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Máquinas Hidráulicas - Bombas

SUMÁRIO

1. Introdução e definição de máquinas hidráulicas ............................................................................. 5

2. Potência da corrente líquida............................................................................................................ 5

3. Máquinas Hidráulicas ..................................................................................................................... 7

3.1. Classificação geral e potência consumida ou produzida. ...................................................... 7

3.2. Classificação das turbinas...................................................................................................... 8

3.3. Classificação das bombas rotodinâmicas ............................................................................ 12

4. Curvas características das bombas centrífugas ............................................................................. 18

4.1. Curvas de estrangulação ...................................................................................................... 18

4.2. Curvas de rendimento.......................................................................................................... 19

4.3. Curvas de potência absorvida.............................................................................................. 20

4.4. Curva de NPSH requerido ................................................................................................... 20

5. Paralelogramo de Velocidades e influência da rotação nas curvas da bomba. ............................. 20

5.1. Introdução e Paralelogramos de Velocidades...................................................................... 20

5.2. Equação de Euler para as máquinas hidráulicas.................................................................. 21

5.3. Influência do ângulo das palhetas na carga de uma máquina centrífuga............................. 23

5.4. Curva de estrangulação descrita em função da rotação absoluta......................................... 27

5.5. Aplicações da variação de freqüência e limites de validade da equação............................. 30

6. Semelhança em máquinas hidráulicas. ......................................................................................... 34

6.1. Conceito e relações de semelhança em máquinas hidráulicas............................................. 34

6.2. Rotação ou Velocidade Específica de uma máquina hidráulica.......................................... 37

6.3. Aplicações do conceito de rotação específica e semelhança entre máquinas hidráulicas ... 40

7. Elementos básicos de uma instalação de recalque ........................................................................ 44

8. Terminologia empregada em recalque .......................................................................................... 45

8.1. Alturas geométricas ............................................................................................................. 46

8.2. Alturas totais........................................................................................................................ 46

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8.3. Alturas manométricas.......................................................................................................... 47

9. Determinação do ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga.......................................... 48

10. Valor mínimo da altura geométrica de aspiração em instalação de recalque................................ 52

10.1. Introdução............................................................................................................................ 52

10.2. Noções sobre cavitação ....................................................................................................... 54

10.3. Locais de ocorrência e conseqüências da cavitação ............................................................ 58

10.4. NPSH................................................................................................................................... 59

11. Traçado de curvas de sistema e de curvas de bombas. ................................................................. 60

11.1. Instalação simples de recalque. ........................................................................................... 60

11.2. Associação de bombas em série. ......................................................................................... 63

11.3. Associação de bombas em paralelo. .................................................................................... 65

11.4. Problemas de uso de bombas diferentes em série e em paralelo. ........................................ 70

12. Roteiro sucinto para escolha de uma bomba................................................................................. 73

12.1. Dados de entrada. ................................................................................................................ 73

12.2. Hipóteses de cálculo. ........................................................................................................... 73

12.3. Cálculos Preliminares.......................................................................................................... 75

12.4. Cálculo do sistema............................................................................................................... 76

12.5. Escolha do rotor................................................................................................................... 76

13. Algumas observações sobre a aquisição de bombas e sua instalação........................................... 76

14. Bibliografia Consultada e Aconselhada. ....................................................................................... 77

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Índice de figuras. Figura 1. Soma de Bernoulli aplicada a duas seções de uma corrente líquida....................................................................... 5 Figura 2. Semelhança entre turbina e bomba.......................................................................................................................... 7 Figura 3 Influência das perdas na energia gerada ou consumida. ......................................................................................... 8 Figura 4. Classificação das turbinas ....................................................................................................................................... 9 Figura 5. Esquema geral de uma turbina tipo Pelton. ............................................................................................................ 9 Figura 6. Foto de um rotor de uma turbina tipo Pelton. ....................................................................................................... 10 Figura 7. Esquema de turbinas tipo Francis. ........................................................................................................................ 11 Figura 8. Esquema de turbinas tipo Kaplan.......................................................................................................................... 11 Figura 9. Turbina Eólica (vista geral e turbina sofrendo reparos). ...................................................................................... 11 Figura 10. Classificação das bombas.................................................................................................................................... 12 Figura 11. Esquema de bomba de deslocamento (recíproca de pistão simples) ................................................................... 13 Figura 12. Esquema de bomba pulsante (recíproca de pistão duplo efeito) ......................................................................... 13 Figura 13. Corte de uma bomba de diafragma...................................................................................................................... 13 Figura 14. Alguns tipos de bombas rotativas ........................................................................................................................ 13 Figura 15. Fluxo de fluído numa bomba de engrenagens ..................................................................................................... 14 Figura 16. Corte esquemático de uma turbo-bomba. ............................................................................................................ 15 Figura 17. Cortes esquemáticos de bomba centrífuga. ......................................................................................................... 15 Figura 18. Trajetória de uma partícula numa bomba de fluxo misto. ................................................................................... 15 Figura 19. Trajetória de uma partícula líquida e rotor de uma bomba axial ....................................................................... 16 Figura 20. Esquema de bomba axial ..................................................................................................................................... 16 Figura 21. Bomba de jato. ..................................................................................................................................................... 17 Figura 22. Bomba de variação de densidade. ....................................................................................................................... 17 Figura 23. Curvas de estrangulação, 8PSH requerido e potência. ...................................................................................... 19 Figura 24. Corte de um rotor com um esquema possível de palhetas internas e paralelogramos de velocidades................ 20 Figura 25. Esquema do torque em função das velocidades periféricas de saída e entrada. ................................................. 22 Figura 26 Esquema simplificado do paralelogramo de velocidades..................................................................................... 23 Figura 27. Curvas teóricas da carga em função da vazão e do ângulo de saída β............................................................... 24 Figura 28. Variação da carga (H) em função do ângulo Beta. ............................................................................................. 24 Figura 29. Curva de estrangulação teórica e componentes de perda de energia dentro da bomba. .................................... 25 Figura 30. Variação das cargas (HEst e HVel) em função do ângulo Beta.............................................................................. 27 Figura 31. Curva de estrangulação e pontos com diversos rendimentos para a rotação de 3550RPM. .............................. 30 Figura 32. Curvas de estrangulação para diversas rotações. ............................................................................................... 32 Figura 33 Hidrograma diário de consumo de água com as vazões de recalque para manter o sistema abastecido............ 33 Figura 34 Bombas hidráulicas com semelhança geométrica ................................................................................................ 35 . .............................................................................................................................................................................................. 35 Figura 35. Relação de semelhança entre ângulos. ................................................................................................................ 35 Figura 36. Diagrama de velocidades .................................................................................................................................... 36 Figura 37 Esquema de determinação da rotação específica de uma máquina hidráulica.................................................... 38 Figura 38. Seleção de turbinas com base a carga hidráulica. .............................................................................................. 41 Figura 39. Famílias de bombas ............................................................................................................................................. 42 Figura 40. Exemplo de construção de novas curvas características para bombas. .............................................................. 43 Figura 41. Situações de regimes estável e instável de funcionamento de uma bomba com alta rotação específica............. 44 Figura 42. Corte de uma de recalque com bomba não afogada. .......................................................................................... 45 Figura 43. Corte de uma instalação de recalque com bomba afogada. ................................................................................ 45 Figura 44. Elementos de um conjunto elevatório (bomba afogada e bomba não afogada). ................................................. 47 Figura 45. Desenvolvimento das linhas de energia e piezométrica numa instalação de recalque........................................ 49 Figura 46. Curva característica da instalação...................................................................................................................... 49 Figura 47. 8úcleo de condensação........................................................................................................................................ 55 Figura 48. Variação do raio de curvatura de uma bolha de gás e vapor dissolvido num líquido em função da pressão

externa. .................................................................................................................................................................................. 56 Figura 49. Diagrama de estabilidade de uma bolha que sofre divisão. ................................................................................ 56 Figura 50. Resumo da evolução do fenômeno de cavitação.................................................................................................. 57 Figura 51. Alteração da curva de estrangulamento devido à cavitação. .............................................................................. 58 Figura 52. Esquema para análise do conceito de 8PSH....................................................................................................... 60 Figura 53. Esquema de instalações simples de recalque: afogada e livre. ........................................................................... 61 Figura 54. Exemplo de um sistema de recalque de uma bomba............................................................................................ 61 Figura 55. Curvas do sistema de recalque simples para duas alturas geométricas (YA=55,00m e YB=43,00m). ................. 62 Figura 56. Influência da posição relativa dos reservatórios no ponto de funcionamento da bomba. .................................. 63 Figura 57. Esquemas de bombas em série............................................................................................................................. 64 Figura 58. Curva de estrangulação para bombas em série................................................................................................... 65 Figura 59. Vista Frontal de um sistema de bombas em paralelo. ......................................................................................... 66

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Figura 60. Curva resultante da associação de bombas em paralelo..................................................................................... 67 Figura 61. Obtenção dos valores da curva de estrangulação de uma bomba....................................................................... 67 Figura 62. Cálculo gráfico de bombas em paralelo. ............................................................................................................. 68 Figura 63. Gráfico demonstrativo da diferença do cálculo gráfico do analítico. ................................................................. 69 Figura 64 Problema na operação de bombas em paralelo. .................................................................................................. 70 Figura 65. Associação em série de bombas com curvas diferentes. ...................................................................................... 71 Figura 66. Associação em série de bombas com curvas com mesma vazão máxima. ........................................................... 71 Figura 67. Associação em paralelo de bombas com curvas diferentes. ................................................................................ 72 Figura 68. Bombas em paralelo com curvas diferentes e mesma pressão de “shut off”....................................................... 72 Figura 69. Topografia de uma região de captação de água - exemplo................................................................................. 74

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1. Introdução e definição de máquinas hidráulicas

Quando se pretende converter a energia de uma corrente líquida em energia mecânica pode-se capturar esta energia por um rotor e transmiti-la por um eixo, ou pode-se processar a conversão no sentido inverso. As máquinas utilizadas para este tipo de conversão são denominadas máquinas

hidráulicas. A energia mecânica que se retira ou se introduz na corrente líquida pode ser feita tanto por um eixo (bombas e turbinas centrífugas) como através de outros sistemas mecânicos, como por exemplo as primeiras máquinas hidráulicas de elevação de água compostas por uma série de recipientes elevados em conjunto através de uma corda ou corrente.

As máquinas hidráulicas operam uma conversão de energia,ou seja, elas são capazes de transformar energia mecânica em energia hidráulica e vice-versa. Estas máquinas podem apresentar as mais variadas e complexas formas: desde as mais simples e primitivas, como o sistema de elevação anteriormente citado, até máquinas eletromecânicas bem mais sofisticadas e dotadas de vários princípios de funcionamento.

Antes de se seguir no estudo da máquina propriamente dita, é necessária a identificação clara do que vem a ser energia hidráulica e a potência da corrente líquida. Após estas definições, passaremos à classificação das máquinas hidráulicas mais correntes e à descrição de peculiaridades de seu funcionamento. No fim do presente capítulo, são dadas algumas recomendações práticas sobre a aquisição, o projeto e a operação de sistemas de recalque.

2. Potência da corrente líquida.

Para determinar a potência da corrente líquida é necessário, primeiramente, identificar sua energia, a qual, em regime permanente, é expressa pelo somatório das energias potencial (pressão e posição) e cinética por unidade de peso, em relação a um plano de referência. A unidade dessa carga

hidráulica no Sistema Internacional de Unidades (SI) são N.m/N, equivalente a metros.

Linha piezométrica

Linha de energia

Plano de carga dinâmico

Z A

ZB

p A γ

pB

γ

V B2 2g

2

V A 2g

2 hpAB

HA

Plano de referência

HB

Figura 1. Soma de Bernoulli aplicada a duas seções de uma corrente líquida.

A potência da corrente líquida, definida como a energia por unidade de tempo, é obtida multiplicando-se a carga hidráulica pela vazão em peso (vazão ponderal), ou seja, por γ .Q [N/s], obtendo-se a unidade de potência que é o Watt.

[ ]

=

=γs

N

s

m

m

NQ

3

3 (1)

( ) Ws

mN

N

mN

s

NQHP ==

=γ= (2)

A potência perdida entre duas seções A e B, pelo efeito da perda de carga, pode ser calculada como sendo a diferença de potência da corrente líquida nas seções transversais A e B, em relação a qualquer plano de referência :

( )BABABA HHQQHQHPPP −γ=γ−γ=−=∆ (3)

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Como a perda de carga hpAB é igual à diferença de cargas entre as duas seções transversais, vem:

ABPerdidaBAAB hpQ P e HHhp γ=−= (4)

A perda de potência entre as duas seções, expressa pela equação 4 é dissipada sob a forma de calor.

Note-se que a soma de Bernoulli é uma equação de equilíbrio de energia, não de quantidade de movimento, logo é possível incorporar a esta um termo de transformação de energia mecânica em calor, normalmente denominado perda de energia. Para tirar a dubiedade do sinal a ser empregado esta conversão de energia é agregada na parte jusante do escoamento, ou seja, a perda de energia é acrescida na parcela de jusante como um ganho de energia térmica da parte montante para a jusante.

Como expresso na figura 1, num ponto qualquer da corrente líquida, a carga hidráulica é dada por: γ++= pg2VZH 2 , logo, a potência fornecida, ou absorvida, introduzida no escoamento por uma máquina hidráulica, será igual à diferença entre as cargas na entrada e na saída da mesma multiplicada pela vazão ponderal e expressas, para o caso de turbinas e bombas, pelas seguintes expressões:

( ) Tsaídaentrada H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de turbinas (5.a)

( ) Bentradasaída H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de bombas (5.b)

Como as máquinas hidráulicas possuem um rendimento, a potência gerada (turbinas) ou consumida (bombas) deve ser calculada por :

GTTgerada .H.Q.P +ηγ= no caso de turbinas (6.a)

( ) .H.Q.P BMTconsumida +ηγ= no caso de bombas (6.b)

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba. Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

Caso se queira incluir no cálculo as perdas nos condutos que chegam (aspiração ou alimentação) e que partem (recalque ou restituição) é necessário levar em conta o sentido do movimento, ou seja, conforme a figura , tem-se:

( ) GTTotalgerada .hpZ.Q.P +η−∆γ= no caso de turbinas

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba.

Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

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3. Máquinas Hidráulicas

3.1. Classificação geral e potência consumida ou produzida.

Considerando que as máquinas hidráulicas são equipamentos que operam transformação de energia, elas podem ser classificadas segundo o sentido desta transformação. Caso a transformação de energia seja de energia hidráulica para energia mecânica, elas são chamadas de turbinas. Porém se a transformação for ao inverso, elas são chamadas de bombas e compressores ou ventiladores.

Quando o fluido que sofre a transformação de energia mecânica em energia hidráulica é um líquido, denomina-se esse conversor como uma bomba. Quando o fluido é um gás, a máquina hidráulica denomina-se compressor ou ventilador.

Devido ao fato de operarem uma transformação da energia hidráulica em mecânica, as turbinas (figura 2) possuem a energia hidráulica na entrada superior à energia na saída, pois elas retiram energia do escoamento. Já nas bombas (figura 2), por operarem uma transformação de energia no sentido inverso, a energia na entrada inferior à energia na saída.

Existem vários tipos de máquinas hidráulicas, tais como; turbo-máquinas, rodas de água, bombas de êmbolo, carneiro hidráulico, ejetores, etc. ...

Gerador

Turbina

Conduto forçado Energia gerada

Eixo

Reservatório Inferior Canal de Fuga

Reservatório Superior

Conduto forçado

Eixo

Reservatório Inferior Tomada d’água

Reservatório Superior

Motor

Bomba

Energia Consumida

Figura 2. Semelhança entre turbina e bomba.

As turbo-máquinas apresentam como característica comum o rotor, peça principal na transmissão de energia, cuja denominação provêm do latim turbo,ìnis ‘o que gira em torno1. Essa categoria de máquinas hidráulicas se divide em três tipos: motoras, receptoras e transmissoras.

As turbo-máquinas motoras ou turbinas recebem a energia do escoamento e a tornam disponível em seu eixo para acionamento de outra máquina. O eixo poderá estar ligado mecanicamente à fonte de consumo, como por exemplo um moinho de moagem de cereais ou, caso a fonte de consumo não esteja próxima, ele está conectado a um gerador de energia elétrica para a sua transmissão sob forma de energia elétrica.

As turbo-máquinas receptoras ou bombas transferem, para o fluido que as atravessa, a energia recebida em seu eixo, aumentando a carga do escoamento.

As turbo-máquinas transmissoras recebem a energia externa em um eixo, transferindo-a para outro eixo por meio da energia hidráulica. Essas máquinas são consideradas como associações de bomba e turbina e são encontradas nas embreagens de determinados veículos pesados ou de máquinas estacionárias de grande potência.

1 Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

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Para se definir a potência consumida (ou produzida) por uma máquina hidráulica, lança-se mão dos conceitos desenvolvidos no item anterior. Como expresso na figura 1, num ponto qualquer da corrente líquida, a carga hidráulica é dada por: γ++= pg2VZH 2 , logo, a potência fornecida ou absorvida por uma máquina hidráulica introduzida no escoamento será igual à diferença entre as cargas na entrada e na saída da mesma multiplicada pela vazão ponderal e expressas, para o caso de turbinas e bombas, pelas seguintes expressões:

( ) Tsaídaentrada H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de turbinas (7.a)

( ) Bentradasaída H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de bombas (5.b)

Como as máquinas hidráulicas possuem um rendimento, a potência gerada (turbinas) ou consumida (bombas) deve ser calculada por :

GTTgerada .H.Q.P +ηγ= no caso de turbinas (8.a)

( ) .H.Q.P BMTconsumida +ηγ= no caso de bombas (6.b)

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba. Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

Caso se queira incluir no cálculo as perdas nos condutos que chegam (aspiração ou alimentação) e que partem (recalque ou restituição) é necessário levar em conta o sentido do movimento, ou seja, conforme a figura 3, tem-se:

( ) GTTotalgerada .hpZ.Q.P +η−∆γ= no caso de turbinas (9.a)

( )[ ] .hpZ.Q.P BMTotalconsumida +η+∆γ= no caso de bombas (10.b)

Perda na alimentação

Perda na restituição.

Energia disponível para a geração.

Perda no recalque

Energia necessária para o recalque.

Perda na aspiração.

Figura 3 Influência das perdas na energia gerada ou consumida.

3.2. Classificação das turbinas

As turbinas, máquinas capazes de transformar a energia da água em energia mecânica, dividem-se em duas classes: as turbinas de ação, que funcionam sem pressão excessiva e as turbinas de reação, que funcionam com excesso de pressão.

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Duplo Efeito Pelton FluxoHelicoidal

Ação

Fluxo radial(Francis)

Fluxo misto Fluxo axial(Hélice)

Reação

Turbinas

Figura 4. Classificação das turbinas

Nas turbinas de ação (ou de impulsão), a água atua à pressão atmosférica, mediante um jato que atinge sucessivamente as pás do rotor, movimentando-o. As turbinas de ação não tem correspondência nas bombas roto-dinâmicas. Até o fim do século XIX havia uma diversidade muito grande de tipos de turbinas de ação. No início do século XX, com o surgimento das turbinas tipo PELTON, concebida em 1880 pelo engenheiro americano Lester Allan Pelton (1829-1908), elimina-se o uso de outros tipos de turbina de ação, uma vez que este tipo de máquina apresentava um alto rendimento superior as outras e algumas vantagens estruturais como a de não provocar um momento fletor no eixo de transmissão da turbina.

A regulação do funcionamento das turbinas do tipo Pelton (figuras 5 e 6) é feita variando a vazão (e velocidade) do jato que incide sobre suas pás. O controle da vazão do jato é feita por um mecanismo denominado agulha. Empregam-se tais turbinas no aproveitamento de altas quedas e baixas vazões.

Figura 5. Esquema geral de uma turbina tipo Pelton.

Controlando-se a vazão do jato por meio da agulha, controla-se a potência do escoamento que atinge as pás da turbina. O controle da vazão é automatizado por um regulador que detecta aceleração ou a desaceleração angular da turbina, devido à diminuição ou ao aumento da energia consumida, fechando-se ou abrindo-se a agulha ou obturador diminui-se ou aumenta o jato de água sobre o rotor.

Uma das principais vantagens das turbinas tipo Pelton é dada pela presença de uma lâmina defletora que, em caso da necessidade de fechamentos rápidos, desvia o jato da direção do rotor

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evitando o surgimento de transientes hidráulicos2 indesejáveis. A manobra de desvio do jato é feita

rapidamente e, posteriormente, a agulha se fecha lentamente sem que ocorra transientes significativos.

2 Transientes hidráulicos: Regime não permanente surgido entre dois regimes estacionários, causado por uma variação súbita em uma de suas condições de contorno e caracterizado por fortes oscilações de pressão.

Figura 6. Foto de um rotor de uma turbina tipo Pelton.

Atualmente, utiliza-se, em pequenos aproveitamentos, as turbinas de ação tipo Michel-Banki, que, mesmo apresentando um rendimento muito abaixo daquele das turbinas Pelton ou outras de reação, tem sua utilização viabilizada por um custo muito baixo.

Nas turbinas de reação, a água não atua à pressão atmosférica. A classificação das turbinas de reação tem sua correspondência na classificação das bombas rotodinâmicas, em função da direção do movimento do líquido relativamente ao rotor. A forma do rotor condiciona a direção geral do fluxo: nas turbinas tipo Francis, o fluxo entra no rotor perpendicularmente ao eixo de rotação e sai dele axialmente. Nas turbinas tipo hélice ou Kaplan, o fluxo passa pelo rotor paralelamente ao eixo de rotação. Nas turbinas mistas, a situação é intermediária entre as anteriores. Assim, se classifica as turbinas em:

a) fluxo radial - axial : turbinas tipo FRANCIS.

b) fluxo misto : turbinas mistas

c) fluxo axial : turbinas hélice - pás fixas

d) turbinas KAPLAN - pás orientáveis

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Figura 7. Esquema de turbinas tipo Francis.

Uma diferença importante entre as turbinas de ação e as de reação é o modo de regulagem da vazão. Enquanto as turbinas de ação a regulagem da vazão é feita no conduto através de uma válvula especial que lança a água sobre o rotor, nas turbinas de reação a regulagem da vazão é feita por uma coroa provida de uma espécie de “persiana”, cuja abertura ou fechamento é automaticamente comandada por um regulador.

As turbinas de reação tem um rendimento bem superior ao das turbinas de ação e, quando possível, elas deverão ser utilizadas. A possibilidade de uso de um ou outro tipo de turbina depende da magnitude de um parâmetro chamado rotação específica, o qual será abordado no item 6.2 .

O principal inconveniente das turbinas de reação é seu fechamento. Diferentemente das turbinas de ação, onde se pode a qualquer instante, através da intervenção na lâmina defletora, eliminar o problema da parada rápida da turbina, nas turbinas de reação o fechamento deverá ser feito através de válvulas de entrada, sem a possibilidade de desvio de parte da água, causando dessa forma problemas de geração de transientes hidráulicos.

Figura 8. Esquema de turbinas tipo Kaplan.

Outro tipo de turbina de fluxo axial são as turbinas empregadas na geração eólica de energia. Essas turbinas não possuem carcaça, pois como a diferença de pressões entre os dois lados do rotor é muito pequena, não há necessidade de restringir o escoamento a passar por uma carcaça. A figura 9 mostra uma torre que suporta o rotor, bem como o motor de uma turbina eólica. Através da observação, na figura da direita, do operário que está fazendo a manutenção, pode-se ter uma idéia do porte que estas turbinas eólicas atingiram. As torres que mantém o rotor e motor podem atingir a uma centena de metros.

Figura 9. Turbina Eólica (vista geral e turbina sofrendo reparos).

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3.3. Classificação das bombas rotodinâmicas

As bombas transformam o trabalho mecânico que recebem para seu funcionamento em energia, a qual comunicam ao líquido sob forma de energia de pressão ou cinética. O modo pelo qual é feita a transformação da energia mecânica em energia hidráulica e o recurso para cedê-la ao líquido aumentando sua pressão e/ou sua velocidade permitem classificar as bombas (figura 10) em: bombas

de deslocamento positivo (ou volumétricas) e bombas dinâmicas (rotodinâmicas ou turbo-bombas). As bombas de deslocamento podem ser divididas em recíprocas e rotativas. Já as bombas dinâmicas sub dividem-se em turbo-bombas e bombas especiais (bomba com ejetor, bomba com emulsão de ar).

3.3.1. Bombas de deslocamento

As bombas de deslocamento positivo trabalham com a variação da pressão, possuindo uma ou mais câmaras, em cujo interior o movimento de um órgão propulsor comunica energia de pressão ao líquido, provocando o seu escoamento. O escoamento se realiza na tubulação de aspiração até a bomba e na tubulação de recalque até o ponto de utilização. A característica principal dessa classe de bombas é que uma partícula líquida, em contato com o elemento que comunica energia tem, aproximadamente, a mesma trajetória daquela do ponto do elemento no qual está em contato. Nessas bombas, existe uma relação constante entre a descarga e a velocidade do órgão propulsor da bomba.

Bombas

De deslocamentoDinâmicas

Efeitos EspeciaisDe aletas RotativasRecíprocas

Cen

tríf

ugas

Dia

frag

ma

Pal

heta

s de

sliz

ante

s

Flu

xo a

xial

Eng

rena

gens

De

vórt

ice

Par

afus

o

De

jato

De

emul

são

de a

r

Pis

tão

sim

ples

Flu

xo m

isto

Pis

tão

dupl

o ef

eito

Pne

umát

icas

Figura 10. Classificação das bombas

As bombas de deslocamento se dividem em bombas alternativas (recíprocas) e bombas

rotativas. Normalmente as bombas alternativas e rotativas são usadas para pressões elevadas e descargas relativamente pequenas.

a) Bombas de deslocamento recíprocas.

O principal tipo de bomba de deslocamento recíproca é composta por um cilindro que se enche de líquido e por um pistão (ou êmbolo) que, ao se mover dentro do cilindro, realiza a aspiração e a impulsão (Figuras 11 e 12). Também a impulsão pode ser realizada por meio de uma membrana flexível (diafragma). Estas bombas dão origem a uma vazão bombeada extremamente irregular (pulsante). Podem ser de simples efeito, quando apenas uma face do êmbolo atua sobre o líquido ou de duplo efeito, quando duas faces atuam.

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13

Movimentodo êmbolo

Qmax

Qmedio

t

Detalhe das Válvulas

Figura 11. Esquema de bomba de deslocamento (recíproca de pistão simples)

Qmax

Qmedio

t

Figura 12. Esquema de bomba pulsante (recíproca de pistão duplo efeito)

Outro exemplo de bomba de deslocamento recíproca é a bomba de diafragma (figura 13), a qual promove o movimento do fluído através da pulsação de uma membrana flexível movimentando-se aumentando e diminuindo o volume câmara que possui duas válvulas para entrar e sair o fluido, os ventrículos do coração podem ser considerados uma bomba de diafragma.

Válvula de admissão Válvula de saída

Movimento alternado

Membrana flexível.

Figura 13. Corte de uma bomba de diafragma.

b) Bombas de deslocamento rotativas

Nas bombas de deslocamento rotativas, o líquido recebe a ação de forças provenientes de uma ou mais peças dotadas de movimento de rotação que, comunicando energia de pressão, provocam seu escoamento. A ação das forças se faz segundo a direção que é praticamente a do próprio movimento de escoamento do líquido. A descarga e a pressão do líquido bombeado sofrem pequenas variações quando a rotação é constante. Este tipo de bombas pode ter um ou mais rotores.

O número de tipo de bombas de deslocamento rotativas é muito grande. Em bibliografias específicas sobre o assunto catalogam-se dezenas de modelos. Como ilustração serão apresentados os modelos mais simples e correntes (Figura 14).

Bomba de rolos Bomba de palhetas Bomba de engrenagens

Figura 14. Alguns tipos de bombas rotativas

Um exemplo de bomba de deslocamento muito utilizado são as bombas rotativas de engrenagem, as quais se destinam, principalmente, para uso com líquidos viscosos.

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O funcionamento de uma bomba de engrenagens pode ser descrito como segue: duas engrenagens, uma das quais motriz e a outra conduzida, girando no corpo da bomba, fazem bombear o líquido pela parte externa das engrenagens (figura 15), sendo o fluxo impedido de retornar pela parte interna devido a imbricação dos dentes da engrenagem.

Figura 15. Fluxo de fluído numa bomba de engrenagens

3.3.2. Bombas dinâmicas

a) Bombas dinâmicas de aletas

As bombas dinâmicas, também chamadas de turbo-bombas, são caracterizadas por possuírem um órgão rotatório dotado de pás, chamado rotor, que exerce sobre o líquido forças que resultam da aceleração que lhe imprime. Essa aceleração, ao contrário das bombas de deslocamento, não possui a mesma direção e o mesmo sentido do movimento do líquido em contato com as pás. A descarga gerada depende das características da bomba, do número de rotações e das características da canalização na qual se encontra inserida.

Todas as turbo-bombas são compostas por quatro elementos principais:

o corpo da bomba, que se destina a conduzir, ao rotor, o líquido que nele entra, desacelerá-lo e reconduzi-lo à canalização de recalque. O corpo da bomba suporta ainda os rolamentos do eixo, transmitindo os esforços excêntricos do eixo e rotor à base do conjunto motor-bomba. O corpo se liga, em geral por meio de flanges, às canalizações de sucção e de recalque. Rigorosamente, uma hélice de barco ou avião pode ser classificada como uma turbo-bomba, mostrando que, neste caso, o corpo da bomba não se faz necessário.

o eixo da bomba, conecta o rotor à fonte de energia mecânica, transmitindo o torque dessa fonte ao rotor.

o rotor, acoplado ao eixo, destina-se a acelerar o líquido recebido, aumentando-lhe a energia cinética e a pressão. O rotor é constituído por um núcleo ao qual se ligam as pás e que se encontra solidário ao eixo de rotação. Sua função é comunicar uma certa aceleração à massa líquida, para que adquira energia cinética, realizando-se a transformação da energia mecânica em energia hidráulica.

o difusor, também chamado de recuperador de pressões, onde se processa a transformação da maior parte da energia cinética que anima o líquido que sai do rotor em energia de pressão. Sendo de seção gradativamente crescente, no difusor ocorre uma contínua e progressiva diminuição da velocidade do líquido que por ele escoa, com o conseqüente aumento da pressão, de modo que, ao atingir a ligação da bomba com a canalização de recalque, a pressão seja elevada e a velocidade seja baixa. O mesmo comentário feito anteriormente sobre a não necessidade de existência do corpo de uma bomba para caracterizá-la como tal, pode-se fazer para o difusor.

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15

Bocal de Saída

Pás do rotor

Voluta ou coletor em caracol

Corpo da bomba

Eixo do rotor

Difusor

Rotor

Figura 16. Corte esquemático de uma turbo-bomba.

Segundo a trajetória do fluxo em relação ao rotor, as turbo-bombas podem ser classificadas em:

a. bomba centrífuga pura ou bomba

radial,

b. bomba de fluxo misto ou bomba

diagonal e

c. bomba axial ou bomba propulsora.

Nas bombas centrífugas, o efeito que impulsiona o fluido de dentro do rotor para a parte externa é principalmente o efeito centrífugo. A sustentação criada pelas pás é pequena, o rotor recebe o líquido paralelamente ao eixo de rotação e o impele contra o corpo da bomba, perpendicularmente ao eixo de rotação. No corpo da bomba, o líquido que é expelido pelo rotor com alta velocidade, tem parte de sua taquicarga transformada em altura piezométrica, devido ao aumento progressivo da seção transversal da voluta (ou coletor em caracol) e no divergente que lhe segue.

Corte A-A Corte B-B

B

B A

A

Coroas de fixação das pás.

Pás.

Figura 17. Cortes esquemáticos de bomba centrífuga.

Nas bombas de fluxo misto ou bomba diagonal, o líquido penetra no rotor axialmente; atinge as pás, cujo bordo de entrada é curvo e inclinado em relação ao eixo, e possui bordo de saída paralelo ao eixo ou ligeiramente inclinado em relação a ele. O líquido sai do rotor segundo um plano perpendicular ao eixo ou segundo uma trajetória ligeiramente inclinada em relação ao plano perpendicular ao eixo (figura 18). As bombas mistas são intermediárias entre as centrífugas e as axiais.

Figura 18. Trajetória de uma partícula numa bomba de fluxo misto.

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Nas bombas axiais, o núcleo do rotor é provido de pás fixas ou móveis, à semelhança das turbinas axiais. Nessas bombas, as trajetórias das partículas líquidas, pela configuração que assumem as pás do rotor e as pás guias, começam paralelamente ao eixo e se transformam em hélices cilíndricas (figura 19). Ao escoamento do fluxo axial superpõe-se um vórtice, forçado pelo movimento das pás. Apesar de muitas vezes as bombas axiais serem denominadas, genericamente, como bombas centrífugas, esta denominação é imprópria, pois nessas bombas a saída do líquido se dá predominantemente na direção do eixo e o efeito centrífugo, propriamente dito, não é preponderante como nas bombas centrífugas. Nelas, o efeito mais importante no movimento do fluído é causado pela sustentação junto às pás.

Como o efeito de sustentação das pás é preponderante para adaptar essas bombas a diversas situações de funcionamento essas podem ser construídas com pás de ângulo variável (passo variável), podendo-se, por meio de um mecanismo localizado junto ao eixo e comandado automaticamente por um servo-mecanismo modificar o ângulo de ataque das pás. O objetivo disso é dar às pás uma inclinação adequada a cada velocidade (por conseqüência descarga), proporcionando uma melhora no rendimento da bomba. Esse tipo de bomba é empregado para pequenas alturas de elevação e grandes vazões (figura 20).

Figura 19. Trajetória de uma partícula líquida e rotor de uma bomba axial

Figura 20. Esquema de bomba axial

As bombas centrífugas e as bombas mistas podem ter as pás solidarizadas entre si por discos circulares denominados coroas (figura 17). Caso as bombas possuam coroas de ambos os lados elas são denominadas bombas de rotor fechado. Caso só um lado possua uma coroa denomina-se bomba de rotor semi-aberto e, finalmente, quando não existem coroas, a bomba é de rotor aberto. As bombas de rotores aberto ou semi-aberto são utilizadas geralmente para fluidos com impurezas grossas ou para pastas.

As bombas centrífugas também podem possuir um rotor ou diversos rotores no mesmo eixo. Nesse caso recebem a denominação de bombas de múltiplos estágios, como se verá no capítulo 5. Como o aumento de pressão é proporcional ao aumento da distância ao eixo entre a entrada e a saída do rotor das bombas, para se ter uma alta pressão de saída seria necessário um diâmetro de saída muito grande em relação a entrada. Diâmetros de saída cinco a seis vezes maiores do que o diâmetro de entrada tem problemas de operação, logo para se obter maiores pressões sem ultrapassar esta relação entre diâmetros de entrada e saída utilizam-se rotores em série como de verá no item 11.2 do capítulo 11. Nas bombas com rotores em série o fluido sai de um rotor e entra em outro, acrescendo em cada um a pressão.

Existem bombas centrífugas de rodas duplas nas quais a água entra por dois orifícios, em sentidos opostos, saindo por um orifício único: são as bombas centrífugas de dupla entrada.

Geralmente, os três tipos de turbo-bombas são denominadas por bombas centrífugas em sentido amplo. Esta denominação é adotada na em medida que a passagem de um tipo a outro de bomba é contínuo, sem que se perceba conceitualmente quando se tem um ou outro tipo de bomba.

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17

Todas as bombas podem ser de eixo vertical ou horizontal. Podem atuar submersas ou não. O acionamento das bombas é, em geral, feito por motor elétrico, porém, pode-se encontrar bombas acionadas por turbinas, por motor a explosão, etc...

A transmissão da energia do eixo do motor elétrico para o motor da bomba pode ser feita por meio de uma junta elástica, no caso de bombas de grandes dimensões, ou por um eixo único para a bomba e motor, no caso de bombas pequenas. A ligação dos orifícios de aspiração e de recalque em geral é feita por flanges ou, em pequenas bombas, por condutos providos de rosca.

A bomba centrífuga, em senso estrito, é o tipo de bomba mais comum, sendo utilizada na maioria das instalações com água limpa, água do mar, óleos e lixívias, para pequenas, médias e grandes alturas de elevação e para temperaturas elevadas, sendo o tipo de máquina hidráulica de aplicação mais difundida na Engenharia Civil. Ela é empregada quando se necessita aumentar a carga de um escoamento líquido, como por exemplo no recalque de água potável do reservatório inferior de um edifício para o reservatório superior, de modo que os apartamentos possam ser abastecidos por gravidade. Esse tipo de bomba está presente na maioria das atividades ligadas ao abastecimento e tratamento de água, ao esgoto pluvial e sanitário, à industrias diversas (químicas e petroquímicas, de alimentos, bebidas, etc...), à irrigação, defesa contra inundações, etc...

b) Bombas dinâmicas de efeitos especiais.

Além das bombas dinâmicas rotativas têm-se as bombas dinâmicas de efeito especial. Como a própria classificação indica, cada tipo de bomba tem um modo especial de movimentar o fluído, podendo se citar como exemplos as bombas de jato (figura 21) e as bombas de variação de densidade (figura 22).

Entrada do fluido para o jato.

JATO

Figura 21. Bomba de jato.

Entrada de gás

Figura 22. Bomba de variação de densidade.

Nos dois casos apresentados de bombas especiais, é necessária a introdução de um fluído para a movimentação de outro. Nas bombas de jato, introduz-se um forte jato numa região de seção reduzida (baixa pressão), de tal forma que este jato transporte o fluído que se quer movimentar. A bomba de jato prevê uma transferência de quantidade de movimento entre o jato e o fluído a transportar, transferindo parcialmente a quantidade de movimento total do jato para o escoamento. Já a bomba de variação de densidade trabalha com a diferença de densidades entre o fluido que se quer movimentar e a densidade da mistura fluído + gás. Com a mistura, a densidade do fluido diminui, fazendo com que a mistura líquido + gás movimente-se em sentido ascendente.

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18

4. Curvas características das bombas centrífugas

Uma bomba, como já foi visto, tem por finalidade aumentar a carga de um líquido que por ela escoe. Seja HA a carga do escoamento que chega ao orifício de aspiração de uma bomba e HR a carga com que o escoamento sai pelo orifício de recalque. A potência do escoamento na seção transversal ao orifício de aspiração é:

AA HQN γ= (11)

A potência do escoamento que deixa a bomba no orifício de recalque é:

RR HQN γ= (12)

A potência transmitida pela bomba ao escoamento será, então:

( )HQN

HHQNN ARAR

γ=

−γ=− (13)

A diferença de carga HR - HA = H denomina-se altura total (ou carga ) da bomba. A altura total de uma bomba não é constante, mas variável com a vazão que a atravessa. A variação da carga em função da vazão que a máquina dispõe, conduz à necessidade de descrevê-la, não através de valores únicos de carga, vazão, rendimento, potência e altura máxima de recalque, mas sim por curvas de variação destas propriedades em função da vazão. As curvas que descrevem o comportamento da bomba são chamadas de curvas características da bomba. A explicação da evolução dessas curvas será feita em detalhes no capítulo 5, porém para uma descrição geral do comportamento de uma bomba simplesmente serão descritas estas curvas sem a preocupação de dar a sua origem.

Na figura 23 é apresentado um exemplo das curvas características. Nela AΦ , BΦ , CΦ indicam

diferentes diâmetros de rotor da bomba. No eixo x são apresentadas as diferentes vazões a serem bombeadas; em geral, expressas em m3/h. No eixo y são apresentadas a carga hidráulica (m), o NPSH (m) e a potência absorvida (kW). As linhas pontilhadas, observadas no gráfico da variação da carga hidráulica (H) em função da vazão (Q), representam a variação do rendimento do conjunto motor-bomba. O gráfico que representa a variação do NPSH de uma bomba será descrito com detalhes no capítulo 10.

4.1. Curvas de estrangulação

O fabricante fornece, para cada bomba, uma função que indica a variação da altura total com a vazão. Em geral, essa variação é fornecida por meio de uma curva H=f(Q); nas abscissas são dadas as vazões e nas ordenadas, as alturas totais. Essa função também pode ser fornecida sob a forma de tabelas H x Q. A curva H=f(Q) é denominada curva de estrangulação da bomba, devido ao processo adotado para sua determinação experimental (o termo estrangulamento também poderá ser utilizado, porém o mais usual é estrangulação).

Quando o corpo da bomba permite, a partir de um diâmetro máximo, podem-se usar rotores com diâmetros menores, a cada um dos quais corresponderá uma curva H=f(Q). Em determinados casos, o fabricante fornece, para alguns diâmetros de rotor e para cada velocidade de rotação, uma curva H=f(Q). A partir desses diâmetros, por interpolação, pode-se, analiticamente, determinar outras curvas para outros diâmetros e rotações.

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19

A figura 23 apresenta a curva de estrangulação para uma bomba com três diâmetros de rotor, os quais podem ser obtidos usinando-os até a dimensão pretendida. Numa bomba normal pode-se, com segurança, interpolar as curvas de estrangulação seguindo a tendência das curvas apresentadas, desde que dentro desta faixa de diâmetros. Entretanto, extrapolar para valores maiores que o maior diâmetro é fisicamente impossível e, para menores diâmetros, é imprecisa.

50

25

0

NPSH [m]

75% 70%

60% 50%

78%

5

10

15

75

H [m]

0 20 40 60 80 100 120 Q[m³/h]

Potência [kW]

10

20

30

0

ΦA

ΦB

ΦC

ΦA

70%

60%

ΦB

ΦC

Figura 23. Curvas de estrangulação, NPSH requerido e potência.

4.2. Curvas de rendimento

O rendimento ( ηB) de uma bomba centrífuga é variável em função da vazão, do diâmetro do rotor e da rotação. Em geral, os rendimentos são apresentados como curvas de nível de iso-rendimentos superpostas ao diagrama H=f(Q). O rendimento da bomba ( ηB), para um par de valores H x Q, é a relação entre a potência consumida pela bomba (PC) e a potência fornecida à corrente líquida que a atravessa (PF), os quais estão representados pelas linhas pontilhadas na figura 23.

A potência que a bomba deve receber do motor (PC) é calculada através da relação entre PF e seu rendimento, sendo dada por:

BB

FC

FF

CB

HQPP

P

HQ

P

P

ηγ

=⇒γ

==η (14)

Assim, se a curva H x Q e a curva de rendimento são conhecidas, é possível determinar a curva de potência consumida pela bomba para qualquer par de valores de vazão e altura total.

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20

4.3. Curvas de potência absorvida

Alguns fabricantes, em lugar das curvas de rendimento, fornecem a curva de potência

consumida (PC) em função da vazão. Para cada vazão, é possível determinar o par de valores PC x Q e, pela expressão (14), calcula-se o rendimento.

4.4. Curva de .PSH requerido

O NPSH requerido representa, em linhas gerais, a energia total, referenciada ao zero absoluto de pressões, que deve ter a bomba em sua entrada para que não seja rompida a coluna de vaporização do líquido ou que não haja cavitação. Os bons fabricantes de bombas fornecem também a curva de variação do NPSH requerido em função da vazão. Esse assunto será abordado com mais detalhes no capítulo 10.

5. Paralelogramo de Velocidades e influência da rotação nas curvas da bomba.

5.1. Introdução e Paralelogramos de Velocidades.

Para as bombas centrífugas e também para as bombas mistas, somente o movimento causado pelas forças centrífugas, impelindo o fluido da região interna para a região externa do rotor, não é suficiente para explicar o ganho de pressões numa bomba. O ganho de pressão é explicado pela transferência da quantidade de movimento angular nas máquinas hidráulicas, ou seja, o eixo do rotor transmite a energia do motor ao escoamento girando o rotor e movimentando a água entre as palhetas curvas deste. A figura 24.a apresenta um detalhe geral de um rotor de uma bomba e a figura 24.b, um detalhe ampliado da região entre palhetas, na qual o fluido passa, e os paralelogramos de velocidades na entrada e na saída do rotor.

W2

C2R

C2

U2

W1

C1

U1

C2U

C1≈C1R

C1U≈0

β2

α2

β1

α1

R2

R1

(a) Detalhe geral (b) Paralelogramo de velocidades.

W = velocidade do fluido em relação ao rotor, U = velocidade do rotor em relação ao corpo da bomba e C = velocidade absoluta do fluido (C = U + W).

Figura 24. Corte de um rotor com um esquema possível de palhetas internas e paralelogramos de velocidades.

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21

Na figura 24, onde está representado o paralelogramo de velocidades no rotor de uma bomba, as velocidades de entrada no rotor tem como índice 1 enquanto as velocidades de saída tem índice 2. As velocidades W representam a velocidade do fluido em relação ao rotor; as velocidades U, as velocidades periféricas do rotor em relação ao corpo da bomba e, finalmente, as velocidades C, a composição vetorial dessas duas.

5.2. Equação de Euler para as máquinas hidráulicas.

A transferência de energia entre o rotor e o fluido pode ser quantificada através da análise da diferença entre as velocidades da água na saída e na entrada do rotor. A equação que correlaciona a potência transmitida pelo eixo à corrente líquida é denominada Equação de Euler, em homenagem ao matemático Leonard Euler3 que, em 1754, deduziu-a pela primeira vez. Esta equação representará, em termos das velocidades expressas pelos paralelogramos de velocidades, a energia acrescida ao sistema. A equação de Euler para as bombas, como será apresentada posteriormente, mutatis mutandis, também serve para turbinas.

Partindo da equação da conservação da quantidade de movimento angular, sabe-se que, em regime permanente esta equação (vide qualquer texto básico de Mecânica dos Fluídos, como FOX, 1977) é dada por:

( ) ( )( )dAnVVrFrSC

rrrrrr.∫∫∑ ×ρ=×

onde: ∑ × Frrr

o somatório do produto vetorial entre a força e o seu vetor posição

em relação a um eixo de giro e

( )( )dAn.VVrSC

rrrr

∫∫ ×ρ a integral da quantidade de movimento angular que sai ou entra do

volume de controle

Supondo que as velocidades sejam constantes (hipótese de escoamento unidimensional) ao

longo das áreas de saída (2) e entrada (1), o produto vetorial de Vrrr

× resultará no produto simples do

raio ( Rr

) e da velocidade absoluta ( Cr

) projetada numa linha tangencial à superfície (C.cosα). Como o produto vetorial é constante ao longo de toda a área de entrada ou de saída, a integral do produto escalar de ( )dAnV

rr.ρ poderá ser substituída por um somatório de uma só parcela Qρ , a qual representa a

vazão em massa que passa pelas superfícies de saída e de entrada.

Por outro lado, o torque introduzido ou retirado do sistema (bombas ou turbinas), na direção do eixo (direção Z), também pode ser substituído por uma componente única TZ. Após essas simplificações, a equação da conservação da quantidade de momento angular reduz-se a:

( )111222Z cosCRcosCRQT α−αρ= (15)

A figura 25 esquematiza a distribuição das velocidades na entrada e saída do rotor da equação 15.

Para comparar a potência da corrente líquida com a potência transferida pelo eixo, deve-se multiplicar a equação 15 pela velocidade angular ω , resultando em:

( )ωα−αρ=ω= .cosCRcosCRQ.TP 111222Zeixo

3 Leonard Euler, 1707-1783, matemático e físico suíço.

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22

R1

R2

ω

TZ

C2U

C2

U2 R2

U1 R1

C1 C1U

Esquema tridimensional do rotor mostrando somente duas palhetas.

Esquema das velocidades C e U e a projeção de C em U (C1U e C2U).

Figura 25. Esquema do torque em função das velocidades periféricas de saída e entrada.

Projetando as velocidade absolutas 21 C e Crr

sobre uma direção tangencial às áreas de entrada e

saída do rotor ( )2211 .cosC e .cosC ααrr

obtêm-se C1U e C2U. O produto de ω.R é igual a U, assumindo a equação anterior a seguinte forma:

( )U11U22eixo CUCUQP −ρ= (16)

Da definição geral da potência da corrente líquida (capítulo 2, equação 2), sabe-se que ela é está correlacionada à carga de saída e de entrada da bomba, ou seja:

QHP líquidaCorrente γ= (2)

onde H representa a diferença de cargas entre o orifício de entrada e de saída da bomba.

Igualando-se (2) a (16), e isolando-se a carga, tem-se:

( )g

CUCUH U11U22 −

= (17.a)

A equação (17.a) é denotada como Equação de EULER, a qual pode ser escrita em termos de ganho de pressão na bomba, considerando-se a definição de pressão hidrostática P=γH, resultando em:

( )U11U22 CUCUP −ρ= ou ( )

g

CUCUPH U11U22 −

= (17.b)

Utilizar a hipótese unidimensional para a equação da velocidade ao longo da saída e da entrada do rotor é um pouco limitante, à medida em que as palhetas atuam como uma superfície aerodinâmica que provoca sustentação junto ao fluido que passa sobre elas. Para uma análise deste efeito seria necessário o desenvolvimento da teoria da sustentação aerodinâmica sobre perfis que envolve a dedução do chamado teorema de Kutta-Joukoviski4 (ver VALLENTINE 1967).

4 O teorema de Kutta-Joukoviski relaciona a circulação Γ em torno de um contorno fechado ( ∫ α dl.cos.V sendo α o ângulo

que a velocidade faz com a linha fechada em torno de um corpo) com a força normal ao escoamento, força de sustentação (FL), ou seja FL= ρΓV, onde ρ é a massa específica do fluido, V a velocidade média.

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23

Pelo teorema de Joukoviski, sabe-se que, num escoamento externo sobre uma superfície curvada com raios de curvatura diferentes entre a parte côncava e a convexa, a velocidade é diferente entre a parte côncava e a parte convexa (maior pressão na parte côncava). Devido a isto, o modelo de comportamento do rotor da bomba que resulta na equação de Euler, deverá sofrer uma pequena correção em função dessa assimetria.

Geralmente as bombas são dimensionadas para, no seu ponto ótimo de funcionamento, não apresentarem velocidade absoluta tangente à superfície de entrada (C1U=0), otimizando-se dessa forma o seu rendimento e aumentando o ganho de pressão neste ponto. Neste caso, as equações (17.a) e(17.b) se transformam em:

g

CUH U22= (18.a)

U22CUP ρ= (18.b)

A equação de Euler (17.a), pode ser reescrita com as velocidades em função do paralelogramo de velocidades (figura 24 ou figura 26), ou seja, da relação trigonométrica existente entre suas velocidades, tem-se:

U

C

W

Figura 26 Esquema simplificado do paralelogramo de velocidades.

U1121

21

21 CU2CUW −+= e U22

22

22

22 CU2CUW −+= ou

2

WCUCU

21

21

21

U11−+

= e 2

WCUCU

22

22

22

U22−+

= (19)

Substituindo os termos UiCi na equação de Euler por suas respectivas equações em termos das componentes originais do paralelogramo de velocidades (equação 19), resulta em:

( ) ( ) ( )g2

WW

g2

CC

g2

UUH

21

22

21

22

21

22 −

+−

+−

= (20)

O último termo, geralmente, é nulo em fluídos incompressíveis, desde que as seções de entrada e saída tenham o mesmo valor5. Dessa forma não haverá perda de pressão devido a esta parcela.

5.3. Influência do ângulo das palhetas na carga de uma máquina centrífuga.

O ângulo de saída da pá influencia a transformação da energia em pressão ou energia cinética e, em função dele, se define o tipo de bomba. Retornando-se à equação (18.a) para o estudo da influência do ângulo de saída β2 na conversão de energia, tem-se, por trigonometria, os valores de C2R e C2U (R=radial, U=tangencial) escritos em função do ângulo e de U2 , como segue:

2R2U22 angcotCCU β=− e 2R22U2 angcotCUC β−= (21)

Substituindo a equação (21) em (18.a) resulta a carga em função de U, ou seja:

5 Aumentar a seção proporcionalmente ao perímetro pode, na maior parte dos casos, causar recirculação dentro do rotor devido à diminuição da velocidade e conseqüente aumento de pressão contra o escoamento.

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24

g

angcotCUUH 2R22

22 β−

= (22)

Reescrevendo esta equação em função da vazão, tem-se:

2

2222

gA

angcotQU

g

UH

β−= (23)

onde A2 é a área de saída do rotor, sendo dada pelo somatório de todas as áreas de saída entre as palhetas.

Com a equação (23) pode-se traçar as curvas teóricas das bombas em função do ângulo de saída, ou seja, variando-se o ângulo β entre valores maiores e menores do que 90°, se produz três tipos teóricos de bombas: as bombas com β>90°, β=90° e β<90, denominadas, respectivamente, bombas com pás para frente, bombas com pás retas e bombas com pás para trás. As curvas teóricas de cada um destes tipos de bomba são mostradas na figura 27.

Q

β>90° H

β=90°

β<90°

Bombas com pás para frente.

Bombas com pás retas.

Bombas com pás para trás.

Figura 27. Curvas teóricas da carga em função da vazão e do ângulo de saída β.

A figura 27 mostra, sem considerações sobre as perdas existentes, que a bomba poderá funcionar tanto num sentido de rotação como no outro.

Para identificar a influência do ângulo β na carga H, reescreve-se a última equação (equação 19) como se U2 e C2R tivessem valores constantes, resultando em:

221 angcot.ConstConstH β+=

A figura 28 representa o valor da carga hidráulica (H) em função do ângulo de saída da palheta (β) e de valores fixos de U2

2/g e U2C2R. Para um valor fixo de U2

2/g, a carga aumenta com β até este atingir o valor [arctg(-U2/C2R)].

Dos valores teóricos de pressão (curvas da figura 27), para se obter os valores reais da altura de recalque, deverão ser descontadas as diversas perdas existentes na bomba, as quais são compostas por vários termos.

β

β=arctg(U2/C2R)

β=arctg(-U2/C2R)

(U22/g)

H

Figura 28. Variação da carga (H) em função do ângulo Beta.

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O primeiro termo de perda corresponde à perda, comum a qualquer escoamento, que ocorre devido às resistências viscosas junto à parede, as quais são, mais ou menos, proporcionais ao quadrado da velocidade. O segundo tipo de perda de energia consiste em perdas singulares, causadas pela diferença entre o fluxo que sai do rotor e o escoamento externo a este. Esta perda, quando a vazão bombeada corresponde à vazão de dimensionamento da bomba, deveria ser nula. À medida que a vazão se afasta deste valor, o ângulo com o qual o escoamento deixa o rotor se afasta do ângulo estipulado em projeto na condição de maior rendimento, causando perdas, como a de um jato incidindo sobre um meio qualquer.

Além destes últimos tipos, tem-se também perdas devido ao surgimento de correntes secundárias. Estas perdas serão tão mais importantes quanto maior for a diferença de pressões entre a entrada e a saída do rotor.

Como último tipo de perda, tem-se as perdas devido à fuga interna de fluído nos espaços entre o rotor e o caracol, as quais também serão proporcionais à diferença de pressões e às dimensões de folgas existentes entre rotor e caracol. Estas perdas não são muito altas e poderão ser incorporadas às perdas causadas por correntes secundárias que são mais significativas. Pode-se agrupar estes efeitos em um só termo, pois eles se comportam seguindo a mesma tendência.

Q

β>90° H

Q

Curvas

H β<90°

Curva teórica (sem perdas).

Curva teórica descontada as perdas mecânicas.

Curva as perdas devido ao escoamento interno.

Curva as perdas devido à diferença de ângulos curva real.

Perdas

Perdas mecânicas devido o atrito das partes girantes..

Perdas devido ao escoamento interno, perdas no rotor e carcaça e perdas devido à recirculação.

Perdas devido ao choque da água saindo do rotor com a água na carcaça. Perda devido à diferença do ângulo de saída ótimo e o de funcionamento.

Figura 29. Curva de estrangulação teórica e componentes de perda de energia dentro da bomba.

A figura 29 mostra a diferença de perdas nos dois tipos de máquinas hidráulicas (bombas com ângulo de saída β>90° e β<90°. A primeira região, acima da curva teórica, mostra as perdas mecânicas por atrito das partes girantes, representada quase como um valor constante, paralelo à curva teórica, pois a rotação da bomba é constante durante a variação da vazão. O único fator que influencia a perda mecânica com a bomba funcionando à rotação constante é o aumento de pressão, pois este pode causar empuxos axiais sobre o rotor que poderão influenciar a perda mecânica de energia. A segunda região, indica as perdas por recirculação e fuga de fluído. Já a última, é devido ao choque da água quando o rotor está funcionando fora de seu ponto ótimo.

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26

As bombas de baixa e média rotação específica, que possuem pás para trás (β<90º), são dimensionadas para um alto ganho de pressão. Suas perdas mais significativas são conseqüência dàs correntes secundárias e à fuga interna de fluído. Estes efeitos são maximizados em bombas de baixa e média rotação específica devido a grande diferença de pressões de entrada e de saída do rotor. Além disto, por possuírem rotores mais longos, elas estarão sujeitas a maiores perdas distribuídas.

As bombas de alta rotação específica (bombas tipo ventilador) podem ter pás para frente(β>90º) e, como o diferencial de pressão é baixo entre a entrada e saída do rotor, elas não possuem perdas significativas, causadas pelos fatores acima citados, resultando em rendimentos muito superiores a bombas de baixa rotação específica (até 90%).

Desdobrando-se a equação (20) em dois termos, pode-se isolar um termo que representa a carga piezométrica HEst, expresso em função das velocidades relativas U e W, e outro termo que representa a taquicarga HVel , expresso em função da velocidade absoluta que sai do rotor C. Desta forma, a altura total H poderá ser descrita pela soma desses dois termos, ou seja, H=HEst+ HVel, obtendo-se:

( )g2

WWUUH

21

22

21

22

Est+−−

=

Considerando o ponto ótimo, onde C1U será nulo, C12 será igual a W1

2-U12, que substituindo

W12 na taquicarga resulta em:

( )g2

CCH

21

22

Vel−

= (24.a)

( )g2

CWUH

21

22

22

Est+−

= (25.a)

Aplicando as seguintes relações trigonométricas:

( )22R22R22R22

2U2

2R2

22 angcotCUCangcotCUCCC β−+=β−=+=

na expressão (24.a), a carga de velocidade ficará expressa por:

( )g2

angcotCUH

2R22

Velβ−

= (24.b)

Da mesma forma, aplicando estas relações em (25.a), temos:

( )g2

angcotCU

g2

CUH

2R22U22

Estβ−

−=

ou, retomando o valor de C2U na expressão resultante da carga piezométrica:

( )g2

angcotCUH

2R2

22

Estβ−

= (25.b)

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27

Estas duas equações podem ser expressas graficamente traçando-se as cargas (estática e dinâmica) em função de β. Assim, fica evidente que, com o aumento de β, aumenta-se mais a taquicarga do que a carga estática, passando esta última por um ponto de máximo em β=90°.

β

β=arctg(U2/C2R) HVel

H

0° 90° 180°

HEst

Figura 30. Variação das cargas (HEst e HVel) em função do ângulo Beta.

Para o aproveitamento dessa carga dinâmica, em termos de pressão, seria necessário a elaboração de uma geometria especial denominada recuperador de pressão. Este recuperador é, em última instância, uma geometria divergente que transforma a energia cinética em energia potencial. Sabendo-se da dificuldade de trabalhar com gradientes de pressão positivos sem provocar o descolamento da camada limite e sua conseqüente perda de carga, evita-se ao máximo perfis de pás com ângulos β maior do que 90°. Ângulos maiores que 90º são utilizados essencialmente em ventiladores, onde se necessita de uma máquina hidráulica, pois estes geram mais carga de velocidade do que pressão.

5.4. Curva de estrangulação descrita em função da rotação absoluta.

A equação de Euler não tem muita aplicação para o uso corrente em hidráulica, na medida em que os fabricantes fornecem, para as diferentes bombas, as suas curvas de H x Q, não se necessitando o seu desenvolvimento teórico. Porém, através dela é possível estabelecer uma curva de estrangulação em função de valores absolutos de rotação e este tipo de análise é importante na aplicação de máquinas hidráulicas. A utilidade da análise do comportamento da bomba em função da rotação só terá sentido se esta for feita em termos de grandezas macroscópicas, quantificadas externamente à bomba, tais como vazão, pressão e rotação.

Os ângulos β1 e β2 podem ser descritos em função das velocidades do paralelogramo de velocidades (vide figura 24.b), obtendo-se as tangentes dos ângulos β1 e β2 por:

1

R11 U

Ctan =β (26.a)

U22

R22 CU

Ctan

−=β (27.a)

Os ângulos β1 e β2 reais, também denominados ângulos das palhetas: βP1 e βP2, são os ângulos com que o fluido entra e sai das máquinas hidráulicas. Eles não são exatamente os ângulos das palhetas. No caso do ângulo de entrada β1, há uma diferença entre o ângulo da palheta (βP1) e o ângulo de entrada do fluido (βF1), definindo-se o ângulo de ataque i (i= βP1− βF1). O valor de i pode variar entre −3° a +5°.

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28

O valor do ângulo de ataque não deverá ultrapassar os limites definidos no parágrafo anterior, sob pena de cair em muito o rendimento da bomba. O ângulo de ataque (i) além de variar com a geometria da entrada da bomba, da pré-rotação antes da entrada do rotor e com a qualidade do acabamento do mesmo, também varia com a rotação da bomba, à medida em que o ângulo do fluido (βF2) diminui com ao aumento da rotação da bomba. Essa diminuição não é exatamente inversamente proporcional à variação da rotação, comportando-se como um escorregamento que ocorre no fluido com a variação da rotação.

No caso do ângulo de saída, define-se também um ângulo de retardo do fluxo σ (σ= βP2−βF2), que tem como peculiaridade ser sempre positivo e praticamente independente do regime de funcionamento do rotor. O ângulo de retardo possui esta independência pois é função da sustentação nas palhetas, que é praticamente independente da velocidade de saída.

A partir das considerações anteriores, pode-se redefinir os ângulos reais de entrada e saída do fluido no rotor através das equações (26.a) e (27.a), devidamente alteradas:

( )1

R11

1

R11F U

Ctan

U

Ctan =β+=β i (26.b)

( ) ( ) 22R2U2U22

R22

U22

R22F U cotCCou

CU

Ctan;

CU

Ctan −β+σ=

−=β+σ

−=β (27.b)

Com a equação de Euler, pode-se comparar o ganho de energia real entre a saída e a entrada, considerando as perdas que possam haver no corpo da bomba (entrada, saída e na voluta ou caracol

6), nos canais do rotor e a energia residual do corpo do rotor (na voluta). Sendo assim, reescreve-se a equação de Euler como segue:

g2

VhphpH

g

CU 2Voluta

RotorCBU22 +++= (28)

As perdas podem ser associadas, à velocidade relativa dentro do rotor (W) quando se tratar da perda no rotor (hpRotor), e à velocidade absoluta na saída do rotor (C2) quando se tratar da perda no corpo (hpCB), ou seja:

g2

CKhp

22

CBCB =

g2

WKhp

22

RotorRotor =

Os valores das velocidades que podem ser descritos macroscopicamente são os valores da velocidade radial do fluido (CR), função da vazão e da área de saída, e a velocidade tangencial (U), função do raio e largura do rotor e da rotação. Por conseqüência, deve-se escrever C e W em função desses valores. Utilizando as relações (26.b) e (27.b) e outras relações trigonométricas mais simples

(ver SPIEGEL, 1968) e sabendo que 2U2

2R2

22 CCC += , tem-se da relação (27):

6 A voluta é o conduto que recolhe o fluido do rotor e o conduz à saída. Tem a forma de um caracol.

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29

( )[ ] ( )[ ] ( ) 22222

22

22

2222

22

22 cot2cot1 cot UCUCUCCC RRRR β+σ−+β+σ+=−β+σ+=

( ) ( )222

R222R222

22 cscCUcotC2UC β+σ+β+σ−=

por outro lado, sabendo que: W2=C2R/sen(σ+β2) ou W2=C2Rcsc(σ+β2), temos que:

( )[ ] ( )g2

cotCU2cstCUKhp 2R222

22R2

22

CBCBβ+σ−β+σ+

= (29)

( )[ ]g2

cscCKhp 2

22R2

RotorRotorβ+σ

= (30)

Como [U2C2u]/g pode ser expresso em termos de valores conhecidos, ou seja:

( )g2

cotCUU

g

CU 2R2222U22 β+σ−

= (31)

e substituindo (29), (30) e (31) em (28), tem-se uma equação expressa em termos das velocidades U e C2R e de K’s.

( ) ( )( )g2

V

g2

KKecantcosCcot)K1(CU2)K2(UH

2VolutaRotorCB2

22R22CBR22CB

22 −

+β+σ−β+σ−−−=

ou, incluindo em KCB a energia restante na voluta, tem-se finalmente:

( ) ( )( )g2

KKecantcosCcot)K1(CU2)K2(UH RotorCB2

22R22CBR22CB

22 +β+σ−β+σ−−−

= (32)

Os valores de C2R e U poderão ser expressos em função da geometria do rotor, da vazão total e da rotação, ou seja:

22R2

22 b.R..2

QCe

60

N.R..2U

π=

π= (33)

onde b é a largura do rotor7.

A equação (32) pode ser reescrita agrupando-se os termos invariáveis com a rotação e a vazão, como também os termos dependente dos ângulos, pois estes variam muito pouco com a rotação e vazão, ou seja:

22 CQBNQANH −−= (34)

onde: gKRA CB 7200/)2(4 22

2 −π=

( ) )K1(gb60/cotB CB22 −β+σ=

7 Largura do rotor é dada, no caso de bombas de rotor fechado, pela distância entre os discos que fixam as palhetas e, no caso de bombas de rotor aberto, pela a distância entre o disco que segura as palhetas e a parede oposta do corpo da bomba.

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30

( )( ) 222

2RotorCB2

22bRg8/KKecantcosC π+β+σ=

Com os resultados de A, B e C, determinados para mais de três rotações, é possível estabelecer o grau de variabilidade das constantes KCB, KRotor e ângulo de ataque (i) para aplicar a qualquer rotação diferente dessas.

As equações aqui geradas não são válidas, na sua totalidade, para bombas axiais, uma vez que, neste tipo de bomba, a sustentação causada pelas pás é preponderante. Desta feita não se terão curvas que sigam, na sua totalidade, as curvas aqui previstas.

Cabe ressaltar que quando se determina a equação 22 CQBNQANH −−= através de uma regressão, partindo de dados de uma curva de uma bomba fornecida pelo fabricante, o ajuste obtido, para o caso de bombas de alta rotação específica, não é satisfatório, indicando a inadequação desta sistemática para o estudo de bombas e ventiladores que possuam alta rotação específica.

5.5. Aplicações da variação de freqüência e limites de validade da equação.

A determinação de curvas de estrangulação para rotações diferentes daquelas fornecidas pelo fabricante pode ser realizada, simplesmente, através da aplicação de relações de semelhança entre máquinas hidráulicas, como se verá a seguir (equações 43). Porém, a utilização da equação (34), dá uma confiabilidade maior ao resultado, pois os erros nas constantes KBC, KROTOR, e σ poderão ser estimados em função do tipo de bomba.

A principal aplicação da modificação da curva de estrangulação com variação da rotação, está na otimização de sistemas de bombeamento operando com variação da rotação. Este procedimento fica é melhor ilustrado através de um exemplo.

Para uma curva de estrangulação de bomba correspondente à uma de suas rotações nominais (figura 31), retiram-se alguns pontos convenientemente escolhidos próximos ao ponto ótimo de funcionamento e próximo da região em que a bomba irá operar (tabela 1).

20 0 20 40 60 80 Q[m³/h]

30

H [m]

40 .=3550RPM

65%

72% 76,5%

75%

72% 65%

75%

Figura 31. Curva de estrangulação e pontos com diversos rendimentos para a rotação de 3550RPM.

Tabela 1. Pontos da curva de estrangulação de figura 31, para a rotação de 3550RPM.

Q[m³/s] 0 20 40 60 80 90

H[m] 37,2 37,0 35,1 31,5 26,3 23,1

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31

Com estes pontos, aplicando-se um método numérico conveniente, ajusta-se uma equação do tipo H=a+bQ-cQ2 (análoga à equação (34)), na qual a rotação está incorporada ao coeficiente de ajuste. Esta equação, após a obtenção dos coeficientes de ajuste, fica: H=37,2+0,02974Q-0,002075Q2 , expressão que representa a curva de estrangulação para a rotação considerada (3550RPM).

Partindo dos coeficientes a, b e c ajustados, estima-se o valor dos coeficientes A, B e C que definem a curva de estrangulação genérica da bomba (equação 34), os quais são independentes da rotação da bomba. Fazendo A= a/N²; B=b/N e C=c, a curva de estrangulação da bomba torna-se:

2626 002075,010378,810953,2 Q8Qx8xH −−= −− .

Determinada a expressão da curva de estrangulação genérica, calculam-se as curvas para diferentes rotações, fazendo variar as vazões (Tabela 2), as quais são representadas, graficamente, por um diagrama com todas as rotações (figura 32)

Tabela 2. Pontos de curvas de estrangulação para diversas rotações. H[m]

Q[m³/h] 4200RPM 3550RPM 3200RPM 2800RPM

0 52,09 37,2 30,24 23,15

20 51,96 37 29,94 22,79

40 50,18 35,1 27,99 20,77

60 46,73 31,5 24,38 17,09

71 44,13 21,69 14,36

80 41,63 26,3 19,10

90 38,45 23,1

106 32,51

Além das curvas de estrangulação, pode-se transladar os pontos de mesmo grau de rendimento das curvas fornecidas pelo fabricante para as outras curvas. Esta translação pode apresentar alguns problemas, sendo conveniente diminuir a eficiência em pontos mais distantes da curva original.

Supondo que esta bomba esteja recalcando água para um reservatório situado a 9,32m de altura em relação ao reservatório inferior, os quais se encontram ligados entre si por uma canalização simples com 110mm de diâmetro interno, 0,1mm de rugosidade equivalente nas paredes, comprimento de 550m, temperatura da água de 15°C e coeficiente de perda de carga localizada KS=15,0, pode-se estabelecer a curva da canalização.

Nessas condições a energia que a bomba deve fornecer ao sistema pode ser aproximada por uma equação do tipo:

9194,12 Q006350,0Q0006534,032,9H ++= (35)

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Traçando-se a curva da canalização sobre o diagrama que representa as curvas de estrangulação das bombas para diversas rotações (tabela 2), vê-se uma série de pontos de funcionamento, um para cada rotação. Calculando a potência necessária para recalcar um dado volume (no exemplo 500m3/dia), o tempo de funcionamento da bomba necessário para recalcar este volume, a potência exigida em cada rotação (calculada reduzindo-se o rendimento em 0,9 para as rotações de 4200RPM e de 2800RPM e em 0,95 para as de 3900RPM e de 3200RPM), tem-se os resultados conforme tabela 3.

20

10

0 0 20 40 60 80 100 Q[m³/h]

30

H [m]

40

50

.=3550RPM

.=3900RPM

.=3200RPM

.=2800RPM

65% 72%

75%

76%

75%

72%

.=4200RPM

Curva da canalização.

Figura 32. Curvas de estrangulação para diversas rotações.

A tabela 3 mostra que mesmo diminuindo o rendimento da bomba com rotações menores ter-se-á uma economia significativa de energia, pois com vazões maiores o conduto tem maior perda.

Tabela 3 Economia de energia para uma bomba funcionando com outras rotações que não a nominal.

Rotação Rendimento considerado

H [m]

Q [m³/s]

Tempo necessário para elevar 500m³

Potência (kW)

Potência anual

(kW.h)

Economia em relação a

3550RPM

2800 0,680 20,03 44,48 11,15 3,60 14700 26%

3200 0,720 25,38 55,31 9,04 5,28 17400 12%

3550 0,768 30,62 64,03 7,80 6,95 19800

3900 0,720 36,38 72,49 6,90 9,93 25000 -26%

4200 0,680 41,74 79,61 6,28 13,24 30400 -54%

O resultado pode parecer contraditório, pois, considerando que em outras rotações diferentes da rotação de maior rendimento (3550RPM), as rotações com rendimentos piores (2800RPM e 3200RPM) economizam mais energia. Isto ocorre pois o rendimento menor é compensado por uma perda de carga no conduto ainda menor.

A aplicação mais usual da metodologia de variar a energia consumida pelo sistema de bombeamento através da variação da rotação de funcionamento da bomba é apresentada na figura 33. Partindo da variação do consumo de água ao longo de um dia (gráfico superior à esquerda), criam-se diferentes cenários de recalque para satisfazer a demanda diária.

O recalque direto para o consumo deve ser evitado, o dimensionamento desta exige vazão e altura de recalque dimensionadas para o pico de consumo (vazão máxima). Além de numerosos problemas técnicos e operacionais surgidos com esta solução esta vazão de dimensionamento só ocorreria teoricamente um vez por dia (no dia de maior consumo no ano), trabalhando superdimensionada no restante do tempo.

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33

O primeiro cenário (gráfico superior à direita) regular-se a vazão pela média, de forma que o volume demandado nas horas de maior consumo seria suprido através de um volume estocado durante as horas de baixo consumo. Assim, o sistema de bombeamento deveria ter uma capacidade de reservação para suprir maiores necessidades de consumo. Quanto à questão energética, esta solução está entre boa e razoável, porém, a capacidade de reservação (representada pela maior área hachurada da segunda figura) é grande, tornando, muitas vezes, anti-econômica esta solução.

Vazão instantânea

Vazão média diária

Vazão recalcada

Vazão recalcada > Vazão consumida Reservatório enchendo.

Vazão recalcada < Vazão consumida Reservatório esvaziando.

Q1

Q2

QMédia

0 6 12 18 24 Tempo (h)

Vazão (m³/h)

Q1

Q2 Q1

Q2

Q1

Figura 33 Hidrograma diário de consumo de água com as vazões de recalque para manter o sistema abastecido.

O segundo cenário (gráfico inferior à esquerda) pressupõe o bombeamento de uma série de vazões, estabelecidas em função do consumo e do volume do reservatório de reservação. Quanto maior a capacidade de reservação, menor o número de intervalos de vazões a ser implementado. Por outro lado, se for implementado um número maior de intervalos de vazões, a capacidade de reservação necessária poderá cair a um valor extremamente baixo, reduzindo os custos de instalação.

O terceiro e último cenário (gráfico inferior à direita) produziria uma reservação mínima e um consumo de energia também mínimo, mas é limitado, muitas vezes, por problemas de acionamento elétrico do motor da bomba (número de partidas por hora das bombas).

Tanto para o segundo como o terceiro cenário é necessário a medida do volume do reservatório através da determinação do seu nível para regular a vazão. Quando o volume do reservatório está aumentando e chegou a um limite pré-estabelecido deve-se diminuir a vazão da bomba e no sentido inverso também. Este método pressupõe a existência de sensores de nível no reservatório e de um

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34

CLP8 para impor ao inversor de freqüência9 (=controlador ou conversor de freqüência) um novo nível de rotação.

Para o recalque de água tratada, tanto o segundo como o terceiro cenário, são factíveis. No caso de recalque de esgoto, deve-se optar por um menor armazenamento possível (terceiro cenário), evitando assim que o esgoto fique muito tempo parado no poço de sucção, o que poderá causar problemas higiênicos.

6. Semelhança em máquinas hidráulicas.

6.1. Conceito e relações de semelhança em máquinas hidráulicas.

O conceito de semelhança entre objetos e pessoas é mais ou menos intuitivo. Sabe-se que coisas ou seres são semelhantes quando guardam entre si uma identidade em comum que levam as pessoas a associá-los entre si. No caso de máquinas ou estruturas hidráulicas, este conceito tem ligação com um comportamento físico semelhante entre elas. Pode-se dizer que duas máquinas hidráulicas são semelhantes quando apresentam proporcionalidade entre o seu funcionamento dinâmico. Para tanto, sua geometria e seu comportamento cinemático também deverão respeitar esta proporcionalidade.

Não se substitui a palavra semelhança por mera proporcionalidade, pois o respeito de uma relação de proporcionalidade geométrica não é uma condição suficiente e, principalmente, em alguns casos (definição de rotação ou velocidade específico), não é uma condição necessária, para a existência de máquinas hidráulicas semelhantes.

Como uma primeira aproximação da idéia de máquinas hidráulicas semelhantes, partiremos de um caso mais simples, onde o primeiro pré-requisito é a semelhança geométrica. Neste caso, bombas ou turbinas hidraulicamente semelhantes deverão ter, como primeiro ponto para semelhança, a proporcionalidade geométrica. Esta proporcionalidade fará com que, além das dimensões serem proporcionais entre si, suas características correlatas deverão também ser levadas em conta. Assim, além de terem o corpo, o rotor e o difusor proporcionais em tamanho, as máquinas hidráulicas deverão ter o mesmo número e iguais ângulos de inclinação das palhetas. Os ângulos entre as bombas semelhantes não variam, pois, como um ângulo é dado por uma da razão de duas medidas lineares, eles são adimensionais.

A figura 34 mostra, esquematicamente, duas bombas com semelhança geométrica, na qual as proporções de B com b ou R com r e outras devem respeitar um valor único. Dessa condição de semelhança geométrica, obtêm-se a escala geométrica:

G2

2

1

1 L

b

B

r

R

r

Rλ====

l (36)

8 A sigla CLP significa Controlador Lógico Programável. O CLP é um controlador que executa funções lógicas (e outras mais) que podem ser definidas ou alteradas através de um programa. O CLP não executa somente funções lógicas, ele pode executar funções como temporização, contagem, seqüência, controle, etc. que variam de CLP para CLP.

9 Os inversores de freqüência são dispositivos eletrônicos que convertem a tensão da rede, de amplitude e freqüência constantes, em uma tensão de amplitude e freqüência variáveis. São usados em motores elétricos de indução trifásicos para substituir sistemas de variação de rotação mecânicos ou hidráulicos. Normalmente, os inversores são montados em painéis elétricos, sendo um dispositivo utilizado em larga escala na automação industrial. Também podem trabalhar em interfaces com computadores e centrais de comando.

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35

onde r e R são os raios dos rotores, b e B os diâmetros de saída l e L, as larguras dos rotores e λ G a escala de redução geométrica.

L

R1

R2

B

l

r1

r2

b

Bomba A Bomba B

Figura 34 Bombas hidráulicas com semelhança geométrica

.

Quanto aos rotores, a semelhança geométrica impõe o mesmo número e o mesmo ângulo de inclinação da palhetas:

α 1 = α 2

β 1 = β 2

R2

β1

α1

R1 r2

β2

α2r1

Figura 35. Relação de semelhança entre ângulos.

Além da condição de semelhança geométrica, impõe-se uma condição de semelhança cinemática para seguir na busca de duas máquinas homólogas. Dessa forma, as velocidades das partes móveis das máquinas (rotores) também deverão ser proporcionais. Esta proporcionalidade deverá ser mantida entre as velocidades do fluido tanto no interior do corpo como no rotor.

Chamando U e u, as velocidades do fluido que tangenciam a pá; W e w , as velocidades normais a mesma no ingresso ou de saída do rotor; e V e v, as velocidades resultantes, tem-se:

60n2

60N2

r

R

r

R

u

U

1

1

11

11

1

1

π

π

==Ω

onde Ω e Ω são as velocidades angulares de cada rotor, dadas pelo produto entre 2 π /60 e o número de rotações N e n expressos, respectivamente, em RPM.

Assim, por semelhança cinemática, obtemos a escala de redução de velocidades: NGG

2

1

2

2

1

1

n

N..........

u

U

v

V

v

Vλλ=λ==== (37)

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36

Admitindo-se que a vazão que passa pelo rotor, nas duas bombas, é dada por:

2112 VLRVAQ Φπ== (38)

2112 vrvaq Ψπ== l (39)

U2

W2

V2

V1

W1

U1

Figura 36. Diagrama de velocidades

onde Ψ e Φ são coeficientes de correção (0.95 a 0.90) e L é a largura da bomba em sua extremidade de saída;

sabendo-se que tanto R1 /r1 como L/l são iguais à escala de redução geométrica (λ G ), e que V2/v2 é igual ao produto da escala geométrica pela relação de rotações, a escala de redução das vazões assume a seguinte forma:

8GQq

Qou

v

VL

r

R

q

Qλλ==λ= 3

2

2

1

1

l (40)

A carga hidráulica pode ser definida como sendo proporcional à taquicarga (V2/2g). Considerando que a aceleração da gravidade é a mesma, tanto no modelo quanto no protótipo, a escala de redução das cargas fica:

2N

2G2

2

v

V

h

Hλλ== (41)

Pode causar estranheza a relação entre duas alturas não seguirem uma relação de escalas puramente geométrica. Para dirimir este aparente paradoxo, a carga hidráulica aqui considerada não se refere simplesmente a uma altura geométrica da instalação, mas sim à potência do fluido dividida pela vazão em peso, ficando implícita uma semelhança dinâmica para um fluido específico não aparecendo explicitamente o termo de massa. Basta lembrar que os termos da equação de Bernoulli expressam energia por vazão em peso, logo a escala definida na equação 41 está correta.

A potência consumida por uma bomba é dada pela potência da corrente líquida dividida pelo rendimento da bomba, ou seja:

ηρ

=H.Q.g.

PCons

Para o mesmo fluido (ρ=constante) e mesma aceleração da gravidade (g=constante), a relação entre potências de protótipo e modelo, escala de potências é expressa por:

ηη

λλ='

p

P 3N

5G

onde 'η é o rendimento da bomba com n rotações e η o rendimento da bomba com N rotações. Admitindo que os rendimentos das duas bombas sejam iguais, a relação (40) se restringe ao produto da escala de vazões com a escala de cargas, ou seja:

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37

3N

5Gp

Pλλ= (42)

As equações (35, 38, 39 e 40) acima obtidas são chamadas de relações de semelhança entre bombas centrífugas. Delas se conclui que as variações nas dimensões da bomba e na sua freqüência de rotação, influem consideravelmente sobre o valor da vazão bombeada, da carga hidráulica fornecida pela bomba e da potência por ela consumida.

Considerando que uma mesma bomba (λ G = 1) seja operada com diferentes rotações de funcionamento, nota-se uma alteração nas vazões, cargas e potências, variando segundo a escala de rotações, relação entre as rotações N e n. A alteração destas grandezas pode ser calculada através das expressões abaixo:

3N

2NN p

P;

h

H;

q

Qλ=λ=λ=

Em resumo:

Bombas (ou turbinas) hidraulicamente semelhantes implicam, além de semelhança na escala

de redução geométrica (λ G ), na existência de escalas derivadas para a velocidade, a vazão e a

potência em função da escala de redução de rotações (λ n ).

Note, também, que a escala geométrica (λ G) independe da escala de rotações (λ n).

Escala geométrica:

G2

2

1

1 L

b

B

r

R

r

Rλ====

l (43.a)

2121 e β=βα=α e o mesmo número de palhetas

Escalas cinemáticas:

vazõesde escalaq

Qq

es velocidadde escalaW

u

U

v

Vv

N3G

NG

→λλ==

→λλ=ω

=== (43.b)

Escalas dinâmicas (para mesmo fluido e rendimento):

potências de escalap

Pp

cargas de escalah

Hh

3N

5G

2N

2G

→λλ==

→λλ== (43 c)

6.2. Rotação ou Velocidade Específica de uma máquina hidráulica

Tanto as bombas como as turbinas podem ser agrupadas conforme um parâmetro que se denomina Rotação ou Velocidade Específica. Esse parâmetro permite estudar o comportamento das máquinas hidráulicas em grande grupos e a classificação das máquinas dinâmicas hidráulicas, como já visto nos itens 3.1, 3.2 e 3.3.

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38

A idéia de se definir um parâmetro universal que qualifique as máquinas hidráulicas, parte do conceito de estabelecer semelhança entre uma máquina dita real e uma máquina dita teórica. Fixando-se dois parâmetros da máquina teórica resta um terceiro que será determinado pela semelhança entre a real e teórica. O número, adimensional ou não, da “máquina teórica” gerado por este procedimento, dará um qualificativo único à máquina real, de tal forma que qualquer máquina que tenha este mesmo número é semelhante entre si.

Exemplificando, fixando-se uma vazão e uma carga unitária para “máquina teórica”, hidraulicamente semelhante à real, resulta na rotação que deveria ter a máquina teórica para que fosse satisfeito o critério de semelhança entre estas duas máquinas (teórica e real). Esta rotação é nomeada como Rotação ou Velocidade Específica e exclui a necessidade de se considerar uma semelhança geométrica entre máquinas hidráulicas. Assim sendo, quaisquer máquinas que tenham uma mesma Rotação ou Velocidade Específica são hidraulicamente semelhantes entre si.

A figura 37 mostra esquematicamente como se define a Rotação Específica de uma máquina hidráulica. Temos duas máquinas hidráulicas reais 1 e 2 cuja semelhança queremos testar. Comparando estas máquinas com a “máquina teórica”, determinamos, para cada uma delas, sua rotação (NT). Caso as rotações das máquinas reais sejam praticamente as mesmas, estas máquinas são ditas “Semelhantes”.

Máquina real 1 Q=Q1; H=H1 e N=N1.

Máquina real 2 Q=Q2; H=H2 e N=N2.

Máquina teórica 1 Q=1 e H=1.

Máquina teórica 2 Q=1 e H=1.

Semelhantes.

Semelhantes.

Rotação da máquina teórica

calculada por princípios de

semelhança de máquinas

hidráulicas.

NT1=Rotação calculada

NT2=Rotação calculada

Se NT1≡NT2 ∴ Máquina real 1 é semelhante a Máquina real 2 e NT1 = nS= Rotação ou velocidade específica das máquinas 1 e 2.

Figura 37 Esquema de determinação da rotação específica de uma máquina hidráulica.

A definição da Rotação ou Velocidade Específica (parâmetro universal para comparação entre máquinas hidráulicas) sem qualquer referência a suas dimensões geométricas, tem-se que trabalhar as equações que definem suas escalas de semelhança, visando gerar um número adimensional ou não, que inclua somente suas escalas de vazão, de carga e de rotação, excluindo a escala geométrica. Este número servirá como base para a classificação e comparação de bombas ou turbinas.

As relações entre as vazões e as alturas de duas máquinas hidráulicas são dadas por:

n3Gq

Qλλ= e 2

n2Gh

Hλλ= (44)

onde λ n = N/n; escala de rotações de cada uma das máquinas. Elevando a equação de semelhança de vazões ao quadrado e a equação de semelhança entre as alturas ao cubo tem-se:

2n

6G2

2

q

Q λλ= e 6

n6G3

3

h

Hλλ=

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39

Isolando a escala geométrica nas duas expressões anteriores e igualando-as:

6n

3

3

2n

2

2

h

H

q

Q

λ=

λ

Notando que Q/q = q (escala de vazões) e H/h = h (escala de alturas), a expressão anterior toma a seguinte forma:

4n

6n

2n

3

2

6n

3

2n

2 1

h

qou

hq

λ=

λ

λ=

λ=

λ (45)

Adotando como referência uma bomba com vazão q=1m3/s e altura de recalque h=1m (“máquina teórica”), as escalas ficam:

m

Hhe

sm

Qq

/1ˆ

3==

Substituindo q e h na expressão 45, obtêm-se:

4n

3

2 1

H

Q

λ=

contudo λ N = N/n, então :

4

4

3

2

N

n

H

Q=

extraindo a raiz quarta e isolando n, define-se a expressão para a rotação específica (ns), ou seja:

43S

H

QNn = (46)

Assim, a rotação específica é a rotação que deveria ter uma bomba (ou turbina) fictícia, que eleva uma vazão de 1m3/s à uma altura de 1m, para ser hidraulicamente semelhante a uma outra, com vazão Q, altura de recalque (ou queda) H e rotações N (RPM).

Outra forma de descrever a rotação específica é obtida tomando-se como padrão (“máquina teórica”) uma bomba (ou turbina) capaz de recalcar (ou turbinar) água numa altura de 1m consumindo uma potência de 1HP. Neste caso tem-se que a vazão recalcada é de :

7,7451*q*9789qhp =≅γ= (1HP≅745,7W)

Donde q=0,0762m3/s.

As escalas, então ficam : ( )sm0762,0

Q

q

Qq

3==

( )m1

Hh =

e, substituindo na equação 46, obtém-se :

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40

4

4s

3

3

2

2

N

n

H

1

0762,0

Q==

43sH

QN623,3n = (47)

Como anteriormente visto, a rotação específica permite agrupar as bombas em “famílias” de bombas, ou seja, bombas que, funcionando com vazão, potência e carga completamente diferentes, mas possuindo rotações ou velocidades específicas de mesma ordem, pertencem a mesma família de bombas. Assim, se uma bomba real (A) tem uma rotação específica de uma bomba virtual (B), e uma segunda bomba real (C) é equivalente a mesma bomba virtual (B), as bombas reais (A) e (C) são semelhantes e pertencem a mesma “família”.

6.3. Aplicações do conceito de rotação específica e semelhança entre máquinas hidráulicas

6.3.1. Seleção de uma turbina

A definição de um tipo de turbina implica em diferenças notáveis, tanto de funcionamento, quanto na própria casa de máquinas e nos condutos forçados que alimentam o sistema. Por exemplo, devido à presença de uma lâmina defletora, que pode ser colocada rapidamente frente ao jato de uma turbina tipo Pelton, é possível, numa parada de emergência da turbina, que se desvie rapidamente o jato do rotor da turbina e sem que seja necessário o fechamento rápido da válvula reguladora da potência, evitando, através dessa prática, o surgimento de transientes hidráulicos indesejáveis ao sistema. Este tipo de solução não é possível com turbinas tipo Francis. Logo, a definição antecipada do tipo de máquina hidráulica a empregar, permite a redução do custo e de tempo no projeto.

A rotação específica de uma turbina pode ser facilmente determinada conhecendo-se a vazão turbinada e a altura de queda (H= ∆ z-hp). A magnitude da rotação específica determina o tipo de turbina e a forma de seu rotor, permitindo seu pré-dimensionamento. A rotação específica dos diferentes tipos de turbinas é apresentada na tabela 4.

Tabela 4. Seleção do tipo de turbina segundo a rotação específica.

Rotação específica Tipo de Turbina

10 – 50 Pelton

80 – 400 Radial - axial: Francis

300 – 500 Fluxo misto (lâminas finas)

450 - 1200 Axial com palhetas ajustáveis: Kaplan

Quanto mais baixa a rotação específica, maior é a gama de valores de carga hidráulica para a qual a turbina é aplicável. Uma pré-escolha de turbinas, tendo por base a carga hidráulica (valores absolutos), é mostrada na figura 38. Este diagrama deve ser considerado com algumas reservas, pois quando se tem pequenas e médias usinas os limites das turbinas Pelton e Francis é estendido a valores mais baixos.

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41

1

100

Reação Impulsão

Tipos de turbinas

2000

1000

Fluxo Misto

Pelton

Radial-Axial(Francis)

Altura(m)

Axial

Figura 38. Seleção de turbinas com base a carga hidráulica.

No caso de aproveitamentos de grande porte, pode-se dizer, que turbinas de fluxo axial e turbinas de fluxo axial com palhetas ajustáveis (Kaplan ) são usadas com baixas cargas (abaixo de 70m). Cargas variando entre 40 e 200m, permitem o uso de turbinas de fluxo misto. Turbinas de fluxo radial-axial (Francis ) são usadas com cargas entre 40 e 700m e turbinas do tipo Pelton têm sua aplicabilidade para cargas acima de 400 m. Portanto, as turbinas de reação cobrem cargas variando entre 1 e 700m, enquanto que as de ação são aplicáveis a cargas acima de 400 m. Essa última classificação é relativa à vazão turbinada, podendo-se, em pequenos aproveitamentos com alturas de queda menores que 100 m e pequenas vazões, utilizar turbinas do tipo Pelton.

6.3.2. Seleção de bombas

Da mesma forma como as turbinas são selecionadas, as bombas também podem ser selecionadas em função da rotação específica ( ou velocidade específica real), conforme indica a tabela 2, na qual são fornecidas ainda as relações entre os diâmetros de entrada e de saída da bomba.

A importância da rotação específica reside no fato de que a mesma fornece um termo de comparação entre diversas bombas sob o ponto de vista da velocidade e de ser o seu valor decisivo na determinação do formato do rotor a empregar para atender a um número de rotações n, a uma descarga Q e a uma altura manométrica H. Assim, o valor da rotação específica ( η s) indica o tipo de turbobomba a empregar.

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42

Tabela 5. Seleção do tipo de bomba segundo a rotação específica

Rotação específica

Tipo de Bomba

Diâmetro rotor / Diâmetro de entrada

Classe Uso

60 – 90 Centrífuga 2,5 - 2,0 Lentas Pequenas descargas

90 – 130 Centrífuga 2,0 - 1,5 Normais Pequenas e médias descargas

130 – 220 Mista 1,8 - 1,3 Rápidas Médias descargas

220 – 440 Mista 1,5 - 1,3 Extra-rápidas Médias e grandes descargas

440 – 500 Mista 1.2 Helicoidais Grandes descargas

500 – 800 Fluxo Axial 1,0 - 0,8 Axiais Grandes descargas e pequenas

alturas.

6.3.3. Classificação das curvas características

Uma bomba, se bem dimensionada ou projetada, deverá possuir, em todas as suas características cinemáticas e dinâmicas, semelhança com outras bombas de mesma rotação específica. Separando-se as bombas em grupos com rotações específicas próximas umas das outras, nota-se a existência de três grandes grupos de bombas, denominadas famílias de bombas, que possuem curvas de estrangulação, rendimento e potência com configurações semelhantes.

A figura 39 esquematiza três famílias de bombas. A primeira família (bombas centrífugas) apresenta um rendimento crescente com o aumento da vazão da bomba e, algumas vezes, um ponto de máximo para as vazões médias. Essa primeira família de bombas é própria para instalações de alta pressão e pequena vazões (em termos relativos). Analisando a curva de NPSH, vê-se que a variação do nível da bomba com relação ao nível do reservatório inferior (afogamento) deverá ser decrescente com a vazão, podendo-se admitir uma variação quase linear. O limite ótimo de operação dessas bombas encontra-se aproximadamente na região do máximo de carga. Essas bombas são chamadas de bombas centrífugas propriamente ditas.

Q Q Q

H

H

H

P P

P

η

η η

Baixa Rotação Específica

Média Rotação Específica

Alta Rotação Específica

NPSH NPSH

NPSH

Figura 39. Famílias de bombas

A segunda família de bombas (bombas de fluxo misto) tem a curva de estrangulação decrescente com a vazão, a qual decresce quase que continuamente, podendo, em vazões médias, apresentar um discreto platô. Essas bombas tem o NPSH estável até vazões relativamente altas, para depois aumentar significativamente no extremo superior.

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43

A última família de bombas (bombas de fluxo axial) tem a queda da carga em função da vazão ainda mais acentuada que as anteriores, apresentando como característica notável um ponto de inflexão para médias vazões. Acima deste ponto de inflexão, está o limite estabilidade de funcionamento destas bombas, da mesma forma que a maior eficiência da máquina também está em altas vazões, obrigando que seu dimensionamento caia necessariamente nesta zona. As curvas de NPSH e potência requerida no eixo são crescentes para baixas vazões, reforçando o inconveniente de utilizar estas bombas fora da região de altas vazões.

6.3.4. Conversão de curvas características para diferentes rotações

A partir de curvas características conhecidas para uma bomba, pode-se determinar curvas características para outras condições de funcionamento da bomba, desde que a rotação específica não varie significativamente. Para a construção das novas curvas características, utiliza-se as relações de semelhança anteriormente determinadas.

Sejam, na figura 40, as curvas características de uma bomba para uma certa rotação N1, sendo apresentadas em linha sólida e referenciadas pelo sub-índice 1. Caso se deseje utilizar essa mesma bomba com outra rotação N2, pode-se reconstituir suas novas curvas características (na figura, em linha pontilhada e referenciada pelo sub-índice 2) aplicando as leis de semelhança como segue, considerando a escala geométrica igual a um, uma vez que a bomba não foi modificada.

2

1

212 N

NHH

= ;

=

1

212 N

NQQ

e 3

1

212 N

NPP

=

Q

H1

N2

η1η2

H2

N1

Figura 40. Exemplo de construção de novas curvas características para bombas.

Este tipo de procedimento resulta em condições análogas ao proposto no item 5.4, porém este tipo de solução (por semelhança) não permite a obtenção de uma curva contínua como proposto no item 5.4.

6.3.5. Observações finais sobre outros usos do conceito de rotação específica

O conceito de rotação específica também serve para verificar a possibilidade da existência de problemas de instabilidade no funcionamento de bombas e como o uso dessas bombas deve ser procurado, pois bombas com altas rotações específicas possuem alto rendimento (entre 0,80 e 0,87), o problema da instabilidade torna-se importante. A figura 41 mostra que a interseção entre a curva vazão x altura de recalque de uma bomba e a curva da canalização pode não ser única (curva da canalização é a curva formada pelo desnível geométrico de recalque e as perdas de carga na canalização para diferentes vazões).

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44

Q

H

η=87%

η=75%

Situação A : três condições de funcionamento

(INSTABILIDADE)

Situação B : uma condição de funcionamento

(ESTABILIDADE)

Canalização A

Canalização B

η=85%

Figura 41. Situações de regimes estável e instável de funcionamento de uma bomba com alta rotação específica.

7. Elementos básicos de uma instalação de recalque

Compete às fábricas de bombas projetar, testar e determinar as características hidráulicas das bombas centrífugas para que o engenheiro possa selecionar a bomba mais adequada à finalidade requerida, prever seu funcionamento e projetar as obras civis necessárias para sua instalação e operação nas melhores condições técnicas de eficiência, segurança e economia.

Para uma correta instalação de recalque deve considerado os seguintes elementos fundamentais:

- O conduto que conduz a água até o orifício de aspiração da bomba, denomina-se conduto de aspiração ou de sucção

10

- O conduto que recebe a água do orifício de recalque da bomba denomina-se conduto de recalque ou de compressão.

- A bomba.

- O motor de acionamento, chaves de comando, transformador, linhas de alta e de baixa tensão

Como elementos acessórios, que poderão ou não ocorrer numa instalação de recalque, tem-se:

- Órgãos diversos, tais como: registros de gaveta, válvula de retenção, válvula de pé, crivo, curvas, estreitamento gradual excêntrico ou não, alargamentos , etc...

10 Os condutos de aspiração não são necessariamente obrigatórios; bombas submersas não os possuem.

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45

Válvula de pé com crivo

Redução invertida.

Curva de raio longo

Conduto de aspiração

Redução excêntrica

Motor Transformador

Painel de comando com inversor de freqüência.

Registro

Válvula de retenção

Conduto de recalque

Alta tensão.

Baixa tensão.

ZI

ZBomba

6 0 0

Figura 42. Corte de uma de recalque com bomba não afogada.

ZI

ZBomba Crivo

Figura 43. Corte de uma instalação de recalque com bomba afogada.

As figuras 42 e 43 apresentam duas disposições típicas de uma instalação de recalque convencional com bombas de eixo horizontal. A figura 42 corresponde ao caso de uma bomba não afogada, ou seja, uma bomba em que a cota de seu eixo (no caso de bombas de eixo horizontal) ou da sucção da bomba (no caso de bombas de eixo vertical) está acima da superfície d’água do reservatório inferior. No caso das bombas afogadas, a cota do eixo está abaixo.

As instalações afogadas são mais fáceis de operar, na medida em que não é necessário procura manter cheio o conduto de aspiração no início do recalque, pois ele já está cheio, logo se deve, quando possível, manter a segunda configuração para as instalações de recalque.

8. Terminologia empregada em recalque

Para definir as alturas relevantes no cálculo de um sistema de recalque, lança-se mão de uma série de definições, as quais são, normalmente, empregadas com alguma confusão na literatura que trata de bombas. Para evitar uma ambigüidade na notação, sugere-se uma notação como apresentada na figura 44.

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46

8.1. Alturas geométricas

Toda as alturas geométricas características do sistema de recalque, mostradas na figura 44, partem das cotas físicas da superfície líquida do reservatório superior (zS), do reservatório inferior11 (zi) e do eixo da bomba ( Bz ).

Y=zs-zi : altura geométrica ou carga estática total

YR=zs-zB : altura geométrica de recalque ou carga estática de recalque

YA=zi-zB : altura geométrica de aspiração ou carga estática de aspiração

Quando zi >zB => YA>0 e diz-se que a bomba trabalha “afogada”

Quando zi<zB => YA <0

A relação entre as cargas estáticas é válida para qualquer caso, desde que a notação seja respeitada:

YR=Y+YA ou Y=YR-YA (48)

8.2. Alturas totais

Assim como as alturas geométricas, define-se as cargas (H=z+v2/2g+p/γ), pelas diferenças de cotas das linhas de energia em relação a outras cotas do mesmo gênero ou a cota do eixo da bomba.

H=zER-zEA : altura total ou carga total

HR=zER-zB : altura total de recalque

HA=zEA-zB : altura total de aspiração

onde zEA é a cota da linha de energia no fim do trecho de aspiração (depois que ocorre a perda de carga na aspiração) e zER é a cota da linha de energia no início do trecho de recalque (antes de haver a perda de carga no recalque).

Quando zEA> zB => HA>0 Quando zEA<zB => HA<0

De forma análoga à relação entre cargas estáticas, tem-se a seguinte relação entre as alturas totais:

HR = H + HA ou H = HR - HA (49)

11 O reservatório superior, necessariamente, não precisa estar situado em cota acima do reservatório inferior. Seria mais próprio chamar-se reservatório de jusante, porém, como a maior parte dos casos a cota das superfície da água do reservatório de jusante está acima da cota da linha d’água do reservatório de montante, convencionou-se chamar dessa forma.

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47

ZS

ZB

ZPA ZEA

YR

hpR

ZER

Y

YA ZI

ZPR

HR hR

h

Linha de Energia Linha Piezométrica

hA

hpA

HA

H

ZS

ZB ZPA

ZEA

hA

YR

hpR

ZER

Y

YA

ZI

ZPR

H

HR hR

h

HA

hpA

Figura 44. Elementos de um conjunto elevatório (bomba afogada e bomba não afogada).

8.3. Alturas manométricas

As alturas manométricas são definidas pela diferença entre as cotas das linhas piezométricas em relação a cota do eixo da bomba. Assim:

h = zPR - zPA : altura manométrica

hR = zPR - zB : altura manométrica de recalque

hA = zPA - zB : altura monométrica de aspiração

Quando zPA>zB => hA>0 Quando zPA<zB => hA<0

onde zPA é a cota da linha piezométrica no fim do trecho de aspiração (depois deste perder toda a sua energia) e zPR é a cota da linha piezométrica no início do trecho de recalque.

hR=h+hA ou h=hR-hA (50)

As alturas totais e as alturas manométricas só são iguais na aspiração e no recalque se os seus diâmetros forem iguais, o que normalmente não ocorre. Em geral, o diâmetro de recalque é menor do que o de aspiração.

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48

As seguintes relações complementares podem ser definidas a partir dos conceitos anteriores :

zEA=zi–hpA zPA=zEA–VA2/2g zER=zS+hpR zPR = zER - VB

2/ 2g

H=zER-zEA=zs+hpR-(zi-hpA) H=zs-zi+ hpR+ hpA

H=Y+hp (51)

A equação 51 é adotada para a determinação do ponto de funcionamento da bomba, como será visto a seguir.

A altura total de aspiração, expressão fundamental para o estudo da prevenção da cavitação no interior da bomba, que será estudada posteriormente, pode ser deduzida como:

HA=zEA-zB

zEA=zi -hpA

HA=zi-hpA-zB

HA=YA-hpA (52)

9. Determinação do ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga

A vazão que se estabelece em um conjunto de recalque depende da intersecção da curva característica da bomba (curva de estrangulação) com a curva característica da instalação, sendo esta última determinada pela curva de carga total (Y+hp) em função da vazão (Q).

A figura 45 mostra esquematicamente as linhas de energia e piezométricas do escoamento para uma vazão Q em uma instalação de recalque simplificada. Considerando que uma bomba recalca água de um reservatório inferior para outro reservatório, a energia a ser desenvolvida por ela será igual à diferença entre o valor da linha de energia (LE) na saída da bomba e a LE na entrada da mesma. Assim

H=HR-HA

Considerando também que HR e HA são, respectivamente, dados por:

HR=zi+Y+hpR e HA=zi-hpA

A carga hidráulica H resulta em:

∑+= hpYH (53)

onde Y é o desnível geométrico entre os reservatórios, Σhp é o somatório de todas as perdas no sistema (perdas de carga lineares e singulares no conduto de aspiração e perdas de carga lineares e singulares no conduto de recalque).

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49

Plano de referência

ZS

ZB

ZEA

hpR

ZER

Y

ZI

H

HR

HA

hpA

Linha de energia (LE)

Linha piezométrica (LP)

Figura 45. Desenvolvimento das linhas de energia e piezométrica numa instalação de recalque.

A determinação do ponto de funcionamento (ou de trabalho) da instalação de recalque baseia-se na equação 53. Se construirmos a curva Y+hp para a instalação, através do cálculo da perda de carga total para várias vazões apresentadas na curva de estrangulação do fabricante, obteremos a curva da

instalação (figura 46).

Q

H

Ponto defuncionamento

Curva característicada canalização

Curva característicada bombaY

Q1 Q2Q3

H1 H2

hp1

hp2

hp3

Figura 46. Curva característica da instalação

O ponto de intersecção entre a curva de estrangulação e a curva da canalização identifica o ponto de funcionamento do sistema. Cabe relembrar que a curva de estrangulação representa a variação da carga hidráulica que a bomba fornece ao sistema, enquanto que a curva da canalização representa a demanda de energia que a canalização exige para conduzir dada vazão. Portanto, no ponto de intersecção, a energia fornecida é igual aquela necessária para que dada vazão seja bombeada.

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50

Se a vazão de operação do sistema não coincide com a vazão do ponto de funcionamento desejado (H3;Q3) ocorre um ajuste no conjunto bomba-canalização (figura 46) que pode ser resumido como segue:

Caso a vazão for menor que a do ponto de funcionamento, (vazão Q1) o sistema exigirá menos energia que a energia disponibilizada pela bomba,Y+hp1<H1, logo a vazão tenderá a aumentar.

Caso a vazão for maior que a do ponto de funcionamento, (vazão Q2) o sistema exigirá mais energia que a energia disponibilizada pela bomba,Y+hp1>H1, logo a vazão tenderá a diminuir.

Este processo só tem um ponto de equilíbrio possível12, para a vazão Q3, onde o sistema exigirá a mesma energia do que a disponível pela bomba (Y+hp=H) satisfazendo a equação 53. Então, a vazão Q3 estabelecerá um regime permanente no conjunto elevatório, tendo o ponto de funcionamento as coordenadas (Q,H).

A potência útil da bomba é determinada por: PF = γ QH, sendo a potência consumida pela bomba expressa, conforme equação já estabelecida, por:

BB

FC

QHPP

ηγ

= (6.b)

Para facilitar os cálculos, uma vez que a vazão que se estabelecerá num sistema de bombeamento depende da curva da canalização, é possível determinar equações de interpolação das perdas. No caso das perdas lineares, a equação que a define pode ser manipulada de forma a escrevê-la em função apenas da vazão:

( )2

12

5222

22

linear Q.Const.fQ.Dg2

L.16.f

4Dg2

Q.

D

L.f

g2

V.

D

L.fhp =

π=

π==

onde o coeficiente de perda de carga ou é constante (escoamento turbulento rugoso) ou varia diretamente com a vazão (escoamento turbulento liso ou na zona de transição). A variação da perda linear com a vazão se ajusta bem a uma equação potencial do tipo:

Nlinear Q.Ahp = (54)

onde A e N são constantes a serem determinadas.

No caso das perdas localizadas, como elas se originam de equações do tipo ( )g2VKhp 2

Ssingular Σ= , sua expressão em termos da equação potencial acima apresentada, faz com

que o coeficiente N seja conhecido a priori (N=2). Assim, temos:

( )2

22

S522

52S

22

2

Ssingular Q.ConstQ.KDg

8Q.

Dg2

K.16

4Dg2

Q.Khp =Σ

π=

π

Σ=

πΣ=

o que nos leva a escrever a equação potencial, onde só uma constante deve ser determinada (A), como:

12 No caso de bombas de alta rotação específica, se elas forem mal dimensionadas, poderá haver mais de um ponto de funcionamento, porém isto deverá ser evitado.

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51

2singular .QAhp = (55)

A principal diferença entre as equações (54) e (55) está na origem dos coeficientes N e A, enquanto para a equação (55) os valores dos coeficientes são exatos (N é constante e igual a 2) e A é

dado diretamente por ( )52S DgK.8 πΣ , na equação (54) os valores de A e N deverão ser obtidos por

regressão linear, a partir de pontos calculados. A expressão NQ.A é uma aproximação que será tão melhor quanto mais próximos do ponto de funcionamento estiverem os pontos que deram origem aos coeficientes A e N.

O procedimento para obter A e N pode ser facilmente relatado como segue:

i) Escolhe-se, convenientemente, duas vazões que, de preferência, deverão estar uma acima e outra abaixo do ponto de funcionamento (Q1 e Q2).

ii) Para estas duas vazões, calculam-se as perdas (hp1 e hp2).

iii) De posse dos resultados, monta-se o seguinte sistema de equações.

Nlinear 11 Q.Ahp = N

22linear Q.Ahp =

Ou, aplicando sobre as equações o logaritmo e suas propriedades,

( ) ( ) ( )1linear Qln.NAlnhpln 1 += ( ) ( ) ( )22linear Qln.NAlnhpln +=

iv) Determinam-se os valores de A e N.

2

1

2linear

1linear

Qln

Qlnhpln

hpln

N = e ( )21

2linear1linear

QlnQlnN

hplnhplnAln.2

−−

= (56)

Um resultado correto deverá apresentar um expoente N variando entre 1,75 (turbulento liso) e 2,00 (turbulento rugoso), usualmente mais próximo de 1,90 (zona de transição).

LAROCK, JEPPSON & WATTERS (2000), sugerem que os valores das constantes sejam determinados pelas seguintes expressões:

25D.g

L.a.8Ab2N

π=−= (57.a)

onde as constantes a e b deverão ser determinadas por:

( )( )

b1

12

21 QfaQQln

fflnb == (57.b)

As equações (57) não são muito práticas, pois introduzem um cálculo a mais no processo de determinação de N e A e se o f calculado não corresponder aos coeficientes de perda de carga próximos ao ponto de funcionamento da bomba, os resultados tendem a distanciar-se do resultado real.

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52

10. Valor mínimo da altura geométrica de aspiração em instalação de recalque

10.1. Introdução

Durante o funcionamento de uma bomba centrífuga, em algum ponto da canalização ou internamente à bomba, poderá ser atingida uma pressão abaixo da pressão de vapor do fluido. Nesta situação, ou haverá ruptura de coluna13 ou haverá a ocorrência do fenômeno da cavitação, ambos causando problemas no funcionamento do sistema.

Na ocorrência de ruptura de coluna na canalização, os problemas de funcionamento serão facilmente detectáveis, pois ocorrerá separação da coluna líquida em duas fases: líquida e gasosa no interior da canalização, provocando o funcionamento da bomba em vazio (sem água) com conseqüentes danos ao sistema. Na segunda situação, cavitação no interior da bomba, este problema de mal funcionamento poderá passar despercebido, à medida em que o primeiro sintoma, a perda de rendimento do recalque, poderá ser atribuído a outros fatores. Neste último caso se não forem tomadas providências imediatas, a cavitação causará problemas estruturais no interior do rotor da bomba e, com o passar do tempo, esta poderá ficar completamente comprometida.

No caso de ruptura de coluna no conduto, deve-se avaliar a pressão nos pontos mais altos da rede, denominados usualmente como “colo alto”. Comparando-se o valor da pressão absoluta nestes pontos com a pressão de vapor do fluido em bombeamento. Caso a pressão absoluta seja inferior, ou mesmo próxima à pressão de vapor, deve-se alterar a configuração da linha.

Para determinar se há ou não tendência de cavitação dentro da bomba, o processo é mais complexo, sendo necessário conhecer a curva (ou tabela) do 8PSH

* requerido e contrapô-lo ao 8PSH

disponível na instalação. Para tanto, é preciso conhecer as condições de cavitação da instalação, as quais são influenciadas pelas seguintes variáveis:

* altitude do local;

* tensão de vapor saturado do líquido;

* perda de carga na tubulação de aspiração (hpA)

* desnível geométrico da aspiração (YA).

A seguir será examinado o papel de cada um destes fatores na prevenção da cavitação na bomba centrífuga.

a) Altitude da localidade onde se situa a instalação de recalque

O conhecimento da altitude média da localidade, acima do nível do mar, é necessário para a determinação da pressão atmosférica média, uma vez que para os cálculos de prevenção à cavitação se trabalhará com pressões absolutas. A expressão (58) permite o cálculo da pressão atmosférica média em função da pressão atmosférica ao nível do mar (p0) e da altitude (z) em metros, com suficiente precisão para o fim a que se destina.

( )8000zoz epp −= (58)

13 Separação da colina líquida em duas partes distintas pela vaporização do fluido entre estas partes.

* Net Positive Suction Head (carga líquida positiva de sucção)

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53

Os valores da pressão atmosférica (mm de mercúrio) e sua equivalência em metros de coluna de água a 4°C, em função da altitude média z são apresentados na tabela 6. Nesta tabela, a coluna (A) indica os valores da pressão atmosférica medidos, a coluna “Equação”, os valores calculados através da equação (58) e a coluna (%), os respectivos desvios relativos determinados pela relação entre os valores medidos e calculados.

Tabela 6. Valores da pressão atmosférica em diferentes altitudes

milímetros de mercúrio metros de coluna de água a 4º C Z (m)

(A) Equação (%) (A) Equação (%)

-325 790 792 0,3 10,74 10,76 0,2

0 760 760 0 10,33 10,33 0

340 730 728 0,3 9,92 9,90 0,2

690 700 697 0,4 9,52 9,48 0,4

1045 670 667 0,5 9,11 9,07 0,4

1420 640 636 0,6 8,70 8,65 0,6

1820 610 605 0,8 8,29 8,23 0,7

2240 580 574 1,0 7,88 7,81 0,9

2680 550 544 1,1 7,48 7,39 1,2

3140 520 513 1,4 7,07 6,98 1,3

b) Tensão ou pressão de vapor

Quando um líquido apresenta uma superfície livre, constantemente suas moléculas rompem a interface líquido - gás (tensão superficial), liberando para o meio externo moléculas de vapor do próprio líquido. Considerando que o espaço acima da superfície livre seja fechado, o acúmulo de moléculas evaporadas causa um aumento gradual da pressão que o vapor exerce sobre a superfície líquida. Ao atingir-se uma situação de equilíbrio entre as moléculas que abandonam o líquido e as moléculas que a ele retornam, diz-se que o vapor está saturado. A pressão parcial provocada pelas moléculas de vapor que se chocam com a superfície do líquido denomina-se tensão de vapor saturado.

A tensão de vapor saturado depende da natureza do líquido e aumenta com sua temperatura. Uma expressão empírica (equação 59) permite o cálculo da tensão de vapor saturado para a água, no intervalo de temperatura variando entre 4°C e 50°C, com erro relativo inferior a 4%.

[ ]362532v 10x591.610x372.210x867.510x834.5p θ+θ+θ+γ= −−−− (59)

onde pV é a tensão de vapor em Pascal (N/m2); γ é o peso específico da água em N/m3 a 4°C e θ é a temperatura da água em °C.

A tensão de vapor da água é normalmente expressa, em coluna de líquido, sendo dada pela relação entre a tensão de vapor e o peso específico da água:

γ= v

vp

h (60)

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54

A tensão de vapor da água a 4°C (ρ = 1000 kg/m3), em metros de coluna de água, é dada na tabela 4, na coluna (A). Note-se que a 100°C, a tensão de vapor saturado iguala a pressão atmosférica ao nível do mar. Entre 0°C e 100°C apresentam-se também os valores calculados pela expressão (59), bem como os erros relativos (R) cometidos com sua utilização.

Tabela 7 Tensão de vapor em metros de coluna de água

tensão de vapor

T ( °C ) (A) Equação R (%)

0 0,062 0,052 6,5

4 0,083 0,083 0

10 0,125 0,126 0,8

20 0,239 0,238 0,4

30 0,433 0,434 0,2

40 0,753 0,753 0

60 2,033 1,919 6

80 4,831 4,054 16

100 10,333 7,473 28

10.2. .oções sobre cavitação

O fenômeno da cavitação é o resultado do aumento do diâmetro das bolhas de gás e vapor dissolvidos no fluido e posterior diminuição rápida do diâmetro das mesmas (implosão), causando grandes pressões, as quais, atuando sobre pequenas áreas, podem provocar danos ao conduto ou à máquina hidráulica por onde ocorre o escoamento.

A descrição exata do fenômeno de implosão das bolhas pode ser vista em KRANENBURG (1973) ou BATCHELOR (1970) onde, através de uma análise dinâmica, chega-se à determinação de valores da sobrepressão causada pela implosão das bolhas. Em primeira aproximação, para a compreensão do fenômeno, pode-se lançar mão de uma análise simplificada do fenômeno, considerando que a dinâmica do processo da implosão de uma bolha possa ser expressa como sendo uma sucessão de estágios estáticos. Nesse tipo de abordagem, parte-se da equação de Laplace para a tensão superficial:

−σ=−=∆

21ei R

1

R

1ppp (61)

onde p∆ é a diferença de pressões entre a interface líquido-gás; pi é a pressão interna à interface; pe é a

pressão externa à interface; σ é o coeficiente de tensão superficial; R1 e R2 são os raios de curvatura (ortogonais) da superfície. Caso a bolha tenha um único diâmetro, a expressão 61 se simplifica para:

R

2ppp ei

σ=−=∆ (62)

No caso em estudo, a pressão interna ao raio de curvatura da bolha corresponde à pressão da mistura gás-vapor dentro da mesma, a qual é dada pela soma das pressões parciais desses dois constituintes. Substituindo, na expressão 62, a pressão interna expressa pela soma das pressões parciais de vapor (pv) e do gás (pg ) tem-se :

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55

R

2ppp

ouR

2pppp

vge

evg

σ−+=

σ=−+=∆

(63)

Como a pressão externa é um dado do problema, pois o escoamento principal fornecerá o valor dessa pressão, ter-se-á um ou mais valores de raios possíveis para a bolha. Caso não haja gás dissolvido, o raio da bolha fica expresso por :

R

2pp ev

σ=− (64)

A análise da expressão 64 nos indica que haverá igualdade entre a pressão externa (pe) e a pressão de vapor (pv) só ocorre quando o raio de curvatura for infinito (superfície plana). Por outro lado quando o raio de curvatura tende a zero, a diferença de pressões tende a infinito. Desta última observação vê-se que é inviável a criação de bolhas de bolhas de vapor para fluidos puros, portanto para a criação de bolhas de vapor é necessária a existência de bolhas de gases ou sujidades no fluido denominando-se estes de núcleos de condensação

14.

Figura 47. Núcleo de condensação.

Da prática, sabe-se que os diâmetros de bolhas de gás dissolvido variam desde 0,4x10-6m, em água parada, até 1x10-6m, em condições de laboratório. Conhecendo-se a tensão superficial, para esses diâmetros, pode-se calcular a diferença entre as pressões interna e externa, a qual varia entre 1,46 kN/m2 e 36,5 kN/m2.

Supondo que o gás dissolvido nos núcleos de condensação se comportem como um gás ideal, segundo as leis dos gases têm-se:

TNp bbg KV =

onde pg é a pressão parcial (absoluta) do gás ; Vb é o volume da bolha (Vb = 4/3 π R3 ); Nb é o número de móis de gás na bolha; K é a constante universal dos gases; T é a temperatura absoluta. Caso o gás sofra uma transformação isotérmica, a pressão será dada por uma constante.

3

3ig

g R

Rpp i= (65)

onde o índice i significa um instante inicial conhecido.

14 Micro-bolhas de gás, sujidades e pequenas reentrâncias ou saliências junto aos contornos sólidos com bolhas de gás aderidas a elas.

Núcleo

Volume de vapor acrescido ao núcleo

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56

Substituindo a pressão do gás da equação 65 na pressão da equação 64 têm-se:

)ppp(RpConde

R

2

R

Cpp

ieg3ig

3ve

iii∆+==

σ−+=

(66)

A equação 66, para uma pressão de vapor constante, é representada pela figura 48.

R

p e

p v R m

R n

R crít ico σ = 0

Valor

mín imo.

Figura 48. Variação do raio de curvatura de uma bolha de gás e vapor dissolvido num líquido em função da pressão externa.

Analisando-se, tanto a figura 48 quanto a equação 66, quando se parte no ramo esquerdo da curva inferior (raio inicial de bolha Rm) e se diminuiu a pressão externa, enquanto a bolha não atingir um valor crítico (RCrítico) esta terá a tendência de retornar ao valor inicial, no momento que haja um aumento da pressão externa. Caso o raio crítico for atingido, mesmo não havendo diminuição da pressão, haverá uma tendência do raio da bolha de gás aumentar infinitamente. Neste ramo da curva a bolha apresenta um comportamento instável.

No sentido inverso ao comentado no parágrafo anterior, se a bolha de vapor do líquido possuir um raio maior do que o raio crítico (ramo direito da curva inferior R>Rn>RCrítico), com o aumento da pressão a bolha tenderá a diminuir seu diâmetro. No momento que a bolha atingir um raio de mesmo valor que de uma bolha do lado esquerdo da curva (Rn=Rm), esta terá duas soluções para a mesma pressão, podendo sofrer uma violenta aceleração, com tendência à diminuição de seu diâmetro.

A partir dos dois parágrafos anteriores constata-se que após o surgimento das bolhas de vapor com a diminuição da pressão (primeiro parágrafo), ao se inverter o sentido de variação desta (aumento da pressão externa –segundo parágrafo), pode-se diminuir o raio da bolha atingindo uma situação instável (Rn=Rm), criando-se condições de ruptura brusca da bolha. 1

R

pe

2

3

Número de bolhas

pvRCRÍTICO

Figura 49. Diagrama de estabilidade de uma bolha que sofre divisão.

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57

A dinâmica da ruptura da bolha é bem mais complexa, pois, quando a bolha aumenta excessivamente o seu diâmetro, instabilidades secundárias rompem seu equilíbrio, fazendo com que ela se divida em duas ou mais bolhas. Nesse momento, o volume se altera, alternando o valor da constante C1 e criando um segundo caminho alternativo para a implosão da bolha, permitindo que ela imploda com pressões maiores do que aquelas definidas nas figuras 48 e 49.

Do anteriormente exposto pode-se concluir que:

a) há necessidade de núcleos de condensação para o surgimento da cavitação;

b) para que surja o efeito da cavitação, são necessárias pressões maiores do que a pressão de vapor do líquido;

c) se ocorre pressão abaixo da pressão crítica, a bolha aumentará de diâmetro enquanto a pressão for menor que a pressão de vapor do fluido;

d) havendo bolhas de cavitação e a pressão externa ultrapassando o valor da pressão de vapor do líquido, elas naturalmente implodirão.

É importante notar que os núcleos de condensação poderão ter por origem tanto bolhas de gás emulsionado no fluido, como rugosidades nas paredes que contenham gás ou vapor junto às cavidades. Portanto, materiais de superfícies irregulares têm tendência a provocar cavitações maiores do que os materiais lisos.

Deve-se também notar que o gás dissolvido no fluido muitas vezes apresenta um efeito benéfico em termos de evitar a cavitação, pois à medida que ele é aglutinado, as bolhas de vapor formam uma espécie de amortecedor que evita a implosão violenta da bolha de vapor.

Pode-se resumir a evolução do fenômeno de cavitação através da figura 50. Na zona 1, a pressão cai de um valor positivo pe1 até um valor pe2 , propiciando a formação de pequenas bolhas de vapor. Quando elas atingem a zona 2, a pressão sobe, porém o núcleo já atingiu a instabilidade. Na zona 3, reverte-se o momento do aumento da bolha, implodindo e provocando a corrosão junto às paredes pelo efeito mecânico dessas bolhas.

P e1

R 1

P e3 P e2 P

e1 P crit

p CRIT R crit

P e3

P e3

Zona 1 Zona 3 Zona 2

P e3

Zona 1

R 1 R crit1 R 2 R 3

R 2 R 3

Figura 50. Resumo da evolução do fenômeno de cavitação.

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58

10.3. Locais de ocorrência e conseqüências da cavitação

Nas turbinas de reação, a cavitação pode aparecer na saída do rotor, enquanto que nas bombas roto-dinâmicas, ela pode ocorrer na entrada do mesmo. Além da erosão que causa nas pás do rotor e no colapso da própria bomba centrífuga, a cavitação, persistindo por algum tempo, apresenta outros inconvenientes, a saber:

* alteração das curvas de estrangulação, a partir de uma vazão Q1 onde se inicia a cavitação (figura 51);

* alteração da curva de rendimento;

* ruídos como se o conduto estivesse transportando pedras;

* vibrações na bomba e canalizações.

Os ruídos e as vibrações são tão mais intensos quanto maior for a bomba centrífuga.

H

Q

Com cavitação

Sem cavitação

Q1

Figura 51. Alteração da curva de estrangulamento devido à cavitação.

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59

10.4. .PSH

A cavitação começa a ocorrer em um ponto qualquer (B) no interior de uma bomba centrífuga quando a pressão absoluta do líquido nesse ponto ( Bp ) iguala a tensão de vapor saturado (tv). Nessas

condições, haverá uma pressão determinada no orifício de aspiração da bomba ( Ap ). Sempre que a

pressão no orifício de aspiração for maior que o valor da pressão Bp , a pressão no ponto B será maior

do que a tensão de vapor ( VB tp > ) e não haverá cavitação na bomba.

O fabricante poderia fornecer, em função da vazão, o valor mínimo de Ap no orifício de aspiração para que não ocorresse cavitação. No entanto, em certas circunstâncias, na fase de escolha de uma bomba, não se conhece, à priori, o diâmetro de aspiração da mesma, fato que torna impossível o cálculo de Ap a partir das condições do trecho de sucção. Por esse motivo, o fabricante indica a carga absoluta mínima descontada a tensão de vapor saturado a ser mantida no orifício de aspiração da bomba, para que em seu interior não ocorra cavitação. Essa carga é chamada de NPSH requerido (NPSHR).

O cálculo do NPSHD disponível da instalação é agora estabelecido sem necessidade de se conhecer previamente o diâmetro de aspiração da bomba. O NPSH disponível no orifício de aspiração da bomba, calculado a partir das características instalação de bombeamento, é igual a :

vatm

AD hp

HNPSH −γ

+= (67)

sendo que a soma γ+ atmA pH é a carga absoluta na aspiração, já que HA é a altura total de aspiração e

definida como: HA= ZEA - ZB . Sabendo que a cota da linha de energia na aspiração (zEA) é a diferença entre a cota do reservatório inferior (zi) e a perda de carga na aspiração (hpA) e que o desnível geométrico de aspiração (YA) é a diferença entre a cota do reservatório inferior (zi) e a cota do eixo da bomba (zB), podemos escrever que:

vatm

AAD hp

hpYNPSH −γ

+−= (68)

A condição para que não haja cavitação é que o NPSH disponível na canalização seja igual ou maior do que o NPSH requerido pela bomba :

RD NPSHNPSH ≥ (69)

Assim, a condição de não cavitação pode ser expressa por :

RAvatm

A NPSHhphp

Y ≥−−γ

+ (70)

Da expressão anterior, deduz-se que existe um valor máximo da altura geométrica de aspiração para que não ocorra cavitação. Este valor é função de uma característica da bomba (NPSHR), da temperatura e da natureza do líquido, da altitude média da localidade e dos condutos e singularidades do trecho de sucção da instalação, os quais condicionam a perda de carga na aspiração, ou seja:

γ−++≥ atm

AvRA

phphNPSHY (71)

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60

Partindo da expressão do NPSH disponível na canalização (equação 71), explicitando alguns de seus termos e analisando-os em conjunto com a representação gráfica feita na figura 52, chega-se às seguintes conclusões :

a) diminuindo-se a cota do eixo da bomba, o NPSHD aumenta;

b) aumentando-se a cota da superfície livre do reservatório inferior, o NPHSD aumenta; (as duas condições anteriores podem ser sintetizadas em: aumentando-se o valor de YA, o NPSHD aumenta”)

c) diminuindo-se a perda de carga na aspiração, o NPSHD aumenta.

d) quanto maior for a temperatura do líquido, tanto maior será a tensão de vapor e, portanto, tanto menor será o NPSHD;

e) quanto maior for a altitude média da localidade onde se situa a instalação de recalque, menor será o valor da pressão atmosférica e, em conseqüência, o NPSHD.

AvDBatm

i

vatm

BAiD

vatm

BEAD

vatm

AD

hphNPSHzp

z

hp

zhpzNPSH

hp

zzNPSH

hp

HNPSH

+++=γ

+

−γ

+−−=

−γ

+−=

−γ

+=

NPSHD (carga absoluta na aspiração acima da tensão de vapor)

Patm γ

hp 1

h v Linha de Energia Absoluta

Z B Z A

Plano de Referência

Plano de carga absoluta

Carga absoluta na aspiração

Figura 52. Esquema para análise do conceito de NPSH.

11. Traçado de curvas de sistema e de curvas de bombas.

Conforme o número de bombas e de condutos (em série ou paralelo) que constituem o sistema de recalque, obtém-se uma curva do sistema de condutos, a qual deverá interceptar a curva de estrangulação da bomba (ou do conjunto de bombas), para que seja determinado seu ponto de funcionamento. A seguir são detalhadas algumas configurações de recalque.

11.1. Instalação simples de recalque.

O procedimento apresentado no item 9 para a determinação do ponto de funcionamento de uma bomba, é válido apenas para uma canalização simples, que conduza o fluído para um reservatório situado em nível superior ao nível do reservatório inferior. Neste caso, estando a bomba afogada ou não, a curva terá a mesma forma, só variando o desnível entre reservatórios (figura 54). Por exemplo, no primeiro caso (bomba afogada), o desnível é menor que no segundo caso (bomba livre).

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61

ZS hp

Y1

ZI H

hpA

Linha de Energia

Y2

ZS hp

ZI H

hpA

Figura 53. Esquema de instalações simples de recalque: afogada e livre.

A tabela 8 mostra o cálculo da estação de recalque, que bombeia água a temperatura de 20°C de um reservatório a outro, representada na figura 54. Duas situações de altura geométrica de recalque são testadas YTotal1=43,00m e YTotal12=51,00m. O conduto de aspiração é de ferro fundido (e=0,5mm) e o de recalque de aço revestido internamente com tinta epóxi (ε=0,06mm). Os demais dados do sistema estão apresentados na tabela 8 ou figura 55. A curva de estrangulação da bomba permite uma vazão máxima de 120m³/h (figura 55).

43,00m ou

51,00m

ΦAspiração=150mm. LAspiração=15m. εAspiração=0,5mm. KS=10

ΦRecalque=125mm. LRecalque=150m. εRecalque=0,06mm. KS=15

Figura 54. Exemplo de um sistema de recalque de uma bomba.

Tabela 8. Exemplo de cálculo de uma instalação simples com duas alturas de recalque. Diâmetro (mm) Comprimento (m) Rugosidade (mm) ΣKS (adimensional) Área (m2) K/(36002*2gA2)

Aspiração 150 15 0,5 10 0,0177 0,0001256

Recalque 125 150 0,06 15 0,0123 0,0003901

Q[m3/h] 20 40 60 80 100 120

VA[m/s] 0,31 0,63 0,94 1,26 1,57 1,88

VR[m/s] 0,45 0,90 1,36 1,81 2,26 2,71

hpSA 0,05 0,20 0,45 0,80 1,26 1,81

hpSR 0,16 0,62 1,40 2,50 3,90 5,62

JLA 9,842E-04 3,788E-03 8,402E-03 1,483E-02 2,306E-02 3,311E-02

JLR 1,831E-03 6,631E-03 1,425E-02 2,467E-02 3,787E-02 5,384E-02

hpLA 0,01 0,06 0,13 0,22 0,35 0,50

hpLR 0,27 0,99 2,14 3,70 5,68 8,08

YTotal1 43,00 43,00 43,00 43,00 43,00 43,00

YTotal1 55,00 55,00 55,00 55,00 55,00 55,00

H1 43,49 44,87 47,12 50,22 54,19 59,01

H2 55,49 56,87 59,12 62,22 66,19 71,01

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62

A tabela 8 mostra o cálculo das grandezas hidráulicas (velocidades médias – V, perdas singulares – hps, perdas unitárias – J , perdas lineares – hpl, tanto na aspiração - A quanto no recalque -R) para cinco possíveis vazões bombeamento. Com esses valores, determinam-se as curvas da canalização correspondentes às duas alturas geométricas (Y) propostas (43 e 55m). Cabe ressaltar que, para as duas alturas geométricas em análise, o cálculo das perdas pode ser único, desde que se considere as mesmas características da canalização e as mesmas vazões. Com as perdas e as alturas geométricas determinam-se as cargas hidráulicas (H) sobre a bomba com diferentes vazões (Q), ou seja as curvas dos sistemas. As curvas do sistema calculadas são apresentadas na tabela 9 e são representas graficamente na figura 56.

Tabela 9. Curvas da canalização de uma instalação simples com duas alturas de recalque Q[m3/h] 20 40 60 80 100 120

H1 43,49 44,87 47,12 50,22 54,19 59,01

H2 55,49 56,87 59,12 62,22 66,19 71,01

Conforme a figura 55, para as duas alturas geométricas consideradas, as curvas da canalização, correspondentes aos dois desníveis entre reservatórios, resultam em curvas paralelas, que cruzam a curva de estrangulação da bomba em diferentes pontos, ou seja, (Hm1=57,8m; Q1=111,5m3/s) e (Hm2=67,5m; Q2=89,5m3/s).

50

25

0

0 20 40 60 80 100 120 Q[m³/h]

75

H [m]

Situação 1

Curva da Bomba

Curva do conduto: situação 1 , Y=43,00m

Curva do conduto: situação 2, Y=55,00m

Ponto de funcionamento

Situação 2

Figura 55. Curvas do sistema de recalque simples para duas alturas geométricas (YA=55,00m e YB=43,00m).

Caso a posição relativa dos reservatórios sejam diferentes, a curva do sistema simplesmente será transladada para cima ou para baixo, conforme mostra a figura 56. Na situação A, o desnível geométrico Y é positivo, na situação B, nulo e na situação C negativo.

Conforme a figura 56, os três tipos de posição relativa dos reservatórios resultam, cada um deles, em um diferente ponto de funcionamento da bomba. Supondo que os diâmetros, rugosidades, comprimentos e singularidades dos condutos de recalque e aspiração sejam iguais e que a bomba seja a mesma, a vazão será crescente do sistema (A) ao (C). Isto se deve ao deslocamento relativo do ponto de intersecção da curva de perda de carga com a curva da bomba.

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63

Destaca-se que, à medida que a curva do sistema se desloca mais para a direita, poderá haver problemas no funcionamento da bomba, pois ela poderá passar abaixo da curva da bomba.

Q

H

Y

Q

H

Y

(A)

(C)

(B)

Q

H

Y=0

ZS

ZI Y

ZS ZI

ZS ZI

Y

Figura 56. Influência da posição relativa dos reservatórios no ponto de funcionamento da bomba.

11.2. Associação de bombas em série.

O uso de bombas em série não é muito recomendado, só se justificando quando numa instalação existente não há uma pressão suficiente na linha de recalque, por exemplo pode-se ter um sistema com distribuição de água ao longo da linha (distribuição em percurso15), em que se queira aumentar tanto a vazão como a pressão da rede.

Outra situação tolerada para o emprego de bombas em série é quando com bombas de um rotor não se atinge a pressão necessária. Com bombas de um só rotor o aumento da pressão é proporcional à relação entre os diâmetros de saída e de entrada e a rotação. Para aumentar a pressão acima de determinados valores seria necessário um grande aumento do diâmetro externo e/ou um aumento na rotação, podendo-se ultrapassar os limites de esforços mecânicos toleráveis usuais em máquinas hidráulicas. Isto limita a utilização de máquinas hidráulicas com rotor único. Para superar este problema pode-se empregar bombas em série ou o mais aconselhado é utilizar bombas de múltiplos estágios, o que é análogo ao uso de duas ou mais bombas em série.

A figura 57 representa dois esquemas de bombas em série e uma bomba de dois estágios. No primeiro esquema, distribuição em percurso, uma segunda bomba está conectada num ponto intermediário do conduto de recalque. Esta solução tem como desvantagem o fato da segunda bomba estar mais sujeita à cavitação do que a primeira bomba, pois a primeira poderá apresentar problemas e não fornecer a pressão mínima para que a segunda não cavite .

15 Quando ao longo de um conduto de recalque retira-se parte da vazão para consumo, denomina-se distribuição em percurso.

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64

Y hp2

hp1

HB1

hp3

HB

Y hp2

hp1

HB1

hp3 HB2

Y

hp1

hp3

H

Figura 57. Esquemas de bombas em série.

O segundo esquema também pode ser considerado como uma solução não aconselhada, devendo ser substituído pelo sistema de bomba de múltiplo estágio16, mesmo assim excepcionalmente pode-se adotá-lo, pois este esquema é um pouco mais conveniente que o anterior, pois os dois motores das bombas podem trabalhar sobre a mesma alimentação elétrica de tal forma que no momento que um pára o outro também irá parar, evitando problemas de cavitação.

A figura 58 representa curvas de estrangulação para a associação de bombas iguais em série, apresentando as curvas para uma, duas e três bombas. Para o caso de duas bombas, a curva resultante é obtida simplesmente duplicando-se o valor de H para cada vazão. Nota-se que esquemas em série para bombas de alta rotação específica a zona de instabilidade (possibilidade de um mesma altura com duas vazões) se amplia, devendo-se tomar cuidado com este tipo de associação de bombas.

16 Bombas com sucessão de rotores acionadas pelo mesmo eixo, cada rotor funciona como uma bomba individual e a soma da ação dos mesmos como bombas em paralelo.

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65

Curva de estrangulação

Uma bomba

Duas bombas em série

Tres bombas em série

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10 400 600 300 500 200 100 800 700 0

65

55

60

50

45

40

Zonas de instabilidade

Figura 58. Curva de estrangulação para bombas em série.

O desempenho resultante da superposição das curvas das bombas em série pode se resumir como segue:

=

=

SistemaB

SistemaB

QQ

bombasden

HH

º (72)

11.3. Associação de bombas em paralelo.

Quando se colocam bombas funcionando em paralelo, divide-se a vazão entre as bombas. Este tipo de disposição de bombas é muito comum em sistemas de grande e médio porte. Suas vantagens em relação a um sistema com uma só bomba ativa (com uma de reserva) são inúmeras, podendo-se destacar as seguintes:

i) Como a demanda geralmente não é constante ao longo do tempo, nos momentos em que ela for menor do que a vazão de dimensionamento, poder-se-á utilizar uma parte do sistema de recalque sem a necessidade de equipamentos especiais.

ii) Em muitos sistemas de recalque se supõe uma vazão crescente com o tempo, dimensionando-se o conjunto total das bombas para a vazão máxima que deverá ocorrer no fim do horizonte de cálculo. Logo no início do funcionamento quando a vazão necessária será menor, coloca-se em marcha um número menor de bombas que o previsto para o fim do período (os trinta anos).

iii) Uma bomba de reserva sempre é necessária para a garantia do sistema, caso se trabalhar com duas ou mais bombas e paralelo a potência da bomba reserva será inferior do que a bomba reserva de um sistema com uma bomba para recalcar toda a vazão.

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66

iv) Ao se adquirir bombas de menor vazão em maior número do que uma só bomba de grandes dimensões, pode-se cair numa bomba que é encontrada no mercado, sem a necessidade de fabricação de bombas especiais. Na aquisição de bombas, muitas vezes o princípio de se obter economia de escala ao empregar equipamentos maiores, não se aplica, isto ocorre pois, à medida que bombas de menor porte são equipamentos fabricados em larga escala, as de maior porte são fabricadas sob encomenda (a variação do preço não é linear com a vazão). Além disto, para bombas de menor porte, encontram-se com mais facilidade peças de reposição.

A disposição geométrica de um sistema com bombas em paralelo é mostrada na figura 59. As bombas deverão ser colocadas lado a lado unidas por um barrilete que deve, através do aumento do seu diâmetro, procurar manter a velocidade constante dentro do conduto. A interligação entre as bombas e o barrilete deve ser feita em ângulo de 45° para diminuir a perda localizada. Em cada bomba deve ser colocada uma válvula de retenção para evitar o refluxo sobre as bombas que estiverem desligadas.

Bomba

Redução

Válvula de retenção

Curva 45°

Registro (com pequena perda localizada)

Derivação a 45°. Redução invertida

Barrilete

Figura 59. Vista Frontal de um sistema de bombas em paralelo.

Qualquer sistema de recalque deve ter uma bomba de reserva e, no caso de sistemas em paralelo, a bomba que fica em reserva não deverá ser sempre a mesma, sendo conveniente alterar a bomba que cumpre esta função evitando que, no momento em que se uma das bombas estrague a reserva não esteja parada há muito tempo e danificada.

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67

Curva para uma bomba

Curva para duas bombas

Curva para três bombas

Q (m³/h)

H (m)

40 60 80 100 0

20

20

30

10

ααααI ααααII ααααIII

ββββI ββββII ββββIII

χχχχI χχχχII χχχχIII

Figura 60. Curva resultante da associação de bombas em paralelo.

O cálculo da curva de estrangulação de bombas trabalhando em paralelo é feito conservando a altura manométrica de uma bomba (quando as bombas em paralelo forem iguais) e somando a vazões das bombas em cada altura. A figura 60 mostra como, a partir de três pontos αI, βI e χI da curva de uma bomba, traçam-se as curvas para duas e três bombas em paralelo, o que é obtido simplesmente conservando a altura e multiplicando a vazão pelo número de bombas.

A retirada dos pontos da curva de estrangulação de uma bomba e posterior determinação da curva de estrangulação do sistema em paralelo é apresentado nas figuras 61 e 62 e na tabela 10.

400 600 300 500 200 100 800 700 0

35

25

30

20

15

10

230

250

220

238

265258

78,0

83,0

83,0

80,5

8 5,5

85,5

86,0

48,0 63,0 58,0

68,0 73,0

73,0

78,0 80,5

2 6, 15

21,70

526,5200,0 650,0

32,43

H (m) 17750RPM

Q (m³/h)

Figura 61. Obtenção dos valores da curva de estrangulação de uma bomba.

A soma das vazões das bombas pode ser feita de forma aritmética, conforme tabela 10, ou gráfica, conforme figura 62.

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68

Tabela 10 Cálculo de bombas em paralelo.

Vazão (m³/h)

para o número de bombas H(m)

1 2 3

32,43 200,0 400,0 600,0

26,15 526,5 1053,0 1579,5

21,70 650,0 1300,0 1950,0

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10 400 600 300 500 200 100 800 700 0 1200 1400 1100 1300 1000 900 1600 1500 2000 1900 2100 1800 1700

17750RPM

Figura 62. Cálculo gráfico de bombas em paralelo.

Além dos cálculos aritmético e gráfico, é possível a determinação analítica da curva resultante de uma associação de bombas em paralelo, empregando-se as equações da curva de estrangulação das bombas. Como as curvas de estrangulação das bombas são bem representadas por uma equação do tipo

22 CQBNQANH −−= (equação 34), basta alterar os coeficientes BN− e C , por múltiplos conforme o número de bombas, dividindo BN− pelo número de bombas e C por este número ao quadrado, obtendo-se, desta forma, as curvas de estrangulação do sistema de bombas em paralelo.

A tabela 10 mostra os valores de (H;Q) retirados curva de estrangulação de uma bomba (figura 61) e os valores das vazões para diferentes números de bombas em paralelo. A partir dos pontos da curva de estrangulação de uma só bomba centrífuga (rotor de 265mm), multiplicam-se as vazões pelo número de bombas obtém-se os pontos para as bombas em paralelo.

Na figura 62, resolveu-se, através do método gráfico anteriormente descrito, as curvas das bombas em paralelo. Extraiu-se desse gráfico os pontos destas curvas e determina-se as equações de cada curva, como se vê na tabela 11.

Tabela 11 Equações para Bombas em Paralelo (Vazões em m³/s).

Número de Bombas Equação

1 H = -483,78Q² + 28,387Q + 32,346

2 H = -120,95Q² + 14,193Q + 32,346

3 H = -53,754 Q² + 9,4623Q + 32,346

Nesta última tabela, vê-se que os coeficientes correspondem às relações acima descritas. Por exemplo, -BN que é -28,387 passa para duas e três bombas para 14,193 e 9,4623, respectivamente.

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69

A figura 63 representa os pontos obtidos pela multiplicação da vazão pelo número de bombas e os gráficos obtidos pelas curvas modificadas, conforme a sistemática descrita. A concordância, como era de se esperar é perfeita.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Vazão (m³/s)

Altura (m)

Uma Bomba (pontos lidos)

Duas Bombas (pontos lidos)

Tres Bombas (pontos lidos)

Uma Bomba (Equação)

Duas Bombas (Equação)

Tres Bombas (Equação)

Figura 63. Gráfico demonstrativo da diferença do cálculo gráfico do analítico.

O desempenho resultante da superposição das curvas das bombas em paralelo se pode resumir como segue:

=

=

bombasden

QQ

HH

SistemaB

SistemaB

º

(73)

Um dos poucos inconvenientes que podem surgir na operação de bombas em paralelo é detalhado na figura 64. A escolha da bomba é geralmente feita para que o conjunto trabalhe com a máxima eficiência, conseqüentemente, a curva da canalização deve cruzar com as curvas de estrangulação das bombas funcionando em paralelo próximo à região de maior eficiência (ponto A da figura 64, com eficiência em torno de 76%). Caso se necessite uma vazão menor, é possível utilizar um número menor de bombas em funcionamento (no caso da figura, duas ou uma bomba), contudo, esta configuração leva a rendimentos bem menores (pontos B e C da figura 64, com eficiência em torno de 54% e menor que 50%, respectivamente) que comprometem em parte a eficiência do sistema.

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70

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10

400 600 200 800 0 1200 1400 1000 1600 2000 1800

17750RPM

A

B

C

75% 78%

75%

65%

65%

50%

50%

50%

75%

Figura 64 Problema na operação de bombas em paralelo.

Para evitar a queda de rendimento do sistema em função do número de bombas em operação, pode-se adotar duas soluções, a seguir detalhadas:

i) Estrangular o sistema, fechando as válvulas colocadas no conduto de recalque.

ii) Baixar a rotação do sistema, “criando” uma nova bomba de rotação menor e curva de estrangulação mais baixa (menores alturas de recalque para mesma vazão).

A primeira solução é simples e econômica, em termos de implantação do sistema, mas cabe relembrar que ocorre um aumento da perda de energia no recalque (aumento de custo de manutenção) e, todas as vezes que se trabalha com o sistema completo, é necessário eliminar-se o estrangulamento provocado pelo fechamento das válvula.

A segunda solução, atualmente empregada em projetos em que se colocam inversores de freqüência, é a mais correta em termos operacionais e mais econômica em termos de consumo de energia. Tem como única desvantagem a necessidade de se colocar em cada bomba (ou no sistema como um todo) inversores de freqüência, onerando o investimento inicial.

11.4. Problemas de uso de bombas diferentes em série e em paralelo.

Quando se compõe bombas, em série ou em paralelo, é conveniente que estas possuam curvas idênticas. Entretanto, em condições especiais, admite-se a utilização de bombas com curvas diferentes. A associação de bombas com diferentes curvas de estrangulação e seus problemas de operação serão detalhados a seguir:

11.4.1. Bombas diferentes em série.

Para que bombas diferentes montadas em série tenham um bom funcionamento, as vazões máximas de funcionamento de cada bomba deverão possuir o mesmo valor, conforme se verá a seguir, caso isto não ocorra, o funcionamento das duas bombas poderá se tornar instável ou não efetivo.

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71

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B (região efetiva de funcionamento).

Bomba A+B (região de instável).

Bomba A+B (região de funcionamento, só Bomba B).

Curva da canalização.

P1

P2

P3

Primeira região.

Segunda região.

Terceira região

Figura 65. Associação em série de bombas com curvas diferentes.

A figura 65 mostra a associação de duas bombas com diferentes curvas: a Bomba A, de menor capacidade de vazão, e a Bomba B. Para essa associação geram-se três regiões distintas de funcionamento: uma primeira, em que as curvas das bombas simplesmente sobrepõem-se aumentando a pressão do escoamento, uma segunda região em que há possibilidades de surgimento de instabilidades e uma terceira, em que a Bomba A não tem atuação sobre o fluxo, diminuindo a capacidade de bombeamento da Bomba B, na medida em que a Bomba A atua como um dissipador de energia. Em resumo, dos pontos de provável funcionamento, pontos P1, P2 e P3 da figura, somente o ponto P1 é um ponto de funcionamento aceito. Nos outros, o rendimento seria menor do que o de uma bomba funcionando sozinha (P3) ou apresentam um comportamento instável (P2).

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 66. Associação em série de bombas com curvas com mesma vazão máxima.

A conseqüência das últimas conclusões obtidas da figura 65, é que bombas operando em série com diferentes vazões máximas de funcionamento tem fortes chances de instabilização. Já se as bombas possuírem mesma vazão máxima, figura 66, independente das alturas manométricas de cada uma, não haverá problema.

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72

11.4.2. Bombas diferentes em paralelo.

Análogo ao item anterior, as bombas em paralelo também apresentarão problemas quando não possuírem a mesma curva de estrangulação. A figura 67 ilustra o caso de duas bombas com curvas de estrangulação diferentes associadas em paralelo.

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 67. Associação em paralelo de bombas com curvas diferentes.

O ponto P1, indicado na figura 67, é um ponto de funcionamento viável para instalação, pois ele aproveita a energia das duas bombas. No ponto P2 a única bomba que trabalhará efetivamente será a Bomba A, ficando a bomba B bloqueada como se estivesse na presença de um registro fechado. Em sistemas de bombeamento sem válvulas de retenção, caso existirem situações como a do ponto P2, haverá refluxo de água pela bomba de menor altura manométrica, esta situação causará um aumento no consumo de energia sem gerar trabalho.

Da mesma forma que nas bombas em série, pode-se associar, em paralelo, bombas com curvas de estrangulação diferentes, desde que as suas pressões máximas para Q=0 (pressão de “shut-off”) sejam iguais, conforme se vê na figura 68.

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 68. Bombas em paralelo com curvas diferentes e mesma pressão de “shut off”.

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73

12. Roteiro sucinto para escolha de uma bomba.

A escolha de uma bomba, geralmente, não é um problema dado como fechado, no qual a altura manométrica e a vazão são conhecidas a priori. Os dados de entrada de um problema desse tipo são usualmente dados bem genéricos para início de cálculo. A seguir será apresentado um roteiro de escolha de bombas, seguindo a prática usual quando se trata de bombas para abastecimento público. Em situações industriais, tem-se procedimento análogo ao resumo a seguir descrito.

12.1. Dados de entrada.

Os dados de entrada são geralmente fornecidos pelo contratante que, necessariamente, não precisa se preocupar com o problema hidráulico. Os dados de entrada são a descrição do tipo de recalque, as demandas hídricas e uma planta de situação e localização mostrando os prováveis pontos de captação e o ponto final do recalque. Pode-se detalhar estes itens como segue:

i) Natureza do fluido (tipo de fluido recalcado - água bruta, esgoto, etc.): em função do fluido recalcado deve-se escolher a família de bombas a ser empregada (bombas de rotor aberto, bombas com revestimento interno especial, etc,). Conforme a natureza do fluido também deve-se escolher os equipamentos de proteção ao golpe, por exemplo, sistemas de recalque de esgoto não poderão utilizar tanques fechados para proteção ao golpe, evitando assim a acumulação de gases que possam explodir.

ii) Demanda (volume por dia a ser recalcado) ou a vazão: o período de tempo de funcionamento do recalque não é necessariamente o mesmo período tempo do consumo, um volume consumido num dia poderá ser recalcado em poucas horas conforme a reservação do sistema e as hipóteses de regimes de funcionamento (ver item 12.2 subitem ii). Em instalações industriais ou instalações de combate a incêndio, a vazão é dada diretamente.

iii) Topografia da região, com o ponto final do recalque e a região ou o ponto de captação (o desnível é retirado das cotas do início e fim do recalque).

12.2. Hipóteses de cálculo.

Com os dados fornecidos, deverão ser estabelecidas hipóteses de cálculo, as quais serão obtidas a partir da experiência do projetista, de normas gerais (ISO, DIN, ABNT) e normas dos contratantes (empresas de saneamento, por exemplo).

i) Escolha da posição da captação e escolha do desenvolvimento da linha em planta (comprimentos e altimetria).

A figura 69 representa, de forma esquemática, a topografia de um trecho de um pequeno rio em que se quer fazer uma captação de água sem a necessidade de represamento (captação a fio d’água). Neste trecho, identificam-se três pontos possíveis de captação: a área A, mais distante do reservatório para onde se quer recalcar; uma área intermediaria, área B, e uma bem próxima ao destino final, área C. Caso estas três áreas estivessem aproximadamente na mesma cota, a eleita para a captação seria a área C. Entretanto, como esta área é a que necessitará maior altura de recalque, isto deverá ser levado em conta. Para a escolha da área de captação, deverá ser feita uma análise econômica de cada recalque, lembrando que um recalque mais curto tem, geralmente, um custo de implantação mais baixo (custo inicial) e recalques mais altos terão um custo de manutenção mais elevado.

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74

0m 200m 100m

70

50

35

70

60

40

60

60

35

70

50

60

60

80

85

Reservatório Cota 87m

Áreas para captação sem a necessidade de reservação.

Área A.

Área B.

Área C.

Figura 69. Topografia de uma região de captação de água - exemplo.

A escolha das áreas de captação será função não só da relação distância-altura de recalque, mas fatores econômicos como custos de desapropriação, a facilidade de acesso, a segurança das instalações, a existência de rede elétrica próxima e uma infinidade de outros detalhes deverão ser levados em conta. O estudo deste tipo de problema é apresentado em livros de sistema de recalque ou sistemas de captação e distribuição de água.

ii) Tempo de funcionamento do recalque e tempo de funcionamento individual de cada bomba.

O tempo de funcionamento do recalque, como um todo, é função das características da demanda. Caso se tenha um recalque de água bruta para uma estação de bombeamento, conforme a capacidade de reservação da água tratada, pode-se, em alguns casos, restringir este tempo ao tempo normal de funcionamento da estação de tratamento de água. Caso esta capacidade de reservação seja limitada, o recalque deverá trabalhar em períodos mais longos. No caso de uma estação de recalque de esgoto, esta deverá trabalhar com mais freqüência, evitando a degradação das características do esgoto. Quanto ao tempo de funcionamento de uma bomba, deve se ter cuidado para que esta não exceda um número de ligações por hora (geralmente seis ligações) para não estragar o equipamento elétrico. Os valores do tempo de funcionamento de uma estação de recalque é geralmente proposto em normas específicas ou na bibliografia do assunto.

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75

iii) Escolha do tipo das canalizações de aspiração e recalque.

Em função da topografia do recalque, das perdas ao longo dos condutos e das pressões em regime transiente, escolhe-se o tipo de conduto (PEAD, FºFº, etc,) e classe de pressão (espessura da parede). Para a determinação da espessura da parede, deve-se levar em conta tanto as solicitações em regime permanente (solicitação de longa duração) como as solicitações em regime transiente17 (solicitações de curta duração). Conforme o material do conduto a resistência varia muito com o tipo de solicitação, principalmente nos condutos plásticos. Também os coeficientes de segurança em relação a tensão de ruptura das paredes do conduto variará conforme o tipo de solicitação.

Por exemplo um conduto de ferro fundido classe PN10 (200mm a 2000mm) tem sua pressão de teste de 1,7MPa, enquanto que a pressão admissível em regime permanente é de 1,0MPa. Por outro lado, a pressão admissível em regime transiente pode atingir 1,2MPa, ou seja, 20% superior a pressão em regime permanente.

iv) Escolha do número de condutos de recalque.

Muitos sistemas de recalque são planejados para um horizonte de funcionamento de vários anos onde a demanda de vazão é crescente com o tempo, portanto, a maior vazão é geralmente no fim do período de planejamento, a qual é adotada para o dimensionamento das obras de maior vulto (casa de bomba, subestação de energia elétrica, etc..). Com ela, se prevê o número de bombas que, em paralelo, satisfarão a demanda final. Para diminuir o investimento inicial, pode-se instalar parcialmente as bombas. Deve-se evitar, neste último caso, velocidades muito baixas nos condutos para impedir a sedimentação de materiais em suspensão. Este cuidado deverá ser tomado tanto no caso do bombeamento de esgoto como no caso de bombeamento de água bruta com teores de sedimentos razoáveis. Para não se cair neste problema pode-se também desdobrar a linha em dois condutos em paralelo, dimensionando-se no início do funcionamento do sistema um número menor de bombas para um só conduto.

v) Escolha do tipo de estação de recalque.

vi) Número de bombas e disposição das mesmas (bomba única, bombas em paralelo e eventualmente bombas em série).

O número de bombas será função da demanda (item 12.1 sub-item ii) e do tempo de funcionamento do recalque (item 12.2, sub-item ii).

12.3. Cálculos Preliminares.

i) Vazão do sistema (volume/tempo de funcionamento): o cálculo será feito a partir dos mesmos dados do sub-item ( iv) do item 12.2.

ii) Pré-traçado da linha de recalque com cadastro de interferências com levantamento das singularidades.

iii) Determinação da rugosidade dos condutos: em função do tipo de condutos escolhidos subitem ( iii) do item 12.2.

iv) Pré-dimensionamento dos diâmetros de aspiração e recalque.

17 Vide bibliografia específica sobre o assunto WYLIE & STREETER (1978) ou FOX (1977.b).

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76

Para o pré-dimensionamento dos condutos de recalque, pode-se lançar mão da fórmula de Bresse que, em função da vazão e do número de horas de funcionamento da bomba por dia, nos dá uma primeira estimativa de diâmetro, ou seja:

B25,0 QN*5873,0D = (74)

onde: D = diâmetro em metros, N = número de horas de funcionamento por dia e QB = vazão em m3/s.

O diâmetro da aspiração geralmente é um diâmetro comercial maior que o de recalque.

12.4. Cálculo do sistema.

i) Cálculo das perdas singulares e lineares para a(s) vazão(ões) escolhida(s).

ii) Cálculo da altura total do sistema (H)

iii) Caso houver necessidade de bombas em série ou paralelo, calcular a altura de recalque (bomba em série) ou a vazão (bomba em paralelo) por bomba.

série em Bombas

QQ

bombasdeºn

HH

SistemaB

SistemaB

=

= (72)

paralelo em Bombas

bombasdeºn

QQ

HH

SistemaB

SistemaB

=

=

(73)

iv) Determinar o ponto de funcionamento, obter o NPSH requerido pela bomba e calcular a potência de cada bomba.

v) Verificar as condições de funcionamento do sistema de recalque quanto a cavitação, calculando-se o NPSH disponível na instalação e comparando-o com o NPSH requerido pela bomba.

12.5. Escolha do rotor.

Dimensionar o diâmetro do rotor em função das características do sistema, interpolando entre os rotores dados pelo fabricante (solicitar confirmação do fabricante).

13. Algumas observações sobre a aquisição de bombas e sua instalação

Na aquisição de uma bomba de grande porte, convêm que sejam observados os seguintes itens:

a) exigir do fornecedor a curvas características da bomba adquirida: curva de estrangulamento, de rendimento e de NPHS requerido;

b) adquirir mais de um rotor para a mesma bomba, deixando-os de reserva para quando as condições de trabalho forem alteradas, pois a simples troca de rotores evita maiores custos;

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77

c) quando bombear fluidos com sólidos, observar as especificações da bomba quanto ao diâmetro máximo de sólidos admissíveis para o modelo selecionado. Nunca utilizar bombas que admitam sólidos com diâmetro menor que 15 mm; o mais indicado é que elas aceitem sólidos de até 20 mm ou mais;

Quanto à instalação, deve-se:

a) instalar a bomba o mais próximo possível do nível de água, reduzindo os problemas de escorva18 e de cavitação. De preferência, instalar a bomba afogada;

b) eliminar por completo os vazamentos no ramo de sucção, utilizar boas juntas, diminuir ao máximo as perdas de carga na sucção empregando curvas de raio longo e tubulação nova, o mais reta e curta possível e com o menor número de singularidades;

c) empregar na tubulação de sucção um diâmetro comercial superior ao diâmetro de entrada da bomba;

d) eliminar a possibilidade de formação de bolhas de ar na tubulação de sucção, dando um pequeno caimento na tubulação no sentido da bomba e utilizando reduções excêntricas entre a bomba e a tubulação de sucção para compatibilizar os diâmetros, colocando a excentricidade voltada para baixo;

Quanto ao funcionamento da instalação, deve-se sempre que possível não suprir a necessidade hídrica com apenas uma bomba. O uso de várias bombas propicia mais segurança e economia, além de permitir a manutenção do sistema sem parar por completo o recalque.

14. Bibliografia Consultada e Aconselhada.

BATCHELOR, G.K.. 1970. An introduction to fluid dynamics. Cambridge University. 615p.

CHERKASSKI, V. M.. 1986. Bombas ventiladores compresores. Moscú, Mir. 372p.

FOX, J. A.. 1977.a. An Introduction to Engineering Fluid Mechanics. 2ª Ed Salisbury, The MacMillan Press. 446p.

FOX, J. A.. 1977.b. Hydraulic Analysis of Unsteady Flow in Pipe Networks. London, The MacMillan Press. 216p.

HICKS, Tyler G. & EDWARDS, T.W.. 1971. Pump Application Engineering. New York, McGraw-Hill. 435p

ILYINYKH, I.. 1985. Hydroelectric Stations. Moscow, Mir. 206p.

JARDIM, Sérgio Brião. 1992. Sistemas de Bombeamento. Porto Alegre, Sagra-DC Luzzatto. 163p.

KSB 1975. Centrifugal Pumps Lexicon. Klein, Schanzin & Becker Aktiengesellscholf, Frankenthal. 345p.

18 Escorva: enchimento do conduto de aspiração antes do funcionamento da bomba.

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78

KRANENBURG, C. 1973. Transient cavitation in pipelines. Delft, University of Technology. 164p. Tese(Doct.)

KRIVCHENKO, G.I.. 1986. Hydraulic machines – turbines and pumps. Moscou, Mir. 327p.

LAROCK, Bruce E., JEPPSON, Roland W. & WATTERS, Gary Z.. 2000. Hydraulics of Pipeline Systems. Boca Raton. CRC Press. 537p.

LENCASTRE, A.. 1972. Manual de hidráulica geral. Edgard Blücher. 411 p.

MACINTYRE, A. J.. 1980. Bombas e instalações de bombeamento. Rio de Janeiro. Guanabara Dois. 667p.

MATTOS, Edson Ezequiel de & FALCO, Reinaldo de. 1988. Bombas Industriais. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Interciência. 474p.

SPIEGEL, Murray R.. 1968. Mathematical Handbook. New York, McGraw-Hill. 271p.

TURTON, R. K.. 1994. Rotodynamic Pump Design. Cambridge. Cambridge University Press. 197p

VALLENTINE, H. R. 1967. Applied Hydrodynamics. 2ª Ed. London, Butterworths. 296p.

WISLICENUS, George F.. 1965. Fluid Mechanics of Turbomachinery. New York, Dover. 2nd Ed 744p

WYLIE, E. Benjamin & STREETER, Victor L.. 1978. Fluid Transients. New York, McGraw-Hill. 384p

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79

Índice por assunto.

A agulha

de uma turbina Pelton, 9 altura

geométrica, 47 manométrica, 48 total, 19, 47

ângulo de ataque, 28 de retardo do fluxo, 29 de saída da pá, 24, 25, 27, 28

associação em paralelo de bombas diferentes, 72 de bombas iguais, 66

associação em série de bombas diferentes, 72 de bombas iguais, 64

B barrilete, 67 bombas

afogadas, 61 axiais, 16 centrífugas, 15, 16, 43 centrífugas de dupla entrada, 17 classificação, 12 com pás para frente, 25, 27 com pás para trás, 25, 27 com pás retas, 25 de alta rotação específica, 27 de baixa rotação específica, 27 de deslocamento positivo, 12 de deslocamento recíprocas, 12 de deslocamento rotativas, 13 de diafragma, 13 de eixo horizontal, 46 de engrenagens, 14 de fluxo axial, 44 de fluxo misto, 15, 16, 43 de jato, 18 de média rotação específica, 27 de pistão, 12 de rotor aberto, 17 de rotor fechado, 17 de rotor semi-aberto, 17 de variação de densidade, 18 definição, 7 diagonais, 15 dinâmicas, 12, 15 em paralelo, 66 em paralelo com rotores diferentes, 72 em série, 64, 66 em série com rotores diferentes, 71, 72 especiais, 12 livres, 61 mistas, 16 múltiplos estágios, 17 não afogadas, 46 propulsoras, 16 rotodinâmicas, 12 volumétricas, 12

C caracol, 29

carga, 47 da bomba, 19 de velocidade, 27 hidráulica, 5, 6, 8 piezométrica, 27 variação da carga piezométrica, 28 variação da de velocidade, 28

cavitação, 53, 55 locais de ocorrência da, 59

circulação, 23 classe de pressão, 76 CLP

Controlador Lógico Programável, 34 colo alto, 53 conduto

de aspiração, 45 de compressão, 45 de recalque, 45 de sucção, 45

conversor de freqüência, 34 corpo da bomba, 15 curva

da instalação, 50 de NPSH requerido, 21 de potência consumida, 21 de rendimento, 20

curva de estrangulação, 19, 28, 49 para as bombas em paralelo, 69 para as bombas em série, 65 variação com a rotação, 28, 31

curvas características conversão de, 44 da bomba, 19

D difusor, 15 distribuição em percurso, 64

E Economia de energia

com a variação da rotação, 33 eixo da bomba, 15 elementos básicos de uma instalação de recalque, 45 equação da conservação da quantidade de movimento angular,

22 equação de Bernoulli, 6 equação de Euler, 22, 23, 28, 29 equação de Laplace, 55 escolha de uma bomba, 73 escorva, 78 Euler

Leonard, 22

F fórmula de Bresse, 77 Francis

turbinas tipo, 42

H hidrograma diário de consumo, 35

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80

I instabilidade de bombas de altas rotações específicas, 44 inversor de freqüência, 34

J Joukoviski

teorema de Kutta-, 23

K Kaplan

turbinas tipo, 42

L lâmina defletora, 9, 11

M máquina hidráulica

definição, 5

. natureza do fluido, 74 NPSH, 53, 60

disponível, 53 requerido, 53

núcleos de condensação, 56

P paralelogramo de velocidades, 21, 28 passo variável

bombas de, 17 Pelton

Lester Allan, 9 turbinas tipo, 42

perda de energia dentro da bomba, 26 devido a fugas internas, 26 devido a resistências viscosas, 26 devido a singularidades, 26

perdas mecânicas por atrito, 26 ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga, 49 potência

consumida, 6, 8, 51 da corrente líquida, 5, 23 gerada, 6, 8 perdida, 5

pressão atmosférica em função da altura, 53

pressão de vapor, 54

R recuperador de pressões, 15, 28 regime transiente, 76 rendimento

motor-bomba, 6, 8 turbina-gerador, 6, 8

rotação específica, 11 aplicações do conceito de, 41 bombas de alta, 44 bombas de baixa, 43 bombas de média, 43 classificação de uma bomba em função da, 43 equação da, 40 seleção de bombas em função da, 42 seleção de uma turbina em função da, 42

rotor, 7, 15 rotor aberto

bombas de, 74 ruptura de coluna, 53

S semelhança

cinemática, 36 dinâmica, 37 geométrica, 35

semelhança de máquinas hidráulicas, 35 shut-off

pressão de, 73 soma de Bernoulli, 6

T tensão de vapor, 54

da água, 55 tensão superficial, 55 tipo de conduto, 76 torque, 22 transientes hidráulicos, 10, 11 triângulo de velocidades, 21 turbinas

classificação, 9 de ação, 9 de reação, 9 definição, 7 eólicas, 11 Francis, 10 hélice, 10 Kaplan, 10 Michel-Banki, 10 mistas, 10 tipo Francis, 42 tipo Kaplan, 42 tipo Pelton, 42 tipo PELTON, 9

turbo-bombas, 12, 15 classificação, 15

turbo-máquinas, 7 bombas, 7 motoras, 7 receptoras, 7 transmissoras, 7

V vazão em peso

vazão ponderal, 5 ventiladores, 27 voluta, 29

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Máquinas Hidráulicas - Bombas

SUMÁRIO

1. Introdução e definição de máquinas hidráulicas ............................................................................. 5

2. Potência da corrente líquida............................................................................................................ 5

3. Máquinas Hidráulicas ..................................................................................................................... 7

3.1. Classificação geral e potência consumida ou produzida. ...................................................... 7

3.2. Classificação das turbinas...................................................................................................... 8

3.3. Classificação das bombas rotodinâmicas ............................................................................ 12

4. Curvas características das bombas centrífugas ............................................................................. 18

4.1. Curvas de estrangulação ...................................................................................................... 18

4.2. Curvas de rendimento.......................................................................................................... 19

4.3. Curvas de potência absorvida.............................................................................................. 20

4.4. Curva de NPSH requerido ................................................................................................... 20

5. Paralelogramo de Velocidades e influência da rotação nas curvas da bomba. ............................. 20

5.1. Introdução e Paralelogramos de Velocidades...................................................................... 20

5.2. Equação de Euler para as máquinas hidráulicas. ................................................................. 21

5.3. Influência do ângulo das palhetas na carga de uma máquina centrífuga............................. 23

5.4. Curva de estrangulação descrita em função da rotação absoluta......................................... 27

5.5. Aplicações da variação de freqüência e limites de validade da equação............................. 30

6. Semelhança em máquinas hidráulicas. ......................................................................................... 34

6.1. Conceito e relações de semelhança em máquinas hidráulicas............................................. 34

6.2. Rotação ou Velocidade Específica de uma máquina hidráulica.......................................... 37

6.3. Aplicações do conceito de rotação específica e semelhança entre máquinas hidráulicas ... 40

7. Elementos básicos de uma instalação de recalque ........................................................................ 44

8. Terminologia empregada em recalque .......................................................................................... 45

8.1. Alturas geométricas ............................................................................................................. 46

8.2. Alturas totais........................................................................................................................ 46

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2

8.3. Alturas manométricas.......................................................................................................... 47

9. Determinação do ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga.......................................... 48

10. Valor mínimo da altura geométrica de aspiração em instalação de recalque................................ 52

10.1. Introdução............................................................................................................................ 52

10.2. Noções sobre cavitação ....................................................................................................... 54

10.3. Locais de ocorrência e conseqüências da cavitação ............................................................ 58

10.4. NPSH................................................................................................................................... 59

11. Traçado de curvas de sistema e de curvas de bombas. ................................................................. 60

11.1. Instalação simples de recalque. ........................................................................................... 60

11.2. Associação de bombas em série. ......................................................................................... 63

11.3. Associação de bombas em paralelo. .................................................................................... 65

11.4. Problemas de uso de bombas diferentes em série e em paralelo. ........................................ 70

12. Roteiro sucinto para escolha de uma bomba................................................................................. 73

12.1. Dados de entrada. ................................................................................................................ 73

12.2. Hipóteses de cálculo. ........................................................................................................... 73

12.3. Cálculos Preliminares.......................................................................................................... 75

12.4. Cálculo do sistema............................................................................................................... 76

12.5. Escolha do rotor................................................................................................................... 76

13. Algumas observações sobre a aquisição de bombas e sua instalação........................................... 76

14. Bibliografia Consultada e Aconselhada. ....................................................................................... 77

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3

Índice de figuras. Figura 1. Soma de Bernoulli aplicada a duas seções de uma corrente líquida....................................................................... 5 Figura 2. Semelhança entre turbina e bomba.......................................................................................................................... 7 Figura 3 Influência das perdas na energia gerada ou consumida. ......................................................................................... 8 Figura 4. Classificação das turbinas ....................................................................................................................................... 9 Figura 5. Esquema geral de uma turbina tipo Pelton. ............................................................................................................ 9 Figura 6. Foto de um rotor de uma turbina tipo Pelton. ....................................................................................................... 10 Figura 7. Esquema de turbinas tipo Francis. ........................................................................................................................ 11 Figura 8. Esquema de turbinas tipo Kaplan.......................................................................................................................... 11 Figura 9. Turbina Eólica (vista geral e turbina sofrendo reparos). ...................................................................................... 11 Figura 10. Classificação das bombas.................................................................................................................................... 12 Figura 11. Esquema de bomba de deslocamento (recíproca de pistão simples) ................................................................... 13 Figura 12. Esquema de bomba pulsante (recíproca de pistão duplo efeito) ......................................................................... 13 Figura 13. Corte de uma bomba de diafragma...................................................................................................................... 13 Figura 14. Alguns tipos de bombas rotativas ........................................................................................................................ 13 Figura 15. Fluxo de fluído numa bomba de engrenagens ..................................................................................................... 14 Figura 16. Corte esquemático de uma turbo-bomba. ............................................................................................................ 15 Figura 17. Cortes esquemáticos de bomba centrífuga. ......................................................................................................... 15 Figura 18. Trajetória de uma partícula numa bomba de fluxo misto. ................................................................................... 15 Figura 19. Trajetória de uma partícula líquida e rotor de uma bomba axial ....................................................................... 16 Figura 20. Esquema de bomba axial ..................................................................................................................................... 16 Figura 21. Bomba de jato. ..................................................................................................................................................... 17 Figura 22. Bomba de variação de densidade. ....................................................................................................................... 17 Figura 23. Curvas de estrangulação, 8PSH requerido e potência. ...................................................................................... 19 Figura 24. Corte de um rotor com um esquema possível de palhetas internas e paralelogramos de velocidades................ 20 Figura 25. Esquema do torque em função das velocidades periféricas de saída e entrada. ................................................. 22 Figura 26 Esquema simplificado do paralelogramo de velocidades..................................................................................... 23 Figura 27. Curvas teóricas da carga em função da vazão e do ângulo de saída β............................................................... 24 Figura 28. Variação da carga (H) em função do ângulo Beta. ............................................................................................. 24 Figura 29. Curva de estrangulação teórica e componentes de perda de energia dentro da bomba. .................................... 25 Figura 30. Variação das cargas (HEst e HVel) em função do ângulo Beta.............................................................................. 27 Figura 31. Curva de estrangulação e pontos com diversos rendimentos para a rotação de 3550RPM. .............................. 30 Figura 32. Curvas de estrangulação para diversas rotações. ............................................................................................... 32 Figura 33 Hidrograma diário de consumo de água com as vazões de recalque para manter o sistema abastecido............ 33 Figura 34 Bombas hidráulicas com semelhança geométrica ................................................................................................ 35 . .............................................................................................................................................................................................. 35 Figura 35. Relação de semelhança entre ângulos. ................................................................................................................ 35 Figura 36. Diagrama de velocidades .................................................................................................................................... 36 Figura 37 Esquema de determinação da rotação específica de uma máquina hidráulica.................................................... 38 Figura 38. Seleção de turbinas com base a carga hidráulica. .............................................................................................. 41 Figura 39. Famílias de bombas ............................................................................................................................................. 42 Figura 40. Exemplo de construção de novas curvas características para bombas. .............................................................. 43 Figura 41. Situações de regimes estável e instável de funcionamento de uma bomba com alta rotação específica............. 44 Figura 42. Corte de uma de recalque com bomba não afogada. .......................................................................................... 45 Figura 43. Corte de uma instalação de recalque com bomba afogada. ................................................................................ 45 Figura 44. Elementos de um conjunto elevatório (bomba afogada e bomba não afogada). ................................................. 47 Figura 45. Desenvolvimento das linhas de energia e piezométrica numa instalação de recalque........................................ 49 Figura 46. Curva característica da instalação...................................................................................................................... 49 Figura 47. 8úcleo de condensação........................................................................................................................................ 55 Figura 48. Variação do raio de curvatura de uma bolha de gás e vapor dissolvido num líquido em função da pressão

externa. .................................................................................................................................................................................. 56 Figura 49. Diagrama de estabilidade de uma bolha que sofre divisão. ................................................................................ 56 Figura 50. Resumo da evolução do fenômeno de cavitação.................................................................................................. 57 Figura 51. Alteração da curva de estrangulamento devido à cavitação. .............................................................................. 58 Figura 52. Esquema para análise do conceito de 8PSH....................................................................................................... 60 Figura 53. Esquema de instalações simples de recalque: afogada e livre. ........................................................................... 61 Figura 54. Exemplo de um sistema de recalque de uma bomba............................................................................................ 61 Figura 55. Curvas do sistema de recalque simples para duas alturas geométricas (YA=55,00m e YB=43,00m). ................. 62 Figura 56. Influência da posição relativa dos reservatórios no ponto de funcionamento da bomba. .................................. 63 Figura 57. Esquemas de bombas em série............................................................................................................................. 64 Figura 58. Curva de estrangulação para bombas em série................................................................................................... 65 Figura 59. Vista Frontal de um sistema de bombas em paralelo. ......................................................................................... 66

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Figura 60. Curva resultante da associação de bombas em paralelo..................................................................................... 67 Figura 61. Obtenção dos valores da curva de estrangulação de uma bomba....................................................................... 67 Figura 62. Cálculo gráfico de bombas em paralelo. ............................................................................................................. 68 Figura 63. Gráfico demonstrativo da diferença do cálculo gráfico do analítico. ................................................................. 69 Figura 64 Problema na operação de bombas em paralelo. .................................................................................................. 70 Figura 65. Associação em série de bombas com curvas diferentes. ...................................................................................... 71 Figura 66. Associação em série de bombas com curvas com mesma vazão máxima. ........................................................... 71 Figura 67. Associação em paralelo de bombas com curvas diferentes. ................................................................................ 72 Figura 68. Bombas em paralelo com curvas diferentes e mesma pressão de “shut off”....................................................... 72 Figura 69. Topografia de uma região de captação de água - exemplo................................................................................. 74

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1. Introdução e definição de máquinas hidráulicas

Quando se pretende converter a energia de uma corrente líquida em energia mecânica pode-se capturar esta energia por um rotor e transmiti-la por um eixo, ou pode-se processar a conversão no sentido inverso. As máquinas utilizadas para este tipo de conversão são denominadas máquinas

hidráulicas. A energia mecânica que se retira ou se introduz na corrente líquida pode ser feita tanto por um eixo (bombas e turbinas centrífugas) como através de outros sistemas mecânicos, como por exemplo as primeiras máquinas hidráulicas de elevação de água compostas por uma série de recipientes elevados em conjunto através de uma corda ou corrente.

As máquinas hidráulicas operam uma conversão de energia,ou seja, elas são capazes de transformar energia mecânica em energia hidráulica e vice-versa. Estas máquinas podem apresentar as mais variadas e complexas formas: desde as mais simples e primitivas, como o sistema de elevação anteriormente citado, até máquinas eletromecânicas bem mais sofisticadas e dotadas de vários princípios de funcionamento.

Antes de se seguir no estudo da máquina propriamente dita, é necessária a identificação clara do que vem a ser energia hidráulica e a potência da corrente líquida. Após estas definições, passaremos à classificação das máquinas hidráulicas mais correntes e à descrição de peculiaridades de seu funcionamento. No fim do presente capítulo, são dadas algumas recomendações práticas sobre a aquisição, o projeto e a operação de sistemas de recalque.

2. Potência da corrente líquida.

Para determinar a potência da corrente líquida é necessário, primeiramente, identificar sua energia, a qual, em regime permanente, é expressa pelo somatório das energias potencial (pressão e posição) e cinética por unidade de peso, em relação a um plano de referência. A unidade dessa carga

hidráulica no Sistema Internacional de Unidades (SI) são N.m/N, equivalente a metros.

Linha piezométrica

Linha de energia

Plano de carga dinâmico

Z A

ZB

p A γ

pB

γ

V B2 2g

2

V A 2g

2 hpAB

HA

Plano de referência

HB

Figura 1. Soma de Bernoulli aplicada a duas seções de uma corrente líquida.

A potência da corrente líquida, definida como a energia por unidade de tempo, é obtida multiplicando-se a carga hidráulica pela vazão em peso (vazão ponderal), ou seja, por γ .Q [N/s], obtendo-se a unidade de potência que é o Watt.

[ ]

=

=γs

N

s

m

m

NQ

3

3 (1)

( ) Ws

mN

N

mN

s

NQHP ==

=γ= (2)

A potência perdida entre duas seções A e B, pelo efeito da perda de carga, pode ser calculada como sendo a diferença de potência da corrente líquida nas seções transversais A e B, em relação a qualquer plano de referência :

( )BABABA HHQQHQHPPP −γ=γ−γ=−=∆ (3)

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Como a perda de carga hpAB é igual à diferença de cargas entre as duas seções transversais, vem:

ABPerdidaBAAB hpQ P e HHhp γ=−= (4)

A perda de potência entre as duas seções, expressa pela equação 4 é dissipada sob a forma de calor.

Note-se que a soma de Bernoulli é uma equação de equilíbrio de energia, não de quantidade de movimento, logo é possível incorporar a esta um termo de transformação de energia mecânica em calor, normalmente denominado perda de energia. Para tirar a dubiedade do sinal a ser empregado esta conversão de energia é agregada na parte jusante do escoamento, ou seja, a perda de energia é acrescida na parcela de jusante como um ganho de energia térmica da parte montante para a jusante.

Como expresso na figura 1, num ponto qualquer da corrente líquida, a carga hidráulica é dada por: γ++= pg2VZH 2 , logo, a potência fornecida, ou absorvida, introduzida no escoamento por uma máquina hidráulica, será igual à diferença entre as cargas na entrada e na saída da mesma multiplicada pela vazão ponderal e expressas, para o caso de turbinas e bombas, pelas seguintes expressões:

( ) Tsaídaentrada H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de turbinas (5.a)

( ) Bentradasaída H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de bombas (5.b)

Como as máquinas hidráulicas possuem um rendimento, a potência gerada (turbinas) ou consumida (bombas) deve ser calculada por :

GTTgerada .H.Q.P +ηγ= no caso de turbinas (6.a)

( ) .H.Q.P BMTconsumida +ηγ= no caso de bombas (6.b)

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba. Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

Caso se queira incluir no cálculo as perdas nos condutos que chegam (aspiração ou alimentação) e que partem (recalque ou restituição) é necessário levar em conta o sentido do movimento, ou seja, conforme a figura , tem-se:

( ) GTTotalgerada .hpZ.Q.P +η−∆γ= no caso de turbinas

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba.

Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

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3. Máquinas Hidráulicas

3.1. Classificação geral e potência consumida ou produzida.

Considerando que as máquinas hidráulicas são equipamentos que operam transformação de energia, elas podem ser classificadas segundo o sentido desta transformação. Caso a transformação de energia seja de energia hidráulica para energia mecânica, elas são chamadas de turbinas. Porém se a transformação for ao inverso, elas são chamadas de bombas e compressores ou ventiladores.

Quando o fluido que sofre a transformação de energia mecânica em energia hidráulica é um líquido, denomina-se esse conversor como uma bomba. Quando o fluido é um gás, a máquina hidráulica denomina-se compressor ou ventilador.

Devido ao fato de operarem uma transformação da energia hidráulica em mecânica, as turbinas (figura 2) possuem a energia hidráulica na entrada superior à energia na saída, pois elas retiram energia do escoamento. Já nas bombas (figura 2), por operarem uma transformação de energia no sentido inverso, a energia na entrada inferior à energia na saída.

Existem vários tipos de máquinas hidráulicas, tais como; turbo-máquinas, rodas de água, bombas de êmbolo, carneiro hidráulico, ejetores, etc. ...

Gerador

Turbina

Conduto forçado Energia gerada

Eixo

Reservatório Inferior Canal de Fuga

Reservatório Superior

Conduto forçado

Eixo

Reservatório Inferior Tomada d’água

Reservatório Superior

Motor

Bomba

Energia Consumida

Figura 2. Semelhança entre turbina e bomba.

As turbo-máquinas apresentam como característica comum o rotor, peça principal na transmissão de energia, cuja denominação provêm do latim turbo,ìnis ‘o que gira em torno1. Essa categoria de máquinas hidráulicas se divide em três tipos: motoras, receptoras e transmissoras.

As turbo-máquinas motoras ou turbinas recebem a energia do escoamento e a tornam disponível em seu eixo para acionamento de outra máquina. O eixo poderá estar ligado mecanicamente à fonte de consumo, como por exemplo um moinho de moagem de cereais ou, caso a fonte de consumo não esteja próxima, ele está conectado a um gerador de energia elétrica para a sua transmissão sob forma de energia elétrica.

As turbo-máquinas receptoras ou bombas transferem, para o fluido que as atravessa, a energia recebida em seu eixo, aumentando a carga do escoamento.

As turbo-máquinas transmissoras recebem a energia externa em um eixo, transferindo-a para outro eixo por meio da energia hidráulica. Essas máquinas são consideradas como associações de bomba e turbina e são encontradas nas embreagens de determinados veículos pesados ou de máquinas estacionárias de grande potência.

1 Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa.

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Para se definir a potência consumida (ou produzida) por uma máquina hidráulica, lança-se mão dos conceitos desenvolvidos no item anterior. Como expresso na figura 1, num ponto qualquer da corrente líquida, a carga hidráulica é dada por: γ++= pg2VZH 2 , logo, a potência fornecida ou absorvida por uma máquina hidráulica introduzida no escoamento será igual à diferença entre as cargas na entrada e na saída da mesma multiplicada pela vazão ponderal e expressas, para o caso de turbinas e bombas, pelas seguintes expressões:

( ) Tsaídaentrada H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de turbinas (7.a)

( ) Bentradasaída H.Q.P aindaou HHQ.P γ=−γ= no caso de bombas (5.b)

Como as máquinas hidráulicas possuem um rendimento, a potência gerada (turbinas) ou consumida (bombas) deve ser calculada por :

GTTgerada .H.Q.P +ηγ= no caso de turbinas (8.a)

( ) .H.Q.P BMTconsumida +ηγ= no caso de bombas (6.b)

onde ηT+G é o rendimento da turbina e do grupo gerador e ηM+B é o rendimento do motor e da bomba. Caso se tenham duas máquinas de conversão de energia operando em série, o valor numérico do rendimento é obtido pelo produto dos rendimentos individuais de cada uma. Por exemplo, se a turbina tem um rendimento de 86% (0,86) e o gerador 95% (0,95) o rendimento do grupo turbina gerador será de 81,7% (0,817).

Caso se queira incluir no cálculo as perdas nos condutos que chegam (aspiração ou alimentação) e que partem (recalque ou restituição) é necessário levar em conta o sentido do movimento, ou seja, conforme a figura 3, tem-se:

( ) GTTotalgerada .hpZ.Q.P +η−∆γ= no caso de turbinas (9.a)

( )[ ] .hpZ.Q.P BMTotalconsumida +η+∆γ= no caso de bombas (10.b)

Perda na alimentação

Perda na restituição.

Energia disponível para a geração.

Perda no recalque

Energia necessária para o recalque.

Perda na aspiração.

Figura 3 Influência das perdas na energia gerada ou consumida.

3.2. Classificação das turbinas

As turbinas, máquinas capazes de transformar a energia da água em energia mecânica, dividem-se em duas classes: as turbinas de ação, que funcionam sem pressão excessiva e as turbinas de reação, que funcionam com excesso de pressão.

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Duplo Efeito Pelton FluxoHelicoidal

Ação

Fluxo radial(Francis)

Fluxo misto Fluxo axial(Hélice)

Reação

Turbinas

Figura 4. Classificação das turbinas

Nas turbinas de ação (ou de impulsão), a água atua à pressão atmosférica, mediante um jato que atinge sucessivamente as pás do rotor, movimentando-o. As turbinas de ação não tem correspondência nas bombas roto-dinâmicas. Até o fim do século XIX havia uma diversidade muito grande de tipos de turbinas de ação. No início do século XX, com o surgimento das turbinas tipo PELTON, concebida em 1880 pelo engenheiro americano Lester Allan Pelton (1829-1908), elimina-se o uso de outros tipos de turbina de ação, uma vez que este tipo de máquina apresentava um alto rendimento superior as outras e algumas vantagens estruturais como a de não provocar um momento fletor no eixo de transmissão da turbina.

A regulação do funcionamento das turbinas do tipo Pelton (figuras 5 e 6) é feita variando a vazão (e velocidade) do jato que incide sobre suas pás. O controle da vazão do jato é feita por um mecanismo denominado agulha. Empregam-se tais turbinas no aproveitamento de altas quedas e baixas vazões.

Figura 5. Esquema geral de uma turbina tipo Pelton.

Controlando-se a vazão do jato por meio da agulha, controla-se a potência do escoamento que atinge as pás da turbina. O controle da vazão é automatizado por um regulador que detecta aceleração ou a desaceleração angular da turbina, devido à diminuição ou ao aumento da energia consumida, fechando-se ou abrindo-se a agulha ou obturador diminui-se ou aumenta o jato de água sobre o rotor.

Uma das principais vantagens das turbinas tipo Pelton é dada pela presença de uma lâmina defletora que, em caso da necessidade de fechamentos rápidos, desvia o jato da direção do rotor

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evitando o surgimento de transientes hidráulicos2 indesejáveis. A manobra de desvio do jato é feita

rapidamente e, posteriormente, a agulha se fecha lentamente sem que ocorra transientes significativos.

2 Transientes hidráulicos: Regime não permanente surgido entre dois regimes estacionários, causado por uma variação súbita em uma de suas condições de contorno e caracterizado por fortes oscilações de pressão.

Figura 6. Foto de um rotor de uma turbina tipo Pelton.

Atualmente, utiliza-se, em pequenos aproveitamentos, as turbinas de ação tipo Michel-Banki, que, mesmo apresentando um rendimento muito abaixo daquele das turbinas Pelton ou outras de reação, tem sua utilização viabilizada por um custo muito baixo.

Nas turbinas de reação, a água não atua à pressão atmosférica. A classificação das turbinas de reação tem sua correspondência na classificação das bombas rotodinâmicas, em função da direção do movimento do líquido relativamente ao rotor. A forma do rotor condiciona a direção geral do fluxo: nas turbinas tipo Francis, o fluxo entra no rotor perpendicularmente ao eixo de rotação e sai dele axialmente. Nas turbinas tipo hélice ou Kaplan, o fluxo passa pelo rotor paralelamente ao eixo de rotação. Nas turbinas mistas, a situação é intermediária entre as anteriores. Assim, se classifica as turbinas em:

a) fluxo radial - axial : turbinas tipo FRANCIS.

b) fluxo misto : turbinas mistas

c) fluxo axial : turbinas hélice - pás fixas

d) turbinas KAPLAN - pás orientáveis

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Figura 7. Esquema de turbinas tipo Francis.

Uma diferença importante entre as turbinas de ação e as de reação é o modo de regulagem da vazão. Enquanto as turbinas de ação a regulagem da vazão é feita no conduto através de uma válvula especial que lança a água sobre o rotor, nas turbinas de reação a regulagem da vazão é feita por uma coroa provida de uma espécie de “persiana”, cuja abertura ou fechamento é automaticamente comandada por um regulador.

As turbinas de reação tem um rendimento bem superior ao das turbinas de ação e, quando possível, elas deverão ser utilizadas. A possibilidade de uso de um ou outro tipo de turbina depende da magnitude de um parâmetro chamado rotação específica, o qual será abordado no item 6.2 .

O principal inconveniente das turbinas de reação é seu fechamento. Diferentemente das turbinas de ação, onde se pode a qualquer instante, através da intervenção na lâmina defletora, eliminar o problema da parada rápida da turbina, nas turbinas de reação o fechamento deverá ser feito através de válvulas de entrada, sem a possibilidade de desvio de parte da água, causando dessa forma problemas de geração de transientes hidráulicos.

Figura 8. Esquema de turbinas tipo Kaplan.

Outro tipo de turbina de fluxo axial são as turbinas empregadas na geração eólica de energia. Essas turbinas não possuem carcaça, pois como a diferença de pressões entre os dois lados do rotor é muito pequena, não há necessidade de restringir o escoamento a passar por uma carcaça. A figura 9 mostra uma torre que suporta o rotor, bem como o motor de uma turbina eólica. Através da observação, na figura da direita, do operário que está fazendo a manutenção, pode-se ter uma idéia do porte que estas turbinas eólicas atingiram. As torres que mantém o rotor e motor podem atingir a uma centena de metros.

Figura 9. Turbina Eólica (vista geral e turbina sofrendo reparos).

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3.3. Classificação das bombas rotodinâmicas

As bombas transformam o trabalho mecânico que recebem para seu funcionamento em energia, a qual comunicam ao líquido sob forma de energia de pressão ou cinética. O modo pelo qual é feita a transformação da energia mecânica em energia hidráulica e o recurso para cedê-la ao líquido aumentando sua pressão e/ou sua velocidade permitem classificar as bombas (figura 10) em: bombas

de deslocamento positivo (ou volumétricas) e bombas dinâmicas (rotodinâmicas ou turbo-bombas). As bombas de deslocamento podem ser divididas em recíprocas e rotativas. Já as bombas dinâmicas sub dividem-se em turbo-bombas e bombas especiais (bomba com ejetor, bomba com emulsão de ar).

3.3.1. Bombas de deslocamento

As bombas de deslocamento positivo trabalham com a variação da pressão, possuindo uma ou mais câmaras, em cujo interior o movimento de um órgão propulsor comunica energia de pressão ao líquido, provocando o seu escoamento. O escoamento se realiza na tubulação de aspiração até a bomba e na tubulação de recalque até o ponto de utilização. A característica principal dessa classe de bombas é que uma partícula líquida, em contato com o elemento que comunica energia tem, aproximadamente, a mesma trajetória daquela do ponto do elemento no qual está em contato. Nessas bombas, existe uma relação constante entre a descarga e a velocidade do órgão propulsor da bomba.

Bombas

De deslocamentoDinâmicas

Efeitos EspeciaisDe aletas RotativasRecíprocas

Cen

tríf

ugas

Dia

frag

ma

Pal

heta

s de

sliz

ante

s

Flu

xo a

xial

Eng

rena

gens

De

vórt

ice

Par

afus

o

De

jato

De

emul

são

de a

r

Pis

tão

sim

ples

Flu

xo m

isto

Pis

tão

dupl

o ef

eito

Pne

umát

icas

Figura 10. Classificação das bombas

As bombas de deslocamento se dividem em bombas alternativas (recíprocas) e bombas

rotativas. Normalmente as bombas alternativas e rotativas são usadas para pressões elevadas e descargas relativamente pequenas.

a) Bombas de deslocamento recíprocas.

O principal tipo de bomba de deslocamento recíproca é composta por um cilindro que se enche de líquido e por um pistão (ou êmbolo) que, ao se mover dentro do cilindro, realiza a aspiração e a impulsão (Figuras 11 e 12). Também a impulsão pode ser realizada por meio de uma membrana flexível (diafragma). Estas bombas dão origem a uma vazão bombeada extremamente irregular (pulsante). Podem ser de simples efeito, quando apenas uma face do êmbolo atua sobre o líquido ou de duplo efeito, quando duas faces atuam.

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13

Movimentodo êmbolo

Qmax

Qmedio

t

Detalhe das Válvulas

Figura 11. Esquema de bomba de deslocamento (recíproca de pistão simples)

Qmax

Qmedio

t

Figura 12. Esquema de bomba pulsante (recíproca de pistão duplo efeito)

Outro exemplo de bomba de deslocamento recíproca é a bomba de diafragma (figura 13), a qual promove o movimento do fluído através da pulsação de uma membrana flexível movimentando-se aumentando e diminuindo o volume câmara que possui duas válvulas para entrar e sair o fluido, os ventrículos do coração podem ser considerados uma bomba de diafragma.

Válvula de admissão Válvula de saída

Movimento alternado

Membrana flexível.

Figura 13. Corte de uma bomba de diafragma.

b) Bombas de deslocamento rotativas

Nas bombas de deslocamento rotativas, o líquido recebe a ação de forças provenientes de uma ou mais peças dotadas de movimento de rotação que, comunicando energia de pressão, provocam seu escoamento. A ação das forças se faz segundo a direção que é praticamente a do próprio movimento de escoamento do líquido. A descarga e a pressão do líquido bombeado sofrem pequenas variações quando a rotação é constante. Este tipo de bombas pode ter um ou mais rotores.

O número de tipo de bombas de deslocamento rotativas é muito grande. Em bibliografias específicas sobre o assunto catalogam-se dezenas de modelos. Como ilustração serão apresentados os modelos mais simples e correntes (Figura 14).

Bomba de rolos Bomba de palhetas Bomba de engrenagens

Figura 14. Alguns tipos de bombas rotativas

Um exemplo de bomba de deslocamento muito utilizado são as bombas rotativas de engrenagem, as quais se destinam, principalmente, para uso com líquidos viscosos.

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O funcionamento de uma bomba de engrenagens pode ser descrito como segue: duas engrenagens, uma das quais motriz e a outra conduzida, girando no corpo da bomba, fazem bombear o líquido pela parte externa das engrenagens (figura 15), sendo o fluxo impedido de retornar pela parte interna devido a imbricação dos dentes da engrenagem.

Figura 15. Fluxo de fluído numa bomba de engrenagens

3.3.2. Bombas dinâmicas

a) Bombas dinâmicas de aletas

As bombas dinâmicas, também chamadas de turbo-bombas, são caracterizadas por possuírem um órgão rotatório dotado de pás, chamado rotor, que exerce sobre o líquido forças que resultam da aceleração que lhe imprime. Essa aceleração, ao contrário das bombas de deslocamento, não possui a mesma direção e o mesmo sentido do movimento do líquido em contato com as pás. A descarga gerada depende das características da bomba, do número de rotações e das características da canalização na qual se encontra inserida.

Todas as turbo-bombas são compostas por quatro elementos principais:

o corpo da bomba, que se destina a conduzir, ao rotor, o líquido que nele entra, desacelerá-lo e reconduzi-lo à canalização de recalque. O corpo da bomba suporta ainda os rolamentos do eixo, transmitindo os esforços excêntricos do eixo e rotor à base do conjunto motor-bomba. O corpo se liga, em geral por meio de flanges, às canalizações de sucção e de recalque. Rigorosamente, uma hélice de barco ou avião pode ser classificada como uma turbo-bomba, mostrando que, neste caso, o corpo da bomba não se faz necessário.

o eixo da bomba, conecta o rotor à fonte de energia mecânica, transmitindo o torque dessa fonte ao rotor.

o rotor, acoplado ao eixo, destina-se a acelerar o líquido recebido, aumentando-lhe a energia cinética e a pressão. O rotor é constituído por um núcleo ao qual se ligam as pás e que se encontra solidário ao eixo de rotação. Sua função é comunicar uma certa aceleração à massa líquida, para que adquira energia cinética, realizando-se a transformação da energia mecânica em energia hidráulica.

o difusor, também chamado de recuperador de pressões, onde se processa a transformação da maior parte da energia cinética que anima o líquido que sai do rotor em energia de pressão. Sendo de seção gradativamente crescente, no difusor ocorre uma contínua e progressiva diminuição da velocidade do líquido que por ele escoa, com o conseqüente aumento da pressão, de modo que, ao atingir a ligação da bomba com a canalização de recalque, a pressão seja elevada e a velocidade seja baixa. O mesmo comentário feito anteriormente sobre a não necessidade de existência do corpo de uma bomba para caracterizá-la como tal, pode-se fazer para o difusor.

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15

Bocal de Saída

Pás do rotor

Voluta ou coletor em caracol

Corpo da bomba

Eixo do rotor

Difusor

Rotor

Figura 16. Corte esquemático de uma turbo-bomba.

Segundo a trajetória do fluxo em relação ao rotor, as turbo-bombas podem ser classificadas em:

a. bomba centrífuga pura ou bomba

radial,

b. bomba de fluxo misto ou bomba

diagonal e

c. bomba axial ou bomba propulsora.

Nas bombas centrífugas, o efeito que impulsiona o fluido de dentro do rotor para a parte externa é principalmente o efeito centrífugo. A sustentação criada pelas pás é pequena, o rotor recebe o líquido paralelamente ao eixo de rotação e o impele contra o corpo da bomba, perpendicularmente ao eixo de rotação. No corpo da bomba, o líquido que é expelido pelo rotor com alta velocidade, tem parte de sua taquicarga transformada em altura piezométrica, devido ao aumento progressivo da seção transversal da voluta (ou coletor em caracol) e no divergente que lhe segue.

Corte A-A Corte B-B

B

B A

A

Coroas de fixação das pás.

Pás.

Figura 17. Cortes esquemáticos de bomba centrífuga.

Nas bombas de fluxo misto ou bomba diagonal, o líquido penetra no rotor axialmente; atinge as pás, cujo bordo de entrada é curvo e inclinado em relação ao eixo, e possui bordo de saída paralelo ao eixo ou ligeiramente inclinado em relação a ele. O líquido sai do rotor segundo um plano perpendicular ao eixo ou segundo uma trajetória ligeiramente inclinada em relação ao plano perpendicular ao eixo (figura 18). As bombas mistas são intermediárias entre as centrífugas e as axiais.

Figura 18. Trajetória de uma partícula numa bomba de fluxo misto.

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Nas bombas axiais, o núcleo do rotor é provido de pás fixas ou móveis, à semelhança das turbinas axiais. Nessas bombas, as trajetórias das partículas líquidas, pela configuração que assumem as pás do rotor e as pás guias, começam paralelamente ao eixo e se transformam em hélices cilíndricas (figura 19). Ao escoamento do fluxo axial superpõe-se um vórtice, forçado pelo movimento das pás. Apesar de muitas vezes as bombas axiais serem denominadas, genericamente, como bombas centrífugas, esta denominação é imprópria, pois nessas bombas a saída do líquido se dá predominantemente na direção do eixo e o efeito centrífugo, propriamente dito, não é preponderante como nas bombas centrífugas. Nelas, o efeito mais importante no movimento do fluído é causado pela sustentação junto às pás.

Como o efeito de sustentação das pás é preponderante para adaptar essas bombas a diversas situações de funcionamento essas podem ser construídas com pás de ângulo variável (passo variável), podendo-se, por meio de um mecanismo localizado junto ao eixo e comandado automaticamente por um servo-mecanismo modificar o ângulo de ataque das pás. O objetivo disso é dar às pás uma inclinação adequada a cada velocidade (por conseqüência descarga), proporcionando uma melhora no rendimento da bomba. Esse tipo de bomba é empregado para pequenas alturas de elevação e grandes vazões (figura 20).

Figura 19. Trajetória de uma partícula líquida e rotor de uma bomba axial

Figura 20. Esquema de bomba axial

As bombas centrífugas e as bombas mistas podem ter as pás solidarizadas entre si por discos circulares denominados coroas (figura 17). Caso as bombas possuam coroas de ambos os lados elas são denominadas bombas de rotor fechado. Caso só um lado possua uma coroa denomina-se bomba de rotor semi-aberto e, finalmente, quando não existem coroas, a bomba é de rotor aberto. As bombas de rotores aberto ou semi-aberto são utilizadas geralmente para fluidos com impurezas grossas ou para pastas.

As bombas centrífugas também podem possuir um rotor ou diversos rotores no mesmo eixo. Nesse caso recebem a denominação de bombas de múltiplos estágios, como se verá no capítulo 5. Como o aumento de pressão é proporcional ao aumento da distância ao eixo entre a entrada e a saída do rotor das bombas, para se ter uma alta pressão de saída seria necessário um diâmetro de saída muito grande em relação a entrada. Diâmetros de saída cinco a seis vezes maiores do que o diâmetro de entrada tem problemas de operação, logo para se obter maiores pressões sem ultrapassar esta relação entre diâmetros de entrada e saída utilizam-se rotores em série como de verá no item 11.2 do capítulo 11. Nas bombas com rotores em série o fluido sai de um rotor e entra em outro, acrescendo em cada um a pressão.

Existem bombas centrífugas de rodas duplas nas quais a água entra por dois orifícios, em sentidos opostos, saindo por um orifício único: são as bombas centrífugas de dupla entrada.

Geralmente, os três tipos de turbo-bombas são denominadas por bombas centrífugas em sentido amplo. Esta denominação é adotada na em medida que a passagem de um tipo a outro de bomba é contínuo, sem que se perceba conceitualmente quando se tem um ou outro tipo de bomba.

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17

Todas as bombas podem ser de eixo vertical ou horizontal. Podem atuar submersas ou não. O acionamento das bombas é, em geral, feito por motor elétrico, porém, pode-se encontrar bombas acionadas por turbinas, por motor a explosão, etc...

A transmissão da energia do eixo do motor elétrico para o motor da bomba pode ser feita por meio de uma junta elástica, no caso de bombas de grandes dimensões, ou por um eixo único para a bomba e motor, no caso de bombas pequenas. A ligação dos orifícios de aspiração e de recalque em geral é feita por flanges ou, em pequenas bombas, por condutos providos de rosca.

A bomba centrífuga, em senso estrito, é o tipo de bomba mais comum, sendo utilizada na maioria das instalações com água limpa, água do mar, óleos e lixívias, para pequenas, médias e grandes alturas de elevação e para temperaturas elevadas, sendo o tipo de máquina hidráulica de aplicação mais difundida na Engenharia Civil. Ela é empregada quando se necessita aumentar a carga de um escoamento líquido, como por exemplo no recalque de água potável do reservatório inferior de um edifício para o reservatório superior, de modo que os apartamentos possam ser abastecidos por gravidade. Esse tipo de bomba está presente na maioria das atividades ligadas ao abastecimento e tratamento de água, ao esgoto pluvial e sanitário, à industrias diversas (químicas e petroquímicas, de alimentos, bebidas, etc...), à irrigação, defesa contra inundações, etc...

b) Bombas dinâmicas de efeitos especiais.

Além das bombas dinâmicas rotativas têm-se as bombas dinâmicas de efeito especial. Como a própria classificação indica, cada tipo de bomba tem um modo especial de movimentar o fluído, podendo se citar como exemplos as bombas de jato (figura 21) e as bombas de variação de densidade (figura 22).

Entrada do fluido para o jato.

JATO

Figura 21. Bomba de jato.

Entrada de gás

Figura 22. Bomba de variação de densidade.

Nos dois casos apresentados de bombas especiais, é necessária a introdução de um fluído para a movimentação de outro. Nas bombas de jato, introduz-se um forte jato numa região de seção reduzida (baixa pressão), de tal forma que este jato transporte o fluído que se quer movimentar. A bomba de jato prevê uma transferência de quantidade de movimento entre o jato e o fluído a transportar, transferindo parcialmente a quantidade de movimento total do jato para o escoamento. Já a bomba de variação de densidade trabalha com a diferença de densidades entre o fluido que se quer movimentar e a densidade da mistura fluído + gás. Com a mistura, a densidade do fluido diminui, fazendo com que a mistura líquido + gás movimente-se em sentido ascendente.

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18

4. Curvas características das bombas centrífugas

Uma bomba, como já foi visto, tem por finalidade aumentar a carga de um líquido que por ela escoe. Seja HA a carga do escoamento que chega ao orifício de aspiração de uma bomba e HR a carga com que o escoamento sai pelo orifício de recalque. A potência do escoamento na seção transversal ao orifício de aspiração é:

AA HQN γ= (11)

A potência do escoamento que deixa a bomba no orifício de recalque é:

RR HQN γ= (12)

A potência transmitida pela bomba ao escoamento será, então:

( )HQN

HHQNN ARAR

γ=

−γ=− (13)

A diferença de carga HR - HA = H denomina-se altura total (ou carga ) da bomba. A altura total de uma bomba não é constante, mas variável com a vazão que a atravessa. A variação da carga em função da vazão que a máquina dispõe, conduz à necessidade de descrevê-la, não através de valores únicos de carga, vazão, rendimento, potência e altura máxima de recalque, mas sim por curvas de variação destas propriedades em função da vazão. As curvas que descrevem o comportamento da bomba são chamadas de curvas características da bomba. A explicação da evolução dessas curvas será feita em detalhes no capítulo 5, porém para uma descrição geral do comportamento de uma bomba simplesmente serão descritas estas curvas sem a preocupação de dar a sua origem.

Na figura 23 é apresentado um exemplo das curvas características. Nela AΦ , BΦ , CΦ indicam

diferentes diâmetros de rotor da bomba. No eixo x são apresentadas as diferentes vazões a serem bombeadas; em geral, expressas em m3/h. No eixo y são apresentadas a carga hidráulica (m), o NPSH (m) e a potência absorvida (kW). As linhas pontilhadas, observadas no gráfico da variação da carga hidráulica (H) em função da vazão (Q), representam a variação do rendimento do conjunto motor-bomba. O gráfico que representa a variação do NPSH de uma bomba será descrito com detalhes no capítulo 10.

4.1. Curvas de estrangulação

O fabricante fornece, para cada bomba, uma função que indica a variação da altura total com a vazão. Em geral, essa variação é fornecida por meio de uma curva H=f(Q); nas abscissas são dadas as vazões e nas ordenadas, as alturas totais. Essa função também pode ser fornecida sob a forma de tabelas H x Q. A curva H=f(Q) é denominada curva de estrangulação da bomba, devido ao processo adotado para sua determinação experimental (o termo estrangulamento também poderá ser utilizado, porém o mais usual é estrangulação).

Quando o corpo da bomba permite, a partir de um diâmetro máximo, podem-se usar rotores com diâmetros menores, a cada um dos quais corresponderá uma curva H=f(Q). Em determinados casos, o fabricante fornece, para alguns diâmetros de rotor e para cada velocidade de rotação, uma curva H=f(Q). A partir desses diâmetros, por interpolação, pode-se, analiticamente, determinar outras curvas para outros diâmetros e rotações.

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19

A figura 23 apresenta a curva de estrangulação para uma bomba com três diâmetros de rotor, os quais podem ser obtidos usinando-os até a dimensão pretendida. Numa bomba normal pode-se, com segurança, interpolar as curvas de estrangulação seguindo a tendência das curvas apresentadas, desde que dentro desta faixa de diâmetros. Entretanto, extrapolar para valores maiores que o maior diâmetro é fisicamente impossível e, para menores diâmetros, é imprecisa.

50

25

0

NPSH [m]

75% 70%

60% 50%

78%

5

10

15

75

H [m]

0 20 40 60 80 100 120 Q[m³/h]

Potência [kW]

10

20

30

0

ΦA

ΦB

ΦC

ΦA

70%

60%

ΦB

ΦC

Figura 23. Curvas de estrangulação, NPSH requerido e potência.

4.2. Curvas de rendimento

O rendimento ( ηB) de uma bomba centrífuga é variável em função da vazão, do diâmetro do rotor e da rotação. Em geral, os rendimentos são apresentados como curvas de nível de iso-rendimentos superpostas ao diagrama H=f(Q). O rendimento da bomba ( ηB), para um par de valores H x Q, é a relação entre a potência consumida pela bomba (PC) e a potência fornecida à corrente líquida que a atravessa (PF), os quais estão representados pelas linhas pontilhadas na figura 23.

A potência que a bomba deve receber do motor (PC) é calculada através da relação entre PF e seu rendimento, sendo dada por:

BB

FC

FF

CB

HQPP

P

HQ

P

P

ηγ

=⇒γ

==η (14)

Assim, se a curva H x Q e a curva de rendimento são conhecidas, é possível determinar a curva de potência consumida pela bomba para qualquer par de valores de vazão e altura total.

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20

4.3. Curvas de potência absorvida

Alguns fabricantes, em lugar das curvas de rendimento, fornecem a curva de potência

consumida (PC) em função da vazão. Para cada vazão, é possível determinar o par de valores PC x Q e, pela expressão (14), calcula-se o rendimento.

4.4. Curva de .PSH requerido

O NPSH requerido representa, em linhas gerais, a energia total, referenciada ao zero absoluto de pressões, que deve ter a bomba em sua entrada para que não seja rompida a coluna de vaporização do líquido ou que não haja cavitação. Os bons fabricantes de bombas fornecem também a curva de variação do NPSH requerido em função da vazão. Esse assunto será abordado com mais detalhes no capítulo 10.

5. Paralelogramo de Velocidades e influência da rotação nas curvas da bomba.

5.1. Introdução e Paralelogramos de Velocidades.

Para as bombas centrífugas e também para as bombas mistas, somente o movimento causado pelas forças centrífugas, impelindo o fluido da região interna para a região externa do rotor, não é suficiente para explicar o ganho de pressões numa bomba. O ganho de pressão é explicado pela transferência da quantidade de movimento angular nas máquinas hidráulicas, ou seja, o eixo do rotor transmite a energia do motor ao escoamento girando o rotor e movimentando a água entre as palhetas curvas deste. A figura 24.a apresenta um detalhe geral de um rotor de uma bomba e a figura 24.b, um detalhe ampliado da região entre palhetas, na qual o fluido passa, e os paralelogramos de velocidades na entrada e na saída do rotor.

W2

C2R

C2

U2

W1

C1

U1

C2U

C1≈C1R

C1U≈0

β2

α2

β1

α1

R2

R1

(a) Detalhe geral (b) Paralelogramo de velocidades.

W = velocidade do fluido em relação ao rotor, U = velocidade do rotor em relação ao corpo da bomba e C = velocidade absoluta do fluido (C = U + W).

Figura 24. Corte de um rotor com um esquema possível de palhetas internas e paralelogramos de velocidades.

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21

Na figura 24, onde está representado o paralelogramo de velocidades no rotor de uma bomba, as velocidades de entrada no rotor tem como índice 1 enquanto as velocidades de saída tem índice 2. As velocidades W representam a velocidade do fluido em relação ao rotor; as velocidades U, as velocidades periféricas do rotor em relação ao corpo da bomba e, finalmente, as velocidades C, a composição vetorial dessas duas.

5.2. Equação de Euler para as máquinas hidráulicas.

A transferência de energia entre o rotor e o fluido pode ser quantificada através da análise da diferença entre as velocidades da água na saída e na entrada do rotor. A equação que correlaciona a potência transmitida pelo eixo à corrente líquida é denominada Equação de Euler, em homenagem ao matemático Leonard Euler3 que, em 1754, deduziu-a pela primeira vez. Esta equação representará, em termos das velocidades expressas pelos paralelogramos de velocidades, a energia acrescida ao sistema. A equação de Euler para as bombas, como será apresentada posteriormente, mutatis mutandis, também serve para turbinas.

Partindo da equação da conservação da quantidade de movimento angular, sabe-se que, em regime permanente esta equação (vide qualquer texto básico de Mecânica dos Fluídos, como FOX, 1977) é dada por:

( ) ( )( )dAnVVrFrSC

rrrrrr.∫∫∑ ×ρ=×

onde: ∑ × Frrr

o somatório do produto vetorial entre a força e o seu vetor posição

em relação a um eixo de giro e

( )( )dAn.VVrSC

rrrr

∫∫ ×ρ a integral da quantidade de movimento angular que sai ou entra do

volume de controle

Supondo que as velocidades sejam constantes (hipótese de escoamento unidimensional) ao

longo das áreas de saída (2) e entrada (1), o produto vetorial de Vrrr

× resultará no produto simples do

raio ( Rr

) e da velocidade absoluta ( Cr

) projetada numa linha tangencial à superfície (C.cosα). Como o produto vetorial é constante ao longo de toda a área de entrada ou de saída, a integral do produto escalar de ( )dAnV

rr.ρ poderá ser substituída por um somatório de uma só parcela Qρ , a qual representa a

vazão em massa que passa pelas superfícies de saída e de entrada.

Por outro lado, o torque introduzido ou retirado do sistema (bombas ou turbinas), na direção do eixo (direção Z), também pode ser substituído por uma componente única TZ. Após essas simplificações, a equação da conservação da quantidade de momento angular reduz-se a:

( )111222Z cosCRcosCRQT α−αρ= (15)

A figura 25 esquematiza a distribuição das velocidades na entrada e saída do rotor da equação 15.

Para comparar a potência da corrente líquida com a potência transferida pelo eixo, deve-se multiplicar a equação 15 pela velocidade angular ω , resultando em:

( )ωα−αρ=ω= .cosCRcosCRQ.TP 111222Zeixo

3 Leonard Euler, 1707-1783, matemático e físico suíço.

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22

R1

R2

ω

TZ

C2U

C2

U2 R2

U1 R1

C1 C1U

Esquema tridimensional do rotor mostrando somente duas palhetas.

Esquema das velocidades C e U e a projeção de C em U (C1U e C2U).

Figura 25. Esquema do torque em função das velocidades periféricas de saída e entrada.

Projetando as velocidade absolutas 21 C e Crr

sobre uma direção tangencial às áreas de entrada e

saída do rotor ( )2211 .cosC e .cosC ααrr

obtêm-se C1U e C2U. O produto de ω.R é igual a U, assumindo a equação anterior a seguinte forma:

( )U11U22eixo CUCUQP −ρ= (16)

Da definição geral da potência da corrente líquida (capítulo 2, equação 2), sabe-se que ela é está correlacionada à carga de saída e de entrada da bomba, ou seja:

QHP líquidaCorrente γ= (2)

onde H representa a diferença de cargas entre o orifício de entrada e de saída da bomba.

Igualando-se (2) a (16), e isolando-se a carga, tem-se:

( )g

CUCUH U11U22 −

= (17.a)

A equação (17.a) é denotada como Equação de EULER, a qual pode ser escrita em termos de ganho de pressão na bomba, considerando-se a definição de pressão hidrostática P=γH, resultando em:

( )U11U22 CUCUP −ρ= ou ( )

g

CUCUPH U11U22 −

= (17.b)

Utilizar a hipótese unidimensional para a equação da velocidade ao longo da saída e da entrada do rotor é um pouco limitante, à medida em que as palhetas atuam como uma superfície aerodinâmica que provoca sustentação junto ao fluido que passa sobre elas. Para uma análise deste efeito seria necessário o desenvolvimento da teoria da sustentação aerodinâmica sobre perfis que envolve a dedução do chamado teorema de Kutta-Joukoviski4 (ver VALLENTINE 1967).

4 O teorema de Kutta-Joukoviski relaciona a circulação Γ em torno de um contorno fechado ( ∫ α dl.cos.V sendo α o ângulo

que a velocidade faz com a linha fechada em torno de um corpo) com a força normal ao escoamento, força de sustentação (FL), ou seja FL= ρΓV, onde ρ é a massa específica do fluido, V a velocidade média.

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23

Pelo teorema de Joukoviski, sabe-se que, num escoamento externo sobre uma superfície curvada com raios de curvatura diferentes entre a parte côncava e a convexa, a velocidade é diferente entre a parte côncava e a parte convexa (maior pressão na parte côncava). Devido a isto, o modelo de comportamento do rotor da bomba que resulta na equação de Euler, deverá sofrer uma pequena correção em função dessa assimetria.

Geralmente as bombas são dimensionadas para, no seu ponto ótimo de funcionamento, não apresentarem velocidade absoluta tangente à superfície de entrada (C1U=0), otimizando-se dessa forma o seu rendimento e aumentando o ganho de pressão neste ponto. Neste caso, as equações (17.a) e(17.b) se transformam em:

g

CUH U22= (18.a)

U22CUP ρ= (18.b)

A equação de Euler (17.a), pode ser reescrita com as velocidades em função do paralelogramo de velocidades (figura 24 ou figura 26), ou seja, da relação trigonométrica existente entre suas velocidades, tem-se:

U

C

W

Figura 26 Esquema simplificado do paralelogramo de velocidades.

U1121

21

21 CU2CUW −+= e U22

22

22

22 CU2CUW −+= ou

2

WCUCU

21

21

21

U11−+

= e 2

WCUCU

22

22

22

U22−+

= (19)

Substituindo os termos UiCi na equação de Euler por suas respectivas equações em termos das componentes originais do paralelogramo de velocidades (equação 19), resulta em:

( ) ( ) ( )g2

WW

g2

CC

g2

UUH

21

22

21

22

21

22 −

+−

+−

= (20)

O último termo, geralmente, é nulo em fluídos incompressíveis, desde que as seções de entrada e saída tenham o mesmo valor5. Dessa forma não haverá perda de pressão devido a esta parcela.

5.3. Influência do ângulo das palhetas na carga de uma máquina centrífuga.

O ângulo de saída da pá influencia a transformação da energia em pressão ou energia cinética e, em função dele, se define o tipo de bomba. Retornando-se à equação (18.a) para o estudo da influência do ângulo de saída β2 na conversão de energia, tem-se, por trigonometria, os valores de C2R e C2U (R=radial, U=tangencial) escritos em função do ângulo e de U2 , como segue:

2R2U22 angcotCCU β=− e 2R22U2 angcotCUC β−= (21)

Substituindo a equação (21) em (18.a) resulta a carga em função de U, ou seja:

5 Aumentar a seção proporcionalmente ao perímetro pode, na maior parte dos casos, causar recirculação dentro do rotor devido à diminuição da velocidade e conseqüente aumento de pressão contra o escoamento.

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24

g

angcotCUUH 2R22

22 β−

= (22)

Reescrevendo esta equação em função da vazão, tem-se:

2

2222

gA

angcotQU

g

UH

β−= (23)

onde A2 é a área de saída do rotor, sendo dada pelo somatório de todas as áreas de saída entre as palhetas.

Com a equação (23) pode-se traçar as curvas teóricas das bombas em função do ângulo de saída, ou seja, variando-se o ângulo β entre valores maiores e menores do que 90°, se produz três tipos teóricos de bombas: as bombas com β>90°, β=90° e β<90, denominadas, respectivamente, bombas com pás para frente, bombas com pás retas e bombas com pás para trás. As curvas teóricas de cada um destes tipos de bomba são mostradas na figura 27.

Q

β>90° H

β=90°

β<90°

Bombas com pás para frente.

Bombas com pás retas.

Bombas com pás para trás.

Figura 27. Curvas teóricas da carga em função da vazão e do ângulo de saída β.

A figura 27 mostra, sem considerações sobre as perdas existentes, que a bomba poderá funcionar tanto num sentido de rotação como no outro.

Para identificar a influência do ângulo β na carga H, reescreve-se a última equação (equação 19) como se U2 e C2R tivessem valores constantes, resultando em:

221 angcot.ConstConstH β+=

A figura 28 representa o valor da carga hidráulica (H) em função do ângulo de saída da palheta (β) e de valores fixos de U2

2/g e U2C2R. Para um valor fixo de U2

2/g, a carga aumenta com β até este atingir o valor [arctg(-U2/C2R)].

Dos valores teóricos de pressão (curvas da figura 27), para se obter os valores reais da altura de recalque, deverão ser descontadas as diversas perdas existentes na bomba, as quais são compostas por vários termos.

β

β=arctg(U2/C2R)

β=arctg(-U2/C2R)

(U22/g)

H

Figura 28. Variação da carga (H) em função do ângulo Beta.

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O primeiro termo de perda corresponde à perda, comum a qualquer escoamento, que ocorre devido às resistências viscosas junto à parede, as quais são, mais ou menos, proporcionais ao quadrado da velocidade. O segundo tipo de perda de energia consiste em perdas singulares, causadas pela diferença entre o fluxo que sai do rotor e o escoamento externo a este. Esta perda, quando a vazão bombeada corresponde à vazão de dimensionamento da bomba, deveria ser nula. À medida que a vazão se afasta deste valor, o ângulo com o qual o escoamento deixa o rotor se afasta do ângulo estipulado em projeto na condição de maior rendimento, causando perdas, como a de um jato incidindo sobre um meio qualquer.

Além destes últimos tipos, tem-se também perdas devido ao surgimento de correntes secundárias. Estas perdas serão tão mais importantes quanto maior for a diferença de pressões entre a entrada e a saída do rotor.

Como último tipo de perda, tem-se as perdas devido à fuga interna de fluído nos espaços entre o rotor e o caracol, as quais também serão proporcionais à diferença de pressões e às dimensões de folgas existentes entre rotor e caracol. Estas perdas não são muito altas e poderão ser incorporadas às perdas causadas por correntes secundárias que são mais significativas. Pode-se agrupar estes efeitos em um só termo, pois eles se comportam seguindo a mesma tendência.

Q

β>90° H

Q

Curvas

H β<90°

Curva teórica (sem perdas).

Curva teórica descontada as perdas mecânicas.

Curva as perdas devido ao escoamento interno.

Curva as perdas devido à diferença de ângulos curva real.

Perdas

Perdas mecânicas devido o atrito das partes girantes..

Perdas devido ao escoamento interno, perdas no rotor e carcaça e perdas devido à recirculação.

Perdas devido ao choque da água saindo do rotor com a água na carcaça. Perda devido à diferença do ângulo de saída ótimo e o de funcionamento.

Figura 29. Curva de estrangulação teórica e componentes de perda de energia dentro da bomba.

A figura 29 mostra a diferença de perdas nos dois tipos de máquinas hidráulicas (bombas com ângulo de saída β>90° e β<90°. A primeira região, acima da curva teórica, mostra as perdas mecânicas por atrito das partes girantes, representada quase como um valor constante, paralelo à curva teórica, pois a rotação da bomba é constante durante a variação da vazão. O único fator que influencia a perda mecânica com a bomba funcionando à rotação constante é o aumento de pressão, pois este pode causar empuxos axiais sobre o rotor que poderão influenciar a perda mecânica de energia. A segunda região, indica as perdas por recirculação e fuga de fluído. Já a última, é devido ao choque da água quando o rotor está funcionando fora de seu ponto ótimo.

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26

As bombas de baixa e média rotação específica, que possuem pás para trás (β<90º), são dimensionadas para um alto ganho de pressão. Suas perdas mais significativas são conseqüência dàs correntes secundárias e à fuga interna de fluído. Estes efeitos são maximizados em bombas de baixa e média rotação específica devido a grande diferença de pressões de entrada e de saída do rotor. Além disto, por possuírem rotores mais longos, elas estarão sujeitas a maiores perdas distribuídas.

As bombas de alta rotação específica (bombas tipo ventilador) podem ter pás para frente(β>90º) e, como o diferencial de pressão é baixo entre a entrada e saída do rotor, elas não possuem perdas significativas, causadas pelos fatores acima citados, resultando em rendimentos muito superiores a bombas de baixa rotação específica (até 90%).

Desdobrando-se a equação (20) em dois termos, pode-se isolar um termo que representa a carga piezométrica HEst, expresso em função das velocidades relativas U e W, e outro termo que representa a taquicarga HVel , expresso em função da velocidade absoluta que sai do rotor C. Desta forma, a altura total H poderá ser descrita pela soma desses dois termos, ou seja, H=HEst+ HVel, obtendo-se:

( )g2

WWUUH

21

22

21

22

Est+−−

=

Considerando o ponto ótimo, onde C1U será nulo, C12 será igual a W1

2-U12, que substituindo

W12 na taquicarga resulta em:

( )g2

CCH

21

22

Vel−

= (24.a)

( )g2

CWUH

21

22

22

Est+−

= (25.a)

Aplicando as seguintes relações trigonométricas:

( )22R22R22R22

2U2

2R2

22 angcotCUCangcotCUCCC β−+=β−=+=

na expressão (24.a), a carga de velocidade ficará expressa por:

( )g2

angcotCUH

2R22

Velβ−

= (24.b)

Da mesma forma, aplicando estas relações em (25.a), temos:

( )g2

angcotCU

g2

CUH

2R22U22

Estβ−

−=

ou, retomando o valor de C2U na expressão resultante da carga piezométrica:

( )g2

angcotCUH

2R2

22

Estβ−

= (25.b)

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27

Estas duas equações podem ser expressas graficamente traçando-se as cargas (estática e dinâmica) em função de β. Assim, fica evidente que, com o aumento de β, aumenta-se mais a taquicarga do que a carga estática, passando esta última por um ponto de máximo em β=90°.

β

β=arctg(U2/C2R) HVel

H

0° 90° 180°

HEst

Figura 30. Variação das cargas (HEst e HVel) em função do ângulo Beta.

Para o aproveitamento dessa carga dinâmica, em termos de pressão, seria necessário a elaboração de uma geometria especial denominada recuperador de pressão. Este recuperador é, em última instância, uma geometria divergente que transforma a energia cinética em energia potencial. Sabendo-se da dificuldade de trabalhar com gradientes de pressão positivos sem provocar o descolamento da camada limite e sua conseqüente perda de carga, evita-se ao máximo perfis de pás com ângulos β maior do que 90°. Ângulos maiores que 90º são utilizados essencialmente em ventiladores, onde se necessita de uma máquina hidráulica, pois estes geram mais carga de velocidade do que pressão.

5.4. Curva de estrangulação descrita em função da rotação absoluta.

A equação de Euler não tem muita aplicação para o uso corrente em hidráulica, na medida em que os fabricantes fornecem, para as diferentes bombas, as suas curvas de H x Q, não se necessitando o seu desenvolvimento teórico. Porém, através dela é possível estabelecer uma curva de estrangulação em função de valores absolutos de rotação e este tipo de análise é importante na aplicação de máquinas hidráulicas. A utilidade da análise do comportamento da bomba em função da rotação só terá sentido se esta for feita em termos de grandezas macroscópicas, quantificadas externamente à bomba, tais como vazão, pressão e rotação.

Os ângulos β1 e β2 podem ser descritos em função das velocidades do paralelogramo de velocidades (vide figura 24.b), obtendo-se as tangentes dos ângulos β1 e β2 por:

1

R11 U

Ctan =β (26.a)

U22

R22 CU

Ctan

−=β (27.a)

Os ângulos β1 e β2 reais, também denominados ângulos das palhetas: βP1 e βP2, são os ângulos com que o fluido entra e sai das máquinas hidráulicas. Eles não são exatamente os ângulos das palhetas. No caso do ângulo de entrada β1, há uma diferença entre o ângulo da palheta (βP1) e o ângulo de entrada do fluido (βF1), definindo-se o ângulo de ataque i (i= βP1− βF1). O valor de i pode variar entre −3° a +5°.

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28

O valor do ângulo de ataque não deverá ultrapassar os limites definidos no parágrafo anterior, sob pena de cair em muito o rendimento da bomba. O ângulo de ataque (i) além de variar com a geometria da entrada da bomba, da pré-rotação antes da entrada do rotor e com a qualidade do acabamento do mesmo, também varia com a rotação da bomba, à medida em que o ângulo do fluido (βF2) diminui com ao aumento da rotação da bomba. Essa diminuição não é exatamente inversamente proporcional à variação da rotação, comportando-se como um escorregamento que ocorre no fluido com a variação da rotação.

No caso do ângulo de saída, define-se também um ângulo de retardo do fluxo σ (σ= βP2−βF2), que tem como peculiaridade ser sempre positivo e praticamente independente do regime de funcionamento do rotor. O ângulo de retardo possui esta independência pois é função da sustentação nas palhetas, que é praticamente independente da velocidade de saída.

A partir das considerações anteriores, pode-se redefinir os ângulos reais de entrada e saída do fluido no rotor através das equações (26.a) e (27.a), devidamente alteradas:

( )1

R11

1

R11F U

Ctan

U

Ctan =β+=β i (26.b)

( ) ( ) 22R2U2U22

R22

U22

R22F U cotCCou

CU

Ctan;

CU

Ctan −β+σ=

−=β+σ

−=β (27.b)

Com a equação de Euler, pode-se comparar o ganho de energia real entre a saída e a entrada, considerando as perdas que possam haver no corpo da bomba (entrada, saída e na voluta ou caracol

6), nos canais do rotor e a energia residual do corpo do rotor (na voluta). Sendo assim, reescreve-se a equação de Euler como segue:

g2

VhphpH

g

CU 2Voluta

RotorCBU22 +++= (28)

As perdas podem ser associadas, à velocidade relativa dentro do rotor (W) quando se tratar da perda no rotor (hpRotor), e à velocidade absoluta na saída do rotor (C2) quando se tratar da perda no corpo (hpCB), ou seja:

g2

CKhp

22

CBCB =

g2

WKhp

22

RotorRotor =

Os valores das velocidades que podem ser descritos macroscopicamente são os valores da velocidade radial do fluido (CR), função da vazão e da área de saída, e a velocidade tangencial (U), função do raio e largura do rotor e da rotação. Por conseqüência, deve-se escrever C e W em função desses valores. Utilizando as relações (26.b) e (27.b) e outras relações trigonométricas mais simples

(ver SPIEGEL, 1968) e sabendo que 2U2

2R2

22 CCC += , tem-se da relação (27):

6 A voluta é o conduto que recolhe o fluido do rotor e o conduz à saída. Tem a forma de um caracol.

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29

( )[ ] ( )[ ] ( ) 22222

22

22

2222

22

22 cot2cot1 cot UCUCUCCC RRRR β+σ−+β+σ+=−β+σ+=

( ) ( )222

R222R222

22 cscCUcotC2UC β+σ+β+σ−=

por outro lado, sabendo que: W2=C2R/sen(σ+β2) ou W2=C2Rcsc(σ+β2), temos que:

( )[ ] ( )g2

cotCU2cstCUKhp 2R222

22R2

22

CBCBβ+σ−β+σ+

= (29)

( )[ ]g2

cscCKhp 2

22R2

RotorRotorβ+σ

= (30)

Como [U2C2u]/g pode ser expresso em termos de valores conhecidos, ou seja:

( )g2

cotCUU

g

CU 2R2222U22 β+σ−

= (31)

e substituindo (29), (30) e (31) em (28), tem-se uma equação expressa em termos das velocidades U e C2R e de K’s.

( ) ( )( )g2

V

g2

KKecantcosCcot)K1(CU2)K2(UH

2VolutaRotorCB2

22R22CBR22CB

22 −

+β+σ−β+σ−−−=

ou, incluindo em KCB a energia restante na voluta, tem-se finalmente:

( ) ( )( )g2

KKecantcosCcot)K1(CU2)K2(UH RotorCB2

22R22CBR22CB

22 +β+σ−β+σ−−−

= (32)

Os valores de C2R e U poderão ser expressos em função da geometria do rotor, da vazão total e da rotação, ou seja:

22R2

22 b.R..2

QCe

60

N.R..2U

π=

π= (33)

onde b é a largura do rotor7.

A equação (32) pode ser reescrita agrupando-se os termos invariáveis com a rotação e a vazão, como também os termos dependente dos ângulos, pois estes variam muito pouco com a rotação e vazão, ou seja:

22 CQBNQANH −−= (34)

onde: gKRA CB 7200/)2(4 22

2 −π=

( ) )K1(gb60/cotB CB22 −β+σ=

7 Largura do rotor é dada, no caso de bombas de rotor fechado, pela distância entre os discos que fixam as palhetas e, no caso de bombas de rotor aberto, pela a distância entre o disco que segura as palhetas e a parede oposta do corpo da bomba.

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30

( )( ) 222

2RotorCB2

22bRg8/KKecantcosC π+β+σ=

Com os resultados de A, B e C, determinados para mais de três rotações, é possível estabelecer o grau de variabilidade das constantes KCB, KRotor e ângulo de ataque (i) para aplicar a qualquer rotação diferente dessas.

As equações aqui geradas não são válidas, na sua totalidade, para bombas axiais, uma vez que, neste tipo de bomba, a sustentação causada pelas pás é preponderante. Desta feita não se terão curvas que sigam, na sua totalidade, as curvas aqui previstas.

Cabe ressaltar que quando se determina a equação 22 CQBNQANH −−= através de uma regressão, partindo de dados de uma curva de uma bomba fornecida pelo fabricante, o ajuste obtido, para o caso de bombas de alta rotação específica, não é satisfatório, indicando a inadequação desta sistemática para o estudo de bombas e ventiladores que possuam alta rotação específica.

5.5. Aplicações da variação de freqüência e limites de validade da equação.

A determinação de curvas de estrangulação para rotações diferentes daquelas fornecidas pelo fabricante pode ser realizada, simplesmente, através da aplicação de relações de semelhança entre máquinas hidráulicas, como se verá a seguir (equações 43). Porém, a utilização da equação (34), dá uma confiabilidade maior ao resultado, pois os erros nas constantes KBC, KROTOR, e σ poderão ser estimados em função do tipo de bomba.

A principal aplicação da modificação da curva de estrangulação com variação da rotação, está na otimização de sistemas de bombeamento operando com variação da rotação. Este procedimento fica é melhor ilustrado através de um exemplo.

Para uma curva de estrangulação de bomba correspondente à uma de suas rotações nominais (figura 31), retiram-se alguns pontos convenientemente escolhidos próximos ao ponto ótimo de funcionamento e próximo da região em que a bomba irá operar (tabela 1).

20 0 20 40 60 80 Q[m³/h]

30

H [m]

40 .=3550RPM

65%

72% 76,5%

75%

72% 65%

75%

Figura 31. Curva de estrangulação e pontos com diversos rendimentos para a rotação de 3550RPM.

Tabela 1. Pontos da curva de estrangulação de figura 31, para a rotação de 3550RPM.

Q[m³/s] 0 20 40 60 80 90

H[m] 37,2 37,0 35,1 31,5 26,3 23,1

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31

Com estes pontos, aplicando-se um método numérico conveniente, ajusta-se uma equação do tipo H=a+bQ-cQ2 (análoga à equação (34)), na qual a rotação está incorporada ao coeficiente de ajuste. Esta equação, após a obtenção dos coeficientes de ajuste, fica: H=37,2+0,02974Q-0,002075Q2 , expressão que representa a curva de estrangulação para a rotação considerada (3550RPM).

Partindo dos coeficientes a, b e c ajustados, estima-se o valor dos coeficientes A, B e C que definem a curva de estrangulação genérica da bomba (equação 34), os quais são independentes da rotação da bomba. Fazendo A= a/N²; B=b/N e C=c, a curva de estrangulação da bomba torna-se:

2626 002075,010378,810953,2 Q8Qx8xH −−= −− .

Determinada a expressão da curva de estrangulação genérica, calculam-se as curvas para diferentes rotações, fazendo variar as vazões (Tabela 2), as quais são representadas, graficamente, por um diagrama com todas as rotações (figura 32)

Tabela 2. Pontos de curvas de estrangulação para diversas rotações. H[m]

Q[m³/h] 4200RPM 3550RPM 3200RPM 2800RPM

0 52,09 37,2 30,24 23,15

20 51,96 37 29,94 22,79

40 50,18 35,1 27,99 20,77

60 46,73 31,5 24,38 17,09

71 44,13 21,69 14,36

80 41,63 26,3 19,10

90 38,45 23,1

106 32,51

Além das curvas de estrangulação, pode-se transladar os pontos de mesmo grau de rendimento das curvas fornecidas pelo fabricante para as outras curvas. Esta translação pode apresentar alguns problemas, sendo conveniente diminuir a eficiência em pontos mais distantes da curva original.

Supondo que esta bomba esteja recalcando água para um reservatório situado a 9,32m de altura em relação ao reservatório inferior, os quais se encontram ligados entre si por uma canalização simples com 110mm de diâmetro interno, 0,1mm de rugosidade equivalente nas paredes, comprimento de 550m, temperatura da água de 15°C e coeficiente de perda de carga localizada KS=15,0, pode-se estabelecer a curva da canalização.

Nessas condições a energia que a bomba deve fornecer ao sistema pode ser aproximada por uma equação do tipo:

9194,12 Q006350,0Q0006534,032,9H ++= (35)

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Traçando-se a curva da canalização sobre o diagrama que representa as curvas de estrangulação das bombas para diversas rotações (tabela 2), vê-se uma série de pontos de funcionamento, um para cada rotação. Calculando a potência necessária para recalcar um dado volume (no exemplo 500m3/dia), o tempo de funcionamento da bomba necessário para recalcar este volume, a potência exigida em cada rotação (calculada reduzindo-se o rendimento em 0,9 para as rotações de 4200RPM e de 2800RPM e em 0,95 para as de 3900RPM e de 3200RPM), tem-se os resultados conforme tabela 3.

20

10

0 0 20 40 60 80 100 Q[m³/h]

30

H [m]

40

50

.=3550RPM

.=3900RPM

.=3200RPM

.=2800RPM

65% 72%

75%

76%

75%

72%

.=4200RPM

Curva da canalização.

Figura 32. Curvas de estrangulação para diversas rotações.

A tabela 3 mostra que mesmo diminuindo o rendimento da bomba com rotações menores ter-se-á uma economia significativa de energia, pois com vazões maiores o conduto tem maior perda.

Tabela 3 Economia de energia para uma bomba funcionando com outras rotações que não a nominal.

Rotação Rendimento considerado

H [m]

Q [m³/s]

Tempo necessário para elevar 500m³

Potência (kW)

Potência anual

(kW.h)

Economia em relação a

3550RPM

2800 0,680 20,03 44,48 11,15 3,60 14700 26%

3200 0,720 25,38 55,31 9,04 5,28 17400 12%

3550 0,768 30,62 64,03 7,80 6,95 19800

3900 0,720 36,38 72,49 6,90 9,93 25000 -26%

4200 0,680 41,74 79,61 6,28 13,24 30400 -54%

O resultado pode parecer contraditório, pois, considerando que em outras rotações diferentes da rotação de maior rendimento (3550RPM), as rotações com rendimentos piores (2800RPM e 3200RPM) economizam mais energia. Isto ocorre pois o rendimento menor é compensado por uma perda de carga no conduto ainda menor.

A aplicação mais usual da metodologia de variar a energia consumida pelo sistema de bombeamento através da variação da rotação de funcionamento da bomba é apresentada na figura 33. Partindo da variação do consumo de água ao longo de um dia (gráfico superior à esquerda), criam-se diferentes cenários de recalque para satisfazer a demanda diária.

O recalque direto para o consumo deve ser evitado, o dimensionamento desta exige vazão e altura de recalque dimensionadas para o pico de consumo (vazão máxima). Além de numerosos problemas técnicos e operacionais surgidos com esta solução esta vazão de dimensionamento só ocorreria teoricamente um vez por dia (no dia de maior consumo no ano), trabalhando superdimensionada no restante do tempo.

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33

O primeiro cenário (gráfico superior à direita) regular-se a vazão pela média, de forma que o volume demandado nas horas de maior consumo seria suprido através de um volume estocado durante as horas de baixo consumo. Assim, o sistema de bombeamento deveria ter uma capacidade de reservação para suprir maiores necessidades de consumo. Quanto à questão energética, esta solução está entre boa e razoável, porém, a capacidade de reservação (representada pela maior área hachurada da segunda figura) é grande, tornando, muitas vezes, anti-econômica esta solução.

Vazão instantânea

Vazão média diária

Vazão recalcada

Vazão recalcada > Vazão consumida Reservatório enchendo.

Vazão recalcada < Vazão consumida Reservatório esvaziando.

Q1

Q2

QMédia

0 6 12 18 24 Tempo (h)

Vazão (m³/h)

Q1

Q2 Q1

Q2

Q1

Figura 33 Hidrograma diário de consumo de água com as vazões de recalque para manter o sistema abastecido.

O segundo cenário (gráfico inferior à esquerda) pressupõe o bombeamento de uma série de vazões, estabelecidas em função do consumo e do volume do reservatório de reservação. Quanto maior a capacidade de reservação, menor o número de intervalos de vazões a ser implementado. Por outro lado, se for implementado um número maior de intervalos de vazões, a capacidade de reservação necessária poderá cair a um valor extremamente baixo, reduzindo os custos de instalação.

O terceiro e último cenário (gráfico inferior à direita) produziria uma reservação mínima e um consumo de energia também mínimo, mas é limitado, muitas vezes, por problemas de acionamento elétrico do motor da bomba (número de partidas por hora das bombas).

Tanto para o segundo como o terceiro cenário é necessário a medida do volume do reservatório através da determinação do seu nível para regular a vazão. Quando o volume do reservatório está aumentando e chegou a um limite pré-estabelecido deve-se diminuir a vazão da bomba e no sentido inverso também. Este método pressupõe a existência de sensores de nível no reservatório e de um

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34

CLP8 para impor ao inversor de freqüência9 (=controlador ou conversor de freqüência) um novo nível de rotação.

Para o recalque de água tratada, tanto o segundo como o terceiro cenário, são factíveis. No caso de recalque de esgoto, deve-se optar por um menor armazenamento possível (terceiro cenário), evitando assim que o esgoto fique muito tempo parado no poço de sucção, o que poderá causar problemas higiênicos.

6. Semelhança em máquinas hidráulicas.

6.1. Conceito e relações de semelhança em máquinas hidráulicas.

O conceito de semelhança entre objetos e pessoas é mais ou menos intuitivo. Sabe-se que coisas ou seres são semelhantes quando guardam entre si uma identidade em comum que levam as pessoas a associá-los entre si. No caso de máquinas ou estruturas hidráulicas, este conceito tem ligação com um comportamento físico semelhante entre elas. Pode-se dizer que duas máquinas hidráulicas são semelhantes quando apresentam proporcionalidade entre o seu funcionamento dinâmico. Para tanto, sua geometria e seu comportamento cinemático também deverão respeitar esta proporcionalidade.

Não se substitui a palavra semelhança por mera proporcionalidade, pois o respeito de uma relação de proporcionalidade geométrica não é uma condição suficiente e, principalmente, em alguns casos (definição de rotação ou velocidade específico), não é uma condição necessária, para a existência de máquinas hidráulicas semelhantes.

Como uma primeira aproximação da idéia de máquinas hidráulicas semelhantes, partiremos de um caso mais simples, onde o primeiro pré-requisito é a semelhança geométrica. Neste caso, bombas ou turbinas hidraulicamente semelhantes deverão ter, como primeiro ponto para semelhança, a proporcionalidade geométrica. Esta proporcionalidade fará com que, além das dimensões serem proporcionais entre si, suas características correlatas deverão também ser levadas em conta. Assim, além de terem o corpo, o rotor e o difusor proporcionais em tamanho, as máquinas hidráulicas deverão ter o mesmo número e iguais ângulos de inclinação das palhetas. Os ângulos entre as bombas semelhantes não variam, pois, como um ângulo é dado por uma da razão de duas medidas lineares, eles são adimensionais.

A figura 34 mostra, esquematicamente, duas bombas com semelhança geométrica, na qual as proporções de B com b ou R com r e outras devem respeitar um valor único. Dessa condição de semelhança geométrica, obtêm-se a escala geométrica:

G2

2

1

1 L

b

B

r

R

r

Rλ====

l (36)

8 A sigla CLP significa Controlador Lógico Programável. O CLP é um controlador que executa funções lógicas (e outras mais) que podem ser definidas ou alteradas através de um programa. O CLP não executa somente funções lógicas, ele pode executar funções como temporização, contagem, seqüência, controle, etc. que variam de CLP para CLP.

9 Os inversores de freqüência são dispositivos eletrônicos que convertem a tensão da rede, de amplitude e freqüência constantes, em uma tensão de amplitude e freqüência variáveis. São usados em motores elétricos de indução trifásicos para substituir sistemas de variação de rotação mecânicos ou hidráulicos. Normalmente, os inversores são montados em painéis elétricos, sendo um dispositivo utilizado em larga escala na automação industrial. Também podem trabalhar em interfaces com computadores e centrais de comando.

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35

onde r e R são os raios dos rotores, b e B os diâmetros de saída l e L, as larguras dos rotores e λ G a escala de redução geométrica.

L

R1

R2

B

l

r1

r2

b

Bomba A Bomba B

Figura 34 Bombas hidráulicas com semelhança geométrica

.

Quanto aos rotores, a semelhança geométrica impõe o mesmo número e o mesmo ângulo de inclinação da palhetas:

α 1 = α 2

β 1 = β 2

R2

β1

α1

R1 r2

β2

α2r1

Figura 35. Relação de semelhança entre ângulos.

Além da condição de semelhança geométrica, impõe-se uma condição de semelhança cinemática para seguir na busca de duas máquinas homólogas. Dessa forma, as velocidades das partes móveis das máquinas (rotores) também deverão ser proporcionais. Esta proporcionalidade deverá ser mantida entre as velocidades do fluido tanto no interior do corpo como no rotor.

Chamando U e u, as velocidades do fluido que tangenciam a pá; W e w , as velocidades normais a mesma no ingresso ou de saída do rotor; e V e v, as velocidades resultantes, tem-se:

60n2

60N2

r

R

r

R

u

U

1

1

11

11

1

1

π

π

==Ω

onde Ω e Ω são as velocidades angulares de cada rotor, dadas pelo produto entre 2 π /60 e o número de rotações N e n expressos, respectivamente, em RPM.

Assim, por semelhança cinemática, obtemos a escala de redução de velocidades: NGG

2

1

2

2

1

1

n

N..........

u

U

v

V

v

Vλλ=λ==== (37)

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36

Admitindo-se que a vazão que passa pelo rotor, nas duas bombas, é dada por:

2112 VLRVAQ Φπ== (38)

2112 vrvaq Ψπ== l (39)

U2

W2

V2

V1

W1

U1

Figura 36. Diagrama de velocidades

onde Ψ e Φ são coeficientes de correção (0.95 a 0.90) e L é a largura da bomba em sua extremidade de saída;

sabendo-se que tanto R1 /r1 como L/l são iguais à escala de redução geométrica (λ G ), e que V2/v2 é igual ao produto da escala geométrica pela relação de rotações, a escala de redução das vazões assume a seguinte forma:

8GQq

Qou

v

VL

r

R

q

Qλλ==λ= 3

2

2

1

1

l (40)

A carga hidráulica pode ser definida como sendo proporcional à taquicarga (V2/2g). Considerando que a aceleração da gravidade é a mesma, tanto no modelo quanto no protótipo, a escala de redução das cargas fica:

2N

2G2

2

v

V

h

Hλλ== (41)

Pode causar estranheza a relação entre duas alturas não seguirem uma relação de escalas puramente geométrica. Para dirimir este aparente paradoxo, a carga hidráulica aqui considerada não se refere simplesmente a uma altura geométrica da instalação, mas sim à potência do fluido dividida pela vazão em peso, ficando implícita uma semelhança dinâmica para um fluido específico não aparecendo explicitamente o termo de massa. Basta lembrar que os termos da equação de Bernoulli expressam energia por vazão em peso, logo a escala definida na equação 41 está correta.

A potência consumida por uma bomba é dada pela potência da corrente líquida dividida pelo rendimento da bomba, ou seja:

ηρ

=H.Q.g.

PCons

Para o mesmo fluido (ρ=constante) e mesma aceleração da gravidade (g=constante), a relação entre potências de protótipo e modelo, escala de potências é expressa por:

ηη

λλ='

p

P 3N

5G

onde 'η é o rendimento da bomba com n rotações e η o rendimento da bomba com N rotações. Admitindo que os rendimentos das duas bombas sejam iguais, a relação (40) se restringe ao produto da escala de vazões com a escala de cargas, ou seja:

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37

3N

5Gp

Pλλ= (42)

As equações (35, 38, 39 e 40) acima obtidas são chamadas de relações de semelhança entre bombas centrífugas. Delas se conclui que as variações nas dimensões da bomba e na sua freqüência de rotação, influem consideravelmente sobre o valor da vazão bombeada, da carga hidráulica fornecida pela bomba e da potência por ela consumida.

Considerando que uma mesma bomba (λ G = 1) seja operada com diferentes rotações de funcionamento, nota-se uma alteração nas vazões, cargas e potências, variando segundo a escala de rotações, relação entre as rotações N e n. A alteração destas grandezas pode ser calculada através das expressões abaixo:

3N

2NN p

P;

h

H;

q

Qλ=λ=λ=

Em resumo:

Bombas (ou turbinas) hidraulicamente semelhantes implicam, além de semelhança na escala

de redução geométrica (λ G ), na existência de escalas derivadas para a velocidade, a vazão e a

potência em função da escala de redução de rotações (λ n ).

Note, também, que a escala geométrica (λ G) independe da escala de rotações (λ n).

Escala geométrica:

G2

2

1

1 L

b

B

r

R

r

Rλ====

l (43.a)

2121 e β=βα=α e o mesmo número de palhetas

Escalas cinemáticas:

vazõesde escalaq

Qq

es velocidadde escalaW

u

U

v

Vv

N3G

NG

→λλ==

→λλ=ω

=== (43.b)

Escalas dinâmicas (para mesmo fluido e rendimento):

potências de escalap

Pp

cargas de escalah

Hh

3N

5G

2N

2G

→λλ==

→λλ== (43 c)

6.2. Rotação ou Velocidade Específica de uma máquina hidráulica

Tanto as bombas como as turbinas podem ser agrupadas conforme um parâmetro que se denomina Rotação ou Velocidade Específica. Esse parâmetro permite estudar o comportamento das máquinas hidráulicas em grande grupos e a classificação das máquinas dinâmicas hidráulicas, como já visto nos itens 3.1, 3.2 e 3.3.

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38

A idéia de se definir um parâmetro universal que qualifique as máquinas hidráulicas, parte do conceito de estabelecer semelhança entre uma máquina dita real e uma máquina dita teórica. Fixando-se dois parâmetros da máquina teórica resta um terceiro que será determinado pela semelhança entre a real e teórica. O número, adimensional ou não, da “máquina teórica” gerado por este procedimento, dará um qualificativo único à máquina real, de tal forma que qualquer máquina que tenha este mesmo número é semelhante entre si.

Exemplificando, fixando-se uma vazão e uma carga unitária para “máquina teórica”, hidraulicamente semelhante à real, resulta na rotação que deveria ter a máquina teórica para que fosse satisfeito o critério de semelhança entre estas duas máquinas (teórica e real). Esta rotação é nomeada como Rotação ou Velocidade Específica e exclui a necessidade de se considerar uma semelhança geométrica entre máquinas hidráulicas. Assim sendo, quaisquer máquinas que tenham uma mesma Rotação ou Velocidade Específica são hidraulicamente semelhantes entre si.

A figura 37 mostra esquematicamente como se define a Rotação Específica de uma máquina hidráulica. Temos duas máquinas hidráulicas reais 1 e 2 cuja semelhança queremos testar. Comparando estas máquinas com a “máquina teórica”, determinamos, para cada uma delas, sua rotação (NT). Caso as rotações das máquinas reais sejam praticamente as mesmas, estas máquinas são ditas “Semelhantes”.

Máquina real 1 Q=Q1; H=H1 e N=N1.

Máquina real 2 Q=Q2; H=H2 e N=N2.

Máquina teórica 1 Q=1 e H=1.

Máquina teórica 2 Q=1 e H=1.

Semelhantes.

Semelhantes.

Rotação da máquina teórica

calculada por princípios de

semelhança de máquinas

hidráulicas.

NT1=Rotação calculada

NT2=Rotação calculada

Se NT1≡NT2 ∴ Máquina real 1 é semelhante a Máquina real 2 e NT1 = nS= Rotação ou velocidade específica das máquinas 1 e 2.

Figura 37 Esquema de determinação da rotação específica de uma máquina hidráulica.

A definição da Rotação ou Velocidade Específica (parâmetro universal para comparação entre máquinas hidráulicas) sem qualquer referência a suas dimensões geométricas, tem-se que trabalhar as equações que definem suas escalas de semelhança, visando gerar um número adimensional ou não, que inclua somente suas escalas de vazão, de carga e de rotação, excluindo a escala geométrica. Este número servirá como base para a classificação e comparação de bombas ou turbinas.

As relações entre as vazões e as alturas de duas máquinas hidráulicas são dadas por:

n3Gq

Qλλ= e 2

n2Gh

Hλλ= (44)

onde λ n = N/n; escala de rotações de cada uma das máquinas. Elevando a equação de semelhança de vazões ao quadrado e a equação de semelhança entre as alturas ao cubo tem-se:

2n

6G2

2

q

Q λλ= e 6

n6G3

3

h

Hλλ=

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39

Isolando a escala geométrica nas duas expressões anteriores e igualando-as:

6n

3

3

2n

2

2

h

H

q

Q

λ=

λ

Notando que Q/q = q (escala de vazões) e H/h = h (escala de alturas), a expressão anterior toma a seguinte forma:

4n

6n

2n

3

2

6n

3

2n

2 1

h

qou

hq

λ=

λ

λ=

λ=

λ (45)

Adotando como referência uma bomba com vazão q=1m3/s e altura de recalque h=1m (“máquina teórica”), as escalas ficam:

m

Hhe

sm

Qq

/1ˆ

3==

Substituindo q e h na expressão 45, obtêm-se:

4n

3

2 1

H

Q

λ=

contudo λ N = N/n, então :

4

4

3

2

N

n

H

Q=

extraindo a raiz quarta e isolando n, define-se a expressão para a rotação específica (ns), ou seja:

43S

H

QNn = (46)

Assim, a rotação específica é a rotação que deveria ter uma bomba (ou turbina) fictícia, que eleva uma vazão de 1m3/s à uma altura de 1m, para ser hidraulicamente semelhante a uma outra, com vazão Q, altura de recalque (ou queda) H e rotações N (RPM).

Outra forma de descrever a rotação específica é obtida tomando-se como padrão (“máquina teórica”) uma bomba (ou turbina) capaz de recalcar (ou turbinar) água numa altura de 1m consumindo uma potência de 1HP. Neste caso tem-se que a vazão recalcada é de :

7,7451*q*9789qhp =≅γ= (1HP≅745,7W)

Donde q=0,0762m3/s.

As escalas, então ficam : ( )sm0762,0

Q

q

Qq

3==

( )m1

Hh =

e, substituindo na equação 46, obtém-se :

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40

4

4s

3

3

2

2

N

n

H

1

0762,0

Q==

43sH

QN623,3n = (47)

Como anteriormente visto, a rotação específica permite agrupar as bombas em “famílias” de bombas, ou seja, bombas que, funcionando com vazão, potência e carga completamente diferentes, mas possuindo rotações ou velocidades específicas de mesma ordem, pertencem a mesma família de bombas. Assim, se uma bomba real (A) tem uma rotação específica de uma bomba virtual (B), e uma segunda bomba real (C) é equivalente a mesma bomba virtual (B), as bombas reais (A) e (C) são semelhantes e pertencem a mesma “família”.

6.3. Aplicações do conceito de rotação específica e semelhança entre máquinas hidráulicas

6.3.1. Seleção de uma turbina

A definição de um tipo de turbina implica em diferenças notáveis, tanto de funcionamento, quanto na própria casa de máquinas e nos condutos forçados que alimentam o sistema. Por exemplo, devido à presença de uma lâmina defletora, que pode ser colocada rapidamente frente ao jato de uma turbina tipo Pelton, é possível, numa parada de emergência da turbina, que se desvie rapidamente o jato do rotor da turbina e sem que seja necessário o fechamento rápido da válvula reguladora da potência, evitando, através dessa prática, o surgimento de transientes hidráulicos indesejáveis ao sistema. Este tipo de solução não é possível com turbinas tipo Francis. Logo, a definição antecipada do tipo de máquina hidráulica a empregar, permite a redução do custo e de tempo no projeto.

A rotação específica de uma turbina pode ser facilmente determinada conhecendo-se a vazão turbinada e a altura de queda (H= ∆ z-hp). A magnitude da rotação específica determina o tipo de turbina e a forma de seu rotor, permitindo seu pré-dimensionamento. A rotação específica dos diferentes tipos de turbinas é apresentada na tabela 4.

Tabela 4. Seleção do tipo de turbina segundo a rotação específica.

Rotação específica Tipo de Turbina

10 – 50 Pelton

80 – 400 Radial - axial: Francis

300 – 500 Fluxo misto (lâminas finas)

450 - 1200 Axial com palhetas ajustáveis: Kaplan

Quanto mais baixa a rotação específica, maior é a gama de valores de carga hidráulica para a qual a turbina é aplicável. Uma pré-escolha de turbinas, tendo por base a carga hidráulica (valores absolutos), é mostrada na figura 38. Este diagrama deve ser considerado com algumas reservas, pois quando se tem pequenas e médias usinas os limites das turbinas Pelton e Francis é estendido a valores mais baixos.

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41

1

100

Reação Impulsão

Tipos de turbinas

2000

1000

Fluxo Misto

Pelton

Radial-Axial(Francis)

Altura(m)

Axial

Figura 38. Seleção de turbinas com base a carga hidráulica.

No caso de aproveitamentos de grande porte, pode-se dizer, que turbinas de fluxo axial e turbinas de fluxo axial com palhetas ajustáveis (Kaplan ) são usadas com baixas cargas (abaixo de 70m). Cargas variando entre 40 e 200m, permitem o uso de turbinas de fluxo misto. Turbinas de fluxo radial-axial (Francis ) são usadas com cargas entre 40 e 700m e turbinas do tipo Pelton têm sua aplicabilidade para cargas acima de 400 m. Portanto, as turbinas de reação cobrem cargas variando entre 1 e 700m, enquanto que as de ação são aplicáveis a cargas acima de 400 m. Essa última classificação é relativa à vazão turbinada, podendo-se, em pequenos aproveitamentos com alturas de queda menores que 100 m e pequenas vazões, utilizar turbinas do tipo Pelton.

6.3.2. Seleção de bombas

Da mesma forma como as turbinas são selecionadas, as bombas também podem ser selecionadas em função da rotação específica ( ou velocidade específica real), conforme indica a tabela 2, na qual são fornecidas ainda as relações entre os diâmetros de entrada e de saída da bomba.

A importância da rotação específica reside no fato de que a mesma fornece um termo de comparação entre diversas bombas sob o ponto de vista da velocidade e de ser o seu valor decisivo na determinação do formato do rotor a empregar para atender a um número de rotações n, a uma descarga Q e a uma altura manométrica H. Assim, o valor da rotação específica ( η s) indica o tipo de turbobomba a empregar.

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42

Tabela 5. Seleção do tipo de bomba segundo a rotação específica

Rotação específica

Tipo de Bomba

Diâmetro rotor / Diâmetro de entrada

Classe Uso

60 – 90 Centrífuga 2,5 - 2,0 Lentas Pequenas descargas

90 – 130 Centrífuga 2,0 - 1,5 Normais Pequenas e médias descargas

130 – 220 Mista 1,8 - 1,3 Rápidas Médias descargas

220 – 440 Mista 1,5 - 1,3 Extra-rápidas Médias e grandes descargas

440 – 500 Mista 1.2 Helicoidais Grandes descargas

500 – 800 Fluxo Axial 1,0 - 0,8 Axiais Grandes descargas e pequenas

alturas.

6.3.3. Classificação das curvas características

Uma bomba, se bem dimensionada ou projetada, deverá possuir, em todas as suas características cinemáticas e dinâmicas, semelhança com outras bombas de mesma rotação específica. Separando-se as bombas em grupos com rotações específicas próximas umas das outras, nota-se a existência de três grandes grupos de bombas, denominadas famílias de bombas, que possuem curvas de estrangulação, rendimento e potência com configurações semelhantes.

A figura 39 esquematiza três famílias de bombas. A primeira família (bombas centrífugas) apresenta um rendimento crescente com o aumento da vazão da bomba e, algumas vezes, um ponto de máximo para as vazões médias. Essa primeira família de bombas é própria para instalações de alta pressão e pequena vazões (em termos relativos). Analisando a curva de NPSH, vê-se que a variação do nível da bomba com relação ao nível do reservatório inferior (afogamento) deverá ser decrescente com a vazão, podendo-se admitir uma variação quase linear. O limite ótimo de operação dessas bombas encontra-se aproximadamente na região do máximo de carga. Essas bombas são chamadas de bombas centrífugas propriamente ditas.

Q Q Q

H

H

H

P P

P

η

η η

Baixa Rotação Específica

Média Rotação Específica

Alta Rotação Específica

NPSH NPSH

NPSH

Figura 39. Famílias de bombas

A segunda família de bombas (bombas de fluxo misto) tem a curva de estrangulação decrescente com a vazão, a qual decresce quase que continuamente, podendo, em vazões médias, apresentar um discreto platô. Essas bombas tem o NPSH estável até vazões relativamente altas, para depois aumentar significativamente no extremo superior.

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43

A última família de bombas (bombas de fluxo axial) tem a queda da carga em função da vazão ainda mais acentuada que as anteriores, apresentando como característica notável um ponto de inflexão para médias vazões. Acima deste ponto de inflexão, está o limite estabilidade de funcionamento destas bombas, da mesma forma que a maior eficiência da máquina também está em altas vazões, obrigando que seu dimensionamento caia necessariamente nesta zona. As curvas de NPSH e potência requerida no eixo são crescentes para baixas vazões, reforçando o inconveniente de utilizar estas bombas fora da região de altas vazões.

6.3.4. Conversão de curvas características para diferentes rotações

A partir de curvas características conhecidas para uma bomba, pode-se determinar curvas características para outras condições de funcionamento da bomba, desde que a rotação específica não varie significativamente. Para a construção das novas curvas características, utiliza-se as relações de semelhança anteriormente determinadas.

Sejam, na figura 40, as curvas características de uma bomba para uma certa rotação N1, sendo apresentadas em linha sólida e referenciadas pelo sub-índice 1. Caso se deseje utilizar essa mesma bomba com outra rotação N2, pode-se reconstituir suas novas curvas características (na figura, em linha pontilhada e referenciada pelo sub-índice 2) aplicando as leis de semelhança como segue, considerando a escala geométrica igual a um, uma vez que a bomba não foi modificada.

2

1

212 N

NHH

= ;

=

1

212 N

NQQ

e 3

1

212 N

NPP

=

Q

H1

N2

η1η2

H2

N1

Figura 40. Exemplo de construção de novas curvas características para bombas.

Este tipo de procedimento resulta em condições análogas ao proposto no item 5.4, porém este tipo de solução (por semelhança) não permite a obtenção de uma curva contínua como proposto no item 5.4.

6.3.5. Observações finais sobre outros usos do conceito de rotação específica

O conceito de rotação específica também serve para verificar a possibilidade da existência de problemas de instabilidade no funcionamento de bombas e como o uso dessas bombas deve ser procurado, pois bombas com altas rotações específicas possuem alto rendimento (entre 0,80 e 0,87), o problema da instabilidade torna-se importante. A figura 41 mostra que a interseção entre a curva vazão x altura de recalque de uma bomba e a curva da canalização pode não ser única (curva da canalização é a curva formada pelo desnível geométrico de recalque e as perdas de carga na canalização para diferentes vazões).

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44

Q

H

η=87%

η=75%

Situação A : três condições de funcionamento

(INSTABILIDADE)

Situação B : uma condição de funcionamento

(ESTABILIDADE)

Canalização A

Canalização B

η=85%

Figura 41. Situações de regimes estável e instável de funcionamento de uma bomba com alta rotação específica.

7. Elementos básicos de uma instalação de recalque

Compete às fábricas de bombas projetar, testar e determinar as características hidráulicas das bombas centrífugas para que o engenheiro possa selecionar a bomba mais adequada à finalidade requerida, prever seu funcionamento e projetar as obras civis necessárias para sua instalação e operação nas melhores condições técnicas de eficiência, segurança e economia.

Para uma correta instalação de recalque deve considerado os seguintes elementos fundamentais:

- O conduto que conduz a água até o orifício de aspiração da bomba, denomina-se conduto de aspiração ou de sucção

10

- O conduto que recebe a água do orifício de recalque da bomba denomina-se conduto de recalque ou de compressão.

- A bomba.

- O motor de acionamento, chaves de comando, transformador, linhas de alta e de baixa tensão

Como elementos acessórios, que poderão ou não ocorrer numa instalação de recalque, tem-se:

- Órgãos diversos, tais como: registros de gaveta, válvula de retenção, válvula de pé, crivo, curvas, estreitamento gradual excêntrico ou não, alargamentos , etc...

10 Os condutos de aspiração não são necessariamente obrigatórios; bombas submersas não os possuem.

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45

Válvula de pé com crivo

Redução invertida.

Curva de raio longo

Conduto de aspiração

Redução excêntrica

Motor Transformador

Painel de comando com inversor de freqüência.

Registro

Válvula de retenção

Conduto de recalque

Alta tensão.

Baixa tensão.

ZI

ZBomba

6 0 0

Figura 42. Corte de uma de recalque com bomba não afogada.

ZI

ZBomba Crivo

Figura 43. Corte de uma instalação de recalque com bomba afogada.

As figuras 42 e 43 apresentam duas disposições típicas de uma instalação de recalque convencional com bombas de eixo horizontal. A figura 42 corresponde ao caso de uma bomba não afogada, ou seja, uma bomba em que a cota de seu eixo (no caso de bombas de eixo horizontal) ou da sucção da bomba (no caso de bombas de eixo vertical) está acima da superfície d’água do reservatório inferior. No caso das bombas afogadas, a cota do eixo está abaixo.

As instalações afogadas são mais fáceis de operar, na medida em que não é necessário procura manter cheio o conduto de aspiração no início do recalque, pois ele já está cheio, logo se deve, quando possível, manter a segunda configuração para as instalações de recalque.

8. Terminologia empregada em recalque

Para definir as alturas relevantes no cálculo de um sistema de recalque, lança-se mão de uma série de definições, as quais são, normalmente, empregadas com alguma confusão na literatura que trata de bombas. Para evitar uma ambigüidade na notação, sugere-se uma notação como apresentada na figura 44.

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46

8.1. Alturas geométricas

Toda as alturas geométricas características do sistema de recalque, mostradas na figura 44, partem das cotas físicas da superfície líquida do reservatório superior (zS), do reservatório inferior11 (zi) e do eixo da bomba ( Bz ).

Y=zs-zi : altura geométrica ou carga estática total

YR=zs-zB : altura geométrica de recalque ou carga estática de recalque

YA=zi-zB : altura geométrica de aspiração ou carga estática de aspiração

Quando zi >zB => YA>0 e diz-se que a bomba trabalha “afogada”

Quando zi<zB => YA <0

A relação entre as cargas estáticas é válida para qualquer caso, desde que a notação seja respeitada:

YR=Y+YA ou Y=YR-YA (48)

8.2. Alturas totais

Assim como as alturas geométricas, define-se as cargas (H=z+v2/2g+p/γ), pelas diferenças de cotas das linhas de energia em relação a outras cotas do mesmo gênero ou a cota do eixo da bomba.

H=zER-zEA : altura total ou carga total

HR=zER-zB : altura total de recalque

HA=zEA-zB : altura total de aspiração

onde zEA é a cota da linha de energia no fim do trecho de aspiração (depois que ocorre a perda de carga na aspiração) e zER é a cota da linha de energia no início do trecho de recalque (antes de haver a perda de carga no recalque).

Quando zEA> zB => HA>0 Quando zEA<zB => HA<0

De forma análoga à relação entre cargas estáticas, tem-se a seguinte relação entre as alturas totais:

HR = H + HA ou H = HR - HA (49)

11 O reservatório superior, necessariamente, não precisa estar situado em cota acima do reservatório inferior. Seria mais próprio chamar-se reservatório de jusante, porém, como a maior parte dos casos a cota das superfície da água do reservatório de jusante está acima da cota da linha d’água do reservatório de montante, convencionou-se chamar dessa forma.

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47

ZS

ZB

ZPA ZEA

YR

hpR

ZER

Y

YA ZI

ZPR

HR hR

h

Linha de Energia Linha Piezométrica

hA

hpA

HA

H

ZS

ZB ZPA

ZEA

hA

YR

hpR

ZER

Y

YA

ZI

ZPR

H

HR hR

h

HA

hpA

Figura 44. Elementos de um conjunto elevatório (bomba afogada e bomba não afogada).

8.3. Alturas manométricas

As alturas manométricas são definidas pela diferença entre as cotas das linhas piezométricas em relação a cota do eixo da bomba. Assim:

h = zPR - zPA : altura manométrica

hR = zPR - zB : altura manométrica de recalque

hA = zPA - zB : altura monométrica de aspiração

Quando zPA>zB => hA>0 Quando zPA<zB => hA<0

onde zPA é a cota da linha piezométrica no fim do trecho de aspiração (depois deste perder toda a sua energia) e zPR é a cota da linha piezométrica no início do trecho de recalque.

hR=h+hA ou h=hR-hA (50)

As alturas totais e as alturas manométricas só são iguais na aspiração e no recalque se os seus diâmetros forem iguais, o que normalmente não ocorre. Em geral, o diâmetro de recalque é menor do que o de aspiração.

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48

As seguintes relações complementares podem ser definidas a partir dos conceitos anteriores :

zEA=zi–hpA zPA=zEA–VA2/2g zER=zS+hpR zPR = zER - VB

2/ 2g

H=zER-zEA=zs+hpR-(zi-hpA) H=zs-zi+ hpR+ hpA

H=Y+hp (51)

A equação 51 é adotada para a determinação do ponto de funcionamento da bomba, como será visto a seguir.

A altura total de aspiração, expressão fundamental para o estudo da prevenção da cavitação no interior da bomba, que será estudada posteriormente, pode ser deduzida como:

HA=zEA-zB

zEA=zi -hpA

HA=zi-hpA-zB

HA=YA-hpA (52)

9. Determinação do ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga

A vazão que se estabelece em um conjunto de recalque depende da intersecção da curva característica da bomba (curva de estrangulação) com a curva característica da instalação, sendo esta última determinada pela curva de carga total (Y+hp) em função da vazão (Q).

A figura 45 mostra esquematicamente as linhas de energia e piezométricas do escoamento para uma vazão Q em uma instalação de recalque simplificada. Considerando que uma bomba recalca água de um reservatório inferior para outro reservatório, a energia a ser desenvolvida por ela será igual à diferença entre o valor da linha de energia (LE) na saída da bomba e a LE na entrada da mesma. Assim

H=HR-HA

Considerando também que HR e HA são, respectivamente, dados por:

HR=zi+Y+hpR e HA=zi-hpA

A carga hidráulica H resulta em:

∑+= hpYH (53)

onde Y é o desnível geométrico entre os reservatórios, Σhp é o somatório de todas as perdas no sistema (perdas de carga lineares e singulares no conduto de aspiração e perdas de carga lineares e singulares no conduto de recalque).

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49

Plano de referência

ZS

ZB

ZEA

hpR

ZER

Y

ZI

H

HR

HA

hpA

Linha de energia (LE)

Linha piezométrica (LP)

Figura 45. Desenvolvimento das linhas de energia e piezométrica numa instalação de recalque.

A determinação do ponto de funcionamento (ou de trabalho) da instalação de recalque baseia-se na equação 53. Se construirmos a curva Y+hp para a instalação, através do cálculo da perda de carga total para várias vazões apresentadas na curva de estrangulação do fabricante, obteremos a curva da

instalação (figura 46).

Q

H

Ponto defuncionamento

Curva característicada canalização

Curva característicada bombaY

Q1 Q2Q3

H1 H2

hp1

hp2

hp3

Figura 46. Curva característica da instalação

O ponto de intersecção entre a curva de estrangulação e a curva da canalização identifica o ponto de funcionamento do sistema. Cabe relembrar que a curva de estrangulação representa a variação da carga hidráulica que a bomba fornece ao sistema, enquanto que a curva da canalização representa a demanda de energia que a canalização exige para conduzir dada vazão. Portanto, no ponto de intersecção, a energia fornecida é igual aquela necessária para que dada vazão seja bombeada.

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50

Se a vazão de operação do sistema não coincide com a vazão do ponto de funcionamento desejado (H3;Q3) ocorre um ajuste no conjunto bomba-canalização (figura 46) que pode ser resumido como segue:

Caso a vazão for menor que a do ponto de funcionamento, (vazão Q1) o sistema exigirá menos energia que a energia disponibilizada pela bomba,Y+hp1<H1, logo a vazão tenderá a aumentar.

Caso a vazão for maior que a do ponto de funcionamento, (vazão Q2) o sistema exigirá mais energia que a energia disponibilizada pela bomba,Y+hp1>H1, logo a vazão tenderá a diminuir.

Este processo só tem um ponto de equilíbrio possível12, para a vazão Q3, onde o sistema exigirá a mesma energia do que a disponível pela bomba (Y+hp=H) satisfazendo a equação 53. Então, a vazão Q3 estabelecerá um regime permanente no conjunto elevatório, tendo o ponto de funcionamento as coordenadas (Q,H).

A potência útil da bomba é determinada por: PF = γ QH, sendo a potência consumida pela bomba expressa, conforme equação já estabelecida, por:

BB

FC

QHPP

ηγ

= (6.b)

Para facilitar os cálculos, uma vez que a vazão que se estabelecerá num sistema de bombeamento depende da curva da canalização, é possível determinar equações de interpolação das perdas. No caso das perdas lineares, a equação que a define pode ser manipulada de forma a escrevê-la em função apenas da vazão:

( )2

12

5222

22

linear Q.Const.fQ.Dg2

L.16.f

4Dg2

Q.

D

L.f

g2

V.

D

L.fhp =

π=

π==

onde o coeficiente de perda de carga ou é constante (escoamento turbulento rugoso) ou varia diretamente com a vazão (escoamento turbulento liso ou na zona de transição). A variação da perda linear com a vazão se ajusta bem a uma equação potencial do tipo:

Nlinear Q.Ahp = (54)

onde A e N são constantes a serem determinadas.

No caso das perdas localizadas, como elas se originam de equações do tipo ( )g2VKhp 2

Ssingular Σ= , sua expressão em termos da equação potencial acima apresentada, faz com

que o coeficiente N seja conhecido a priori (N=2). Assim, temos:

( )2

22

S522

52S

22

2

Ssingular Q.ConstQ.KDg

8Q.

Dg2

K.16

4Dg2

Q.Khp =Σ

π=

π

Σ=

πΣ=

o que nos leva a escrever a equação potencial, onde só uma constante deve ser determinada (A), como:

12 No caso de bombas de alta rotação específica, se elas forem mal dimensionadas, poderá haver mais de um ponto de funcionamento, porém isto deverá ser evitado.

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51

2singular .QAhp = (55)

A principal diferença entre as equações (54) e (55) está na origem dos coeficientes N e A, enquanto para a equação (55) os valores dos coeficientes são exatos (N é constante e igual a 2) e A é

dado diretamente por ( )52S DgK.8 πΣ , na equação (54) os valores de A e N deverão ser obtidos por

regressão linear, a partir de pontos calculados. A expressão NQ.A é uma aproximação que será tão melhor quanto mais próximos do ponto de funcionamento estiverem os pontos que deram origem aos coeficientes A e N.

O procedimento para obter A e N pode ser facilmente relatado como segue:

i) Escolhe-se, convenientemente, duas vazões que, de preferência, deverão estar uma acima e outra abaixo do ponto de funcionamento (Q1 e Q2).

ii) Para estas duas vazões, calculam-se as perdas (hp1 e hp2).

iii) De posse dos resultados, monta-se o seguinte sistema de equações.

Nlinear 11 Q.Ahp = N

22linear Q.Ahp =

Ou, aplicando sobre as equações o logaritmo e suas propriedades,

( ) ( ) ( )1linear Qln.NAlnhpln 1 += ( ) ( ) ( )22linear Qln.NAlnhpln +=

iv) Determinam-se os valores de A e N.

2

1

2linear

1linear

Qln

Qlnhpln

hpln

N = e ( )21

2linear1linear

QlnQlnN

hplnhplnAln.2

−−

= (56)

Um resultado correto deverá apresentar um expoente N variando entre 1,75 (turbulento liso) e 2,00 (turbulento rugoso), usualmente mais próximo de 1,90 (zona de transição).

LAROCK, JEPPSON & WATTERS (2000), sugerem que os valores das constantes sejam determinados pelas seguintes expressões:

25D.g

L.a.8Ab2N

π=−= (57.a)

onde as constantes a e b deverão ser determinadas por:

( )( )

b1

12

21 QfaQQln

fflnb == (57.b)

As equações (57) não são muito práticas, pois introduzem um cálculo a mais no processo de determinação de N e A e se o f calculado não corresponder aos coeficientes de perda de carga próximos ao ponto de funcionamento da bomba, os resultados tendem a distanciar-se do resultado real.

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52

10. Valor mínimo da altura geométrica de aspiração em instalação de recalque

10.1. Introdução

Durante o funcionamento de uma bomba centrífuga, em algum ponto da canalização ou internamente à bomba, poderá ser atingida uma pressão abaixo da pressão de vapor do fluido. Nesta situação, ou haverá ruptura de coluna13 ou haverá a ocorrência do fenômeno da cavitação, ambos causando problemas no funcionamento do sistema.

Na ocorrência de ruptura de coluna na canalização, os problemas de funcionamento serão facilmente detectáveis, pois ocorrerá separação da coluna líquida em duas fases: líquida e gasosa no interior da canalização, provocando o funcionamento da bomba em vazio (sem água) com conseqüentes danos ao sistema. Na segunda situação, cavitação no interior da bomba, este problema de mal funcionamento poderá passar despercebido, à medida em que o primeiro sintoma, a perda de rendimento do recalque, poderá ser atribuído a outros fatores. Neste último caso se não forem tomadas providências imediatas, a cavitação causará problemas estruturais no interior do rotor da bomba e, com o passar do tempo, esta poderá ficar completamente comprometida.

No caso de ruptura de coluna no conduto, deve-se avaliar a pressão nos pontos mais altos da rede, denominados usualmente como “colo alto”. Comparando-se o valor da pressão absoluta nestes pontos com a pressão de vapor do fluido em bombeamento. Caso a pressão absoluta seja inferior, ou mesmo próxima à pressão de vapor, deve-se alterar a configuração da linha.

Para determinar se há ou não tendência de cavitação dentro da bomba, o processo é mais complexo, sendo necessário conhecer a curva (ou tabela) do 8PSH

* requerido e contrapô-lo ao 8PSH

disponível na instalação. Para tanto, é preciso conhecer as condições de cavitação da instalação, as quais são influenciadas pelas seguintes variáveis:

* altitude do local;

* tensão de vapor saturado do líquido;

* perda de carga na tubulação de aspiração (hpA)

* desnível geométrico da aspiração (YA).

A seguir será examinado o papel de cada um destes fatores na prevenção da cavitação na bomba centrífuga.

a) Altitude da localidade onde se situa a instalação de recalque

O conhecimento da altitude média da localidade, acima do nível do mar, é necessário para a determinação da pressão atmosférica média, uma vez que para os cálculos de prevenção à cavitação se trabalhará com pressões absolutas. A expressão (58) permite o cálculo da pressão atmosférica média em função da pressão atmosférica ao nível do mar (p0) e da altitude (z) em metros, com suficiente precisão para o fim a que se destina.

( )8000zoz epp −= (58)

13 Separação da colina líquida em duas partes distintas pela vaporização do fluido entre estas partes.

* Net Positive Suction Head (carga líquida positiva de sucção)

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53

Os valores da pressão atmosférica (mm de mercúrio) e sua equivalência em metros de coluna de água a 4°C, em função da altitude média z são apresentados na tabela 6. Nesta tabela, a coluna (A) indica os valores da pressão atmosférica medidos, a coluna “Equação”, os valores calculados através da equação (58) e a coluna (%), os respectivos desvios relativos determinados pela relação entre os valores medidos e calculados.

Tabela 6. Valores da pressão atmosférica em diferentes altitudes

milímetros de mercúrio metros de coluna de água a 4º C Z (m)

(A) Equação (%) (A) Equação (%)

-325 790 792 0,3 10,74 10,76 0,2

0 760 760 0 10,33 10,33 0

340 730 728 0,3 9,92 9,90 0,2

690 700 697 0,4 9,52 9,48 0,4

1045 670 667 0,5 9,11 9,07 0,4

1420 640 636 0,6 8,70 8,65 0,6

1820 610 605 0,8 8,29 8,23 0,7

2240 580 574 1,0 7,88 7,81 0,9

2680 550 544 1,1 7,48 7,39 1,2

3140 520 513 1,4 7,07 6,98 1,3

b) Tensão ou pressão de vapor

Quando um líquido apresenta uma superfície livre, constantemente suas moléculas rompem a interface líquido - gás (tensão superficial), liberando para o meio externo moléculas de vapor do próprio líquido. Considerando que o espaço acima da superfície livre seja fechado, o acúmulo de moléculas evaporadas causa um aumento gradual da pressão que o vapor exerce sobre a superfície líquida. Ao atingir-se uma situação de equilíbrio entre as moléculas que abandonam o líquido e as moléculas que a ele retornam, diz-se que o vapor está saturado. A pressão parcial provocada pelas moléculas de vapor que se chocam com a superfície do líquido denomina-se tensão de vapor saturado.

A tensão de vapor saturado depende da natureza do líquido e aumenta com sua temperatura. Uma expressão empírica (equação 59) permite o cálculo da tensão de vapor saturado para a água, no intervalo de temperatura variando entre 4°C e 50°C, com erro relativo inferior a 4%.

[ ]362532v 10x591.610x372.210x867.510x834.5p θ+θ+θ+γ= −−−− (59)

onde pV é a tensão de vapor em Pascal (N/m2); γ é o peso específico da água em N/m3 a 4°C e θ é a temperatura da água em °C.

A tensão de vapor da água é normalmente expressa, em coluna de líquido, sendo dada pela relação entre a tensão de vapor e o peso específico da água:

γ= v

vp

h (60)

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54

A tensão de vapor da água a 4°C (ρ = 1000 kg/m3), em metros de coluna de água, é dada na tabela 4, na coluna (A). Note-se que a 100°C, a tensão de vapor saturado iguala a pressão atmosférica ao nível do mar. Entre 0°C e 100°C apresentam-se também os valores calculados pela expressão (59), bem como os erros relativos (R) cometidos com sua utilização.

Tabela 7 Tensão de vapor em metros de coluna de água

tensão de vapor

T ( °C ) (A) Equação R (%)

0 0,062 0,052 6,5

4 0,083 0,083 0

10 0,125 0,126 0,8

20 0,239 0,238 0,4

30 0,433 0,434 0,2

40 0,753 0,753 0

60 2,033 1,919 6

80 4,831 4,054 16

100 10,333 7,473 28

10.2. .oções sobre cavitação

O fenômeno da cavitação é o resultado do aumento do diâmetro das bolhas de gás e vapor dissolvidos no fluido e posterior diminuição rápida do diâmetro das mesmas (implosão), causando grandes pressões, as quais, atuando sobre pequenas áreas, podem provocar danos ao conduto ou à máquina hidráulica por onde ocorre o escoamento.

A descrição exata do fenômeno de implosão das bolhas pode ser vista em KRANENBURG (1973) ou BATCHELOR (1970) onde, através de uma análise dinâmica, chega-se à determinação de valores da sobrepressão causada pela implosão das bolhas. Em primeira aproximação, para a compreensão do fenômeno, pode-se lançar mão de uma análise simplificada do fenômeno, considerando que a dinâmica do processo da implosão de uma bolha possa ser expressa como sendo uma sucessão de estágios estáticos. Nesse tipo de abordagem, parte-se da equação de Laplace para a tensão superficial:

−σ=−=∆

21ei R

1

R

1ppp (61)

onde p∆ é a diferença de pressões entre a interface líquido-gás; pi é a pressão interna à interface; pe é a

pressão externa à interface; σ é o coeficiente de tensão superficial; R1 e R2 são os raios de curvatura (ortogonais) da superfície. Caso a bolha tenha um único diâmetro, a expressão 61 se simplifica para:

R

2ppp ei

σ=−=∆ (62)

No caso em estudo, a pressão interna ao raio de curvatura da bolha corresponde à pressão da mistura gás-vapor dentro da mesma, a qual é dada pela soma das pressões parciais desses dois constituintes. Substituindo, na expressão 62, a pressão interna expressa pela soma das pressões parciais de vapor (pv) e do gás (pg ) tem-se :

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55

R

2ppp

ouR

2pppp

vge

evg

σ−+=

σ=−+=∆

(63)

Como a pressão externa é um dado do problema, pois o escoamento principal fornecerá o valor dessa pressão, ter-se-á um ou mais valores de raios possíveis para a bolha. Caso não haja gás dissolvido, o raio da bolha fica expresso por :

R

2pp ev

σ=− (64)

A análise da expressão 64 nos indica que haverá igualdade entre a pressão externa (pe) e a pressão de vapor (pv) só ocorre quando o raio de curvatura for infinito (superfície plana). Por outro lado quando o raio de curvatura tende a zero, a diferença de pressões tende a infinito. Desta última observação vê-se que é inviável a criação de bolhas de bolhas de vapor para fluidos puros, portanto para a criação de bolhas de vapor é necessária a existência de bolhas de gases ou sujidades no fluido denominando-se estes de núcleos de condensação

14.

Figura 47. Núcleo de condensação.

Da prática, sabe-se que os diâmetros de bolhas de gás dissolvido variam desde 0,4x10-6m, em água parada, até 1x10-6m, em condições de laboratório. Conhecendo-se a tensão superficial, para esses diâmetros, pode-se calcular a diferença entre as pressões interna e externa, a qual varia entre 1,46 kN/m2 e 36,5 kN/m2.

Supondo que o gás dissolvido nos núcleos de condensação se comportem como um gás ideal, segundo as leis dos gases têm-se:

TNp bbg KV =

onde pg é a pressão parcial (absoluta) do gás ; Vb é o volume da bolha (Vb = 4/3 π R3 ); Nb é o número de móis de gás na bolha; K é a constante universal dos gases; T é a temperatura absoluta. Caso o gás sofra uma transformação isotérmica, a pressão será dada por uma constante.

3

3ig

g R

Rpp i= (65)

onde o índice i significa um instante inicial conhecido.

14 Micro-bolhas de gás, sujidades e pequenas reentrâncias ou saliências junto aos contornos sólidos com bolhas de gás aderidas a elas.

Núcleo

Volume de vapor acrescido ao núcleo

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56

Substituindo a pressão do gás da equação 65 na pressão da equação 64 têm-se:

)ppp(RpConde

R

2

R

Cpp

ieg3ig

3ve

iii∆+==

σ−+=

(66)

A equação 66, para uma pressão de vapor constante, é representada pela figura 48.

R

p e

p v R m

R n

R crít ico σ = 0

Valor

mín imo.

Figura 48. Variação do raio de curvatura de uma bolha de gás e vapor dissolvido num líquido em função da pressão externa.

Analisando-se, tanto a figura 48 quanto a equação 66, quando se parte no ramo esquerdo da curva inferior (raio inicial de bolha Rm) e se diminuiu a pressão externa, enquanto a bolha não atingir um valor crítico (RCrítico) esta terá a tendência de retornar ao valor inicial, no momento que haja um aumento da pressão externa. Caso o raio crítico for atingido, mesmo não havendo diminuição da pressão, haverá uma tendência do raio da bolha de gás aumentar infinitamente. Neste ramo da curva a bolha apresenta um comportamento instável.

No sentido inverso ao comentado no parágrafo anterior, se a bolha de vapor do líquido possuir um raio maior do que o raio crítico (ramo direito da curva inferior R>Rn>RCrítico), com o aumento da pressão a bolha tenderá a diminuir seu diâmetro. No momento que a bolha atingir um raio de mesmo valor que de uma bolha do lado esquerdo da curva (Rn=Rm), esta terá duas soluções para a mesma pressão, podendo sofrer uma violenta aceleração, com tendência à diminuição de seu diâmetro.

A partir dos dois parágrafos anteriores constata-se que após o surgimento das bolhas de vapor com a diminuição da pressão (primeiro parágrafo), ao se inverter o sentido de variação desta (aumento da pressão externa –segundo parágrafo), pode-se diminuir o raio da bolha atingindo uma situação instável (Rn=Rm), criando-se condições de ruptura brusca da bolha. 1

R

pe

2

3

Número de bolhas

pvRCRÍTICO

Figura 49. Diagrama de estabilidade de uma bolha que sofre divisão.

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57

A dinâmica da ruptura da bolha é bem mais complexa, pois, quando a bolha aumenta excessivamente o seu diâmetro, instabilidades secundárias rompem seu equilíbrio, fazendo com que ela se divida em duas ou mais bolhas. Nesse momento, o volume se altera, alternando o valor da constante C1 e criando um segundo caminho alternativo para a implosão da bolha, permitindo que ela imploda com pressões maiores do que aquelas definidas nas figuras 48 e 49.

Do anteriormente exposto pode-se concluir que:

a) há necessidade de núcleos de condensação para o surgimento da cavitação;

b) para que surja o efeito da cavitação, são necessárias pressões maiores do que a pressão de vapor do líquido;

c) se ocorre pressão abaixo da pressão crítica, a bolha aumentará de diâmetro enquanto a pressão for menor que a pressão de vapor do fluido;

d) havendo bolhas de cavitação e a pressão externa ultrapassando o valor da pressão de vapor do líquido, elas naturalmente implodirão.

É importante notar que os núcleos de condensação poderão ter por origem tanto bolhas de gás emulsionado no fluido, como rugosidades nas paredes que contenham gás ou vapor junto às cavidades. Portanto, materiais de superfícies irregulares têm tendência a provocar cavitações maiores do que os materiais lisos.

Deve-se também notar que o gás dissolvido no fluido muitas vezes apresenta um efeito benéfico em termos de evitar a cavitação, pois à medida que ele é aglutinado, as bolhas de vapor formam uma espécie de amortecedor que evita a implosão violenta da bolha de vapor.

Pode-se resumir a evolução do fenômeno de cavitação através da figura 50. Na zona 1, a pressão cai de um valor positivo pe1 até um valor pe2 , propiciando a formação de pequenas bolhas de vapor. Quando elas atingem a zona 2, a pressão sobe, porém o núcleo já atingiu a instabilidade. Na zona 3, reverte-se o momento do aumento da bolha, implodindo e provocando a corrosão junto às paredes pelo efeito mecânico dessas bolhas.

P e1

R 1

P e3 P e2 P

e1 P crit

p CRIT R crit

P e3

P e3

Zona 1 Zona 3 Zona 2

P e3

Zona 1

R 1 R crit1 R 2 R 3

R 2 R 3

Figura 50. Resumo da evolução do fenômeno de cavitação.

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58

10.3. Locais de ocorrência e conseqüências da cavitação

Nas turbinas de reação, a cavitação pode aparecer na saída do rotor, enquanto que nas bombas roto-dinâmicas, ela pode ocorrer na entrada do mesmo. Além da erosão que causa nas pás do rotor e no colapso da própria bomba centrífuga, a cavitação, persistindo por algum tempo, apresenta outros inconvenientes, a saber:

* alteração das curvas de estrangulação, a partir de uma vazão Q1 onde se inicia a cavitação (figura 51);

* alteração da curva de rendimento;

* ruídos como se o conduto estivesse transportando pedras;

* vibrações na bomba e canalizações.

Os ruídos e as vibrações são tão mais intensos quanto maior for a bomba centrífuga.

H

Q

Com cavitação

Sem cavitação

Q1

Figura 51. Alteração da curva de estrangulamento devido à cavitação.

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59

10.4. .PSH

A cavitação começa a ocorrer em um ponto qualquer (B) no interior de uma bomba centrífuga quando a pressão absoluta do líquido nesse ponto ( Bp ) iguala a tensão de vapor saturado (tv). Nessas

condições, haverá uma pressão determinada no orifício de aspiração da bomba ( Ap ). Sempre que a

pressão no orifício de aspiração for maior que o valor da pressão Bp , a pressão no ponto B será maior

do que a tensão de vapor ( VB tp > ) e não haverá cavitação na bomba.

O fabricante poderia fornecer, em função da vazão, o valor mínimo de Ap no orifício de aspiração para que não ocorresse cavitação. No entanto, em certas circunstâncias, na fase de escolha de uma bomba, não se conhece, à priori, o diâmetro de aspiração da mesma, fato que torna impossível o cálculo de Ap a partir das condições do trecho de sucção. Por esse motivo, o fabricante indica a carga absoluta mínima descontada a tensão de vapor saturado a ser mantida no orifício de aspiração da bomba, para que em seu interior não ocorra cavitação. Essa carga é chamada de NPSH requerido (NPSHR).

O cálculo do NPSHD disponível da instalação é agora estabelecido sem necessidade de se conhecer previamente o diâmetro de aspiração da bomba. O NPSH disponível no orifício de aspiração da bomba, calculado a partir das características instalação de bombeamento, é igual a :

vatm

AD hp

HNPSH −γ

+= (67)

sendo que a soma γ+ atmA pH é a carga absoluta na aspiração, já que HA é a altura total de aspiração e

definida como: HA= ZEA - ZB . Sabendo que a cota da linha de energia na aspiração (zEA) é a diferença entre a cota do reservatório inferior (zi) e a perda de carga na aspiração (hpA) e que o desnível geométrico de aspiração (YA) é a diferença entre a cota do reservatório inferior (zi) e a cota do eixo da bomba (zB), podemos escrever que:

vatm

AAD hp

hpYNPSH −γ

+−= (68)

A condição para que não haja cavitação é que o NPSH disponível na canalização seja igual ou maior do que o NPSH requerido pela bomba :

RD NPSHNPSH ≥ (69)

Assim, a condição de não cavitação pode ser expressa por :

RAvatm

A NPSHhphp

Y ≥−−γ

+ (70)

Da expressão anterior, deduz-se que existe um valor máximo da altura geométrica de aspiração para que não ocorra cavitação. Este valor é função de uma característica da bomba (NPSHR), da temperatura e da natureza do líquido, da altitude média da localidade e dos condutos e singularidades do trecho de sucção da instalação, os quais condicionam a perda de carga na aspiração, ou seja:

γ−++≥ atm

AvRA

phphNPSHY (71)

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60

Partindo da expressão do NPSH disponível na canalização (equação 71), explicitando alguns de seus termos e analisando-os em conjunto com a representação gráfica feita na figura 52, chega-se às seguintes conclusões :

a) diminuindo-se a cota do eixo da bomba, o NPSHD aumenta;

b) aumentando-se a cota da superfície livre do reservatório inferior, o NPHSD aumenta; (as duas condições anteriores podem ser sintetizadas em: aumentando-se o valor de YA, o NPSHD aumenta”)

c) diminuindo-se a perda de carga na aspiração, o NPSHD aumenta.

d) quanto maior for a temperatura do líquido, tanto maior será a tensão de vapor e, portanto, tanto menor será o NPSHD;

e) quanto maior for a altitude média da localidade onde se situa a instalação de recalque, menor será o valor da pressão atmosférica e, em conseqüência, o NPSHD.

AvDBatm

i

vatm

BAiD

vatm

BEAD

vatm

AD

hphNPSHzp

z

hp

zhpzNPSH

hp

zzNPSH

hp

HNPSH

+++=γ

+

−γ

+−−=

−γ

+−=

−γ

+=

NPSHD (carga absoluta na aspiração acima da tensão de vapor)

Patm γ

hp 1

h v Linha de Energia Absoluta

Z B Z A

Plano de Referência

Plano de carga absoluta

Carga absoluta na aspiração

Figura 52. Esquema para análise do conceito de NPSH.

11. Traçado de curvas de sistema e de curvas de bombas.

Conforme o número de bombas e de condutos (em série ou paralelo) que constituem o sistema de recalque, obtém-se uma curva do sistema de condutos, a qual deverá interceptar a curva de estrangulação da bomba (ou do conjunto de bombas), para que seja determinado seu ponto de funcionamento. A seguir são detalhadas algumas configurações de recalque.

11.1. Instalação simples de recalque.

O procedimento apresentado no item 9 para a determinação do ponto de funcionamento de uma bomba, é válido apenas para uma canalização simples, que conduza o fluído para um reservatório situado em nível superior ao nível do reservatório inferior. Neste caso, estando a bomba afogada ou não, a curva terá a mesma forma, só variando o desnível entre reservatórios (figura 54). Por exemplo, no primeiro caso (bomba afogada), o desnível é menor que no segundo caso (bomba livre).

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61

ZS hp

Y1

ZI H

hpA

Linha de Energia

Y2

ZS hp

ZI H

hpA

Figura 53. Esquema de instalações simples de recalque: afogada e livre.

A tabela 8 mostra o cálculo da estação de recalque, que bombeia água a temperatura de 20°C de um reservatório a outro, representada na figura 54. Duas situações de altura geométrica de recalque são testadas YTotal1=43,00m e YTotal12=51,00m. O conduto de aspiração é de ferro fundido (e=0,5mm) e o de recalque de aço revestido internamente com tinta epóxi (ε=0,06mm). Os demais dados do sistema estão apresentados na tabela 8 ou figura 55. A curva de estrangulação da bomba permite uma vazão máxima de 120m³/h (figura 55).

43,00m ou

51,00m

ΦAspiração=150mm. LAspiração=15m. εAspiração=0,5mm. KS=10

ΦRecalque=125mm. LRecalque=150m. εRecalque=0,06mm. KS=15

Figura 54. Exemplo de um sistema de recalque de uma bomba.

Tabela 8. Exemplo de cálculo de uma instalação simples com duas alturas de recalque. Diâmetro (mm) Comprimento (m) Rugosidade (mm) ΣKS (adimensional) Área (m2) K/(36002*2gA2)

Aspiração 150 15 0,5 10 0,0177 0,0001256

Recalque 125 150 0,06 15 0,0123 0,0003901

Q[m3/h] 20 40 60 80 100 120

VA[m/s] 0,31 0,63 0,94 1,26 1,57 1,88

VR[m/s] 0,45 0,90 1,36 1,81 2,26 2,71

hpSA 0,05 0,20 0,45 0,80 1,26 1,81

hpSR 0,16 0,62 1,40 2,50 3,90 5,62

JLA 9,842E-04 3,788E-03 8,402E-03 1,483E-02 2,306E-02 3,311E-02

JLR 1,831E-03 6,631E-03 1,425E-02 2,467E-02 3,787E-02 5,384E-02

hpLA 0,01 0,06 0,13 0,22 0,35 0,50

hpLR 0,27 0,99 2,14 3,70 5,68 8,08

YTotal1 43,00 43,00 43,00 43,00 43,00 43,00

YTotal1 55,00 55,00 55,00 55,00 55,00 55,00

H1 43,49 44,87 47,12 50,22 54,19 59,01

H2 55,49 56,87 59,12 62,22 66,19 71,01

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62

A tabela 8 mostra o cálculo das grandezas hidráulicas (velocidades médias – V, perdas singulares – hps, perdas unitárias – J , perdas lineares – hpl, tanto na aspiração - A quanto no recalque -R) para cinco possíveis vazões bombeamento. Com esses valores, determinam-se as curvas da canalização correspondentes às duas alturas geométricas (Y) propostas (43 e 55m). Cabe ressaltar que, para as duas alturas geométricas em análise, o cálculo das perdas pode ser único, desde que se considere as mesmas características da canalização e as mesmas vazões. Com as perdas e as alturas geométricas determinam-se as cargas hidráulicas (H) sobre a bomba com diferentes vazões (Q), ou seja as curvas dos sistemas. As curvas do sistema calculadas são apresentadas na tabela 9 e são representas graficamente na figura 56.

Tabela 9. Curvas da canalização de uma instalação simples com duas alturas de recalque Q[m3/h] 20 40 60 80 100 120

H1 43,49 44,87 47,12 50,22 54,19 59,01

H2 55,49 56,87 59,12 62,22 66,19 71,01

Conforme a figura 55, para as duas alturas geométricas consideradas, as curvas da canalização, correspondentes aos dois desníveis entre reservatórios, resultam em curvas paralelas, que cruzam a curva de estrangulação da bomba em diferentes pontos, ou seja, (Hm1=57,8m; Q1=111,5m3/s) e (Hm2=67,5m; Q2=89,5m3/s).

50

25

0

0 20 40 60 80 100 120 Q[m³/h]

75

H [m]

Situação 1

Curva da Bomba

Curva do conduto: situação 1 , Y=43,00m

Curva do conduto: situação 2, Y=55,00m

Ponto de funcionamento

Situação 2

Figura 55. Curvas do sistema de recalque simples para duas alturas geométricas (YA=55,00m e YB=43,00m).

Caso a posição relativa dos reservatórios sejam diferentes, a curva do sistema simplesmente será transladada para cima ou para baixo, conforme mostra a figura 56. Na situação A, o desnível geométrico Y é positivo, na situação B, nulo e na situação C negativo.

Conforme a figura 56, os três tipos de posição relativa dos reservatórios resultam, cada um deles, em um diferente ponto de funcionamento da bomba. Supondo que os diâmetros, rugosidades, comprimentos e singularidades dos condutos de recalque e aspiração sejam iguais e que a bomba seja a mesma, a vazão será crescente do sistema (A) ao (C). Isto se deve ao deslocamento relativo do ponto de intersecção da curva de perda de carga com a curva da bomba.

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63

Destaca-se que, à medida que a curva do sistema se desloca mais para a direita, poderá haver problemas no funcionamento da bomba, pois ela poderá passar abaixo da curva da bomba.

Q

H

Y

Q

H

Y

(A)

(C)

(B)

Q

H

Y=0

ZS

ZI Y

ZS ZI

ZS ZI

Y

Figura 56. Influência da posição relativa dos reservatórios no ponto de funcionamento da bomba.

11.2. Associação de bombas em série.

O uso de bombas em série não é muito recomendado, só se justificando quando numa instalação existente não há uma pressão suficiente na linha de recalque, por exemplo pode-se ter um sistema com distribuição de água ao longo da linha (distribuição em percurso15), em que se queira aumentar tanto a vazão como a pressão da rede.

Outra situação tolerada para o emprego de bombas em série é quando com bombas de um rotor não se atinge a pressão necessária. Com bombas de um só rotor o aumento da pressão é proporcional à relação entre os diâmetros de saída e de entrada e a rotação. Para aumentar a pressão acima de determinados valores seria necessário um grande aumento do diâmetro externo e/ou um aumento na rotação, podendo-se ultrapassar os limites de esforços mecânicos toleráveis usuais em máquinas hidráulicas. Isto limita a utilização de máquinas hidráulicas com rotor único. Para superar este problema pode-se empregar bombas em série ou o mais aconselhado é utilizar bombas de múltiplos estágios, o que é análogo ao uso de duas ou mais bombas em série.

A figura 57 representa dois esquemas de bombas em série e uma bomba de dois estágios. No primeiro esquema, distribuição em percurso, uma segunda bomba está conectada num ponto intermediário do conduto de recalque. Esta solução tem como desvantagem o fato da segunda bomba estar mais sujeita à cavitação do que a primeira bomba, pois a primeira poderá apresentar problemas e não fornecer a pressão mínima para que a segunda não cavite .

15 Quando ao longo de um conduto de recalque retira-se parte da vazão para consumo, denomina-se distribuição em percurso.

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64

Y hp2

hp1

HB1

hp3

HB

Y hp2

hp1

HB1

hp3 HB2

Y

hp1

hp3

H

Figura 57. Esquemas de bombas em série.

O segundo esquema também pode ser considerado como uma solução não aconselhada, devendo ser substituído pelo sistema de bomba de múltiplo estágio16, mesmo assim excepcionalmente pode-se adotá-lo, pois este esquema é um pouco mais conveniente que o anterior, pois os dois motores das bombas podem trabalhar sobre a mesma alimentação elétrica de tal forma que no momento que um pára o outro também irá parar, evitando problemas de cavitação.

A figura 58 representa curvas de estrangulação para a associação de bombas iguais em série, apresentando as curvas para uma, duas e três bombas. Para o caso de duas bombas, a curva resultante é obtida simplesmente duplicando-se o valor de H para cada vazão. Nota-se que esquemas em série para bombas de alta rotação específica a zona de instabilidade (possibilidade de um mesma altura com duas vazões) se amplia, devendo-se tomar cuidado com este tipo de associação de bombas.

16 Bombas com sucessão de rotores acionadas pelo mesmo eixo, cada rotor funciona como uma bomba individual e a soma da ação dos mesmos como bombas em paralelo.

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65

Curva de estrangulação

Uma bomba

Duas bombas em série

Tres bombas em série

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10 400 600 300 500 200 100 800 700 0

65

55

60

50

45

40

Zonas de instabilidade

Figura 58. Curva de estrangulação para bombas em série.

O desempenho resultante da superposição das curvas das bombas em série pode se resumir como segue:

=

=

SistemaB

SistemaB

QQ

bombasden

HH

º (72)

11.3. Associação de bombas em paralelo.

Quando se colocam bombas funcionando em paralelo, divide-se a vazão entre as bombas. Este tipo de disposição de bombas é muito comum em sistemas de grande e médio porte. Suas vantagens em relação a um sistema com uma só bomba ativa (com uma de reserva) são inúmeras, podendo-se destacar as seguintes:

i) Como a demanda geralmente não é constante ao longo do tempo, nos momentos em que ela for menor do que a vazão de dimensionamento, poder-se-á utilizar uma parte do sistema de recalque sem a necessidade de equipamentos especiais.

ii) Em muitos sistemas de recalque se supõe uma vazão crescente com o tempo, dimensionando-se o conjunto total das bombas para a vazão máxima que deverá ocorrer no fim do horizonte de cálculo. Logo no início do funcionamento quando a vazão necessária será menor, coloca-se em marcha um número menor de bombas que o previsto para o fim do período (os trinta anos).

iii) Uma bomba de reserva sempre é necessária para a garantia do sistema, caso se trabalhar com duas ou mais bombas e paralelo a potência da bomba reserva será inferior do que a bomba reserva de um sistema com uma bomba para recalcar toda a vazão.

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66

iv) Ao se adquirir bombas de menor vazão em maior número do que uma só bomba de grandes dimensões, pode-se cair numa bomba que é encontrada no mercado, sem a necessidade de fabricação de bombas especiais. Na aquisição de bombas, muitas vezes o princípio de se obter economia de escala ao empregar equipamentos maiores, não se aplica, isto ocorre pois, à medida que bombas de menor porte são equipamentos fabricados em larga escala, as de maior porte são fabricadas sob encomenda (a variação do preço não é linear com a vazão). Além disto, para bombas de menor porte, encontram-se com mais facilidade peças de reposição.

A disposição geométrica de um sistema com bombas em paralelo é mostrada na figura 59. As bombas deverão ser colocadas lado a lado unidas por um barrilete que deve, através do aumento do seu diâmetro, procurar manter a velocidade constante dentro do conduto. A interligação entre as bombas e o barrilete deve ser feita em ângulo de 45° para diminuir a perda localizada. Em cada bomba deve ser colocada uma válvula de retenção para evitar o refluxo sobre as bombas que estiverem desligadas.

Bomba

Redução

Válvula de retenção

Curva 45°

Registro (com pequena perda localizada)

Derivação a 45°. Redução invertida

Barrilete

Figura 59. Vista Frontal de um sistema de bombas em paralelo.

Qualquer sistema de recalque deve ter uma bomba de reserva e, no caso de sistemas em paralelo, a bomba que fica em reserva não deverá ser sempre a mesma, sendo conveniente alterar a bomba que cumpre esta função evitando que, no momento em que se uma das bombas estrague a reserva não esteja parada há muito tempo e danificada.

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67

Curva para uma bomba

Curva para duas bombas

Curva para três bombas

Q (m³/h)

H (m)

40 60 80 100 0

20

20

30

10

ααααI ααααII ααααIII

ββββI ββββII ββββIII

χχχχI χχχχII χχχχIII

Figura 60. Curva resultante da associação de bombas em paralelo.

O cálculo da curva de estrangulação de bombas trabalhando em paralelo é feito conservando a altura manométrica de uma bomba (quando as bombas em paralelo forem iguais) e somando a vazões das bombas em cada altura. A figura 60 mostra como, a partir de três pontos αI, βI e χI da curva de uma bomba, traçam-se as curvas para duas e três bombas em paralelo, o que é obtido simplesmente conservando a altura e multiplicando a vazão pelo número de bombas.

A retirada dos pontos da curva de estrangulação de uma bomba e posterior determinação da curva de estrangulação do sistema em paralelo é apresentado nas figuras 61 e 62 e na tabela 10.

400 600 300 500 200 100 800 700 0

35

25

30

20

15

10

230

250

220

238

265258

78,0

83,0

83,0

80,5

8 5,5

85,5

86,0

48,0 63,0 58,0

68,0 73,0

73,0

78,0 80,5

2 6, 15

21,70

526,5200,0 650,0

32,43

H (m) 17750RPM

Q (m³/h)

Figura 61. Obtenção dos valores da curva de estrangulação de uma bomba.

A soma das vazões das bombas pode ser feita de forma aritmética, conforme tabela 10, ou gráfica, conforme figura 62.

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68

Tabela 10 Cálculo de bombas em paralelo.

Vazão (m³/h)

para o número de bombas H(m)

1 2 3

32,43 200,0 400,0 600,0

26,15 526,5 1053,0 1579,5

21,70 650,0 1300,0 1950,0

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10 400 600 300 500 200 100 800 700 0 1200 1400 1100 1300 1000 900 1600 1500 2000 1900 2100 1800 1700

17750RPM

Figura 62. Cálculo gráfico de bombas em paralelo.

Além dos cálculos aritmético e gráfico, é possível a determinação analítica da curva resultante de uma associação de bombas em paralelo, empregando-se as equações da curva de estrangulação das bombas. Como as curvas de estrangulação das bombas são bem representadas por uma equação do tipo

22 CQBNQANH −−= (equação 34), basta alterar os coeficientes BN− e C , por múltiplos conforme o número de bombas, dividindo BN− pelo número de bombas e C por este número ao quadrado, obtendo-se, desta forma, as curvas de estrangulação do sistema de bombas em paralelo.

A tabela 10 mostra os valores de (H;Q) retirados curva de estrangulação de uma bomba (figura 61) e os valores das vazões para diferentes números de bombas em paralelo. A partir dos pontos da curva de estrangulação de uma só bomba centrífuga (rotor de 265mm), multiplicam-se as vazões pelo número de bombas obtém-se os pontos para as bombas em paralelo.

Na figura 62, resolveu-se, através do método gráfico anteriormente descrito, as curvas das bombas em paralelo. Extraiu-se desse gráfico os pontos destas curvas e determina-se as equações de cada curva, como se vê na tabela 11.

Tabela 11 Equações para Bombas em Paralelo (Vazões em m³/s).

Número de Bombas Equação

1 H = -483,78Q² + 28,387Q + 32,346

2 H = -120,95Q² + 14,193Q + 32,346

3 H = -53,754 Q² + 9,4623Q + 32,346

Nesta última tabela, vê-se que os coeficientes correspondem às relações acima descritas. Por exemplo, -BN que é -28,387 passa para duas e três bombas para 14,193 e 9,4623, respectivamente.

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69

A figura 63 representa os pontos obtidos pela multiplicação da vazão pelo número de bombas e os gráficos obtidos pelas curvas modificadas, conforme a sistemática descrita. A concordância, como era de se esperar é perfeita.

0

5

10

15

20

25

30

35

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Vazão (m³/s)

Altura (m)

Uma Bomba (pontos lidos)

Duas Bombas (pontos lidos)

Tres Bombas (pontos lidos)

Uma Bomba (Equação)

Duas Bombas (Equação)

Tres Bombas (Equação)

Figura 63. Gráfico demonstrativo da diferença do cálculo gráfico do analítico.

O desempenho resultante da superposição das curvas das bombas em paralelo se pode resumir como segue:

=

=

bombasden

QQ

HH

SistemaB

SistemaB

º

(73)

Um dos poucos inconvenientes que podem surgir na operação de bombas em paralelo é detalhado na figura 64. A escolha da bomba é geralmente feita para que o conjunto trabalhe com a máxima eficiência, conseqüentemente, a curva da canalização deve cruzar com as curvas de estrangulação das bombas funcionando em paralelo próximo à região de maior eficiência (ponto A da figura 64, com eficiência em torno de 76%). Caso se necessite uma vazão menor, é possível utilizar um número menor de bombas em funcionamento (no caso da figura, duas ou uma bomba), contudo, esta configuração leva a rendimentos bem menores (pontos B e C da figura 64, com eficiência em torno de 54% e menor que 50%, respectivamente) que comprometem em parte a eficiência do sistema.

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70

H (m)

Q (m³/h)

35

25

30

20

15

10

400 600 200 800 0 1200 1400 1000 1600 2000 1800

17750RPM

A

B

C

75% 78%

75%

65%

65%

50%

50%

50%

75%

Figura 64 Problema na operação de bombas em paralelo.

Para evitar a queda de rendimento do sistema em função do número de bombas em operação, pode-se adotar duas soluções, a seguir detalhadas:

i) Estrangular o sistema, fechando as válvulas colocadas no conduto de recalque.

ii) Baixar a rotação do sistema, “criando” uma nova bomba de rotação menor e curva de estrangulação mais baixa (menores alturas de recalque para mesma vazão).

A primeira solução é simples e econômica, em termos de implantação do sistema, mas cabe relembrar que ocorre um aumento da perda de energia no recalque (aumento de custo de manutenção) e, todas as vezes que se trabalha com o sistema completo, é necessário eliminar-se o estrangulamento provocado pelo fechamento das válvula.

A segunda solução, atualmente empregada em projetos em que se colocam inversores de freqüência, é a mais correta em termos operacionais e mais econômica em termos de consumo de energia. Tem como única desvantagem a necessidade de se colocar em cada bomba (ou no sistema como um todo) inversores de freqüência, onerando o investimento inicial.

11.4. Problemas de uso de bombas diferentes em série e em paralelo.

Quando se compõe bombas, em série ou em paralelo, é conveniente que estas possuam curvas idênticas. Entretanto, em condições especiais, admite-se a utilização de bombas com curvas diferentes. A associação de bombas com diferentes curvas de estrangulação e seus problemas de operação serão detalhados a seguir:

11.4.1. Bombas diferentes em série.

Para que bombas diferentes montadas em série tenham um bom funcionamento, as vazões máximas de funcionamento de cada bomba deverão possuir o mesmo valor, conforme se verá a seguir, caso isto não ocorra, o funcionamento das duas bombas poderá se tornar instável ou não efetivo.

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71

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B (região efetiva de funcionamento).

Bomba A+B (região de instável).

Bomba A+B (região de funcionamento, só Bomba B).

Curva da canalização.

P1

P2

P3

Primeira região.

Segunda região.

Terceira região

Figura 65. Associação em série de bombas com curvas diferentes.

A figura 65 mostra a associação de duas bombas com diferentes curvas: a Bomba A, de menor capacidade de vazão, e a Bomba B. Para essa associação geram-se três regiões distintas de funcionamento: uma primeira, em que as curvas das bombas simplesmente sobrepõem-se aumentando a pressão do escoamento, uma segunda região em que há possibilidades de surgimento de instabilidades e uma terceira, em que a Bomba A não tem atuação sobre o fluxo, diminuindo a capacidade de bombeamento da Bomba B, na medida em que a Bomba A atua como um dissipador de energia. Em resumo, dos pontos de provável funcionamento, pontos P1, P2 e P3 da figura, somente o ponto P1 é um ponto de funcionamento aceito. Nos outros, o rendimento seria menor do que o de uma bomba funcionando sozinha (P3) ou apresentam um comportamento instável (P2).

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 66. Associação em série de bombas com curvas com mesma vazão máxima.

A conseqüência das últimas conclusões obtidas da figura 65, é que bombas operando em série com diferentes vazões máximas de funcionamento tem fortes chances de instabilização. Já se as bombas possuírem mesma vazão máxima, figura 66, independente das alturas manométricas de cada uma, não haverá problema.

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72

11.4.2. Bombas diferentes em paralelo.

Análogo ao item anterior, as bombas em paralelo também apresentarão problemas quando não possuírem a mesma curva de estrangulação. A figura 67 ilustra o caso de duas bombas com curvas de estrangulação diferentes associadas em paralelo.

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 67. Associação em paralelo de bombas com curvas diferentes.

O ponto P1, indicado na figura 67, é um ponto de funcionamento viável para instalação, pois ele aproveita a energia das duas bombas. No ponto P2 a única bomba que trabalhará efetivamente será a Bomba A, ficando a bomba B bloqueada como se estivesse na presença de um registro fechado. Em sistemas de bombeamento sem válvulas de retenção, caso existirem situações como a do ponto P2, haverá refluxo de água pela bomba de menor altura manométrica, esta situação causará um aumento no consumo de energia sem gerar trabalho.

Da mesma forma que nas bombas em série, pode-se associar, em paralelo, bombas com curvas de estrangulação diferentes, desde que as suas pressões máximas para Q=0 (pressão de “shut-off”) sejam iguais, conforme se vê na figura 68.

H

Q

Bomba A.

Bomba B.

Bomba A+B

Curva da canalização.

P1

P2

Figura 68. Bombas em paralelo com curvas diferentes e mesma pressão de “shut off”.

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73

12. Roteiro sucinto para escolha de uma bomba.

A escolha de uma bomba, geralmente, não é um problema dado como fechado, no qual a altura manométrica e a vazão são conhecidas a priori. Os dados de entrada de um problema desse tipo são usualmente dados bem genéricos para início de cálculo. A seguir será apresentado um roteiro de escolha de bombas, seguindo a prática usual quando se trata de bombas para abastecimento público. Em situações industriais, tem-se procedimento análogo ao resumo a seguir descrito.

12.1. Dados de entrada.

Os dados de entrada são geralmente fornecidos pelo contratante que, necessariamente, não precisa se preocupar com o problema hidráulico. Os dados de entrada são a descrição do tipo de recalque, as demandas hídricas e uma planta de situação e localização mostrando os prováveis pontos de captação e o ponto final do recalque. Pode-se detalhar estes itens como segue:

i) Natureza do fluido (tipo de fluido recalcado - água bruta, esgoto, etc.): em função do fluido recalcado deve-se escolher a família de bombas a ser empregada (bombas de rotor aberto, bombas com revestimento interno especial, etc,). Conforme a natureza do fluido também deve-se escolher os equipamentos de proteção ao golpe, por exemplo, sistemas de recalque de esgoto não poderão utilizar tanques fechados para proteção ao golpe, evitando assim a acumulação de gases que possam explodir.

ii) Demanda (volume por dia a ser recalcado) ou a vazão: o período de tempo de funcionamento do recalque não é necessariamente o mesmo período tempo do consumo, um volume consumido num dia poderá ser recalcado em poucas horas conforme a reservação do sistema e as hipóteses de regimes de funcionamento (ver item 12.2 subitem ii). Em instalações industriais ou instalações de combate a incêndio, a vazão é dada diretamente.

iii) Topografia da região, com o ponto final do recalque e a região ou o ponto de captação (o desnível é retirado das cotas do início e fim do recalque).

12.2. Hipóteses de cálculo.

Com os dados fornecidos, deverão ser estabelecidas hipóteses de cálculo, as quais serão obtidas a partir da experiência do projetista, de normas gerais (ISO, DIN, ABNT) e normas dos contratantes (empresas de saneamento, por exemplo).

i) Escolha da posição da captação e escolha do desenvolvimento da linha em planta (comprimentos e altimetria).

A figura 69 representa, de forma esquemática, a topografia de um trecho de um pequeno rio em que se quer fazer uma captação de água sem a necessidade de represamento (captação a fio d’água). Neste trecho, identificam-se três pontos possíveis de captação: a área A, mais distante do reservatório para onde se quer recalcar; uma área intermediaria, área B, e uma bem próxima ao destino final, área C. Caso estas três áreas estivessem aproximadamente na mesma cota, a eleita para a captação seria a área C. Entretanto, como esta área é a que necessitará maior altura de recalque, isto deverá ser levado em conta. Para a escolha da área de captação, deverá ser feita uma análise econômica de cada recalque, lembrando que um recalque mais curto tem, geralmente, um custo de implantação mais baixo (custo inicial) e recalques mais altos terão um custo de manutenção mais elevado.

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74

0m 200m 100m

70

50

35

70

60

40

60

60

35

70

50

60

60

80

85

Reservatório Cota 87m

Áreas para captação sem a necessidade de reservação.

Área A.

Área B.

Área C.

Figura 69. Topografia de uma região de captação de água - exemplo.

A escolha das áreas de captação será função não só da relação distância-altura de recalque, mas fatores econômicos como custos de desapropriação, a facilidade de acesso, a segurança das instalações, a existência de rede elétrica próxima e uma infinidade de outros detalhes deverão ser levados em conta. O estudo deste tipo de problema é apresentado em livros de sistema de recalque ou sistemas de captação e distribuição de água.

ii) Tempo de funcionamento do recalque e tempo de funcionamento individual de cada bomba.

O tempo de funcionamento do recalque, como um todo, é função das características da demanda. Caso se tenha um recalque de água bruta para uma estação de bombeamento, conforme a capacidade de reservação da água tratada, pode-se, em alguns casos, restringir este tempo ao tempo normal de funcionamento da estação de tratamento de água. Caso esta capacidade de reservação seja limitada, o recalque deverá trabalhar em períodos mais longos. No caso de uma estação de recalque de esgoto, esta deverá trabalhar com mais freqüência, evitando a degradação das características do esgoto. Quanto ao tempo de funcionamento de uma bomba, deve se ter cuidado para que esta não exceda um número de ligações por hora (geralmente seis ligações) para não estragar o equipamento elétrico. Os valores do tempo de funcionamento de uma estação de recalque é geralmente proposto em normas específicas ou na bibliografia do assunto.

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75

iii) Escolha do tipo das canalizações de aspiração e recalque.

Em função da topografia do recalque, das perdas ao longo dos condutos e das pressões em regime transiente, escolhe-se o tipo de conduto (PEAD, FºFº, etc,) e classe de pressão (espessura da parede). Para a determinação da espessura da parede, deve-se levar em conta tanto as solicitações em regime permanente (solicitação de longa duração) como as solicitações em regime transiente17 (solicitações de curta duração). Conforme o material do conduto a resistência varia muito com o tipo de solicitação, principalmente nos condutos plásticos. Também os coeficientes de segurança em relação a tensão de ruptura das paredes do conduto variará conforme o tipo de solicitação.

Por exemplo um conduto de ferro fundido classe PN10 (200mm a 2000mm) tem sua pressão de teste de 1,7MPa, enquanto que a pressão admissível em regime permanente é de 1,0MPa. Por outro lado, a pressão admissível em regime transiente pode atingir 1,2MPa, ou seja, 20% superior a pressão em regime permanente.

iv) Escolha do número de condutos de recalque.

Muitos sistemas de recalque são planejados para um horizonte de funcionamento de vários anos onde a demanda de vazão é crescente com o tempo, portanto, a maior vazão é geralmente no fim do período de planejamento, a qual é adotada para o dimensionamento das obras de maior vulto (casa de bomba, subestação de energia elétrica, etc..). Com ela, se prevê o número de bombas que, em paralelo, satisfarão a demanda final. Para diminuir o investimento inicial, pode-se instalar parcialmente as bombas. Deve-se evitar, neste último caso, velocidades muito baixas nos condutos para impedir a sedimentação de materiais em suspensão. Este cuidado deverá ser tomado tanto no caso do bombeamento de esgoto como no caso de bombeamento de água bruta com teores de sedimentos razoáveis. Para não se cair neste problema pode-se também desdobrar a linha em dois condutos em paralelo, dimensionando-se no início do funcionamento do sistema um número menor de bombas para um só conduto.

v) Escolha do tipo de estação de recalque.

vi) Número de bombas e disposição das mesmas (bomba única, bombas em paralelo e eventualmente bombas em série).

O número de bombas será função da demanda (item 12.1 sub-item ii) e do tempo de funcionamento do recalque (item 12.2, sub-item ii).

12.3. Cálculos Preliminares.

i) Vazão do sistema (volume/tempo de funcionamento): o cálculo será feito a partir dos mesmos dados do sub-item ( iv) do item 12.2.

ii) Pré-traçado da linha de recalque com cadastro de interferências com levantamento das singularidades.

iii) Determinação da rugosidade dos condutos: em função do tipo de condutos escolhidos subitem ( iii) do item 12.2.

iv) Pré-dimensionamento dos diâmetros de aspiração e recalque.

17 Vide bibliografia específica sobre o assunto WYLIE & STREETER (1978) ou FOX (1977.b).

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76

Para o pré-dimensionamento dos condutos de recalque, pode-se lançar mão da fórmula de Bresse que, em função da vazão e do número de horas de funcionamento da bomba por dia, nos dá uma primeira estimativa de diâmetro, ou seja:

B25,0 QN*5873,0D = (74)

onde: D = diâmetro em metros, N = número de horas de funcionamento por dia e QB = vazão em m3/s.

O diâmetro da aspiração geralmente é um diâmetro comercial maior que o de recalque.

12.4. Cálculo do sistema.

i) Cálculo das perdas singulares e lineares para a(s) vazão(ões) escolhida(s).

ii) Cálculo da altura total do sistema (H)

iii) Caso houver necessidade de bombas em série ou paralelo, calcular a altura de recalque (bomba em série) ou a vazão (bomba em paralelo) por bomba.

série em Bombas

QQ

bombasdeºn

HH

SistemaB

SistemaB

=

= (72)

paralelo em Bombas

bombasdeºn

QQ

HH

SistemaB

SistemaB

=

=

(73)

iv) Determinar o ponto de funcionamento, obter o NPSH requerido pela bomba e calcular a potência de cada bomba.

v) Verificar as condições de funcionamento do sistema de recalque quanto a cavitação, calculando-se o NPSH disponível na instalação e comparando-o com o NPSH requerido pela bomba.

12.5. Escolha do rotor.

Dimensionar o diâmetro do rotor em função das características do sistema, interpolando entre os rotores dados pelo fabricante (solicitar confirmação do fabricante).

13. Algumas observações sobre a aquisição de bombas e sua instalação

Na aquisição de uma bomba de grande porte, convêm que sejam observados os seguintes itens:

a) exigir do fornecedor a curvas características da bomba adquirida: curva de estrangulamento, de rendimento e de NPHS requerido;

b) adquirir mais de um rotor para a mesma bomba, deixando-os de reserva para quando as condições de trabalho forem alteradas, pois a simples troca de rotores evita maiores custos;

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77

c) quando bombear fluidos com sólidos, observar as especificações da bomba quanto ao diâmetro máximo de sólidos admissíveis para o modelo selecionado. Nunca utilizar bombas que admitam sólidos com diâmetro menor que 15 mm; o mais indicado é que elas aceitem sólidos de até 20 mm ou mais;

Quanto à instalação, deve-se:

a) instalar a bomba o mais próximo possível do nível de água, reduzindo os problemas de escorva18 e de cavitação. De preferência, instalar a bomba afogada;

b) eliminar por completo os vazamentos no ramo de sucção, utilizar boas juntas, diminuir ao máximo as perdas de carga na sucção empregando curvas de raio longo e tubulação nova, o mais reta e curta possível e com o menor número de singularidades;

c) empregar na tubulação de sucção um diâmetro comercial superior ao diâmetro de entrada da bomba;

d) eliminar a possibilidade de formação de bolhas de ar na tubulação de sucção, dando um pequeno caimento na tubulação no sentido da bomba e utilizando reduções excêntricas entre a bomba e a tubulação de sucção para compatibilizar os diâmetros, colocando a excentricidade voltada para baixo;

Quanto ao funcionamento da instalação, deve-se sempre que possível não suprir a necessidade hídrica com apenas uma bomba. O uso de várias bombas propicia mais segurança e economia, além de permitir a manutenção do sistema sem parar por completo o recalque.

14. Bibliografia Consultada e Aconselhada.

BATCHELOR, G.K.. 1970. An introduction to fluid dynamics. Cambridge University. 615p.

CHERKASSKI, V. M.. 1986. Bombas ventiladores compresores. Moscú, Mir. 372p.

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HICKS, Tyler G. & EDWARDS, T.W.. 1971. Pump Application Engineering. New York, McGraw-Hill. 435p

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JARDIM, Sérgio Brião. 1992. Sistemas de Bombeamento. Porto Alegre, Sagra-DC Luzzatto. 163p.

KSB 1975. Centrifugal Pumps Lexicon. Klein, Schanzin & Becker Aktiengesellscholf, Frankenthal. 345p.

18 Escorva: enchimento do conduto de aspiração antes do funcionamento da bomba.

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78

KRANENBURG, C. 1973. Transient cavitation in pipelines. Delft, University of Technology. 164p. Tese(Doct.)

KRIVCHENKO, G.I.. 1986. Hydraulic machines – turbines and pumps. Moscou, Mir. 327p.

LAROCK, Bruce E., JEPPSON, Roland W. & WATTERS, Gary Z.. 2000. Hydraulics of Pipeline Systems. Boca Raton. CRC Press. 537p.

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WYLIE, E. Benjamin & STREETER, Victor L.. 1978. Fluid Transients. New York, McGraw-Hill. 384p

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Índice por assunto.

A agulha

de uma turbina Pelton, 9 altura

geométrica, 47 manométrica, 48 total, 19, 47

ângulo de ataque, 28 de retardo do fluxo, 29 de saída da pá, 24, 25, 27, 28

associação em paralelo de bombas diferentes, 72 de bombas iguais, 66

associação em série de bombas diferentes, 72 de bombas iguais, 64

B barrilete, 67 bombas

afogadas, 61 axiais, 16 centrífugas, 15, 16, 43 centrífugas de dupla entrada, 17 classificação, 12 com pás para frente, 25, 27 com pás para trás, 25, 27 com pás retas, 25 de alta rotação específica, 27 de baixa rotação específica, 27 de deslocamento positivo, 12 de deslocamento recíprocas, 12 de deslocamento rotativas, 13 de diafragma, 13 de eixo horizontal, 46 de engrenagens, 14 de fluxo axial, 44 de fluxo misto, 15, 16, 43 de jato, 18 de média rotação específica, 27 de pistão, 12 de rotor aberto, 17 de rotor fechado, 17 de rotor semi-aberto, 17 de variação de densidade, 18 definição, 7 diagonais, 15 dinâmicas, 12, 15 em paralelo, 66 em paralelo com rotores diferentes, 72 em série, 64, 66 em série com rotores diferentes, 71, 72 especiais, 12 livres, 61 mistas, 16 múltiplos estágios, 17 não afogadas, 46 propulsoras, 16 rotodinâmicas, 12 volumétricas, 12

C caracol, 29

carga, 47 da bomba, 19 de velocidade, 27 hidráulica, 5, 6, 8 piezométrica, 27 variação da carga piezométrica, 28 variação da de velocidade, 28

cavitação, 53, 55 locais de ocorrência da, 59

circulação, 23 classe de pressão, 76 CLP

Controlador Lógico Programável, 34 colo alto, 53 conduto

de aspiração, 45 de compressão, 45 de recalque, 45 de sucção, 45

conversor de freqüência, 34 corpo da bomba, 15 curva

da instalação, 50 de NPSH requerido, 21 de potência consumida, 21 de rendimento, 20

curva de estrangulação, 19, 28, 49 para as bombas em paralelo, 69 para as bombas em série, 65 variação com a rotação, 28, 31

curvas características conversão de, 44 da bomba, 19

D difusor, 15 distribuição em percurso, 64

E Economia de energia

com a variação da rotação, 33 eixo da bomba, 15 elementos básicos de uma instalação de recalque, 45 equação da conservação da quantidade de movimento angular,

22 equação de Bernoulli, 6 equação de Euler, 22, 23, 28, 29 equação de Laplace, 55 escolha de uma bomba, 73 escorva, 78 Euler

Leonard, 22

F fórmula de Bresse, 77 Francis

turbinas tipo, 42

H hidrograma diário de consumo, 35

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80

I instabilidade de bombas de altas rotações específicas, 44 inversor de freqüência, 34

J Joukoviski

teorema de Kutta-, 23

K Kaplan

turbinas tipo, 42

L lâmina defletora, 9, 11

M máquina hidráulica

definição, 5

. natureza do fluido, 74 NPSH, 53, 60

disponível, 53 requerido, 53

núcleos de condensação, 56

P paralelogramo de velocidades, 21, 28 passo variável

bombas de, 17 Pelton

Lester Allan, 9 turbinas tipo, 42

perda de energia dentro da bomba, 26 devido a fugas internas, 26 devido a resistências viscosas, 26 devido a singularidades, 26

perdas mecânicas por atrito, 26 ponto de funcionamento de uma bomba centrífuga, 49 potência

consumida, 6, 8, 51 da corrente líquida, 5, 23 gerada, 6, 8 perdida, 5

pressão atmosférica em função da altura, 53

pressão de vapor, 54

R recuperador de pressões, 15, 28 regime transiente, 76 rendimento

motor-bomba, 6, 8 turbina-gerador, 6, 8

rotação específica, 11 aplicações do conceito de, 41 bombas de alta, 44 bombas de baixa, 43 bombas de média, 43 classificação de uma bomba em função da, 43 equação da, 40 seleção de bombas em função da, 42 seleção de uma turbina em função da, 42

rotor, 7, 15 rotor aberto

bombas de, 74 ruptura de coluna, 53

S semelhança

cinemática, 36 dinâmica, 37 geométrica, 35

semelhança de máquinas hidráulicas, 35 shut-off

pressão de, 73 soma de Bernoulli, 6

T tensão de vapor, 54

da água, 55 tensão superficial, 55 tipo de conduto, 76 torque, 22 transientes hidráulicos, 10, 11 triângulo de velocidades, 21 turbinas

classificação, 9 de ação, 9 de reação, 9 definição, 7 eólicas, 11 Francis, 10 hélice, 10 Kaplan, 10 Michel-Banki, 10 mistas, 10 tipo Francis, 42 tipo Kaplan, 42 tipo Pelton, 42 tipo PELTON, 9

turbo-bombas, 12, 15 classificação, 15

turbo-máquinas, 7 bombas, 7 motoras, 7 receptoras, 7 transmissoras, 7

V vazão em peso

vazão ponderal, 5 ventiladores, 27 voluta, 29