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Boletim OPSATRANSCRIPT
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Boletim OPSA
| n.4, out./dez. 2014 |
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Observatrio Poltico Sul-Americano
O Observatrio Poltico Sul-Americano - OPSA
um ncleo de referncia destinado ao monitoramento e
registro de eventos polticos nos planos interno e
externo dos pases sul-americanos. Suas atividades
principais envol-vem a coleta e sistematizao de
informaes relativas aos processos polticos dos pases
da regio, bem como a elaborao de anlises pontuais
sobre aspectos e problemas das con-junturas domstica
e internacional da rea.
Coordenadora Acadmica
Maria Regina Soares de Lima
Ph.D. em Cincia Poltica pela Vanderbilt University
Assistentes de Coordenao
Regina Kfuri
Tatiana Oliveira
Assistentes de Pesquisa
Clayton Cunha (Bolvia)
Ana Carolina Vieira de Oliveira (Argentina)
Gabrieli Gaio (Paraguai)
Paula Gomes Moreira (Peru)
Alessandro Amorim (Equador)
Fidel Flores (Venezuela)
Talita Tanscheit (Chile)
Tiago Sales (Colmbia)
Francisco Josu Medeiros de Feitas (Brasil)
Marianna Albuquerque (Uruguai)
Boletim OPSA
O Boletim OPSA rene anlises sobre acontecimentos
de destaque na conjuntura poltica da Amrica do Sul e
tem periodicidade trimestral. A publicao composta
por editorial e textos dirigidos a leitores que querem ter
acesso rpido a informaes de qualidade sobre temas
contemporneos. As fontes utilizadas para sua
confeco so resumos elaborados pelos pesquisadores
do OPSA com base nos jornais de maior circulao em
cada um dos pases e documentos de autoria de
pesquisadores ou agncias independentes que
complementam as informaes divulgadas pela
imprensa.
Este Boletim foi elaborado principalmente com base nas
informaes referentes aos meses de julho a setembro
de 2014.
O Boletim OPSA publicado na segunda sema-na do
ms seguinte aos trs meses a que se refere.
permitida a reproduo deste texto e dos dados nele
contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para
fins comerciais so terminan-temente proibidas.
ISSN 1809-8827
Instituto de Estudos Sociais e Polticos Universidade do Estado do Rio de Janeiro IESP/UERJ
Rua da Matriz, 82 - Botafogo - Rio de Janeiro RJ | Tel.: (21) 2266-8300 Fax: (21) 2286-7146
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Cuba e as eleies presidenciais
na Amrica do Sul
O capitalismo precisa de adversrios fortes
o suficiente para civiliz-lo.
Wolfgang Streeck1
A data de 17 de dezembro de 2014 entrou
para a histria. Neste dia Cuba e EUA
reestabeleceram relaes diplomticas
rompidas h mais de 50 anos. Mesmo que
muitos outros passos ainda precisem ser
dados, inclusive a suspeno das sanes
que depende de uma deciso congressual,
claro que o processo no tem mais volta. J
se tornou lugar comum associar este evento
ao fim da Guerra Fria e das esferas de
influncia rgidas que praticamente
dividiam o planeta em dois. Ainda que a
carga simblica do gesto tenha o seu valor,
esta associao pode induzir a erros de
interpretao.
Em primeiro lugar, o fim da Guerra Fria no
final dos 80, se deu em um momento de
absoluto enfraquecimento do campo
socialista, mas no foi o resultado de uma
vitria norte-americana. Em artigo recente
do embaixador norte-americano na Unio
Sovitica/Rssia entre 1987 e 1991, fica claro
que o fim da Guerra Fria deve ser entendido
1 Entrevista Especial, Capitalismo do ps-guerra est no fim, diz Streeck, Valor, 26 de dezembro de 2014,p. A12.
com um evento distinto da dissoluo da
Unio Sovitica. No seu depoimento, Jack
Matlock Jr. afirma que o fim da Guerra Fria
foi um processo negociado entre os EUA e a
Unio Sovitica em uma srie de decises
finalmente acordadas no encontro em Malta
em dezembro de 1989, entre os presidentes
Gorbachev e George H.W. Bush.2 Como a
dissoluo da Unio Sovitica, que o
Embaixador faz questo de frisar, um
evento distinto e posterior ao fim da Guerra
Fria, induzido por lideranas russas, ocorreu
logo em seguida, a narrativa dominante,
inclusive reforada por sucessivos
presidentes norte-americanos, foi de que os
EUA haviam ganho a Guerra Fria. Esta
interpretao e o tratamento da Rssia como
o pas perdedor pautou a poltica norte-
americana e de todos os pases ocidentais
desde ento, com as graves consequncias
que assistimos h pouco na crise da Crimia
e na alegao de Putin de que se trata do
resgate da humilhao a que foi submetida a
Rssia desde o fim da Guerra Fria.
A narrativa da vitria do Ocidente se tornou
hegemnica e se manifestou para a periferia
na forma das condicionalidades polticas e
econmicas de imposio ou socializao
coercitiva das reformas orientadas para o
mercado e da adoo generalizada de
modelos polticos de democracia de
mercado. A narrativa da vitria do Ocidente
no resistiria emergncia da China no
cenrio poltico e econmico global, ao 11 de
setembro e muito menos crescente
2 Jack F. Matlock Jr, Who is the Bully? The U.S. has treated Russia like a loser since the end of the Cold War, 14 de maro, 2014.
Editorial
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contestao das foras jihadistas
hegemonia poltica e cultural do Ocidente.
Mais que tudo, o fim da Guerra Fria
significou o fim de um adversrio forte para
contestar o capitalismo e de um modelo
alternativo ao mesmo e assim do incentivo
de sua configurao como um modelo de
capitalismo democrtico de bem estar do
ps-guerra. Ademais, as guerras e os
conflitos no foram abolidos como se
pregava na dcada de 90, muito pelo
contrario, os anos 2000 assistem ao retorno
do uso da fora e da coero na competio
geopoltica em campos mais diversos da
energia s mudanas climticas. Neste
contexto de grande incerteza dos possveis
contornos da ordem ps-Guerra Fria, os
especialistas se dedicam a desenhar os
caminhos de uma suposta transio que no
se sabe bem para onde vai chegar.
Neste quadro, menos relevante enquadrar
o reatamento Cuba-EUA como o fim
simblico da Guerra Fria no Hemisfrio
Ocidental e mais como o fim de uma
situao excepcional que tanto dano trouxe a
Cuba e Amrica Latina e o reconhecimento
tardio do presidente Obama que a excluso
no a poltica mais adequada quando se
quer operar mudanas em terceiros pases.
Tambm reconfortante constatar que os
conservadores brasileiros perderam um de
seus principais alvos de crtica poltica
externa dos governos PT e que tero de
engolir que a construo e financiamento do
porto de Mariel foi uma antecipao
estratgica das mudanas por vir, podendo
colocar o Brasil em um patamar especial em
um cenrio de maior abertura econmica do
pas. Talvez por estarmos no meio do furaco
da crise da Petrobrs e a descoberta das
relaes incestuosas e fraudulentas entre
aquela empresa e as principais construtoras
do pas, aquela deciso estratgica no tenha
sido mais enfatizada pelo governo de Dilma
Rousseff. Tudo o que est ocorrendo sinaliza
que no regime capitalista reservas de
mercado tendem a induzir a formao de
cartis os mais variados. A abertura do
mercado brasileiro s empresas estrangeiras
de construo pesada e o estmulo
concorrncia podem ajudar no
encaminhamento futuro de solues para
fazer face s necessidades de investimento
em infraestrutura no pas.
Numa analogia com o jogo da galinha, quem
piscou primeiro Cuba ou os EUA? Talvez
tenham piscado juntos porque ambos tm
muito a perder com a manuteno do status
quo. Cuba, pelo temor de um
estrangulamento econmico com a provvel
diminuio do fornecimento subsidiado de
petrleo da Venezuela em funo da queda
pronunciada dos preos do petrleo e seus
efeitos deletrios sobre o pas. Os EUA, por
verem sua influncia diminuir
sensivelmente na Amrica Latina,
excetuando-se alguns dos pases com os
quais tem aliana econmica militar como
Mxico e Colmbia, enquanto se fortalecem
os laos econmicos e geopolticos da China
na regio no apenas como parceira
comercial, emprestadora em ltima
instncia nos moldes do FMI, mas como
investidora em obras estratgicas de largo
porte destinadas a garantir um fluxo seguro
e continuado das exportaes de
commodities agrcolas e minerais da regio.
Entre elas, releva a concesso, ganha por
empresa chinesa com sede em Hong Kong,
para construir um canal interocenico na
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Nicargua, entre os oceanos Pacfico e
Atlntico, num empreendimento orado em
US$ 40 bilhes.
A crescente presena chinesa na regio
constitui uma alternativa, sem
condicionalidades explcitas, cooperao
dos EUA, e mais uma opo de negcios para
equilibrar a tradicional dependncia da
regio aos EUA. Mas tambm constitui uma
ameaa de que depois do trmino nos anos
30 do modelo de insero internacional com
base na exportao de matrias primas
minerais e agrcolas se esteja reconstruindo
em um novo formato os vnculos centro-
periferia desta feita com o gigante asitico.
Ademais, a ascenso da China como ator
global no representa a emergncia de um
adversrio forte ao capitalismo globalizado
como foi a alternativa socialista nos tempos
da Guerra Fria o que poderia gerar alguns
dos efeitos benficos na constituio de uma
ordem capitalista democrtica, com base na
recriao de um estado de bem estar no
sculo XXI. A China uma competidora dos
EUA numa ordem capitalista que ela tem
pouco incentivo para mudar j que dela se
beneficia bastante. At agora seus objetivos
tem por base seus interesses prprios em
termos de recursos energticos e agrcolas e
tecnologia de ltima gerao. Como
competidora dos EUA sua presena cria
mais opes, em especial na semiperiferia e
periferia, mas no configura um adversrio
forte como foi um dia a Unio Sovitica na
ordem da Guerra Fria.
A reintegrao de Cuba Amrica Latina
sem qualquer impedimento legal ou
ideolgico refora o pluralismo poltico e
econmico na regio, fortalece a
Comunidades de Estados Latino-
Americanos e Caribenhos, CELAC, como a
nica e principal instncia de concertao a
incluir todos os pases latino-americanos e
tem efeitos positivos na poltica dentro da
regio na medida em que sua condio de
cone de um projeto de autonomia e de
rejeio de hegemonismos regionais lhe d
uma dimenso maior que seu tamanho
efetivo. O fato de que tenha resistido por
todos estes mais de cinquenta anos
hegemonia norte-americana sugere que sua
reintegrao ao hemisfrio no repetir o
padro de converso absoluta e imediata
observado na Europa do Leste nos anos 90.
Tanto quanto possvel, Cuba buscar pautar
a velocidade deste processo tendo em vista a
preservao de seus interesses e valores.
Desta perspectiva, os resultados das eleies
presidenciais na Amrica do Sul em 2014 so
um alento. Na Bolvia, no Brasil e no
Uruguai, os resultados eleitorais, analisados
a seguir neste Boletim, consagraram a
hegemonia do Movimento ao Socialismo,
MAS, na Bolvia, e da Frente Ampla, no
Uruguai num contexto de disputa com foras
conservadoras. No caso brasileiro, a vitria
de Dilma Rousseff foi bem mais apertada o
que coloca uma interrogante para 2018 a
depender da capacidade do novo governo de
enfrentar a deteriorao das condies
econmicas num contexto de ajuste fiscal e
maior articulao da oposio no mbito
poltico e congressual. Na Colmbia, as
eleies presidenciais reconduziram Juan
Manuel Santos com 50,9% dos votos e
devem contribuir para um encaminhamento
exitoso das complexas negociaes com as
Foras Armadas Revolucionrias da
Colmbias, FARCs, na medida em que, ao
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contrrio de seu oponente, Santos fez da
continuidade do processo de paz um dos
pontos chaves de sua campanha. A
reintegrao de Cuba regio um vetor
poderoso para que este processo chegue a
bom termo.
Cabe observar que a regio muito se
beneficiou da demanda crescente da China
desde os anos 2000 e parte desta
prosperidade acompanhou o ciclo
ascendente daquele pas na economia global.
Apesar de estarmos presenciando o fim
deste ciclo, todos os incumbentes foram
reeleitos na Amrica do Sul. Um sinal de que
a economia pode ser importante, mas talvez
a poltica importe mais.
Esperamos que 2015 no nos traga muitos
sobressaltos e que a regio, a despeito de
estar entrando num ciclo econmico
descendente, consiga preservar os ganhos de
estabilidade poltica e incluso social to
arduamente obtidos na ltima dcada.
Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2015.
Maria Regina Soares de Lima.
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2014
Uma retrospectiva poltica em 4 atos
Josu Medeiros
Pesquisador OPSA
O fim do ano poltico no Brasil ocorreu em
18 de dezembro, quando a Justia Eleitoral
diplomou a presidenta reeleita Dilma
Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT)
e o seu vice-presidente Michel Temer, do
Partido do Movimento Democrtico
Brasileiro (PMDB). 2014 j pode, portanto,
receber sua retrospectiva poltica, feita em
quatro atos, em que pese a pattica iniciativa
do candidato derrotado Acio Neves, do
Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB), de exigir na Justia aquilo que no
conquistou nas urnas.
Ato 1 A mulher do ano
2014 foi o ano de Dilma Rousseff de um
modo que no havia ocorrido em 2010,
quando se elegeu presidenta pela primeira
vez. Naquele momento o protagonismo era
todo do presidente Lula, o cara segundo
Barack Obama, dono de uma popularidade
ultrapassava os 90%. Se Dilma foi o poste
de 2010, em 2014 virou o jogo. Seu corao
valente superou os muitos percalos da
eleio mais disputada da histria
democrtica brasileira. Governando o pas
em um cenrio de crise econmica
internacional ela foi capaz de evitar as
receitas neoliberais que espalharam
aumento do desemprego e da pobreza pelo
mundo. O Brasil seguiu melhorando seus
indicadores sociais mesmo com o baixo
crescimento.
As jornadas de junho de 2013 contriburam
para apimentar o cenrio. Milhes de jovens
nas ruas das grandes e mdias cidades
brasileiras protestando contra o sistema
poltico em geral a partir de questes
municipais e estaduais (transporte pblico)
e que inevitavelmente se nacionalizaram
diante do magnetismo do nosso super
presidencialismo.
As ruas inundadas de gente produziram
dinmicas de direitos h muito no vistas no
pas. Os temas da sade e educao logo
tomaram o centro do debate. A qualidade da
nossa democracia tambm veio tona,
recuperando dimenses participativas que
permearam o processo poltico dos anos
1980, culminando na Constituio de 1988 e
que depois foram derrotadas pelo
neoliberalismo do governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Mas no somente isso. Os conflitos sociais
geraram polarizaes novas. O novo lugar
que o PT ocupa produziu um indito
afastamento do petismo com relao s
dinmicas das ruas. Novas redes, novos
movimentos, nova gerao poltica foram
contrapostas s instituies criadas pela
esquerda brasileira no processo de derrota
da ditadura militar. Velhos e tradicionais,
o PT e seu campo se depararam ento com os
mesmos adjetivos que outrora direcionavam
esquerda comunista e trabalhista que havia
sido derrotada com o golpe de 1964. Ao
mesmo tempo, das ruas de junho emergiu
uma nova direita no Brasil, composta por
Retrospectiva 2014
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uma minoria violenta e disposta a tudo para
impedir a continuidade do lulismo.
Dilma enfrentou essa tempestade e venceu.
Sua popularidade despencou. Sua reeleio
correu riscos. A presidenta, emparedada,
respondeu s ruas com dilogo e no com
represso, como ocorreu mundo afora na
atual dinmica de lutas (primavera rabe,
Occupy Wall Street, Indignados, Praa
Taksin, na Turquia) com as quais o Brasil se
conectou em junho de 2013. Ela recebeu
representantes dos movimentos e lideranas
que estiveram presentes nas ruas, e aprovou
trs novas legislaes que ampliaram os
direitos e a cidadania no Brasil: o programa
Mais Mdicos levou, com ajuda dos mdicos
cubanos, sade de qualidade para 50
milhes de brasileiros nas periferias,
interiores e regies isoladas; o novo Marco
Civil da Internet protege a privacidade e a
cidadania, limita os poderes das grandes
corporaes e foi elogiada pela ONU como a
mais avanada legislao das redes no
mundo; por fim, direcionou os recursos a
serem gerados pela explorao do petrleo
do pr-sal em investimentos na sade e da
educao.
A mesma toada se manteve nas eleies.
Dilma protagonizou a vitria mais
esquerda do PT desde 2002. Afirmou a
recusa do neoliberalismo diante da primeira
candidatura da direita que assumiu esse
programa desde 1994. Afirmou direitos,
afirmou as ruas contra as medidas
impopulares defendidas por Acio e seus
aliados na mdia e no mercado. Assumiu
pautas que incomodam setores mais
conservadores, entre eles a defesa da
criminalizao da homofobia e o combate
violncia policial contra os jovens negros da
periferia.
Venceu as eleies por muito pouco. Venceu
com os votos da esquerda, com a reativao
de uma sociedade civil petista em sentido
amplo, que foi pra rua virar os votos e
impedir o retrocesso que seria a vitria do
PSDB. nesse contexto que seu segundo
governo vai se dar. As contradies j saltam
os olhos com a montagem do ministrio.
Antes de analisar esses dilemas passemos ao
segundo ato.
Ato 2 Descanse em Paz
As eleies de 2014 marcaram o enterro
poltico definitivo da grande mdia
brasileira. Os grandes meios de
comunicao no so mais capazes de mudar
o rumo de uma eleio no pas, como
ocorrera em 1989 com a clebre edio que a
rede Globo fez do debate presidencial entre
Lula e Collor, forjando uma vitria para o
este ltimo.
Dessa a revista Veja antecipou sua edio
semanal acusando, sem provas, a presidente
Dilma se fazer parte de um esquema de
corrupo que atinge a Petrobrs. O
candidato de oposio Acio Neves
repercutiu a denncia no ltimo debate
televisivo, e tambm os grandes jornais e
redes de televiso divulgaro a matria da
Veja sem qualquer questionamento. Os
partidos de oposio distriburam a edio
da revista nas praas e ruas das principais
cidades brasileiras.
Novamente a presidente Dilma enfrentou o
desafio e venceu. Tratou abertamente do
tema em seu ltimo programa eleitoral.
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Acusou a revista de golpe e a processou. A
deslegitimao da matria da Veja tomou
conta das redes sociais na internet, nova
arena pblica que vem se constituindo no
Brasil da ascenso social do lulismo. Os
milhes que saem da misria e entram no
mercado de consumo tambm passam a
acessar novas formas de informao,
buscando forjar suas prprias verses dos
fatos, questionando os antigos formadores
de opinio.
Um novo sistema de comunicao,
democrtico, oligopolizado, ainda no
nasceu para substituir o velho. Esta inclusive
uma das agendas assumidas pela
mandatria brasileira. Contudo foi possvel
constatar um outro nascimento, do qual fala
o terceiro ato.
Ato 3 Nasce a polarizao
No dia 26 de outubro, dia derradeiro do
segundo turno, as ruas foram tomadas de
militantes e pessoas engajadas nos processos
eleitorais com suas bandeiras e adesivos. A
novidade que pela primeira vez o voto de
direita estava identificado. Nas trs vitrias
do PT em 2002, 2006 e 2010 s se via o
eleitor petista nas ruas. O voto de direita,
antes silencioso, saiu do armrio.
A confirmao da vitria de Dilma manteve
a polarizao em temperatura elevada. Pela
primeira vez desde 1964 a direita voltava a
organizar manifestaes pblicas por todo
Brasil, apresentando em So Paulo relativo
sucesso, com 5 mil pessoas na Avenida
Paulista a gritar pela sada da presidente
reeleita. O PSDB parece gostar do que v.
Suas principais lideranas convocam e
participam dos atos, com exceo do
derrotado Acio Neves que publicou uma
foto em um balnerio catarinense no dia da
manifestao.
Enfim o Brasil parece apresentar o mesmo
padro de polarizao social verificado em
outros processos polticos sul-americanos,
tais como Argentina, Bolvia, Chile,
Equador, Venezuela, Uruguai. A diferena
que o caso brasileiro o nico no qual a
esquerda minoritria no parlamento. Mais
do que isso, os partidos de esquerda e os
representantes dos movimentos sociais
encolheram no Congresso vis a vis a
legislatura anterior. Como ento sustentar a
polarizao em um ambiente institucional
adverso? A resposta ser intuda no quarto
ato.
Ato 4 O trofu Mujica vai para...
Nessa retrospectiva o ttulo de homem do
ano recebe o nome de trofu Mujica,
presidente do Uruguai que se despede do
cargo, figura icnica da esquerda sul-
americana, portador de uma cultura poltica
socialista exemplar, organizador de uma
agenda de avanos e direitos que causa
inveja aos setores progressistas de todo o
mundo.
No Brasil o impulsionador de uma cultura de
direitos e de uma prtica socialista tem sido
o prefeito de So Paulo Fernando Haddad do
PT. Sua trajetria parecida com a de Dilma.
Foi eleito em 2012 como poste de Lula. Seu
protagonismo emerge das jornadas de
junho. Conseguiu extrair das mobilizaes
uma nova dinmica de governo na qual a
participao e mobilizao da cidadania
ativa permitem que ele leve a cabo os
necessrios enfrentamentos com o capital
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
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para transformar So Paulo em uma cidade
democrtica.
Mesmo sendo minoritrio no legislativo e
tendo que recorrer s mesmas alianas que o
PT faz no plano federal Haddad tem
conseguido sucesso em organizar uma
agenda de futuro esquerda. Aprovou um
plano diretor que impede o capital
imobilirio de fazer o que quer com a cidade.
Aprovou uma poltica tributria progressiva:
os mais ricos pagam mais, ou mais pobres
pagam menos. Criou uma dinmica nova
para os transportes pblicos que possibilitou
ao trabalhador diminuir em 30% o tempo de
deslocamento casa-trabalho. Est
inaugurando uma rede de ciclovias que
altera a prpria relao da cidade de So
Paulo com os carros. Suas polticas sociais
para os mais pobres, para os emigrantes,
para os movimentos sociais organizados
chamam ateno da esquerda em todo o
pas.
O resultado comea a ser sentido no
crescimento da sua popularidade, ainda
baixa, porm nada que impea uma futura
reeleio em 2016. No obstante todos os
avanos, Haddad enfrentar novamente em
2015 o desafio do tema do valor das
passagens. H o risco de uma nova exploso
social, e tambm o risco de jogar a conta nos
lucros dos empresrios e com isso
comprometer os avanos que beneficiaram a
populao trabalhadora.
Concluso
2015 ser o ano em que esses quatro atos se
fundem em uma nova conjuntura poltica.
Conseguiro Dilma e Haddad avanar em
sua agenda de direitos e democracia,
superando os limites institucionais e
estruturais colocados? A hiptese que tal
resposta ser afirmativa se ambos se
apoiarem nessa nova polarizao social
nascente, mobilizando as bases sociais da
esquerda em uma agenda de
transformaes. As dificuldades para isso
sero muitas. O cenrio de crise econmica
permanece. O ministrio contraditrio de
Dilma um fator de decepo e
desmobilizao. A direita organizada segue
contando com a fora dos grandes
monoplios de comunicao para pautar a
agenda poltica do pas.
O resultado sair da luta. O que 2014
mostrou que a esquerda quando vai para
disputa tem mais chances de vitria do que
quando foge dela. No mesmo ano em que a
Comisso da Verdade apresenta seu
relatrio sobre os crimes da ditadura militar
de 1964 o Brasil comeou a espiar o
fantasma de que o golpe teria sido resultado
de uma excessiva mobilizao popular, tese
essa que orientou a redemocratizao
brasileira desde cima, e tambm em grande
medida o lulismo e seus processos de
composio.
Enfim, da polarizao pode nascer uma
sociedade mais democrtica, mais
igualitria, com mais direitos.
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
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A unio da Amrica do Sul
Regina Kfuri
Assistente de Coordenao OPSA
Na primeira semana de dezembro, chefes de
Estado da Amrica do Sul reuniram-se em
Quito, no Equador, para inaugurar a sede da
Unio Sul-americana de Naes (Unasul). O
prdio foi batizado em homenagem ao ex-
presidente argentino Nestor Kirchner, que
foi secretrio-geral da organizao e faleceu
em outubro de 2010.
A inaugurao da sede da Unasul representa
um importante marco simblico de um
ponto de retomada e avano do processo de
integrao na Amrica do Sul. Depois de um
perodo de relativa inrcia, a organizao
tomou novo flego com a chegada
secretaria-geral do ex-presidente
colombiano Ernesto Samper. Na cpula de
Quito estiveram presentes os presidentes da
Argentina, Cristina Kirchner; da Colmbia,
Juan Manuel Santos; da Bolvia, Evo
Morales; do Brasil, Dilma Rouseff; do
Paraguai, Horacio Cartes; do
Suriname, Desir Delano Bouterse; e da
Venezuela, Nicols Maduro.
Na ocasio, os mandatrios concordaram em
trabalhar para a criao de uma cidadania
sul-americana, nos moldes do acordo
europeu de Schengen, que criaria no
apenas um passaporte comum, mas tambm
a livre circulao de 400 milhes de
habitantes na regio. Alm disso, foi
aprovado o documento Da viso ao,
que contempla a criao da Escola Sul-
americana de Defesa, assim como temas de
sade, combate s drogas e processos
eleitorais. Foi ainda aprovada a execuo de
projetos de infraestrutura em nvel regional.
Todos esses so avanos importantes no
caminho de uma regio mais integrada. A
histria da integrao na Amrica Latina no
nova, ela remonta aos anos 1960, com as
ideias cepalinas que levaram ao modelo
conhecido como regionalismo fechado, pois
buscava a industrializao e o
desenvolvimento dos pases atravs da
proteo do mercado interno. J o segundo
modelo, adotado nos anos 1990 como
resposta ordem internacional que se
instaurou a partir do fim da Guerra Fria,
conhecido como regionalismo aberto, pois
voltado para a insero dessas economias no
ambiente externo globalizado, responsvel
por uma nova dinmica economia
mundial, com a predominncia do
paradigma neoliberal no campo econmico.
Pases com pouco poder de negociao, os
latino-americanos precisavam competir por
insumos e investimentos, assim como
enfrentar as presses resultantes dessa nova
ordem econmica. Os arranjos regionais
buscaram, portanto, aumentar a capacidade
de competio desses pases diante dessa
nova realidade internacional. A criao do
Mercosul insere-se nesse contexto. O novo
regionalismo se distinguiu do anterior por se
inserir em um contexto poltico de reviso do
modelo de desenvolvimento apoiado na
industrializao protecionista e por se
traduzir na adoo de polticas comerciais
liberalizantes, agregando agenda regional
novos temas, como comrcio de servios e
investimentos. (Veiga e Rios, 2007, p.9).
Integrao Sul Americano
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
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Boa parte da literatura sobre Amrica do Sul
afirma o surgimento de um novo tipo de
regionalismo a partir dos anos 2000, trazido
pela chegada ao poder de governos
progressistas em diversos pases da regio.
As denominaes para o fenmeno variam e
ele pode ser chamado de integrao
multidimensional, regionalismo ps-liberal
ou ps-hegemnico. Em comum, os termos
trazem a constatao de que alguns
processos cooperativos e/ou integrativos
entre determinados pases da Amrica do
Sul passaram a operar sob uma lgica
diferente daquela que havia predominado
em estgios anteriores. Ou seja, identifica-se
o fim de um ciclo e o comeo de outro, que
traz como novidade a superao da idia de
que o comrcio e a ideologia neoliberal
devem ser os motores que fazem andar a
integrao e a cooperao entre os vizinhos.
(Sanahuja, 2010)
Por um lado, esses novos arranjos regionais
propem uma ruptura com o discurso
hegemnico da dcada de 90 e a criao de
um espao de resistncia para enfrentar o
neoliberalismo e a hegemonia norte-
americana (Rigirozzi, 2010). Mais alm, o
regionalismo ps-hegemnico seria a
manifestao de uma repolitizao da
regio, na qual estados, lderes e
movimentos sociais interagem na
construo do espao regional (Riggirozzi e
Tussie, 2012)
Por outro lado, este regionalismo ps-liberal
substitui a agenda centrada na liberalizao
comercial por processos mais abrangentes
do ponto de vista temtico, com a incluso
de questes sociais, participativas, e
objetivos polticos. A hiptese bsica que a
liberalizao dos fluxos comerciais no gera
endogenamente benefcios para o
desenvolvimento e pode ser prejudicial
adoo de uma agenda de integrao
preocupada com temas de equidade (Motta
Veiga e Rios, 2007)
Nesse contexto, a Unasul fruto de uma
iniciativa brasileira que levou criao, em
dezembro de 2004, da Comunidade Sul-
Americana de Naes (Casa), durante uma
reunio de cpula no Peru. A Declarao de
Cuzco continha cinco pginas nas quais se
estabelecia a implementao progressiva de
um novo mbito de ao coletiva. Dois anos
mais tarde, na cpula de dezembro de 2006,
na Bolvia, o presidente Lula enfatizou a
importncia do comprometimento com a
consolidao da integrao energtica e do
fortalecimento das polticas sociais na
regio, e j ali foram abordados pontos
referentes livre circulao de pessoas,
assim como proteo do meio ambiente. A
mudana do nome, de Casa para Unasul se
deu em 2007 e, em maio de 2008, a
instituio ganhou personalidade jurdica.
Dentre os avanos importantes do bloco
esto a constituio de um Conselho
Sulamericano de Defesa e do Banco do Sul.
A Unasul nasce com a preocupao de temas
infraestruturais e sociais, bem como o papel
de facilitadora do dilogo poltico.
Agora, a inaugurao de uma sede traz um
novo dinamismo construo de uma regio
mais integrada poltica e socialmente. Como
destacou Lula, em seminrio anterior
cpula, a crise econmica mundial tem um
efeito inibidor sobre as iniciativas de
integrao. Como se tivssemos que esperar
para voltar a tratar da integrao. Estou
convencido de que exatamente o contrrio.
Quanto mais nos integrarmos, melhores
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sero as condies de enfrentar e superar a
crise. Separados somos mais fracos e juntos
somos uma potncia3.
Referncias Bibliogrficas
Motta Veiga, P.; Ros, S.; O regionalismo
ps-liberal, na Amrica do Sul: origens,
iniciativas e dilemas.; Cepal, Divisin de
Comercio Internacional e Integracin, Srie
Comrcio Internacional, Santiago de Chile,
julho de 2007
Riggirozzi, P.; Region, regionness and
regionalismo in latin america: Towards a
new synthesis; LATN, Working Paper 130,
Abril de 2010
Riggirozzi, P; Tussie, D.; The rise of post
hegemonic regionalism in Latin America, in:
Riggirozzi, P; Tussie, D.; The Rise of Post-
Hegemonic Regionalism: The Case of Latin
America, Springer, 2012
Silva, V.M.; Por que um evento que rene
chefes de Estado de toda a Amrica do Sul
no notcia? Disponvel em:
http://www.revistaforum.com.br/rodrigovi
anna/geral/por-que-um-evento-que-reune-
chefes-de-estado-de-toda-america-sul-nao-
e-noticia/
3 ____ Lula defende mais integrao na Amrica Latina contra a crise econmica e o conservadorismo, Carta Maior, disponvel em
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Lula-defende-mais-integracao-na-America-Latina-contra-a-crise-economica-e-o-conservadorismo/4/32358
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Bolvia: as eleies de 2014 e a
consolidao do horizonte de poca
plurinacional
Clayton Cunha M. Filho
Pesquisador OPSA
Os resultados eleitorais do pleito geral de 12
de outubro de 2014 na Bolvia no
trouxeram maiores surpresas, na medida em
que apenas confirmaram aquilo que todas as
pesquisas e anlises apontavam: o amplo
favoritismo do Movimento Ao Socialismo
(MAS) e seu candidato reeleio
presidencial Evo Morales, vitorioso do pleito
em 1 turno com 61,36% dos votos vlidos
frente aos 24,23% do segundo colocado,
Samuel Dria Medina da Concertao de
Unidade Democrtica (UD) (ver Tabela 1).
Os resultados totais de Morales ficaram
apenas menos de trs pontos percentuais
abaixo do total obtido por ele cinco anos
antes nas eleies de 2009 (ver Tabela 2) e
marcou, pela primeira vez, a ascenso do
MAS como primeira maioria no
departamento de Santa Cruz, antigo bastio
opositor de onde demandas por autonomia
departamental se irradiavam para os
departamentos de Beni, Pando e Tarija
conformando a regio que ficou conhecida
como Meia Lua e que mantiverem o
presidente em xeque at pelo menos 2008 e
quase impediram a ratificao da atual
Constituio Poltica do Estado (CPE)
(CUNHA FILHO, 2008). Nas ltimas
eleies, apenas o departamento do Beni
continuou apoiando majoritariamente um
candidato presidencial da oposio, com
seus 51,44% dos sufrgios em favor de Dria
Monitor Eleitoral: Bolvia
Tabela 1: Resultados Eleitorais 2014
% dos votos vlidos
Evo Morales (MAS) 61,36
Samuel Dria Medina (UD) 24,23
Jorge Tuto Quiroga (PDC) 9,04
Juan del Granado (MSM) 2,71
Fernando Vargas (PVB) 2,65
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do rgano Electoral Plurinacional
disponveis em http://www.oep.org.bo/
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
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Medina (UD). As eleies de 2014 marcaram
ainda o ocaso da liderana do ex-prefeito de
La Paz, Juan del Granado, do Movimento
Sem Medo (MSM), ex-aliado do governo
central at 2010 (ver CUNHA FILHO, 2010)
e que obteve frustrantes 2,71% dos votos,
ficando abaixo da clusula de barreira
boliviana de 3% dos votos nacionais e
perdendo assim o registro eleitoral da sigla e
o direito ao deputado que elegeriam na lista
proporcional com essa votao. A mesma
perda de sigla eleitoral ocorreu ao lder
indgena Fernando Vargas, candidato
presidncia pelo Partido Verde Boliviano
(PVB) e que obteve 2,65% dos votos. O
resultado de Vargas, entretanto, apesar de
tambm ficar pouco abaixo da clusula de
barreira que lhe valeria a continuidade da
sigla e a eleio de um deputado, foi uma
surpresa positiva na medida em que todas as
pesquisas pr-eleitorais lhe atribuam
menos de 1% das intenes de voto (ver
CUNHA FILHO, 2014).
Tabela 2: Votao de Evo Morales, Estado Plurinacional
da Bolvia
Nacional e Exterior 2009 2014
64,22 61,36
Por departamentos
La Paz 80,28 68,92
Oruro 79,46 66,42
Potos 78,32 69,49
Cochabamba 68,82 66,67
Chuquisaca 56,05 63,38
Tarija 51,09 51,68
Santa Cruz 40,91% 48,49%
Pando 44,51% 52,09%
Beni 37,66% 41,49%
Negrito indica primeira maioria.
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do rgano Electoral
Plurinacional disponveis em http://www.oep.org.bo/
RodrigoDestacar
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4 Em fins de 2010, o governo anunciou o fim dos subsdios aos combustveis que provocou um aumento repentino que chegava a at 82% dependendo do tipo de combustvel. A medida provocou amplos protestos sociais que obrigaram o governo a suspender os aumentos. poca, a oposio acusou o governo de adotar uma medida neoliberal, o que para alm do cinismo ideolgico indica uma aceitao implcita dos novos horizontes polticos nos quais a associao com
Os resultados eleitorais do oficialismo lhe
valeram ainda a manuteno de sua maioria
de 2/3 nas duas cmaras do rgo
Legislativo Plurinacional, onde o MAS
contar com 86 deputados de um total de
130 e 25 senadores de um total de 36 (ver
Figura 1), o que confirma a consolidao do
MAS como partido predominante no sistema
poltico boliviano atual.
Mas mais do que essa confirmao dessa
hegemonia que j vinha se manifestando
acentuadamente desde pelo menos a
promulgao da atual CPE em 2009 e a
conformao do atual Estado Plurinacional
da Bolvia, os resultados das ltimas eleies
parecem ter trazido a consolidao dos
prprios marcos do fazer poltico boliviano
conforme definidos em sua atual verso
plurinacional. Conforme apontam Errejn e
Canelas (2012, p. 28), episdios de forte
conflito social como o gasolinao de 20104
ou as marchas em defesa do Territrio
Indgena e Parque Nacional Isiboro-Scure
(TIPNIS) de 2011 e 20125 que muitos em seu
tempo apontaram como o incio do fim da
hegemonia poltica do MAS parecem, na
verdade, mostrar a consolidao de uma
espcie de novo senso comum de poca
plurinacional que define o espao poltico do
legtimo em torno do retorno do Estado
economia e suas funes de soberania, das
autonomias departamentais e indgenas e da
descolonizao de suas instituies polticas.
polticas neoliberais possui uma valncia negativa amplamente predominante. 5 Lideranas da Confederao Indgena da Bolvia (Cidob) organizaram em 2011 uma marcha de Trinidad a La Paz em protesto contra a construo de uma estrada que atravessaria o TIPNIS sem que tivesse sido realizada a devida consulta prvia segundo estabelecido pela CPE e tratados internacionais assinados pelo pas. O conturbado processo em torno do TIPNIS do qual a candidatura de Fernando Vargas do PVB um
Figura 1: rgo Legislativo
Plurinacional, Legislatura 2015-
2020
Fonte: Elaborao prpria a partir de dados do
rgano Electoral Plurinacional disponveis em
http://www.oep.org.bo/
86
33
11
Cmara de Deputados
MAS
UD
PDC
25
9
2
Senado
MAS
UD
PDC
RodrigoDestacar
RodrigoLinha
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
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significativo que dos quatro competidores,
apenas um (Tuto Quiroga, do Partido
Democrata Cristo PDC) tenha buscado se
colocar abertamente no campo conservador
e ainda assim sem maior clareza
programtica em torno de questes de
polticas pblicas concretas. E pela primeira
vez desde a irrupo de Morales ao primeiro
plano da poltica nacional, esse candidato
mais conservador no foi seu principal
oponente (MOLINA, 2014), tendo Quiroga
ficado em terceiro lugar com menos da
metade dos votos do segundo colocado,
Dria Medina (UD), que vinha buscando
desde antes do pleito se associar a
simbologias de centro-esquerda (CUNHA
FILHO, 2014) e se apresentou
programaticamente como centrista durante
a campanha. Os outros dois candidatos
menores, por sua vez, representavam em
certa medida fraes dissidentes do prprio
oficialismo tendo estado em algum
momento anterior aliado ou mesmo
integrando o MAS e que competiram
buscando mostrar as supostas traies e
promessas descumpridas do governo
dentro, portanto, da mesma rbita
ideolgico-programtica.
Assim, os resultados eleitorais parecem
apontar na direo da conformao de um
incipiente sistema partidrio hegemonizado
esquerda pelo MAS, com uma oposio de
centro-direita (UD) e direita (PDC) e espaos
polticos passveis de ocupao por projetos
desdobramento direto levou o presidente a cancelar a construo da estrada, para em seguida voltar atrs aps a realizao de nova marcha, desta vez organizada pelo Conselho Indgena do Sul (Conisur) e que demandava a construo da referida estrada. O governo decidiu ento realizar uma consulta no TIPNIS, a qual provocou nova marcha da Cidob em 2012 (desta vez ignorada pelo governo) e na qual 11 das 69 comunidades do TIPNIS se recusaram a participar e 54 das 58
de centro-esquerda ou de ecologismo
indianista representados pelos seguidores e
lideranas dos agora extintos MSM e PVB
(CUNHA FILHO, No prelo), embora muito
da consolidao ou reformulao desse
quadro partidrio certamente depender
dos arranjos para as prximas eleies
departamentais e municipais a serem
realizadas em 29 de maro de 2015.
O atual e popular prefeito de La Paz, Luis
Revilla, parece ter aproveitado a
oportunidade da dissoluo do MSM pelo
qual ele se elegera referia prefeitura para
marcar distncias com seu antigo mentor
Juan Del Granado e vem lutando contra o
tempo para legalizar uma nova sigla eleitoral
com a qual concorrer reeleio, embora
venha recebendo forte assdio da UD que lhe
oferece um apoio por hora rejeitado. O
prprio comportamento da UD, uma
coalizo eleitoral entre os partidos Unidade
Nacional (UN) de Dria Medina e
Movimento Democrtico Social (MDS) do
governador de Santa Cruz, Rubn Costas, e
outros grupos menores, poder ser
determinante para a consolidao desse
quadro partidrio ou sua posterior
fragmentao dependendo do quanto
consiga se apresentar novamente unida nas
eleies regionais em vez de se fracionar
entre suas unidades componentes. Por sua
vez, o MAS agora ter que lidar com tenses
internas aumentadas pela incorporao de
outros grupos sociais e regionais e se coloca
comunidades consultadas aprovaram a construo da estrada, que no entanto segue paralisada. O episdio do TIPNIS marcou o momento de maior tenso poltica do governo, arranhou sua imagem indianista/ecologista internacional e tambm foi utilizado com afinco pela oposio, mesmo por lideranas que durante o processo constituinte tinham se oposto aos direitos de consulta prvia e autonomia territorial indgena.
RodrigoDestacar
RodrigoDestacar
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metas ambiciosas como tomar a prefeitura
de La Paz, a governao de Santa Cruz ou
mesmo a do Beni onde perdeu nas eleies
nacionais ao contrrio de todo o resto do
pas. A prpria indicao dos candidatos s
governaes, prefeituras das principais
cidades e listas de deputados
departamentais e vereadores pelo MAS ter
que ser um tenso exerccio de busca de
equilbrios e consensos internos sem os
quais no apenas dificilmente poder obter
o xito futuro atualmente almejado pelas
lideranas partidrias governistas, como
tambm poderia mesmo em cenrios de
divergncia extrema pr em questo a
coeso de sua bancada legislativa nacional.
Referncias
CUNHA FILHO, Clayton M. 2008, o ano da
virada de Evo Morales? Observador On-line,
v. 3, n. 12, p. 217, dez. 2008.
CUNHA FILHO, Clayton M. As eleies
gerais bolivianas de 2014: perspectivas e
prognsticos. Boletim OPSA, v. 10, n. 3,
2014.
CUNHA FILHO, Clayton M. Los dilemas de
la representacin poltica contempornea en
Bolivia: movimientos sociales, partido y
Estado en tiempos de Proceso de Cambio.
In: ALBAL, ADRIN (Org.). . Sociedad
civil y representacin poltica en Amrica
Latina. Buenos Aires: Prometeo Libros, No
prelo. .
CUNHA FILHO, Clayton M. O novo mapa
poltico boliviano: uma interpretao a
partir dos ltimos resultados eleitorais.
Observador On-line, v. 5, n. 6, p. 116, 2010.
ERREJN, Iigo; CANELAS, Manuel. Las
Autonomas en Bolivia y su Horizonte: un
anlisis poltico. In: MINISTERIO DE
AUTONOMAS (Org.). . Ensayos sobre la
autonomia en Bolivia. Serie autonomias
para la gente. La Paz: Ministerio de
Autonomias, 2012. p. 2132.
MOLINA, Fernando. Las implicaciones del
tercer mandato de Evo Morales. Agencia de
Noticias. Disponvel em:
. Acesso em: 13 out. 2014.
Pela terceira vez, Frente Ampla!
Marianna Albuquerque
Pesquisadora OPSA
Introduo
A Frente Ampla, coalizo de esquerda,
conseguiu eleger um candidato pela
primeira vez para o cargo de Presidente do
Uruguai em 2005, aps o mandato de Jorge
Battle Ibaez, do tradicional Partido
Colorado. Correndo por fora na campanha,
Tabar Vsquez assumiu a presidncia
prometendo cumprir o programa
progressista que a Frente Ampla apresentou
aos eleitores uruguaios. Aps cumprir seus
Monitor Eleitoral: Uruguai
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cinco anos de mandato, em um pas no qual
a legislao eleitoral no contempla a
possibilidade de reeleio, Vsquez deu
lugar a Jos Pepe Mujica, tambm da
Frente Ampla, e alado categoria de grande
lder sul-americano.
O ano de 2014 foi marcado pelas eleies em
diversos pases da Amrica do Sul, tanto
legislativas quanto para cargos executivos.
Alm do Brasil, eleitores uruguaios tambm
compareceram s urnas para escolher as
listas de candidatos para o Congresso
Uruguaio e para definir o sucessor de
Mujica. Com alta popularidade mundial e
com a provao de medidas ao mesmo
tempo aclamadas e contraditrias, Mujica
jogou a responsabilidade de manter seu
programa para seu futuro sucessor. A
prpria votao de outubro traria consigo
um exemplo do caminho aberto por Mujica
para discutir temas antes intocveis: em
conjunto com as eleies, os cidados
uruguaio votaram em um plebiscito sobre a
reduo da maioridade penal para 16 anos. A
Frente Ampla fez campanha pelo no.
As eleies de 2014: o primeiro turno
As eleies internas nos Partidos para a
escolha dos candidatos que comporiam as
chapas para o pleito de outubro
movimentaram o primeiro semestre de
2014. Em junho, os Partidos definiram os
candidatos para Presidente e Vice-
Presidente. Com a apurao das eleies
internas dos partidos no Uruguai, realizadas
em 01/06, os candidatos para a eleio
presidencial de outubro esto definidos.
Confirmando o favoritismo apontado pelas
pesquisas anteriores, Tabar Vasquez foi
escolhido o candidato da Frente Ampla, ao
derrotar Constanza Moreira. No Partido
Nacional, Luis Lacalle Pou consagrou-se
vencedor, derrotando Jorge Larraaga,
enquanto Pedro Bordaberry foi eleito para
ser o candidato do Partido Colorado, ao
vencer Jos Amorim Battle. Pelo Partido
Independente, Pablo Mieres disputar as
eleies.
A Frente Ampla formou a chapa com Tabar
Vsquez, ex-presidente, e Ral Sendic,
Ministro de Indstria e Energia do governo
Mujica, com 156 votos favorveis dos 158
integrantes do Plenrio da Frente Ampla.
Pela oposio, o Partido Nacional, o Partido
Colorado e Partido Independente tambm se
organizaram para tentar provocar
alternncia de poder no que seria o terceiro
mandato consecutivo da Frente Ampla.
Nesse sentido, Luis Lacalle Pou foi escolhido
para representar os nacionalistas, Pedro
Bordaberry para concorrer pelos colorados,
e Pablo Mieres para tentar levar os
independentes pela primeira vez ao
Executivo.
Aps a definio dos candidatos, institutos
de pesquisa comearam a investigar os
possveis resultados das eleies
presidenciais, como a pesquisa divulgada
pelo Instituto Factum. A pesquisa, realizada
durante o ms de julho, contou com uma
amostra de 968 eleitores, das reas urbana e
rural, de todas as regies do pas e com a
pergunta Quem prefere como Presidente da
Repblica?. Os resultados apontam que
Tabar Vsquez, candidato da Frente Ampla,
possua em abril 59% da preferncia do
eleitorado, enquanto seu principal
adversrio, Lacalle Pou, do Partido
Nacional, contava com 34% das intenes de
voto (em abril, as candidaturas ainda no
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haviam sido oficializadas e as chapas no
haviam sido formalmente
institucionalizadas). No resultado da
pesquisa realizada em julho, j com as
internas apontando para os candidatos
finais, a diferena entre os dois candidatos
diminuiu, com 51% para Vsquez e 46% para
Lacalle Pou. O Instituto Factum acrescentou
uma pergunta sobre a firmeza da deciso dos
eleitores e concluiu que, dos eleitores que
declararam preferncia Vsquez, 12%
ainda admitiam mudar de opinio, enquanto
13% dos pretensos eleitores de Lacalle Pou
tambm consideram a mesma possibilidade.
O plebiscito sobre a reduo da maioridade
penal tambm dividiu opinies e ressaltou as
clivagens entre os Partidos. Enquanto a
Frente Ampla associou a coligao com a
opo pelo no, os Partidos Nacional e
Colorado mostraram-se favorveis ao sim.
Em pesquisa realizada pela consultoria Cifra
em agosto, a diviso de opinies aparece
claramente. Segundo pesquisa realizada
durante os dias 8 e 18 de agosto, na capital
Montevidu e em cidades do interior, 49%
dos entrevistados mostraram-se a favor da
diminuio, 40% contra e 11% no souberam
responder. Ao correlacionar a opinio com a
preferncia partidria dos entrevistados, a
consultoria concluiu que os frenteamplistas
so majoritariamente favorveis
manuteno da idade de 18 anos, enquanto
os colorados apiam a reduo. A
Organizao das Naes Unidas, a
Comunidade dos Bispos e diversas
organizaes de Direitos Humanos se
posicionaram publicamente contra o
projeto, que havia sido lanado pelo
candidato Pedro Bordaberry.
O clima de indefinio nas eleies, com a
possibilidade palpvel de segundo turno e de
no obteno da maioria parlamentar, levou
a Frente Ampla a adotar uma nova
estratgia. O ento presidente, Jos Mujica,
havia firmado que no concorreria a
nenhum cargo nas eleies, j que a
Constituio do pas no prev a reeleio.
Aps recusar o governo de Montevidu,
Mujica resolveu integrar a lista ao Senado do
Espao 609, vertente da Frente Ampla.
Como o sistema poltico do Uruguai opera
sob o regime de lista fechada, o objetivo de
Mujica fortalecer a bancada
frenteamplista, que lidera as pesquisas para
a presidncia com o candidato Tabar
Vsquez. O anncio do atual presidente
ocorreu em um momento conturbado das
eleies, nos quais a pesquisas j previam
segundo turno e ausncia de maioria
parlamentar por parte de qualquer um dos
partidos. A proximidade entre as intenes
de voto entre Vsquez e Lacalle e o bom
desempenho de Bordaberry no debate
televisivo tambm tornaram a estratgia de
Mujica de fortalecer a Frente Ampla uma
alternativa que poderia influir efetivamente
no resultado.
O dia marcado para a definio dos
prximos cinco anos do pas foi 26 de
outubro. Aps meses de intensa campanha,
os resultados levaram as eleies para o
segundo turno. Tabar Vsquez obteve
47,9% dos votos, Lacalle Pou recebeu
30,97% dos votos, 12,93% dos eleitores
optaram por Pedro Bordaberry e Pablo
Meires, do Partido Independente, recebeu
3,07% dos votos. Desde a Reforma
Constitucional de 1996, o sistema eleitoral
uruguaio acena com a possibilidade de
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segundo turno se nenhum dos candidatos
receber mais de 50% mais um dos votos.
Pelos resultados, ficou definido que o
segundo turno seria disputado entre
Vsquez e Lacalle. A maioridade penal foi
mantida em 18 anos aps 53,01% dos
eleitores optarem pelo no no plebiscito
sobre a reduo para 16 anos, resultado
coerente com as preferncias
frenteamplistas.
Uma anlise da votao por departamentos
indica que a Frente Ampla foi a preferida dos
eleitores em Montevidu, Artigas, Salto,
Paysand, Rio Negro, Soriano, Colonia, San
Jos, Canelones, Maldonado, Rocha,
Florida, Cerro Largo e Rivera. J o Partido
Nacional recebeu a maior parte dos votos em
Lavalleja, Flores, Durazno, Treinta y Trs e
Tacuarembo. A anlise pelas clivagens
sociais tambm permite verificar que, entre
jovens de 18 a 30 anos, 52% votaram na
Frente Ampla, assim como em regies
compostas primordialmente por setores
populares e classe mdia, a exemplo de
Pocitos, Punta Carretas, El Prado. O
desempenho de Pedro Bordaberry, do
Partido Colorado, esteve abaixo das
expectativas tanto das pesquisas eleitorais
quanto de seu partido.
Nas eleies legislativas, a maioria
parlamentar da Frente Ampla tambm ficou
dependendo do resultado do segundo turno.
No Senado, a Frente Ampla conseguiu 15
cadeiras, exatamente metade das 30
possveis, com a oposio somando outras
15. Ocorre que a legislao prev que, em
caso de empate, o vice-presidente da
Repblica desempata, o que garantiria a
maioria da Frente Ampla caso Vsquez fosse
eleito e Sendic fosse chamado ao Parlamento
para dar seu veredicto. A distribuio das
cadeiras no Senado foi de 15 para a Frente
Ampla, 10 para o Partido Nacional, 4 para o
Partido colorado e 1 para o Partido
Independente. J na Cmara dos Deputados,
de 99 cadeiras, a Frente Ampla obteve 50
cadeiras, o Partido Nacional ficou com 32, o
Partido Colorado com 13 e o Partido
Independente com 4.
O segundo turno
Os resultados mostraram uma preferncia
pela Frente Ampla maior do que a apontada
nas pesquisas eleitorais. Portanto, assim que
foi decretado o segundo turno, a oposio se
uniu em apoio a Lacalle. Apesar da
subestimao do desempenho de Vsquez
no primeiro turno, todas as pesquisas
eleitorais para o segundo turno apontaram
vitria da Frente Ampla. A Consultoria Cifra
entrevistou 1001 eleitores durante os dias 6
e 10 de novembro em Montevidu e cidades
do interior. Os resultados apontaram para
uma preferncia de 52% dos eleitores pela
FA, 35% para o candidato Lacalle Pou, do
Partido Nacional; brancos nulos e indecisos
somaram 13%. A consultoria Equipos
publicou pesquisa com resultados
semelhantes: 52% para a FA, 39% para o
Partido Nacional e 9% para brancos, nulos e
indecisos. A Equipos tambm pesquisou a
nova preferncia entre os eleitores que
tiveram seus candidatos derrotados no
primeiro turno: a maioria dos eleitores do
Partido Colorado declarou votar em Lacalle
Pou, enquanto entre os eleitores do Partido
Independente as preferncias se dividem
entre Vsquez e votos em branco.
O segundo turno das eleies presidenciais
ocorreram dia 30/11, opondo o tradicional
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Boletim OPSA | 04 | out./dez. 2014
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Partido Nacional e a Frente Ampla. O
resultado do pleito confirmou a vitria de
Vsquez como sucessor do presidente
Mujica, cujo mandato se encerra em maro
de 2015. A apurao dos votos resultou em
uma vantagem de aproximadamente 13
pontos percentuais, maior do que o previsto.
Essa diferena de votos foi a maior
registrada entre dois candidatos desde a
reforma eleitoral de 1996, que instituiu o
segundo turno nas eleies executivas.
Mesmo com a unio da oposio, o apoio do
Partido Colorado a Lacalle Pou no foi
suficiente para melhorar o desempenho do
candidato. Com a vitria, Vsquez
confirmou a maioria parlamentar da Frente
Ampla e o terceiro mandato consecutivo da
coligao, que domina as eleies desde
2005.
Aps a confirmao da vitria de Vsquez,
Mujica compareceu ao Comit de campanha
para parabenizar Vsquez. Lacalle proferiu
discurso admitindo a derrota e prometeu
fazer o papel de oposio e fiscalizar o
governo. Vsquez, por sua vez, prometeu
dilogo construtivo com a oposio e j
comeou a negociar com a cpula da Frente
Ampla a configurao de sua equipe, que
governar o Uruguai pelos prximos cinco
anos.
Consideraes finais
A vitria de Vsquez, com a maior vantagem
obtida por um candidato no segundo turno
na histria do pas, confirmou a recente e j
consolidada hegemonia da Frente Ampla
nas eleies nacionais do Uruguai. Em seu
segundo mandato, Vsquez contar com um
pas diferente do que deixou: o Uruguai
conta com indicadores sociais mais altos,
com a lei de legalizao da maconha
regulamentada, com as portas abertas para
presos de Guantnamo e refugiados srios e
com os olhos do mundo voltados para o pas
que ganhou notoriedade com a liderana
global de Mujica. Entretanto, a
personalidade de Vsquez difere
significativamente da de seu antecessor, o
que indica que a continuidade no se dar
sem percalos. O novo presidente j se
posicionou publicamente contra algumas
atitudes polticas de Mujica e se
comprometeu a rever algumas medidas
adotadas. O desafio da Frente Ampla ser se
reinventar, sem perder sua essncia de
coligao de esquerda, com o desafio de
substituir um presidente carismtico e nico
por um poltico mais tradicional e de
posies mais afinadas com as vertentes de
centro.