, a compaixo, a intemporalidade e a conscincia do sublime. O amor a energia mais bsica e, ao mesmo tempo, a mais universal. a essncia do nosso ser e do nosso universo. O amor a pedra angular fundamental da natureza, aquilo que liga e une todas as coisas, todas as pessoas.

    O amor mais que um objetivo; mais que um combustvel; ultrapassa em muito um ideal. O amor a nossa natureza. Ns somos amor. Espero que este livro o ajude a reconhecer o amor, a cultivar e a ampliar a sua experincia do amor (em especial em relao a si prprio e tambm nas suas relaes), e a manifestar e a irradiar o seu amor para com os outros. Ao proceder deste modo, a experincia de mais alegria, sade e felicidade tornar-se- inevitvel na sua vida.

    O amor o poder supremo da cura. Num futuro no muito distante, proceder-se- ao estudo cientfico de algumas das caractersticas da sua energia, em particular as caractersticas que podem ser quantificadas, medidas e compreendidas. Outras caractersticas permanecero no domnio do mistrio, da transcendncia e do incomensurvel. Felizmente, quando sentimos profundamente a energia do amor, seja ou no possvel medi-la ou mesmo compreend-la, a realidade que experimentamos sempre os seus efeitos de cura.

    Os fsicos sabem que tudo energia. As bombas nucleares so construdas atravs do recurso a tcnicas de transformao e libertao de energia. As medicinas tradicionais e homeopticas funcionam devido s transformaes energticas induzidas a nvel celular. Os resultados so substancialmente diferentes, manos mecanismos subjacentes so exatamente os mesmos: transformaes energticas.

    A energia do amor potencialmente mais poderosa do que qualquer bomba; mais subtil do que qualquer erva. Ns que ainda no aprendemos a dominar esta energia pura e fundamental. Quando o fizermos, a cura poder ocorrer a todos os nveis, a nvel individual e planetrio.

    Antes de escrever este livro, descrevi a fenomenologia, as caractersticas de vrias experincias metafsicas: reencarnao, a natureza da alma, curadores e cura, acontecimentos psquicos e capacidades medinicas, Experincias de Quase-Morte e Ps-Morte, e a sabedoria incrvel de seres que existem, aparentemente, do outro lado.

    Temos agora a oportunidade de compreender e experimentar a energia que comum e que une todas essas experincias, todos esses fenmenos e seres. Quando

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 8

    o fizer, a sua vida conhecer uma expanso e elevao, e passar a conseguir remover os bloqueios e os obstculos que o impedem de alcanar a sua paz interior, a alegria e a felicidade.

    As nossas almas sentem-se constantemente atradas pelo amor. Quando compreendermos verdadeiramente o conceito de que o amor uma energia que abrange tudo, cujo pulsar curador pode transformar rapidamente os nossos corpos, mentes e almas, ento conseguiremos transcender as nossas dores e os nossos males crnicos.

    Como Utilizar Este Livro

    Neste caminho, vital empregar a sua mente lgica e racional. Aceitar tudo sem reflexo, contemplao e ponderao seria uma tolice to grande como rejeitar tudo do mesmo modo. A cincia a arte de observar minuciosamente de um ponto de vista imparcial e sem preconceitos. Tentei proceder desse modo. Neste processo encontrei algumas pessoas cheias de talento psquicos, mdiuns, curadores e outros mas na realidade encontrei ainda mais pessoas com um talento limitado ou capacidades limitadas, que na sua grande maioria no passavam de oportunistas. Passei muitos anos a aprender e a aplicar o mtodo cientfico, e a minha mente cptica est sempre em estado de alerta quando passo todas estas experincias no meu crivo cientfico. No entanto, tive sempre o cuidado de no deitar fora a criana quando despejava a gua do banho. Uma pessoa, ou uma experincia, pode ser uma decepo, mas a seguinte poder ser verdadeiramente extraordinria e, quando isso acontece, no temos que lhe dar desconto por causa dos acontecimentos anteriores.

    Escrevi este livro para poder dar de volta um pouco daquilo que me foi dado. Ponderei sobre a importncia que um novo livro poderia ter. Na realidade, j escrevi trs, e ainda h muita coisa para digerir nesses trs livros. Hoje em dia encontramos livros de orientao espiritual por toda a parte. O que que mais um livro pode acrescentar?

    Lembrei-me que ensinar um processo muito individual, que depende imensamente do estilo, das preferncias pessoais, dos valores e de muitos outros fatores. Outras pessoas podero transmitir, por exemplo, atravs de livros ou em seminrios, mensagens muito semelhantes, mas haver certamente diferenas na maneira de o fazer. Apesar de a verdade s poder ser uma, as abordagens a essa verdade so muitas. Contudo, a resposta sempre a mesma: a verdade no muda. Isto no significa que um professor seja melhor que os outros, ou que os mtodos e a filosofia desse professor sejam superiores. apenas diferente. Aquilo que resultar consigo, est certo. Aquilo que no resultar, pode ser que resulte com outra pessoa. Todos ns estamos a caminhar para o mesmo stio.

    O meu caminho para uma maior compreenso da nossa natureza espiritual surgiu atravs de muitos anos de rduos estudos acadmicos, culminando na minha formao mdica, na especializao psiquitrica e em vrias dcadas de experincias ps-acadmicas e estudos clnicos. Esse foi o meu caminho. Outros

    Brian Weiss

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    podem atingir um lugar semelhante atravs de uma experincia muito forte, espontnea e dominante, como a EQM (Experincia da Quase-Morte). Outros ainda podem alcanar este nvel empregando uma nica tcnica, como por exemplo, a prtica da meditao durante um longo perodo de tempo. Estes podero ser os seus caminhos. As vias para a iluminao so muitas. Juntos, vamos poder explor-las.

    A fora e o aspecto imediato da nossa experincia pessoal pode alterar as nossas crenas. Voc pode comear a compreender qualquer coisa logo que experimenta a sua essncia. Nesse momento, a crena transforma-se em conhecimento.

    No suficiente lermos acerca dos conceitos que aqui so apresentados, ou basearmo-nos apenas nas experincias dos outros que nos so apresentadas para exemplificar ou para ilustrar determinados conceitos. Nesse sentido, ao longo de todo o livro encontrar uma variedade de exerccios e tcnicas que lhe permitiro expandir as suas prprias experincias, e ajud-lo-o a operar uma transformao em si de uma forma direta.

    Durante muitos anos, aconselhei os pacientes a manterem um dirio dos seus sonhos, para poderem anotar as memrias dos seus sonhos logo que acordassem. Com alguma prtica, possvel expandir bastante a capacidade de recordar os sonhos. Quanto mais pormenores conseguirmos recordar e registrar, mais fcil ser introduzir alguma preciso na anlise dos sonhos. O mesmo se aplica meditao e visualizao. medida que for tentando estes exerccios, provavelmente considerar uma prtica vantajosa manter um dirio, ou simplesmente anotar os seus pensamentos, os seus sentimentos, observaes e experincias. Tal como com os sonhos, quanto mais escrever, mais fcil se tornar recordar e analisar os pormenores das suas experincias.

    Eu prprio senti algumas dificuldades na prtica destas tcnicas. Como tal, e com base na minha prpria experincia, posso aconselh-lo a no se deixar vencer pela frustrao. O progresso pode parecer bastante lento. Muitas vezes dou por mim a cair na preguia e a deixar de meditar durante semanas a fio, at que me lembro e retomo a prtica. No deixei de cair nos buracos e nas covas da vida e sou muitas vezes arrastado pelo orgulho, pela inveja ou pela insegurana. Somos todos humanos e a vida difcil. A frustrao uma reao normal e comum. No somos uma espcie com muita pacincia.

    Como mencionei atrs, o que importa a direo, no a velocidade. Se sentir que est a evoluir no sentido de ser uma pessoa mais carinhosa, com uma maior capacidade de compaixo, de ser menos violenta, ento saiba que est a ir na direo certa. Como eu, voc tambm pode distrair-se, s vezes pode virar no stio errado e andar um bocado perdido at achar o caminho de volta. Pode parecer que est a dar dois passos em frente e, a seguir, um passo para trs, mas da no vir mal nenhum ao mundo. assim mesmo que as coisas se processam quando estamos na forma humana. A iluminao um processo lento e rduo e requer dedicao e disciplina. No h problema

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 10

    nenhum em descansar um pouco de vez em quando. Voc no est a andar para trs; est a consolidar posies e a descansar.

    O progresso no sempre linear. Voc poder estar muito avanado na rea da caridade e da compaixo e comportar-se como um novato no que se refere raiva ou pacincia. O importante no se julgar a si prprio. Se no entrar no julgamento a si prprio, nem deixar que outros o faam por si, no haver espao para a frustrao. As experincias que tiver, medida que for progredindo na leitura deste livro, tm por objetivo ajud-lo na sua evoluo para se transformar num ser carinhoso, alegre, no-violento e sem receio. Como o progresso na via espiritual no linear, natural que considere alguns dos conceitos e dos exerccios extremamente fceis, e outros muito mais difceis. natural que assim seja.

    Neste caminho j dei tantos trambolhes. No entanto, a seguir recuperei a conscincia e depois pude prosseguir a minha jornada. Provavelmente, a si j lhe aconteceu o mesmo. Com este meu livro, espero ajud-lo a evitar cair tantas vezes e a tornar a recuperao mais fcil. Tenho conscincia que os meus leitores faro o mesmo por mim, com as suas cartas e com todo o feedback que me do.

    Este livro nunca teria sido escrito sem a sabedoria e a inspirao dos Mestres, pois as citaes que deles fao so realmente as pedras angulares das idias e das prticas apresentadas nos vrios captulos. Os pensamentos e os conceitos contidos nas mensagens so como sementes especiais que, ao longo dos anos, se desenvolveram e amadureceram na minha mente, transformando-se em flores maravilhosas, flores essas que agora lhe apresento.

    As citaes dos Mestres so tambm como os sinos que os budistas fazem soar para se recordarem e trazerem as suas mentes que devaneiam de volta ao tempo presente, de volta conscincia, concentrao. As mensagens dos Mestres lembram-nos tambm para deixarmos a nossa mente regressar ao fundamental o amor, a paz, a vida eterna, os pensamentos e as prticas espirituais e para deixarmos de parte aquilo que no importante as coisas materiais, o orgulho e o ego, a violncia, o medo, as preocupaes e o dio.

    As citaes, tal como os sinos, chamam-nos de volta para a conscincia. Quando encontrar algumas palavras em itlico, abrande e digira o seu significado. Raramente poder provar algo mais doce.

    Estamos todos a remar no mesmo barco e podemos vislumbrar tempestades ameaadoras no horizonte. A violncia e as vistas curtas dominam o nosso mundo. Temos que remar de um modo harmnico, renunciando ao dio, raiva, ao medo e ao orgulho. preciso termos coragem para fazer o que est certo. Temos de amar e respeitar-nos uns aos outros, para vermos e apreciarmos a beleza e a dignidade inata de todos ns, pois todos ns somos almas, todos ns somos feitos da mesma substncia.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 11

    Se remarmos em unssono, como uma equipa, ento ser possvel evitarmos as tempestades e descobrirmos o nosso caminho de volta para casa.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 12

    CAPTULO 2

    Atravessamos muitas fases quando aqui estamos. Deixamos um corpo de beb e passamos para um corpo de criana; de criana passamos para adultos e de adultos vamos para a terceira

    idade. Por que razo no iremos um passo mais alm e no deixamos o corpo adulto para entrarmos num plano espiritual? Isso o que ns fazemos. No paramos de crescer; continuamos a crescer. E quando entramos no plano espiritual, tambm a continuamos a crescer. Atravessamos

    diversas fases de desenvolvimento. Quando a chegamos, estamos completamente estourados. Precisamos de passar por uma fase de renovao, um perodo de aprendizagem e por uma fase de

    deciso. Decidimos quando queremos regressar, onde e por que motivos. H quem escolha no voltar. Essas pessoas escolhem passar para uma outra fase de desenvolvimento e permanecem na

    forma espiritual uns mais tempo que os outros, at voltarem de novo. Todo esse processo crescimento e aprendizagem crescimento contnuo. O nosso corpo funciona meramente como um veculo para ns, enquanto c estamos. A nossa alma e o nosso esprito que duram para sempre.

    As nossas vidas no so o resultado de aes e acontecimentos do acaso. Os tempos de vida so sbia e cuidadosamente programados para expandirmos a nossa aprendizagem e a nossa evoluo.

    Somos ns quem escolhe os nossos pais, normalmente entre almas com as quais interagimos em vidas passadas. Enquanto crianas, adolescentes e adultos, aprendemos a evoluir espiritualmente, medida que os nossos corpos tambm se vo desenvolvendo fisicamente. Quando as nossas almas abandonam os nossos corpos, na altura da nossa morte fsica, a nossa aprendizagem prossegue em planos mais elevados, planos que na realidade so nveis mais elevados de conscincia. Procedemos ento a uma reviso da vida que acabamos de terminar, aprendemos as nossas lies e planeamos a nossa vida seguinte. A aprendizagem no termina com a morte do corpo.

    Os nveis de conscincia que visitamos quando as nossas almas abandonam o corpo fsico so mltiplos. Um nvel extremamente importante constitudo pela fase da aprendizagem, o perodo em que passamos em revista as nossas vidas. Voltamos a experimentar cada encontro, cada relao. Sentimos as emoes das pessoas que ajudamos ou magoamos, amamos ou odiamos, que afetamos positiva ou negativamente. Sentimos as suas emoes muito profundamente, pois este processo um instrumento poderosssimo de aprendizagem, uma espcie de feedback intenso e instantneo sobre o nosso comportamento enquanto estivemos na Terra, nos nossos corpos fsicos. Aprendemos atravs das relaes e, como tal, importante que compreendamos o modo como tocamos os outros.

    O conceito da reencarnao explica e clarifica as nossas relaes na vida presente. Por vezes h acontecimentos no nosso passado distante que ainda influenciam as nossas relaes atuais. Se conseguirmos compreender a raiz dos problemas em vidas passadas, poderemos sarar a relao no presente. A conscincia e a compreenso so foras poderosas de cura.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 13

    Decidi comear este livro com o exemplo de uma sesso de regresso que se segue, porque este exemplo descreve e explica o processo da terapia de regresso que emprego, incluindo as tcnicas e a sua interpretao. Este exemplo no teve quaisquer censuras ou cortes. Gostaria que experimentasse as sesses como se estivesse presente.

    Trata-se de um caso fascinante que envolve a vida presente e tambm vidas passadas. uma ilustrao de memrias da infncia e inclui tambm memrias anteriores ao nascimento e posteriores morte; e que explica os caminhos que as nossas almas percorrem.

    Recebi um convite de uma das principais cadeias de televiso para participar num programa e fazer uma demonstrao de uma regresso a vidas passadas para a sua vastssima audincia. Uma jornalista dessa cadeia, quando ouviu falar do projeto, revelou interesse pelo meu trabalho e ofereceu-se para ser a paciente. Nessa regresso, utilizei uma tcnica designada por relaxamento progressivo, que uma descida suave e gradual ao estado hipntico. A hipnose apenas uma forma de concentrao focada e de relaxamento. No tem nada a ver com viajar no tempo e no h nenhum mistrio sua volta. O que acontece que neste estado de relaxamento e de concentrao, as funes da memria ficam expandidas.

    A sesso foi dramtica, vvida e intensa. Ela conseguiu experimentar memrias da infncia, da fase perinatal e de vidas passadas e, em conseqncia, a sua vida e as suas relaes foram beneficiadas.

    Tudo se passou num dia quente e mido, em finais de Maio, em Nova Iorque. O brilho e o calor que emanavam dos holofotes potentes no cenrio onde amos proceder gravao agravavam ainda mais o ambiente sufocante. Sentia gotas de suor a formarem-se nas minhas costas e por baixo da fina camada de maquiagem na minha cara. Andra, a jornalista, ainda no tinha chegado.

    Apesar dos meus pedidos para que nos arranjassem um local sossegado e descontrado, o local escolhido pela produo para a gravao foi um apartamento na Baixa. Em vez de uma sala silenciosa num estdio com ar condicionado, estvamos num apartamento sem ar condicionado, completamente abafado. Se abrssemos as janelas, corria uma ligeira brisa, mas aquela sala j cheia de pessoas era inundada tambm por uma cacofonia de sons do trnsito, sirenes e outros rudos que impediam a concentrao. Com condies to adversas, pensei para comigo, as hipteses de proceder com sucesso a uma regresso eram verdadeiramente escassas.

    Andra acabou por chegar e no pareceu atribuir grande importncia ao calor ou s sirenes que soavam l em baixo. Aparentemente, tinha-se acostumado ao rudo de fundo constante dos barulhos da cidade. Naquele dia, o que a preocupava mais eram as dores agudas da menstruao que a estavam a atormentar. Eu tambm fiquei preocupado, pois as dores podiam vir a revelar-se uma grave fonte de distrao. Antes de comearmos a gravar,

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 14

    conversamos um pouco para nos conhecermos melhor e abordarmos o processo da hipnose.

    Inclu aqui a totalidade da induo hipntica, apesar de algumas partes serem repetitivas, simplesmente para ilustrar esta tcnica e demonstrar que no existem nenhuns passos de mgica, nem truques, na hipnose e na regresso. A repetio propositada e ajuda a aprofundar o estado que o paciente experimenta. No houve qualquer montagem ou corte neste dilogo, porque queria que experimentasse a sesso completa exatamente do modo como ela correu.

    Ligaram os microfones e tnhamos trs cmaras prontas para registrar o evento. Andra, com uma blusa cor de vinho e umas calas escuras, acomodou-se num velho sof. Iniciamos o processo de induo hipntica. Apesar de sentir algum desconforto, Andra entrou rapidamente num estado de transe profundo. Mais tarde, disse-me que as dores tinham desaparecido completamente.

    Ao princpio, limitou-se a escutar enquanto eu, com toda a suavidade, lhe dava instrues sobre o modo de entrar num estado de hipnose profunda.

    Comecei por dizer: Aquilo que hoje vamos fazer, vamos faz-lo lentamente. O objetivo ficar muito confortvel, e voc vai ficar sempre de olhos fechados. Por isso, a nica coisa que tem de fazer seguir as minhas instrues. Est tudo bem?

    Andra assentiu com a cabea. Estava a comear a descontrair. timo. H maneiras mais rpidas, mas quero que experimente tambm todo o processo do relaxamento. Agora, vai deixar os olhos fecharem-se suavemente, e no resto da sesso os olhos estaro fechados. Concentre-se primeiro na sua respirao. Trata-se de uma velha tcnica de interiorizao; h quem chame a isto respirao de ioga. A respirao muito importante. Imagine, e no hesite em utilizar aqui a sua imaginao, que pode expirar a tenso que h em si, o stress que h no seu corpo; e que consegue inspirar toda a energia maravilhosa que a rodeia expirar o stress e a tenso, inspirar energia maravilhosa. Isso vai ajud-la a entrar cada vez mais profundamente com cada respirao. Voc tambm capaz de se concentrar na minha voz, e vai deixar a minha voz lev-la tambm ainda mais para dentro. Deixe tambm que o rudo de fundo e quaisquer outras distraes aprofundem ainda mais o seu nvel de concentrao. Nada disso vai interferir consigo. Hoje voc vai poder aprofundar o suficiente para poder ter experincias maravilhosas.

    Parei por uns instantes, permitindo-lhe fazer umas quantas respiraes de aprofundamento.

    H um bocado estvamos a falar deste aspecto, realmente, do saudvel que isto para o corpo e para a mente, poder descontrair, fazer a tenso e o stress sarem, deixarem o corpo distender-se. timo. Voc j entrou numa respirao muito confortvel a expirar stress, a inspirar energia maravilhosa. Enquanto respira, descontraia todos os seus msculos. Vai fazer

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 15

    isto muito bem porque voc est muito consciente do seu corpo. H pessoas que no tm grande conscincia do corpo. Por isso, coloque-se na posio mais confortvel que puder. Pode mexer-se sempre que quiser. Se sentir algum incomodo, mude de posio e fique confortvel. Relaxe os msculos faciais e os maxilares; sinta esses msculos a relaxar completamente. Deixe sair toda a rigidez e a tenso desses msculos. Relaxe os msculos do pescoo, sinta-os leves e soltos. H imensas pessoas com problemas no pescoo ou que sofrem de dores de cabea provocadas pela tenso. O que se passa que elas tm uma carga de tenso enorme no pescoo e, muitas vezes, nem sequer se apercebem disso. Sinta o seu pescoo a relaxar completamente. Os msculos dos ombros, to suaves, completamente relaxados. Deixe sair toda a rigidez e a tenso. Os msculos dos braos to relaxados. O sof e a almofada so os seus nicos apoios. timo; fique muito, muito confortvel.

    A respirao dela estava mais lenta e mais funda. Eu podia ver que ela j estava a mergulhar num nvel de transe profundo. Eu podia ouvir os movimentos dos operadores de cmara atrs de mim para ajustarem as suas posies e a moverem as pesadas cmaras de televiso para cobrirem os novos ngulos, medida que a cabea de Andra descaa para uma posio mais confortvel.

    E agora os msculos das suas costas, completamente relaxados, em cima e em baixo, e voc continua a mergulhar cada vez mais fundo neste maravilhoso estado de paz. Em cada respirao, voc pode ir ainda mais fundo. Descontraia agora os msculos do estmago e do abdmen, para que a sua respirao fique ainda mais tranqila. Finalmente, descontraia completamente os msculos das suas pernas. Agora o seu nico apoio o sof e voc est a entrar cada vez mais profundamente num estado maravilhoso de paz. Bem, bem, muito bem. Voc pode concentrar-se na minha voz e vai deixar a minha voz continuar a lev-la, lev-la cada vez mais fundo, e vai deixar os rudos exteriores levarem-na tambm mais fundo. De vez em quando, ouvir rudos diversos, mas isso no tem qualquer importncia. Isso f-la- ir ainda mais fundo.

    Agora imagine ou visualize uma luz maravilhosa por cima da sua cabea. Pode escolher a cor ou as cores. Imagine que se trata de uma maravilhosa luz curadora, uma luz de energia linda, uma luz que aprofunda cada vez mais o seu nvel de paz e serenidade. tambm uma luz tranqilizadora, uma luz que a relaxa completamente. uma luz espiritual que liga a luz em cima de si e a luz que a rodeia. Escolha a cor ou as cores e deixe agora essa luz entrar no seu corpo, pela cabea, pela coluna a fluir de cima para baixo, uma maravilhosa onda de luz que toca cada clula, cada tecido, cada fibra, cada rgo do seu corpo, com paz e amor, com poder de cura, e voc continua a mergulhar mais fundo, cada vez mais fundo.

    Prossegui no processo de aprofundamento do seu estado de transe. A minha voz tinha-se tornado suave e rtmica, aumentando o efeito hipntico.

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  • A Divina Sabedoria dos Mestres 16

    Agora vai poder concentrar-se na minha voz e continuar a ir cada vez mais fundo, medida que a luz for enchendo o seu corao, curando o seu corao e fluindo para baixo. Deixe a luz ser muito poderosa, muito forte, nos pontos em que sinta que necessita do seu poder de cura. Conforme for aprofundando, a luz ir descer pelas pernas at chegar aos ps, o seu corpo vai ficar cheio de luz, num estado maravilhoso de paz e relaxamento. Voc capaz de se focar na minha voz. Imagine agora que a luz tambm circunda completamente o seu corpo, como se estivesse embrulhada numa linda bolha, num casulo de luz, que a protege, que cura a sua pele, que aprofunda ainda mais o nvel em que se encontra. Agora, enquanto eu fizer a contagem decrescente de dez at um, mergulhe mais fundo para que a sua mente no se sinta mais limitada pelas barreiras usuais do espao ou do tempo, to fundo, de maneira a poder lembrar-se de tudo, de todas as experincias que tenha tido, neste corpo ou em qualquer outro corpo anterior, ou mesmo no estado entre corpos, quando se encontrava num estado espiritual. Voc pode recordar-se de tudo.

    A contagem decrescente uma tcnica de aprofundamento muito efetiva.Dez, nove, oito mais fundo, com cada nmero, cada vez mais fundo

    sete, seis, cinco to fundo, to tranqilo quatro, trs um nvel incrvel de serenidade e de paz dois a ansiedade toda a sair completamente do seu corpo um. timo! Neste estado maravilhoso de paz, imagine, visualize ou sinta que est a descer umas escadas lindas, a descer, a descer cada vez mais profundamente, mais profundamente a descer mais, ainda mais e cada degrau que desce aprofunda ainda mais o nvel em que se encontra. Agora que acabou de descer as escadas, mesmo sua frente est um jardim lindssimo, um jardim de paz e segurana, de serenidade e de amor. Um jardim maravilhoso. Entre nesse jardim e descubra um local onde possa descansar. O seu corpo, ainda repleto e rodeado de luz, continua a sarar, a relaxar, a recuperar, a rejuvenescer. Os nveis mais profundos da sua mente podem abrir-se e voc pode lembrar-se de tudo. Para lhe mostrar como isto funciona, vamos comear a retroceder no tempo, ao princpio um pouco apenas, mas depois vamos retroceder muito mais.

    A cabea de Andra j estava muito inclinada para a frente, e o queixo dela estava quase a tocar o pequeno microfone preso algo precariamente sua camisa cor de vinho. Ela estava num nvel to profundo que no eram necessrias mais tcnicas de aprofundamento. Decidi iniciar a viagem para trs no tempo.

    Dentro de uns instantes, vou fazer uma contagem decrescente de cinco at um. Deixe uma recordao da sua infncia vir a si. Se quiser que essa recordao permanea uma recordao agradvel, no h problema; ou ento tambm poder ser uma recordao que lhe transmita um ensinamento ou que de algum modo possa contribuir para sentir mais alegria, mais paz, ou felicidade na sua vida presente. Recorde inteiramente os sentimentos, as sensaes, utilize todos os seus sentidos. Se em qualquer momento se sentir desconfortvel, poder sempre desligar-se e flutuar por cima da cena, ou da recordao. Voc pode flutuar e observar distncia. Mas se no estiver desconfortvel, deixe-se ficar com a recordao e

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    lembre-se de tudo vivamente. Nesse estado profundo, conseguir falar mesma mas, no entanto, o nvel da sua experincia permanecer profundo, muito profundo e a experincia prosseguir. Mas agora, conforme eu fizer a contagem decrescente, foque a sua memria nos pormenores mais precisos e utilize todos os seus sentidos. Uma recordao da infncia. Cinco, quatro voc consegue recordar-se de tudo trs, concentre-se agora dois est tudo a um. Permanea a! Durante uns breves instantes, volte a experimentar isto, lembre-se. Vai poder falar e dizer-me aquilo que est a experimentar, e no entanto, ao mesmo tempo, vai poder continuar num nvel muito, muito profundo e vai prosseguir a sua experincia. Do que que se lembra? O que que lhe ocorre?

    Inverno, comeou Andra. O meu pai e eu estamos a dar um passeio perto de nossa casa. Ele convidava-me sempre para aqueles passeios de Inverno. Estamos a passear com o nosso co, um Husky, e o vento est mesmo forte. Comeou a nevar. Ns andamos a passear ali ao vento, uma coisa que eu adoro, porque aquele momento s entre mim e o meu pai, e ele tambm nunca convida mais ningum para ir com ele. Est um frio de rachar e o meu pai traz vestida aquela parka tima que ele sempre usou. A lua j subiu e o nosso co adora a neve. A voz de Andra assumiu um tom infantil e a cadncia polida da jornalista profissional foi substituda por uma pronncia carregada do Midwest. Ns caminhamos e falamos, e damos pontaps na neve. de noite. por isso que no h carros na rua e ns vamos pelo meio da estrada. Os candeeiros so aqueles candeeiros antigos com aqueles globos grandes. maravilhoso. como se o mundo tivesse parado e s existssemos o meu pai e eu. Um sorriso enorme espelhou-se na sua cara, que parecia mais suave e mais vulnervel.

    Consegue ver-se a si prpria? perguntei. Qual o seu aspecto? Como que est vestida?

    Estava com um corte de cabelo horrvel, observou. Parecia um pouco surpreendida.

    Que idade tem? perguntei, numa tentativa de a fixar na cena. Tenho oito anos.

    E tambm tem um casaco vestido, claro.No consigo ver a cor do casaco, respondeu algo hesitante. No sei dizer.

    Tenho um cachecol posto, umas luvas de l que cobrem separadamente os dedos e o polegar e botas, mas os meus ps no esto quentes.

    E o casaco do seu pai? Como que ? uma parka encarnada e tem um forro branco de l. Ele comprou-a em

    Chicago e no Inverno o que ele usa sempre. Tem um capuz forrado a pele. E o mesmo que o meu pai usa sempre.

    Ento esse momento parece ser uma ocasio muito feliz para si, com o seu pai e o seu co, num ambiente de tanta paz.

    Reparei numas lgrimas nos cantos dos seus olhos. H alguma tristeza nesta memria?

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 18

    Andra sacudiu a cabea, dizendo que no. s felicidade?Sorrindo, explicou: que isto faz-me querer voltar a ser pequena.

    Neste momento, isso possvel, expliquei. Experimente. algo muito real; voc pode estar a na neve. Se quiser, pode at ouvir o som da neve a ser pisada e ver o seu co a brincar na neve, a adorar.

    Pode sentir tudo isso, sem se sentir desconfortvel. Queria que Andra experimentasse plenamente aquela memria maravilhosa da sua infncia, queria que ela usasse todos os seus sentidos e experimentasse todos os seus sentimentos.

    Ns nunca voltvamos cedo para casa, continuou. Dvamos sempre uns passeios enormes. Ele nunca nunca havia pressa. Vamos pela estrada fora, mas depois eu no consigo ver para onde que estamos a ir, mas voltamos sempre ao mesmo stio e depois vamos para casa. A minha me tem chocolate quente nossa espera. Um outro sorriso radiante suavizou as suas faces.

    Ganhei conscincia do zumbido das cmaras de televiso. Decidi sumariar a experincia e avanar para nveis ainda mais profundos. Devido s limitaes no tempo com as filmagens, tinha de ser mais diretivo do que costumo ser com um paciente no meu consultrio, no estabelecimento de ligaes e no processo de interpretao. Tambm me preocupava o fato de haver mais pessoas na sala que no deviam ter acesso a informao pessoal; por isso, deixei Andra experimentar certas memrias em silncio. Acrescia ainda o fato de pretendermos que esta sesso fosse uma demonstrao e no uma sesso teraputica.

    Isso timo. Aquilo que gostava que fizesse era que recordasse o amor e o carinho existentes neste momento, entre si e o seu pai, e entre si e a sua me. Porque o fato de ela estar vossa espera com chocolate quente tambm um gesto de grande compaixo e de amor. Isso so recordaes fantsticas de amor, da juventude, de compaixo, do seu pai, da sua me, da grande proximidade que sentia em relao ao seu pai, desses passeios especiais. Por isso, mesmo quando acordar, vai recordar-se do amor, da compaixo, da ternura. uma memria extraordinria e vai poder lev-la de volta consigo a bondade, a felicidade, a alegria, e mesmo com o co, tudo, a felicidade que permeia tudo isso. suposto a vida ser isso mesmo. Existem tantas oportunidades de amar, de sentirmos compaixo. Tudo pode ser to simples um passeio com o seu pai; no preciso serem coisas caras. Um passeio com o seu pai numa noite de Inverno, com o seu co, e a sua me vossa espera com chocolate quente. Voc vai recordar-se disto, mesmo depois de acordar. E agora est pronta para ir ainda mais para trs?

    Sim, respondeu sem qualquer hesitao. Andra tinha sentido a doura e a intensidade daquelas recordaes e agora apetecia-lhe mais.

    timo. Agora flutue acima dessa memria. Flutue por cima, sinta-se livre, to leve, a flutuar por cima, a deixar esse tempo para trs, a deixar essa

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 19

    memria desvanecer-se. Agora vamos ainda mais para trs, para antes de nascer, na barriga da sua me, no tero da sua me. Mais uma vez, vou fazer uma contagem decrescente, de cinco para um, e seja o que for que lhe ocorra, seja o que for que venha sua conscincia, no h problema nenhum. No faa nenhum julgamento, nem critique ou analise; limite-se a experimentar. Tudo isto feito apenas pela experincia. Quando eu chegar a um, esteja nesse ponto, antes de ter nascido, no tero da sua me, e veja se sente algum dos seus sentidos, quaisquer sentimentos, pensamentos, sensaes, quer a nvel fsico, emocional, ou at espiritual. Talvez possa descobrir o motivo que a levou a escolher esta vida e estes pais. Seja o que for que lhe ocorra, no h problema nenhum. Voc pode ganhar conscincia de acontecimentos exteriores ao corpo da sua me. Por vezes isso tambm acontece. No importa. Aquilo que experimentar est bem. Estamos entendidos?

    Andra assentiu lentamente com um movimento da cabea. timo. Agora inspire profundamente e mergulhe ainda mais fundo, naquele nvel muito, muito profundo. Enquanto eu contar de cinco at um, vamos regressar ao tempo em que ainda no tinha nascido, nesta vida, ao tempo em que se encontrava no tero da sua me. Vamos ver aquilo de que capaz de se recordar e de experimentar. Cinco, voc pode lembrar-se de tudo quatro, voltar atrs, quando ainda no tinha nascido, no tero da sua me, na barriga da sua me trs, seja o que for que volte sua conscincia est bem dois, est a comear a ficar ntido um. Permanecer a. Agora deixe-se estar um bocado nesse ambiente, a ganhar conscincia de tudo das sensaes, fsicas, emocionais, espirituais quaisquer impresses ou pensamentos. Por vezes, como esto to intimamente ligadas, voc pode mesmo ganhar conscincia dos sentimentos ou dos pensamentos da sua me. Ou at do seu pai, que est to prximo. Deixe-se estar um bocado a experimentar isso, a voltar a experimentar tudo isso. Mais uma vez, vai poder falar e, mesmo assim, poder manter-se num nvel bastante profundo e sem deixar de experimentar.

    Est a ganhar conscincia de qu? perguntei.

    Andra reagiu com um sorriso rpido, e eu soube logo que ela tinha tido sucesso a fazer a ponte sobre uma srie de anos. Tinha emergido nos primrdios da sua vida presente.

    A minha me est mesmo contente, disse ela. O sorriso no esmorecia.

    timo, timo, respondi, aliviado com o fato de ela se recordar de algo verdadeiramente importante. As cmaras continuavam a gravar tudo. Consegue sentir a felicidade dela?

    Ela assentiu de novo com um movimento da cabea.timo. Ento voc mesmo uma criana desejada. Isso importante. Mais

    alguma coisa? Consegue ter conscincia de mais alguma coisa? Como que se sente?

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 20

    No sei dizer.No tem mais nenhumas impresses, sensaes?A minha me est com um corte de cabelo ridculo. Andra era capaz de

    observar e avaliar um corte de cabelo mesmo antes de nascer.Sim, voc pode ver isso. Como que descreveria o corte de cabelo?

    Ridculo porqu?Parece que foi ela que pegou numa navalha e que cortou o cabelo a si

    prpria. Est muito curto. O meu pai gosta daquele corte. Ela tambm tinha conscincia dos sentimentos do pai, daquilo que ele gostava e do que no gostava.

    Ele gosta do cabelo assim, do cabelo curto? Sim. Ele mesmo bonito, acrescentou.

    Tambm consegue v-lo, com um ar mais jovem? timo. Fico muito contente por voc ser uma criana desejada; eles esto felizes. um bom ambiente de chegada.

    Eles esto muito excitados. Andra estava contente por estar naquele stio, por poder apreciar mais uma vez aqueles sentimentos maravilhosos. No estava minimamente preocupada com o fato de o tempo estar a passar, ou de a gravao continuar a decorrer.

    timo. Ento vamos atravessar o processo do nascimento. Vou contar at trs, e sem qualquer dor ou desconforto, vamos observar, vamos ver aquilo que lhe vem conscincia ao recordar a experincia do parto. Quando eu contar at trs, mas sem dor ou desconforto. Um, dois, trs. Avance. Seja o que for que lhe ocorra, no h problema nenhum. O que que est a experimentar?

    Andra permaneceu em silncio durante dez ou quinze segundos. Por fim, respondeu.

    Stios escuros.Como que se sente agora? Eu no sabia onde que ela estava, no sabia

    o que significavam aqueles stios escuros.Com se a coisa ainda no tivesse acabado, explicou. Agora eu j

    compreendia.Sim, ainda no acabou de nascer. Muito bem, vamos passar por isso, sem

    dor, sem desconforto. Passe para o outro lado, acabe de nascer. A minha me no fez nenhuma anestesia. Ela no fez. Eu sa toda cor-de-rosa. Isto era uma observao curiosa para uma recm-nascida. Cor-de-rosa, claro. E voc est?

    Estou a chorar, mas estou bem. A minha me est bem. Ela no quis fazer anestesia?

    Ela recusou. No queria que eu nascesse azul como os outros bebs. Por vezes, o anestsico administrado durante o trabalho de parto pode afetar o beb.

    Compreendo. E voc no ficou azul; nasceu muito rosadinha, bem desperta e a chorar. E agora, consegue v-la? O que que est a ver? Andra comeou a rir gargalhada e foi atravessada pelas convulses de um riso divertido. Esto todos

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 21

    contentes. Puseram-na num quarto com outras mes. O meu pai mdico, mas no a puseram num quarto s para ela. Havia alguma ironia na sua observao.

    L fora o cu est azul, acrescentou. Est um belo dia de sol. Est consciente de muitas coisas, observei. De muitos pormenores. Levaram-na sua me? Foi assim que se passou?

    Eu estava nos braos dela. Eu no saio dos braos dela.Ento essa a parte de que se lembra, a parte com a sua me. Ela est a ser

    tima, no?Ela est divertida. Est magra. Ela no engordou quase nada. Andra

    prestava muita ateno s caractersticas fsicas, como por exemplo, o corte de cabelo e o peso.

    Mas voc est bem? perguntei.Estou tima, disse ela, tranqilizando-me.Essa uma boa recordao. Voc est consciente de imensos pormenores.

    Deixe tudo isso penetrar bem em si, estar nos braos da sua me, o aspecto dela com o corte de cabelo curto, e tudo o mais. Ela no ganhou peso e voc est contente por ali estar. timo.

    O meu pai est muito orgulhoso e no se cala. Ele anda a maar toda a gente.

    Ele est a trazer pessoas para a verem?Ele no pra com aquilo. Est a ser um maador. Est a chamar as pessoas

    todas no hospital para me virem ver a uma janela. Que grande maador. Ele to engraado.

    Ele mantem uma ligao muito forte consigo, desde o primeiro dia, observei, lembrando-me da sua relao terna nos passeios que iriam dar oito anos mais tarde. terno e s vezes pode ser um bocado maador. Muito bem. Mais uma vez, voc vai recordar tudo isto, mesmo depois de acordar. Eu sei que h muitos mais pormenores. Agora no precisa de contar-me todos esse pormenores. Voc pode ver muito mais, pode tomar conscincia de muitas outras coisas e poderia descrever muitas coisas mais. Tudo as cores, o exterior, a sala, os outros bebs, aquilo que o seu pai traz vestido, o aspecto dele a cena completa. Tome conscincia disso. Deixe-se embeber no amor daquele momento, mesmo que seja maador; tudo isso amor e isso excelente. Ele manteve esse amor; isso foi fantstico. Na vossa relao h muita felicidade e alegria. maravilhoso sermos acolhidos neste mundo dessa maneira, sendo desejados, em alegria, com felicidade, com amor. Vai recordar-se de mais pormenores. Deixe-se embeber neles, nesses pormenores todos, da sala, do tamanho da sala, do modo como estava decorada. Mas o mais importante de tudo, o amor.

    A cara de Andra ensombrou-se. A senhora na cama ao lado da minha me o marido dela acabou de entrar. Ela acabou de ter um beb e ele quer ter relaes sexuais com ela.

    Naquele quarto? perguntei algo surpreendido com a nitidez daquela recordao to desagradvel.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 22

    Sim, e ela diz que no. Ele no muito agradvel. A minha me no est contente.

    Ela sabia o que se estava a passar?Sim, havia cortinas entre as camas, mas aquele homem muito ordinrio.Mas a esposa recusou.Claro ela acabou de ter um beb! explicou de um modo enftico. Eu

    sei.A minha me no est contente, repetiu. Ele vai-se embora?No.Seguiram-se uns momentos de silncio. Eu preenchi o vazio.Ele no uma pessoa muito compreensiva. Voc pode ver que a

    famlia em que nasceu no s muito mais compreensiva, como as perspectivas para si so muito maiores, pode-se esperar tanto, h muita compaixo, existe compreenso.

    O meu pescoo est pesado, exclamou Andra enquanto a cabea descaa no brao do sof. Eu podia ouvir a movimentao dos equipamentos minha volta para se ajustarem nova posio de Andra.

    timo. Agora est mais confortvel. Est pronta para abandonar esta cena? Ela no respondeu e, por isso, deixei-a ficar mais uns momentos.

    Ou quer ficar aqui mais um bocado? Porque que no fica e vai mesmo mais fundo? Respire profundamente. O pescoo agora est perfeito. Nessa posio, vai poder descansar e ficar muito cmoda, e vai poder focar-se na felicidade e em quaisquer pormenores que lhe surjam, como por exemplo, a pessoa na outra cama. No deixe que isso a afete de um modo negativo. No era a sua famlia. Experimente agora um pouco mais e veja a ligao com aquele perodo, quando era mais velha, a dar passeios na neve.

    Decidi fazer algumas ligaes para ela.O pai orgulhoso, o seu pai, to cheio de orgulho quando voc nasceu, e

    depois aqueles passeios no Inverno. Tudo isso faz parte do mesmo amor, da mesma ligao. Que diferena fazem sete ou oito anos? No tm qualquer significado. O amor nunca acaba; para sempre. Veja as ligaes e deixe-se ficar um bocado nesse estado, porque um estado timo para se deixar estar, com recordaes felizes. Foi capaz de transportar consigo esse amor mesmo antes de nascer, porque estava consciente, mesmo antes de nascer, da presena desse amor, da alegria da sua me, da felicidade do seu pai. Agora pode ver as ligaes em toda a sua vida, e consegue trazer esse amor consigo; no se limita a receb-lo, capaz de devolv-lo aos outros, a todas as pessoas que ama. Andra sorria de novo e deixava-se embeber naqueles pensamentos.

    Portanto, isto no s foi uma sorte, como isto foi algo que conquistou para si, algo que voc merece, e no h nada mais importante que o amor. Agora estamos preparados para ir ainda mais para trs. Est tudo bem consigo? Andra concordou.

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  • A Divina Sabedoria dos Mestres 23

    timo. Agora flutue por cima desta cena, deixe o hospital e o berrio, flutue por cima disso e deixe essa cena desaparecer suavemente. Imagine que est frente de uma porta maravilhosa. uma porta que d para as vidas passadas ou para estados espirituais. Estes tambm so muito importantes e podem fazer incidir alguma luz sobre as razes da existncia de tanto amor na sua vida atual, ou sobre uma pessoa em particular, ou quaisquer sintomas, ou ainda sobre qualquer coisa em que se concentre. Quando atravessar a porta, medida que eu fizer a contagem decrescente de cinco para um, ver uma luz lindssima do outro lado da porta.

    J consigo v-la atravs das frinchas, comentou Andra. O seu nvel de transe era extremamente profundo.

    J consegue ver a luz? timo. Ento, vamos atravessar a porta e vamos deparar-nos com uma cena. A cena poder ser uma cena dos tempos antigos; poder ser uma cena de uma vida anterior. Entre na cena, adira, atravesse a porta e caminhe em direo luz enquanto eu fao a contagem. Cinco, a porta abre-se. Ela puxa-a, voc sente-se atrada. Do outro lado da porta h algo para voc aprender. Quatro, voc atravessa a porta e penetra na luz. Trs, ao entrar na luz, apercebe-se de uma cena, ou de uma pessoa, uma figura que est do outro lado da luz. Concentre-se completamente quando eu proferir o nmero dois. Dois, j est concentrada; agora j pode lembrar-se de tudo. Um. Permanea a! Se der por si dentro de um corpo, olhe para os seus ps e veja o tipo de calado que tem calado, se so sapatos, sandlias ou botas, ou peles, ou se est descala. Olhe para as suas roupas, preste ateno aos pormenores. Sinta as texturas; no se trata apenas de ver, trata-se tambm de sentir. Qualquer um dos seus sentidos.

    Estou calada com botas de homem, reparou. Botas de homem? repeti.Eu no tenho outras. Mas no sou um homem, sou uma menina. Mas no

    tenho botas de menina porque no temos dinheiro para comprar umas.No tm dinheiro e, por isso, anda com botas de homem? Botas de rapaz,

    corrigiu. Tm uma biqueira redonda e eu estou assim meio envergonhada, porque no era suposto eu andar com umas botas daquelas.

    Por serem de rapaz?Sim, das raparigas quer dizer, eu devia ter uma botas de rapariga, s

    queEnto e o resto das roupas?Estou de saias compridas que quase tocam no cho. So encarnadas e tm um

    avental na frente, ou um bordado; tm qualquer coisa na frente. como se tivesse uma pea de tecido extra. Estou com um gorro na cabea. Enquanto perscrutava as roupas, os seus olhos tremelicavam sob as plpebras fechadas.

    Um gorro? Muito bem. E que idade tem? Nove ou dez.Muito bem. H mais algum sua volta? Est consciente da presena de mais

    algum? Uma casa? Eu queria descobrir mais pormenores daquele momento.Uma cabana feita de torres. Vivemos algures na pradaria. No vejo a casa de

    mais ningum. s a nossa casa. E as minhas botas so do tenho um irmo mais velho, e as botas so dele. So essas botas que eu tenho caladas. uma pradaria

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 24

    algures. no Oeste, mas no o Oeste das Montanhas Rochosas. Estamos na pradaria. Somos agricultores. Andra estava a recordar-se de uma vida anterior no Midwest americano.

    Era uma vida dura, acrescentei.Temos uma vaca, e temos um jardim. Tambm h um poo e a casa mesmo

    simples.timo. Agora eu quero que tambm tome conscincia dos seus pais, no

    apenas do seu irmo. Vou contar at trs. Veja toda a famlia que vive consigo. Um, dois, trs. A famlia toda, talvez hora de jantar, em qualquer altura. Ganhe agora conscincia de todos os outros.

    Estamos todos c fora, como se fossemos tirar uma fotografia. Estamos todos, sim, estamos todos em p como se fosse para uma fotografia.

    timo. Ento assim j os pode ver.S que a minha me e o meu pai so os mesmos. Tm os mesmos olhos.

    Normalmente reencarnamos em relaes diferentes, mas aparentemente, nesta sua vida na pradaria, os pais de Andra eram os mesmos da sua vida presente.

    Por vezes as coisas funcionam assim. Voltamos uma e outra vez com as pessoas que amamos. Muitas vezes assim que as coisas funcionam. O seu irmo, consegue v-lo?

    S tenho um irmo, e mais novo. Mas acho que no o conheo. No o reconhece?

    Eu nem sequer consigo ver a cara dele, explicou Andra.Mas as botas que tem caladas so dele? Estava um bocado confuso porque

    eu pensava que ela tinha dito que as botas eram do irmo mais velho.No. Eu tinha um outro irmo, mas ele no est l. Aquele no o irmo

    certo.Das botas? perguntei, espera de clarificao.Sim, no o irmo das botas. Eu fiquei com as botas do meu irmo, mas ele

    no est l.Mas ele est bem? inquiri. Comecei a pressentir um problema. Acho que ele

    no est bem. Ningum diz nada.Decidi aprofundar mais esta questo. Vamos descobrir o que se passou. Vou

    tocar-lhe na testa e fazer uma contagem decrescente, de trs at um, para descobrirmos aquilo que aconteceu ao seu irmo mais velho. Trs, dois, um. Agora j se pode lembrar.

    O toque ajuda a aprofundar ainda mais o nvel hipntico, aumentando o poder evocativo da memria.

    Ele levou um tiro, lembrou-se ela de repente. Levou um tiro?Estou to triste! Comeou a soluar, e o corpo dela estremecia com a

    recordao daquela emoo trgica.Eu sei. Est tudo bem. Foi um acidente?Acho que no. Penso que no foi um acidente. O soluar j no era to forte.No. E tem saudades dele.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 25

    O meu irmo mais novo no se lembra dele. O choro parou enquanto ela observava este pormenor.

    E isso passou-se h pouco tempo? Aconteceu quando ele era beb.Quando o seu irmo mais novo era beb. Est tudo bem. Mas voc era mais

    velha; voc lembra-se. Vamos voltar ao tempo antes de ele levar um tiro, para que possa v-lo e descobri-lo. Pode recordar-se, est tudo bem. Isto aconteceu h muito tempo. Quando eu contar at trs, volte atrs, ao tempo antes de ele levar um tiro, para poder lembrar-se dele. Vamos para trs no tempo um, antes de ele levar um tiro dois, o seu irmo mais velho trs, antes de ele levar um tiro, agora. Pode recordar-se.

    O meu Deus, o John. o meu irmo, John! Andra tinha descoberto que o irmo dela mais velho, naquela vida anterior, tinha regressado na sua vida presente como o seu irmo John. Ela ainda estava muito triste, mas agora eu j podia ajuda-la a curar o desgosto. Agora j sabe. E est tudo bem porque ele regressou como o John. J no precisa de estar mais triste. Pode ver as ligaes e pode ver que ele est bem. Est timo. Na altura voc teve imensas saudades dele e isso explica muito a sua relao com o seu irmo, John.

    Na realidade, eu no fazia a menor idia sobre a relao da Andra com o irmo John, mas perante a poderosa reao emocional face sua morte na vida anterior dos dois, assumi que uma srie de padres e efeitos duradouros teriam emergido na sua relao na vida presente. Alguma vez teve medo de perd-lo?

    Ele esteve doente quando era beb. O que que aconteceu?Ele nasceu prematuro. Antes de si?Depois de mim.Depois de si. Andra parecia estar prestes a rebentar em lgrimas. Est

    tudo bem. Agora est tudo bem. Agora h uma srie de coisas que comeam a fazer sentido na sua vida, em relao ao John. O que que est a sentir agora? De que que se lembra?

    Ainda estou triste.Decidi avanar um pouco mais naquela vida.Vamos avanar na vida daquela rapariga. Vamos avanar na sua vida. J

    passou imenso tempo desde o momento em que ele morreu; depois disso. Vamos para um outro acontecimento importante na vida dela. Ela est mais velha; tudo se passa depois do irmo ter morrido. A face dela iluminou-se quase instantaneamente.

    Agora eu sei disparar pistolas, proclamou ela orgulhosamente. A disposio de Andra tinha-se alterado completamente.

    Agora sabe disparar pistolas? repeti.Sou mesmo boa. Sou uma boa praticante de tiro ao alvo. Consigo ganhar a

    todos os rapazes. E j tenho outros sapatos.Esses agora j so seus?Os rapazes fazem-se todos engraados. Acham graa ao fato de eu saber

    disparar uma pistola.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 26

    J no est to isolada? inquiri.No, agora h mais casas nossa volta. No so muitas, mas h uma estrada,

    e h pessoas que vo e que vm. Estou mais velha. divertido.Estas memrias agora so mais felizes: os rapazes a fazerem-se engraados,

    a sua habilidade com o gatilho. Eu queria que ela permanecesse um bocado naquela cena, naquele ambiente feliz.

    Eles metem-se comigo mas, no fundo, eles admiram-me, acrescentou.Consegue ver-se a si prpria, consegue ver como era? Deve ter sido muito

    bonita, com tantos rapazes sua volta.Cabelo castanho, todo aos caracis, at aos ombros. Tenho uma fita azul a

    prender o cabelo, um azul plido e tenho uma saia estampada, o padro parece uma flor. A minha camisa branca, ou num tom cor-de-rosa plido. uma camisa normal; no tem nada de especial. Mas eu sinto que o meu irmo no est l. Foi por isso que eu aprendi eu queria sentir a presso, a presso de ser um dos rapazes. Para ocupar o lugar dele?

    Eu queria ser capaz de tomar conta de mim prpria, esclareceu Andra.Estou a ver, e conseguiu faz-lo muito bem. Aprendeu a disparar, a

    manusear uma arma; to bem, ou melhor ainda que os rapazes. Mas ento, como que era com os rapazes? No havia nenhum que? Ela cortou a eito.

    Eles so todos feios.Ah, bom. Ento vamos avanar mais uma vez no tempo. Vou contar at trs.

    Avance para o acontecimento mais importante que se segue na sua vida, o acontecimento seguinte com alguma importncia. Um, dois, trs. Permanea a. Voc agora mais velha. O que que acontece?

    Ela tem as suas prprias terras. Estou a v-la. Agora, Andra era mais a observadora que estava a ver-se a si prpria naquela vida nas Grandes Plancies.

    timo. Pode observ-la ou pode entrar nela o que for mais confortvel para si.

    Ela vive sozinha. No se casou?Nunca encontrou ningum. Sempre se considerou boa demais para qualquer

    um daqueles rapazes. Ela no est s. Tem uma espcie de rancho e h pessoas que trabalham para ela. Elas gostam dela. Ela uma pessoa justa A voz de Andra diminuiu de intensidade enquanto observava a cena. Comecei a faz-la avanar no tempo.

    Ento ela uma pessoa muito, muito competente. Construiu o seu prprio rancho. Tem uma srie de empregados e uma pessoa extremamente capaz. Naqueles tempos, isso era muito difcil. Deve ser uma pessoa muito forte. Ento, agora vamos avanar at ao fim da sua vida, at ao seu ltimo dia, os ltimos momentos. Se isto for de algum modo incmodo, poder flutuar acima da cena, mas caso no seja, deixe-se ficar. Quando eu contar at trs, concentre-se no momento, no ltimo dia dessa vida. Um, dois, trs. Permanea a. Aproxime-se e veja o que est a acontecer. H algum ali volta?

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 27

    Andra aparentava estar muito calma. No h nada assim muito excitante; ela est em paz. Est velha. J no sobra ningum. Mas ela est bem, acrescentou Andra. Ela teve uma vida boa e no est doente. Ela est com bom aspecto; s est velha. Tem uma gola alta branca. Est ali sentada, a olhar a vastido, sentada na varanda.

    ali que ela morre? Acho que sim.Agora flutue por cima, fique a flutuar por cima. Deixe esse velho corpo. Vai

    sentir-se to leve, to livre, quando o seu esprito comear a flutuar por cima. Talvez consiga olhar para baixo e v-la, o seu corpo l em baixo. Depois, com esse sentimento de liberdade e leveza, reveja aquela vida, as lies que ela aprendeu, que voc aprendeu. O que que aprendeu? O que que ela aprendeu?

    Ela aprendeu a no ter medo de estar s. Aprendeu a tomar conta de si prpria, respondeu Andra j com uma perspectiva a partir de um ponto mais elevado.

    Sim, a ser independente, observei eu.Muito independente. Ela gostava mesmo da sua vida. As pessoas faziam

    troa dela nunca se ter casado, de nunca ter tido filhos. Ela nunca se preocupou com o que as pessoas diziam. De qualquer forma, as pessoas na comunidade gostavam dela. Mais tarde, as pessoas deixaram de fazer troa dela. Gostavam de trabalhar para ela. Ela tinha imenso gado.

    Neste estado agora, a flutuar, veja se ganha conscincia do que vem a seguir. Abandonou o seu corpo; est a flutuar. O que que acontece agora? Voc ganha conscincia de o qu?

    Estou a subir e ela est a ficar cada vez mais pequena. Eu s estou a flutuar. Estou apenas numa luz azul, a flutuar.

    timo. Sente-se bem, j no h doena, j no h velhice, voc s est a flutuar. A conscincia progride. O que que acontece a seguir? Continua a flutuar?

    No, so s uns raios de luz azul, e esto a vir por cima do lado esquerdo da minha cabea, um cone enorme de luz azul, e eu no consigo ver para alm do cone Mais uma vez, seguiu-se um longo perodo de silncio.

    H mais alguma coisa? perguntei finalmente, pretendendo saber mais sobre o cone de luz azul.

    NoTudo bem. Est pronta para regressar? Andra assentiu com um movimento

    da cabea.timo. Estabelea as ligaes antes de voltar, entre a vida dela na pradaria e

    a sua independncia e a sua vida.Com ou sem cmaras de televiso, Andra estava a aprender lies

    importantes. Todos os novos dados foram processados suavemente. Depois ela sorriu.

    Eu gostei mesmo dela.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 28

    Isso timo. Voc tem muita da fora dela, conseguiu transportar isso consigo. Isso muito bom. E voc tambm sabe que o seu irmo regressou. Por isso, a morte no aquilo que aparenta ser. As pessoas sempre regressam.

    Eu tive tantas saudades dele. Um novo esgar de tristeza cruzou-lhe a cara.Eu sei, respondi. Mas mesmo assim ela tornou-se uma mulher muito forte

    e independente. As relaes e a independncia so muito importantes quando so equilibradas. E ele est de volta! Mas desta vez, apesar da vida dele ter estado por um triz, quando ele nasceu, ele sobreviveu. Por isso, voltaram a juntar-se. assim que as almas trabalham; assim que funciona o amor. Estamos sempre a voltar a reunir-nos. Por isso, liberte-se da tristeza ou do medo de perder algum assim. Voltamos sempre juntos, uma e outra vez. Lembre-se tambm do amor e do orgulho maador do seu pai, do amor da sua me, ambos voltaram de novo a esta vida consigo, e todo o reconhecimento que houve. Eles tambm estavam na pradaria. A alegria na neve, com o co, o seu pai e a sua parka. Todo esse amor que conseguiu transportar para esta vida, onde conseguiu desenvolver as suas relaes, mantendo a independncia, a fora e o amor, tudo isso em equilbrio. Conseguiu tudo isso, num grande equilbrio. Isso maravilhoso. Por isso, sentindo a fora e independncia dela, juntamente com a sua capacidade de estabelecer boas relaes, traga de volta consigo todo esse sentimento e esse pensamento positivo.

    Naquele momento, depois de digerir toda esta informao e de experimentar tantas emoes, Andra parecia fatigada. Decidi acord-la. J tinha aprendido o bastante para um dia.

    Dentro de uns instantes irei acord-la fazendo presso para cima, na testa, num ponto entre as suas sobrancelhas. Quando eu pressionar para cima, pode abrir os seus olhos. Nesse momento, vai acordar. Estar desperta, e absolutamente em controlo do corpo e da mente, sentindo-se muito bem, mais leve, como se lhe tivesse sado um carga de cima dos ombros; porque a tristeza de ter perdido o seu irmo naquela vida j se apagou. Voc sabe que ele voltou. E vai sentir-se em paz, relaxada e absolutamente em controlo. Quando eu carregar para cima, fique completamente acordada. Pressionei a testa de Andra e ela acordou lentamente.

    Calmamente, volte at ns. Voc portou-se muito bem. Como que se sente?

    Exausta.Exausta, repeti, revelando empatia com ela. Apercebi-me ento que

    tambm estava cansado; tinha estado fortemente concentrado. Isto intenso. Uma autntica canseira. Era isto que estava espera?

    Eu no sabia o que havia de esperar. O que eu no esperava era ver o meu irmo. Pensei que pudesse ver uma das minhas filhas, mas no vi. Senti-me ser puxada para um outro tempo, para uma vida diferente, mas no consegui l chegar, no consegui chegar l. Conseguia ver onde estava, mas no consegui l chegar.

    Um terceiro ponto?Sim, no consegui l chegar. Sabe em que altura era isso?

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 29

    No. Era antes da vida na pradaria, mas eu no consegui l chegar. Era como se houvesse uma corrente de luz azul, mas era um cone e acabava ali. Como o primeiro, que me rodeava completamente e, de repente, vi os ps. Este era eu podia ver o extremo da luz e era capaz de dizer onde que acabava. No exterior estava escuro. Era como se algum tivesse pegado num cone e o tivesse colocado por cima de mim. Aquilo acabava e era como se a coisa estivesse ali mesmo.

    Aparentemente, Andra tinha tido um relance de uma outra vida passada, talvez uma vida com a sua filha, mas no tinha conseguido navegar para alm da luz azul brilhante.

    Foi para que soubesse que isso est l, mas no era para agora. Isso est perfeito. Isso est l, e voc tambm fez ligaes com as suas filhas. Tenho a certeza disso. Mas encontrou o seu irmo e no era disso que estava espera. Isso uma caracterstica deste processo; nem sempre encontramos aquilo de que estvamos espera. Foi uma surpresa. Mas parece-me que houve alguma tristeza.

    Andra concordou imediatamente. Foi mesmo uma surpresa, porque a nossa vida presente to feliz. O meu irmo e eu somos muito prximos um do outro, mas de entre todos ns, ele foi o nico que esteve muito doente logo a seguir ao parto. Eu no estava espera de ver a cara dele.

    E a intensidade da emoo muito poderosa, porque uma coisa que est ali mesmo, to real. Voc podia sentir a tristeza, podia sentir a separao. Mas nesta vida, quando tinha sete ou oito anos, sentiu tambm a emoo positiva de passear com o seu pai, o que foi muito Foi uma memria fantstica, interrompeu ela.

    Sim, isso so memrias fantsticas, concordei. Os olhos de Andra pareceram brilhar enquanto ela recordava de novo a cena da sua infncia.

    Eu sentia o vento na minha cara. Pude lembrar-me dos flocos de neve. Estava a ver tudo. Pude ver cada curva da estrada, e aqueles candeeiros; eu j me tinha esquecido deles, disse com algum espanto.

    Eu penso que nos lembramos de tudo, acrescentei, e, por isso, esta uma maneira de recordarmos esse tipo de pormenores, por exemplo, aquele sentimento em relao aos flocos de neve, curva da estrada, aos ps frios. Todos esses sentimentos. Vai para alm das emoes so tambm as sensaes fsicas.

    Ento, vou lembrar-me de tudo aquilo de que eu falei? E mais ainda?Claro. Vai lembrar-se de mais coisas. Por exemplo, eu deixei-a ficar em

    silncio quando estava a recordar-se do seu nascimento. Eu no conseguia sair, recordou Andra. Estava escuro e era uma tnel comprido; eu no conseguia sair de dentro da minha me.

    Voc estava a demorar-se mais; Eu pensei que j estava c fora. A escurido que viu era isso. Ainda no tinha nascido. Mas lembrou-se de um homem que chegou e queria ter relaes sexuais com a esposa, na cama ao lado, e ela tinha acabado de ter uma criana. Essa experincia tambm estava bem marcada e, no entanto, voc nem sequer tinha nascido. Isso tambm foi interessante, ter tido esse tipo de memria to pormenorizada.

    A minha me no estava nada contente, repetiu Andra. Eu sei.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 30

    Ela virou-se para o outro lado. Ela virou-me. Mesmo agora, Andra estava a recordar-se de mais pormenores. Apesar de estar acordada, ela ainda era capaz de se recordar da cena no hospital.

    Se ela tivesse mais foras, provavelmente tinha sado do quarto, acrescentei.

    Andra voltou ao tempo presente.H alguma norma para a primeira vez, perguntou Andra, regressando ao

    seu papel de reprter.Talvez cinqenta por cento das pessoas consigam ter uma recordao. Mas

    as suas recordaes foram muito ntidas e bastante intensas para uma primeira vez. As probabilidades de isso acontecer devem situar-se mais na casa dos quinze, vinte por cento. Sim, creio que s quinze por cento das pessoas conseguem isso primeira. Consigo, esta tcnica pode funcionar em vrios nveis diferentes; no s ao nvel das memrias. Voc pode aprender a controlar o seu corpo. Por exemplo, se precisssemos de baixar a sua tenso arterial, provavelmente poderamos faz-lo deste modo, sem termos de recorrer a medicamentos. Adormecer assim de repente, disse eu, estalando os dedos. Voc podia partir assim. Podemos utilizar esta tcnica por razes fsicas, em questes de sade. Se sofresse de fobias, podamos descobrir as causas e livramo-nos delas.

    Houve alguns stios para onde viajei que sempre pensei que j l tinha estado. O Oeste um deles; a Rssia outro.

    Mesmo depois de desligarem as cmaras, quando j tinha acabado a gravao, Andra permaneceu num estado de calma, absorta nas suas experincias durante a regresso.

    Ele foi morto por uma espingarda, acrescentou. Foi uma espingarda, no foi uma pistola.

    Ela estava a acrescentar pormenores. As pessoas que fazem regresso ganham conscincia de centenas de pormenores, muito mais pormenores do que os que revelam quando so questionadas em imerso no estado de transe, a recordar a infncia ou as experincias de vidas passadas. Ela continuava a refletir e a recordar.

    Quando nasceu, o John teve ictercia. As enfermeiras vieram busc-lo para os tratamentos e a minha me disse, Provavelmente nunca mais o vou ver. Se calhar, vai morrer.

    Ao entregar a criana recm nascida s enfermeiras, a me dela estava a desligar-se do seu filho, preparando-se para a sua morte. Apesar do seu grande amor pelo filho, mesmo depois de John recuperar a sade, ela continuou a manter uma certa reserva nas suas emoes. De um certo modo, ela estava sempre a antecipar a morte do seu filho.

    Nestes casos de ictercia em recm-nascidos, que bastante comum, verifica-se um aumento da bilirrubina do fgado, que provoca a ictercia, cujos sintomas so um amarelecimento da pele. Normalmente suficiente expor as crianas luz natural ou debaixo de lmpadas com uma determinada freqncia de luz, para fazer baixar o excesso de bilirrubina e restituir a cor normal pele. medida que o fgado

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 31

    amadurece, a ictercia fica completamente curada. O processo de cura completa pode variar entre dois, trs dias a uma semana ou duas.

    A reao da me de Andra ictercia do filho teve o seu qu de exagero. Como esposa de um mdico, ela j devia saber que a vida do filho no corria perigo nenhum. Segundo Andra, John sempre teve conscincia deste distanciamento da me, apesar de no compreender o motivo que a levava a manter um certo distanciamento.

    Consegue ver a ligao? perguntei a Andra. A sua me tambm foi a me do John naquela vida na pradaria, no sculo passado. Nessa vida ele foi morto. Ela perdeu o filho. Quando ele regressou de novo, nesta vida, e apanhou ictercia, ela recordou-se da perda anterior. Muito provavelmente ela no tinha uma memria consciente, mas ao nvel da emoo, de uma forma subconsciente, lembrava-se completamente. Para se proteger, criou ento aquele distanciamento. Ela no ia agentar perd-lo outra vez. Estava convencida que ele era muito frgil e que, como da outra vez, ia deix-la de novo.

    Andra estava pronta para explodir, to excitada ela estava. A regresso tinha esclarecido a relao da me com o irmo mais novo.

    Finalmente era capaz de compreender as razes profundas do comportamento da me e da reao do irmo barreira de proteo que a me tinha erigido para o caso de voltar a perd-lo. Andra queria explicar-lhes tudo.

    Entre todas as regresses que facilitei e estudei, a de Andra foi uma regresso clssica, cheia de memrias que curam, de emoes intensas e de recordaes muito ntidas dos pormenores. Acrescia ainda o fato de ela ter uma enorme capacidade, a nvel consciente, de aprender as lies das suas vidas passadas e de estabelecer a ligao com as lies na vida presente.

    Aquela sesso nunca foi transmitida. Um diretor da cadeia televisiva teve receio, como a pea era to vvida e emocional, que a emisso da sesso pudesse comprometer a credibilidade de Andra e, de algum modo, pudesse pr em causa a sua objetividade como reprter.

    Deste modo, houve milhes de pessoas que foram privadas da possibilidade de aprender algo mais sobre a natureza da vida, sobre o modo como todos ns estamos ligados, como somos responsveis uns pelos outros, sobre os horrores e a devastao a que a mortandade da origem, e o modo como a violncia transborda para vidas subseqentes.

    Depois de fazer a ligao entre a morte do seu irmo no passado e os receios da me na vida presente, Andra ficou em silncio. Eu podia aperceber-me que ela ainda estava a contemplar, a experimentar todos os sentimentos intensos que a regresso tinha feito disparar. Calei-me tambm um pouco. Aquele momento era um momento privado e eu no queria continuar a interrog-la frente dos seus colegas da televiso. Muito freqentemente, estas experincias podem assumir uma grande intensidade e transcendncia tornando-se demasiado pessoais para partilhar por isso deixei-me estar s a olhar para a sua cara radiante.

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 32

    Sentia uma grande compaixo por aquela pessoa ali ao meu lado, e o meu corao estava mais elevado. A minha conscincia comeou a mudar. Aquela sala cheia de gente e abafada comeou a desvanecer-se. Deixei de ouvir o rudo do trnsito, das sirenes, e o barulho de fundo constante das vozes das pessoas cessou por completo. Ganhei conscincia de uma luz maravilhosa na periferia da minha viso. Nos limites da minha mente, no limiar extremo da minha conscincia, ouvi uma voz sussurrar. Creio que era um Mestre:

    Quando olhas para outra pessoa, numa relao, numa terapia, na vida, considera a sua alma nas suas mltiplas passagens pela vida no decorrer dos sculos. No olhes apenas para a entidade fsica e transitria tua frente, pois tu tambm s uma alma assim.

    A voz falou suavemente e com profunda compaixo. Aquilo era um conselho, no era uma crtica.

    Voltei a olhar para Andra, vendo-a no s a ela, mas tambm a rapariga da pradaria. Sabia que ela tinha tido muitas outras vidas, muitos outros nomes. Mas a alma dela era sempre a mesma. Eu precisava de olhar para essa parte das pessoas, aquilo que permanece constante as suas almas no as suas formas fsicas transitrias, para poder compreend-las realmente, para as poder ajudar. Para as ajudar e para me ajudar a mim prprio, porque eu tambm sou uma alma assim.

    E voc tambm .Muitos dos meus pacientes que, tal como Andra, recordaram memrias

    distantes, experimentaram uma diminuio dramtica, se no mesmo um desaparecimento dos seus sintomas crnicos.

    Por exemplo, procedi a uma regresso com uma mulher sul-americana que sofria de claustrofobia profunda, um verdadeiro pavor de ficar fechada em locais pequenos ou fechados. Este tipo de fobia afligia-a desde a infncia. Na regresso que fizemos, recordou-se dos tempos em que tinha sido enterrada viva, numa vida em que fora uma escrava egpcia, juntamente com o seu amo, um parente do fara, quando ele morreu. Era tradio enterrar alguns escravos juntamente com os nobres, para que eles os servissem na outra vida. Ao recordar-se desta memria, a claustrofobia desapareceu por completo e nunca mais regressou.

    Qual o mecanismo desta melhoria clnica?Creio que h pelo menos duas explicaes, apesar de existir certamente uma

    conjugao de outros fatores. Segundo a minha experincia, a recordao de memrias reprimidas ou de memrias esquecidas, traumticas e muitas vezes dolorosas, est freqentemente associada com a cura. A recordao desses acontecimentos e das emoes que lhes esto associadas, aquilo que em termos clnicos se designa por catarse ou ab-reao, uma pedra angular da psicanlise e de outras psicoterapias tradicionais. O simples fato de fazer regressar ao nvel da conscincia essas memrias enterradas extremamente benfico.

    A minha investigao nesta rea levou-me a concluir que a rea teraputica tem de ser ampliada; no podemos delimitar a arqueologia psquica infncia, ou

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 33

    primeira infncia. E preciso escavar tambm os padres e as memrias de vidas passadas para que ocorra a cura completa.

    A segunda razo que induz estas memrias a promoverem melhorias clnicas o fato de, ao experimentarmos estar em outros corpos, em tempos mais remotos, ao observarmos as nossas mortes e os nossos renascimentos, ficamos preenchidos com a certeza inabalvel de que somos almas eternas, e no apenas uns corpos individuais. Nunca morremos verdadeiramente; aquilo que se verifica so meras mudanas de nveis de conscincia. Como aqueles que amamos tambm so imortais, nunca nos separamos realmente. A realizao da nossa verdadeira natureza espiritual uma fora de cura poderosssima.

    Do mesmo modo que cada face dum diamante reflete a globalidade do diamante, a experincia da regresso de Andra reflete tambm os temas principais deste livro.

    Ela recordou memrias e sentimentos do estado fetal, anteriores ao seu prprio nascimento. Ganhou conscincia das emoes dos pais, demonstrando com isso que a conscincia no local, no est limitada pelos nossos corpos fsicos, nem pelo crebro. Isto significa que, quando morremos, a nossa conscincia sobrevive e continua, visto que no se baseia no lado fsico. Evidentemente, as memrias da morte em vidas passadas e daquilo que acontece depois da morte confirmam tambm a existncia contnua da conscincia. Andra, por exemplo, foi capaz de observar o corpo da velha senhora que tinha acabado de abandonar.

    Andra pde recordar acidentes que tinham ocorrido momentos antes de nascer para esta vida. Os bebs e as crianas esto conscientes de muitssimo mais do que ns imaginamos. No s esto conscientes das nossas emoes, como tm conscincia das nossas aes. O fluxo dos nossos sentimentos e dos nossos pensamentos de amor para elas, antes e depois de nascerem, alimentam as suas almas e so vitais para um desenvolvimento saudvel.

    Andra aprendeu com as memrias reconstitudas durante a regresso que os acontecimentos nas vidas passadas e na fase perinatal podem influenciar profundamente as ligaes na vida presente. Andra descobriu os pais e o irmo na sua memria de uma vida anterior. Aprendeu que estamos sempre a reunir-nos com nossos entes queridos. Por vezes, a reunio ocorre do outro lado, noutras dimenses; outras vezes, a reunio verifica-se numa vida futura em conjunto, quando regressamos Terra.

    Ela conseguiu assim discernir os valores que so importantes na vida e os valores que no tm importncia ou que podem ser mesmo prejudiciais. Ganhou conscincia da dor que as armas e a violncia podem causar. Cada vida preciosa.

    Depois da sua morte na sua vida nas Grandes Plancies, Andra descobriu um cone de uma maravilhosa luz azul. Existem inmeras descries mais adiante neste livro, assim como noutras fontes, de pessoas que se deparam com uma luz maravilhosa e preenchedora depois de abandonarem os seus corpos. Essa vivncia ocorre tambm durante EQMs (Experincias de Quase-Morte) e, aparentemente, aps a morte. Estas pessoas visionam freqentemente um ente familiar querido, ou um

    Brian Weiss

  • A Divina Sabedoria dos Mestres 34

    amigo, ou um ser espiritual que aguarda na luz para saudar as pessoas que saem do seu corpo, para lhes transmitir informaes ou mensagens importantes.

    Num captulo mais adiante iremos analisar em maior profun