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Na recente sociedade de controle preciso estar conectado a todo momento,expandem-se conexes que no se do apenas por um cabo plugado em um computador,mas esto em smarthphones, iPhones, tablets, iPads. Atualizaes simultneas de statuse do que acontece no planeta.Bytes trafegam em cabos, em fibras ticas, em wireless, todos atravessados porprotocolos que possibilitam a conexo e que enviam dados de um canto a outromonitorados por um servidor. Alimenta-se bancos de dados que aumentam de tamanhoexponencialmente, armazenando em bytes para formar gigabytes e yottabytes.No se est mais diante da sociedade disciplinar em que ia-se de uma instituioa outra, em que fechavam-se ciclos, mas, agora nunca se termina nada, nem se para dealimentar bancos de dados em um fluxo computo-informacional.Este fluxo caracterstico da sociedade de controle, demarcada por GillesDeleuze, e que emergiu no ps-Segunda Guerra. Nas recentes sociedades de controleno se trata do exerccio de poder em rede da sociedade disciplinar caracterizado nosestudos de Michel Foucault.Demarca-se essa transposio da sociedade disciplinar, erigida no sculo XVIII,para a sociedade de controle por meio do desenvolvimento de novas tecnologias, comoos computadores e a internet.Diante disto, adotou-se metodologicamente a noo de pequena guerra dePierre-Joseph Proudhon e a anlise histrico-poltica de Michel Foucault. Como osanarquistas atualizam suas lutas diante da expanso de controles em fluxo inerentes internet e sociedade de controle? A pergunta que atravessa este trabalho tambm secoloca como uma pequena guerra diante da poltica e das modulaes. H vida libertriana internet?A pequena guerra uma luta cotidiana infindvel, uma relao de foras queno pode ser pacificada. No a guerra precedente da paz declarada por tratados deEstados. a pequena guerra na tenso da anlise serial de Proudhon em que no hsntese, mas uma tenso interminvel entre autoridade e liberdade.Esse embate de foras, um princpio da vida, est nas relaes entre as pessoasque no so iguais, como se questiona sarcasticamente Proudhon: Os homens soiguais por natureza: quer dizer que eles tm a mesma estatura, a mesma beleza, omesmo gnio, a mesma virtude? (PROUDHON, 1986, 37). 12 A guerra um fator humano diante dessa desigualdade, aqui no a guerra deEstado que produz mortes em nome da justia. Essa produto do direito da fora, produto de um julgamento de fora, a fora vencedora a expressa.A guerra de Estados onde o direito se impe, e este precisa dela para se manter.O direito, para Proudhon, est no mundo por meio da fora, o direto do mais forte omais antigo dos direitos. O direito um e idntico [...]. Mas ele assume diferentesnomes de acordo com o objeto ao qual se aplica: direito de fora, direito do trabalho,direito intelectual, direito de propriedade, direito de amor, direito de famlia, direitopenal, direito de cidade, etc.. (PROUDHON, 2011, 43).O direito de fora de onde partem todos os direitos, de onde os outros direitosse ramificam. esse direito que envolve a guerra em numerosas formalidades, odireito de guerra o cdigo de procedimentos da fora; por isso que definiremos aguerra como a reivindicao e a demonstrao pelas armas do direito de fora (IDEM,50). pela guerra que o mais forte, o conquistador, afirma seu direito e que setransforma em direito do vencedor e dos vencidos. Proudhon no se detm emidentificar uma origem violenta para o Estado em que um contrato seria o instaurador dapaz, mas mostra como a guerra vital para que o Estado permanea e como a vitria produtora e aplicadora do direito. No h paz que exista sem a guerra:a guerra e a paz, uma correlativa outra, afirmando igualmente sua realidadee sua necessidade, so duas funes mestras do gnero humano. Elas sealternam na histria como, na vida do indivduo, a viglia e o sono. Como notrabalhador, o dispndio de foras e sua renovao; como na economiapoltica, a produo e o consumo. Portanto, a paz ainda a guerra, e a guerra a paz; pueril imaginar que elas se excluam (PROUDHON, 2011, 29).A paz no o oposto absoluto da guerra, esta s pode ser mantida com oexerccio de pequenas guerras em que a vitria afirmada. So nas pequenas guerrasque o regime da propriedade mantido, j que ningum produz nada sozinho, mas emrelao, a propriedade a extorso dessa produo coletiva, imposta por um indivduoou por um Estado. A propriedade um roubo (PROUDHON, 1986, 33).Paulo-Edgar Resende e Edson Passetti apontam que em Proudhon a propriedades possvel a partir de uma relao de foras, e no pela sua naturalizao:o capital rouba o produto da fora coletiva, o governo tenta dirigi-la [...]. Ocapital no , espontaneamente isto , pela ordem natural das coisas ,produto acumulado. produto apropriado atravs de determinada relao defora. A noo de roubo, nesse sentido, quer designar a relao real entre 13 duas classes antagnicas, mais do que simples provocao polmica(RESENDE; PASSETTI, 1986, 14).Em Proudhon, esse roubo no se realizaria diante de um contrato sinalagmtico,ou seja, um contrato relacionado a um objeto e que no opera pela abdicao de cadaum em nome de uma autoridade imposta, eleita ou qualquer universal. Um contratosinalagmtico e comutativo para um ou muitos objetos determinados, cuja condioessencial que os contratantes se reservem sempre uma parte de soberania e de aomaiores do que a que cedem (PROUDHON, 1986, 146). Para alm disso, consolida-seo roubo e qualquer direito que regule as relaes seria abstrato, uma fico.Assim, a pequena guerra no est em busca de uma sntese ou de um direito,mas um movimento da vida: o corao humano cheio de paixes; suas obras soimpuras (PRUDHON, 2011, 54).Diante desta tenso, as pequenas guerras so travadas no apenas para amanuteno da propriedade e do direito, mas tambm pequenas guerras que tensionama liberdade e provocam novas experimentaes. O termo utilizado por Proudhon foianarquia, para referir-se afirmao de si diante do governo sobre si (Cf.RODRIGUES, 2010).Assim, por meio de uma anlise histrico-poltica no se pressupe universais,mas apresenta relaes de foras que levaram a uma certa conformao , aponta-separa a emergncia da sociedade de controle e da extrao de fluxos de inteligncias como interesse de demarcar essas pequenas guerras cotidianas.Nas modulaes na sociedade de controle essas foras em jogo esto em tenso.No so mais os moldes das sociedades disciplinares, em que se saia de uma instituiodisciplinar para recomear em outra: a escola, o exrcito, a fbrica o hospital e a priso.Nas recentes sociedades de controle, esses moldes no possuem uma finalizao, asmodulaes so moldagens auto-deformantes que modificam-se a cada instante. Nasociedade de controle h o ajuste desses confinamentos, mas so ajustes interminveis,no se termina nada.Gilles Deleuze em seu post-scriptum sobre as sociedades de controle (2010)mostra um dos efeitos dessas modulaes em relao aos moldes da disciplina. Nassociedades de disciplina se marcado por uma assinatura que indica um indivduo, e umnmero de matrcula que indica sua posio na massa, o exerccio de um poder aomesmo tempo individualizante e totalizante. Nas sociedades de controle se trabalha comuma cifra, senhas que possibilitam o acesso ou o bloqueio a uma informao. So essas 14 cifras flutuantes, que se detm em um determinado momento e em outro no, quedeterminam os acessos, senhas que so constantemente atualizadas, e aquele que noestiver na infinita atualizao depara-se com o bloqueio. O homem da disciplina eraum produtor descontnuo de energia, mas o homem do controle antes ondulatrio,funcionando em rbita, num feixe contnuo (DELEUZE, 2010, 227).Nessas modulaes travam-se pequenas guerras pelas atualizaes e por novosacessos. Diante destas, interessa apresentar possibilidades de pequenas guerrasinteressadas na inveno de espaos de liberdade que desconhecem autorizaes deprotocolos e nem pedem licena para se lanar a uma vida libertaria dentro e fora dainternet. H vida libertria na internet?***O primeiro captulo traa a transposio da sociedade disciplinar para asociedade de controle. Apresenta-se a emergncia da noo de populao por meio doscartes perfurados utilizados na contabilizao de pessoas e em realizaes de censos nasociedade disciplinar e que haviam sido utilizados em mquinas txteis. Apresenta-se ouso destes cartes naquilo que Foucault nomeou como o apogeu das sociedadesdisciplinares, o nazismo: o nazismo , de fato, o desenvolvimento at o paroxismo dosmecanismos de poder novos que haviam se introduzido desde o sculo XVIII(FOUCAULT, 2005, 309).O desenvolvimento dos computadores teria continuidade com o final daSegunda Guerra nos laboratrios das Foras Armadas estadunidenses, ali tambmcomeava a ser pensada uma rede de comunicao que viria a ser nomeada de internetna dcada de 1990. Essa rede pretendia a manuteno da troca de dados no caso daecloso de uma guerra nuclear. A abertura das pesquisas para as universidades einstitutos de pesquisa aumentou o acesso a essa recente tecnologia, onde foramdesenvolvidos protocolos de acesso internet que realizam o envio de informaes deum computador a outro e as monitoram tanto seus contedos como a localizaogeogrfica do trfego de dados. Os jovens presentes que realizaram essas pesquisascomearam a explorar novos usos, desdobrando-se no desenvolvimento doscomputadores pessoais e o investimento em crianas para se habituarem desde cedocom essa tecnologia.Novos embates foram travados tanto pela popularizao dos computadores comopela abertura de seus cdigos para que qualquer um com conhecimento tcnico pudessemanuse-los e desenvolver novos softwares sem ter de adquirir das grandes empresas a 15 altos valores ou esperar suas atualizaes. O desenvolvimento desses softwares se deupor comunidades hackers de maneira colaborativa dessas universidades e institutos depesquisas.Essa popularizao, juntamente com o desenvolvimento da internet, somomentos importantes. Marcam a popularizao das mquinas e o acesso a uma rede decomunicao horizontal e centralizada em servidores que se exerce em fluxo.O segundo captulo apresenta o desdobramento dessas comunidades hackerspara o desenvolvimento do software wiki, utilizado na Wikipdia. O software wiki,oriundo do software livre, pretende formar uma comunidade de colaboradores paradesenvolver contedos sobre determinado assunto. com esse objetivo que foi fundadaa Wikipdia em janeiro de 2001, uma enciclopdia colaborativa que pretende abarcartodo o conhecimento humano.Para abranger todo esse contedo a Wikipdia divide-se em portais, dentre estes,o Portal da Anarquia que possui procedncias em outro projeto wiki, a Anarcopdia,que responde ao funcionamento continuo de adeso, colaborao e participao.Neste captulo so abordadas as normas da enciclopdia e o que um usurio devecumprir para ser um colaborador, e como este deve cumprir uma dieta da informaoatento para no tornar-se um hikikomori (termo japons para designar jovens reclusosque ficam dias conectados).Aborda-se as enciclopdias que abrangem os contedos anarquistas e sinaliza-seas divises dos verbetes e como elas corroboram com as regras da Wikipdia. Estas noso prticas anarquistas.Por meio da noo de pequena guerra pode-se retomar a experincia, nasociedade disciplinar, da Enciclopdia Anarquista, realizada em 1934 pelo anarquistafrancs Sbastien Faure. Esta enciclopdia travava uma pequena guerra diante dogoverno sobre a vida, pretendia divulgar os anarquismos pelo planeta e era uma aodireta ao dispensar mediaes na feitura de um grande livro escrito por anarquistas dediferentes procedncias.Diante do confronto anarquista na sociedade disciplinar, o terceiro captulo situao termo libertrio como procedncia anarquista, cunhado por Sbastien Faureestrategicamente em um perodo em que todo anarquista era identificado como terrorista.Ainda apresenta como o termo tentou ser capturado pelosneoliberais comdesdobramentos na chamada cultura livre, bem como o termo anarquismo, sob o nomede anarcocapitalismo e criptoanarquismo. 16 Neste captulo so abordadas prticas hackers no ps-Guerra Fria: hackers daantiga Unio Sovitica e do Vale do Silcio. Estas so prticas complementares queencontram-se, posteriormente, no desenvolvimento de softwares de segurana e nareivindicao da renovao de protocolos.Apresenta-se tambm a literatura cyberpunk, procedncia de uma prtica hackerde hoje, os cypherpunks, que tem como destaque Julian Assange, o administrador doWikileaks. Outra prtica hacker que ganhou destaque, foi a legio Anonymous, querealiza ataques DDoS (tirar temporariamente sites do ar) e passaram a ser conhecidoscomo cyberativistas com suas bandeiras de combate corrupo e liberdade deinformao.Apresenta-se a distino dessas prticas com os anarquismos e como suasreivindicaes no dispensam representaes e um governo centralizado. No soprticas libertrias.Assim, traa-se o embate de foras presentes hoje na internet, mostrando comoessas prticas hackers so controaprotocolares, ou seja, contraposicionam-se aosprotocolos para reform-los. Os contraposicionamentos, na sociedade disciplinar, eramconfrontosdiantesdosposicionamentos.Nasociedadedecontrole,contraposicionamentos so tragados pelos fluxos, recompem os protocolos. Assim,atenta-se para as possibilidades de uma erupo anarquista que trave uma pequenaguerra antiprotolar diante da expanso de controles. Primeiro captuloDisciplinas e controles:das contagens modulares teis smodulaes de fluxos deinteligncias 18 A histria enquanto emergncia de novos investimentos demarca aentrada em cena das foras, um lugar de afrontamentos. Logo, relao de foras, nouma busca de origem. Este seria o sentido histrico, como afirmou Foucault ao retomara genealogia de Nietzsche. Cremos que nosso presente se apoia em intenesprofundas, necessidades estveis; exigimos dos historiadores que nos convenam disso.O sentido histrico reconhece que ns vivemos sem referncias ou sem coordenadasoriginrias, em mirades de acontecimentos perdidos (IBIDEM, 29).Uma histria efetiva que se afasta das perspectivas das rs o olhar para olongnquo, para as alturas, que no mergulha, mas que busca olhar para o mais longe desi mesmo aproximar-se dos metafsicos para invocar a essncia das coisas. A histriaefetiva, em contrapartida, se atm ao que est prximo, ao corpo, s energias, ao espao.nada, portanto, de interrogar os universais utilizando como mtodo crtico ahistria, mas partir da deciso da inexistncia dos universais para indagarque a histria se pode fazer (FOUCAULT, 2008, 5-6).A histria efetiva no teme olhar embaixo, olha do alto para operar um mergulhopara apreender as perspectivas, desdobrar as disperses e as diferenas, deixar a cadacoisa sua medida e intensidade [...]. (Olhar semelhante ao do mdico que mergulha paradiagnosticar e dizer a diferena).1 Aquele que arrisca-se na histria efetiva, tantoapreende as perspectivas como no teme ser um saber perspectivo, afirmam de ondeolham, do momento em que esto, o incontrolvel de sua paixo (IBIDEM).Este primeiro captulo, situa-se no deslocamento da extrao de docilidade eutilidade dos indivduos na sociedade disciplinar para o investimento em fluxo deinteligncianasociedadedecontrole.Estuda-sealgumasprocednciasdearmazenamentos de dados e a transmisso destes, simultneos ao saber da informtica e1Alguns historiadores procuram apagar o lugar de onde falam; este historiador insensvel aos nojos, oumelhor, ele tem prazer com aquilo mesmo que o corao deveria afastar. Sua aparente serenidade seobstina em no reconhecer nada de grande e em reduzir tudo ao mais fraco denominador (FOUCAULT,1996, 31). Foucault ainda questiona-se a partir das proposies de Nietzsche: de onde vem a histria?, eresponde: da plebe; a quem se dirige?, plebe. E o discurso do historiador seria semelhante ao dodemagogo ningum maior que vocs diz este e aquele que tiver a presuno de querer ser superior avocs a vocs que so bons malvado, o historiador, por sua vez, o imita: nenhum passado maior do que seu presente e tudo o que h histria pode se apresentar com ar de grandeza, meu sabermeticuloso lhes mostrar a pequenez, a crueldade, e a infelicidade. Este parentesco, Foucault afirma,remonta a Scrates. Enquanto o demagogo deve invocar a verdade, a lei das essncias e a necessidadeeterna, o historiador deve invocar a objetividade, a exatido dos fatos, o passado inamovvel. Enquanto odemagogo levado negao do corpo para melhor estabelecer a soberania da ideia intemporal, ohistoriadorobstina-se contra si mesmo, cala suas preferncias e supera o nojo para mostrar a lei inevitvel de umavontade superior (IDEM). 19 produo de verdades que possibilitaram o desenvolvimento destas tecnologias, noenquanto uma linearidade evolutiva, mas procurando situar como o computador einternet foram possveis a partir de um jogo de foras.Retomam-se os cartes perfurados, usados na coleta de dados por governos,como em mtodos de contagem da populao; e o uso militar de computadores paraclculos balsticos, principalmente durante a chamada Guerra Fria.Neste perodo o desenvolvimento da internet intensifica-se para o aceleramentode transmisso de dados armazenados em computadores. Aps o desenvolvimento damquina, era preciso transmitir dados para outros locais rapidamente; isto s seriapossvel com a internet, ainda que esta no possusse uma caracterstica de mdia oupretendesse conectar computadores em escala planetria.O uso dessas tecnologias e seu desenvolvimento possuem um carter histrico.No se trata de encontrar seu verdadeiro uso, ou argumentar que foi utilizadaerroneamente em algum momento. Michel Foucault mostra que a verdade no umarecompensa reflexo, mas cada sociedade tem seu regime de verdade, ou seja,discursos que aceita e faz funcionar como verdadeiros. H um combate em torno doestatuto de verdade, um combate por esse conjunto das regras segundo as quais sedistingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos especficos de poder(FOUCAULT, 1996, 13).Esse combate no em favor da verdade, mas em torno do estatuto da verdadee do papel poltico-econmico que esta desempenha. A questo poltica, portanto, noseria o erro, a iluso, a conscincia alienada ou a ideologia, mas a prpria verdade enquanto um conjunto de procedimentos regulados para a produo, a lei, a repartio,a circulao e o funcionamento dos enunciados (IDEM, 14).Cada sociedade possui seu regime de verdade, seus tipos de discursos que acolhee faz funcionar como verdadeiros e para sancionar os falsos. Em nossas sociedades,Foucault aponta cinco caractersticas historicamente importantes da economia polticada verdade:a verdade centrada na forma do discurso cientfico e nas instituies que aproduzem; est submetida a uma constante incitao econmica e poltica(necessidade de verdade tanto para a produo econmica, quanto para opoder poltico); objeto, de vrias formas, de uma imensa difuso e de umimenso consumo (circula nos aparelhos de educao ou de informao, cujaextenso no corpo social relativamente transmitida sob o controle, noexclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos polticos oueconmicos (universidade, exrcito, escritura, meio de comunio; enfim, 20 objeto de debate poltico e de confronto social (as lutas ideolgicas)(IBIDEM).Assim, a verdade no pode ser situada apartada da poltica, est ligada aossistemas de poder que a produzem e aos efeitos de poder que ela induz e que aacompanham.Este captulo no sobre a histria da informtica, nem pretende mostrar o queh de verdadeiro ou falso em escritos sobre a Histria da informtica. No se trata defazer flutuar um livro para construir uma outra Histria mais verdadeira, mas de mostrara interseco de escritos a partir do que contam, no momento em que foram escritos, equais verdades anunciavam.Portanto, uma breve histria de prticas atravessas por procedncias eemergncias da linguagem computo-informacional. Esse desenrolar no marcado portratados, mas enquanto umarelao de foras que se inverte, um poder confiscado, uma dominao quese enfraquece, se distende, se envenena e uma outra que faz sua entrada,mascarada. As foras que se encontram em jogo na histria no obedecemnem a uma destinao, nem a uma mecnica, mas ao acaso da luta (IBIDEM,28).***Neste captulo apresenta como, no decorrer da emergncia da sociedade decontrole, sinalizada por Gilles Deleuze, foi possvel que os computadores e a internetfossem utilizados tanto para controle e localizao geogrfica de pessoas e coisas,quanto uma tecnologia poltica interessada menos na docilidade e utilidade dos corpos,mas em inteligncias.Para tanto, retomam-se algumas procedncias de processamento de dados, comoos cartes perfurados que foram utilizados em mquinas txteis no final do sculo XIX,e que so uma importante procedncia da estrutura fsica dos computadores (hardware).Os cartes perfurados das mquinas txteis indicavam qual o tear que a mquina deveriaseguir, assim, seria possvel mudar os cartes sem alterar a estrutura da mquina, ouseja, proporcionar comandos automticos aos teares.Tal investimento nos cartes obteve repercusses em escritos mdicos que oapontavam enquanto uma melhora do ambiente de trabalho. O interesse pela medicinadava-se enquanto uma disposio menos penosa do operrio em relao mquina,tanto para o aumento da produo quanto para o prolongamento de sua vida. 21 Ao tratar do corpo no como organismo biolgico, mas atravessado por relaesde poder, atenta-se para estes escritos enquanto um investimento da sociedadedisciplinar, analisada por Michel Foucault, na vida e na extrao de docilidade poltica eutilidade econmica dos corpos. Essas prticas eram centradas no corpo, no corpoindividual. Interessava assegurar a disposio espacial e sua organizao, e comoaumentar sua fora til. Um poder interessado em manter a vida do corpo social e emcomo desenvolv-la (FOUCAULT, 2009).Esse interesse na administrao dos corpos e na gesto calculista da vida, comodemarcou Foucault em Vigiar e Punir, no est mais condicionado defesa e vontade-lei do soberano, como ocorria no perodo medieval. Desloca-se o direito de morte, paraum poder que gere a vida. Eclodem tcnicas variadas para obteno da sujeio doscorpos e o controle das populaes (IDEM).No se trata mais da questo jurdica da soberania, mas de uma questobiolgica de uma populao. Est em jogo a salvaguarda da sociedade, o exerccio deum poder de causar a vida ou devolver morte.Essa biopoltica, como chamou Foucault, emergiu no sculo XVII, interessou-seno corpo-mquina e no corpo-espcie, ou seja, no adestramento do corpo, na extorsode foras, no ampliamento das aptides, e no crescimento da produtividade econmica eda docilidade poltica; e, a partir da segunda metade do sculo XVIII, centrou-se em umcorpo transpassado pela mecnica e por processos biolgicos, as variveis de uma vida(longevidade, nvel de sade...) passaram a ser passveis de interveno (IBIDEM).Ao realizar a anlise do exerccio da biopoltica e da sociedade disciplinar,Foucault apresenta metodologicamente o poder enquanto tecnologia. Em Vigiar e Punir,Foucault detm-se no mecanismo punitivo para mostrar os procedimentos e tecnologiasdo corpo que foram utilizados, construindo uma histria da tecnologia do poder, oumelhor, dos poderes. Ali, estuda a metamorfose dos mtodos punitivos a partir de umatecnologia poltica do corpo (1997, 24). Essa tecnologia poltica do corpo atrelada aum saber objetiva corpos teis e dceis, assim, a disciplina uma tecnologia de poder,no uma instituio.O corpo tambm est diretamente mergulhado num campo poltico; asrelaes de poder tm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam,o dirigem, o supliciam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimnias,exigem-lhe sinais. Este investimento poltico do corpo est ligado, segundorelaes complexas e recprocas, sua utilizao econmica; , numa boaproporo, como fora de produo que o corpo investido por relaes depoder e de dominao; mas em compensao sua constituio como fora de 22 trabalho s possvel se ele est preso num sistema de sujeio (onde anecessidade tambm um instrumento poltico cuidadosamente organizado,calculado e utilizado); o corpo s se torna fora til se ao mesmo tempocorpo produtivo e corpo submisso. Essa sujeio no obtida s pelosinstrumentos da violncia ou da ideologia; pode muito bem ser direta, fsica,usar a fora contra a fora, agir sobre elementos materiais sem no entanto serviolenta; pode ser calculada, organizada, tecnicamente pensada, pode sersutil, no fazer uso de armas nem do terror, e no entanto continuar a ser deordem fsica. Quer dizer que pode haver um saber do corpo que no exatamente a cincia de seu funcionamento, e um controle de suas foras que mais que a capacidade de venc-las: esse saber e esse controle constituemo que se poderia chamar a tecnologia poltica do corpo. Essa tecnologia difusa, claro, raramente formulada em discursos contnuos e sistemticos;compe-se muitas vezes de peas ou de pedaos; utiliza um material eprocessos sem relao entre si. O mais das vezes, apesar da coerncia deseus resultados, ela no passa de uma instrumentao multiforme. Almdisso seria impossvel localiNa recente sociedade de controle preciso estar conectado a todo momento,expandem-se conexes que no se do apenas por um cabo plugado em um computador,mas esto em smarthphones, iPhones, tablets, iPads. Atualizaes simultneas de statuse do que acontece no planeta.Bytes trafegam em cabos, em fibras ticas, em wireless, todos atravessados porprotocolos que possibilitam a conexo e que enviam dados de um canto a outromonitorados por um servidor. Alimenta-se bancos de dados que aumentam de tamanhoexponencialmente, armazenando em bytes para formar gigabytes e yottabytes.No se est mais diante da sociedade disciplinar em que ia-se de uma instituioa outra, em que fechavam-se ciclos, mas, agora nunca se termina nada, nem se para dealimentar bancos de dados em um fluxo computo-informacional.Este fluxo caracterstico da sociedade de controle, demarcada por GillesDeleuze, e que emergiu no ps-Segunda Guerra. Nas recentes sociedades de controleno se trata do exerccio de poder em rede da sociedade disciplinar caracterizado nosestudos de Michel Foucault.Demarca-se essa transposio da sociedade disciplinar, erigida no sculo XVIII,para a sociedade de controle por meio do desenvolvimento de novas tecnologias, comoos computadores e a internet.Diante disto, adotou-se metodologicamente a noo de pequena guerra dePierre-Joseph Proudhon e a anlise histrico-poltica de Michel Foucault. Como osanarquistas atualizam suas lutas diante da expanso de controles em fluxo inerentes internet e sociedade de controle? A pergunta que atravessa este trabalho tambm secoloca como uma pequena guerra diante da poltica e das modulaes. H vida libertriana internet?A pequena guerra uma luta cotidiana infindvel, uma relao de foras queno pode ser pacificada. No a guerra precedente da paz declarada por tratados deEstados. a pequena guerra na tenso da anlise serial de Proudhon em que no hsntese, mas uma tenso interminvel entre autoridade e liberdade.Esse embate de foras, um princpio da vida, est nas relaes entre as pessoasque no so iguais, como se questiona sarcasticamente Proudhon: Os homens soiguais por natureza: quer dizer que eles tm a mesma estatura, a mesma beleza, omesmo gnio, a mesma virtude? (PROUDHON, 1986, 37). 12 A guerra um fator humano diante dessa desigualdade, aqui no a guerra deEstado que produz mortes em nome da justia. Essa produto do direito da fora, produto de um julgamento de fora, a fora vencedora a expressa.A guerra de Estados onde o direito se impe, e este precisa dela para se manter.O direito, para Proudhon, est no mundo por meio da fora, o direto do mais forte omais antigo dos direitos. O direito um e idntico [...]. Mas ele assume diferentesnomes de acordo com o objeto ao qual se aplica: direito de fora, direito do trabalho,direito intelectual, direito de propriedade, direito de amor, direito de famlia, direitopenal, direito de cidade, etc.. (PROUDHON, 2011, 43).O direito de fora de onde partem todos os direitos, de onde os outros direitosse ramificam. esse direito que envolve a guerra em numerosas formalidades, odireito de guerra o cdigo de procedimentos da fora; por isso que definiremos aguerra como a reivindicao e a demonstrao pelas armas do direito de fora (IDEM,50). pela guerra que o mais forte, o conquistador, afirma seu direito e que setransforma em direito do vencedor e dos vencidos. Proudhon no se detm emidentificar uma origem violenta para o Estado em que um contrato seria o instaurador dapaz, mas mostra como a guerra vital para que o Estado permanea e como a vitria produtora e aplicadora do direito. No h paz que exista sem a guerra:a guerra e a paz, uma correlativa outra, afirmando igualmente sua realidadee sua necessidade, so duas funes mestras do gnero humano. Elas sealternam na histria como, na vida do indivduo, a viglia e o sono. Como notrabalhador, o dispndio de foras e sua renovao; como na economiapoltica, a produo e o consumo. Portanto, a paz ainda a guerra, e a guerra a paz; pueril imaginar que elas se excluam (PROUDHON, 2011, 29).A paz no o oposto absoluto da guerra, esta s pode ser mantida com oexerccio de pequenas guerras em que a vitria afirmada. So nas pequenas guerrasque o regime da propriedade mantido, j que ningum produz nada sozinho, mas emrelao, a propriedade a extorso dessa produo coletiva, imposta por um indivduoou por um Estado. A propriedade um roubo (PROUDHON, 1986, 33).Paulo-Edgar Resende e Edson Passetti apontam que em Proudhon a propriedades possvel a partir de uma relao de foras, e no pela sua naturalizao:o capital rouba o produto da fora coletiva, o governo tenta dirigi-la [...]. Ocapital no , espontaneamente isto , pela ordem natural das coisas ,produto acumulado. produto apropriado atravs de determinada relao defora. A noo de roubo, nesse sentido, quer designar a relao real entre 13 duas classes antagnicas, mais do que simples provocao polmica(RESENDE; PASSETTI, 1986, 14).Em Proudhon, esse roubo no se realizaria diante de um contrato sinalagmtico,ou seja, um contrato relacionado a um objeto e que no opera pela abdicao de cadaum em nome de uma autoridade imposta, eleita ou qualquer universal. Um contratosinalagmtico e comutativo para um ou muitos objetos determinados, cuja condioessencial que os contratantes se reservem sempre uma parte de soberania e de aomaiores do que a que cedem (PROUDHON, 1986, 146). Para alm disso, consolida-seo roubo e qualquer direito que regule as relaes seria abstrato, uma fico.Assim, a pequena guerra no est em busca de uma sntese ou de um direito,mas um movimento da vida: o corao humano cheio de paixes; suas obras soimpuras (PRUDHON, 2011, 54).Diante desta tenso, as pequenas guerras so travadas no apenas para amanuteno da propriedade e do direito, mas tambm pequenas guerras que tensionama liberdade e provocam novas experimentaes. O termo utilizado por Proudhon foianarquia, para referir-se afirmao de si diante do governo sobre si (Cf.RODRIGUES, 2010).Assim, por meio de uma anlise histrico-poltica no se pressupe universais,mas apresenta relaes de foras que levaram a uma certa conformao , aponta-separa a emergncia da sociedade de controle e da extrao de fluxos de inteligncias como interesse de demarcar essas pequenas guerras cotidianas.Nas modulaes na sociedade de controle essas foras em jogo esto em tenso.No so mais os moldes das sociedades disciplinares, em que se saia de uma instituiodisciplinar para recomear em outra: a escola, o exrcito, a fbrica o hospital e a priso.Nas recentes sociedades de controle, esses moldes no possuem uma finalizao, asmodulaes so moldagens auto-deformantes que modificam-se a cada instante. Nasociedade de controle h o ajuste desses confinamentos, mas so ajustes interminveis,no se termina nada.Gilles Deleuze em seu post-scriptum sobre as sociedades de controle (2010)mostra um dos efeitos dessas modulaes em relao aos moldes da disciplina. Nassociedades de disciplina se marcado por uma assinatura que indica um indivduo, e umnmero de matrcula que indica sua posio na massa, o exerccio de um poder aomesmo tempo individualizante e totalizante. Nas sociedades de controle se trabalha comuma cifra, senhas que possibilitam o acesso ou o bloqueio a uma informao. So essas 14 cifras flutuantes, que se detm em um determinado momento e em outro no, quedeterminam os acessos, senhas que so constantemente atualizadas, e aquele que noestiver na infinita atualizao depara-se com o bloqueio. O homem da disciplina eraum produtor descontnuo de energia, mas o homem do controle antes ondulatrio,funcionando em rbita, num feixe contnuo (DELEUZE, 2010, 227).Nessas modulaes travam-se pequenas guerras pelas atualizaes e por novosacessos. Diante destas, interessa apresentar possibilidades de pequenas guerrasinteressadas na inveno de espaos de liberdade que desconhecem autorizaes deprotocolos e nem pedem licena para se lanar a uma vida libertaria dentro e fora dainternet. H vida libertria na internet?***O primeiro captulo traa a transposio da sociedade disciplinar para asociedade de controle. Apresenta-se a emergncia da noo de populao por meio doscartes perfurados utilizados na contabilizao de pessoas e em realizaes de censos nasociedade disciplinar e que haviam sido utilizados em mquinas txteis. Apresenta-se ouso destes cartes naquilo que Foucault nomeou como o apogeu das sociedadesdisciplinares, o nazismo: o nazismo , de fato, o desenvolvimento at o paroxismo dosmecanismos de poder novos que haviam se introduzido desde o sculo XVIII(FOUCAULT, 2005, 309).O desenvolvimento dos computadores teria continuidade com o final daSegunda Guerra nos laboratrios das Foras Armadas estadunidenses, ali tambmcomeava a ser pensada uma rede de comunicao que viria a ser nomeada de internetna dcada de 1990. Essa rede pretendia a manuteno da troca de dados no caso daecloso de uma guerra nuclear. A abertura das pesquisas para as universidades einstitutos de pesquisa aumentou o acesso a essa recente tecnologia, onde foramdesenvolvidos protocolos de acesso internet que realizam o envio de informaes deum computador a outro e as monitoram tanto seus contedos como a localizaogeogrfica do trfego de dados. Os jovens presentes que realizaram essas pesquisascomearam a explorar novos usos, desdobrando-se no desenvolvimento doscomputadores pessoais e o investimento em crianas para se habituarem desde cedocom essa tecnologia.Novos embates foram travados tanto pela popularizao dos computadores comopela abertura de seus cdigos para que qualquer um com conhecimento tcnico pudessemanuse-los e desenvolver novos softwares sem ter de adquirir das grandes empresas a 15 altos valores ou esperar suas atualizaes. O desenvolvimento desses softwares se deupor comunidades hackers de maneira colaborativa dessas universidades e institutos depesquisas.Essa popularizao, juntamente com o desenvolvimento da internet, somomentos importantes. Marcam a popularizao das mquinas e o acesso a uma rede decomunicao horizontal e centralizada em servidores que se exerce em fluxo.O segundo captulo apresenta o desdobramento dessas comunidades hackerspara o desenvolvimento do software wiki, utilizado na Wikipdia. O software wiki,oriundo do software livre, pretende formar uma comunidade de colaboradores paradesenvolver contedos sobre determinado assunto. com esse objetivo que foi fundadaa Wikipdia em janeiro de 2001, uma enciclopdia colaborativa que pretende abarcartodo o conhecimento humano.Para abranger todo esse contedo a Wikipdia divide-se em portais, dentre estes,o Portal da Anarquia que possui procedncias em outro projeto wiki, a Anarcopdia,que responde ao funcionamento continuo de adeso, colaborao e participao.Neste captulo so abordadas as normas da enciclopdia e o que um usurio devecumprir para ser um colaborador, e como este deve cumprir uma dieta da informaoatento para no tornar-se um hikikomori (termo japons para designar jovens reclusosque ficam dias conectados).Aborda-se as enciclopdias que abrangem os contedos anarquistas e sinaliza-seas divises dos verbetes e como elas corroboram com as regras da Wikipdia. Estas noso prticas anarquistas.Por meio da noo de pequena guerra pode-se retomar a experincia, nasociedade disciplinar, da Enciclopdia Anarquista, realizada em 1934 pelo anarquistafrancs Sbastien Faure. Esta enciclopdia travava uma pequena guerra diante dogoverno sobre a vida, pretendia divulgar os anarquismos pelo planeta e era uma aodireta ao dispensar mediaes na feitura de um grande livro escrito por anarquistas dediferentes procedncias.Diante do confronto anarquista na sociedade disciplinar, o terceiro captulo situao termo libertrio como procedncia anarquista, cunhado por Sbastien Faureestrategicamente em um perodo em que todo anarquista era identificado como terrorista.Ainda apresenta como o termo tentou ser capturado pelosneoliberais comdesdobramentos na chamada cultura livre, bem como o termo anarquismo, sob o nomede anarcocapitalismo e criptoanarquismo. 16 Neste captulo so abordadas prticas hackers no ps-Guerra Fria: hackers daantiga Unio Sovitica e do Vale do Silcio. Estas so prticas complementares queencontram-se, posteriormente, no desenvolvimento de softwares de segurana e nareivindicao da renovao de protocolos.Apresenta-se tambm a literatura cyberpunk, procedncia de uma prtica hackerde hoje, os cypherpunks, que tem como destaque Julian Assange, o administrador doWikileaks. Outra prtica hacker que ganhou destaque, foi a legio Anonymous, querealiza ataques DDoS (tirar temporariamente sites do ar) e passaram a ser conhecidoscomo cyberativistas com suas bandeiras de combate corrupo e liberdade deinformao.Apresenta-se a distino dessas prticas com os anarquismos e como suasreivindicaes no dispensam representaes e um governo centralizado. No soprticas libertrias.Assim, traa-se o embate de foras presentes hoje na internet, mostrando comoessas prticas hackers so controaprotocolares, ou seja, contraposicionam-se aosprotocolos para reform-los. Os contraposicionamentos, na sociedade disciplinar, eramconfrontosdiantesdosposicionamentos.Nasociedadedecontrole,contraposicionamentos so tragados pelos fluxos, recompem os protocolos. Assim,atenta-se para as possibilidades de uma erupo anarquista que trave uma pequenaguerra antiprotolar diante da expanso de controles. Primeiro captuloDisciplinas e controles:das contagens modulares teis smodulaes de fluxos deinteligncias 18 A histria enquanto emergncia de novos investimentos demarca aentrada em cena das foras, um lugar de afrontamentos. Logo, relao de foras, nouma busca de origem. Este seria o sentido histrico, como afirmou Foucault ao retomara genealogia de Nietzsche. Cremos que nosso presente se apoia em intenesprofundas, necessidades estveis; exigimos dos historiadores que nos convenam disso.O sentido histrico reconhece que ns vivemos sem referncias ou sem coordenadasoriginrias, em mirades de acontecimentos perdidos (IBIDEM, 29).Uma histria efetiva que se afasta das perspectivas das rs o olhar para olongnquo, para as alturas, que no mergulha, mas que busca olhar para o mais longe desi mesmo aproximar-se dos metafsicos para invocar a essncia das coisas. A histriaefetiva, em contrapartida, se atm ao que est prximo, ao corpo, s energias, ao espao.nada, portanto, de interrogar os universais utilizando como mtodo crtico ahistria, mas partir da deciso da inexistncia dos universais para indagarque a histria se pode fazer (FOUCAULT, 2008, 5-6).A histria efetiva no teme olhar embaixo, olha do alto para operar um mergulhopara apreender as perspectivas, desdobrar as disperses e as diferenas, deixar a cadacoisa sua medida e intensidade [...]. (Olhar semelhante ao do mdico que mergulha paradiagnosticar e dizer a diferena).1 Aquele que arrisca-se na histria efetiva, tantoapreende as perspectivas como no teme ser um saber perspectivo, afirmam de ondeolham, do momento em que esto, o incontrolvel de sua paixo (IBIDEM).Este primeiro captulo, situa-se no deslocamento da extrao de docilidade eutilidade dos indivduos na sociedade disciplinar para o investimento em fluxo deinteligncianasociedadedecontrole.Estuda-sealgumasprocednciasdearmazenamentos de dados e a transmisso destes, simultneos ao saber da informtica e1Alguns historiadores procuram apagar o lugar de onde falam; este historiador insensvel aos nojos, oumelhor, ele tem prazer com aquilo mesmo que o corao deveria afastar. Sua aparente serenidade seobstina em no reconhecer nada de grande e em reduzir tudo ao mais fraco denominador (FOUCAULT,1996, 31). Foucault ainda questiona-se a partir das proposies de Nietzsche: de onde vem a histria?, eresponde: da plebe; a quem se dirige?, plebe. E o discurso do historiador seria semelhante ao dodemagogo ningum maior que vocs diz este e aquele que tiver a presuno de querer ser superior avocs a vocs que so bons malvado, o historiador, por sua vez, o imita: nenhum passado maior do que seu presente e tudo o que h histria pode se apresentar com ar de grandeza, meu sabermeticuloso lhes mostrar a pequenez, a crueldade, e a infelicidade. Este parentesco, Foucault afirma,remonta a Scrates. Enquanto o demagogo deve invocar a verdade, a lei das essncias e a necessidadeeterna, o historiador deve invocar a objetividade, a exatido dos fatos, o passado inamovvel. Enquanto odemagogo levado negao do corpo para melhor estabelecer a soberania da ideia intemporal, ohistoriadorobstina-se contra si mesmo, cala suas preferncias e supera o nojo para mostrar a lei inevitvel de umavontade superior (IDEM). 19 produo de verdades que possibilitaram o desenvolvimento destas tecnologias, noenquanto uma linearidade evolutiva, mas procurando situar como o computador einternet foram possveis a partir de um jogo de foras.Retomam-se os cartes perfurados, usados na coleta de dados por governos,como em mtodos de contagem da populao; e o uso militar de computadores paraclculos balsticos, principalmente durante a chamada Guerra Fria.Neste perodo o desenvolvimento da internet intensifica-se para o aceleramentode transmisso de dados armazenados em computadores. Aps o desenvolvimento damquina, era preciso transmitir dados para outros locais rapidamente; isto s seriapossvel com a internet, ainda que esta no possusse uma caracterstica de mdia oupretendesse conectar computadores em escala planetria.O uso dessas tecnologias e seu desenvolvimento possuem um carter histrico.No se trata de encontrar seu verdadeiro uso, ou argumentar que foi utilizadaerroneamente em algum momento. Michel Foucault mostra que a verdade no umarecompensa reflexo, mas cada sociedade tem seu regime de verdade, ou seja,discursos que aceita e faz funcionar como verdadeiros. H um combate em torno doestatuto de verdade, um combate por esse conjunto das regras segundo as quais sedistingue o verdadeiro do falso e se atribui ao verdadeiro efeitos especficos de poder(FOUCAULT, 1996, 13).Esse combate no em favor da verdade, mas em torno do estatuto da verdadee do papel poltico-econmico que esta desempenha. A questo poltica, portanto, noseria o erro, a iluso, a conscincia alienada ou a ideologia, mas a prpria verdade enquanto um conjunto de procedimentos regulados para a produo, a lei, a repartio,a circulao e o funcionamento dos enunciados (IDEM, 14).Cada sociedade possui seu regime de verdade, seus tipos de discursos que acolhee faz funcionar como verdadeiros e para sancionar os falsos. Em nossas sociedades,Foucault aponta cinco caractersticas historicamente importantes da economia polticada verdade:a verdade centrada na forma do discurso cientfico e nas instituies que aproduzem; est submetida a uma constante incitao econmica e poltica(necessidade de verdade tanto para a produo econmica, quanto para opoder poltico); objeto, de vrias formas, de uma imensa difuso e de umimenso consumo (circula nos aparelhos de educao ou de informao, cujaextenso no corpo social relativamente transmitida sob o controle, noexclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos polticos oueconmicos (universidade, exrcito, escritura, meio de comunio; enfim, 20 objeto de debate poltico e de confronto social (as lutas ideolgicas)(IBIDEM).Assim, a verdade no pode ser situada apartada da poltica, est ligada aossistemas de poder que a produzem e aos efeitos de poder que ela induz e que aacompanham.Este captulo no sobre a histria da informtica, nem pretende mostrar o queh de verdadeiro ou falso em escritos sobre a Histria da informtica. No se trata defazer flutuar um livro para construir uma outra Histria mais verdadeira, mas de mostrara interseco de escritos a partir do que contam, no momento em que foram escritos, equais verdades anunciavam.Portanto, uma breve histria de prticas atravessas por procedncias eemergncias da linguagem computo-informacional. Esse desenrolar no marcado portratados, mas enquanto umarelao de foras que se inverte, um poder confiscado, uma dominao quese enfraquece, se distende, se envenena e uma outra que faz sua entrada,mascarada. As foras que se encontram em jogo na histria no obedecemnem a uma destinao, nem a uma mecnica, mas ao acaso da luta (IBIDEM,28).***Neste captulo apresenta como, no decorrer da emergncia da sociedade decontrole, sinalizada por Gilles Deleuze, foi possvel que os computadores e a internetfossem utilizados tanto para controle e localizao geogrfica de pessoas e coisas,quanto uma tecnologia poltica interessada menos na docilidade e utilidade dos corpos,mas em inteligncias.Para tanto, retomam-se algumas procedncias de processamento de dados, comoos cartes perfurados que foram utilizados em mquinas txteis no final do sculo XIX,e que so uma importante procedncia da estrutura fsica dos computadores (hardware).Os cartes perfurados das mquinas txteis indicavam qual o tear que a mquina deveriaseguir, assim, seria possvel mudar os cartes sem alterar a estrutura da mquina, ouseja, proporcionar comandos automticos aos teares.Tal investimento nos cartes obteve repercusses em escritos mdicos que oapontavam enquanto uma melhora do ambiente de trabalho. O interesse pela medicinadava-se enquanto uma disposio menos penosa do operrio em relao mquina,tanto para o aumento da produo quanto para o prolongamento de sua vida. 21 Ao tratar do corpo no como organismo biolgico, mas atravessado por relaesde poder, atenta-se para estes escritos enquanto um investimento da sociedadedisciplinar, analisada por Michel Foucault, na vida e na extrao de docilidade poltica eutilidade econmica dos corpos. Essas prticas eram centradas no corpo, no corpoindividual. Interessava assegurar a disposio espacial e sua organizao, e comoaumentar sua fora til. Um poder interessado em manter a vida do corpo social e emcomo desenvolv-la (FOUCAULT, 2009).Esse interesse na administrao dos corpos e na gesto calculista da vida, comodemarcou Foucault em Vigiar e Punir, no est mais condicionado defesa e vontade-lei do soberano, como ocorria no perodo medieval. Desloca-se o direito de morte, paraum poder que gere a vida. Eclodem tcnicas variadas para obteno da sujeio doscorpos e o controle das populaes (IDEM).No se trata mais da questo jurdica da soberania, mas de uma questobiolgica de uma populao. Est em jogo a salvaguarda da sociedade, o exerccio deum poder de causar a vida ou devolver morte.Essa biopoltica, como chamou Foucault, emergiu no sculo XVII, interessou-seno corpo-mquina e no corpo-espcie, ou seja, no adestramento do corpo, na extorsode foras, no ampliamento das aptides, e no crescimento da produtividade econmica eda docilidade poltica; e, a partir da segunda metade do sculo XVIII, centrou-se em umcorpo transpassado pela mecnica e por processos biolgicos, as variveis de uma vida(longevidade, nvel de sade...) passaram a ser passveis de interveno (IBIDEM).Ao realizar a anlise do exerccio da biopoltica e da sociedade disciplinar,Foucault apresenta metodologicamente o poder enquanto tecnologia. Em Vigiar e Punir,Foucault detm-se no mecanismo punitivo para mostrar os procedimentos e tecnologiasdo corpo que foram utilizados, construindo uma histria da tecnologia do poder, oumelhor, dos poderes. Ali, estuda a metamorfose dos mtodos punitivos a partir de umatecnologia poltica do corpo (1997, 24). Essa tecnologia poltica do corpo atrelada aum saber objetiva corpos teis e dceis, assim, a disciplina uma tecnologia de poder,no uma instituio.O corpo tambm est diretamente mergulhado num campo poltico; asrelaes de poder tm alcance imediato sobre ele; elas o investem, o marcam,o dirigem, o supliciam, sujeitam-no a trabalhos, obrigam-no a cerimnias,exigem-lhe sinais. Este investimento poltico do corpo est ligado, segundorelaes complexas e recprocas, sua utilizao econmica; , numa boaproporo, como fora de produo que o corpo investido por relaes depoder e de dominao; mas em compensao sua constituio como fora de 22 trabalho s possvel se ele est preso num sistema de sujeio (onde anecessidade tambm um instrumento poltico cuidadosamente organizado,calculado e utilizado); o corpo s se torna fora til se ao mesmo tempocorpo produtivo e corpo submisso. Essa sujeio no obtida s pelosinstrumentos da violncia ou da ideologia; pode muito bem ser direta, fsica,usar a fora contra a fora, agir sobre elementos materiais sem no entanto serviolenta; pode ser calculada, organizada, tecnicamente pensada, pode sersutil, no fazer uso de armas nem do terror, e no entanto continuar a ser deordem fsica. Quer dizer que pode haver um saber do corpo que no exatamente a cincia de seu funcionamento, e um controle de suas foras que mais que a capacidade de venc-las: esse saber e esse controle constituemo que se poderia chamar a tecnologia poltica do corpo. Essa tecnologia difusa, claro, raramente formulada em discursos contnuos e sistemticos;compe-se muitas vezes de peas ou de pedaos; utiliza um material eprocessos sem relao entre si. O mais das vezes, apesar da coerncia deseus resultados, ela no passa de uma instrumentao multiforme. Almdisso seria impossvel localiz-la, quer num tipo definido de instituio, quernum aparelho do Estado. Estes recorrem a ela; utilizam-na, valorizam-na ouimpem algumas de suas maneiras de agir. Mas ela mesma, em seusmecanismos e efeitos, se situa num nvel completamente diferente. Trata-sede alguma maneira de uma microfsica do poder posta em jogo pelosaparelhos e instituies, mas cujo campo de validade se coloca de algummodo entre esses grandes funcionamentos e os prprios corpos com suamaterialidade e suas foras (IDEM, 25-26).Assim, este captulo, como o decorrer do trabalho, compreende a tecnologia noenquanto desenvolvimento e aperfeioamento de maquinarias; no somente uma cincia,mas prticas e exerccio de poder que possuem um objetivo.Ao lado da grande tecnologia dos culos, das lentes, dos feixes luminosos,unida fundao da fsica e da cosmologia novas, houve as pequenastcnicas das vigilncias mltiplas e entrecruzadas, dos olhares que devemver sem ser vistos; uma arte obscura da luz e do visvel preparou em surdinaum saber novo sobre o homem, atravs das tcnicas para sujeit-lo eprocessos para utiliz-lo (IBIDEM, 144).Neste primeiro captulo sinaliza-se para o exerccio deste poder disciplinar e oaprimoramento dos computadores, demarcando, a partir da segunda metade do sculoXX, a emergncia de outro exerccio de poder interessado no somente na extrao deutilidade e docilidade, mas de fluxos de inteligncias.Recenseamentos: a noo de populaoUma das procedncias importantes da estrutura fsica dos computadores(hardware) so os cartes perfurados. Estes foram utilizados, em 1890, pelo estatsticoestadunidense Herman Hollerith, para armazenamento de dados. 23 Hollerith concebeu diversas mquinas eltricas para a soma e contagem dedados, os quais eram representados sob a forma de perfuraesadequadamente distribudas em fita de papel.Atravs dessas perfuraes, estabeleciam-se circuitos eltricos e os dadosque elas representavam podiam, ento, ser computados de forma rpida eautomaticamente.2Hollerith, enquanto cursava engenharia na Columbia University of Mines, em1879, foi convidado por um professor para trabalhar no U.S. Census Bureau e comeoua pensar em como uma mquina poderia tabular dados da populao. Sua ideia inicialera utilizar um carto com orifcios padronizados e cada buraco significaria um traodiferente da pessoa. Em 1890, esses cartes seriam utilizados como arquivadores em umtabulador estatstico construdo para acelerar o processamento de dados do censoestadunidense daquela dcada, visto que, em 1880, as informaes recolhidas a mo eem papis de jornais demoraram 7 anos para serem calculadas.3Os cartes perfurados foram desenvolvidos pelo francs Joseph Marie Jacquard,em 1801 para fornecerem informaes de tear s mquinas txteis. Os buracos doscartes mostravam o modelo que a mquina deveria seguir: qual e quando um fiodeveria passar por baixo ou por cima, como repetir o processo em determinadomomento... Por permitir mudar os tipos de teares sem alterar a estrutura da mquina, ainveno de Jacquard passou a ser utilizada na Frana e em 1812, o pas possua cercade 11.000 destes (FILHO, 2007), e um aumento significativo da produo.Em An Electric Tabulating System um pequeno artigo de 1889 a partir de seuPh. D. a respeito do censo nos EUA em desenvolvimento , Hollerith retoma Jacquard eapresenta o funcionamento dos cartes perfurados e a leitura pela mquina, afirmandoque este novo equipamento no apenas teria um custo menor, mas possua uma maiorpreciso e os resultados errados aconteceriam apenas por falhas dos funcionrios.O desenvolvimento deste sistema foi pensado primeiro por meio de fitas depapel que possuam campos e podiam ser perfuradas para assinalar uma dascaractersticas. Cada espao representava uma categoria, como masculino/feminino,branco/negro. Uma perfurao no campo masculino/feminino representava um homem,na ausncia deste, seria uma mulher. Posteriormente, cada carto seria lido por umamquina.2 Histria da IBM. Disponvel em: http://www.ibm.com/br/ibm/history/. Acesso em 25/04/2012.3 Histria da informtica. Disponvel em: http://analgesi.co.cc/html/t705.html. Acesso em 25/04/2012. 24 Para o censo de 1890 foram utilizados cartes para cada indivduo. Possuam otamanho de uma nota de 1 dlar e eram furados pelas perfuradoras usadas porcobradores de nibus e trens, que seriam logo substitudas por uma perfuradora especialque realizava buracos de menor raio, para, assim, acumular um nmero maior deinformaes em um s carto.Quando o U. S. Bureau of Census, em 1889, anunciou um concurso para escolhada mquina para a realizao do recenseamento demogrfico estadunidense no anoseguinte, a mquina de Hollerith foi a escolhida. Suas mquinas possuam patentes deinveno e, por isso, foi cobrada a taxa de 65 centavos pelo processamento de cadaconjunto de mil cartes perfurados. Os cartes estavam divididos em zonas quecorrespondiam a cada informao da populao: idade, sexo, moradia, data denascimento, nacionalidade. Aps 3 anos, foram entregues os resultados de 62.622.250pessoas, 4 gerando uma renda, apenas da patente, de US$40.704, 46.4Hollerith:Trampolimparaosucesso.Disponvelem:http://www.di.ufpb.br/raimundo/Revolucao_dos_Computadores/Histpage5.htm. Acesso em 23/04/2011.No Arquivo Nacional dos EUA (http://www.archives.gov/) possvel ter acesso a artigos referentes aalguns usos dos cartes perfurados pelo governo estadunidense. No entanto, os microfilmes ainda noesto digitalizados e a maior parte desses arquivos foi perdida em 1921 em um incndio no prdio dodepartamento de Comrcio em Washington DC. Os arquivos referentes ao censo de 1890 que restaramforam:1.Calendrio do censo: mais de 6.160 pessoas esto nos cadastros salvos do censo, referentes a 10estados e o distrito de Columbia;2.Lista de veteranos da Guerra Civil e suas vivas: constam nos microfilmes os nomes dosveteranos e seus registros militares;3.Lista dos territrios de Oklahoma, em que eram traadas as caractersticas do espao (comonome de ruas e avenidas, nmero de habitaes), e das pessoas (como nome, relao com o chefe defamlia, cor, gnero, idade, local de nascimento, anos em que estava nos Estados Unidos, tempo deresidncia em Oklahoma, se era naturalizado, no caso de soldados, qual era o regimento, se lia e seescrevia);4.Lista dos afro-americanos de Delaware: uma lista de 454 afro-americanos;5.Estatstica das congregaes luteranas: uma lista de cada organizao por localidade, constandonmero de membros, valor da propriedade da igreja, nmero de assentos disponveis no local;6.Informaes estatsticas referentes aos Estados Unidos: foram resgatados 34 relatrios de 1892 a1897.(NationalArchives.The1890census.2005.Disponvelem:http://www.archives.gov/research/census/1890/1890.html. Acesso em 08/08/2012.)Estes arquivos s esto disponveis em microfilmes, o Arquivo Nacional estadunidense est em fase dedigitalizao de seus arquivos, os dados do censo de 1930 j podem ser visitados. Nessa empreitada dedigitalizao, em fevereiro de 2010, o Flickr anunciou em seu blog a incluso de cerca de 3000 fotos doArquivo Nacional dos Estados Unidos em 49 lbuns. O Arquivo Nacional tambm possui perfil noFacebook e no Twitter (www.facebook.com/usnationalarchives e twitter.com/archivesnews), alm deestar hospedado no Wikispaces (http://www.ourarchives.wikispaces.net/), onde os usurios podemcomentar sobre a histria dos EUA e compartilhar mtodos de pesquisa. 25 Michel Foucault (2005) mostrou como o saber estatstico importante paracontrole da populao. O saber estatstico articula-se disciplina e tenta reger oconjunto de pessoas na medida em que este tem de ser vigiado, treinado, utilizado e,eventualmente, punido, em escala coletiva e individual.No mais o exerccio de um poder de confisco de bens, coisas e, no limite, davida, que simbolizava o poder soberano. No se trata mais do direito de causar a morteou deixar viver condicionado defesa e vontade-lei do soberano. Mas o poder desloca-se por dois plos de desenvolvimento das tcnicas de poder que no so antitticos, masso plos interligados por relaes: a administrao dos corpos e a gesto calculista davida, como demarcou Foucault em Vigiar e Punir. O direito de morte transmuta-se,preferencialmente, para um poder que gere a vida, e com isso eclodem tcnicas variadaspara obteno da sujeio dos corpos e o controle das populaes (FOUCAULT, 2009).O primeiro plo desenvolveu-se no sculo XVII e centrou-se no corpo humanocomo mquina, interessado no adestramento, na ampliao das aptides, na extorso deforas, tudo isso assegurado "por procedimentos de poder que caracterizam asdisciplinas antomo-polticas do corpo humano" (IDEM, 151). O segundo, que seformou por volta da metade do sculo XVIII, centrou-se no corpo-espcie, transpassadopela mecnica do ser vivo e atrelado aos processos biolgicos proliferao,nascimento, mortalidade, nvel de sade, durao da vida e com todas as condiesque podem fazer estes alterarem-se; tais processos s so possveis por meio de umasrie de intervenes e controles reguladores da populao. Uma era de biopoltica,como afirmou Foucault: a vida no domnio dos clculos.Portanto, uma tecnologia de dois plos anatmico e biolgico, individualizantee especificante que tem por funo manter a vida. No se trata mais da restrita questojurdica da soberania, mas de uma outra, a questo biolgica da populao. Est em jogoa salvaguarda da sociedade, o exerccio de um poder de causar a vida ou devolver morte.A biopoltica articula-se a processos de contagens e controle da populao parase exercer. Refere-se, portanto, ao conjunto, ao saber estatstico, ao saber de governo,que compem este controle. Neste perodo, os processos de natalidade, mortalidade elongevidade constituram os primeiros objetos de saber e os primeiros alvos de controledessa biopoltica (FOUCAULT, 2005). Esse mapeamento de alguns momentos da vidada populao no trata ainda de um problema de fecundidade, mas da morbidade, nomais referente s epidemias que se multiplicavam e ameaavam a todos, mas de 26 endemias, ou seja, da forma, da durao, da intensidade das doenas reinantes napopulao (IDEM).Nos mecanismos implantados pela biopoltica, vai se tratar, sobretudo, claro, de previses, de estimativas estatsticas, de medies globais; vai setratar, igualmente, no de modificar tal fenmeno em especial, no tanto talindivduo, na medida em que o indivduo, mas, essencialmente, de intervirno nvel daquilo que so as determinaes desses fenmenos gerais, dessesfenmenos no que eles tem de global. Vai ser preciso modificar, baixar amorbidade; vai ser preciso encompridar a vida; vai ser preciso estimular anatalidade (FOUCAULT, 2005, 293).Portanto, a biopoltica tem como instrumento certas contagens para agir emacontecimentos aleatrios e reguladores que ocorrem em uma populao. Entretanto,no uma interveno momentnea, mas trata-se tambm de buscar estabelecer umequilbrio, manter uma mdia e otimizar um estado de vida. No se trata tanto de umtrabalho individual sobre o corpo, considerado no nvel do detalhe para a maximizaode foras, mas de obter estados gerais de equilbrio. No somente o indivduo-corpo,mas um novo corpo: corpo mltiplo, corpo com inmeras cabeas, se no infinitopelo menos necessariamente numervel. a noo de populao (IDEM, 292).A noo de populao deslocou a estatstica. A estatstica at ento haviafuncionado no quadro administrativo da soberania e vai mostrar, pouco a pouco, que apopulao tem uma regularidade prpria: nmero de mortos, doentes, natalidades...Mostra ainda que seus fenmenos so irredutveis famlia: grandes epidemias,mortalidade generalizada, etc., e que produz efeitos econmicos especficos(FOUCAULT, 1996).O fenmeno da populao est ligado, por volta do sculo XVIII, com a arte degovernar, entendida como prtica econmica de viabilizar a melhor forma de gerir apopulao e, assim, atingir o melhor governo possvel. A arte de governar indissocivel da razo de Estado, racionalizao de uma prtica que se situa entre umEstado apresentado como dado e um Estado apresentado como a construir, a seredificado; governar, segundo esse princpio, fazer com que o Estado possa se tornarslido.Foucault apresenta procedncias da arte de governar, para isso analisa o livro deGuillaume de La Perrire do sculo XVI, um dos primeiros escritores anti-Maquiavel.Foucault interessado no somente na funo negativa da crtica, na censura, mas napositividade, nos conceitos e estratgias que elabora aponta que a crtica a Maquiavelpor La Perrire baseava-se em afirmar que esse faz um tratado de habilidade do prncipe, 27 que no teria nada a ver com a arte de governar. Para La Perrire, governante no apenas o prncipe, pode ser o juiz, o monarca, o imperador, o magistrado e similares;salienta ainda que se governa uma casa, as almas, as crianas, uma provncia, umconvento, uma famlia. No se trata, portanto, aponta Foucault, do prncipe deMaquiavel que est em posio de exterioridade e transcendncia aos sditos; nestaliteratura as prticas de governo so mltiplas, muita gente pode governar: o pai defamlia, o padre, o professor.A noo de governo para Foucault no a noo conferida ao Estado como nasanlises da teoria do poder, aqui se trata do governo das coisas:Quando La Perrire diz que o governo governa coisas, o que ele quer dizer?No creio que se trate de opor as coisas aos homens, mas antes de mostrarque aquilo com que o governo se relaciona no , portanto, o territrio, masuma espcie de complexo constitudo pelos homens e pelas coisas. Querdizer tambm que essas coisas de que o governo deve se encarregar, diz LaPerrire, so os homens, mas em suas relaes, em seus vnculos, em suasimbricaes com essas coisas que so as riquezas, os recursos, os meios desubsistncia, o territrio, claro, em suas fronteiras, com suas qualidades,seu clima, sua sequido, sua fecundidade. So os homens em suas relaescom estas outras coisas que so os costumes, os hbitos, as maneiras de fazerou de pensar. E, enfim, so os homens em suas relaes com estas outrascoisas que podem ser os acidentes ou as calamidades como a fome, asepidemias, a morte (FOUCAULT, 2008, 128-129).Outra obra que Foucault aponta, tambm procedente do XVI, de La Mothe LeVayer. Este distingue trs formas de governo: governo de si, que diz respeito moral; aarte de governar adequadamente uma famlia, que diz respeito economia; e a cinciade bem governar o Estado, que diz respeito poltica. Mesmo com as distines, essasartes de governar apresentam uma continuidade: quem governa o Estado, governa a si;em um Estado bem governado, a famlia governa a casa e os indivduos se comportamcomo devem.Para Foucault, essa literatura introduz a economia na poltica.Governar um Estado significar portanto estabelecer a economia ao nvelgeral do Estado, isto , ter em relao aos habitantes, s riquezas, aoscomportamentos individuais e coletivos, uma forma de vigilncia, decontrole to atenta quanto a do pai de famlia (FOUCAULT, 1996, 281)O desenvolvimento da arte de governar s toma fora, no sculo XVIII, com aexpanso demogrfica e o aumento da produo agrcola do sculo anterior. Portanto, anoo de populao, bem como o exerccio da biopoltica, indissocivel daemergncia do liberalismo e da autolimitao da razo governamental. neste sculo,aponta Foucault, que tambm h a instaurao de mecanismos internos no somente 28 para assegurar o Estado e suas riquezas, mas a negao do exerccio do poder degovernar fundado na supresso, ou seja, uma razo de governo mnimo, comprocedncia em clculos e estatsticas e aliada da economia poltica, uma razogovernamental moderna com caracterstica de busca da autolimitao. A arte degovernar passa a ser uma ao mnima e utilitria."Autolimitao da razo governamental": o que quer dizer isso, afinal? Oque esse novo tipo de racionalidade na arte de governar, esse novo tipo declculo que consiste em dizer e em fazer o governo dizer "aceito, quero,projeto, calculo que no se deve mexer em nada disso?" Pois bem, acho que isso que se chama, em linhas gerais, "liberalismo". [...] Com a emergnciada economia poltica, com a introduo do princpio limitativo na prpriaprtica governamental, realiza-se uma substituio importante, ou melhor,uma duplicao, pois os sujeitos de direito sobre os quais se exerce asoberania poltica aparecem como uma populao que um governo deveadministrar. a que a linha da organizao de uma 'biopoltica' entra seu ponto departida. Mas quem no v que isso apenas uma parte de algo bem maisamplo, que essa nova razo governamental?Estudar o liberalismo como quadro geral da biopoltica (FOUCAULT, 2008,28-30).Assim, neste momento tambm que a economia passa a designar no apenasuma forma de governo, mas um campo de interveno.O problema do desbloqueio da arte de governar est em conexo com aemergncia do problema da populao; trata-se de um processo sutil que,quando reconstitudo no detalhe, mostra a cincia do governo, acentralizao da economia em outra coisa que no a famlia e o problema dapopulao esto ligados (IDEM).Portanto, o foco da economia no est mais sobre a famlia, mas sobre apopulao. No ser mais o modelo da famlia para o governo, a famlia ser elementoconstitutivo do governo das populaes.A populao aparecer como o objetivo final do governo. [...] A populaoaparece, portanto, mais como um fim e instrumento do governo que comofora do soberano; a populao aparece como sujeito de necessidades, deaspiraes, mas tambm como objeto nas mos do governo; como consciente,frente ao governo, daquilo que ela quer e inconsciente em relao quilo quese quer que ela faa. O interesse individual - como conscincia de cadaindivduo constituinte da populao - e o interesse geral - como interesse dapopulao, quaisquer que sejam os interesses e as aspiraes individuaisdaqueles que a compem - constituem o alvo e o instrumento fundamentaldo governo da populao. Nascimento portanto de uma arte ou, em todo caso,de tticas e tcnicas absolutamente novas (FOUCAULT, 1996, 281).A estatstica ser um saber fundamental para este funcionamento. Revela que apopulao no est reduzida famlia, possui seus prprios fenmenos. Entretanto, aeconomia pensada a partir da famlia, mesmo a populao sendo irredutvel famlia, 29 esta ser no mais um modelo, mas um segmento. Um segmento privilegiado, afirmaFoucault, porque nele que se age para conseguir alguma coisa da populao:comportamentos sexuais, demografia, consumo, etc.. Famlia, portanto, enquantoelemento para o governo da populao e no mais um modelo do bom governo.A populao articula-se disciplina. Essa um campo de interveno, um dado. preciso gerir a populao, no somente no que tange ao nvel de seus resultadosglobais, mas minuciosamente, no detalhe.O recolhimento de informaes dessa populao permite contabilizar mortes enatalidades. No toa, o sistema de cartes perfurados de Hollerith foi utilizadoinicialmente pelo Conselho de Sade de Nova Iorque para contabilizar as mortes nacidade. Para o registro de cada morte, vrias categorias eram preenchidas paracaracterizar o indivduo: sexo, idade, raa, estado civil, ocupao, local de nascimento,onde ocorreu a morte, a subdiviso sanitria e qual era o local do acontecido (cortio,hotel, instituio pblica, residncia), e, por fim, a causa da morte (HOLLERITH,1889).5IBM, mercado e lucrosGeoffrey Austrian (1982), um funcionrio da IBM, interessou-se por Hollerithaps uma pesquisa de preparao para o IBM Day, um evento de comemorao daempresa, em 1964. Conta em seu livro que, depois do sucesso na separao dasinformaes para o censo, a mquina passou a ser comercializada, e pouco depois docenso de 1900 o Governo Federal constatou que havia ajudado a Companhia deMquinas Tabuladoras de Hollerith a se tornar monoplio global. Neste mesmo perodo,a nova direo do U.S. Census Bureau detectou irregularidades nos contratos com asmquinas de cartes perfurados: royalties excessivos, mquinas fantasmas, etc.. Os5Vale ressaltar que a medicina passou a ter aspecto de uma certa tecnologia social a partir do sculoXVIII, tambm. Em uma conferncia proferida no Rio de Janeiro, em 1974, Crise da medicina e daantimedicina (2010), Michel Foucault mostrou que nessa passagem da clnica para a social, a medicinaassumiu 4 aspectos: a emergncia de uma autoridade mdica social, que pode tomar decises no nvel deuma cidade, uma instituio, um regulamento; interveno da medicina no ar, na gua, nas construes,nos terrenos, nos esgotos, etc.; introduo do hospital, que at ento no era uma instituio demedicalizao, mas de assistncias aos pobres que estavam para morrer; introduo da administraomdica com registro de dados, comparao, estabelecimento de estatsticas, etc.. Assim, a medicinapassou a assegurar uma vigilncia e controle da populao, pelo seu aspecto exterior por meio de umaprtica corporal, uma higiene, que se consolidou no sculo XIX e que s foi possvel com o conhecimentoda populao. 30 preos cobrados eram absurdos, outros clientes pagavam preos menores e o diretor doCensus Bureau, Simeon North, suspeitava que at mesmo o czar havia pago menos(AUSTRIAN, 1982).Quando as patentes de Hollerith venceram o concurso em 1906, o CensusBureau j havia produzido outras mquinas, quebrando o monoplio de Hollerith. Atabuladora que a substituiu foi a de James Powers, outro tcnico do escritrio. Essa eramais rpida e custava menos, o que permitiu z-la, quer num tipo definido de instituio, quernum aparelho do Estado. Estes recorrem a ela; utilizam-na, valorizam-na ouimpem algumas de suas maneiras de agir. Mas ela mesma, em seusmecanismos e efeitos, se situa num nvel completamente diferente. Trata-sede alguma maneira de uma microfsica do poder posta em jogo pelosaparelhos e instituies, mas cujo campo de validade se coloca de algummodo entre esses grandes funcionamentos e os prprios corpos com suamaterialidade e suas foras (IDEM, 25-26).Assim, este captulo, como o decorrer do trabalho, compreende a tecnologia noenquanto desenvolvimento e aperfeioamento de maquinarias; no somente uma cincia,mas prticas e exerccio de poder que possuem um objetivo.Ao lado da grande tecnologia dos culos, das lentes, dos feixes luminosos,unida fundao da fsica e da cosmologia novas, houve as pequenastcnicas das vigilncias mltiplas e entrecruzadas, dos olhares que devemver sem ser vistos; uma arte obscura da luz e do visvel preparou em surdinaum saber novo sobre o homem, atravs das tcnicas para sujeit-lo eprocessos para utiliz-lo (IBIDEM, 144).Neste primeiro captulo sinaliza-se para o exerccio deste poder disciplinar e oaprimoramento dos computadores, demarcando, a partir da segunda metade do sculoXX, a emergncia de outro exerccio de poder interessado no somente na extrao deutilidade e docilidade, mas de fluxos de inteligncias.Recenseamentos: a noo de populaoUma das procedncias importantes da estrutura fsica dos computadores(hardware) so os cartes perfurados. Estes foram utilizados, em 1890, pelo estatsticoestadunidense Herman Hollerith, para armazenamento de dados. 23 Hollerith concebeu diversas mquinas eltricas para a soma e contagem dedados, os quais eram representados sob a forma de perfuraesadequadamente distribudas em fita de papel.Atravs dessas perfuraes, estabeleciam-se circuitos eltricos e os dadosque elas representavam podiam, ento, ser computados de forma rpida eautomaticamente.2Hollerith, enquanto cursava engenharia na Columbia University of Mines, em1879, foi convidado por um professor para trabalhar no U.S. Census Bureau e comeoua pensar em como uma mquina poderia tabular dados da populao. Sua ideia inicialera utilizar um carto com orifcios padronizados e cada buraco significaria um traodiferente da pessoa. Em 1890, esses cartes seriam utilizados como arquivadores em umtabulador estatstico construdo para acelerar o processamento de dados do censoestadunidense daquela dcada, visto que, em 1880, as informaes recolhidas a mo eem papis de jornais demoraram 7 anos para serem calculadas.3Os cartes perfurados foram desenvolvidos pelo francs Joseph Marie Jacquard,em 1801 para fornecerem informaes de tear s mquinas txteis. Os buracos doscartes mostravam o modelo que a mquina deveria seguir: qual e quando um fiodeveria passar por baixo ou por cima, como repetir o processo em determinadomomento... Por permitir mudar os tipos de teares sem alterar a estrutura da mquina, ainveno de Jacquard passou a ser utilizada na Frana e em 1812, o pas possua cercade 11.000 destes (FILHO, 2007), e um aumento significativo da produo.Em An Electric Tabulating System um pequeno artigo de 1889 a partir de seuPh. D. a respeito do censo nos EUA em desenvolvimento , Hollerith retoma Jacquard eapresenta o funcionamento dos cartes perfurados e a leitura pela mquina, afirmandoque este novo equipamento no apenas teria um custo menor, mas possua uma maiorpreciso e os resultados errados aconteceriam apenas por falhas dos funcionrios.O desenvolvimento deste sistema foi pensado primeiro por meio de fitas depapel que possuam campos e podiam ser perfuradas para assinalar uma dascaractersticas. Cada espao representava uma categoria, como masculino/feminino,branco/negro. Uma perfurao no campo masculino/feminino representava um homem,na ausncia deste, seria uma mulher. Posteriormente, cada carto seria lido por umamquina.2 Histria da IBM. Disponvel em: http://www.ibm.com/br/ibm/history/. Acesso em 25/04/2012.3 Histria da informtica. Disponvel em: http://analgesi.co.cc/html/t705.html. Acesso em 25/04/2012. 24 Para o censo de 1890 foram utilizados cartes para cada indivduo. Possuam otamanho de uma nota de 1 dlar e eram furados pelas perfuradoras usadas porcobradores de nibus e trens, que seriam logo substitudas por uma perfuradora especialque realizava buracos de menor raio, para, assim, acumular um nmero maior deinformaes em um s carto.Quando o U. S. Bureau of Census, em 1889, anunciou um concurso para escolhada mquina para a realizao do recenseamento demogrfico estadunidense no anoseguinte, a mquina de Hollerith foi a escolhida. Suas mquinas possuam patentes deinveno e, por isso, foi cobrada a taxa de 65 centavos pelo processamento de cadaconjunto de mil cartes perfurados. Os cartes estavam divididos em zonas quecorrespondiam a cada informao da populao: idade, sexo, moradia, data denascimento, nacionalidade. Aps 3 anos, foram entregues os resultados de 62.622.250pessoas, 4 gerando uma renda, apenas da patente, de US$40.704, 46.4Hollerith:Trampolimparaosucesso.Disponvelem:http://www.di.ufpb.br/raimundo/Revolucao_dos_Computadores/Histpage5.htm. Acesso em 23/04/2011.No Arquivo Nacional dos EUA (http://www.archives.gov/) possvel ter acesso a artigos referentes aalguns usos dos cartes perfurados pelo governo estadunidense. No entanto, os microfilmes ainda noesto digitalizados e a maior parte desses arquivos foi perdida em 1921 em um incndio no prdio dodepartamento de Comrcio em Washington DC. Os arquivos referentes ao censo de 1890 que restaramforam:1.Calendrio do censo: mais de 6.160 pessoas esto nos cadastros salvos do censo, referentes a 10estados e o distrito de Columbia;2.Lista de veteranos da Guerra Civil e suas vivas: constam nos microfilmes os nomes dosveteranos e seus registros militares;3.Lista dos territrios de Oklahoma, em que eram traadas as caractersticas do espao (comonome de ruas e avenidas, nmero de habitaes), e das pessoas (como nome, relao com o chefe defamlia, cor, gnero, idade, local de nascimento, anos em que estava nos Estados Unidos, tempo deresidncia em Oklahoma, se era naturalizado, no caso de soldados, qual era o regimento, se lia e seescrevia);4.Lista dos afro-americanos de Delaware: uma lista de 454 afro-americanos;5.Estatstica das congregaes luteranas: uma lista de cada organizao por localidade, constandonmero de membros, valor da propriedade da igreja, nmero de assentos disponveis no local;6.Informaes estatsticas referentes aos Estados Unidos: foram resgatados 34 relatrios de 1892 a1897.(NationalArchives.The1890census.2005.Disponvelem:http://www.archives.gov/research/census/1890/1890.html. Acesso em 08/08/2012.)Estes arquivos s esto disponveis em microfilmes, o Arquivo Nacional estadunidense est em fase dedigitalizao de seus arquivos, os dados do censo de 1930 j podem ser visitados. Nessa empreitada dedigitalizao, em fevereiro de 2010, o Flickr anunciou em seu blog a incluso de cerca de 3000 fotos doArquivo Nacional dos Estados Unidos em 49 lbuns. O Arquivo Nacional tambm possui perfil noFacebook e no Twitter (www.facebook.com/usnationalarchives e twitter.com/archivesnews), alm deestar hospedado no Wikispaces (http://www.ourarchives.wikispaces.net/), onde os usurios podemcomentar sobre a histria dos EUA e compartilhar mtodos de pesquisa. 25 Michel Foucault (2005) mostrou como o saber estatstico importante paracontrole da populao. O saber estatstico articula-se disciplina e tenta reger oconjunto de pessoas na medida em que este tem de ser vigiado, treinado, utilizado e,eventualmente, punido, em escala coletiva e individual.No mais o exerccio de um poder de confisco de bens, coisas e, no limite, davida, que simbolizava o poder soberano. No se trata mais do direito de causar a morteou deixar viver condicionado defesa e vontade-lei do soberano. Mas o poder desloca-se por dois plos de desenvolvimento das tcnicas de poder que no so antitticos, masso plos interligados por relaes: a administrao dos corpos e a gesto calculista davida, como demarcou Foucault em Vigiar e Punir. O direito de morte transmuta-se,preferencialmente, para um poder que gere a vida, e com isso eclodem tcnicas variadaspara obteno da sujeio dos corpos e o controle das populaes (FOUCAULT, 2009).O primeiro plo desenvolveu-se no sculo XVII e centrou-se no corpo humanocomo mquina, interessado no adestramento, na ampliao das aptides, na extorso deforas, tudo isso assegurado "por procedimentos de poder que caracterizam asdisciplinas antomo-polticas do corpo humano" (IDEM, 151). O segundo, que seformou por volta da metade do sculo XVIII, centrou-se no corpo-espcie, transpassadopela mecnica do ser vivo e atrelado aos processos biolgicos proliferao,nascimento, mortalidade, nvel de sade, durao da vida e com todas as condiesque podem fazer estes alterarem-se; tais processos s so possveis por meio de umasrie de intervenes e controles reguladores da populao. Uma era de biopoltica,como afirmou Foucault: a vida no domnio dos clculos.Portanto, uma tecnologia de dois plos anatmico e biolgico, individualizantee especificante que tem por funo manter a vida. No se trata mais da restrita questojurdica da soberania, mas de uma outra, a questo biolgica da populao. Est em jogoa salvaguarda da sociedade, o exerccio de um poder de causar a vida ou devolver morte.A biopoltica articula-se a processos de contagens e controle da populao parase exercer. Refere-se, portanto, ao conjunto, ao saber estatstico, ao saber de governo,que compem este controle. Neste perodo, os processos de natalidade, mortalidade elongevidade constituram os primeiros objetos de saber e os primeiros alvos de controledessa biopoltica (FOUCAULT, 2005). Esse mapeamento de alguns momentos da vidada populao no trata ainda de um problema de fecundidade, mas da morbidade, nomais referente s epidemias que se multiplicavam e ameaavam a todos, mas de 26 endemias, ou seja, da forma, da durao, da intensidade das doenas reinantes napopulao (IDEM).Nos mecanismos implantados pela biopoltica, vai se tratar, sobretudo, claro, de previses, de estimativas estatsticas, de medies globais; vai setratar, igualmente, no de modificar tal fenmeno em especial, no tanto talindivduo, na medida em que o indivduo, mas, essencialmente, de intervirno nvel daquilo que so as determinaes desses fenmenos gerais, dessesfenmenos no que eles tem de global. Vai ser preciso modificar, baixar amorbidade; vai ser preciso encompridar a vida; vai ser preciso estimular anatalidade (FOUCAULT, 2005, 293).Portanto, a biopoltica tem como instrumento certas contagens para agir emacontecimentos aleatrios e reguladores que ocorrem em uma populao. Entretanto,no uma interveno momentnea, mas trata-se tambm de buscar estabelecer umequilbrio, manter uma mdia e otimizar um estado de vida. No se trata tanto de umtrabalho individual sobre o corpo, considerado no nvel do detalhe para a maximizaode foras, mas de obter estados gerais de equilbrio. No somente o indivduo-corpo,mas um novo corpo: corpo mltiplo, corpo com inmeras cabeas, se no infinitopelo menos necessariamente numervel. a noo de populao (IDEM, 292).A noo de populao deslocou a estatstica. A estatstica at ento haviafuncionado no quadro administrativo da soberania e vai mostrar, pouco a pouco, que apopulao tem uma regularidade prpria: nmero de mortos, doentes, natalidades...Mostra ainda que seus fenmenos so irredutveis famlia: grandes epidemias,mortalidade generalizada, etc., e que produz efeitos econmicos especficos(FOUCAULT, 1996).O fenmeno da populao est ligado, por volta do sculo XVIII, com a arte degovernar, entendida como prtica econmica de viabilizar a melhor forma de gerir apopulao e, assim, atingir o melhor governo possvel. A arte de governar indissocivel da razo de Estado, racionalizao de uma prtica que se situa entre umEstado apresentado como dado e um Estado apresentado como a construir, a seredificado; governar, segundo esse princpio, fazer com que o Estado possa se tornarslido.Foucault apresenta procedncias da arte de governar, para isso analisa o livro deGuillaume de La Perrire do sculo XVI, um dos primeiros escritores anti-Maquiavel.Foucault interessado no somente na funo negativa da crtica, na censura, mas napositividade, nos conceitos e estratgias que elabora aponta que a crtica a Maquiavelpor La Perrire baseava-se em afirmar que esse faz um tratado de habilidade do prncipe, 27 que no teria nada a ver com a arte de governar. Para La Perrire, governante no apenas o prncipe, pode ser o juiz, o monarca, o imperador, o magistrado e similares;salienta ainda que se governa uma casa, as almas, as crianas, uma provncia, umconvento, uma famlia. No se trata, portanto, aponta Foucault, do prncipe deMaquiavel que est em posio de exterioridade e transcendncia aos sditos; nestaliteratura as prticas de governo so mltiplas, muita gente pode governar: o pai defamlia, o padre, o professor.A noo de governo para Foucault no a noo conferida ao Estado como nasanlises da teoria do poder, aqui se trata do governo das coisas:Quando La Perrire diz que o governo governa coisas, o que ele quer dizer?No creio que se trate de opor as coisas aos homens, mas antes de mostrarque aquilo com que o governo se relaciona no , portanto, o territrio, masuma espcie de complexo constitudo pelos homens e pelas coisas. Querdizer tambm que essas coisas de que o governo deve se encarregar, diz LaPerrire, so os homens, mas em suas relaes, em seus vnculos, em suasimbricaes com essas coisas que so as riquezas, os recursos, os meios desubsistncia, o territrio, claro, em suas fronteiras, com suas qualidades,seu clima, sua sequido, sua fecundidade. So os homens em suas relaescom estas outras coisas que so os costumes, os hbitos, as maneiras de fazerou de pensar. E, enfim, so os homens em suas relaes com estas outrascoisas que podem ser os acidentes ou as calamidades como a fome, asepidemias, a morte (FOUCAULT, 2008, 128-129).Outra obra que Foucault aponta, tambm procedente do XVI, de La Mothe LeVayer. Este distingue trs formas de governo: governo de si, que diz respeito moral; aarte de governar adequadamente uma famlia, que diz respeito economia; e a cinciade bem governar o Estado, que diz respeito poltica. Mesmo com as distines, essasartes de governar apresentam uma continuidade: quem governa o Estado, governa a si;em um Estado bem governado, a famlia governa a casa e os indivduos se comportamcomo devem.Para Foucault, essa literatura introduz a economia na poltica.Governar um Estado significar portanto estabelecer a economia ao nvelgeral do Estado, isto , ter em relao aos habitantes, s riquezas, aoscomportamentos individuais e coletivos, uma forma de vigilncia, decontrole to atenta quanto a do pai de famlia (FOUCAULT, 1996, 281)O desenvolvimento da arte de governar s toma fora, no sculo XVIII, com aexpanso demogrfica e o aumento da produo agrcola do sculo anterior. Portanto, anoo de populao, bem como o exerccio da biopoltica, indissocivel daemergncia do liberalismo e da autolimitao da razo governamental. neste sculo,aponta Foucault, que tambm h a instaurao de mecanismos internos no somente 28 para assegurar o Estado e suas riquezas, mas a negao do exerccio do poder degovernar fundado na supresso, ou seja, uma razo de governo mnimo, comprocedncia em clculos e estatsticas e aliada da economia poltica, uma razogovernamental moderna com caracterstica de busca da autolimitao. A arte degovernar passa a ser uma ao mnima e utilitria."Autolimitao da razo governamental": o que quer dizer isso, afinal? Oque esse novo tipo de racionalidade na arte de governar, esse novo tipo declculo que consiste em dizer e em fazer o governo dizer "aceito, quero,projeto, calculo que no se deve mexer em nada disso?" Pois bem, acho que isso que se chama, em linhas gerais, "liberalismo". [...] Com a emergnciada economia poltica, com a introduo do princpio limitativo na prpriaprtica governamental, realiza-se uma substituio importante, ou melhor,uma duplicao, pois os sujeitos de direito sobre os quais se exerce asoberania poltica aparecem como uma populao que um governo deveadministrar. a que a linha da organizao de uma 'biopoltica' entra seu ponto departida. Mas quem no v que isso apenas uma parte de algo bem maisamplo, que essa nova razo governamental?Estudar o liberalismo como quadro geral da biopoltica (FOUCAULT, 2008,28-30).Assim, neste momento tambm que a economia passa a designar no apenasuma forma de governo, mas um campo de interveno.O problema do desbloqueio da arte de governar est em conexo com aemergncia do problema da populao; trata-se de um processo sutil que,quando reconstitudo no detalhe, mostra a cincia do governo, acentralizao da economia em outra coisa que no a famlia e o problema dapopulao esto ligados (IDEM).Portanto, o foco da economia no est mais sobre a famlia, mas sobre apopulao. No ser mais o modelo da famlia para o governo, a famlia ser elementoconstitutivo do governo das populaes.A populao aparecer como o objetivo final do governo. [...] A populaoaparece, portanto, mais como um fim e instrumento do governo que comofora do soberano; a populao aparece como sujeito de necessidades, deaspiraes, mas tambm como objeto nas mos do governo; como consciente,frente ao governo, daquilo que ela quer e inconsciente em relao quilo quese quer que ela faa. O interesse individual - como conscincia de cadaindivduo constituinte da populao - e o interesse geral - como interesse dapopulao, quaisquer que sejam os interesses e as aspiraes individuaisdaqueles que a compem - constituem o alvo e o instrumento fundamentaldo governo da populao. Nascimento portanto de uma arte ou, em todo caso,de tticas e tcnicas absolutamente novas (FOUCAULT, 1996, 281).A estatstica ser um saber fundamental para este funcionamento. Revela que apopulao no est reduzida famlia, possui seus prprios fenmenos. Entretanto, aeconomia pensada a partir da famlia, mesmo a populao sendo irredutvel famlia, 29 esta ser no mais um modelo, mas um segmento. Um segmento privilegiado, afirmaFoucault, porque nele que se age para conseguir alguma coisa da populao:comportamentos sexuais, demografia, consumo, etc.. Famlia, portanto, enquantoelemento para o governo da populao e no mais um modelo do bom governo.A populao articula-se disciplina. Essa um campo de interveno, um dado. preciso gerir a populao, no somente no que tange ao nvel de seus resultadosglobais, mas minuciosamente, no detalhe.O recolhimento de informaes dessa populao permite contabilizar mortes enatalidades. No toa, o sistema de cartes perfurados de Hollerith foi utilizadoinicialmente pelo Conselho de Sade de Nova Iorque para contabilizar as mortes nacidade. Para o registro de cada morte, vrias categorias eram preenchidas paracaracterizar o indivduo: sexo, idade, raa, estado civil, ocupao, local de nascimento,onde ocorreu a morte, a subdiviso sanitria e qual era o local do acontecido (cortio,hotel, instituio pblica, residncia), e, por fim, a causa da morte (HOLLERITH,1889).5IBM, mercado e lucrosGeoffrey Austrian (1982), um funcionrio da IBM, interessou-se por Hollerithaps uma pesquisa de preparao para o IBM Day, um evento de comemorao daempresa, em 1964. Conta em seu livro que, depois do sucesso na separao dasin