boletim icom portugal série iii n_º 3 maio 2015

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BOLETIM ICOM Portugal Série III n.º 3 Maio 2015

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Publicação que reúne artigos sobre museus e sustentabilidade.

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BOLETIM ICOM Portugal Srie III n. 3 Maio 2015

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 2 Viver em equilbrio com a natureza, utilizar os recursos de forma equilibrada, reduzir o impacto no ambiente, desenvolver prticas sustentveis. No seio do ICOM esta discusso no nova, mas este ano o tema do Dia Internacional dos Museus Museus Para uma Sociedade Sustentvel vem relembrar a actualidade da temtica e as responsabilidades dos museus nesta matria. O que podem os museus fazer para responder a este repto? Neste boletim procuramos partilhar informaes, ideias e alguns recursos sobre o tema. O caso Serralves, texto Em Foco, ilustrativo das possibilidades de interveno dos museus no mbito do tema em destaque neste boletim. A instituio assumiu nos ltimos anos o compromisso de colocar em prtica iniciativas mais sustentveis do ponto de vista ambiental. Isso foi feito atravs de medidas internas para a reduo do impacto da Fundao no ambiente, mas tambm na sensibilizao junto dos pblicos para os valores ambientais e para a preservao da biodiversidade. O mrito do trabalho desenvolvido foi distinguido em 2014 na 9. edio do prmio EDP Energia Elctrica e Ambiente, que premeia entidades que melhoram a sua performance em termos de eficincia energtica e promovem a qualidade ambiental. A dupla brasileira, Mrio Chagas e Cludia Storino, e o portugus Rui Silvestre oferecem duas Perspectivas complementares sobre os desafios da sustentabilidade. Na entrevista a Lus Raposo, a dimenso econmica da sustentabilidade sublinhada, sendo apontados alguns dos problemas actuais dos museus e possveis caminhos de futuro. Na seco In Memoriam prestamos homenagem a profissionais que nos deixaram: Lus Casanovas, Jorge Estrela, Madalena Cabral e o mexicano Carlos Flores Marini. Nas Notcias ICOM incluem-se os comentrios de vrios colegas sobre a sua participao em conferncias e encontros, e, em Breves, uma seleco de notcias. Conhea os destaques que seleccionmos no que diz respeito a publicaes e eventos em agenda nos prximos meses. Em 2015 celebra-se o Ano Europeu do Patrimnio Industrial, razo pela qual dedicamos o prximo nmero ao patrimnio industrial. Colabore! Ana Carvalho EDITORIAL NDICE MENSAGEM DO PRESIDENTE 3 EM FOCO 5 MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTVEL: O CASO DE SERRALVES5 PERSPECTIVAS 8 MUSEUS PARA UMA SOCIEDADE SUSTENTVEL: QUE FUTURO? 8 ENTREVISTA COM LUS RAPOSO12 IN MEMORIAM19 NOTCIAS ICOM25 BREVES35 PUBLICAES37 SUGESTES DE LEITURA 37 NOVAS EDIES 39 AGENDA44 CONFERNCIAS, ENCONTROS, DEBATES 44 FORMAO 46 CHAMADA PARA PROPOSTAS 47

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 3 MENSAGEM DO PRESIDENTE NomsdeMaioosmuseusdetodoomundopreparam-separa comemoraroDiaInternacionaldosMuseusa18deMaiode 2015.Otemadesteano:MuseusParaumaSociedade Sustentveledestacaopapelqueosmuseuspodem desenvolver para sensibilizar o pblico sobre a necessidade de uma sociedade menos perdulria, mais solidria e que utiliza os recursoscommaisrespeitopelosecossistemas.Estadatao momentodeensaioparanovasactividades,parceriasecolaboraescomoutras instituies,sendoumperodoemqueasequipasdosmuseusmostramasuagrande capacidade de trabalho e originalidade. Segundo o presidente do ICOM, Hans-Martin Hinz: Os museus, enquanto educadores e mediadoresculturais,adoptamcadavezmaisumpapelvitalemcontribuirparaa definioeimplementaodedesenvolvimentoeprticassustentveis.Osmuseus devemsercapazesdeassegurarasuafunodesalvaguardadopatrimniocultural, pois possvel que aumente a precariedade dos ecossistemas, a instabilidade poltica e osdesafiosassociadosatudoisto,sejamnaturaisouprovocadaspelohomem.[] Temosdefazertudo oqueest ao nossoalcanceparagarantir queosmuseusfaam parte do principal motor cultural de desenvolvimento sustentvel no mundo. Em1977,oICOMinstituiuoDiaInternacionaldosMuseusparasensibilizaropblico paraopapeldosmuseusnodesenvolvimentodasociedade,e,desdeento,a popularidadedoeventocontinuaacrescer.Em2014,oDiaInternacionaldosMuseus alcanou uma participao recorde: mais de 35 mil museus em 145 pases. EmMarorealizmosasXIIJornadasdaPrimavera,comotemaEducao,Museuse Europa.NesteencontroparticiparammembrosdoConselhodaEuropaedemuseus portugueses com experincia na educao formal e no formal, com a apresentao de diferentes experincias na rea da formao de diferentes pblicos. No mesmo ms, a 25e26,decorreuno MuseuNacionaldeArqueologiaenoPalcioNacionaldaAjuda, umseminriointernacionaldoConselhodaEuropaedoICOMPortugalcomotema: Histrias Partilhadas Para uma Europa Sem Linhas Divisrias. Reuniram-se professores, tcnicos de museus e do Conselho da Europa para debater o ensino formal (escolas) e noformal(museus),sendo apresentado emPortugaloe-bookSharedHistoriesfor a Europe Without Dividing Lines (2014), que explora o dilogo potencial entre o texto e ainternet,criandoconexesentretpicos,pessoaseinstituies.Odilogoentreo virtual e o grupo de trabalho foi transportado para um encontro que se quis de partilha, com dilogo e discusso dos temas abordados.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 4 Anvelnacionalcontinuamossemsabercomosevooperacionalizarasmudanasde tutela de museus da administrao central para as autarquias, no que diz respeito aos contratos-programa de transferncia de tcnicos, bens patrimoniais e sustentabilidade dos museus. A situao de desconhecimento e de reserva, numa altura em que alguns dos museus autrquicos atravessam tambma escassez de recursos,a inexistncia de dirigentes tcnicos e alteraes orgnicas, retirando-lhes frequentemente identidade e autonomia tcnica. Outra situao que nos preocupa, ao nvel da administrao central, a nova e rgida regulamentao do preo das visitas guiadas nos museus sob tutela da Direo-Geral do PatrimnioCultural,quefazrecuardcadasotipodepblico-alvodosservios educativos,novamentesparaescolasComoaliciaremosapopulaoactivapara pequenos programas hora de almoo ou outros, se lhes dissermos que alm do valor daentradavopagar,porexemploparaumgrupode5pessoas,mais60eurospela visita? Voltamos s escolas e aos sniores mais abonados (!) com esta nova tabela. Queincrementocidadaniapretendemosquandosereduzdos14paraos12anosa entrada gratuita em museus? Enquanto representante do ICOM enfatizo a nossa preocupao com a situao precria dosprofissionaisdemuseus,afaltaderecursoshumanosefinanceiros,asinmeras incertezasorgnicaseaconsequenteinstabilidadeesentimentodeinsegurananos profissionais da rea. Anvelinternacional,oICOMPortugaldeuoseucontributoparaumanova recomendaoparaosmuseusquepoderviraseradoptadaaindaem2015.Na actualidade,oICOM,emestreitacolaboraocomaUNESCO,preparauma recomendaocomoobjectivodeprotegerepromoverosmuseus,assimcomo valorizar a sua diversidade e o papel que desempenham na sociedade. A recomendao partedoprincpiodequetodososmuseuspartilhamumasriedemissesentreas quais se encontram a difuso da cultura e a educao. Alm disso, actuam a favor da justia,daliberdadeedapaz.Acimadetudo,osmuseuscontribuemparalanaras basesdeumasolidariedademoraleintelectualentreaspessoasegarantirqueo acesso educao seja igual para todos. De 1 a 3 de Junho o ICOM Portugal participar na assembleia-geral ordinria anual do ICOMemParis.Entreosvriosassuntosadebatercomtodosospasesrepresentados serotratadasquestescomoaescolhadascidadesCincinattiouQuioto,ambas candidatasparacelebrara25.confernciageraldoICOMem2019.Aconferncia geralcelebradaacadatrsanosereneacomunidademuseolgicamundialpara tratar o tema escolhido pelos profissionais dos museus. Jos Alberto Ribeiro

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 5 EM FOCO Museus Para uma Sociedade Sustentvel: O Caso de Serralves Marta Morais, Fundao Serralves FundaodeSerralvesumainstituioculturalderelevncianacionale internacional, focada na prossecuo da sua misso: estimular o interesse e oconhecimentodepblicosdediferentesorigenseidadespelaarte contempornea,pelaarquitectura,pelapaisagemeportemascrticosparaa sociedadeeseufuturo,fazendo-odeformaintegradacombasenumconjunto patrimonialdeexcepo,noqualsedestacamoMuseudeArteContemporneaeo Parque. Desdeasuaaberturaaopblicoem1989,aFundaofoivisitadapormaisde6,5 milhesdepessoas,tendooMuseudeArteContempornearecebido,desdeasua inauguraoem1999,maisde5milhesdevisitantes.Conscientedasuapresenae influnciajuntodascomunidadesanvellocal,regionaleinternacional,aFundao pretendeconstituir-secomoexemploparaasociedadeemgeral.Adoptandouma atitude proactiva na abordagem das questes ambientais, a Fundao decidiu realizar, em2009,umdiagnsticoambiental,comoobjectivoderecolheresistematizara informao acerca da sua gesto e desempenho ambiental. No seguimento desta avaliao, e com o propsito de um maior compromisso a nvel de melhoriacontnua,a23deMaiode2011aFundaoassinouumprotocolode cooperao com a Agncia Portuguesa do Ambiente para a implementao faseada do SistemaComunitriodeEcogestoeAuditoria(EMAS).Estasfasesincluramum levantamentoambiental,queteveemcontatodososaspectosambientaisdas actividades e servios da Fundao, assim como os mtodos para avaliar esses aspectos, osrequisitoslegaisaplicveis,easprticaseprocedimentosdegestoambiental existentes;odesenvolvimentoeimplementaodeumSistemadeGestoAmbiental (SGA);arealizaodeumaauditoriainternaeaelaboraodeumaDeclarao Ambiental.Nofinal,todooprocessofoivalidadoporumverificadorambiental acreditado. Em2013obteve-seoregistoEMAS,assimcomoacertificaopelanormaNPENISO 14001,aplicveissactividadesrealizadasnaFundao:exposieseactividadesde artesperformativas;constituiodacolecodeobrasdearte;bibliotecaearquivo; educaoartsticaeambiental;conservaodoParque;realizaodeconferncias, A

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 6 seminrios, palestras, cursos e workshops; indstrias criativas e actividades comerciais associadas. ComaimplementaodoSGAsurgeapreocupaodeminimizarosimpactes ambientais provocados pelas actividades da Fundao, prevenir a poluio e contribuir activamenteparaodesenvolvimentosustentvel,garantindooenvolvimentodos colaboradores,assimcomodetodasaspartesinteressadas.OSGAsurgiucomouma ferramentaquepermiteapoiaragestoaoperarsobreprocessosdefinidosecom elevados padres de sustentabilidade e transparncia. DesdeoinciodoprocessodeimplementaodoSGAqueaFundaotemvindoa adoptarmedidasparaamelhoriadoseudesempenhoambiental,sobretudoaonvel dos consumos de energia e gua, e de produo de resduos. Para diminuir o consumo deenergia,foramtomadasacescomoareduodapotnciadaslmpadas,assim como do tempo de iluminao exterior e das zonas tcnicas da Fundao;houve uma implementao de sensores de movimento para acender/apagar luzes; procedeu-se ao encerramento de todas as reas administrativas a partir das 20h00; e foi realizada uma melhoriadascondutasdeaquecimento,ventilaoearcondicionado(AVAC).No campo do consumo de gua, foram instalados caudalmetros nos poos, o que permitiu amonitorizaodoconsumoeprocedeu-sediminuiodocaudaldeguanas torneiras dos edifcios;houve ainda a sensibilizao de todos os colaboradores para o casodedetecodefugasdegua.Aonveldaprevenodapoluioegestode resduosfeitaamonitorizaodaquantidadederesduosgerados;foramcolocados contentores para separao de resduos; procedeu-se identificao de todos os locais onde se utilizam produtos qumicos e foi feita a instalao de bacias de reteno para os mesmos. EstassoalgumasdasmedidasadoptadaspelaFundaoquesoutilizadasem conjunto, incluindo a aposta na sensibilizao de todos os colaboradores em relao s questesambientais,assimcomonaprocuradasuaparticipaodeformaactivae transparentenamelhoriadodesempenhoambientalenaprevenodapoluio.Um exemplo disso o projecto Ideias Verdes, que consiste em dicas sobre boas prticas ambientaisenviadasporcorreioelectrnicoatodososcolaboradoreseentidades externas que desenvolvem a sua actividade em Serralves. Aimplementaodestasmedidasedagestoderecursostemumarepercussona avaliao do desempenho ambiental da Fundao.Ao nvel da energia,este empenho traduziu-senumareduodoconsumode20,9%de2011para2013.Noconsumode gua, a evoluo entre 2011 e 2013 foi positiva ao reduzir-se em 13,3% o consumo de gua proveniente das guas do Porto. Tambm ao nvel dos combustveis, a Fundao temprocuradodiminuirosgastos.Estapreocupaotraduziu-senumadiminuiodo consumo de gasleo em 10,0% relativamente a 2011.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 7 Alm das medidas implementadas e da preocupao com os consumos, a Fundao de Serralvesresponsvelporumconjuntodeiniciativaseactividadesqueprocuram sensibilizaropblico,taiscomovisitasguiadasaoParque,oficinasdeeducao ambientalouactividadesparafamlias,queoferecemumconjuntodeactividades centradasnaaprendizagemdecontedosdecincias,atravsdaexperinciae observao, ao mesmo tempo que estimulam a curiosidade. Anualmente so realizadas as Conversas sobre Ambiente, um projecto com a Liga para a Proteco da Natureza, em que so discutidas diversas questes ambientais actuais, estando sempre associadas a um fio condutor definido para cada ciclo. ainda frequente a realizao de cursos, workshopseconfernciascomtemticasligadasaoambientecomo,porexemplo,o cursodeplaneamentoempermacultura,aconfernciaRIO+20:EconomiaVerdee DesenvolvimentoSustentvelem2012eaconfernciainternacionalEducarparao Patrimnio Comum Do Intangvel Cultural ao Intangvel Natural em 2013. J este ano teve lugar a conferncia EMAS e a Cultura do Ambiente. SerralvestambmreconhecidapelosseusgrandeseventoscomooSerralvesem Festa ou a Festa do Outono, eventos que atraem muitos visitantes e promovem um maior contacto com a biodiversidade. Nestas iniciativas os visitantes so alertados para a necessidade de uma correcta separao de resduos, atravs de sinaltica no local e denewsletters,e feitaumadistribuio desacospara aseparaoderesduosnas bancasderestauraopresentes.Complementarmente,foiaindacriadaumaBrigada deAmbiente,atravsdaqualseprocurasensibilizarosvisitantesparaanecessidade de preservao do Parque e para a sua biodiversidade. A gesto ambiental um processo contnuo e exigente, mas sinnimode credibilidade e transparncia, traduzindo-se no s num melhor desempenho ambiental e financeiro, mastambmnumamelhorgestoderiscosedeoportunidadesenumamaior motivaoeenvolvimentodoscolaboradoresedemaispartesinteressadas.Estes factoreslevamaFundaodeSerralvesacontinuarestepercursoeaprocurarfazer cada vez mais e melhor.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 8 PERSPECTIVAS Museus Para uma Sociedade Sustentvel: Que Futuro? Mrio Chagas, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Brasil Cludia Storino, directora do Centro Cultural Stio Roberto Burle Marx, Brasil uranteaConfernciaGeraldoICOMInternacional,realizadanaArgentina, em1986,tendocomotemaMuseologiaeIdentidade,omuselogocroata TomislavSolalevantouasseguintesquestes:Podemostolerarqueumas dezmilespciesestejamdesaparecendoirreversivelmenteacadaanodonosso planeta?Podemosaceitarqueanaturezaestejasendoempurradaparaasreservas? Devemostolerarqueabioengenhariainterfiranaordemnatural,sequeelaainda existe?Devemasnossaspreocupaesprofissionaiseticasterminarnumaorgulhosa possedoltimoespcimedasespcies?Osmuseusestoaquiparadocumentar passivamenteessesrumosdesastrososouparafazeralgoquantoaeles?(Solaapud Chagas 1996, 97101).1 EstasgravesquestesforamrevisitadasduranteosimpsioMuseus,Biodiversidadee SustentabilidadeAmbiental,realizadoem2010,pelaFundaoOsvaldoCruzem parceriacomoInstitutoBrasileirodeMuseus,noMuseuHistricoNacional,cujo resultado foi publicado em 2014. Quando em 2015, o ICOM convida os museus e os seus profissionais, os pesquisadores, professoreseestudantesdemuseuseMuseologiaasedebruaremsobreotema MuseusParaumaSociedadeSustentvel,estclaroqueestamosvoltandoaum assunto antigo, que continua urgente, candente e mal resolvido no mbito dos museus. Aprticadareciclagemedo artesanato desenvolvido apartirdoexcessodegarrafas de plstico lanadas no mercado, por exemplo, ainda que abraada por alguns museus comoumanovidadecontributiva,comoumbenefcioparaomeioambiente,no produzsoluoecontribuioalgumaenotemnenhumapotnciacrticae transformadora.Valorizareincentivarareciclagemartesanaldegarrafasdeplstico utilizadascomoembalagensderefrigerantes,guamineraleoutrosprodutos,sem fazer uma crtica contundente ao sistema produtor de garrafas de plstico derivado do 1 Chagas, Mrio. 1996. Muselia. Rio de Janeiro: JC Editora. D

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 9 petrleo2, pura ingenuidade e beira a hipocrisia. sabido que esse material, seja na condio de garrafa, seja na condio de uma flor de artesanato, leva em torno de 400 anos para se decompor. Alm de tudo isso, a velocidade de produo das garrafas de plstico pelas grandes empresas e indstrias muito superior velocidade de trabalho de qualquer programa artesanal. OdesafiopropostopeloICOMleva-nosaactualizarasquestesdeTomislavSola. fundamentalqueosmuseusmudemdecomportamentoequetenhamumpapelmais activoeparticipativonoqueserefereaosdesafiosemdefesadadiversidadeeda sustentabilidade ambiental. precisoconstruiroutrossentidosereferncias.Osmuseusquebrincamde sustentabilidade a partir da lgica da reciclagem artesanal da matria plstica esto, em rigor, contribuindo para a manuteno de uma sociedade insustentvel. precisoirmaislonge,precisodenunciarecriticaroestmulogeneralizadoao consumo como um dispositivo bsico de sustentao do sistema capitalista. O consumo incessante e insistente, insinuante e insidioso. Todos so estimulados a consumir: mais coisas,maispetrleo,maisenergia,maisgua,maisroupas,maisterras,mais alimentos, mais garrafas de plstico, mais bolsas, mais sapatos, mais isso e mais aquilo. Consumireconsumirsempreecadavezmaisalgicaquemovimentaomundo contemporneo, o que perverso, destrutivo, insustentvel. Seutilizarmoscomorefernciaocorpohumano,noserdifcilcompreenderqueo crescimento biolgico no eterno. O desejo de um crescimento econmico eterno e paratodoosempre,seforanalisadocomcautelaeiseno,revelarasua inconsequncia.Nopossvelemuitomenosnecessriocrescersempre,crescer doentiamente, crescer sem parar. Esse desejo uma espcie de Sndrome Invertida de Peter Pan. preciso sublinhar ainda que, assim como o crescimento do corpo fsico no correspondeaocrescimentoemocionaleintelectual,tambmumhipottico crescimento econmico no corresponde melhoria da qualidade de vida daqueles que so os principais responsveis por esse mesmo crescimento econmico. Portudoisso,emnossoentendimento,debater,enfrentarelutarcontraoconsumo excessivo,oconsumocomodoenasocialumatarefadomuseucontemporneo.O consumo inconsciente e exagerado, bem como o desperdcio, esto presentes entre os indivduoseasempresas.Enfrentaressetema(aoladodaquelespropostospor TomislavSola)fazpartedosdesafiosmuseolgicoscontemporneos.Paraisso,os museusprecisam,emprimeirolugar,assumircomopautaprioritriaaquestoda sustentabilidadeambientalnostermosemqueaquiestamosexaminando,e,em 2 NoBrasilestasembalagenssopopularmenteconhecidascomoPETougarrafasPET.Trata-sede uma referncia ao Politereftalato de etileno, um polmero termoplstico, desenvolvido por dois qumicos britnicos, Whinfield e Dickson, em 1941.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 10 seguida,lanarmodetodososseusrecursos(quenopoucos)afavordessacausa. Falamosdeexposiesdecurtaedelongadurao,deseminriosecongressos,de exposiesvirtuais,blogues,Facebook,visitasorientadas,criaodepercursos especiais no museu e no territrio, utilizao de acervos institucionais e operacionais, publicaes nas mais diferentes media, uso de aplicativos inovadores e muito mais. Ascontribuiesdeummuseuparaumasociedadesustentvelpodemsersingulares, inovadoras, preciosas e mesmo extraordinrias. Tudo vai depender do lugar social que esse museu ocupa e das energias e foras criativas que capaz de movimentar. Museus Para uma Sociedade Sustentvel: Que Futuro? Rui Silvestre, director executivo da rvore - Cooperativa de Actividades Artsticas, Porto sectordosmuseustalvezsejaumdosquetemmelhorarticulaoanvel mundial.Asestruturasqueestudam,congregamepromovemestesector tm excelentes recursos humanos e materiais disseminados pelo mundo e os profissionaisdosectortm acessofcila informao,directivas,cdigosde conduta, exemplosecasosdeestudo,paraorientarasuaaconosmaisdiversoscampos. Podemos tomar como exemplo o website do ICOM Internacional http://icom.museum/ e,especificamentenocontributoparaumasociedadesustentvel,owebsiteda AssociaodeMuseusInglesa www.museumsassociation.org/campaigns/sustainability/sustainability-report. No entanto, e sabendo das enormes dificuldades da maior parte dos museus nacionais, julgoqueaprincipalquestoquesecolocaaosmuseusnonossopas(epermito-me dizer, a muitos outros equipamentos culturais), a sua prpria sustentabilidade onde a questo financeira assume particular relevo. Masostemposatuaistmtambmmostradoquepossvel,mesmoemcontextode grandes limitaes e de grandes ameaas, construir ciclos virtuosos em que os efeitos positivos se multiplicam e assim se liga a sustentabilidade de uns de todos. Talvezarespostaaodesafiodasustentabilidadepossaserencontradanarazoda existnciadecadamuseuoudecadainstituioesejaesseocontributoparaa sustentabilidadedasociedadeoucomunidadeemqueseintegraouqualsedirige, apenas pelo cumprimento da sua misso. O

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 11 Esse contributo ser tanto maior quanto mais definido estiver o conceito estratgico do museu,maisclaraforasuamisso,maisacessvelforcomunidadeecomesta estabelecer uma relao de efectiva empatia e envolvimento. Hoje os museus so um media onde a comunidade se confronta, discute e reflecte. Um mediaentreheranaefuturo,entrerealidadeseexpectativas,ondetambmse constroem factores de integrao, identificao e de pertena.Onde se constri e se testa a comunidade. Temostidoalgunsexcelentesexemplosdecomoosbensculturaistmessepoder extraordinrio de contribuir para a identificao e reforo dos elos da comunidade. Se olharmosparaasrecentesclassificaesdePatrimnioCulturalImaterialda Humanidade (Fado e Cante Alentejano) percebemos como cada uma destas se traduziu imediatamente num espao de reforo e identificao da comunidade com esse mesmo patrimnio. Comoexemplo,emboranoutrareaenumasituaolimite,temosocasodoColiseu doPorto.H20anosaCidade/Comunidadesoubeunir-seecongregarvontadespara manter seu um patrimnio que j lhe pertencia cultural e emocionalmente. Talvez possamos assim perspectivar qual, escala de cada museu e no enquadramento especfico da sua misso, poder ser o papel de cada um na construo de identidade e patrimniosocialeculturalcomumdoqueresultaroreconhecimentopelaprpria sociedade da sua importncia. Nesse sentido o principal desafio dos museus concretizar a sua funo de media para alm do seu papel de conservao ou estudo. E isso requer um trabalho permanente de comunicao, de acesso e de construo de pontes com a comunidade. Uma atitude de abertura,deconhecimentoeentendimentodoscomportamentos,receiose expectativas dessa mesma sociedade. Temos entre ns excelentes exemplos de museus que souberam construir esse papel de relacionamentocomacomunidade.Museusquesohojefactordeidentificaoda comunidade,quesopartereconhecidadoseupatrimnio,quesovaloresde seguranaedeidentificao,equedessaformacontribuemparaasua sustentabilidadeedasociedade,tendoconstrudoumciclovirtuosodeefeitose interaces. sustentveloqueforrelevanteparaacomunidadeeestaapoiarelutarsempre pelos bens e valores com que se identifica. Assim, o futuro de cada museu depender sobretudodarelaoemocionalqueconseguirestabelecercomacomunidade,pela abertura, pelo acesso, pela forma como seduz, surpreende e envolve os seus pblicos e, porque no, tambm pela imagem que assim constri junto dos outros.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 12 ENTREVISTA com Lus Raposo LusRaposo,membrodadirecodoICOMEuropa,teveaseu cargoumadascomunicaesinauguraisda conferncia internacionalMuseusePolticasquetevelugaremS. Petersburgo(Rssia),entre8e12deSetembrode2014, organizadapelasComissesNacionaisdoICOMdaRssia,da AlemanhaedosEstadosUnidosenaqualparticiparamcerca de 450 profissionais de museus provenientes de todo o mundo.3 Nestaentrevistaencontramosoessencialsobreaparticipaode LusRaposo,nadefesadocarcternolucrativodosmuseus,conformemente definio do ICOM, e a necessidade de novas estratgias de gesto, nomeadamente no reforodaspolticaspblicas,necessidadedereorientarosmuseusparaassuas colecesecomunidadesepensarnovasprticasdeadministraoconciliadorasde valores de cidadania e de mercado. ICOM PT Qual a relevncia da Declarao de Lisboa nesta conferncia? AchamadaDeclaraodeLisboa,que,comosesabe,veiomaistardeaserusada comobaseparaumaresoluoglobaldoICOM,adoptadaunanimementena confernciadoRiodeJaneiroem2013(ViabilityandSustainabilityofMuseums ThroughtheGlobalFinancialCrisis),constituiuumtextoderefernciaessencialda conferncia de S. Petersburgo. Estou convencido que foi essa Declarao que esteve na base,pelomenosinicialmente,doconvitequemefoidirigidoe,claro,representou umadasprincipaisrefernciasdaintervenoquearealizei.Foi-mealiscaro verificar que a mesma Declarao j era do conhecimento de numerosos participantes, tendo sido reproduzida em dezenas de stios na internet, meios de comunicao social, publicaeseboletinsinformativos,trabalhosacadmicosetambmtraduzida,no todo ou em parte, para diversas lnguas nacionais. Qualquer rpida pesquisa no Google ououtromotordebuscapermitirreconheceraextraordinriadifusodeste documento. Confesso que esta expanso me surpreendeu bastante. 3 Veja-se o resumo da conferncia Museus e Polticas no Boletim ICOM Portugal n. 2 (srie III), Jan. 2015, p. 2425 (http://www.icom-portugal.org/).

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 13 ICOMPTComovasperspectivaspolticasfuturasnaEuropaemrelaoaos museus? Confesso que estou algo apreensivo, pelo menos no futuro prximo. A Europa encontra-se deriva, parasitada, seno j engolida em algumas regies (sobretudo a Leste), por ideologiasultraliberaisquenemoEstadoSocialbismarkianoestariadisponvelpara defender.Bemsei,quetudomudaequesobretudoestetipodeideologiasdecurto prazomudammaisrapidamente.Masoreceioexiste,eeupartilho-o,dequepossa haver tentao de sucumbir s leis do mercado, ideia de que tudo o que possa dar lucro, deva ser privatizado; e tudo o que d necessariamente prejuzo, seja mantido no domniopblico,seforconsideradoessencialelondeosimpostosopossampagar. Com vistas to curtas, a memria pode ser considerada como intil, luxuosa at. Ora, no terreno da memria que se movimenta a maior parte dos museus. Como,porm, a vida me ensinou desde cedo,desde que em jovem via minha volta misriaeinjustiasocial,escondidasambasdebaixodotapete,quenadadeveser dado por adquirido e que tudo resulta do nosso esforo colectivo, sobre o qual acresce (ou antecede, se quisermos) a nossa tica e exigncia pessoais, encaro o futuro quase comomesmooptimismodopassado.Digoquase,porqueconfessoter progressivamentevindoadescrernosomentenasgrandesutopiasglobais,comoem muitos casos da prpria bondade humana, quer dizer, do vencimento da generosidade sobreocalculismo.Masnadadistomeafectanaposturapermanentedelutapelas os museus so por excelncia uma imagem de marca europeia ADeclaraodeLisboafoipublicamenteapresentadanombitodaconfernciaPublic Policies Toward Museums in Times of Crisis, organizada pelo ICOM Portugal e pela Regional Alliance ICOM Europe, que se realizou nos dias 5 e 6 de Abril de 2013 no Museu Nacional de Etnologia em Lisboa.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 14 ideias que me parecem ser as melhores. E talvez a Europa se reerga mais depressa do que imaginamos Se assim acontecer, os museus, que so na sua origem uma inveno europeia fruto da generosidade cvica, podero tambm ganhar nova centralidade. E a verdade que, como demonstrei noutro local (A Economia dos Museus e dos Parques Temticos,naAmricaenaVelhaEuropa,inArtecapital,2013)erepetiemS. Petersburgo,osmuseussoporexcelnciaaimagemdemarcaeuropeia, contrariamenteaosparquestemticos,quesosobretudoumaimagemdemarca norte-americana e asitica. No sejamos, pois, demasiado pessimistas. Nesta referncia aos museus como imagem de marca encontra-se a substncia do que poder ser um optimismo de longo prazo. Alis, observadas as estatsticas, torna-se evidente que o maior ou menor investimento emmuseusnosdiferentespaseseuropeusnodecorreessencialmentedassuas respectivasriquezaseconmicas,massobretudodassuasposturaspolticas, nomeadamente no domnio da configurao das suas identidades nacionais. Talvez por sermos um Estado-Nao sedimentado em quase nove sculos de histria, tenhamos em alguma medida baixado a guarda da nossa identidade. Penso que o tempo nos ensinar como pode ser nefasta uma tal postura. ICOM PT Foram abordadas novas estratgias para o financiamento dos museus? Sim,comcerteza.Deummodogeraloalinhamentodospresentes,pelomenos daquelesmaisintervenientes,estremou-seemmodelosdefinanciamentosuportados pelaschamadasleisdomercadoeosqueinsistiamnasresponsabilidadesespeciais doEstado.Nestesentidofoi-meespecialmenteinteressanteacompanharodebate estabelecido entre o director-geral do Museu Hermitage, grande defensor dos modelos empresariais e de mercado,no obstante a crise por que j passa o referido Museu e queseantevviraaprofundar-semuitssimonosanosprximos,eosvrioscolegas Museu Hermitage, 2012 Kwong Yee Cheng

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 15 russos provenientes de pequenos museus, especialmente de remotas provncias rurais, vigorosos, e por vezes acalorados, defensores do predomino do paradigma pblico. Pelomeulado,insistisobretudonocarcternolucrativodosmuseus, conformementedefiniodoICOM.NotenhoenadatemosnoICOMaoporque qualquer empreendedor,como agora se diz, pessoa singular ou colectiva,inclusive, comunidade,pretendarealizarumprojectodeanimaocultural,aquechame museu(istolondealei,comnocasoportugus,noprotejaadesignao)eno fundo mais no queira do que realizar lucros, para distribuio accionista. Os exemplos abundam,especialmenteemtornodeprodutosicnicosdecertaslocalidadesou regies,frequentementealimentares(v.porexemplo,oscasosdoMuseudo Chocolate, em Bruxelas; do Museu do Presunto, em Madrid; do Museu do Po, em Seia; ou do Museu da Cerveja, em Lisboa). Isto no so, todavia, museus. Tendo por base esta separao de guas, pude na minha interveno defender solues maisplurais.Primeiro,porqueosmuseussoplurais,elesmesmos.Unspblicos, outros privados; uns com acervos de referncia nacional, regional ou local, outros com coleces circunstanciais, no tuteladas por legislaes pblicas. Nestaperspectivacomeariaporsalientarqueestforadedvidaanecessidadede continuao,emesmoreforo,doinvestimentopblicoemmuseus.Isto especialmente vlido para pases como Portugal,onde os gastos em cultura (e dentro delasobremaneiraemmuseus)sodosmaisbaixosdaEuropa,noemtermos absolutos,note-se,masempercentagem doPIBe deparidadesdopoderdecompra. Convmsublinharisto,paraquenosedigaqueosgastosemculturaemuseusso aqueles que o pas pode suportar, a crise a que e simplesmente no h dinheiro. Nadadisso,trata-sesobretudodeumaquestodeprioridades polticasedeprojecto cviconacional.Repare-sequenosgastosemeducao,Portugalencontra-seem8. lugar do PIB no conjunto de 25 pases da Unio Europeia. Nada mau, portanto. Mas nos gastos em cultura, a posio de 23. em 27 (Cf. o nosso texto Os Museus, a Crise e Como Sair Dela, in Artecapital, 2015). Pssimo. Ou seja, o Estado no se pode demitir das responsabilidades que todos lhe outorgamos e para as quais pagamos impostos. E, nos museus e em Portugal concretamente, existe ainda um imenso caminho a percorrer os museus tero de ser cada vez mais pr-activos no desenvolvimento de vises estratgicas e programaes indutores de receita prpria

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 16 atquetenhamosatingidopelomenosumamdiaeuropeiacondicentecomanossa riqueza nacional. Masforosoreconhecerquetambmosmuseusterodesercadavezmaispr-activos no desenvolvimento de vises estratgicas e programaes indutoras de receita prpria ICOM PT Os museus precisam de uma redefinio das suas misses de acordo com a nova realidade econmica e social da Europa? Penso, conforme comeava a responder na questo anterior, que provavelmente todo o conceito de instituio-museu que dever ser repensado no futuro. Existe quem tema este tipo de evoluo,apontando no limite para a extino do museu,afundado pela chamadapolticadoseventos.Nopartilhodestepessimismo.Pelocontrrio,no meuoptimismodepessoadosmuseus,pensoquedafutura,queeujulgoinevitvel, reconsiderao sobre o papel social dos museus nascero novas instituies (espero que chamadas ainda museus, mas isso de somenos) cada vez mais ancoradas nos saberes enasmissesquesempreforamasdosmuseus,pelomenosdesdeaRevoluo Francesa. Nestepressupostooptimista,julgoquedevemosserofensivosenuncadefensivos, fechadosnasnossasreservas,encarandocomaudciaosprocessosdereconfigurao em que os tradicionais e at aqui separados conceitos e misses de museus, arquivos, bibliotecas ou at centros culturais e de desenvolvimento comunitrio possam ser fundidos num nico enquadramento institucional. J hoje em certas regies europeias (julgo que tambm na Amrica Latina, regio com a qual temos imenso a aprender) o museu,alargadoconceptualmente,onicoequipamentoculturalesocialde aldeias,tudoasepassaonde,desdealeituradaimprensadodiaatconsulta mdica semanal. Claro que existe um grande, um enorme risco, neste tipo de desenvolvimentos o de sedeitarforaobebcomaguadobanhoenomeiodetantasfunessociaisse perder a mais essencial dos museus, a nica em que no se subsumem noutro tipo de equipamentos, qual seja a de estudo, conservao e divulgao de acervos (objectos e saberes) a que se atribuam valor memorial e patrimonial. Este sem dvida um srio problema. Ainda recentemente pudemos, os que estivemos no V Encontro Mouseion, no os museus tm de ser audaciosos, aceitar os novos desafios, mas insistirem numa coisa bsica: serem museus, acima de tudo.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 17 Fundo (Dezembro de 2014), ouvir o impressivo relato da experincia do nosso colega JuanPedroMorenoCarrasco,doMuseudeCria,emEspanha.Disseelequedurante anos, mais de uma dcada, prosseguiu aquilo que os sinais dos tempos e a sua tutela poltica lhe exigiam: actividades as mais variadas e em bom ritmo; aumento crescente sustentado do nmero de visitantes; enfim, presena permanente na movida da cidade. Tudo pareceria bem encaminhado at ao dia em que o aumento da dita movida levou aqueospolticostivessemdecididoconstruirumcentroculturalpolivalente,com capacidadeparaapresentarosespectculosquevinhamtendolugarnomuseu. Consequncia:o museu deixou de ser to necessrio,passou a ser um custo cada vez maisinsuportvele,sobrevindaacrise,amesmafoiusadacomopretextopara encerrar, sem que houvesse significativa oposio. Concluso, retirada ainda por Juan MorenoCarrasco:esqueceu-seomuseudoprincipal,dofoconoseuacervo,da reinveno permanente da suas coleces e da criao de redes de cumplicidade com as mesmas, garantidos por grupos de amigos ou pelos cidados em geral. Emsuma,oquepensoqueosmuseustmdeseraudaciosos,aceitarosnovos desafios, mas insistirem numa coisa bsica: serem museus, acima de tudo. ICOMPTOqueretiradestaconfernciaparaaactualsituaodosmuseus portugueses? Como bem sabemos, Portugal e os museus portugueses foram dos que mais sofreram o impactedacriseglobalemergentedacrisefinanceirade2008.NaconfernciadeS. Petersburgo,pudefazerobalanodesteimpactenoconjuntodos(mal)chamados pasesperifricos.Emresumo,salientei,anveldaadministraocentral,a extinodosaltosorganismosadministrativosespecializadosemdiferentesdomnios dopatrimniocultural(museus,arqueologia,arquitectura),tudoamalgamadoem organismosgeraisdetuteladopatrimniocultural;oreforodocentralismo administrativo,perdendoosmuseussuaautonomiadeprojecto,essencialsua existncia, isto j para no falar nos oramentos e quadros de pessoal prprios ou at em direco exclusiva em permanncia (no caso portugus, note-se este movimento foi toextremoqueataidentidadefiscalprpriafoiretiradaaosmuseusnacionais, impedindo-os assim de gerir plenamente projectos de parceria e recolher directamente patrocnios).Verificou-setambmaimpossibilidadevirtualpararecrutarnovos funcionrios,atodososnveis(especialmentenefastaquandodasuniversidadessai a gerao melhor preparada que jamais tivemos); a diminuio dos recursos oramentais, quaselimitadoanecessidadespermanentesbsicas(compraticamenteincapacidade paraaprogramao);adiminuiodascondiespromotorasdavisitaamuseus(de queexemplo,areduodeentradasgratuitasquenocasoportugusfoiaoponto inacreditvel de ter diminudo a gratuitidade universal de 14 para 12 anos de idade). A

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 18 nvel da administrao local, sublinhei o risco de encerramento de museus, a reduo drstica de pessoal (em casos extremos, inexistncia de pessoal graduado) e a perda de autonomia jurdica e funcional. A nvel privado, o risco de encerramento de museus e devendadecoleces,assimcomooaumentodaexportao(legaleilegal)de antiguidades. Oquenosrestaemfacedequadrotodepressivo?Cruzarosbraoseesperarque a tempestade passe por si mesma, sem nada fazermos? No creio. Mais uma vez a minha posturadadeirlutaetalpodeserfeitodesdelogonacapacidadequeainda tenhamos de programao e reinveno dos nossos museus. A renovao de estratgias museolgicasconcentrando-seemactividadesestratgicas;odesenvolvimentode redesedecooperaoacriaodenovasrelaesentremuseuseterritrios;a promoodosrecursoshumanosemelhoriadascompetnciasprofissionais;as exposiesitinerantes(comfinanciamentointernacional);areutilizaoetrocade equipamentos;apartilhadeequipas;olanamentodeexposiesnoutrosmuseus, quandoosdeorigemseencontrememprocessosdereforma;apartilhade investigadores;assinergiascomosectordoturismo;odesenvolvimentodeservios partilhados, como a restaurao, a digitalizao, o seguro; a rentabilizao de saberes prprioscomosejamosdaavaliaoe,construodeprojectos,diagnsticoe conservaodecoleces,desenvolvimentolocal,cultural,etc.tudodeverser considerado,desdequeaonossoalcance.Existejbibliografiaimportanteondese inventariamerelatamcasosdesucessocomoosindicados.Citoapropsitoum excelenterelatrioholandssobreredescooperativas,traduzidoparainglse distribudopelaNEMO(NetworkofEuropeanMuseumOrganizations),ondese identificam as seguintes reas temticas, cada uma com listagens de actividades muito prticas:Custosmaisbaixos,maiorreceita,rendimentosuperior,Partilhade conhecimento,Uniodeforas,Audinciasmaisampla,novasaudincias,Maior visibilidade das coleces. os museus portugueses foram dos que mais sofreram o impacte da crise global emergente da crise financeira de 2008

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 19 IN MEMORIAM Tributo do Laboratrio Jos Figueiredo Memria de Lus Efrem Elias Casanovas (19262014) Por Gabriela Carvalho, chefe de diviso do Laboratrio Jos de Figueiredo, Direo-Geral do Patrimnio Cultural (DGPC) usEfremEliasCasanovasnasceuem1926.Formou-seemEngenharia ElectrotcnicapelaEscolaPolitcnicaFederaldeLausanne(Sua)em1951. Pertenceu aos quadros do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural desde a sua criao at aposentao em 1996. Em 1974 tomou posse como inspector superior da Direco Geral dos Assuntos Culturais e,em1981,frequentouocursoPreventiveConservationinMuseumsdoICCROM (Centro Internacional para o Estudo da Preservao e Restauro de Bens Culturais). Em 1983escreveuoartigoOTratamentodeAreaConservaodasObrasdeArte:Um Ensaio para a revista Patrimnio Cultural em colaborao com Simonetta Luz Afonso, ento directora do Instituto Jos de Figueiredo.No mbito da sua colaborao com a EscolaSuperiordeConservaoeRestauro,sediadanomesmoedifciodoInstituto JosdeFigueiredo,foiresponsvel,entre1991e1998,pelacadeiradeConservao Preventiva,emborareformadooficialmentenoanode1996.LusCasanovas desenvolveu diversos trabalhos com o Instituto Jos de Figueiredo. Em 1998, colaborou nacoordenaodoseminrioEncontrocomStefanMichalskisobreconservao preventiva. Integrou o grupo de trabalho para o estudo das causas de deteriorao de umconjuntodepeasdeourivesariadoacervodoMuseudeSoRoque(Lisboa), projecto com incio em 1997 e com a coordenao de Ana Isabel Seruya, directora do Instituto PortugusdeConservaoeRestauro(IPCR). Em1999publicounasactasdo congresso 12th Triennial Meeting of ICOM-CC, em colaborao com Ana Isabel Seruya, o artigo Climate Control in a 16th Century Building in the South of Portugal. Entre2000e2007foiconsultordoIPCR,dandoasuainestimvelcolaboraos questesdeconservaopreventivarelativamenteaosfactoresambienteque condicionam a boa conservao dos bens culturais nos espaos museolgicos. Entre Novembro de 2001 e Maio de 2002 participou numa aco conjunta com a Rede PortuguesadeMuseus(RPM)eadelegaodoNortedaAssociaoPortuguesade Museologia(APOM)emacesdeformaoparaprofissionaisdemuseusnareade L

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 20 conservaopreventiva.Duranteesseperodointegrou,tambm,oprojectode conservao e restauro da igreja da Madre de Deus, coordenado por Ana Isabel Seruya, sobreoqualpublicou,em2001,oartigoAvaliaodascondiesdeambienteem IgrejadaMadredeDeusHistria,ConservaoeRestauro,ediocoordenadapelo Instituto Portugus dos Museus, pelo IPCR e pelo Museu Nacional do Azulejo. Tambm nesseanopublicouoartigoORigoremConservaoPreventivanosCadernosde Conservao e Restauro do IPCR. FoiconsultordaRPMparaasquestesdeconservaopreventiva,fazendovistorias, dandoparecerestcnicoseavaliandoascondiesambientenosmuseuseespaos museolgicos. Em2007defendeuasuadissertaodedoutoramentonaFaculdadedeLetrasda Universidade de Lisboa sobre o tema Conservao Preventiva e Preservao das Obras de Arte. Foi responsvel pela cadeira de Conservao Preventiva em diversos mestrados. Em2011foi distinguidopelaAPOM,comoprmioPersonalidadedoAno,prmioque visa homenagear a carreira de algum que tenha dado um contributo relevante na rea da Museologia em Portugal. Dedicoutodaasuavidascondiesdeconservaoepreservaonareada Museologia, dando um contributo incontornvel e pioneiro entre ns. arlosFloresMarini(19372015).Figuradereferncianahistriamodernada conservaodopatrimnio,oarquitectomexicanoCarlosFloresMarinifaleceu aos77anos.Em1964foiumdossubscritoresdaCartadeVeneza,juntamente com o arquitecto portugus Lus Benavente.Foi um dos fundadores do ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Stios) e o fundador do ICOMOS no Mxico, tendo sido seu presidente entre 1991 e 1997.Foiprofessor,desempenhoudiversoscargoserecebeuvriosprmiosnacionaise internacionaisnareadopatrimnioedaconservao.ApublicaomexicanaLos Nuevos Paradigmas de la Conservacin del Patrimonio Cultural 50 aos de la Carta de Venecia(ed.InstitutoNacionaldeAntropologiaeHistoria,2014)presta-lhe homenagemeincluiumacontribuiodoarquitecto:Reflexionesa50anosdela Carta de Venecia. C

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 21 Jorge Estrela (19442015) Por Srgio Gorjo, muselogo notcia do falecimento de Jorge Estrela, a 1 de Janeiro deste ano,remeteu-me para a memria dos anos de um trabalho em bidos e a propsito da exposio realizada sobre o pintor Baltazar Gomes Figueira. Aimagemcomquedelefiqueiadeumerudito,mascomasimplicidadee naturalidade daqueles que so verdadeiramente sabedores. No trabalho e no contacto que estabelecemos ressalvava um constante gesto de generosidade face partilha de saber,dagentilezadecarcter,tudoissoexpressocomumsorrisofranco,comum brilhoapaixonadonoolharecomumaseriedadeassertivaquando,commincia, observava qualquer detalhe, do que quer que fosse. JorgeManuelEstreladePinhoeAlmeida,nascidoem1944,estudouBelas-Artesem LisboaeemParis,tendoparticipadonosmovimentosdeesquerdaestudantile afirmando-secomosocialista.Desenvolveuvriostrabalhosdeinvestigao,tendo estado nos ltimos anos ligado ao Museu Joo Soares, em Cortes (Leiria). Pertencente a uma gerao que lutou pela liberdade, mas no afastando o seu lastro cultural, Jorge Estrela poderia definir-se como um monrquico anarquista, idealista e revolucionrio, umesteta,umhomemdeculturahumanista,umexcelenteinvestigador,crticode arte e comunicador. Dadaasuaslidaerudio,nodeestranharqueseinteressasseportemasmuito diversos,desdeagastronomia,micologiaeclassificaesdeespcies,mastambm arquitectura,histria,monumentos,museologia,pintura,histriadaarte,etc.,um conhecimento enciclopdico de matriz renascentista. Esta forma de ser e saber, alis, parece reflectida no ltimo trabalho que concluiu, sobre a visita de Cosme de Mdicis a Portugal. Vrias pessoas, com muita propriedade, escreveram sobre Jorge Estrela imediatamente aseguirnotciado seufalecimento,valendoapenaareleituradeartigosdeMrio Soares,VtorSerro,CamiloAlves,oudasuasobrinhaIns,entreoutros.Estabreve nota em memria, demasiado curta, serve apenas para assinalar o legado cultural do homenageadoe,sobretudo,oseusbiocarcter,aindatovvidoemtodosqueo conheceram. A

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 22 Madalena Cabral (19222015) Por Manuela Gallego, ex-conservadora do Museu Nacional de Arte Antiga Alunos Professores Adultos e crianas Saboreiam E levam l para fora O gosto de pensar Livremente O futuro/passado/presente Daquela gente que somos todos ns. (Madalena Cabral) oi num incio de tarde de Julho de 1972 que conheci a Madalena Cabral. Pedira-lheumaentrevistaeoencontroficaracombinadoparadaaalgunsdias. Cheguei cedo, levaram-me at ao seu gabinete, prevenindo-me que a Madalena estava numa reunio e que certamente chegaria atrasada. Sentei-meeomeuolharpercorreutodooespao.Ajanela,abertadeparempar, deixava-mever apujanado jardimdomuseu.Umagrandemesade abas,em que a nicaabaabertadenunciavaousocomosecretria,ocupavaumaparteconsidervel daquelasala.Sobreamesalivros,papisgeometricamentealinhadosenitidamente arrumados por assuntos, e objectos vrios de que se destacava um enorme puxador de portaembronzequemeintrigouespecialmente.Rapidamentepercebiqueerauma pea lindssima e que ali estava como referncia oculta ou simplesmente para ser vista. Naparedeemfrente,numpaineldecarlite,estavamcolocadasimagens,delicadas pinturasepequenostextosseleccionados.Eramfotografiasapretoebranco:oDr. Joo Couto escrevendo por detrs de uma enorme secretria, a Madalena rodeada por umgrupodealunos.Eramigualmenteostextos,sobretudocitaesdequese destacava Gaston Bachelard on ne communique aux autres quune orientation vers le secret, sans jamais pouvoir dire objectivement le secret. Recordo o encantamento que senti aps os vinte minutos de espera. F

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 23 A Madalena chegou e desculpou-se de forma afectuosa. Seguiu-se uma longa conversa quejamaisesquecerei.UmanodepoisfaziapartedoServiodeEducaodoMuseu Nacional de Arte Antiga (MNAA). O gabinete tinha-me revelado uma imagem da Madalena que se foi confirmando com o desenrolar do tempo. Fui descobrindo uma personalidade rica e facetada recheada de saberes que lhe vinham sobretudo da vida vivida, uma rara capacidade de comunicao a partir de objectos ou de ideias atravs de uma linguagem simples e rigorosa, (o rigor marcava toda a sua vida) uma ateno permanente aos que a rodeavam pequenos e grandes, simples e complicados, ignorantes ou doutorados. Cabe-me agora responder ao desafio que me foi proposto e tentar uma biografia curta que possa esboar, embora de forma imprecisa, a vida da Madalena Cabral ao longo de 92 anos, dos quais 42 passados no MNAA. NasceunoPortoem1922numafamliademaisnoveirmos.Dedica-sepintura privilegiandoaaguarela.RealizouexposiesemLisboaenoPorto,tendosido premiada em 1948 e 1952. Em 1953 participa na fundao do Movimento de Renovao daArteReligiosa.Vaidedicar-separamentaria,estudando,desenhandovestes, produzindotextoserealizandoconferncias.OrganizaexposiesdeParamentaria Moderna, em 1945 no palcio Galveias e em 1964 na S de Lisboa. Aindanosanos50convidadaporJooCouto,directordoMNAA,paraformarum servio destinado a acolher pblico jovem, inicialmente infantil, organizando oficinas e visitas s coleces do Museu. Em harmonia com o pensamento de Joo Couto, defende o museu como um espao de liberdadeeducativa,comolinhadearticulaoentreasvriasfunesmuseolgicas. Circulares enviadas para as escolas do a conhecer os objectivos da abertura das salas doMuseuaosmaisnovos.Seguidamentedesafiam-seosadultos,pais,educadores, operrios,professoresquenavisitaconversandocomosobjectoseosmonitores, abertamenteproclamavamdescobertas:acor,oespao,aconstruo,ohomem,a vida, a sociedade. (Madalena Cabral) Avisitatorna-seoeixocentraldaactividadedoServiodeEducao,Serviode EducaoenoServioEducativocomoaMadalenagostavadefrisar,jquea Educaotersempredeserumsubstantivo,umnomeenoumadjectivo,istoo adereo do nome. Nelaovisitantesejaqualforaidadeouformaoquecondiciona,justificae estimula, nas vrias iniciativas, o ritmo e os caminhos a seguir. Seavisitasefundamentanover,aaconoMuseudeveraindaprivilegiarofazer. JooCoutovaiocuparumavelhacasavazia(conhecidaporgeraesdecrianase jovenscomoacasadasratas).aquesevodesenvolveroficinasdepintura, desenho,modelagem,tecelagem,carpintariaegravura.MadalenaCabral,

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 24 paralelamenteorientaoeintervenodirectanasoficinas,vaiproceder formao de monitores a quem era pedido, para alm do conhecimento dos materiais e doseuuso,acapacidadedeestimularotrabalhodegrupodeformaaqueas intervenes individuais fossem respeitadas e a disciplina nascesse espontaneamente. ParaMadalenaCabralovereofazereramdoisactosvitaisparaodesenvolvimento harmoniosodecrianasejovens,sendofunofundamentaldomonitordaraver. Assim,organizavaumaformaocuidadaeexigenteparaqueviessemafuncionar como agentes essenciais para estimular o pblico. A par do estudo das coleces, da pedagogia e psicologia, realizavam-se reunies semanais (que integravam monitores de serviosdeoutrosmuseus,oMuseuGulbenkian,oMuseudeArqueologia,oMuseu CastroGuimares,entreoutros)paradiscussodasabordagensemtodos,epara avaliaodotrabalhorealizado.Paraestaformao,toambiciosaequesequeria contnua,recorriaaespecialistasforadoservioemesmodoMuseu.Paraalmdos conservadoresresponsveispelasdiferentescolecescolaboraramnestatarefa Manuel Costa Cabral, Gasto da Cunha Ferreira,Fernando Catarino,Domingos Morais, entre outros. ComoacrscimodonmerodeescolasasolicitaremvisitasaoMuseu,eono correspondente reforo de monitores, a partir de 1971 o servio vai organizar um apoio aprofessoresbaseadonoconhecimentodascolecesemtodosetcnicasde abordagemdosobjectos.Foram entopensadas erealizadassesses designadaspor encontros de professores de um dia e meio ou trs dias subordinadas a diferentes temas. Estes encontros tiveram um ptimo acolhimento junto dos docentes e durante muitos anos estiveram sempre esgotados. O servio sempre trabalhou igualmente com grupos com caractersticas especiais como invisuais, deficientes motores ou intelectuais o que implicava outro tipo de formao e o recurso a outros especialistas. Foi membro da CECA (Comit Internacional do ICOM para a Educao e Aco Cultural), integrou o secretariado daquele organismo. Com a colaborao de Jos Lus Porfrio e SrgioAndradeorganizaem1979aConfernciaInternacionaldoCECAemSesimbra, que contou com 90 participantes vindos de todo o mundo. Este encontro ainda hoje referido como exemplar. Em 1985 o Presidente da Repblica, general Ramalho Eanes condecora Madalena Cabral com o grau de oficial da Ordem de So Tiago da Espada. Em 2002, o MNAA promove o encontro Ver Rever Educao em Museus com muitas comunicaesvindasdeprofissionaisdevriosmuseuseuniversidades, homenageando-a pelo seu papel pioneiro na criao e desenvolvimento dos Servios de Educao. MembrodaAPOM(AssociaoPortuguesadeMuseologia).Em2013estaorganizao distingue-a com o prmio Personalidade do Ano na rea da Museologia.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 25 Madalena Cabral morreu no Porto no dia 24 de Janeiro, com 92 anos e deixou-nos ss, com a recordao de algum de excepo; diremos agora com Cames: A todos comum esta partida, Quem morre no morreu, partiu primeiro.4 NOTCIAS ICOM ICOM Portugal em Programa de Intercmbio Profissional Europeu em Berlim Clara Frayo Camacho, museloga, Direo-Geral do Patrimnio Cultural (DGPC) Nos dias que correm Portugal e a Alemanha so regularmente confrontados nos planos da poltica, da economia, da finana e da sociedade. E no campo dos museus, o que une Portugal e a Alemanha? primeira vista, quase nada. Desde logo, diferenas de dimenso territorial e demogrfica, de localizao no continente europeu, de organizao poltica do Estado, de estruturao administrativa e percursos histricos singulares distanciam os dois pases. Com 82 milhes de habitantes, a Alemanha uma Repblica federal composta por 16 estados (lnder). Num pas dotado de cerca de 6 500 museus, as competncias para a cultura esto dominantemente adstritas aos lnder, que prosseguem diferentes objectivos e polticas. Razes histricas ajudam a explicar esta situao: as reminiscncias da propaganda e da utilizao do aparelho de Estado pelo nazismo levaram a que a nvel federal s em 1998 fosse criado um Ministrio para os Assuntos Culturais, ainda assim com atribuies restritas. O Instituto de Investigao em Museus uma das escassas organizaes federais com actuao no sector museolgico, vocacionado para as estatsticas de museus e outros projectos de pesquisa, designadamente no mbito da provenincia dos bens culturais dos museus e da perspectiva da restituio. O Instituto aplica anualmente um inqurito 4 Nota da ed.: Em complementaridade poder ler-se o texto de Catarina Moura: O Pulsar de Meio Sculo: Historial Crtico sobre os Servios Educativos dos Museus do Estado apresentado no mbito do encontro organizado pelo ICOM Portugal: Servios Educativos em Portugal: Ponto da Situao (2011). Associao dos Museus Alemes, 2-4 de Fevereiro de 2015 NEMO

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 26 aos museus alemes e desempenha um papel referencial no plano europeu, na liderana do EGMUS - The European Group on Museum Statistics, e de projectos relativos s estatsticas de museus, como o ENUMERATE, e mais recentemente a adaptao s normas ISO (International Organization for Standardization). Serve esta introduo para contextualizar um estgio de trs dias em Berlim, de 2 a 4 de Fevereiro de 2015, com acolhimento da Associao dos Museus Alemes e organizao da Network of European Museum Organisations (NEMO), de que o ICOM Portugal membro associado.5 Tendo tido a oportunidade de participar neste programa com colegas da ustria, da Itlia, da Grcia e da Irlanda, partilho umas breves reflexes desta experincia, cujo principal objectivo consistia em conhecer a aco dos organismos associativos alemes com interveno no campo dos museus. Num panorama altamente descentralizado e com fortes tradies associativas, a Associao Alem de Museus, fundada em 1917, possui 2 800 membros institucionais e individuais, o que a torna um significativo parceiro do sector museolgico. Munida de uma pequena equipa tcnica (uma directora a tempo inteiro e mais trs membros a tempo parcial), as receitas da associao provm em 60% das quotas dos membros e em 40% de apoios governamentais e de mecenato. As suas principais reas de aco distribuem-se pelo lbi poltico, criao de orientaes e de normas profissionais, apoio tcnico a museus e desenvolvimento de projectos. A esta associao, em parceria com a Comisso do ICOM da Alemanha, se deveu o estudo e a publicao dos Standards para Museus em 2006. Um dos domnios de destaque da Associao Alem de Museus o do trabalho em rede. Esto constitudos 12 grupos de trabalho que aglutinam quer museus de um determinado tipo, quer funes museolgicas. Estes grupos so criados por iniciativa dos membros e recebem um apoio anual da Associao de 800 por grupo. Basicamente promovem reunies de debate e comunicam por listas de correio electrnico. Em paralelo, nas associaes de museus dos lnder tambm h interaco e interajuda entre museus, especialmente de apoio aos mais pequenos. No estado de Brandeburgo, por exemplo, onde h cerca de 300 museus, a associao estatal desenvolve programas de apoio digitalizao dos inventrios, com respaldo financeiro do governo do Estado. Actualmente decorre em toda a Alemanha uma iniciativa federal promovida pelo Ministrio da Educao com o objectivo de promover a integrao dos imigrantes e de grupos socialmente excludos. A Associao de Museus est a gerir financeira e administrativamente os projectos evolvendo museus, em que estes se aliam a pelo menos dois parceiros externos. Trata-se de uma medida de grande impacto, dirigida a instituies culturais e educativas e com um prazo de concretizao at 2018. Voltando questo inicial, o que une Portugal e a Alemanha no sector dos museus? verdade que no nmero de museus, na organizao descentralizada, na tradio 5 No nosso pas, a DGPC o membro efectivo da NEMO.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 27 associativa e nos meios financeiros disponveis tudo afasta os dois pases. Contudo, alguns pontos comuns so visveis na organizao das instituies museolgicas: a adopo de padres de referncia no cumprimento das funes museolgicas (Standards orientadores na Alemanha e Lei-Quadro dos Museus em Portugal), a explorao do trabalho em rede (formalizada nos grupos de trabalho da Associao Alem e em redes regionais portuguesas) e a ateno s questes sociais (se bem que mais institucionalizada na Alemanha). Independentemente das fronteiras polticas e das tradies histricas nacionais, no profissionalismo e na dedicao das equipas que se encontram mais pontos de confluncia que de distanciamento. Afinal so os profissionais que fazem mover os museus de ambos os pases e a eles se deve o perfilhar das boas prticas que esto no cerne das instituies museolgicas. N. da ed.: No website da NEMO poder encontrar o programa e um breve resumo desta iniciativa, assim como algumas das apresentaes. Documentao em Casas-Museu 6. Encontro Casas-Museu em Portugal Maria Joo Pinto, coordenadora da Biblioteca e Gesto de Informao da Universidade Catlica Portuguesa, Porto No passado dia 23 de Maro decorreu na Fundao Casa Ea de Queiroz, em Tormes, o 6. Encontro das Casas-Museu em Portugal, este ano sob o tema da Documentao nas Casas-Museu (cf. programa).6 A uma organizao singular no foi indiferente, mais uma vez, a escolha do local onde decorreu este Encontro. Com uma proposta de reflexo em torno da temtica da documentao e em ambiente duriense nada melhor do que terem integrado um pr-programa, para uma familiarizao com o espao de per se to pertinente para a abordagem das questes em torno dos esplios documentais associados a casas-museu. Fomos ento brindados com uma recepo calorosa, num belo fim de tarde de domingo, na estao de Aregos, pelo Sr. Silvrio que nos acompanhou pelo caminho do Jacinto, percurso pedestre de uma hora e trinta minutos, integrado na rota cultural-literria destas paragens. A nossa viagem comeou ali mesmo! 6 Nota da ed.: A direco do ICOM Portugal esteve representada por Maria de Jesus Monge. 6. Encontro Casas-Museu em Portugal, Fundao Casa Ea de Queiroz, 23 de Maro de 2015 Maria Ceclia Rosalino

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 28 Este itinerrio culminou na chegada Casa de Tormes, com uma visita conduzida pelo nosso j familiar amigo de viagem, Sr. Silvrio, que fez as honras da casa e nos preparou para o belo repasto queirosiano, o to afamado arroz de favas com frango alourado e, claro, bem acompanhado pelo vinho verde de Tormes e rematado pelo creme queimado. Como se j no fosse suficiente pudemos ainda contar com a companhia, ao jantar, do Sr. Jacinto. Estvamos, assim, bem preparados e imbudos do esprito necessrio para no dia seguinte iniciarmos os trabalhos em torno da temtica que ali nos levou. semelhana de edies anteriores estas Jornadas foram organizadas por alguns profissionais da rea e membros do ICOM. Na sesso de abertura somos despertados pelo Antnio Ponte para a pertinncia do tema e da importncia que a documentao assume nos contextos das casas-museu, pelas problemticas da sua abordagem para responder a questes de: como saber guardar, como saber divulgar e que informao se pode (ou deve) extrair desses contedos. Tendo estas unidades museolgicas sempre na sua gnese personalidades que ajudaram a marcar uma poca, pela forma como intervieram na sociedade, a compreenso dos acervos documentais possibilita a leitura do homem e das suas circunstncias, bem como permite trazer ao domnio pblico importantes contributos sociais. O primeiro tema, Os Arquivos de Casas-Museu Fonte de Valorizao do Trabalho Museolgico: De Encargo a Benefcio, apresentado por Maria Joo Pires de Lima, directora do Arquivo Distrital do Porto, trouxe uma reflexo muito pertinente sobre a importncia destes sistemas de informao e os seus contributos na leitura mais completa de todo o contexto, restituindo um corpus coerente que facilita a recuperao e interpretao de ambientes e personagens. De sublinhar ainda, que os arquivos registam decises, aces e memria, so um patrimnio nico e insubstituvel. Ficou tambm clara a importncia da incorporao e tratamento dos arquivos das casas-museu para salvaguarda e valorizao da memria colectiva, pois como expressou a autora desta comunicao no h transparncia sem um arquivo organizado. Seguiram-se duas outras sesses mais centradas em casos prticos de documentao em ambientes de casas-museu. Assim, o tema Centros de Documentao e Museus, apresentado por Jos Manuel Oliveira, director da Casa de Camilo, trouxe plateia uma abordagem integrada de todo o circuito de tratamento documental do esplio desta Casa-Museu e consequente leitura destes acervos como fontes de informao que geram conhecimento. A natureza deste trabalho traduz a preocupao que deve existir em contriburem para a divulgao da obra do autor, sem nunca se perder de vista que este trabalho em primeira instncia tem que interessar a algum e que o foco nestes centros de documentao deve centrar-se na promoo da figura e obra do autor.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 29 Deixou-nos ainda como reflexo de que h a obrigao de contaminar com a alma do escritor, todos os vindouros e enquanto guardies temporrios de um bem cultural (como so os acervos) imperativo deixar estes acervos numa balana positiva a geraes futuras. Rui Carreteiro, da Fundao Eugnio de Almeida, trouxe-nos para reflexo as questes em torno da importncia das espcies documentais do arquivo e biblioteca do Pao de S. Miguel. A perspectiva traada a partir destas coleces tem contribudo para o estudo, conhecimento e divulgao do papel desta famlia no sc. XX e a estreita relao com a histria local, bem como para o conhecimento da histria social. A tarde foi organizada em torno de dois workshops que culminaram numa sntese dos trabalhos, em que a ideia da importncia de uma boa avaliao das massas documentais essencial para se estabelecer um plano de interveno. A este propsito Maria Joo Pires de Lima deixou clara a pertinncia de primeiro conhecer para depois avaliar. De ressalvar ainda que em matria de esplios documentais a importncia da conservao preventiva destas espcies fundamental, designadamente a implementao de estratgias de controlo e a observncia de princpios bsicos de estabilizao e acondicionamento. No encerramento dos trabalhos o director da Direo Regional de Cultura do Norte, Antnio Ponte, deixou alguns desafios aos presentes, no mbito das questes prticas de aprendizagem, nomeadamente no sentido da criao de um banco de mentores para orientarem outros tcnicos que precisem de formao. O estabelecimento de parcerias foi tambm uma das propostas com vista optimizao de recursos e viabilizao de projectos. Terminado este 6. Encontro ficou a certeza da excelente oportunidade e o enorme espao de interveno para os profissionais da rea que as questes da documentao em casas-museu encerram. tempo de olhar o futuro na perspectiva de querer fazer acontecer!

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 30 Uma Questo de Perspectiva Breves Notas Sobre as XII Jornadas de Primavera do ICOM Portugal Museus, Educao e Europa Lorena Sancho Querol, investigadora em ps-doutoramento, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Decorreram no passado dia 24 de Maro no Palcio Nacional da Ajuda as XII Jornadas de Primavera do ICOM Portugal, desta vez subordinadas a um dos temas no qual assentam as razes da Museologia contempornea: a dimenso educativa dos museus. Sob o nome Educao, Museus e Europa, as Jornadas deste ano foram organizadas conjuntamente pelo ICOM Portugal e pela delegao nacional do CECA (Comit Internacional do ICOM para a Educao e Aco Cultural) com o qual o ICOM Portugal estabeleceu recentemente uma parceria estratgica destinada reflexo e ao desenvolvimento da dimenso educativa dos museus em Portugal. Desta forma, a organizao optou por dedicar as Jornadas a Madalena Cabral, considerada a grande pioneira da educao museal em Portugal. Neste contexto, as Jornadas contaram com a presena de algumas dezenas de participantes, de dois profissionais portugueses especializados em educao museal e de dois oradores representantes do Conselho da Europa, cujos percursos e projectos se enquadram no tema do encontro. Assim Entre os participantes estiveram profissionais com diversos perfis, cujos conhecimentos, experincias e interesses possuem em comum a ligao ao mundo dos museus nas suas mais variadas formas, pelo simples facto de que falar em educao falar numa funo museolgica transversal a todas as outras, seja qual for o conceito de museu que tomemos como ponto de partida ou de chegada. Representando o sector de educao museal em Portugal estiveram connosco Catarina Moura, responsvel pelo servio educativo do Museu Nacional de Arte Contempornea (MNAC), e Mrio Antas, responsvel pelo servio de projectos e comunicao do Museu Nacional de Arqueologia (MNA), e uma excelente equipa na hora de interligar os ingredientes tericos e prticos essenciais para uma Jornada desta natureza. XII Jornadas de Primavera, Palcio Nacional da Ajuda, 24 de Maro de 2015 Pedro Pereira Leite

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 31 Numa vertente mais prtica, Catarina Moura partilhou cinco experincias de educao pela arte criadas e realizadas no Servio Educativo do MNAC, direccionadas a grupos sociais marginalizados, fragilizados ou em risco. Desta forma, reflectiu sobre o desafio de envolver no processo educativo pessoas, cujos perfis, caractersticas e experincias de vida as foram distanciando dos museus, chegando ao ponto de que se no existissem os projectos de Catarina Moura no MNAC, provavelmente teriam continuado a sua senda de museu no parte de mim ou museu no comigo. Quantas j conhecemos assim e quantas no andam pelas ruas deste belo pas Mrio Antas trouxe-nos, por sua vez, ingredientes essenciais que muito bem complementam (ou at esto na base!) (d)as experincias de Catarina Moura, ao colocar em foco a necessidade de pensarmos os museus como centros de co-produo de conhecimento, e a aprendizagem como um processo bidireccional. A este respeito, e a propsito dos ventos que agitam esta nossa costa Atlntica, importa salientar que Mrio Antas colocou sobre a mesa do Palcio da Ajuda duas slabas aparentemente incuas, mas sem as quais os nossos museus, as nossas escolas, os nossos projectos ou as nossas empresas sofreriam de um autismo progressivo de complexas repercusses. Refiro-me a esses dois prefixos cuja presena se torna essencial na construo de qualquer projecto cultural no sculo XXI: o co e o bi. Na verdade, as prticas culturais a eles associadas permitem definir as fronteiras entre um projecto frio, passivo, predefinido, fechado e um projecto til, dinmico e atento s necessidades e anseios das nossas sociedades na sua diversidade. Dando voz ao Conselho da Europa (CdE) tivemos connosco John Hammer, consultor educacional do CdE e co-director do Heritage Education Trust, e Lusa Black, historiadora e consultora do CdE em projectos sobre a democratizao do ensino. John Hammer trouxe-nos uma perspectiva do panorama patrimonial e museolgico britnico, focando a sua apresentao nalguns exemplos de boas prticas de organismos, tais como o Victoria & Albert Museum, o National Trust, o British Museum ou o Heritage Lottery Fund. Entre elas podemos destacar, pelo seu carcter inspirador, o programa de voluntariado do National Trust (National Trust Volunteer), o programa de aprendizagem inclusiva Access and SEM. Inclusive Learning Opportunities for all Young Visitors do British Museum, ou o programa Heritage Education Regional Outreach (HERO) do Heritage Education Trust. Todos eles bons exemplos para os nossos museus e para as nossas sociedades. Lusa Black socorreu-se de um dos ltimos produtos do CdE dentro da sua rea para ilustrar o trabalho que vem sendo desenvolvido. Trata-se da publicao Shared Histories for a Europe Without Dividing Lines (2014), uma interessante ferramenta de trabalho que permite abordar os temas de histria numa perspectiva inclusiva e diversificada em diferentes contextos. Em suma, uma ferramenta criada para ajudar a desconstruir as barreiras culturais, emocionais e territoriais que viajaram no tempo e

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 32 no espao at ao presente, e que ainda hoje justificam uma abordagem fragmentada e fragilizada das nossas realidades. Com efeito, este trabalho no deixa de ser um bom exemplo das linhas, dos processos e dos projectos que o CdE vem desenvolvendo na sua vertente de democratizao cultural e patrimonial, um tema essencial para uma Europa em reformulao. No entanto, no mnimo curioso o facto de estes e outros produtos resultantes de um rduo trabalho de pesquisa e de criao em equipa (cujas temticas podem ajudar a sarar profundas feridas sociais) carecerem de uma estratgia de articulao apropriada, destinada a dar a conhecer estas ferramentas s dezenas de milhares de alunos, professores ou educadores artsticos e tambm a seguir de perto o seu uso/utilidade em espaos educativos, mais ou menos formais, nos diferentes pases da Unio Europeia. que, como Lusa Black referiu, o CdE um rgo reactivo e no interventivo, o que quer dizer que o seu trabalho acaba quando se fecha o processo de criao do produto, no contemplando qualquer dado relacionado com a sua vida posterior. Casualidades da vida (com museus), a conversa de Lusa Black leva-nos at aquele que foi o tema principal do anterior boletim do ICOM Portugal: o trabalho em rede. Na verdade, o que seria dos projectos da Catarina Moura sem o olhar para a sociedade como um todo, diverso e evolutivo, que a leva a utilizar sabiamente as ferramentas museolgicas para lidar de forma construtiva com a diversidade? O que acontece quando construmos os processos educativos com os ingredientes que Mrio Antas trouxe at ns? De que forma podem os museus reforar-se culturalmente, reconstruir-se estrategicamente e reencontrar a sua essncia aprendendo a trabalhar na diversidade e na adversidade dos tempos que correm? O trabalho em rede a chave de qualquer processo cultural com vitalidade prpria, a chave que liga os nossos museus s nossas escolas, aos nossos bairros, (s) nossa(s) cultura(s), s nossas experincias de vida, ou aos nossos sonhos e frustraes. Eis a o grande desafio da educao quando ela ganha vida nos museus: ligar mundos ensinar a ver o mundo de uma outra perspectiva perceber melhor o mundo do(s) outro(s) No fundo, construir uma Europa capaz de perceber as vrias direces do verbo aprender. E vocs o que dizem a tudo isto? Obrigada por nos ajudarem a reflectir sobre coisas srias, Primavera

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 33 O Exerccio da Incerteza Histrias Partilhadas Para uma Europa Sem Linhas Divisrias: Seminrio Internacional do Conselho da Europa e do ICOM Portugal Ins Bettencourt da Cmara, Mapa das Ideias H conferncias e encontros profissionais em que vivemos para o coffee break e para o almoo. H outros que s servem para o exerccio da certeza. Em que reforamos as nossas convices acerca de ns e do mundo, pouco abertos contaminao, desconstruo e, acima de tudo, mudana. Para quem os frequenta, estes encontros so um exerccio de cidadania to comum que raramente pensamos no seu potencial. Na sua capacidade de colocar uma multido a pensar colectivamente sobre um tema. A discutir, a ouvir, a falar. A deixar de ser multido annima. A libertar-se voluntariamente do silncio. Porque ser que se perde tanto, tantas vezes, nestas ocasies? Porque ser que estas se transformam tantas vezes num ritual vazio? Em que os oradores falam porque esse o seu papel? Em que a plateia espera pelo coffee break ou pelo almoo para poder finalmente estar com os colegas e ter ento discusses apaixonadas que envolvem filhos, frias e de permeio o tema em agenda. Independentemente dos diferentes mecanismos de engenharia social que estruturam estes eventos workshops, discusses em pequenos grupos, elaborao de manifestos, testemunhos, relatores, co-criao artstica muitas vezes estes acabam mesmo por se esgotar na forma. E no obstante termos reservado o tempo, investido na viagem, o assunto esgota-se na coreografia do evento, que acaba por servir apenas para reforar convices e certezas, profissionais e pessoais.E depois, a verdade que o exerccio de ir ao encontro do outro hoje, muito fcil. Basta ir internet - mais ubqua de que gua potvel nos dias que correm - e assistir a um mundo de ideias e de experincias. Trocar ideias sobre um tema ou uma experincia torna-se, tambm, cada vez mais simples veja-se o trabalho dos grupos no Facebook dedicados a temas como Textos em Museus ou Sistemas de informao em Museus BAD, nos quais podemos assistir e participar em discusses de grande qualidade. Por isso mesmo, devemos agarrar com as duas mos a oportunidade de estarmos juntos, numa mesma sala, a ouvir as mesmas coisas. E estou convencida de que este deve ser Seminrio Histrias Partilhadas, Museu Nacional de Arqueologia, 25 a 26 de Maro de 2015 Mrio Antas

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 34 um exerccio bonito de cidadania, em que estejamos preparados para ser transformados, para trocar conceitos, ideias e experincias, para nos deixarmos abalar nas nossas certezas. O seminrio Histrias Partilhadas Para uma Europa sem Linhas Divisrias: Construindo Pontes Entre o Ensino Formal (escolas) e No Formal (museus) foi uma iniciativa do Conselho da Europa em parceria com o ICOM Portugal que decorreu no Museu Nacional de Arqueologia de 25 a 26 de Maro (cf. programa). Com a ambio de juntar professores e profissionais de museus e do patrimnio num mesmo frum, foi tambm o veculo de lanamento do livro em Portugal Shared Histories for a Europe Without Dividing Lines (2014), que explora o dilogo potencial entre o texto e a internet, criando conexes entre tpicos, pessoas e instituies. O dilogo entre o virtual e o grupo de trabalho foi transportado para um evento que se quis ntimo, estimulando o dilogo e a discusso. Voltando questo inicial porque vou a conferncias regresso ideia da interaco social, do prazer de discutir ideias e referncias com outras pessoas num ambiente de liberdade, em que as pessoas esto disponveis umas para as outras, e registo outra razo de peso: ali fao amigos, descubro pessoas inspiradoras de quem gosto e que entram e vo ficando na minha vida. E creio que este factor deveria mesmo ser integrado na organizao de um evento desta natureza. Devemos assumir os processos e as pessoas, criando ambientes que estimulem a troca de ideias, mas que tambm garantam que as nossas certezas saem abaladas, que ficamos emocionados com a clareza de uma ideia e que fazemos amigos, com o mesmo encanto com que nos enamoramos. O ritual pelo ritual, o encontro em funo da agenda, o tema da moda, so perigosos porque minam a raiz da ideia de frum, de partilha de conhecimento. E pensemos com muito cuidado nas motivaes de uma conferncia, nos ritmos e, no final do dia, no que queremos que as pessoas levem com elas aquilo que no encontram no Youtube ou no Vimeo, num live streaming, num bom artigo. Em suma, pensemos no evento de uma forma multidimensional o programa, as pessoas, a interaco, a comida, o espao tal como num bom projecto de mediao cultural. Devemos criar o contexto ideal para a construo do exerccio da incerteza, no reforando egos, no apresentando os mesmos casos j repetidos vezes sem conta, as mesmas ideias s pessoas do costume. Devemos estar l inteiros, percebendo que corpo, cabea e corao so um todo. Que no existe um exerccio intelectual sem discusso, sem um acto voluntrio de escutar o outro, criticamente. S na propaganda das certezas que existem salas cheias sem questes, repletas de gurus e multides.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 35 BREVES ADirecodoICOMPortugalreuniucomo Secretrio de Estado da Cultura AdirecodoICOMPortugalreuniucomo SecretriodeEstadodaCulturaa10de Dezembrode2014.Areuniotevecomo objectivodaraconhecerosnovoscorpos gerenteseotrabalhoqueoICOMPortugal desenvolve,assimcomotransmitirasprincipais preocupaescomrelaosituaoactualdo sectormuseolgico.Aprecariedadedos profissionaisdemuseus,afaltaderecursos humanosefinanceiros,asinmerasincertezas orgnicaseconsequenteinstabilidadeesentimentodeinseguranadosprofissionaisforam alguns dos temas abordados. Mais informaes: http://www.icom-portugal.org Assembleia-geral do ICOM Portugal Nopassadodia24deMarotevelugarnoPalciodaAjudaaassembleia-geralordinriado ICOM Portugal. Foi apresentado o relatrio de contas e oplano de actividades para 2015.Em 2015, o ICOM Portugal estar atento situao dos museus portugueses na conjuntura de crise profundaqueopasatravessae,especialmente,areorganizaodosectoractualmenteem cursonoseiodaPresidnciadoConselhodeMinistros/SecretriodeEstadodaCultura.Uma daslinhasfundamentaisdeintervenodoICOMPortugalcontinuaraseraorganizaode encontrostcnicosecientficossobretemasdeinteresseparaaactuaodosmuseus portuguesesedosseusprofissionais,procurandocontribuirparaareflexoecriaode conhecimento especializado. Mais informaes: http://www.icom-portugal.org/ Actualizaodosdadosdosmembrosdo ICOM Portugal O ICOM Portugal est a actualizar os dados dos seusmembrosparaumacomunicaomais eficaz.Paraoefeito,disponibiliza-sedois formulriosnowebsitedoICOMPortugal,um paramembrosindividuaiseooutropara membrosinstitucionais.Estaactualizaoir decorreratdia31deMaio.Solicita-sea todososmembrosaparticipaonesta campanha.Osformulriosestodisponveis em: http://www.icom-portugal.org.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 36 MuseusParaumaSociedadeSustentvelDia Internacional de Museus 2015 Umdosdesafioscontemporneosaadaptaoanovas formasdevivereaumdesenvolvimentoquerespeiteos limitesdanatureza.Estatransioparaumasociedade sustentvel requer a procura de novos mtodos de pensar e agir.Osmuseustambmdesempenhamumpapel fundamental, promovendo o desenvolvimento sustentvel e servindo como verdadeiros laboratrios para boas prticas. AcelebraoemtornodotemaMuseusParauma SociedadeSustentveltemcomoobjectivoprincipal desenvolver,atravsdosmuseus,umaconscinciageral paraasconsequnciasdaactuaohumanasobreomeio emquevivemoseoimpactoqueosactuaismodelos econmicosesociaisacarretamamdioelongoprazo. Poderoencontrarmaisinformaesem: http://icom.museum. JosGameironomeadopresidentedojridoprmio Museu Europeu do Ano JosGameirofoinomeadoemMaropeloFrumEuropeu dosMuseus(EMF)presidentedojridoprmioMuseu EuropeudoAno(EMYAEuropeanMuseumoftheYear Award)eprmioMuseuConselhodaEuropa,doisdosmais relevantesprmiosatribudosaosmuseuseuropeus.Jos GameirointegravaojridoEMYAdesde2011.director cientfico do Museu de Portimo e vogal da direco do ICOM Portugalparaotrinio20142017.Maisinformaesem: http://www.icom-portugal.org/

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 37 PUBLICAES Sugestes de leitura Nosendoumalistaexaustiva,sugerimosalgumasleiturassobreatemticaMuseus Para uma Sociedade Sustentvel. Cameron, Fiona, e Brett Nielson, eds. 2014. Climate Change and Museum Futures. London: Routledge. Chagas, Mrio, Denise Studart, e Claudia Storino, orgs. 2014. Museus, Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental. Rio de Janeiro: Espirgrafo Editorial e Associao Brasileira de Museologia. A publicao est parcialmente disponvel na plataforma ISSUU. No YouTube est acessvel uma mesa-redonda realizada no Brasil em 2014, sendo esta temtica apresentada por Mrio Chagas e Mrio Moutinho. Chamberlain, Gregory. 2011. Greener Museums: Sustainability, Society and Public Engagement. [England]: Museum Identity. Breve resumo em: http://www.museum-id.com Ferreira, Francisco Faria. 2013. Energias Renovveis e Novas Tecnologias: Sustentabilidade Energtica nos Museus. Tese de doutoramento em Museologia. Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias. http://hdl.handle.net/10437/4979 Madan, Rachel. 2009. Greener Museums: Tates Sustainability Strategy. Museum-Id 3: 5661. Mendes, Manuel Cardoso Furtado. 2011. O Uso de Energias Renovveis em Edifcios de Museus. Tese de doutoramento em Museologia. Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias. Disponvel na ntegra em: http://hdl.handle.net/10437/4982 Negri, Massimo Negri. 2012. Sustainability in Contemporary Museums. In Museums in an Age of Migrations: Questions, Challenges, Perspectives, editado por Luca Basso Peressu, e Clelia Pozzi, 121-130. Milano: Politecnico di Milano e MeLa-European Museums in an Age of Migrations. Disponvel em: http://www.mela-project.eu Ramos, Margarida Filipe. 2013. Bem Pblico - Valor Pblico, A Educao Para os Valores Ambientais no Museu da gua da EPAL. Lisboa: Editora Principia. O livro resulta da tese de mestrado com o mesmo ttulo, disponvel na ntegra no repositrio da Universidade de Lisboa: http://hdl.handle.net/10451/5937 **** O ICOM internacional compilou uma bibliografia dedicada ao tema museus e ambiente, que foi tema do Dia Internacional de Museus em 1992. Alm de um conjunto de referncias bibliogrficas inclui uma lista de websites ligados temtica. A bibliografia foi revista e actualizada em 2011 e pode ser consultada em: http://icom.museum.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 38 Links teis: The Happy Museum (Re-imagining museums for a changing world), Reino Unido O projecto The Happy Museum foi criado em 2011 no Reino Unido e desenvolve actividades no mbito de uma abordagem holstica em torno da sustentabilidade e do bem-estar. As mudanas climticas e as questes ambientais so uma das preocupaes do projecto. Museo, Go Green (museos + sostenibilidad + creative thinking), Espanha Website da espanhola Sara Manzanares Rubio, que escreve sobre o tema da sustentabilidade e da participao em museus. Desde 2012. Sustainability Campaign (Museums Association, Reino Unido) Nos ltimos anos, a Associao de Museus Inglesa tem desenvolvido uma campanha no sentido de tornar os museus mais sustentveis do ponto de vista ambiental. No website da associao esto disponveis vrios recursos teis: artigos, relatrios, estudos de caso, bibliografia, etc. Greener Museums Greener Museums (2008) uma empresa especializada na promoo da sustentabilidade nos museus e no sector cultural em geral. O website apresenta textos de opinio e alguns recursos em acesso livre. Destacam-se trs documentos: The State of Sustainable Museums; Greener Museums Leadership and Development Programme Case Studies (18 estudos de caso) e Greener Museums Organisational Sustainability Assessment. Fundao Serralves (Poltica Ambiental), Porto Nos ltimos anos a Fundao Serralves tem vindo a desenvolver prticas com vista ao melhoramento da sua performance ambiental, nomeadamente ao nvel da utilizao dos recursos, da preveno da poluio e do controlo dos impactes ambientais da sua actividade. Rapport de Dveloppement Durable (Muse du Quai Branly, Paris) Este relatrio (2011) traduz o compromisso estratgico do Muse du Quai Branly com relao proteco do ambiente, desenvolvimento social e econmico. Sustainable Development for National Museums Liverpool (Reino Unido) Os museus de Liverpool tm uma poltica activa para o desenvolvimento de prticas sustentveis. A poltica para sustentabilidade (ambiental, social, econmica) adoptada pretende ser aplicada de forma transversal nos vrios sectores museolgicos. Museo del Scienze de Trento, Itlia As preocupaes com a sustentabilidade ambiental fizeram parte dos princpios que nortearam a concepo do edifcio do Museu de Cincia de Trento (abriu ao pblico em 2013), patente na escolha dos materiais de construo, no recurso a fontes renovveis e na implementao de sistemas eficientes do ponto de vista energtico. A acessibilidade ao edifcio foi outro dos aspectos equacionados neste contexto.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 39 Novas edies MaijaEkosaari,SariJantunen,eLeenaPaaskoski. 2014.AChecklistforMuseumCollections ManagementPolicy. Edio da Associao Finlandesa de Museus. 26 pginas. Disponvel online. Trata-sedeumbrevemanualprticoqueresumeos aspectosateremcontanapreparaodeuma polticadegestodecoleces.Foidesenvolvidono mbito do projecto SAKU (20112013) com o apoio do MinistriofinlandsparaaEducaoeparaa Cultura.Asuaelaboraobaseou-seempolticasde gesto de coleces em museusno mbito da arte e da histria na Finlndia. PierreTanguayetal.2014.A InterculturalToolforMuseums.37 pginas. Disponvel online. A Intercultural Tool for Museums uma grelhaanalticaconcebidaparaajudar investigadoreseprofissionaisdosector dopatrimnioedosmuseusaplanear estratgias com o objectivo de envolver diferentescomunidadesvisandoo dilogo intercultural em diferentes domnios de actuao (coleces, exposies, educao,planeamentoestratgico,competncias,governana).Foicriadapor investigadores da Universidade do Quebeque (Montreal, Canad) e da Universidade deAnturpia(Blgica),inspirando-senoprogramadecidadesinterculturaisdo Conselho da Europa. Esta ferramenta o resultado de um estudo comparativo de quatro museus de cidade em trs pases (Canad, Blgica e Holanda) que analisou a sua performance no mbito da promoo do dilogo intercultural. A grelha pode serusadaparaqualquertipodemuseuquepretendadesenvolverprojectoscom diferentes comunidades.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 40 Revista MIDAS 04. Disponvel online. A revista MIDAS Museus e Estudos Interdisciplinares acabadepublicaroseu4.nmero.Almdeuma secoparatemticasdiversas(Varia)edeum espaopararecensescrticas,estenmeroinclui umdossierespecialmentededicadorelaodos museus com a urbanidade. A MIDAS uma revista dedicada aos museus enquanto campodetrabalhoereflexointerdisciplinar,com arbitragem cientfica, semestral e em acesso aberto. DavidFelismino.2014.Saberes,NaturezaePoder: Colees Cientficas da Antiga Casa Real Portuguesa. EdiodoMuseuNacionaldeHistriaNaturaleda Cincia da Universidade de Lisboa. 79 pginas. Olivroapresentapartedopatrimniocientficoe histricoquepertenceuantigaCasaReal Portuguesa que os Museus da Universidade de Lisboa (MUHNAC) preservam. Estes objectos, do sc. XVI ao XX,encontram-seagorareunidosnestapublicao. DavidFelismino,autordolivro,desenvolve investigao no MUHNAC desde 2011, com uma bolsa da Fundao para a Cincia e Tecnologia.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 41 EmmaNardieCinziaAneglli,eds.2014.BestPratice 3:ATooltoImproveMuseumEducation Internationally. Edio do CECA (Comit Internacional paraaEducaoeAcoCultural).266pginas. Disponvel online. Trata-sedo3.livroqueoCECApublicasobreboas prticas no mbito da educao em museus. Rene um conjuntodeprojectosemmuseusdediferentes escalas,comenfoqueparadiferentestemticase perfil de pblicos distintos. O livro pretende potenciar a discusso e a partilha entre profissionais. Shared Histories for a Europe without Dividing Lines. 2014.EdiodoConselhodaEuropa,Bruxelas.901 pginas. Disponvel online. Esteebookinteractivo,produzidopeloConselhoda Europa, o resultado de um projecto de cinco anos. Sobrehistriaeuropeia,apublicaocontm materiaisparaseremusadosemescolas,sendo especialmentedirigidoaprofessores.Temporbase valores como a diversidade cultural, a coeso social, a responsabilidade social e o respeito pela diferena.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 42 TineSeligmann,ed.2014.PracticeManual: CollaborativePartnershipsBetweenMuseums, TeacherTrainingCollegesandSchools.Learning Museum(20112013).EdiodoMuseumof ContemporaryArt,Roskilde,Dinamarca.163 pginas. Disponvel online. Apublicaoresultadeumprojectoquepromoveu acolaboraoentreprofessoresemuseus.Atravs dodesenvolvimentodeexperinciasconjuntas, pretendia-sequeosestudantesbeneficiassemda aprendizagemdaarteedahistriaemcontexto museolgico. EdiesdoInstitutoBrasileirodeMuseus(IBRAM). Disponveis online. OInstitutoBrasileirodeMuseuspublicounofinalde 2014trspublicaesemformatodigitalque destacamos:MuseuseTurismo-Estratgiasde Cooperao;EncontroscomoFuturo;eOsMuseuse a Dimenso Econmica: Da Cadeia Produtiva Gesto Sustentvel.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 43 EnrichingBritain:Culture,CreativityandGrowth: The 2015 Report by the Warwick Commission on the FutureofCulturalValue.2015.Edioda UniversityofWarwick,Coventry,ReinoUnido.73 pginas. Disponvel online. Uma das principais concluses do relatrio britnico sublinha a importncia de implementarabordagens quegarantamaigualdadenoacessocultura, educaoeaumavidacriativa.Notenoughis beingdonetostimulateorrealisethecreative potentialofindividuals,ortomaximisetheir cultural and economic value to society (p. 9). Culture at Kings Step by Step: Arts Policy and Young People19442014.2015.EdiodoKingsCollege London, Reino Unido. 26 pginas. Disponvel online. RelatriodoKing'sCollegeLondonsobreaspolticas culturaiseosjovensnoReinoUnidonosltimos70 anos. The report was inspired by a pair of speeches inJune2014.One,fromculturesecretarySajid Javid,calledforartsorganisationstodomoreto increaseaccess,especiallyforyoungpeople.The second,viashadowculturesecretaryHarriet Harman,launchedaLabourpartyconsultationon young people and the arts.

BOLETIM Srie III Maio 2015 N. 3 44 AGENDA Conferncias, encontros, debates (Nacional) A Representao da Informao e os Sistemas de Organizao do Conhecimento nos Museus | 8 de Maio Org. Associao Portuguesa de Bibliotecrios, Arquivistas e Documentalistas (BAD) | Biblioteca Nacional, Lisboa Seminrio promovido no mbito das actividades do Grupo de Trabalho da BAD de Sistemas de Informao em Museus. Este seminrio tem por objectivo conhecer e compreender as caractersticas e o funcionamento dos sistemas de organizao do conhecimento na representao, pesquisa e recuperao da informao ligada ao patrimnio cultural. As oradoras so Natlia Jorge e Filipa Medeiros. Mais informaes em: http://www.apbad.pt/Formacao/formacao_seminarios.htm Modelos de Gesto Para a Acessibilidade: O Que Preciso? | 21 de Maio Org. Acesso Cultura | Em Lisboa: Museu de Lisboa Palcio Pimenta (antigo Museu da Cidade); em Portimo: Museu de Portimo; e no Porto: Biblioteca Municipal Almeida Garrett.A Acesso Cultura organiza todos os meses um debate para, como profissionais do sector cultural ou simplesmente pessoas interessadas, podermos reflectir em conjunto sobre questes ligadas acessibilidade fsica, social e intelectual que tm um impacto no nosso trabalho e na nossa relao com pessoas com variados perfis. A entrada livre. Mais informaes em: http://acessocultura.org/encontros/debates/ Apresentao do Comit Internacional de Documentao do ICOM (CIDOC) | 22 de Maio Org. ICOM Portugal | Museu de Lisboa