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Semi-Ærido: um potencial esquecido boletim Orçamento & Política Ambiental des- taca, nesta edição, uma região brasileira estig- matizada como símbolo de seca e pobreza. O semi-árido, onde encontramos o bioma da caa- tinga, tem enfrentado um processo crescente de desertificação, por falta de uma política efeti- va para preservar o ecossistema e promover o desenvolvimento socioambiental. Apesar da riqueza da fauna e flora, o que se vê hoje é a redução gradativa da área de vegetação nativa, das fontes de água e da produtividade humana. O esforço da Articulação no semi-árido para defender uma política pública para a região es- barra nos números do orçamento público fede- ral. O estudo apresentado aqui demonstra que os valores destinados para o semi-árido estão aquém das necessidades. Com o agravante de que recursos previstos no orçamento continu- am a ter baixa execução. Essas características, na verdade, contaminam todo o orçamento ambiental, como revela a aná- lise feita sobre os gastos realizados no primeiro semestre de 2002. Com este trabalho, o Inesc, em parceria com a Fundação Boll, espera estimular a socie- dade a conhecer e monitorar o orçamento federal, como forma de defender políticas públicas mais justas e eficazes. E que o orça- mento seja entendido como peça-chave para a democratização do Estado! >> Iara Pietricovsky Colegiado de gestªo A escassez do orçamento ambiental para o semi-Ærido A humanidade enfrenta, nos dias de hoje, um con- junto de alterações ambientais globais sem- precedentes. Nas últimas três décadas, evidênci- as científicas têm mostrado que as atividades humanas estão degradando os sistemas que sustentam a vida no planeta Terra: a biosfera, a atmosfera e a hidrosfera. Os sintomas estão evidenciados na perda de diversidade bi- ológica, na mudança climática e na degradação das águas que ameaçam o bem-estar de gerações futuras. A manifestação mais evidente da mudança climática é o aquecimento da atmosfera, que ameaça inundar as áreas costeiras e baixas ao redor do mundo, além de in- tensificar a taxa de desertificação e a freqüência de even- tos climáticos extremos ou mesmo catastróficos. A dimi- nuição dramática de populações de espécies aquáticas e a perda de fontes disponíveis de água doce para o con- sumo humano são apenas dois dos muitos avisos de como as pressões sobre os recursos hídricos estão se aproximan- do de um ponto de ruptura. A comunidade internacional de nações agiu para con- trolar estas ameaças através de várias convenções e acor- dos, como a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (CQNUMC), o Acordo das Flo- restas e a Convenção de Combate à Desertificação e aos efeitos das Secas (CCD). Destaca-se que o Brasil é signa- tário de todas elas. No entanto, para o semi-árido, o or- çamento ambiental brasileiro denota claramente pouca disposição em termos práticos, conforme se pretende demonstrar neste artigo. O E D I T O R I A L

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Boletim Orcamento e Socioambiental 2

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Page 1: Boletim Orcamento e Socioambiental 2

Semi-árido: umpotencial esquecido

boletim Orçamento & Política Ambiental des-taca, nesta edição, uma região brasileira estig-matizada como símbolo de seca e pobreza. Osemi-árido, onde encontramos o bioma da caa-tinga, tem enfrentado um processo crescentede desertificação, por falta de uma política efeti-va para preservar o ecossistema e promover odesenvolvimento socioambiental.Apesar da riqueza da fauna e flora, o que se vêhoje é a redução gradativa da área de vegetaçãonativa, das fontes de água e da produtividadehumana.O esforço da Articulação no semi-árido paradefender uma política pública para a região es-barra nos números do orçamento público fede-ral. O estudo apresentado aqui demonstra queos valores destinados para o semi-árido estãoaquém das necessidades. Com o agravante deque recursos previstos no orçamento continu-am a ter baixa execução.Essas características, na verdade, contaminamtodo o orçamento ambiental, como revela a aná-lise feita sobre os gastos realizados no primeirosemestre de 2002.Com este trabalho, o Inesc, em parceria coma Fundação Boll, espera estimular a socie-dade a conhecer e monitorar o orçamentofederal, como forma de defender políticaspúblicas mais justas e eficazes. E que o orça-mento seja entendido como peça-chave paraa democratização do Estado!

>> Iara PietricovskyColegiado de gestão

A escassez doorçamento ambientalpara o semi-árido

Ahumanidade enfrenta, nos dias de hoje, um con-junto de alterações ambientais globais sem-precedentes. Nas últimas três décadas, evidênci-

as científicas têm mostrado que as atividades humanasestão degradando os sistemas que sustentam a vida noplaneta Terra: a biosfera, a atmosfera e a hidrosfera. Ossintomas estão evidenciados na perda de diversidade bi-ológica, na mudança climática e na degradação das águasque ameaçam o bem-estar de gerações futuras.

A manifestação mais evidente da mudança climáticaé o aquecimento da atmosfera, que ameaça inundar asáreas costeiras e baixas ao redor do mundo, além de in-tensificar a taxa de desertificação e a freqüência de even-tos climáticos extremos ou mesmo catastróficos. A dimi-nuição dramática de populações de espécies aquáticas ea perda de fontes disponíveis de água doce para o con-sumo humano são apenas dois dos muitos avisos de comoas pressões sobre os recursos hídricos estão se aproximan-do de um ponto de ruptura.

A comunidade internacional de nações agiu para con-trolar estas ameaças através de várias convenções e acor-dos, como a Convenção da Diversidade Biológica(CDB), a Convenção Quadro das Nações Unidas sobreMudança Climática (CQNUMC), o Acordo das Flo-restas e a Convenção de Combate à Desertificação e aosefeitos das Secas (CCD). Destaca-se que o Brasil é signa-tário de todas elas. No entanto, para o semi-árido, o or-çamento ambiental brasileiro denota claramente poucadisposição em termos práticos, conforme se pretendedemonstrar neste artigo.

O

E D I T O R I A L

Page 2: Boletim Orcamento e Socioambiental 2

2 agosto de 2002

Tal situação remete para a necessidade de umavisão diferenciada de tudo que vem sendo realizadopelo poder público até o momento. A sociedade civilorganizada introduziu o conceito de convivência como semi-árido. É este conceito que atualmente dá atônica dos trabalhos implementados por esta socie-dade, através das organizações que compõem a cha-mada ASA – Articulação no Semi-Árido Brasileiro.A base teórica da articulação está expressa na Decla-ração do Semi-Árido, um documento elaborado emnovembro de 1999, com o objetivo de expressar aspropostas de políticas públicas da sociedade civil or-ganizada para a região.

Mesmo sendo um biomamostrado como pobre do pon-to de vista da estética, ressalta-se que o mesmo tem grandediversidade genética, comriquíssimas flora e fauna, sus-tentando a maior densidadepopulacional de regiões semi-áridas do planeta. No entan-to, o mesmo só é ressaltado emperíodos de seca, quando suaimagem está em estágio maiscrítico, ou seja, na época emque as folhas caem e o verdedá lugar ao branco da mata.A palavra caatinga tem sua ori-gem no tupi e significa caa -mata e tinga – branca. Na prática, este tipo de ima-gem é quase sempre utilizado para destacar aspectosnegativos do bioma.

Importante lembrar que, diferentemente dobioma da Amazônia, o bioma da Caatinga possuiuma forte resiliência pois depois de séculos de ex-

ploração ainda detém cerca de 30% de sua cober-tura vegetal característica. Ou seja, apesar doantropismo e da alta densidade populacional daregião, o bioma consegue, ainda que diminuído emsua biodiversidade, sobreviver.

Caracterização do semi-árido

As regiões semi-áridas representam quase 1/3 dasuperfície emersa do planeta, abrigando mais

de 1 bilhão de pessoas e sendo responsáveis porquase 22% da produção mundial de alimentos.

No Brasil, o semi-árido abrange a maior partedos estados da região Nordeste: Maranhão, Piauí,

Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, incluin-do ainda a região norte-nordeste do estado deMinas Gerais (11,01%). Pode ser considerado,neste sentido, uma expressão regional que afetaum espaço geográfico total de quase um milhãode km2 de área.

No semi-árido brasileiro vivem cerca de 24 mi-lhões de pessoas; 56% da população nordestina e15% da população do Brasil (IBGE 2000). Ossistemas atmosféricos atuantes são responsáveis poruma heterogeneidade climática sem paralelo comas demais regiões brasileiras.

Nenhum ensaio sobre o clima do semi-áridopode dispensar considerações especiais sobre os pro-cessos das secas, que exercem forte impacto sobre oquadro socioeconômico da região. Dentre as várias

conseqüências, a mais marcante é o êxodo rural a queestá submetida a maioria dos membros das famíliasrurais. Este efeito tem conseqüências em todo o Bra-sil, notadamente nas áreas urbanas dos grandes cen-tros industriais, a exemplo de São Paulo, bem comona própria Amazônia, com rebatimentos diretos na

Orçamento & Política Ambiental: uma publicação trimestral do INESC � Instituto de Estudos Socioeconômicos �, em parceria com aFundação Heinrich Böll. Tiragem: 3 mil exemplares. INESC - End: SCS � Qd, 08, Bl B-50 - Salas 431/441 Ed. Venâncio 2000 � CEP. 70.333-970 � Brasília/DF � Brasil � Tel: (61) 226 8093 � Fax: (61) 226 8042 � E-mail: [email protected] � Site: www.inesc.org.br � ConselhoDiretor: Jackson Machado � presidente; Ronaldo Garcia � vice-presidente; Elisabeth Barros � 1ª secretária; Paulo Pires � 2º secretário; GildaCabral � 1ª tesoureira; Augustino Veit � 2º tesoureiro � Colegiado de gestão: José Moroni e Iara Pietricovsky - Assessoria: Adriana deAlmeida, Austregésilo de Melo, Edélcio Vigna, Hélcio de Souza, Jair Barbosa Júnior, Jussara de Goiás, Luciana Costa, Paulo Rocha - Jornalistaresponsável: Luciana Costa � Projeto gráfico e diagramação: DataCerta Comunicação � Impressão: Vangraf

A sociedade civilorganizada introduziu

o conceito deconvivência com osemi-árido. É este

conceito queatualmente dá a tônica

dos trabalhosimplementados por

esta sociedade,através das

organizações quecompõem a chamadaASA � Articulação no

Semi-Árido Brasileiro.

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agosto de 2002 3

Em 2002, oorçamento ambientalcaiu para 0,168% dototal, e para o semi-árido as aplicações

representaram cercade 10% do orçamento

ambiental, ou seja,0,0168% do total.

devastação de algumas áreas utilizadas, sem qualquerplanejamento, por uma população despreparadapara um ecossistema tão diferente de sua origem.

A ausência de políticas efetivas voltadas à preser-vação dos frágeis ecossistemas regionais, assim comode políticas ditas de promoção do desenvolvimentoregional, além de ameaçar asobrevivência da maioria dasespécies vegetais e animais,tem criado sérios riscos àocupação humana, devidoa um acelerado processode desertificação.

O impacto mais relevan-te do processo de degrada-ção dos recursos naturais éa desertificação, que é a de-gradação da terra nas regi-ões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultan-te de vários fatores, incluindo as variações climáti-cas e as atividades humanas. Este processo implicaem perda da capacidade produtiva da terra.

A desertificação está associada à pobreza, com-prometendo o bem-estar humano e a conservaçãodo meio ambiente. As questões sociais e econômi-cas, incluindo a segurança alimentar, as migraçõese a estabilidade política, estão estreitamente ligadasà degradação da terra.

No Brasil, a desertificação atinge aproximada-mente 30% da região semi-árida. A utilização ir-racional dos recursos naturais tem tido impactodireto na socioeconomia regional, devido às redu-ções da área de vegetação nativa, das fontes deágua e da produtividade de alimentos. Segundodados da extinta SUDENE, o semi-árido havia

perdido, até 1999, 54% de sua vegetação nativa ea produtividade agrícola decrescia a taxas médiasde 1,8% ao ano.

Todas as avaliações e análises das políticas públi-cas implementadas na região são unânimes em afir-mar que, apesar do Nordeste ter apresentado, nas

últimas décadas, um crescimento econômico qua-se sempre superior à média brasileira, sua situa-ção de pobreza, desigualdade e atraso relativo con-tinua a persistir. Para muitos positivistas, as razõessão ambientais: as secas (fenômeno constitutivodo bioma) “destróem” periodicamente os ganhosobtidos; o ecossistema não consegue suportar oantropismo reinante. Esta visão ingênua deixa delado questões sociais e políticas muito mais rele-vantes e que explicam como os tradicionais gru-pos dirigentes se locupletam na utilização preda-tória, ambiental e socialmente.

O orçamento federal para o semi árido

Para uma análise dos investimentos nas questõesambientais, temos um mal começo: em 2001, o

orçamento ambiental do governo federal equivalia a0,39% do total do orçamento geral da União. Destemontante, as aplicações com alguma incidência sobreo semi-árido representavam 0,083%. Em 2002, o or-çamento ambiental caiu para 0,168% do total, e parao semi-árido as aplicações representaram cerca de 10%do orçamento ambiental, ou seja, 0,0168% do total.

Isto acontece exatamente no ano de realizaçãoda Rio + 10, em Joanesburgo, na África do Sul,onde os governos deverão prestar contas de sua ta-refa de implementar a Agenda 21, aliada à propos-ta de desenvolvimento sustentável que deverianortear as nações na sua caminhada.

R$ 1,002001 2002 Variação

Orçamento Ambiental Total (OAT) Autorizado Liquidado % Autorizado Liquidado % % em 2002

OAT Total 992.165 731,103 72,4 1279,8 103,702 8,15 36,67

Programas de maior incidência no semi-árido 251,9 202,7 80,5 139,1 5,9 4,2 -44,8

Somente o MMA 113,5 83,6 73,6 136,1 2,9 2,1 19,9

Programas específicos para semi-árido 44,3 20,5 46,3 57,2 0,3 0,05 28,8

Orçamento do governo federal com maior incidência sobre osemi-árido, nos orçamentos aprovados em 2001 e 2002

T abela 1

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4 agosto de 2002

Uma rápida análise da tabela 1 demonstra cla-ramente que a questão ambiental não se colocacomo prioritária, ou muito menos minimamen-te relevante para as políticas públicas do país.

Na tabela 2, detalhamos os programas do or-çamento ambiental do governo federal com mai-or incidência sobre o semi-árido, com destaquepara os programas exclusivamente voltados parao semi-árido

Conforme a tabela 1, em 2001 cerca de 30%do orçamento ambiental estavam, de algumaforma, vinculados ao semi-árido. Ademais, o exa-me dos dados pode induzir a uma percepção deque, comparativamente, e considerando todasas restrições orçamentárias de rotina, houve umbom nível de execução. Os programas de maiorincidência no semi-árido - Águas do Brasil: im-pactos de desertificação e secas; Proágua semi-árido e Rio São Francisco - apresentam uma exe-cução de 80%. Mas os programas específicos erestritos para o semi-árido já mostram um de-

sempenho muito pior: são programas pequenose com baixo desempenho.

O ano de 2002 apresenta um quadro aindamais desolador: apesar do aumento de 36,67%do orçamento ambiental total (OAT), todos osprogramas direcionados ao semi-árido tiveramsua participação proporcional reduzida. Se em2001 a parcela direcionada ao semi-árido repre-sentava quase 44% do OAT, em 2002 esta por-centagem cai para 26% e o desempenho até ametade do ano é medíocre.

O detalhamento apresentado na tabela 2pode permitir uma melhor explicitação destascircunstâncias. Observa-se que a maior parte dosgastos apresentados (Gestão ambiental ,Zoneamento, Águas do Brasil) é de utilizaçãocomum a outros biomas, ficando pouco eviden-te a parcela dedicada ao bioma em estudo. Ad-mitindo-se uma hipotét ica distr ibuiçãoequitativa, somente um terço dos gastos seria im-putável à Caatinga

Em R$ milhões2000 2001 2002(parcial Junho)

Programas e Projetos Aut. Pago % Exec. Aut. Pago % Exec. Aut. Pago % Exec.

Ministério do Meio Ambiente

Gestão ambiental / Agenda 21 28,9 19,9 68,9 26,4 23,6 83,0 26,9 2,3 8,6

Zoneamento ecológico econômico 0,5 0,3 60,9 2,9 2,1 73,0 2,9 0,2 6,8

Águas do Brasil 30,1 25,7 85,5 71,4 59,0 82,7 20,6 0,1 0,5

Águas do Brasil: impactos de desertificação e secas (5,9) (3,5) (58,3) (13,3) (12,5) (93,9)

Proágua Gestão 46,9 35,2 75,0 135,7 109,6 80,8 49,1

Proágua semi-árido (17,1) (8,2) (48,0) (18,4) (8) (43,6) (20,6)

Rio São Francisco (semi-árido) 7,1 2,5 35,2 12,6 5,8 46,2 36,6 0,3 0,8

Ministério da Agricultura

Águas do Brasil 1,2 1,1 94,1 0,3 0,2 99,5 0,6 0,6 100,0

Ministério da Ciência e Tecnologia

Mudanças climáticas 1,4 0,8 54,1 1,1 1,0 92,9 0,8 0,8 100,0

Ministério da Integração Nacional

Águas do Brasil       0,4 0,3 97,1 0,5 0,5 100,0

Ministério das Minas e Energia

Águas do Brasil 0,9 0,8 94,6 1,1 1,1 99,7 1,1 1,1 100,0

Específico para o semi-árido

(incluindo o Rio São Francisco) 30,1 14,2 47,2 44,3 20,5 46,3 57,2 0,3 0,05

T abela 2

Orçamento Federal para o semi-árido

Total geral 117,0 86,3 73,8% 251,9 202,7 80,5% 139,1 5,9 4,2%

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agosto de 2002 5

Para piorar o quadro,percebe-se, porexemplo, que os

programas Águas doBrasil, Proágua Gestão

e Rio São Franciscodestinaram ao semi-

árido, em 2001, poucomais de R$ 26 milhões,

apesar de a regiãoapresentar

permanentemente umquadro crítico de

déficit hídrico.

Quando o orçamento é visto além dos pro-gramas diretamente ligados à política ambiental,e se observam os programas voltados para a infra-estrutura e para os investimentos públicos fede-rais na região, o quadro se modifica ligeiramen-te, conforme se observa na tabela 3.

Para o semi-árido, o Fundo Constitucional doNordeste - FNE - consta como parte do orça-mento da União com va-lores relativamente eleva-dos, chegando a R$ 700milhões. Este valor nãodeve ser considerado nasua totalidade, pois se sabeque são recursos para a ini-ciativa privada, e que nãonecessariamente se apli-cam a programas ou pro-jetos de cunho ambiental,inclusive com forte ten-dência de serem utiliza-dos, na maioria das vezes,em situação de compro-metimento das condiçõesambientais, gerando, emalguns casos, um incremento dos processos dedesertificação e de degradação ambiental.

Nota-se que os valores destinados à políticaambiental são muito pouco significativos. Parapiorar o quadro, percebe-se, por exemplo, queos programas Águas do Brasil (impacto dedesertificação e secas), Proágua Gestão e Rio SãoFrancisco destinaram ao semi-árido, em 2001,

pouco mais de R$ 26 milhões, apesar de a re-gião apresentar permanentemente um quadrocrítico de déficit hídrico. A título de compara-ção, vale salientar que somente a ANA -Agên-cia Nacional de Águas - está financiando parci-almente, desde 2001, uma iniciativa da ASApara a construção de cisternas para captação deágua de chuva (o programa P1MC, gerenciado

pelas ongs), no valor de R$ 8 milhões, quaseum terço do total gasto na região.

Quanto aos programas de maior incidên-cia na região do semi-árido, a tabela 2 mostraque, mesmo considerando o período entre2000 e 2002, e adotando-se um critério am-plo de aplicação no semi-árido, os valores sãosimplesmente irrisórios.

A situação se torna mais grave quando seidentificam os recursos efetivamente aplicados.Do total de programas e projetos com maior in-cidência no semi-árido, a execução orçamentá-ria apresentou, em 2000, um percentual de73,8%; em 2001, 80,5%; e em 2002, até ametade do ano, apenas 4,2%. Dos projetos es-pecíficos para o semi-árido, incluindo a totali-dade dos gastos com a Bacia do Rio São Francis-

co (que por sinal abrange outros ecossistemas),constatamos que o percentual efetivamente gasto,em 2000, foi de 47%; em 2001, 46% e em 2002,até o primeiro semestre, apenas 0,05% do orça-mento previsto foi, de fato, investido.

Ainda na questão da execução dos programas,vale salientar que se os níveis foram considera-dos elevados isso se deve, primordialmente, a

Em R$ milhõesProgramas Valores Autorizados Valores Empenhados %

Programas de irrigação e drenagem 870,2 344,9 39,6%

PROÁGUA Infra-estrutura (Brasil) 1244,4 333,3 26,8

Programa desenvolvimento região Nordeste 166,9 6,9 4,1

Transposição do São Francisco 66,3 7,4 11,2

PROÁGUA Infra-estrutura - Sudene 46,4 11,9 25,9

Operações especiais (créditos do FNE para o semi-árido) 704,2 704,2 100

Total sem FNE 2394,2 704,4 29,4%

Total geral 3098,4 1408,6 45,4%

Programas do governo federal voltados à demanda de infra-estrutura e desenvolvimento da região semi-árida, em 2001

T abela 3

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6 agosto de 2002

Em resumo, podemosafirmar que se o

orçamento ambientalbrasileiro está

absolutamente aquémdas necessidades de

uma verdadeirapolítica de

desenvolvimentosustentável, para o

semi-árido e o biomaCaatinga o quadro é

ainda maisdesfavorável.

aplicações no programa de emergência das se-cas que ocorreram no último ano.

Nesta análise do orçamento, deixamos de ladoalgumas ações referentes à política nacional deflorestas, da mesma forma como não tratamosdas unidades de conservação, parques nacionaise florestas nacionais. Isso porque, para o semi-árido brasileiro, existem pouquíssimas áreas pro-tegidas em tais circunstâncias, o que poderia,ocasionalmente, benefici-ar o acréscimo de investi-mentos nessa área.

Em resumo, podemosafirmar que se o orçamen-to ambiental brasileiroestá absolutamente aquémdas necessidades de umaverdadeira política de de-senvolvimento sustentável,para o semi-árido e obioma Caatinga o quadroé ainda mais desfavorável,chegando perto dairresponsabilidade políticae administrativa, tanto doExecutivo quanto do Legislativo.

Considerações finais

O indicativo da inten ção do governo brasi-leiro, no que se refere à política ambiental

para o semi-árido, nos parece simplesmentedesolador. Conforme se demonstrou anterior-mente, dos irrisórios 0,168% do orçamento ge-ral da União destinados ao orçamento ambientaltotal, o que foi destinado ao semi-árido nãocorresponde, nem de longe, às necessidades jáidentificadas pela sociedade civil organizada naregião.

Vivencia-se, neste exato momento, uma situ-ação de seca bastante acentuada na região, des-tacando-se o estado do Piauí nas manchetes na-cionais, com grandes possibilidades de se esten-der o problema para o restante do semi-árido.Diante disso, quais as medidas adotadas pelopoder público? Novamente, observamos a ado-

ção de medidas emergenciais, carecendo de açõespermanentes que hoje compõem o quadro depropostas apresentado ao governo pela ASA,através da Declaração do Semi-Árido.

No momento em que se evidenciam tambémos sinais das mudanças climáticas, já tãoalardeadas pelos movimentos ambientalistas na-cional e internacional, e anunciadas nas princi-pais redes de notícias, como as enchentes na Eu-

ropa, por exemplo, não percebemos nenhummovimento concreto do governo brasileiro, nosentido de buscar soluções para tais questões.

Além de lamentar, resta à sociedade civil opoder de pressão e de reivindicação que lhesão próprios, para exigir a adoção de medidasadequadas que evitem, ou minimizem, os efei-tos que o descaso pode produzir numecossistema extremamente promissor, como éo semi-árido brasileiro, em termos de produ-ção e cultura, mas que tem peculiaridades cli-máticas e edáficas. É preciso o alerta, para quenão tenhamos mais um exemplo negativo doque “poderia” ter sido feito “se” fosse percebi-do com antecedência.

Silvio Rocha Sant�Ana

Fundação Grupo Esquel Brasil

Silvia Alcântara Picchioni

ASPAN � Associação Pernambucana de Defesa da Natureza e

Assessora da ASA � Articulação no semi-árido brasileiro

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agosto de 20027

2001 2002

Programas/projetos dot. Inicial autorizado liquidado % exec. Restos a pagar dot. Inicial autorizado liquidado % exec.

Ministério do Meio Ambiente 783.978.868 745.508.750 503.532.241 67,54% 85.450.955 1.104.670.433 1.103.104.392 45.299.943 4,11%

Amazônia sustentável 82.903.115 81.683.106 36.571.319 44,77% 8.217.177 121.704.472 121.704.466 3.024.402 2,49%

Expansão e consolidação do sistema de áreas protegidas 31.396.498 31.396.498 613.952 1,96% 886.490 886.489 23.484 2,65%

Amazônia solidária - apoio às comunidades extrativistas da Amazônia 4.437.244 4.437.243 4.292.582 96,74% 6.851.256 6.851.256 1.678.324 24,50%

Fomento a projetos de gestão - PPG7 24.270.015 23.270.009 15.920.201 68,42% 23.037.500 23.037.499 955.923 4,15%

Proteção às florestas tropicais da Amazônia - PPG7 5.274.980 5.274.980 761.248 14,43% 13.052.266 13.052.263 0 0,00%

Gestão ambiental em terras indígenas 2.023.306 2.023.306 2.011.678 99,43% 568.120 568.120 150.000 26,40%

Recuperação de áreas alteradas na Amazônia 5.487.259 5.487.258 5.407.250 98,54% 12.100.000 12.100.000 40.000 0,33%

Desenvolvimento ambiental urbano 10.013.813 9.793.812 7.564.408 77,24% 65.208.840 65.208.839 176.671 0,27%

Prevenção e combate a desmatamentos 31.115.108 50.115.106 38.846.780 77,52% 8.168.290 29.023.716 29.023.716 7.146.537 24,62%

Prevenção queimadas e incêndios / Amazônia - Proarco 15.681.147 18.681.146 13.405.732 71,76% 10.000.000 10.000.000 757.685 7,58%

Fiscalização de recursos florestais 13.970.000 18.970.000 13.971.065 73,65% 13.990.000 13.990.000 4.967.392 35,51%

Prevenção de indêndios florestais (Prevfogo) 1.463.961 1.463.961 1.044.298 71,33% 5.033.716 5.033.716 1.421.460 28,24%

Combate emergencial a incêndios florestais - 10.999.999 10.425.685 94,78%

Turismo verde 12.688.377 12.408.376 11.500.447 92,68% 2.199.277 27.094.994 26.812.604 90.000 0,34%

Implant. de infra-estrutura nos pólos de ecoturismo da Amazônia 5.082.000 4.802.000 4.120.600 85,81% 20.689.809 20.689.809 0 0,00%

Estudos, capacitação e assistência técnica 7.606.377 7.606.376 7.379.847 97,02% 6.405.185 6.122.795 90.000 1,47%

Probem da Amazônia 4.961.634 4.961.632 4.662.900 93,98% 2.445.534 4.369.307 4.369.307 100.000 2,29%

Fomento e implementação de projetos para o uso sustentável 2.000.000 3.198.732 2.900.001 90,66% 2.200.000 2.200.000 100.000 4,55%

Implantação do centro de biotecnologia da Amazônia 2.961.634 1.762.900 1.762.899 100,00% 2.169.307 2.169.307 0 0,00%

Florestas sustentáveis 33.912.254 33.912.253 9.979.984 29,43% 908.046 34.377.560 34.377.559 3.381.028 9,83%

Manejo de rec. naturais em florestas tropicais - PPG7 24.500.353 24.500.353 2.482.839 10,13% 17.553.000 17.553.000 1.162.631 6,62%

Capacitação e apoio às comunidades extrativistas 1.552.563 1.552.563 1.261.284 81,24% 5.984.937 5.984.937 452.208 7,56%

Monitoramento dos planos de manejo florestal 6.032.206 6.032.205 4.569.393 75,75% 7.606.123 7.606.122 1.591.170 20,92%

Uso múltiplo - florestas nacionais 1.827.132 1.827.132 1.666.468 91,21% 3.233.500 3.233.500 175.019 5,41%

Florestar 19.385.333 20.385.318 11.478.748 56,31% 2.046.013 22.497.097 22.497.092 1.043.859 4,64%

Fomento a projetos de reflorestamento 11.005.432 11.005.428 7.253.651 65,91% 16.105.771 16.105.769 587.443 3,65%

Estudos para o desenvolvimento florestal 3.533.150 3.533.150 671.967 19,02% 1.756.575 1.756.575 75.399 4,29%

Reposição florestal 4.846.751 5.846.740 3.553.130 60,77% 4.634.751 4.634.748 381.017 8,22%

Parques do Brasil 128.256.557 89.756.553 31.929.870 35,57% 6.482.638 130.316.922 130.316.921 6.222.573 4,77%

Orçamento ambiental 2001/2002*R$ 1,00

T abela 4

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8agosto de 2002

2001 2002

Programas/projetos dot. Inicial autorizado liquidado % exec. Restos a pagar dot. Inicial autorizado liquidado % exec.

Ampliação do sistema nacional de áreas protegidas 20.531.848 20.631.842 13.706.361 66,43% 62.717.535 62.717.534 430.529 0,69%

Regularização fundiária de unidades de conservação - UC

Gestão, manejo e fiscalização UC 16.489.958 13.489.960 5.717.937 42,39% 34.479.387 34.479.387 5.717.395 16,58%

Implantação de infra-estrutura econômica de UC 9.224.521 9.224.521 6.990.314 75,78% 6.240.000 6.240.000 0 0,00%

Capacitação e estudos em UC 1.209.418 1.209.418 1.022.614 84,55% 1.880.000 1.880.000 74.649 3,97%

Biodiversidade e recursos genéticos 22.394.894 21.952.896 14.253.968 64,93% 3.466.636 23.964.413 23.910.706 2.253.316 9,42%

Fomento proj. conserv. diversidade biológica - Pronabio 13.723.970 13.281.974 7.296.520 54,94% 13.871.067 13.871.062 849.363 6,12%

Manejo e conservação da fauna/flora 5.246.141 5.246.139 4.045.653 77,12% 6.870.642 6.870.640 1.248.495 18,17%

Cosnervação biodiversidade - Jardim Botânico 2.204.783 2.204.783 1.740.904 78,96% 2.348.704 2.348.704 110.400 4,70%

Política biodiversidade - outros 1.220.000 1.220.000 1.170.891 95,97% 874.000 820.300 45.058 5,49%

Gestão política ambiental / agenda 21 28.912.607 28.441.601 23.621.746 83,05% 2.195.044 26.869.619 26.854.595 4.962.367 18,48%

Apoio ao gerenciamento descentralizado da política 14.177.443 13.777.442 10.857.610 78,81% 9.424.819 9.424.819 476.071 5,05%

Estudos para desenv. de instrumentos econ. para gestao ambiental 8.388.663 8.217.659 6.355.151 77,34% 7.600.000 7.599.999 1.331.181 17,52%

Formulação de políticas de desenv. sustentado 6.346.501 6.446.500 6.408.985 99,42% 5.864.800 5.649.777 2.315.101 40,98%

Elaboração da agenda 21 brasileira - - - - 1.980.000 1.980.000 840.014 42,42%

Construção da sede da ANA - - - - 2.000.000 2.200.000 0 -

Zoneamento ecológico-econômico 2.885.312 2.885.312 2.107.510 73,04% 135.339 2.871.300 2.871.300 206.445 7,19%

Implementação - ZEE 129.812 129.811 88.495 68,17% 1.750.000 1.750.000 56.445 3,23%

ZEE - gestão 2.755.500 2.755.501 2.019.015 73,27% 1.121.300 1.121.300 150.000 13,38%

Educação ambiental 10.006.513 9.806.510 7.381.286 75,27% 1.160.925 23.140.156 23.140.155 571.747 2,47%

Fomento a projetos integrados de educ. ambiental 5.557.481 5.357.480 3.581.109 66,84% 18.382.137 18.302.136 560.341 3,06%

Informação e capacitação em educação ambiental 4.449.032 4.449.030 3.800.177 85,42% 4.758.019 4.838.019 11.406 0,24%

Recursos pesqueiros sustentáveis 6.347.778 6.347.780 4.781.953 75,33% 293.512 7.908.166 7.804.166 318.937 4,09%

Implantação de gestão e manejo 3.410.748 3.410.750 2.494.639 73,14% 3.251.785 3.147.785 145.897 4,63%

Fiscalização e monitoramento 2.937.030 2.937.030 2.287.314 77,88% 4.656.381 4.656.381 173.040 3,72%

Pantanal 27.719.816 13.840.127 4.901.212 35,41% 74.249 29.459.118 29.459.118 880.000 2,99%

Implant. e melhoria de sist. de abast. e san. na Bacia do Rio Paraguai 6.278.248 2.628.148 1.306.455 49,71% 4.336.762 4.336.762 0 0,00%

Proteção e conservação ambiental 6.148.749 2.707.910 1.476.337 54,52% 7.370.082 7.370.082 0 0,00%

Gerenciamento e manejo de recursos hídricos 6.691.690 6.024.539 777.499 12,91% 3.311.737 3.311.737 0 0,00%

Desenvolvimento econômico na bacia 5.953.937 1.649.809 1.131.201 68,57% 2.796.231 2.796.231 0 0,00%

Ações socioeconômicas ind. com comunidades indígenas 985.193 35.193 35.193 100,00% 838.264 838.264 0 0,00%

Assistência técnica produtores rurais 1.661.999 794.528 174.527 21,97% 646.003 646.003 0 0,00%

Gestão do programa pantanal - - - - 10.160.039 10.160.039 880.000 8,66%

T abela 4 (continuação)

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agosto de 20029

2001 2002

Programas/projetos dot. Inicial autorizado liquidado % exec. Restos a pagar dot. Inicial autorizado liquidado % exec.

Brasil joga limpo 38.069.258 61.625.876 52.219.007 84,74% 27.304.771 95.651.198 94.880.418 230.000 0,24%

Proj. demonst. de gestão integ. de resíduos sólidos e saneam. amb. 35.963.691 59.963.686 51.092.876 85,21% 85.671.198 84.900.418 230.000 0,27%

Imp. de sist. de inform. e instrumentos para gestão de resíduos sólidos 2.105.567 1.662.190 1.126.131 67,75% 1.000.000 1.000.000 0 0,00%

Desenvolvimento ambiental urbano na Amazônia - - - - 8.980.000 8.980.000 0 0,00%

Qualidade ambiental 95.666.140 82.904.382 74.000.303 89,26% 12.896.562 176.790.613 176.650.488 11.937.170 6,76%

Licenciamento ambiental 33.262.289 27.262.286 23.887.373 87,62% 21.044.454 21.044.452 3.110.729 14,78%

Fiscalização e monitoramento da poluição ambiental 16.753.807 11.753.808 10.979.891 93,42% 22.228.272 22.228.272 5.752.610 25,88%

Fomento a projetos de gestão integrada - PNMA II 9.422.383 14.422.381 12.106.574 83,94% 17.101.321 17.101.318 381.477 2,23%

Sistema de informações e estudos para gestão 11.867.890 8.264.039 7.324.450 88,63% 7.966.604 7.826.484 480.416 6,14%

Monit. de acidentes e recup. de danos causados pela ind. do petróleo 19.000.000 18.000.000 17.164.442 95,36% 77.289.962 77.289.962 2.157.712 2,79%

Fomento a proj. de melhoria da qual. do ar e prot. da atmosfera 5.359.771 3.201.868 2.537.573 79,25% 31.160.000 31.160.000 54.226 0,17%

Águas do Brasil 82.798.955 71.362.565 59.005.054 82,68% 2.136.961 25.606.724 25.406.723 1.072.015 4,22%

Implementação do sistema nacional de gerencimanento dos R.H. 7.697.190 6.726.993 5.417.919 80,54% 10.073.142 9.873.142 0 0,00%

Formulação da política de recursos humanos 17.600.890 17.600.889 17.136.406 97,36% 3.517.600 3.517.599 522.190 14,85%

Estudos e implementação dos sistema de recursos hídricos 5.500.371 2.842.087 955.446 33,62% 2.250.000 2.250.000 405.650 18,03%

Fiscalização e monitoramento de recursos hídricos 1.291.261 1.291.261 334.511 25,91% 4.239.542 4.239.542 38.999 0,92%

Enquadramento de corpos d�água 1.643.115 1.643.115 1.167.149 71,03% - 0 0

Outorga do direito do uso 1.176.079 1.176.079 - 0,00% - 0 0 0,00%

Elaboração de planos de R.H. 3.010.404 1.508.212 647.481 42,93% 4.500.000 4.500.000 0 0,00%

Projetos demonstrativos gestão R.H. 11.869.313 7.367.867 6.808.760 92,41% - 0 0 0,00%

Projetos para prevenção de enchentes 19.289.394 17.900.070 14.038.366 78,43% - 0 0 0,00%

Recuperação hidroambiental do rio Doce - - - - 1.026.440 1.026.440 105.176 10,25%

Projeto de minimização dos impactos da seca e desertif. 13.720.938 13.305.992 12.499.016 93,94%

Proágua - gestão 135.690.508 135.673.694 109.585.651 80,77% 4.322.706 49.144.480 49.144.480 192.000 0,39%

Despoluição de bacias hidrográficas 110.699.685 110.699.685 96.283.438 86,98% - 0 0 0,00%

Proágua - gestão 3.116.683 3.116.683 2.443.922 78,41% 26.138.000 26.138.000 0 0,00%

Disponibilidade de àgua no semi-árido (proágua semi-árido) 18.433.600 18.433.600 8.032.821 43,58% 20.625.480 20.625.480 192.000 0,93%

Fomentos a proj. de manejo e conserv. de recursos hídricos (FNMA) 2.569.712 2.569.712 2.379.068 92,58% 331.000 331.000 0 0,00%

PROÁGUA - outros 870.828 854.014 446.402 52,27% 2.050.000 2.050.000 0 0,00%

Nossos rios: São Francisco 12.643.536 12.643.537 5.845.126 46,23% 690.131 36.618.000 36.618.000 540.668 1,48%

Recuperação e conservação ambiental da bacia 6.459.612 6.459.613 2.986.126 46,23% 26.252.200 26.252.200 220.053 0,84%

Implantação do sistema de gestão do plano de R.H da bacia 6.183.924 6.183.924 2.859.000 46,23% 10.365.800 10.365.800 320.615 3,09%

Nossos rios: Araguaia/Tocantins 3.257.102 438.055 152.519 34,82% 152.519 2.160.000 2.160.000 0 0,00%

Implantação de gestão e monitoria 2.432.374 179.351 - 0,00% 1.500.000 1.500.000 0 0,00%

Recuperação e conservação ambiental da bacia 824.728 258.704 152.519 58,96% 500.000 500.000 0 0,00%

T abela 4 (continuação)

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10

agosto de 2002

2001 2002

Programas/projetos dot. Inicial autorizado liquidado % exec. Restos a pagar dot. Inicial autorizado liquidado % exec.

Implantação de gestão e monitoria 832.079 0 0 0,00% 160.000 160.000 0 0,00%

Nossos rios: Paraíba do Sul 4.364.071 4.364.071 706.858 16,20% 154.625 2.760.000 2.760.000 426.879 15,47%

Recuperação e conservação ambiental 406.477 406.477 300.379 73,90% 500.000 500.000 0 0,00%

Implantação da gestão e monitoramento da bacia 3.957.594 3.957.594 406.479 10,27% 2.260.000 2.260.000 426.879 18,89%

Despoluição de bacias hidrográficas - - - - 232.342.578 232.342.578 700.000 0,30%

Remoção de cargas poluidoras de bacias hidrográficas - - - - 85.830.854 85.830.854 0 0,00%

Recuperação de nascentes e de manaciais em áreas urbanas - - - - 145.511.724 145.511.724 700.000 0,48%

Companhas para mobilização e conscientização para limpar os rios - - - - 1.000.000 1.000.000 0 0,00%

Ministério da Agricultura e do Abastecimento 42.443.787 45.003.764 40.485.706 89,96% 228.946 46.612.500 46.612.403 9.597.791 20,59%

Conservação de solos na agricultura 8.686.232 8.686.232 7.576.262 87,22% 228.946 9.720.000 9.719.981 1.271.895 13,09%

Biotecnologia e recursos genéticos - Genoma 26.359.345 28.359.330 26.644.378 93,95% - 29.074.600 29.074.546 7.917.454 27,23%

Águas do Brasil 283.080 283.077 282.944 99,95% - 644.900 644.900 0 0,00%

Parques do Brasil 560.100 960.098 958.479 99,83% - 500.000 499.994 213.824 42,77%

Florestar 6.555.030 6.715.027 5.023.643 74,81% - 6.673.000 6.672.982 194.618 2,92%

Ministério da Ciência e Tecnologia 64.441.862 67.695.845 62.914.808 92,94% 7.692.581 47.156.388 47.156.369 4.882.418 10,35%

Turismo verde - - - - - - - - -

Qualidade ambiental - - - - - - - - -

Segurança nuclear 11.826.220 14.946.207 12.883.893 86,20% 2.805.209 15.032.736 15.032.718 2.347.722 15,62%

Biotecnologia e recursos genéticos - Genoma 49.002.088 49.002.088 46.483.874 94,86% 4.500.248 28.580.602 28.580.601 2.320.711 8,12%

Recursos do mar 129.010 129.010 77.491 60,07% - 135.800 135.800 0 0,00%

Mudanças climáticas 1.033.249 1.033.249 959.769 92,89% 26.123 842.250 842.250 50.106 5,95%

Águas do Brasil - - - - - - - - -

Prevenção e combate a desmatamentos 1.110.295 1.110.295 1.078.415 97,13% 272.230 1.147.000 1.147.000 59.821 5,22%

Probem da Amazônia 1.341.000 1.474.996 1.431.366 97,04% 88.771 1.418.000 1.418.000 104.058 7,34%

Ministério da Integração Nacional 65.360.467 93.233.289 74.377.326 79,78% 2.058.408 15.098.160 15.098.160 0 0,00%

Biotecnologia e recursos genéticos - Genoma 1.171.482 1.171.482 0 0,00% - 856.181 856.181 0 0,00%

Águas do Brasil 350.000 350.000 340.000 97,14% - - - - -

Florestar - - - - - 174.000 174.000 0 0,00%

Zoneamento ecológico-econômico 9.837.040 9.837.040 1.460.857 14,85% 460.000 6.067.979 6.067.979 0 0,00%

Plano agropecuário e florestal de Rondônia - Planafloro 24.298.297 38.598.297 29.299.999 75,91% 1.598.408 3.000.000 3.000.000 0 0,00%

Desenvolvimento agroambiental de Mato Grosso - Prodeagro 29.703.648 43.276.470 43.276.470 100,00% - 5.000.000 5.000.000 0 0,00%

Ministério de Minas e Energia 3.398.772 3.247.929 2.476.092 76,24% 287.077 3.712.215 3.712.214 541.068 14,58%

Águas do Brasil 1.125.004 1.125.008 1.124.684 99,97% - 1.125.000 1.124.999 515.260 45,80%

Conservação ambiental de regiões mineradas 2.273.768 2.122.921 1.351.408 63,66% 287.077 2.587.215 2.587.215 25.808 1,00%

T abela 4 (continuação)

Page 11: Boletim Orcamento e Socioambiental 2

agosto de 200211

2001 2002

Programas/projetos dot. Inicial autorizado liquidado % exec. Restos a pagar dot. Inicial autorizado liquidado % exec.

Ministério da Defesa 2.008.489 2.008.491 1.962.437 97,71% 16.659 1.811.910 1.811.910 141.898 7,83%

Recursos pesqueiros sustentáveis 593.701 593.701 589.594 99,31% - 395.030 395.030 0 0,00%

Recursos do mar 1.414.788 1.414.790 1.372.843 97,04% 16.659 1.416.880 1.416.880 141.898 10,01%

Ministério do Trabalho e Emprego 25.463.636 44.832.742 39.243.103 87,53% 638.640 51.598.919 51.598.920 43.233.300 83,79%

Recursos pesqueiros sustentáveis 25.463.636 44.832.742 39.243.103 87,53% 638.640 51.598.919 51.598.920 43.233.300 83,79%

Ministério da Saúde 1.194.749 1.194.750 699.291 58,53% 432.682 999.999 1.000.000 6.036 0,60%

Biotecnologia e recursos genéticos - Genoma 1.194.749 1.194.750 699.291 58,53% 432.682 999.999 1.000.000 6.036 0,60%

Proágua - gestão

Ministério do Esporte e Turismo 1.975.032 810.032 412.528 50,93% 24.400 - - - -

Pantanal 1.009.208 709.208 325.128 45,84% - - - - -

Turismo verde 965.824 100.824 87.400 86,69% 24.400 - - - -

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio 1.900.000 5.000.000 4.999.995 100,00% 1.483.444 2.100.000 2.100.000 0 0,00%

Probem da Amazônia 1.800.000 4.200.000 4.199.995 100,00% 1.483.444 2.000.000 2.000.000 0 0,00%

Zoneamento ecológico-econômico 100.000 800.000 800.000 100,00% - 100.000 100.000 0 0,00%

Ministério dos Transportes - - - - - - - - -

Qualidade ambiental - - - - - - - - -

Total geral 992.165.662 1.008.535.592 731.103.527 72,49% 98.313.792 1.273.760.524 1.272.194.368 103.702.454 8,15%Fonte: SIAFI/STN - Base de Dados: Consultoria de Orçamento/ CD e PRODASENElaboração: INESC* Execução orçamentária de 2001 fechada e restos a pagar atualizados até 07/06/2002; Execução orçamentária de 2002 atualizada até 30/06/2001

T abela 4 (continuação)

Page 12: Boletim Orcamento e Socioambiental 2

12 agosto de 2002

Os gastos federais com a política ambiental foramin-feriores a 5% no primeiro semestre de 2002.Che-gam a 8,15%, se incluirmos o programa

recursos pesqueiros sustentáveis, que paga salário aos pes-cadores tradicionais na época do defeso, e que se consti-tui em uma ação sazonal. No Ministério do Meio Ambi-ente -MMA, o valor gasto no conjunto dos programasfinalísticos é ainda menor: 4,1%, equivalente a apenasR$ 45 milhões de um orçamento total de R$ 1,10 bi-lhão. Dos 21 programas finalísticos do MMA, cinco de-les apresentaram execução orçamentária inferior a 1%:Turismo verde, Brasil joga limpo, Proágua-Gestão,Despoluição de bacias hidrográficas e Nossos Rios:Araguaia-Tocantins. Apenas dois programas conseguiramexecução superior a 10%: Pre-venção e combate aosdesmatamento e queimadas(24,62%) e o pequeno progra-ma Nosso Rios: Paraíba do Sul.

Se olharmos as instituçõesenvolvidas com a execução doMMA, teremos o IBAMA comíndice de execução global de32%; o próprio Ministério, com6,85%; o Fundo Nacional doMeio Ambiente, com 4,6%; e aAgência Nacional de Águas –ANA, com apenas 3,8%. Valeressaltar que o elevado índice degastos do Ibama deve-se princi-palmente aos pagamentos compessoal e à manutenção da má-quina administrativa.

Entre os principais responsáveis pela baixa execuçãoda política ambiental estão os Ministérios da Fazenda edo Planejamento, que periodicamente impõem os cha-mados Decretos de Contingenciamento do OrçamentoFederal, com vistas a compatibilizar os gastos federaiscom o cumprimento das metas de superávite primárioprevistas nos acordos de ajuste fiscal com o FMI. Oúltimo decreto (n.º 4.309, de 22/07/2002 ) reduziu oorçamento autorizado para 2002 em mais de 70%. Atra-vés dos decretos de contingencimanto, os Ministérioseconômicos estabelecem rígidos limites mensais de gas-tos. O estrangulamento dos gastos costuma durar até ofinal do ano, quando então são autorizados gastos degrandes somas de recursos, o que tem reduzido a capa-cidade do MMA de mostrar sua responsabilidade, efi-ciência e eficácia na gestão das políticas públicas.

Os recursos para a política ambiental efetivamente gas-tos até junho de 2002 sobem um pouco quando admiti-mos também os gastos realizados em 2002, mas que sãooriundos do orçamento fiscal anterior, ou seja, do orça-mento de 2001: são os chamados restos a pagar. Até 6 dejulho de 2002, os restos a pagar de 2001 para os progra-mas do MMA representavam R$ 85,4 milhões, o que equi-vale a quase o dobro do gasto efetivo do orçamento de2002. Com destaque para os programas Brasil joga limpo(R$ 27,3 milhões), Qualidade ambiental (R$ 12,9 mi-lhões), Amazônia sustentável e Prevenção e combate aosdesmatamentos e queimadas (aproximadamente R$ 8,2milhões cada).

Outra informação importante fornecida pelos restos apagar de 2001 refere-se à natureza da despesa destes gas-tos. Em torno de 57% dos restos a pagar de 2001 foramutilizados em investimentos - tais como compra de equi-pamentos e outros bens materiais - , o que contrastacom os parcos recursos gastos com investimentos no or-çamento de 2002: até 30 de junho, apenas 0,76% dogasto foi efetivamente destinado a investimentos na cons-trução de bases para a gestão ambiental.

Apesar do insignificante gasto do orçamento de 2002no primeiro semestre, em torno de 20% dos gastos inte-grais - incluindo Ibama e ANA - do MMA foram repas-sados para figuras jurídicas de fora do MMA (principal-mente ongs, osips e empresas privadas), para a realiza-ção de estudos, pesquisas (32 rubricas orçamentáriasidentificadas) e fomento a projetos ( 29 linhas de açõesde fomento em diferentes programas identificados).

No entanto, nem mesmo os restos a pagar escondema irresponsabilidade ambiental e política que é a repeti-

ção, em 2002, da não execução do orçamento federal, im-pedindo que os principais programas, pilares da gestãoambiental, possam ocorrer dentro do ciclo sazonalsocioambiental. Dessa forma, torna-se impossível uma efi-caz gestão técnico-financeira destes programas. Se osgestores do MMA e dos Ministérios econômicos já têmclaro que a liberação do volume principal dos recursos so-mente se dará no final do ano, por que não dialogar comos setores sociais envolvidos, com vistas a readequar estra-tégias comuns para uma melhor aplicação destes recursos?

À sociedade civil organizada cabe o papel de cobrar umagestão pública ampla e eficaz da política socioambien-talfederal.

>>Hélcio de SouzaAssessor de Política Ambiental do INESC

[email protected]

A análise dos gastos ambientais noprimeiro semestre de 2002

Entre os principaisresponsáveis pela

baixa execução dapolítica ambiental

estão os Ministériosda Fazenda e do

Planejamento, queperiodicamente

impõem os chamadosDecretos de

Contingenciamentodo Orçamento

Federal.