bovinos - modelo - grupocultivar.com.br · v l.34 l l l l dezembro 2004 / janeiro 2005 l genada,...

4
/ Pastagens / l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l l .32 l l www.cultivar.inf.br l v Lotação máxima A produção de carne em manejo intensivo de pastagens é uma alternativa e algumas técnicas podem promover aumentos expressivos na carga animal nas pastagens O Brasil tem se firma- do no mercado inter- nacional como gran- de produtor e se tor- nou o maior exporta- dor mundial de carne bovina. Além disso, a demanda interna por consumo de carne tem crescido devido ao aumento da população. A expectativa futura é que haja aumento do poder aquisitivo da população e que com isso o consumo individual também se eleve. Segundo projeções da MB associados (Bal- salobre et al., 2002), devido ao aumento da população brasileira e ao aumento do po- der aquisitivo, a produção de carne verme- lha terá que ser 30% maior em 2012 compa- rada com a produção de 2002. A área de pastagens não tem aumenta- do no Brasil, principalmente devido à redu- ção dos desmatamentos, à regeneração de áreas de reserva legal e ao avanço da agricul- tura. A taxa de lotação animal média brasi- leira, de 0,54 UA/ha (1 cabeça/ha), entretan- to, indica que a área de pastagens não é limi- tante para o crescimento da produção ani- mal. Atualmente, existem técnicas capazes de promover aumentos expressivos de carga animal nas pastagens, como: • Reforma e recuperação das pastagens • Pastejo rotacionado • Diferimento de pastagens • Adubação de pastagens • Irrigação de pastagens A adoção dessas técnicas para produ- ção de carne em manejo intensivo de pasta- gens deve ser feita mediante uma análise de projeto que indique qual o melhor sistema de produção para as condições de cada pro- priedade. Reforma e recuperação “Degradação de pastagens é um termo usado para designar um processo evolutivo de perda de vigor, de produtividade e da ca- pacidade de recuperação natural de uma dada pastagem, tornando-a incapaz de sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, bem como o de superar os efeitos nocivos de pragas, doenças e invaso- Devido ao aumento da população brasileira e ao aumento do poder aquisitivo, a produção de carne vermelha terá que ser 30% maior em 2012

Upload: ngolien

Post on 21-Sep-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · v l.34 l l  l l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l genada, este período pode ser estendido, não devendo, no entanto, ultrapassar

/ Pastagens /

l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 ll .32 l l www.cultivar.inf.br lv

LotaçãomáximaA produção de carne em manejo intensivo de pastagensé uma alternativa e algumas técnicas podem promoveraumentos expressivos na carga animal nas pastagens

OBrasil tem se firma-do no mercado inter-nacional como gran-de produtor e se tor-nou o maior exporta-

dor mundial de carne bovina. Além disso, ademanda interna por consumo de carne temcrescido devido ao aumento da população.A expectativa futura é que haja aumento dopoder aquisitivo da população e que comisso o consumo individual também se eleve.Segundo projeções da MB associados (Bal-salobre et al., 2002), devido ao aumento dapopulação brasileira e ao aumento do po-der aquisitivo, a produção de carne verme-

lha terá que ser 30% maior em 2012 compa-rada com a produção de 2002.

A área de pastagens não tem aumenta-do no Brasil, principalmente devido à redu-ção dos desmatamentos, à regeneração deáreas de reserva legal e ao avanço da agricul-tura. A taxa de lotação animal média brasi-leira, de 0,54 UA/ha (1 cabeça/ha), entretan-to, indica que a área de pastagens não é limi-tante para o crescimento da produção ani-mal. Atualmente, existem técnicas capazesde promover aumentos expressivos de cargaanimal nas pastagens, como:

• Reforma e recuperação das pastagens• Pastejo rotacionado

• Diferimento de pastagens• Adubação de pastagens• Irrigação de pastagensA adoção dessas técnicas para produ-

ção de carne em manejo intensivo de pasta-gens deve ser feita mediante uma análise deprojeto que indique qual o melhor sistemade produção para as condições de cada pro-priedade.

Reforma e recuperação

“Degradação de pastagens é um termousado para designar um processo evolutivode perda de vigor, de produtividade e da ca-pacidade de recuperação natural de uma dadapastagem, tornando-a incapaz de sustentaros níveis de produção e qualidade exigidospelos animais, bem como o de superar osefeitos nocivos de pragas, doenças e invaso-

Devido aoaumento dapopulaçãobrasileira e aoaumento dopoder aquisitivo,a produção decarne vermelhaterá que ser 30%maior em 2012

Page 2: Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · v l.34 l l  l l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l genada, este período pode ser estendido, não devendo, no entanto, ultrapassar

l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l l www.cultivar.inf.br l l .33 l v

ras” (Kichel et al., 1997).A caracterização do nível de degrada-

ção não é uma tarefa fácil, porém algunsmétodos têm sido propostos como, porexemplo:

Grau 1: redução na produção de for-ragem, na qualidade, na altura e no vo-lume durante a época de crescimento;

Grau 2: diminuição da área cobertapela vegetação, pequeno número de plan-tas novas;

Grau 3: aparecimento de plantas in-vasoras de folhas largas, início de pro-cesso erosivo por ação das chuvas;

Grau 4: presença, em alta propor-ção, de espécies invasoras; aparecimen-to de gramíneas nativas e processos ero-sivos acelerados.

A degradação de uma pastagem podeser decorrente de uma série de fatores que,

em muitos casos, ocorrem de forma conco-mitante. Os principais fatores determinan-tes da degradação de um pasto são: falta deadaptação da espécie semeada ao meio; máformação do pasto; manejo inadequado;invasão de plantas indesejáveis; ataque depragas e doenças; baixa fertilidade do solo;compactação do solo.

Um dos fatores determinantes da de-gradação de pastagens é a implantação deespécies forrageiras não adaptadas às condi-ções de solo, clima e manejo. As Tabelas 1 e2 trazem algumas informações sobre espéci-es forrageiras que podem ajudar no proces-so de escolha.

Pastejo rotacionado

O pastejo rotacionado permite um con-trole mais rigoroso da forragem colhida e

um melhor aproveitamento do pasto, evi-tando a desuniformidade de pastejo. Comesse sistema é possível, também, controlar afreqüência de desfolha das plantas, permi-tindo que estas se recuperem de forma ade-quada e evitando o seu esgotamento.

O período de ocupação em um pas-tejo rotacionado vai depender do ritmode crescimento das plantas e da estruturadisponível na propriedade. Quanto me-nos tempo os animais permanecerem emcada piquete maior vai ser o controle dohomem sobre o pasto e maior será a ne-cessidade de infra-estrutura (cercas, agua-das, cochos de sal, etc.). Desta forma, emáreas mais intensificadas, onde o ritmode crescimento das plantas for bastanteelevado, o período de ocupação deve ten-der a um dia. Já nas áreas mais extensi-vas, onde não se utilize adubação nitro-8

Um dos fatoresdeterminantesda degradaçãode pastagens é aimplantação deespéciesforrageiras nãoadaptadas àscondições desolo, clima emanejo

Fotos

Josim

ar Li

ma -

Embr

apa G

ado d

e Cor

te

Page 3: Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · v l.34 l l  l l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l genada, este período pode ser estendido, não devendo, no entanto, ultrapassar

l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 ll .34 l l www.cultivar.inf.br lv

genada, este período pode ser estendido,não devendo, no entanto, ultrapassaruma semana.

Para se determinar o período de des-canso deve-se levar em consideração in-formações de produção, perdas e valor nu-tritivo da planta forrageira. Quanto mai-or for a idade da planta, maiores serão asperdas e a participação das hastes na pro-dução e menor será a qualidade do mate-rial. Por outro lado, pastejos muito fre-qüentes são indesejáveis, pois não permi-tem que o potencial produtivo da plantaseja explorado e podem levar à degrada-ção do pasto. Na Tabela 3 observa-se ointervalo entre pastejos recomendado paraalgumas espécies forrageiras.

Diferimento de pastagens

O diferimento de pastagens consisteem vedar determinada área da proprieda-de no final da estação das águas para quea forragem acumulada seja utilizada du-rante o período de entressafra. A adoçãodessa técnica permite médias anuais de1,5 a 2,0 UA/ha.ano na propriedade, sen-do que sua maior vantagem é o baixo cus-to de implantação.

As espécies forrageiras mais indica-das para o diferimento são aquelas dehábito de crescimento prostrado (braqui-árias e cynodons). Deve-se evitar as plan-tas de crescimento cespitoso (que formamtouceiras como, por exemplo, as cultiva-res Tanzânia e Mombaça) e que concen-tram o florescimento em maio.

A vedação do pasto deve ser feita noterço final da estação de crescimento. Parao Brasil Central, as áreas devem ser veda-das em fevereiro, quando forem utiliza-das na primeira parte do período seco,ou em março, quando sua utilização esti-ver prevista para a segunda metade doperíodo seco.

Adubação de pastagens

A adubação é a aplicação de adubose corretivos a fim de se melhorar o ambi-ente químico do solo, dando condiçõespara que a planta forrageira expresse seupotencial de produção. Apesar de ser umadas principais técnicas envolvidas na in-tensificação de sistemas de produção ani-mal em pastagens, ainda há muita con-trovérsia com relação às recomendações

de adubação e correção do solo, não ha-vendo um consenso entre os pesquisado-res, técnicos e produtores com relação afatores como: nível de fertilidade (ex.:nível de saturação por bases) e de aduba-ção (ex.: doses de nitrogênio) adequadosa cada espécie e sistema de produção;métodos de aplicação de corretivos e fer-tilizantes (ex.: cobertura ou incorporado);e fontes de nutrientes (ex.: fosfatos natu-rais ou superfosfatos).

Estas divergências podem, em par-te, ser explicadas pelo fato da respostaà adubação ser modulada por uma sé-rie de fatores ligados à espécie forra-geira, ao solo, ao clima, ao fertilizantee ao manejo da pastagem. Além disso,o sucesso desta prática depende do sis-tema de produção adotado e da capa-cidade de adoção e implantação denovas técnicas por parte da equipe res-ponsável. A adubação de pastagens,principalmente a de reposição, deve seradotada em conjunto com técnicas ade-quadas de manejo para que a forragemproduzida possa realmente ser aprovei-tada.

Dos nutrientes considerados comoessenciais ao desenvolvimento das plan-tas, o nitrogênio é o que apresenta asmelhores respostas em termos de pro-dução de matéria seca. A resposta dasplantas forrageiras à adubação com ni-

Tabela 1Exemplos de espécies forrageiras recomendadas, considerando-sealgumas condições edafoclimáticas

Adaptado de Kichel et al. (1997)

trogênio, no entanto, é bastante varia-da. Esta variabilidade das respostas édecorrente de fatores como: espécie for-rageira; fonte do nutriente; tempo derebrota; dosagem de adubo aplicada;condições climáticas; fase de desenvol-vimento da planta; e fertilidade do solo.

A utilização de adubações nitroge-nadas tem sido bastante questionadanos vários setores ligados à cadeia deprodução animal, sendo que a ampli-tude observada nos resultados é um dosresponsáveis pelas opiniões divergentes.Além disso, é preciso lembrar que a for-ragem produzida ainda deve ser con-sumida e convertida em produtos ani-mais e que, ao longo deste processo,ocorrem várias perdas que tornam osresultados econômicos dos sistemasainda mais variáveis.

Irrigação de pastagens

Grande parte dos produtores que im-planta um sistema de irrigação de pasta-gens tem como principal objetivo redu-zir a estacionalidade de produção forra-geira e a necessidade de suplementação

Condições gerais

Solos úmidos (mal drenados) e/outemporariamente úmidos, com baixafertilidade ou solos de baixa fertilidadecom alto grau de erodibilidade

Solos de baixa fertilidade e/ou rasos(com cascalho)

Solos de baixa e média fertilidade, bemdrenados, em regiões de baixa incidênciade cigarrinhas

Solos de média e alta fertilidade, bemdrenados, em regiões com ou semcigarrinhas

Solos de média e alta fertilidade,profundos, bem drenados

Solos úmidos (mal drenados), profundos,de média e alta fertilidade

Espécies indicadas

Brachiaria humidicolaBrachiaria dictioneura

Andropogon gayanus

Brachiaria decumbensAndropogon gayanus

Brachiaria brizantha

Panicum spp.Pennisetum purpureumCynodon spp.

Setaria spp.Paspalum spp.Brachiaria mutica

8

Patrícia diz que a intensificação deve ser feita com baseem uma análise econômica do sistema de produção

Embrapa Pecuária Sudeste

Page 4: Bovinos - MODELO - grupocultivar.com.br · v l.34 l l  l l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l genada, este período pode ser estendido, não devendo, no entanto, ultrapassar

l Dezembro 2004 / Janeiro 2005 l l www.cultivar.inf.br l l .35 l v

Valor 1 = mais resistente; Valor 5 = menos resistente. Adaptado de Rodrigues (1986).

Resistência a

Tabela 3Período de descanso recomendado para algumas espécies forrageiras

Tabela 4Taxa de lotação animal em pastagens irrigadas para o verão e invernopara cinco localidades, para uma adubação de 500 a 600 kg/ha.ano denitrogênio

Período de descanso

Lotação (UA/ha) MédiaInverno Verão

Fonte: Balsalobre et al. (2003)

Tabela 5. Taxa de lotação de verão e inverno em cinco regiões com aintrodução de uma área irrigada de cem ha em área total de mil ha

Localidade

Piracicaba – SPCampo Grande – MSAragarças – GOPorto Nacional – TOMarabá – PA

Latitude oC

22,7120,2715,5410,435,21

* A lotação inicial das áreas não irrigada e não adubadas é de 1 UA/ha no verão e inverno.Fonte: Balsalobre et al. (2003)

Tabela 2Características de adaptação de gramíneas forrageiras tropicais

Nome científico

Andropogon gayanusBrachiaria decumbensB. muticaCenchrus ciliarisChloris gayanaCynodon dactylonC. nlemfuensisDigitaria decumbensHyparrhenia rufaMelinis multifloraPanicum maximumPaspalum dilatatumPaspalum notatumPaspalum plicatulumPennisetum clandestinumPennisetum purpureumSetaria ancepsTripsacum laxum

Nome comum

AndropogonDecumbensCapim finoBúfaloRhodesCynodonCynodonPangolaJaraguáGorduraColoniãoPaspalumPaspalumRamirisKikuiuElefanteSetariaGuatemala

Desfolha354445442134445533

Fogo443544445244444444

Salinidade---355-4---3--5-3-

Acesso de Al-5-1-5--354--5----

Acidez333125433533443443

Alagamento435223-3213244--42

Sombra-21--2----32----4-

Frio121243222224334141

Seca321533233233332222

do rebanho no período “seco”.A produção de forragem depende de

fatores ligados ao clima, ao solo, à plantae ao animal, além das interações entre osmesmos. Dentre os fatores climáticos queinfluenciam o desenvolvimento vegetal,pode-se citar: precipitação de chuvas (in-terfere na umidade do solo), luminosida-de, fotoperíodo e temperatura.

A aplicação de água elimina (ou re-duz) os efeitos do estresse hídrico sobre aplanta, aumentando a produtividade dopasto. Desta forma, a irrigação será inte-ressante em situações em que a produçãoseja limitada, principalmente, pela faltade água. Em diversas regiões do Brasil,no entanto, o desenvolvimento das plan-tas forrageiras no período de entressafraé limitado também (ou principalmente)pela temperatura e por outros fatorescomo luminosidade e fotoperíodo.

Devido à limitação climática (tem-peratura e luminosidade) as pastagensirrigadas podem piorar o efeito da sazo-nalidade de produção forrageira. O di-ferencial de resposta da produção dematéria seca à irrigação entre os perío-dos de verão e inverno será determina-do, principalmente, pela latitude do lo-cal. Balsalobre et al. (2003) utilizarammodelos de simulação para definir a taxade lotação média de cada localidade e adistribuição da lotação entre verão einverno (Tabela 4).

A partir desse dados, é possível pre-ver que a introdução de irrigação em 10%da área total de uma propriedade de milhectares poderá, no período de inverno,determinar menor capacidade de lotaçãoda fazenda (Tabela 5). Essa diferença nacapacidade de capacidade suporte serámaior nas maiores latitudes.

O planejamento da forma como seráutilizado o restante da fazenda permitiráum equilíbrio entre a lotação de verão einverno.

Considerações finais

A intensificação e a adoção de novastécnicas deve ser feita com base em umaanálise econômica do sistema de produ-ção como um todo. É importante lem-brar, no entanto, que para a realização desimulações são considerados vários índi-ces zootécnicos que precisam ser atingi-dos. Do contrário, a simulação torna-seinválida e os resultados esperados não seconcretizam. É necessário, portanto, es-colher índices realistas considerando-se ascondições da propriedade e, principal-mente, acompanhar os resultados obtidosa fim de detectar, com a devida antece-dência, possíveis desvios em relação aoque foi planejado.

Espécie

ColoniãoTanzâniaTobiatã, MombaçaBraquiária decumbensBrizanthaEstrela

Verão35 dias35 dias28 dias35 dias35 dias25 dias

Inverno45 dias45 dias45 dias45 dias45 dias45 dias

Localidade

Piracicaba – SPCampo Grande – MSAragarças – GOPorto Nacional – TOMarabá – PA

Latitude oC

22,7120,2715,5410,435,21

5,254,686,137,117,61

7,166,276,957,797,67

3,342,915,316,417,55

Verão(UA/ha)

1,621,531,601,681,67

Inverno(UA/ha)

1,241,191,431,541,66

Déficit(UA)

38233616413812 Patricia Menezes Santos,

Embrapa Pecuária Sudeste