borges, j. l. o jardim de caminhos que se bifurcam
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8/13/2019 BORGES, J. L. O Jardim de Caminhos Que Se Bifurcam
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O jardim de caminhos que se bifurcam
Jorge Lus Borges
a Victoria Ocampo
Na pagina 22 da Historia da Guerra Europia, de Liddell Hart, l-se que uma ofensiva de
treze divises britnicas (apoiadas por mil e quatrocentas peas de artilharia) contra a
linha de Serre-Moutauban tinha sido planejada para o dia vinte e quatro de julho de 1916
e teve que ser adiada at a manh do dia vinte e nove. As chuvas torrenciais (anota o
Cap. Liddell Hart) provocaram essa delonga nada significativo, por certo. A seguinte
declarao, ditada, relida e assinada pelo Dr. Yu Tusun, antigo catedrtico de ingls na
Hochschule de Tsingatao, projeta uma insuspeitada luz sobre o caso. Faltam as duas
pginas iniciais.
... e pendurei o fone. Imediatamente aps, reconheci a voz que havia respondido em
alemo. Era a do Cap. Richard Madden. Madden no apartamento de Viktor Runeberg,
significava o fim de nossos afs emas isso parecia muito secundrio, ou devia parecer-
me tambm de nossas vidas. Queria dizer que Runenberg tinha sido detido, ou
assassinado?*Antes que o sol desse dia declinasse, eu sofreria a mesma sorte. Madden
era implacvel . Ou melhor, estava obrigado a ser implacvel. Irlands s ordens da
Inglaterra, homem acusado de tibieza e talvez de traio, como no abraar e agradecer
esse milagroso favor: a descoberta, a captura, quem sabe a morte, de dois agentes do
Imprio Alemo? Subi ao meu quarto; absurdamente fechei a porta a chave e atirei-me de
costas na estreita cama de ferro. Na janela mostravam-se os telhados de sempre e o sol
nublado das seis. Pareceu-me incrvel que esse dia sem premonies ou smbolos fosse
o de minha morte implacvel. Apesar de meu pai haver morrido, apesar de ter sido um
menino num simtrico jardim de Hai Feng, eu, agora, ia morrer? Depois refleti que todas
as coisas nos acontecem precisamente, precisamente agora. Sculo de sculo e apenas
no presente ocorrem os fatos; inumerveis homens no ar, na terra e mar, e tudo o que
realmente sucede; sucede a mim... A quase intolervel lembrana do rosto acavalado de
Madden aboliu essas divagaes. Em meio ao meu dio e meu terror (no momento no
me importa falar de terror: agora que enganei Richard Madden, agora que minha garganta
anseia pela corda) pensei que esse guerreiro tumultuoso e sem dvida feliz no
suspeitava que eu possusse o Segredo. O nome do exato lugar do novo parque
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britnico e artilharia sobre o Ancre. Um pssaro riscou o cu cinza e cegamente tomei-o
por um aeroplano e a esse aeroplano por muitos (no cu francs) aniquilando o parque de
artilharia com bombas verticais. Se minha boca; antes que a desfizesse um balano,
pudesse gritar esse nome de modo que o escutassem na Alemanha... Minha voz era
muito fraca. Como faz-la chegar ao ouvido do Chefe? Ao ouvido daquele homem doentee odioso, que nada sabia de Runeberg e de mim a no ser que estvamos em
Staffordshire e inutilmente esperava noticias nossas em seu rido escritrio de Berlim,
examinando infinitamente jornais... Disse em voz alta: Devo fugir. Incorporei-me sem
barulho, numa oca perfeio de silencio, como se Madden j estivesse espreitando. Algo
talvez a mera ostentao de provar que meus recursos eram nulos fez me revistar
meus bolsos. Encontrei o que sabia que ia encontrar. O relgio norte-americano, a
corrente de nquel e a moeda quadrangular, o chaveiro com as comprometedoras chaves
inteis do apartamento de Runeberg, a caderneta, uma carta que resolvi destruirimediatamente (e que no destru), uma coroa, dois xelins e uns pennies, o lpis
vermelho-azul, o leno, o revlver com uma bala. Absurdamente o empunhei e sopesei
para dar-me coragem. Pensei vagamente que um tiro de pistola pode ser ouvido bem
longe. Em dez minutos meu plano estava maduro. O guia telefnico forneceu-me o nome
da nica pessoa capaz de transmitir a noticia: vivia num subrbio de Fenton, a menos de
meia hora de trem.
Sou um homem covarde. Agora o digo, agora que levei a termo um plano que ningum
deixar de qualificar de arriscado. Sei que foi terrvel sua execuo. No o fiz pelaAlemanha, no. Pouco me importa um pas brbaro, que me obrigou abjeo de ser um
espio. Ademais, eu sei de um homem da Inglaterra homem modestoque para mim
no representa menos que Goethe. No falei com ele mais de uma hora, mas durante
uma hora foi Goethe... Eu fiz isso, porque sentia que o Chefe temia um pouco aos de
minha raaaos inumerveis antepassados que em mim confluem. Eu queria provar-lhe
que um amarelo podia salvar exrcitos. De resto, devia fugir do capito. Suas mos e sua
voz podiam bater-me porta a qualquer momento. Vesti-me sem rudo, disse-me adeus
no espelho, desci, esquadrinhei a rua tranqila e sai. A estao no ficava longe de casa,mas achei prefervel tomar um carro. Argi que assim corria menos perigo de ser
reconhecido; o fato que na rua deserta eu me sentia visvel e vulnervel, infinitamente.
Lembro-me de ter dito ao chofer que se detivesse um pouco antes da entrada central.
Desci com lentido voluntria e quase penosa; ia aldeia de Ashgrove, mas retirei uma
passagem para uma estao mais longe. O trem saia dentro de pouqussimo minutos, s
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Treze anos dedicou a esses heterogneos trabalhos, porm a mo de um forasteiro o
assassinou e seu romance era insensato e ningum encontrou o labirinto. Sob rvores
inglesas meditei nesse labirinto perdido: imaginei-o inviolado e perfeito no cume secreto
de uma montanha, imaginei-o disfarado por arrozais ou debaixo d'gua, imaginei-o
infinito, no j de quiosques oitavados e de caminhos que voltam, mas sim de rios eprovncias e reinos... Pensei num labirinto de labirintos, num sinuoso labirinto crescente
que abarcasse o passado e o futuro e que envolvesse, de algum modo, os astros. Absorto
nessas imagens ilusrias, esqueci meu destino de perseguido. Senti-me, por um tempo
indeterminado, conhecedor abstrato do mundo. O vago e vivo campo, a lua, os restos da
tarde, agiram sobre mim; tambm o declive que eliminava qualquer possibilidade de
cansao. A tarde era ntima, infinita. O caminho descia e se bifurcava, entre vrzeas
indistintas. Uma msica aguda e como que silbica aproximava-se e afastava-se no
vaivm do vento, turvada de folhas e de distncia. Pensei que um homem pode serinimigo de outros homens, de outros momentos de outros homens, mas no de um pas:
no de vaga-lumes, palavras, jardins, cursos de gua, poentes. Cheguei, assim, a um alto
porto enferrujado. Entre as grades de ferro decifrei uma alameda e uma espcie de
pavilho. Compreendi, logo. duas coisas, a primeira trivial, a segunda quase incrvel: a
msica vinda do pavilho, a msica era chinesa. Por isso eu a aceitara com plenitude,
sem prestar-lhe ateno. No recordo se havia uma sineta ou uma campanhia ou se
chamei batendo palmas. A contnua vibrao da msica prosseguiu.
Mas do fundo da aconchegante casa uma lanterna se aproximava: uma lanternaque os troncos riscavam e por instantes anulavam, uma lanterna de papel, que tinha a
forma dos tambores e a cor da lua. Um homem alto a trazia. No vi seu rosto, porque a
luz me cegava. Abriu o porto e disse lentamente no meu idioma:
_ Vejo que o piedoso Hsi P'eng se empenha em corrigir minha solido. O senhor
sem dvida desejar ver o jardim?
Reconheci o nome de um de nossos cnsules e repeti desconcertado:
_ O jardim?
_ O jardim de caminhos que se bifurcam.Alguma coisa se agitou em minha lembrana e pronunciei com incompreensvel
segurana:
_ O jardim de meu antepassado Ts'uui Pen.
_ Seu antepassado? Seu ilustre antepassado? Avante.
O mido caminho ziguezagueava como os de minha infncia. Chegamos a uma
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biblioteca de livros orientais e ocidentais. Reconheci, encadernados em seda amarela,
alguns volumes manuscritos da Enciclopdia Perdida que o Terceiro Imperador da
Dinastia Luminosa orientou e que nunca foi publicada. O disco do gramofone girava junto
a um fnix de bronze. Lembro-me tambm de um jarro rosa da famlia e outro, anterior
de muitos sculos, dessa cor azul que nossos artfices copiaram dos oleiros da Prsia...Stephen Albert observava-me, sorridente. Era (j o disse) muito alto, de feies
afiladas, de olhos cinzentos e barba cinzenta. algo de sacerdote havia nele e tambm de
martimo; depois me referiu que fora missionrio em Tientsin 'antes de aspirar a sinlogo'.
Sentamo-nos; eu num comprido e baixo div; ele de costas janela e a um alto
relgio circular. Calculei que meu perseguidor Richard Madden, antes de uma hora no
chegaria. minha determinao irrevogvel podia esperar.
_Assombroso destino o de Ts'ui Pen - disse Stephen albert. - Governador de sua
provncia natal, douto em astronomia, em astrologia e na interpretao infatigvel doslivros cannicos, enxadrista, famoso poeta e calgrafo: abandonou tudo para compor um
livro e um labirinto. Renunciou aos prazeres da opresso, da justia, do numeroso leito,
dos banquetes e ainda da erudio e enclausurou-se durante treze anos no Pavilho
Lmpida Solido. Ao morrer, os herdeiros s encontraram manuscritos caticos. A famlia,
como talvez o senhor no ignore, quis adjudic-los ao fogo; mas seu testamenteiro - um
monge taosta ou budista - insistiu na publicao.
_ Os do sangue de Ts'sui Pen - respondi - continuamos execrando a esse monge.
Essa publicao foi insensata. O livro um acervo indeciso de apontamentoscontraditrios. Examinei-o certa vez: no terceiro captulo morre o heri, no quarto est
vivo. Quanto outra empresa de Ts'ui Pen, ao seu Labirinto...
_ Aqui est o Labirinto - disse indicando-me uma alta escrivaninha laqueada.
_ Um labirinto de marfim! - exclamei. - Um labirinto mnimo...
_ Um labirinto de smbolos - corrigiu. - Um invisvel labirinto de tempo. A mim,
brbaro ingls, foi-me dado revelar esse difano mistrio. Ao fim de mais de cem anos, os
pormenores so irrecuperveis, mas no difcil conjeturar o que sucedeu. Ts'sui Pen
teria dito uma vez: Retiro-me para escrever um livro. E outra: Retiro-me para construir umlabirinto. Todos imaginaram duas obras; ningum pensou que livro e labirinto eram um s
objeto. O Pavilho da Lmpida Solido erguia-se no centro de um jardim talvez intrincado;
essa circunstncia pode ter sugerido aos homens um labirinto fsico. Ts'sui Pen morreu;
ningum, nas dilatadas terras que foram suas, achou o labirinto. Duas situaes
trouxeram-se a exata soluo do problema. Uma: a curiosa lenda de que Ts'suiu Pen se
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propusera um labirinto que fosse estritamente infinito. Outra: um fragmento de uma carta
que descobri.
Albert levantou-se. Volveu-me, por uns instantes, as costas; abriu a gaveta da
urea e enegrecida escrivaninha. Voltou com um papel antes carmesim; agora rosado e
tnue e quadriculado. Era justo o renome caligrfico de Ts'sui Pen. Li com incompreensoe fervor estas palavras que com minucioso pincel redigira um homem de meu sangue:
Deixo aos vrios futuros (no a todos) meu jardim de caminhos que se bifurcam. Devolvi
em silncio a folha. Albert continuou:
_ Antes de exumar esta carta, eu tinha me perguntado de que maneira um livro
pode ser infinito. No conjeturei outro processo que o de um volume cclico, circular. Um
volume cuja ltima pgina fosse idntica primeira, com possibilidade de continuar
indefinidamente. Recordei tambm aquela noite que est no centro das Mil e Uma Noites,
quando a Rainha Scheherazade (por uma mgica distrao do copista) pe-se a referitextualmente a histria das '1001 Noites', com risco de chegar outra vez noite na qual
est fazendo o relato, e assim at o infinito. Imaginei tambm uma obra platnica,
hereditria, transmitida de pai para filho, na qual cada novo indivduo aditasse um captulo
ou corrigisse com piedoso cuidado a pgina dos antepassados. Essas conjeturas
distraram-me; mas nenhuma parecia corresponder, ainda que de um modo distante, aos
contraditrios captulos de Ts'sui Pen. Nessa perplexidade, remeteram-me de Oxford o
manuscrito que o senhor examinou. Detive-me, como natural, na frase: Deixo aos vrios
futuros (no a todos) meu jardim de caminhos que se bifurcam. Quase de imediatocompreendi: o jardim de caminhos que se bifurcam era o romance catico; a frase vrios
futuros (no a todos) sugeriu-me a imagem da bifurcao no tempo, no no espao. A
releitura geral da obra confirmou essa teoria. Em todas as fices, cada vez que um
homem se defronta com diversas alternativas, opta por uma e elimina as outras; na do
quase inextricvel Ts'sui Pen, opta - simultaneamente - por todas. Cria, assim, diversos
futuros, diversos tempos, que tambm proliferam e se bifurcam. Da as contradies do
romance, Fang, digamos, tem um segredo; um desconhecido chama sua porta; Fang
pode matar o intruso, o intruso pode matar Fang, ambos podem salvar-se, ambos podemmorrer, etc. Na obra de Ts'sui Pen, todos os desfechos ocorrem; cada um o ponto de
partida de outras bifurcaes. s vezes, os caminhos desse labirinto convergem: por
exemplo, o senhor chega a esta casa, mas num dos passados possveis o senhor meu
inimigo, em outro meu amigo. Se o senhor se resignar minha pronncia incurvel,
leremos algumas pginas.
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Seu rosto, no vvido crculo da lmpada, era sem dvida o de um ancio, mas com
algo inquebrvel e ainda imortal. Leu com lenta preciso duas verses de um mesmo
captulo pico. Na primeira, um exrcito marcha para uma batalha atravs de uma
montanha deserta; o horror das pedras e da sombra leva-o a menosprezar a vida e
consegue facilmente a vitria; na segunda, o mesmo exrcito atravessa um palcio ondeh uma festa; resplandecente batalha se lhe afigura uma continuao da festa e obtm a
vitria. Eu escutava com apropriada venerao essas velhas fices, talvez menos
admirveis que o fato de terem sido ideadas pelo meu sangue e que um homem de um
imprio remoto as restitusse a mim, no curso de uma desesperada aventura, numa ilha
ocidental. Lembro-me das palavras finais, repetidas em cada verso como um
mandamento secreto: Assim como combateram os heris, tranqilo o admirvel corao,
violenta a espada, resignados a matar e morrer.
A partir desse instante, senti ao meu redor e no meu pobre corpo uma invisvel,intangvel pululao. No a pululao dos divergentes, paralelos e finalmente
coalescentes exrcitos, porm uma agitao mais inacessvel, mais ntima e que eles de
certo modo prefiguravam. Stephen Albert continuou:
_ No acredito que seu ilustre antepassado brincasse ociosamente com as
variaes. No julgo verossmil que sacrificasse treze anos infinita execuo de um
experimento retrico. Em seu pas, o romance um gnero subalterno; naquele tempo
era um gnero desprezvel. Tssui Pen foi um romancista genial, mas tambm foi um
homem de letras que sem dvida no se considerou um simples romancista. Otestemunho de seus contemporneos proclamae fartamente o confirma sua vidasuas
inclinaes metafsicas, msticas. A controvrsia filosfica usurpa boa parte do romance.
Sei que de todos os problemas, nenhum o inquietou e ocupou como o abismal problema
do tempo. Pois bem, esse o nico problema que no figura nas pginas do jardim. Nem
sequer emprega a palavra que significa tempo. Como explica o senhor essa voluntria
omisso?
Propus vrias solues: todas, insuficientes. Discutimo-las; por fim, Stephen Albert
disse-me:_ Numa charada cujo tema o xadrez, qual seria a nica palavra proibida?
Pensei um momento e repliquei:
_ A palavra xadrez.
_ Exatamente falou Albert. _ O jardim de caminhos que se bifurcam uma
enorme charada, ou parbola, cujo tema o tempo; essa causa recndita probe-lhe a
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meno desse nome. Omitir sempre uma palavra, recorrer a metforas ineptas e a
perfrases evidentes, qui o modo mais enftico de indic-la. o modo tortuoso que
preferiu, em cada um dos meandros de seu infatigvel romance, o oblquo Tssui Pen.
Confrontei centenas de manuscritos, corrigi erros que a negligncia dos copistas
introduziu, conjeturei o plano desse caos, restabeleci, acreditei restabelecer, a ordemprimordial, traduzi a obra toda: consta-me que no usa uma s vez a palavra tempo. A
explicao bvia: O jardim de caminhos que se bifurcam uma imagem incompleta,
mas no falsa, do universo tal como o concebia Tssui Pen. Diferentemente de Newton e
de Schopenhauer, seu antepassado no acreditava num tempo uniforme, absoluto.
Acreditava em infinitas sries de tempos, numa rede crescente e vertiginosa de tempos
divergentes, convergentes e paralelos. Essa trama de tempos que se aproximam, se
bifurcam, se cortam ou que secularmente se ignoram, abrange todas as possibilidades.
No existimos na maioria desses tempos; nalguns existe o senhor e no eu. Noutros, eu,no o senhor; noutros, os dois. Neste, que um acaso favorvel me surpreende, o senhor
chegou a minha casa; noutro, o senhor ao atravessar o jardim, encontrou-me morto;
noutro, digo estas mesmas palavras, mas sou um erro, um fantasma.
_ Em todosarticulei com um certo temoragradeo e venero sua recriao do
jardim de Tsui Pen.
_ No em todos _ murmurou com um sorriso. _ O tempo se bifurca perpetuamente
para inumerveis futuros. Num deles sou seu inimigo.
Voltei a sentir aquela pululao de que falei. Pareceu-me que o mido jardim querodeava a casa estava saturado at o infinito de pessoas invisveis. Essas pessoas eram
Albert e eu, secretos, atarefados e multiformes em outras dimenses de tempo. Alcei os
olhos e o tnue pesadelo se dissipou. No amarelo e negro jardim havia um s homem;
mas esse homem era forte como uma esttua, mas esse homem avanava pelo caminho
e era o Cap. Richard Madden.
_ O futuro j existerespondi _ mas eu sou seu amigo. Posso examinar de novo a
carta?
Albert levantou-se. Alto, abriu a gvea da alta escrivaninha; deu-me por ummomento as costas. Eu havia preparado o revlver. Disparei com o maior cuidado: Albert
se desaprumou, sem uma queixa, imediatamente. Juro que sua morte foi instantnea:
uma fulminao.
O resto irreal, insignificante. Madden irrompeu, prendeu-me. Fui condenado
forca. Abominavelmente venci: comuniquei a Berlim o nome secreto da cidade que
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deviam atacar. Ontem a bombardearam; li a notcia nos mesmos jornais em que
apresentaram Inglaterra o enigma do sbio sinlogo Stephen Albert, que morrera
assassinado por um desconhecido, Yu Tsun. O chefe decifrou esse enigma. Sabe que
meu problema era indicar (atravs dos estrpito da guerra) a cidade que se chama Albert
e que no achei outro meio a no ser matar uma pessoa com esse nome. No sabe(ningum pode saber) minha imensa contrio e cansao.
* Hiptese odiosa e ridcula. O espio prussiano Hans Rabener, alias Viktor Runeberg,
agrediu com uma pistola automtica o portador da ordem de preiso, Cap. Richard
Madden. Este, em defesa prpria, causou-lhe ferimentos que determinaram sua morte
(Nota do Editor).