boletim educacional - ndi.org · boletim educacional edição n.º 02 * abril e maio de 2011 * ano...

12
B OLETIM E DUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”. Todas as terças-feiras 10:30 - 11:00 na Rádio Ecclésia NOTA EDITORIAL C aro cidadão, bem-vindo à segunda edição do boletim Cidadania, produzido pelo Instituto Democrático para Assuntos Internacionais (NDI)com o apoio da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Na edição anterior falámos da importância de participar nos assuntos públicos e contribuir com soluções para o desenvolvimento da sua comunidade, através da interacção ou diálogo com as autoridades locais e nacionais. Adicionalmente, falámos do papel da Assembleia Nacional e dos Deputados como representantes dos interesses do povo e da importância de conhecer o Orçamento Geral do Estado e compreender como se aplica à satisfação das nossas necessidades. Nesta segunda edição do boletim Cidadania vamos abordar questões relacionadas com o Acesso à Justiça e o papel da Lei na vida dos cidadãos. Vamos também focar-nos no papel dos Tribunais e de outras instituições do Estado, na defesa dos direitos dos cidadãos. A Constituição de Angola estabelece o acesso à justiça como direito fundamental (artigo 29º) de todos os angolanos. Para ter acesso à justiça o cidadão deve conhecer as instituições do Estado encarregues de proteger e defender os seus direitos e interesses, como funciona o sistema de justiça e como pode recorrer ao poder judicial quando os seus direitos são violados. NOTA: A Justiça é representada por uma deusa da mitologia grega chamada Themis, filha de Urano (o Céu) e de Gaia (a Terra). Ela exibe uma espada na mão direita, uma balança na mão esquerda e uma venda nos olhos. A Espada simboliza a força, coragem, ordem, regra e a força de suas deliberações. A Balança, com que equilibra a razão com o julgamento, simboliza o equilíbrio, a ponderação, a igualdade das decisões aplicadas pela lei. Os Olhos Vendados simbolizam imparcialidade e objectividade nas decisões, não vendo diferenças entre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Por isso quando se diz que "a justiça é cega" significa que todos são iguais perante a lei. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Cidadania e o acesso à Justiça Cidadania e o Acesso à Justiça

Upload: phamcong

Post on 06-Oct-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

BOLETIM EDUCACIONAL

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”. Todas as terças-feiras 10:30 - 11:00 na Rádio Ecclésia

NOTA EDITORIAL

Caro cidadão, bem-vindo à segunda ediçãodo boletim Cidadania, produzido peloInstituto Democrático para Assuntos

Internacionais (NDI)com o apoio da AgênciaAmericana para o Desenvolvimento Internacional(USAID). Na edição anterior falámos daimportância de participar nos assuntos públicose contribuir com soluções para odesenvolvimento da sua comunidade, através dainteracção ou diálogo com as autoridades locaise nacionais. Adicionalmente, falámos do papel

da Assembleia Nacional e dos Deputados comorepresentantes dos interesses do povo e daimportância de conhecer o Orçamento Geral doEstado e compreender como se aplica àsatisfação das nossas necessidades. Nestasegunda edição do boletim Cidadania vamosabordar questões relacionadas com o Acesso àJustiça e o papel da Lei na vida dos cidadãos.Vamos também focar-nos no papel dos Tribunaise de outras instituições do Estado, na defesa dosdireitos dos cidadãos.

A Constituição de Angola estabelece oacesso à justiça como direito fundamental(artigo 29º) de todos os angolanos. Para

ter acesso à justiça o cidadão deve conhecer asinstituições do Estado encarregues de protegere defender os seus direitos e interesses, comofunciona o sistema de justiça e como poderecorrer ao poder judicial quando os seus direitossão violados.

NOTA: A Justiça é representada por uma deusa damitologia grega chamada Themis, filha de Urano (oCéu) e de Gaia (a Terra). Ela exibe uma espada namão direita, uma balança na mão esquerda e umavenda nos olhos. A Espada simboliza a força,coragem, ordem, regra e a força de suasdeliberações. A Balança, com que equilibra a razãocom o julgamento, simboliza o equilíbrio, aponderação, a igualdade das decisões aplicadas pelalei. Os Olhos Vendados simbolizam imparcialidadee objectividade nas decisões, não vendo diferençasentre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres,poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Porisso quando se diz que "a justiça é cega" significaque todos são iguais perante a lei.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Cidadania e o acesso à JustiçaCidadania e o Acesso à Justiça

Page 2: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

2

O Cidadão e a LeiO que é a lei?As pessoas quando vivem em grupo criam regras enormas próprias desse grupo, para cada um saberque direitos tem dentro do grupo e que deveres temque cumprir. Cada família, cada comunidade, temas suas regras próprias que ajudam a orientar edisciplinar o comportamento dos seus membros eque jogam um papel fundamental para um grupoviver em harmonia e caso haja problemas, para osresolver.

A lei é, portanto, o conjunto de normas ou regrasque têm como objectivo regular as relações entreos indivíduos em sociedade, bem como as suasrelações com o Estado tendo como objectivo a Paze a Harmonia Social. Para obrigar ao cumprimentodestas leis, o Estado usa um sistema de tribunaisapoiado pelo poder da polícia.

A lei fundamental da República de Angola é por vezeschamada Lei-Mãe, ou a mãe de todas as leis, porquetodas as outras leis têm que a respeitar. AConstituição estabelece em linhas gerais os direitose deveres dos indivíduos e como está organizado oEstado, e as restantes leis descrevem com maiordetalhe como os direitos e deveres dos cidadãosdevem ser aplicados e como os organismos de Estadofuncionam e estão estruturados.

Para que serve a lei?A lei serve para definir os comportamentos aceitáveise inaceitáveis no seio da comunidade, de forma agarantir uma vivência harmoniosa e pacífica entreos seus membros. O Artigo 2.º da Constituição dizque Angola é um estado de direito o que significaque os direitos fundamentais dos indivíduos estãoprotegidos por leis e que, nenhum indivíduo, sejapresidente ou cidadão comum, está acima da lei.Nos estados de direito democráticos, os governosexercem a sua autoridade por meio da lei e elespróprios estão sujeitos à força da lei, de forma aevitar abuso do poder e injustiças que violem osdireitos dos cidadãos.

De onde vem a lei?As leis podem ser escritas ou orais. As sociedadesmodernas têm leis escritas, elaboradas porestudiosos e conhecedores das matérias em questão,discutidas e aprovadas por representantes do povo(pelos Deputados e, em alguns casos, pelo Presidenteda República, quando autorizado pela AssembleiaNacional) e aplicadas por órgãos competentes(polícia, tribunais, etc.). Porém, existem também leistradicionais ou costumeiras, baseadas nos costumese tradições de um grupo ou comunidade, que foramtransmitidas oralmente de geração em geração. Paramuitas pessoas, os costumes, tradições e rituaistêm mais valor que as leis escritas, no entanto, éimportante recordar que o costume não podecontradizer a Constituição da República de Angolanem ferir os direitos fundamentais dos cidadãos(como o direito à vida, à integridade pessoal, àfamília, à igualdade entre homens e mulheres). Comodiz a Constituição "é reconhecida a validade e aforça jurídica do costume que não seja contrário àConstituição nem atente contra a dignidade dapessoa humana" (artigo 7º).

Tipos de leisEm Angola existem leis e decretos legislativospresidenciais. As leis são aprovadas pela AssembleiaNacional e os decretos legislativos são feitos peloPresidente da República. É a constituição que definequais sãos as matérias ou assuntos que são dacompetência da Assembleia ou do Presidente (artigo125º e 166º). Para além das leis e decretos existemmuitas outras regras que temos de obedecer quesurgem destas leis (regulamentos, resoluções,despachos, directivas, etc.) e todas elas têm queser aprovadas pela Assembleia Nacional ou peloPresidente da República . O Presidente da Repúblicaporém, precisa da autorização da Assembleia paraaprovar decretos relacionado à composição eorganização dos órgãos de apoio à Presidência oupara aprovar regulamentos para a boa execução dasleis em vigor.

Quem garante o cumprimento da lei?A Constituição da República de Angola diz "OsTribunais são o órgão de soberania comcompetência de administrar a justiça em nomedo povo" (artigo 174º). São os tribunais queestabelecem as penalidades para as acções queviolem a lei e decidem sobre situações de conflito,de acordo com o que a lei estabelece. Enquanto oPoder Legislativo (Assembleia Nacional) éresponsável por elaborar as leis e o Poder Executivo(Presidente da República) pela sua execução, o PoderJudicial (Tribunais) é responsável por julgar osconflitos, baseando-se nas leis em vigor.

A função dos tribunais é aplicar as Leis,determinando quem tem razão numa disputa oulitígio e se uma pessoa ou entidade deve ser punidapor infracção à Lei.

Page 3: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Cidadania Boletim Educacional

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I 3

O Papel das Instituições do Estado naDefesa dos Direitos dos Cidadãos

OS TRIBUNAISOs tribunais são o órgão de soberania comcompetência para administrar a justiça em nome dopovo. É nos tribunais que os cidadãos, vendo osseus direitos violados, podem exigir que essesdireitos se tornem efectivos e que sejam reparadosos danos resultantes de uma violação. Os tribunaistêm o dever de defender os direitos e interessesprotegidos por lei, corrigir a violação da legalidade edecidir sobre os conflitos de interesses públicos eprivados. Neste sentido, os tribunais sãoresponsáveis por proteger os interesses dos cidadãose das instituições do Estado.

O poder judicial, ou o poder dos tribunais, é exercidopor Juízes, que julgam casos e tomam decisõesexclusivamente de acordo com a Constituição e as

leis e não devem ficar sujeitos a interferências deoutros poderes ou a quaisquer ordens ou instruções.No estado de direito, um sistema de tribunaisfortes e independentes deve ter a autoridade, osrecursos e o decoro para responsabilizar membrosdo governo e altos funcionários perante as leis eos regulamentos da nação. Por esta razão, os juízesdevem ter uma formação sólida, ser profissionais eindependentes. Para cumprirem este papel, os juízestêm que ser imparciais e aceitar julgar todos os casosmeritórios (excepto quando há uma situação deincompatibilidade, por exemplo se a pessoa a serjulgada é família).As decisões dos tribunais são de cumprimentoobrigatório para todas as entidades públicas eprivadas e prevalecem sobre as de quaisquer outrasautoridades (artigo 177º da Constituição).

O Estado garante a protecção dos direitos dos cidadãos de acordo com a Constituição de Angola. A Constituição diz que "o Estado reconhece como invioláveis osdireitos e liberdades fundamentais consagrados na Constituição e cria condições políticas,

económicas, sociais, culturais, de paz e estabilidade que garantam a sua efectivação e protecção"(artigo 56º). Esta protecção é exercida através de várias instituições tais como os Tribunais - quesão um dos três poderes do Estado (os outros são o Presidente e a Assembleia Nacional) - bemcomo a Procuradoria Geral da República, a Polícia, a Provedoria de Justiça, os Advogadose outras organizações que ajudam a proteger os direitos dos cidadãos.

Page 4: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

4

O Tribunal Supremo é o órgão máximo dostribunais comuns. Ele está no topo dahierarquia dos tribunais judiciais e toma a

última decisão no julgamento de casos quando ocidadão, ou o Ministério Público, solicita por via derecurso a reapreciação da sentença emitida peloTribunal Provincial ou Municipal. O Tribunal tem asua sede na capital do país, Luanda, e exerce a suajurisdição (aplica o direito) em todo o territórionacional. Por sua vez, os Tribunais Provinciaisactuam nos casos das respectivas províncias e osTribunais Municipais, actuam nos respectivosMunicípios. Assim, a organização judicial angolanatem a seguinte estrutura:

Em Angola existem 19 Tribunais Provinciais, um paracada província, à excepção da província de Benguelaque tem dois tribunais provinciais, porque, o tribunaldo município do Lobito tem competência para julgarcasos de um Tribunal Provincial.

O Tribunal Supremo está organizado em Câmaras eos Tribunais Provinciais em Salas. Cada Câmara ouSala trata de uma área específica de matérias e temcompetência de resolver os conflitos de todos aquelesque sintam os seus direitos violados. No TribunalSupremo temos a Câmara de Crimes Comuns, aCâmara do Cível e Administrativo, a CâmaraTrabalho, a Câmara de Família e a CâmaraAduaneira. Nos tribunais provinciais temos a Sala

T R I B U N A L S U P R E M O

T R I B U N A I S P R O V I N C I A I S

T R I B U N A I S M U N I C I P A I S

dos Crimes Comuns, a Sala do Cível e Administrativo,a Sala de Trabalho, a Sala de Família e a SalaAduaneira.

A parte mais visível dos tribunais é a Sala dos CrimesComuns que julga os actos considerados crimes pelaLei Penal para assegurar que haja reparação justados danos causados a um cidadão por outrem oupelo Estado.

A Justiça só age se for provocada e é por isso quese diz que o cidadão "A" está a mover uma acçãocontra o cidadão "B" ou que o cidadão "A" accionoua "Justiça" e os casos são tratados nas Salas daFamília ou do Trabalho ou do Cível e Administrativodependendo do assunto em causa. Para além docidadão, também o Mionistério Público podeencaminhar casos para a Sala de Crimes Comuns.

Por exemplo se o Sr. Abel empresta dinheiro ao Sr.Manuel que se recusa a devolver o dinheiro na dataacordada o ofendido, que é o Sr. Abel, pode fazeruma queixa ao tribunal na Sala do Cível. No casode o Sr. Abel considerar que uma instituição públicaatravés de um acto administrativo violou o seu direito,o Sr. Abel encaminha a sua queixa à Sala doAdministrativo. Se a disputa é entre cônjuges sobrea guarda dos seus filhos em caso de divórcio, a queixaé apresentada na Sala da Família. Se a disputa forentre um trabalhador e o seu patrão, por exemplo otrabalhador considera que foi despedidoinjustamente, o caso é tratado na Sala do Trabalho.Dependendo do caso, o tribunal irá decidir comopunir os culpados, seja através de castigoseconómicos (pagamento de multas) ou castigosrelacionados com a perda ou restrição da liberdade(prisão).

Tribunais Judiciais

Na República de Angola existem os seguintes tribunais:Tribunal Constitucional É o tribunal que fiscaliza a constitucionalidade das leis aplicáveis

aos casos julgados em tribunal e verifica a constitucionalidade detodos os actos normativos do Estado, titulares dos órgãos desoberania e seus agentes.

Tribunal de Contas É o tribunal que Fiscaliza a legalidade das finanças públicas,verifica se os gastos públicos estão a ser utilizados de uma formaeficiente e efectiva e controla as contas do Estado.

Supremo Tribunal Militar É o órgão superior dos tribunais militares, encarregado dojulgamento de crimes militares.

Tribunais Judiciais(Tribunal Supremo,Tribunais Provinciais eMunicipais)

São os tribunais que tratam de matérias civis e criminais e exercemfunções em todas as áreas que não são atribuídas aos outrostribunais.

Page 5: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Cidadania Boletim Educacional

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Como solicitar que o tribunal tomeuma acção quanto ao seu caso?

Todos os cidadãos que virem os seus direitosviolados, podem requerer, ou pedir, aoTribunal uma solução para reparar o dano

sofrido. O Tribunal não pode negar fazer Justiçamesmo se a pessoa não tiver meios financeiros(artigo 29 da Constituição). Mas, os tribunais nãojulgam somente crimes, ou seja, nem todas asviolações dos direitos são crimes, tal como definidospelo Código Penal, quegeralmente resultam naprivação de liberdade, ou sejaprisão.

Há também aquelas práticasque embora não sejamcriminosas violam os nossosdireitos e causam danos. Por exemplo se um vizinhoconstrói uma parede no terreno do outro ou um cãodoméstico está à solta e entra em casa alheia emorde uma criança, não se trata de crime, mas comohouve danos, há uma obrigação de reparar o danoque uma pessoa causou a outra. Nestas situaçõesestamos a tratar de RESPONSABILIDADE CIVIL.Os danos são reparados através de indemnização -que significa repor as coisas na situação queestariam se não houvesse o referido dano, nestecaso, demolir o muro no terreno alheio e pagartratamento pelos ferimentos causados pelo cão.

Em todos os casos, as pessoas podem recorrer aosTribunais e não devem fazer justiça com aspróprias mãos. As pessoas podem ir directamenteaos Tribunais solicitando a sua intervenção para areparação dos danos sofridos. Mas, por uma questãode instrução preparatória, é aconselhável começarpor participar na esquadra de polícia mais próximade casa, para que o procurador junto desta esquadra

comece por trabalhar noprocesso.

Numa fase inicial a Polícia e oprocurador tentarão que aspartes cheguem a um acordo e,se isto não for possível, o cidadãopode escrever para o Juiz da

Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincialpara pedir que intervenha. Dada a complexidadena forma de apresentar o caso ao Juiz, éaconselhável o cidadão solicitar apoio a um advogadoou a alguém que conheça bem a lei.

Para os conflitos laborais o cidadão lesado escrevedirectamente ao Procurador Provincial junto da Salade Trabalho do Tribunal Provincial e não é necessárioir à polícia, visto que a polícia não trata de questõeslaborais.

Dada a complexidade na forma deapresentar o caso ao Juiz, é

aconselhável o cidadão solicitarapoio a um advogado ou a alguém

que conheça bem a lei

5Salas Especializadas dos Tribunais para onde os

cidadãos encaminham as suas queixas:

Para crimes o cidadão não recorre a esta sala a título pessoal pois os casos criminais são enviados pelasinstituições do Estado tal como a Polícia e o Ministério Público.

C ív e l eA d m in is t ra t iv o

D is p u t a s e n t r e c id a d ã o s e fu n c io n á r io s p ú b l ic o s o u a g e n t e sa d m in is t ra t iv o s ( s e rv iç o s m a l p r e s t a d o s )

C o n f l it o s e n tr e c id a d ã o s e in s t i tu iç õ e s p r iv a d a s re la c io n a d o s c o mb e n s o u p r o p r ie d a d e ( c o m p ra d e u m p ro d u to q u e n ã o fo i e n t r e g u e o ut e m d e fe i t o , s e rv iç o s m a l p re s ta d o s )

D is p u t a s e n t r e d o is c id a d ã o s ( d e v o lu ç ã o d e e m p ré s t im o s ,in d e m n iz a ç ã o )

F a m íl ia D is p u t a s fa m i l ia r e s c o m o c a s a m e n to , d iv ó r c io , g u a rd a e a d o p ç ã o d ef i lh o s , h e ra n ç a e t c .

T ra b a lh o D is p u t a s e n t r e t r a b a lh a d o r e E n t id a d e P a t ro n a l ( d e s p e d im e n t o s ,r e s c is õ e s / f in s d e c o n tr a c to , e t c . )

Q u e s t õ e s M a r ít im a s D a n o s c a u s a d o s o u s o f r id o s p o r n a v io s , p e s c a i le g a l, p o lu iç ã om a r í t im a

M e n o re s A s s u n to s re la c io n a d o s c o m c r ia n ç a s e a d o le s c e n t e s e m s i tu a ç ã o d ep e r ig o s o c ia l o u p r é - d e lin q u ê n c ia

C r im e s C o m u n s C a s o s q u e e n v o lv e m c r i m e s d o lo s o s ( in t e n c io n a is ) c o n tr a a v id a ,c o m o , p o r e x e m p lo , m a t a r o u t e n t a r m a t a r a lg u é m , fu r to s ea g r e s s õ e s f ís ic a s .

Page 6: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

6

Lidar com os Tribunais: Todo o cidadão cujosdireitos forem violados pode dirigir-se aostribunais quando não encontrou a solução

adequada seja por parte de um cidadão ou por partede uma entidade pública.

O que fazer se uma instituição pública violar osseu direito?No caso de processos de natureza administrativa ocidadão tem que obrigatoriamente contactar umadvogado de acordo com o decreto-lei 4-A/96. Sãoprocessos de natureza administrativa aqueles que

envolvam os institutos públicos, as empresaspúblicas, as administrações municipais oucomunais, os ministérios, os governos provinciais,ou qualquer outra instituição pública.

Quem tem o direito de ir a tribunal se umainstituição pública violar o seu direito?De acordo com artigo 3º do decreto-lei 4-A/96 ocidadão pode instaurar um processo em tribunal se:Tiver um direito que foi, ou que possa vir a ser, afectado por um acto de uma entidade pública;For parte de um contrato administrativo;

A Procuradoria Geral da República é arepresentação física do Ministério Públicoe é uma instituição independente que não

pertence nem ao Poder Judicial, nem ao PoderExecutivo (apesar de se chamar ministério, não setrata de um organismo governamental). A principalfunção do Ministério Público é representar oEstado junto dos Tribunais bem como promoveros interesses colectivos dos cidadãos como umtodo, ou seja ele actua em todos os casos que sejamde interesse público, tais como, a protecção dascrianças e adolescentes, protecção do meioambiente, protecção dos direitos dos consumidoresem geral. Assim, podemos dizer que o Ministériopúblico actua sempre que existir uma situação queafecta negativamente a comunidade, ou grande partedela, nos chamados "interesses colectivos oudifusos" (artigo 186º da Constituição). Portanto oMinistério público não actua nos casos individuaisdos cidadãos (excepto tratando-se de menores deidade) mas apenas quando a situação atinge o bemestar e interesses do público em geral.O Ministério Público é composto pela ProcuradoriaGeral da República, representada pelo procuradorGeral da República, Vice-Procuradores Gerais,Procuradores Provinciais, Procuradores Municipaise Procuradores Adjuntos.

A Provedoria de Justiça é um órgãoindependente, que é presidido pelo Provedor eleitopela Assembleia Nacional, que tem como função adefesa dos direitos e liberdades dos cidadãos queforem violados por órgãos ou agentes daadministração pública. O cidadão pode dirigir umaqueixa à Provedoria (escrita em papel normal) ondeexplica a situação, dá os seus dados pessoaisincluindo o seu contacto e endereço. A Provedoriaaprecia a queixa e faz recomendações aos órgãoscompetentes para prevenir e remediar as injustiças.Anualmente, a Provedoria remete um relatório àAssembleia Nacional e demais órgãos de soberaniacom as queixas recebidas e respectivas

recomendações.

A Polícia Nacional é um órgão de segurançapública que responde hierarquicamente aoMinistério do Interior cujas principais funções sãodefender a legalidade, manter a ordem e atranquilidade pública, respeitar o regular exercíciodos direitos fundamentais dos cidadãos, prevenira delinquência e combater a criminalidade (artigo1º do Estatuto Orgânico da Polícia Nacional). Comos seus mais diversos ramos - Trânsito, OrdemPública, Investigação Criminal e Bombeiros - é uminstrumento importante na administração da justiça.

A Ordem dos Advogados de Angola (OAA) éuma associação pública dos profissionais licenciadosem Direito. A OAA é independente dos órgãos deEstado e tem como função, para além da regulaçãoda actividade dos advogados, colaborar naadministração da Justiça, defender o Estado dedireito e defender os direitos e liberdadesfundamentais, dos cidadãos.

Em Angola, como na maioria dos países, só osadvogados inscritos na Ordem podem praticar aprofissão de advocacia, por outras palavras, só éadvogado quem estiver inscrito na Ordem dosAdvogados de Angola.

Chama-se patrocínio judiciário o acto em que umprofissional dotado de conhecimentos jurídicos(advogado), acompanha um processo judicial(desde a esquadra da polícia ao tribunal) para ajudaruma pessoa a resolver um problema diante de umtribunal. Normalmente o patrocínio judiciário épago pelas pessoas beneficiárias, mas a pessoa quenão consegue pagar porque não tem capacidadefinanceira, tem direito à assistência judiciáriagratuita que é regulada pela Lei 15/95. A pessoaterá que provar a sua incapacidade de pagar ascustas do processo judicial, solicitando um atestadode pobreza que é dado pelo governo provincial oupela administração comunal ou municipal.

Outras Instituições que defendem e protegem os direitos dos cidadãos

Como ter acesso à justiça e proteger os nossos direitos

Page 7: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Cidadania Boletim Educacional

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I 7

Habeas CorpusO Habeas Corpus é uma garantia constitucionaldestinada a proteger e garantir a liberdade de quemestá preso ou é ameaçado de prisão, tendo comoobjectivo interromper ou impedir o constrangimentoda liberdade de locomoção, ou circulação, do cidadão.

O Habeas Corpus é um instrumento acessível atodos os cidadãos e pode ser solicitado porqualquer pessoa, assistida ou não por umadvogado. O fundamento está na necessidade delevar ao conhecimento do Juiz todo o caso de violaçãoou ameaça ao direito de liberdade de circulação,sempre que uma autoridade pública ou privada actuede forma ilegal ou abusiva no exercício das suasfunções.

De acordo com o Códigodo Processo Penal umadetenção é consideradailegal quando:

São ultrapassados osprazos para apresentar ocidadão detido ao tribunal(tratando-se neste caso de excesso de prisãopreventiva). Os prazos da prisão preventiva variamentre 30, 45 ou 90 dias de acordo com o crime doqual o cidadão é acusado;

O cidadão é detido numa prisão sem ordem doJuiz. A Polícia pode deter um indivíduo numaesquadra mas nunca enviá-lo para a prisão sem oindivíduo ser apresentado em tribunal e o Juizconfirmar a detenção;

Não são apresentadas ao Ministério Público provaspara formação da acusação.

Por exemplo, a Polícia faz uma rusga a um bairro eprende um cidadão que se encontra próximo deoutros indivíduos procurados pela Polícia. Se ocidadão for preso sem estar a cometer um delito e aPolícia não tiver nenhum mandato ou processocontra ele, o cidadão ou algum familiar ou amigo,pode escrever um requerimento (ou pedido) aoTribunal Supremo, explicando os acontecimentos epedindo a concessão de Habeas Corpus. Seconcedido pelo Tribunal, o cidadão é libertado.

Como funciona o processo de Habeas Corpus?O cidadão detido ou qualquer outra pessoainteressada na sua liberdade apresenta umrequerimento ao Presidente do Tribunal Supremo.O requerimento deve conter a identificação docidadão detido, a entidade que o prendeu ou mandouprender, a data da captura, o local da prisão, osmotivos apresentados para a detenção e a razão pelaqual o cidadão pensa que a detenção é ilegal.

Após recepção do requerimento, o Juiz Presidentedo Tribunal Supremo envia uma cópia à entidaderesponsável pela prisão que tem a obrigação deremeter ao Tribunal a cópia da ordem de prisão einformar sobre as razões da detenção. Analisado ocaso, o Juiz pode decidir o seguinte:

a) Indeferir (recusar) opedido por falta defundamento;b) Mandar colocarimediatamente o preso àordem do SupremoTribunal na cadeia poreste indicada e nomear

um magistrado judicial para proceder a inquérito,no prazo que for fixado, sobre as condições delegitimidade da prisão;c) Mandar apresentar o preso, no mais breve prazo,ao tribunal competente para o julgar;d) Declarar ilegal a prisão e ordenar a imediatalibertação do recluso.

O que fazer se o pedido de Habeas Corpus fornegado?Procurar assistência ou patrocínio judiciário;

No caso de já ter um advogado, saber quais são asrazões pelas quais o seu pedido foi negado (perguntarse o seu pedido tinha falhas? se o motivo erasuficiente para justificar a libertação? se a autoridadeagiu contra a lei?);

Tentar um recurso hierárquico para o ConselhoSuperior da Magistratura Judicial;

Poderá também dirigir uma carta ou petição à 9ªcomissão da Assembleia Nacional expondo de umaforma coerente o seu motivo; no caso de se tratar dealguém analfabeto pode dirigir-se pessoalmente à9ª comissão e fazer uma exposição oral (contar oque se passa).

“Habeas Corpus” é uma palavra em latim que querdizer "que tenhas o corpo" ou seja, que tenhas (o

teu) corpo (em liberdade). A Constituição deAngola diz que "todos têm o direito à providência

de habeas corpus contra o abuso de poder, emvirtude de prisão ou detenção ilegal”, artigo 68º.

For prejudicado, naqueles casos que a lei diz que o Estado tem uma obrigação e não a cumpriu, por exemplo, se houver um buraco na estrada e o cidadão cair nele, pode levar o Estado a tribunal.

Lidar com a Polícia: Caso um cidadão considerarque os seus direitos foram violados, pode apresentaruma queixa numa esquadra e a Polícia dará otratamento devido ou informa o cidadão que o direitoinvocado não tem fundamento legal. O cidadão

também pode ir à Polícia se por exemplo se aperceberque os direitos de uma criança estão a ser violados,ou para denunciar qualquer crime ou situação dedesordem que presenciar, porque a polícia garantea ordem pública e captura os violadores da lei. Paraalém da polícia, na esquadra encontram-seprocuradores que têm a função de instruir processos(para o tribunal) e emitir os mandatos de capturacontra quem viole a lei.

Page 8: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

“(...) Não me recordo de ter ouvido dizer quealguém deixou de ter o advogado porque não

conseguiu obter o Atestado de Pobreza. Éverdade que há um contra-senso porque para

obter o atestado de pobreza as pessoas têm quepagar entre cinco a seis mil Kwanzas“

8

Assistência Judiciária

O NDI entrevistou o Dr. Flaviano Mafiló CaxiculaDomingos, Secretário-Geral da Ordem dosAdvogados de Angola, para melhor entendercomo funciona a assistência Judiciária.

NDI: O que é a assistência judiciária?OAA: É o acompanhamento técnico feito por umAdvogado a pessoas que não tenham meioseconómicos para suportar as custas do processo eos honorários do Advogado. Porque quando seintenta uma acção judicial, para além de se pagar oAdvogado paga-se também os serviços do Tribunal.No entanto, há situações em que o cidadão podenão ter meios para pagar o advogado mas pode pagaras custas judiciais, e aí o tribunal pode proceder auma assistência judiciária parcial. Quem custeia aassistência judiciária é o Estado, através do Ministérioda Justiça.

NDI: Como o cidadão pode receber assistênciajudiciária?OAA: O cidadão pode recorrer à Ordem dosAdvogados, ou directamente ao Juiz, mas a práticatem sido, as pessoas desclocarem-se à Ordem paraformalizar o processo, onde:

1. Apresenta o requerimento, de forma sucinta,escrevendo os factos e a razão do requerimento,dirigido ao Conselho Provincial de Luanda, se aquestão incidir em Luanda, ou ao Bastonário (oPresidente da Ordem dos Advogados), dirigindo orequerimento ao Conselho Nacional, se a questãoincidir fora de Luanda. A excepção é a Província deBenguela que é a única Província fora de Luandaque tem Conselho Provincial.

2. Ao requerimento, tem que juntar o Atestado dePobreza, e a cópia do Bilhete de Identidade.

3. Num prazo de dez a quinze dias, a OAA indicadaum Advogado para defender o cidadão.

Entrevista à Ordem dos Advogados deAngola (OAA)

NDI: Em relação ao atestado de pobreza, a Ordempode ajudar o cidadão a obtê-lo?OAA: Não. O cidadão solicita o Atestado de Pobrezana Administração Comunal ou Municipal ondereside.

NDI: Se um cidadão for detido/preso e nãoconseguir contactar os seus familiares pode teracesso à assistência judiciária?OAA: Já tivemos casos semelhantes. A partir dacadeia escrevem uma carta, expõem a questãodizendo que precisa de um advogado e aí logicamentenão vão precisar de um Atestado de Pobreza. Pegamosno seu requerimento e indicamos um advogado queacompanhará o processo.

NDI: No caso de situações urgentes a Ordem podereduzir o tempo de atribuir um advogado aocidadão?OAA: Sim! Há vezes em que esse prazo é reduzido,naquelas situações em que é intentada uma acçãocontra o cidadão e ele tem um prazo para contestar.Por exemplo, o cidadão vai a tribunal, é citado, eapercebe-se da necessidade e obrigatoriedade deconstituir um advogado, e vai à Ordem já no limitedo prazo. Aí nós (OAA), prescindimos do formalismohabitual, porque se ele for tratar o Atestado dePobreza, pode não chegar a tempo de ter o advogado.Mais tarde, o cidadão terá que formalizar o seupedido juntando os documentos necessários para oefeito (atestado de pobreza, BI, etc.) porque senão éo próprio Juiz que pode não aceitar o pedido deassistência judiciária.

NDI: É fácil as pessoas adquirirem o atestado depobreza? Ou é complicado?OAA: Me parece que tem sido fácil porque não merecordo de ter ouvido dizer que alguém deixou deter o advogado porque não conseguiu obter oAtestado de Pobreza. É verdade que há um contra-senso porque para a obter o Atestado de Pobreza aspessoas têm que pagar entre cinco a seis milKwanzas. Parece um contra-senso porque as pessoasjá não têm dinheiro para pagar o advogado e as custasdo processo e ainda assim devem pagar paraprovarem que, efectivamente, estão desprovidas demeios financeiros para suportar as despesas comadvogado e o próprio processo.

A todos é assegurado o acesso ao direito e aos Tribunais para defesa dos seus direitos e interesseslegalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência dos meios económicos.

Constituição da República de Angola, artigo 29º

Page 9: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Cidadania Boletim Educacional

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I 9que a pessoa manifeste essanecessidade, se ela disser que nãotem o Bilhete de Identidade,eventualmente poderemos lhe pedirum outro documento, e se disser quenão tem, há outras vias a quepoderemos recorrer para resolver aquestão de quem solicita os nossosserviços.

NDI: Será o número de Advogadossuficiente para responder àdemanda de assistência judiciáriae, se não, existem mecanismos deselecção que dêem prioridade acasos específicos?OAA: Não, nós nunca sabemos qualdos pedidos é de maior urgência.Vamos imaginar que a pessoa vá áOrdem porque o seu filho está presoem Viana. Vamos imaginar que hojeé dia 20 e o julgamento é a 25. Aqui,à partida, sabemos que é umprocesso prioritário mas é essencialque a pessoa nos diga sobre osprazos, porque se a pessoa só fizer orequerimento a solicitar umadvogado porque tem um filho preso,nós (OAA) ao ler, damos é o

tratamento normal porque não há data que justifiquedar prioridade. Agora se ele juntar algumdocumento, fizer menção de que já tem um prazo,uma data para julgamento ou contestação, aí damosprioridade a este pedido.

NDI: Então o seu conselho seria que as pessoas aofazerem o requerimento sempre incluíssem ainformação do tempo que têm para contestar oupara ir a tribunal?OAA: Sim, desde que faça prova de que o processojá está em curso e com urgência para praticar algumacto. Assim a Ordem ao indicar o advogado sabendoda urgência do assunto, ao invés de indicar umAdvogado seguindo à risca os procedimentosvigentes, indica uma pessoa que já conhece, "fulanoolha tem aqui esse caso urgente, eu agradeço quetrate do assunto". Portanto a Ordem consegueacompanhar melhor e sabe que o cidadão não correo risco de ir ao escritório do advogado e não oencontrar ou o Advogado estar de férias ou noutraprovíncia o que atrasa o processo. Então, nesse casode urgência, liga-se para um Advogado que se sabeque está e que pode atender ao processo.

NDI: Mas de acordo com a Lei, tem de se pagar oAtestado de Pobreza?OAA: Não sei pois é uma tramitação dasAdministrações Municipais, mas acredito que porser um serviço público, as administrações podemexigir o pagamento de uma taxa, mas eu acho quese é para atestar a incapacidade financeira da pessoadeveria ser gratuitos porque já alguém disse que poressa via acaba-se dando assistência judiciária apessoas que efectivamente têm meios para suportaras custas do processo. De facto, quem não tem meiospara pagar o advogado se calhar nem tem dinheiropara adquirir o atestado, então, pode se dar o casoque aqueles que não têm meios para pagar oAdvogado nem as custas do processo acabarem pornão beneficiar desse instrumento por não teremcinco a seis mil Kwanzas para obter o Atestado dePobreza.

NDI: É possível que um cidadão que tenha carênciade meios mas que não possua nem Cédula nemBilhete de Identidade receba assistênciajudiciária? Como?OAA: Sim, é possível, porque a pessoa beneficia desteserviço não tanto por ser Angolano, mas por serpessoa que precisa de assistência jurídica, portantonós não podemos negar acesso ao Direito porque oindivíduo não tem bilhete ou porque perdeu aCédula Pessoal. Porque entendemos que não é oBilhete de identidade ou a Cédula que o tornapessoa, portanto ele é pessoa e a Lei diz apenas quea ninguém deve ser negada a Justiça por falta demeios, não diz, a nenhum Angolano, portanto, desde

“ (...) A pessoa beneficia deste serviço nãotanto por ser Angolano, mas por ser pessoa que

precisa de assistência jurídica, nós nãopodemos negar o acesso ao Direito porque o

indivíduo não tem bilhete ou porque perdeu aCédula Pessoal (...)”

Page 10: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

10NDI: Quanto tempo demora em média desde que apessoa dá entrada de um pedido de assistênciajudiciária até a altura em que é nomeado umadvogado para lhe prestara assistência judiciária?OAA: Normalmente o prazoé de 15 dias. Quando apessoa dá entrada ao pedidonós pedimos para que aspessoas passem num prazode duas semanas, altura emque a pessoa deverá voltar à Ordem para saber se oseu pedido já foi atendido, porque depois tem quelevar uma carta que detalha quem é o advogado eonde fica o seu escritório e outra para entregarpessoalmente ao advogado indicado.

NDI: A Ordem indica e quem leva a carta é a pessoaque requer a assistência?OAA: Sim, portanto, o requerente leva a carta aoadvogado para que ele tome conhecimento que foiindicado para atender aquela pessoa e, em princípio,assume o processo. Se o advogado tomarconhecimento de que não pode atender a pessoapor alguma questão, por alguma incompatibilidade,terá de imediatamente informar à Ordemfundamentando o porquê da recusa. Por exemplose o advogado indicado for o advogado da pessoacom quem o cidadão tem o conflito.

NDI: Para além desse caso há outros em que oAdvogado pode recusar defender o cidadão?OAA: Sim, nas situações da falta do interesse deagir. Por exemplo há um caso caricato de um maisvelho que foi à Ordem várias vezes porque entendiaque o sobrinho com quem vivia deveria pagar umaindemnização por ter vivido em sua casa vários anos.Após a Ordem ter indicado o Advogado, o mais velhoentrou em contacto e o Advogado ao ouvir a queixaviu que o caso não tinha qualquer interesse jurídicoe o advogado informou que: “Analisei o processo epelo que o senhor me está a pedir é inconcebível eacho que não há razões para levar o caso a tribunal”.

E também há aqueles casos em que o Advogado tomaconhecimento que o Direito de Acção do cidadãoprescreveu (ultrapassou os prazos previstos por lei),

por exemplo, uma senhora quer reconhecer umaunião de facto por ruptura e a lei estabelece o prazode dois anos para a pessoa requerer esse

reconhecimento. Se elacontactar o Advogadodepois de quatro anos,ele diz-lhe "minhasenhora, o seu Direito deAcção prescreveu".Portanto o Advogadopode informar à Ordeme dizer esse processo não

tem pés para andar, pois o seu direito de acçãoprescreveu. O que o advogado nunca deve fazer érecusar infundadamente, portanto tem quefundamentar porquê que recusa o processo.

NDI: O que o cidadão pode fazer, se sentir que estáa ser mal representado?OAA: Se for em Luanda, dirige uma carta, aoPresidente do Conselho Provincial e se for fora deLuanda onde não haja delegações nem ConselhosProvinciais dirige a carta ao Bastonário explicandodetalhadamente o que se passou e quem é oadvogado. Mesmo naqueles casos em que a OAAentende que o advogado não falhou, preferimostrocar o advogado. Porque entendemos claramenteque o advogado ao tomar conhecimento de que oseu constituinte apresentou uma queixa, umareclamação, a relação torna-se azeda e preferimostrocar de advogado.

NDI: Já vimos que a Ordem dos Advogados só temconselhos provinciais em Luanda e Benguela. Emtermos de outras representações qual é a situaçãoactual?OAA: Nós temos a delegação do Huambo queresponde também pelo Bié e pelo Kuando Kubango;A delegação da Huíla responde também pelo Namibee pelo Cunene; A delegação de Cabinda; a delegaçãoda Lunda-Norte responde também pela Lunda-Sul.Nessas Províncias alguns cidadãos recorrem a essasdelegações para solicitar assistência.

NDI: E as restantes províncias como é que fazem?OAA: As restantes o que fazem, é vir a Luandaapresentar o pedido e como disse, nesses casos opedido tem de ser dirigido ao Bastonário.

NDI: Dentro da Ordem, onde são entregues osrequerimentos?OAA: É na secretaria do Conselho Provincial deLuanda, para os casos de Luanda e fora de Luandaé na secretaria do Conselho Nacional da Ordem dos

“Assim a Ordem ao indicar o advogadosabendo da urgência do assunto, ao invés de

indicar um Advogado seguindo à risca osprocedimentos vigentes, indica uma pessoa

que já conhece“

“Por exemplo há um caso caricato de um maisvelho que foi à Ordem várias vezes porqueentendia que o sobrinho com quem viviadeveria pagar uma indemnização por tervivido em sua casa vários anos. Após a

Ordem ter indicado o advogado, o mais velhoentrou em contacto e o advogado ao ouvir a

queixa viu que o caso não tinha qualquerinteresse jurídico e o advogado informou que:

“Analisei o processo e pelo que o senhor meestá a pedir é inconcebível e acho que não há

razões para levar o caso a tribunal”.

“Nós temos a delegação do Huambo queresponde também pelo Bié e pelo KuandoKubango; A delegação da Huíla responde

também pelo Namibe e pelo Cunene; Adelegação de Cabinda; a delegação da Lunda-

Norte responde também pela Lunda-Sul“

Page 11: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Cidadania Boletim Educacional

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I 11Advogados. Portanto, o cidadão dá entrada, asecretaria prepara o processo, e o Presidente doConselho Provincial ou do Conselho Nacional indicao Advogado se tudo estiver em conformidade. Depoisa secretaria formaliza aindicação do advogadosendo que o cidadão levauma cópia para si e outrapara o advogado.

NDI: Ouve-se muito dizerque o cidadão não seprotege porque não conhece as leis e osprocedimentos administrativos. Na opinião daOAA, a educação feita (via panfletos, rádio etc.)pelos organismos do Estado e ONGs é suficiente?Se não, o que mais se poderia fazer?OAA: Apesar de já haver melhoria, ainda assim,entendemos que o que se faz para o aumento dacultura jurídica nos cidadãos ainda é bastanteinsignificante. Há necessidade de se fazer maiordivulgação das leis, dos direitos dos cidadãos, dasvias para aceder ao direito e à justiça.

NDI: Em termos do problema de acesso à justiça,pensa que o problema está nas leis ou nosprocedimentos e como é que a Ordem tem estadoa lidar com essa situação?OAA: O acesso à justiça está a ser dificultadoprimeiro pela falta de divulgação pois muita genteainda não sabe quais são as vias normais a seguirpara verem assegurados os seus direitos.

Outro problema são os nossos Tribunais, que, asvezes, chegam a desanimar os cidadãos, porque têm

experiências de outras pessoas conhecidas, ou delaspróprias de processos que dão entrada nos tribunaisque quando decididos já a razão de ser do pedido docidadão deixou de existir.

Há casos em que a pessoa está a reivindicar umdireito e o processo demora três, quatro anos. Estapessoa falece e às vezes não tem herdeiros ou mesmoque tenha, estes às vezes não estão interessados ounão sabem como fazer. São situações que muitasdas vezes travam os cidadãos de irem aos Tribunais.Ou a pessoa vai ao Tribunal pedir uma informaçãofica duas, três horas à espera, às vezes não é porculpa do funcionário, porque vai-se ao cartório e sótem um funcionário que tem que atender os Juízes,

e os Advogados primeiro. Esse tipo de situaçõesdesencorajam as pessoas de irem aos Tribunais, massim da própria conjuntura.

NDI: Essa morosidade épor falta de pessoas ou édevido à burocracia?OAA: Falta de pessoas,falta de meios, falta decondições e também faltade cultura de trabalho dealgumas pessoas que lá

estão, e não me refiro apenas aos Tribunais é nopaís todo. Você vai a uma instituição pública, está lápara ser atendido, as pessoas nem sequerperguntam o que é que quer.

Se às vezes os advogados são atendidos como são,imaginemos um simples cidadão e infelizmente onosso comportamento é em função da aparência.Se uma pessoa estiver bem vestida, há preocupaçãoem se atender essa pessoa, mas se for um cidadãoque nós vermos que é um coitado também a nossapreocupação com ele é muito menor. Isso tambémfaz com que as pessoas recorram pouco aos serviçosdos Tribunais.

Mas também é bom dizer às pessoas que só se deveir ao tribunal, quando efectivamente não há mesmoforma de se resolver o problema amigavelmente,porque mais vale um bom acordo do que uma boasentença. Porque às vezes são situações queentendemos que podem ser resolvidasamigavelmente e só não são porque as pessoas sãointransigentes. Não querem ceder em nada e às vezeschegam a perder tudo. Tribunais sim, mas só emúltima instância.

NDI: O que a Ordem tem feito para educar aspessoas sobre os seus direitos?OAA: Já há um projecto antigo da Ordem que éescrever artigos para o Jornal de Angola a explicarquais são os direitos das pessoas e como é quepodem conseguir um advogado. Quando os órgãosde informação produzem um programa com temasde relevância jurídica, com pendor para a área deadvocacia, se a Ordem for convidada, indicamos doisou três advogados para abordar o assunto. É dessaforma que temos dado o nosso contributo àsociedade.

“A morosidade é por falta de pessoas, falta demeios, falta de condições e também falta de

cultura de trabalho de algumas pessoas que láestão, e não me refiro apenas aos tribunais é o

país todo“

“Mas também é bom dizer às pessoas que só sedeve ir ao tribunal, quando efectivamente não

há mesmo forma de se resolver o problemaamigavelmente, porque mais vale um bom

acordo do que uma boa sentença“

“Há casos em que a pessoa está a reivindicarum direito e o processo demora três, quatro

anos (...) São situações que muitas das vezestravam os cidadãos de irem aos Tribunais“

Contactos daOrdem de Advogados de Angola

Conselho Nacional da OAABastonário: Dr. Manuel Vicente Inglês PintoAvenida Ho Chi Minh, (Edifício da Estatística Nacional,1º Andar) - LuandaTele. 222 326 330 / 222 354 980 / 222 322 777E-mail: [email protected]

Conselho Provincial de Luanda da OAAPresidente: Dr. Hermenegildo CachimbomboRua Joaquim Kapango, nº 37, 2º andar, Ap.35.Bairro Maculusso, Ingombotas, Telf. 222 333 184Secretária: Ana Maria Catuta, Tel. 923 304 561

Page 12: BOLETIM EDUCACIONAL - ndi.org · BOLETIM EDUCACIONAL Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I Saiba mais sobre o nosso parlamento no Programa do NDI “Eu e o Parlamento”

Edição N.º 02 * Abril e Maio de 2011 * Ano I

Cidadania Boletim Educacional

Não perca na proxima edição do BoletimTudo sobre o papel do Cidadão no

Desenvolvimento da sua Comunidade

Contactos da Assembleia NacionalDirector do Gabinete do Presidente 222 390 686

Director Adjuntodo Gabinete do Presidente 222 390 336

Secretariado doGabinete do Presidente 222 391 236

Secretário Geral da Assembleia Nacional 222 332 540

1ª Comissão 222 339 591

Direcção de Relações Públicas 222 332 448

2ª Comissão 222 391 486

3ª Comissão 222 394 135

4ª Comissão 222 399 440

5ª Comissão 222 396 865

6ª Comissão 222 371 847

7ª Comissão 222 391 840

8ª Comissão 222 334 586

9ª Comissão 222 398 648

Grupo das Mulheres Parlamentares 222 330 721

GENÉRICOENDEREÇO

Largo 4 de Fevereiro, nº 3, 1º andar

CONTACTOSTelefone: 222 311 618

Fax: 222 310 905

[email protected]

TIRAGEM5000 ExemplaresLuanda - Angola

COORDENAÇÃOInstituto Demócratico para Assuntos

Internacionais (NDI)

REDAÇÃOCoordenação do NDI

PAGINAÇÃO E DESIGNDiniz Kapapelo

CARTOONISTAPablo Mendes

PROPRIEDADE APOIO

Envie-nos as suas críticas e sugestõesAvenida 4 de Fevereiro N.º 3, 1º Andar, sala 141 - Presidente Business Center - Telefone: 222 311 618 -Telemóveis: 923 277 404 /917 598 654 - Fax: 222 310 905. Portal: www.ndi.org - E-mail: [email protected]

Contactos dosparceiros do NDI

O NDI trabalha com associações da sociedadecivil, que desenvolvem acções de educaçãocívica e promoção do engajamento dos

cidadãos com os seus representantes. Actualmenteos principais parceiros do NDI estão nas provínciasde Luanda, Benguela, Huambo e Huíla e podecontactá-los para saber mais sobre os seusprogramas e receber informação sobre sessões deformação, palestras, workshops e outras actividades.

Huambo: Associação de Desenvolvimento eenquadramento Social de Populações Vulneráveis(Adespov): Director Executivo: Julião Agostinho: 927536 463 - [email protected];

Luanda: Associação Acção Humana: DirectorExecutivo: Pombal Maria: 923 604 866 [email protected];

Huila: Associação Soka-Yola: Director Executivo:Bernardo Peso: 923 499 010 [email protected];

Benguela: Twayovoka para o Desenvolvimento:Director Executivo: António Capela: 924 713 277 [email protected];

Lei 15/11 do Conselho Superior da magistratura doMinistério Público; Lei 14/11 do conselho superior da magistraturaJudicial (gestão e disciplina da magistratura); Lei 13/11 Orgânica do tribunal supremo (composição,organização, competência e funcionamento;

A Assembleia Nacional está a discutir as seguintes leis: Lei da Base da Política do Estado para Juventude; Lei Contra a Violência Doméstica.

Está em debate público a seguinte lei: Pacote legislativo da Comunicação Social;

Foi suspensa a discussão da seguinte lei: Lei de Combate à Criminalidade no Domínio dasTecnologias de Informação e Telecomunicações e dosServiços da Sociedade de Informação;

Nos meses de Abril e Maio de 2011 a AssembleiaNacional aprovou as seguintes leis:

Ligações de Internet úteis:

Tribunal Supremo: www.tribunalsupremo.ao

Tribunal Constitucional: www.tribunalconstitucional.ao

Tribunal de Contas: www.tcontas.ao

Polícia Nacional: www.cgpn.gov.ao

Ordem dos Advogados: www.ooang.org

Saiba mais sobre o nosso parlamento noPrograma do NDI “Eu e o Parlamento”.

Todas as Terças-feiras 10:30 - 11:00 na RádioEcclésia (97.5 FM) ou

http:/www.comunicamundi.net/live/recclesia.html