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ISSN 1806-0463

v. 12 | n. 3-4 | setembro/dezembro 2010

Boletim EpidemiolgicoApresentaoO Boletim Epidemiolgico abriu espao, neste nmero especial, para um tema que vem ganhando visibilidade na Vigilncia em Sade: a Vigilncia Entomolgica. A proposta desta edio sedimentar conceitos e atribuies, apresentar aes de programas e apontar perspectivas para a Vigilncia Entomolgica no Rio Grande do Sul (RS). Espera-se contribuir para a qualificao de tcnicos municipais e estaduais dessa rea de atuao, e ampliar os conhecimentos da populao.Figura 1 - Haemagogus leucocelaenus Figura 4 - Triatoma infestans Figura 3 - Borrachudo Figura 2 - Aedes aegypti

Fonte: Edmilson dos Santos/DVAS/CEVS/RS

Fonte: Edmilson dos Santos/DVAS/CEVS/RS Fonte: James Gathani/PHI/CDC

Figura 5 - Panstrongylus megistus

Figura 6 - Triatoma rubrovaria Figura 7 - Lonomia sp.Fonte: LNIRTT/IOC/FIOCRuz

Fonte: CIT/RS Fonte: LNIRTT/IOC/FIOCRuz Fonte: LNIRTT/IOC/FIOCRuz

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Vigilncia Entomolgica no Rio Grande do SulJder da Cruz Cardoso11

palmente, das ordens Lepidoptera (lagartas de borboletas e mariposas e formas adultas da ltima) e Hymenoptera (abelhas, vespas e formigas). Dentre as atribuies da Vigilncia Entomolgica destacam-se a identificao de espcies ocorrentes em determinada regio; caracterizao de situaes ambientais e climticas que favoream a proliferao de vetores e disseminao de patgenos; deteco de espcies alctones (exticas) e identificao de indicadores e fatores de risco epidemiolgico atribudos aos vetores para que se possa interferir previamente bloqueando os surtos possveis (GOMES, 2002). O Rio Grande do Sul mantm, desde a dcada de 1970, diversas aes relacionadas ao controle de vetores como barbeiros e borrachudos, respectivamente, por meio do Programa Nacional de Controle da Doena de Chagas (PNCDCh) e Programa Estadual de Controle de Simuldeos. Na dcada de 1980 a Seo de Zoonoses e Vetores (SZV) da Secretaria Estadual da Sade (SES), assessorava os municpios interessados no controle de mosquitos urbanos do gnero Culex sp., treinando equipes para aes de controle qumico. Aps a descentralizao das aes de sade, de 1999 e 2000, a SES assume a coordenao, superviso e execuo dos programas de mbito nacional (PNCDCh e Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), com o intuito de, gradativamente, transferir a execuo para os municpios. A partir dos anos 2000, o Estado passou a viver uma nova realidade no campo das Doenas Transmitidas por Vetores (DTV), com registros de casos humanos de leishmaniose tegumentar e visceral, dengue e febre amarela, alm de iniciada a vigilncia de vetores de malria e arbovrus como o Vrus do Nilo Ocidental em reas receptivas e/ou vulnerveis. Visto que algumas dessas antropozoonoses esto assumindo carter endmico no Rio Grande do Sul, esta nova situao epidemiolgica demonstra a necessidade de estruturao e consolidao da Vigilncia Entomolgica como estratgia a ser trabalhada pela Vigilncia Ambiental em Sade. Referncias DONALSIO, M. R.; GLASSER, C. M. Vigilncia entomolgica e controle de vetores do dengue. Rev Bras Epidemiol., So Paulo, v. 5, n. 3. p. 259-272. 2002. GOMES, A. de C. Vigilncia Entomolgica. Informe Epidemiolgico do SUS, Braslia, DF , v. 11, n. 2. p. 79-90. 2002. KENT, R. J.; LACER, L. D.; MEISCH, M. V. Initiating Arbovirus Surveillance in Arkansas, 2001. J Med Entomol. v. 40, n. 2. p. 223-229, 2003. 2001. MOORE, C. G. et al. Guidelines for arbovirus surveillance programs in the united states. Colorado: CDC, 1993.

Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade, CEVS/RS E-mail: [email protected]

O estudo de insetos de interesse em sade pblica proporciona o conhecimento da composio de espcies, biodiversidade, reas de disperso, comportamento, dentre outras caractersticas, com a finalidade de tentar controlar suas populaes e desta forma elimin-los ou mant-los em um nvel no qual a probabilidade de causar danos ou transmitir patgenos seja mnima. Tambm importante conhecer o risco ocasionado pelo contato homem-vetor no tempo e espao. Dessa forma, pode-se conhecer o risco e quantificar a populao de vetores por meio de monitoramentos ou vigilncia constante (PERU, 2002). Atualmente, no contexto da Vigilncia Ambiental em Sade (VAS), a Vigilncia Entomolgica pode ser entendida como contnua observao e avaliao de informaes originadas das caractersticas biolgicas e ecolgicas dos vetores, nos nveis das interaes com hospedeiros humanos e animais reservatrios, sob a influncia de fatores ambientais, que proporcionem o conhecimento para deteco de qualquer mudana no perfil de transmisso das doenas. Tem a finalidade de recomendar medidas de preveno e controle de risco, utilizando coleta sistematizada e consolidao de dados em um sistema de informao (GOMES, 2002). A ecologia de vetores o pilar central da Vigilncia Entomolgica e est entre suas principais linhas de investigao (DONALSIO; GLASSER, 2002). As aes de Vigilncia Entomolgica podem ser estabelecidas e direcionadas para um grupo de espcies, situao em que amostras representativas da fauna podem ser coletadas com a mesma tcnica, na mesma ocasio amostral, otimizando recursos e oferecendo informaes importantes para a vigilncia, dependendo da capacidade e estrutura laboratorial (KENT; LACER; MEISCH, 2001; MOORE et al., 1993) ou, segundo Donalsio; Glasser (2002), o trabalho pode ser voltado para uma nica espcie vetora conhecida, como Aedes aegypti. A Vigilncia Entomolgica direciona suas aes para insetos que atuam como vetores biolgicos de patgenos ou causadores de agravos. No primeiro grupo esto includas espcies das famlias Culicidae (mosquitos), Psychodidae (flebotomneos), Simuliidae (borrachudos) e Reduviidae (barbeiros). Alm de mosquitos e borrachudos, que podem causar incmodo pela ao da picada, dentre os grupos associados a agravos esto aqueles de interesse toxicolgico como insetos, princi-

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PERU. Ministerio de Salud. Direccion General de la Salud Ambiental (DIGESA). Manual de campo para la vigilancia entomolgica. Lima: DIGESA, 2002. PALAVRAS-CHAVE: Rio Grande do Sul. Vigilncia Entomolgica. Zoonoses.

A partir do final de outubro de 2008, com o incremento das epizootias em PNH e registros dos primeiros casos humanos de Febre Amarela aps 40 anos, as coletas de mosquitos silvestres foram intensificadas, chegando a abril de 2009 com 1270 exemplares coletados em 25 municpios. Alm das coletas em locais de ocorrncia de epizootias, as equipes da Vigilncia Ambiental em Sade realizaram investigaes entomolgicas nos Locais Provveis de Infeco (LPIs) para reforar o vnculo epidemiolgico dos casos humanos confirmados. Nos municpios de Caibat e Coronel Barros, onde PNH morreram de febre amarela, foi possvel isolar o vrus de mosquitos Hg. leucocelaenus, reforando sua importncia como principal vetor do vrus amarlico silvestre no RS. O vrus tambm foi isolado de trs exemplares de Aedes serratus capturados na mesma poca em Coronel Barros, sendo o primeiro encontro do vrus nessa espcie. Esse achado de infeco natural amplia as perspectivas sobre o papel vetorial dessa espcie e sugere maiores estudos para esclarecer sua atuao como possvel vetor secundrio no sul do Brasil (CARDOSO et al., 2010a). At o momento, a presena de Hg. leucocelaenus j foi verificada em 32 municpios, com base em amostragens de campo e registros disponveis na literatura (Mapa 1). Alm de atividades direcionadas como investigaes entomolgicas associadas a epizootias de PNH e/ou casos humanos (suspeitos ou confirmados) de febre amarela, e atividades de monitoramento do vrus do Nilo Ocidental em refgios de aves migratrias como o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Tavares/RS, so realizados levantamentos de potenciais vetores e deteco de encefalites em ambientes silvestres. Todos os mosquitos coletados em decorrncia dessas atividades so enviados para a Seo de Arbovirologia e Febres Hemorrgicas do IEC, onde so testados para febre amarela e outros 18 arbovrus. No Estado, j foram encontrados anticorpos para o vrus Saint Louis - em bugios da espcie Alouatta caraya (So Luiz Gonzaga, Santo Antnio das Misses e So Borja) e Alouatta guariba clamitans (Santa Maria) - e Oropouche em Alouatta caraya (Santo Antnio das Misses), demonstrando a circulao silvestre destes arbovrus (ALMEIDA et al., 2006). No perodo de dezembro de 2006 a dezembro de 2008, em rea silvestre, rural e urbana do municpio de Maquin foram realizadas atividades de monitoramento de mosquitos resultando no encontro de 55 espcies, das quais 22 foram registradas pela primeira vez no Estado e 10 consideradas potencialmente vetoras do vrus Saint Louis, Oropouche, Aura, Trocara, Ilhus, Rocio, Una, VNO e EEL. Essas informaes podero direcionar atividades de vigilncia entomo-epidemiolgica a fim de ampliar conhecimentos sobre a fauna de vetores e aspectos epidemiolgicos desses arbovrus (CARDOSO et al., 2010b). Alm disso, os ltimos registros de isolamento de VNO em Bol. Epidemiolgico | v. 12 | n. 3-4 | setembro/dezembro 20103

Vigilncia de Vetores de Arbovrus Silvestres no Rio Grande do SulJder da Cruz Cardoso11 Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade, CEVS/RS E-mail: [email protected]

O termo arbovrus formado pelas slabas iniciais da expresso inglesa Artrhopod borne viruses, que significa vrus transmitidos por artrpodos, ou seja, veiculados por carrapatos e insetos hematfagos. Os arbovrus multiplicam-se nos tecidos dos artrpodos, acumulam-se nas glndulas salivares e so veiculados para os hospedeiros vertebrados pela picada dos vetores. Quando infectados por um hospedeiro vertebrado virmico (presena de vrus no sangue), os artrpodos vetores permanecem com o arbovrus por toda a sua existncia. Os mosquitos so os principais artrpodos vetores de arbovrus, com uma grande diversidade de espcies desempenhando este papel. Dentre os vrios arbovrus silvestres transmitidos por mosquitos esto o da febre amarela e de diversas encefalites, como Encefalite Equina do Leste (EEL), Encefalite Equina do Oeste (EEO), Encefalite Venezuelana (EV), Vrus do Nilo Ocidental (VNO), Rocio, Oropouche e Saint Louis. No Rio Grande do Sul, desde 2001, quando o vrus da Febre Amarela Silvestre (FAS) foi isolado em mosquitos Haemagogus leucocelaenus (Figura 1) (VASCONCELOS et al., 2003), a Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade (DVAS) vem realizando capacitaes de equipes de campo das Coordenadorias Regionais de Sade (CRS) e secretarias municipais de sade e aes de coleta de vetores em diversas localidades. Inicialmente, tcnicos do Instituto Evandro Chagas, do Par, (IEC/ PA), rgo vinculado Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade (SVS/MS), apoiaram as investigaes entomolgicas e capacitaes das equipes de entomologia do RS. A partir de 2002, com a estruturao da vigilncia de epizootias (epi=sobre; zoo=animal, epizootias so doenas que se propagam rapidamente atingindo nmero inusitado de animais ao mesmo tempo e na mesma regio), na sua forma ativa, as atividades de entomologia de campo passaram a ser realizadas concomitantemente s atividades de capturas de Primatas No Humanos (PNH) (TORRES et al., 2003).

Mapa 1 - Distribuio de Haemagogus leucocelaenus, vetor da febre amarela silvestre no RS.

Fonte: DVAS/CEVS/RS

equinos e humanos na Argentina (MORALES et al., 2006; ARGENTINA, 2010), mais a epidemia de vrus Rocio ocorrida na dcada de 70 na mata atlntica do litoral de So Paulo (MITCHELL et al., 1986), aliados presena de vetores e hospedeiros potenciais no RS, justificam a manuteno da vigilncia ambiental destes arbovrus no Estado. Neste contexto, a Vigilncia Entomolgica deve ser abordada como uma importante estratgia de deteco precoce da circulao viral subsidiando aes de preveno e controle da doena. Para tanto, deve-se ampliar localmente a capacidade de resposta da Vigilncia com equipes qualificadas para as atividades de campo. Tambm fundamental a incorporao de tcnicas para taxonomia (identificao) de mosquitos e testes de infeco natural a partir dos vetores e hospedeiros animais por parte do Laboratrio Central do Estado (IPB-LACEN/RS) e toda sua rede de laboratrios. Referncias ALMEIDA, M. A. B. et al. Vigilncia de febre amarela e outras arboviroses atravs do monitoramento de primatas no humanos de vida livre no Rio Grande do Sul. Rev. Soc. Bras. Med. Tropical, Uberaba, MG, v. 41, supl. I., p. 173, 2008. ARGENTINA. Ministrio de Salud de la Nacin. Deteccion deVrus del Nilo Occidental (VNO) en Humanos. Departamento de Epidemiologia. Disponvel em: . Acesso em: nov. 2010.4

CARDOSO, J. da C. et al. Yellow Fever Virus in Haemagogus leucocelaenus and Aedes serratus mosquitoes, Southern Brazil, 2008. Emerg. Infect. Dis., Atlanta, v. 16, p. 1918-1924. 2010a. CARDOSO, J. da C. et al. Novos registros e potencial epidemiolgico de algumas espcies de mosquitos (Diptera, Culicidae), no Estado do Rio Grande do Sul. Rev. Soc. Bras. Med. Tropical, Uberaba, MG, v. 43, p. 552-556. 2010b. MITCHELL C. J.; FORATTINI O. P.; MILLER B. R. Vector competence experiments with Rocio virus and three mosquito species from the epidemic zone in Brazil. Rev. Sade Pblica, So Paulo, v. 20, p. 171-177. 1986. MORALES M. A. et al. West Nile virus isolation from equines in Argentina, 2006. Emerg. Infect. Dis., Atlanta, v. 12, p. 1559-1561. 2006. TORRES, M. A. N. et al. Vigilncia da febre amarela silvestre no Rio Grande do Sul. Boletim Epidemiolgico, Porto Alegre, RS, v. 5, ed. esp. p. 1-8. 2003. VASCONCELOS P. F. C. et al. Isolations of yellow fever virus from Haemagogus leucocelaenus in Rio Grande do Sul State, Brazil. Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, London, v. 97, p. 60-62. 2003. PALAVRAS-CHAVE: Vigilncia Ambiental em Sade. Arbovrus. Entomologia. Rio Grande do Sul.

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Vigilncia Entomolgica da Dengue no Rio Grande do SulLaura Londero Cruz1, Aletha Fagundes Sperb2, Marilina Bercini31 Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade, DVAS-CEVS/RS E-mail: [email protected] 2 Centro de Informaes Estratgicas em Sade, CIEVS-CEVS/RS E-mail: [email protected] 3 Diviso de Vigilncia Epidemiolgica, DVE-CEVS/RS E-mail: [email protected]

A Vigilncia Entomolgica tem como objetivo o monitoramento dos ndices de infestao por Aedes aegypti para subsidiar a execuo das aes apropriadas de eliminao dos criadouros de mosquitos e diminuio da populao de insetos adultos nos momentos de transmisso viral. As aes propostas no Plano so: 1. Realizar a alimentao diria do Sistema de Informao de Febre Amarela e Dengue (SIS-FAD) e proceder anlise dos dados de vigilncia e controle de vetores em todos os municpios; 2. Manter o SIS-FAD como nica fonte de informaes vetoriais para a vigilncia da dengue; 3. Realizar a consolidao e anlise dos indicadores de acompanhamento da situao entomolgica, em todos os municpios, para a identificao de municpios de maior risco; 4. Implantar metodologia para realizar levantamento rpido de ndices de infestao, em municpios de maior risco (a proposta em municpios infestados acima de 100.000 habitantes). O combate ao vetor tem como objetivos: a) Intensificar as aes de combate ao vetor em 100% dos municpios infestados; b) Reduzir a menos de 1% a infestao predial por Aedes aegypti em 100% dos municpios do Estado; c) Diminuir a populao de insetos adultos nos momentos de transmisso vetorial, visando conter a epidemia. Para tanto, as aes propostas so: - Apoiar as Secretarias Municipais de Sade com equipamentos necessrios para as aes de combate ao vetor, incluindo a disponibilizao de bombas costais, veculos para utilizao de UBV, mscaras para aplicao de inseticidas e insumos; - Supervisionar a correta utilizao dos equipamentos disponibilizados para as aes de combate ao vetor;

Aps vrias dcadas sem a presena do vetor da dengue no Rio Grande do Sul (RS), em 1995, foi detectado foco de Aedes aegypti (Figura 2) no municpio de Caxias do Sul. A partir de ento, a Fundao Nacional de Sade do Ministrio da Sade (FUNASA/MS) executou o combate e eliminao do vetor na referida rea e implantou e coordenou a Vigilncia Entomolgica no territrio gacho. A partir do ano 2000, a Vigilncia Entomolgica foi sensivelmente ampliada com o processo nacional de descentralizao da FUNASA para Estados e Municpios. No RS, foi sendo gradativamente absorvida pelos municpios at atingir sua totalidade (Tabela 1), possibilitando registrar a infestao do vetor ao longo dos anos. O Rio Grande do Sul, at o incio ano de 2007, registrou somente casos importados de dengue. Em abril desse ano houve ocorrncia de dengue autctone em municpios da regio noroeste (Giru, Horizontina, Tuparendi e Trs de Maio), rea de abrangncia da 14 CRS, e regio norte (Erechim), da 11 CRS. A situao em municpios da 14 CRS foi descrita, no mesmo ano, em uma edio especial do Boletim Epidemiolgico (v. 9, n. 3). A epidemia foi controlada em maio de 2007, mas colocou o Estado em alerta epidemiolgico. Em 2008 foi lanado o Plano de Contingncia para Dengue do Estado do Rio Grande do Sul, baseado nos 10 componentes do Programa Nacional de Controle da Dengue (PNCD), dentre os quais a Vigilncia Entomolgica, como parte do componente Vigilncia Epidemiolgica e o controle de vetores.

Tabela 1 Municpios com Vigilncia Entomolgica de Aedes aegypti no RS, 1995 a 2007.

Ano Municpios trabalhados

1995 1996 19 145

1997 106

1998 105

1999 99

2000 169

2001 275

2002 427

2003 440

2004 496

2005 491

2006 496

2007 496

Fonte: SIS/FAD/CEVS/SES/RS

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- Apoiar os municpios em aes que permitam alcanar ndices de pendncia menores do que 10% na aplicao das metodologias de Levantamento de ndice (LI); - Apoiar os municpios na utilizao da metodologia de Levantamento de ndice Rpido de Aedes aegypti (LIRAa) ou Levantamento de ndice Amostral, para planejamento de aes de controle do vetor; - Monitorar junto aos municpios o quantitativo de pessoal envolvido na execuo das aes de combate ao vetor; - Intensificar o combate ao vetor, em articulao com a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria, em portos, aeroportos e fronteiras; - Promover aes conjuntas de combate ao vetor em municpios de fronteira estadual; - Promover aes conjuntas de controle vetorial em municpios de fronteira internacional. O Plano de Contingncia deve contemplar as diferentes situaes existentes e as de previsvel ocorrncia, definindo procedimentos adequados a cada uma delas. A proposio de estratgias e a respectiva necessidade de recursos para sua implementao exigem a definio de critrios de priorizao de municpios, a partir da avaliao de risco, que so propostos a seguir: a) Municpios infestados, b) Municpios no infestados vizinhos de 1a e de 2a grandeza, c) Municpios no infestados e d) Municpios com epidemia. a) Municpios Infestados So aqueles no qual o Levantamento de ndice detectou a presena do Aedes aegypti domiciliado. O municpio infestado passa a ser considerado no infestado quando permanecer, pelo menos, 12 meses consecutivos sem a presena do vetor. A Vigilncia Entomolgica deve ser implantada e mantida permanentemente. Todo municpio deve estruturar equipe de agentes de campo, conforme pactuado na Comisso Intergestores Bipartite (CIB), capaz de desenvolver as atividades propostas no Protocolo Tcnico Nacional que so: - Levantamento de ndice em 100% dos imveis e tratamento focal em ciclos bimensais; - Levantamento Rpido de ndice de Aedes aegypti (LIRAa) ou Levantamento de ndice Amostral, de acordo com o numero de imveis, para apoiar no planejamento das aes;

- Pesquisa entomolgica nos Pontos Estratgicos em ciclos quinzenais, com tratamento qumico mensal, quando necessrio; - Atividades de informao, educao e comunicao em sade, buscando a conscientizao e participao comunitria na promoo do saneamento domiciliar; - Mutiro de limpeza em municpios ou bairros visando eliminao ou remoo dos depsitos predominantes; - Regularizao da coleta pblica de lixo; - Bloqueio da transmisso de dengue (quando necessrio). Nas localidades infestadas far-se- o bloqueio da transmisso de dengue, aps investigao epidemiolgica conclusiva de circulao viral. Neste caso, ser feita aplicao de inseticida em UBV, sempre concomitante com as medidas de controle larvrio, segundo Protocolo Tcnico Nacional estabelecido no PNCD, nas seguintes situaes: - Em reas onde a transmisso de dengue (casos autctones) j tenha sido confirmada por isolamento de vrus ou sorologia; - Quando da notificao de caso suspeito procedente de regio ou pas onde esteja ocorrendo a transmisso por um sorotipo no circulante naquele municpio; Nestas situaes devera ser realizado o controle larvrio com eliminao e tratamento de focos (aplicao da metodologia de PVE Pesquisa Vetorial Especial), concomitante com a utilizao de equipamentos de UBV portteis para nebulizao domiciliar nas reas de transmisso focais delimitadas (no mnimo nove quarteires em torno do caso) em apenas um ciclo. Se necessrio, complementar o bloqueio da transmisso com UBV pesado na rea delimitada em ciclos semanais. No caso de transmisso de dengue confirmada, o CEVS, em conjunto com as CRS, apoiar o municpio no planejamento das aes de controle da populao de insetos adultos, visando impactar na transmisso da doena. Sero disponibilizados aos municpios, quando julgado necessrio, em discusso conjunta municpio/CRS/CEVS e na medida da disponibilidade, equipamentos para utilizao de UBV (costais e pesados), insumos, EPIs definidos por legislao e recursos humanos para aplicao dessas metodologias.

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b) Municpios No Infestados Vizinhos de 1 ou de 2 Grandeza So aqueles no qual o Levantamento de ndice ou a rede de armadilhas (Larvitrampa) no detecta a presena do vetor, porm so geograficamente limtrofes (1 grandeza), ou vizinhos a estes (2 grandeza) a um municpio na condio de infestado. A Vigilncia Entomolgica deve ser mantida permanentemente, especialmente em reas de aglomerados urbanos vizinhas de aglomerado urbano infestado. Em situao de circulao viral confirmada em municpio limtrofe, acionar com toda agilidade, concomitantemente: - Atividades de Educao em Sade: informao populao sobre a rea de epidemia, mobilizao da comunidade para intensificar a destruio dos criadouros potenciais do vetor; reunio com servios de sade da rea e de todo municpio para discutir a situao e a estratgia do enfretamento do problema. - Atividades de intensificao de Controle Vetorial: intensificar a pesquisa em armadilhas, ou de Levantamento de ndice e eliminao dos criadouros potenciais, pelas equipes de controle ao vetor. De acordo com a situao geogrfica do municpio, aconselhvel a realizao de LIRAa ou LI Amostral para o planejamento das aes, especialmente na proximidade das estaes do ano que favorecem a proliferao do vetor. - Alerta aos profissionais de sade: os profissionais de sade locais devero ser alertados para identificao precoce de casos suspeitos de dengue, que devero ser imediatamente comunicados s autoridades de sade, para acionarem as medidas necessrias, como realizao de busca ativa de novos casos e Pesquisa Vetorial Especial, de acordo com o Protocolo Tcnico Nacional estabelecido no PNCD. c) Municpios No Infestados So aqueles no qual o Levantamento de ndice ou a rede de armadilhas (Larvitrampa) no detecta a presena do vetor. A Vigilncia Entomolgica deve ser mantida permanentemente. Todo municpio deve estruturar equipe de agentes de campo, conforme pactuado na CIB, capaz de desenvolver as atividades propostas no Protocolo Tcnico Nacional, que so: - Pesquisa entomolgica nos Pontos Estratgicos em ciclos quinzenais; - Pesquisa entomolgica em larvitrampas (armadilhas para larvas) em ciclos semanais;

- Atividades que busquem a conscientizao e participao comunitria na promoo do saneamento domiciliar; - Regularizao da coleta pblica de lixo; - Delimitao de Foco, na qual a pesquisa larvria e o tratamento focal devem ser feitos em 100% dos imveis includos num raio de at 300 metros a partir do foco inicial, detectado em um Ponto Estratgico ou Armadilha, bem como a partir de um LI ou PVE, que a procura eventual de Aedes aegypti em funo de denncia de sua presena em reas no infestadas ou sem transmisso da doena. d) Municpio com epidemia de dengue O objetivo do controle do vetor intensificar as medidas de combate e desenvolver atividades educativas, visando a diminuir o nmero de casos e o tempo de durao da epidemia: - A atividade de combate ao vetor de extrema importncia e precisa ser executada mediante planejamento prvio que considere as reas e/ou bairros com altos ndices de infestao predial e/ou com suspeita de transmisso viral; - As medidas de combate ao Aedes para impedir a circulao viral devem ser intensificadas. O controle qumico vetorial ser direcionado para a eliminao das larvas, mediante tratamento focal, e dos mosquitos alados, atravs da nebulizao espacial a Ultra Baixo Volume. Neste caso, somente se a densidade vetorial estiver em nveis elevados. O combate ao alado deve ser orientado pela distribuio dos casos suspeitos/confirmados de dengue; - As medidas de controle vetorial fsico devero estar voltadas para a eliminao dos criadouros potenciais. Alm disso, deve ser intensificado o tratamento focal para eliminar as formas jovens do mosquito. Recomenda-se a realizao de arrastes e mutires de limpeza, visando reduo e destruio dos criadouros potenciais do vetor. - As atividades de Educao em Sade devero buscar o apoio da comunidade no sentido de adotar, rotineiramente, prticas simples de eliminao dos criadouros existentes dentro do prprio domiclio. Considerando a sazonalidade da dengue, as campanhas de divulgao junto mdia devero ser desencadeadas na poca propcia com a finalidade de sensibilizar a populao, orientando-a na preveno da doena.

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Situao Atual No momento, registra-se infestao de Aedes aegypti em 66 (sessenta e seis) municpios do Rio Grande do Sul (Mapa 2), com ocorrncia de surtos de dengue com incio no vero de 2010 em municpios da regio noroeste e confirmao de casos autctones na Capital e Regio Metropolitana, j em meses de outono e inverno, o que pode justificar o baixo nmero de casos e coloca os municpios em situao pr-epidmica. Consequentemente, a demanda por assistncia mdica ainda no sofreu impacto das epidemias relatadas em outros locais pela dengue. Nesse perodo, as equipes de Vigilncia Epidemiolgica e Ambiental dos municpios tm conseguido, com a participao de profissionais da SES (1 CRS, CEVS e IPB-LACEN/ RS), realizar as medidas preconizadas, que incluem: Investigaoepidemiolgicadoscasossuspeitos; Buscaativadecasos(vigilnciasindrmicanasregies afetadas) Investigaoentomolgicanoslocaisfrequentadospelos casos suspeitos (Pesquisa Vetorial Especial PVE); Controlevetorial(tratamentofocal-aplicaodeinseticida para eliminao de mosquitos adultos em reas infestadas no entorno dos casos).Mapa 2 - Municpios infestados por Aedes aegypti nos ltimos 12 meses, RS, 18/10/2010.

campo e a organizao da rede assistencial, incluindo a mobilizao dos profissionais de sade para a notificao imediata de todo caso suspeito de dengue Vigilncia em Sade Municipal e a capacitao para o tratamento dos doentes segundo o Protocolo Nacional. Referncias BOLETIM EPIDEMIOLGICO. Porto Alegre: CEVS/SES/RS, v. 9, n. 3, 2007. 4p. Edio Especial. BRASIL. Ministrio da Sade. Diretrizes nacionais para a preveno e controle de epidemias de dengue. Braslia, DF: MS, 2009. 162p. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Sade. Comisso Estadual para Elaborao do Plano de Contingncia para Dengue no Rio Grande do Sul. Plano de contingncia para dengue no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: SES/RS, 2008. PALAVRAS-CHAVE: Dengue. Entomologia. Vigilncia Ambiental em Sade. Rio Grande do Sul.

Vigilncia Entomolgica no Programa Estadual de Controle de Simuldeos (Diptera, Simuliidae) no Rio Grande do SulLucia Beatriz Lopes Ferreira Mardini1, Inajara Anahy da Costa21 Diviso de Vigilncia Ambiental/CEVS-SES E-mail: lucia-mardini@ @saude.rs.gov.br 2 Diviso de Biologia Mdica/ IPB/LACEN/RS -FEPPS E-mail: [email protected]

Fonte: SIS/FAD/CEVS-RS

Municpios afetados

Com a aproximao do perodo de vero, as condies climticas (calor e chuva) podem ocasionar o aumento da densidade vetorial, apontando para o risco imediato de epidemia, que poder ser de grande magnitude, considerandose a suscetibilidade da populao. Os maiores desafios atualmente enfrentados so a ampliao das equipes municipais para atuao em trabalho de8

Os Simuldeos (Diptera, Simuliidae) ou borrachudos (Figura 3), como so conhecidos na regio sul, so pequenos insetos de ampla distribuio no mundo, capazes de transmitirem parasitos e arbovrus. Na regio Amaznica, algumas espcies da famlia Simuliidae so responsveis pela transmisso das microfilrias (Onchocerca volvulus e Manzonella ozzardi), entre elas Simulium incrustatum, borrachudo tambm encontrado no Rio Grande do Sul. Embora o Estado no apresente registros da transmisso de doenas vinculadas s suas picadas, a manuteno da Vigilncia Entomolgica das espcies antropoflicas da famlia Simuliidae torna-se importante por seu potencial vetor. No Rio Grande do Sul, os primeiros registros de ataque de simuldeos datam da dcada de 1970 e estavam associados rea turstica da serra gacha. Entretanto, a magnitude do ataque e os agravos provocados pelas picadas s populaes humanas, especialmente nas reas rurais, com registros de

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quadros alrgicos e infeces secundrias, fizeram com que o Governo do Estado criasse o Programa Estadual de Controle do Simuldeo por meio de Decreto, sob coordenao da Secretaria da Sade e includo no Programa Plurianual da SES (MARDINI, 2009). O Programa Estadual de Controle de Simuldeos tem como atribuies o desenvolvimento de atividades sistemticas de assessoria aos municpios em conjunto com as Coordenadorias Regionais de Sade, com o objetivo de repassar tecnologia para o controle biolgico e, sobretudo, estimular aes de educao e manejo ambiental e participao popular. Ao longo de sua trajetria este Programa desenvolveu, implantou e aperfeioou ferramentas tecnolgicas disponibilizadas aos municpios do RS, sendo pioneiro na utilizao de larvicidas biolgicos base de Bacillus thuringiensis var. israelensis (Bti) no controle de simuldeos. O aumento do nmero de municpios do RS com ataques deste inseto, associado ao desenvolvimento de agravos, levou o Programa a uma reestruturao. A partir de 2005, incluiu em sua rotina a Vigilncia Entomolgica com o objetivo de mapear reas de risco populao humana pela presena de uma ou mais espcies antropoflicas. A colaborao do Laboratrio de Citotaxonomia de Insetos Aquticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA-AM) propiciou a capacitao de servidores do Centro Estadual de Vigilncia em Sade (CEVS) e do Laboratrio Central do Estado (IPB-LACEN/RS). Com isto, a Vigilncia Entomolgica assumiu papel importante no planejamento de aes de manejo, gesto de recursos e controle do inseto. O levantamento entomolgico e a identificao das formas imaturas (pupas) das espcies passaram a fazer parte da rotina do Programa Estadual a partir de 2006, ficando sob responsabilidade da Seo de Reservatrios e Vetores do IPB-LACEN/RS (RIO GRANDE DO SUL, 2008). De 2006 a junho de 2010 foram realizadas 349 coletas em 141 municpios do Rio Grande do Sul, tendo sido coletadas 23.474 pupas de 24 das 27 espcies identificadas como existentes no Estado (ADLER e CROSSKEY, 2008) (Mapas 3 e 4).Mapa 3 - Coletas de imaturos (pupas) de 2006 a junho de 2010 nos municpios do Rio Grande do Sul, Brasil.

Mapa 4 - Distribuio de S. grupo incrustatum, S. pertinax e S. grupo subpallidum nas amostras coletadas entre 2006 e junho de 2010 no Rio Grande do Sul.

S. (grupo) incrustatum S. pertinax S. (grupo) incrustatum e S. pertinax S. pertinax e S. (grupo) subpellidum S. (grupo) incrustatum e S. (grupo) subpallidum S. (grupo) incrustatum, S. pertinax e S. (grupo) subpallidum Fonte: Programa Estadual de Controle do Simuldeo

A seguir so apresentadas as espcies vlidas da famlia Simuliidae registradas no Estado: 1. Lutzsimulium hirticosta (Lutz,1909) 2. Lutzsimulium pernigrum (Lutz,1910) 3. Simulium (Psaroniocompsa) minusculum* (Lutz,1909) 4. Simulium (Psaroniocompsa) angrense** (Pinto, 1931) 5. Simulium (Psaroniocompsa) juiyense* (Paterson& Shannon,1927) 6. Simulium (Psaroniocompsa) anamariae (Vulcano, 1962) 7. Simulium (Psaroniocompsa) brevifurcatum (Lutz, 1910) 8. Simulium (Psaroniocompsa) incrustatum* (Lutz, 1910) 9. Simulium (Psaroniocompsa) delponteianum (Wygodzinsky, 1961) 10. Simulium (Inaequalium) inaequale* (Paterson & Shannon,1927) 11. Simulium (Inaequalium) botulibranchium (Lutz, 1910) 12. Simulium (Inaequalium) clavibranchium (Lutz, 1910) 13. Simulium (Inaequalium) diversibranchium (Lutz, 1910) 14. Simulium (Inaequalium) subnigrum (Lutz, 1910)

Fonte: Programa Estadual de Controle do Simuldeo

15. Simulium (Inaequalium) travassorsi (dAndretta & dAndreta, 1947) Bol. Epidemiolgico | v. 12 | n. 3-4 | setembro/dezembro 20109

16. Simulium (Ectemnaspis) dinelli* (Joan, 1912) 17. Simulium (Ectemnaspis) perflavum (Roubaud, 1906) 18. Simulium (Hemicnetha) rubritorax (Lutz, 1909) 19. Simulium (Chirostilbia) spinibranchium (Lutz, 1910) 20. Simulium (Chirostilbia) pertinax* (Kollar, 1832) 21. Simulium (Chirostilbia) distinctum (Lutz, 1910) 22. Simulium (Chirostilbia) subpallidum* (Lutz, 1910) 23. Simulium (Chirostilbia) empascae** (Py-Daniel & Moreira, 1988) 24. Simulium (Chirostilbia) riograndense** (Py-Daniel, Souza & Caldas, 1988) 25. Simulium (Thyrsopelma) orbitale** (Lutz, 1910) 26. Simulium (Thyrsopelma) jeteri (Py-Daniel,Darwich,Mardini,Strieder,Coscarn, 2005) 27. Simulium (Thyrsopelma) itaunense (dAndretta & Dolores Gonzles, 1964)*espcies antropoflicas ** espcies suspeitas de antropofilia

O objetivo da Vigilncia Entomolgica associada s informaes colhidas fornecer subsdios aos municpios para o planejamento das aes a serem desenvolvidas nas reas onde o ataque de simuldeos considerado agravo sade. Essas aes devem envolver manejo, saneamento e educao ambiental, mobilizao e controle social. A partir da reestruturao do Programa Estadual de Controle do Simuldeo, incluindo anlise dos aspectos ambientais como presena de lavouras, condies das matas ciliares, poluio de cursos de gua com matria orgnica, anlise dos dados epidemiolgicos e avaliao da presena de espcies antropoflicas, foi possvel um melhor entendimento sobre a situao em cada localidade. A correta abordagem metodolgica tem permitido reduo no ataque do inseto s populaes humanas, mas ainda pouco tem sido feito quanto aos fatores ambientais que favorecem o seu desenvolvimento. O que fazer nesse sentido deve ser alvo de discusso envolvendo a comunidade e rgos das reas de saneamento, produo, gesto ambiental e educao, num processo que leve melhoria efetiva das condies de vida dessas populaes. Aspectos sobre a biologia, ecologia, legislao, controle social, desenvolvimento metodolgico, Vigilncia Entomolgica podem ser consultados nas publicaes Guia para orientao aos municpios sobre manejo integrado, controle e gesto de insetos da famlia Simuliidae (Diptera, Nematocera) no Rio Grande do Sul; Chave para identificao de pupas da famlia Simuliidae (Diptera, Nematocera) para apoio s equipes regionais e municipais na determinao das espcies e Guia prtico para orientao das coletas de Simuldeos (Diptera, Nematocera, Simuliidae), disponveis no site da Secretaria Estadual da Sade.

Dentre os borrachudos antropoflicos, Simulium pertinax e espcies do grupo incrustatum (S. incrustatum, S. angrense, S. auripellitum) foram as que mais estiveram presentes nas coletas e aparecem associadas em 57% das amostras coletadas nesse perodo (Grfico 1).Grfico 1 - Ocorrncia das espcies antropoflicas e seu percentual nas coletas realizadas de janeiro de 2006 a junho de 2010 no Rio Grande do Sul.

Referncias ADLER, P. H.;CROSSKEY, R. W. World Blackflies (DIPTERA: SIMULIIDAE): A fully revised edition of the taxonomic and geographical inventory. http://entweb.clemson.edu/ biomia/ pdf/blackflyinventory.pdf. Acesso em 10 de junho de 2008. 144p. MARDINI, L. B. L .F. Histria do Programa Estadual de Controle do Simuldeo no Rio Grande do Sul: da dcada de 70 aos dias atuais. 167p. Trabalho de Concluso de Curso (Especializao) ESP/RS, Porto Alegre, 2009. RIO GRANDE DO SUL. Plano Estadual de Sade do Rio Grande do Sul, 2009-2011. 481p. RIO GRANDE DO SUL. Secretaria Estadual da Sade. Simuldeos: Programa Estadual - Rio Grande do Sul, Brasil: Vigilncia Entomolgica da famlia Simuliidae (Dptera, Simuliidae) Porto Alegre: CEVS: 2008. PALAVRAS-CHAVE: Simuliidae. Rio Grande do Sul. Programas Governamentais. Vigilncia Ambiental em Sade.

Fonte: Programa Estadual de Controle do Simuldeo

A avaliao ambiental destas reas detectou presena de lavouras prximas aos cursos de gua em 45% dos pontos de coletas e em 78% dos cursos de gua, matas ciliares estavam ausentes ou encontravam-se reduzidas. Nesse mesmo perodo foram aplicadas 12.349 fichas epidemiolgicas do agravo que indicaram como resultado o desenvolvimento de reaes alrgicas e agravos como infeces provocadas pelas picadas do inseto em pelo menos 50% dos entrevistados. Esse conjunto de informaes ajuda a compor o cenrio onde as espcies antropoflicas tm causado agravos sade, gerando forte reclamao da populao humana.10

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O Municpio e a Vigilncia Entomolgica da doena de ChagasCleonara Bedin1, Fernanda de Mello2, Tnia M. Stasiak Wilhems3Ncleo de Vigilncia dos Riscos e Agravos Ambientais Biolgicos / Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade/CEVS/SES/RS E-mail: [email protected] 2 Ncleo de Triatomneos/Seo de Reservatrios e Vetores/IPB-LACEN/FEPPS/SES/RS E-mail: [email protected] 3 Ncleo de Vigilncia dos Riscos e Agravos Ambientais Biolgicos / Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade / CEVS/SES/RS E-mail: [email protected]

domsticos, sinantrpicos e o prprio homem (OPAS, 2009). A extensa rea endmica da doena de Chagas foi determinada por uma associao de fatores, entre os quais, a transmisso via vetor domiciliado para os homens, com o envolvimento de animais sinantrpicos e domsticos, e condies socioeconmicas que provocaram a migrao humana, degradao ambiental associada s habitaes precrias e atividades econmicas extensivas. O vetor responsvel pela endemia no Rio Grande do Sul4, T. infestans (Figura 4) foi controlado a nvel de infestao mnima por meio de medidas intensivas de pesquisa, controle qumico e melhoria habitacional. O perfil do resduo de infestao de T. infestans detectado em municpios da regio noroeste caracterizado por uma diminuio significativa de captura ou deteco do vetor, sendo que muitas dessas capturas so de apenas um exemplar, e este, muitas vezes, recebido no laboratrio de Entomologia, morto e seco, o que no configura em foco do vetor. Em 2009 definiu-se que foco de T. infestans, para efeito de agregao no sistema de informao, a presena de T. infestans detectada por vigilncia e pesquisa, associada identificao laboratorial, com a captura de um exemplar vivo ou mais de um exemplar, alm de vestgios de infestao ou presena de colnia. A presena de um exemplar seco no caracteriza foco. As Coordenadorias Regionais de Sade que abrangem a rea geogrfica de risco, caracterizada por apresentar nos ltimos anos resduos de infestao do nico vetor domiciliado e alctone, T. infestans, esto empenhadas em mobilizar os municpios para eliminar este vetor. Em 2010 as CRSs sediadas em Santo ngelo, Santa Rosa e Iju esto municipalizando as aes do Programa e o PETi, o Programa de Eliminao de T. infestans, concebido em 1992 pelos pases do Cone Sul-OPAS-OMS, que consiste em uma programao de atividades de pesquisa e controle do vetor. Os municpios se comprometeram, junto com o Estado, com a eliminao do vetor do seu territrio, ou seja, a no deteco de T. infestans por mais de trs (3) anos consecutivos. Para isto esto realizando uma pesquisa integral no municpio e a estruturao do servio de Vigilncia Entomolgica. A Coordenao Geral de Doenas Transmissveis/DEVEP/ SVS/MS estruturou um Comit Tcnico Assessor (Portaria n 175 de maro de 2010) para revisar o Consenso Brasileiro em Doena de Chagas (2005) e dar diretrizes nacionais para a vigilncia e controle da doena de Chagas. Com a assessoria de pesquisadores, tcnicos da rea e representantes das Se-

As bases tcnicas da Vigilncia Entomolgica da doena de Chagas consistem em monitorar seus vetores, suas caractersticas biolgicas e ecolgicas como a interao desses com humanos e animais reservatrios. A histria natural da doena de Chagas a caracteriza como uma enzootia, com um ciclo silvestre, cujo agente causador, o protozorio Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909), transmitido pelo inseto vetor hematfago, o barbeiro, para dezenas de espcies de mamferos. Aves e vertebrados de sangue frio so refratrios ao parasito, contudo servem de fonte alimentar para o inseto. A principal via de transmisso da doena de Chagas sempre foi a vetorial, pela picada do inseto e contaminao com as fezes infectadas, mas com o controle avanado de Triatoma infestans (Klug, 1834), esses eventos se tornaram raros e vinculados ao ciclo silvestre. Nesses ltimos anos, ganhou destaque uma modalidade de transmisso de T. cruzi com centenas de casos agudos humanos da doena de Chagas na regio Amaznica: a transmisso atravs da ingesto de alimentos contaminados com o parasito, principalmente a partir de triatomneos e suas dejees. Tambm a transmisso via oral tem origem no ciclo endmico primitivo deste parasito, atravs da ingesto - por mamferos suscetveis - de vetores e reservatrios infectados. As alteraes ambientais influenciam na mudana do padro biolgico dos artrpodos, e os triatomneos tendem, frente a uma diminuio da oferta alimentar, a deslocar-se de seus hbitats originais em busca de alimento. Pesquisas ambientais demonstram que com a perda da diversidade da oferta alimentar, o risco biolgico da transmisso da doena aumenta, pois T. cruzi passa a ter como reservatrios mamferos com ecletismo ambiental e com alto grau de sinantropismo, como marsupiais e roedores. Originalmente esses vetores vivem em ambiente silvestre, porm passam a formar colnias na unidade domiciliar em busca de fonte alimentar como animais

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BOLETIM EPIDEMIOLGICO. Porto Alegre: CEVS/SES/RS, v. 11, n. 3, set, 2009. 8p.

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cretarias Estaduais de Sade o comit busca definir os novos cenrios epidemiolgicos de risco e os procedimentos adequados para cada situao. O sistema pblico de sade municipal deve iniciar a implantao do servio de Vigilncia Entomolgica da doena de Chagas instalando e realizando a visita mensal aos PITs (Postos de Informao dos Triatomneos) (Quadro 1). Os PITs so uma estratgia que facilita o acesso dos moradores s aes de Vigilncia em Sade. A vigilncia ambiental municipal dever acompanhar as atividades do PIT e os procedimentos executados, alm de garantir a permanncia do material necessrio (formulrios, material de divulgao, orientaes do Programa Estadual da Doena de Chagas e embalagens para acomodao do inseto) para o bom funcionamento do PIT no municpio. papel do municpio promover aes educativas sobre preveno e controle da doena de Chagas que estimulem a comunidade a participar de discusses e assumir a responsabilidade sobre as suas condies de sade. Para a Vigilncia da doena de Chagas, o PIT a melhor maneira de manter a vigilncia, com enorme benefcio para a sade pblica e pouco custo para o Sistema nico de Sade. A pesquisa de triatomneos silvestres ou autctones como Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835) (Figura 5) e Triatoma rubrovaria (Blanchard, 1843) (Figura 6) no indicada como rotina de servio, mas com os PITs5 atuantes garante-se que estes vetores possam ser identificados peloQuadro 1 - Fluxo de atendimento do PIT/DVAS/CEVS/SES/RS.

sistema pblico de sade e que aes preconizadas sejam desenvolvidas. Programao Anual das Aes de Vigilncia em Sade-PAVS A municipalizao do Programa de doena de Chagas se iniciou em 2005 com a descentralizao das visitas mensais aos PITs, pactuadas na PAVS-RS em nmero de visitas. Em 2010 tem-se o registro de 2313 PITs (Fonte: PCDCh-DVAS-SES-RS) que devero ser permanentemente supervisionados pelo Estado. O nmero de unidades domiciliares pesquisadas para triatomneos (um dos indicadores da PAVS), ou pesquisa casa a casa, ou ainda o planejamento da pesquisa ativa, gradativamente vem diminuindo. Tendncia natural, pois esta atividade era recomendada dentro do contexto da infestao do vetor domiciliado, e passa a no ter sentido para vigilncia de triatomneos silvestres. A indicao para a realizao da pesquisa em residncias ser usada em duas situaes: 1. para o atendimento de resposta ao morador, na suspeita da presena de vetores da doena de Chagas e 2. a critrio tcnico para reas ou localidades que esto expostas a alterao ambiental. Ser imprescindvel que as secretarias municipais de sade tenham como referncia uma equipe que atenda a atividade de pesquisa ativa, que pode estar em um municpio vizinho consorciado, ou na prpria Coordenadoria Regional de Sade, como ocorre atualmente.

Fonte: DVAS/CEVS/FEPPS/SES/RS

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Orientaes sobre a implantao dos PITs acessar a pgina do SES www.saude.rs.gov.br no seguinte link: CEVS-DVAS- Ncleo de Vigilncia dos Riscos e Agravos Ambientais Biolgicos-Vetores da Doena de Chagas.

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Referncias BRASIL. Portaria n 175, de 24 de maro de 2010. Construir o Comit Tcnico Assessor, com a finalidade de assessorar as aes de rea tcnica de vigilncia e controle da Doena de Chagas. Dirio Oficial da Unio, Braslia, DF, 25 de mar. de 2010. CONSENSO Brasileiro em Doena de Chagas. Rev. Soc. Bras. Med. Tropical, Uberaba, MG, v. 38, supl. III. 2005. OPAS-Organizao Pan-Americana da Sade, OMS. Doena de Chagas: guia para a Vigilncia, preveno, controle e manejo clnico da doena de chagas aguda transmitida por alimentos. Rio de Janeiro: PANAFTOSA-VP/OPAS/OMS, 2009. 92 p. PALAVRAS-CHAVE: Entomologia. Doena de Chagas. Rio Grande do Sul. Vigilncia Ambiental em Sade.

Esse tipo de acidente chamado de erucismo (erucae = larva; ismo = uso, hbito, costume) e a lagarta conhecida por taturana que em tupi significa semelhante a fogo (tata = fogo, rana = semelhante), ou pelo contato com cerdas presentes no abdome de mariposas adultas do gnero Hylesia sp. Essas, atradas pela luz, invadem os domiclios e, ao se debaterem, liberam cerdas no ambiente. Em caso de surtos a recomendao manter-se afastado de luminrias, principalmente com lmpadas de mercrio e fluorescente, limpar os mveis com um pano mido para remover as inmeras e microscpicas cerdas, e trocar as roupas de cama, antes de dormir. 2) Sndrome hemorrgica causada pelo contato com lagartas do gnero Lonomia sp. (Figura 7) As principais famlias causadoras de erucismo so Megalopygidae e Saturniidae. Os representantes da famlia Megalopygidae apresentam cerdas pontiagudas, curtas e que contm as glndulas de veneno, entremeadas por outras longas, coloridas e inofensivas. J as lagartas da famlia Saturniidae tm espinhos ramificados e pontiagudos de aspecto arbreo, com tonalidades esverdeadas mimetizando muitas vezes as plantas que habitam. Nessa famlia, se inclui o gnero Lonomia, causador de acidentes hemorrgicos. A funo original das cerdas com venenos est ligada defesa contra predadores naturais. As lonomias alimentam-se durante a noite, permanecendo no tronco durante o dia. Os megalopigdeos so solitrios, enquanto os saturndeos tm hbitos gregrios (colnia), fazendo com que o acidente ocorra geralmente com vrias lagartas, potencializando suas consequncias. Isso pode acontecer em variados contextos, tanto profissional (colheita de frutos, estudos de campo) quanto em lazer, principalmente em crianas que, ao subir no tronco das rvores, terminam por entrar em contato com as mesmas. Outra circunstncia bastante comum para acidentes o ato de se apoiar nas rvores com a mo ou outras partes do corpo. Essa situao particularmente comum em atividades relacionadas ao ecoturismo. Apesar de no se conhecerem exatamente os motivos para o aumento de acidentes por lagartas, dois fatores podem ser apontados: desmatamento do hbitat natural e eliminao de predadores. O desmatamento do hbitat faz com que se adaptem a rvores de cultivo residencial, como em pomares. A utilizao de agrotxicos pode ainda ter exterminado alguns de seus predadores naturais. A maioria dos acidentes ocorre no perodo de novembro a maro. A ordem Hymenoptera inclui os nicos insetos que possuem ferres verdadeiros, existindo trs famlias de importncia mdica: 1) Apidae (abelhas e mamangavas), 2) Vespidae (vespa amarela, vespo e marimbondo) e 3) Formicidae (formigas). Bol. Epidemiolgico | v. 12 | n. 3-4 | setembro/dezembro 201013

Insetos de Interesse Toxicolgico no Rio Grande do SulCynthia da Silveira11 Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade, CEVS/RS E-mail: [email protected]

A vigilncia dos animais peonhentos tem como objetivo identificar a distribuio geogrfica das espcies de interesse toxicolgico e com isso planejar aes de promoo e proteo sade da populao (preveno de agravos) nas reas de riscos de acidentes. Segundo Soares (1993), o termo peonhento refere-se ao animal perigoso que produz peonha e pode provocar danos sade ou causar a morte de quem com ele entra em contato. Podem ser considerados peonhentos animais dos seguintes grupos: ofdios (serpentes), aranhas, escorpies e insetos. Os insetos de interesse toxicolgico que se destacam pertencem s ordens Lepidoptera e Hymenoptera. No primeiro grupo esto includas as mariposas e borboletas, e como exemplo de himenpteros temos abelhas, formigas e vespas. Os acidentes causados pelo contato com imaturos (lagartas) de borboletas e mariposas ou pelo contato com indivduos adultos de mariposas dividem-se em: 1) Dermatite urticante que pode ser causada pelo contato com lagartas urticantes de vrios gneros de lepidpteros.

1) Apidae: As abelhas de origem alem (Apis mellifera mellifera) foram introduzidas no Brasil em 1839. Posteriormente, em 1870, foram trazidas as abelhas italianas (Apis mellifera ligustica). J em 1956, foram introduzidas as abelhas africanas (Apis mellifera scutellata). As abelhas africanas e seus hbridos com as abelhas europeias so responsveis pela formao das chamadas abelhas africanizadas que, hoje, dominam toda a Amrica do Sul, a Amrica Central e parte da Amrica do Norte. Nos acidentes com esses insetos, recomenda-se que a retirada dos ferres da pele seja feita por raspagem com lmina e no pelo pinamento de cada um deles, pois a compresso poder espremer a glndula ligada ao ferro e inocular no paciente o veneno ainda existente. 2) Vespidae: As vespas so tambm conhecidas como marimbondos ou cabas. Algumas espcies de vespdeos como Synoeca cyanea (marimbondo-tatu) e de pompildeos como Pepsis fabricius (marimbondo-cavalo) so encontrados em todo o territrio nacional. A composio de seu veneno pouco conhecida. Seus principais alrgenos apresentam reaes cruzadas com os das abelhas e tambm produzem fenmenos de hipersensibilidade. Ao contrrio das abelhas, no deixam o ferro no local da picada. 3) Formicidae: Formigas so insetos com uma estrutura social complexa, compreendendo inmeras operrias, soldados (formas no capazes de reproduo), rainhas e machos alados que determinaro o aparecimento de novas colnias. Algumas espcies so portadoras de um aguilho abdominal ligado a glndulas de veneno. A picada pode ser muito dolorosa e, em alguns casos, pode provocar complicaes tais como choque anafiltico, necrose e infeco secundria. De interesse mdico so as formigas da subfamlia Myrmicinae, como as formigas-de-fogo ou lava-ps (gnero Solenopsis) e as formigas savas (gnero Atta). As formigas-de-fogo tornam-se agressivas e atacam em grande nmero se o formigueiro for perturbado. A ferroada extremamente dolorosa e uma formiga capaz de ferroar 10-12 vezes, fixando suas mandbulas na pele e ferroando repetidamente em torno desse eixo, o que leva a uma pequena leso dupla no centro de vrias leses pustulosas. A espcie mais comum no RS a Solenopsis richteri, a formiga lava-ps preta, originria do Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. O formigueiro do gnero tem caractersticas prprias: tem inmeras aberturas e a grama prxima no atacada, podendo haver folhas de permeio terra da colnia. Por outro lado, as savas, comuns em todo o Brasil, no possuem interesse toxicolgico mas suas potentes mandbulas podem produzir cortes na pele humana. Os acidentes causados por insetos de interesse toxicolgico re14

velam aspectos multifacetados e altamente complexos, o que demonstra a necessidade de se buscar a qualificao dos dados epidemiolgicos e dos sistemas de informaes sobre os animais. A Vigilncia Ambiental em Sade e o Centro de Informao Toxicolgica do RS esto articulando estratgias conjuntas para ampliar as informaes e aes de vigilncia de animais peonhentos em todo o Estado, permitindo a preveno e tratamento eficaz dos acidentes. Referncias BRASIL. Ministrio da Sade. Fundao Nacional de Sade. Manual de diagnstico e tratamento de acidentes por animais peonhentos. Braslia, DF, 2001. 120 p. SOARES, J. L. Dicionrio Etimolgico e Circunstanciado de Biologia. So Paulo: Scipione, 1993. PALAVRAS-CHAVE: Toxicologia. Rio Grande do Sul. Animais peonhentos. Insetos. Vigilncia epidemiolgica. Vigilncia Ambiental em Sade.

Limitaes e Perspectivas para a Vigilncia Entomolgica no RSJder da Cruz Cardoso11 Diviso de Vigilncia Ambiental em Sade, CEVS/RS E-mail: [email protected]

No Rio Grande do Sul, nos ltimos 50 anos, no foram registrados novos casos de malria e filariose (MARQUES e GUTIERREZ, 1994; ROCHA e FONTES, 1998). Em 2007, os primeiros casos de dengue autctone foram verificados e, no final de 2008, casos humanos de febre amarela foram notificados depois de mais de 40 anos (RIO GRANDE DO SUL, 2009a; 2009b). Paradoxalmente, esse privilgio representado pela ausncia de doenas causadas por patgenos transmitidos por vetores contrasta com as consequncias geradas pelo pouco desenvolvimento desse campo do conhecimento no Estado. As universidades priorizaram outras linhas de atuao e os servios de sade, conforme Silveira (2009), estruturaram programas voltados s necessidades epidemiolgicas da poca como sarampo, ttano, difteria, poliomielite, coqueluche, raiva, febre tifide, tuberculose e hansenase. Atualmente, a ausncia de cursos especficos para formao de recursos humanos em entomologia para a sade pblica e grupos de pesquisa incipientes, especialmente em taxonomia

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e ecologia de vetores, dificultam a interface com as universidades locais. A Vigilncia Entomolgica ainda uma rea do SUS em construo. A carncia e limitao tcnica de pessoal diante das demandas crescentes so fatores que dificultam sua execuo. No Brasil uma srie de fatores tm limitado o desenvolvimento da Vigilncia Entomolgica. Para Eiras (2000), o desinteresse do governo brasileiro pela sade pblica, particularmente, pelas doenas transmitidas por artrpodes, tem desestimulado continuamente a formao de entomologistas nos ltimos anos. Alm disso, essa deficincia de profissionais especializados e competentes, juntamente com a falta de monitoramento dos vetores, tem resultado em campanhas de controle deficientes. A falta de conhecimento para entender o rigor necessrio aos procedimentos entomolgicos, por parte dos profissionais de sade; carncia de tcnicos qualificados em taxonomia e ecologia de vetores a fim de garantir eficincia metodolgica na captura, identificao e anlise das informaes sobre as espcies e existncia de poucos centros de referncia em entomologia mdica so algumas das limitaes apontadas por Gomes (2002) para que Vigilncia Entomolgica seja utlizada como instrumento da Vigilncia Ambiental em Sade. Para atuar na Vigilncia Entomolgica so necessrias equipes compostas por entomlogos, profissionais com formao acadmica, e tcnicos em entomologia, capacitados a apoiar aes especficas de campo e laboratrio. A atuao dos entomlogos junto aos programas de vigilncia e controle de antropozoonoses qualifica o planejamento, execuo e avaliao das aes referentes ao componente vetorial. No mbito laboratorial, os entomlogos (taxonomistas) de laboratrios estaduais e municipais devem ser capazes de identificar sua fauna, auxiliados por tcnicos em entomologia, habilitados a reconhecer algumas espcies de interesse local. A rede de laboratrios (central e regionais) deve atender prontamente s demandas da vigilncia, para que o carter preditivo da entomologia possa resultar em estratgias de preveno e controle oportunas e efetivas. O trabalho de campo, eventualmente descentralizado para os municpios, deve priorizar aes integradas, nas quais grupos taxonmicos diferentes podem ser coletados na mesma ocasio amostral (exemplo: culicdeos e flebotomneos), para otimizar recursos humanos e financeiros. Alm disso, coletas devem ser contnuas e abrangentes, de maneira a permitir avaliao de padres de distribuio, riqueza e potencial epidemiolgico da fauna. No Peru, essas estratgias so utilizadas e as informaes so armazenadas em um Sistema de Vigilncia Entomolgica (SVE) (PERU, 2002). A estruturao e ampliao das aes da Vigilncia Entomolgica dependem de uma poltica estadual que contemple, principalmente, as seguintes estratgias: a) formao, contratao

e capacitao permanente de profissionais de campo e laboratrio; b) coletas continuadas, abrangentes e integradas; c) uso da Vigilncia Entomolgica como ferramenta de informao; d) financiamento que garanta a sustentabilidade das aes. Diferentemente de outras reas da sade que utilizam dados secundrios, a entomologia raramente dispe de informaes se no as produzir. Dessa forma, a Vigilncia Entomolgica no mbito da Vigilncia Ambiental em Sade assume o papel fundamental de realizar pesquisas aplicadas com intuito de abastecer seus sistemas de informaes, sejam eles de programas abrangentes ou especficos.

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Nmero de casos das doenas de notificao compulsria por CRS de residncia, RS, jan-mar 2009 2010*C R S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 RS C R S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 RSDoena Meningoccica(1) 2009 2010 Meningite p/ Haemophylus(1) 2009 2010 Hepatite B (1) 2009 2010 Hepatite C (1) 2009 2010 Sarampo (1) 2009 2010 Rubola (1) 2009 2010 Ttano Neonatal (1) 2009 2010 Sfilis Congnita (1) 2009 2010 Leptospirose (1) 2009 2010 Febre Amarela (1) 2009 2010

31 3 9 10 2 4 3 0 0 3 1 1 3 0 0 2 3 0 0 75

34 5 10 6 2 2 2 0 0 2 1 0 4 3 1 1 1 4 2 80

3 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4

3 0 0 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 7Difteria (1)

381 30 38 20 204 120 17 5 4 6 35 21 17 25 16 25 12 26 37 1039

257 8 29 25 209 96 11 4 6 2 28 6 4 28 28 12 4 24 19 800

1517 1265 41 26 190 96 42 46 192 141 135 91 70 67 8 7 8 6 47 59 11 4 22 10 39 15 5 3 8 3 11 4 9 5 61 73 3 2 2419 1923Febre Tifoide (2) 2009 2010

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

8 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 8

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0Dengue (1)

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0Malria (2) 2009

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

296 17 12 11 24 12 0 9 3 5 0 2 8 1 4 1 2 12 1 420

307 23 4 18 31 13 0 5 2 5 1 1 6 5 1 0 6 6 0 434

123 40 60 12 15 8 2 8 2 0 2 1 123 13 2 23 13 10 3 460

128 26 73 18 12 5 1 9 0 4 2 1 106 6 2 23 2 10 2 430

0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 3 11 0 0 0 1 0 0 16AIDS (3) 2009

0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Ttano Acidental (1) 2009 2010

Coqueluche (1) 2009 2010

Hantavrus (1) 2009 2010

Tuberculose (3) 2009 2010

Hansenase (3) 2009 2010

2009

2010

2009

2010

2010

2010

4 2 0 0 0 3 0 0 1 0 0 2 3 0 0 1 1 0 2 19

5 2 2 3 3 0 0 0 1 2 0 0 2 0 1 1 2 3 5 32

0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2

0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1

92 6 0 4 10 6 5 2 3 0 0 1 1 0 2 4 0 4 0 140

54 9 0 4 2 14 2 1 0 0 0 1 1 0 2 1 0 4 1 96

2 0 2 0 0 0 0 0 0 0 2 0 1 1 0 0 0 0 0 8

0 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3

0 0 1 0 8 1 0 0 0 0 0 0 2 0 0 1 0 0 0 13

0 0 1 0 5 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 2 0 0 0 10

15 0 0 0 9 1 0 2 0 0 2 0 0 2 0 0 1 0 1 33

97 2 3 4 22 4 0 2 8 3 7 98 0 204 4 2 3032 2 4 3498

4 0 2 2 2 1 0 1 2 0 0 0 0 3 0 3 0 0 0 20

13 0 1 2 3 1 1 0 0 1 0 3 0 1 2 2 3 3 1 37

3087 2747 377 334 383 295 197 148 245 189 82 95 52 53 59 56 11 21 171 144 27 20 56 43 109 107 19 24 20 21 86 101 32 17 147 131 39 38 5199 4584

40 8 2 8 10 6 1 8 7 8 2 19 7 7 6 5 5 3 12 164

23 5 4 8 16 3 0 1 0 12 4 14 4 15 6 4 3 3 7 132

2170 164 134 91 117 52 19 18 34 72 15 18 63 13 12 38 16 41 9 3096

1927 121 62 84 110 64 14 12 3 50 13 6 63 2 9 33 11 49 4 2637

Fonte: SINAN/DVE/CEVS/SES/RS * Dados preliminares (1) Casos confirmados (2) Casos notificados (3) Casos novos Obs.: No ocorreram casos de RAIVA, CLERA, POLIOMIELITE e PESTE.

Secretaria Estadual da SadeCentro Estadual de Vigilncia em Sade/RS Rua Domingos Crescncio, 132 Bairro Santana | Porto Alegre | RS | Brasil CEP 90650-090 +55 51 3901.1071 | +55 51 3901.1078 [email protected]

EXPEDIENTEConselho Editorial Airton Fischmann, Ariadne Kerber, Edmilson dos Santos, Jder da Cruz Cardoso, Luciana Nussbaumer, Mariana Aparecida Porto e Virginia Dapper | Jornalista Responsvel Paulo Burd (Coordenador da Assessoria de Comunicao Social/SES) | Bibliotecria Responsvel Geisa Costa Meirelles | Projeto Grfico Raquel Castedo e Carolina Pogliessi | Editorao Eletrnica Kike Borges | Tiragem 20 mil exemplares

O Boletim Epidemiolgico um instrumento de informao tcnica em sade editado pelo Centro Estadual de Vigilncia em Sade, vinculado Secretaria Estadual da Sade do Rio Grande do Sul, com periodicidade trimestral, disponvel no endereo eletrnico www.saude.rs.gov.br. As opinies emitidas nos trabalhos, bem como a exatido, a adequao e a procedncia das referncias e das citaes bibliogrficas, so de exclusiva responsabilidade dos autores.

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