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Boletim Informativo n°
05/2018
Este é o boletim informativo do Núcleo da Infância e Juventude, implementado pela Defensoria Pública do Paraná. Os boletins serão publicados periodicamente e têm por objetivo concentrar atualizações normativas, jurisprudência e atos normativos infralegais correlatos à infância e juventude.
Considerando que o NUDIJ é recém-implementado, os atos normativos infralegais apresentados não serão, necessariamente, atuais.
Os tópicos aqui dispostos, inclusive os do índice, possuem um link, permitindo acesso ao documento na íntegra ou redirecionamento interno. Tais links podem ser acessados com um clique.
Índice
1. Jurisprudência
1.1. STF- Ag.Reg. no Habeas Corpus- 143.988 Espírito Santo- Habeas Corpus Coletivo
1.2. STJ
1.2.1. REsp 1673215 – Rio de Janeiro – aplicação do art. 942 do CPC nos procedimentos relativos ao ECA
1.2.2. HC 436.388 - São Paulo - gravidade do ato infracional
1.2.3. REsp 1575767- Distrito Federal – Vaga em creches
1.3. TJ-PR
1.3.1. TJ- PR – Habeas Corpus 0031545- 43.2018.8.16.0000 – Medida socioeducativa internação. Ato equiparado a Desacato (art. 331 CP).
1.3.2. TJ-PR- HC 0030318- 18.2018.8.16.0000- Internação provisória com base na reiteração no cometimento de outras infrações graves
1.3.3. TJ-PR- HC nº 0032855-84.2018.8.16.0000 – HC COLETIVO
2. Notícias
2.1 ABRAMINJ- Assédio em transporte escolar
2.2 ABRAMINJ - STF: Criança deve ter seis anos completos para ingresso
no ensino fundamental
2.3 ABRAMINJ - A implantação da Lei nº 13.321/2017 – Avanços e
dificuldades
2.4 ABRAMINJ – Adoção: Paraná formaliza 1º pedido feito por meio de
aplicativo móvel
2.5 ABRAMINJ- Sentença de adoção só pode ser anulada por meio de ação
rescisória
2.6 ABRAMINJ - Corregedoria Nacional de Justiça lança novo sistema
integrado de adoção e acolhimento de crianças e adolescentes
2.7 CONJUR - Mãe que deixava drogas dentro de casa não pode ficar em
prisão domiciliar, diz Laurita
2.8 STJ - Mãe acusada de traficar drogas na própria casa tem pedido de
prisão domiciliar indeferido.
3. Artigos, orientações e afins
3.1. Orientações técnicas para elaboração do Plano Individual de
Atendimento (PIA) de crianças e adolescentes em serviços de acolhimento
3.2. STF - Boletim de Jurisprudência Internacional – Educação Domiciliar
3.3. Revista Brasileira de Direito Civil em Perspectiva - Alienação Parental
Estatal
3.4. VI Relatório: Um Brasil para as Crianças e os Adolescentes - Avaliação
da Gestão 2015-2018
1. Jurisprudência
*Os nomes citados foram substituídos ou abreviados por questão de sigilo.
1.1 STF Ag.Reg. no Habeas Corpus- 143.988 Espírito Santo- Habeas Corpus Coletivo
AG.REG. NO HABEAS CORPUS 143.988 ESPÍRITO SANTO
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
AGTE.(S) :TODOS OS ADOLESCENTES INTERNADOS NA UNIDADE DE
INTERNAÇÃO REGIONAL NORTE
ADV.(A/S) :DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
AGDO.(A/S) :SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DECISÃO: Trata-se de agravo regimental (eDoc 70) interposto contra
decisão (eDoc 61) que não conheceu do habeas corpus coletivo impetrado pela
Defensoria Pública do Espírito Santo.
Nas razões recursais sustenta-se, em síntese, que: a) a indeterminação
da coletividade de adolescentes internados pode ser resolvida com a requisição
da lista atualizada à Unidade de Internação Regional Norte (UNINORTE),
solução semelhante utilizada no HC 143.641/SP; b) há outras impetrações
coletivas sem individualização dos pacientes, destacando-se o HC 118.536
MC/SP e HC 119.753/SP; c) a exigência formal de identificação dos pacientes
obstará a apreciação pelo STF de questão de grave ofensa à dignidade humana
de “centenas de adolescentes que se encontram custodiados pelo Estado do
Espírito Santo, em condições complemente inaceitáveis para o padrão
civilizatório atual”; d) outras vias foram utilizadas para o enfrentamento da
matéria, porém sem êxito, como a que se deu na ação civil pública proposta pelo
Ministério Público do Estado do Espírito Santo e nas inúmeras medidas
extrajudiciais; e) a quantidade e a rotatividade de adolescentes inviabilizam a
impetração para tutela dos direitos violados, apresentando-se a via coletiva
como última alternativa; f) a superlotação da unidade de internação persiste, sem
intervenção satisfatória do executivo e do judiciário locais; g) a notícia de
adolescente internado na UNINORTE gravemente ferido no pescoço, deu ensejo
a nota pública do Comitê Estadual para a Prevenção e Erradicação de Tortura
no Espirito Santo (CEPET/ES).
Com essas considerações, pugna pela retratação da decisão monocrática
e o prosseguimento do feito.
Na Pet. 68505/2017(eDoc 77), a recorrente requer prioridade no
julgamento diante do agravamento do quadro de violações ocorridas na
UNINORTE. Instada a manifestar, a PGR opina pelo desprovimento do recurso
interposto (eDoc 85).
É o relatório. DECIDO.
1. Em razão dos argumentos lançados no agravo regimental e do recente
julgamento do HC 143.641/SP realizado em 20.2.2018, Relator o Min. Ricardo
Lewandowski, que admitiu o habeas corpus coletivo para discutir direitos
individuais homogêneos, seguindo-se o HC 118.536/SP, Relator o Min. Dias
Toffoli, que concedeu a ordem para determinar que o STJ analise a questão de
fundo do HC coletivo 269.265/SP, com o permissivo contido no art. 317,§2º, do
RISTF, reconsidero a decisão agravada e passo à reanálise dos autos.
2. Principio rememorando que neste habeas corpus coletivo, a Defensoria
Pública do Estado do Espírito Santo alega que: a) há grave quadro de violação
aos direitos humanos na Casa de Custódia UNINORTE, pois onde deveriam
estar internados no máximo 90 (noventa) adolescentes, atualmente estão
custodiados 201 (duzentos e um). “Tal situação acarreta numa quantidade
excessiva de adolescentes por moradia, acabando 7,8 internos por dividir um
quarto com estrutura para apenas 4, em precárias condições de habitabilidade”.
A superlotação, existente desde 2015 e nunca solucionada, leva a diversas
rebeliões e motins, fomentando a violência entre os reeducandos; b) não há, no
estabelecimento em comento, qualquer separação em razão de idade,
compleição física, ato infracional cometido ou, ainda, tipo de internação; c) nas
oitivas realizadas com os adolescentes, verificou-se que são reiterados os
relatos de agressões, maus tratos e torturas por parte de agentes
socioeducativos e da Secretaria de Justiça do Estado do Espírito Santo, o que
também é aferível pelas imagens de rebelião ocorrida em 02/2015, e laudo de
médico legista que atesta “ofensa à integridade física corporal ou à saúde do
paciente” e “ação de instrumento contundente”, como “instrumento ou meio que
o produziu”; d) no que toca às condições de higiene e limpeza, observa-se, por
meio dos socioeducandos, da equipe técnica e pela inspeção realizada, que a
Unidade encontra-se em deficientes condições, sendo percebido muito lixo nos
arredores das moradias (restos de comida, copos plásticos, marmitex atrás dos
quartos), esgoto exposto, mau cheiro, alta temperatura, mosquitos, baratas,
larvas e até sapos; e) durante os dias de atendimento, os adolescentes relataram
permanecer a maior parte do tempo nos quartos, saindo apenas para as visitas
familiares e para a quadra, aos sábados, por trinta minutos, situação equiparável
ao regime disciplinar diferenciado, previsto no art. 52, IV, da LEP; f) a UNINORTE
chama atenção ainda pelo elevado número de mortes ocorrida entre os
reeducandos; g) desde 2011, o Brasil e o Estado do Espírito Santo têm sido alvo
de medidas provisórias por parte da CIDH em razão das graves violações de
direitos humanos em casas de custódia de adolescentes; h) o quadro de
indignidade evidenciado na UNINORTE poderia ser ao menos minimizado com
a aplicação do princípio “numerus clausus”, que possui recentes aplicações em
âmbito internacional e que já foi aplicado por este STF, em decisão proferida
pelo Min. Ricardo Lewandowski, na Suspensão de Liminar 823/ES; i) “pode-se
definir o princípio em apreciação como aquele no qual a cada entrada em
unidade prisional há, ao menos, uma saída, permitindo-se, assim, a estabilização
ou diminuição da população reclusa, de modo a evitar a superlotação de cadeias,
penitenciárias e unidades de internação (...) uma vez ultrapassada a capacidade
máxima do estabelecimento, deveriam ser escolhidos os presos com melhor
prognóstico de adaptabilidade social, impondo-lhes a detenção domiciliar com
vigilância eletrônica. (...)” e j) impetrado HC, tanto no Tribunal de origem, como
no STJ, não logrou a concessão da ordem, ao argumento de que a via eleita não
seria adequada ao tratamento do tema.
Requer, liminarmente, a concessão da ordem, a fim de que seja tutelada a liberdade ambulatorial de todos os internos da UNINORTE, devido ao quadro de violação aos direitos humanos, sugerindo, como solução, a adoção do princípio do numerus clausus. 3. A primeira questão que deverá ser enfrentada neste writ coletivo é se os direitos fundamentais dos adolescentes sujeitos ao cumprimento das medidas socioeducativas de internação na Unidade de Internação Regional Norte, em Linhares/ES (UNINORTE), permanecem violados pela ocupação acima da capacidade projetada e dos limites da razoabilidade. A resposta é afirmativa. Conforme informações prestadas pelo juízo monocrático (eDoc 32), a capacidade da UNINORTE – internação definitiva – é de 90 vagas, e, em 6.6.2017, contava com 202 socioeducandos internados. Com estes dados já é possível projetar o cenário perturbador do ambiente proporcionado aos adolescentes custodiados na UNINORTE, e que é agravado, pois se extrai da inicial que o ambiente “ é potencializado por outros fatores como INSALUBRIDADE DO LOCAL, atos de TORTURA, AGRESSÕES e TRATAMENTOS DEGRADANTES, além de FALTA DE PESSOAL em número suficiente para a garantia de um processo socioeducativo DIGNO”. Por meio do quadro apresentado na prefacial, de maio de 2015 a 2017, na UNINORTE a superlotação é recorrente, atingindo, em fevereiro de 2016, a alarmante ocupação de 251 adolescentes internos. Há informações de que adolescentes internos dormem em colchões no chão, inclusive próximo do vaso sanitário, por não haver camas em número suficiente. 4. O segundo ponto a ponderar é sobre a possibilidade da manutenção do socioeducando internado em ambiente superlotado em razão da ausência de vagas em outras unidades de cumprimento de medida socioeducativa semelhante. Os motivos de falta de vagas, da necessidade de construção de novas unidades de internação e de ampliação das existentes, são temas que foram submetidos à exauriente discussão e desate na ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público (autos 0007537- 07.2013.8.08.0030); compreendo, nada obstante, que os direitos fundamentais dos adolescentes
internados estão a sofrer graves violações motivados pela superlotação, razões pelas quais não podem permanecer na situação degradante que se encontram. A conservação desta situação afronta o art. 227 da CRFB que dispõe ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Nesse sentido: “A dignidade da pessoa humana constitui o substrato que está na base de todos os direitos fundamentais. Ela pressupõe o reconhecimento destes pela ordem jurídica, em todos os seus aspectos e dimensões. Este princípio foi especialmente vertido para a criança e o adolescente no caput do art. 277 do Texto Constitucional. Assim, eles têm sua dignidade assegurada não apenas de forma geral no art. 1º da Constituição Federal, mas de forma específica no dispositivo supracitado.”(CANOTILHO, J.J.Gomes; MENDES,Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. ( Coords). Comentários à Constituição Federal do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013, 2.380 p.)
Igualmente, arrosta o art. 4º da Lei 8.069/1990 prevê que “ É dever da
família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”.
5. Impende assentar que o princípio da dignidade da pessoa humana
(art.1º, III, CF) permeia todo o ordenamento jurídico e é concretizado na norma
de regência ao conceber o direito do adolescente privado de liberdade de ser
tratado com respeito e dignidade (art.124, V, Lei 8.069/1990).
Parto, assim, das premissas e fundamentos seminais do eminente
Ministro Luís Roberto Barroso ao teorizar sobre o princípio da dignidade da
pessoa humana (BARROSO, Luís Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no
Direito Constitucional Contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à
luz da jurisprudência mundial. Belo Horizonte: Fórum, 2013, passim), e
compartilho da profunda compreensão esquadrinhada por Daniel Sarmento
sobre esse mesmo princípio, seu conteúdo e metodologia (SARMENTO, Daniel.
Dignidade da Pessoa Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo
Horizonte: Fórum, 2016, passim).
Nesse quadrante comum compreendo e adoto como conteúdo do
princípio da dignidade da pessoa humana o valor intrínseco da pessoa, ou seja
a pessoa como fim em si mesmo, e nunca como instrumento ou objeto; a
autonomia pública (coletiva) e privada (individual) dos sujeitos; o mínimo
existencial para a garantia das condições materiais existenciais para a vida
digna; e o reconhecimento individual e coletivo das pessoas nas instituições,
práticas sociais e relações intersubjetivas (SARMENTO, Daniel. Dignidade da
Pessoa Humana: conteúdo, trajetórias e metodologia. Belo Horizonte: Fórum,
2016, p. 92).
E, especificamente, em relação a aplicação das medidas privativas da
liberdade, o direito à proteção especial estabelece obediência aos princípios de
brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento (art. 227, §3º, CF). O respeito abarca a obrigatoriedade de o
Estado proporcionar condições necessárias para execução das medidas
socioeducativas ao adolescente em conflito com a lei (art. 1º, §3º, Lei
12.594/2012- SINASE).
Pela relevância, trago à baila as regras da Convenção sobre os Direitos
das Crianças, promulgada por meio do Dec.99.710/1990:
“Artigo 3
1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a
efeito por instituições públicas ou privadas de bem estar
social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos
legislativos, devem considerar, primordialmente, o
interesse maior da criança.
2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar
à criança a proteção e o cuidado que sejam necessários
para seu bem-estar, levando em consideração os direitos
e deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas
responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade,
tomarão todas as medidas legislativas e administrativas
adequadas.
3. Os Estados Partes se certificarão de que as
instituições, os serviços e os estabelecimentos
encarregados do cuidado ou da proteção das crianças
cumpram com os padrões estabelecidos pelas autoridades
competentes, especialmente no que diz respeito à
segurança e à saúde das crianças, ao número e à
competência de seu pessoal e à existência de supervisão
adequada. (…)
Artigo 37
Os Estados Partes zelarão para que:
a) nenhuma criança seja submetida a tortura nem a
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes. Não será imposta a pena de morte nem a
prisão perpétua sem possibilidade de livramento por delitos
cometidos por menores de dezoito anos de idade;
b) nenhuma criança seja privada de sua liberdade
de forma ilegal ou arbitrária. A detenção, a reclusão ou a
prisão de uma criança será efetuada em conformidade com
a lei e apenas como último recurso, e durante o mais breve
período de tempo que for apropriado;
c) toda criança privada da liberdade seja tratada com
a humanidade e o respeito que merece a dignidade
inerente à pessoa humana, e levando-se em consideração
as necessidades de uma pessoa de sua idade. Em
especial, toda criança privada de sua liberdade ficará
separada dos adultos, a não ser que tal fato seja
considerado contrário aos melhores interesses da criança,
e terá direito a manter contato com sua família por meio de
correspondência ou de visitas, salvo em circunstâncias
excepcionais;
d) toda criança privada de sua liberdade tenha direito
a rápido acesso a assistência jurídica e a qualquer outra
assistência adequada, bem como direito a impugnar a
legalidade da privação de sua liberdade perante um
tribunal ou outra autoridade competente, independente e
imparcial e a uma rápida decisão a respeito de tal ação”.
O status constitucional dos tratados e convenções internacionais é
devidamente exposto pelo eminente Ministro Alexandre de Moraes:
“ Na luta pela concretização da plena eficácia universal dos direitos humanos, a Constituição Brasileira seguiu importante tendência internacional adotada em diversos ordenamentos jurídicos estrangeiros, como na Alemanha, Espanha, Portugal e Argentina, entre outros, ao prever na Emenda Constitucional nº 45/2004 ao Congresso Nacional a possibilidade de incorporação como status constitucional de tratados e convenções internacionais que versem sobre Direitos Humanos; bem como, permitir o deslocamento de competência nas hipóteses de grave violação a esses direitos e consagrar a submissão do Brasil à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão (…) Importante destacar, também, que, além do surgimento desse novo instrumento, a evolução na ampla proteção e garantia de efetividade dos direitos humanos foi reforçada pela alteração de posicionamento jurídico do Supremo Tribunal Federal, que passou a proclamar o status da
supralegalidade dos tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados no ordenamento jurídico brasileiro antes da EC nº 45/04, dando-lhes prevalência sobre o ordenamento jurídico pátrio, pois como definido pelo STF, ´o status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de adesão’ (RE 349703)” (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. - 33.ed. Rev. E atual. Até a EC nº 95, de 15 de dezembro de 2016- São Paulo: Atlas, 2107)
6. Como se observa da leitura dos dispositivos, é a partir do direito do
adolescente, pensado em absoluta prioridade, que se deve analisar o direito de
liberdade invocado no presente habeas corpus coletivo.
E, nesta dimensão, depreendo que na ambiência do adolescente em
conflito com a lei, as medidas socioeducativas privativas de liberdade, deverão
ser cumpridas em estabelecimentos que ofereçam dignas condições, em
respeito à sua peculiar situação de pessoa em desenvolvimento.
7. Para consecução do escopo almejado neste writ coletivo, a impetrante
pede a aplicação do princípio do numerus clausus, limitando o número de
socioeducandos que cumprem a medida socioeducativa de internação à
capacidade máxima da UNINORTE, próxima a 119%.
Conforme sustentado na inicial, o princípio do numerus clausus possui
recente aplicação em âmbito internacional, e na ação civil pública envolvendo
outra unidade de internação (UNAI), a decisão do juízo singular que estabeleceu,
dentre outras medidas, a observância do número máximo de internos, num total
de 68 adolescentes, sob pena de multa diária, fora mantida no STF, na
Suspensão de Liminar 823/ES, Relator Min. Lewandowski.
Com efeito, não há como desconsiderar a questão de fundo,
socioeducandos internos da UNINORTE de Linhares/ES, ou seja, grupo de
pessoas determinadas ou determináveis, que estão a sofrer constrangimento
ilegal, porque convivem em ambiente degradante de superlotação.
A solução apontada, qual seja, aplicação do princípio do numerus clausus,
para o momento, é a que melhor se ajusta para minimizar e estabilizar o quadro
preocupante.
O percentual de 119% é extraído da taxa média de ocupação dos internos
de 16 estados, aferido pelo CNMP em 2013. Por ora, por ausência de outros
parâmetros, compreendo razoável o índice informado na exordial como a fixação
de limite de internos que cumprem a medida socioeducativa de internação na
UNINORTE de Linhares/ES.
Cumpre consignar que entre os critérios de avaliação para levar a efeito
a liminar, o magistrado competente para execução do cumprimento da medida
socioeducativa de internação na UNINORTE de Linhares/ES, deverá pautar-se
pelas disposições de regência, mormente quanto à aplicação do artigo 49, II, da
Lei 12.594/2012 que estabelece:
“Art. 49. São direitos do adolescente submetido ao cumprimento de medida socioeducativa, sem prejuízo de outros previstos em lei: (...)
II - ser incluído em programa de meio aberto quando inexistir vaga para o cumprimento de medida de privação da liberdade, exceto nos casos de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência à pessoa, quando o adolescente deverá ser internado em Unidade mais próxima de seu local de residência; (...)”
Ressalve-se, expressamente, que a situação presente guarda a
peculiaridade de reportar-se a destinatários cuja proteção tem expressa
referência no texto constitucional; a tutela protetiva, assim, deflui da eficácia
direta e imediata de previsão explícita da Constituição.
8. Dessa forma, reconsidero a decisão agravada e concedo,
liminarmente, a ordem requerida pela impetrante, nos itens 1-9, do item 13
da petição inicial, com exceção da fixação de multa, pleiteado no item 8.
9. Assim, determino:
9.1 que na Unidade de Internação Regional Norte em Linhares/ES, onde
há execução de medida socioeducativa de internação, a delimitação da taxa de
ocupação dos adolescentes internos em 119%, procedendo-se a transferência
dos adolescentes sobressalentes para outras unidades que não estejam com
capacidade de ocupação superior à taxa média de 119%;
9.2 subsidiariamente, caso a transferência não seja possível, o
magistrado deverá atender ao parâmetro fixado no art. 49, II, da Lei 12.594/2012,
até que seja atingido o mencionado percentual máximo de ocupação;
9.3 na hipótese de impossibilidade de adoção das medidas supra, que
haja conversão de medidas de internação em internações domiciliares;
9.4 alternativamente, a adoção justificada pelo magistrado das diretrizes
sucessivas constantes do pedido inicial.
10. Quanto à multa, postergo a decisão para apreciação ulterior.
11. No tocante ao pedido de ingresso de terceiros, na qualidade de amici
curiae, formulado na Petição 60258/2017 (eDoc 49), a CONECTAS DIREITOS
HUMANOS, o INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS e
INSTITUTO ALANA, fundamentam a presença dos requisitos, pela
representatividade dos requerentes e sua legitimidade material, e a relevância
da matéria discutida, “no sentido de seu impacto sócio-político, evidencia-se no
caso em tela pela garantia de direitos individuais de crianças e adolescentes à
força do poder de punir, e no uso dos mecanismos constitucionais aptos a
efetivar tais direitos”. Os três amici requereram a sustentação oral.
A figura do amicus curiae revela-se como instrumento de abertura do
Supremo Tribunal Federal à participação popular na atividade de interpretação
e aplicação da Constituição, possibilitando que, nos termos do art. 138 do Código
de Processo Civil, órgãos e entidades se somem à tarefa dialógica de definição
do conteúdo e alcance das normas constitucionais.
Essa interação dialogal entre o Supremo Tribunal Federal e os órgãos e
entidades que se apresentam como amigos da Corte tem um potencial
epistêmico de apresentar diferentes pontos de vista, interesses, aspectos e
elementos nem sempre alcançados, vistos ou ouvidos pelo Tribunal diretamente
da controvérsia entre as partes em sentido formal, possibilitando, assim,
decisões melhores e também mais legítimas do ponto de vista do Estado
Democrático de Direito.
Não é por outro motivo que esta Corte tem admitido com frequência a
intervenção de amicus curiae como partícipe relevante e que evidencia a
pluralidade que marca a sociedade brasileira:
“Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AMICUS CURIAE. PEDIDO DE HABILITAÇÃO NÃO APRECIADO ANTES DO JULGAMENTO. AUSÊNCIA DE NULIDADE NO ACÓRDÃO RECORRIDO. NATUREZA INSTRUTÓRIA DA PARTICIPAÇÃO DE AMICUS CURIAE, CUJA EVENTUAL DISPENSA NÃO ACARRETA PREJUÍZO AO POSTULANTE, NEM LHE DÁ DIREITO A RECURSO. 1. O amicus curiae é um colaborador da Justiça que, embora possa deter algum interesse no desfecho da demanda, não se vincula processualmente ao resultado do seu julgamento. É que sua participação no processo ocorre e se justifica, não como defensor de interesses próprios, mas como agente habilitado a agregar subsídios que possam contribuir para a qualificação da decisão a ser tomada pelo Tribunal. A presença de amicus curiae no processo se dá, portanto, em benefício da jurisdição, não configurando, consequentemente, um direito subjetivo processual do interessado. 2. A participação do amicus curiae em ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal possui, nos termos da disciplina legal e regimental hoje vigentes, natureza predominantemente instrutória, a ser deferida segundo juízo do Relator. A decisão que recusa pedido de habilitação de amicus curiae não compromete qualquer direito subjetivo, nem acarreta qualquer espécie de prejuízo ou de sucumbência ao requerente, circunstância por si só suficiente para justificar a jurisprudência do Tribunal, que nega legitimidade recursal ao preterido. 3. Embargos de declaração não conhecidos”. (ADI 3460-ED, rel. min. Teori Zavascki, Plenário, DJe de 11.03.2015)
Nesse quadrante, o juízo de admissão do amicus curiae não pode se
revelar restritivo, mas deve, por outro lado, seguir os critérios de acolhimento
previsto pela Lei 13.105, de 16 de março de 2015, em seu art. 138, quais sejam,
a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes.
A relevância da matéria se verifica a partir de sua amplitude, bem assim
a respectiva transcendência, e de sua nítida relação com as normas
constitucionais. A representatividade do amigo da Corte está ligada menos ao
seu âmbito espacial de atuação, e mais à notória contribuição que pode ele trazer
para o deslinde da questão. Por fim, é cediço o entendimento deste Supremo
Tribunal Federal de que somente podem figurar como amicus curiae órgãos ou
entidades, não se admitindo, até o presente momento, pessoas físicas sob essa
condição.
Nesse sentido, cito as seguintes decisões monocráticas: RE 724.347- ED
(rel. min. Roberto Barroso, DJe de 08.06.2015), RE 590.415 (rel. min. Roberto
Barroso, DJe de 24.03.2015), RE 631.053 (rel. min. Celso de Mello, DJe de
16.12.2014), RE 608.482 (rel. min. Teori Zavascki, DJe de 08.09.2014), ADI 4874
(rel. min. Rosa Weber, DJ de 03.10.2013), RE 566.349 (rel. min. Cármen Lúcia,
DJe de 06.06.2013) e ADI 4264 (rel. min. Ricardo Lewandoski, DJe de
31.08.2011).
Sendo esse o parâmetro de admissão, é preciso concluir ser possível a
admissão da CONECTAS DIREITOS HUMANOS, do INSTITUTO BRASILEIRO
DE CIÊNCIAS CRIMINAIS e do INSTITUTO ALANA, sobretudo porque o debate
levado a efeito detém pertinência com as relevantes atribuições das
organizações civis, do que deflui a potencial possibilidade de enriquecer o
debate, inclusive no que tange à experiência de seus representados com
restrição de liberdade.
Diante do exposto, com base no disposto no artigo 138 do CPC, defiro o
pedido de admissão formulado CONECTAS DIREITOS HUMANOS, o
INSTITUTO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS e INSTITUTO ALANA
como amici curiae no presente habeas corpus coletivo.
À Secretaria para as providências necessárias.
12. Oficie-se ao CNJ solicitando informações sobre a taxa média de
ocupação nas unidades de execução de medida socioeducativa de internação
dos Estados e que seja encaminhado o relatório do cadastro nacional de
adolescentes em conflito com a lei enviado pelo juízo de direito competente para
execução da UNINORTE de Linhares/ES, a partir do ano de 2015.
13. No prazo de até 30 dias informe o juiz da execução para a medida
socioeducativa, pormenorizadamente, quanto ao cumprimento desta decisão.
Oficie-se, nos termos e para os fins devidos.
Intime-se. Publique-se.
Brasília, 16 de agosto de 2018.
Ministro Edson Fachin
Relator
Documento assinado eletronicamente
1.2 STJ
1.2.1- REsp 1673215 – Rio de Janeiro – aplicação do art. 942 do CPC nos procedimentos relativos ao ECA
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ECA. APLICAÇÃO DO ART. 942 DO NCPC. POSSIBILIDADE. ART. 198 DO ECA. PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. 1. Segundo o art. 198 do ECA, nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, deve ser adotado o sistema do Código de Processo Civil, que prevê, atualmente, em caso de decisão por maioria, nova técnica de complementação de julgamento, com a tomada de outros votos em sessão subsequente ou na mesma sessão.
2.Admite-se, assim, a incidência do art. 942 do novo Código de Processo Civil para complementar o julgamento da apelação julgada por maioria nos procedimentos relativos ao estatuto do menor. Precedentes (HC 407.674/RJ, Relator Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, j. 17/10/2017, DJe 23/10/2017, HC 407.670/RJ, Relatora Ministra MARIA THREZA DE ASSIS MOURA, DJ 7/12/2017 e REsp. 1.730.901/RJ, Relator Ministro JOEL ILAN PARCIONIK, DJ 2/5/2018). 3. Agravo Regimental desprovido. (AgRg no REsp 1673215/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/05/2018, DJe 30/05/2018)
1.2.2 – HC 436.388 – São Paulo – gravidade do ato infracional
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE TRÁFICO. APLICAÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. SÚMULA N. 492 DO STJ. FLAGRANTE ILEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A medida socioeducativa de internação somente pode ser aplicada quando caracterizada uma das hipóteses previstas no art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente e caso não haja outra medida mais adequada e menos onerosa à liberdade do adolescente.
2. A gravidade concreta do ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas, por si só, não pode ensejar a imposição de internação ao paciente, com fulcro no art. 122, I, do ECA. Súmula n.492 do STJ.
3. A medida de internação foi imposta ante a gravidade do ato infracional, análogo ao tráfico de drogas, e a situação de risco social em que está o adolescente. Apesar de haver notícias de que o paciente responde a outras
representações, tal argumento não foi utilizado pelo Juízo singular para fundamentar a necessidade da internação.
4. Nesse contexto, deve ser reconhecido o constrangimento ilegal ao direito de locomoção do paciente. Ante a diversidade e a natureza das drogas apreendidas e as notícias de falta de estrutura familiar e de existência de outras representações em curso contra o adolescente, é dever do Estado protegê-lo de forma eficaz, mediante a aplicação de semiliberdade, com finalidade pedagógica e protetiva, pois outra medida em meio aberto seria insuficiente para retirá-lo da situação de risco social em que está e, por sua vez, a imposição de internação se revelaria excessiva para a sua proteção.
5. Agravo regimental não provido.
(AgInt no HC 436.388/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 02/08/2018)
1.2.3 – REsp 1575767 – Distrito Federal – Vaga em creches
PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. EDUCAÇÃO INFANTIL. MATRÍCULA EM CRECHE PÚBLICA OU PRÉ-ESCOLA PRÓXIMA À RESIDÊNCIA. CONCESSÃO DE VAGAS A CRIANÇAS DE ZERO A CINCO ANOS. GARANTIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO. PREVISÃO CONSTITUCIONAL REPRODUZIDA NO ART. 54 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DIREITO INDISPONÍVEL. DEVER DO ESTADO. AGRAVO INTERNO DO DISTRITO FEDERAL DESPROVIDO. 1. O acórdão recorrido dirimiu a controvérsia com base na análise de dispositivos constitucionais, e também no exame do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394/1996, o que afasta a alegação de que o exame teria caráter exclusivamente constitucional.
2. Inexiste a necessidade de reexame da matéria fática para dirimir a controvérsia, o que afasta a aplicação do óbice da Súmula 7/STJ. 3. Agravo Interno do DISTRITO FEDERAL desprovido. (AgInt no REsp 1575767/DF, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 02/08/2018)
1.3 TJ-PR
1.3.1 – TJ-PR – Habeas Corpus 0031545- 43.2018.8.16.0000 – Medida socioeducativa internação. Ato equiparado a Desacato (art. 331 CP).
HABEAS CORPUS – ECA Nº 0031545- 43.2018.8.16.0000, DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ – Vara de Adolescentes em Conflito com a Lei.
Impetrante: MARCELO LUCENA DINIZ (DEFENSOR PÚBLICO).
Paciente: ADOLESCENTE* (INTERNO).
Relator: Des. JOSÉ MAURÍCIO PINTO DE ALMEIDA.
HABEAS CORPUS COM PLEITO LIMINAR. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE DESACATO (ART. 331 DO CP). ALEGADA INVIABILIDADE DE EXECUÇÃO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. AUSÊNCIA DE GRAVIDADE DA PRÁTICA INFRACIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE NA VIA ESTREITA. LAPSO TEMPORAL ENTRE A DATA DOS FATOS E O CUMPRIMENTO DA MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO (TRÊS ANOS). NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA MEDIDA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. NULIDADE DO PROCEDIMENTO. MATÉRIA A SER ANALISADA NO MÉRITO. LIMINAR DEFERIDA.
I. Trata-se de Habeas Corpus ECA, com pleito liminar, impetrado por MARCELO LUCENA DINIZ (defensor público) em favor do paciente ADOLESCENTE* (interno), alegando suposto constrangimento ilegal, originado pela expedição de mandado de busca e apreensão (cumprido) para execução da medida socioeducativa de internação imposta em sentença. Sustenta, nas razões do writ, em síntese, que:
a)-foi julgada procedente a representação e aplicada ao adolescente a medida socioeducativa de internação pela prática do ato infracional análogo ao delito de desacato;
b)-não há, com o devido respeito, qualquer discussão acerca da ausência de possibilidade de reputar-se delito grave qualquer delito que esteja tipificado como infração de menor potencial ofensivo;
c)-a jurisprudência é pacífica no sentido de que a medida deve ter algum conteúdo pedagógico, pois, se desnecessária, devido ao longo lapso temporal, não deve ser aplicada;
d)-no caso, os fatos ocorreram em 2015, e, a mera decorrência do tempo sem a prática de qualquer ato infracional já demonstra que o paciente é pessoa que se regenerou;
e)-interná-lo, três anos após os fatos, servirá apenas para reinseri-lo na vida criminosa, pois terá contato com adolescentes que, quiçá, jamais irão se recuperar;
f)-o paciente vive com sua companheira, há três anos, que, aliás, atualmente está grávida, mora com o avô, trabalha na CL Marmoraria, em Arapongas;
g)-não bastasse, o processo é nulo, em razão da deficiência técnica no procedimento infracional. Por fim, pugna pela concessão da liminar para que seja o paciente colocado em liberdade, mediante expedição de alvará de desinternamento e, ao fim, lhe seja concedida a ordem em definitivo, com a extinção da medida socioeducativa de internação em razão da perda do caráter pedagógico, ou, a aplicação de medida em meio aberto.
II. BUSCA-SE COM A IMPETRAÇÃO DO PRESENTE REMÉDIO CONSTITUCIONAL, DE PLANO, O DESINTERNAMENTO DO PACIENTE.
O pleito liminar merece deferimento, vez que, em sede de cognição sumária, observa-se ilegalidade apta a ensejar a suspensão da execução da medida socioeducativa de internação sob nº 0005356-24.2017.8.16.0045.
Retira-se dos autos que foi julgada procedente a representação em desfavor do paciente, sendo-lhe aplicada a medida socioeducativa de internação, pela prática do ato infracional análogo ao delito de desacato.
Primeiramente, a defesa sustenta a ilegalidade da decisão, alegando que não se pode aplicar a medida extrema, em razão de a conduta do adolescente não se tratar de prática infracional de natureza grave.
Sabe-se que o presente remédio constitucional possui rito célere e, havendo recurso próprio, não pode ser conhecido, devendo ser analisado o pleito em momento processual oportuno.
Contudo, da inicial também se extrai que o argumento de constrangimento ilegal se refere ao lapso temporal transcorrido entre a data dos fatos e a internação do adolescente.
Em razão disso, necessário o exame.
Dos autos se extrai que os fatos ocorreram em 22 de setembro de 2015, a representação recebida em 09 de maio de 2016, a sentença em 14 de março de 2017, e a internação do adolescente em data de hoje (06.08.2018).
Verifica-se que, se somarmos os lapsos decorridos desde a prática do ato infracional até a efetivação da prestação jurisdicional (cumprimento da determinação de internação - 03.08.2018), veremos que decorreu até o momento prazo de quase 03 (três) anos.
Ressalve-se que a finalidade principal da medida imposta, seja a de internação ou outra em meio aberto, de acordo com a doutrina de proteção integral do Estatuto da Criança e do Adolescente, é propiciar ao jovem infrator uma
oportunidade de desenvolver um projeto de vida responsável e deixar o caminho infracional para trás.
É notório que o adolescente que comete um ato infracional necessita da intervenção do Estado, com absoluta prioridade, para poder, imediatamente, alcançar a almejada ressocialização.
Evidente que o Estado, por meio de seus órgãos, é que deram causa à morosidade processual, pois verifica-se que, se tivessem sido respeitados todos os atos procedimentais referentes à prioridade na tramitação, não se haveria incorrido nesta situação.
Neste momento, a internação, sem dúvida, desvirtua a finalidade da aplicação da medida socioeducativa, restando inócua a ressocialização que outrora se pretendia.
Destaca-se que é notável o longo decurso de tempo sem que se desse a prestação jurisdicional efetiva. Deve-se considerar que a fase da adolescência é caracterizada por intensas alterações físicas, psíquicas e sociais, é a etapa do desenvolvimento humano relacionada à instabilidade própria da busca da identidade.
Por certo que a celeridade na prestação jurisdicional é almejada por todos que exercitam suas funções no meio jurídico, e cediço é que nem sempre essa celeridade pode ser atingida, isso por diversas razões, contudo em se tratando de processos afetos aos interesses da criança e do adolescente, a prestação jurisdicional DEVE sempre merecer atenção especial, buscando-se por todos os meios a ultimação célere do processo, sob pena de esta demora não surtir o desejado efeito almejado.
Sendo assim, a priori, se verifica constrangimento ilegal na internação do adolescente.
As demais teses aventadas na inicial serão analisadas no mérito do presente remédio constitucional.
III. Desse modo, DEFIRO a liminar pleiteada, para suspender a execução de medida socioeducativa nº 0005356-24.2017.8.16.0045.
Comunique-se e solicitem-se ao magistrado informações pormenorizadas, a serem prestadas em 05 (cinco) dias.
Ressalte-se que a presente decisão valerá como ofício.
Com as informações aos autos, e nada obstando, abra-se vista à douta Procuradoria-Geral de Justiça. Intimem-se.
Curitiba, 03 de agosto de 2018.
José Maurício Pinto de Almeida Relator
1.3.2 – TJ-PR – HC 0030318-18.2018.8.16.0000 – INTERNAÇÃO PROVISÓRIA COM BASE NA REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE OUTRAS INFRAÇÕES GRAVES
HABEAS CORPUS - ECA Nº 0030318- 18.2018.8.16.0000
DA VARA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A
LEI DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA
IMPETRANTE: MARTINA REINIGER OLIVERO
(DEFENSORA PÚBLICA)
PACIENTE: J. P. DE L. (INTERNO)
AUTORIDADE COATORA: JUÍZO DA VARA DE
ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA
RELATOR: CARGO VAGO (DES. ROBERTO DE
VICENTE)
RELATOR SUBST.: JUIZ SUBST. 2º GRAU MAURO
BLEY PEREIRA JUNIOR
HABEAS CORPUS ECA. APURAÇÃO DE ATO
INFRACIONAL ANÁLOGO AO CRIME DE FURTO (ART.
155 DO CÓDIGO PENAL). INTERNAÇÃO PROVISÓRIA
COM BASE NA REITERAÇÃO NO COMETIMENTO DE
OUTRAS INFRAÇÕES GRAVES (ART. 122, INCISO II DO
ECA). FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. PROCESSO
ANTERIOR QUE CONCEDEU REMISSÃO
INSUFICIENTE PARA JUSTIFICAR A APLICAÇÃO DA
MEDIDA. ROL TAXATIVO DO ART. 122 DO ECA.
PRECEDENTES DO E. STJ. NECESSIDADE DE
DESINTERNAMENTO. CONHECE E CONCEDE A
ORDEM.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus ECA nº
0030318-18.2018.8.16.0000 do JUÍZO DA VARA DE ADOLESCENTES EM
CONFLITO COM A LEI DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA, em que é Impetrante MARTINA REINIGER
OLIVERO (DEFENSORA PÚBLICA) e paciente J. P. DE L.
I. RELATÓRIO:
Trata-se de Habeas Corpus - ECA impetrado pela defensora pública
MARTINA REINIGER OLIVERO, em favor do adolescente J. P. DE L., em face
da decisão proferida pelo MM. JUÍZO DA VARA DE ADOLESCENTES EM
CONFLITO COM A LEI DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO
METROPOLITANA DE CURITIBA que decretou a internação provisória do
paciente.
Inconformada com a decisão, a impetrante argumenta ser caso de
nulidade, pois o Magistrado teria agido de ofício, quando o Ministério Público
manifestou que não pretende apresentar representação, e sim remissão
cumulada com medida socioeducativa. Diz, ainda, não ser possível a internação
provisória enquanto não há processo. Alega, ademais, que o ato infracional
análogo ao crime de furto não autoriza a imposição da medida provisória (art.
122 do ECA), mormente por ser o adolescente primário. Pede, então, a
concessão de ordem liberatória (mov. 1.1).
Deferida a liminar (mov. 5.1), foram colhidas informações (mov. 9.1).
Abriu-se vista dos autos à douta Procuradoria Geral de Justiça, a qual se
manifestou pela não concessão da ordem – mov. 12.1.
É, em apertada síntese, o relatório.
II. VOTO E FUNDAMENTAÇÃO:
Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, voto pelo
conhecimento da presente ordem.
Na ocasião, o paciente está sendo investigado pela prática de ato
infracional análogo ao crime de furto.
O magistrado de origem determinou a internação provisória do paciente
pela suposta prática do ato infracional análogo ao crime de furto, nos seguintes
termos:
“Em relação a este adolescente já existem, neste Juízo, outros autos, sob n. 212- 64.2018.8.16.0003: teria cometido, no dia 27/01/2018, ato infracional equivalente a tráfico ilícito de droga. Recebeu remissão Ministerial nos referidos autos, c.c. medida socioeducativa de liberdade assistida e medida de proteção de matrícula e frequência escolar. Existem fortes indícios de que as referidas medidas teriam sido improfícuas, pois o adolescente está apreendido novamente. Consta que o adolescente estaria em verdadeira situação de risco. Está visivelmente machucado, em virtude de agressões físicas que teria sofrido logo após o cometimento, ao menos em tese, do ato infracional. Está afastado dos bancos escolares, completamente ocioso e envolvido com drogas ilícitas, em situação análoga à de rua” (mov. 14.1 – Autos n° 0002079-92.2018.8.16.0003).
Denota-se do art. 122 do ECA que a medida de internação somente
poderá ser decretada caso o ato infracional tenha sido cometido mediante grave
ameaça ou violência à pessoa, por reiteração no cometimento de outras
infrações graves, bem como pelo descumprimento reiterado e injustificável da
medida anteriormente imposta.
A despeito da taxatividade das hipóteses previstas no referido dispositivo,
aliás, o e. Superior Tribunal de Justiça já decidiu:
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. REITERAÇÃO NÃO CONFIGURADA. GRAVIDADE ABSTRATA DA CONDUTA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) II - De acordo com a legislação de regência, a medida socioeducativa de internação impõe-se nas hipóteses taxativamente arroladas no art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, in verbis: "Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando: I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. § 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três meses. § 2º Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada".Salienta-se que o elenco das condições é taxativo, não se permitindo a possibilidade de aplicação fora das hipóteses apresentadas (v. g., HC n. 291.176/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 21/8/2014). (...) (HC 424.233/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 06/03/2018, DJe 13/03/2018)
In casu, verifica-se que o ato infracional não foi cometido mediante grave
ameaça, nem com violência. O MM. Juízo a quo, por outro lado, entendeu cabível
a internação cautelar com base em remissão que havia sido concedida
anteriormente ao paciente.
Tal fundamentação, contudo, mostra-se inidônea, pois a remissão não
tem o condão de ser considerada como antecedente.
Sobre o tema, inclusive, a e. Corte Superior já se posicionou no mesmo
sentido:
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. HABEAS CORPUS IMPETRADO EM SUBSTITUIÇÃO A RECURSO PRÓPRIO. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO DELITO DE TRÁFICO DE DROGAS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO.
REITERAÇÃO NÃO CONFIGURADA. GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. (...) 3. De acordo com o art. 126 da Lei n. 8.069/1990, antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo. Com o art. 127, a remissão "não prevalece para efeito de antecedentes", podendo incluir eventualmente a aplicação de quaisquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a internação. Consequentemente, os atos em relação aos quais houve remissão não caracterizam "reiteração no cometimento de outras infrações graves" (ECA, art. 122, II). (...) (HC 432.465/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 22/03/2018, DJe 02/04/2018) ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA. HABEAS CORPUS. INTERNAÇÃO PROVISÓRIA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO AO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS. FUNDAMENTAÇÃO GENÉRICA. OFENSA À SÚMULA 492/STJ. ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO. 1. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, embora seja socialmente reprovável, não conduz, obrigatoriamente, à medida socioeducativa de internação (Súmula n. 492 do STJ). 2. Tendo o paciente obtido remissão em um processo e não lhe sendo ainda imposta medida socioeducativa no processo remanescente, não é proporcional a incidência da medida provisória de internação. 3. Habeas corpus concedido, para revogar a internação provisória do paciente L C M DA S. (HC 424.976/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 11/05/2018)
Diante do exposto, é de se confirmar a liminar paraconceder o
desinternamento do adolescente.
III. CONCLUSÃO:
Em face do exposto, por entender que o paciente não está sofrendo
qualquer coação ilegal, voto no sentido de CONCEDER A ORDEM
IMPETRADA, confirmando a liminar, nos termos da fundamentação.
IV. DISPOSITIVO:
ACORDAM os Juízes e Desembargadores integrantes da Segunda
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná, por UNANIMIDADE de votos,
em CONHECER e CONCEDER a ordem impetrada, confirmando a liminar, nos
termos do voto do Relator.
Participaram do julgamento os Excelentíssimos Desembargador José
Carlos Dalacqua (revisor) e Desembargador Laertes Ferreira Gomes (vogal).
Curitiba, 09 de agosto de 2018
Mauro Bley Pereira Junior
Relator Substituto
1.3.3 – TJ-PR – HC nº 0032855-84.2018.8.16.0000 – HC COLETIVO
HABEAS CORPUS – ECA Nº 0032855-84.2018.8.16.0000, DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA –
VARA DE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
IMPETRANTE: MARCELO LUCENA DINIZ (DEFENSOR PÚBLICO)
PACIENTES: H. H. DA S. DE M.; J.M.; L.E.V. DA S.; R. DOS S. N.; A. DOS S.
B.; W. R. F. A. M.; F. G. A. DE L.; G. A. P.; I. L. DOS S.; P. R. C. DOS S.; I. DE
L.; K. DOS R. S.; P. H. C. DOS S.; A; DE A; V.; J. V. DA S.; L. G. DE L. S.; D. F.
M.; E. F. F.; E. N. S. J.; A. B. V.; J. DA S. DE A.; B. DE A. DOS S.; G. P. DO N.;
R. V. DA S.; J. L. DAS C.; O. S. DE S.; N. L. DE A. N.; E. R. DA S. B.; J. P. DA
S.; M. J. B.; P. H. J. DA S.; D. D. R. DE L.; L. M. M.; M. K. DA S.; A. C. G. G.; H.
C. S. B.; K. G. S. R.; E K. B. S. R.; A. S.; A. Z. DOS S.; D. P. DA S.; G. S.; J. DE
S.; L. C. DOS S.; M. DA S. B.
I – Trata-se de Habeas Corpus - ECA, com pedido de liminar, impetrado
pelo defensor público MARCELO LUCENA DINIZ em favor dos adolescentes H.
H. DA S. DE M.; J.M.; L.E.V. DA S.; R. DOS S. N.; A. DOS S. B.; W. R. F. A. M.;
F. G. A. DE L.; G. A. P.; I. L. DOS S.; P. R. C. DOS S.; I. DE L.; K. DOS R. S.; P.
H. C. DOS S.; A; DE A; V.; J. V. DA S.; L. G. DE L. S.; D. F. M.; E. F. F.; E. N. S.
J.; A. B. V.; J. DA S. DE A.; B. DE A. DOS S.; G. P. DO N.; R. V. DA S.; J. L. DAS
C.; O. S. DE S.; N. L. DE A. N.; E. R. DA S. B.; J. P. DA S.; M. J. B.; P. H. J. DA
S.; D. D. R. DE L.; L. M. M.; M. K. DA S.; A. C. G. G.; H. C. S. B.; K. G. S. R.; E
K. B. S. R.; A. S.; A. Z. DOS S.; D. P. DA S.; G. S.; J. DE S.; L. C. DOS S.; M.
DA S. B., em razão de suposto constrangimento ilegal perpetrado pelo MM. Juiz
de Direito da Vara de Adolescentes em Conflito com a Lei do Foro Central da
Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, que apesar da aplicação aos
adolescentes de medida de internação, até o presente momento não foi realizada
a transferência dos adolescentes para o estabelecimento adequado.
Sustenta em síntese, que os adolescentes enquanto aguardam vaga para
a sua transferência para a unidade adequada de internação, permanecem na
unidade de internação provisória sem o atendimento integral de seus direitos
previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, notadamente os referentes
à profissionalização e a escolarização; alguns adolescentes mesmo já
sentenciados ainda se encontram em estabelecimento de cumprimento de
internação provisória, e ainda alguns que se encontram nas dependências do
Centro de Socioeducação de Curitiba – CENSE JOANA RICHA, e que já
poderiam ter tido suas medidas socioeducativas substituídas no curso da
execução. Aventa que até o presente momento não foram realizadas as
transferências para um estabelecimento adequado, ou seja, para uma unidade
de internação definitiva; há desvio de execução; que os adolescentes estão
sofrendo constrangimento ilegal, vez que o local não é apropriado para
adolescentes que já receberam sentença, nem tampouco o CENSE JOANA
RICHA não é adequado para aqueles adolescentes que já poderiam ter suas
medidas substituídas no curso da execução. Aduziu que alguns adolescentes
são primários e os atos infracionais não são de gravidade acentuada, outros que
praticaram atos infracionais com grave ameaça mas encontram-se ainda em
estabelecimento inadequado. Ressaltou que devido a superlotação das
Unidades, os adolescentes estão em situação precária, o que causa uma
situação de extrema periculosidade e de violação à dignidade da pessoa
humana. Pugnam assim pela concessão da ordem em decisão liminar, a fim de
ser determinada a imediata transferência dos adolescentes para unidade as
unidades adequadas ou, na ausência de vagas, seja imposto aos pacientes o
cumprimento da medida socioeducativa em meio aberto (seq. 1.1).
II – Na hipótese dos autos, em consulta ao sistema PROJUDI, constata-
se que, em já foram expedidas as GUIAs DE EXECUÇÃO PROVISÓRIA DAS
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS APLICADAS, referentes aos Autos Infracionais
praticados pelos adolescentes, a qual, contudo ainda não foi cumprida devido à
ausência de vaga, por ora, para a transferência dos adolescentes.
Deste modo, em que pese até o presente momento estarem os
adolescentes aguardando vaga em local adequado ao cumprimento da medida
aplicada, a despeito de já expedida a carta de guia provisória, o fato é que a
Corte Superior recentemente pacificou no RE 641.320/RS que o “déficit” de
vagas no sistema carcerário, antes de redundar em prisão domiciliar ou medida
em meio aberto provisória, deve ser resolvido mediante os seguintes passos, a
contar: 1) a saída antecipada de outro sentenciado no regime com falta de vagas;
2) a liberdade eletronicamente monitorada deste outro sentenciado que saiu
antecipadamente; e somente em último caso, e em caso dos primeiros passos
não serem possível de serem cumpridos, estando isso amplamente motivado em
elementos concretos, é que se implementará o cumprimento de penas restritivas
de direito e/ou estudo ao outro sentenciado que progrida ao regime aberto; tudo
para a finalidade de que o suplemento da vaga seja realizado o mais breve
possível, evitando-se assim o cumprimento do regime em meio mais gravoso
(STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016
(repercussão geral) - Info 825).
Portanto, no presente caso, por ora, deve ser aguardado a análise
meritória do Writ para a eventual determinação de observância analógica à
Súmula vinculante nº 56 da Suprema Corte, o que não pode ser feito por meio
liminar.
Reporte-se, portanto, que a questão da implementação ou não dos adolescentes
no regime adequado deve ser melhor analisada no julgamento meritório deste
Writ, após as informações oficiosas da autoridade coatora, e após a
manifestação da douta Procuradoria Geral de Justiça.
Dentro desse contexto, tendo em vista que no caso em tela já foi expedido
as cartas de guia provisórias, tem-se que no caso, pelo menos em uma análise
ainda preliminar dos autos, e em cognição sumária, se mostra admissível o
indeferimento da liminar, pelo menos até o julgamento de mérito deste writ, no
qual poderá ser melhor analisado as argumentações levantadas pelo impetrante.
Diante do exposto, considerando que em sede de cognição sumária não restou
configurado, de plano, o alegado constrangimento ilegal, indefiro a liminar
pleiteada.
III – Requisitem-se informações à Autoridade apontada como coatora,
ressaltando a necessidade de envidar esforços para que sejam cumpridas as
transferências em comento.
IV – Após, encaminhem-se os autos à douta Procuradoria Geral de
Justiça.
V – Autorizo a chefia da Câmara a assinar os expedientes necessários.
VI – Intime-se.
Curitiba, 14 de agosto de 2018.
DES. LAERTES FERREIRA GOMES Relator
2. Notícias
2.1 ABRAMINJ – Assédio em transporte escolar
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2352
Publicado: 10/07/2018
Acesso: 13/07/2018
2.2 ABRAMINJ – STF: Criança deve ter seis anos completos para
ingresso no ensino fundamental
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2370
Publicado:02/08/2018
Acesso: 06/08/2018
2.3 ABRAMINJ – A implantação da Lei nº 13.321/2017 – Avanços e
dificuldades
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2375
Publicado: 10/08/2018
Acesso: 10/08/2018
2.4 ABRAMINJ – Adoção: Paraná formaliza 1º pedido feito por meio
de aplicativo móvel
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2379
Publicado: 14/08/2018
Acesso: 14/08/2018
2.5 ABRAMINJ – Sentença de adoção só pode ser anulada por meio
de ação rescisória
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2389
Publicado: 22/08/2018
Acesso: 22/08/2018
2.6 ABRAMINJ – Corregedoria Nacional de Justiça lança novo
sistema integrado de adoção e acolhimento de crianças e
adolescentes
http://www.abraminj.org.br/noticia.php?id=2387
Publicado: 20/08/2018
Acesso: 22/08/2018
2.7 CONJUR – Mãe que deixava drogas dentro de casa não pode
ficar em prisão domiciliar, diz Laurita
https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/mae-deixava-drogas-dentro-
casa-nao-ficar-domiciliar
Publicado: 12/07/2018
Acesso 13/07/2018
2.8 STJ – Mãe acusada de traficar drogas na própria casa tem pedido
de prisão domiciliar indeferido
http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C
3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/M%C3%A3e-acusada-de-traficar-
drogas-na-pr%C3%B3pria-casa-tem-pedido-de-pris%C3%A3o-
domiciliar-indeferido
Publicado: 12/07/2018
Acesso: 13/07/2018
3 – Orientações, artigos e afins
3.1 Orientações técnicas para elaboração do Plano Individual de
Atendimento (PIA) de crianças e adolescentes em serviços de
acolhimento
http://www.mds.gov.br/webarquivos/arquivo/assistencia_social/unid
ades_acolhimento/Orientacoes%20Tecnicas%20para%20elaboraca
o%20do%20PIA_IMPRESSAO.PDF
3.2 STF – Boletim de Jurisprudência Internacional – Educação
Domiciliar
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/jurisprudenciaBoletim/anexo/home
schoolingatualizado.pdf
3.3 Revista Brasileira de Direito Civil em Perspectiva - ALIENAÇÃO
PARENTAL ESTATAL
file:///C:/Users/est.fernanda.b/Downloads/4089-13151-1-PB.pdf
3.4 VI Relatório: Um Brasil para as Crianças e os Adolescentes -
Avaliação da Gestão 2015-2018
https://issuu.com/fundacaoabrinq/docs/avaliacao_da_gestao_vi_rela
torio