brasil em tempo de cinema

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BIBLlOTEC .... 8.4.510. DE CI :-'"EMA , Jean-Claude Bernardet cm TEJ\ l PO de Ensaio Sôbre O Cinema Brasileiro de 1958 a 1966

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Autor: Jean- Claude Bernardet Primeira edição: 1967

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Page 1: Brasil Em Tempo de Cinema

BIBLlOTEC.... 8.4.510. DE CI :-'"EMA

,

Jean-ClaudeBernardet

BRA~;IL

cmTEJ\ lPO

de

Ensaio SôbreO Cinema Brasileiro

de 1958 a 1966

Page 2: Brasil Em Tempo de Cinema

MOIl:Oltltl de capa:

M"RrtJ~ !.AURnzw BEnN

,

\

Índice

Prefácio

1l"TJ.OOt;ç~O

A C\auc ~fédi. OJlw rl Consum!\'clHera a

~f cntalJ da.de ImporudClraA ;>" OCl,.''''' D.\ RULIl:W)6

C'I1CÇ ~ 'il tl FIt .;.Balt-pólpl :n Lecn H'!rt::.llW&1l

~1""GI~\~1'$ cA Gra,"" FtUd

Crianças, CallgICc rOI e OutrosAsptraç~ do Marirnl1

01ÁlOOO COM os DI'-IOE: U'O Pa, odor de Pro,,' UIU

Sol Sdõrc a LoBaua~«llQ ' Políncl deOs IMPo\$$ E$ IDA ~M'IG ItlÃDI

Btlh"la d& T~as osr~t

a.o...

,7

11

rs,."••

Page 3: Brasil Em Tempo de Cinema

PAULO E~fíuo S"Lt.~ GOM r.s

o Grande MomtntoA Faltcida

P ôrto dai CaixasA MilOloa ia de Khouri

No!te VaziaDipolaridade

Sexo, t\ bjeçlo e AnarquiaCanalha em CristS40 Paulo S/ A

Marasmo e CômO D~af/o

PerspectivasFo~MAs

DJiloso e FotografiaA Naturtu

Filmes AbenosA F6rça da Personagtm

AJ'tNDlC!S

"8691949799

101__

104iosIIIli.122133140142

'"146

-

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I

\

• Prefácio

A . nrmvs écnjcns ['~'1\ p:e,ll:':1.~~ I S51:1. Di!) osrafia 157

.ç. Filmoarafia 159

lHDJcts REMISSiVOS

Oaomútico t 71de Filmes 178

Page 4: Brasil Em Tempo de Cinema

sua mulher Lucrla Ribeiro Bernardet. Nelson pueira do~ Sa n­tos e cu próprio eslAvamO' IA • fim de dar forma c vIda ~ocurse de cinema que o Profuso: Pompeu de Sousa haViacriado como parle intcirante d. futura Faculdade de Comu­mceçãc de MasSlls. Todos nós qucrlaMM ensinar CinemaBrasileiro, o que nAo cri posslvel pois o currículo previa vã­rias oultas discIplinas. Jean.Claude conformou-se em dar au­las sõbre fil me documental mas ao mesmo tempo escolheu of Ime brasileiro conwnporlneo par. tema de sua lese de qlCS-_uedc. O Irab.lho estava nas vhpcr.s de defesa quandoocorreram os flltM que culminaram na destruição da antigaUnivemdade de Braslli• . como agora se dI: .

A lese UCt.l. cm Brasilia t o núcleo dêste livro. A amop a,io c o aprofundamento da txperitnda in telectual e hu ­man" do autor. assim como o tnriquccimtnto do cinema na­c õnal. pumitUJ;m.Jhe perspecUvolIS e prolongamentos novos.Contudo o Mio permanece o mUmo e longe ainda de ter sidougorado.

A prl!lClpaJ descoberta de Jean-Claude Bernardet nasceude duas del ereções . encarar o moduno cinema brasileiroco um todo orgln co e procurar a maiJ variada asso,.-iaçAo':':):!l u tempo ll:aclC'nal correspondente. O resnltadc !ot a re ­vt1açio. da u !5tlm de intrincados e lndiscutlveis llclmes en­ue os f es naoc ~ .. e a c1.use lliMi4 brasii'!ira . AnDI;sando

tu lo Eil s e sociais refletindo $6bre ldedogia e pcll­\1 li~nd':)-se l psic"IoQ-L,t cl.\s puJOnllgtDS das fitas ou deaut Jun·C-uuCle estA prtsaltt et, corpo inteiro. cier-(to esc o not filmes e na ~ed&de. Advtf!e o

1!1"~~ conteamos dianfe: de uma quase autobtc-~ alJlo .... ~lg~m.. da. ma"

,•

•1

-

\

Sste livro - quase uma autobiograf aé dedicado a António das Mortes.

-

Page 5: Brasil Em Tempo de Cinema

-

,

• • Introdução

Page 6: Brasil Em Tempo de Cinema

,em que êle vai dar c quando pudermos clllbor&cruma vlsAo doconjunto cultu ral c socia l cm que se Integra. liso hoje t im­possível, pois U!.jIIDN jusUlrnUll c criando tsse conjunto eul­tural c soc.al. Por outro lado. ul projeto i modesto. JIa quereconh ece seus limltu : tenlatlva. apenas, de ver claro naquiloque "cm sendo ferre. para saber cm que ponto ,csCll rnos cquais as perspectivas que no'! slo aber tas. Ainda que sejaum tra bllho de rdlcxio..!lio se coloca num nlvel superior aodu obras que lIborda.-Si!IlIl -SCno mUmo nível : situa-se (pelomenos prttende ) dentro da luta; t uma tenta tiva de esclare­cimento, um esfõrço para enxergar melhor. não um livro dehist6r~ . nem uma attlbuição de prt mios aos bons filmes c re­provaçi o aos m.lUs.

ê:slc ensaio repousa mais na intuiçi o c na vontade de es­clarecer a situação em que estamos mergulhados. do que mes­mo num trabalho sistemàtico de critica e sociologia. Inicial­men te. porque a ma t~ria . ainda que dU5a. é pouca. Atul l~

mente. os dir etores bruileiros são um pequeno nli.mero: osI le es prodll~ldos desde 1958 são poucos. Isso la : com quedeterminados cfeeen tcs devam ser detectados numünico lj i~

me. viste que aos see entes hnçadas não puderam ser eprcveí­U1d.3 oe dcscn\-olvidu pelo próprio dUetor ou r or OUlt()S emfilmes po!teriores. o que nio ocorruia 5C o cinema brllSilelroestivesse ttonómltamente mai, sólido. \ A análise enccnrra-seauJm sobremaneira dificultada . Outro cbst áculc provém doUto de ue os Iilmes ainda não conseguem ccmunrcar- se ple­

CD com D .público c a (tÍtia. o que diliculta a avaliaç l o~ Que e tu na sociedade brasileira o cinema que se

azenco. ai Iea ômenc é realmente grave porque umliUiie eta quando passa a tu uma vida dentro do

OUtro empedlho é • escassez d edIl.'&u.,DO Brasil : a falta de eq ui­

lfeLide de cópias (para aconugul Y~r alguns liImu.

eu: iaexutlnda deDOme. etc.~erlicills\-

A CLASSE MéolA. CULTU RA CONSU MlvrL

o Br.ilsil tem estr uturas que comp rova da mente nâc mabcorrespondem a sua. necessidades e As exiglncUls de Seupovo: por outro lado, o povo nio consegue modificá:la.; aevolução socia l é <onfiltuada e cada fra casso torna maIs aqu­das e gritantes as contradlçOes.

A clnse que~ Brasil iotei ro vem. há décadas. se de­senvolvendo e se estruturando. fazendo sent:r cada vez ma sssua presença . t a classe méd ia. prinCIpAlmente urbana . _Êela que faz funcionar o Brasil : são os méd ios e pequenos ln~

dustriais e comerciantes; si o os engenheiros. técnicos, adm:#nistradorcs. advogados. médICOS. economistas. profcssõres a r­qunercs. artis tas. etc.: são aquê les que v ívec de e fa :em vrvera s grandes indli.strlas e comércios; sãc os umverstrá rics. 05

funcioná rios públtccs. o opera riado qualificado. Ma s não éa classe dirigente do pais. Ela é dominada pOr cúpulas repe e­senrantes do capital. o que suscita inúmeras comradíções emseu: desenvclveaentc e em sua afirmação.

I! a classe' média que é responsável p~10 movimento cul ­tun l beasdeírc. N ii<\, há gr upos ertstocrancvs ('1.1 da grilndehur~uesja que possam sequer manter ama Ionna qualquer deparnasianis:u". Quanto ,-, d~sseJ. qu e trab"a:all\ ce ai ~~ IIl"OS,

ojlerilrios ~ campcnesea. ainda lhes tait.l:n c"nsist ênoa e OIlSUsulicientes par<l elaborar uma cultura que ::Ao seja fold ór : a.Pode acontecer que elementos das classes operária ou ca m­ponesa se (ornem artistas. mas sã o sempre mdivld ucs isolados.cuja prod ução é logo consumida pela classe eiedta. 6 qual pas­sam a se dirigir e pela qua l são absorvidos. T odos os \ 'a16: csculturais, tõdes as obras. da eustca popular .\ arqul:etura.são etua lmenre produzidas pela classe média . A produção eo consumo cultural nestes li. llimos anos têm aumentado verti­ginosamente : nota-s e êsse fen6meno ta nto no es tudo hist6 coosociol6gico e económico da realidade brasI1eira. quanto em ar ­quteetura, litera tura. müsica. artes plást ICas . tea tro e cinema .A produção editorial. o n úmero de exposições. de esperàcu lcsteatrais ou de filmes aumenta. apesar de as p essoas ou firmasque produzem se debaterem em geral com d Ificuldades I nan­cerras serias. Os dois principalS centros são S. Pa ulo e Riode janeiro. mas o fenómeno é de 1mb to nectcnal. pOI$ iras

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Page 7: Brasil Em Tempo de Cinema

'''PIlll is sâo também focos vivos. e sse fenômeno t ref lexodo precesse de estrutur.ção que se estl verificando com aclasse média.

E vrdentemenre . as contradições com que se debate Il e!as­$C c edi•. sua ex tend o, sua \;talidade c lU'" fraquetas. secc. ctC:II ~cssa produçAo cultural. marcada principalmente pelofato de que seus consumido res nAo t!m consciencia de sua si.tuaçio. de seus rea is Jnt crbsc:1. c probl emas a resolver, poisco:'l$clencia soc ia l e in.:crbses podem não coincidir. Aaim.ao lado de sérias pesquisas sociológicas c do Interêsse públicoCjue despertam cada ver mais. cada ver mais tambtm são~:::l acolhidos a utores que pra ticam um vertamo mora lista . Aolado do rta lismo crit ico, coexistem divertiment o de alcova eformas surrealis tas de 1920. quando não rcmênuces do st­culo pasudo.

Tudo isso caracteriza mais a formação de um mercadoctl /tural do que a criaçlo de formas culturais próprias. Grande~'r:e da produção teatral, litedria ou cL<l.ematogrlfica obedeceàs mesmas regras que o desenvolvimento do mercado de luxo :a arte deceeanva, a proliferação dos espelhos. de vermelho,courado e apites espessos nos saguOts dos crnemas. o rc ­quinte prc~res.sivo de vida de buete, a melhorIa da moda, li

pub1i=aç~o de l'vros de cn!Jdrla cor.siderllda come uma be lila rte. o i ~ l'Í'so de wrl't'IC'. o C1ume.'lu do núe.crc dos clubesd.e .calUpo. T ais fenôm enos ttm a meM:lIa ra iz. re5ultam elaMama el-"Oluçã o sccíal. E a ralnh.lj o desse mercado é a~ , .'

9u desenvolvimento da classe ml:dia é condicionado1J)9r lIIUN rdaçaes de trabalho e por capitais que n âc se encan-

a mios EiA é uma criação e uma serva do ce -p'1 uencia J de sua vida. suas pOSlJbil lda des de desen-vo • manilutam.se na s l'l)n~!l. nos escrit6rios. nas

01 ai duos 110 I~ peças de um e ecenramouca~ totalaftnte A viCIa J9t" da fAbrka . do escn­ai lõ a to ;;se argliii. f um intervalo. um mo-

lJõ U ~;fIue a classe mé-p. I de mood sempre: ma is

:valorlzao b1atéCSS extuio-(vimento. P ta r o

Ita cal e tra-e que conllrm'tm

seu crescrmemo. sua f6rça ou IhlhO de fOr.... que a flunelllSttl bom gOsto. ecnetdeeadc como prova de superioridade. AI.demi r M artins duenha pnltol: "nossos mtlhoru .rtiSta.s plás­ucce" pintam 01 motivos dos esump.dos da Rhodla: 01 tecí­dos e lust res de M y Fair Lad y. encantam platéi. s, Ne crne­ma . êese esplrito t eeearaade por Jean Manzen, cujas fi tassão fin.nciad.s por grandes hrmas ag ricolas e princip.lmcotelndustrl.ls: 0$ temas eedcaem-se a dois: quantidade e qualí,dade. P.la_ ~c em toneladas de cana ou aço produlidu porminuto ou por hora ou por di. (nl0 tem importl nw. poiso público não tem ponto de refert ncia ): par. construir tilobjeto. foi usado tanto d mento quanto seria. necessário paraconstruir um ediflcio de duzcotos andares: fala_se dos "adea,eévers trabalhadores e admiráveis técnicos-o A isso aaldona­se um pouco de poesia e muitas cõres: os colheiteiros de caftextbee ch.ptus mulrícclcres: o poltesurene incolor terna-severmelho nas mias de M enscn : as pleteras ficam eebeveodasdiante das orquídeas e p.p.ga ios enconnadce num. favelasôbre o Ama.lfnas - desculpem. na "parte .qu!tiC& d. cidadede Manaus". \A Indi.na. nu m. curta·metragem épica sõbre oPunalro Pir.tininga. fu o hist6rico dessa "sinfonia do tra ­ba lho" que t a vida paulisa desde Anchiete at'" .5 vitr ir.l\'da (aSl de modo! RO:llta. ('..orno não senur-se Iene e segl,:rc de51 depob dlsso1

Se os exemplos que o cínema brasileiro oferece dessa men­talidade se restringem 80S pseudCHiocumtntãr:os fin.nCladospor emprtsas e 8 poucos filmes de Hcçâc. como A M orte Co­manda o Cangaço e Lampião. Rei do Cangaço. nã c é porque"5 cintastas p retendem não se deixar contammar. t pcrq e,devido à obstrução com que se defronta na distribuição e àconccrrêncta dos filmes est rangelrcs. o cinema nio chegou ase impor de!inltlvam ente como mercadoria . O teatro. ob rig. ­tcnemenee feito no Brasil por brasileiros. e de custo inferio rao cinema. jA existe como mucadoria e encontra empresáriOS.como O scar Orns!ein, que dão" peça o tratamento que recebea puta dental : .tlequaçl o ao gOsto do maIor número. ~ubll·cidade. sortelOl d~ melas ou perfumes nas vesperais. Enfim. apeça t tratada ccee um produto a consumir e o CUl~:,esiriOfu o"11eceulrio para que seja conSumida. E. nalur ente.grande parte dõ teatro bra.iJelrc apresenta .qul1u valOresluscetlvel. de agradar a uma platt ia. classe mt dia : com~ias

Page 8: Brasil Em Tempo de Cinema

HERA NÇA

-

. De gn;po d e cineastas que. com se us Iílmes, pretende par­ticlpar de e eeüeue a luta que se trava para a afirmação desua cla sse. quais sio os .ntecedentes cinematog rlficos1 E mque estado se encontra O cinema brasileiro e qual a situaçãocul t~ r.l.de um Jovem braslldro que pretend e dedica r-se à pro­duçãc clficmatográEica1

.Q uanto à sltu.ção econômtce , ruim. do cinema bra Sileirof pr~~elra coisa a observar é que ela é a mesma qu e sempre0 1. . •• 0 fII~e nadonal. sob todos os pretextos. en contrava

uma resisténcla compacta e Iavenc!...el entre os d ist ribuid ores.amarrados que estavam ao monopól!o estrange iro. que avas­Sl;la~. COm seus produtos o mercado brasileiro. de ponta aponta : tssas palavras de Humberto Mauro' soam como selóssem de hoje : entretanto, elas se referem a acontecimentos

, Cilidas por Aiex VWfY em IlIlrodH,flo tIO

da classe média brasileira culta se mostra atualmente .p',1 ii

produrlr e a consumir.Justamente porque a classe média se comporta cegamente

aspirando mais a uma vida e a .... tõres que Imagina serem osd.s classes superiores. e desvtende-se assim de seus próprio..problemas. a criação é pouca e fraca - o que não contracl: aafirmação acima. segundo a qual o desenvolvimento cultural égrande. principalmente em quantidade.•Inda que muito rnfe-

_ rtcr ao necessàrlc, mas também ' m qualidade. SOo raetc dlIsagente eõda que anda As apalpadelas. que opta por val6resopostos a seus Iraerêsees, encontramos uma camada progres­sista disposta a procurar rumos para a a firm.ção d e sua classe.Ela se manifesta tanto nos meio, industriais como culwrais eerusnccs. Os valeres que se u força em cnar. as idéias queemite. as lormas qu e tenta elaborar. en contram, no con jun:o daclasse telespectadora [expressâe prAticam ente sinónima dec resse méd ia ), uma violenta oposição. Ê de U r=! a specto dostrabalhos dessa vanguarda cultural qu e ten tarei dar cor. ta aoesboçar uma interpretação do cinema brasileiro de 1958 a 1966.-,

I-

II

lc\'u em q ue a atri: muda de vesndc em cada cena e exte­rioci:a seu talento ..tfavh de lIutos de dIl o: in terpretaçlo.diI~lo. cenografi" 'ôllC obri$lcm

H

o upectado! " reconh ecerqu e "reahaenre. é mu.to bem ftJto • EsJa me.sma mentalidade.ali',. jA ensee, como ~ normal numa grande parte do melo cí­nem.ltogrifiCO bruilcuo : muiu gente penSA que se deve ESlcrfilmcs cm q ue se gastem muitos milhOts c que sejam de"boa qualidade "; fo/' parece, o pensamento do produtor deS odct9 cm & by.Doll. ,Só "tjuc htu cintai!" altâo poc en­quanto sem sorte. pois. para que &.se cinema .vença. t indis­pensáv el antes de mais nada que se considere o filme comoprodu to a consumir c que se faça o neccsUrlo para que sejaconsumido. O cinema brasileiro ainda nJo tem seu O scarOrnstcin, mas é provável que tle nãc demore muito a apare­cer. e C'Ilt.10 o p úblico teri um dnema que lhe dará u.r:n sa­tis!a tório re flexo de si pl'Óprlo. aprUC'1It4ndo-Ihe a quaUdadee a quantidade.

Na introdução. de uma pagina e meia. do programa deu.r:n espetâculo musical de grande repucussão promovido pela~~~rtsa Diogo Pacheco. encontramOJl OJ mesmos temas :q dede t quantidade de trabalho. Para executes esse espe­ticulo de -u u ema diEiculd.ule~, musIcalmente "dlfldl~", lo:eXIgido UlU "t:'abalh::. intenso". "Enlrentara.ll.l as dilJculd.e.du "."eae pouparam ensaies", pata conseguir "a melhor o:x ~ cu ç5c

pcssfvel . O.~ blste menwla:I loram es«llbJdo$ entre o que"havia de melhor em 510 Paulo" ( .,.. ) "para provar ao pu-

bUco que possulmos instrumentistas de \qualidade~; lor amllCledonadOJl af6ces WJ que "ninguém no\ pateteu melbor~ ;qúal:ttó ii excelente" C&.lltora. 010 bavia u.llJnguém melhor~ .

N Q sê uparam ulorços para real.J.zar um espeticulo à el-tura' pJat& que 010 deixou de e:DeoDttar no palco umrefi (trgn dela. Se úWltimos na dtaçlo duse texto sem

ponIz!.da e u chega a lU caricaturai de tio enfAtlco. éporq 'lua Intzi ente em~ da quantidade e da quali-di o I~ em Wfi!1!ldo man.lle.taç!o lignilica-

altal! e ldiã'; .Oe lato, 1Mior e melhor.. (fiiii vru pulJCilJ:S que reveJam uma luga

di'..e m .....v.ra NUS .proble-a~'ã 9 alJdade

. • u~~!r parte

Page 9: Brasil Em Tempo de Cinema

antencres a 1930 : o (fac.uso da produç ão cincmatográ fica deau ra. esse t o tstado do cinema bra.sileiro. E!A m6 situa·

ção económica decorre da invasão de n O$50 mercado pelaprodução estra ngeira, favorecida pelo conjunto da legislaç30brasileira ; o lucro t muito maior para os distribuidores de f ilascstungciras. com os quais estio comprometidos os exibidores.As poucas leis fllvor'vcis ao cinema brasileiro. a ltm de muitoprec ánes. não são rcspciuldas: os pedêres públicos ni o têmlõrça para H:t-]a, cumpne. . T od4to os organismos ofid alscriados para tratar de assuntos cinematográficos resulta ramf'rn pr êticamente nad• . SOzinho. o produtor brasileiro não temcondiçõcs minímas de concorrer. A con.scqutnda. na prática.para o cineasta , t estar reduzido II ou mudar de profíssJ o.ou fazer cinema na base do heecísmc, ou produtir obras co­".rrciais. E conunuera a eer essa até que cOl1sigamos ccnquts­tar pele menoS 5J % do eercedc nacional para o produtonacIOnal.

Por ISSO. a história da produção cinematográfica no Bra­sil nio se apresenta como uma linha reta, mas como umaséne de surtos eel vArios pontos do pais. brutalmente lnter ­rl,l:npidos. São l'ls chamados ciclos. de cinco ou seis film e~qU.3nrlo muitc: é Campir.lI~. Reci fe. C'..aUlguascs. Ii Vt>ra Cru:Contluua atUlll rn ente a cufada do Cinema N õvc. que .~e rá:na ls 1.10 desses surtos. candidate <:10 cemitério dos c,c1~s, se.dnta ves. náo consegu i rmo~ conquistar o mercado nacion::!.

--O, ~utore' independentes geralmente morrem de mor teS otMY,' Luis Carlo.~ Barreto. que con'kguiu montar uma

es ru ura .(l produçlo, é caso nctôriamente excepciona l. Dt­retores como Nélson Pereira dos Santos ou Wa lter Hugo

ouri ue conseguiram em dez anos. dirigir cinco ou seisma Uo caso ünlcos 2: extensa a caravana de díretcres.

e c . t6res ue, ap6a a estrtia, desapareceram do mundoI e t grilico o pllssaram para a televisão. ou parll o c­

a ullill tifi .I e

IMa s a tónica da história do cinema bralíleiro t o aso

Isolado. o filme l101&do. Encontrllmos. cá e lá. bani e impor_tan tu fJImes. como. Ga'lUII Bruta ( Humberto Mauro. 1933) .mas nlo encontramos. no Cinema beesrletre. a consltuçào e odesenvolvimento de uma obra contInua. Tudo isso (C,presentamuitos esforços e desgastes de energias. que se traduzem.no cotidiano. pela inacreditâvel ag[eS'ividad~ que rege as re­lações entre o, individues do meio cinEmatogrâfi to. Por is.soa história humana do cinema brasilei ro é um museu de perso­nalldades a margu radas e Irust radas. Assim. não foi pcssfvel,culturalmente. desenvolver uma cinematograha. dar prosse­gvimento II uma temâtica. crillf estrlos. Cada filme representauma experl! ncla que 1'110 frutificou. A!' f'Xperitndas. tantotécnicas quanto de produçlo ou de cxpre~s!o , em vez de seacumularem e enriquecerem , depereeem, e cada dtretoe tem decom eçar mais ou menos do zero.

Assim sendo. II realidade bra. Ileira nio tem cxLstbdacinematog rl [ij' Décadas de cjnernr possibil itaram aos palsesque têm uma rodução sólida trab llhar sõbre sua realidadee transp ô-Ia r ra a tela. No caso. por exemplo, da ltãha. ohemem. seu mete e ~ua prohlrmtt ica. foram ela1x>I':!135 llUI:lamultiplícidêlde de aspectos por diretores. didlr'guu tas. loté­gr..f0s. l:l.:::si:;.:l~, erc.. c que criou -ic cinema U,;1 " ltãltc fÍ<:a ediversificada . O jovem Italranc que se preparlt pala Ieaer" :lema tem atrb de si tOda uma tradiçiu eu e pode aproo d.taro ou cor:tra a qual pode se revoltar, mas que. em illnbos oscasos, representa uma prévia elaboração e interpretação darealidade sõbre a qual vai trabalhar. O jovem brasileiro nãotem nada disso. Deve descobrir e tratar não 56 a prcblemê­tica da sociedade brasileira. mas ate 03 manei ra de andar, defala r. a cõr do céu. do mar. da mata. o ambiente das cidadese do campo. no que. alias, pod erá e deverá aproveitar as ex­peri!ncias estrangeiras. Isso não basta. pOIS. se helt algunsanos teria sido suficien te uma descrição da população brasf­leira, é hoje indispensãvel que isso sela feiO em funçA('l tio dt­namismo. dos problemas e das lutas do Brasi l. Essa ausfnCLade .tradiç! o em hipótese alguma significa que o jovem. bra­slleírc se encontra numa situação inferior, ou maIs slmples.ou maJs compUcada. que a do italia no. Trata.HJ li daas sí­tuaçOcs essencialmente diferentes. só, Não é II 11s "lltuaçAo ex-

13

Page 10: Brasil Em Tempo de Cinema

MeSTAUOAOE IMPOll:TAOORA

ta, Os produtos culturais bruile lro ~ nlo eram negados: sIm _plesmente. para elas. nl o chegavam a existir. Ganga Brura

.. em 1933 passa totalmente d esapercebido. chamando exclUSI­vemente o atençlo de uns poucos amadores.

A au~tncia de tratamento cinematogràfico da rea lida debrasileira. aliada' mentalidade importadora. te m um outroefeito. Um cinema naclonal i: para um p úblico uma cxpen~n~da únlca, pois i: viste com olhos bem di f e r e~tu daque les com

-eque I: visto o cinema estrangeiro. A -produçêc estzan gelra derotina não passa. para a plattia, de um d.verueento. f ilmesmais ambiciosos oferecem· se aos amadores d e arte comoeb jetce que soHciram um bom funcionamento de sua sensi­bilidade e de seu gOsto. Raros slo os ca sos em qu e o fil meestrangeiro mobiliza grandes setcres do p úblico d e váncsgrupoS sociais. e atinge o espectador no conjunto d e suapessoa. O fjJme nacional tem cutrc efeito . e le i: oriundo daprópria realidade social. humana. geogràflca . etc.. em qvevive o espectador: i: um reflu o, uma interpretação dessa rea­lidade (boa ou m Ão conscien te ou nl o. isso i: outro proble.ma) . Em ã Korrtncia. o filme nadonal tem sObre o públicoum poder de imPs'cto que o estrangeiro nêc costu ma le r. Hãquase sempre nu m\ hlme nacional. Independentemente de suaquahdede, umll pr óvcceçâo que não pode deJXIlt de n lglruma reeçãc do .,úblico, TIII reaç âo não rCl>ulta semente do: cmapMvocaçi o eecénce (pode 51:·10 lambi m) . porq ue o filme na­cJonal implica o conjunto do espectador . porque aquilo queestA acontecendo na tela I: êle ou aspectos dêle. sua s espeean­ças. Inquietações, pensamentos. modos de vida. deformados ounio. Essa interpretação. consci ente ou inconscien temente. êlenão pode deixar de aceitar ou re jeitar. e sse compromissodiante de um filme nacional. do espectador para com suaprópria realidade. i: uma situação à qual não se pode furtar.Pode recusA-Ia. o que IA representa uma tomada negativa deposição diante da realidade que i: sua : ! a eeacêc mais corren­te hoje e.m dia. Isso não significa que qualquer filme naoo­nal leve o público l deeccbene de novos aspectos de sua rea ­lidade. A produção nacional pode muito bem ter como hna­lidade e efeítc afastar o. p ublico d e sua rea1Jdad e.. A liAs. t oque amlude se verifica. Mas. inclus.ive. nesse ultimo caso, ofUme naciona l retere-se. ditet8 ou indiretamente, l rea lidadeem que vive o públJco. Entretanto. devemos reee abecee que o

; .~du~iva do bras ileiro; t a de qualquer jovem..qu~vtnha atrabalhar no Cinema (e cm muJ tWl outtOt ICforet ) em' qual­quer pais ~ ul -americano ou africano. que .ti: agora:t~.ha sidocolonizado ou que tenha tido uma soberania quase qu~ apenasformal. ' ) 'll;~

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r- li ) ttJ..o/r,, '.

b,n••,...1, ,.,(

O [ovem italiano que realiza um, fUme dlrlge.se a ump úbhcc que j& teve longo contacto com o cinema ita liano. quedentro déle tem as s:Ja ~ preferlnclas. e que Ja se viu na tela.S sse cinema tAmbto ! expressão do püblJco. O [ovem bee­aiieiro, ao contrário. vai dirlg ir.~e a um pühUco que n ão co­nhece cinema bra~i1tiro. Nl o o conhece porque que se nêcexistia: e os poucos EJlmes que existiam raramen.te chegaulmati: êle. Para o públtco brufldra. cinema i: cinema estrangeIro.S natural que ° pübUco. estando constantemente em contactecom filmes estrangeiros e nunca narionals. tenha CO:ltraldocertes h.\hltl'ls. D'JriU).te longo tempo. para amplos Ictóre.s depü!:>lico bra~jleiro. cinema rutrJnglll-~e 3 'cinema ncrte-eraerr­cano. e êate sempre cercado de grande publi:ldade. se evca­tn.lmente se exibisse um lilme braailetro (que não Iõsse cben­diada) . o p úblJco nl o encontrava aqu~que estava eccstu­DUldo a ver nos ",estern! polJcJaJs ou m!dla~ vindas dosEUA. O cinema. por definiçlo, era impo do. Mas não só odnema era portado: Jmportava-st: tudo, ati: palito e man­til"g• . O BI.sil era fund.mcntalmente um pais expoltador de"~~rlN~·i;;s pr as e importador de produtot manufaturados. Asf ' pnno pahtJente pólJUcas e ec0.ll.6mJcas. mas tambim

turais e m pais exportador de mattri.s primas. sâc cbn­ga r C.D e rtflexas. Para a opinJão públJca, qualquer pro-duto ue su.2u cttta ...Iabevaçlo Unha de ser 'eltran.aiO. uanto OJ)aD&: mamo se dava com as !ites,

9u~ tentan a. iffçlor de d ita de um pais:• m ~, i.illtei ~tdectuais.

• pi'! i1_ da-a. tra­e Irta Yf:Ii palsesut ti marca e (ultu-

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p bJko btlSJlelro desconhece tais expenênetee. Se omitirmos.Iguns ra ros casos Isolados. 56 a chanchada possibilitou. demodo prolongado. lue tipo de expertêncíe. Expertêncte maisdo q e limitada. Asmm. o público nlo tem o hlbito de ver-sen.a tela e as identl ficaçOu qu e pode fuu com personagense s tve ções nunca são blueldas em elementos de sua realidade.de seu comportamento. vida , sociedade. etc. e ta refa. e das:UI s urgentes. do dnema br&Sileiro. conquistar o público.Eu .. expu ilncia . esse diálogo do público com um' cinema queo expresse. l fundam ental para II constituição de qualquer CI­

nema tografi • . pois um filme nã o é tão somente o trabalhoao ..utor e sua equipe : é ta mbém a quilo que dêle vai assinalaro publico. e co::'\o VII aSSImila r. e tlio rmpeetcrne. para qlle

m fIlme exrata como oora. a pa rti cipação do público, comoII do au tor. Sem a colaboração do pú blico. a obra fica alei­.ada. Por 1»0 a conquista do mercado pelo cinema brasileiro.ia e exelus rvamente assunto comercial: l também assunto

cultura l arusucc.

da de quando o dnem. br••l1eiro nio ex l.t~ O mamo se ~verlflca com o dnedublsmo. que se . limenta de cinem. es­trangeiro e. portanto, criou Um8 utrutura par a divulgar a ma­tl rJa arU.Uca que lhe ap r(3enta bse cinema: ter ia stde levadoli se constituir diferentemente se nio uveese ndc. com o clne­ma com qu e trabalha. uma relação que se tstiola numa eae-nca formalJ:sta: '

_A situação brasi!ei.ra. cm relação a cinema. l um tiplCoexemplo de alienação. A euvtdade cinemat ogrlfica no Bru l1.no plano comercial e cultu ral. tem sido no sentido de aruta r_~

de nós próprios. A realidade brasileira só hmitad a e tsporàdi_ceerente recebeu tratamento ctnematog eáhce. O púbhco r.ãopôde cnlr." cm contacto com o cinema beestleire. e 56 Cll ­

t rando cm u..Jloge com o publico c da ndo ccnnnuidade a sntrabalho os cte eas tas poderio construir uma cinematograhl,Sem o mercado l disposição da produção brasileira. tudo tvão. E,Só1 é a condição sine q UI: nOtl pa ra qu e o Cinemapossa ex istir \ omo art e c como negócio,

l!sse esta do C! I' ahenaçA" . exístindo e-a tto<io" os nlve ls.desd e a p!C'dução c o equ;pa l'uento alt a C!!~ t r ib ulçãl) e a erte~ a he:an..a do jovem brl\sileiro que ch<! ga 110 cir.ellla. O u­tros..lm. êsse jovem eoccntra uma situação parrkularmcntefascinante. No Brasil. processa-se a rtvoluçã\l industrial queati nge profundamente todos 05 aspectos da vída no pai s. SUr­tos de cinema _ episód ico como o ba iano. ou ainda vigorosocomo o carioca - são re flexos dessa evo luçã o Um a real dadeviolenta e agressiva . que não se d eixa ign orar. vem solicitarconstantemente o cineasta. Grandes panes do p üblicc . queainda hã pouco tinha o olhar volra do para a cultu ra estran ­geira. tom am consc íêncta da cultu ra braSileira. N o me o c­nematografico. o movimento de desa1ienação t rêpido. tantoda parte dos autores, eécntccs e etõees. quanto da parte dasentidades de classe. cu jas pcsíções são cada l fffal d id cn-tes e coerentes. como também é o ca da~ ~nstl uiçOfsculturais. dos cineclubes. das unN rrí'daCl e lia critica .

asse cinema feito por cinast 1 riu fan emtdra que tem po~lbllidadea aflf a !:

Page 12: Brasil Em Tempo de Cinema

c que simulc!nu menCc se solapa. si própria. êsse dncma semttllldiçlo c que nasce num paIs subdCUIlVOlvlclo c~ . meio aconflitos vlolencos _ pais cuja ptrutura range de alto a baixoe em que as p.Javru im~ri.l/.Jmo e naclonalumo,:aAo pro­nunciadas por todos e recobrem Idtlu c fatos dos ,mais dí­versos e (oDIlad/c6rio', pais cm que aS massas popularu co­meçam « lcr certa f6rça de pruslo - , bst cinema, como HQ uais os rumOS que tomal Que formas crla7 Que realidade fo­caliza? Q ue fo.rças apoia ou combate? Eis .s pc.rguntas a que_se deve responde r, ou seja : Qual t o homem qu e ncs epreeen­u o cinema brasileiro. que quer. pata onde vaU a a perg untafundamental.

..- -•

• •,A Procura

da Realidade

Page 13: Brasil Em Tempo de Cinema

d,nhCltO, sem cueene de exlbiçAol T ais eram as perguntasqL:C s ur gia m de norte a sul do pais.

AruIllda documente a fuga dos escravos e a instalaçiiode um quilom bo na Serra do Talhado. A fuga t evocada pelaandança no deserto de uma famllia de camponeses de ho je.Xoronha descreve um ciclo económico primitivo: os homensplantam algodão c. quando passa o tempo do plantio. as mu­lheres fazem cer êmtca. c trocam-se h scs produtos. numa feiraIOIlQlnqua . contra gl.ól.Un$..de primeira ncc,ujd.de.. e o cicloeconômrcc que fornece: ao fi/me sua estrutura . O documenta­ria. portanto. não se limita a mostrar flagrantes de uma vidaa trasada. mas pretende apresentar o mecanismo dessa vida.Logo . trate -se de uma fita que csti no caminho do realismo.~oronhit ultrapassa ~licamente a txposição de um mecanis­mo económico. e le tem a intuição do deserto : a terra sêca ea pl:uonagem principal da Elta : a farinha branca. que servede ahmento,. t da mesma natureza que a terra : a lama. te rramIsturada com um pouco de Agua. t uma fesla ; alias. as se ­qUlneias de cerlmica esti o entre as melhores. O documento tennquecido pela compreensão Intima das condições .de vida :"!'nhuma necessidade de apresentar em primdrC\ plano rostosbll: l ados para eosrre r o h"mem; planos ea êdrcs. ciclo eco­n6:r.;o:o primi::vo. tertll slca. wo ruaiS~oq,i(n tes . Noronha res­;'Je:ta A real.dade til como A eneontr8\, tudo foi lilmaco ir. locoe I com~ exute hoje: a musica fui tocada p OI ~u sicos locae~ .9f1,vada i" loco. No emento. e Jssô 'là~ era da , malc r

1!!JP.P'rtl ncla. Noronha nlo t tlmido di4nte dà realidade : nãoec i torol- ma compreensJvel atravú de um esquema

al:istra evec r com homens. atuala um eccntecuaento doli o p.! i. e eeer lU pouco o ritmo de uma mUSI-Em r r u do l._ lJu.r um trabalho de cunho

Ice ntrop'!!: I e a!alnada. Noronha fizlIi1l!liiiJõõ!~ tiCO e o e uma(ili~rtaçlo. a fu gaIe r e P.a matei a ontedmmto que seria

lilme DJ~ua. Gangaa na b.o " fJJ1Ib i.. arlos tila e

erl Palmaresm6õlo de 1Jber-

uptctaClor D o i:lelxaumente CI to

e ínterpretaçêc da real idade, a fila apresenta um phsimo nh'cltecntcc : às vh es O matulal foi escesso pll rll a montagem: afotog raUa, ora Insuficientcmente. ora excesatvarnente txpou a.oferece chocantu contrastes de luz; a faixa sonora epreseu-ta deíeucs. Mas nl o en tendemos ta is falhas como sendo de.feitos: uma realidade scbdesenvelcída fil mada de. um modosubdesenvolvido. Devido a su~s debci t ncias tecraces. Aru..nd.foi 18 vtzu quali fJc~do de primitivo. O re. não t nada dla.soO primitivismo se caracteriza mltis pela ingen lllda~ .Q._doe do modo de reproduçl o da realidade, e não Implica numattenia deficiente e slmpln. Se hã algum primitivismo na (lia.êsse nlo deve ser encontrado nis ddicltncias ttenicas ouna rraU,'as. mas em algumas tentativas de virtuosismo: foto­graEla bonita. cAmara baba e figuras em contraluz. e sse. eoutros filmes brasileiros loram ehemedc s de primitiJXIs porquese quis encont ra r uma desculpa artl.stJea tanto para a temlltl­ce-quente para a ttcnlca, uma desculpa por parte d. culturaerudita e Idealista. No caso. a insufidtncla ttenta tornou-sepod eroso fato" dram6tlco e dot ou a fita de grande agrusl" i­dade. AruAnd" t a melhor prova da validade, para o Bra.d1das Idéias que prelfa Glauber Rocha : um trabalho feito loradoa monumental! est édlce que resultam num cinema indul­t: ial e falso. n~da de o!:quipamer.to rt':.!I3c!O. de rehAtrdore.s J~

luz , de refletcres. Uni corpo a corpo com uma. realidade quent"da venha a delcncar. uma ..-:Imara ne mão e uma. idtla nacabeça. apenas. O que f~ zul Aruanda o di zia. Como fuer?T ambtm o dizia , A euforia era justificada : para fazer einema.nAo se teria de esperar que as condições (avo rheis viessembastaria arrancar um dinheirinho de Instituições cultura s(muitos dos documentArios mais significativos dessa tpocanasceriam .Ii margem da prod ução dnematogrllflea prõprte­menee dita, de verbas de Instituições ex trac inematogrA fkas..I~uns paulistas tentaram de uns anos para cà sistematizarêssé tipo de prociuçlo I e as ddicitneias técnicas expressariamDOUO subdutnvolvimento (na da de fazer c!flrmA p.ara Iesrl-vall l . COou... lae mito. Roberto SanJos.. (01 um. dos raros

"",• .!,;..!.~..ta. a ee m&llifutar. B deve-se dizer qUJ: b111 ~eflcil:n ­la. tiveram fun~o dram'tlca exdus~vamente cm A,ru..nda .

""~" Dlfràl ~ fua chegar uma fita nacional de longa metra­gem a um drculto comercial; Imposslvel. uma fiu. de curta

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metragem. Então, h!c cinema não se dirigiria. po r.,cnqua.f!.o. asa las comcrdaJs ma, atingiria o publico por; int~gedW~d~~ .lcineclubes. dos ~en croJ popúlaru de cultura. da, alt' " 5~ ~de d ....e c de bairro. A soluçAo era cdar um d rctll" ,f lclo .foi inEdldo, mas nunca chegou a se organ izar. Ai.~ ~on~~ções de A ruandll com o püblico loram das mais .eJ~~~tivas.mas nia 5OubemO$ cntendf-las. A euforia provocadd: pelofilme. mais acentuada em S10 Paulo que no Rio. não@'albll.de lllll circulo de p U JOU dluumente LDtueuadas p~I~ i ,:!laçllo "[pensava-se em criação, • partir do nada) de um, :tulturaadequada a evolução do Brasil. Mas nem. um püblico,de tine­ma cea colUcguiu entuslasmar·se muito. Quando projetada, emse.não especial dedicada ao dnema brasileiro, num liceu Ire­qüentado pelos filhos da alta e média burguesia paulistana. afita nAa loi compreendida : viu-se uma fita mal feita e abor­recida . apesar de uma lir da música. e a dominante do debateque sucedeu" projeçio foi : "Per que mostrar sempre a ml­stcia1 O Brasil não é apenas Isso." A alta e média burgudlianlo queria entender a fita. e daJ1 A, colsu se fariam com ousem ela. Seria melhor que entendesse. pois assim pagaria en­tradas. Multo poucos entenderam. naquela' época (1962]63).que. se a burg uesia. e prlndpalmente a mEdlôl . nlio entendiaou nlo c;ueriQe...,tender o dnen.ta que ee faziD.. era prohl~a daburguCSUt. mas tambtm do dn~. E. tah'u. ll iJlda alIora.1967. peuccs e:ltenlhm. Quando Anuanda foi projetada noSindicato da Consuuçl0 Civil de São P~~10. eujcs membros. ão em grande maioria norddltinos. foi )pem acolhida . Es­pectadores se levantaram. entusiasmados. para. dizer que eraprtdso. mostrar essa fita a todo mundo. aos que participavamdu atlvldades do sindicato. e aos outros também. A fita tam·P.2Yco flha entendida. O ent"·1umo foi u:clusivamente mo­tlvaao dls n gütnctas da cerlmlca. por apreuntatem técni·ca, qu niq, d.uenvolvidu no sul. O que a fita pretendia, !~O~E6ia j;:omun cado; tal manifestação era tambtm uma

:i66re ~ e dnema que poderia atingú o pü-ue Vil aos dnu.br. Mu. use, 116' o en-

aDOI muito te Dó funClo: 'DIo dimos im·a 'PudO~ \lntcndido

se diicma ue nãoapenas o

I

cinema que não chegava ao grande público; era todo um ClO­

vimento cultural e pctnree.

CINCO VtzES P " VEU,

23

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des estudantis . A ss im. Cinco Vtzu Favela poderia ter sidoo inIcio de uma produção que escapasse aos canais da culturaolicial. Outras tentativas - como aquel.. feita pelo CPC deSão Paulo no Srndteate da Coustruc êc Civil e liderada por.\laurice Capovilla. que chegou ii completar as filma gem deum documentá rio sóbre a vida dos pedreiros e serventes emSão Paulo - nãc vingaram .

O CPC pretendia. por meíc de peças de teatro, filmes 011

outras aliwdacies, levu a um público popular info rmaçõessõbre sua condiçio soc~l. salientando que as más cond içõesde vida decorr em de uma estrutura social dominada pejaburguesia. Tarefa de ccnscíentueção : deve-se ir altm da des­crição e da analise da fta lida de . 8 fim de leva r o pcbhee aatua r: a Sl tua çio nio nlUdarl se l le nio agir para transformá­la e só êle pode su o motor deua transformação. T ra ta -sede po lrtizar o públJco. Essa mJlitlnda t a finalidade de CincoVt .:u Fallcl. : o ladrão da favela nã o t ladrão porque nãoqueira trabalhar. mas porque nio encontra servtço e precisacomer: t a sociedade que faz o ladrão (Um F. lIefado ) . Se oIaveledc nio tem onde dormir t po rque att os barracos dafavela pertencem a um rico proprlet!rlo qu e dispOc de seuebens ii :oea bel prazer (Z i da Cachorr.a ) . Se o Iaveladepreocupa -se :r.a.s Cl:l or~pni:.,: <IS Iestas dOI escola ele sembado que ee p.lftlCi?41 d... vicloil slnd t'ill p..ra alterar ti soccda­de tu do fica ra na mesma (Euo/II dr: S .!fTI ha A legr ia deiVllIer}. . . ...

or an!o ecnsctememente. jovens dlrerores [salve J03­to qu e flzua C ouro de Gato anter iormente ) rescl­

zcr '1l ta s qu e politizem o p ublico. T odos inid am seucom 'lima detuml:lada vido da scctedede Ja esquemeu­

prol) em., ue provem mais de leitura de livros de~~~ogllo u (le em contacto direto cem a realidade qu e iriam

fa J . s Utórlas foram elaboradas para ilustra r"",,'3 prcconce!:iiCfas tire a reaIJCl.adt, que fiCOU assim es-r v d . umaga r uq\llanaa abstratas. N"lo se deixa

uhãiCle a mtJIo ltilli e [maiS rica. mais com-ex Cl q s a . a realiS. nlo iJ! margemuaJ" ee p. ta I ltiii Oe a o dó. e chegaar. CI r: Ji !iiVtJI da especlj enle para o

I ncJ ment m$Uls1raçlo. l! uma espkle de reali-

dade as.stptlca que permite uma comp reensão e uma mterpre ­taçlo única : a do problema enunciado. Altm disso. o problematende a ser apruentado junto COITo sua soluçoio: o fa"dadode Escola de Samba Alegria de t· ioer toma conscitnc a desua alienação e troca o samba pelo sindicato. O rcsult..dodessa estrutura dramfltica simplista não era um convite ii poli­tização. mas 1Ii.m A passivJd..de. Pois o espectador nlo temde fazer o esfOrço de extrair um problema da rea lidade apre­senta da noJ.ilme : o problema està enunctede de modo toio ce­tegórlco que nlo admite discus$áo: e. se se quisesse drscuu-jea realidade do filme não forneceria clementos p.ara tanto Oespectador tampouco tem de faar- esf6rço pa r", imagInar Ulllil

so\uçlo : ela t dada. O espectader absolutamente nlo t scll­Citado a participar da obra : a \mica coisa que se exlse dêlet que sente em sua poltrona e. olhe para a teta. nada ma!.&.. E.só lhe resta uma altunativa: negar o filme ou eatus .asraar-secom êle. O espectedee encontra-se diante de um (Ircu[:o fe­chado: a realidade .só se abre para um único problema. queeslfl apresentapo esquemAticamen te: o problema tem uma unlcasolução po.sltl\fa. que ta mbtm tstll apresent6d3 uquemflt .mente _ e a Situaçã('l piora a inda quando a solUl;io t tãodrseunvel como no eesc de E.~~ do:. Sa",!>.1 A legrr.. de V wcr.I) filme Ieche-se sobre s i prcpno. e c espectador. IÚtI tttn&:;UII partiC'!p&çl0 a acenar 011 recusar. hca de ior",

Tais pcsíçôes evoluíram vi olentamente desde entã o, le­vando autores de Cinco Viz es Fave la a poSiÇões antagOn taAs assumidas naquele filme . Longe de pensar que o prc­blema ceescíência-altenaçâo deve ser resolvido pd a própnapersonagem. Lecn H irszman acha hoje qu e o melhor. paraat uar sObre ° pÍlblico. t deixar a personagem al ienada e levartal a lienação II um clímax. D iz G lauber Rocha : " Foi Lecnquem me falou que a melhor lorma de causar impacto paraa desalienação era deixar as personagens naquele gG I.l. de alle-naç!o e evoluir com elas att o patttJco. u ~tttlco qu@ .provocaria um lmpacto tremendo. e por esse eee cr iarl~ .

uma rebellio ontra aquele estado de coisas ccS'ntra a a lfe na­çlo dá. pusoaagens"'. A assimilação da dla at tlJiií deBettolt Brecht nlo esti alhda l eypl4,çt] d s Idt lái

2 No livro D"II e o Dido IUI Ttrr/3 do Sol. 19M.

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AI~m do Rio de Janeiro. parece que Cinco Véus FlllJtla010 encontrou u ibiçi o comudlI. Quando apresentado. ecn­scsuiu ececarcee-se "penal coe um pUblico. principalmentets:udantJ. que JA eslava pecetc para aceita·lo. Fundonou umpouco como um desafio estudantÚ ou como episódio fesnvcde um comJcio. Mas i um filme que nlo encontrou seu p úbll­coo c ase !lia $Ómentc por falta de dis tribuição comudal.

~ bom que Cinco Vl tu F.~1A tenha sido feilo , c que-un ha sido> feito assim. porque poseibllltou experimentar umasérie de tendêncres. Em tOrno do filme diKut1a-sc se o ci­nema devia ou nlo apru enUI soluçou. se ua vüve1 colocarum problcm.ll a um público c aãe apontar_lhe a solução. Dis­cutia-se se ee deviam formular mensagens explicitas ou, aocontrário, se ater mais Ai análise, deixando ao põbltcc a liber­dade de formular por sj próprio os problemas. Prcoc:upaçôcsinlantiS. que no entanto se jusuficam. pela necessidade deuma comunicação imediata com o publico, de uma ação urgen­te. e que tambtm relle:~m atitudes que ultrapassam o I.mbitodo Cinema. Discutia-se se o a utor devia abdicar totalmente desuas inquietações pessoais, renunciar a luu uma obra que oexprrt~.)$:;e como aeuste. para dedJCIlr-se a fiImes.,..s6bre arealidade cxrence .- sacrificar o artista ao llder social.

BAn·PAPO COM LEON HIRSZMAN \

" e Paulo Cése r Saracenl escc tceeva de indignação. O bjetava .seque o filme corrta o rnee de tornar-se uma tllrda de . enee­menda. ruüuda·friamente como um trabalho escolar. fica ndoo autor de fora de sua obra. Os filmes poderiam ter um ecn­re údc consciente que seria uma tomada de pcslçâ c ante a rea ­lidade brasilei ra. mas essa rea lidade nunca seria atingida emprofuodidade7 o que forçosam ente viria a pre jud icar o poderde comunicação das obras. T ais problemas fora m hOJe ulrra­passados -na f.ltãUca. tendo certos "diretcnrts conseguido umasíntese entre uma vontade de expressão pessoa l e uma tomadade posição diante da sociedade brasileira.

A primeira vez que entrevi a poSSibilida de de eeallaar-seessa etntese foi numa conversa com um dos autores de CincoV élu F a llela . Conhecia pouco. naquela êpcca . a LecnHirszman. Fala ndo eôbee o filme de Naguissa Oxima. Taiiono Hacaba. Bosch e Goya. percebi o quanto Hirszman eraligado 1 idt ia de dutruição. de definhamento. o quanto eraseduzido por processes de desintegração do homem . o quecO!1trastaXê com a imagem de si pr6prio que Hirszman apre­sentava em'püblico : um comportamento dos mais raciona is eequillbtados. guiado por exclusivas C1otiVaçOes poil!ka sHirszmAn cOntoll-~e dOÍ! argumentos que teria" maior mte­eêsse em fHIIl":. Um dêles dizia I'c'>peito ec trabalho M~ mir:a:<de Criciu.cu . d,jadc !.Junca : o trabalho provoca no minerrcao cabo de poucos encs. uma doença puhnor.ar. mortal e con­taglosa: quando se considera que o minei ro não estA maIs emcondições de traba lhar na mina. I: devolvido 1 sup erftcíe etem de procurar outro serviço; no en tanto. não hã outro ser.viço e o mineiro não tem outra solução senão voltar à r.lmaexistem minas especiais para êase efeito. em que só traba lha mhomens condenados: o único meio qu e êsses trabalha dores en­con tram pa ra sobreviver e a limentar suas famllias t morreraos poucos. O outro argumento referIa-s.:: a algas em decom­posição encontrá veis no fundo de alguns pAntanos da Am.:uO­nia ; tais algas. raras no mundo e utilizadas para faz er dete _minado rcmtdio. slo compradas caro por laborat6rios norteamlUic.anos; homms mergulham para apanhã.le s. mu os! nãovoltam ; freqüentemente,' os que voltam são assaltados e a svhes assassinados por ladrOes q ue se apoderam d fru tosdo mergulho e se mc.arregam de venda aos laborat6 os ncemento. nessa reg ião em que OlS posstbllld es ~ trab hOi

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são escassas , seduzidos pelo alto valor das algas. hã semprecandidatos ao mergulho. o qual nlio tra: riqueza e resulta cmgeral na morte: mais uma VU. cm sua tentativa de viver, ohomem encont ra a morte. ~sses argumentos ofereciam aH lrnrnan ~imultAneamenU: a possibilidade de realizar filmessob re seus demónios pcss04l ls (tentativa de viver que resultanuma degradação da vida e na morte. os ambientes fechados.a p risão. a eavema] e sébre uma realidade subdesenvolvida.sõbre a exploeaçâc do homem. sôbre- o imperialismo. As duasperspecnvas se enrtquecenaei mutuamente: esses temas possi­bllllariam uma evclu çêc individual do autor e uma captaçãosensível e rnturttva. como que por dentro. do homem. de suasituação social. da paisagem, etc. O resultado depende evtden­temente de coce ser iam rea llzlldo, tai, Irlmes, ma, os argu­mentes oferecem pos' ibilld.du de evolução que o realismoà la C inco Vêz u Fa vda impedia, Leon Hirszman jã conse­guira esboçar de modo sugutivo êsse imp.u u . da luta para ai30brevivtnCla que leva .ll e cne. em Pu/uir... de Sio Diogo..pQis li favela era construlda sóbre li pedreira. O trabalho (a5ObrcvlVtnoa) consistia em extrair as pedra, que sustentevemo, barracos.

Marginalismo

Page 18: Brasil Em Tempo de Cinema

pul,r t pr,UiCllv, um' aplHcnlc politica libera l que possibili­tava II ascensão da massa. Entre hses dois fogos - maua tburguesia _ os artis tlU do tinham alterna tíva t só podiamescolher a massa, (.nto mais que .. ruoluçio de ':9un, dosproblemu do povo. como " devaçio do pod~ . aqUisitivo e li

conseqüente ampUaçio do merado .interno. :-'':1.& fortalecer aburguesia-indus:riaL Portanto. n isua a pou lbl!ld. dc de fa larao povo. de resolver O.! problema, do povo. de dar .cultura aopo \OOo, nUlII sentido que vresse .. favorecer " burguula. Isso, noent ant o, uri" por demais perlgoJO se nio ~t tomassem .as de­\/Idas precauções. e .. burguesia nacionalista vai for jar umconceit o de povo que a 'solva tOdas aI dúvidas e que ser! inte­gralmente enca. mpado pelo d nema brasileiro. Quem é Povo0'10 Br,slf7 Re, ponde '1 tlson Werneck Scdré . todo, os grupo'$OCia" - empenhldo, ta ' OhIÇJO objetiva das tarda, do desee­volvimento progreu istl e rtvolucionirio~ do pais. Eliminam­se do po~"o ~ bllrgllula representante dos capitai' eJtrangeirose o, !.uHllnd,arlos; integram-se os operáric». os camponesue a pane da al:a , mtdUl e pequena burguesia que t desvin­culada do imperiallJmo, e que se: outorga a funç10 de líder.EJi r:llnam-se t.)mMm. DO mesmo ato ldglco. os conEli:~ entrea Dl1~;ues:a Jndu~~riaJ nacionaUsta e 0' trabalhador~ urbe­1:0' t. ruu. :s. A ouríl'Uf'$í.:I indu,:rial t U1bu e 05 cinta,tas bra­s.:/eirc, ~".tI: i:rão O! dC'\'idos cuidados para qu e da não sejaposta em ques~io nos !lImes. e paza que tampouco apa reçamos operários. que não poder'.am deixar ~de ser relacionadoscom a burguesEs. tudo iS50 sem ferir a er tação poUtica dosJl:dues de esq uerda.

Outrossim. quem. la:. arte no Brasil sã o setcres d e uma.d asse 'IDtdUl que MO consegu.iu elaborar p.ua o pais m pro·"etc de evoluçio econ6mJaI e IOdaI. t uma elasse marginal

r. çio .. burguesia c ao proletariado e campesinato. e elaa para 9uutiOJlU fue marginalismo. A vanguar·

COlI otPdo.,pc:rapc:c:Uvu populares:. c assiDt,i1an -da CWtv.r8 popular e loJcI6d~ E ra

o dllCDYõJVtaiGlto da tese conforme ai&tIiI.~~o~campo·

Iive' tõdos aq~es queEli que

va, o

r

pequeno burguh estA encaixado. A classe mtdia vai ao PO"<:lPaternallsticamen:e, anis tas, utudantu, cepeClstas vê c lazucultu ra ara o povo. "Quando se fala. em cul:ura popular .

• acentua.~e a necessidade de p6r a cultura a servIço do povo..Em suma deixa-se cla ro a separa ção entre uma C,~ltura. desh­

ada do ovo (,.,) e outra que se volta p ara êle .: assIm ex ­~ress-a F!rrelra G ullar," como antos ecoes. essa arucde. al9u­roas páginas depois. nUala tentativa de cor~,ig~r a evidente con­tradição. a,rdcenta. como tAntOS..DJ.Iuos 1 nao apenas produ­zindo obras para ela [a alusa ) como procurando traba lharcom ela" (os grifos slo de FG ). o que não alter~ em profun ­didade a ati!ude fundam~al e só vea exterlotl zar uma mAcon.cif:ncia qu e quer esconder.se. esse sisteala da culturapara t excelente porque, ao alesmo tempo que poss ibibta umaelcvação. mais teó rica que real. do nível cultural do povo. per­rnite que se difunda ap~as aquilo que interessa difundir ousejl'l, o que int eressa A pequena burguesia e A grande quecontrola in teg ralm~te 3 primeira. Assim, vemos que. porexemplo. as questOCs de apontar ou nio soluçOCs aos pro­blemas coloc:a.4os. ou formular m~sagcns expUcitas. nlo eramrealmente questOO· de dram.turgia. mas antes manifutaçOesde umll eutude P"fttr.3Ust<;. ,:uJll tinalicade t coutrola~ am....,

E. p.. t..-rll.:l :uti~aa:.c.""\~o:. o cinema b~asi!tiro var t!a~r eceproblel:lIlJS do povo, P roletAdO! sem defeitos, camponeses es­iomudo." e in justiçados. hediondos la tifundiArios e devessesburgueses invadem a teIa : a classe média foi ao PO\'"O. O len6·eenc nio t nõvc. é delico: ocorre seopre q ue a pequena r­guesia, marginalizada. nio pode mais confiar integralmentenuma burguesia sem perspectiva . Vaeureh Chacon come::ta ·" Nos últimos tempos surgiu uma nova ten dlncia: uma kJ• •0

povo. quase nos mold es dos populistas russos do fim do se ­culo passado. como Lavrcv'' " O s rom1nhcos l ranceses 'seentusiasmaram com f:sSC5 operârios poetas. A lhandre Dumas.Um.rtine. A lfred de V igny. George Sand os recebem emseus satocs, e George Sand chega a escrever ao pedreiro ar­lu Poncy : 'Você pode vir a ser o maiOr poeta da França ,,'( .. .} Durante alguns tempos, hcar-se- ã de jOf:lhos diante do

a Cllltllrll POSIIl to," QIlISf&:l, tlICrito em 196) . Os Jl'if(lS lio meus.4 Hisldr itl dllJ /dlill' SocillliltlJJ "lJ BrlJsff. 196' .

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MV Yoshisaki
Sticky Note
Tudo isso vem a se ligar com a temática usualmente posta nos filmes: temas rurais. Conflitos no campo.
Page 19: Brasil Em Tempo de Cinema

opc rJ rio, que se terne uma pusona gem importante e novana vida econ õmrce. po]i!lca IC cultural do paIs" : hã pouco am:Jda r nessas palavras de Benigno Cat eres.' para adapt ,) . lasti sItuação brasileira.

Um povo sem cperãncs. uma burguesia sem burgue~es

mdustrrats. uma classe media' cata de ra r ~C$ c que quer re­pres entar na tela seu marginalismo. mas sem se colocar pro­blemas a Si própria e sem revelar sua mâ consciência: isso dácm cinema cujo her6i principal serA o lump e"f!!l'co]etarlado:'" -A!:I' -e la será a melhor frente de hatalha : o Iaveledc t um mar­ginal social. t um pilria. acusa a scctedede vigente através desua indigtncia. e portanto !lio obriga a enca ra r abertamenteproblemas de lotas cperánes. Proliferam {t êerec extr emamen­te relan o: não significa que haja muitos fl1mes. mas que se­ja m re[ativaml!'ltc numero~; devido ao fraco desenvolvimen­to do cinema brasileiro. IS lendfncias devem ser detectadasa!ravts de: uma quantidade insuficiente de filmes; proliferampo rtanto ). os Mmes de favela . Alt m de Cinco Vl!us F a l'e1ae de i:Hj meros filmes de curta metragem. citemos 03 amõres domocinho cil::l5ado G imba ( FlAvio Ra ngel. 1963). es .ecepítcesde C 4HiJlt<> ao TtcT't Pag.:xJot ( Roberto Fatlu, 1962) . os:"'arglllais batancs de A Gttmd.. Fl! it~ ( Roberto Pires. 1962 ) .')li '<lóllbi:m. O.. .Y.efldipos ( Fl.ávio Migiia.;:d~. 1962). Se ar­g;~::I l i nos filmam no Brtl~ j I. os conIlit' ,s pollticos e rel ; g ioso~ de:

edro e Pa:zlo ( A::Igcl Acciaresl. 1962) serâo arnbrentadcs naf ve1a; os franceses: a favela abrigará os~Ore:s mkicos de

tf.tu a .rlal (Marcel Camus, baseado cm peça de Vi-(lUS CI oraiS. 19S9 ). e L'Homme de Rio {P hilippe de

61 n o Clé{ur de lazer uma vlslt inha à favela : oç • lav das: tambtm seduzirá o sueco Sucks-

b4i • Havelada tambtm a ita lianar Tu u. A (aveia é tantoOr ao Cárnaval como

, 0 leillv rde cinemaem 65 m tra que aue e iüCJãm no crne-

u na 5 UO$ d e: ló' f I

1965). G.. róto de Calçada (Carlos Frederico Rodriguu .1965) . etc.

A Esses marginais opõem-se outros: 03 grã-linos. ASSImcomo os primeiros 510 geralmente bons e, se: perturbam a or ­dem ou atacam a propriedade. sua condição social JustifIcaludo _ precisam comer (U m F alleb d o. O A~salto ao TremPagador) - , os OUlros $Aio definitivamente maus. As repte­_~en Ulç6es da alta burguesia são em geral deliCIOSOS quadrospr tmitlvca. Os cineastas que reconstruíram os ambientes gri­fmos nada sabem sõbre fIes, e isso. aliado â necessidade deuma apresentação critica. resulta em bonecos que têm ora umac{l ra mA e fechada . ora o riso do-cinismo e da hbt.rtlllallem:vtvem em ambientes acintosamente ricos e de mau gOslo; s.liocercados po r qu..dres abstratcs, livros franceses. compridaspiteiras, uísque e mulheres f.fIceis. carros ccnverstve rs chd05de louras. O grilei ro de Zé da Cachotta t encontrado eel H II

lilling-tOOm. pelos Ieveledes. que vtm reclamar a respehc deseu barraco. com uma mulher seminua, em companhia de seufilho. cuja a~nte tambtm estA seminua. e o Hlho perguntaao pai se sabe qu e ho ra volt.a a mãe. Um filme de esquerdaque vai busca su,) concepção da I\ lta burguesia em élXlnReJrlgllu. Tr.tll-se d e expor os grãAinos â deprt.ciaçâ<J pil­h!J: a. Es!Oa \'loo,!o inglnua e naàa realista do 2rã .!lni!mo ee­su ltA da exdus;vl1 im<lglnaç.:to dos autores e n30 esccede 3­

sccrete asplraçi o. que perruanece viv"", cm qualquer grupo pe­q1!ello-burgub. de, um dia , alcança: êsse nível de vida. Co:num gOsto um pouco ma is sóbrio, mas na mesma linha, é êsseo retrato da alta sociedade que eacontraeics nos Hlmes deWalter H ugo Khourl . ou em O A,s ;alto ao Trem Pagador. AMOtte em TréJ TempoJ {Fernando Campos. 1965) . ou E,,­coruro com .. Morte ( do portugub Arlur Dua rte. 1965). ouOJ VencidoJ (Glauro Couto, 1961 ) ou ., . Mas. evidente­mente. atrh dessa sãtlra epídéernlca a burgueSIa permanecemtacee. sem um arranhão.

A GRANDE FEIRA

MV Yoshisaki
Sticky Note
E atualmente, quais serão os motivos que levam os cineastas a esse retorno à favela? Creio que o contexto social e político, bem como os ideais dos cineastas, mudaram. A favela continua a denunciar a má consciência e o marginalismo social-político dos cineastas?
MV Yoshisaki
Sticky Note
Isso é fato. O modo de representação de uma classe: expondo-a ao ridículo de uma caracterização pitoresca em nada atinge as bases pelas quais aquela condição é obtida, e o mecanismo daquele luxo e ridículo desmedido.
Page 20: Brasil Em Tempo de Cinema

0$ comerciantes. OS ttab.\ lhadoru , fica patente em -A Gr. ndeFeira . 05 feirantes de Agua de Meninos slo ameaçados dedespejo por uma cmpds.l imobilJArla que pretende lotear oterreno; os mora.dOtU da felr. permanente lutam para (ansu­var o terreno. A fita ll prC'sent. -se eoee uma crOnJca da ci­dade de Salvador. GlauMr Rocha, o produto~ executivo, du­nos que a fita "pretende ser ( ... ) uma crenrce sem precon­ceitos da provlneia", e o critico baiano Orlando Sen." . fa~?de um ",1.Ír t K o bUsR,iano da sociedade baJ&na C' brasileira .O desenvolvimento da cidade deve-se ao eceêrctc e ao pe­tróleo: nos ultimos anos tem-se desenvolvido o movimento dopôrtc.• rtdc bancArla. o grande e o pequeno comlrd o. Gran­de parte dll auvrdede síndrcal e da luta popular deve-se a~sportuários e aos operários da PctrobrA. . O p~utor e ro~ t.L ­rista da fita . Rex S:hindlu . e um profissional liberal. medico.O direlor. Rcbertc Pires. tambtm provtm da pequena bur­guesia. Pois bem, nessa crOnica da cidade (a Imagem final dofilme. o elevador Lacerda. e um slmbolo que se refere n! o àfei ra. mas sim ao conjunlo da cidade). o pequeno-burguls. ocomerciante, o profissional liberal sumiram completamente. anão ser que easa camada seja representada por um. cronista.s.xl.:1! que. cm breve aparlçlo, tUl: um comportamllffl'to estú­pido centre um feirante t: bnsce 1:1 prote<;ão da policia •.~ t jb~w u deve ,"xciuir o marido da Jtã.Ewa cnrcdtada, pob. em­hora advOljado. representa no filme a llltll sccíedede. Sobra.ll:lol1ft:na3 os grá.finos (05 qu..!.s nJo aio introduzidos pela açãod. IRa, mas por intu mtdio de uma mulher entediada da altasccledade que tem relações amorosas co\p um marinheiro) . apresença do imperialismo por Jntumtdio doe reseevat ôrtos da.Eua cuja marca domina a feira. e oa marginais da feira. Em­bora se realhe um trabalho real na feira. pois hã eceércc,fsI:t tambtm não apauc:e, e li repusentaçlo do povo esla a

rg de vadios. ladrões, mendigos, prostJtutas. assaulnos, queira Orno de um ladrão generoso e anarquiata. Cbrec

-

vUl sind icar? O problema t agudo. mas afastado. Ch..ee Dl~ho.a personagem masculina mais u dU lorll. e que gal a da simpatiad s autores e do. espectadores (principalmente graças à peesc­n~lidade de seu inlerprete. AntOnio Pitanga ). pretende tocarfogo n05 tanques da Euo. destruindo tanto a Esse quanto d

feira : e sua revolta . Não encontra quem concorde com essa .de­dsão irradonal. mas quase alcançara seu obJ etlvo: se no ultl'mo momento e que Maria (Lulsa Maranhã~), sua amante.O)nseguirá jogar no mar as boananas de dl~amlte. nlUe a explo­são II mata: o povo revolta-se contra ChICO. tenta enforcá-lo.chega a polida : por essas e outras. Chico pe~ara trmta anosde cadeia . A revolta de Chtcc acabou num cnme: matou Me­ria: e ameaçado de morte pelos companheiros, que. [untament eCOIU seus criadores. o abandonam à policia. A açAo violenta.alem de tendenciosamente colocada. pois Chico nãc tem nemlógica. nem perspectiva. nem liderança. e sumariamente ccn­denada . Enti o. é de se esperar que os a utores prefIra m allção slndiclll. pacifi ca e por via legal. Mas o Uder sind ical euma personagem esporlldlca. sem consistência. que nuncach~ga a se....~mar e que se perde nll multidão d.s figuras ae­cundariAs: encontJ\mc.-lo no filme cm alguns b4te-papos enunca em llçio. S fal.a revela que os autores ignoraa: o quepossa ser um líder Indicai e Q assimilam 8 um es tudante dedtr eítc com tendêncio!> cS'l.uerdl::<ll1tes. Bene citar a frase :"Como vai êsse ind ividualismo ferrenho? ..•. que an1.õncill suaentrada nuD.! bar da ftira de Agua de Meninos. Vale d íeerque a perspectiva sindicai t omitida. AliAs. no Hlme seg uintedos mesmos produtores. roteirista e d tretot. r ocaia no A s·falto (1962) . a mudança da sociedade por via pacifica estaa cargo de um Jovem deputado es tad ua l Idealista e tecem­egtesso da Faculdade de Direito. que pretende opor uma co­missão parlamentar de Inquerito a politicagem e a violênciados latifundiários. Portanto, fic a dato que os autores sentemos deeequiltbrlcs da sociedade brasileira . mas não sabem iden­tificá-los. sei,tcm que precisam agir. mas ficam desorientadosd iante da aço80.

Essa analise do anarquista (condenado) e do ltdee s ­dical (sem significação) .coloca em primeiro plano uma per­sonagem que, sem ser secundária, tem um papel paralelo a

• Do Ivro A Or(/"d~ ·Ft;rtI. 1962.

35

Page 21: Brasil Em Tempo de Cinema

aç âo t que me pa rece ser o verdadeiro e ünlco embaixador daclasse média: o marinheiro Rón!, dito o Sueco (Geraldo deiRey) . O fato de ere ser marinheiro, de nio conseguir se fiur .de procu rar sempr e: outras bandas. de chega r no inicio doIrlme e ir embora no fim. o aproxima de uma pe rsonagem ca­racterrsuca de um outro movimento cincmatogrMico. O mari­nheiro. o barco. II viagem representam II impoulvc] Ilusão dorealismo ~tico anterícr à II Guerra M undial: [ambbD era umpopulismo. uma expressão de marglnalJsmo de um sercc dasociedad e francesa; só que êeses cineastas procuravam delí­beredemenu: a luga. "Já me acostumei II vagar de pôrto empórto" ou "Eu nunce fui homem de me fixar cm lugar ne­r. hum·· sio {raS(~ que poderiam ser pronunciadas por perso­na gens de Marcel Carné. Em rea lidade. ROní não i incapazde interessar-se pela sorte dos Iereentee: decla ra repetida.ment e estar preocupado com a situa ção e chega a pllrtld parauvamente de um comido promovJdo por algum candida to adepu tado estadual; no entanto. mantim-se afastado dos re­presentant es dos dois pólos pclíueee da feira : o anarquistae o líder sindica i. O tnter êsse de ROnl pela situação não oleva a agir. nem a se Integrar na comunida de. nem li sair deseu pa pel de espectador. E . para caracteri: ar sua a titude. diz :Se 6 .sô1 qen te I ôsse fu et uma revolução aqui mesmo. eu

Ikava". E.~ frese re-..ela sua iftca{'add.:ldlt de agir c a faci ­ji'J ade que hâ em de/ur os outros fà:tete rn aq uiln que li eeMenão quer , não sabe ou não pode fiter, ~$lla frase , f a lnc!a!pais reveladora se se considu ar que RÓnl> como Os au toresdo fíllD~ eaccntre-se entre a alta sociedade e o pOvo : i si·mulflneamenfe amante da gri.fina Ely ( H elena Inh ) e d e

a a d feira . Isso em absoluto não significa que ROn!em Grande Feira o slmbolo da classe midla , mas que

er em tem na atrutura dramltlca da fJta a mumae mtclia na a tura da sociedade. Do-e iéI tiãi e lua situaçlo e de sua

ova a aüAO e se tomado uma per­r O 'Cinema brasilaro. Tal

u maií u ~ leve intulçlo dosa ãüi m te ifev w&utimar.

aoriaaüda . idá .prt:HDtar o

'~'''.T.co~m m iJMbolo.

,

A Gra nde F eira 1'110 representa uma fuga em relac;io • pro­blem6tlca sodal. Se <» verdadeiros problemas aio eliminados.isso se deve evidentemente a Rex Schindler e Roberto Pire~

ma, tillmbm a ttlda uma conjuntura lOCial de que o, autoresse fl: eram o, perte-voees pouco lúcidos. O filme está bemlonge do cinema revolucion6rio que o eeuuresme de alguns{deve-se excetúar o critico baiano Wllter da Silveira e o ci­neasta Alex VliIlny) quis ver em A Grartde F eira quando de$!la apresentaçio."'- _

' O utra fita, essa ruim e desp eeetvel. que manifesta umatendêade rdenuce. i Os Vencidç,.s. U m grl . ((no daqueles(J orge DOría), tamWm oriundo das peças de Nélson Redrl,gues, hom05sexual e enleuqueeíde pelo dinheiro e pelo luxo.qu er despejar pescadores que ccnstru tram seu ba rraco num;"praia que lhe pertence, e recusa um entendim ento com o adovogado que o, pescadores lhe enviam . Alim disso, uma eu ­lher de pescador, grlvida, esll passando mal. Precisa sertransportada ao hospital Não hi ónibus. So o carro do gr8.flno~ E ntre os \lois gr upos, a amante do grl-fino ( Anick Mal­vil) serve de h\fen: apaixona-se po r um belo e meigo pesca­do r {Breno Mtlo) , 011 dois vão tentar obter o carro. Nãoconsegu em. U m peseadcr, a quem olhes emeadccdcs e fC>tosde lu: de baixo para ciCIa dão uma mb.scara dia~liu. , querresolver o caso na marra; chega a ue corpo a corpo ..:0::: ogN-fillo, e, com a bf:nçi o da natureza que intervi m sob foullade uma tempestade. os do is mOUlm. Os dcís extremos Io­ram condenados; sobram os lntermedJàrios ; o burgub queacei taria colabora r com grupos sociais íe ferlores. resolvendoalguns problemas. e o pucador que nada quer da bu:gucslaa não ser a resoNçlo d êsses mesmos problemas. que em nadaalteram nem a condição do burgub nem a do pescador . PauloSlnger diz que a pequena burguesIa "assume uma a titude eclé­tia de 'nem tanto A terra. nem tanto ao mar'. de hostilidadeaos txrremisínos~: Os V encidos i a perfeita i1 ustraçi o dessecomportillmento.

,,-;,.~, Do marginalismo de A Grand e F eira ao maiskomple!ocoiüormlsmo de 0.1 Vencidos i um pauo apenas. Ao Rio que­ee alarar 0lII problemas pe1a frente , ao se compruc.c na re­

su..., prf:Hlltl.~ de H'U marginalismo. o dneasta i leyado a~ fazu filma que se omitem e aceita; .. situaçlo vigente, opon-

do-s sõmente Aquilo a que se opunha o gov!mo que estavill

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Page 22: Brasil Em Tempo de Cinema

tJtuldo assunto para ftlmes de longa metragem, rcaluadoto ;brasileiros nOI I1ICimos anOI, tem seu papel de destaque ern a •9uol; serve, por .exemplc, de pontol de inter rogac;.a.o na Intra_

... duçlo e na conclusio de vimba, e?quaoto. q~e introduz. pI·lavra Inferno em Vidas Sécas. FOI sem dúvida o R,o -10" deNélson Pereira dos $antos que lançou em 1951 o terna dacriança faveJad<t no cinema brasileiro : os engrax ates Ievela­dos, ora tristes, ora alegres, eram o verdadeiro centro dessascctedede múltipla retratada pelo filme. bem como sua vlnmaindefesa . Embora tudo indique que nestes ultimos tecpos acriança vem perdendo p restigio, a ssim mesmo foi personagemde destaque cm 1965 no festival de d nema amador do Jornaldo Brasil: Escravos de /6. l nf lnci4 e var6 to de Calçllda. OM enino de Engenho olha espantado o mundo ruindo em rõr­no dêle, e a última pelSca com quem o Marcelo de O D esllf iose encontra no fim do filme é uma menina pobre e su ja . Em­bora menos que a cr iança, a mulher também utã ! marge mde uma sociedade masculina . Para. expressar o margina lismo.tem sido rIl...enos utillzada que a criança, m d S tem a pa recidoalgumas vtzn- COPl. esse sentido, principalment e em Põ rCodes Ca ixas ( Paulo- César Saraccni) e A Falecida r LeonHirnoan ) . \

Outros -margir::a:s que nâ c podl:lc Q,L;" .. r de S~dl!: j . cscíneastes PO os cangaceirO! e os beatos ncrdesuacs . _pcr:SC:'l3­gens de um dos fil mes mais importantes, D f'uS e o Diabo f! lt

Terra do Sol. como de uma sêste de filmes comercíete. geral.mente teenkclcndcs. produzidos e realizados por crneestcs dosu l do Brasil. Citemos, entre outros, as scperpredcçêee deOsvaldo Ma!salOi. A Morte Comand.'t o Cllngllço ( C a rlosCoimbra, 1960 ) e Lampilo. R ei do Cllngaço (C aria s Cote ­bra , (1963), ou os mais modestos Trés Cabras de !Ampli o(Au rélio Teixeira , 1962 ) ou N ordeste Sangrento {WilsonSilva, 1962 ) ; o cangaceiro também t assente de documen:ll r t­em Memóriil, do CangBço (Paulo G il Soares. 1965 ) . A perso ­nagem não é recente no cinema brasileiro : jã aparece em fi·mes pernambucano, de 1925/27 (F ho Sem Mie e San ue de[rmio). nUm momento em. que o cangaceirlsmo ainda não erafenômeno do passado. Nestes filmes, o cangaceiro parece terpapel secundário. mas j! é personagem central num lllcre deflcçlio de longa m.etragem, ~mpi.o, Fer/J. do Noraeste. reelt-

••

CR1ASÇAS, C ANCACEI ROS E OUTROS

" .DO poder quando os fi lmu fotam fltitM. T. I 'i[Ua~J~... pod~.mo(hEicllt_sC' quando Me poulvel abordar o prol~~!.L1do, ,ocllmpesinato atual. a burguesia indultrlal dita na~l?'!,lIsta , e.. p«z uena bUfguuia. Enqua nto hlea gru PQ' socta[, perfila.neeerem lora do .!cante do cinema....oa filmes brasllelros nl aabordlltáo os rtais problemas do paIs. Populismo e , ~.rgln• •lismo nào datam de hoje no cinema brASileiro; JA estavam pre­sentes antes da tevoJu~io de J930. O moralismo de Joat Me­diDa. por uempJo. opu.v. _oe. noa ctrculcs d. alta sociedadepaulistana. em Exemplo Regenerador ( 1918/21) , ora, emFragmentos da Vida ( 1929). entre vagabundos que viviam deexpedientes. tendo sido sumlriamente elimina do o pedreiroque apar«:ia no inicio do Idme.

MV Yoshisaki
Sticky Note
As classes não representadas nos filmes são a própria máscara de exposição do cineasta. Atualmente, como o cinema tem retratado os seus realizadores? Estão eles presentes na tela? E de que forma? Quais os assuntos que interessam aos cineastas?
Page 23: Brasil Em Tempo de Cinema

:.. do n& Bahia em 1930. antes da morte de Lampli o. e.. noM~.::lO. limA Barrete. com O Cang&cciro ( 1953). lllme de., nruees rc. h: ado no interior do Eseede de S. Paulo. quemna ugurll o ciclo c delineia os principais traços que ficarilo (<1­

:acruiZ4ndo o cangaceiro no cinema comercial. Numa visãoro~anti:.da da his tOria . o cangaceiro é cm geral filho deC<I.::I:ponb. que. para vingar uma ofensa pra ticada por um pro­pnetànc de terra ou pela policia. se torna bandido: passa aviver de violtOQa: Agregam- se a t lc outros que. por motivossimila res, nã o podem continuar li aceitar as eondlções de vidaque são as do camponts nordutino.

O cangacClro é u m revoltado eentra II organi: açlo soc ialda ltgiio cm qu e vive : .II margem da sociedade. passa ii ata­c.·la. :-'fas sua revolta é anárquica : ela visa dest ruir. even­tU41 mente proteger os camponeses desamparados. mas nadaprcçõe. O Ianatísmo, que congrega muito mais gente que ocar. gace.risClo le::::! a mesma origem: camponeses insa tisfe ito.>seguem o bea to cujas prof«ias an unciam um mundo de ler­rura e de justiça. mediante o sofrimento terrestre. Trata -selambéJ:::l de uma revolta desorganizada : nãc se tem ccnscíên­ela de que hã uma revolta ccntrs um determtaadc 'estado decr s e ral:!btm não se propM mudar coisa algum!!. A solu ­ção encontraria para esee revolta teccuscrenrc é ii alitr.açãona vioitn,:;l" 011 no mi~tie:smo l:b ttrlco. que sempre rep 'e s ~n­

la: uma ôlõ ltemativa para a vida ~e campont! eeet-eseeevc.- Fan! ticos e cangacdros oferetem ~rtanto um, mat eria lde' primeira qualidade para um cinema qt1e quer representaro. marginalismo. desde que eliminadas suns Implicações se-

..... lj,ais. Completamente du ligado de sua significação social. ongaceiro é o bandido de honra. cujo sadismo se reveste de

~~~tism . e-que ttm seus momentos de poe.sia ao luar. A iéme Jfncta e: de. sua honra. importa no cangaceiro crne­ma~r.fico u Je nÃo se" fixe. nlo tenha pouso certo e sua

ja m nâança; fie vai d ventura em aventura . Eme ~ Qaell o Pajw ( Lima Barr eto.

mo di liIârc:hi ' ou do passdo ) pe loIdl: do filme.

ri.ftdu ClucampadosBfijjJ. aC:li

mPai

n!lrdes tern. Após cruentos espancam ento•. tortura. rios de.sangue. individuo alldo a um cavalo e anutado no chio (ofilme de cangaceiro se compraz numa víclêncía náo raro gra­tuita). após amOres eróticos ou roml nt!c.os. o cangaceIro ru mmorre. enquanto o bom deixa o cangaço e va! a igreja : essat a conclusão de Trls C. bras de Ú1mpiio. O ultimo roteirode Lima Barrete t caractetlSlico do gl nero: numa atmosreravagamente mtsuca. onde p aira o dutino. o cangacciro Q ue/tdo Pajeu é pura honra e coragem ; após umas cc-nas eróticascom uma mulher "sedenta de sexo". umas cenas de vícl ênctaem que Quelt mat" a sangue frio ou"corta. um pedaço de 10mbC'num boi vivo. ete gentilment e se submete ao inqutrito de umpolicia l. também muito gentil. tudo Isso com o maior desprê ccpelo mais elementa r realismo. E ntre o A mor e o Cangaço(A urélio T eixeira . 1965) sintetiza maravilhosamente tOda aproblemãtica do ciclo do cangaço . loviano (G eraldo del Rey )quer casar e trabalhar. viver tranquila e hcnredacieate no si­ttc adquirido Pylo árduo trabalho do pai. mai, nada . V tracangaceiro porq~e um coronel mata seu p3i para apoderar-sedo sítio. Mas bate" saudade da noiva e daquela vida que seapronta"a a viver. e [evteee volta ao sitio. Após pcri~cia.s.

consegue põr o sitio em ordem. casar. e lhe eroce 'Jm f lno:sob a prott..;ão dos canyacdros. JOViiHlO é Uni peqUl'J10 pro­prtetâdo e um pai de famIlla fe:!!; e reeltaedc. E morrem 06

exueecs: o poder05O coronel e o terrível chefe do bando decangaceiros. Marginalismo. rebeldia inconsciente contra a .I ­

tuação social. viollncia sem raet'ees pclntccs. dignidadu rc­mlntica e morallsmo. tudo use em rehll;ão a um Ienõmencjã passado. sem compromisso com o presente : t natural queO cangaceiro tenha oferecido ao grande púbtfco possibilidadesde Identificação. A revista O Cru:eiro ( número de 21. 8 .65 )expressa o que certamente fh o sucesso do Tilme de cang"' ·cerres Junto ao grande público: se. por um lado "o can9a~0

( ... ) encarnou a rebeldia do homem do campo contra aqut­les que lhe impunham condições sub-humanas de vida ( .. -].~r :outro lado. a hist6rla do ca ngaço t "uma hist6r1a à parte

;';~'da lit6ria do BrasU" (os gdfOJ slo meus). Seea necessáncu~ Deus e o D iabo M Terra do Sol para te uma 'I.;siomais realista do cangaceiro e do beato.

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Page 24: Brasil Em Tempo de Cinema

Para u presSolr o maflilinalismo. r«orr~u . se a outros gru ­pos sociaIS : o camponb est! fora do eíeeutec da evoluçlo 10­cial c atravessa o ser tão em dlreçlo.o 11,11 cm S ellr. Vermelha(Alberto d'Averse. 1963) . Vladimir Henog eaconucu umdos mais marcantes simbolos de marginalismo no documentá­rio M.rimbas ( 1963). os quais não são pescadores. mas vi­VClll. d. pc.sêa: dio uma 111. 1 0 . os pescedcres na praia. e emtroca recebem uns peixes.

A SPlIl AÇl.i ES 00 :-,1ARCIS AL

Mllrginalismo, dignidade romAntJca e morall, mo reape­eecem na perscnaâem central dos lilmes de Roberto farlaS,que tem entretanto uma caracterlsUc.a neve : êle nl o se sentebem na pele de marginal e lUlA desesperadamente para rme­gr.c-se na sociedade. Essa luta para a integraçJo repreaenreum choque co:r. a sociedade, pois essa t antes de mais nadaum mec.:mismo feito para esm.gi-Io. O Iaveledc T il o Medo­t1110 \ EIJuel G01DU) em O Aualto.lo Trem P al/adori 1962) .privado do ccníõrtc q'Je a rccledade oferece a SI:US membrosmais abasUldos. roube c enfrenta em sequíde D. j.lcllclô.l , su­tem... de proteç.io d... sociedade. O ladrão de mate (Regln~J.:I ofarias ) de SefiJ'tJ T,igica (1 96'" t apanhado e eseravi.rado.como todos 05 ou tr05 trabalhadores, pel" Companhia. O ma­landro (Reginal do Farias) de Cidade .\.me.ç.da ( 1960) t!UZf objelo nas mãos da sociedade : a imprensa faz dê le um te­mlyel iJ)andido e êle nio tem outra solução senão assumir o

aJ?el ~ue~he t imposto, Roberto Farlas vê de modo um tantoucmltico as relações entre esse JndJvfduo e a sociedade,

eglnao a recorrer, cm Selua Tr.gic..• •os piores chavões docu lüio ilista. tal como bse 'deo&:em que a perscna-

cm ii'i,", Nos filma ck. o Faria• . -êsse In-a eita Met.I. nem o papel que: a 'tIO-

!iii e 9. -""«o consiste emIIldOi de tis, um lar ruolvel.

cm con ar !.QWl1bno .cntuncntal eaã~ D va i:I OlJadt

anila e orn-

,-

pra panelas. A rcaçio de TUa Medonho. que: Compra Ull:lageladeira, lem o mesmo eenudo. e uma tentativa de lrae,

.. gr.r-se nas norma. da sociedade. M as a policia d esmantelar'qualquer tentativa fe:ita no sentJdo de um eseabeleclmenre pe­quenc burguh, pois ladrões. malandros, lavelados, não per­tencem i classe .ti qual Esse eatabelectmentc t faculta do. EmSelva Trâgica, a rução da personagem não t t ão precisa:trata-se de uma fuga para um futura deeccehecrdc num outropais. Se nio encontramos ai lentativ. de montar uma casa.o mesmo tipo de asplraçio se revela: o lad rão qu er casa r comuma mõça virgem: um capataz, ao deflorar a mõça, aniqUIla asaspiraçOes tticas do rapaz, pois o casamento nunca mais po­derá ser um verdadeiro casamento. AI a sociedade esm..gi\uma possibilidade de real!zação no plano de uma moral me­dia tradicional. O resu ltado t o mesmo nos trb ca sos: osguardiões da sociedade matam o individuo mtlr gina l qu e ten­tau integrar_se.

Em O A SJalto ao Trem Pagador. a personagem to:ntat~~~ um....ou tra rcaçAo. A malta dos bandido!> fa 'l,e1a dos tdltl91da pelo Grilo ',{R eglnaldo Faria s ) . um individ uo que oAupe rtence II Ievela, ~u~ aspira viver nos Cloiou i a altõ bul "guesfa, cuja amant .e i uIa'" 'j/rR.ílna cartoca . O Grilo tempOrt 3n to um ft na Ievele e um pi no grã . f iJ~is nl~' ; quando o~favdauos percebem que o G rilo os engan" e se epecveuedl l.es, tles o matam . e uma reaçio vtolenre que t uma ren­tatlva de Ilbertaçlo. Roberto Farias mata o G n lo tambtmporque as aspiraç6es d êle ndo se dirigem .ti classe méd Je massIm li alta sociedade.

O ma rginal estA na impossibilidade de ccncrem er 5eusonho de integraçlo e Roberto Farias tenta superar o impas seda persona gem transformando_a em her6i. Essa heroização ts­sulla tambtm da simplJfkaçlo da re laçi o indtvlduc-sociededefjcando um totalmente bom, e: a outra mA; e resulta da ne~cessidade de identJfiaç'o do dlretor e do publico com o mar­ginal de aspiraçAo pequeno-burguesa cm choque com a se­dedade. Eua htroJu.ç'o fu do margin.1 um individ uo dealto padr'o moral : êle t cor.joso. honrado, generoso. e umhom~ forte. modelo de masculinidade. O uadrl o de Selv4.Tr. 9,lca ch~ga a um momento de comunlcaçAo com seu maisImediato inImigo, um c,:)pataZ (Maurldo do \t.le1. justamente

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MV Yoshisaki
Sticky Note
É curiosa essa tradição brasileira: por que o marginal é tão atraente para o cineasta? Curiosidade diante de um mundo distante do seu? Compromisso social em relação àqueles menos favorecidos (má consciência) ? Ou uma alienação de sua própria situação?
Page 25: Brasil Em Tempo de Cinema

pcrque êles se encontram no plano do Ideal masculino" O~ra nal heroi:"do nla pode senlo morrer no fim do filmee s'J~ recrte l • txtlnçlo de uma ftl r.;;a da ne rure ee. T I! o Me­d ho Irfane. O curativo que lhe cobre o peito e seu 9ra~dcc po prêto. agll.do por uma respirAção sincopada. expira .O .Ideio de mate bale..do num descampado. morre com rede• ~nf8se q to U':lgC a clrcunstlncla.

'I

Diálogocom os Dirigentes

MV Yoshisaki
Sticky Note
O que até aqui foi exposto, ou tentado se provar, foi a condição do cineasta com relação a sua própria classe e seus personagens. há a exploração das classes acima (alta burguesia) e abaixo (marginalizados) da classe média (classe do cineasta); portanto, tenta-se refletir os ideais e valores da classe média para outras classes, delegando responsabilidades e aspirações; construindo heróis marginalizados segundo uma visão de mundo classe-medista.
Page 26: Brasil Em Tempo de Cinema

1 l'<lIl0rOmO do T~olro Br01Tltiro, 1962 .

1962). Em Salvcdce, o Padre O levc ( Oionlslo AU"'''dQimpede Zé do Burro (Leonardo Vilar ) de cumprir sua ere­meu a Junto a Santa Bárb.lla , por ter sido feita num tendro

'Y de candumblé. U é representante do povo. enquanto que oPadre com a colôlboraçAo de um bispo e de um delegado depollci;. representa a autorldad~ conarítulda. Esta é in~ransi _gente e impede o povo de rea lizar suas vontades. A Impos­sibilidade de dillogo entre o sino da igreja e o berimbau cr iauma tendo que se resolve pela morte de Zé. que é ec locedcna cruz COm a quarã massa arrombarA a porta da Ig rej aA situaçio poderia ter recebido um rrercmeerc ligeiramentetrõnrcc. conforme a interpretação de Sébetc Magaldi.' mas é.no filme. levada sériamente. e até de um modo um tanto en­Iát tcc . l\ morte de Zé é um catalisador, poSSibilitando queo povo se una e recorra A f6rça para obter o que quelLa. Opovo é vitorioso. O Padre é derrotado. Tal vitória consisteem ler Zé do Berre ingressado na igre ja : após essa vilÓlla.o povo passa a partid par da vida da igreja. Para que talacontecimento possa ser considerado vitória. t necessénc queo povo. no {lime. reconheça a validade da igreja: que êleacene a igreja't81 como t e considere soluçâc de seus proble ­mas o fato de participar dela. ~ evidente que .. pllrlLcipllçãopopular lnodific.1ri. ltn!lmer.1e e por dentre. li igreja . NJ~

t menos evídcate que oliteas soJ\l~6es F'0~[!1 r'xi-'r!:' C;lJe cpcvc queira celecee-ee no iugar dos dirigentes da Igreja: quec povo nlo reconheça I igreja e queíra deatrut-Ie, ou erguer,paralelamente Do ela , sua próp ria ig reja. Nada diSSO acontece :a 19reja e seus dirigentes do reconhecidos : scltcne-se sim­plesmente a êles que integrem o povo.

O Paglldor de Prom euas t um apólogo : basta subst l ~

ruir a igreja pelo gcv êrnc e teremos um retrato d a I ha p0­litica que certos seecres da esquerda vinham adotando naépoca em que o filme foi realizado - e continuam adctendc.O gcvêmc e os dirigentes do aceitos. e a esquerda so lldta~lhes que integrem um pouco mais o povo na vida do pa is; tconsiderado vitória um alto dirigente conceder eeeeevreea ouoferecer a lgum cargo administrativo a um elemento recon e­cidamente de esquerda. O Pagador de Promessas ilus ua eUl.Unha politica que loi qualíftcada de reboquismo presslQna-sCl

,,

II

I-

1

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I

Aqueles também do t ornen,l Issc fli o pode CQlltinuar! Se­nhores Governantes (tçam alguma coisa!

C lluber Roch..·0PÓN C a usa o~l~taçio: A ldtia 1~I~umai, importan te de ' II. Rell/JAo Crit.ca do Cinema Brasllclrot qu e os fiJ au:s br asileiros nAo devem denunciar o povo As elas­ses dirigentes, mu sim denu nciar o povo ao próprio povo. Porenquan to. apenas uma Idtia.•

Um dos recursos de que se vale am/ude o documentárioé cerecrerrsncc dessa a titude c consiste cm confrontar uma de­terminada realidade côm IS teses oliciais existentes li respeito.li fim de sugerir que estas sio obsoletas. nio evolulram Comli rea lida de c preCÍsam aluall rar·sc. Lecn H irszman iniciaM.lioria A bsoluta (1961) entrcvi.stando algumas pessoasmarcadJlmc.n tc b ur gues.Ils. cujos dcpoimc.ntl» jus tifica m. semnun ca alcançar o nó do problema. a impoS!ibilidade de dei­xar \'Otar 0 5 analfabetos : a COll tinuaçl o do filme desmoralizaessas Jdéias: os burgueses precisam pôr-se em dia com a rea­lidade. Encontrl ll1os o mesmo recurse na primeira parte deMemÓâ. do C'f1g.ço. qU.lndo o professor EstAdo de Limaexpõe que ser ou nlo cangaceiro é problema de glAndulas. AJdtiA parece-nos 110 esdrüxula que nlo era eeeeeeerc acres­centar coisa alguma para dCSl13or.lli:.A-Ia. Mas onde o reecrso~ mai.s seasrvel. Fois cheja a .:onst :tulr a própria estrutura dolflme. t em .4.rtig$. J/l ( o~é Edu.1fdo M . de Ollvein .. 1961).cm que vistas de uoa fnela MO acnmpanhadas, na faixa so­nora. peja leitura de fragmentos do artigo 111 da Constitui­çio Brasileira. ° qual afirma a igua ldade dt direitos entre oshomens e recomenda que haja escolas para \odu as crianças,que o povo tenha participaçl.o no lucro dU emprbas, etc.O filme Jimita.,e a denunciar o não-cumprlmento do relendoartigo e reclama sua aplic.açl.o. e assim se dirige sobretudo.àquclcst que criaram o artigo I i I c n10 o aplicaram. pois.parII PI lavelados. pouco importa que exista ou deixe de exrs­JJri o bondoso artigo.

Page 27: Brasil Em Tempo de Cinema

o p ,}j para que ampa re OS desprotegidos. e.stes podem insis tirpara obter algo do paL podem eventualmente sugerir deta­lhes ou alterar po rmenores da atuaç!o polltica do pai. ma,I.Cclto'lm 05 princlpios bâ,/(:os que determinam ii oricntllção ge­raI do pai c não lhe contrapõem qualquer outra. e. extrema ­mente dtscuuvel que a vitória fjna l seja mais do povo do queda le reja cm O Pagãdor de Promessas. Que o povo, porexemplo. des trua a Igreja. seria .uma solução Idealista - , odesfecho do. filme é o que mtlh.2l..rtf/l': te a rcaHdadc. miohá d(hida. Mas o filme seria multo mais incisivo se. ao invésde encerrar-se com uma pretensa vitô rta, mOstrasse o quãoIlusória t usa "lt6ria c lentasse colocar cm questão a linhapolitica que ela supõe.

J:'.!a mesma perspectiva. c de maneira mais clilr<l ainda,s tua-se A.f.'oria Ab~oluta , que documenta o analfabetismo ci! miséria. o abandono tot.1 em qu e vivem os camponesesncrdeanncs. O Hlm e, admirável. é brutal e seee e se dirige_ t o narra dor da Eita que o diz _ àqueles pa ri! quem osc<Jmponeses miseráveis e anBlEabetos produzem alimentos. Tre­Ia-se de chamar-nos a atenção, i! nós que comemos, sõb re a5 :uaçAo dr» ca!ll.pcneus. A últJma ~eqnlnda do fJlme ínteo­dl.:x uma \'isla a érea do Congresso em B~asllla . a b h:a se­nora ~eprodu: ll:n vozerío que sugere a dispu ta vã U1 que se~~i;l r":l!l os CO\ Crn4n l ~~ sem tnmaq, eouhecrmentc dos r":l isproblemas que <:~sdalJl o país. De lf'pp:tc, um grito : At"n­çJ,, 1 Snt:l:;io de expectedva. E voltaln0"-íl0 Nordeste. A s·lSlm em tom grilYe e severo. o filme desafia os dirigentes paraque solucionem 05 problemas apresentados. mas para Isso tJlecesü rio teconhecê-los como eqcêlee de quem deve ou pode

'1 ti wlução. O que t rstc senão pedir-lhes que façam seut abalho. senlo denunciar o povo .6 classe dirigentt1 Ê impor­tante gue: se: a : eSCOlher uta perspectiva ou aquela su ge­

Gliuoo Rocha. quase independente dos cineastas -tua o eral o f que: comanda.

daI de A G rande F eira ficou patente pa ra João Pa lma Neto.um dos pa rtícJpantea dos eccntecírnentcs abordados n8 fita.que resolveu tu 1izar uma réplica. Sol S6bre li Lama não al_tera substancialmente o panorama de Agua de Meninos epre­sentado por A Grande F eira. mas a questão da açi o é mal.amplamente exposta e discutida. A situação t a seguinte.grandes burgueses da cidade do Salvador querem eliminar IIfeira , e para tese uma draga fecha o ancoradou ro. impedindoo IIbllstec1m~ . Os feirantes querem lutar em prol da rea­bertura do ancoradouro. e dois trderes ap resentam Ulhcas dl­Ieeenees. Um dtles. um açougueiro (Roberto Ferreira ) pro­põe uma alõão violenta de massa , que consist; ria em o poveapoderar-se da d raga. O outro ltdee. Valente (G eraldo ele!Rey} , que dirige um depôaito de materiais de construção, ê

Iavcr êvel. n30 a uma alõlo de massa. mas sim a demarche$qu e seriam feitas junto aos grandes da cidade. às autoridadeslocais e a deputados federais . e a uma grande campanha naimprensa. Ou seja : Valente t favo rável a uma alõâo que een­slsta em trabaJho Junto aos podê res censtüutdos. peesstenan­de-os e eventu~!mente jogando-os uns contra o, outros, a fimde obter as medidas desejadas. tudo tssc dentro da lega lidade .l! • ttptca ação slnrtlca! qu e espera das ectondades cor.~ tilul ­das - mediante M)lidtaçClc:s t pressões - • S'.,l!UlõiO de 3e'JSproblemas. Os lideres a fro ,. ta C'\ .~e numa reun tõc li" sindkdloe o c:çouguejro conseg ue a adesão popular. Da trcl lç.\ o de umhâbi tante da feira , mau e tarado - cujo comportamento s6se explica alra\'és de sua maldade Individu ai - . resulta ofracasso do ataque 1 dra ga : a polícia espera o povo e a tirasóbre êle . Depois dêsse mal6gro, Valente passa 1 açâo. comCr$ 600. 000 arranjados pelos Ieuan tes. Tem um encontroínlrutlfero com o magnata que quer fechar o ancoradouro.mas. graças A campanha [ernaltsuce. conseg ue a compreensãode deputados e sobretudo do prefeito da ctda de. que ccndt­d ona sua permenêncta no cargo à vitória dos ferrantes. FI­nalmente. sem movimento de massa. Valente é vitorioso : adraga sal. o ancoradouro é reaberto. fi feira retoma seu ritmonormal. Lã onde: a ecêe popular fra~.sou, a açio legal Juntoa autoridades constituldas obteve sucesso. Donde se concluíque para eesclver OS problemas do povo, bte 'mi vee 'de agirdlretamente. deve solicitar As au h a,de as SOfuç6es; e defato, as autoridades, embora haja sempre algumas' Infoleran-

49

.....

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tes, resolvem os p[('bJemas. e a vJ tória do reboqu15mo. e.estabelecer a nJo_atuaçio popular como programa par" ,0 povo.e elevar ao nfvel de programa popular a tAtJca governISta quedesde Getulio V.ugas consiste cm esvaDat. poasJvel cvoluçlopolItica do povo .

Os autores do Wme sentiram certamente o quão .poucoprogressista era sua tese e tentaram uma s1nte!c : depois dofracasso d. a<;lo popular c antes de COt!Jcçar a pressionar asautoridades. Valente, m.anP4. uma carte ao lIdu venddc paraexpltcar-Ihe que. no fundo. os dois tfm f a:z:! o : sem a ag itaçãode maua. 0$ m"'todQJ: por via legal de pouco v.leriam . Aecc­tece. porém. que Valente vence por seus mttodOJl e sem pe r­rieipaçAo da maS:Ia (que se limita a fornece; o dinbt.Lro; ,pelo"isto, o ataque A draY8 n ão teve repercussao ). e que, diantede tal fa to. uma síntese exclusivamente verbal é por demaistlmido e idealista. é: provb t:lmcnte o mesmo mal-Ular dran­te da tese proposta e o du ejo de equilibrar u duas posiçõesque levaram os autores a outras posições de um idealismoingenuo. como aquela revelada pela canção que acompanha oenttrro do líder vencido e que di: que um Itder morto t umaestrtla a mais no céu. Outro indldo da compreens1o ideal!"tados 8conrecim entc-s t a ausblda de modvaçw para- ecru saçOU . Ass!o como a trolçi o deve-se a um ccepcrtemcntoindividual. o ataque I: draga deve-se funda.uentalmente tiIcree üdCfança de açougueiro. !lem que se leve em cons!de·raçáo a situaçáe d etiva dos comuc1az:tes da fma : nlo hAindicies de que o bloqueio económico rept\'cuta na lelra. Nadaindica que o movimento da fdra esteja ~iminuldo , que este­ques atejam se esgotando. que gtnuos alimentlcios frescos.estejam laltando que compradores proc urml outru fontes .que lornecedores tentml outtu viu de ucoamento. O blc­queJo, que t o núcleo da luta e da açAo dramAtica do filme.toma·se um dado abstra to.

0útro sintoma da poliçlio idul!·ta auumida peJa fita ta~gem de Valente. Tudo o dJfUettda dos outros mo­ra Clã I rir; e" cowportamento. seul gestos, lua fala,

e v r, s nderaçJo. o assemelham mais a umii ssagcm ~ ldr! 9ue a um feirante. Tal

. r CUl a~ do l:aeuso ela açAopoJl'ulãi antes a mn Uie erm dinháto. quen-dõ alente esolve f êlilXlr dra. Sic

é o único a ter tll l reaçê c. que o assemelha mUlto ao R6ni d"A Grande Feira. Tudo faz dêle um elemento da classe mt_

"ôla, intermedlàrlo entre o povo e a burguesia. ale t a única.. personagem da fita que tem tal posiçlo int ermediAria; e. em

realidad~. graças .. açlo legal de um individuo classe mtdiaJunto 11 burguesia que sio resolvidos os problemas do povo.

Não tenho absoluta certeza de que as posições assumi­das pela fita seja ln da inteira responsabilidade de Alex V iany

c: (roteirista e dtretee ] e Miguel TOrres ( roteirista ). pois c [il­me foi triturado e remodelado pelo prod utor depois de aca­bado, e não conheço a montagem original. De qualquer modo.Atex Viany reconhece hoje que houve falhas graves na e ná ­hse dos accntecreentoe. e por isso se responsabiTIu . A pro­ximidade dos acontecimentos. o contacto direto com m.UltOSde seus protagonistas. um argumento Já pronto e parcia l (q uet da autoria da pessoa q ue teve na rea lidade o papel de Va#lente) impediram os roteiristas de ter uma compreensão maiSdlalttica dos fatos. Eua ccmpreensêc veio durante as fi lma­gen~. e a montagem (di: Alex Viany : "J1 durante as filma­geu.!, cu fJqueJ" consciente de que fazia uma obra read onArla,antl·sindic<ll e auti-operArla" ) : ma, a l:ta era vísceealmenre.utruturlll.u.;entc Cals~ c só longo) e unposslvel periooo de re­filma~ ens porlr.rill ter elteradc sua siguif ica·;50 b.bica. Dequaiqtlcl' modo. Sof Sôf,re .:Jr Lama. como está. se enque­drlll perfeitamente no panorama do cinema brastlelrc, poISestá inteiramente de acõrdc com a significação geral da r.rin.clpal tendtncla desse cinema, e V alente int cgra. se per eue­mente na galeria das personagens intermediarias entre o povoe a burguesia.

O empenho com qu e se propõe a a çâo liderada por Va­lente t tão radical que constitui pràticamente uma ahenaçãonuma rauca em que se a lienara m as esquerdas du rante anose anos. Por outro lado. o radicalismo do fll me a favor de umaecêe legal e contra uma ação popular leva com clareza suaspropostas a um ponto que. de tio apsurdo. jã prenuncia umatomada de conscrêncte. DeclaraçOe- recentes de Alex Vianymostram. de fato. qu e as posiçoes auumidas no filme foramultrapassadas. Em vez de malhado superficialmenfe. o fzlmedeveria ter sido discutido mais abertamente, pois condena..tede uma tática errada . premissas sociol6gicas falsas e idealis.

SI

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!JS que caracterizam um longo perfcdo da vida da sociedadebrasIleira. Sol Sóbre II Lama pode ser considerado como umdos mais signifiCativos testemunhos de tOda uma politica quefracassou.

BAIlR .... vE:.:TO: P OLÍTICA. DE CÚ PULA

I,Jangada serA I possibilidade de prova r que Ar lll t de fatoprotegido pela de use do mar ii qu em deve dedicar sua vida.T odo o povo acred ita na ~!tuaç~o privilegiada de Aruií

Plrmln... dtlxara li aldeia hã um certo tempo: IOra paraii cidade grande. ond e ap ren dera novas idtias. e onde :lmigosseus acredltam,que as coisas mudarão, qu e dias melhores Mode vir, pensamentos hsu que não deixaram de provocar con­flitos com a polida. No inicio do filme. Ftrmíno volta. ai.deia e ' suá .tuação" str. no $~tido de que6'fâ} o sU tu quo.de quebrar o mito de Aru! e de levar os homens II resolver~r si próprios os seus problemas...cm ve: de esperar so!.uÇOUdivinlls. Paradoxalmentc. .II primeira tentenva de FlrminoconsiJtJrA cm fater uma macumba contra Arui. li. fIm de quePUeçll no mar. Feacesso. A segund.l tcntalivil scr.l um atoanArquleo. pareddo com o de Chtco Diabo el:l A GrattdcFcira: depolJ de os pescadores terem remcndado a rêde. j1quc nl o conseguiram uma nova. P temtne rasg. -a a fim delmpcdir com~mISlOS' mcias soluçoo: precisa coloc.ar 01 hc ­mcns ao pt parede e levá-los a soluçõcs lcrtes e decisivas.a se encarreg em de seu destino Finalmcnte. P irmmo ecn­scgu e queb rar. com a ajuda de su.. am.antc. Cota ( Lu\..~ M••r.nU o l . .II vlrqindade de Aruã. o dg l(lll por Icmanj!: ~Ul:ul ~t.tnunle.'1t~. PiMlino manda ao :ru . CJ,,:sndo uma :c != euadese vem forcando. um heutem eue ."'- r ll .. ni'lu consel:/u rA sal.'t"lr : AruA est! desetsutreedc. !\rui t um hcmee cerno osoutros e Jemanj' nÃo trar' solução alguma aos problcmas dospes<:adorcs : htu terão de encontra r e fate r vigorar suas pró­prias seluções. Arui deixa a aldeia : vai para a cidade. adoquirirA novas idtias. trabalharã o volta rã dentro de dois .nO!!com uma r"de nova. e então casara com uma filha de leman)' .Malna ( Lud Carvalho ) .

QUem t Pirmino. bse Hdee da opos ição. e qual t seu pe­pel? Plrmino viveu em Buraquinho a re ir para a cidade e.quando volta. t outro homem. um elemento est ranho A comu­nidade. Suas Idtias sio outras. não se veste como os pesocadora. sua tltUbcr"nC4~ no (a lar e no gesticular contl'astacom o COJIlpcrtamento dos pescadores. tem experitncias des­conhecidas dOi moradores do vilarejo. teve encfen)Js com apolida. Plrmino conseguiu evoluir po rque se, f!u bfra iu 1 co­munidade. Na ddade. era Certamente um ma rglna l. viveumal, de descarregar na vios de contrabando q u QQ traballl:o

Page 30: Brasil Em Tempo de Cinema

r~9ula r . Cabe "rucentar que essa coloc.ç~o de cJqade 010ii: nova. Já ii: tradicional II' culturu bt. s.llt lta .~ 9~ade .pa·recer como uma fonte de Idtlu perturbadora. c( reJ.1ovador. s.quer seja enviando par. o lnterlor indtvlduos porta~ores des­sas ldtias que serão no campo con~~uada~ subvc~slVas. querseja chaeando a si pessoas que aspiram. um. Vida melhor.A cidade j1 tem esse papel c::n Gradll·no ~m05. "Na ddsdesujcit05 exaltados comcçava~ a espalhar que Si ç .Bu o:s rdo

"- - era um ninho de rcacionlri05 : com' seu. díscuraos 'c -folhctos."cmpes ta~ as capitais" normalista. prc~~~das ~om "e ques ­tão social . Madalena, mulher do donp de Slo ' Bernardo, ii:uma ciladina que, na fUtnde. escondid. do marldo~ ";vai tendosua. conversas sôbre o socialismo. ' o , que la: embirrar seuPaulo Honório. E o Luis da Silva de Angústiã-'Vai ten tar"vencer a vida" abandonando o campo peJa cidade.

Assim. no tntcrc do filme. PJrmino volta ao Buraquinhoe surge por detrás das pedras e vai se constituir no elementoperturbador da al<!eia; êle vai atrapalhar: por .seu .i/otermi dio.as idti as e a evolueãc urbana vão contaminar a vJd. estagnadados pescadores. Essa tarefe, êle a reaUzarA só. contra todos.Finll Ulo t um individuo isolado: a wuca pessoa c0f11,.. Guem sedA t Cota. a qual se llttlddarA .pós ter quebrado -o tabu se­xual de At l>}. . Fmnlr.o sente seu b olau:mto e gO.ilaria deintcgrar.:;e: "Eu tamWm ICIU irmão." O que se d! em rele­ção i~ pusou , ocorre tambtm em rdação aos lug3res : aoBuraquinho, Firmioo Ji nio pertcnce~s, pois sua eruel per­sonalidade foi formada na ad.de; m tampouco pertence icidade. pois senle a necessidade de dpar da evolução de.6uraquinho. Disso. uma primeira conclusão fica clara : osi at6res que vão alterar a vida da comunJdade não São oriun­dos dessa mesma comunidade. Slo fat6res externos, A pes­

0'4<_;; que vai aJcerar a vida da comun.ldade não provêm desseomunidadt, Elrmino não t a vanguarda da ccmunldede : ê

~l u Que pessoalmente. resolveu agir sóbre o povo.i~'Iua u:pcritnda pe.sJOIl. Poder-se-Ia ima·

P.!:![ m ' tua mo. L1e ftOha a integrar-se. aen ai Wi.ldadc. • liderA-la . Nada d isso.

~ a . eaquaatc trts das quatros tind~ij caminhada. pelo diretor (Cota

rui va pata a (fã(fc &Jarl.com Maloa quan-r. ltID a· rsonagcm fica em

suspenso. O ultimo plano em que aparece. demorado plano. de ,grande conjunto. mostra-o a afastar-se lentamente da al­... .. dela . ,.ózinho. e se pudendo por detrAs das pedras à beira ­

mar Flrmlno t um meteorélltc, e nêc a expressão das aspi­raçÕes ou po!encialidades da comunidade que pretende lide­ra r. Por outro lado, Fiemino age sôbre a comunidade apenasna medida em que esta vi em Aruã sua mais fiel exprusão.Querer desmistificar Arui i querer mudar a vida de todos.

- De fa to. o cetee momento U- que Firmino vai agir sôbre amassa t no tntcrc do filme: um 'i!rupo ouve sua pregação e. emseguIda. vãc todos. Plrmino A frente . tomar uma cachaça .Fora disso. Flrmlno nio atuer á diretamente Junto à massa,Na prática , t sõbre AruA isoladamente que F /rmino age E .realmente. se a ação de Firmioo conseguiu algum resultado.hte foi a mudança de Arui .

Arui, em que se concretiza tOda a supuStiçlo e a estag ·nação da aldeia. tambtm t um individuo solitArio e tsclado.NAo pode ter mulher e üce na praia quando os homens sereúnem. Alt m disso, desde o inicio do Iilme, Aecê não es táplename:nte.... eonvenddo dos pcdêree de It manJA: não fóssea total obeditndã 'que deve ao Mestre, resolveria dílerent r .mer.tt o prob lW\a ~ rfde. E ANã. encarnaçâo da rd ' f; iosi­dad.:- da comunida de. não per tenceu sempre 1'-0 Buragu!nho :rei o Mutlc qt;.:JIl o trouxe da cidade. Gua::1do êle era a lnJ <Icriança, Mats uma vez enccnnamoe num cargo püblico cha­ve". um ind ividuo que não t oriundo da comunidade e quese IOtegra mal nela, Depois da desmistificação. F irmino en­trega a liderança a Aruá : "Ê Aruã que vocês devem seguir'E ntão, qual será a atitude do n õvc líder? Resolve substltt.:i ros meios divinos pelos humanos. Tem um breve encontrecom o povo, em que afirma que SÓ acredita na fOrça do remoe em mais nada , Decide ir para a cidade trabalhar. a fun decomprar uma r êde e voltar dentro de dois anos. Essa decisão,que to mou s6zinho, fi e a co munica ap enas a sua fu tUra noiva(e. por intermedio dela. aos espectadores). mas não lhe pe­rece necessário informar os colegas, qu..+'tlO menos discuti rc~m êles: ou seja. Arul rompeu a s irgações religiosas queunha com a co munidade. mas não criou outras. No fundo.seu ~rimelro ato. após ter-se tornado ltder prog ressista da cc­mUOldade. lol afastar-se dela. Outrcsstm, do ponto de vis tada eficAcia da açâc, essa deci são é Irraciona l ' a rede ser

55

Page 31: Brasil Em Tempo de Cinema

JJl~15 rApidamcnte compr..da. portanto" soluçio mal' p(6 )\ ima .se \'arias pu so", fOsnal trabalhar na cid.de para adq.u:f l. la .Nc entanto, a dcd slo de Arul nAo t prOpriamente indIvIdua­lista, pois di : a Maln,, : " Nos temos que resolver a nossavida c a de lodo mundo," No fim do [ílme, AruA arll ~l a - sedll aldei. pelo caminho pelo qual. chegara Flrm!no, c a Ultl~.Imagem t .. de um farol : slmbolo da liderança c do isola­mento. Mil! uma ver. trata-se de um Individuo que ru o vesolUCIonar "mnho o problema. de todo.s. A líd erança nãeprevcea nem resulta de uma intcgraç.lio: o lide! c .. massa

• bo . ero prc-vivem cm compartim entos estanques. cm ta o ptllll 1ten da estar na perspectiva da colctividade.

Toda .. estrul ut. do filme ref lete essa sil\lação líder­mass.a' a açio desenrola-se fundamenta lmente entre a, qU;HIOperson'agens principa is. o ritmo é em gera l rápldo. o dràloqotem uma funçlo primordia l. os at6res . profissiona l' ou não.In terpretam seus papéiS. A massa é constltulda pelos pesca­deres e pelas mulheru que se encarregam da macumba. queaparecem em planos pràUcament e documentàrlos : nl o parn­c .1 m da açlo do filme. e n6s o, vemos a faler lOuegada~mente suas tarefas cotldlal'las na vida rea l. A montl'lgU:1lenta e os p l l!no~ de natureu. ocuram muito tCO'l PO' ~r:t:e Q

::el'"\'t)sis:tlC de Ant6fll" Pitanga, (Pirrr.ino ) e a I ~ ntlc<l-:> ma­jes t.;lM dos pescadon:~ . o contra Jce é tot <l l. A lll;lma cena demassa apresenta as sdcernotlS<ls d e .lemanJ! e .etuand~ umr!'tual rellgloso. Aulm fica a musa apôs a desmlsl J! lcaçao deAruA. Nenhum Indicio de modiflcaçlo. Um momento, um dosmelhores do Irle e. que expressa plltétlcamente UI.' separad o

~i~~'~.~'~-mMsa é quando os pt'scadores rem endam a rêde : Fu­

m no ~ tlrmo, vlOlentluimos, investe contra tles: tem-se ao J e duas sériu êe planos que foram Ieues em luga .

momentôll diferente!!. plaQf)' que pertencem a duas eea -I mlc s tflftl'entu. 0, pescadores não rugem à rn­nem 1 ntai!fi 01 olhos. Pirmino. vituperando. epc-oi p'rlm j p. nOI : a personagem é fUmada contra

I ab' traindo·. do lu')ar em que a aç âc se, como que interromper a mon-

ucaClora em do, FIca nl-e fora para (len to' A violen'

ele ~ m ...g•.

.,I,,I,

.1

o el'lrfdo de Bllrrll~fItO t umll qutsllo polltk.ll, II lr.I• •se de um. polltitll de cupula. Se tanta Imponlncl" foi d..dilIs personagens de Firmlno e Arui é porque sua estruturae as rcll ç6c1 que mant êm, no Hlere. cem a comUl'lidl de.•ioequlveleates *' estrutura de um comportam ento fundamentalna vida pcltnce brasilei ra, independentement e das Ideologia!,da direita ou da esquerda: o populismo, O povo. proletariadoe pequena burguesia. sem fOrça pilra delinur uma Ic;lo pré­pria e .. gir com um- l;omportamento aut6nomo, enlrella . s.e aum Ilder de quem capeta as palavras de ordem e .., soIuç6cs.o Ilder. em t6rno do qual se aglomeram "IOmos SOClall. oslndlvlduos. adquire feiçlo carism~tica. B.rra~" ro expe meperfeitamente a situaçio da pequena bllrguesla que. nal pllla.vras de Francisco Welfcrt.! "Kl líode aparecer. man Hu tl r_secomo classe. no momento mesmo cm que aparece como manadevotada a um chefe." A s an!llis~~ feitas por bse sod610gosobre Adeeree de Barros e Jlnlo Quadros sio per íeuamenteap!ldvelJ. i1uardadas as devidas propeeções. a Purmno ouArul, as", comportamento popular encontra uma de lUas

u!zes no gqvtrno Getúlio Vargas. pois. conforme LUCIanoMarlinl.' "o Estedo. Pec tetor via de re llra ten dia a a~er

41 rei\; ndicaç6es antes que ela' o condenassem e pudr.ucU1.I'Isslm. expreSSll r-1le de umA forma pollucamentt orgl r\ludilA al uaçlo de Plrmino e. dcpors da desm .stliicaçio. a de Al uã .

"'bt m longe de representa r uma tvoluçio pollllca popu lar con­tribuem pa ra um esvaziamento pol itico do povo. Plrmino eArul ttm o papel do eatade-prcretor que. prevenindo as rei.v:fndicaç6ts populares. • , Impede de to mar uma forma organl.zada e politica. evita ndo que o povo se torn e cm ce o dedetido.

A import l ncia fundamcnt ..l de Barral/ento na his t6rla docinema brasileiro vem do (..to de que ~ o primeiro fllm e: _ econtin ua sendo um dos raros _ que captou aspecto, essen­

) dals da atu.1 sociedade brasileira : um filme cufa estrutura;!. t ran. pOe para o plano da arte uma das estruturas da eccre-

dade em que o filme se íaseee. Tenho a certua de que Glau.ber Rocha. ao fuer o rottJro. a fllmagtm t • mo'htigem db se:

ii "PoIftIêi di U...." , 1963 ,.. "AlpKtOJ PoIfIkol da ReYOluçi o

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I'/II

.,

,-,III

seus . emelhantes pata d irigir a vida da rccém.formad" (~nldade revole.da. Essa ucolha t fcila ao nlvel d.1S po. •

... dadcs, mais mlaticas que politicas, da comunidade. EmboratKonstitulçAo histórica, G."ga Zumba tinha um significadoatuaJ que era, no momento pcllrico brasileiro. uma aspiraçÃOIdealis ta. puramente teórica c utóp ica .

.- .-.

• '.

MV Yoshisaki
Sticky Note
Realmente interessante a análise de Barravento, e o modo de análise estrutural da política brasileira. *do mesmo modo, se desejo discorrer acerca da política de cotas,e do acesso de negros na faculdade, devo fazê-lo dialéticamente, isto é, através de suas contradições.*
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--.-

Os Impassesda Ambigüidade

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zu u cotidiano, .endo hlt últlmo O modtlo e o iniciador da.criança, na vld~ . 0,,-1 u.balh. 110 a1mpo t Ira: o dinheiropar.- o lar; em cala. Ile fu 01 umlhOl JIlal. penoso. . Am6c cabem os trabalhol domütlcol. bem como culdu da vidaemoti\'. dos filho•. Pcnantc, us. familJa nAo ae caracterl:acomo llpicamrntt: ,ul'lncla. A iNo. deve-se 8crUCalUt que.embora possam su nordulinol. o, tipol do••tOeu nJo sloespecialmente catllclrtlsllcos do nordeste. sobretudo Fabiano(A lil. lórlo' . Por sua organlzaçlo. rdaçOu Internas e...divJ­sio de tt4lbalho. usa familia pode lU tanto l utancJa comoda classe mid!a de qualquer centro urbano: pode ur atimais classe mldia que sertaneja. A estrutura do mmc nlo tcondicionada pt/a 8 ..10 das ptuonagcn•. mas stm pela natu­teu : I • sic. r • chuva que '0'10 decidir do Inlcio. do meioe do fim do fl1.llle. Expulsa pd4 Ifca de leU lugar de origem.a famJlJa caminha pelo sertão A procura de trabalho e demeios de subsutlncla. Graças A chegada da estaçlio chu vosa.l iCllrA uma letllporada nutlla lazenda; A volta da IfCll. cee­tinuarA lua andança. FabIAno e .os 'eu, vivem num mundoonde não agem. mas são agidos. AnalEabetos. seus pertencessio rt du: ldos a uns trapo. e uns instr umentos de ccnuhe.Sua ação # !tdtalda li obt enção de melo, de sobrtvivtncialmeOI&t.1. E,!& !u:.a prl.DArfa levll-os a recorrer <: extremos.COr.IO sei" \7GI1.e; um louro de csllmll;.lo. Ma, o loure, quenem lalava. ua inulll. JnúlH e supt rf luo i ludo o que nãcJerve para a jm~djata sobrl:vivtncll1. O luturo tambtmInútil e suptrfluo. MO existe . Dilldjmente ' comunlca m~seere e si; suas relações. Ereqlltntemtdte. nAq ultrap as samuma 4IIua coinddtncia ou uma relaçAo pouco acJma dolU iJ animal. A comunicaçlo pode tambtm temer-se rlpi~

~~r~a:I"'i"'i te agreuJva. O falaz t raro e Dlo atabelece diAlogo.

a IJm um deaabafo tndMdual. No tntaDto, ' do do des-P- CIo ~e conadlDdI. e t mato que H dlferencJam do r eino:ve di.! • DIo tenham condJç:lSa 'diHt gente... ta uplrUa • it~Jo: o pqrta~voz dessa

JiiW N':i6lIã (Mat"la'iiJbdto). Ser gente~adva. RO! Opf#Jç!9. do reino

(iiiió ot. dormJt emíábem que

tam6tiD ter unicliliGe g,ande

'.

•••

...;I-~,.,

I

que tal aspiração pode concretizar-se. ,e pelo i rromplm~ l'It'Sda conscltncla. que lhes permite nlo cctnctdtr com lua .itu._çio obJetJvl. que Nelaon Peretra dos Santo. situa hum.na _

.. mente a vida vegetativa de .uas pusonagens.eue núcleo famJllal ..sim delJnido vai ser co nf ron tado

com os princlpai. elem.entos ccnentcuvcs da sociedade, O tra·balho ccnsrste em cuJdar da propriedade alheia: FabIano tvaqueiro de um fazendeiro. esse tra~lho t, primitivo. la,z-.e.

..altm do cavalo. com um equipamento mini mo que se lImita~ a-proteger o corpo humano; o resto t tratado dueto com a ma­

ttrla bruta . O fazendeiro t o explorador que reso lve a seubel prazer qual a rem.uneração que cabe ao vaqueiro. Fabianotenta discutir. mas logo se curva. Fabiano tenta vender carnede um animal seu: fiscais da prefeitura o Impedem J;, quenão pagou os devidos imposto.: Fabiano nAo sabia. vai em­bora com sua carne. A rel igil o t um ritua l mecântcc qu e deillaos homens em sua solidlo: Fabiano quase não consegue entrarna Igreja. de que nl o vemos a parte interio r. e logo sal. Apolicia t a arbitrariedade. Longe de l er um elemento de ordem•ela provOQl I sJtuaç!o que lhe permitirA in tervi r. Fabianoténta 1110 r~gir.~ curvar-se: só reage quando a huml1h3çlofoi grande de mais.;. t a ",dcla . A cuhure . qua ndo erudita. treservada ao fazenlfeJro. cuja filha tem aulas de '0'10110 0 : Issofaz parte d oe S\.iii C'on dic;l o sodal. QU3ndo popula r. a culturat ta mbtm reservada ao fazendeiro : enquanto se tcaliza o es­petaculu folcl6rlco do buraba-meu-bot, que t prAtkamente de .dlcado lO fuendelro. Fabiano estl na cadeia. Fazendeiro.fisca is. Igreja. policia alo pcdêrea localizados na aldeia pertoda qual moram Fabiano e sua famllla . Na a ldeia. Fabiano tcompletamente espoliado: ê-lhe retirado o fruto de teu tra­balho. o direito de dispor de seus escassos bens; é-lhe retiradoatt o folclore e. na cena com o soldado. é-lhe red rado atê odireito de existir. A soci edade não se satisfaz em urar todosos dJteJtos que a Constituição concede ao homem. mas p re­ten de tambtm dlmtnul-lo fisicamente. Fabiano nlo se revoltaT em. vez ou outra. um guto. uma pal,vra. logo reprimido.

M a. N elson PereIra dos Santos 1.10 pretende esmaga r, ua personagem d ebaixo do servll lsmo. O que representameu tl men te para F abiano essas tentativas de reaçl o : T rata.sede uma defesa quase animan Ble entende a policia e o fazen~delro como entende a slca? Tem conscit ncla de seus d, reitOs

6J

Page 35: Brasil Em Tempo de Cinema

t de suas \"onlades 1 Sente-se insuficientemente forte paratu.glr , em rc lllo; i o a os Inimig0$7 Ou Cc rn mldol Sio perguntasli que o film e nAo responde. mas permanece em Fabiano um.espêcre de neclec de dignidade. que se manifesta quando li

humllhaçio infligida pelo soldado se torna exCCSS!\'l! . A te umeeno ponto. Fabiano fica pauivo: .lem. t demais : reage. cm­bota CS~ reeção fique sem conseqüêncras. pejo menos noplano da ao;l0 . E»iII dignidade fa:ia ~rtt. quando foi feitoo fLllJlt . do \"ocolbul.li rio ()fjci<ll.·do entâc iJonrnador M'!j \lclArrais: "uma ordem de coisas ( ... ) incompatlvel com li dig­nidade humana "; adquirir ",,, liberdades mlnimas essencia is;i dignidade do homem". E Pabi.no t utilizado por esse 90­vemador como shnbolo do homem Iabncadc pelo Nord este.

Vk!lIS Sic., enquadrava -se assim perfeitamente na poli ­tlU OflClill. esse nuelec de dignidade t colocado em situaçãoduas vt:es no filme. As duas cenas ocorrem fora da a ldeia ,são uma resposta aos dirigentn. Saindo da aldeia. no caminhode casa. Fa l'l iano encontra os cangaceiros, com um dos quaises teve na cadeia. A estrada bifurca , os cangaceiros vão se­gUindo um caminho, Sillhá Vitória e as crianças Jà envereda­ram pejo o'Jtro: Fabiano, no cavalo que lhe emprestara UI1l

cangaceiro. e olhando para <I e~pingar cl.. . ho:mta na enc ruzilha­da: continua r ou revolrar-ae i Fabiano toma () rume dr C<lS"'.

Essa ccr,a se oesenvclverê mois tarde : f"billn" . a rmado deum Iaeêo, de"ara com o soldado provccadcr. perdido no mato.

'esse enecnrrc de homem pala tlomem :"1Ie inimigo"para nu­migo, de nõvc Fabillno hesitará, e o soldado terá mêdo. Nada.acontecerá, mas t uma porta aberta plica o fu turo. O fi lme1110 vai l!!Itm dessa expectativa,

Antu1ormente, o filme apontara, em forma de ligeIra eomo da Udra. um terceiro camJnho (altm da aceitação e da

r a. 'utaçlo chuvosa possibilita uma leve melhora doI e 4-Ja.lllflJa se dirige li aldeia, para a festa . com

i~~~~~pYOI,.. que. ,foram comprados cm demmentc~ urgen ~conscguan andar com seus sa­

d& • ~ em grande parte cm

íF.r.ti14: rgu

iIõi SiB...fano a e slDtuc: • dire<;ão

gatA do Iiuml:ia:-m~bõi ceprC$en·

..

eadc diante do fazendeiro, e a cundens.açAo dramltlU! da pro­vocatio do soldado cm que apenal os momentos fOrles llAoeenservedcs. Em geral. O filme visa a nio d.r nada altm daestrutura de uma IItuatlo e. dtale ponto de viua, a cena.entre outras, de Fabiano na encru zilhada. t eumpll1r. A geo.grafia do lugar. a dlspositlO em triAngulo dos grupos hUll1a­nos - Fabiano com O nfle-eangacelro.f.mlha - . Iraduamas possrbtltdedes de F.biano. suas hesitaç6cs. e chegal1l. peladepuração. a ler a funçlo de um signo que ult rapassa a per__sonagem para referir a .mbigilidade de todo um grupo hUll1a­no. Ê a mesma orlentaçlo que levou o dlretOr a nlo mOSlrataparte interna da 19re!. : Nstava-confrontar Fa bIano com afachada . fazl .lo entrar e sa ir para que o essenCIal f6ne estru­turado. E é essa mesma críenteçâo que fl : Cam que ii malérlaoc upasse no filme um papel reduzido. HA mlstrl4 e indlgn:da _de em Vidas SIC4S. mal que. comparadas AI sujeira. is doenças.401 barracos Imundos e parctalmenre dest ruidos, li subnutrlçiod? Nordeste de um Maioria A bsoluta. têm um c"ra ter quasehlgltnko. AI~ das raras vl:u em que o fi lme faz uma pausa.durante a jua o circunstanciai e o emotivo desviam a rensêc(a ida da am lia II aldeia. a morte da cadela) . o tom to hsc

Pela caractertaaçâo da fat:'ll lia de Fabíe ao, a conl rcn .tilçã<, da poerson/lll"'m com o leque dos pri ncipais Ilorihe~ dasociedade. IIS sllldas apontadas, a s!n ~ue d l'am Atlcd. V idasSêca! 1;010c0.4e num alto nível de a bs traçéo. ASSIm . detxe oser tão para colocar-se num nlvel mais geral. Fabiano ael>:aprà ticammte de ler um homem pamcular . com problemas es­pecthcos. pa ra tornar-se o homem bres tleíro esmagado pelasceredade e colocado diante dos pcssíveís caminhos que se lheoferecem, Sle é tanto o eenenerc quanto o pequeno-burguhcitadino. e talvez mais o l egundo que o primeiro . Isso nio querd izer que Nelson Pereira dos Santos tenha utilizado o dramanordestino para (ins seus. desprezando seu tema Mas o queeelecionou do tema, deixando de lado aqullo que nHirlrman selecícncu para seu documentátlo Maioria A bsoluta .pouibilitou·lhe atingir uni nível de abstraçio em que Fabianonão é apenas aertane jo, lLlas é qualquer um de n6s que. nocampo ou na ddade. estamos cerceadea pelos poderes esma­gadores da sodedade e vemos nossas poS5ibi1idadcs de reel í­~çio e de progreuo truncadas. Fabiano i: lanlo aqulles queMO esmagados no sertãc como eq uêles que sio esmagados nas

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MV Yoshisaki
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Page 36: Brasil Em Tempo de Cinema

prLmelros filmes da época do rr.uh ba~no de 1959/62 Ttmlo(J urandlr Pime:ntel ) não é como ROm : ele nlo OSCIla entre

~ . 'dols" pólos' a contradição est' dentro dele . Ambientado nacidade do '$II.lvador durante o Estado Novo. Bahia. d e Todosos Santos descreve, tendo como eixo o marg inal Tõnto. a vidade marginais e: de ponu!rios, seu trabalho. s~as luta! rei­vindicatórias, .eus choques com a po1lCla. sua Vida sennmen ­tal, seus problemas pessoais.

T õmo nlo se cnquadu em qu~cr esquema.-..social pré­estebelecldc. Por incompatibilidade. deixou a lamllia , ccns­titulda pela avó c pela mie pretas; a mãe fOra abandonadapelo marido branco. No entanto, Tôntc sente SAudades . vai vi·s lt. ~las vez ou outra, mas nlo sa be porque: lu isto. é repelJdoc vai embora . Odeíe o paI, de quem pretende vingar.se porter abandonado a mie. mas revolta-se quando lhe di ,tem quen30 tem pai. Sente-se atraido por uma bela e sensual prosti.tuta (Ara.ssarl de: Oliveira) a quem nlo d eSAIl_rada , mas temreleçõee sexuais com uma estrangeira [ Lcle Brah1 a quemeãe suporta. Vive de roubos, mas é para a judar os amigos.Mora co~arglnais, na praia, ma!; toma rcfe:lç6cs numapensão onde se Ro.pedam portuÃrlO!. O:. portulrios estão em­j>CJlhados numa ijr\vc: com tIes se sclíd..r i;:" . m..s não a dereli. causa. Pretende d eixar o Nordeste e ir para o sul, rnas ficaem -Selvcdcr. T OIl /o {: lHII indi\1duo cheio de contr3 ci iç~es :nada M q ue faÇ<l inteíramente, deixe wdo p ela metade : t In­capAZ de abandonar Salvador e incapaz de parar d o: pensarem viaj ar; t inca paz de: dormir com a prostituta . de abandonara estrangeira: de abandonar completamente a lamUia ou d epassar a vrvee tom ela : de não se interessar pelos grevistasou de se ligar profundamente a êles. Mas a ma ior de suascontradições. essa absolutamente Insolúvel, T êmc a encontracm seu próprio llsico : nem pr ête , nem branco, mula to. Brancopara os prf:tos, prtto para os brancos. T õnlc é só . As contra.diçOes encontradas num ROnJ estio em T Onio intuio~lzadas,abrangendo todos os setcres de sua vida e impossibilitandoetJalquu tipo de reaJiuçlo. por mais predria que seja Onié ~paz de .passar um dia com a grj.fina que vai abandonarlogo cm . seguida, mas êese t um dia de leliCidade: o mesmose dA com Maria da Feira : os momentos passados na camarealizam o prazu. Tõeíc tambtm se encontra entre duas mu­lheres que lembram bastante o dueto de A Grande Feira :

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,

-

· . ,,-•• to' quart~qulchmettfavdas, nos SUbUlbl(),!l, nos .par ...dos centros urbanos. P. ra chegar II lS3C t ts ul ta~o, era neces­sArio que o autor do mme l0S5t um homem da Cidad e. Na es­(ma perspectiva de qUelII vive o drama do Norde.S!.c. é ,bemprovável que. urgtnda de dctcrmInadOl problemas unCdllltosnâo nvesse permitido tal .bsuaçl0. Atas, como pensar qu,chomens cip cidade pudessem IdentWcar-.e com I.lllla pespeen­va de campon ês, como perua! que. nas ddades. o sucesso dec.ampa:l1l. pró rrjarma agriria ....uult11uc mAis de um pro­blema rural que de uma sitlol.ção propriamen te urbana? Talsucesso prQv~m (crl,mUlte do irHuhsc que alguns se,toresda burguesia industrIal [fm na reforma ag rArla e na pro!eç! ode certos problemas urbanos. Vidas Séca, é um filme urbanoa respeito do campo. c sua validade vem de seu elevado graude absuação. O ilime foi qualiIicado como naturallsta e, de­pois do aparecimento de Deus c o D~bo na Terr.. do Sol,os admiradores dês ee último passaram, COai íaccrapr eensãc, aver em Vida~ Sfca~ quase: um document'rJo, quando ele: re­presente o mais alto grau de abstraçl o atingido entre nóspelo cinema .

B AH IA DE Tocos os S ANT<:ls

MV Yoshisaki
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Page 37: Brasil Em Tempo de Cinema

com ii prostituta. poderia rea liza r· se: sexualmente, mas nãodorm e com da: dorme com a es trangeir•. mas O sexo nlio lhedá pr,uer. De ROni • T õníc, embora êste seja cronológica­mente anterior ao primeiro. hã um grande pregtes$O na cons­titUIção de uma personagem con traditória. lImblgua. e que.como ROni. SÓ que de um modo mais aprofundado. expressaii ambigllldade d. classe mtclia.

:-'las T riguclnnho Neto nlo levou lu últlmu eonsequén­elllS as contradições de sua personagem. Cerno T ômc. .ft.eu nomerc do ,.mlnho. Primeiro. porque o enfraqueceu ao dar-lhefreqQcnu:lI'Icnt e um comportamento neurótico. autodest ruidor.e soas conrredrções. sobretudo cm rdaçio .h duas mulheresp.trecem não ru o Inibições. Segundo. porque. no fim do filme.TOnlO encontra uma UptClt de equtlíbnc. que t o mais falso earbltrarlo que se possa imagina r. Tê níc tem um amigo mar­ginal (Geraldo dei Rey ) cuja noiva esti grávida: e o amigo.não a ndo dinheiro para casa r. rouba uma ca rteira. TOnio. oladrão. obnga-o a jogu fora a cartc.ira e exerea -c a ter umilvída r mpa e digna. e: essa a ccnclusêc do autor: respeito aregras éuces fundamm tais.

Trig\leirinho Neto tem uma raiva profunda e dolcrcsa,;.ci!.. d:'G'id .. de ironj.). ÕII burguesi3. ou melhor. dcs gn:posSO::!~I S pauHs:.r.nos rec~m.-cgre»os dos plar:: tio3 de c."Ifl: t <lUC.

,1" ver dSc. se e~pm!::am grotes<\mcnte em alcançar umada d:gna do re~uir.te e Q., cu ltura:. da tradicional burguesliI

etlro?éia. $atlflzar esu burguesia ua- um--dos principais mo­I'oIOS que o teriam levado a adaptar para o Cinema oromance

ce Mino de Andrade. Amar. Verbo Ifltraflsitil.'O. projeto em~e pensou stri.lItnente (por êsse motivo tambl:m. outros.ê epol5' dêle. namorarlam o mumo projeto) . Essa raiva asso­ra-se a uma outra mais antiga e mais violenta. da Iamllia .

'e a I ige qualquer organizaçio social. Tudo isto está perfei­ta ent sd1slveJ.:no filme no repudio de Tõnío peja fam llia .no com aflUp'Uco da estrangeira. no tratamento

o I: p.c! I itr to esfadQl;lov1sta para o qual povo eos UDpoAibilidade da sociedade

'7líii;ã,iIldi5 da o: reformatório està tão'E a '" ue nIo cabe mais nenhum ).

""'''' iõtJtdi.d Dlo dtvt colaborar,Ctc 07 ()) S.itt6J. per-

CI penht<tas em

\ defender .eu. direito.: com elas também não se deve cola­bora r. Como ela. slo o. oprimidos. pode-se a judli_las pormot ivos humanos. nAo pcltnccs. A luta relvind LC;.;lItÓtia cheiorol a comunismo e t tio mA quanto o outro lado. Entllo Ter,gueirlnho N eto podia optar entre o anarquismo e a moral.Preferiu a segunda. Nem. di reita. nem a esquerda, nec! ablH"guesla. nem o povo: no meio. conservando sua pureza mo.ral e IS miai limpa., o úrucc compromisso acenável t coma moral. -.

Triguelrinho Neto quer que a sociedade mude. pois t m ­su.stentAvel que flqu e como estâ.~mas seu al'lliburgue' í5"'oprimlirio não leva. coisa alguma a não ser reior(ar a moralburgue$1l. ele teria provAvelmente supe:lldt> hse lRorahsftl()atravancador se uvesse continuado a dedicar-se ao c.nemaApós êste longa-metragem de estreia. realizou um docume:l_tário de curta metragem, leu último filme atê o preseme mc­mente. para o. Serviço de Docummtação da Universidade deS. Paulo: APito (1961), que trata da vegeta(lo no Brasn,ilustrando a ~e segundo a qual a pobreza vegetal provemmais d. pobreu do solo que da falta de água. e tomandovíolentameate po.siçio contra o de.' fl'Jr t.!otamento e as queieic­das. Nene filc~ dldâríco. aparece uma singula! per~a\õCl :

o estudente (Airton G arcia ) . O hbee ínrcra-se cNn o eslt:dall­t!. folheando pranchas de ue. livre. E ssa serA a un1ca ati r,dàde da pet!lOnagem : olh:u. Olho: o dufloroestammto, oI'haas ·quelmadas. a mlstria. Nada diz, nada faz . Seu tosto ficaImpan lvel. seu corpanzil. inerte. Tem uma única reação : fechaum punho de reprovação (ou de indignação) d iante de umaqueimada. Essa atitude contrasta com a violência da menta­gemo os cortes bruscos. os choques entre som c imagem . Essatestemunha neutra. que não se lIga à realidade a sua voltae que parece ser o desenvclvíme..no das contradiçOt:s quelevaram T eme .\ ínaçâo e à esterilidade. podena ter Sido Ulll

primeiro passo para ultrapassar as posições de Bahia de Todo505 Santos. pois tudo parece indica r que a trans{ormaçâo doestudante em estltua ou leva a um impasse que ~ um lmpu!­'io' neve podu! romper. ou leva ao aniquilamento. O sill:nclomantido por Trigueirinho Neto desde Apelo talvez não sedeve apenaS 1s dificuldades de produção cmemafográfll::a noBrasil.

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Page 38: Brasil Em Tempo de Cinema

GA ÜCHO

• •Ao anlqu ilamenlo. r.ambtm. levam a, pr6pria. contradl­

çõea do Geucbc de 01 Fuzu (Rui GUU1'a~ 1%5 ). Ccec oROol de A Grande Ftlrtl. Gtlúcho CItA de passagelIl em Mila­gres: seu caminhão quebrou. "Ie aguarda u~a peça que lhepermitirA prosseguir a viagem. O enr"do do fIlme ~esenvolve­se neste tempo de -eJPera. Wo momento atual. Gaucho. evee­tualmente dono de um camInhão. dedíee-se ao transpor te decareu : no presente caso. transporta alJmentoS. cebolas. queapodrecerlo durante a espera. $6bre "Ie pou co se sabe. a nloser que pertenceu i tropa . que deiXou por a1otlvos que sugere:não gostava de ser mandado e não aceitava Q trabalho dos scl­dados. que i manter a ordem. o que S1gnJIica S1stem6t1c.amenteatirar sóbre camponeses esfomeados para protege~ os bensdos ricos. A si5uaçiio de Milagres quando chega Gau cho : uma,"ca prolongada deixa esfomeada tOda uma populaçlo, cujareaç.io se limita a p-atlcas mlsticas em tOrno do boi santo paraque Deus lhe manee a chuva; os soJdados ocupam a cidadepara proleger um at maz:im contra eventuais di.'ltl1rblos provo­cedes pda fome, ate Chel1,uem os caminhões que devefto levaro.~ \ivere.s parjj o lugar cnde suio vendidos. As prãticu mI.!' ·:i;;:a~ di' tOt:lO do boi relJX'cdem os prltJca, :1.10 nlenC'S mls­ucas na cOrl1o d.Js fu z:if.

Gaúcho - roda só:ta. nlo est!~rado em grupo al-gum. nem a policia. nem os campon nem Q dono do ar-marim - tem inicialmente uma atlvida moral expressa emconvusas. Tenta convencer um IOldado de que manter aordem. quando isso aignifica proteger armaz:~s cheios contraafomeadol. " lnvilvel. Estas convusas. motiva da, pela situa­~ reposta pelo filme. nIo decorrem nem levam a ação al­!9u~.!I1a.s conduzem a UZl1l atitude apenas verbal. Quando o'iOJCfãdo~unta: "O que voe! quu que ,a gente faça?".

a' : "Pelo menos. tom" vugonha na Gara." Oa alto das &bO'I' aumenta ,. tendo .psicológica do

al1ã'õ. cuJu ~1ávru .maJa 8grdSival,tanto contraaãdõ. como tra oa CUlpoIlaea ( "O boi unto nlo é

c: a ótatitlk âõ que outra coisa,. qu '~DlAt a ,i·

tiibc:Ddo e: 'P,aUeando a

I

I,

ironia ("Viva os de!en$Ort:t da lei!" ) . Sempre st:m açl0 no"•.a aituaçlo inidal proposta pelo filme atinge sua cO';lUadição

... mlxlma quando o. caminhOt;s carregados estio deixando acidade e entra no bar um homem levando nos braços seu f!lhomorto de fome. Gaúcho mstlga o homem a uma reaçAo. semconseguir demovê-lo de sua passividade. Bt~do e enlouque­cido pela inircla do homem. aqui represen tante do po.vo.Gaúcho. num acesso de fúria incontroJada. quase htstértca.atira centre os camlnhOes e i logo morto pelos soldados. SIrtlherança; uma dúvida na cabeça do soldado com quem cos­tumava conversar.

A pcsíçêo de Gaócho i puramente itlca e verbal : nãcpropõe nt:m leva 1 qualquer tipo de açlo. nem par;! si. nempara os e utros. Embora sua mquietaçio se ja provocado pelosesfomeados. sua principal precccpaçãc i relativa aos soldados:st:m suem donos dos armadns. sem que portanto se benefi­ciem das vantagens decorrentes. êlee os defend em centra quemprecisa comer: moralmente. t Indefen sAvel. Tal atitude angu5­dada. sem perspectiva de açãc, leva Gaúcho a se fechar sõbresi e :a eSl:ouiàl'-Jluma açlo incontrolada e desesperada. Gaúchoi semelhante ao intelectual que sem saber onde se encaixar roarealldAdt'. sem I8ber",=omo agir. um bel" dia. par.... se deseecal­caro lança uma bomrJ caseira numd reparU~io púh!ica . 2.1t: õlá~i fundamentalm enu diferente de ROni: tifO t aoguHlado ( ROtll010 chegava a sentir ar:.gústill ) . ,,!e s.al't' formular melh,~r suainqul~taçl0 e, principal dllerençe. esee Inquietação o impede.ccntrãrteraecte a ROnl. de seguir viagem. e o impele para umaaçlo violenta. que SÓ não é lnccnseq üente porque o leva aseu próprio aniquilamento. No cinema brasileiro. a' morte deuma personagem como Gaúcho é excepcional.

ANTÔNIO DAS MORTES

A personagem contra/Mórla atinge dimensões trAgica,com AntOnJo das Mortes ( Maurlcio do Vale) em Deus e oDiabo na Terra do Sol ( G lauber Rocha, 196'\ ). Se o Pablanode Vidl:s Sécas. em vez de euevee-ee diante' d o faZen9tlro. serc:voltaue e o matasse. Manuel (Gualdo dei Rcy). o vaqueirode Drus ~ o D ia • poderi8 eee seu prolon gamento. Manuel

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Page 39: Brasil Em Tempo de Cinema

10 DIÜOIOl u lrlfdol do livro D" 'J , () D/do M r," a ti~ Sol, 1965.

dad e de agir racionalmente. Essa aç10 56 poderl ter a guerra ,uma guerra que serl a aplicaçlo de meios humanGl IUIra aresolução de problemas humanos. " Uma grande guerra sema cegueira de Deu. e do Diabo. E. pra que essa ijuetra venhaJogo. eu. que lã matei Sebasti lio, vou malar Corisco". dizAn tOnio da Mortes. N o entanto. ena atltude 1'110 t monolltica :Ant6nio 1'110 age dêese modo como um revolucionário dedica.do A causa: para maUlr Ean!ticos e cangaceiros. t pago poraq ul: les 'que oprimem o vaq ueiro. e le ~ um licl rio. t \'endido ..ao inimigo.

Essa situação apresenta elementos anta gônitol : se elemata a sõlde do Inimigo. não póde ser pelo bem do povo : se tpelo bem do povo. nl o pode ser obedecendo ao inimigo. An .tõntc das Mortes é essa c:ontrad!çl0. N ão t que l:le viva u sacontradlçlo. que ela seja um dos momentos de sua vrde : elac:onstJtu l aeu pr6prio ser. A personagem de Antônio reduz.sea usa cont radlçlo. Q uando A :ltOnio das Mortes. antes dematar Ccnsec. anda em zlguezfl gue para escapar As balas. adJreçio cO~Cl't:tiu com grande fOrça a contradlçlo da pu.IOnagem. \_ Não pOde haver melhor ilustra ção dI) battardo sartrlanoque Antônio das M ortes : o Hulc de Les M ains SII/tS Uli

filiado 80 plutldo comunista. mas não estll intelJrtld{'l nêleporque 1'1110 consegu e desprender-se de sua condição de burgur:•.

_ eni o estll ín:egrad<'l na bu rguesia que o rejeita porque per­tence a tue partido. A estrutura das duas personagens t ex­tremamen te paredda. A ntónio das Mortes nlo consegue ea­Irentar en a contradiçl o. quanto menos reselvê-Ie. Ela podesee dlalttJca para a scctedade. mas nio o t para êle. 2 1e lenta

. s lmultAneamente elimlnA·la e subltmê -le. Par'!' eltmlnâ-la, An·tOnlo quer transformar·se em mlsttrio. e le t o meempreenst­vel . não t nem Isto nem aquilo. êle t a contradição enlgmAtlca.e sua conscrêncla estA tão pc ucc clara que "num quere quenlngu~ entenda nada de minha pessoa : ' Sua pessoa t tIocontradit6ria. pois êle é enio ê , qu~ nem nome pode ter.~Qual é a lua graça1~ pergunta o ce90~e êle responde : "Numconhece~. voz ?" : A ntóni, das Mortea nio pode lU ncmea­n,."do." Para ,ublimA.lo, êle tentar! transform ar·se em ser pre­destinado. Cumprir! lua funçl o, a qual êle JulgA histórica.

•73

-

m..:a o pa tt i o qu e: o rouba. Sua ~vol t.1 o levlI ril a esscoar-seInicialm enfe ao beato Sebastião (U dio Silva ) . em nsuid ll aoc...ng.cei to Corisco (Othon &5tOS) . O primeiro momento darevolta t um misticismo violento. qu e promete ao serta ne jo umpats Imaginà ria cm que o deserte vira mar c correm nos deleite. O segundo momento t uma vlollncJa m/stica , a cega des ­truição. Nos dois casos. tra te-se de uma revolta a lienada. cmque o vaqueiro não d ronta- seus problemas. mas t desviadodêl es por a titudes delirantes. quc..canali:.am sua necessidadede mud.r a SOciedade c sua agressivid.1dc.

O afastamento da realidade pela alienação eelenva jâera um dos temas de Bsrrsumto. cm que os pescadores pro­curam soluções rcliglon s para problemas concretos. D eus e oDiabo ampUa o filme precedente : não s6 passa de uma reli­giào predominantenltnte aEricana a uma rtllgião pred~m i~a~.temente cristã, como também capta as duas atitudes prmclpalsque marcaram. até hã alguns anos, a revolta nordestina, e quepodem ser simbolizadas pelas figuras de António Conselhei·ro e L.Jmpiio. esses dois momentos da revolUl não trario pro­gresso algum para Manuel, a 1'110 ser libertá· lo de . ua ehene­çilo e permitir que êle en frente a realidade e procure soluçõ..: ~

objctiv<lS, AI íntervém Ant6nlo das Mones.Ü !ilmt ~ dividido em duas partes (tanlltisl\lo-caníJ;:lço ).

cem uma Introd:lçi o 't um epllo'il' Cada parle l: domin~dD poruma peuonagero que condensa eçl si &s prmc.ip&b care cterts­tias do upo de revolta (o beato; o q ngaceiro ) e que n30aparece na outra parte, 56 não respeita m.....essa di~são o cego.canlador qu~ esu. fora do eaeêdc e puxa o fio n'llrta tivo. pc­9p'!do tu o papel de mentar de jru quando leva Manuel aCOf lICO' o vaqueiro e sua mulher Rosa [ Ionê Magalhães ) : e

tónia das Mortu. sendo que êete e Manuel seguem duasi lnlia' aldas que atrayestam o filme todo - ou melhor.

nt6n o da. ertes condid on. seu comportamento pelo deanu ~I menos o que li lz e o que G laubcr Rocha

on( nu

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Page 40: Brasil Em Tempo de Cinema

DlU nllo lhe compete decidir sõbre usa lunçio nem aprec!A­la : "Fui condenado neste detUno c renho de cumprir : sempcna e pensamento. H AntOnio livr.I· JC de .uas responsabi lida­des por via metafisica. Mu nem por isso ulA Quite: n ão selivrarA de sua má cansell nda: "andando COm remorsc", d iz• canção do [lime. Sua função t ateluar o curso da história eprecipitar o advento dessa guu ra. que suA. gllVra de Me­nuel vncncsc. Poder-se-ta pensar que. atravb dessa .ção.

__ êle se íntegrasse no .\tIovJmento guerreiro, se ligasse li Ma­nuel. Não. Ele t e fica solitário. a le t apenas uma contradiçãoe estA maculado peles contactos com o Inimigo. Ele t c ficasolilátio. Ele di • Manlltl • poMibJlidade de fazer II gue:ra.lU' nlo t a guerra dêle. Nada sendo. fie. sendo mera coe­tradição. a guerra nada pode ser para ele. O tratamento dadoa Mauricio do Vale no papel t a extuJorl:açl o do confllto:uma longa capa, ao envolver-lhe o corpo volumoso. dJssimulaseus gutc»; um cha~u de abas largas sombreia seu reste . Aparte mal! viva de seu corpo .10 os olho•. Anda sempre só.enquanto deverfn, se se quisesse ser verou lmil. estar acom­panhado por jagunços; t que AntOnio ou Mortes l solJt!rJo.nlo pertence a grupc . lgulZl . nem aos proprietArios de terra.nem • i9r:ja, nem ao PQVO revoltado. nem aos campotreles. et um JndivJdu(,l sem st':nl!'1hantes, NAo que não baJn cutrcs AtI~

t~nJcs rias Mo::es. C.iS ínclusrve r(,lm os ouucs nJ(,l sente afi~

nidadu..o\ r. t6nio jura "ee dez J9rej",s sem saLto psdrcerrc".Ant6nio das Mortes nAo se seare ! vontade consigo pró­

prio; t pcsslvei que o próprio autor nlo a. aentlsse Avontadecom a personagem. Glnbe:r Rocha teve ~uitas dificuldadescom ela. antes e durante as EIlmagaa: a personagem nãorape/tava o roteiro. e foi improvisada durante as filmagens(uma d4ll modificaçOes substandliis Introdu:idas l que AntO­nio era originalmente acompanbado por soldados). No modomamO' de apresentar a perSOJ1agem na teJa. sente..e um certem. 1 tarovE ou cutr• . do dJr~or e do montador em relação

nCfq ~ntOni~ por exemplo. aUra I6bre os fanáti cos :p'1ãno . ilm os com aclimara hod:oflot.l e outroa ídêntfccsm i:I~ cc ala tiieJ1ftada 110 montados num ritmog .ugerc o dO. H de um recurso pobu e ostm-

a vc t~ do montadoz intetVtmJ cataucnte nt r êI o a or em .ua gesticulação.

Omento rcsto CIo fLlme. De fato. os•

••-.I

.1!

II

planos longos deixam em geral aOS atOres uma grande alll):'!. .dl o do movimento. Por que Glaubu Rocha sentiu a neccstl_

.. dede. naquele momento. de pia r AntOnio das Mo rtes eni oencontrou um recurso mais integ rado no conJunlo do flhnepara exprusar-se7

AntOnio das Mortes obteve uma grande repercussão pú­bllca. não apenas entre. Intelectualidade; foi cer tamente jul-

_J ado apto a sedu:ir o grande público. pois Glauber Rocha re­~u um convite para famuma novela de televisã~que tenaAntOnio das Mcnes como personagem prindpal. AntOnio re­cebeu 05 qualificativos mais grandiloqOenlu : êle "se revestede um determinismo qu.se didàtito", "ascende i.ll5 tantlne.·mente a um. situaçJo c1Asska ", "ê • persona gem da Necessi­dade". é um "instrumento dldente da H istória" . esse tom éuma constante; outra é que tais grandes palavr.s não s~o ex ­plicadas. Nos ombros de AntOnio das Mortes vão se ac umu­!ando p.lavras cnJgm'tJcaa que deium intacto seu miSlério. Opróprio Gleubee Rocha encontra dificuldades em falar de An­tônío. Di: ~e "o filme é uma fAbule. só pAra para ser real istaem ~ntOnlo ctas ~ortes" . Dependendo do sentido da paIA\'rarealuta. 011 tcdc o filme é rdli~to . 011 a ação solitlrió li: An­rente esc o t, Di:. ""r outro lede, que Ar.t~nlo "tamb~m eslAn\.l~')' ,;ona rc.Jto!60Ice". ou entio. qve "êle (; míucc c rd" emlth.'O . IndJs':'Jtlvdme:ut'. An:~nio das Mones asbte à tnrer­pttt4ção. nlo Ilpenas à do cantador cego. mio! ta:nbém Anessa.

Encontramos cm AntOnio das Mortes uma série de ele­mentos iA conheddos: ROnl (A Grande F eira ). V alente (SofSóbft a Lama). Firmino (Barravento). T ôníc (Eahla de To­dos O.f Sanro.s) são seus ancutrais e. como fi e. os basrardos~~ d nema brasileiro, AntOnio estA entre dois PÓlos. não se

egrando em nenhum; l solitArio; nãc se realiza: enquantoas outrl\S personagens SÃo tIlCllminhadas no fim do filme. l!leDlo o é; desaparece. ale dá as poSSibilida des de rea lizar aguerra; a guerra l problema dos out~s . T udo isso ,'A o vi-mo. M .d em seus a?cestrais. as. nfle, f . ,'u elementos aparecem

epurados, nltldos; nenhum outro elemento vtm obscured­los. E. sobretudo, l le a firma o que os out ros deixavam em sus"penso e apenas estava implldto nfles : lle deve desaparecu .~u mais e~"tamente. deve tliminar-se. Mas l tamWm dotado

e uma dlmensAo que faltava acs outros: a mã ~on5C lnc a.

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Page 41: Brasil Em Tempo de Cinema

Assim reencontramos em Antônio das Mortes aquilo ~ue ,::1­mos na análise de A Grande F eira : a estr utura da sttuaçecsocial da elesse mtdia. ueteede -se des ta vez. nltidamente.de SUII. pa rle prog ressis ta. Ligada às classes dirigentes pelodinheiro qu e utas lhe fornecem. pretende coloca r-se na pers­p:ccti\'a do povo. EsUI , it\laçAo. sem perspectiva própria. fazcôm que til! nio consiga constituir-se realmente em classe.mBS seja a tomizada. E An t6nlo das Mortes tem essa. maccnsctêncta ft' que fala Marx. Es!7'"'!n" conscrêncte nac éoutra que a deGla uber Rocha . qu e a minha, que a de todosnós. 011 melho r. de cada um de nós. E é po r Isso. pa rec:-me.que AntOnio das M ortes tem tamanho poder. de sedução, epor isso res iste ta nto 1 íe terpreta çãc. Porque Interpretar An­t6nio é nos analisarmos a nós próprios.

O cinema brasileiro nunca chegara a esse ponto. De ~Grande F~jra e Cinco Vlzes F avela. em que a classe ,?~d~se escondia de si própria para escapar a sua mA consctêncíae a seus p roblemas. att DelJJ ~ o D iabo na Terra do Sol. ocinema brasi leiro percorreu todo o caminho necessário paraque enfim não po.ua.mO& maJs deixar de nos uaminarmos anós próprios. de .Il :;JS interrosarmO& sõbre nessa situação '0- ­c al. s6bre a vo\!idatle de nossa attlaçJ:;J e sôbre r..OS!4 respon­sabiltdade social e po:w.:a. J\nt~njo das Mcrtes encerra umaf.se do encma bra),ileiro e ir.aaOurll uma nova : qual t o p~ ­pcl da clam Iddia no Brasll. E-h l t d nema será predoral­,nanttlJltnte urbano. Att Antônio da)'Mortes, ' tivemos ai:~ em que o cinema conquistou uma maneira de pOr nada ai" cóntradi Ou ela pequena burguesia. e nesse tpoca nos ­

anema~ U.DOI dadO • Impresslo de que a classe me­p'~ruI era ~uldora de soluçw para os proble-

lIlU o raii] ' ora et~ de Anttlnio das Mor tes. vamoste;' formos honestos. o que desce­t6tiamente a nesse favor .e com o veete do dnema urbano.

u' I havu '.laia grande sue­e o ariana. braaildro por sóõfdiIie:vu1o ue...... cólMl fJcarlo efe­

uanClo tu Da dade ( . .. )e'li;;, qu te "Pio na tela.

. . . ) !ifel filmei. IIc yi o ter

de engoli r"." Nêc. Gustavo. depots de Antônio das Mortes.nl o pedemca continua r a nos enganar a nôs pr6pri03: se for.mos honestos, nlo apenas llu, mas nós tambtm daremospmctes.

Em Deus c o Diabo na Terra do Sol. Antônio das Mor­tes tem. em si. uma d imensio tr"'gica. pois ~ impOSSIbilitado dereallzar. se em .teu mundo e a própria l6gica de seu dutlnosó lhe p'ermlte encontrar na morte sua realizaçi o (" e morrerde vez )~as tem no filme um papel politMo" posrnvc, J.toque torna possível • guerra de Manuel, Mas, por que pensarque a morte do beato e do cangaceiro permitir! a M. nudfazer a guerra? AntÔnio continua ·a pensar com os vlcios deFirmlno ( e Glauber Rocha tambtm , ao que parece ). quepretendia dllr ao povo sua revolução. embora Ant6nio con­sidere seu papel restri to a uma primeira fase. ~or que ni opensar que a pr6pria guerra destruirá forçosam ente o beatot Q cangaceiro? Por que aãe pensar que. se o prÔprio Ma.nue! nlo fôr capaz de eliminar Mato e cangaceiro. isto t ,de superar su~ duas revoltas alienadas. tampouco leri ca­paz de fazer guerra. ou se ja. de tornar sua rt\'Olta umarevoluçl o? Nl foJ Manuel que eliminou suas alienaçO!S. fOI

um terceiro, o que nAo slgll.ific ' que Manud deixou de seralicnadC'l. Manuel. dC'pobJ de ter ;na:ado o latifundiàrio. com­poct", -se prà~iCõlJ..Qente como um ser inerte. qu e se dt;u:a gUiarpeJo batI) e pelo cangaceiro: quem afirma que. a~s a mortede Corisco. M oUIuel passe da tnércía á açãoi MUlto provà­vebaente. Manuel procurará agarrar-se a uma nova pouibi­lrdede. a uma nova ilusão de salda. E . nesse caso. quem dar'a Manuel essa nova ilusão de salda? O próprio A ntônio dasMort~? O governo federal? O papel social que A nt6nio dasMortes se atribui e transforma em destino. nã o seri umamistificação? AI utll. a meu ver. nesta mistificação, a verde­deira e essencial contr adição de Antônio. embora êste papelpolitico ~eja apresentado no fil me como coerente e att prê­revolucionArio. o que Gleuber Rocha confirma após a reallza­ç10 do filme : "Antônio das Mor tes t realmente uma persc­nagem deflagrador.. uma personagem prt -revoluoonirla:'Mas. por que comlduar que Manuel, o povo. t Incapaz deIivrar.se de sua alicnaçio? Na primeira parte do filme , Rosa .

11 ''Vitória do CiIlema N6vo", 196,. . Os v ifos P...9 me..us.".

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Page 42: Brasil Em Tempo de Cinema

•, "

mulher de Manuel. quer que se ·~:~e~a f:n::~:al~ -~~se volte a uma a1Ol0 UI"iI hU'fanaçio de Rosa mosuado suaque do ter desenvolvido UM UD ;'etcns6es1" Porvaõrte. seu fracuso. 0dll• ln8~~dddC~~i~PdeManuel con-que não ler desenvolvi o o em r o e r ~ --A . dtra Corisco1 por que cooliderar que cabe a ntonlo asMortes I classe IJItGla. livrar Manuel de sua aUenaçiol p~~sal ue ii classe mtdia poss.I f"zu t6d& a tevolu~io. popu...r ,isso ~erla forte detll'ls, c apu'Ccula att antf,hlst6tICO. .ac povocompete enccnuar $1.1.' pr6pri"" soluçw: soluçôU apronta.das pela dasse mtdia suíam eivada. de uros burgueses. Maspensar que o povo pOSSA fazer tOda. lua revolução, ínelcstvelivrar-se de sua alie.naçlo, nio. isso n1o. Entio. q ual serrao papel da classe mtdia progrcssi5t111 Ligar.se 1 9randcD~ur.

esia1 Olhar as m6saJ1 Essa contradiçãO. DNs c o Ilibo~ a aborda. Nada indica que o cinClDa depois de AntOniodas Mortes nio mostre que a perspectiva que t~e pr etendeabrirpata ~fanud seja cm. realidade uma perspecuva para êíepr6pno. AntOnio das Mortes.

--A Hora e a Vez

da Classe Média

Page 43: Brasil Em Tempo de Cinema

classe ml:dia. embora exp ressassem seus problemas. O atualcinrma urbano !rata claramente da classe ml:dia: l: a primeiralentativa consciente. Entre os filmes que vimos atl: agora ees tes. n ão hã modificaçlio radicai, pois o cinema de eebten­lação rural não fl : senãe exprimir problemes da classe rnê­dI.. A mudança consiste no falO de que o corpo a corpo\ '11. 1 começar. Os primeiros rOUflds são Sio Pau.lo SociedadeA1'7Õflima (Luis Sérgio Person. .1965) c O Desafio (PauloCésar SaraCtni. 1965). _ _ ..

.<\ PllESESÇJ< DO P ASSADO

dtas ao govlrno ou a Getullo Vargas. enquanto que A PrI .meira Missa (U ma Barreto ) alude a Va rgas. RebeM o UI

Vila Rica (Renato e Geraldo Santos Pe reira) ambienta.se noEstado Neve e JoaquIm Pedro de Andrade focalh a inSl5ten .temente um retrato de Vargas na casa de Garrincha. E tem­btm Carlos Diegues faz uma breve refertncia icon09rAlk:a aGetülio Varsas em A Grande Cld.de. B.hi.t de Todo, osS••ires não só se refere expressamente a V argas. como tam.Mm qutl 3d d il, retre te da ditadura. V~as fOI abordadomais díretemente em pelo menos dois Hlmes doc·Jmentl! rios.Getulio Varoas. San..uue e Glória de um Povo (Al h edo Pa ll!­elos. 1956). e o de Jorge lIeJI. de 1963. que continua ínédue.

No cinema de Ucçlo. nlo hli 11 menor düvida de queasa procura dos anos 1938.... ' revela uma indisfarçlivcl ten­tativa de buscar abrlgo au!s do acudo do passado. Nio setrata de um problema de censura. pois êsses lilmu foram ree­lizados num cUma de quase tOt21 liberdade, mu sim de umadIam ento na abordagem dos problemas qu e deve encararatuelmente a c::~r média. Q uantia se aborda o presente. afrantelra entre ultu ra e politica não é n!llda. Obras queabordam o pa o podem entru de c.h6fre no domln l(l dI.culturl. Não se tratA. aliis. de recetc ind'\i rlual dos ("i\·'leu.tas, rtlall siln de tJlI'l movimente (leral do ciru:mll hasilt i~ o Orecuo no pa n lld" tambl'III pt l:::lite uma vrsac global de certesIenõmeaos e uma compreensão de seu mecanlamo, e posstbí,lita-qu e se recorra a uma certa elaboração previa. por maisprecária que seja. dessa mat!ria histOrica ; por isso, uma certatranqQjlJdade estttlca era posslveJ : tudo Isso te ria sido prAti.camente impo"lvel ao abordar o presente. que teria levadoa pclêeneee.

Mu êsse não é prevêvelmente o motivo mais determi.nente. V argas, mor to hA mais de dez anos. continua pesandosôbre o Brasil. Ainda t um nome popular ( rcvlstas como OCnlleiro fatem rcporta gens periOdicas sobre f;le) e as canse­qúl:nclas de sua politica populista - que procu rava impedir.sausfaz~do reivindicações trabalhistas, as atitudes poUti bde um povo que começava & fazer sen tir sua presença _ re-.pueutem att hole. Por outro la do. se hls toriadofU e SOCió.logos tentaram tatudar bse penedo. ~lu slo poucos e o as-­sunto tampouco foi abordado pela rte. litera tura ou teaffb .Sendo aSlunto passado mas ainda VI gem c com r percuüOeS

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,parte. "A terceira rebeldia. t o mar, que náo ~.lti no !lIm.., q"tã acontecendo por ai ; são os camponeses, Com h llto e p l_aódllJ, a Eita teria Eicado enorme, e G lauber Rocha tem ru l o.

'de um ponto de vista dramAtico e est ético. ao dteee que "a 110­

lução encontrada t mais sintética, mais violenta" . Mas tal ar ­gumento não Justifica que o filme ola tenha sido construIdoemJunção da terceira rebeldia. E um aparteante explsca que aterceira parte. que mostraria "o grau de consciéncia p resentedo' sertanejo" .. fo! justamente_c1iminad,,_ pois "não era ne­ceeséna. teria um efeito tautológIco", Pois não teria n enhumefeito tautológico. não sendo o presente mera dedu ção dopassado. O que U t resolução de não abordar o p resente.e de dcixá~lo nas mãos dos outros. a",m como os pescado­res de Buraquinho deixam sua vida nas mãos de FIrmll\O eAruá, assim como a guerra de Manuel deve ser da da porAntônio das Mortes. J:: reboquismo. A inda co nseqü ência deVargas,

O cinema Que trata da elasse média urbana é um cinemados dias atUIlIs. ExJStem por enquanto poucos filmes. mas jase vim -delineando algumas tend~ncillS : a vida d e subítrl-io,a pequ enA'"dau e ru~dla em via de proletari:ação. que estaApodrecendo em:.. sua i:ltrda e suas ne uroses ( po~ exemplo.A F. ltcida de Deon H iu:l.ma r< . ou c l o:dru não !.I:eadc dePaulo Ctsa r Sara,eo!. ba 'eacc. no I:l\!O de "fC:3 da Penha".D estJf io. que não é o roteiro do filme hOIIl~n jmo ruliudo pelomesmo d/ retor) , c i o subúrbio caetoca o ambiente id eal :quanto A classe média na vIda indus:r!a l e comercial da cidade.inerte e rnolda pela grande burguesia , t SÃo Paulo Que ofereceo ambiente mais significa tivo e mais problemi tico. sendo S ioPaulo Sociedade A nón ima o p rimeiro c por ora único fl!eecritico sõbre êese tema; a intelectualidade, cujo pape! t tãoImportante e tio amblguo na evcluçâc brasileira, tambtm setorna personagem. e o Rio serA o terreno mais propicio : ODesaf io. Em geral. apreSCtlta-se uma dasse média apática v _vendo num completo marasmo.

Se a cidade é um fen6meno recente no cln~ b{asileltOde Intenções crIticas, IA serviu de pano de fundo a alguns Iíl­mes reali%ados rr volta de 1930. José Medina (Fragmentosda Vida, 1929 , Rodolfo Rex tusUg e Aaa1berto Kcmeny(Sl o Pulo. Sin!onh. da MefNSpale. 1929) cantaram o desee..volvimento urbanlstlco de S . Paulo. Depors a cia.de flCOU

,<'.. ,

profundas a te hoje. nade mais na tur.1 que d neastas quisusemenfr en tá-Ic , tanto maIs que panaram sua inEAncia numa I/:pOClem que Vargas. o pai dos pobres ( ~e a mie dos rJcos em eom,pcn.wçio". diz o sa.mbll ) , encontrava-R em tOda, IS b6als,ceicttio do bem e do mil d. verdade e da c:lUltir.. Assimmesmo, o cinema pouco duse sObre V argas : O'8u untO con­tinua prAticamente virgem .

Apesar de tOda a enxurrada d e filmes f ura is, o ,ctti ode hoje Ioi deixado de lado.. No momento cm-q.u_Vidas SI·CIU ou Seara Vumclh. foram realt:z:adl». nlo há dú\'ida deque os F" blanos continu,,"va:n exis tindo. q ue os nordestinoscontinuavam emIgrando. mas era tam5ém a época das LIgasCamponesas. da sindicalização matiç. no campo, das Invasõesde terra , da implantação do salArio mlnlmo nas faze ndas : ocinema de fjcção nio tomou COMetimento d. situaç i o ser­tane ja pós- Vidas Sl cas ou pós-Deus e o Diabo. Filme s6brea S'l'ncl"ah:õ1ção rural. houve pelo menos um; foi o documen,tado dlngldo por Carlos Alberto de Sousa Barros e finaD­c/ado cm 1963 pc/o govirno federaL i o único que se conheça!Aliás, pode-se dizer que tOdas as fOrças pop ulares ou bur­9uuu que de um modo ou de outro se estavam movimentando,à procura de m,xMicilçõe5 da sociedade, não oSpArrce.m em Iii­mes de !:cção: allc da, lutas no campo. UsmbflD foram c.Ji·;.:j:::I<l'~ " '; " " 11.:a~ Jlmdkals de OPU!riN ou P'Jrtu ilrios. us tn­telectuais c os estudantes, bem como os actores mais avança·dos da igreja, detendo-se sempre o :clnema nos representan-tes de uma Igreja estratificada, Um ema efetivamente pc-

JluD..l não etia tu dwado de la tais assuntos: um cr-I1ema classe mtdlo\ podia.

Intenções de abordar o momento presente- no campo,ouve alg tl.mas: Lecn HltsZ'man e Marcos Parias preten­

deram r I r um Engenho CÚI Galiléia. Eduardo Coutinhoe ou C1U Cibra Marcado Pata Morrer. cujas filma-

a orufãL:acnte inturompidu cm abri! de 19M: taisos eXC DO quadrO do cinema brasileiro, ni o

!"'~"~ . uan aS" RWseram afrontar o pre-~ con'e ali.\lU fita•.

1.1 • gu ..fa".meato do presente eCI de recllN do presente

cm 9 D~ e ouma fuceJra

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Page 45: Brasil Em Tempo de Cinema

praticamente reduzida ao erablente das comédias muaicais ecarnavalescas, das chanchadas cariocas. fenômeno Importanteporque. bem ou ma l. a cidade Já começava 8 receber um rra­tem ente CinemalogrAfico. certos tipos vinham sendo elabore­dos, um certo modo de falar pauav8 para a cd.. ; a eh..n­cbade nio apresentava ponto de vista critico sôbre a cidade,mas revelava. às veres tr õnícaeeenre, cnt~ traçOJ da vidacotidiana. Hoje a cidade volta " tona.

.. Ao lado ' de filmes ú rt!'CõS. uma sêríe tle dramelhões oupolldals escolhem S. Paulo ou Rio para ambIentar seus cri.IDes : Crime no Sacopã (Roberto PIre!. 1963 ). O Quinto Po­der ( Alber to Piualisi, 1963 ). ou reproduções como Noites

ue/IUs d e Co".cabana. esses. comerctats todos. 8tlngindomelhor ou pior ntvel artesanal. quase todos apresentam a clas­se média. Socialmente mal caracterizada. ela se decompõe emCrime de Amor (Rex Endsleigh. 1965) . A mudança de clas­se e o ninh o quentinho com geladeira e amor. como em tõdaa histó ria do cmeme. continuam sendo os grandes temas deIrlmes comerciais : a mOça (lre a Alvare: ) de A M orte emTr és T empos ( F ernando Campos. 1963) . embora ni o ven­cendo no concurso de M I55 Brasil. cua com Ulll c !lionirio epac,sa a vrver na seeredade rica. odosa e neurônca de Rio.e 1I.:a~ a.»assinac!3. A l!It\<;a [ Irma Ãlvarea ] de Encon:r(lc",m ii M orte (Artll r Duarte. 1965)1maltratede cm S. Peufopejo marido para quem cozlr.ha coin amor. abandone mo­mentAneamente o lar e encontra na afta soc..!.edade caneca umhomem q ue lhe compra um casaco de pele. 't acaba assassi-

t:l~"~ assassino (RegiDaldo Parlas ) e a prostituta (V irgl ­S-0) de Mort~~ra um Covarde (Diego Santillan ) so­9J!I um l~t1J,fo tranqUJlo num quartc-coztnha-banheiro:

ai tarete e 1,9 uJtivar rosa. e duejam ir a balles Ire­OentaoQl p. a~ EIrJ1I1l.fl': "Je t anasslnado e ela se prostitui

m rI n a ma . Io-'Se trata .enlo de uma outra mod a-li ãia e contra .. na asc:ençAo social. via

cur a. ttuS lemas pred.iletos .• •~'!'Jr,

o GRA.NDE M OI,U NTO

e.ste Í1hlmo fUme ambienta-se no BrAs. balno Pllullstlonde vivem prolet6rios e pequena dane média. As per5Otla_guu trabalham em geral por conta p«ipria: é um med.nlcoum fotóg rafo. ou são funcionArias;. O enrede desenvolve_s~

num SÓ dia. o do casamento do her61 (Gian lr.ncesto Guae­nlerl). eccnírema o ritu al do-easamento - ~o e \·AM4do.fotografia. festa para os amigos. viagem de nupciu. t.!lxl atéa estação -e--, com 05 meios de vida dessa gente. Embora ocasamento leja modesto. embotei" essa gente t rabalhe, nAo hãdinheiro que baste para pi!gar o casamento. O fil me t umacorrida atrAs do dinheiro. culminando com a vendi! da blCI_detlll do her6i. o que representa um atentado tanto ao lndi.vlduo como ao ser social. pois a bicicleta era meio de trabalhoe melo de divertimento. quase parte in tegrante do homem,Portanto. para submeter-se ao ritua l estabelectde pela socie­dade. o ho~m tem de sacrificar -se.

Até ai lJoberto Santos é clero. Depois. terna-se um t" ntoamblguo. poil reivindica para todo mundo o direito de vesti rum terno nO...o no dia do cotsamelto.

to lastimável que um indlvl1l.:0 in:eg rado "i! scctededen.1o potSe:t C:Jmpr!.r 'IS re comendanões det~a :::Iuma scctedade.Mas nãc se cheya ii p ôr clareme.ite em duvida o ritua l a quese submetem 01 noivos. embora êle nã o faça parte integrantedo casamento. E a questão se coloca de saber se o r itualvale o sacrlflcio da bicideta, se vale a pena respeitar o ritual.Parece-me que a SOCiedade t culpada por não forn ecer a seusmembros meios adequa dos de vida. mas que as personagenspodem também ler eespea eebüreedee por tentarem obedecer aor itual . O Hl me é construido de tal modo que Efca clara aopressão do dinh eiro , e. com boa vontade. o espectador talvezchegue a colocar em du vida o rilua l social. Mas isso ndQ tmulto Iacü porque as persona gens. p lncipa baen te o rapa{,são tra tadOJ com imensa simpatia. e . para colocar em dilvi~o ritual, era necessário dar pelo menos uma olhadela umpouco crldca I6bre o comportamttlto dos nclvcs. Sem haeolhar. o filme t uma qUlIJe aceitação dh~e modo de vida, Porisso. tem-se. Impressi.o de que Roberto SantOJ p-at no meiodo caminho. e hoje prolongaria sem dilvidã seu r d§cfuio

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, :...lIl llltO mlis longe e mAis imp i~osa e ...tcutiC&me~te. Flnal­mente. 05 noivos chegam lu.sados • estaçlo e neo _têm di­nh eirO pira comprar oult al pu sagens : olliPlstas, voltam paraa cld. de. \'10 enfrentar .. vid• • Nesse oUll1bmo. hA uma ecet­taçio de nAo poder cumptlf o ritual até o fim: devemos nosSl tisla:u com aquilo que t da gUlle muma. ' l"'f

Apesar dessa reserva. O Grlnde Momento al o só é ofilm e mais llllporl antc do surto de produç! o Independente vc~rtf/cado cm S. Plulo -nllP lmOS 1 957~58 . como t .tamWm um ­marco na filmografia brasileira. Isso porque, enquanto nasciao surto do clngaço e do Nordeste. O Grand e M omento peec­cupava·se com ... vida urbana. Dia com .. lntcnçl o de apenasretratA·la, mas sim de In.lisA·la; porque. na cidade. nl 0 es­colhia marginais, m,,' pessoas qu e representam a maioria ab­soluta na eídade: porque fazia do d.lnbelro o motor do enredo;e fjnalmente porque era urna corntdia. comedia triste, com mo­ltlentWl graves e liricos. mas com cenas cOmJces e att burles­aLlI , ptózilll.as ao tom da chanchada, A própria estrutura dofilme - mil e um obstáculos InterpGt:m-se entre a persona­gem e o alvo - tem muito de comtdJa. Tudo tese animadopor um sadio otimismo e uma ternura paternal para com aluta, ('IS esforços d-:sses jovens JQabalivelmente de..:1Zlidos aca.wt.

O v rlJn;ic .Woment;J era um filme sdiame dc p M d sualpoca. Ficou jsolarlõ, Era ue:. ponto de partida magnificopara WD ~a urbano ; laJlçava tem.s,~e:C'Sonagens. amblen­tCl que poderiam ter-se desenvolvido. .1S os dntastas nãoatavam aptos ainda a afrontar a dd.de. A classe mtdia de­via lU atingida via AntOnio das Mortes. E o pr6p rio Ro­berto Santos, embora seja tio empalhado em fazer cinemaJ;dnro luaJ puson&gtnS em casar. Dlo teve outra cpcrnnu-

e de filmar atl A Hora e Vez de Augusto Matr.ga ( 1966' .

j tsugnaçio. .a decomposlçio das coius e das peSlOal, a 1111.potlncl.a.IIA Falecida. baseado em peça ne Nélson Rodrl'ilu~I,

....e a hJ.t6ria«ie \lma alienaçlo. Z\lhnJra (Fernanda Monl~ne­' 'iI ro ), du eja morrer e um processo de auto-s\lgestlo leva-a.morte, i.Vive em funçlo de . um em êrrc digno dos mais riCOI.que .a redimirá.. Est' lrlteiramente .cortad~ ~a vida real. e os­dIa. ' em lua morbidu:, entre praticas relIgIOsas ou supersn­dosas e a agencia funerària que prepara seu caixão. Isso sedeaenrola num ambiente deprimente. que a fita. filmad~m'locais naturais. sugere com f6rça : o marido, Incapaz de per­ceber • situação da mulher. estA duempregado e procu ra umbico. sendo o futebol sua vàlvula de escape; a mie vive ou­vindo ràdio-novelas; 'os obJetos da casa são tristes e degra ­dados; nas ruas, as paredes estio estragadas; chove. As coi­sas e as pessoas, tOdas decadentes. A fotog rafia a ma, osplanos demorados traduzem o ritmo arrastado d êsse mondeque se vai aos pedaços. A Jnterpretaçio de Fernanda Mon­tenegro. consciente e teatral, ao se opor ac na turalismo dasoutras Jnterpretações (exeetc À de N élson Xavier. no agentefune.r'rio. que -4estoa) e à mediocridade do meio, valorizatanto a alienação qllaJlto essa decomposição, Para C5:li:> vida,uma sol\lção que e u.l\a alier.t:.ção colenva : o futebol.

Dlga -s.: de passllgem que rC'::f'JUeI:.Lf':l:C o fute bol ,. ~::;'Ieeadc apresentado cada vez mais coce uma o: litI',].;ão cole­tiva.: se Rio 10 Gr",u! mostrava o jOg<) como uma fes ta popu­lar. Garrincha. Alegria do Povo (Joaquim Pedro de Andrade.1962) e Subterrâneos do Futebol ( Maurice Capovilla. 1965).dois doc\lmentárlos. vl em no lutebol uma manifestação hts­túJca que aliena o povo. Quanto i alJt.nação de Zu lmira. étanto mais valorizada que atl o momento de sua morte Ial­tac-ncs lrlformaç6f:s para compreender O seu comportamento;allm disso. o tempo no li/me e tio curte que torna tnverosst­mJl a evolução psico-lisiol6gica que a leva à morte ' assim aalienação. a vontade de morrer, apresentam-se como' um f e~O­meno em si naquele meio degradado.

A Falecida poderia ser um esplêndldc retra to da , da 51.: ­

burhana carioca e excelente evocação do marasmo em qu evive grande parte da classe mldia do pais, em conseqill:nciadas contradiçOts que J6 vimos e do processo acelerado de pro­letarizaçio em que se encontra. Carlos Dunshee de Abran­eh" queixa-se : "Um membro da classe media pod~ g.nhar,

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Page 47: Brasil Em Tempo de Cinema

por nu tubalho. cêrca de quinte vhu tDllis que ~ remune­rat'o auferida no mais baixo nlvd da uula 1OC13.I. •• Empaute» anca. ~ diftrUlça de remunuaçlo que ~I!a 0, pa·dr êc de v'ida red uzfu-se para mmOJ de tel! vt%tI . A SItua­çlo do p rofi;slonal tibera l t das mais insth eis, pois. apesarde redes os serviços que presta ao pais, conlloua Abrancht $,fIe "recebe do Poder Publico no Brasil um tratamento tal que.de-se-te. um por objenvc ,eliminar os profJ"ionais llbera!s ...Entre nós. o earcctensucc da proflsUo.JlbuaJ t li inseguran­ça" ," A F aled da sug erJria perfeitamente essa dtg~adaçl.olenta da classe mtdi... esse resvalo para um nlvel de Vida bat­xo. usa diminuiçAo de suas possibilidades. 010 Iõsse _ii se­gunda parte do liIme. em que um retrcspectc dA ii ex ph~~çáOdo comporta:ne::to de Zu lmira : tudo isso porque fOra a~ul.erae apanhada em flagrante por uma \izinha. O filme emec res­vala pa ra u~a psican~lise de folhetim. perdendo-se tO~as ast:::pl1caçOu da primeira parte. Tesa-se a Impre55io ce en:contrar ::a primeira parte Lecn Hlrs:ma ~ . enquanto que a seg l,l nda i de S i lson Rodrigues. Nesse primeira parte . reconhe­ce-se de fil to um aspecto da temAtlca de H!rs: ma ~ - umavida que ex iste em funcão da morte - . mas as cxp l1caCOes deH iruman nunca pccleri<lrtl liD:lltar-se fi um adulttrJo . ~

~ a tentativa de descrever o mesmo ambtente suS';rb;no.tlu:d io:re e neurõuco. que frac4uou t O C rime .~r: Amor. Mas

re o tema disse fJl n:e. a " era da Penha • ~au l0 Cisar~raceni consegue estruturar e' rótei,ro d e D eSlJI 'o. que tam­Dlm t a hlst6n a de uma a limaç1o. v ida- degradada.: enquanto

rsttlYln estrutura uma cena tm t6rno de um ln(!Jvld uo come rriga. que aguarda para entrar na privada . sendo

lao da desca rga o sinal de alivio. SaracmJ introdu : suarsonagem principa l. Valqultia. no momento em que estll

cor i:l a hlU dos piS. PersoMgens mofando. sem solda.sem p. rlp' ev p~rram . der frustracão em lecetrecêc, sua

ii ti o I à. e .lqO:lrla. frustrado SeU a mOr. frus-tr I maternJ(I • rinca com um rev6lver e co m,um tê r-

lJ~~.~ lua uldi t ata m. menina. ~li r umIi iílfJCIí o geral que A f.d{ecida.

SiiiiiriI ~: a dicom~fiClo da vidatoeI: siv.mente de momen-

tos mortos. de pedacol de açlo. de h<lglllentos de ccnversa.O rctetrc dccompOe-le Ull .eqütnCÚls curtu que pouco cola­bo ram pa ra a evoluçio do "nrido e JAo prltic.mentt desc n­çôts de estadOl ImÓvels. As resoluçôts l.ão tom..das pelas per.so nagens en tre as If:qütnclas. Se S a r<lceni elimina as cenas dedecuãc i porque nio hA prOpria mente resol,,!ção. nem decisão.Estamos num nini multo próximo " vida vegeta tiva. As per­sonagens vão sendo levadas independentemente de sua venta­de. não contra sua v-ontade. pol~ essa v-ontide ! quase ine­xistente. E . 'no melo dhse~ deienee. ecos apagados lembrnma exis tincia. IA fora, de um mundQ. problemá ttco : ~ uma ins­crlClo, contra o parlametltarismo, em pa rte apagada. numaparede: i a voz de Alziro Zarur no r6d io; ~ um [cmal ras_gado apresentando uma vís ta geral da CIdade

Essa temáUca. que poderla mos chama r do dcfll'lha::lf:!l toparece normal agora que o cinema vai se aprox imando dadasse mêdta . As hesitaçoes . a fa lta de ob)elivldade. a incapa ·cidade de agir que percebemos nas )ersonagens divtdidas en­tre dois pólos:"ncontram na allena çêo e no marasme de Zul·mlra e Valqulr. um de seus prolon 'pmcntos nalurais. T udoindica que t3~a viril a ser uma d"s I nhas nlestTa~ da l<!mll>icad e> crneme breetleírc. Num outro ~lT'erO, Arnaldo [ebcr. comO Circo (19f15), tllmbem u fHla a es-c iendênc,e. Nessedccuerentárto. nae se trata de decadfncia de uma p '.Tsona­gamo mas de um grupo lIo<:ial e de' uma atividade ploC3sionillo circo. Após a lgu mas fotografias que sugerem o tempo êu recdo circo. i ·nos apresentado um medíecre cspetl cu lo d e Circo.pessoas que continua m trabalhando. mas sem recursos ma ­vlduais e socials. para manter sua atividade num nlvel diog~

velhos que exibem lembra ncas inúteis. etc. Como no filme deH irszman e no roteiro de Saracem. insiste-se em alguns de­ta lhes deg rada nt es: a 1c'na ra ~gada . o lama çal da rua deacesso ao circo. F inalmente. destruido o circo. Ileam uns rc­slduos humanos, homens que dão espetãeulos na rua, semilOl1­coso que. na maior solidão. se torna m objetos de zombaria dostranseuntes ou fazem a pelos mlstlcos que ningut m ouve Oroteiro não deixa de lembra r um pouco a li cn l(:a de Saracenlem Desafio-rottJro : nenhuma pane do filme e apresentadaem um bloco só. tudo i fragmentado. parti o O espet 40ci rcense i recortado em peda cin hos. as enl revfstas são inler­rompidas a cad. instante. 0 ' fragmentos s o iLgados: entre s

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PORTO nAS CAIXAS

...' li 'I_Mas o tema da decadlnda e da alienação JA Ulra lançado

hA alguns anos por ,Paulo Ctsar Saraceni com P6tto das Cer­xas (1963 ) . Numa cidade do interior, completament e estag­nada, uma mulhu (I rma Alv. rd ) resolve mata r o marido quea oprime. Nlo querendo f4%l~lo sõzlnha, procura ajuda de seuamante. que "hesita; procura '-a juda de um IOldado. de umbarbeiro : negam-se. Afinal. o amante dtspõe-se a matar, Ira­queja no último momento; ! ela que mata o marido. Todo otempo, ! nisso que ela pensa. Qualquer homem ! um cúm­plíce passivei, qualquer objetc cortante. uma arma pcsslvel.Todo objerc da casa ou da paisagem lhe lembram a medio­cridade e a estagnação de que pretende livra r-se, todo gestoou palavra do marJdo aumentam seu nojo. e uma idtia fixaem nível patológico, que um arsenal de simbolos ligados àfatalidade e ao erouseac faz resvalar vez ou outra pa ra o dre­malhi o. A pretensa revolta da mulher deixa de ser realm enteuma revolta-..pesde que ela nAo submete sua Jdtla à critica,pois, para libu tAr:,se do marido. qu e, acidentado. ni o ccn­l>t9'ue andar, era desne..:estárlo meta-lo. A sltJação colocadano inicio do fume lIão evolui, pereaanecendc i d~n t i C-1 li si pró­pria att o fim; o desenlace r.ão traI qualq..er novld.ulr:, jj,que estaV:l impllcito nos dados da aituRção. A lição Já eca­bou antes mesmo de cccaeçar. Compreende -se qu e a violênciado gesto de matar, Independentemente de sua necessidade cb­[etíve. possa ter uma função libertadora. Mas. serA qu e aodeixar a cidadezinha, só, após o crime, a mulher liber tou-semes~01 g muito prcvêvel que no cinema brasileiro essa sejaa primeira est6rla de uma alienação caracterizada.

Tal allenaçlo ! vivida numa cidade que conheceu outrorauma certa prosperidade. MIl.S, hoje, a fAbri ca estA parada cInvadida pela vegetação; do convento, sobram rulnas. Ostrens passam. nlo param, e o trabalho do marido Ilmlca.se aagitar uma inútil bandeira vermelha . Um parque de díversões,vazJo; uma venda, vazia, poucas garrafas ; uma feira , medIo­cre e Sem entusiasmo. Se há uma vida um pouco mais euve.a de um adoltsCetlte excitado, t Um fogo de pa lba que nãotardará a apagar#5e, Um comld01 a uma rulaa de comido,não hA fOrça reivindicat6rla, não se sabe. nem o que retvrn-

j--

•,

1

I,

•I

-

por idli.u ou alusões, como numa conVUSoI tólu. que desenheerabesccs elegancr, e ariJtocrllt.!coJ, o que dA a o , lUme umaccrta superioridade $Ôbrc seu assunto. A pr6prla matt rla ttransmitida de modo ,,[omJ:ado, U.lll tanto esfarrapado (c re­quintado), ass im como se diluem alguma, d., palavras dos

.entrevista dos no burburinho da rua.

A travt s da decadlnda da amtocracla rural do N ordeste.- - E"nessa mesma perspectiva.. emboR sem " morbidez dos fümu

preeedeares. que me pu«c enquadrar•se Menino d e Enge­nho (Valu t Dma Júnior. 1965). O pequeno mundo do En­genho Santa Rosa. cercado pela usina que tnelu t êvelmentemais cedo ou mais tarde a absorverã, estA cm decomposição.O que testa da famUia do Santa Rosa : um pa,ssado brllhantclig.do ao Imperador. uma terra cuja maior gl6ria t que nelao sol se levante ,. se ponha. A usia.a ameaça o engenho; otrem, o carro de ..>01; o carro, a carroça, O velho HumbertoMauro abordou umbtm o tema da .ubst1tulção do engenhopela usina num filme Iltico de alguns minutos, E ngenhos eU.finas, cm que se encara com uma costAlgica resignação ofim do tudlC~ona l eIlgdlho. O. UltJJ:.bros da faClllia--do SantaRosa pcrd~rJm sua vitalidade. aio futuros cad áveres: et õeesduros m()\rim·elltam~-;e ,- hiuá-tICõi:-dlanté-de-pã'fedes brincas.Os sr lOS que formam jA sio fotografias para Album de farel­lia. Ainda vivos, já pertencem ao pAfsado. Uma Clontagemimpiedosa Interrompe as ptJ'lOnIgmS\nO melo de sua ação,01 atOres no meio de luas cvoluçOes: cortes secos Julgam semrcmlssio as pusonagens, E a morte domina esse mundo : !• monc da mãe do menino de engenbo, de uma amiga dêle.8e um carneiro de estim.ção. A essa gente decadente, een­ifr'pOe#Je o men.iJlo. inicialmente blquJdado pela presença damoite, mas chdo de vitalidade. pele mortaa, carnudo, olhosranda ~ qucntq, ADtu de mail nada.tle!unolhar.um

parddpa, AO' poucos Ju se Iibutandomorte' Cluêõbüta 'CIo lUa inicia uma Dova etapa em que,~ ti J?!ÓPrla, a o mOmento em que

SiDta fU~ ~ sugestAo daClecaClfii.ensJveí tem ser piegas,

Page 49: Brasil Em Tempo de Cinema

drc..r. e sl0p'drts refe rentes , relorma agrArla mJ.sluram·se com,a,haça. :-.lio hã fórça alguma ncm na cidade, nem dentro daspcrsonllgens. que possa vir ...ItUilt .. ordem das coisas. aClcc.dtncia geral. Por l$SO t que a ação acaba antes do mr­CIO de filme. pois nenhum elemento nõvo pode vir alterá- la .O rctei rc. os planos demorados. 0$ lentos movimcntos de cã­ma r... valori zam a imobilidade um tanto hipnÓtica das perso­nagens c tendem.!.. dar m.i! importAnci. aos chjctos Inani­mados que à vida. A vida es tagnou c o homem it!b t maisImportante que a maltria imlO/mada. Antes pelo contrár io :alto cm su a a lienação. o homem torna -se mar!!:r'. inanimada.A personagem principal. vivendo de uma Jdtl,1 flxa e incapazde programa r sua vida . t uma.mulhc c· que.vaJ.a ssassina r .o­marido. assim como uma mesa t uma mesa. O sol. a paisa­gem. llS ruínas. o chão. uma árvore, uma parede caiada. umatoalha ou um espAÇO vaz io sãc tão persona gens quanto aspersonagens p rópnamente ditu. Uma fotogra fia ( Mário Car­neiro ) esbranquiçada. supeeexposte. esmaga essa 19ua morta.A nlÚSlca rei'cte obsessivam en te seu s dois lem a ' . Pa lta pouco~r. qu e a natureza. a ve getação, a pedra, se tornem scbera­nos. e o homem não paue de UCl -! Icmglnqua lembrança . A'4àa ao<,nlZ i! .

An tt~ de PJr~" d• .s CauiJs, ~praceni fizera :JOl<l tem.. uvade expru sa r a decadt :lcia de um". "ila com o filmr. dccumen­tá rio A rraidl do Cllbo ( 1959). A -in s~ação de lima indús­tria qulmica. que despeja se u lixo no mar. mata ai peixes . oque elimina aos pouco, os pescadores. obrilados ass im a seafasUlrem cada vez ma is da a ldeia para traba ha r . Embora, nofim do [ilme, pescadores e operários confra ternizem. a im­ruslo que eSe guarda dl:sse filme bastante a mblgu o é umaillO':delfflvorável da IndústriA e sobretudo. o di scurso de um

aao semJloucO falando para ninguém .r n i:le público nAo gostou de Põrto das Caixas ­

nem o r (lesse filme lento e vazio - e a ma ioria dai te ect~hi:l i:le tam~uco ; o comlcJo principalmente chocou.

i la e e rre mOdo numa épOCfl em que :l sel'h .lla v esen I entoo entanto, Pórto das C ai-

s ati a a um caminho que agora estáIiou !1ue udera ter d Ü\'lda~

r u as c nclamentalo o i:f xou de tu

••

duvida. a hse respenc. Embora nio fOne um filme urbano.tinha como temltlce a alienaçio da clane mtdia e anun~va

o cinema ambientado no . uburbio ea rscc... Saracelll não teveintenç6t, de retraUlr uma cid"de d r- interior: os eklllentM se­lecionados dtMa cidade JÓ o forem .:m luo(6o do dr"lIIa A;Je­sar de ,ua "mbienUl(do. ludo caulctcri:a o flllllC como se rele ­rindo ii dasse intdJa.

A atmosfera de Pórto das Caixas....1:TIblentaçio UI CI­

dade do -Intcncr. o ri tmo· k nto. a fotogr.rla ubNnquu;ad• .cer tamente não são uma 1II0va(~0 no cinema braSllc, ro. e .:Ittpossível q ue li temática do hlme tempevcc o seie. DesconheçoLimite. que Mlrlo Peixoto reali !ou no Rio em 1930. mas.i!Itravb de ..lgumas fOtografias . trechos de roteiro e certas de­clareções. pode-se imaginar algumas afinidades ent re os doisfilmes . Cenas ruas de Limite. uma "árvore co mple tamenteseee e desgalhada" , ..rulna com planta. nascendo den tre aspedras" , "a rcada em ruínas". "campo va zio visto de long e.....paredes nuas: o valer dos cbjetcs. a cesta. a mAquma de cos ­tura. iii tesoUra. rep resen ta ndo uma vi.?a monótona c mesqui­nha que a m~lher recusa: o mando. um mlseràvC! • a rriadono chio: tudo isso que se encontra ~m Liml/e t"l'IlbélC pode­r ia caracteriza: a o'lmb,entaç,to de Pc.rto daJ Cau4lS. O re­taro indiC1 ulna mont3gc:n ler:. ta Para hlt.. b ente mte ­norenc. E':gar B~as;j deve t ..r feit.:> uma fot(\\j r.lfla esbeae,

"-quiçilld a . do tipo de branco que se enccnua hei,,: no cinemabrasileIro, embora mais sedoso. como aquél~ qu e conseguUlpa ra a lgumas fita s de H umber to Mauro . Ma~ nio é apenasp lAsth:amente que as d uas fitas são pa recidas. Essa mulherde Limite. que repud ia um ma rido nojento e que rejeita suavida de costurei ra do Inter io r. é pcsstvelrnente ,rmá da assas­sina de Pórto dlu CaixlJS. Limite não conta apenas li vida deuma personagem. ma s de tr ês, de que se d iz que são trts vI­das arru inadas. e a seluc êc. fr acassada . q ue encon tr am. nioé uma tentativa de revo lta , mas de fuga .

t posslvel q ue. em pa r te. Limire e Pórto d /IS Caixas le ­nham a finidades q uanto à inspiração. e. ma s pceervel que .smotivações ptJndpais das d uas fita s se J.m b.stante d ríeren ­tea, o q ue. tOdavia. nio imp ed iria uma flhaçio de forma econteúdo . Na tpoca . O tlvio de F a ria rOl caloroso d efensor

II Os lrechos entn I JDü 110 uluido~ do rot~lro 'de Li'lll/

Page 50: Brasil Em Tempo de Cinema

palxOcs rxacerbam-se. 01 homens entram num processo de dea..trulç.lo e de autodestrulç10. No fim do filme, só resU m mc e­

... tos e vivos que nio valem je cuc mais do que os m~rtos . que- tio !!Jortol por dentro. e ste esquema tem-.um senudo meu ­

fórlco: o Isolamento representa a condição humal}l d etermi -nada pelo absurdo cm que ninguém se comu nica: SObre hleesquema. t enxertada. em- A /lha como nos outros filmes.uma mitologia que tem suas fontes em autores como Edgar

_AlliIJ1. Pce e Ba.uddaJrej~ mitologia parece ser dominadapelo tema do tesouro escondido. O tesouro que aparece emA /lha sob a forma de rlquuas abandonadas por pira ta s doSéeulc XVIII, epeeseereva-se em Fronteiras do Inf erno soba forma de um diamante que um garimpeiro roubava . e. cmN. O.rg''-"t. do Diabo. sob a forma de um cofre que umvelho escondia para que os soldados n10 o roubassem .

Parece que nos filmes dr; Khourl .. idt-ia de tesouro es­teJa ligada a um momento r; um lugar onde a Imobilidade e acalma totall oferecem. uma ponibil.ldade de reall%8çlo. longedas desordens e das dificuldades do mundo. O homem eelcr­ç~1'-se.ia pc",- a tingir ês te idea l sem nunca o consC'tluir. Seufracasso t sempre ccepleec. Q uando de.lxa a busca. vã. estiirremedlAvdll1ente \-encJdo. Att A Ilha . Khourj 1130 ccese­guita expressar 1ãn\bem lma mitologia . As ccncavtdedes dailha rochosa. que guard3m o teseu-c. úo taecessrvets. Oshomens mau toemerirlos eacoaueia a morte durante 11 prOC1,l.ra .O s. outros desistem: De qualquer modo. a ação dos homensl: vã. Note-se que essa busca nlo l: OCAsional. sendo cercadapor Khourl de todo um ritual, de uma espécie d e nobrezaupeda1. que tem att uus bras6e. (bandr;lras. s ignos .. . ).como nos romances de cavalaria ,

Outro elemen to fundamentall da mitologia dr; Khourt l: ogato. Em A Ilha b6. att doll gatos . O primeiro. prf:to. t dei ~xado em casa para que M O corram risco algum o.s pelxu queserão levados no aquirio durante o pauelo . Cuidado maU!.pois o primeiro encontro que sr; di na Ilha l: ju.tamente comum gato. alegoria do desUno . O gato quer atacar os ptixesdo aquArio; o conde. que conseguiu com. dificuldade l:ste ce ­sal d e peixes. atira no gato. mas MO acertai. E ntutaln fo nasduu véus. o ga to estava perto e o conde t bom afuadJU:•H A aI al gum fUOmeno .lI6gico, alguma influ!ncia sobrenat.,U ­ralo No fim do filme. os sobreviven tes deixam a ilha r; o ccn-

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•••

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A M ITOLOGIA. DE KHOURI

•de Limitt; atualmcnlc. se vê com generosldade o copJunto doCinema NOvo. t P«to das Caix,u que eerece sua, prefertll_(ia;\< b ar f.to tamWm vltla CODlirmar posslveis afinlda dcsentre as duas filU. Não t gratuitamente que se quer 'es tebe­lecee tal lJliaçlo. Ji vimos que Ctrtos aspectos Importantes doatual cinema brujleito. (0=0 o popu1J.sIllO. o margInalismo dec/ma e o de baixo, tncontr.v.m~t multO provAvelmente u·boçados no cinema que se lazla por volta de 1930. Filiar

_ P6rto.du Caixas .. Limite seria encontrar mais -uma tclaçl oenne o cinema de hoje t o de hi mais de trin ta anos. Não sedeve esquecer que 1930 t o ano de uma revolução promovidapela burguula IndustrJal. Ir a it m dessas Ins inuações setlaarrix.lr mu/lo _ o cinema daquela tpoca continua 'pt" Uca_mente dc.sc:onhecido - . mas hl provAvelmente pesquisa, Eru­tIleras a Ealtr nesse sentido.

Com sea sexto e principal llIme. Noite V42:ia....{1965).\Valtcl' Hugo Khourl tambtru !oulíZl1 <Ispectos da vida ur­b.!r::a. N.10 o suOarblo. :.lU S. Pavlc, 8 vida &C'turoa da gra'J.~de metrópole. Khoari t diretor hI: maU. de de: anos: desde1954. quan do realizou O Gig.nte o'e p~a. vem fazendo umfUme cada dois anOJ mau ou menos,. que elaborou umatcmitica idealistal: num mundo em que. gua é o crlttrio dobom. d. verdade. da pureza. t o aconche! ante ventre ma­terno. um pequeno grupo de indJvfduoll Iso ades, de paixõesencubadas, se entredevoram. se de.stroem; os mais perverti­4 01 os co:ruptos. sio condenados: para 01 bons. os Inocentes,

,()lII plltOt. "'linda sobra uma esperança. desde que se afastem~.....d..ol p~tfdol . protejam sua purua e ee entreguem à gran~

de e naturUII. :(lpiel temitiu romlJttica que encontra'1lfy ( J lUa mêl&:or oprado. ,II gue ~ 01 filma arítuiorCll : um grupo

Ch'i ratô do mundo, Km. poder to -o :""0 ar rarefaz-se. II

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de esquece o aquArio. EntAo. o gato apodera- se dos peíxes evolta A sua morada, nada menos do que ii caverna que gUilf'

dA o tesouro tAo ambldordldo pelos homens. Auim. KhourJ..JegOflcam~nle . til : o destino apoderar.se das ( ri.tufas cdestrui-Ias.

a aquanc também não t n õvo nos filmes de Khcun. EmFronrcirdS do Int erno viam-se cobras morta, conservadas cmvid ros chercs de formol, e Luigi Picchi era fOlografado cmp rim eiro p lll no <lIrAs dtM.eS vid ros, coma, o t em A Ilha eu ésdo aquário. Mb, em A Ilha. o aqu áríc t ii própria alegoriado fil me. O~ peixes encontram-se isolados de seu meio natu­ra l. que t a ,!igua corrente. c deve perecer ebsurdc conservarpelxu num ôlquallo quando hA tanta 'gua doce e UI /gada aoredor. e sse absurdo t grifado pelo plano cm que vemos oaquido tende o mar como pano de fundo. Do mesmo modo.as personllgens do lilme são eJl trardas artificialmente de seumelO M a:s amda: os dois peixes NO separados por um VJ ­

d-e. que o cond e só lira quande • eJlcl taç i o Icxu.1 t su fj ·ctenremenre Intensa. e o mesmo JOgo que se desenrola narlh a. onde o conde tamMm t o meneur de ieu. Uma menta­s em ccnnap õe <!Is vêees uma cena entre as personllgen ~ complaaos dos peixes batendo Inútílmente no vidro paro se cn­wntrr r'~T1l Q U'In to as pcrS<'ll'age.ns. o frac"~ 3tJ t fla(Jrant~.

~c's e s. come os eet ees. j n t efl ; il~ o sIstema de signos fixosc ee ueces. Assim cvme o gatn t .., desune. GI peixes a in ­COIIIUI t.:lhl -i"de as personagens slo ~g6rica:; : Cbae t o5IIdlsmo, Cora , o amor puro e romAnllco. etc. As persena­gens n'Ao vivem. sio Iludas em seu algnil/aldo abst ra to eman adas pelo dlretor como objetl», Se att agora temos

sto uma c1il s~e lll t dia que nAo conseguia eJlpres.sar suas con­ra!i as lu AV' PJ!a isso. aqui vemos uma classe mtdia

lmp' la am n aceaa uis contradlçOU. transCorma-as emlp'los me ii I 9~ angustiada e romAntica. põe-se a

H ,.Il I

C .

gente t ap resentada cerno sendo fanisl" . depr,vOIIda. deca­dente: fiai aUlIJI Nudeito um público c1use IRtdi& que vt natela manifu t..çOcs de um. VIda . que "plr• . e ••prestnt.çlodesfavorável dlls pessoas que . levam compen... de Ulll. certomodo a insatisfaç i o que podeWI provir do nível inrenor devida do espectador. Em A /lha. mora-se em palecete. pososer-se late. utsque que corre que nem Ilgu• . Desde E"ranhoEncontro. Khourl contempla os copos de ulsque que os bvr­guC-'1:S sé d30 o luxo de quebrar em seus momentos d...-rai... .(~sse mesmo guto tambtm Itdu~iu o Abllio Pe reira de AI.meida de Satlta Marta Fabril S/A.) .

NOITE V AZIA

A farrp e o esban jamento de dinheiro prosseguelU emN oite Vazí.\ Nêste ultimo filme. Khouri nlo da t" Ma Impor.têncía a sua 'fnitologla. ao sistema de signo. Reenrcntramcs opequeno grupo de lndl\'lduos Isolados. dividIdo em pen ona­gene def!nHl\'amente perverttdas. t :Hi"eddas no vicio. ccrrup­tl\S. e cm peU(lna"elHl que ainda não foram totalmt'nte ccn­qufstadas pela C:;rtlIPÇ4i,O. r.uja pureza. nns!ht\Jdadc. t~"on -

.u.neidado: represt'n~Ul uma pouibilldarle de u lvaçAo; a ca­verea tornou-se numa garçf.Jnrutre; a agua purificadora apa·rece sob • forma da chuva que. n. sacada. ali sObre o corponu das p ersc'Il1agens no momen to da verdade; nA cena da be­nheira . o melo equênec da ensejo ao despertar de um amoreutênucc, desvinculado da corrupção; o nostalgico lev.n!.rda câ mara. no fim do filme. sôbre a copa frondosa de umadas poucas arvores que sobram entre os prtdios. utã • lem­brar uma natureza perdida e a sempre presente possibilidadede salvação por melo do pante ísmo. Fora essas poucas alu '"sões. que. ccntrêrtamente ao, trabalhos emencree. não mve­dee o filme. a mltolollia d4'empenha um papel discreto. O

.sexe t que eeeee u desta vee os cuidados de Khouri.'''!'~' O suo nlo estava ausente dos outro. filmis , mas aatlmldo. velado. Desta vez. !<houri desinibiU-H. N oite Vanadi a impttlSio de SoU a concr iução daqueles .sonhos d eadoltlcentu qut ainda nio desc"briram o sexo lha 1::Ii

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Page 52: Brasil Em Tempo de Cinema

O utro elemento a notar o filme, e que tamMm t pre­Judicado por sua pretensa carga metaflsica. t a simetria entreos dois casals. A oposição entre casais pervertidos, condena­dos a não amar, e casais romAnticos e puros, percorre tOda aobra de Khoud. Enquanto o casal Norma Benguel.GabdeJeTtau ainda t puro, não toca em dinbeiro, o casal Odete Lara­Mario Beevenuu t perverude e mAnipula dinhdro: em cimada cama do primeiro casal, um quadro representa duas me#ninas estilo Made Laurendn: em cima da cama do segundocaaal. carnudas mulheres nuas vlo ao banho; o acno calmo ccarinhoso de Gabrlele Tlnti Op~1e l solidlo angustiada deMario Benvenutl L.10 01 c:limax psicológicos dc-.... dual pCf#

BIPOLARIDADe

no altar cultural da sociedade rcificada ; n10 t por nada q,",Robbe-GriJl« teria aprccJado O fil me. Contam_se nOUla natela, exibe-I( fartura no caft da manh1. mas slo prmClpal_

.. mente as mulheret os obJetOl do InventAd o : O dete Lara t a368' na vida de Mario Benvenctn ait m das duas principaiS.nove mulheres desfilam no filme, isso sem computa r as Inu­meras que, sob forma de bonecas, ucultu ras. fotog ra f ~as , pin­tu ras, filmes ou pedras de gtlo, aparecem a qui e ali, o que

..:__oeulmina com -a- pr6pria · quantiflcaçl0 do erotismo represen­tada por fotografias de um templo hindu, Sob o signo daquantidade encontra-se tamMm o enrtdo : acumulam-se astentativas de encontrar algo luscetivel de divertir as quatropersonagens entediadas, In felizmente, fste aspecto ,do fil me.que, embora não apresentando novidade. me parece Importan­te para o dnema brasllc:iro, nlo chega a adquirir tOda a slg­nlfJcação que: poderia tu : a puerl1Jdade com que Ireqüente­mente l introduzido O dinheiro no filme, a preocupação tena zcm manter o quarteto de personagens em sua perspect iva me­tafiSIca no tom salvaç l o/ danaç10. o tratamento pornogrlficoe. '"COmercfalÉ0 sexo, Impedem a quantidade e o vo!lC'urismede c:xprusar a nificação e um albeiamento da vida, e chegamquase a t(.rnar NQj,te Vatu um fUme feito para cho,ar o pU.blícc dos domIngos e os censores.

,

-

J , . p.dente e cerebral e umasimultAneamente UIUI c:1:4 UIÇ o 1m f idC9taçl o do suo. Troa de puccirml, p rojcçl o de j mes, per­nogr6licos. lC'~bjanismo. tudo lua num verda deiro ddIrlo devoycu r. Voycurll do .u pctSOMgcnS cm reiaçlo a si p tópdasc 11 0 $ film es pornográficos. c U1mb&u o díretor c os especta­dores em relação 6s personagens. Atitude de voyeur tem acAmara que se esconde atrás de Utll. cstante ou das gradesde uma cama pMa foca lizar as peuonagens. Objetos delIOytur. o espelho em cima· da CIma e-ao lado d&.~nheir&.-c__0$ quadros de mulhees nuas . Sltabolo de voyttJrlsmc. husolhos do Presidente Kennedy que entram numa monta gemrao pida Com o rosto do pervertido e sol1t!rlo Mario Bcnvenutiolha ndo a paz amorosa do casal Nonaa Beng uel.Gabr icleTin ti.

No entanto, nesse seu primeiro filme realmente urbano,Khouri demonstra sensibUidede em relaçl o ao ambiente dacidade. As personag ell.$ existem nas ruas de S. Paulo : o va­zio com que se depara o homem de neg6dos depois de fecharo escrftôréo leva-o a preferir, • companhia da espôsa, a da­qudas meninas que ainda nJ.o são prostitutas e Uperam en­conuar na Galeria Califórnia um a1fvio para o orçamentomensal. Hâ tambtm, na Galeria Califómia ou nA Rua SloLuis, menino"! que se eproxlm,lm com espanto dos trinta e quenada t êm a fazer de ncne .IIen&o cultuSor deleeídos complexos.E o que {.uem os neurÓtJ.:os do ftlme nlo representa exagtroalgum em rrJaçào ao que QCOtre em dctermlnados apartamen­tos CIo centro da cidadc. Tambtm t v~addro o papcl dodInheiro cm N oite Vazie. Para allrmar#Af. Mario BeeveecuP.nasa tanto do exibicionismo sn:;ua1 quanto do moneu,d o.Tem d.ln.heiro, compra seu amigo e sua amante, que, para êle.se tomam objetos, e: com um maço de notas jogado na cama,entre Norma Benguel e Gabriele Tlntl, que ele pretende d ee­truJr: liarmonia momcntADca dos doa aeeceadce. I E, a fime r monoJíUimo da personagCllS, os puros ficam

CIII. ii arculto dO ,din.bdrol manejado exclusivamente.~... .~:.

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,""r,. i.·

faundel ro. encravada na primeira parte. corresponde a cenade Ant6nlo com o cego. encravada na segunda parte. Querdizer que há um j6go de eorespcndêncras e de lilllemas. nãototal. mas relativamente complexo.

CorrupondenclaJ e simetrias não são r.o'l:·ldade. e nós asencontramos tanto na poesia simbolista como na comtdia debouleuard ou no teatro ep tce. ou na sabedoria popular f\oentanto.. o. ra to de haver uma dicotomia tio acentuada UI;

-aee tilmes -coino Noite Vali.. e D eus e o D lllI.bo. OpDItos pc :tantos moti vos Ideológicos e fcrmars, torna lidto pergunt<lr seessa sfmetr ia nlo seria o reflexo. ~o nível da estrutura tnde­pendentemente dos enredos. dos ccnteúdcs. das posições teee­Iógk as), da situaçlo daquelas f.'ersonagens que vimos d I.

das entre doi, pólos. situação essa em que localizamos a u­pressão das hultaÇOts. da Incapacidade da claue mt dia b ee­sileira-, Ou melhor. se a classe lI!tdia - sem projeto pró.prio.. v/nculando-se. por motivos diversos. tanto à burguulaquanto .ao :xo - nlo expressana essa hipolaridade atravésde estrutura simttrlcas. ~ uma pergunta. ~ cedo demaispa~~ ~upond t a firmativa ou negativamente. mas me pareceser um" linha de pesquisa válida.,.. ,

'I • .-: Sexo. AIIIP.ÇJ.o E AN ARQUI A. ,

"

,

-

!IOnagens: A lem bra nça infantil de Norma Benguel. chuva ebolos na frig ideira. corresponde o pesadelo de Odete Lara :e os exemplos ~o numerosos. Quanto aos dois homens. suas~ e eções Solo ld l nticas oh que IiS.tIl as duu mulheres. A ssim.as quatro perHlnlgens são simltricas conforme um eixo ver ­. ~ e uer e '1:0 hortaonta l. Essa dleotomi. fortemente acen-

...01 no filme: e que: se encaixa provàvelmente na perspectivedo ~ oytl./fUme:. b : de Noite: Vazia um ;6go de espelhos.

e possh-e! que tal dIcotomIa ~'allte um ' problema-' in tc: .resseme Embora não tenha ainda havido refertncia especl­f ca I uquemu dicot6miC05. êetes forlm implidtamente su­ser 05 pelas personagens que se: encontravam entre: dois pó.los R6ni. por exemplo. em seu va ívêm entre a 411:01 burgue ­skl e o lumpem .proletariado. entre SUIS duas amantes quepertencem a lHes dois pólos socia is. representa de certo modoum eixo de SIr:'1 etria entre 05 dois ex tremos sociais. e. válidopergunta r se: essa situlIção entre dois pólos. fundamental paranumer osas personagens e para o conjunto da temAtia do ci­nema bras ileiro. não poderia a tingir. nlo apenas personagens.mas também a p r éprta estrutura dos filmes.

Nâe hA mUlt03 ftlees que rt'sf'ondam ao apêlc. N em" 1,: neutro, poderemos encontrar recurso:! dh~e tipn. bastante~a unifkllti vos ': 111 Os Vell:idof, eri. que. como num j~g::. deespelhos. o pescador extremista respo,nde ao grande hurg\: l!sextremista , e: a centil bl'rguesa ao gebtil"Aucador: em que osexfrem istas rad icais que morrem luem eco 'aos centristas con ­ciliadores qae permanecem em vida. Mas t princípalmenteDrtJS. e. o Dra L"o I'll Terra do Sol que nos oferece uma est ru-

ra ttr ca óbvia As duas lasu d.. revolta de Manuel510 sug rtdas. de. um moelo manlquelsta. por Deus e pele

aliO. ~Jo B me ptlo Mal. entre os quais Ant6nio das M or­ta ~ rda io iartUca: "Pra melhorar por bem tem de(fatru ~~ ma l (irast up:rimi na venio fina l do filme) .

lasa da revolta ttm es tura. priticamente iguais:60 aMltimo Jolaato omlnado pelo beato cor-01 Clà.~ caD ,~o. ;\ cena9 Clã ~r a cena.5duas

o e canga-~Clre e o

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Page 54: Brasil Em Tempo de Cinema

, '•.; .,-" .

~~o (Ateio de Andrade. 1961) . A Sina do ...,. ...rtiptre·jro(Jl»t MOJ/ta Marins. 19S9) tem tambtm. lUas PW+I1.a!!dadu,com uma mulher que tita a alcinha quando o ho~em,~• .ut6em c/ma dela : O, Ca/ajtJtt:S (Rui Guttra, 1962 ) t ~m ,coito.de vArlos tipos e uma seqDlndl dedlçada a ~orma l Benguelnua. O fenómeno não passada de . um elemento natu!_l d.pro<fuç.lo comerdAl numa aodedade em que. pornografia f;Otga:ü:ada e co:nerdall:ada. se &ses Eilmu louem. da.mumacalegona-:-Mas sio dJfu entU de 1nttnç~' e -resul~,o"l": ASina do A ventureiro f; de p&sima qualldade. com fi.D.~dadesestritamente ccmerclats. enquanto que Os. Cafajestes_ou No í­te Vazia, ainda que de resultados dJscu~lvels, eãe :o~fas deIntelectual! inquietos.

A êsse u /l. tamento dado ao suo re1ad ona· se outro sinaide revolta anArquia: a abJeç!o. Apretentando ao mundo (tbu.rguu~ ) uma imagem degradada dêle mumo, pensa-secondeni-Io, reJeirj,.lo. Em realidlide. essa degradaçl o revelamais aurodesprho do que vontade de atuar sJbre o mundo.A aç.lo dessa atitude sObre o publico estA ' lJmltada:1pOb eleacdtli nlo sem prazu a Imagem de um mundo avlltadô. Enaatitude encontra um perfeito exemplo no plano final do fJImede Alberto d 'Avetsa. Srara Vermdha : uma mOçD. aacrrfka dapela sociedade cospe d rr 11 plat6ô1. Til atitude. Ilinda qU II!numUiCAUlel:lle rara no ciDema oras:ileL"O, n:io deiXA de .uIJgn1flcariva dr um certo tlpo de comportamento, de um deter­minado mal-ufar desorientado. A im4tncia na açâu. oupeeque não te saiba ou porque não te po sa agir. pode levara uma louca vontade de xingar.

Suo desenfreado e abjeção, amblentadot na p~quena ralta burguesia, euu alo as pdndpaUi caraetcnstlcas'1la obrac_trai de Ntbon Rodrigues que ch·m·ram a atençlo dos pro­dutora dn~togrA&o.. N&on Rodnguu aunai" fh cr­DClDa ll1U teve vArias peças Je um romance. MitlDcstino éPec.r) fllmadas : O B6ca de Ouro (NtllOD Pereira' dos Sen­toa. J962). Bonitinha M.. OrdlnUl.& · (J. P. : de "GarYalho.

.~Ití;~it) .~'M~ OIt.'SeI"g<m (l. B. To.kó, 1964):'0 lliIjo (FI' .iii ambtJUiil J~). A F.lec:Ià Ar&. , d"eõ;'lJ!duardo

GcJiHnJiO. 1ii2~ ffi: WD:'fOtcUO !)aseadoDa iA Y~"Como :sg :8. E foi~~con:: Xiltlio Selrii~m .. IBngraçadinna

CIo. rlnt• . Gliu R qUJR" . <laptou tambf:m

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I•

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wna peça de Ntlson Rodrigues. Basta esta lista para Indlc:ar-que Ntlson Rodrigues t um raro .ucesso no dnema. E sc:apam

.. ' ao "e3plrito de Ntlson Rodriguu : A Fa lecida em sua prl·,. melra parte; com o ' lrlo O B6ca de Ouro. Nelson Pereira dos

Santo. adaptou uma peça do dramaturgo m8!..não quis aujaràs próprias mlos:' O BeiJO: ao adaptar BeiJO no A sfalto.TambelIlnJ eliminou o que de mab vAlJdo havia na peça . aImprensa . ensadonalJata. conlUVando apenas o sexo. _~ qu~

-r--deu uaiir-forma do' g&luo ~xprusionrua norte_amer lcadb,Ntlson Rodrigucs no cinema significa : sexo, virgmdade.

estupro. nlnlomania. pederastia. lesbianismo. prostltu!ção.môça aparentemente Ingl nua encomenda cU,rra sob ~edida,professOra primAria dedicada revela-se p rostItuta. pcltncc queengravida a Hlha basela sua CIlmpanha na moralidade. sogropeduasta com ciume do genro. grã-fino oferece curta comoespetêeulo a seus amiga.. mais lulste e uísque, mais piscinase aparta mentos de luxo. m31s o laborioso 116mito público dosvalOres consagrados: a bomba atómka tcm as costas largas.pois serve de pretexto a eu a mostra de p utrefaçlo pretensa­mente apoc'ã'Uptlc.a 'a -que chegou um certo grupo ;social. Bue­gueus cnrJquecldõs\compol'tam-se ccree Impera dores romanosaos quais o dinh~ dA todo pr..der sõbre C» outros. Os va ­IOres ndO passalll. de.. uma fr l gU umada de verni r, que es­conde. momentlneamente. a podrldio. A gangre.'l.a ""tinge esusociedade pelo sexo e contamina os grupo! sociais que vrvema .eu lado. ou mais .exetemenee. a dan e m~dla que serve àburguesia e se humilha a seus pés . Nêlacn Rodrigues afirmaque a população bra. lIeLra t composta por hus Indivlduosservis. a que o dinheiro de seus donos tirou qualquer formade dignidade. Dcsfecho : um esceave-classe m~dia e a pro­fess6ra.prostituta formam um casau Inho romAntico que es­colhe a dignidade e rejeita o dinheiro e o mundo em que ohomem "só t solidAdo no cAncer" ; isto ê , s6 no mal. na doen­ça. no vicio, na decad!ncla.os homens alo irmlos. Essa cloaca~~a cm metallslC# rcsulta ' em: •...Cedo que o homem emt os quadrantQl~ um' caso pUdido. um lU ulglco. queama e morre. vivendo entre essas duas lJmltaç6d. A meu ver.nada diminuIr' a ang6sUa hUmana. Mesmo u forlll.andotodO:!: n6s em Rockefeller. cada um cOm 880 tata SO a man­tes. caSélS na Rivlera. ,nlo saIremos de 0.0110 inferno. continua­remos miseras ~rl~t~ras, Crer .que euD. angustia possa su

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CANALHA EM C RISE

d /minada . t digno de um sJmpló rlo Oll de um canalha ": e"A sociedade verdadelr. , II autent ica comunidade humana, textra-sccíal" .

Estamos em pleno conformismo : deixemos que os ricosfiquem ricos. JA sofrem bestente com sua ang.:istla. e voltemo­nos para a comunidade extra -socia l. Se Nt150n Rodrigues,.liAs. tivesse uma compreensio mais realista c menos "Dlctafi­slca e mora lista de seu estravo.-cJaS5t méd ia. poderia chegarii côn c1mes mais incUIV'U .-Q uanur ao retrato de-uma altaburguesia degradada. nlo repercute porque a, personagenssio f"lsas enio hi anl!be do grupo social. Nélson Rodri·gut.S talvez tenha tido li Intt nçio de fustigar o burguh ignó.bil: ..... enveredei por um caminho que pod e t JC levar li qual ­quer destino. menos .0 h ito ..• estou fazendo um teatro de­sagradh'el. p~as desagradivei' , , , " Engano: ap6~ reticln­eras inicia is, a burguesia ftz o sucesso de Nélson Rodrigues:os ingredientes de Bon.itin.ha Mas Ordinir;a s10 justamenteos alimentos predJletos do masoquismo de uma burguesia quegosta de receber bofetadas na cara ; ela observa, com um pra.zet mal disfarl;ado de ironia, o lixo que o autor despeja sõbreela . Mas quem justifica a ad.aptal;io cinemalogr~fi<:a das pe­;;35 de Nélson Rodrigues nio t • alta burguesia. e sim <'I classerr.td13. que enco:llrll tia rela aqufle luxe, abun dAI:cid. eeban­jame ntl,l , uue acredita U:rettl. uraberlstlc<l ' de urroa Vida i: qn easpÍl a ; e. j)Or cerre lado. a xmga(io a .q ue são sub,n etidGs o~privilegi4dos compensa uma eventual frU)lral;ào. Boa maneirade manter cada um ere seu lugar e evita: qualquer alteraçãodo stetu quo.

Ousa classe mtdJa que serve de apoio" meta fisica dealter Hugo Khourl. e que ttm sido contaminada pe lo di.

iUid~ de seus doaI» a ponto de puder sua dignidade. o qu eleva tlson Rodrigues 8' uma posição conformista. M iguelBórgu eabol;ara um retrato critico em 1963. com Canalha emGrise, Um&! das personagms emtrals do filme t um Jornalis~r.. cnçarngado pela reVIsta onde trabalha de escrever uma

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(/ "~'''f'''' ~l~rtfh' IOJ "

• v~ldl' "",n" fIlho I

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reportagem sõbre as Blividades de um grupo de marginais. Areportagem t rttusada por violenta demais. A revista pedeum texto mais suave. M as sâo Justamente aquelas idbas queele queria transmit ir e nlo outras. Embora amea çado de pu.der o emprtgo se nlo entregar outra reportagem satis!atóTla,êle nãc consegue escrever .. ' att que consiga. Chega il con­clusão de que n10 adianta bencee o herói e que. no fundo. Vllt

duer mais ou menos a mesma coisa com outras palavras OJornallsta. após tu 3firmado que não escreveria -tra repor__tagem. tranalge. Conforme suas próprias palavras. nl o passade um "intelectuaI6ide metido à bêsta". Encontra um melathmo que saUs!arA todo mundo: dirA mais ou menos o quequer (talvez menos do que mais). e fica ra em pat cem su..preocupaçoes sociais. permane\.era no emprtgo e ni o choca rla sociedade que representa a revista. Ê a conClliaçio. Quan­do sua noiva; pu<ebc a atitude do rapa z. ela tenta colocar oproblema de modo um pouco mais daro: "O importa nte t te ­mar uma decido", e ele resolve sumãrtameo te a SItuado:"Você u11 ~aguando tudo. como se uma reportagem 16ueo troço mals.Vmportante do mundo." T udo isto se dt entrequatro pa.redts, nunca o Jornalista t visto em contacto nemcore o obJI::o de sua reportA'iltm, nem com a revista . e , qcandcolha pda Jal1e13. dufC'=. -~t II paiSaup.m da ci,j" c' e:. EstA en­d":lsurado. I, penor.agem do jorn"liJ~a. comp<.'5I a cu: 191)3.ja coloca peuona gens e: temas impo rta ntes qu e se desenvol­veriam mais tarde, nos fil rn u de 1961 -65. Embora esquem.ll­ucc e ne m de todo Intelígfvel, Canalha em Cnse t um filmede: certo modo precursor r a censura o interditou du ra nte vâ­rios anos. prejudicando os debates qu e: teria suscitado .

S10 PAULO SoCIEDADE A NÚNIM A

SAo PfllJlo Sociedade: Anônima ( Luis St rgio Peeson.1965) é um dos primeiros lilmes que: colocara m com agudu oprobleraa da dasse: média. O filme ambienta-se: em S. Paulo.entre 1957 e: 1960, no mome:nto da euforia de:senvolvi rnentistaprovocada ptl. Instalação no Estado de S . Paulo de indus­trias automobtllsticas utrangeiras . Perscn, de modo muito

lOS

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to:

pelo cargo. nem pela firma. No entanto, desempenha dto;temente suas funçOe.t.

• Como tantos rapazes em S. Paulo, Carlos tentou, fazendoum rjpldo curse técnrec c aprendendo inglh, tornar-se apt oa encontrar serviço numa cidade predomina ntemente indu l ­trlal, que podia absorver mio-de-obra especializada: sendo~lhefavorÁvel a sorte, conseguiu e...oluir, mc1horando seu salÁriO eseu nlvel de vida. Mas sem se perguntar a que o leva essacarreira , Se n~o quis se.....-.ruilo que é. tampouco-qulS seroutra coisa. Nem quis, nem deixou de qu erer coisa algu ma.Carlos poderia dizer exatllmente o que jã fO ra dttc por umaoutra personagem. Joio Ternura , classificado por seu pr6priocrredcr. Anlbal Machado. como pequeno burguis : " Pertençoa um. espêcíe abcrreclde que não escolhl" . Dexcu-se leva rpelos acontcclmentos e fh uma carreira qu e representa umaevoluçlo Ilpica de boa. parte da classe média paulista. Se nloescolheu sua vida profiu iona l. também pratica mente nã o es­colheu sua vida pcssoal. Casar, êle quis. não pela. noiva, nempelo casamento. Levado . pda solidão. Ireqü em eu Luciana.mOça casadotl{a, e acabou prbo na engrenagem famJliar . Mast.amWm nlo resiS!j~ A evelccêe é normal e nllo eequee es­.;:01:1iI1 espeCial por ne do JntueUll.do : rendo sua vida pro­fIssional mal3 0)1.1 m os fixada . podendo asseq urar o) diuS:U!de um élplll(lIQent" inicialmente peCjUC1I.O, c peou lista d,1ssemtdla. de 25-30 anos, casa; assim é O ritual.

Luciana t ambielosa e vê em Arturo O modê lo a que Car­los deverã obedecer. Carlos. casado c gerente, estA na pelede quem ....i compra r uma casa de campo. Carlos vtve r.a In­teira dependtncia de f_t6 res qu e não escolheu . Aumenta ndoseu duinter!sse por sua vida profissional e familia r, num gestode violtncia, Inútil porque M O destrô í nem proplle seja Ij oque fO r, tentarA romper. cm vão. com usa vida. Nio sabendoo que deseja, sabendo apenas que não quer aquilo que vrve.acabar! sendo reabsorvido pela vida inútil.

Assim. Perscn coloca sua personagem numa posição am~

blgua : t entregue àquela sociedade. mas não se aliena total­tPCJUe: ainda t capa z de .rtagir contra. Ê capaz de perceber• Illediocridade de Arturo. Luciana c Ana . Sua ccnscrênct• .porém, não vai att perm1tJr~lhe a compreensão do que lheaeentece. Mas. enquanto Arturo c Lud ana estio integ rados

l,

significativo. não (';colhcu como personagens .os empruârJosdessa indústria, mas sim pessoas que aprOVtltllcllm o boom.montando pequend fAbricas que ,vivem na depend.êncJa dagrande indústria . O. donos dus", pequenas fAbricas. quesurgem da noite para o dia, desen volvem-se c enrlqucc~m.~e

1s custas da inflaçlo (o dinheiro t lubstJtuldo pele ~rf:d'to) cde manobras mais ou lDenos desone.tas. U ma prunetra cerec­rertsnca dusa classe mtdla que eufOricamen te enche os bel-

. __ $0$ utli cm que o d~nvolvirntnlo .mdustrial não resulta. dela.mas que ela llproveita o desenvolvimento com o fim .exc!uSivOde enriq uecer : estA na (olal dependlncJlI da grande mdustria,peJa qUlI l t condicionada. obrigando.se II obedecer-lhe cega­mente ponto por ponto. Representa UNI situação o italtanoArturo ( O lelO ZeJJonJ). que vai construir sua fábrica pertoda VoIkswagen. da \ViIlys, etc. Quais sio seus obje!l~oslAmpliar sempre mais s\;a Ubrlca e elevar seu ervel de .vlda.Mais nada . O teto de Artura t um carro ncrte-amencancque di na vrsea. um escritório digno de um grande empresê­no, fazer publicidade. ter um apartamento na ctdade ~ umacasa de campo. ler amante. bomw; bom pai de famll~a. sa­tisfaz-lile as neceuidadu sem, por tssc. dar-lhe e tençec de­mais. FIgura simp.!ltica e dinl m.JCII . Arturo, para é.iegar B

seu~ fi;~s. ::':;0 hes.tll e"TI adolar atitudu servis . CO::lJ.O a,; quetoma p a vender suas peças à V<.>lksw:.geu. e cm se apre­veuer de todo mundo. s~Ja sua amante. seja seu gerente ouseu~ Oçet.1rlos. os quaIS ü.o er.treguu~5C.m defesa à explc­raçac .

Nesse melO vwe Carlos (Valmor agas). personagemprlno p.1i da fIta. Quem t l Trabalha num escritó rio. Apósum CurSO de desenho industrial, havendo ampla procura demão de obra. entrou para a acção de concrOle da Volksw3gen.A qual ajuda Arturo 3 vender peçu inadequadas. ra zão porque acaba sendo demitido. Pede .uxllio a Ancee. que lheo ferece um emprl go em lua f'btlca . da qual chega 3 ser ge·

"",,,,rente Sünultlncamlnte. Carlos tem vArias amantes. mas nãou cstllbcl rc!aç6a ;J61Jclu com nenhuma; namora

va iIiii ,,ª'l""tDcontrada num curso de in­ca . ~aii ~-u guente da firma

::==" I ue o u eltcun.stAncias são ta is~, tr 9 to CI~elal nem

Page 58: Brasil Em Tempo de Cinema

n~.su sod«lade: e limitam suas aspiraçOcs a urna questão denh-e! de vida . nela Carlos nlo se integra.

O mesmo se dã com Htlde (Ana Esmeralda ) e Ana{Daelene G I6ria) , do i$ excelentes retretca. Ana. como Cer­los, n âo tem projeto. Pauando por vi rias camae. consagraseu tempo a tentar subir na vid a. pondo sua plástíca e seucharme a serviço da publtcídede au tomohlllstlca. O reste dotempo. procura dfverueento. Sua alegria não esconde umacerta inquietaçào. e suas~f'CI.ç6es coe- CarIl» tim um quide neurótico, sêe um vaivtm estéril para os dois. Nl0 esta sa­tisfclta com sua vida e n ão tenta outra por estar com mêdc.Htlde, de condíçôes fjnanceiras ma is eleva das. està na mes­ma situaçAo: \'ida a êsmo., Mas Jâ utli num processo ne uro­ncc avançado. que se encerrar! com o suicí dio. A arte, a li.teretura. a busca do absoluto, o narcíslamc, o avlltamento desi própria (decla ra sentir prazer em fingir que trabalha numhotel de rendez·~s), o cuidado em n ãc misturar sua vida\'ivida e medíocre (om a vida ideal a que almeja ( "Carlos.voei: não t e nunca será meu amante", porque fie nlo f: dignodisso) , n..da alivia sua tensão continua, nem satis faz sua realangústia. que se mani festa pelo deseje de amar intensamente.N ada desarmará sua alfena çãc. Suas relações com Carias ~11.1í" 1~\'l"m J: coisa algum;!., n r.m para elA, llem pilra êle.

!':ute va ere hul."l.:l:':o. nesse \ie~t ll,·:>l ·. imemc mdu.itrl .:l !. odtnheiro tem um p«pel eelev..nte...Nãc SÓ o dinheiro es t ~ pre­sente em filig rana o tempo todo, maNreqüe.ntcmente deter­mina a SI tua ção da, pessoas : t porque Arturo nlio quer em ­prestar dinheIro a Carlos qu e êste aceita o emprfgo: e po rqu e(ta rlo. ganha razolvelmen te qu e se easa: e cobrando comis­sOes. Arturo que Cario, consegue pe-le momentl nea mentec xeque. t porque Luclan. recebe dinheiro do pai que elaen , gnorando. vontade do marido, associar-se a Arturo:~gue pretisa pagllr conta, no fim do mls que Ana tra­

inheiro qUe provoca. uma briga entre Carlos en âl com • '99'ra porque ata pensa que

tirO. iih"dro t o menear de jeu.Mortel Carlos t um passo à

'::l::P:~~1 que caracteriza at ao ema beest-

ãe r lvee-se àlijij(ica da

desse media. A osc.lI.çlo. todavia. nJo M resolveu por umaescolha consciente. Ju.tamente. nio houve u colha. nlo houveelaboraçio de um projeto. Caelcs e levado no caminho abertopela grande burgutllo . N o entanto. sendo Carlos uma per ec­nagem dramaturgicamente fraca, António das Mortes per­manece com a última palavra. M as . como Carlos e uma per­sonagem que nio escolhe e Vive na depend êneta de fat6resutuloru que não controla e nio tenta controlar. tais fat6res

·...cabám. prevale<:etMe ,obre a personagem. T erna-se Ulti overdadeira pusonagem principal do f11me a Cidade deS . Paulo na epoca do rush: autl:!.l:1lobllistlco.

A personagem, que era o elemento do minador do cinemabrasileiro [Inclusfve em Vid<1S Stca5). perde fórca e prestlg ioem Slo Paulo S/A . evolução essa qu e certamente não mar­cari o conjunto, mas pele menos uma grande parte do futurodo cinema brasileiro. A impossibilidade de Carlos escolher. ofato de êle nio se propor alvo algum, provoca sua a tomização.A te. agora os filmes brasileiros t êm respeitado li crdera cro,nol6gica. se9fJlndo a dinAmica da narração e da evcluçâe daspersonagens, \Jsso pelo menos no cue di: respeito ao cnema denív el cul tural d,. uns anos paru d O retrcspecte e raramenteutJllzado. refutn.:ias ao J?ils ,ado ~;;'o feilas apenu nos dilllo­qcs. O retrcapecto de A F a tl: rida 1. CllSO excepcional, mas nempor iHO o espectador enccrura difil;õ.lldade em restabelecer 'I

...ordem cronológica. Como Carlos e movido do extenor . sel:ldinlmica pr6pria, êle não controla o enredo do hlee. esfa­cela-se. e a ordem cronológica é scbvemda . T odo Sio Pau.lo S/A (salvo as seqütncias fina is ) e um eetrespecte no in­terior do qual o tempo t tratado acronolôgicamente. Se o es­pectador consegue perceber em linhas gerais a evolu ção cro­no lógica da vida de Carios, nos pormenores não t posstvel,Na primeira par te do filme. sobretudo. o tempo e ceôttcc. aevolução temporal e substuutda por uma sceessêc de frag .meatos de açio cuja apresentação nos di uma prtnão desimultanelsmo, Em sua falta de perspecliva própria, Carlost assediado por suas lembranças. geralm~te provocadas poracont«imentos ou sugestões presentes, sem que uma ord!"""precisa lhes possa see dada , Antes ou depois. nio faz diferenta, Embora nlo levando essa t écntce a suas úfiimas cen­seqütndal e, talvez, nAo lendo stmpre d e uma total felicidade',o roteiro de S'o Paulo S / A parece-me uma evoiuçlo imp,or.

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M ARASMO E Cõ aes

~sse marasmO, essa falta de escolha. que, atra via de Cer­los. encontramos na dasse m~dia . essa alienaçJo de q ue morrea Zulmira de A Fal«ida. essa putre fação que decompõe a Vai.qulria de Desafjo~ rotelro. não são apenas apan1gio de um cionema que edcta uma posição crinca diante da realidade, masJ1 se tornaram temática corrente num cinema que pretendeser antes divertimento que refl exão sôbre a realidade. Per.sonagens fra cassadas e desa lentadas. cu ja vida estA sendo oufoi inútil . encontramos em Viag~ aos Seios de Duília ~Car.los Hugo Christ ensen. 1961) ou Um Ramo P ara Lu ísa [ ]. B.Tanko. 1965 ). O Zi ~aria ( Rodolfo Mayer ) de V Iagemaos S eios de Duilia i um modesto funcionArio publico, eel­eecc, Umido e acanhado, Km diEiculda.du financeiras, que.uma vez aposentado. percebe que nada adiantOu t er passad o

1Jl

bera pou ulndo um carro seu. ~arlo~ foge com um carro rou·1 bado{ i um'ataque d os mais prlmArlos. quase viscer.a!. conua

.. aquilo .•que "o ·csmága . Rouba o carro n~m e.staclonamentoonde" se encontram milhares de carros contidos em filas,

•fre:üe ·'a frente". no meio dos quais Carlos estA isolado ; bse· plano adquue assutt um valor simb6llco e uenícc : Carlos per-·dídc no meio de e por justamente aquilo que f ie constrói,esmagado pela quantidade e pela produç!o em sitie, rouba

-..." que faMtee.-O plano c-eensa tOda a situaçã","",e Carlose sua ' impottncia..

Do ponto de vista da temauca. Slo Paulo S / A i damaior importlncia para o cinema brasileiro, Seu aspecto maisrelevante nlo i a apresentaçio da solidlo e da neurose na me­trôpele esmagadora : i a denúncia da classe m~dia como vis_eereleien te vinculada 1 grande burguesia. de quem dependelua sobrevivtncla e a quem se associa na exploração do pro­letariado; i a denúncia dessa massa atomizada. sem perspec­tiva, sem proposta. unicamente preocupada em elevar seu nl­vel 'de vida e portanto inteirament e 1 merc ê da burguesia quea 'condlcJó"lI«." Em sua indefesa total. Carlos tem os braç'"abertos pat'a o {~'clsmQ.

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..•.. _..-

tante numa dramalu rgia q UI!: vi'" • expressar consdentemen­te a nã c-escclha de uma person.llgem e, atravb d.t~. ~dt umaclasse social. "I -:,, ! ..jf?' .

Como Carlos nAo K impõe. quem se impor' t S. Paulo,cujo dinamismo dará .!I fita seu ritmo,! Os fragmen tos.vãe des­Iilar velcamente a nossa frente. A clmara não pira. S. Paulodespeja diant e de nós tudo aquJio que tem • oferecer. A fitaloma entAo um muitO n/tido " pKtO de lnventlrio _,(quc J'adivinhávamos cm milr V.tia ) com f: fdto . cumul.~ti vo : duasU bricas. onze musicas, qua trO bailes, nove veículos.. etc. : dee­fi.l~un ")HIrtamento" cUaJ. bares. buatu ; ~ul tipUCl~.se aspersonagens secundarias: os acomodados paIs de LUCI. na, osfiscais do M inistf;rio do Trabalho. operArios. uma louca, umjardineiro. uma mendiga. um motorista de caminhlo. um ~ele.gado. um recepcionista de hotel. etc.: TV. cinema. revlst~s.futeboJ. pregaçOCs na rua. marcha cívrce. S. Paulo eufértccu ihe.le. Seu pasJ; ,do estA definitivamente enturado: quemteria acreditado Iôsse capaz o Brasil de consU'UJr carros; ocdt pertence ao passado; hoje O! fUhos nlo respeitam mailos pais e do p6: to oe arda nada aobra. Hoje. S. .Paulo t amjquina que puxa o Brasil. Do interior do estado, ~ outrosestado.s, de OUftôls nações. gente vem tenuu: a sorte em S. Pau­lo. opuArJt),'1 nordcsun05. uma ICineir. que pretende ingrU$llrna TV. jtl;Uanos, .Imlel. São Pa,do S/A i \:tD carrossel.um tuthilh!o agitad1uJmo e barulhento. ' T udo Isso sem fina­lidade., nada leva. nada. Nu ruu. a;pessoas estão apres·adas e de cara amarrada. A primdra reaçlo i sair de S.Paulo. O divertimento dentro da cldad jA não aatlsfaz : ojtito i fugir e • fuga i um dos tem.s centrais do füme: pornio,Cuem perspectivas próprias. u personagens são esmaga·

1;1-~d~"~ por S. Paulo; nada tendo a opor a tue esmagamento. as

[email protected] fogem. asse trem. eaminbJo. lembrete, lan cha .6iilbUi. ,ot quatro carros utiIWldoa pela. personagens. são poso

lldáali de. eseapar. Fug•• a casa de campo. o domingo nap!!ta"mál.-" em 510 Vlcauc,. beJle ou banhó na Re-

jo ae VfVéi CóiDo num filme muicano; aibSOJu H !f!t.... que .pó. o casamento

. P e (él~ ~ta E a revolta dePaulO, ma que Dada tem a

fuga momentlneaSitiiIiníi ttIl8 : em·

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Sticky Note
A extensa análise da classe média no breve período analisado adquire valor dentro de um âmbito de intervenção na direção da cultura cinematográfica, elucidando, para aqueles que são os realizadores da produção cinematográfica, a sua própria posição, e a forma pela qual eles estão representando as classes, e a si próprios nas telas.
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qlUlfCJ1 C. anos li remexer paptis, e vai • procura de lua in­iJncia. quando encont rou DuilJa . sua primeira namorada . ocnrcc acontecimento válido de sua vida . A personagem prtn­clpal de Um R"mo P.ra LuiSlJ ( Pil ulo POrto ) t um jornalistaqu e amou uma prostituta. que teve uma aman te gr!.fjna( reencontramos aqui um esquema jA l"mlliar : a personagementre dois pó los sociais : burguesa e prostJ tuta eram tambtm 85

mulheres entre as quais evolulam o ROni de A Grande Feirae.c T~nJa!,de &h~.de T~oJo.S.ntos ), mas nio conseguiuestabelecer relaçOes duradou ras . O Jornalista ddxa escapara mõça que o filme apresenta como sendo li solução para sua"ida nntimental: trata-se de uma colega da redaç âc do jor­nal, milça do mesmo mdo social que lle. Mas ele se conlessaIncapaz de deci dir. de resol ver a lguma coisa li respei to de sic de sua vida. O filme começa depois da morte da prostitutac é inteiramente construido. base de retrospectcs. O Jorna ­lista rememora ou conta sua vida a um colega de bebedeira .Trata-se do fenOmeno que verjflcamos acima : quanto menosválida é a vida presente. menos resistente e dinâmico o pre­sente e mais Iraces as personagens. mais estas tendem a dis­solver-se: o passado pesa sóbre o peeseate e o invade. A per­~onagem não vive do presente. não se dirige para o futuro eue." tro dela utagnll um paseadc morto.

S .si\ll1 ifirativo que ultJmawenl\ es teja aumentando a p er­c.entlll1em de filmu que recoaem ap rencspecto. Se. n z ououtra. o reteespeete t apenas um reêuuCl, narrativo .que enauma espécie de swpense. a maJotia das vbes êle corresp ondea um comportamento psicológico da personagem. como é o

em;: Um Ramo Para LuiSIJ ou em Viagem aos S t ios de'lia no qtul o pasudo nlo só irrompe na vida Oca do Iuu-nl:lo úbl(co. mas se torna até o próprio alvo dessa vida .

emento que:nos traz Um~amo Para LuiSIJ é a Impor­uantJtati ala:. que resulta da muma carectens ­

uini:l a Orç do p~te. inuistindo dinam ismoa ena, nl se ducortInando perspectivas. 8 açéoCd u ar" fa li. S p'rovb d que o \ineml! bre­

Ulia ~Clõ p.:fõlii:o omo ajJ'ora. ~ tal ponto\UI nnap'!lment 6ot~ulm carioca ter-

u" CDcoa otiri _tório em Que a prínci-em muc:u un a s o gas:, da

seu I,. la

-

\B lambtm revelador que a proflmo da personageltl prin­

dpal de Um Ramo Para Lulu seja o jornalismo: o jomahstatem contacto com muita gente de meios sodals virios. mexecom u suntos: diversos. mas em geral fica lJutuando entre ee-sas pessoas e hsu an untos sem integrar_se realmente te pelomenos: a imagem que se tem comum ente do jorna lista ) ; tle tum pouco uma roda sôlta. O jornalista. protagonista de vi.rios filmu recentes (Canalha em C m t . O Beijo. Society emBaby -Doll, O D esafio. Terra -eet Tr_se ) . passou • .,... _recer com freqamcia no cinema braslldro. e sintomlttcoque elementos dessa ordem apareçam em Um Ramo ParaLutse, pois se trata antes de maiS nada de um filme que pre­tende uma exp[oraçio sensadonalista do sexo. T udo »êle tsuperflclal: de jornalista. a personagem $Ó tem o rOtulo: aprostituta respeita os clichés. mais banais da vitima sodaldigna e que quer redimir-se; e a ct mara limita-se a périplosv",rios em t6rno de \lma cama. Mas. nesse filme vulgar e co­merciai. encontramos alguns dos elementos que caracterizamtaLnbém um~Ime da Importâncte de; O Duafio. confirmandoassim o que udemos sentir antu : o cinema critico e o co­merciai tf:m ma evoluçi.o para], la ; dlvl".rgem fundamental_mente que nte aos pontos de vista, mas os tema.'1. os problemas.:J.~ ptt5or:agrnl> e ,,1\CIumas cerectertsucas ionnais lo retroa­pr elo. a falll . c bou.quiln ) são semr:hHntu .

O t:i'l ema de intenç6es comerciais uem eempre se CUtvlla bse marasmo. e reivindica acrimuniosamente; o nível de vida.bses objetos todos que uma sociedade; deve proporcionar aquem lIela e para ela trabalha . tanto mais quando ena socie­dade va loriza tanto seus produtos qu e torna o consumo umanecessidade absoluta ; Procura· se uma Rosa <I eee Valadão.1965). Ltnc e Rosa ( Leonardo Vilar e Teresa Raquel ). doispombos classe média. êle mecân ico. r ia professOra prtmêrta.Traba lham bas tante : querem melhorar de posição: ser proles­sere jâ é um grande passo; êle fa z um curso para eeesene detelevisão. Ela quer uma geladeira e um anel; a primeira. objetolinha branca que integra a pessoa nos prazeres da sociedadede consumo; o seg undo. ornamento inú.t:L1 e caro. marca m­dJsfarçãvel do nível social que se atingiu . Mas. nada de se­lad elra nem de anel. O dinheiro não dá para coisa alguma Omédico receua superalimentação. Moram no subúrbio todõdia esmaj:lados no trem superlotado e uma consfante hu-

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ilh ' ta a vitrina d. rua reJd ta..()J forami açio. O vidro q,ue Jt~. .~al . lnd,-"d...1 cue ,era ado mundv ~ uma rustraç o ...,... v. .. .. .. .- ,calva. ' " '\ . ~'!> '. .

P Ro' • ••preu a a um nível corrl quelrorocura.st uma • ' . ,e mesquinho o amargor de um blJxo podu.aq1.!lsl...t1vo. e oexpressa tal ~omo o l"dsenl em udt. t ez m'ia extensos se ~o.rcsda- populaç! o urbllna : t, para Lino e Rosa. uma o~enSll VIVIdaao nlvel do grupo famílial, nm vide de conjunto da;sccreda-

· --àc. -eom total ignorlnda ~mplfcaç6u polJ~cas ., E...c~mo asperSOna gens. 0.5 autores do' filme ficam na proble.m.ltlu ~gel.deira, sem ver o que hA atrb . Para sair desSA Situação. l'que a sociedad e não corresponde a . sua, . spJraçOes de as­censãc social. Lino pratica um ato ilegal. roubai : ~r. o mo­mento cm que o filme podia ampliar sua probl.cm! tica , t omomento cm que se torna "'penas um filme pollcUlI mal ccer­denado. Mas o filme upressa a raiva da classe mf;dla. humi­lhada por seu baixo poder aquisitivo, num nlvel que.pO,de per­Eel[&mcote ser usilJ -il.do e acene por um grande publico querejeita fJ1mes que focalilam o mesmo estado de , coisas numpiano mais amplo el critico. .,

O que não foi P rocura-se Uma Rou . poderia ter SidoUII:. filme que não chegou a ser produzido, insplrado-e.:n trhconto' de D~poi$ do Sol. de InAdo de Lolola . O que tureres­sa\'~ II Roh.:'IO S !lntos. Sb gio Puson e Mecnce CapovilJaera justamel"'te C' p:oblcma da ascenslo sueial. a procura dr.um poder aquisitivo pUllor e de melhor ~drão de vida . ComoO! meios normais não 5llwfa:em essa a Iraç ãc, recorre-se amdol marginais e individuais, boxe ou p O!tituiçi o. E os trêsIretora pretendiam enfocer de modo crItico o processo. levan­

do ao lracasso as perllonagms que ee iIotam de seu meio pararesolver ICU problema sóllnhu e apenas para sl. JA que os

I..:, ;;;;""~f norma is MO dlo, a estrutura dentro da qual vive a

cJaue mEdia ~sto ura , e apcla« para cxpcdlentu que vão dobistat ai) f)õYe .. prostltülçlo ou ao roubo. a essa mesma es-ti'ii ue p. ur 1 Batista de Andrade, e Francisco

o no li C! Miietaõ 1Jltu. 1010 C/u.-. Mtdi4, que" ~ 'p.:tlr a Clãma: o pequeno luncionArio

p. II CD e lilhO' com sua re-ii uma P')IiçJo margi.

Ffpf;) lonte de.u~ o bico. O bico

\ou o roubo viram meios normais de vida . Já que 's CltrutulU

l. iA normais nl o funcionam ' mais, o que era transgressão adquirc1 fôro de 'normaUdade. Isso do ponto de vista de uma d an e

· ~I "l m~dia em via de proletarlzaçAo e: que nlo quer ver além de. 11 aua segu rança financeira Imediata..1 , O reverso da medalha f; II apruentaçi o cõ r-de-rcee de:

uma classe mt dia se:m problemas: sorridente: e satisfcita : C r6­nica da Cidade Amada (Carlos Hugo C hn stenseu, 1965).F ilme de contos, apresenta. ClHTl. uma escapada para a g..-deburguesia e outra para a favela , algumas dificuldades da cla ssemtdla. Sio fundamentalmente duas : o trabalho na repartição,na agenda de turlamo, na reunião de negócios , t monótono evivido como uma fru straç!o: trabalhar equivale a um pa r ênt esena vida de gente. Por outro lado, o homem t casado com umaespOsa nem sempre bonita e geral mente chata e autoritária. etem de submeter-se a imposições familiares que lhe tolh em aliberdade. Mas eis doi. pequeninos problema, d e bem poucaünportlnda diante das fad1idades que oferece a vida carioca :paiSagem luxuriante, praia. mulheres lindas, futebol. •..ida no­turna agltac1f, a simpatia e a despreocupaçl o das pessoas. olirismo que se:mJ5~vem d ar um toque roml ntico • VIda. umacena segurança enceíra, apartamc:r.tos a u petado, e deco­raJos COID cbjeuv a de mau {lO ~ tCl qUI: aparentam luxo, e,principalmente. a t" till inexist t nd.a de 'luaisque. problelOils deordem politica: a classe' media vai bem. T udo isso. apresen­tado em eeres. com elencs de lu: e músic3, da-aos uma ima­gem risonha da classe mtdla , C r6nica da Cidade Amada podeser o filme protótipo de um cinema oficial para o BrasU dehoje, tanto mais que quem a juda um cego a atravessar a ruaf; um oficial.

O s interessados n uma visão não-proble:mAtica d a classe:mf;dia pcdee ãc preferir S ociety em Baby-Doll (Luis CarlosMectel e Waldemar Lima, 1965 ), Os au tores pretenderamfazer uma comtdia que lembrasse a velha chanchada da Atlln­tida, mas uma chanchada critica. Flcaram na pretensio. AJdtia e louvâvel: utilizar lormas que comprovadamente: atin­gissem o público para aproximA.lo de determinados proble.mas. Em realidade, Socltty em Baby.Doll e apenas uma chan­chad. : só que. em vez de apre:sc:ntar.sc com o tom popuia .re:sco tradicional. t uma chanchada sofisticada . Vedetesde rAdio e TV fO-( m lubsUtuldas por atOres de teatro. e uma

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pu .gem (jornalllt.) dlrlge~le dlrctamenle.o público paraCOtIIc::lI.r ••(Ao. loque brechliano e culto. M•• a .parlnel.,enl nlo mudou mul!o e • temAllc.a t • mum.: IIcenllo ded~ue. DUA' upO... ( lonA M.g.Jh!u e Natalia Tlmbcrll)erueer..e dcslocados no mrlo de .u.. f.mill'l. cuja vld. mun­

dalWl nIo .companh.m. Tr.t.·Jt de du.. mulheru oriundasdo tler. NItrO popular d. zona norte do Rio. que despo..•ram homen. em boa Iltu.çAo econOmlca repentln.IImente trans­formados cm mlllon"'rlol . As mulheru nAo~n'egulram edep­t4lr·.e i Vida de g:tI.fln... Num pl.no para reconquistaremM:UI r..rldel. p....m ••gir como grl.fln••. dlo-" multo bemcom. nov. vida. e recuperem OJ marldoa. Se hA .Igum. ren­tal /VI de duml~UfICl (llo da mJlologla da ascenç30 de da.~e.O pú blico nlo percebeu. pai. o filme ~ recordlst. de btlbe­leria .

o OUAP'lO

ma. proJrto. que tatavam rm anda nerue r qur pod.rl'm rvrn .lu.lmrnte ter prouegulmento. COrlO o livro que M.rcelo ee­crevia. Inlerrompem·.e. nlo .penal por l. lt. de Animo. TIl.'porque tal. proJrto. n.d. m.l. 'IJnHIC8m n. nova contuntu.ra e tambfm porque nlo le tem ldtla dr qUIII 01 prOlrtOIadequado. ao neve ut.do de col"l. O mtlmo ocor re no pla.no du ldtia•. 01 dlllogol 110 um. lroc.a de ~r9unt.. ou demel.ncóllcol tacenuvce A rtaçio pllto16gIC'. O !lllllr t extee­m.mente dlalog.do.-poder-se-la dIzer que- t ....mpollo poruma Itrle de conveuu que rrproduzem rual '(OnVerNI debar que a Juventude Intelectu.1 m.nttm Interminavelmt1llet6bre ."untOI politico•. elttUcorou pruo.ll. Dtue ponto devllla. o fUme t qu..e um plkodramD. No rnt.nto. I Uavh doIlJO abundante do dlllO{j'o. O Deullo nAo pre tende !I:almentedllCUt/r Jdtl... m'l 'ntu ur.ctuizar um certo u tado. e I(

nlo lnllnu.r critica•. pele menOJ .ugulr perpluld.lldu .nle&aI estado, Pol•.•e •• pUlOnage.n. ta nlo ta lam. nl o t quelenham mult. coisa a duer, poli Ju.tamrnte nada tf:lll a dln.r.rnlo ur.';J r .u. duorlent.çlo; t qu e elu alo dominad..pel.. p' av •. Para UN' peu o n. gcnl que nl o agem. nlof,zem n...da, p.llIvr. t .lmultAnu.rnenle um' lorm. c\. ree ­çlio e de allUlaçGo.

O dialogo t alllim lima lorma de ritu. l; quue !nltl ra.mente compoato com Ir.IIAIA !clt. s. com C"~G: tle rtluluJntcndon.lrnente n.q ullo que foi r.halZl.do dr. receltu/l rio daiIntpclU da uquud• . Por outro lado. a palavr. unav." cplano do diAlogo: t o livro que Marcelo nlo conaeguc ee­crever. o rAdio que In forma; c chtga • temer-se oble to nacenO{j'r.fl. onde vive Maru lo : t o trecbc grifado do Ijvro deClarlce Lilpcetor. t o c.rtaz de Ub.rd.de Lib rdade nummuro da cidade e. no quarto do r.paz. o livro A /ffl)'JAo dtlAm~rlc. 1.alintl. um uemplllr d. revJsl' C. MerJ du Cm.m" .A. ldtl.. nlo .10 prlnclplos de açlo: elas .tol'm~' p.la­vru falada, ou escrita•. tm reprucntaçOU grAflca.t. emcll.çOu.

No pl.no d. crlUa d•• ldtl••. o filme tem 11m dfl .n~

melhoru momenlOI n••preacnt.çlo do t,peticul0 OplnUo.de lneglvc:l qu.lld.de: .rtl.tiCl, e que repruentou por ullltempo. um. J!ualo de ruçlo .. nova .itu.çlo. e de comunica"çlo com o o,.nde: pilbllco p.r. tr.n.mJUr.lhc: • lnsatlllaçloque It deve: ac:ntlr di.nte da .ltuaç!o br•• eira. M•.rccki con-

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temp l. o -espetâculc scm tuçio, o.dI que ind;iqu~l.e~ÇJoou rej6çJo. e sua im~ssibJUdade coloa em.~,u~j~~lJI'linha de .çio que EoJ c t • de um. uquerd4 qu e K ~9i.~en.danou chamu de festiva. No pllno . KIl tlment. l, ,'<=1:10rompe com Ada (Isabel. ). sua .mantc...esp6sa 9&~jricoIndustrial (Sérgio Brico). Depois de abril de ) 9?1':9;,~fce1a.mente de 'um. strie de ....IOres tlr. inclusive a, elcD1~fp~ ·davida Intima seu signJlic.ado e sua razio de ser, e Mllt@P n ãc

. «ncontla.mais motivo nem EÔflfa pata prosuguir e!l.ar'lL~,~açoesamorosas. Por outro lado. abril de 196.... repereunu ,em' Adade modo diverso. porque ela pertence a u.m meio "diferentede Mucd o (seu marido dirige um. Ubric.a de 2.50:0. cpe-r~) . . .

Embota Ado1 srme-se deslocada em seu meio. não en­contre nêle a vitalidade que a seduz em "seus amigos de ea­querda- ; só pode senur-se remotamente atingida pelo neveregime e tenta convencer Marcelo a nlo cortar as relaç6cscom ela, usando uma sirit de argumentos que tornam ,'a mu­dança de regime um eccnredeentc lastimAvel mas casual quenio deve atlngjr as coisas fundame ntais da Vida, os' sen timen­tos, os •valô.'u duradouros, o amor. Marcelo rompei! comda, e Ada não tomarA a resolução ClUegOrica d e flcar:c"õm umando e pumane~er .:tl1 seu meio, mSS t o que ela acaba Ia,:rCLdc, Ad3 e SI.I<O .-c.iêlçlo Qm Moarem M O um ftn6menoIu.ndamc:tal porque introdl.lum no cJ.nema brasileiro algo queati agora não chegara a uistir. ou tela, ~l.Ita d e 'classe. Oromptme:mo Marcelo~Ada afirma que usa personagens slomarcadas por seu melo e que entre eslCl m s nâc hê acOrdopoUlvel. A iludo do bom ente.ndtmtJl,to entre classes opostaspalIOU; a mudança de govtrno extinguiu uma ilusão eúfóricae t'Ciareceu a situação. VJvemos num "tempo de guerra ",diz a cançio final do filme.

O Deu./io abre assim, juntamtute com São Pauto S/A.uma ;DCMI puspectiva para a comprmsIo da sociedade brasi­Jdra 'D cintma. A jluljo da aliança burg1.1CSia nacionajista­da..e mtdUl.proIetatiado peteeee ao J)',.,do. A clauft mi.­~'1a:ai de flnJt.~')Use len6meao decorre um outro que

prever : A~'JI o t caricata. A personagem i. tratadarldlio J p emSõra se tinta que o diretor a dese­Io;l!;',!t Ãlvu P' tir 9r'liJ~. IV considerada como

ce Pili tli vu um w"~~t a a atri%

\

.1

cujo comportamtnto i ccndnente com a personagem. e. ~turalque" medida que a classe mtdía vi encarando de frente t ll:UI

problema" em vea de tdtJlarçi .los ou mistiud-los. a i re pre­xntaç6u da alta burguesl.a sejam ma.l. rea lista s e mais strias.Assim como Helena .lnÚ j (A G rande Feira. O A.uatto aoTrem plJgador) foi a grl.fina por excellncia da êpeee mgl.nua e caricata, tsabda·t a, grl . (ina de- uma fase crurce. Amesma evolução se dA com o marido d e Ada , embora algunscllchh atnde pescm sõbre a pft!onagt'aP."" é a a mbientação dacasa revela o mtlmo progrelSo . Dai decorre tamMm que oburgub não mais ~ visto apenas em seus movimentos de lazer,mas tambtm cm seu -escritório. em sua fAbrica, cm contactocom SalS empregados · e aperidos. Um a mclhor compreensáoda classe mtdia faz entrar no cinema a burgu.esia industrialque att SIo Paulo e O Deuflo estava ausente.

Para comunfcar a sit uaçlo, Saraccnl vale-se essenclel­mente da movimentação da clmara . Sem dúvida, nunca houveno cll!ema brasileiro uma dmara tão cr iadora q uanto a deLufa e Cosu~h nesse filme, Inteiramen te feito de cAmara namio.' Ou a cAm" ra Rãra, extitica, a contemplar uma persona­gem imobili!ada, que bão conseg ue viver. ou, mais freqíie:ttc­mente, fica em planoS\ lonqos. :>erscrutando A.!: perSO:l.agen!.girllndo em tOrno. apj"():l: iD I8ndo·~e cu a fll standu·se ci.::as.como a inVbtig~r tiS UlotJWS da Fassivldllde, Nu"," mvesn­gaçlo, Saraceni fui ajudado pela e:l:peritncia de cinema -ver­dade que ftz com integraçlo Rac:iar. onde a <l mara procuravacaptar as pessoas, rup~itando seu ritmo prôprtc. e. a mu:naimpressão que ae tem em O Desafio. onde tudo ocorre comose O ater não representasse para a cAmara, mas como se a cê­mara documentasse um ator.pcrsonagem . A camara desassos·segada. inquieta, nervosa, tambtm estA .. procura de umasalda, e vai e vem e bate no vidro como peixe no a quério. AcAmara segue a s persona gens nas longas e tortuosas peespecr .vas que proporcionam salas, portas, corredo res e escadas .transformando a cenografia cm labirinto, mas às vêaes usaspersonagens perplexas e inativas não ti.m suficiente fOrça par.reter o tempo todo o cAmara e esta entlo segue sOzinha seupasseio, prolongando o impulso inicial. e voltando em seguI­da ;, procura da personagem perdida. Tôda a perplexidade co marasmo do fJlme estA na clmara, cu jo papel não i. apenas

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c de most rar, mas de cri..r : ~. ela própria . uma da~ perso­naç ens do dram a.

Embora Marcelo tenha de certo modo evolutdc duranteo filme. o fmal nl0 t abertu ra para êle. Nelson (Luis Linha­ees}. intel ectual frustrado. envelhecido, crmcc. provável t e­presenranre d. chamada geraçJo de 1S. tenta etretr Marcelopara seu mundo viscoso. e le t • deeacltncJa consentida, a te­n::ncia cultivada. a degradaç lo flslea c mental. Marcelo re­euse-e-proposta de N elson e sal andando" procura de umfuturo incerto. enquanto se ouve: "e um tempo de guerra" , ea ultima fra se é : "M as tssa terra. eu 010 verei", ou seja umaexpressão de desalento que se relere .5 palavras fina is deDeus e o Di4bo na Tere. do Sol ("A teere t do homem . não

ée Deus nem do Diabo" ) . No entanto. o filme não t der­rotis ta : ao contrário. Embora Marcelo seja UDa personagemreteuvaeeme autobiogrAfia e a síntese de uma série de jovenslnte..ectuaIS. pod endo ser considerado como um prctódpc. nãose ene uma lcie.r'.t.i fica.ção entre o espectador e ele. Seu com­pcnemenrc. suas reações. suas idtias. seu vocabulário. sãotão conhecidos e familiares (e ni o apenas para um públicobrasileiro ). que Marcelo fund ona como um rtfluo que pos­swihu \;.01 dista.r.da.a1cn~ crtucc em reJa,.! o a r.ôs prôpncse até a rejelç-t1J dJlq ullo que repre~tn t41 Marcelo. A lucidez.. ra que se expõe n... : "~a a =,~obkm1tJca de Marcelo ifj~:'.aque. por PArte do autor. o estaJo em que a pUSOtl3g: 1.1H cnconta Já f{)i ultra p.iSUido. O p'r6pr~ alo de realizcr essef e ê ama supu açio.

:Assiltir e comprtendu O Deufio pode ser também. pa rao elJ)eCtador: um momento de tomada de consdtnda do ma ­asmo. e eontribufr para a superação. Não resta d úvida

C!e u e eU/io dlrige~le a quem tenha os elementos pa rartalCler Marcelo. Outro elemento positivo ê a slgnifi.

1D11p:1 ta (Ia ~tUra entre. Marcelo e Ada.n e IiDto IUeo usa evoluçio ~ o Viramundo

Sirno. 196' .~ mentirio têm-se alê a gorap'r lãien iõb)ema. roraia e, atê êste. não

mau re a ledade Industria l. E m• Gil UUe rJiÇlo do imi-

e O tra-up \0..'1 da

aJl'resen anêlo pc·

rários e empresârlos dentro das relações trabalhJ5ta•. e vemosuns e outros em seu leal de trabalho. Pode parecer puerilvaloriza r um filme pelo simples fato de apresentar um proble­ma de classe. maa. para o cinema brasileiro. que. condicionadopele populJsmo. eliminou tais relaçôu. o burguh de O D~,•.fio ou o empresêrto de Viramundo representam urna evohlçi.oe uma compreendo mais realista da SOCiedade brasil~i ra. MaIStarde talvez se verifique que li aparição da burguesia indus-

_ tr lal se dl num mom ento em que a politica populista e o lídercarlsmitlco nio' são mais - posslveis fiõB rn il. nUTn moreentcde transiçlo em que o pais estA mudando suas estruturas _e. por Isso. foram neceulrias as :pudanças de abril de 19Mpara que essa evoluçio se. desse no cinema.

O roteiro de Glauber Rocha. Te rra em T ranse. ê tlm·~m um trabalho que resulta de uma meditação sõbre o mo­vimento séeíc-pelrnec desbaratado em abril de 19M. amplia.da. ao que parece. para uma visão geral da poli tica no mundosubdesenvclvtdc latino.amulcaoo." NUCl pais imag lnArlO. COn·frontam-se utll demagogo lasdsta. e um politico reformistaque pretende ~a renovação social sem revolução. •tCl rem ­per com o IIta ta quo. por vias legais e conchaves. Entre Uuevolui um jovem político, o jornalista Paulo Martifl~. que qeerlevar o rd orn:13ta a assumir enredes hrmtl. saas t ve-mdcpor polit:caileu:. enteuà i:nent<>!. ~{):;'dJ:"' ~N',,:; e _i!p.tkl! esuan ­QlirQ.1; I: êle próprieo. apesar de sua!' atnud es e ~<J a pureza . per­tence ao meio dos poli ticos corruptos ou ímpctentes. O eoce.ecê uma v!sAo critica dos últimos tempos que antecederam abflld e 1961. que 010 só ataca os politicas como tambtm o jovemque. com todo o seu ardor e honestidade. foi na onda do.outros e H colocou no fundo numa posição antipopular. eata ca prindpalme.ntc a noção de povo que vigorava no an.tlgo regime e era tOda maculada de peleguismo. Terra emTreme. mais uma condenação moral do que uma an..1se se­ciol6gica. foi escrito com ôdíc. com raiva . ê ob ra de quem foimistificado e se mistificou. fundou esperanças sólidas emi1usOts. e acorda . A personagem que pa~ce ser a mais imo

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sôbre a evolução do pais e o conjunto de sua população. Don ;de se conclui que um choque ent re o governo e os (ilmes bea­

.. slleiros t (latllral : MO 16 a censura terna-se um 6r910 maisIcete e mais arbltririo. como tamMm ela se multiplica. : cadaunidade admlnlac.ratJva. por menor que seja, cada enndadeprivada. passa a tu o direito de praticar a censura que bementender em qualquer ohra que leja. Quem nlo quiser leratrapalhado que siga a orientaçl0 de Crônica da CidadeA,"ad4-;~ primeira imagem ';"'qual vemos um mili~judarum cego a atravessar 8 rua, ou a de História de um CrApula(Ieee Valadão. 1965). e ste filme redu: a politica do antlgoregime a uma questão de ccrrupçâc, dando portanto inteiraratão l ordem policial e militar que elimina o deputado Ta ­levera, e encarrega um generoso policial de salvar II honrada m6ça abandonada grávkla por T alavera .

A censura t óbviamente um grave obstácu lo, e a tarefaminíma de qualquer individuo t lutar contra da em favor daliberdade de expreuio. No entanto. d a nlo t o pior obstáculo.Pode frear um movimento intelectual. pode hnped lr sua d tvul­gaç.o, mas di~lmente poderá aniquifa .}o se êle fOr sólido etiver bases reais. Ob.tâculo muito maior t o marasmo peíurcc.eeeeé e tcc. social. eri\. que se a funda o p 311. a medior:ricla,jee o imobilismo. que 'tpodtm lentltmentc: minar u muvimer.Lointelectual. nt.~r: ~ o maior rerlgo. Q \\e as dúvidas, lIS centra ­diçOes. o lepasse angustiado de Marcelo, Hã ", sendo mats fe·cundado pela evolução soct.11 do pais. esmoreça, transf",r·mando-se num desespe re apático. eventua lmente num cencrs­mo castrador.

Receio que sintomas de uma a titude desse tipo possams~r enconlrados na leva de filmes de curta metragem produ.zldos em 1966. O filme mais saliente dessa produção t EmBusca do Ouro. cm que Gustavo Dahl descreve a epcpêía doouro : a busca e o tra tamento do ouro, o enriquecimento deV ila Rica. a luta contra Portugal. a lncon fldtncia. a rltpreSSflo(ao abordar êsse ponto. O tratamento da do à vloltnCla ~

trõntcc e o espectador não ddxa de ver uma a lusão aos ~Ias

atuais). Dessa epoptla. que sobra hoje? Nada, senio c ca­trizes na terra, marcas das .antigas galtrIas. e llndlssimos masfrios e inúte.J.s obJttos de mustus. A cAmara passeia lenta­meate diante dtsses obJetos. contemplando-os Imperturbável.a uma cAmara cUJos movimentos lio degantts mas. gtl dos.

II!,

IIII

II,

pwtantc t • do JO\ ' CI1'l politico que. mais desenvolvido. ufA

nio só um pro]onga lJl tnlOde Fltmino (& rr.."cnto) .e de An­eõnrc das Mortes (Deus t o Diabo na T erriJ do Sol). comopoder' ser tambtm urlUI revido etlUca da atitude politicadiste ÜJtimo. '

O D esllfio t Terra em TraflSt do dois trabalhos direla­mente provocados pela reviravolta de abrJl de 19M . e que nãoassumem. .. posição flro ell de estar conua o nôvc regime. li

__ fa vc e do an tigo. P~J1·u antu attalliar o passado. insis­tindo muito na inconsistlncJa das bases em que se apo iavar6da uma politica. e êese fato Jã é uma procura de caminhos.Fomos enganados e nO$ enganamos : precisamos procurar osmotivos. A tal anAlise do comportamento polit iCO <Úi classemédia. o cinema brasileiro teria chegado mais cedo ou maistarde; Sio Paulo SIA. intd t ame.ntc escrito antes de abrll de196i. J' analisa a classe media c li t implicitamente um lHmesóbre o movimento militar . Mas. êsee, por colocar claramenteuma ude de problemas. acelerou a evolução da temi tica doCIDema bruildro. E. aI hoje. Justamente reside um posslvelImpasse do cinema brasileiro tal como .vem evoluindo.

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e a mesma mwncoli.a ; t Lima &rnto Ov.lk> BrUlaD." l . quese lúnita a uma t'VOluçlo de um Rk> de Iaadro Illkto de It­cclc e pereee esqu ecer que. se: üma Barre!o foi. um~e:::

doente e re jeitado pd. sociedade. tambC:I foi '1= graQÓe es­crrtor: Heitor dos Pr.:Jzeru. em que Ant6nlO Carlot Fo:r::.·ou~•.sem peeeepuvea intenl';OO polt nllcu. omIte H eitor dos Pra,aeres pintando; Rubem Bl8iora . cm ,'vIano Grubcr. aprutntacomo uma \·ald.de humana as preocup.1l';õts SOClall do p r acee sua tentativlI de fund ir erte. dem6nios pessoall f"1d \.I

sccel: Djanira c Parati ( P edro Roval) t o elogio de um ncepassado desaparecido e a saudade _que fica. De todos h nsfilmes. cu jos autores são em maioria jovens qu e r"!tal:'! seuprimeiro curta-metragem , c que eãc inspirados em persona li.dades da cultura brasíle.ra ou em momentos dor. histOria doBrasil, emanam a mesma passi\idade. mflml a melancolLa.quase gOsto de renúncia . Talvez a pergunta seja violenta. masela imp6t.se: Serl isso o prenuncio de um clOec a f.l$ci5UI 1

Uma ouU:. tendfnda qu e perece dehneer-se t inh:ü:a·mente ")na!s est~Ulant e e poduia ser qua lificad.. de re.allsClofantbtico ou .. callsmo peêuee revolud onirio

M

• conf _lIIe aexpremo de G aubu Rocha . que. mai ~ um. VtI e It:lIl1 umavea em funl';3o de seus prtpnos fllm.es. aponta o C.llll.i.nho. Q uef,lme!'. q;J:O: tltil(J~. que mo~0.3 de upreuio " lrlto t1 rtressa s uês pl'llaw asl ~J~(\ t po.s:.ln! Wlbl·1o ao.Y.II . UlUa cenaideoJ~ia e uo certe programll de açãc frilcassaram. e perma·necem e agravam·se os prcbleams que o mo "aram. 'tSS<l

snoecãc. o cinema que se inspirou nessa id«ologla e nesse pro­grama nio pode deixar de senur-se também cm parte fracas­sado. I! como se dtante desse foto os elne.,Slas pUsaJI!cm atr ánspor a realidade brasilei ra no plano do Eantãstico. nãopara mltlf lcA . la, mas para lev.!Ir suas contradll';Oes, sua vlo ltn­ci....e conseqü~ d as ao absurdo. pois SÓ o absurdo e avio·ltriaa poderão élii' conta da real dade absurda e \10lent.l quevivemos. fanth tlco como explosão Ibertadora - masplano (I~ r taflSmO,

'pri e filme que podul realizar.se nuser tom. Ee li em Tr Mas usa tendfncl8 ji ~ I; qtn e n91 'dets"

f' tãiÓ e Glaubu Rodi-. cm Birravc!l • no papd

~~~ cmplo: cm DiU. e oD~ e~i"~'!!'B,'S,O/iOii

tOClo o f lme ritual III no entelldade de: Do iii e .üh.

-

,"ue r.io se deixa ..lta u pelas coisas humanas que even tual­mente n rj o .. liua f rente. e dtsse ponto de ' -ilta que o a»un toc (ra(lIdo. ontem a luta, hoj e a contcmplac;io c a noste lgla .Xesse filme do qual são personagens objctos. utAtuas c ecb­~J duutas c sll~clOsu. nJo II" hOl:lens; só aparecem acE~I ulloOll :.lCOI cm sua medíccrrdade em fotogrAfias flll:as.O .1mb ente p rofundamente melancólico criado por esse fI melI::l.prcgna-$C na gent e como a umidade. E domina o f,!me oCUidado dchbu,)ÕQ..d.. lau r uma obra de arte requmtada ; tmt cnção do autor que o filme se apresente como um obj etcqu e Imediatamen te se enquadra numa cul!ura de bom gôstc ,numa cultura de luxo.

O mumo fenô meno se dã com Humberto MlJuro (David:--Jeves ). ltlme muito bonito. cm que o homem forte c lu ­tador cede o luga r ao velho senhor cansado que t hOJeMauro. Neves apresenta Mauro lilmando delicadamente pas­sares. e adore. para descrevê-lo. a mesma delicadeza a que re­corre o \'dho c.nUJU para filmar seus pissaro,. Desp ren de.sedbse filme elegante uma impressão de linal. de cansal';O decolll)ll trlsta a. Guarda·se a muma impr~o de uma curta -

efrapel::! qu e aborda um .usunlO comptelammte difuente :l/mveN d~de em Crise. IilUle stllli.amadC'l· de R".r..Ito Ta~ê 6~s60rc a g- revo: eMud",ntil ca Umvtrs!dade ce 5.30 Paelo em1%5. ~sse 11:::-(. pcecc rio-:cll:tr.tr;o. cce .:I mt1l to de ~rr('sentar iol.:lgrafl.lb cia ocup~ l';io po~ci!'ll da Universidade. .t cer,tammtc att agora o cnree filme brasileit.Q que teve .,usa cora­gem. Mas os estudantes são retlatados co o api(lcos. corposrelando' . un i os entre as pernas. gestos hesitantes; cabelos demOças. oradores que nlo do ouvidos, uma d mara de mOVI 'mento, ln.eguros. 0.1 plano. longos que sempre se repetemnuma montagUl. $Jnf~nlea .ugettm a apatia de um grupo de~ duOl PJr«:e. .em rumo. e o rea Uzador do filmeOItl • a Ueo em l)ora angustiado, d iante dessa

~~~m~..~o ~ imo li filme .egulnte de Tapa j6s.

ti ( p. aparentemente discutir oi:I vcs' e ~s para o. candidatos.

ta num tlhia cm t~rao d. medioai·DI~. tetratot" lmpressio.

na bordagtm dos~ e.all:lente a

fi mm C e)elJantu,

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127

Lu:.!. (Anecy Rocha) ama o m.1an~ro, t c~p:c9ad. flUIU

huullia ria c morre numa quarta. feira de clO:.a , . A quana... ' puson. gcm é Calunga(Ant6nlo Pitanga). chave do filme.

Seu papel t o de um meneur de J~. eepecíe de mestre de JOgo:orienta as personageM, arma sttuações c comenta a 8çl0, muscm participar dtrctamcntc dela. scm li9ar~se a coisa alguma.permanecendo num plano superlot, colocando-se numa posiçãomarginal cm fclaçlo à 80;10, embora ele próprio imigrantenordestino. ApAs.. ter feito as honras da ejdade para os ee­pectadores. ele é o cicerone de Luzia t serve sobretudo depombo correio entre a mOça e Jasio. T udo isso é fri to numafantasia cortog:'flc.: pulos e risos: é a maneira de ele apc­deras-se da cidade.

Nesse mestre de J6go. deve-se certamen te ver uma meta·morfose daquela personagem a que II me referi: o marinheirode A Grande Feira. por exemplo. Aquela personagem.pind u.lo não t mals possível. e o mestre de JOgo é uma _maneira depreservar o marginalis mo, a nl ()#lnsu çlo na ação do filme.

. E m realidade.' poderemos, num ou noutro ftIme secunda­ri,o; vUifica~ pumanincia dessa personagem oscilant o!: entredois pólos e mcapa%d e CSC(jlher ; e que passa incólume peladção do filme. Só\<Jue ela se encon tra num total estado ded egredatio. T al :~mo a moeln"-, (Ardck Mal vil ) de E~~ 1lGa rir.ha .t M inha ( Ieee V aladlo. 196&) : tee dc Sido sorlunapau partkfpar, no mesmo horido, de dois pf(lg~ama.i de TV~Jvais, um de bossa neva, outro de ii -Ii -ii, ela nl o consegueescolher, foge, mas de repente nlo tem mais de escolher, pois.para aquela noite, os dois programas fundiram.ae num 50 e asestrofes da cançlo. eerâc cantadas alternadamente em esdlcbossa nova e ii-it...fi. A conc.lllaçlo satisfaz a gugos e troia­nos. O u, eatãc. Ponciano ( Alberto Ruschd ) em Riacho de San­gue ( Fernando de 'Barros.',1966) : assume no in.Ido do filmeuma poslçlo de JustiCeiro ao defender camponesa aEacados pe­los capangu do ccrcael: liga.se a duas lIlulheres : a filha do co­ronel e uma enúgia camponesa. -Arma_se um confli to enrreo <bronel por um lado e por outro os cangacdros e os fanáti­cos, e Poneiano Iiui.Jta~se a uma ·atuaçl 0 exclusivamente ver­bal. entabulando convu.saçOC:I COm 01 grupos rebeldes paraccnveacê-lcs a lutar. Na bora da briga. por motivos nio ex­pllcitos. f:le te recolhe; acabada a luta, ddxa a ddade e seg ueseu carnjnb lev~ o consigo o dDJco sobrevi'itiltc: uma cnar.-, .

da, a mUSica de VJ /a-l,6bos. o g05[O.pela violt.nd~ e ograndiloquenre, IA esrio no caminho do f~tásuco . Maspren(mcios dl:5aa tendi nda podtm' su adivinhados I:moutros filml:s. principalmente no gOsto pl:Jo espet6culo, oumelhor, quando os cineastas se valem do espetáculo os­tensivo para salientar mais .eu. propósito ou paradi~ta"ciar os espectadores das perlOnagens e das snua­ç ões . Um dos filmes que mais deUberada lIl e.D te recorrerama t sse processo é Sol S6bre a L4iii.:i, de Alu · Vlany.' ~maserre de recursos artificiais fa: com que o espectador assistanl0 à estória qU I: conta o filme. mas sim a um espet",culobaseado nesse estOrla. Por exemplo: a primeira imagem dofilme mosrra coquciros num estilo intenn edlllrJo entre a folhi·nha de I:mpOrio e a fotografia de filmes comucials de propa.ganda, e se choca com a seqGlncJa seguinte, ortificia/menteiluminada de verm d ho: cOres berrantes, sobretudo o vereie­lho, dominari o todo o fUmc , em que epereeeeêc também ccn­trastanres trechos cm prêtc e brancol a movimentaçi o da el­mara. em sua Jncans!lvd ginástiCA de carrinhos, panorAmicas,l <.lOm. deverA eleva r os gritos, as correria., os movimentos de/JIusa a I/e nlveJ êplco: as talhas douradas da Igreja de SãcFrencsco serão acompanhada~ por rJtmos de origem i:t Cticana,enquanto que o allM de-ij.::ado 3 deuses afro·crlstios ter A. umllmusica sac ra '"erudita. essa ttnrJva de espdAculo, porém, re­SU:tOLl nUQ U1alabarJ5Lllo porque a fonna ficou exeerrcr. nãopenetrando o tratamento dado 's sgen.s nem a estruturade. situaçOts. Mas ai estA, &em dúvi ,um doe momentosdbR espctáculo cinematogrifico tend te ao fantAstko que

!O cinema brasJldro procura.Mais recentemente, CarIo. Diegucs alcança melhOles re­

.ultados, nuse aentido, com A Gr4llde Cidade (1966 ). Paraeonw "as aventuras e desventuras de Luzia: e ' .eus tris

gos tb~ados,de longe':" f:le tran.(ormou o RIo de JaneiroDUm .Ieó. P.ctloiiig e IltuaçOet: tlm o ~u.ematismo e o

ele _ cü1li enluta eltralUJcada. , C01'aCi( ou qua-II 1xa õ30 quue caricaturai diversos tipl» de

ao Iãiigra.nte nordestino na grude dClade. J8IloJJii' ;.que tran)j)Óttóu Pf!.!Ii a ísse­

-giCâiQ,~ ()9<! !lô<i:&i): ~ cca-, flr;a: nrefiCJ~e acusan.

ca gu tii1 o t_~ CIo hipér.dor:

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Page 68: Brasil Em Tempo de Cinema

c nna. Poncenc é uma p~nonagem decrépna e ridlcula que.erebcra centro de uma .tão. fica totalmente pau lva e redun­da .. um papel palavroso . Deixando de lado a caeêncta deHnagm. çi o com que foram tratados ta nto a gatinha comoPonciano. ocorre que essa personagem. que em 1958-60 abriaperspectiva para o cinema brasileiro, esta cm 1966 esgotada.decadente : nada mais tem a oferecer ; deve SCf superada. Jus­tamente um dos meios, de superá-le , sem que se percam. e aocontrário~ '·st enriqueçam algumas de suas earecrerrsr tccs. é

sem dúvida o mest re de j6go.Luís Carlos Maetel sentiu O mterêsse dessa persona gem.

pois é esse o papel que deu ao cronista social ( h alo Rcssi] deSociety em Bahy.Dofl. que ficou convencional t medíocre.miiU jA começava a dar uma nova versão do marginal no cme­ma hr.l5lleiro. Carlos D ieguc:s deu iii personagem uma outradImensão quando esta por descuido. transmite" mOça um re­cado do malandro. dianle de uma terceea pessoa. a qual. In­vclunt ênamen te, veiculará o recado. poSSibili tando assim à pe­lIeia loca lizar [asâc. e Calunga qu e, sem querer . entrega [aeâo~ policia : nem como correio ele serve. Isso se dá no capItulodo fjlme que tem por titulo predsamente o nome da persone­geDI. Nâc sem umll certe brutelídede. Carlos Diegues tira Ce­lun9 ' de seu fácil papd de mestre de jõgo e o compromete:Nilo é passivei ficar .\ margem dos\acCllltecinlentos: queiramosou nêe . eaeamos envolvidos . M as Calunga logo se recupera e.após um momento de desvario coreOiJráfico. mima II aç âo dofilme e. principa lmenle, a morte de Jasão por que é responsá­vel O qu e enriquece mais ainda o margina lismo e o fra cassode Ca lunga é o pano de fundo s6bre qu e se desenvolve suaVld o reêdo. A instabilidade. a insegurança desses persone ­gens geram um estado permanente de mêdc. Luzia. rôda pe­netrada JPOr um mldo que nio arrefece seu deseje de viver.~er nta a tOd05 se tambtm nio têm mêdc , como que para se

li i:I ~!Iue ni6 tltá ela ,próprJa num estado anormal. EGilu a es~);àe ue f: assim mesmo. que o mêdc t o.um-

ente natural ent uaJ se víve, que sem mêdo nfil) hàCI Ja t ã ~ .. l0vialidade do lilme. t

E)J uq: :;t9..1llO uma das componentes

,

do às pusoas que enconua na rua S6bre SUcIO Vida. e chegaiii concluslo de que pouCOl segundos diários sobram <II eu..spessoas p"ra viver. Essa gente que atravUNI <IIp reMada e dereste tenso o centro do Rio de [eneue, veste terno e: gra~'ala .

t pessoa.l de escri tório. funcionário pubUco. representante defirmas comerciais. O corre que. ..pós essa introdução que 1m.bienla o filme numa cidade gran de. as pessoas de gravlUs.de quem se poderia pens..r que constltuJriam o centro dofil me. saem de cene e a aç ãc fica res trita ti Im!gra ntes ncrdes,tinos favelados. No emento. como o filme t quase intet ramen,te feilO na rUI. constantemente essas pessoas reaparecem nofundo dos quadros, aUis das pelsonagens de !lcção. E. comoas fllmagens nlo podem deblr de chamar a Itenção d0.5 uen­seunt es. o ato de filmar torna-se sempre extremamente pre­sente: o espectedee nunca .tem a impressio de aSSistir a algode real. ma. sim a um artificio. A aç10 do filme sempre temespectadores na rua: a açlo t realmente uma ficção. as per.IOnagens slo realmenle at6re. e o espectador qu e esti na salat como que1m upKtIldor 10 segundo grau. Essas peslO.3S. aquem sobra unll poucos segundos diãrios de vida. tornem-seno filme con mpladorts, espectadores passivos do dr ama dosImigrantes: t um trata men to nôvc. no quadro do cinema bra.sileiro, que Certes Dleguee dA à .Jasse ;r.tciil. O e!c:i tO ecen­tua-se quando ti tl ÇeÔlI:" se turl"lis menos :'Jtü!iatl<l: pe r cxtmvlo.

'pa morte de Jl'ld o e Luz/a : os espectl'\dor~s da rua n.io esti.opresenciando um auassinato, mas sim uma fIlml gem que tum dwerneeaec a mais qu e li ra a oferecer as fUU cariocas.Para taim, ai reside o aspecto mais a udacioso da r~hzllçiode Carlos Oiegues : l ss es espectadores passivos Iransfor mAma cidade do Rio de Janeir o num palco no qual Cah:n ga m<ll.neja a ecêc. que torna totalmente artificial.

Essa cerecrerrsuca do filme resulta naturalmenle de opçãofel!a pelo dlretor, mas também das condlç6es de filmll gem eprodução. a diflel! saber quais foram os fat6ru mais deteeet­eenees. Mas parece que Carlos Diegues ficou no meio do ca -minha. aues espectadores de rua. embora constantemente pre­sen(u.. ainda nlo o slo sufidtnttmente. A conc~o do filmet audâdosa, iDu au&. rulizaçlo f: ü zu tfiIl. cs.:; Faft

~",o;O[v,'Velmente a: Oleguu uma ml'lleír~nWia\ d\lQ:Dte U" itlmagaa. usai ag Ots fse formavam diante da cAma li mag

Page 69: Brasil Em Tempo de Cinema

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quando os canhOes vão entrar em funcionamento. um d e 'htlsta descobre um gls que tem por efeito to rnar os gastado.amive15 c amautu do trabalho. Gaseam-sc os monstros, asltuaçAo volta ' normalidade. c: o prod uto maravilhoso t usa .do cm ImbiCo nacional.

Mas, por enquanto. ainda não existem film es repeesen-~ tantes desta te.ndtnda. e t Isso prcvêvelmerue o q ue motivou

o grande sucesso obtido por A M eia-N oite LCII/J.tc/ Tua A/mI!HOJé MojJia Marins, 1965) entre intelectuais, principal _ -­mente cineastas, e o grande püblrcc. Zé do Caldo é um re­voltado cujo principal relacionamento com o mundo é o sa­dismo. e um revoltado raivoso c primArio, que bebe a p ingad~ uma macumba e come vorazmente uma coxa de galinhad.lante de u,ma peccreeêc numa sexta-feira san ta . M ojica é umCUl~asta primitivo (no sentido em que se fala em pintor pn­mitiVO), que se entregA Inteiramente: seu fi lme t um jatode líberreçâc. Suas frustrações (lamenta nl o ter filhos per tode uma estátua represmtando um mulher nua ) e seu sadis_~o (por jogo. corta dob dedos de um CAra com uma garrafa~l1ebrada 'llllnl{em o paroxismo. QUAndo ze do Caixão deixa

e lua:c.tu uua\. relaçou coo o mundo, fOrça~ scpencresapoderam-se de s~ alma, nA mai(\! aluol\oçii.o da ptrsotlagel1:.

Page 70: Brasil Em Tempo de Cinema

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Sticky Note
Tal é a tese de Glauber, e diante da qual me pocisiono receoso. Realmente é difícil defender tais preceitos de um modo axiomático, e não se partindo de determinados préssupostos.
Page 71: Brasil Em Tempo de Cinema

.-. I -L contei1do eeve formas · antigas

se era pcssrve [tentar com d llblicojli aceitas e: compreendid", pelo 9'18 1:1 cP . . ...

ente colocada em ttrmoS ex-A questão loi freqOUllelD I ue Deus e o

clusivos de linguagem. Drsse-ae por exem~ore~o de extrace-Dlsbo 'UI Terra 110 Sol tinha um lema e ~m '< b ddin1rla fOrça . prejudiCada por um~,!iAgua~ J~ Ju:::m.cl~h • j 5 'bllco Dio rc.spon~ ao aram I ca. e o pu . _ ._ .., ~ nA estava pr__aradanem.a btasilc:iro. sen.a porque a p..!u.ca O" • I -', d

L. I .. {alca "de maiof-vabarllo mte ec:tua c epar. tece.....• o . por da" NA cebla que hltformaçlo csttlica mais apura . o se PU

d"

fenômeno não passava de uma conseqütncla e uma s tuaç omais ampla. Valorizaram-se:, enfi o. fJImes como SUl/a. de Ca­coyannis. por ser um melodrama popularesco que fuia epêlc1 canção sentimental c a situações lac:lmogtneas. mas ~uetransmitia, atra\'~s dessa forma novelesca, uma forte aspira·ção .. "herdade.

Pensava-se na chanchada. Certo. a chanchada er~ o quede mais odioso se pudesse imaginar em mat~rIa de baixa ex­ploração do püblteo: tinha. porém. público, e continua rende.Oscarnc Grallde O telo e ela. faziam nos dnemas, e agorana TV ~s delídas de um grande públlco elasse m~dia . Certo,Mazu;opi tem uma v:t.$Jo reacionáda do caipira pauli!ta, massão seus fiicles que o público pllalista vaí assisti!. E propull.!:.<l 'se Maz:aropi COUlO te:na de medi!açio àque l~s que queriamcomurucar-se com o públteo.

Tai, debates podem hoje parecu grotes.cos. e não se podenegar que foram em grande parte uttrela,~as r~lI etlam umproblema muito rea l e multo maior : e clasle m~dla , seu prc­tuo pata a sociedade br&l.ilara. t1mMm do podia tu caltu­ta pr6pria nem proieto Cltttico: a ,Ieue m~dia. sem fOrça~ ar no d iltma lua própria debilidade. d o po~ia Icr­mwat um rcjetc estttico pata dar f~ e algo que.. ela es­

"" ';COQClil 11 mos como Antônio dai Mortes : somos in(.ompre·nome ,fi:l o deve lU pronunciado. fazemos cl­

a o oi1trOi-como Ailf6n!o prepara a guerra. "m:.~tre~~Mas. (.OJlo êssetem te: e Clid'~ ao povo, de fato

dàli~ela que tinhava 1,11, ente

u~ ue ,nem classe

,

ml:dia que em sua esmagadora maioria quer Ignora r lua si­tuaçJ~. nem O povo fouem seduzidos pelo cinema que se vi·

.nba fa:endo e que se vem fazendo.';I. . Não quero Justificar. com uma explicação dessa ordem.

as dificuldades de dll tribu lçlo e exibiçlo enconteades pelo ct­nema brasileiro: qualquer filme. Inclusive sem qualquer reper­cuesãc pública. desde que uplore normalmente o mercadocinematogriflco brasileiro. poderia cobrir sua~ .despe~s. T~~davla. a c.islo entre dnema e público nio faCIlita a dlsw bLl I·çio comercial, pois impede que os filmes braSIleIros possamser considerados como produtos de consumo.

O surgimento de um AntOn!o das Mortes mostra qu e ocínema brasileiro esti alcançando a meta da fase que atraves ­sa: a problemitica da classe m~dia: e. paralelam en te. nu mmesmo movimento e esfOrço. encontra cada vez mais formasadequadas a sua uprus.\o. Mas. att agora. o problema foicatar formas. Com e u c«;lo de alguns cineastas que esco,lheram suas formas no repen êrte do "cinema d o tal chamadode universal" (parodiando MArio de Andrade ) . as formas sópodl.Ilm ser po~laru: a dane ml:dia progressista quer msc­rn-se na perspectiva popular r. o dnema quer dirigir-se aopovo. O Nordeste fo~eceu algumas deua,~ Icrmes : tem um..tradiçlo musical e lJte"rla que não podiA deixar de se.- epro­ve' itadll. O ti."l.ema nur.Cd chegou a fa:el un. I ecoo 8:>5 ,\ erre.Cabra M lI.rcado P.ua Morrer. el:'. que um poete erudlro. Fer­reira Guller. abandonando a linha ccncrensta, adora .me­gralmente (ou plagia) um a forma de literatura de cordel paracomunicar um conteúdo de renovação social. Mas o patrjmó~

níc nordestino foi bastante aproveitado. e: o p rolongamento deuma atitude que tem mais de quarenta anos. Màrio de An4drade ii queria. Km qualquu Intranslgl nda. que" músicabrasileira encontrasse propositadamente suas (ormas no pc­pulArio e a música erudita de Vtlle-Lôbcs deve muito ao Icl­clcee.

O cantor popular passa a ser figura de qestaque em el­gun s Ellm.u: versifica e vende: a est6ria de ZI:.\!.o Burro. Rosae Bonitão em O Pagador d e: P rornu sas. e o próprio Cufc.ade Santo Amaro que introduz e: encerra a est6ria de A Gr1ln~de Feira. dando ao earêdc um. tom de narrativa popular: al11sdeeejeva-se que as pusonagf:D.S do filme tivessem algo de ea­tilizado que lembrasse: ~a simplicidade psicológica dos heróis,

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d. littra tu ra de cordel. t para O filme se ftz um. fol~eto pu ­blicitário em verso. respei tando em tudo os tradicionais folhe­lOS nordest inos. A lIlum<l intençào de dar ao Hlme um tom dena rrativa popular transparece em MlIrlda.:aru Vermel~o( :-.1tJ50n Pereira dos Santos. 196 1) . Quanto .. Deus c. o DIa ­bo as es trofes de estilo e ritmo popular pontuam a açao. pee­slbilit.lndo a passagem de uma parte para outraGc CO;tn~ ~doas pcrson.lgcns. Neste filme como cm A ren e nre.nesse modo de usa r a lite ratu ra p.cput.t. Beecht cstavilrrsente ao esptnte dos reali zadores. Mas apenu Deus c o la ocons eguiu assIm!!. , plenamente bSeJ recur sos. que nos outrosfilmes tlnhal:l sempre algo de . rtlfleial c exõuco. . I O

Na musica. o ftn6mcno t ex tremamente sensl~e . sf Imes podem valer-se de I:I Ílsica . pura . não tratada . e~ ê: sada com ietras e harmonia. de modo documental. em ar­rallento. nas cenas de macumba. danças e pesca.. e R.mb~m te~um papel dramAtlco. Em Deus e o Diabo. Sêrglo jcar o. U.tl­llze fielmente a harmonia popular que. associada à mU~lcaerudita de Vüla-Lõbos. passa a constituir um conjunto S611d~dando ao filme um especte de 6pera. Mas. geralmente. ê.bossa nova que recorrem os cineastas : AntOnio Car1C}CJ~b lm'00'1 ee II múatca de Orfeu de> Carnflval. de- Pór!o da~ !l/X,H:·

Ca,ro~ Li ra. c'" Gimt:", e epis6dios de Cinco Ve:l's ..';:; ~' e.tJ . ~espetáculo popl:ilsla Opi"iáo S<1~a o c,"lIment~~ : _ cmenl:'nôvo ajudou muito a musica po~ular brasileira . Na da mlllS

í J R ·nh ão a bossa nova temnatura l se. con orme . amos I ~ , ' ""uma"orlgtm similar ' do cinema : a bossa nova nasce como'decorr!ncla do fenómeno de entusJasmo que levou a classe~" a procurar nos morros a lonte da vitalJd.ade d.e .~ ~a cul-tu e nl o encontra exemplo em seu pr6prlo melO .~ IJ e a~taçjo de que um fil me ê popular por ser

~ffi~~tJIi ptQgJtJlI,U que dizem respeito ao povo. de que:va f~ popúlM'cs. e a conclusão de que .t le, ê

fttiiíado.. . compreendido por um pub lJco16' e • conElaio 'multo gtllnde se es-

te . Uii t&mo de D s e o Diabo.Iii. os ai iUfJc.ados: ? .fl1a:.e

~Jj ~ue büncu :ente ~uli " . rque seu

tema. o fanatl.lmo. "ê produto do povo do Nordu te numllfase de subdesenvolvimento": ê popular "porque estA inXIltona perspecuve do püblico popular"; porque SUl Utrutura êdesehenante c t "utruturado cm lunção de Unta p\"t4' il pc­pular" ; é popular porque o cin~.sta "vai busC<lr sua txpres.siona chama.da sabedoria popular. Por um de..to de auto.-u_gestão. repetJndo suficientemente dete. rminada pa\"vrll. I gen.te chega a se convencer de sua veracidade. Podtrel'llos reee­tir'i anto quanto quistrmos a palavra popular: Dnu t o D_ boe o cinema brasileiro não se tornarão mais popula res por IS'"Duer que Deus e o D i.sbo ê filme popular é Idealismo e m s­Uficação.

Poder-se-ta pensar que quem està tão empenhado emfazer cinema popular pouco se importasse COm ii cultu ra ofl_elaI. Mas o elneasta brasileiro preocupa-se bastante com acultura oficial. Enquanto o cinema era dominado por Iazedo.res de filmes. comerciantes ou a rtesãos bem intencionados, aques tão não ' e colocava. Quando o cinema percebe que podevir a ser um8\ ferça cultural. Inquiet3ções surgem em relaçãoa seu pedigree. a le vai eleger um paí. pois o at'J:J.1cteema bra­stleírc u tl1 pràtlcamente sem ..ntecedentes. A, poss-btlídadesde escolha são POUt l\S : Humberto Mauro foi o eocelbldo. cc-ecerta arbitrdrieclade. porque (linda hoje sue obra continua prá ,~icamente desconhecida. Liga.se seu nome a outros da cultu ­ra nacional - Gradliano Ramos. Heuor Vtlle -Lõbcs. ("..adosOrummond de Andrade, ]orge Amado - . e da cultura tnter,nadonal. A propósito de Deus e o Diabo. cüa.se Beechr.Bui'iuel. Camus. Curosaua . Etsenstein. John Ford. Gener. Gc­dardo HorAdo. Klerkegurd, Platão. Sart re, Shakesptare. V .ccntr. o westetn e a tragédia grega, num deltr jo simlla~ aode Glauber Rocha ao tentar em Revisáo Critica do e laBrasileiro. integrar Humberto Mauro na cultura unfvena lQutr~se atingir a cultura universal pela fe rça dos pulsos.,

"Aquela frase do Deputado Eveldo Pia~, de que o er­nema brasileiro Dio t mais uma euvrdede dlvoroada das de­mais atlvidades cultu rais de nível mais alto do pais. ti umaverdade absoluta. An im. o C Jnema Ne ve conseguiu transfo'i:...mar o cJnema brufldro. ou melhor. deu ao cinem taslleirotua ca tegoria de manifeslaçi o. de exprt'$,,'qIc. a e no cu

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marães. Glaubc:r Rocha parte de um material selecionado niltradiçlo popular e reelabora cm materia erudita. f81 do sertão

... o mundo. coloca sua personagem principal entre dois pólos an­tag6nlcos; poder.se.fam atI: perceber afinidades entre o usoda elipse narrativa em G rsnde Sertã,,): Ven'da s e em Deus ,.o Diabo, assUn como certas semelhanças hlerArias entre osdJAlogos do filme e o estilo de G uimarães Rosa. Se e verdadeque, na literatura. o ascetrsec de Graciliano Ramos e o bar­roco de Guimarães Rosa representam dois pólos cerectensu­coa da cultura brasileira. Vidu Sl:cas e Deus e o Diabo deramao cinema as feiçOes principais da cultura que a burgueSiabrasileira elaborou.

Se o cinema brasileirQ tivesse aspira do d ser de Iate po­pular. essa vontade de erguer-se ao "nível mais alto" de quefala Nelson Pereira dos Santos entraria em con tradição coma outra aspiração. Essa categoria. essas outras artes, são tt

cultu ra oEicial. amplamente aceita pela burguesia. Tal cultltra .embora Ireqüentemente de inspiração popula r. e Justa mentede.uso pnvado da burgucsia. e a cultura d e boa qualidadepara o consumo de. elite da classe m~dia . e o povo encontra-sefora do ctreunc em... que circu la . O cíneraa brll~i!eiro teve etem a Intenção de tl\m.:r.r-se nobre. E, ma is um... vee . enccn­tr1t":!o! o CillCtll:\ br1l31leit\J oscil.ndc ect..<t dois p610s ' cl.llt l.l t:lpopular e cll/tl:ra ofida!.

Mas t evidentemente n. cultura burguesa e não na pc­pula~ ~ue. pela temAtJca e pela forma. se inscreve o cinemabrasilelto. Se. por volta de 1960, a s obras resultam Ireq üen­temente de um projeto politico consciente, nem sempre tcctde.e os cineastas colocam tOdas as suas intenções ao ntvel doccmeedo. aos poucos, por um processo de sedi mentação gran ­de parte do Significado deixou de ser tão COnsciente e passoupara a estrutu ra. ROnl. F irmino. T 6nlo, Ant6nio C1u M()ftes~epresenta.m um processo de sedimentaç ão e, o q ue t de maiorImportânCia. êsse processo não se dA apcn,\s em relação Aobrade um d íretor, mas sim em relação a um conjunto de dtretcres.ao cintma como obra ccleuv• . Se seus a utores podiam (oupensavam poder ) explicar. em ttrmOI claros o comportamentodas personagUlS de Cinco Vf:zcs Falleh~ jA G!auber Rochan!o mais consegue expUc.r Atlt6nlo das Mortes em sua tota­lidade. Isso porque. eece-ee. cintma braeüefrc JA t expres-

• •

ea". di: :-.'Hsoll Pereira dos 5..nl05;" e Paulo~ Ct~f~~rllcen lt ainda mais claro: o' A lig. çio dos cJnu.stas ~co~....Cj,\,.;,.rpman.cisUls. longe de tornar o cinemallruArJO. a C.l~J(.co~ todocampin o de inferioridade que o dilema tinh.irt~!! com

" " .outras artes . )tluq. ' 1.•1

Apeja-se para Ccaeiliano Ramos. Guimllrães Rosa, JorgeAII:lado. Cados Drummond. Jorge Andrade. José ~'Llns ,doRtgo. Cabe ressaltar que se '5 vhes a adaptação de obra lite­rária não passa do aproveitamento de um titulo conbe~do dopublico ou de um enrêdc iA pron:o: fr,cqUenttmcntc. dJrct~resc rOteiristas entram num verdadeiro diAlogo com o tex to nre ­ráno. J:: o que se dá com Vidu Sicas. A '!ora e Vez d e. A~ .gusto M a/raga. Menino de Engcnho, que sao obras de cnaçsocincmlltogr.llflca baseada numa realidade concreta e nu~a eee­Ildade Jiterâria. Nesses casos, não hA qualquer empcbrecímenrcdo trabalho Clne:llatogrA!iCO. Outrossim, o aparecimento quaseque simul tAnc:o de Vidas Sicu e Deus e o Diabo na Terra doSol deixou bem claro o entrosamento do dnema com o melho rde nossa cultura. f atos culturais, tsses filmes o sio porquesuas estruturas reflet em estruturas da sotiedade brasijcirD , eporqu e não são cópia! da realidade: l'eu rulismo provêm deUIII ;\ inteira reelAboração cW realidade, 6bvia em Deus e oDiabo, que !e cclcce num plano quase alegórico. 1III\S r.30menoa senslveJ. embola mai" dlsCltta. cm Vidas Stcas. Aindaque a fita ten ha um aspecto e inclusive I sabor documentA­rio. nada nela e documentArio, Por ou o lado. essas fitasopõem-se fron talmente. O ascetismo. o rJg r clAssico de Vidas~iG, . conuasta com a exubcrlncia; h..rr6<::a de Deus e o Di"'"bO e Se .relaciOna com . obra de Guimarães Rosa.1:lcus e oDiaJió í l44e a uma linha cultural em que enccntremcs Os

ert de Euclides da Cunha. Seara V e(melh. de Jorgelli7ii"~'io (Deus c o Diabo exprime multo mais - e ultr3passa! o livr de orge Amado do qu~ o filme baseado no ro­mance caM I r ug~inu di: Rui Facó, cuja' tese se• eJ' iliii a II d.e Vm••L6bos. mas t com

ifãiiiIã QU ta aliAJdadu. Como Gcr-

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séc de uma ccleuvídade. Antônio das M ortes tem sõbr e parteda sodedade brasllelrn um efeito de catarse que um F lrminonão conseguia ter. ESS3 catarse tndepende de posiçõesideológicas: tanto um Alex Viany como um Moniz Via na re­conhecem em Ant6nlo uma peuonagem fundamental. O mes­mo processo de udimentil ção p roduz-se simultAneame nte emrdação à forma. Inicialmente. falava -se em procurar racional­mente uma forma para, .~... CÍn"ema brasileiro. Hoje. o cinema.independentemente das ooras individuais de cada díretor.apresenta form as que não resultam apenas de uma procuradeliberada. m MI que JA sAio frulM d e um trabalho coletivo doscineastas que expressa parte da sociedade brasileira.

D IALo GO E F OTOGRAfIA

-Vidas SéClIS, Sendo prãucernente mudo, o problema tt cnlcot menor e. lJs veees. não importa que não se entendam têdas palavras. antes pelo contrêrío. como ocorre nos dOb m ~~Jogos superpostos de Sinhã V .:6ria e de Fabiano. Mas onsoluç30 tamlH:rn t realista e esreuca: o sertanejo laia pou~s.r.a rartfllç.llo da comunicação verbal corresponde ao nível e e

•' pn-

m ne em que vivem essas personagens condicionadas peloessencia l. Outra solução rica e original. de cunho CXPftu ivoe est éucc. t a apresenta da por ~cus e o Diabo. em qlJl:' seconjugam. po r um Jado. a IaconlClda de da introduc;ão (.nte~do Inicio da revolta ) e a existente. durante todo o filme entr eManuel e Rosa. e . por ou tro lado. o delírio verbal eerrespee;den te ii alimaçlo (M anuel sonhando com um futu ro feh:as declama ções do beato e do cangaceiro) e o cante que acom­panha e comenta a açAo. O cinema-verdade. gravando entre.vistas, respeitando a expressão, o vecabuláne, o n tmo da f. l.cotidiana. serll um grande auxilio para a conquista de um dll .lugo brasile~' o. A abundlnda de diálogo em O D esafio ,1revela a aqu ição de uma fala espontânea. para o que con­tr ibuiu o eme e-verdade : t um fenômeno estencc que expres-s..l uma reehdede ~ocia l '

Outro especte dessa busca de urna forma b;as llel.r", c afotografia. Os fot6eufos c i] ull1 ir.ac!?res da V er<'l Cru1, CI ._ura~ um c.iaro-ucuro rebuscado. uma IoJ: trabalhada pelorebatedor, pelo rel letoe e pelos f:lt ros, Era a unlca u colil. defotogralia do Brtisil e ecnnnua tendo seus adeptos. nu mWalter Hugo Khouri ou num FJa'wto T am bellini. Embora niose possa rejeita r ststemancamente asse tipo de fotogra fia. de­ve-se reconhecer que não está ap to a expressar a luz br&Sl_lelrl. O C~ "g.ceiro. produção da Vera Cru%., fotograf&da porChíck Fcwle, obtem efeitos de lu: que nada t!m a ver com aluz qU I: en\'Olvi.3 os cangaceiros Du rante as ftlmagens geBarrIt L·rnto. Glauber Recha b~iga com T oni Rabatonl e, d li

a lenda : hega a j('lga r no mar os tntru mentos de escc ....luz. POIS a luz bra~ileira não é esculpida. não valoriza. 01ob/etos. nem as côres: ela acha ra, queIma. A procura dessaluz ua tanto mais imperiosa porque o ambiente corrente @dnema era o Nordeste e a esmagadora percc:ntllg V1 da ii.magens se rula 00 ar livre.

Mas niio se trata de reproduzir fielmente I aoê precise uma elaboração que chegue a u ln rPr

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cinema brulleiro nlo slo integradas na sociedade. Os Fabia.nos. os Manutlt. slo por ela explorados e rejeitados. e o

.. homem abandonado,'e seu '.mbiente 'nlo t uma constnJção dealvenaria. mas sim 'a j própria natureza. Ac.rescente_se a issoque as cenogra fias feitas em estúdio. • ltm de em geral seremde mAl qua lidade . ~nâo" satisfazem •• exJgtncias de realismo ecalram em descrtdito quase no mundo mt eírc: que filmar emexterior ou em a mbientes natura" t multo mais barato. e êsseloi um Iatcr determinante. Deve-se acrescentar qce-es filma­gens em exte rior slio. desde os anos 20. uma tradi~.io do ciontIlla brasileiro. o que se deve a obst!culos ttcnicos e eecne­micos. mas tambtm a Intenções expressivas. H umberto Ma uroconta as dificuldades de lIuminaçlio que tinha ao lilmar emíntenores, mas não esconde sua paixã o pela natureza . Os íe .tõres económicos e têcníccs n!o teriam sido sufi cientes seHlmar em exterior nlo correspondesse a uma necess idade deexpressão. 15$0 t tão verdade que os filmes a mbientados noNordeste (a vida rural também justifica o exter ior ) e em fa­velas sio O! que ttm a mais alta percentagem de exteriores ' /Ao, filmes .qilN~Il.zam a classe mtdta na cldade sio obriga_do~ a recorret malS1aos tntenoees. Nos filme! rurai! . a casa. ointerio.r. t um lugat\privi}eglado. o lugar que ju.stífica \Oma Io.tografl.a sombreada. ·COmo q ue úmida ea: relação 1 [otogu fi.l'Igru.s:va:ntnte nranca. A vida ofAaniza -5e em ""idaJ S~c"'sa parti r do mOmenlo cm q~e Fabiano encontrou uma casa : semasa. a ~Jda t a ndança. Fora vivem os cangaceIros. fora anodam os imigrantes .

Mas qu em valoriza ao máximo as relações Intenor-ext e,rior .t Gleuber Rocha . Em B8ttaVento e D tus t o Diabo. oambiente dos homens t a natureza. mar ou caa tiriga . O inre­rior. raro. torna-se assim um lugar excepcional. Em Barravtntot o lugar do inUmano. Os únicos Jntuioru slo as cenas demacumba e o velório dirigido pelo Mutre Ji desacreditado. e:o lugar da magia. da rdiglio. daquilo que entrava a liberdadee a rulo do homem. J! em DeuJ e o Diabo. o uso do interiort um pouco mais complexo. Antes da revolta de Manuel olnterJor t um lugar humano. mais humano que o exterior : Ma­nuel e Rosa moem a mandJoca e acnham com uma vida melhor.Depois da revolta. o interior ('palaS tefs cenas) t o lugardo climax: a maJor violtada do beato (o a.....in.to da crian_ça na capela) c do 'c&ngacctro (o saque da fa:lenda ) utoura

••

• •lu: . vale di~c: ti um. inttrpretaçJ.odo ~oau:ZI?: .ace:OfUSCAnlC. obtida ~ Josi Rosa c Lu1S C:rlo ~".J>araVidas StC4$. foi um vcrdldciro manJfut& d8: f 6 ~bt•.sdeito. Valdemar Lima quallfiu de .wzcf.r.:- ra '.~ lu.: ~~ con~t.guiu pata DnJs ê o Diabo. Eua luz du.:. C? h r,MIçoÍli:btancoachatado c mate: a fologralia brasileira t queÍln.aa'JjupertX~pos ta. esbranquiçad.. E. se: houver nuvens nO 'ctuif'quc: sejam

~ c:JjmiIladll~ da.,.f0cog!:.!!.ia. .s ~ guerra aos Jahorató.z:los, paraos qu,,"ú 05 matites nunca sâo sufldentes pata o bom -rencmede: SCU$ estabelecimentos. .s cssa lu: que: esmaga Manuel car­regando sua pedra I lll D eus c: o Diabo. qu e: umaga Fabiano..s a lu: de Guimllf.ics Rosa : "A luz assa ssinava demais"."

Não t apenas no , c:: 13.0 que .. fotografia t branca : a luzde: Pórto das C.ixa.f (fot6grafo: MArio Carn eiro ) tambtm éinóspita. Qualquer sombreado. aclnzentado. quaisquer mati_zes. representam uma pausa. um aUvio. Como serA a fotogra­fia dos fi lmes urbanO". d o sei. A luz suburba na de A Falecidat de um cinza pobre e deslavado. tio monótono quanto a vidadas personagens e. nas ruas do Rio. t aua e esmaga. A Ic­tografUi esbr3.nquiçada do t totalmente nova no dnema bra­siJeiro : Ed gar Brasil JAprocurava, pAta as lHmes de Humber·to Ma uro e Mário P..Jtc.to. o branco. Mas era um branco ma_tizad.:J. Jenesc c brilhante 'jUC não tinho. a agre5::1Jvidadr. dobeanro de hoje. asse branco o.grus.Jvo nãe t propriedade doBrasU: vamos encontra-lo nas paisagens rochosas e seml­de:t&tícas da Grécia de Electra (C.co~nnis ) e da Slcllla deSIJ"atore Giuliano (Prancesco RosI) . \

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csn lugares fechados. g em lugar fechado que nos t apresen­tado Antônio das Mortes. A personag em de Gteubee Rochavtve seu dra ma na solidão de um descampado. seja o mar.se a o senão. S Firm lno contra o céu. t Corisco filmado emcAma ra al ta girando sôbre a terra. t Sebllstíio dominando o. ente Santo. Os pescadores de Bsrreoenro vivem quase nus.até a manifestação sodal da vestimenta foi eliminada (só Fir­lnlno. que vem d. cidade. t inleiramente vestido) e hfl entreêles e a natu reza uma espéci e de csmcse. que o p róprio tit ulodo filme sugea. pois se rein e ta nto a um Ienõmenc socia lQ an te natural. Longos planos de ma r pontuam a ação da per-

:1ilgem que esta freqúenl emer.H: como qu e ameaçada de di­I r-se num lirismo pantelsla. Inupuadamentc. a natu reza torona-se " jo.!enta e parece respo nder a Firmino quando êste fa: amacumba. e : allga -se no suicldio de Cota, ap6s o desvirgina­::JIIenlO de Aruã ; o mar mima a na rração da vel ha contando

ma Ira de Ier.la nJa. A natureza t quase persona liza da e náod eixa de intervir quando julga neceseánc. Ê menos participan­te em. Deus e o Diabo. remando-se simplesmente ° palco doci ra::la. {Z~ aMlm mesmo uma tempest.de não deUa d e le­'0\:" r-se «u. nc o AntOnio das Mortes decide eXlero:inar os

fal:'li ti.:cs, 1'\0 lJlCl e tcdcs o~ elementos r,aturais sáo al!a l..' e~­

te va i taa dcs a terra. a ':"!g etolção~ l!I s pedrds, a luz , a am plat'a1J.:lgem dO::l inada pelo Mente SantQ.·o vento que se :ni ~ t l.ira

ii ::lUsica de Vtlla-Lõbes. asse tdurismo, ena vontade de aber­cat o drama dos homens e da natureu, encontra-se em todosos nfv s da obra de Glauber Rocha : a ação t realista e ale-

' ''''a"ó ca: musica erudita mistura-se à popular: as personagens:ExPo r m.--.k.pe a Ula e pelo eamc. pelo gesto e peja dança .

ul:l. que ji era seasível a1 BarrllVento (a gesticu laçãoe nt6 Elt"ang chega ls vezes à coreografia) torna-se

J9&a um.ll fntegra o de ódas as artes para a

ji:iií~ae um espet culo: tp coo Elsa vontade totalizadorar o I slca m oi' movimentos circulares.

r rIps. 9.:uer seja queai Rtf na tils em

• Glau-Mo

PU.M es A II I!RTOS

Outra carac terlstica formal que se repele no <;i nem. bu,­sllelro t a austncJa de conclusio. o lrlm e que acaba S6bre umaexpectativa, O filme apresenta problemas que ultrõll paUllm aspersonagens e atingem tóda a SOCIedade. As person'gen.& nioresolvem e não podem resolver tais problemas; logo. o film ecoioca em conclusão: Que vai ser dessa gente? Os problema,serão resolvidos ou nio? T al atitude de indagação tambtm selig. ao fato de que os filmes em geral apresenta m os preble aspopulares aos dirigentes e não espetam do povo. toluçio. A8çio de A Grande F~irD. completa-se e se a hlme fica emaberto t graças .0 comentaria do cantador: a grõllnde rdlõllcontinua; o mesma ocorre com Sol Sóbre " L.ma : ·' Mas aluta continu.... di : Valente.

Recurso às vhes usado t o primeiro pla no final: Q ual sc~ao futuro do menino favelado cujo reste é ue ponto de iater­rogação no fi~de Meninos do Tktt1 Q ue reserve a ....da aT Onio no fim e Bahia de Todos os Sanros? Recurso maisforte t a Ida. a marcha. a corrida. P ara onc!d Pata UI%l Ie turoou um lugar duconhecido onde poderão ser resclvíd os prc­blemas, ou paUli viver eXlltamente os mtli:no: Frobi~m.!1 e:a Cluchõll fh.al do~ C"'1Upo!:.escs t:::1 MaioriõJ Ab~olut= . <l W,",

dessa gente continua e • tu a t""eOte, Ê a ida de Arui para acJdade em &rrallenrO; ultimo plano da personaget:l : Aruiafasta-se len tamente. Ê a mulher de Pórro da! Caixas que seafas ta nos tnlhos: que vai fa zer de sua \-ida? ; hbencu-semesmo? Ê a viúva de T tãc Medonho e seus dois filhos queandam na rue la de favela após o saq ue de sua casa no fim deO As.-.;;lfo ao Trem Pagador : para que destino? Ê a ecer daestafan te do garOto no fim de G ,mba : para Gimba a aç.ioacabo u, pois ele morre u. mas as circunstâncias que crlaraGimba continuam. e será o garOto, êle tambêm, um band dovitIma das condições sociais? e. a corrida de Manuel no !1mde Deus e o Diabo: atinlrira o mar que o diretcr nos apresen­ta? Sem valer-se de tais recursos, ' al ter Hugo Khoufl mdl­ca claramente no fim de Noite Vazia que n.da foi solucfonadoe que t multo provável que tudo continue como antes: e. .par•earlos. que volta a S. Paulo após sua exptosio e tambt.m.prcvêve! que tudo fique na mesma. Ê o trem que leva em..

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...bota o menino de ell.}jcnho: do [rem jA em movjJDento. umliltlmo olhar sõbee o Sal la ROM agoniundo t o prelúdIo deum futuro desconhecido. Marcelo resolver" lUas contradlçats7A marcha final de O Dcs.fio leva a petaoo.gem para um fu­turo euvc ou para a permanenela de um:prc!cnte que esta gna?

As vêees. algur.s planos docum~~i~s ·. desligado. d.açAio .uimilam essa personagem de futUro mcenc a um con­jun to sodaJ : M eninos do Tirtl. S'o Paulo S/ A . ou 'as arqul.bancedn r~Jt t. ' d_!It' estédlo de futebol cm A Falecida.O que melhor reserve UM tentativa de . lgnlEicar que o filmenão acabou e que todos os problemas ficam para resolver, lterminar o Wme como se Inldou : t o que FlAvio Rangel Eu emGimba. ou Geraldo Sarno cm Vir.mundo. que se abre e seencerra com a chegada dos nordestinos . S. Paulo. Ma, olilmc que mais dA a noç.io de ciclo fechado t V idas Si cas: aUUUlura do film e obedece ao sucedu das estaçOU. acabacomo COlIltÇOU: Fabiano e sua famllia. expulsos pela sêce.andando. Fecha-se o circulo e se o fillIle lica em aberto tporque, sobre os ultilIlos planos, se superpOem palavras de u~

perança de Sinhà VJIÓria.Suá que êsse In.el, tAo carecterrsucc d. ideologia do cr­

nCl:1a brasiJdro. se 7lOdificará A medida que se penetre maisludcl.1mentl" na problt mJl IIC& da cL.ssc mtdla' Sui.:l audac.iClsodeanAi, aflrmar que. se 5Ao Paulo S/A uvesse sidú 1010 háalguns aflos auás, a tra jel6rla de CArlOS ni o se encerra riacom sua volta à cidade. mas que. deixa10-se o filme msjsaberto, se passaria diretamente da SAlda a cidade para osp/.anos documentários finals7 Quanto a Falecida, não sóZulmira morre. como seu marido se seare psicologicamenteacabado e t esmagado pelo tumulto da maua ; e tambf:m Ma­traga morre,

,

abandonamos a personagem que. de costaS, se af.asta da. cê­ara parada, e a imobilidade do aparelho comunIca angustla'"I : certa tmpotfncla, enquanto que em Gimba, ao acompanhar

' I.e~ carrinho lateraL bastante de perto, o garOto que corre,. acêmare, em sua Imponibllidade de desligar-se dêle. toma m-sistentemente poslç!o em seu lavor. , '

Mas a personagem principal 010 morre no fina l do Irlm e.os obstAculos encontradOl nJo sio su(ldentes para matar umapersonagem que sempre ettCtlntra energias para p~ menossobreviver. Com a morte de Zi do Burro, O Pagador de Pro­messas representa uma excecêc ( exeecac tambtm i o Itnalcom uma _ !<ouposta - vitOria e nAo com uma expectativa ) ,Hã evidentemente, mmes em que a personagem morre. mastrata~se quase sempre de dramalhOu. mais preocupados emrespeitar certas regras dramAticas acadf micas do que emprocurar um humanismo brasileiro. Morrem tambim as per­sonagens centrais dOI lilmes de Roberto Farias : exigl:nciasdo herói,

'Essa personagem que sobrevive t quase sempre jovem,às ,·h es adcleecente ( Fabiano, que a parenta uns trinta e cincoanos, é uma das'-p'ersonagt:lls principai~ de aparfnd "J maIsvelha no recente d n\ ma brasild ro ) . e nem sunpre f o m.xo:J", a( .3o. como cm \!\da S l cas; e. inelusíve quando o t . comonos filmes de Glauber Rcche . hA lreqtlcnteIDUlte uma rendêe­cia para que a açio seja iniciada c encerrada por fúrças ex­terrcres ao grupo sccrel no melo do qual se desenrola o filme :apesar de Rosa ter matado o beato, i AntOnio das Mortesque põe um ponto Unal à aventura do Monte Santo, como àdo cangaço. Assim mesmo, a personag em t Ie ne. o ccnlun todo filme gira em tOrno dela. seu comportamento f claro suapsicologia t fAclmente identificãvel. Entendemos a personagemsob retudo atra vh de sua 8ç10 ou de suas reeçôes ao mundoexterior que se trad uzem cm gestos e açâ c . Não se procu ramergulhar nas profundezas abissais da psicologia ou da pSI ­c.nllise,. A persona\lem t apanhada ao nível do consciente,nunca nos perdemos nos labirintos do subconsciente ou doinconsciente.

Isso permanece verdadeiro ati quando as pusona gUlsnão são totalmente lúcidas, Temos Justi fjcados motivos paraduvidar do grau de conscilnda de PabJano IlbftDOS: que Ma,nuel vive duas alienaçOes : no ~ntanto, nun~;qs: Cllretores nos

"""i' : .

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Page 78: Brasil Em Tempo de Cinema

rolam penet rar na Interior dessas personalJens para dissecarsuu dU\'ida,. sua consdtncia , suas allenaç6cs. Vemos sem.pre a lIçio dessas ptrsonagens no seio d. eolenvtdede. A fOTleeSfrulura dusas persona gens lhes pouibWIIl serem. de Ime­dieta identifIcadas como tipos sociais. Fabiano c Manuel coa,densem cm si uma série de ce rec terrsuces pertencentes ii umgrande conjunto social. Manuel não é apenas um vaqueiro 'é uma \i são global do nordestino. t uma personagem típicacm qu e o social predomina sõbre o individual. Glaubcr Rochaé perfeitamente consciente dêese Ien õmenc quando diz queM..euel c Ra Ul constitucm um. faml lia normal. com II qua los espectadores se IdenlJfJcario fAcilmente. Essa afirmação éconlu t.1vc! apenu porque Mar.ud c Rosa não sio uma fam l­lia tão normal c porque a Iden tificação t mais fãdl com An­ten te das Mortes. e t dueJlIve1 que seja assim. T al a fi rmaçãoseria mais villda para VidlU Sicas. em qu e a familla de Fa­biano t de f<lto normal e em que a eliminaçio do cotidiano. doeeccnsrannal. levada. parece-me. aos limiles do pcsstvel den­tro de uma obra d e eparê ncle realista (Ir alem da fron teiraatingIda por Nelson Pereira dos Santos seria um pu lo para aa leg.,n z. ) . petmue a pl\S~ge:n quase ime~ilata de Fabteuc nioSó poI ra o ollllponb T:l"lrdestJno m3! prlrcipa lrrcnte para c

n O:lJC:J; que VIY~ r<tltrc:im:d ;, ~ ccndlçte~ ~rj;lis, da obr" par-tlcul-'l r para o peral. ,

A sol:de: da p ersonagem no cinema brastleltc , que o di­feren Cla nltid.amente cio europeu. em q'irt . a perSC'nage:n seeclIpsa . t a express!o da ideologia nadonalista que vigoravaqUlndo da re.Unção desses filmes. Não ~O o Brasil precisatransformar·se e desenvolver-se. como terebêm transformaçãoc duenvolvimento devem resulr.r da dedsJio dos homens. eessa tOnica ideológica. reaçJo natural num pais depen dentecujbS centros de declslo se encontram fora de suas fronteiras ,!lYJ: lJf;!lta M {chel Debrun ao dizer que, para os Ideôlogos

raSJ ' •. esenyolvimento n10 deve su dirigido do ex-or ii lfutar um projeto da coletlv:ldade ou de seus

mt et h kaClOl • t e a noção de projeto "expressabãstan 6 futurJ mo e o 1'01u!}tarumo do nadonalismo

,,!'~'~I er ue a comunldade pode e deve d..r~ ii o raCI Ci1ii eu latiDo se leul mtmbros

ru ponu veJs assim resolverem..... l'el1so que b se "oluntaris_mo foi o suporte mal, 1Ó1ldo da personagem. a g.ranlla desua fOrça.

A me voluntarismo, que e uma das factt.' do popullslllo.deve-se a valorluçio do individuo, da personagem isolada( FabIano, M.nuel. embora representantes de um grande con­junto soe!..1. são p«son.gens só,), e t.mbtm II austncla demassa , o que e pelo menos estranho num cinem. que se querpopular: o ccmtcro. a mamfestação de m.ssa. a ..glomeraçAode penoas em t6rno de uma idtla poltuca ou de uma açlioconjunta e prAticamente Inex istente : O Pag4dor de Prolllessas(massa que se reuniu em tõ rno de"Zt do Burro e o leva paradentro da Igreja) e Sol Sdbre .. Lam.. (.taque .II draga ) sãoexceções. e e sOzinho que Manuel corre em d,reçio a suaeventual rtvOluçio anunciad.. por Ant6n lo das Mortes. EmcontraplHtlda, a massa t apresentada em aglomerações quefazem parte integrante da vida socia l e que não tlm matl:espollticos. motivo pelo qU1l1 encont r..mos com t.manhil frequtn .«e. no docu ment.ll rio e tambem no filme de fIcção. feiras, es­taçOes, estAdll\,s.

M as comd, nesse ponto particular , a ideologia do nacrc­n.Usmo \'oluntlfl~ ut' divr>rciada da rea lidade. o suportev!râ a falhlf e a person",em nãl') poJer. deixar de mooi!ica:·se e de eníraquecer-ae . sso pol um la do. Pe e eatro. seManul:is foram eU'. egorll. as pUJ()nagens cen trais dOIl fllmes.fus serão l ubstituldos pelos AntOnios das Mortes. EntAo. a.personagens se ..Iterarlo forçosamente. porque .II unll. terl.!.i­dade de um Manuel ou de um Fabiano. suceder" a .mblgüida.de, a contrad lçl o, a huitação. a d ificuld.de de escolherCarlos de S'o Paulo S/A . inda t uma personagem eeleuve ­mente Icrte. Mas lU" Jmpossib illdade nio 10 de idulir.r.quanto mais de r(.llfrar um projeto _ ImpouibUidade essaque t a nosta - e alt de reconhecer seus problemas e o, dasociedade em que vive e de saber o que deseja. levltll. e bas­tante provAvel. .. personagens que tenderão a d tlulr-se e, even­tualmente, '0 "pIIredmento do lubconsdente.

JA temos em A F;;,lcdd" um.. pa. ·,')l'l"gem inteiramentedODrin..da pelo lubconldentc. No meio de um mundo urbano

to "Nationalisme cl Politlqua du Dheloppemenl 111 8rtsil", 196401 lrifOl do IMUI.

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~ue a perSOnagcm nAo entende e não controla. esta tenderA aaromir.r_sr. E. mais Ereqü~IHeClent e. ai pUJ.Onagens Podulomorrer no Eun dos filmes. T rata -se, t claro, de um. tendencJapro\'âvel c .s reaJi:açOes concretu nlo ddxarl o de depender~s 'liludu '$Sumidas pelo, diretoru diante d. ,itllaç.lo so­cial. Prenuncio dessa previslvel diS$Oluçlo da personagem só.lida. jA o enconu amo,J em Slo P.ulo S/A . nlo em .cados,m., na importlnciA a!sllmida no lilme pelo obJelo, pel.. sitie.pela quantidade, pela EragmenlaÇl o do roteiro c .peloretro' pecto. '

Assim. embora "pirando , 'u popular por sua lemlticac p elo publico que desejava alcançar. o reeenee cinema bra.&ilcito. Llnto o cinema de id~u como o 'rtuanal c comercialloi popular apen.s n, med;da cm que sr inspirou em proble~mas c Iceeas populares, Mas o que fh foi elaborar temAtica

lorma que expressam a problemAtic.a ela 'classe média. DeCinco Vire, F. vela Itl A Falecida. Slo Paulo S/ A e O De­ufio. passando por Deu, c o Diabo na Terra no Sol, d/viso:de Aguas do atual ci.cema brasileiro. c1aborou.se cm algunsanos uma ltm!tica que vai de uma alienação na ~quar a . classe

pretendia Jlusó:lanlent e identil lcar·se ao povo," a Uma "pcssi­bilidade concreta de .lrOll la.: WI prohlemas dessa claue...

Dois camJnhos parecem atualmentc ebertos., Dar:.do pro~.stiUimento • A Falecida. exteriorizaremos a ·altc.'l.ação daCi..,. molda. p~etr.rC1llOS n~ mCllD.dros de . aa!! conu.di.çOu expostas num nível ind ividu.: e ' psicol6gico, Si..,Pulo S/ A e O Desaf~ abrem.:.w» uma p~pectlva mais fe­cw:lda : trata-sc de um corpo a~ m. luação da classemfdta, do a~. de manifestar ~ falta d puspectJva, asçquft.dlç6a: e Jhesi taç6a. JUa depencUndll .em rc laçAo ~ bur•

. ~o tambtm apOlItar pre' 'IIente como se mani.taJ Jituaçlo e o qut' • IllOtfv.,~ ClXlteúdo. J)O!: tua peuouagena. por seu est ilo,

II~id~.;.~pa...í:Jci por.aua JdClltllicaçio com. eckc­

ldto..1Ioa I1ltlmoi' DOS no Druil t um cr-r.-dc ~ • «qua.cionar • plóble.

mfCI fnêoii ~ tia um. sa,da e.ltadJçlõ cultural

...jn maJi YlUd.i tr••... tIia...!P!Ilt~

l§al

••

promovJda pelos govemo. que le lucederam de 1956 a 19M ,Eu. 101 a prcocup41çlo exclusiva de noSlO Cinema. Pensar quefqJ popular t uma iludo. H oje. hle cinema enccnne-ee diantede quatro problemal fundamental. : levar adiante a tem'Ucada classe mtdla; enfrentar no pIano policial c cultur.l os novosrumos lom.do. pela todedade btalllcita: resolver o problemado publico (. endo um cinema clanc mtdia. nio scnsibl1lu opovo, e sendo um cinema critico. a clane mtdia o rejeita. oque faz COm que cateJa ~tualmente cortado do públlCQl.: en­contrar uma estabilidade econÓmica. lendo use Item um pr o­blema cm II e lendo tamWm relaCionado com o Item antulor.

.eSte líveo teve a pretendo de contribuir par. desmasca­rar uma iludo, não Ilpenas cinemalogrUica : o cinema brasj.leiro Dlo t um cinellla popular: t o Cinema de umll classemtdJa que procura leu caminho paUtico. social. cultural e cí ­ncmatogr'flco.

S. Pau lo--Bru llia. 1965/66

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