brainews - edição 5 - novembro/2012

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Nos úlmos anos, a economia brasi- leira cresce em um ritmo moderado, mas ainda assim melhor do que o das grandes potências mundiais. No momento, o País é a sexta econo- mia do mundo, à frente dos países que formam o Brics, exceto a China. Foram conquistados alguns avanços em áreas como proteção a inves- dores e obtenção de crédito. Por outro lado, o Brasil tem dificuldade para o pagamentos de impostos e abertura de empresas, especialmen- te no que se refere à burocracia. Divulgado no fim de outubro pelo Banco Mundial e Interna- tional Finance Corporation (ifc), o relatório Doing Business 2013 classificou o Brasil em 130º lugar entre 185 economias. O resultado mostra piora de quatro posições em relação a 2012. Nesta edição, BRAiNews tem como tema a abertura de empre- sas, item no qual o País está classifi- cado em 121º lugar, uma colocação a mais em relação a 2012. Qualquer empresário brasileiro sabe a com- plexidade que é cumprir a legisla- ção para realizar um negócio formal no País. Para abrir uma empresa no Brasil, são necessários registros nas três instâncias (federal, estadual e municipal). Sem contar que, muitas vezes, é preciso esperar que um documento fique pronto para que outro possa ser solicitado. A edição traz ainda artigo do presidente da Comissão Doing Business da BRAiN, Antonio Carlos Borges, apontando caminhos que os governos podem seguir para tornar a abertura de empresas mais fácil, práca e rápida. nº5 • novembro 2012 publicação mensal O DESAFIO DE ABRIR EMPRESA NO PAÍS Empreendedor brasileiro enfrenta burocracia e leva, em média, 119 dias para abrir empresa, mais que o dobro da América Latina BRAINews-ed5.indd 1 12/5/12 10:20 AM

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Publicação mensal da Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN), entidade com a missão de transformar o Brasil em um polo internacional de investimentos e negócios.

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Page 1: BRAiNews - Edição 5 - Novembro/2012

Nos últimos anos, a economia brasi-leira cresce em um ritmo moderado, mas ainda assim melhor do que o das grandes potências mundiais. No momento, o País é a sexta econo-mia do mundo, à frente dos países que formam o Brics, exceto a China. Foram conquistados alguns avanços em áreas como proteção a inves-tidores e obtenção de crédito. Por outro lado, o Brasil tem dificuldade

para o pagamentos de impostos e abertura de empresas, especialmen-te no que se refere à burocracia.

Divulgado no fim de outubro pelo Banco Mundial e Interna-tional Finance Corporation (ifc), o relatório Doing Business 2013 classificou o Brasil em 130º lugar entre 185 economias. O resultado mostra piora de quatro posições em relação a 2012.

Nesta edição, BRAiNews tem como tema a abertura de empre-sas, item no qual o País está classifi-cado em 121º lugar, uma colocação a mais em relação a 2012. Qualquer empresário brasileiro sabe a com-plexidade que é cumprir a legisla-ção para realizar um negócio formal no País. Para abrir uma empresa no Brasil, são necessários registros nas três instâncias (federal, estadual e

municipal). Sem contar que, muitas vezes, é preciso esperar que um documento fique pronto para que outro possa ser solicitado.

A edição traz ainda artigo do presidente da Comissão Doing Business da BRAiN, Antonio Carlos Borges, apontando caminhos que os governos podem seguir para tornar a abertura de empresas mais fácil, prática e rápida.

nº5 • novembro 2012publicação mensal

O desafiO de abrir empresa nO país Empreendedor brasileiro enfrenta burocracia e leva, em média, 119 dias para abrir empresa, mais que o dobro da América Latina

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Page 2: BRAiNews - Edição 5 - Novembro/2012

One stOp shOp

para O brasil

O último relatório Doing Business mostra que o empreendedor brasilei-ro precisa de 13 procedimentos para começar a produzir e gerar renda. Para efeito comparativo, a média na América Latina e no Caribe é de nove procedimentos e de apenas cinco nos países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (ocde). Nova Zelândia, primeiro da lista, e o Canadá, terceiro, possuem apenas um procedimento.

Todo esse processo dura, em média, 119 dias no País, 53 dias na América Latina e no Caribe e 12 dias nos países da ocde. Na Nova Zelândia, leva apenas um dia.

O custo para o pro-cedimento no Brasil é menor que o de outros países, com 4,8 % da Renda Nacional Bru-ta (rnb) per capita na comparação com os 33,7 % da América Lati-na e do Caribe, e de 4,5 % entre os países da ocde. Ainda muita acima da Eslovênia, o país mais bem classifica-do nesse subitem.

O Brasil, com mais 90 países, não exige capital mínimo para o início de um negócio. Esse é o único item em

que está à frente dos demais; Améri-ca Latina e Caribe, na média, exigem 3,7 % da rnb per capita, e os países da ocde, 13,3 %.

Desde a estreia do relatório Doing Business, em 2004, o Brasil obteve avanços. O número de procedimentos caiu de 15 para 13, o tempo de 152 para 119 dias e o custo de 11,6 % da RNB per capita para 4,8 % (a não exi-gência de capital mínimo para o início de um negócio já existia).

Algo importante a ser destaca-do é que os dados brasileiros não

correspondem à média dos pro-cessos: tempo investido e custos de todos os estados e do Distri-to Federal. O Banco Mundial leva em consideração apenas a cidade que mais contribui para o Produ-to Interno Bruto nas 185 econo-

mias analisadas, o que significa, no caso do Brasil, somente São Paulo. Obviamente, só uma cidade não re-presenta todo o País, pois é sabido que há municípios onde o processo é mais rápido e menos burocrático, como Belo Horizonte (MG).

A BRAiN mantém conversas com as três esferas do governo para que haja a diminuição dos procedimen-tos e da burocracia por meio da cria-ção de um one stop shop, modelo em que é possível recolher todos os documentos em um único local para

serem depois distribuí-dos aos demais órgãos, agilizando o processo. O governo federal tra-balha em fase de testes com o Projeto Integrar, que criou a Rede Nacio-nal para a Simplificação do Registro e da Lega-lização de Empresas e Negócios (Redesim), cadastro unificado no qual os órgãos envolvi-

dos no processo de abertura da em-presa podem visualizar a documenta-ção necessária. A expectativa é que todas as etapas sejam finalizadas em nove dias. No estado de São Paulo, a iniciativa está sendo desenvolvida pelo Poupatempo do Empreendedor.

Processo para abertura de empresa tem 13 procedimentos e leva, em média, 119 dias para ser concluído. É preciso melhorar o processo para o País progredir no Doing Business

O brasil, com mais 90 países, não exige capital mínimo para

o início de um negócio. está à frente dos demais; américa

latina e Caribe, na média, exigem 3,7% da rnb per capita,

e os países da OCde, 13,3%.

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Page 3: BRAiNews - Edição 5 - Novembro/2012

Implantação da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios influenciará na abertura de empresas

balCãO ÚniCO dO empreendedOr para sp

Países de diferentes

tamanhos e variados pibs

mostram que é possível

obter mudanças positivas

com simples ações

O relatório Doing Business 2013 mostrou países que implemen-taram melhorias no processo de abertura de empresas. A simplificação de formalidades de registro (selo, publicação, re-conhecimento de firma, inspe-ção, entre outros requisitos) foi aplicada nos seguintes países: Albânia, Bulgária, Burundi, Chi-na, Colômbia, Comores, Lesoto, República da Macedônia, Países Baixos, Romênia, Eslováquia, Tanzânia, Togo, Ucrânia, Uzbe-quistão e Vietnã.

A exigência de capital míni-mo foi abolida ou reduzida no Cazaquistão, em Kosovo, no México, na Mongólia, em Mar-rocos, na Noruega e na Sérvia. O México eliminou a exigên-cia de capital mínimo para as empresas de responsabilidade

limitada e a Noruega reduziu a exigência em 70%.

Em países como Burundi, Chade, Guiné, Laos, Lesoto, Madagascar e Tailândia foi cria-do ou aperfeiçoado o balcão único. Guiné criou um balcão único para start-ups com o cor-te de seis procedimentos e de cinco dias. Costa Rica, Sri Lanka e Emirados Árabes Unidos cor-taram ou simplificaram os pro-cedimentos de registros. No Sri Lanka, o processo de registro na seguridade nacional foi in-formatizado e acelerado, redu-zindo o tempo em 29 dias.

Por fim, foram introduzidos ou melhorados procedimentos on-line na Lituânia e Irlanda, in-troduzindo serviço virtual para o registro de empresas, com re-dução do tempo em três dias.

Banco Mundial associa reformas com crescimento econômico e aumento na oferta de empregos

Entre as 185 economias analisadas pelo Doing Business, a Nova Zelândia é o país onde é mais fácil começar um negócio. É necessário apenas um dia para abertura de empresa, por meio de apenas um procedimento, menos de 1 % da renda per capita e sem ne-cessidade de capital social mínimo.

Em 2012, 36 economias realiza-ram reformas para facilitar a abertu-ra de empresa. Cinco outros países dificultaram o processo. Entre aque-les que facilitaram os procedimen-tos, muitos passaram a utilizar servi-ços on-line e documentos de registro padrão, que têm grande impacto no sentido de facilitar a incorporação rápida e juridicamente correta.

Burundi foi o país que mais facili-tou a abertura de um negócio no ano passado. O governo reduziu as taxas

para registros de negócios e criou um balcão único, que reúne represen-tantes de vários órgãos envolvidos na abertura de empresas processo.

De acordo com recente revisão do Banco Mundial, as reformas que facilitam o início de negócios formais estão associadas ao aumento do nú-mero de novas empresas formais e ganhos sustentados em desempe-nhos econômicos, incluindo melho-rias no emprego e na produtividade. No Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, o crescimento econômico é impulsionado pela entrada de novas empresas formais, em vez do cresci-mento de firmas já existentes. No Mé-xico, o número de empresas registra-das aumentou 5 %, e o emprego 2,2 %, após a simplificação de registro de empresas em diferentes municípios.

A BRAiN conversou com o novo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em abril desse ano, quan-do ele ainda estava em campa-nha. Em reunião realizada na sede da entidade, foram entregues a ele alguns projetos fundamentais para a capital paulista. Entre eles, o Balcão Único do Empreendedor, ideia encampada pela Federação

do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) há alguns anos e que entrou na pauta da BRAiN.

Os 13 procedimentos exigi-dos pelo Brasil para abertura de empresas atualmente podem ser simplificados utilizando o one stop shop já praticado em mui-tos países. O governo estadual

começou a caminhar nesse sen-tido com o desenvolvimento das primeiras ações da Redesim – criada em 2007 para promover a integração dos procedimentos de registro e a legalização das empresas envolvendo Receita Federal, Juntas Comerciais, se-cretarias estaduais e prefeituras – no estado.

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aprender COm exemplOs

que vêm de fOra

pequenas mudanças, grandes impaCtOs

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empresa, seria feita a comunica-ção com os demais órgãos anuen-tes, realizada no portal, idealizado sem a necessidade de qualquer outro número ou registro. Os cri-térios, porém, deveriam ser dife-renciados para determinados tipos de empresa, especialmente para as micro e pequenas.

O cancelamento das empresas também seria feito utilizando-se o portal. Por meio da certificação digital, o empresário verificaria a situação geral e fiscal, acelerando o processo de encerramento. Final-mente, se promoveria a especiali-zação do Poder Judiciário nas ma-térias inerentes à recuperação de empresas e falências.

Em resumo, medidas como es-sas configuram o caminho das pe-dras para atrair os investimentos que podem fazer o País crescer na medida de suas necessidades e potencialidades.

Antonio Carlos Borges é presidente da Comissão Doing Business da BRAiN e diretor-executivo da Federação do Co-mércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)

O CaminhO das pedras Estado deveria ajudar a superar entraves burocráticos que emperram a abertura e o fechamento de empresas

Em pleno século 21, é preciso ter em mente que o mundo dos negó-cios é ágil, dinâmico, prático e obje-tivo. Quando é necessário abrir ou fechar uma empresa, essas caracte-rísticas também são requeridas.

O Estado, que nada produz, de-pende dos resultados positivos das empresas para arrecadar os recur-sos que administra. Por isso, deve ser o facilitador e motivador para que entraves burocráticos vigentes sejam superados nos diferentes ní-veis e nas áreas dos governos.

Em que pese iniciativas em curso de simplificação dos procedimentos, é necessário avançar mais no que se refere à abertura e ao fechamento de empresas, de forma a melhorar a po-sição do Brasil no ranking do relatório Doing Business, do Banco Mundial.

Para isso, algumas ações podem ser adotadas, entre as quais a aber-tura de empresas pela via eminen-temente eletrônica. A criação de um portal único na internet permi-tiria, a qualquer cidadão interessa-do em abrir uma empresa, o acesso a todas as informações necessárias, independentemente do porte do empreendimento.

Nesse portal, estariam centrali-zados todos os processos governa-mentais dos níveis federal, estadual e municipal. Ficariam ali disponí-veis os sistemas da Receita Fede-ral, Secretarias de Fazenda, Juntas Comerciais e prefeituras, com res-pectivos formulários e demais do-cumentos. E além da simplificação dos formulários, seria desejável a integração com órgãos da União, como o Ibama, do Estado, como a Cetesb, e do município.

Outro aspecto relevante é o estabelecimento de prazos para as anuências dos órgãos públicos, findos os quais as licenças seriam

concedidas de forma automática. Ainda no tocante a prazos, é pre-ciso reduzi-los para a obtenção da licença de funcionamento dos estabelecimentos, hoje excessi-vamente demorada.

A introdução da certificação di-gital possibilitaria aos sócios assina-rem os contratos sociais a distância, com registros efetuados eletronica-mente. Igualmente automatizado pode ser o processo de enquadra-mento sindical.

Um único número de registro da empresa existiria após o cum-primento das etapas no portal. Por meio da certidão de nascimento da

O estado, que nada produz, deve ser o facilitador e motivador

para que entraves burocráticos vigentes sejam superados nos diferentes níveis e nas áreas dos governos. É necessário

avançar mais no que se refere à abertura de empresas.

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diretOria: Diretor-presidente: Paulo de Sousa Oliveira JuniorAndré Luiz Sacconato (diretor de Pesquisas), José Moulin Netto (diretor de Projetos), Luiz Calado (diretor de Relacionamento com Associados) e Pedro Guerra (diretor de Planejamento Estratégico)

integrantes da COmissãO dOing business: Antonio Carlos Borges (presidente)Abelardo Campoy Diaz, Alice Andrade Baptista Frechs, Andre Grunspun Pitta, André Sacconato, Beatriz Oliveira de Mendonça, Cristiane Leite Calixto, Eduardo Coifman, Eduardo Della Manna, Fabio Pina, Filipe Pelepka, Karina Zuanazi Negreli, Laércio Baptista da Silva, Leandro Ricci, Marcelo Fleury, Paul Wisiers, Paula Coutinho Fleury, Régio Soares Ferreira Martins, Ricardo Araujo de Deus Rodrigues, Rogério Monteiro, Tomás Cortez Wisssenbach e William Salasar (representantes)

Av. Nações Unidas 8501, 11º andar / Pinheiros São Paulo / SP / 05425-070 / +55 11 2529-7040www.brainbrasil.org / [email protected]

prOJetO grÁfiCO e COnteÚdO editOrial: TUTU / Clara Voegeli e Demian Russo (editores de arte), Carolina Lusser (chefe de arte), Ângela Bacon (designer), Cristina Sano e Camila Marques (assistentes de Arte) / André Rocha (diretor de conteúdo e jornalista responsável – MTB 45653/SP), Selma Panazzo (editora executiva), Denise Ramiro (editora assistente) e Enzo Bertolini (textos)

COOrdenadOr de COmuniCaçãO: Danilo Vivan

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