brasil: diferencas e integracao nas americas

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Brasil: Diferencas e Integracao Nas Americas Author(s): Manoel Francisco do Nascimento Brito Source: Journal of Inter-American Studies, Vol. 9, No. 1 (Jan., 1967), pp. 7-21 Published by: Center for Latin American Studies at the University of Miami Stable URL: http://www.jstor.org/stable/165154 . Accessed: 08/05/2014 15:41 Your use of the JSTOR archive indicates your acceptance of the Terms & Conditions of Use, available at . http://www.jstor.org/page/info/about/policies/terms.jsp . JSTOR is a not-for-profit service that helps scholars, researchers, and students discover, use, and build upon a wide range of content in a trusted digital archive. We use information technology and tools to increase productivity and facilitate new forms of scholarship. For more information about JSTOR, please contact [email protected]. . Center for Latin American Studies at the University of Miami is collaborating with JSTOR to digitize, preserve and extend access to Journal of Inter-American Studies. http://www.jstor.org This content downloaded from 169.229.32.137 on Thu, 8 May 2014 15:41:33 PM All use subject to JSTOR Terms and Conditions

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Brasil: Diferencas e Integracao Nas AmericasAuthor(s): Manoel Francisco do Nascimento BritoSource: Journal of Inter-American Studies, Vol. 9, No. 1 (Jan., 1967), pp. 7-21Published by: Center for Latin American Studies at the University of MiamiStable URL: http://www.jstor.org/stable/165154 .

Accessed: 08/05/2014 15:41

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MANOEL FRANCISCO DO NASCIMENTO BRITO Diretor do Jornal do Brasil Rio de Janeiro

BRASIL:

DIFERENgAS E INTEGRA AO NAS AMERICAS

O BRASIL OCUPA NA AMERICA LATINA uma posigao especial, por f6rga de sua formagao hist6rica marcada pelo processo coloni- zador portugues e, no piano economico, pelo potencial de re-

cursos naturais existentes em seu territ6rio de 8 milhoes e meio de quil6metros quadrados.

A diferenciagao do Brasil no conjunto de nagoes latino-americanas e pouco ressaltada, porque a imagem continental que predomina e a de um conjunto de paises caracterizados pelo sub-desenvolvimento.

Os tragos de semelhanga entre as na6ges da America Latina sao ditados muito mais pelo estagio economico continental do que pela formagao hist6rica desses paises, cujo ponto comum e a contempora- neidade de suas etapas coloniais e das lutas que assinalaram a indepen- dencia nacional de todas. De modo geral a colonizagao dos paises latino-americanos careceu de perspectiva hist6rica por parte dos colo- nizadores e se caracterizou pela expoliagao das riquezas, sem a contra- partida de uma preparagao adequada para a organizagao social e politica autonoma, e uma atividade dinamica no piano economico.

A decadencia de Portugal e Espanha como na6oes importantes ao tempo do comercio maritimo representou para a America Latina, sub- metida ao jugo colonial um atraso na preparagao de uma etapa econ8- mica que determinaria uma nova correlagao de forgas no plano inter- nacional, nos seculos xviii o xix, no advento das atividades manufatu- reiras que precederam a industrializagao.

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A heranga da dominagao politica e economica por parte de na6ges que perderam a hegemonia comercial significou um retardamento na pr6pria independencia das nagoes continentais no seculo xix. Mas, se os processos que diferenciaram a colonizagao espanhola da portuguesa deram ao Brasil uma posigao especifica no contexto continental, os resultados vieram a reagrupar todas as Na9ges latino-americanas sob caracteristicas semelhantes.

As lutas que levaram a independencia politica afirmaram novas na- goes com classes dirigentes que nao provinham de um processo social dina- mico e sim constituiam uma elite ligada por lagos raciais e politicos aos dominadores. Dai os tragos da formagao europeia que prevaleceram no langamento das instituigoes politicas e juridicas, reflexos de uma cultura importada e cuja aclimataSao deixou de ser feita. Ao longo de t6da a hist6ria politica da Am6rica Latina o irrealismo institucional iria se evidenciar nas crises que nao foram capazes de gerar solu6ges praticas.

Simultaneamente com o distanciamento entre a elite que se assenho- reou do poder e o povo que seria marginalizado na vida politica, mantido no analfabetismo e em niveis de subsistencia contrastante com as classes dirigentes, o dominio da terra se constituiu na heranga tratgica para t6das as na6ges latino-americanas. 0 latifundio se tornou o grande obstaculo a evolugao economica do Continente, cujo despertar para a tecnologia se faz simultaneamente corn o adensamento popula- cional, sem que se tenha precedido de preparagao democratica e numa sociedade dominada pela sobrevivencia de formas arcaicas, impeditivas de um escoamento social adequado.

A violencia que marcou o processo de formagao nacional nos palses sob dominagao espanhola constituiu-se numa caracteristica ainda presen- te nos epis6dios politicos de todos eles. A presenga de figuras militares na chefia dos governos e a tomada do poder pelas armas e generalizada. E em todos os paises de origem espanhola as F6rgas Armadas sao ins- trumentos de poder polltico direto, quase sempre a servigo de oligar- quias cuja f6rga assenta na propriedade da terra.

Ao contrairio das nagoes emergentes da colonizagao espanhola, o Bra- sil - exceto na fase de preparagao da Independencia e na consolidagao de sua autonomia politica - conheceu sob o dominio portugues uma con- vivencia social, que integrou os negros trazidos da Africa como mao de obra escrava e os indios tambem submetidos ao regime de cativeiro, numa sociedade em que a viol6ncia se atenuou paulatinamente.

Desde cedo as Forcas Armadas brasileiras evidenciaram um sentido

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BRASIL: DIFEREN,AS E INTEGRA,AO NAS AMERICAS

de identificagao com os sentimentos nacionais e populares. O Exercito e a Marinha nao foram utilizados como instrumentos de agao politica. Desde cedo foi reservada as Forqas Armadas a posigao de arbitro das contendas. As lutas pela manutengao da integridade nacional e terri- torial fixaram esse carater do Exercito brasileiro. E jamais predominou na composigao da oficialidade qualquer setor social das classes domi- nantes. O latifundio manteve sua hegemonia atraves do corpo dirigente da politica brasileira. As grandes familias nao destinavam seus filhos as F6rgas Armadas e sim a politica.

Quando o Imperio deixou de refletir a confianga e a lideranga dos interesses nacionais, coube ao Exercito - sempre no papel de arbitro da Nagao - depor o Imperador Pedro II e proclamar a Repuiblica, um ano depois que a aboligao da escravatura prenunciou o fim de uma estrutura social que se fundava s6bre o trabalho cativo. O lema dos propagandistas da Republica - Ordem e Progresso - representava as aspiragoes populares e identificava a preparagao politica do Exercito para o exercicio do papel que lhe estaria reservado no processo de evolugao brasileira.

Sao estas algumas das diferengas que separam o Brasil do conjunto de na6ges latino-americanas, embora seja um trago comum a t6das elas um conjunto de problemas semelhantes, desde a sobrevivencia de formas sociais e politicas superadas, ate no potencial economico variavel de um para outro.

Em decorrencia da imagem de paises com problemas em comum politicos, sociais e economicos - a politica continental se faz tambem sem a diferenciagao das caracteristicas pr6prias de cada pais. No entanto, cada uma das Nagoes da America Latina deveria ser entendida e ajudada especificamente, pois a despeito da formagao hist6rica contemporanea a evoluiao de cada uma delas seguiu curso proprio e adquiriu caracteris- ticas especificas.

Tao irrealista como avaliar em igualdade abstrata o caso do Brasil, de formagao portuguesa e caracteristicas nacionais indiscutiveis, com os paises de origem espanhola, e igualar a Argentina e o Chile - ja tao diferenciados em sua evolugao nacional - ao conjunto de paises que se retardarom na evolugao economica, social e politica. Paises de pesos econ6micos diferentes, como possibilidades opostas, nao podem receber tratamento igual, sob pena de perder-se todo o esf6rgo que nao distingue entre os que podem mais e os que podem menos.

Por isso a politica continental se mostra insuficiente para enca-

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minhar solugoes adequadas. A ascend6ncia dos Estados Unidos nas responsabilidades de ajuda continental acabou se identificando cor a sobrevivencia dos interesses que se opoem, nos paises onde predomina o latiffindio incontrastaivel, ao progresso social e politico, em detrimento da populagao condenada a viver em condigqes de pauperismo. Esta e a origem da instabilidade institucional no continente.

A finica forma realista de impulsionar a America Latina tem de reconhecer a impossibilidade de tratar igualmente unidades que apresen- tam caracteristicas nacionais diferentes: so uma escala de prioridades que leve em conta as possibilidades maiores de uns s6bre outros, sera capaz de apressar o ingresso do Brasil, Argentina e Chile no clube das nagoes desenvolvidas. A medida que estes se fortalecerem, assumirao natural- mente o encargo de ajudar as demais na6ges que se retardaram no processo politico e hoje apenas consomem, sem oferecer resultados, a ajuda externa que Ihes e destinada indiscriminadamente em igualdade de condigoes, enquanto outras conseguem encaminhar-se numa linha de progresso.

Ha um impasse econ6mico na America Latina e um obstaculo politico: os Estados Unidos dispensam tratamento igual a palses em fases diferentes e potencialidade variavel. Em lugar de concentrar o peso de sua ajuda economica a paises que se preparam para uma fase politica, social e economica marcada pelo progresso industrial e a elevagao do nivel de consumo, os Estados Unidos pulverizam seus recursos por todo o Continente.

A estabilidade politica e a fixagao dos regimes democraticos na America Latina estao na dependencia direta do desenvolvimento econ6- mico. Somente atraves da criagao de uma classe media cor grande poder de consumo e o aparecimento de uma classe trabalhadora liberta das liderangas messianicas e demag6gicas poderao oferecer uma contri- buigao efetiva para o equilibrio social indispensavel.

Dos tres paises que apresentam condi6ges para a estabilidade politica -Argentina, Brasil e Chile - o Brasil e que se encontra em fase de expansao economica real, embora os tres estejam atravessando um pe- riodo critico de reajustamento social e politico, depois de um periodo prolongado de inflaqao.

O Brasil ter um processo politico aut6nomo, nao apenas pelos antecedentes da formagao hist6rica, como pelo aumento populacional que lhe da hoje a caracteristica de pais de massas populares, ambiciosas de elevar o seu nivel de consumo. Destaca-se a economia brasileira do

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BRASIL: DIFEREN;AS E INTEGRANAO NAS AMERICAS

quadro continental caracterizado pelo sub-desenvolvimento: o Brasil e um pais ja desenvolvido, com areas sub-desenvolvidas.

Nos ultimos dez anos a economia brasileira realizou um salto im- portante no piano industrial: a industria automobilistica foi o veiculo de uma confianga que se apossou da classe media e a expansao da in- dustria de eletro-domesticos representou novo nivel de comodidades para grandes parcelas da sociedade, as quais estavam marginalizadas no seu baixo poder de consumo. O inicio da era de consumo de artigos indus- triais de utilidade domestica coincidiu com a grande experiencia demo- cratica iniciada ao fim da segunda guerra mundial. As grandes massas populares associaram o progresso economico as liberdades politicas, tornando indissoluveis os lagos que prendem a democracia ao desen- volvimento.

Nestes dez anos o Brasil passou a produtor de petroleo, reduzindo a importagao de combustiveis; uma rede de rodovias acelerou a circulacao de riquezas, a produgao de energia eletrica foi inten- sificada, novas usinas siderurgicas surgiram, a producao de cimento tambem se dinamizou e, em consequencia do impulso economico, abriram-se novas possibilidades no mercado de trabalho, cor maiores salarios e oportunidades para maior numero.

Embora o progresso econ6mico tenha se localizado na regiao Centro- Sul, aumentando a distancia que separa a economia das regi6es sub- desenvolvidas da faixa industrial, a elevagao do nivel de consumo gerou necessidades novas em todo o Pais e motivou a popula~ao marginalizada para necessidades novas que ela desconhecia. Assim, foram criados 6rgaos regionais de planejamento economico, a fim de preparar as areas atrasadas para uma integracao ja em processo. Nos pr6ximos dez anos as regi6es sub-desenvolvidas terao dado um salto importante, com reflexos sociais e politicos destinados a esbater a diferenga que inferio- riza em nivel de consumo as populaq6es dessas areas no confronto com a regiao desenvolvida. No Centro-Sul, onde ja se caracterizou o take-off, a pr6xima decada conhecera um impulso economico definitivo, com o desenvolvimento da induistria petroquimica e a expansao de um moderno sistema de telecomunica6ges.

A grande deficiencia brasileira, na fase de afirmagao economica, e o programa de educagao insuficiente para atender a necessidade de for- magao tecnica de mao de obra especializada. O sistema universitairio repousa s6bre um conceito estatico e uma organizagao incapaz de atender as demandas abertas pelo desenvolvimento economico. Num pais carente de recursos, as tarefas economicas reclamam grandes parcelas do orga-

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mento federal para as obras de infra-estrutura. A iniciativa privada tambem aproveita todos os seus recursos para reinvestir na ampliagao de sua capacidade produtiva.

A predominancia do conceito antiquado de formagao universitaria reduz a uma parcela pequena a mocidade que se diploma em nivel superior. O ensino universitirio e dado pelo Estado e, como no ensino medio predomina a escola particular, resulta que o estudante que p6de pagar seus estudos na etapa intermediaria tem sua formagao universi- taria custeada pelo Govrno.

Esta injustiga social tem conseqiiencias graves na vida do Pais, porque nao aproveita uma parcela da mocidade com capacidade para o estudo e a desvia para atividades secundarias. Da mesma forma, a alfa- betizaiao tem aumentado seus indices, mas a explosao demogrifica anula uma parte desse esf6r9o. Quando o Brasil tinha 30 milh6es de habitantes, o indice de analfabetos era de 70 por cento. Hoje, com 80 milh6es, a alfabetizagao esta em 50 por cento.

Em numeros reais, este quadro pode ser visto de outro ingulo: quando a populagao era de 30 milh6es de habitantes o nuimero de alfabetizados era de 9 milh6es. Hoje sao 40 milhoes. Por isso o Brasil conhece atualmente uma expansao das atividades editoriais que se reflete num grande consumo de livros e revistas especializadas. As tiragens de livros se tornaram surpreendentes e denunciam uma gene- ralizada vontade de aprender. Os livros mais vendidos denotam agudo interesse pelos assuntos politicos, pelas ideias democraticas, pela reali- dade internacional.

O desenvolvimento econ6mico brasileiro foi freiado pela inflagao que sucessivos governos nao quiseram dominar, e hoje a luta contra a inflagao permite antever uma estabilidade a ser alcancada em poucos anos. O outro obstaculo que o desenvolvimento tera de superar sera o programa educacional inadequado, por causa de conceitos antiquados de ensino.

Do ponto de vista especificamente politico, a historia contempora- nea do Brasil tem, no ano de 1930, a data que representa o fim do predominio agrario e o advento da industrializagao. A crise do caf6 nos ultimos anos da decada de 20, coincidindo com a crise econ6mica dos Estados Unidos e a debacle na Europa, criou as condi6ges para a Revoluqao Liberal de 1930.

A preparagao daquele movimento revolucionario comegou nos

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BRASIL: DIFERENSAS E INTEGRAgAO NAS AM]RICAS

primeiros anos da decada de 20 e teve a sua frente a mocidade militar. O Brasil tinha uma populagao estimada em 20 milhoes de habitantes e carecia ainda de massas populares. A classe m6dia era constituida de profissionais liberais, funcionarios puiblicos e empregados do comercio. A industria era incipiente e em estagio artesanal. O cafe era o grande produto econ6mico, valorizado pelo mercado internacional. O cacau e a borracha complementavam a exportagao que permitia ao Brasil im- portar quase tudo que representava o consumo de uma parcela pequena da sociedade: tecidos, utilidades, sapatos, remedios, bebidas e ate ali- mentos - todos os artigos vinham do exterior e s6 uma classe reduzida tinha poder aquisitivo para utilizi-los.

As aspirao6es nacionais de progresso esbarravam, porem, na diregao politica do Pais, entregue a um sistema representativo que se

perpetuava no poder gra~as a um processo eleitoral que nao permitia o aparecimento de uma oposigao autentica. Os governos e o Congresso eram a expressao do predominio agrario e da resistWncia as novas ideias, que propugnavan por uma reforma politica, na qual o voto direto iria conferir ao povo o poder de decisao.

A jovem oficialidade saida das escolas militares se levantou em insurreio6es armadas nos anos de 1922 e 1924. Eram capitaes e tenen- tes, que se toravam porta-vozes da nova consciencia politica nascida do desejo de modernizar o Brasil atraves da industrializagao.

Todos os movimentos militares foram dominados pelo Governo. O levante de 1924 se iniciou em Sao Paulo - centro produtor de cafe e onde comegou tambem a industrializa{ao - e cor o mal6gro do levante as tropas rebeldes se deslocaram para o interior do Pais. Uma coluna rebelde do Rio Grande do Sul se uniu aos revoltosos e teve inicio uma longa marcha de dois anos, atraves de grande parte do territ6rio nacional. !ste movimento armado constituiu um feito militar importante, porque conseguiu sobreviver por dois anos sem que as f6rgas do Go- verno conseguissem atrair os rebeldes para uma grande batalha. Numa sucessao de exercicios taticos, a Coluna serviu para desacreditar pollti- camente o Governo, porque nas cidades se fazia um debate e se mobi- lizava a opiniao publica para uma participagao ativa no processo.

Os jovens oficiais que fizeram a marcha atraves do interior bra- sileiro internaram-se na Bolivia, no Paraguai e na Argentina, onde exerceram atividade politica que se ligava a atuagao de grupos civis no Brasil. Iriam constituir mais tarde, depois de 30, os novos homens que se encarregariam de implantar a Revolugao Liberal, em cujo bojo

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vieram a industrializacao, o voto direto e secreto, e a abertura demo- cratica que iria se constituir num processo dificil.

A crise econ6mica mundial e a crise do cafe - esta condicionada por aquela - tiveram influencia decisiva na crise politica de 1930. A frustragao do movimento politico na sucessao presidencial, em conse- qiiencia do sistema eleitoral manipulado pela maquina governamental, determinou a solugao revolucionaria: Minas Gerais e Rio Grande do Sul aliaram-se para a rebeliao armada e com apoio da opiniao pfiblica nos grandes centros, num periodo de grande agitagao, o Governo foi deposto.

Costuma-se dizer que em 1930 o Brasil entrou no Seculo xx, por- que a Revolurao Liberal significou a retirada do poder ao controle agrario que havia imobilizado o processo politico. As eleigoes eram uma farsa: nao havia partidos politicos nacionais, o voto nao era secreto, as mulheres nao votavam e o poder de agao do Governo era in- contrastavel.

O advento da industrializaqao ocorreu numa Revolugao de espirito nitidamente liberal e t6da a sua motivagao foi eminentemente politica. Apesar disso, havia no pais um grande anseio de progresso. A procla- magao da Republica significou o rompimento do ultimo elo que nos ligava ao passado colonial, pois a familia imperial brasileira incarnava psicologicamente a sobrevivencia de um regime que nao foi escolhido pela vontade do povo.

A proclamaSao da Republica foi o resultado de um movimento de ideias no qual se identificaram pregadores civis e jovens militares. O movimento liberal que nao conseguiu vencer nas urnas em 1930 - por causa do sistema eleitoral viciado - representou um desdobramento natural das aspirag6es que datavam da Fundagao da Repuiblica em 1889 e incorporou o anseio nacional de industrializagao. A Repuiblica foi implantada sob o signo de ordem e progresso, lema da bandeira brasileira e definigao de dois tragos marcantes do processo politico nacional.

Mas, cor a ascengao de Getfilio Vargas em 1930 nao se en- caminhou a solugao imediata de t6das as dificuldades. Demorou o Go- verno em retomar a normalidade constitucional. Dois anos depois o Estado de Sao Paulo se levantou em armas para pedir o fim do govemo discricionfrio e a reconstitucionaliza~ao. O levante foi dominado depois de tres meses e o Governo convocou para o ano seguinte a eleiqao de uma Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a segunda Cons- tituigao da Repuiblica, votada em 1934.

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BRASIL: DIFERENtAS E INTEGRA~AO NAS AM?RICAS

A situagao mundial sofria alterag6es profundas: o fascismo domi- nava a It,lia desde o comero da decada de 1920 e o nazismo ja co- megava a preparar a Alemanha para a agressao. A supressao das fo6ras tradicionais da politica brasileira em 1930 ainda nao havia sido com- pletada por um quadro de renovagao. Reapareciam os controles politicos pelas oligarquias e o pais viveu uma fase de agitag6es. Apareceram dois partidos de inspiragao extremista: o modelo fascista europeu amparou a Agao Integralista Brasileira que copiava o programa e a gesticulagao dos sistemas de Hitler e Mussolini. O Partido Comunista ja existia no Brasil, mas vivia na clandestinidade, porque nao Ihe era reconhecida existencia legal. Impossibilitados de atuar sob responsabilidade pr6pria, os comunistas fizeram frente-uinica cor outros grupos politicos, aos quais nao estava reservada participagao ativa na estrutura dos partidos legais. Nasceu entao o movimento denominado Alianga Nacional Liber- tadora, favorecido pelo imobilismo do quadro politico consolidado em termos liberais classicos, mas insuficiente para atender a opiniao pu- blica, cuja impaciencia se manifestava claramente. A extrema direita integralista utilizou as teses nacionalistas e langou o apelo a tradigao, como forma de disfargar o seu carater ideol6gico estranho a formacao liberal brasileira.

Enquanto se caracterizava o imobilismo liberal, o integralismo conseguiu sensibilizar uma parcela da sociedade brasileira, tanto no interior como nas grandes cidades. A baixa classe media se inclinou pelo programa de solugoes direitistas. A consolidagao de nazismo na Alemanha e do fascismo na Itflia contribuiu para o prestigio da Agao Integralista Brasileira. O apelo ao nacionalismo, a familia e a religiao asseguraram-lhe base de massa e expansao assustadora, porque o inte- gralismo dispunha de milicias populares e mantinha tropas de choque, de ac6rdo cor os modelos nazista e fascista.

O quadro de inseguranga politica enfraquecia a estrutura demo- cratica apenas liberal, destituida de conteudo social e de vontade refor- mista. Por isso, os aspectos que favoreciam o integralismo serviram tambem a campanha radical desencadeada pela Alianga Nacional Liber- tadora, um movimento de frente-uinica em que os comunistas se encarregavam da arregimentagao e organizagao das massas populares, corn o apoio de sindicatos (ainda em fase de organizagao) e a partici- pagao de intelectuais de ideias esquerdistas, bem como liberais que nao pertenciam aos esquemas politicos tradicionais.

Entre 1934 e 1937 - data do golpe de Estado que implantou a ditadura pessoal de Vargas - o Brasil teve uma nova Constituigao,

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mas viveu um periodo de agita?ao politica. A Alianga Nacional Liber- tadora foi vitima do radicalismo e o levante comunista em novembro de 1935, consumado em duas capitais de Estado, falhou no Rio de Janeiro, desencadeando uma repressao violenta em todo o Pais. A organizagao de frente-unica foi desarticulada e o Integralismo comegou um processo de ascengao, pelo seu carater nitidamente anti-comunista.

Eram frequentes os incidentes e choques entre esquerdistas e inte- gralistas. A agitagao se prolongou ate a campanha eleitoral de 37, ate que - a um mes da sucessao presidencial - em novembro, Getfilio

Vargas, que f6ra eleito presidente pelo Congresso em 1934, aboliu a Constituigao e estabeleceu o Estado N6vo, outorgando ao pais uma nova carta politica.

Depois de implantar a ditadura, Vargas comegou a manobrar contra os integralistas, ate que eles tentaram em maio de 1938 um assalto ao Palacio Guanabara sede do Governo no Rio de Janeiro. O levante malogrou tambem e Vargas se consolidou no poder. Empreendeu uma repressao violenta ao integralismo e se beneficiou da situagao interna- cional, que se mostrava favoravel aos governos fortes, de inspiragio direitista. O Estado N6vo foi uma ditadura inspirada no modelo fascista, mas o ditador nao era um homem de convicg6es. Nao tinha sentimentos democraticos, mas o ceticismo de sua formagao politica e a asticia aliada a habilidade nao constituem atributos de regimes fascistas.

O Brasil viveu oito anos sob uma ditadura que exerceu contrOle implacavel s6bre a imprensa, fechou o Congresso e aboliu qualquer forma de eleigao. Com o inicio da guerra e os 8xitos do Exercito alemao, na primeira fase do conflito, o Estado N6vo se mostrou brutal na repressao a qualquer reivindicagao democratica. Mas, o curso da guerra obrigou a ditadura a renunciar a sua politica estrat6gica. O afundamento de navios brasileiros mobilizou a opiniao piblica e o Gov6rno se viu na conting8ncia de declarar guerra a Alemanha e a Itfilia. A partir dai fez concess6es B mobilizagao popular contra o fascismo. As id6ias de- mocraticas impuseram-se num crescendo, ate que no inicio de 1945 ruia a ditadura.

A redemocratizagao foi feita ao ritmo da vit6ria aliada, na ofensiva final contra a Alemanha. A liberdade de imprensa e de opiniao ressurgiu da noite para o dia. O Gov6rno autorizou a organizagao dos partidos e marcou a eleigao presidencial para o fim do ano. O Brasil viveu entao um

periodo de intensos debates e ativa participagao popular. O ditador foi deposto em outubro, porque pretendeu adiar as eleig6es. Foi eleito um

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BRASIL: DIFERENgAS E INTEGRA(AO NAS AM]RICAS

Presidente da Republica em eleigoes diretas e instalou-se a Assembleia Constituinte, que em 1946 votou uma nova carta politica para o Brasil.

Ate o ano de 1950 o Brasil viveu em plena normalidade politica, mas a segunda elei'ao presidencial trouxe de volta ao Poder o antigo ditador, Getulio Vargas. Em breve o Brasil conhecia os primeiros sinais de uma crise que iria se manifestar em diferentes oportunidades, ate resolver-se na forma revolucionaria de 31 de margo de 1964.

A volta de Vargas ao Governo ressuscitou velhos ressentimentos e dificultou solugoes conciliat6rias. As desconfiangas das classes produtoras em rela$ao ao antigo ditador levaram ao impasse politico. No curso de uma crise em que aceitou afastar-se do poder, Vargas preferiu matar-se para frustrar a vit6ria de seus adversarios.

No ano seguinte o Brasil realizou a sucessao presidencial e foi eleito Juscelino Kubitschek. O pais conheceu uma fase de tregua politica e se beneficiou de um surto crescimento econ6mico, que se traduziu em termos industriais, estradas e usinas hidreletricas. Mas, sob Kubitschek a inflagao foi tambem acelerada.

Em 1960 a oposigao venceu pela primeira vez a sucessao presiden- cial, elevando ao poder Janio Quadros, que iniciou um Governo de autoridade, com o compromisso de realizar reformas democraticas, deter a inflaSao e continuar o desenvolvimento.

A pequena experiencia politica de Quadros e a embriaguez da popularidade levaram-no a se incompatibilizar com o Congresso e, ao fim de sete meses de exercicio de poder, o Presidente renunciou e abriu uma crise politica que iria se prolongar por tres anos.

Quadros renunciou e o vice-presidente, Joao Goulart, teve sua posse contestada pelos tres ministros militares, sob a alega-ao de que mantinha alianga com um esquema de que participavam os comunistas. Mas, o sentimento democratico prevaleceu no debate e o Congresso encontrou a formula para dar posse a Goulart e restringir-lhe os poderes. Goulart assumiu o Govemo como Presidente da Republica em regime parlamentarista, mas iniciou negociagoes para reconquistar os poderes presidenciais.

Para conseguir a realizarao de um plebiscito, utilizou pressoes militares e autorizou a mobilizagao dos sindicatos, como pe~as de um esquema politico baseado na agitagao. O Govemo estimulava as greves e dava cobertura militar aos grevistas. Um processo de intranquilizagao progressiva levou as camadas mais altas do pais a admitirem o plebiscito

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e a reconquista dos poderes por Goulart, na esperanga de que 8le se satisfizesse. Mas, Goulart criou um esquema que nao conseguia mais controlar.

Tao logo restabeleceu o presidencialismo, Goulart iniciou a segunda etapa de seu esquema, cujo objetivo era continuar no Governo ou fazer o seu sucessor. As greves prosseguiram, enquanto a inflaqao se acelera- va: as reivindica6ges sindicais com apoio das F6oras Armadas recla- mavam aumentos salariais de seis em seis meses. O desenvolvimento foi

paralizado, gerou-se a intranquilidade social, as esquerdas pediam desa- propria96es de empresas privadas e estrangeiras.

No comeno do ano de 64 Goulart anunciou que ia empreender a sua grande luta politica, em nome das reformas sociais e politicas. Mas, nao teve como dar-lhes encaminhamento democratico, porque se tornara

prisioneiro de um esquema esquerdista, cujo radicalismo se evidenciava nos atos de violencia. Depois de um levante de sargentos em Brasilia, outro epis6dio ocorreu no Rio, onde um grupo de duzentos marinheiros se amotinaram num ato politico e fizeram exigencias que o Governo aceitou. Tres dias depois, num quadro de grande tensao politica e social, Goulart falou a um audit6rio de sargentos e anunciou sua decisao de cumprir a etapa de reformas nao-democraticas.

A opiniao puiblica obrigou o Exercito a se opor e depois de um dia de expectativas dramaticas, pelos riscos que se ofereciam no entrechoque das esquerdas com o sentimento democratico, as unidades militares de maior importancia se definiram contra Goulart, que no dia seguinte fugia do Brasil e se asilava no Uruguai.

A primeiro de abril um comando militar assumia as responsabili- dades de manter a ordem. No dia 15 o Congresso elegia um Presidente da Repuiblica e reconhecia a situacao revoluciondria que sucedeu ao Governo Goulart. Foi iniciada imediatamente a luta contra a inflagao, que foi a responsavel pela agitagao politica e social de que se beneficiou Goulart.

Um rapido balanqo da experiencia democratica que comegou em 45 e terminou em 64 permite verificar que ainda uma vez as classes politicas brasileiras nao estiveram ao nivel das responsabilidades. A Constituigao de 46 era democratica e, porque foi votada depois de uma ditadura prolongada, os seus autores descuidaram de organizar um sistema de defesa do regime.

Ao mesmo tempo que era um documento liberal e democratico, a Constituigao de 46 nao teve flexibilidade para encaminhar algumas

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BRASIL: DIFERENCAS E INTEGRACAO NOS AMfRICAS

reformas de fundo social e politico, para atender as novas necessidades do Pais. O desenvolvimento econ6mico exigia uma serie de provid8ncias que, por nao serem realizaveis sem reformar a Constituigao, acabaram se transformando em bandeiras com as quais as esquerdas se apresen- taram a frente de reivindicao6es democraticas. A classe politica foi incapaz de entender a necessidade de adaptar a Constituigao, pelo receio de que uma vez alterada ela se tornasse vulneravel a manobras politicas. lPsse receio existiu principalmente no tempo de Goulart, que nao conseguiu apoio parlamentar para modificar a Constituigao.

O desenvolvimento impulsionado no Governo Kubitschek fixou a classe m6dia numa posigao identificada corn o regime democratico, mas exacerbou tambem - principalmente nos setores inclinados as posigoes esquerdistas, os grupos intelectuias e estudantis - um estfmulo a agao politica que faz do apelo ao nacionalismo o programa emocional para aliciamento de adesoes populares.

Foi, na consciencia democratica da classe media, que a agitacao esquerdista encontrou um obstaculo intransponivel, nos anos de crise e agitagao, a partir da renuncia de Janio Quadros, ate a Revolugao de 31 de marqo. Subsistem, ainda, vestigios da pregagao nacionalista radical e as teses esquerdistas ainda tem adeptos, mas a proporgao que o desenvolvimento se impuser e a estabilidade financeira acomodar as classes sociais, desaparecerao, gradativamente, as oportunidades para o aliciamento emocional de ap6io politico.

Amplia-se, hoje, a convicgao de que cabera ao Brasil papel cres- cente nas responsabilidades continentais e que o desenvolvimento eco- n6mico nos reserva a missao de auxiliar os Estados Unidos na America Latina. Esta consciencia ja se implantou entre os empresarios brasileiros e toma forma popular, com a adesao de t6das as camadas da sociedade a tese de que a industrializagao podera abrir ao Brasil, em curto prazo, o mercado latino-americano e atraves dessa reintegragao economica continental se fara, tambem, a integracao politica.

Os Estados Unidos nao podem prover s6zinhos, a ajuda perma- nente aos paises da America Latina. No quadro continental o Brasil e o unico pais em situagao econ6mica para atingir, em futuro pr6ximo, a posigao de lideranca, num programa suplementar de ajuda. A tarefa de substituigao gradual da preponderancia norte-americana, pela ascengao economica do Brasil, secundado pela Argentina e pelo Chile, podera significar, politicamente, o inicio de uma nova fase nas rela6ges entre os paises do continente, prenunciando, tambem, um novo estagio politico.

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JOURNAL OF INTER-AMERICAN STUDIES

Existe, no Brasil, a convicgao de que isto e provavel e desejavel, mas falta ainda a certeza de que o Governo e a livre iniciativa, nos Estados Unidos, ja tenham percebido a importancia estrategica do Brasil como ponto de apoio no Continente.

S por isto que existe, no Brasil, uma permanente expectativa em relagao ao comportamento norte-americano diante da etapa de transicao econ6mica e politica enfrentada, atualmente, pelo nosso Governo. Em conseqiiencia, acentua-se o estado de espirito de impaciencia, porque t6da demora na concessao de ajuda ao desenvolvimento do Brasil acarreta nas possibilidades que se abrem para assumirmos uma parcela maior de responsabilidades econ6micas e politicas.

O desenvolvimento do Brasil podera apressar a integragao da America Latina num sistema natural de defesa, liderando os Estados Unidos para o cumprimento de suas responsabilidades mundiais, sem

preocupagao com a retaguarda continental.

A tendencia do sentimento nacionalista potencial e acomodar-se ao progresso econ6mico e social, desde que haja desenvolvimento capaz de assegurar a expansao da classe media e assegurar melhores empregos aos trabalhadores. Subjugada a inflagao e conquistada a estabilidade financeira, sera possivel alcangar um ritmo seguro e constante do desenvolvimento econ6mico. Ai o nacionalismo se esbatera em seus

aspectos emocionais, como sucedeu no periodo Kubitschek, para tornar- se uma pratica realista de agao governamental pautada pelos interesses da Nagao. Vale recordar que o nacionalismo apareceu sob formas emocionais, quando a inflagao anulou o desenvolvimento, ja no governo Goulart.

Em abril de 1964, as Forgas Armadas Brasileiras aceitaram, pela primeira vez na hist6ria brasileira, a responsabilidade de conduzir a

etapa de transigao em que se operam profundas transformag6es institu- cionais no Pais, para dotar o regime democratico de um sistema de defesa capaz de assegurar-lhe sobrevivencia natural, sem necessidade de intervenqoes militares periodicas.

A missao revolucionaria confiada as F6rqas Armadas, em con-

seqiincia da repetigao frequente de impasses politicos, aos quais os

partidos nao conseguiam dar solugao duradoura, terminara em 1967.

Apesar de ter interrompido e plenitude da Constituigao, o Governo do Marechal Castelo Branco nao pode ser apresentado como militarista, nem como uma ditadura classica. O Congresso foi mantido em funciona- mento, embora o Governo revolucionario se reserve a faculdade de editar

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BRASIL: DIFERENgAS E INTEGRAXAO NAS AMERICAS

leis de emergencia at6 o fim do mandato do atual Presidente. A liber- dade de imprensa tambem nao sofreu qualquer restrigao. Os partidos foram dissolvidos e em seu lugar organizaram-se duas agremiagoes pro- vis6rias, mas poderao aparecer novos partidos depois de 15 de margo de 67.

O grupo militar que recebeu a missao de erradicar os vicios que impediam o funcionamento normal do regime democratico tem pensa- mento politico firmado. Trata-se de homens determinados no estudo das solugoes brasileiras, desde a criagao da Escola Superior de Guerra, depois do segundo conflito mundial. Entre as convico6es doutrinarias dos militares formados pela Escola Superior de Guerra esta o principio de que os regimes democraticos sao sempre superiores a qualquer forma de ditadura. Em primeiro lugar porque se pode saber como e quando comega uma ditadura, mas e imprevisivel saber-se quando e como ela terminara.

Por isso, o processo politico iniciado sob a orientaqao dos militares da Escola Superior de Guerra, a partir de abril de 1964, por mais que tenha recorrido a formas eventuais de arbitrio, tem a finalidade demo- cratica assegurada como seu principal objetivo politico.

Ficou evidente na atual experiencia politica brasileira a fragilidade do sistema democratico quando concebido em f6rmulas abstratas, sem atender ao conteudo especifico de cada pais. Um pais em estagio econ6- mico, ainda sem a garantia de continuidade em sua produgao, nao pode praticar o regime democratico com a mesma estabilidade das nagoes equilibradas. Os conceitos classicos de democracia sao objetivos a alcangar e nao meios de aperfei~oar um processo politico sujeito as contingencias sociais e economicas de um pais ainda em desenvolvi- mento. Parece, tambem, evidente, que a democracia e um processo de aperfeigoamento institucional e na flexibilidade e que reside o segredo de sua sobrevivencia. Cada estagio de desenvolvimento politico, social e economico exige metodos adequados. A democracia perfeita s6 pode ser alcanqada quando todas as forgas sociais se encontram defini- das e a economia estratificada em suas reais possibilidades. O enca- minhamento de solug6es democraticas deve ser realista e compativel com os seus graus de possibilidade.

Para alcangar a maturidade democrftica, e indispensavel que as camadas populares e as classes dirigentes estejam identificadas corn os seus objetivos, para os quais se exige tambem que nao se oponham aos interesses nacionais.

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