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BOTÂNICA na GALERIA DE HISTÓRIA NATURAL - Texto e fotografias - @Ana Cristina Tavares Ana Cristina Tavares - Museu da Ciência da Universidade de Coimbra - [email protected] 1 BOTÂNICA na GALERIA DE HISTÓRIA NATURAL SALA VANDELLI Quantas coleções do mundo natural e séculos de história natural aqui presentes neste magnífico salão? Coleções do reino animal, mineral e vegetal, acompanhadas por obras de história natural desde o século XVII, em exposição, numa recriação do Gabinete de Curiosidades de Vandelli. O côco-do-mar Para além da morfologia peculiar, o côco-do-mar é a maior semente do mundo (pesa 15 a 20kg). É produzido por uma palmeira (Lodoicea maldivica) dioica (sexos diferentes em plantas diferentes) e endémica das ilhas Seychelles. Durante muitos anos, os navegadores pensavam que crescia no fundo do mar, uma vez que só o encontravam a flutuar. A floresta natural de côco-do-mar na Reserva do Vallée de Mai (ilha de Praslin) foi inscrita pela UNESCO em 1984 na lista dos sítios que constituem Património Mundial. Modelos de cogumelos Conjunto de Modelos de diferentes Basidiomicetes (vulgo cogumelos), Reino Fungi.

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BOTÂNICA na GALERIA DE HISTÓRIA NATURAL - Texto e fotografias - @Ana Cristina Tavares

Ana Cristina Tavares - Museu da Ciência da Universidade de Coimbra - [email protected] 1

BOTÂNICA na GALERIA DE HISTÓRIA NATURAL

SALA VANDELLI

Quantas coleções do mundo natural e séculos de história natural aqui presentes neste magnífico salão?

Coleções do reino animal, mineral e vegetal, acompanhadas por obras de história natural desde o século XVII, em

exposição, numa recriação do Gabinete de Curiosidades de Vandelli.

O côco-do-mar

Para além da morfologia peculiar, o côco-do-mar é a maior semente do mundo (pesa 15 a 20kg). É produzido por uma palmeira (Lodoicea maldivica) dioica (sexos diferentes em plantas diferentes) e endémica das ilhas Seychelles. Durante muitos anos, os navegadores pensavam que crescia no fundo do mar, uma vez que só o encontravam a flutuar.

A floresta natural de côco-do-mar na Reserva do Vallée de Mai (ilha de Praslin) foi inscrita pela UNESCO em 1984 na lista

dos sítios que constituem Património Mundial.

Modelos de cogumelos

Conjunto de Modelos de diferentes Basidiomicetes (vulgo cogumelos), Reino Fungi.

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Gomas e essências

Gomas, resinas e essências produzidas por plantas (P. ex.: goma de Acacia albida - Benguela, Angola).

Famílias botânicas representadas nestes exemplares de Herbário

Cicuta virosa L. da família Apiaceae (Umbelliferae) (à esquerda) e Urtica dioica L., da família Urticaceae.

Algas em folhas de Herbário

Algas dos géneros Dictyota (à esquerda), e Gelidium (as duas da direita), em folhas de

herbário.

Vitrina de modelos florais e estampa representativa do Sistema sexual das plantas de LINEU

O Sistema sexual de Lineu (1707-1778) foi descrito como Sponsalia Plantarum em 1746 na sua obra Systema Naturae (The System of Nature), uma classificação que tinha por base a morfologia floral. Lineu, considerado o ”Pai da taxonomia”, definiu 24 classes de acordo com o número, o tamanho e o modo de inserção dos estames e também a parte feminino, os pistilos. O sistema sexual botânico de Lineu foi rapidamente adotado por ser muito simples, contribuindo para a acessibilidade à Ciência. Embora muito didático para uma abordagem simples ao entendimento da morfologia floral (Angiospérmicas) caiu em desuso por não abarcar todas as plantas e ser muito limitado.

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A Estampa é uma ilustração de Georg Dionysius Ehret e acompanha e ilustra um conjunto de 20 modelos florais, em papier-maché, R. Brendel, Berlin, 1873-

1889, dispostos numa vitrina.

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MODELOS FLORAIS / FLORAL MODELS

Exemplos de 20 Classes (B a Y) de entre as 24 classes (A a Z) do Sistema Sexual de Lineu (1746), conforme Ilustração de Georg Dionysius Ehret / Examples of 20 classes (B to Y) from the 24 classes (A to Z) of the Linnaeus’ Sexual System (1746), as Georg Dionysius Ehret’ illustration

B Salvia/Kitchen sage Salvia officinalis BOT.00924 111

C Valeriana/Garden valerian Valeriana officinalis BOT.01024 199

D Sanguisorba/Greater burnet Sanguisorba officinalis BOT.00600

E Madressilva/ Honeysuckle Lonicera implexa BOT.01022

F Açafrão-do-prado/ Saffron-of-meadow Colchicum autumnale BOT.01216 230

230 H Urze/Heather Calluna vulgaris BOT.00877 299

K Craveiro/Carnation Dianthus caryophyllus BOT.00516 313

L Salgueirinha/Salicaria Lythrum salicaria BOT.00832

M Morangueiro/ Strawberry Fragaria vesca BOT.00598 165

N Ranúnculo/ Buttercup Ranunculus acris BOT.00526

O Betonica-lacustre/Marsh hedgenettle Stachys palustris BOT.00923

P Nabo/Turnip Brassica napus BOT.00570

Q Gerânio/ Black widow Geranium phaeum BOT.00691

R Fumária/ Fumitory Fumaria officinalis BOT.00567 255

S Hipericão/ St. John's wort Hypericum perforatum BOT.00820 140

T Centaurea/Cornflowers Centaurea BOT.01048

U Erva-do-salepo/ Green-winged orchid Orchis morio BOT.01280

V Carvalho-alvarinho/ English oak Quercus robur BOT.00434

X Salgueiro-branco/ White willow Salix alba BOT.00425

Y Figueira/ Common fig Ficus carica BOT.00455 309

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O nome diz tudo. Tem propriedades medicinais e é nativa da região do Mediterrâneo e Norte de África: qual o nome da planta que o modelo floral representa?

Salvia, do latim “salvare”; faz parte do nome e das características terapêuticas desta espécie, de nome científico Salvia officinalis L.. Nativa do Mediterrâneo (Ibéria e Balcãs) e norte de África é uma das plantas medicinais conhecida há mais tempo, como também indica o seu nome vulgar, salva, salva-menor ou chá-da-europa.

Gregos e Romanos usavam-na essencialmente como estimulante mental. Hoje, é principalmente utilizada em dispepsias hipossecretoras, transpiração excessiva e, externamente, nas inflamações bucofaríngeas. Também na indústria alimentar como agente conservante, antioxidante e como aromatizante natural. Atenção: tem contra-indicações na gravidez e aleitação, insuficiência renal, tumores mamários e de origem estrogénica.

Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim.

Muito conhecida e consumida. Qual o nome da planta que o modelo floral representa?

Valeriana, de nome científico Valeriana officinalis L. ; nativa da Europa, com exceção da zona mediterrânea, vegeta em solos húmidos, férteis, e habitats mais secos, a maiores altitudes. É uma planta medicinal com efeitos comprovados na ansiedade, transtornos de sono e de origem nervosa. Os efeitos não são imediatos necessitando de um tratamento de 2-4 semanas. Usa-se também para cólicas gastrointestinais e colites devidas a stress e em broncospasmos de origem nervosa. As folhas são usadas em tratamentos antitabágicos sendo incorporadas no tabaco devido ao sabor amargo. Não usar com outros depressores do sistema nervoso central pela possibilidade de ocorrência de potenciação de efeitos. Ameaçada de devastação, dado que as partes utilizadas para fins terapêuticos são os rizomas, raízes e os estolhos.

Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim.

NUMA SÓ CAMA Machos em igualdade (classes B a N)

Machos com subordinação (classes O a P) Machos com afinidade (classes Q a U)

EM DUAS CAMAS (classes V a Y)

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Não confundir com o primo. Qual o nome da planta em modelo e quais os principais usos médicos?

O modelo floral representa a flor do hipericão, um antidepressivo natural, de nome científico Hypericum perforatum L.. Esta

espécie é frequentemente confundida com o hipericão-do-gerês, de nome científico Hypericum androsaemum L, que é um

hepatoprotetor. A importância do conhecimento das plantas e das suas propriedades medicinais e dos efeitos interativos dos

compostos químicos, quer sejam de origem natural ou provenientes de síntese laboratorial.

Benéfica ou prejudicial. Qual o nome da planta e flor em modelo?

Digitalis purpurea L. de nome vulgar dedaleira, relativo às flores vermelho-púrpura e tubulosas ou brancas, lembrando um dedal ou

uma luva. Se em pequenas dosagens é benéfica no controlo da insuficiência cardíaca, mas um simples descuido poderá ser letal, pelo

que não se deve aplicar em fitoterapia.

Açafrão, açafrão-da-terra ou açafrão-do-prado, qual é destes, é tudo o mesmo ou… são primos, irmãos ou vizinhos?

RESPOSTA 230: três nomes vulgares de açafrão que correspondem a três géneros (Crocus, Curcuma, Colchium), famílias (Iridacae, Zingiberaceae, Liliaceae) e origens geográficas diferentes.

O “açafrão” é uma especiaria extraída dos pistilos das flores, lilás, de Crocus sativus L. (família das Iridáceas); provavelmente uma forma cultivada de Crocus cartwrightianus que surgiu em Creta e se difundiu por grande parte da Eurásia e posteriormente pelo Norte de África, América do Norte e Oceânia.

O “açafrão-da-terra” refere-se à espécie do sudeste asiático (Vietname, China e Índia), Curcuma longa L. (Zingiberaceae, família do gengibre), de cuja raiz seca e moída se prepara outra especiaria, componente do caril e também de cor amarela.

Em análise está o modelo floral do “açafrão-do-prado”, cólquico, mata-cão, narciso-do-outono, nomes vulgares da espécie Colchicum autumnale L., uma Liliaceae da Europa central e Ocidental. Uma herbácea vivaz, de habitats bem drenados, tolerando até - 20 oC. , C.

autumnale é uma bolbosa ornamental muito apreciada, pela floração outonal tardia (como o nome científico indica) e as lindas flores lilás. As plantas desta

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espécie contêm cerca de 30 alcaloides, sendo os principais a colquicina, demecolcina, 3-dimetilcolquicina e colquicósido, cuja percentagem varia nas diferentes partes da planta (cormo, folhas, cápsulas e sementes) e durante os períodos de crescimento vegetativo e de floração; o conteúdo em alcaloides é também influenciado pela composição mineral do solo, período do dia e condições e exposição climatéricas.

Colchium autumnale é considerado a planta venenosa mais perigosa dos prados da Europa central, pelos alcaloides e seus derivados, altamente tóxicos, podendo conduzir à morte de herbívoros, após ingestão de poucos mg / kg peso do corpo. O alcaloide é uma defesa da planta, protegendo-a não só dos herbívoros como de vírus e de infeções bacteriana ou por fungos.

A ação da colquicina bloqueia a mitose na anafase, pelo que C. autumnale apresenta propriedades anti-mitóticas, mas devido à elevada toxicidade não se utiliza como agente anti-tumoral; no entanto, sob estreita vigilância médica está aprovada a ação terapêutica nas crises agudas de gota e febre mediterrânea. Na agricultura tem aplicação na produção de plantas poliploides, pelo tratamento das sementes.

Os bolbos podem ser confundidos com a cebola, podendo originar situações letais também no Homem, sendo as intoxicações acidentais raras, mas com elevado índice de mortalidade (5 g de sementes dose letal para adultos e 1-2 g para crianças).

Tem nome de fumo e não é tabaco. O que é?

Fumária, o nome vulgar da espécie europeia Fumaria officinalis L., da família Papaveraceae, a mesma da papoila-do-ópio (Papaver somniferum L.), nativa da Eurásia, África e América do Norte. O tabaco (Nicotiana tabacum L.) é nativo da América do Sul e pertence a outra família, as Solanaceae, a mesma da batateira (Solanum tuberosum L.) que é nativa da América Central e do Sul, tal como o tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.). A fumária é uma planta anual, herbácea, muito discreta, de 1,5 a 4 dm, com flores rosáceo-purpúreas, dispostas em cacho, presentes desde fins de primavera a fins de outono; originária da Europa, e muito frequente Portugal, vegeta em terrenos abandonados e solos argilosos e nitrificados. As partes aéreas floridas estão indicadas para transtornos vesiculares de tipo espasmódico, canais biliares e trato gastrointestinal. Popularmente também se usa como laxante, diurético e “depurativo” no tratamento de dermatites. Os tratamentos devem ser descontínuos pela presença de alcaloides e a planta está contra-indicada em casos de glaucoma, epilepsia, hipertensão, gravidez e aleitação. Pode ainda ser utilizada como corante de lãs. Já usada por Dioscórides que a mencionou na Materia Medica, pensa-se que o termo “fumária” deriva do latim fumus que significa fumo, pela cor acinzentada das folhas e porque, quando esmagada, é extraído um suco que provoca intenso lacrimejar, como quando estamos envolvidos em fumo, ainda mais forte do que se cortamos uma cebola.

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Flor de … ou ….a

Urze ou torga, como o poeta, quando diz “…urze campestre, cor de vinho, com as raízes muito agarradas e duras, metidas entre as rochas. Assim como eu sou duro e tenho raízes em rochas duras, rígidas… “ e explica Adolfo Correia da Rocha, o médico, estudante em Coimbra (1928-1933) e transmontano de berço, a razão do seu pseudónimo Miguel Torga.

Urze, mongariça, caluna, heather, em inglês e brezo em espanhol, são nomes vulgares para a espécie Calluna vulgaris(L.) Hull, da família Ericaceae. São vulgarmente designadas de urze, não só a Calluna vulgaris, também conhecida por urze-roxa, torga, leiva, mongariça ou rapa, como a Erica lusitanica, conhecida como urze-de-Portugal ou urze-branca e a Erica umbellata, comumente chamada de queiró ou queiroga.

Arbusto de 2 a 10 dm, tortuoso, ereto ou ascendente; folhas curtas, ovadas, biapendiculadas na base, oposto-cruzadas, um tanto afastadas nos ramos floríferos e imbricadas em quatro séries nos ramos estéreis; flores nutantes, com pedicelo curto, reunidas em

longos cachos unilaterais, rodeadas, cada uma, na base de quatro bractéolas coradas, cálice lustroso, rosado ou branco, com sépalas oblongo-lanceoladas, convergentes, corola e estames inclusos no cálice; fruto em cápsula quadrilocular.

A distribuição da espécie ocorre desde o noroeste da América, Norte e oeste da Europa (incluindo Portugal) até à Sibéria. Em Portugal está presente em quase todo o território exceto alguns locais mais secos do interior sul. Vegeta em lugares húmidos e sombrios, principalmente em terrenos incultos das zonas montanhosas, de solos ácidos, localizados em depressões húmidas, muitas vezes turfosos; também em solos não depressionários nos territórios temperados ou mediterrânicos mais chuvosos. Prefere exposição solar total, mas tolera alguma sombra. Sobrevive em solos algo secos, mas não suporta seca prolongada. As plantas conseguem regenerar após incêndios.

De folha persistente, pode atingir 30 ou 40 anos, tem floração, estival ou outonal, de Maio a Novembro.

Como propriedades farmacológicas e usos médicos, tem ação antissética, propriedades diurética, depurativa e adstringente. As partes aéreas floridas são usadas nas infeções das vias urinárias, orofaríngeas e vulvares, na hiperplasia da próstata, hipertensão arterial e, topicamente, em eczemas.

As flores, ricas em néctar, atraem abelhas, moscas, borboletas noturnas e diurnas, sendo a urze considerada um excelente nectarífero, pois fornece em abundância às abelhas a substância para o fabrico do mel. Da planta obtém-se uma tinta amarela e das raízes é possível o fabrico de cachimbos, instrumentos musicais de sopro. As toiças são ainda hoje utilizadas, depois de secas, e em Portugal empregam-se muito no aquecimento de habitações, para secar os fornos de cozer pão, assim como acender o lume substituindo a carqueja. As ramagens usam-se para a cobertura de celeiros, em substituição do colmo. No passado, o carvão de C. vulgaris era muito apreciado. A terra onde cresce a torga, principalmente a das camadas mais superficiais, é muito utilizada para o cultivo de plantas de interior, sendo a torga útil para recuperar solos secos e frequentemente utilizada como planta ornamental.

Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim.

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Frutos e infrutescência, num belo modelo de ….. ….

Figo; à esquerda a infrutescência (sícone), à direita o fruto (aquénio) de figueira, figueira-brava, ou bebereira, Ficus carica L.., da família Moraceae. Ocorre em locais de clima seco, sobre rochedos, ruínas de construções humanas, falésias e em solos húmidos e profundos, entre os 0 e os 1700 m de altitude. Da Ásia Ocidental e Europa (cultivada na Região Mediterrânica desde a antiguidade, onde provavelmente seria nativa), a figueira é um arbusto ou pequena árvore que pode atingir 6 ou 8 m de altura; casca cinzenta e lisa que emana um líquido leitoso algo acre e irritante. Tem uma copa muito ampla em relação à sua altura e possui os ramos muito compridos e horizontais, incapazes, por vezes de suportar o seu peso. Os ramos são peludos, verdes ou verdes acastanhados, cobertas de cicatrizes das folhas quando caem.

As flores, tanto as masculinas como as femininas, são pequenas e estão encerradas num recetáculo carnudo e piriforme (em forma de pera), que eleva um pequeno poro apical e se apoia sobre um pé curto e carnudo; as masculinas situam-se na parte apical e as femininas na parte basal. Os figos são infrutescências piriformes, de 5-8 cm de comprimentos, verdes, castanhos até negros quando maduros; a polpa é comestível, de cor verde ou avermelhada, que contém os verdadeiros frutos, pequenos aquénios. Esta infrutescência é designada de sícone.

O nome do género Ficus é o nome antigo da figueira, e carica é alusivo a uma antiga região da Ásia Ocidental, Caria, onde esta árvore se cultivava em grande abundância. Existem mais de 40 variedades de figueiras em cultivo. Em cada fase vegetativa, os figos silvestres desenvolvem 3 gerações de infrutescências. Duas delas, a primeira e a última do ano, permitem a multiplicação do insecto polinizador, Blastophaga psenes. Os figos comestíveis procedem exclusivamente das flores de Verão. Nos figos cultivados, a situação da flor assemelha-se em maior ou menor grau à da do figo silvestre. São muitas as espécies que produzem figos sem polinização. Os figos comem-se frescos e secos, são muito ricos em açúcares e vitaminas (A, B e C); gozam de propriedades laxantes, emolientes e, sobretudo, expetorante. Os figos cozidos são também utilizados cozidos para tratar doenças do trato respiratório. O leite da figueira contém enzimas proteolíticas que foram utilizadas para eliminar verrugas; também se usou antigamente para coalhar o leite e fazer queijo; quando posto em contacto com a pele, pode causar problemas, sobretudo se exposto à luz. A madeira é de péssima qualidade, amarela e com medula abundante. Por fermentação dos figos, pode-se fabricar vinhos doces, aguardentes e vinagre

Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim.

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De que se trata?

Modelo floral do cravo, ou craveiro, a espécie Dianthus caryophyllus L. é da família Caryophyllaceae. De origem europeia, é cultivada em grande escala na América do Sul, habita em climas Mediterrâneo, Subtropical, Temperado e Tropical. Certas variedades exalam um aroma delicado, motivo pelo qual são utilizadas na indústria de perfumes. Muito citada na literatura, esta flor tem um significado especial; representando o homem nos romances, enquanto a mulher é representada pela rosa.

Há mais de 2000 anos esta planta já era utilizada pelos gregos em coroas de cerimónias. Ao longo da história, esta flor tem assumido vários significados - fidelidade matrimonial (Renascimento) e o amor pelos pais (Coreia). Em Portugal o cravo-vermelho é o símbolo da Revolução dos Cravos (25 de Abril de 1974). Símbolo das mães em vida e os cravos brancos, o símbolo das mães que já partiram (Anna Jarvis). Antiquíssima, tem flores dobradas com as bordas recortadas, disponível nas cores branca, rosa, vermelha e amarela, com diversas tonalidades e mesclas.

Tem grande importância como flor de corte, mas há muitas variedades de jardim, devendo ser cultivados a pleno sol ou meia-sombra, em solo fértil composto de terra de jardim e terra vegetal, drenável, exige regas regulares. Multiplica-se por estacas

(cravos perenes) e sementes (cravos anuais). Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim

Modelo floral, com quatro pétalas diagonalmente opostas, em cruz, é da família ……..

Família Cruciferae (Brassicaceae), cujo nome (crucífera) advém da forma das flores, com quatro pétalas diagonalmente opostas e em cruz, também conhecida como a família de mostarda. No caso o modelo floral é da espécie Brassica napus oleifera, a vulgar planta do nabo, cuja domesticação e cultivo para alimentação é muito antiga. Os escritos sânscritos indianos de 2000 a 1500 aC referem-se diretamente as oleaginosas e mostarda, assim como os escritos gregos, romanos e chineses de 500 a 200 aC (Downey e Röbbelen, 1989). Na Europa, acredita-se que a domesticação tenha ocorrido no início da Idade Média e as plantações comerciais de couve-nabiça foram registradas nos Países Baixos no início do século XVI. B. napus L. tem folhagem verde escura azulada, lisa ou com alguns pelos perto das margens. As hastes são bem ramificadas, embora o grau de ramificação dependa da variedade e das condições ambientais. Os ramos são originários das axilas das folhas mais altas do caule, e cada uma termina numa inflorescência. A inflorescência é um racemo alongado, as flores são amarelas, agrupadas no topo, mas não mais altas do que os botões terminais, a abrir para cima a partir da base do racemo.

Existem dois tipos, o tipo oleífero, que pode ser subdividido em formas de primavera e inverno. Naquele momento, o óleo de couve-nabiça era usado principalmente como um óleo para lâmpadas. Mais tarde, tornou-se usado como lubrificante para motores a vapor. Embora usado amplamente como um

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óleo comestível na Ásia, apenas através da criação de melhor qualidade de óleo, e através do desenvolvimento de técnicas de processamento melhoradas, o óleo de couve-nabiça é importante nas nações ocidentais. Desde a Segunda Guerra Mundial, como resultado da melhoria da qualidade do petróleo e das refeições, a produção de colza na Europa e no Canadá aumentou drasticamente. A China, a Índia, a Europa e o Canadá são agora os principais produtores, embora exista potencial para que a cultura tenha sucesso na Austrália, Estados Unidos e América do Sul.

Este objeto pertence à coleção de modelos florais didáticos do fabricante alemão Robert Brendel, Berlim

SALA DAS VIAGENS FILOSÓFICAS (SALA DOS ESQUELETOS)

Planta-da-borracha

Planta-da-borracha, nativa do Brasil, como indica o seu nome científico Hevea brasiliensis, pertence à família

Euphorbiaceae.

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O que têm em comum estas duas peças?

Ambas são de borracha e da coleção do Brasil, recolhida pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira no século XVIII

(1783-1792). A de cima é uma amostra de borracha do Amazonas e a de baixo é uma escultura de anta-brasileira

(mamífero Tapirus terrestris), feita pelos Índios do Pará. É uma figura de ornato e divertimento, uma produção

artesanal cuja matéria-prima é a borracha natural, um produto primário da coagulação do látex de Hevea brasiliensis,

o nome científico da seringueira comercial. A primeira planta deste género foi descrita em 1775 por Aublet (1720-

1778, farmacêutico e botânico francês) como H. guianensis, única designação utilizada até 1824, sendo hoje

conhecida uma dezena de espécies do género Hevea.

Belas peças etnográficas, de que região do mundo?

Do Brasil, pertencem ao acervo etnográfico de Antropologia, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, destacando-se, na primeira linha da foto, duas “cuias”.

"Cuia" vem do termo tupi ku'ya. "Coité", "cuieté", "cuietê", "cuité" e "cuitê" vem da expressão tupi kuya e'tê, que significa "cuia verdadeira", "cabaça" e "cabaço" vêm do árabe kara bassasa, "abóbora lustrosa".

A cuia, cabaça, cabaço, coité, cuieté, cuietê, cuité e cuitê são nomes dados ao recipiente feito do fruto, depois de esvaziado a polpa, da cuieira, nome vulgar atribuído a duas espécies vegetais: Crescentia cujete L., uma árvore da família Bignoniaceae, nativa da América central e do Sul, e Lagenaria siceraria (Molina) Standl, uma herbácea rastejante, uma aboboreira, da família Cucurbitaceae, nativa da África e da Índia.)

No Nordeste do Brasil, a cuia é uma unidade de medida, equivalente a 1/32 do alqueire (cerca de 13 litros, equivalendo portanto a cerca de 400 mililitros). A cuia era muito utilizada no interior do nordeste brasileiro como vasilhame para se armazenar água e alimentos, como colher e como objeto de decoração.

Os frutos da árvore Crescentia cujete L., pequena ou média, geralmente com 10 metros de altura, com um fuste grosso e uma coroa arredondada densa, são de coloração verde-clara, arredondados e medem entre 15 a 30 centímetros de diâmetro. Quando maduros, apresentam coloração acastanhada e são bem resistentes, sendo utilizadas como caixa-de-ressonância em berimbaus (instrumento musical afro-brasileiro) e como recipiente para líquidos, muito utilizada para se tomar chimarrão (chá de Ilex paraguariensis A.St.-Hil., conhecido como chá-mate) e tereré (ou tererê, de origem Guaraní: infusão de erva-mate, mas preparada com água fria e gelo).

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Por analogia, também a cabaça que provém de um “porongo” seco, ou seja, o fruto do “porongueiro”, do género Lagenaria spp., amadurecido e limpo de sementes, passou a designar-se “cuia”, quando transformada em utensílio: recipiente em que são colocados grãos, água etc.

A Lagenaria siceraria L. é uma trepadeira anual, vigorosa, com folhas grandes e aparência exuberante, tem rápido crescimento podendo florir em apenas 2 meses após a sementeira. A planta é ramificada e trepadora, por meio de gavinhas e a folha coberta com pelos macios e tem um odor almiscarado quando esmagada.

Para a produção das “cuias”, o fruto (“porongo”) é cuidadosamente escolhido pela forma e a cuia pode ser ricamente lavrada e ornada em ouro, prata e outros metais.

Secção longitudinal do fruto do …….

Fruto do coqueiro, ou seja, o coco, ou coco-da-baia, Kokospalm (alemão), coco (espanhol), noix-de-coco (francês), coconut (inglês), palma de cocco (italiano). O coqueiro, de nome científico Cocos nucifera L., é a única espécie do género Cocos, e uma das 2.600 espécies das Arecaceae (Palmae), a família das palmeiras, a maior das plantas com flores (Angiospérmicas). Tiveram um importante papel na história do homem e muitos produtos e alimento foram e são retirados das palmeiras. Por exemplo: a palmeira Raffia, um género com cerca de 20 espécies nativas das regiões tropicais de África, especialmente Madagáscar, como a Raphia farinifera (Gaertn.), tem folhas até 25 metros de comprimento e 3 metros de largura, assumindo as folhas maiores do reino vegetal. A palmeira do género Corypha, nativa da India, Malásia, Indonésia, tem a maior inflorescência, até 7,5 metros de altura contendo milhentas pequenas flores. A maioria das palmeiras habita em climas tropicais, subtropicais e temperados. No passado eram símbolos de vitória, paz e fertilidade. Hoje as palmeiras são um símbolo popular dos trópicos e de férias.

Do ponto de vista botânico, o coco é uma drupa, ou seja, um fruto carnudo, monospérmico, ou seja, de uma só semente, protegida por uma estrutura dura (o caroço), como são exemplo o pêssego, a azeitona, a manga, a cereja ou a ameixa. O coco, como todas as drupas, tem três camadas: o exocarpo (camada externa) – no coco é tipicamente liso, de cor esverdeada; o mesocarpo (camada intermediária carnuda) - de casca fibrosa e escura no coco; e o endocarpo (camada dura e lenhosa, que envolve a semente) e que é branca, no coco, e deliciosa, e o que se compra para consumo (só mesmo o endocarpo).

A semente é a unidade reprodutiva das plantas com flor (Angiospérmicas) ou com pinha (Gimnospérmicas). As sementes do coco são libertadas quando a parede do fruto se deteriora naturalmente ou pela ação de algum um animal. Quando a plântula, o resultado da germinação do embrião, germina, apresenta dois pólos: radicular, a raiz do embrião (hipocótilo) e caulinar, as folhas do embrião (epicótilo). Além do embrião em germinação, na semente, há o alimento para que se desenvolva – o endosperma - o líquido (a que chamamos água-de-coco) - que compõe a maior parte da semente do coqueiro. O embrião – estrutura que dará origem a uma nova planta – nasce da união de uma célula sexual (gâmeta) feminina com outra masculina. A célula-mãe do óvulo, com dois núcleos, é fecundada: um divide-se e forma o embrião e da segunda união forma-se o endosperma (no coco, a água-de-coco) com a função de servir de

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reserva de alimento para o embrião se desenvolver, uma característica evolutiva das plantas com sementes: só produzem tecidos nutritivos, se houver um embrião, evitando desperdício. Quando as divisões terminam, os núcleos se depositam-se nas paredes internas do coco e a partir daí, com o crescimento das paredes celulares e do interior das células, o líquido solidifica, constituindo a parte branca e carnosa de onde se extrai o que designamos “coco”, o saboroso material branco (endocarpo) que comemos e que normalmente usamos ralado.

Um outro aspeto interessante do coco que desconcertou os cientistas há mais de 200 anos é de onde é nativo o coqueiro? É de origem do Velho Mundo ou do Novo Mundo? Odoardo Beccari, especialista em palmeiras de renome do início do século XX, sugere que o coco é de origem do Velho Mundo e, provavelmente, provêm do arquipélago indiano ou da Polinésia. No entanto, alguns cientistas (O.F. Cook, H.B. Guppy, K.F.P. von Martius) argumentam que o coco é de origens do Novo Mundo, tendo migrado para o oeste em todo o Pacífico.

Gune et al. (2011) estudaram o percurso do coqueiro (Cocos nucifera L.), enquanto fonte mundial de alimentos, água, combustível e materiais de construção, que desempenhou um papel fundamental nas migrações humanas e no desenvolvimento da civilização, especialmente nas zonas tropicais. Investigaram a história da domesticação do coco e a estrutura genética populacional em relação aos padrões de dispersão humana, numa amostra com 1.322 acessos, que representam a diversidade geográfica e fenotípica das espécies, examinada em dez loci (microssatélites). As análises revelam duas subpopulações altamente diferenciadas geneticamente que correspondem às bacias oceânicas do Pacífico e do Indo Atlântico. Este padrão sugere origens independentes, nessas duas regiões do mundo, para a cultura do coco, com estrutura populacional persistente à escala global, apesar do cultivo e dispersão humana a longo prazo. Os cocos do Pacífico mostram subestrutura genética adicional correspondente a subgrupos fenotípicos e geográficos; além disso, os traços mais claramente associados à seleção sob cultivo humano (hábito anão, autopolinização e morfologia de frutas "niu vai") surgiram apenas no Pacífico. Os cocos que mostram evidências de mistura genética entre os grupos do Pacífico e do Indo-Atlântico ocorrem principalmente no sudoeste do Oceano Índico. Este padrão é consistente com a introdução humana do coco no Pacífico ao longo da antiga rota comercial austronésia que liga Madagáscar ao Sudeste Asiático.

A mistura na costa leste da África também pode refletir a posteriori o histórico do comércio árabe ao longo da costa do Oceano Índico. Propuseram-se duas origens geográficas do cultivo do coco: ilha do Sudeste Asiático e margens do sul do subcontinente indiano. Atualmente, a cultura do coqueiro aumentou tanto no continente asiático (Índia, Ceilão, Indonésia) quanto na América Central e do Sul (México, Brasil); em África, os maiores países produtores são Moçambique, Tanzânia e Gana.

Fatos interessantes sobre o coco:

- Possivelmente, a referência mais antiga sobre o coco é de Cosmas, um viajante egípcio do século 5 DC, que escreveu sobre o “coco da Índia" depois de visitar a Índia e o Ceilão.

- Soleyman, um comerciante árabe, visitou a China no século 9 e descreve o uso das fibras de coco.

- Os cocos são chamados de "Árvore da Vida" e podem produzir bebidas, fibras, alimentos, combustível, utensílios, instrumentos musicais e muito mais.

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- Durante a Segunda Guerra Mundial, quando escasseava a solução intravenosa (IV), os médicos no Vietname usaram água de coco em substituição de soluções IV.

- O coqueiro não é propriamente uma árvore típica, pois não há casca, nem crescimento secundário - por isso não é fácil saber a idade de uma palmeira – não tem anéis de crescimento. É uma monocotiledónea, com meristema primário axial, perene, lenhosa, com o tronco, um caule, particular e designado espique.

- O coco demora de 11 a 12 meses a amadurecer.

- Hoje, o coco é monotípico com uma espécie, nucifera. No entanto, existem mais de 80 variedades de coqueiros.

- O coco-de-mer, o fruto da palmeira Lodoicea maldivica, das Seychellles, é a maior semente do mundo, com 30-50 centímetros de diâmetro e 15-30 quilogramas de peso.

- As regiões de cultura do coqueiro distam, em latitude, desde o norte do Havai ao extremo sul de Madagáscar.

O coco possui compostos bioativos: acetovanilona, ácido ascórbico, ácido cáprico, ácido caprílico, ácido cítrico, ácido ferúlico, ácido láurico, ácido mirístico, ácido quinico, ácido sucínico, ácido valínico, celulose, chlorina, fitosterol, inositol, tocoferol, vanilina e vitamina E, com propriedades terapêuticas, anti-inflamatório, calmante, condicionante, emoliente, hidratante, nutritiva, oxidante, protetora das membranas celulares, refrescante, remineralizante.

Em fibra vegetal, a quem se destina e como se designa este artefacto?

RESPOSTA 326: uma testeira em fibra vegetal, usada pelos Índios Mura, proveniente da recolha etnográfica de Alexandre Rodrigues Ferreira no Brasil, nas Viagens Filosóficas do século XVIII. Os Mura ocupam vastas áreas no complexo hídrico dos rios Madeira, Amazonas e Purus, e vivem em terras indígens e nos centros urbanos regionais, como Manaus, Autazes e Borba. Desde as primeiras notícias do século XVII são descritos como um povo navegante, de ampla mobilidade territorial e exímio conhecimento dos caminhos por entre igarapés, furos, ilhas e lagos. Sofreram diversos estigmas, massacres e perdas demográficas, linguísticas e culturais. Descrição no Publico, 2010: “Os Muras são um povo que se move na região do Baixo Amazonas conforme a época de cheia ou várzea, alternando entre a caça de tatu, paca e veado, e a pesca. Durante essa deslocação, muitos fazendeiros aproveitam para se apropriar das terras que consideram abandonadas. Há 36 aldeias delimitadas, mas este povo índio espera pela oficialização de um mapa da Amazónia” (https://www.publico.pt/2010/07/11/jornal/murasos-indios-condenados--a-extincao-pelos-portugueses-

19750708#&gid=1&pid=1)

Depois do Tratado de Tordesilhas (em 1494, portugueses e espanhóis dividiram entre si as terras habitadas por não-cristãos, descobertas ou por descobrir - uma linha, traçada no sentido norte-sul, passando a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde separaria as suas possessões: as que estivessem a oeste da

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linha seriam dos espanhóis; as que ficassem a leste seriam portuguesas) os espanhóis ocuparam a parte ocidental e os portugueses a oriental da América no Sul; por isso é que os espanhóis chegaram ao alto Solimões (afluente do rio Amazonas) descendo o rio, enquanto os portugueses o fizeram subindo e a língua dos brasileiros é o português e a dos colombianos e peruanos é o espanhol. Os posteriores tratados de limites territoriais despertaram no governo português a necessidade de conhecer melhor as terras sob seu domínio na América do Sul, e a longa pesquisa de Alexandre Rodrigues Ferreira certamente foi promovida para atender a esse propósito. O naturalista nasceu na Bahia em 1756 e estudou na Universidade de Coimbra., onde foi discípulo de Vandelli e foi encarregue pelo governo português de fazer um estudo, da flora, da fauna e das populações humanas da Amazónia, que durou de 1783 a 1792 e ficou conhecida como a “Viagem Filosófica. Acompanhavam-no os desenhistas Joaquim José Codina e José Joaquim Freire e o jardineiro botânico Joaquim do Cabo. Ferreira percorreu a ilha de Marajó, o baixo Tocantins, o rio Negro e finalmente subiu o Madeira, prosseguindo pelo Guaporé até ao Mato Grosso. Durante a permanência de Alexandre Rodrigues Ferreira na Amazónia, os índios Mura começaram a aproximar-se pacificamente dos portugueses e a sugerir as localidades em queriam permanecer, ou a estabelecer-se, ou a aceitar as que lhes fossem propostas, o que ocorreu entre 1784 a 1786. Anteriormente mantinham relações hostis, atacando ou ameaçando os núcleos coloniais do centro da Amazónia, como o rio Negro, o baixo Solimões, o baixo Purus, o Japurá. Os Muras constituem um exemplo daqueles povos indígenas que, vivendo no médio e alto curso dos afluentes do rio Amazonas, desceram para o rio principal após os conquistadores europeus terem esvaziado este último da população indígena. Anteriormente os Muras estariam no interior do vale do rio Madeira. A correspondência transcrita por Alexandre Rodrigues Ferreira mostra que quase todos os grupos Mura que se aproximavam dos portugueses para fazer a paz traziam uma certa quantidade de salsaparrilha

Em fibra vegetal de arumã é um ….

Cesto, dos Índios do Rio Negro, na Amazónia. Em fibra vegetal arumã ou aruman, o nome comum de uma espécie vegetal da família das Marantáceas, género Ischnosiphon, nativo do Brasil. Muito utilizada na produção de artefactos indígenas é também designada bananeirinha-do-mato, um tipo de colmo liso e reto, com superfícies planas, flexíveis, que admitem cortes e sulcos milimétricos; o caule da planta é descascado/raspado/ariado, podendo ser tingido ou mantido na cor natural.

O artesanato de arumã ocupa um lugar central na vida dos povos indígenas do Rio Negro sendo matéria prima para variados objetos utilitários, tais como o tipiti (espremedor de massa de mandioca), peneiras, abanos, balaios e outros cestos de diferentes formas e tamanhos, peças indispensáveis na economia de subsistência destes povos.

Este exemplar, centenário, faz parte do espólio etnográfico da coleção recolhida pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, nas Viagens Filosóficas do século XVIII ao Brasil.

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Coabita com esta ave e o fruto tem múltiplas propriedades e é apreciado e cultivado desde longa data

Cacaueiro, de nome científico Teobroma cacao L., matéria-prima para o fabrico do chocolate e outros produtos alimentares, é nativo da floresta tropical húmida da América do sul, junto às nascentes dos rios Amazonas e Orinoco.

A origem do chocolate data de mais de três mil anos. O povo Olmeca, que constituiu uma das primeiras civilizações mesoamericanas e que vivia nas regiões tropicais do centro-sul do atual México, foi o responsável pelo início do cultivo da planta que mais tarde deu origem ao chocolate. Bem mais tarde, cerca do século IV, a civilização Olmeca já não existia e na mesma região estava instalada a civilização Maia e o clima húmido era propício para a plantação e desenvolvimento da planta “cacahuaquchtl” (assim batizada pelos Maias).

Só em 1519 é que se redescobriu o cacau, através das conquistas no México levadas a cabo por Hernando Cortez. Nessas expedições, este navegador espanhol experimentou pela primeira vez o “Cacahuatt”, uma bebida que era muito apreciada pelo último rei Asteca, Montezuma II.

Atualmente e de acordo com o ICCO (International Cocoa Organization), os maiores produtores mundiais de cacau são a Costa do Marfim, com 1.242 mil toneladas na safra 2009/10, seguida por – também em milhares de toneladas – Gana (632), Indonésia (550), Nigéria (240), Camarões (205), Brasil (161), Equador (160) e Papua Nova Guiné (50) (ICCO, 2011).

A ave tucano, de nome científico Ramphastos tucanus, é um visitante assíduo do cacaueiro, dada a sua distribuição geográfica pela região Norte e Centro da América do Sul.

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Artefacto recolhido por Alexandre Rodrigues Ferreira no século XVIII, na Viagem Filosófica ao Brasil; de que se trata?

Tábua de Paricá, a prancheta ou “bandeja” para conter paricá, fruto que depois de esmagado é inalado, e aspirado com uns utensílios, normalmente de osso, um alucinogénio, também utilizado para curar ou tratar doenças, ou como veneno entre os Maué e outras etnias da Amazónia. A planta paricá, de nome científico Schizolobium amazonicum Huber ex Ducke é uma árvore da família Fabaceae (Leguminosae) e está presente na floresta amazónica nas terras baixas da Bolívia, Brasil, Equador, Peru e Venezuela.

Artefacto proveniente da recolha de Alexandre Rodrigues Ferreira, nas Viagens Filosóficas ao Brasil, no século XVIII.

SALA DE ÁFRICA

África. Que planta está representada e onde se pode observar?

Embondeiro, ou baobá-africano, pode atingir mil anos de vida e é uma árvore multiusos, fonte de alimento,

vestuário e bens medicinais, bem como matéria-prima para variadas finalidades. Da família Malvaceae,

embora reconhecidamente uma marca africana, uma das oito espécies deste género Adansonia é restrita ao

noroeste da Austrália (Adansonia gibbosa (A. Cunn.) Guymer ex D Baum), sendo seis restritas a Madagáscar

e a Adansonia digitata L. a mais comum e frequente no continente africano. Facilmente se encontra nas

savanas, isolada ou em pequenos grupos, dependendo do tipo de solo. A árvore é utlizada e venerada desde

longa data pelo seu valor medicinal e nutricional. Usada na medicina tradicional, nomeadamente no

tratamento de problemas intestinais, malária e infeções microbianas, são várias as partes da planta,

sementes, folhas, raízes flores, casca e fruto, que apresentam propriedades anti-inflamatórias e

antioxidantes. O fruto, localmente designado múcua, é atualmente muito utilizado e comercializado no

fabrico de gelados e de sumos. Em análise, um exemplar do Herbário COI e um fruto seccionado da coleção Botânica, patentes na Exposição “Ao encontro de

África”.

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Família? De onde é originário este objeto e qual o seu significado?

Uma escultura em pau-preto (Dalbergia melanoxylon ou vulgarmente conhecido por mpingo, ou jacarandá-africano, madeira negra africana) do Povo Maconde (Moçambique) simbolizando uma árvore genealógica. Patente na Exposição “Ao encontro de África”

Ambiente. “Plantas bonitas e feias, que se comem ou são carnívoras, que nos curam ou envenenam, das mais minúsculas às gigantes, algumas raras e

outras vulgares. Muitas ameaçadas. Todas importantes”. Qual a planta alimentar evocada num dos artefactos que se apresentam?

Ambiente é um substantivo masculino; significado: meio ambiente, tudo o que faz parte do meio em que vive o ser humano, os seres vivos e/ou as coisas.

Escultura em pau-preto (ou mpingo, nome científico Dalbergia melanoxylon) do povo Maconde (Moçambique) representando uma mulher a pilar (moer alimentos com o almofariz e o pilão), como exemplo, a mandioca: base da alimentação nestes Povos. No entanto, a espécie, Manihot esculenta, é originária d América do Sul e trazida pelos Portugueses do Brasil para África, na época dos descobrimentos.

Entre as mais de 1700 espécies de plantas descritas pela primeira vez em 2016 há algumas que podem começar a fazer parte da nossa dieta. É o caso das cinco novas espécies brasileiras que pertencem ao género Manihot, o mesmo da conhecida e consumida mandioca. “Estas espécies têm o potencial necessário para desenvolver a cultura da mandioca, diversificando-a, permitindo que esta seja cultivada em climas mais secos do que os atuais e fornecendo defesas contra vírus, que estão a reduzir a produção deste recurso alimentar importante em algumas partes do mundo”, refere o comunicado de imprensa da equipa dos jardins Kew. Mas há mais novas plantas que podem ser alimentos. Também foram descobertas sete novas espécies Aspalathus, da família das

leguminosas e conhecida sobretudo por causa do chá sul-africano rooibos. Outra novidade é uma nova espécie de cherovia, Pastinaca erzincanensis, descrita em 2016 na Turquia… e outras notícias no relatório anual (a segunda edição anual) produzido pelos Jardins Botânicos Reais de Kew sobre o Estado das Plantas

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do Mundo que envolveu 128 cientistas de 12 países diferentes (In: https://www.publico.pt/2017/05/20/ciencia/noticia/entre-1730-novas-especies-de-plantas-ha-alimentos-e-curas-1772814).

Os artefactos são da coleção de Moçambique do acervo de Antropologia, e estão integrados na exposição “Ao encontro de África”, sobre a identidade e

biodiversidade de Moçambique, na na Sala de África do Museu da Ciência.

Qual o nome e características invulgares desta espécie? Quem a recolheu para o Museu?

Welwitschia mirabilis, planta de características invulgares, contemporânea dos dinossauros é uma relíquia vegetal do Jurássico e uma planta endémica, restrita ao deserto do Namibe/Moçâmedes (entre a zona costeira da Namíbia e de Angola). Descendente de uma comunidade de plantas que se desenvolveu há mais de 200 milhões de anos (Período Jurássico) e em que todos os elementos, lentamente, se extinguiram, exceto Welwitschia, que sobreviveu até à atualidade: é, por isso, um fóssil-vivo.

Foi descoberta pelo botânico e médico austríaco, Friedrich Martin Josef Welwitsch (1806-1872), no dia 03 de setembro de 1859, perto do Cabo Negro (sudoeste de Angola), nas explorações da flora e da fauna (1853 a 1861) sob o patrocínio Português.

As expedições botânicas a Angola (1927 e 1937) foram seguidas pelo Professor Luís Wittnich Carrisso (1886-1937), Professor de Botânica da Universidade de Coimbra, que recolheu no deserto do Namibe/Moçâmedes e trouxe para a Universidade exemplares de W. mirabilis Hook.f. subsp. mirabilis de grandes dimensões. Em 1937 realiza a última viagem e vem a falecer no dia 14 de junho, em pleno deserto de Moçâmedes.

Welwitschia é uma das mais bizarras espécies da natureza, um ícone botânico, pertencente ao grupo das Gimnospérmicas (plantas com pinha). Planta perene, lenhosa, cresce muito lentamente, tem uma raiz principal, tronco muito curto e apenas duas folhas. Estas são opostas, verde-escuro, com crescimento permanente e quando adultas são rasgadas pelo vento, assumindo a planta, por isso, o aspeto de grandes polvos imobilizados nas areias (fotografia). Estes exemplares em exposição, quase centenários, ou não apresentam qualquer folha, apenas o caule e parte basal da raiz, ou estas estão completamente

cortadas, em franjas paralelas e castanhas (exemplar da vitrina).

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Considerada uma árvore, ou um arbusto anão, atinge uma altura até um metro e, casualmente, até dois. É uma planta dioica, ou seja, as estruturas reprodutoras masculinas e femininas são produzidas em plantas diferentes, e tem as sementes aladas (conforme exemplares expostos na vitrina e recolhidos em 2016).

Nativa de Moçambique. Planta muito apreciada em todo o mundo, com usos e aplicações várias, desde longa data até à atualidade.

O mussiro, de nome científico Olax dissitiflora Oliv., da família Olacaceae, um arbusto que vegeta em habitat seco e rochoso, nativo no distrito de Moamba, a norte de Maputo.

“A província de Nampula é tradicionalmente conhecida como a terra de muthiana orera (lindas senhoras). As mulheres da região do país têm uma técnica particular: tratam a pele desde uma idade precoce, usando uma planta chamada mussiro, uma espécie que, por lei, deve ser preservada e multiplicada. Usada em geral pelas comunidades para curar várias doenças, bem como para fins cerimoniais, rituais e embelezamento”. (http://www.theplantlist.org/tpl1.1/record/kew-2400299; https://www.youtube.com/watch?v=xgUD51EDnQ4).

Esta folha de Herbário COI está integrada na exposição “Ao encontro de África”, sobre a identidade e biodiversidade de

Moçambique, na Sala de África do Museu da Ciência.

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Qual é a maior leguminosa do mundo (mais longa)?

É a espécie Entada gigas (L.) Fawc. & Rendle, nativa da América Central, Caraíbas, Norte da América do Sul e África; considerada a leguminosa (vagem) mais longa do mundo é também designada coração-marinho do oceano ou escada-de-macaco da floresta tropical. Entada é um género da família Fabaceae, subfamília Caesalpinioideae e consiste em cerca de 30 espécies de árvores, arbustos e lianas tropicais. Cerca de 21 espécies são nativas de África, seis da Ásia, duas dos trópicos americanos e uma pantropical. Apresentam folhas compostas e produzem vagens até 2 metros de comprimento (E. gigas). As sementes são flutuantes e sobrevivem a longos trajetos através de rios e correntes oceânicas para finalmente chegarem às praias tropicais.

O exemplar na imagem pertence à coleção Botânica do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra e é outra espécie do género Entada, Entada phaseoloides (L.) Merr. amplamente distribuída em todo o território do Velho Mundo, incluindo África, o sudeste da Ásia e as ilhas polinésias do Pacífico Sul. As grandes sementes lenhosas são de tamanho semelhante a E. gigas, embora tendam a ser mais arredondadas ou de forma retangular. As vagens geralmente não excedem 1 m de comprimento e são mais lenhosas e rígidas do que E. gigas. Nos últimos 50 anos, muitos autores classificaram ambas as espécies de Entada (vulgarmente designadas escada-de-macacos) como E. scandens, uma liana pantropical, cuja distribuição depende da deriva oceânica. De acordo com Charles R. Gunn e J.V. Dennis (World Guide to Tropical Drift Seeds and Fruits, 1976) E. phaseoloides deu origem à espécie do Novo Mundo E. gigas, ou ambas provêm de um antepassado comum.

A terceira maior família de plantas com flores (Angiospérmicas) é a das leguminosas (Fabaceae), como as conhecidas ervilhas e os feijões, com mais de 18 mil espécies. As leguminosas incluem uma ampla diversidade de espécies, desde ervas daninhas, inúmeras plantas de cultura agrícola e alimentar, herbáceas, trepadeiras, arbustos ornamentais ou árvores de copa gigante na floresta tropical. Muitas espécies de leguminosas contêm nódulos radiculares, uma simbiose com bactérias fixadoras de azoto atmosférico inerte que convertem em amónia, tornando assim disponível o azoto, que enriquece o solo e é vital para as plantas. As sementes desta família são tipicamente produzidas em frutos, a que vulgarmente chamamos legumes, que são vagens (uma cápsula, fruto seco, polispérmico), numa surpreendente variedade de formas e tamanhos. Uma pergunta repetida de botânica é sobre a maior leguminosa do mundo (mais longa)? O registo incontestável para a vagem mais longa é para a Entada gigas que pode atingir 2 m de comprimento.

Não só a Entada gigas produz a vagem mais longa das leguminosas, como esta trepadeira, uma das lianas mais notáveis dos trópicos do Novo Mundo, localmente conhecida como "escalera de mono" ou "escada de macaco", funciona como via arbórea para os macacos, em pleno dossel da floresta tropical.

A vagem produz grandes sementes, em forma de coração, por isso designados coração-do-mar, que são transportadas pelas correntes oceânicas, desde o Caribe até ao Golfo do México e praias da Flórida. A partir da costa leste da Flórida, os corações-do-mar podem ser levados para o norte da Europa pela corrente do Golfo e as correntes do Atlântico Norte. Por vezes, os corações-de-mar têm impressões profundas e lacerações, possivelmente causadas pelos dentes de peixes vorazes; são impermeáveis à água salgada, mesmo depois de flutuar no oceano durante vários anos.

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Os primeiros naturalistas julgavam que as inusitadas sementes em forma de coração eram provenientes de estranhas plantas subaquáticas cuja origem estava envolvida em mistério. Cristóvão Colombo ficou fascinado com os objetos que chegaram às praias ao largo da costa de Portugal, nos Açores. Dizem que um coração-do-mar foi inspiração para Colombo e levou-o em busca de terras a oeste. Na verdade, o coração-do mar é também designado nos Açores como "Fava de Colom" ou "Feijão Colombo".

Algumas utilidades e curiosidades: na Noruega consomem um chá amargo com sementes coração-do-mar para aliviar a dor durante o parto; na Inglaterra, os coração-do-mar foram usados como anéis de dentição e como talismãs de boa sorte para os marinheiros que embarcam em longas viagens oceânicas. Se os corações do mar podiam sobreviver a longas e perigosas viagens pelo oceano, talvez também pudessem proteger quem os usasse. Os coração-do-mar também foram considerados amuleto para proteger da doença e evitar os espíritos malignos e ainda hoje são apreciados e lindamente pintados à mão e vendidos como pingentes da sorte nas ilhas do Caribe e Jamaica e altamente apreciados pelos penteadores de praia.

Comummente usados pelos grupos musicais dos Andes há agitadores musicais feitos com as sementes ocas da Entada (possivelmente Entada gigas (L.) Fawc. & Rendle ou Entada phaseoloides (L.) Merr.).

Objetos etnográficos de adorno. Qual a relação com a Botânica?

São artefactos produzidos com matéria-prima vegetal, a saber: pentes em madeira e fio de algodão, bambu e pau-preto e travesseiros, apoia-nucas em madeira, usados para proteger o penteado durante o sono. Estes objetos fazem parte da coleção etnográfica de Moçambique e estão em exposição na Sala de África, Galeria de História Natural do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.

O pau-preto, cujo nome científico é Dalbergia melanoxylon Guill. & Perr. , é também conhecido como jacarandá-

africano, madeira negra africana ou mpingo em Moçambique; é uma angiospérmica da família Fabaceae (Leguminosae),

nativa de regiões sazonalmente secas de África, como Senegal, leste da Eritreia e sul do Transval, na África do Sul. É uma

árvore, de 4 a 15m de altura, de casca cinza e espinhosa. As folhas são caducifólias, com 6 a 22 cm de comprimento. As

flores são brancas e o fruto é uma vagem com 3 a 7 cm de comprimento, contendo uma ou duas sementes

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De Moçambique: “matheté” ou …… feita de madeira e couro.

Aljava (“Mathethé”), feita de madeira e couro, da coleção etnográfica de Moçambique, em exposição na Sala de

África.

Cheira mesmo a ….. Artefactos provenientes de..

Cheira mesmo a fumo, observando-se uma amostra de folhas de tabaco, entre outros objetos etnográficos de Moçambique, em exposição

na Sala de África.

Qual a relação entre os dois exemplares?

Ambos da coleção de Moçambique um exemplar de Herbário COI da espécie de palmeira Hyphaene incaje Furtado, cujas folhas são matéria-prima para o saco, um exemplar etnográfico feito com fibras desta e doutras espécies deste género de palmeira. Em exposição na Sala de África, da Galeria de História Natural do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.

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