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Download Boletim da Sociedade das Ciências Antigas - sca.org.br · A Didaqué - Instrução dos Doze Apóstolos A Luz Astral 36 Quaresma, Semana Santa e Páscoa 39 Contos Espirituais 47 Boletim

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  • Esquece todas as ofensas que te fa-

    am, ainda mais, esfora-te por pensar

    o melhor possvel do teu maior inimigo.

    Tua alma um templo que no deve

    ser profanado pelo dio.

    P ersonalidade controvertida em sua poca, o mdico suo Pa-racelso visto hoje em dia como o

    precursor da medicina holstica. A

    viso da sade como o equilbrio

    energtico do corpo, a importncia

    da f na cura e a inter-relao entre

    o homem e tudo o que o cerca so

    apenas alguns dos conceitos elabora-

    dos por ele, h cerca de 500 anos.

    Exatamente no seu 500 aniversrio,

    em 1993, uma das muitas biografias

    desse notvel mdico foi financiada

    por uma conhecida indstria farma-

    cutica na Basilia, Sua. Uma tardia

    reabilitao, para aquele que foi to

    perseguido e difamado em sua po-

    ca. Nessa ocasio, sua cidade natal

    homenageou-o com um simpsio de

    quatro dias: Simpsio Cientfico de

    Einsiedeln, um congresso mdico

    muito importante.

    Uma onda de artigos foi publicada

    em jornais e revistas durante todo

    ano de seu aniversrio. Alguns elogi-

    aram Paracelso como pioneiro da

    medicina total, outros como pionei-

    ro farmacutico, qumico, alquimista,

    filsofo, astrlogo e mago. Ele o

    padroeiro favorito de farmcias, cl-

    nicas e sociedades de vrios tipos.

    Os ttulos que recebeu vo desde

    Pai da Medicina Naturalista,

    Trismegisto da Sua, at Lutero

    da Medicina. Personalidade atacada

    e perseguida durante toda a vida,

    hoje ele continua sendo muito criti-

    cado. Mas, ento, o que esse homem

    tinha de to inesquecvel e especial?

    A infncia e os estudos

    Paracelso nasceu em Einsiedeln, Su-

    a, como Philipe Aureolus The-

    ophrastus Bombastus von Hohe-

    nheim, no dia 10 de novembro de

    1493. Recebeu o nome de The-

    Vida e Obra de Paracelso

    Maro-Abril de 2012 Volume I1I, edio XX

    Nesta edio:

    Vida e Obra de

    Paracelso 1

    O que ser um

    Martinista? 28

    A Didaqu -

    Instruo dos

    Doze Apstolos

    29

    A Luz Astral 36

    Quaresma,

    Semana Santa e

    Pscoa

    39

    Contos

    Espirituais 47

    Boletim da Sociedade das

    Cincias Antigas Publicao da Sociedade das Cincias Antigas Todos os Direitos Reservados

  • Pgina 2 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    ophrastus em memria do pensador grego

    Theophrastus Trtamo, por quem seu pai nu-

    tria profunda admirao. O nome de Philipe

    lhe foi acrescentado, sem dvida, posterior-

    mente pois certo que Paracelso jamais fez

    uso dele; a alcunha de Aureolus deve ter sido

    dada por seus admiradores nos ltimos anos

    de sua vida, j que at 1538 no encontrada

    em nenhum documento relacionado com sua

    pessoa. Quanto ao nome famoso de Paracel-

    so, acredita-se que este tenha sido dado por

    seu pai quando ainda jovem, querendo com

    isso demonstrar que era mais sbio que Cel-

    so, mdico clebre contemporneo do impe-

    rador Augusto e autor de um livro de medi-cina muito mais avanado entre todos os que

    havia em sua poca.

    J a partir de 1510 ficou conhecido pelo no-

    me de Paracelso e, embora muito raramente

    o inclusse em sua assinatura, certo que o

    estampou em suas grandes obras filosficas e

    religiosas. Do mesmo modo seus discpulos o

    chamavam de Paracelso, nome que sempre

    apareceu nas polmicas e nos ataques injurio-

    sos de que foi vtima.

    Paracelso foi uma criana franzina, debilitada

    e com tendncia ao raquitismo, razo pela

    qual exigia os maiores cuidados, que lhe

    eram dispensados pelo prprio pai, que o

    amava muito. Alm disso, no era muito fa-

    vorecido pela natureza: era baixinho, corcun-

    da e gago. Dr. Hohenheim atribua uma im-

    portncia extraordinria aos efeitos benfi-

    cos do ar livre, respirado em plena natureza;

    por isso, quando o rapaz j estava crescido,

    fez dele seu companheiro de excurses, con-

    seguindo dessa maneira robustecer-lhe o

    corpo e enriquecer-lhe o esprito.

    Nessa poca na Europa, a farmcia ainda no

    era reconhecida, diferentemente do que

    acontecia na China, no Egito, na Judia e na

    Grcia, milhares de anos antes da era crist. Com efeito, a primeira farmacopia pertence

    a Nuremberg e data de 1542, o ano seguinte

    morte de Paracelso. Por conseguinte, pode

    -se afirmar que a maioria das ervas medici-

    nais, que se receitam em nossos dias, j era

    conhecida na Idade Mdia e os religiosos as

    cultivavam com todo cuidado, nos jardins dos

    conventos.

    Das prprias memrias de Paracelso deduz-

    se que seu pai foi seu primeiro mestre de

    latim, de botnica, de alquimia, de medicina,

    de cirurgia e de teologia; mas nele atuaram

    outras influncias de educao, que Dr. Ho-

    henheim no pde infundir. Essas influncias

    foram devidas ao esprito irrequieto da po-

    ca, da nova era que estava sendo preparada:

    A Renascena.

    Indiscutivelmente foi o esprito da Renascen-

    a que deu a Paracelso o grande impulso ru-

    mo induo cientfica e ao mtodo experi-

    mental. O encontro desse esprito cientfico

    com as correntes espirituais da Reforma,

    com sua influncia sobre a alma dos homens,

    graas a Lutero, fornece a explicao da for-

    mao de sua personalidade, aparentemente

    contraditria.

    As teorias em voga vinham sendo propagadas

    ativamente j muito tempo antes de Lutero.

    Duzentos e cinqenta anos antes, uma alma

    solitria, Roger Bacon, teve uma viso que

    iluminou as trevas acumuladas por quinze

    sculos de ignorncia e descobriu a chave do

    divino tesouro da Natureza.

    Em 1483 nasceu Lutero; dez anos depois,

    Paracelso; em 1510 veio luz o famoso m-

    dico e filsofo milans, Jernimo Cardano, e

    em 1517 nascia o clebre cirurgio Ambrsio

    Pare; Coprnico, o astrnomo revolucion-

    rio, e Pico della Mirandola, todos contempo-

    rneos. Tudo eclodiu de uma s vez: nova

    concepo religiosa, nova filosofia, novas ci-

    ncias, acompanhadas de uma grande renova-

    o no mundo da arte.

    Ainda muito jovem, Paracelso foi enviado

    famosa escola dos beneditinos do mosteiro

    de Santo Andr, no Lavantal, a fim de rece-

  • Pgina 3 Volume I1I, edio XX

    ber a instruo religiosa. Ali tornou-se amigo

    do bispo Eberhard Baumgartner, que era

    considerado um dos alquimistas mais not-

    veis de seu tempo. Tamanho foi o ardor com

    que Paracelso dedicou-se aos seus trabalhos

    de laboratrio, tanta a sua fora de observa-

    o nos fenmenos que estudava, que imedi-

    atamente se viu em condies para comear

    a executar um trabalho que se antecipava ao

    seu sculo. Alm disso, teve a sorte de con-

    tar com o clima da Carntia que favoreceu

    grandemente seu desenvolvimento fsico,

    conseguindo com isso desfrutar uma sade

    quase perfeita.

    Logo depois, transferiu-se para Basilia, onde

    fez grandes progressos no estudo das cin-

    cias ocultas. Naquele tempo, era impossvel

    dedicar-se medicina sem conhecer profun-

    damente a astrologia. A cincia experimental

    estava ainda por nascer. Todos os conheci-

    mentos que se adquiriam nos colgios ou

    conventos eram puramente dogmticos e

    esses ensinamentos foram conservados res-

    peitosamente durante muitos sculos.

    Laboratrio Alqumico

    Mestre e discpulos

    O misticismo e a magia conviviam com as

    teorias mais antagnicas e os homens mais

    clebres lhes rendiam homenagem. William

    Howitt, um mdico notvel, escreveu o se-

    guinte: O verdadeiro misticismo consiste na

    relao direta entre a inteligncia humana e a

    de Deus. O falso misticismo no procura a

    verdadeira comunho entre Deus e o ho-

    mem. O esprito absorto em Deus est pro-

    tegido contra todo ataque. A mente que re-

    pousa em Deus aclara a inteligncia.

    Esse foi o misticismo que Paracelso esforou-

    se por adquirir: a unio de sua alma com o

    esprito divino, a fim de poder conceber o

    funcionamento desse esprito universal den-

    tro da Natureza. Quando partiu para Basilia,

    h tinha adquirido a prtica das operaes

    cirrgicas, ajudando seu pai no tratamento de

    feridos. Em Livros e escritos de cirurgia, relata-

    nos que teve os melhores mestres dessa ci-ncia e que havia lido e meditado os textos

    dos homens mais clebres, tanto da atualida-

    de como do passado.

    Pouco se sabe da estada de Paracelso em Ba-

    silia; consta unicamente que sua passagem

    por l ocorreu em 1510. Nessa ocasio ele

    comea a atacar severamente os sistemas de

    cura em voga na poca, enaltecendo a com-

    preenso da natureza, a observao clnica, a

    patologia geral, o estudo dos remdios de

    acordo com os sinais ou as assinaturas,

    que so a base da homeopatia divulgada pos-

    teriormente por Hahnemann. Considerado

    por muitos como chefe mstico da Fraterni-

    dade Rosa Cruz, seus trabalhos influenciaram

    decisivamente os cabalistas, os neoplatnicos

    e as doutrinas naturais. Exerceu ainda uma

    grande influncia na obra de Fludd e Van Hel-

    mont.

    Nessa poca, a Universidade da Basilia era

    dirigida pelos escolsticos e pedantes da po-

    ca. Paracelso percebeu que nada sairia ga-

    nhando com os ensinamentos daqueles dou-

    tores. O p e as cinzas respeitados por esses

    espritos estreis, haviam-se transformado em

    matria importante, escreveu ele. Paracelso

    renunciou a entrar numa luta com aqueles

    sbios, guardies petrificados da cincia ofici-al. O que ele queria era a verdade e no o

    pedantismo; a ordem e no a confuso; a ex-

    perincia cientfica e no o empirismo.

  • Pgina 4 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    Os estudos com o abade

    Jean Trithemius

    Segundo sua prpria declarao, Paracelso

    lera as obras manuscritas do abade Jean Tri-

    themius, que encontrou na valiosa biblioteca

    de seu pai, e to embevecido se sentiu por

    elas que resolveu transferir-se para Wrz-

    burg, lugar onde o sbio abade se mantinha

    em contato com seus discpulos. Ali estudou

    alquimia e cincias ocultas com o abade Tri-

    themius e com o famoso alquimista Basil Va-

    lentine. Trithemius afirmava que as foras secretas da Natureza estavam confiadas a

    seres espirituais. Grande era o nmero de

    seus discpulos e os ele que julgava dignos,

    admitia em seu laboratrio, onde se manipu-

    lava toda espcie de experincias de alquimia

    e de magia.

    Como mago, Paracelso teve um papel decisi-

    vo na evoluo da magia natural que termi-

    nou por transformar-se depois naquilo que

    se convencionou chamar de Cincia Experi-

    mental. Empregou o im em muitos de seus

    trabalhos de cura, sendo, por isto, considera-

    do um dos precursores do Magnetismo Pes-

    soal e do Mesmerismo.

    Jean Trithemius

    Em certas experincias psquicas, obteve xi-

    tos surpreendentes; talvez tenha sido ele o

    primeiro que nos falou da transmisso do

    pensamento distncia. Deve-se a ele os pri-

    meiros ensaios da criptografia ou escrita se-

    creta. Era tambm um grande conhecedor da

    Cabala, por meio da qual fornecera profun-

    das interpretaes das passagens profticas e

    msticas da Bblia. Por isso, colocava as Sagra-

    das Escrituras acima de todos os estudos e

    seus alunos tinham que lhes dedicar toda sua

    ateno e todo seu amor. Paracelso foi influ-

    enciado pelas Escrituras por toda sua vida e

    o estudo da Bblia constituiu, mais tarde, uma

    das tarefas que o ocuparam com mais inten-

    sidade. Em seus escritos encontramos o tes-

    temunho de seu conhecimento perfeito da linguagem e do profundo significado esotri-

    co da Bblia.

    Embora seja fato incontestvel que estudou

    as cincias ocultas com o abade Trithemius,

    chegando a conhecer as foras misteriosas

    do mundo visvel e invisvel, no menos

    certo que abandonou, repentinamente certas

    prticas mgicas, por julg-las indignas e con-

    trrias vontade divina. Tinha averso, so-

    bretudo, necromancia praticada por ho-

    mens pouco escrupulosos, absolutamente

    convencido de que por meio dela s se atra-

    am foras malficas. Recusou, igualmente,

    todo ganho pessoal que viesse do exerccio

    da magia, pois esta, segundo pensamento de-

    le, s seria permitida se fosse para curar de-

    sinteressadamente ou fazer outro bem qual-

    quer a nossos semelhantes.

    Foi com esse intuito que se lanou s investi-

    gaes e s experincias de magia divina. Dis-

    cernia perfeitamente o alimento mental e

    espiritual daquele que era imprprio e enga-

    noso, para conseguir a unio de sua alma

    com a divindade.

    Curar os homens conforme Cristo fizera,

    nisto consistia todo o seu desejo ardente. E

    quem sabe se a prpria comunho com o Senhor no o credenciaria a esse poder su-

    blime? Entrementes, recebia de Deus a graa

    de saber procurar e encontrar todos os mei-

  • Pgina 5 Volume I1I, edio XX

    os de cura com os quais o Criador provera a

    Natureza.

    Medicina e Alquimia

    Paracelso, como mdico, destaca-se especial-

    mente em trs setores: nas qualidades exigi-

    das dos clnicos; no reconhecimento de di-

    versas entidades e, particularmente, na utili-

    zao da iatro-qumica (a qumica para fins de

    cura), que fez a qumica avanar, aps sculos

    de relativa estagnao.

    A primeira atividade nada apresenta de origi-nal, mas sua persistncia representou norma

    de grande significao prtica. A segunda

    reveladora de sua mente, sempre alerta, em

    observaes atentas de ocorrncias mrbi-

    das, no cogitadas na poca. E a terceira, ex-

    terioriza um comportamento fecundo e qua-

    se excepcional, mesmo na aurora da Renas-

    cena. Ele, em verdade, ergueu a qumica aci-

    ma de uma situao quase humilde, manipula-

    da particularmente por alquimistas, muitos

    dos quais de valor, mas quase sempre envol-

    vidos em atividades subalternas. Ele a trouxe

    para a esfera das mentes capacitadas, respon-

    sveis por seu progresso, seja como cincia

    bsica, seja como fundamento para utilizao

    prtica, em teraputica.

    Em seu trabalho beira dos leitos, com ob-

    servaes instrutivas, ressaltou a virtus, o

    esprito de sacrifcio dos mdicos para o

    apoio necessrio aos doentes, atuando assim

    como verdadeiro clnico. Ele forneceu dados

    importantes sobre algumas entidades mrbi-

    das, em particular sobre neuropatias: epilep-

    sia, paralisias, perturbaes da fala em trau-

    matismos do crnio. Fez estudos sobre o tra-

    tamento cirrgico de determinados ferimen-

    tos, recusando o papel benfico da supurao

    como era admitido ento. Deixou-nos algu-

    mas informaes sobre a sfilis e seu trata-mento com mercrio. Em sua Generatione

    stultorum relaciona o cretinismo ao bcio

    endmico.

    Paracelso pode ser considerado o introdutor

    de substncias qumicas no preparo de medi-

    camentos, sob a forma de extratos alcolicos

    e de tinturas, com utilizao do pio, do en-

    xofre, do mercrio, do ferro, do arsnico, do

    sulfato de cobre, do sal. Aconselhava banhos

    repetidos com solues minerais. Seu livro

    Paragranum de 1530 o expositor de suas

    crenas. Pode ser considerado, portanto, co-

    mo um verdadeiro farmacologista.

    Em todas as suas atividades manteve um mis-

    ticismo simblico que contrastou com as ca-

    ractersticas objetivas j mencionadas. H

    nele uma viso romntica da natureza, res-

    ponsvel por crenas que podem ser admiti-

    das como irracionais num professor de qu-

    mica.

    Reconheceu o microcosmo observando o

    macrocosmo. Admitiu a existncia da

    Archeus, fora inata, vital e oculta situada

    no estmago. A vida do homem inseparvel

    da vida do universo. O limus terrae, do qual

    se origina o corpo no original, mas consti-

    tudo por extratos de substncias j presen-

    tes em seres previamente criados. Nele, en-

    contramos o sal, o enxofre, o mercrio. E a

    separao desses elementos, que acarretaria

    as doenas, ocorrendo por falha da

    Archeus.

  • Pgina 6 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    Na prpria quimioterapia utilizou certa me-

    todologia mstica, indicando drogas com for-

    ma e colorao comparveis s dos rgos

    aos quais se destinavam. Assim, por exemplo,

    o ouro, j relacionado pela alquimia, ao cora-

    o e a pulmonaria aos processos respirat-

    rios. Em ocorrncia comparvel, a pele do

    lagarto foi indicada no tratamento de tumo-

    res malignos. Em diferentes publicaes est

    presente essa viso universal, e no

    Paramirum encontramos seus curiosos con-

    ceitos, desde os primrdios.

    Castiglione, em sua Histria da Medicina,

    um dos que expe a sntese da doutrina de Paracelso. Para ele, a natureza constitui o ma-

    crocosmo, cujo maior desenvolvimento repre-

    sentado pelo homem, que, formado pelos mes-

    mos materiais e sujeito s mesmas leis, repete,

    em si prprio, todos os fenmenos da natureza e

    est submetido a todas as influncias csmicas e

    telricas que regulam o universo. O microcos-

    mo e o macrocosmo encontram-se em rela-

    es constantes e recprocas. Por isso, Para-

    celso denominou o macrocosmo como o

    homem exterior. Ressalta ainda o historiador,

    a sua crena de que o sal, o enxofre e o mer-

    crio so componentes dos metais e tambm

    de toda a matria viva. E eles devem ser ava-

    liados simbolicamente: sal, o componente

    slido, indestrutvel pelo fogo; mercrio, o

    fluido, vaporizado mas no modificado pelo

    fogo; enxofre, alterado e destrudo pelo fogo.

    Por fim, ele admitia tambm dados forneci-

    dos pela astrologia, pela cabala, por iniciativas

    mgicas, por sociedades secretas, sendo fre-

    qentador crente dessas instituies. Mas,

    ainda que Paracelso se ocupasse intensamen-

    te com astrologia, alquimia e magia, questes

    esotricas, sociais e filosficas ele era princi-

    palmente mdico, e nessa funo que seu

    nome muito conhecido hoje em dia. Na

    verdade, em seus escritos, a medicina ocupa

    o primeiro lugar e ele a praticou e lecionou durante toda a sua vida.

    Paracelso entregou-se com ardor e entusias-

    mo sem limites ao estudo profundo da alqui-

    mia. Dizia ele: A alquimia no visa exclusiva-

    mente obter a pedra filosofal; a finalidade da

    cincia hermtica consiste em produzir essncias

    soberanas e empreg-las devidamente na cura

    das doenas. Contudo, no pde fugir pre-

    ocupao dominante da poca e, durante al-

    gum tempo, se ocupou tambm daquelas pr-

    ticas alqumicas que ensinam a transformar

    em ouro os metais impuros.

    De acordo com alguns autores, saiu triunfan-

    te em seu cometimento e, depois que satis-

    fez a sua curiosidade, no prosseguiu sua

    obra, pois no perseguia outro fim seno a evidncia de certas doutrinas, para poder

    falar delas com plena convico, condio

    que ele acreditava, com toda certeza, ser in-

    dispensvel.

    Ao falarem dele como alquimista, os bigra-

    fos de Paracelso colocam-no na categoria

    mais elevada. Todos afirmam unanimemente

    que era dotado de um poder escrutinador

    que lhe permitia adentrar o prprio esprito

    das coisas da Natureza. Ele penetrava os re-

    cnditos mais profundos da Natureza, explo-

    rava-os e, por meio de suas formas, sabia ver

    a influncia dos metais, com uma penetrao

    to sagaz, que chegava a extrair deles novos

    remdios. No que se refere filosofia her-

    mtica, to rdua e to misteriosa, ningum

    o igualou.

    Abandonou, ou melhor, rejeitou o estudo da

    crisopia, ou seja, a arte de fazer ouro, por-

    que isto repugnava o seu esprito nobre e

    desinteressado; contudo, aproveitou grande

    nmero de prticas alqumicas que, a seu cri-

    trio, podiam ser desenvolvidas e aplicadas

    medicina. Estava convencido de que quase

    todos os minerais submetidos anlise podi-

    am revelar-nos grandes segredos curativos e

    vivificantes e levar a novas combinaes per-

    feitamente eficazes para certas doenas men-tais ou fsicas. Observou, com ateno, que

    toda substncia dotada de vida orgnica, em-

    bora aparentemente inerte, encerrava grande

  • Pgina 7 Volume I1I, edio XX

    variedade de potncia curativa.

    Diferentemente do que faziam seus contem-

    porneos, no qualificava de divina a alquimia,

    cujo nico objetivo era fabricar ouro. Para

    ele, os fogos do fornilho crisopico tinham

    outras grandes utilidades e aqueles que atua-

    vam sob a divina intuio logo se transforma-

    vam em fogos purificadores em benefcio da

    humanidade.

    As obras de Paracelso, como todas as que

    tratavam de cincia ocultas, astrologia, magia,

    alquimia, etc, contm algumas frases obscuras

    que somente os iniciados conheciam em toda

    sua magnitude. Os alquimistas velavam seus

    segredos por meio de smbolos e frases ale-

    gricas, a que os leigos no assunto atribuam

    as mais grotescas interpretaes, quando os

    tomavam ao p da letra. Iniciado que fora

    pelo abade Trithemius, Paracelso adotou sua

    terminologia, acrescentando, por seu arb-

    trio, termos originrios ora da ndia, ora do

    Egito.

    No glossrio de Paracelso, vemos que o prin-

    cpio da sabedoria se chama adrop e

    azane, que corresponde a uma traduo

    esotrica da pedra filosofal. Azoth o prin-

    cpio criador da Natureza ou a fora vital es-

    piritualizada. Cherio a quintessncia de um

    corpo, seja ele animal, vegetal ou mineral; o

    seu quinto princpio ou potncia. Derses

    o sopro oculto da Terra que ativa seu desen-

    volvimento. Ilech Primum a fora primor-

    dial ou casual. Magia a sabedoria, o empre-

    go consciente das foras espirituais, que visa

    obteno de fenmenos visveis ou tang-

    veis, reais ou ilusrios; o uso benfeitor do

    poder da vontade, do amor e da imaginao;

    representa a fora mais poderosa do esprito

    humano, empregada em prol do bem. Magia

    no bruxaria.

    A chave dessa linguagem misteriosa no se

    perdeu. Foi guardada zelosamente pelos ca-

    balistas e transmitida oralmente entre os ini-

    ciados. Atualmente, os detentores dessa cha-

    ve so os martinistas e os rosa-cruzes. Gra-

    as a essa chave, o sistema filosfico-religioso

    de Paracelso pde ser recuperado em toda

    sua integridade.

    Pioneirismo

    Paracelso no via o mdico apenas como um

    profissional para eliminar os sintomas de uma

    doena e esse era um conceito completa-

    mente diferente daquele que imperava em

    sua poca. Sua opinio sobre a doena fica

    muito mais prxima do conceito moderno,

    porque se baseia numa imagem csmica do

    mundo e da humanidade, indo muito alm da

    viso tradicional da sua poca, que se baseava

    na doutrina dos fluidos de Hipcrates. Segun-

    do o ponto de vista tradicional, a doena era

    causada por mau funcionamento e mistura

    dos quatro fluidos do corpo: sangue, catarro,

    blis preta e blis amarela. Paracelso modifi-

    cou a opinio existente naqueles dias, definin-

    do a sade como equilbrio e doena com o

    desequilbrio de todas as energias presentes.

    A arte de curar, de acordo com Paracelso,

    apia-se em quatro pilares: a filosofia, que

    significa, antes de mais nada, abrir-se ao con-

  • Pgina 8 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    junto das foras naturais, observar essas foras

    invisveis na penetrao da realidade total e per-

    ceber o invisvel no visvel; a astronomia, que

    nos ensina como as estrelas nos influenciam;

    a alquimia, til principalmente na preparao

    dos remdios e virtus, a honestidade do

    mdico. De acordo com ele, o mdico a

    imagem primordial de uma pessoa que est

    se aperfeioando. Mais do que qualquer um,

    o mdico deve reconhecer a ao da nature-

    za invisvel no doente ou, em se tratando do

    remdio, como ela trabalha no visvel.

    Para podermos nos aproximar das idias pio-

    neiras de Paracelso, inevitvel considerar determinadas imagens bsicas, que normal-

    mente so rejeitadas pelo mdico convencio-

    nal, porque se apiam, acima de tudo, em

    opinies ocultas. As duas palavras chave

    desse lado secreto de Paracelso so imagi-

    nao e magia. Na biografia Paracelso, Alqui-

    mista, Qumico, Pioneiro da Medicina, o histo-

    riador e filsofo Lucien Braun, dedica um ex-

    tenso captulo a esse aspecto para explicar o

    significado bsico de tais idias. De acordo

    com o professor Braun, muito difcil expli-

    car a imaginao como sem sujeito e sem

    imagens. Porque Paracelso quer apenas pos-

    sibilitar que a natureza aparea, que a pr-

    pria luz da natureza surja, mostrando-a. Mas ela

    apenas mostra a luz quele que sabe ver sem

    imagens.

    A natureza mais do que nossos olhos en-

    xergam, o invisvel que pulsa atravs do visvel.

    O invisvel nunca se apresenta como imagem,

    porque ele no um objeto, energia viva,

    criativa; uma energia no dividida, que tira as

    coisas de seu interior, transformando-as no

    que so na realidade.

    Braun acredita que foi Paracelso quem, pela

    primeira, vez expressou essa diferenciao

    histrica do pensamento ocidental. Hoje,

    pensando nos campos morfogenticos do bilogo ingls Rupert Sheldrake, ela nos soa

    muito normal. Foi ela que inspirou Paracelso

    em relao a estas palavras: O visvel esconde

    o invisvel, mas apesar disso conseguimos o invis-

    vel apenas atravs do visvel.

    Para o mdico suo, a natureza no apenas

    aquilo que nossos olhos enxergam, nem so-

    mente o que existe num outro lugar, mas

    ambos ao mesmo tempo. Escreveu Braun:

    Assim, no de surpreender que foi Paracelso

    quem introduziu a descrio da 'fora de imagi-

    nao' dando, desse modo, um nome energia

    imanente que fixa as coisas do interior para fora,

    cria, faz surgir e no pode ser imaginada de mo-

    do algum. Outros atributos dessa fora so: ela

    flui atravs de todas as coisas, 'atravs de todo

    esse imenso mundo', e to eterna como tudo que existe e no existe, tudo que 'est sendo'.

    Imaginao e Magia na viso de

    Paracelso

    Segundo Paracelso, imaginao e magia esto

    intimamente ligadas. E nesse caso magia quer

    dizer ao direta sobre coisas, pessoas e to-

    dos os seres, sem ajuda da matria. Ou, ex-

    presso de outro modo: o mago capaz de

    causar efeitos fsicos sem ajuda fsica. Porque,

    segundo o pensamento de Paracelso, toda

    natureza invisvel se movimenta atravs da

    imaginao. Se a imaginao fosse forte o su-

    ficiente, nada seria impossvel, porque ela a

    origem de toda magia, de toda ao atravs

    da qual o invisvel deixa seu rastro no visvel.

    A energia da verdadeira imaginao pode

    transformar nossos corpos, e at influenciar

    no paraso.

    Paracelso reconheceu tambm que a f forta-

    lece a imaginao. Tudo isso inclui as curas

    milagrosas atribudas a ele, que no podem

    ter sido somente o resultado dos remdios,

    em geral muito simples. bvio que eles ser-

    viram para influenciar conscientemente a for-

    a da imaginao de um doente. As plulas que o mdico suo levava consigo no boto

    do punho de sua famosa espada foram, acima

    de tudo, meios de ajuda ao mgica.

  • Pgina 9 Volume I1I, edio XX

    Baseando-se nesse fundo filosfico, Paracelso

    ligou as caractersticas exteriores de um re-

    mdio com as de uma doena. Um remdio

    se mostra pela sua assinatura, porque o ex-

    terior da planta de que ele extrado espelha

    sua funo e atributos. Assim, por exemplo,

    folhas em forma de corao foram recomen-

    dadas para doenas cardacas. Mas tambm a

    poca em que o remdio tomado deve es-

    tar certa, pois a energia de uma planta s po-

    de ser liberada durante determinadas conste-

    laes planetrias. Remdio, mdico e doen-

    te formam um total ligadssimo, de acordo

    com as leis da natureza. O conhecimento

    mdico tem mais a ver com a intuio e a conhecida clarividncia de Paracelso do que

    com o conhecimento intelectual.

    Existem trabalhos em que se comparam as

    opinies de Paracelso e da antroposofia, in-

    cluindo a homeopatia. As duas praticam uma

    maneira solta de fazer perguntas, partindo

    de uma imagem de muitas camadas de ho-

    mens e doenas. Tambm se confirma um

    efeito direto de Paracelso sobre a homeopa-

    tia. Sua graduao pode ser comparada com

    potencializao dos remdios, caracterstica

    da homeopatia desenvolvida pelo seu desco-

    bridor, Samuel Hahnemann, de modo novo e

    espontneo, como tambm a preparao es-

    pecfica de substncias naturais para rem-

    dios. Hahnemann, claro, negou a influncia

    de Paracelso e at falou com desprezo sobre

    ele.

    Rudolf Steiner, pai da antroposofia, escreve:

    Entre Paracelso e Hahnemann existe uma gran-

    de diferena: at certo ponto o mdico do sculo

    16 ainda era clarividente, Hahnemann no. Ele

    conseguiu testar o efeito dos remdios pelos sen-

    tidos. E o historiador da medicina Heinrich

    Schipperges chega concluso de que Para-

    celso, como mdico de seu tempo, no prati-

    cava medicina tradicional nem moderna, ou

    seja, ele no pode ser encaixado na medicina ortodoxa tampouco na medicina total. Sua

    medicina se apoiava muito mais num concei-

    to claro e inconfundvel, numa teoria da me-

    dicina que tinha suas razes na filosofia, que

    faz do homem um verdadeiro mdico. No

    entanto, essa filosofia no confia apenas na

    natureza nem na mente; ela constri da luz

    da natureza seu cosmos anthropos.

    O que podemos aprender de Paracelso

    principalmente a necessidade de pensar so-

    bre a medicina e o que ocorre durante o tra-

    tamento. A popularidade de Paracelso conti-

    nua hoje, porque ele tem algo para cada um:

    mdicos tradicionais, totais, filsofos, esot-

    ricos, etc. Ele conseguiu novidades no campo

    da qumica, da idia de que para cada doena,

    deve existir um remdio especfico.

    Mdico, Alquimista, Filsofo,

    Telogo, Cabalista e Mago

    Tambm impressionam as dicas para o fu-

    turo que os escritos de Paracelso contm.

    Pensamentos csmicos estavam bem mais

    perto dele do que de ns, mesmo se tal pen-

    samento hoje, j est comeando novamente

    a ganhar terreno. Paracelso era um mstico,

    algum que viu a matria penetrada pelo es-

    piritual. Suas concluses tm valor at hoje

    porque nenhum mdico naturalista pode

    comparar-se com ele, e o fato de ele ter sido

    muito criticado tornou-o ainda mais interes-

    sante. Porque Paracelso, afinal, no apenas

    escreveu livros, mas tambm teve suas pr-

  • Pgina 10 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    prias experincias e nunca teve medo de en-

    frentar as conseqncias negativas de seu

    pensamento no-conformista. Para ele serve

    o ditado: Quem consegue ser ele mesmo no

    deve pertencer a um outro tanto hoje como

    em qualquer outra poca, em que cada um

    corre atrs de um outro guru.

    Gunhild Porksen, tradutora de textos de Pa-

    racelso durante anos, diz que as controvr-

    sias a respeito dele so causadas por seu

    comportamento grosseiro e rude. Ela chegou

    concluso de que ele era um homem de

    energias especiais. O fato que ele sempre

    conseguiu entusiasmar pessoas bem diferen-tes como, por exemplo, Goethe em seu

    Fausto. Os sucessos astrolgicos de Paracel-

    so so famosos e ele, sem dvida alguma, era

    um grande bilogo e um mdico total, que

    entendeu muito do esoterismo. Era esotri-

    co porque falou muito sobre o interior do

    homem e tambm sobre a influncia das es-

    trelas sobre os seres humanos.

    Paracelso era um homem que, como nin-

    gum, representava o esoterismo de sua

    poca. Da cincia Renascena, que se en-

    tregava cada vez mais a um especialismo

    acentuado, ele enfatizou um pensamento to-

    tal. A natureza era sua professora que, para

    ele, era perfeita porque trabalha de acordo

    com um grande plano divino. E a idia de Pa-

    racelso de que corpo e alma so uma unida-

    de um pensamento totalmente moderno,

    tambm reconhecido, cada vez mais, como

    uma verdade pela medicina moderna.

    A Natureza

    Observamos que Paracelso estabeleceu uma

    diviso dos elementos a serem estudados

    nos corpos animais, vegetais ou minerais. Di-

    vidiu-os em Fogo, Ar, gua e Terra, confor-

    me tinham feito tambm os antigos. Esses elementos encontram-se presentes em todo

    corpo, seja ele organizado ou no, e so se-

    parveis uns dos outros. Para efetuar a sepa-

    rao, eram indispensveis os laboratrios

    com material adequado. O fornilho era insu-

    ficiente; carecia-se de um fogo capaz de tor-

    nar vermelho vivo o crisol para aumentar

    constantemente o calor quando se tornasse

    necessrio. Era fundamental uma contnua

    proviso de gua, de areia, de limalhas de fer-

    ro a fim de aquecer gradativamente os forni-

    lhos. Nos armrios e mesas do laboratrio,

    havia balanas perfeitamente aferidas e nive-

    ladas, almofarizes, alambiques, retortas, cadi-

    nhos, esmaltados, vasos graduados, grande

    quantidade de vasilhas de cristal etc., alm de

    um alambique especial para realizar as desti-

    laes.

    Com um laboratrio bem equipado, o alqui-

    mista capaz de aplicar-se rigorosamente, de-

    dicado minuciosa observao das regras

    alqumicas, est em condies de verificar as

    diferentes operaes indispensveis para ana-

    lisar as substncias escolhidas e extrair delas

    a quintessncia ou o arcana, isto , as pro-

    priedades intrnsecas dos minerais e vegetais.

    s vezes infinitesimal em quantidade at nos

    grandes corpos, a quintessncia afeta, contu-

    do, a massa em todas as suas partes, da mes-

    ma forma que uma nica gota de blis produz

    mau humor ou uns centigramas de aafro

    so suficientes para colorir uma grande quan-

    tidade de gua. Os metais, as pedras e suas

    variedades trazem em si mesmos a sua quin-

    tessncia, o mesmo que os corpos orgnicos

    e, embora sejam considerados sem vida, pos-

    suem essncias de corpos que viveram.

    Esta uma notvel afirmao, que Paracelso

    sustenta com sua teoria de transmutao dos

    metais em substncias diversas, teoria que

    tambm os ocultistas modernos defen-

    dem.Que clarividncia possua esse homem a

    respeito do reino mineral! Ningum poder

    negar a Paracelso o ttulo de sbio, pois ele,

    com suas investigaes sutis, soube desven-dar os mais recnditos segredos da Nature-

    za, que hoje em dia, sem dvida, a cincia

    explica melhor, graas a descobertas de ob-

  • Pgina 11 Volume I1I, edio XX

    servadores que dispem de maiores meios

    cientficos, como demonstraram Madame

    Curie e seus colaboradores.

    Quando examinamos o novo sistema de filo-

    sofia natural desenvolvido por Paracelso, no

    devemos esquecer que j transcorrem qua-

    tro sculos desde o seu aparecimento. Na

    realidade, foi ele quem concebeu essas inves-

    tigaes, inspirando com elas os grandes lu-

    minares de sua poca e das geraes que se

    seguiram.

    As investigaes de Paracelso culminaram em

    sua Teoria das Trs Substncias, que so as bases necessrias a todos os corpos, a que

    ele chamou de enxofre, mercrio e sal em

    sua linguagem cifrada. O enxofre significa o

    fogo; o mercrio, a gua; o sal, a terra. Ou,

    de outra maneira: a volatilidade, a fluidez, a

    solidez. Omitiu o ar por consider-lo produ-

    to do fogo e da gua.

    Todos os corpos, orgnicos ou minerais, ho-

    mem ou metal, ferro, diamante ou planta

    constituam, segundo ele, combinaes varia-

    das desses elementos fundamentais. Seu ensi-

    namento sobre a base e as qualidades da ma-

    tria se cinge a essa Teoria dos Trs Princ-

    pios, que considerava premissas de toda ati-

    vidade, os limites de toda anlise e a parte

    constitutiva de todos os corpos. So eles a

    alma, o corpo e o esprito de toda matria,

    que nica. A potncia criadora da Nature-

    za, que ele denominou archeus, proporcio-

    na matria uma infinidade de formas, con-

    tendo cada uma delas seu lcool, ou seja, sua

    alma animal e, por seu turno, seu ares, ou

    seja, seu carter especfico. Alm disso, o

    homem possui o aluech,ou seja, a parte pu-

    ramente espiritual.

    Essa fora criadora da Natureza um espri-

    to invisvel e sublime: como um artista que se compraz, variando os tipos e reproduzin-

    do-os. Paracelso adotou os termos Macro-

    cosmo e Microcosmo para expressar o gran-

    de mundo (Universo) e o pequeno mundo (o

    Homem), os quais considera reflexo um do

    outro.

    Alm das investigaes j citadas, descobriu

    o cloreto, o pio, o sulfato de mercrio, o

    calomelano e a flor de enxofre. No final do

    sculo XIX, receitavam-se ainda s crianas

    um laxante composto de xarope de moran-

    gueiro e ps cinzentos, constituindo remdio

    excelente em virtude da teraputica de Para-

    celso. Igualmente, o ungento de zinco, que

    nunca deixou de ser receitado, tem sua ori-

    gem no laboratrio paracelsiano. Ele foi o

    primeiro a utilizar o mercrio e, para certas doenas depauperantes, o ludano.

    Cabala e Misticismo

    No h dvida de que Paracelso foi um msti-

    co. Sua filosofia espiritual foi filha de seu pre-

    coce conhecimento do neoplatonismo; tinha

    como base a unio com Deus. Mediante essa

    unio, o esprito do homem procurava ven-

    cer as ms influncias, descobrir os arcanos

    da Natureza, conhecer o bem, discernir o

    mal e viver sempre dentro da fortaleza divi-

    na.

    Paracelso soube identificar a mo de Deus

    em toda Natureza: nas entranhas das monta-

    nhas, onde os metais esperam a sua vontade;

    na abbada celeste, onde por meio Dele se

    movem o sol e as estrelas; nas ribeiras, onde

    sua liberalidade derrama toda sorte de ali-

    mentos e a bebida para o homem; nos verdes

    prados e nos bosques, onde crescem mira-

    des de ervas e de frutos benfazejos; nas fon-

    tes que proporcionam suas propriedades cu-

    rativas. Enfim, viu que a terra era a grande

    obra de Deus e que era preciosa aos olhos

    Dele.

    Paracelso era uma inteligncia ntida e clara. Era bom e tambm sbio. Sua vida errante

    jamais o despojou dessa bondade que cons-

    tantemente fez resplandecer os generosos

    impulsos de sua alma. Sentia como um artista

  • Pgina 12 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    e pensava como um filsofo; por isso, soube

    irmanar as leis da Natureza com as da alma.

    Essa sensibilidade artstica que nunca o aban-

    donava constituiu a ponte entre Paracelso,

    homem e observador visionrio da Realida-

    de, ponte maravilhosa que repousava sobre

    as travessas de uma nova humanidade: a Re-

    nascena.

    E sobre essa ponte audaz procedeu cons-

    truo do Universo, do qual Paracelso foi um

    de seus maiores arquitetos; pois, outra coisa

    no foi a declarao dos princpios do pro-

    gresso espiritual, completada um pouco mais

    tarde por Giordano Bruno, poeta, filsofo, artista e investigador da Natureza.

    Como as ondas do mar, o sentimento da Na-

    tureza se estendeu de Paracelso at os ho-

    mens do futuro. Estes compreenderam, igual-

    mente, a consagrao das investigaes e a

    alegria inefvel de descobrir as Leis Divinas.

    Paracelso possua essa propriedade que ainda

    hoje admiramos nos msticos clssicos, via

    Deus tanto na Natureza como no microcos-

    mo e, pela meditao, foi tocado pela graa

    divina. Suas concluses filosficas formam a

    moral de um humanismo cristo. A confra-

    ternidade ntima dos filhos de Deus deve nas-

    cer de uma humanidade bem ordenada, do

    saber humano e do inaprecivel valor da al-

    ma, em cada um dos seus membros.

    Este Universo de formas e foras infinitas ,

    em sua unidade e em sua interdependncia, a

    revelao das leis de Deus; a Natureza cons-

    titui o esteio e o verdadeiro amigo dos en-

    fermos. E essa Natureza se encontra em to-

    das as partes: na terra, onde o semeador

    opera seus milagres, ao confiar-lhe a semen-

    te; nas montanhas, onde morrem as rvores

    velhas para dar lugar s que nascem; nas flo-

    restas murmurantes; nas sebes; nos lagos,

    onde o sol brinca com a gua; em todos os

    lugares est viva e eterna a me Natureza.

    Paracelso emoldurou a Natureza com visto-

    sas imagens, comparaes acertadas, enge-

    nhosas alegorias e parbolas de sentido pro-

    fundo. Numa linguagem rica e substanciosa,

    apresenta-nos o curso das estaes, sua pro-

    ximidade e seu fim. Pinta-nos a primavera,

    quando os novos ritmos se balanam lacres

    pelo ar; o vero, quando a jovem vida cami-

    nha rumo colheita e o tempo revela os fru-

    tos sazonados; o outono, quando o trabalho

    chega ao seu fim e a vida enlanguesce; e, fi-

    nalmente, descreve-nos o inverno, fazendo-

    nos sentir a doce viso de uma morte suave

    e tranqila.

    Como bom cristo, seguiu os ensinamentos

    de Jesus. O que Deus quer so nossos cora-es diz no Tratado das doenas invisveis, e

    no as cerimnias, j que com elas a f Nele

    perece. Se quisermos buscar a Deus, devemos

    busc-lo dentro de ns mesmos, pois fora de ns

    jamais o encontraremos. Toma como ponto

    de apoio a Vida e a Doutrina de Nosso Se-

    nhor, porque nela est a nica base de nossa

    crena:

    Ali est ela, na Vida Eterna, descrita pelos Evan-

    gelhos e nas Escrituras, onde encontramos tudo

    o de que necessitamos, tudo em absoluto. S em

    Cristo h estado de graa espiritual e por nossa

    f sincera seremos salvos. Basta-nos a f em

    Deus e em seu nico Filho. O que nos salva a

    infinita misericrdia de Deus, que perdoa nossos

    erros. O Amor e a F so uma mesma coisa: o

    amor deriva da f e o verdadeiro cristianismo se

    revela no amor e nas obras do amor.

    Acreditava que a perfeio da vida espiritual

    fora designada por Deus para todos os ho-

    mens e no apenas para alguns anacoretas,

    monges e religiosos que no dispunham de

    nenhum mandato especial do Senhor para

    tomar sobre si a exclusividade de uma santi-

    dade a que muito poucos podem chegar.

    O Reino de Deus contm uma revelao ntima

    com nossa vida de f e de amor, uma infinidade de mistrios que a alma penetrante vai desco-

    brindo um por um. So os mistrios da providn-

    cia de Deus, que todo aquele que investigar aca-

  • Pgina 13 Volume I1I, edio XX

    bar encontrando; so os mistrios da unio com

    Deus; o tabernculo secreto, cujas portas se

    abriro para todo aquele que clame. E os ho-

    mens que sabem perscrutar e chamar so os

    profetas e os benfeitores de seu reinado. A eles

    so entregues as chaves que ho de abrir os te-

    souros da terra e dos cus. E eles sero os pas-

    tores, os apstolos do mundo.

    O pensamento de Paracelso

    Paracelso escrevia com uma clareza encanta-

    dora. Em seu estilo no se v nenhuma com-

    plicao, nada daquela linguagem complicada e exagerada prpria da Re-

    nascena. Seu discurso

    contundente e ele se ex-

    pressa como um homem

    convencido de que conhece

    profundamente o assunto

    de que trata. Em algumas

    de suas obras nota-se mais

    claramente a breve e fecun-

    da expresso de um clarivi-

    dente e seus pensamentos

    surgem numa linguagem

    que os torna atemporais,

    capazes de perdurar atravs

    dos sculos, numa atualida-

    de surpreendente. Abaixo,

    alguns trechos de seus es-

    critos:

    A F uma estrela luminosa

    que guia o investigador atravs dos segredos da

    Natureza. preciso que busqueis vosso ponto de

    apoio em Deus e que coloqueis a vossa confian-

    a em um credo divino, forte e puro; aproximai-

    vos Dele de todo o corao, cheios de amor e

    desinteressadamente. Se possuirdes essa f,

    Deus no vos esconder a verdade, mas, pelo

    contrrio, vos revelar suas obras de maneira

    visvel e consoladora. A f nas coisas da terra

    deve sustentar-se por meio das Sagradas Escritu-ras e pelo Verbo de Cristo, nica maneira de

    repousar sobre uma base firme.

    A virtude a quarta coluna do templo da medi-

    cina e no h de fingir; significa o poder que re-

    sulta do fato de ser um homem na verdadeira

    acepo da palavra e de possuir no somente as

    teorias relativas ao tratamento da doena, mas

    igualmente o poder de cur-la.

    Da mesma forma que o verdadeiro sacerdo-

    te, o verdadeiro mdico ordenado por

    Deus. Com respeito a isso, assim se expressa

    Paracelso:

    Aquele que pode curar doenas mdico. Nem

    os imperadores, nem os papas, nem os colegas,

    nem as escolas superiores po-dem criar mdicos. Podem ou-

    torgar privilgios e fazer com

    que uma pessoa, que no

    mdico, aparentemente o seja;

    podem conceder-lhe licena

    para matar, mas no podem

    dar-lhe o poder de curar; no

    podem fazer dessa pessoa um

    mdico verdadeiro, se j no

    foi ordenada por Deus.

    Se, por um espao de alguns

    meses, observares rigorosa-

    mente as prescries, que se

    seguem, ver-se- operar, em

    tua vida uma mutao to fa-

    vorvel, que nunca mais pode-

    rs esquec-la. Mas, meu ir-

    mo, para que obtenhas o xi-

    to desejado, mister que

    adaptes tua vida estrita observncia destas

    regras. So simples e fceis de seguir, mas pre-

    ciso observ-las com a mxima perseverana.

    Julgars que a felicidade no vale um pouco de

    esforo? Se no s capaz de pores em prtica

    estas regras, to fceis, ters o direito de te quei-

    xares do destino? Ser to difcil a tentativa de

    uma prova? So regras legadas pela antiga Sa-

    bedoria e h nelas mais transcendncia do que

    simplicidade, como parece primeira vista.

    Antes de tudo, lembra-te de que no h nada

    melhor do que a sade. Para isso devers respi-

  • Pgina 14 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    rar, com a maior freqncia possvel, profunda e

    ritmicamente, enchendo os pulmes ao ar livre

    ou defronte de uma janela aberta. Beber quotidi-

    anamente, a pequenos goles, dois litros de gua,

    pelo menos; comer muitas frutas; mastigar bem

    os alimentos; evitar o lcool, o fumo e os medica-

    mentos, salvo em caso de molstia grave. Banhar

    -se diariamente, um hbito que devers tua

    prpria dignidade.

    Banir absolutamente de teu nimo, por mais

    razes que tenhas, toda a idia de pessimismo,

    vingana, dio, tdio, ou tristeza. Fugir como da

    peste, ao trato com pessoas maldizentes, invejo-

    sas, indolentes, intrigantes, vaidosas ou vulgares e inferiores pela natural baixeza de entendimen-

    tos ou pelos assuntos sensualistas, que so a

    base de suas conversas ou reflexos dos seus h-

    bitos. A observncia desta regra de importn-

    cia decisiva; trata-se de transformar a contextura

    espiritual de tua alma. o nico meio de mudar

    o teu destino, uma vez que este depende dos

    teus atos e dos teus pensamentos: A fatalidade

    no existe.

    Faze todo bem ao teu alcance. Auxilia a todo o

    infeliz sempre que possas, mas sempre de ni-

    mo forte. S enrgico e foge de todo o sentimen-

    talismo.

    Esquece todas as ofensas que te faam, ainda

    mais, esfora-te por pensar o melhor possvel do

    teu maior inimigo. Tua alma um templo que

    no deve ser profanado pelo dio.

    Recolhe-te todos os dias, a um lugar onde nin-

    gum te v perturbar e possas, ao menos duran-

    te meia hora, comodamente sentado, de olhos

    cerrados, no pensar em coisa alguma. Isso forti-

    fica o crebro e o esprito e por-te- em contanto

    com as boas influncias. Neste estado de recolhi-

    mento e silncio, ocorrem-nos sempre idias lu-

    minosas que podem modificar toda a nossa exis-

    tncia. Com o tempo, todos os problemas que

    parecem insolveis sero resolvidos, vitoriosa-mente por uma voz interior que te guiar nesses

    instantes de silncio, a ss com a tua conscin-

    cia. Todos os grandes espritos deixaram-se con-

    duzir pelos conselhos dessa voz ntima. Mas, no

    te falar assim de sbito; tens que te preparar

    por algum tempo, destruir as capas superpostas

    dos velhos hbitos; pensamentos e erros, que

    envolvem o teu esprito, que embora divino e

    perfeito, no encontra os elementos que precisa

    para manifestar-se.

    A carne fraca. Deves guardar, em absoluto

    silncio, todos os teus casos pessoais. Abster-se

    como se fizesses um juramento solene, de contar

    a qualquer pessoa, por mais ntima, tudo quanto

    penses, ouas, saibas, aprendas ou descubras.

    uma regra de suma importncia.

    No temas a ningum nem te inspire a menor

    preocupao o dia de amanh. Mantm tua al-

    ma sempre forte e sempre pura e tudo correr e

    sair bem. Nunca te julgues sozinho ou desam-

    parado; atrs de ti existem exrcitos poderosos

    que tua mente no pode conceber. Se elevas o

    teu esprito, no h mal que te atinja. S a um

    inimigo deves temer: a ti mesmo. O medo e a

    dvida no futuro so a origem funesta de todos

    os insucessos; atraem influncias malficas e

    estas, o inevitvel desastre. Se observares as cria-

    turas que se dizem felizes, vers que agem ins-

    tintivamente de acordo com estas regras. Muitas

    das que alegam que possuem grandes fortunas

    podem no ser pessoas de bem, mas possuem

    muitas das virtudes acima mencionadas. Ade-

    mais, riqueza no quer dizer felicidade; pode se

    constituir em um dos melhores fatores, porque

    nos permite a prtica de boas aes, mas a ver-

    dadeira felicidade s se alcana palmilhando ou-

    tros caminhos, veredas por onde nunca transita

    o velho Sat da lenda, cujo nome verdadeiro

    egosmo.

    No te queixes de nada e de ningum. Domina

    os teus sentidos, foge da modstia como da vai-

    dade; ambas so funestas e prejudiciais ao xito.

    A modstia tolher tuas foras e a vaidade to

    nociva como se cometesses um pecado mortal contra o Esprito Santo. Muitas individualidades

    de real valor tombaram das altas culminncias

  • Pgina 15 Volume I1I, edio XX

    atingidas, em conseqncia da Vaidade; a ela

    deveram certamente a sua queda Jlio Csar,

    aquele homem extraordinrio que se chamou

    Napoleo e muitos outros. Oxal, sigas sempre

    estas poucas regras para a tua felicidade, para o

    teu bem e a nossa alegria.

    Todas as doenas tm seu princpio em alguma

    das trs substncias: Sal, Enxofre ou Mercrio;

    quer dizer que podem ter sua origem no domnio

    da matria, na esfera da alma, ou no reino do

    esprito. Se o corpo, a alma e a mente esto em

    perfeita harmonia, uns com os outros, no existe

    nenhuma discordncia; mas se se origina uma

    causa de discordncia em um destes trs planos, isto se comunica aos demais.

    O verdadeiro mdico no se jactncia de sua

    habilidade nem elogia suas medicinas, nem

    procura monopolizar o direito de explorar o

    enfermo, pois sabe que a obra que h de

    louvar o mestre, e no o mestre, a obra. As-

    sim pensava Paracelso.

    Profecias

    Paracelso escreveu em 1536 As Profecias dos

    Acontecimentos Futuros, alm de alguns dis-

    cursos profticos, mais tarde publicados em

    Hamburgo. Boa parte de suas profecias apre-

    senta um desenho alegrico do tempo ou do

    personagem profetizado. Eis alguns extratos

    de suas profecias:

    Paracelso v o destino de Joo Paulo II:

    Comers o que no gostas

    Dividiste o dever em direita e esquerda, como

    se fosse um peso. E todas as duas partes acaba-

    ro por esmagar-te. Chegars a Roma de longe.

    De uma ferida sair sangue. De uma ferida sair

    a vida. Uma coroa ser posta em ti. Mas antes,

    contra a tua vontade, comers o que no gostas.

    ... O dilvio cair e um vento desastroso do leste soprar sobre ti, levantando a poeira da terra...

    O leo azul e branco marchar vitorioso. Aque-

    les do leste tero a vitria, mas a vitria durar

    poucas luas."

    Paracelso v a Rssia, escolhida como chico-

    te para o castigo dos crimes da Igreja des-

    truio de Paris

    Embora o sol ento brilhasse sobre ti, enrique-

    ceste com o roubo e com o saque. Estavas sen-

    tada entre as abelhas e o trigo, mas no foste

    previdente e esqueceste o quanto duro o in-

    verno. Sers obrigada a comer as prprias pa-

    tas. s como o urso, cheia de fora, mas mor-

    rers de fome. E isso acontecer quando Paris,

    Londres e Roma tero o urso (Rssia) como bra-

    so. ... Ateno bela cidade, que foste o brilho da

    Europa, porque sobre ti vir o fogo... O drago cansar a guia.

    Paracelso v o ltimo Papa.

    Ests predestinado a ser rodeado por muitas

    adversidades. Tens o nome de uma pedra. E s

    uma pedra larga e delgada. Cairs sob o castigo

    que quebrou todos os imprios. E a tua sabedo-

    ria, no final dos tempos, ser definida como lou-

    cura.

    Paracelso v o Antipapa no lugar do ltimo

    Papa:

    Tu tens reunido amide com aquele que um

    tempo foi inimigo. Percebers que todas as coi-

    sas so inteis. Ters de superar sozinho as difi-

    culdades e ters de refletir sobre quem s. Sen-

    tars na cadeira de Pedro e dela cairs.

    As causas ocultas das doenas de

    acordo com Paracelso

    Paracelso determinou os seguintes Cinco

    Princpios, pelos quais surgem as verdadeiras

    causas das doenas:

    - Ens Astrale ou Princpio Astral - Baseia-se em realidades csmicas, as causas so do tipo

    astral, ou causadas no corpo astral pessoal

    ou pelo mundo astral. Influncias climticas e

    infeces podem ser tambm incorporadas.

  • Pgina 16 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    Efeito: Todos os vcios, epidemias, dio, vida

    psquica impura

    Remdio: Autocontrole, autodisciplina, bon-

    dade, amor, compaixo

    Emoo: Simpatia/pensamentos (terra)

    Cor: Amarelo

    Som: Canto (boca)

    - Ens Veneni ou Princpio Venenoso - Surge

    dos venenos e envenenamentos do corpo

    humano, portanto uma desarmonia de impu-

    rezas, m alimentao, m respirao, todas

    as coisas contrrias constituio da pessoa.

    Efeito: Vida desregrada, drogas (pio, coca-

    na, fumo, bebida)

    Remdio: Cuidar de ter uma boa alimenta-

    o/homeopatia

    Emoo: Tristeza/preocupao (ar)

    Cor: Branco

    Som: Choro (nariz)

    - Ens Naturale ou Princpio Natural - Fica

    na constituio natural (natureza) do homem.

    Voc no pode fugir de si mesmo. As causas

    so predeterminadas, fixas. So doenas her-

    dadas, que j vem com o nascimento. No

    podem ser curadas com substncias materi-

    ais, somente seu efeito pode ser amenizado.

    Efeito: Todas as influncias hereditrias

    Remdio: Magnetismo e alopatia

    Emoo: Medo (gua)

    Cor: Preta

    Som: Gemido (ouvidos)

    - Ens Spirituale ou Princpio Espiritual -

    As causas da doena so de origem mgica,

    originadas ou de espiritualidade estranha ou

    do prprio esprito, s quais fica submetida,

    sem a percepo do corpo e da alma. Com-

    preende todas as doenas causadas por uma

    imaginao doentia e uma vontade mal dirigi-

    da, so as doenas psquicas ou da idia.

    Efeito: Teimosia, vacilao, preocupaes,

    obsesso, obstinaes

    Emoo: Raiva/zanga (madeira)

    Cor: Verde

    Som: Grito (olhos)

    - Ens Dei ou Princpio Divino - S podem

    ser curadas quando o homem alcanou o de-

    vido amadurecimento atravs delas. Estas

    doenas so impostas com fins de purifica-

    o. O mdico no pode fazer nada, Car-

    ma.

    Efeito: Carma leve, moderado, pesado

    Remdio: Ser um mago para chegar at ao

    segredo da doena e reconhecer a hora cer-

    ta para intervir

    Emoo: Alegria (fogo)

    Cor: Vermelho

    Som: Riso (lngua)

    Ainda segundo Paracelso, as doenas so ca-

    talogadas da seguinte forma:

    Do lado direito do corpo tudo fsico

    Do lado esquerdo do corpo tudo psquico

    Do lado da frente do corpo tudo positivo

    (eltrico)

    Do lado das costas do corpo tudo negati-vo (magntico)

  • Pgina 17 Volume I1I, edio XX

    A Magia Elemental

    Para Paracelso, da mesma maneira que a na-

    tureza visvel habitada por um nmero infi-

    nito de seres, a contraparte invisvel e espiri-

    tual da natureza habitada por uma hoste de

    seres peculiares, aos quais ele deu o nome de

    elementais e que, posteriormente, foram

    chamados espritos da natureza.

    Paracelso dividiu essa populao dos elemen-

    tos em quatro grupos distintos: gnomos, os

    espritos da terra, que denominava de

    pigmaci; ondinas, espritos da gua, que cha-mava de nenufdreni; silfos, espritos do ar,

    que chamava de melosinae e salamandras,

    espritos do fogo, que chamava de acthnici.

    Ele pensava que fossem criaturas realmente

    vivas que habitavam seus prprios mundos,

    invisveis para ns porque os sentidos subde-

    senvolvidos dos homens eram incapazes de

    funcionar para alm das limitaes dos ele-

    mentos mais densos.

    De acordo com Paracelso, os elementais no

    seriam nem criaturas espirituais nem materi-

    ais, embora compostos de uma substncia

    que pode ser chamada de ter. Em suma, es-

    ses seres ocupariam um lugar entre os ho-

    mens e os espritos. Por essa razo tambm

    no seriam imortais, mas quando morressem

    simplesmente se desintegrariam, voltando ao

    elemento do qual originalmente tinham se

    individualizado. Segundo ele, os elementais

    compostos do ter terrestre so os que vi-

    vem menos; os do ar, os que vivem mais. A

    durao mdia de vida fica entre os 300 e os

    mil anos. Supe-se que tais criaturas sejam

    incapazes de desenvolvimento espiritual, mas

    algumas delas so de elevado carter moral.

    Para a Escola Teosfica, entretanto, os ele-

    mentais seguiriam uma escala de evoluo at

    se tornarem anjos. Comeam no elemento

    mais prximo do homem at chegar em um

    nvel mais prximo de Deus. As civilizaes

    da Grcia, de Roma, do Egito, da China e da

    ndia acreditavam implicitamente em stiros,

    espritos e duendes. Elas povoavam o mar

    com sereias, os rios e as fontes com ninfas, o

    ar com fadas, o fogo com lares e penates, a

    terra com faunos, drades e hamadrades. Es-

    ses espritos da natureza eram tidos em alta conta, e a eles eram dedicadas oferendas.

    Ocasionalmente, dependendo das condies

    atmosfricas ou da sensibilidade do devoto,

    eles se tornam visveis. Bom nmero de au-

    toridades de opinio que muitos dos deu-

    ses cultuados pelos pagos eram na verdade

    esses habitantes dos reinos mais sutis da na-

    tureza, pois acreditava-se que muitos desses

    seres invisveis eram de estatura imponente e

    maneiras majestosas. Os gregos chamavam

    alguns desses elementais de daemon, espe-

    cialmente os das ordens mais altas, e os cul-

    tuavam.

    Assim como os anjos das hierarquias mais

    altas, os elementais canalizam a energia do

    Criador, a tenso divina que faz o mundo

    existir. Assim como vivemos sob a cpula de

    luz do anjo da guarda, que representa a liga-

    o entre ns e o resto do universo e ao

    Criador que nos d existncia, os anjos dos

    elementos retransmitiriam essa energia divina

    para um mineral, vegetal ou animal.

    A Magia Elemental, portanto, a antiqssima

    cincia que versa acerca dos elementais e a

    manipulao de seus poderes ocultos e mgi-

    cos. Os antigos ndios americanos, os alqui-

    mistas medievais, os taoistas e xintostas e os

    cabalistas rabes (Ordem Sufi dos Zuhrawar-di) e os hebreus no desconheciam essa Ci-

    ncia.

    Paracelso foi quem sistematizou e classificou

  • Pgina 18 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    os elementais de uma forma extremamente

    didtica e sinttica. Seu sistema mdico e m-

    gico baseado nas foras astrais que regem

    toda a natureza, representadas pelos sete

    planetas: Lua, Mercrio, Vnus, Sol, Marte,

    Jpiter e Saturno.

    Tais vibraes setenrias refletem-se em nos-

    so Sistema Solar de diversas maneiras: cores

    do arco-ris, dias da semana, sub-nveis das

    camadas eletrnicas, notas musicais, sentidos

    paranormais, anatomia oculta do etc. V-se

    isto na fisiologia e anatomia dos seres vege-

    tais e animais e tambm nas configuraes

    qumica e cromtica, no reino mineral.

    De acordo com as classificaes de Paracel-

    so, pode-se distribuir diversos seres elemen-

    tais de acordo com os 12 signos zodiacais e

    tambm de acordo com os planetas astrol-

    gicos. Acreditando que o homem tinha auto

    suficincia e o poder da auto cura, ele dividiu

    os elementais em:

    Elementais da Terra: Gnomos, aos quais

    depois se uniram os Duendes - Os gnomos

    ficaram como senhores do reino mineral e os

    duendes responsveis pelo reino vegetal. Os

    Gnomos servem no plano fsico, bem atrs

    do vu ou espectro da viso comum. Eles

    governam e preservam o corpo da terra,

    mantm o equilbrio das foras naturais do

    planeta e cuidam que todas as necessidades

    dirias de todos os seres vivos sejam atendi-

    das. o Gnomo que faz com que um animal

    que esta com sede no deserto caminhe em

    direo gua que procura, mesmo que

    morra na busca, o animal sempre estar indo

    na direo certa.

    Elementais da gua: Ondinas, que depois

    se uniram s Sereias e s Ninfas - As ondi-

    nas ficaram com os riachos, fontes, no orva-

    lho das folhas, sobre as guas e nos musgos.

    As sereias, com as guas dos mares e as nin-fas, que seriam ondinas menores, encontram-

    se em tal estado de suavidade e leveza, que

    parecem levitar sobre as guas. As Ondinas

    fazem um trabalho srio com os oceanos,

    rios, lagos e pingos de chuva, que fazem sua

    parte na reforma do corpo fsico da terra e

    do ser humano. As Ondinas governam os

    ciclos da fertilidade e do elemento ou corpo

    da gua.

    Elementais do Fogo: Salamandras reinam no elemento fogo e guardam os mistrios e se-

    gredos desse elemento, que corresponde ao

    plano ou corpo etrico. Precisamente em

    que ponto o fogo fsico, indefinido e difcil de

    controlar, se transforma em fogo sagrado no

    plano etrico, ensinado pelo Esprito Santo

    de Deus, observado pelo corao sagrado

    dos santos, levemente tocado por cientistas

    nucleares, mas firmemente seguro nas mos

    das Salamandras.

    Elementais do Ar: Silfos, que depois uniram-

    se s Hamadrides e s Fadas - silfos, reinam

    no ar, nos ventos, assemelhando-se aos an-

    jos. Tem a sensibilidade muita acentuada, e

    modelam as nuvens com suas brincadeiras. J

    as fadas, ligadas terra e ao ar, brilham lumi-

    nosamente com um tom branco. So alegres,

    joviais e minuciosas, sendo que tambm po-

    dem desenvolver aspectos terrivelmente ne-

    gativos, como reprovao s maldades huma-

    nas. Os Slfides servem o domnio dos cus,

    da purificao do ar, e do sistema de presso

    do ar. Isto tudo percebido nas mudanas

    alqumicas do tempo e nos ciclos de fotossn-

    tese e precipitao. Estes elementais do ar

    so mestres, que expandem e contraem seus

    corpos de ar de nveis microcosmicos a ma-

    crocosmicos. Sempre mantendo a chama pa-

  • Pgina 19 Volume I1I, edio XX

    ra o reino da mente, que corresponde ao

    plano ou corpo do ar.

    Como utilizar estes seres se eles vivem em

    outra dimenso? Como comunicar-nos com

    eles? Como falar com quem no vemos? O

    qu fazer para poder v-los? Inmeras so as

    perguntas e inmeras so as respostas. Di-

    menso uma palavra que significa tamanho, extenso, ou espao. Como cada espao

    repleto ou preenchido por energia Divina

    vibrando de forma diferente, chamamos cada

    espao ou dimenso de plano.

    A cincia moderna depara-se com um grande

    enigma quanto investigao da origem da

    matria densa. Todo objeto de matria den-

    sa, quando visto aos olhos de microscpios

    eletrnicos, revela-se feito de vrias cargas

    eltricas e partculas em constante movimen-

    to. De alguma maneira, estas cargas eltricas

    em constante movimentao, criam a aparn-

    cia da forma fsica. Ns podemos tocar a ma-

    tria de uma pedra, de uma cadeira, ou de

    um ser humano, mas se visualizarmos qual-

    quer um destes materiais, sob o auxilio de

    um poderoso microscpio, veremos que o

    fsico est dissolvido em um mar de peque-

    nos impulsos eltricos.

    Como estas foras eltricas se organizam

    para produzir a forma, o que ainda um

    mistrio para a cincia moderna. claro que

    existe uma fora que faz a ponte para que

    estas foras eltricas se organizem a ponto

    de formar a forma fsica. Esta fora a hie-

    rarquia csmica dos seres de luz. Sem estes

    seres csmicos de luz, no haveria a forma

    organizada e inteligente que conhecemos.

    Toda a forma a mistura da relao entre os

    seres csmicos e os seres atmicos. Os se-

    res de luz, so os responsveis diretos por

    esta organizao atmica. Estes seres so o

    instrumento pelo qual conseguimos organizar

    a matria atmica em formatos diferentes.

    O crescimento de uma planta, por exemplo,

    necessita da interferncia dos seres de luz

    para poder acontecer. A pedra, para se

    transformar em diamante tambm sofre a

    interferncia destes seres. Tudo o que se transforma, at mesmo a desintegrao de

    um alimento ao sol, ou o envelhecimento do

    ser humano, recebe interferncia direta dos

    seres de luz. Os seres sem luz, tambm tm

    este poder, porm, no tm a organizao e

    perfeio que tem os seres de luz.

    A hierarquia csmica similar hierarquia

    atmica. Os seres csmicos de luz se mani-

    festam pela primeira vez na Ordem dos

    Elohim, na forma de elementais do fogo, do

    ar, da gua, e da terra, j definidos acima.

    Aps a educao e vivncia, como elementais

    do fogo, do ar, da gua e da terra, os seres

    de luz, assim como os seres atmicos, tm

    uma evoluo natural de sua conscincia,

    evoluem para seres angelicais, onde podero

    continuar seu crescimento na hierarquia cs-

    mica. Na escalada da evoluo, esses seres

    partem dos pequenos elementais da terra

    seguindo at os dirigentes de grandes exten-

    ses e compreenso, chamados Devas e

    Elohim. Estes j desenvolvem seu trabalho de

    criao dos universos junto Hierarquia Es-

    piritual.

    A histria nos conta sobre esses seres, desde

    a mais remota antiguidade. E, os antepassa-

    dos de toda a humanidade legaram inmeros

    relatos a respeito dos mesmos. No incio dos tempos, os seres da natureza, encarregados

    de cada elementos, cuidaram para que tudo

    fosse feito com exatido e ordem:

  • Pgina 20 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    - Na terra ainda como uma massa de gases

    de matria incandescente radioativa, coube

    aos elementais do fogo executarem seu tra-

    balho;

    - Na poca dos grandes ventos, os elemen-

    tais do ar, zelaram pela evoluo desses gases

    de modo a tornar o ambiente apto a receber

    formas de vida;

    - Quando esses gases se precipitaram sobre a

    gua, os elementais da gua modificaram o

    aspecto denso desse lquido;

    - Ento, iniciou-se a solidificao, surgindo

    aos poucos os continentes que foram fertili-

    zados pelos elementais da terra.

    Como se v, a criao representa um todo

    inseparvel, formando uma corrente cujos

    elos no podem ser rompidos, se no quiser-

    mos provocar uma catstrofe de carter irre-

    medivel.

    Outros estudos e a influncia de seu

    trabalho e pensamento

    Conforme se v, Paracelso era um mstico e

    um cabalista perfeito, dentro do mais puro

    esprito cristo. Aceitou, contudo, muitas das

    crenas to em voga em sua poca, referen-

    tes aos poderes ocultos e s foras invisveis.

    Acreditava, igualmente, na existncia real dos

    elementais, isto , nos espritos do fogo, aos

    quais dava o nome de acthnici; nos do ar,

    que chamava de melosinae; nos da gua, que

    chamava de nenufdreni; e nos da terra, que

    denominava de pigmaci.Alm disso, admitia

    a realidade das dradas, a que atribua o nome

    de durdales, e dos espritos familiares (os

    deuses penates dos romanos), que alcunhava

    de flagae. Afirmou tambm, a existncia do corpo astral do homem, que chamava de

    aventrum, e do corpo astral das plantas, a

    que deu o nome de leffas.

    Do mesmo modo, tratou profundamente da

    levitao, que chamou de mangonaria, e

    muito especialmente da clarividncia, que

    denominava de nectromantia. Acreditava

    nos duendes, nos fantasmas e nos pressgios.

    Seu Arquidoxo mgico, livro sobre amuletos

    e talisms, tambm muito interessante, vis-

    to que nele expe seu conhecimento acerca

    da imensa fora do magnetismo. Combinou

    metais sob determinadas influncias planet-

    rias, com o objetivo de fabricar talisms con-

    tra certas doenas, e o mais eficaz deles

    aquele que chama de Magneticum magicum.

    Esse talism se compe de sete metais (ouro,

    prata, cobre, ferro, estanho, chumbo e mer-crio) e neles esto gravados signos celestes

    e caracteres cabalsticos.

    Entendia, tambm, que as pedras preciosas

    possuam propriedades ocultas para curar

    determinadas doenas. Os anis e medalhas

    em que se montavam essas pedras levaram o

    nome de gamathei. Cada um deles possua

    virtudes especiais. Uma de suas pedras prefe-

    ridas era a chamada bezoar, que no ori-

    unda nem das montanhas nem das minas,

    mas que se forma no estmago de certos

    animais herbvoros, por crescimentos justa-

    postos e concntricos de fosfatos de clcio,

    que o estmago no conseguiu expulsar.

    Suas opinies a respeito das pedras preciosas

    foram adotadas pelos membros da Rosa-

    Cruz, que elaboraram as interpretaes fsi-

    cas e espirituais dos poderes misteriosos do

    diamante, da safira, da ametista, do topzio,

    da esmeralda e da opala.

    Os alquimistas, herdeiros do modo de pen-

    sar gnstico, sempre encararam a natureza

    como a prpria divindade, e viam em suas

    mltiplas manifestaes uma espcie de es-

    crita cifrada, algo como um incomensurvel

    criptograma, por trs do qual o Criador po-

    de sempre se ocultar, e ao mesmo tempo revelar-se de modo sbio e discreto. Paracel-

    so num de seus inmeros tratados alqumi-

    cos, Paraminum, discorre acerca de sua te-

  • Pgina 21 Volume I1I, edio XX

    oria dos sinais ou das assinaturas, segundo a

    qual cada coisa da natureza, ser vivente ou

    no, guarda em si traos visveis e invisveis

    de similitude, de modo que tudo no Universo

    acha-se intimamente relacionado entre si,

    posto que cada uma de suas partes, desde as

    mais diminutas clulas s grandes estruturas,

    desde o tomo at as estrelas, permeia-se de

    uma nica e mesma essncia, perceptvel ape-

    nas aos olhos argutos dos iniciados, treinados

    a ler esta escrita divina.

    Uma das principais tcnicas destinadas a esse

    propsito era a fisiognomonia (gnomos =

    conhecimento + phisis = natureza), muito explorada por Paracelso e outros alquimistas

    de sua poca, que consistia em observar as

    muitas faces da natureza para da depreender

    um entendimento das intenes de Deus po-

    tencialmente guardadas em cada coisa que se

    nos apresenta. Tal leitura tanto se fazia por

    meio dos rostos (fisionomia) das pessoas,

    verdadeiros mapas a estampar nosso carter,

    bem como podia ser abstrada por analogia,

    de modo mais discreto, a partir das outras

    infinitas formas segundo as quais a natureza

    se revela.

    Com base nisso, Paracelso desenvolveu a te-

    se de que determinadas plantas, dado ao as-

    pecto externo de suas folhas, serviriam pre-

    ferencialmente ao tratamento de afeces de

    determinados rgos, por assemelharem-se

    ao formato anatmico destes, j que a sade

    nada mais que uma condio de respeito

    pela harmonia inerente ao Universo, em ra-

    zo do que todo mdico deveria regrar-se

    em sua teraputica pelo grande princpio

    Simila Similibus Curantur, ou seja,

    Semelhante cura o semelhante. Receitar no-

    zes, por exemplo, faria bem ao sistema ner-

    voso, por sua semelhana com o crebro;

    feijes preferencialmente seriam protetores

    de nossos rins, e assim por diante.

    Influenciado amplamente pela obra paraclsi-

    ca, o sapateiro filsofo Jacob Boehme (1575-

    1624), natural de Grlitz, Alemanha, enuncia-

    ria em 1622, em sua De Signatura Rerum:

    No existe nenhuma coisa na natureza, criada

    ou dada luz, que no revele exteriormente a

    sua forma interior, porque tudo o que ntimo

    tende sempre a manifestar-se (...) como pode-

    mos observar e constatar com as estrelas e os

    elementos, com as criaturas, e com as rvores e

    as plantas (...). por isso que a assinatura cons-

    titui uma fonte de compreenso, atravs da qual

    o homem no s se conhece a si prprio, mas

    pode reconhecer a quintessncia de todos os

    seres.

    Um dos grandes sbios contemporneos que

    nos ensina a perceber a assinatura de Deus

    em todas as coisas Carl Jung (1875-1961), por meio de seu conceito de sincronicidade,

    enunciado em 1951. Jung chama de sincroni-

    cidade toda coincidncia significativa de even-

    tos extraordinrios, que, uma vez por ns

    presenciada, induz nossa conscincia a abs-

    trair desses fenmenos espontneos e inco-

    muns algum tipo de significado que nos sirva

    intimamente, sugerindo-nos que algo existe

    entre ns e o meio em que vivemos, cuja es-

    sncia resta sempre incapturvel pelo olhar

    estrito da razo, forando-nos a um entendi-

    mento analgico ou mesmo intuitivo das cir-

    cunstncias envolvidas. Parece s vezes que

    Deus se diverte em nos pregar algumas pe-

    as, muito oportunas a propsito para nosso

    aprendizado, e que os anjos todos nos obser-

    vam com cumplicidade e alegria quando quer

    que nossas conscincias tornam-se aguadas

    pela experincia sincronstica, que nos sinto-

    niza a alma com uma dimenso superior da

    realidade corriqueira.

    Entretanto, mesmo a lide cotidiana, as vicissi-

    tudes do dia a dia; enfim, toda e qualquer si-

    tuao por qual passamos, toda dificuldade

    que se nos interpe, independentemente das

    sincronicidades de Jung, encerra Deus de al-

    guma forma em seu bojo; so sempre ex-

    presses da divindade disfaradas em dias e

    noites, em horas de alegria ou de tristeza, em momentos de paz ou provao.

    O poeta Walt Whitman soube dizer isso: Eu

    vejo alguma coisa de Deus em cada hora das

  • Pgina 22 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    vinte e quatro, e em cada momento. No rosto

    dos homens e das mulheres eu vejo Deus, e no

    meu prprio rosto no espelho. Eu encontro car-

    tas de Deus cadas na rua, e cada uma delas

    assinada com o nome de Deus. Eu as deixo onde

    esto, pois sei que no importa aonde eu v,

    outras viro... infalivelmente... eternamente!.

    Paracelso assistira descoberta dos minrios

    magnticos, at ento desconhecidos para o

    mundo, fato que lhe trouxe a certeza de que

    foras invisveis operam na natureza; e nobre

    seria o mdico que pudesse encontr-las e

    dirigi-las para a cura. Entendia ainda que a f

    fosse instrumento para o mesmo fim, sendo o medo das doenas mais terrvel que elas

    prprias; por isso procurava sugestionar seus

    pacientes de modo a faz-los crer que ficari-

    am sos.

    Mesmer seguiu risca o modelo da anam-

    nese de Paracelso. Quebrando o protocolo,

    aceitava discutir com seus pacientes as poss-

    veis causas de seus males, dando-lhes ouvi-

    dos e ateno antes de prescrever. Por essa

    simples razo, seu consultrio tornou-se

    muito concorrido.

    A morte de Paracelso

    Existem muitas lendas em torno da morte de

    Paracelso. Alguns dizem que os mdicos de

    Salzburgo contrataram a sua morte, outros

    dizem que foi envenenado por seus desafe-

    tos. Na verdade, segundo testemunho fide-

    digno, Paracelso morreu em conseqncia de

    uma doena progressiva. Parece que junta-

    mente com o progresso da doena, que o

    debilitava fisicamente, crescia na mesma pro-

    poro sua fortaleza de esprito.

    Pouco antes de morrer, escrevia suas medi-

    taes sobre a vida espiritual. Um dos seus

    ltimos escritos, inacabado, intitulava-se: Referente Santssima Trindade, escrito em

    Salzburgo, durante a vspera da Natividade de

    Nossa Senhora, que foi publicado em 1570.

    Nos seus ltimos dias neste mundo, mudou-

    se para um espaoso aposento na Pousada

    do Cavalo Branco, em Kaygasse, onde ditou

    a um escrivo pblico, suas ltimas vontades.

    Ao seu redor reuniram-se seis testemunhas e

    seu testamento comea assim:

    O mui sbio e honorvel mestre Teofrasto de

    Hohenheim, doutor em cincias e medicina, dbil

    de corpo, sentado em seu rstico leito de campa-

    nha, porm com esprito lcido, probo de cora-

    o, entrega sua vida, sua morte, sua alma

    salvaguarda e proteo do Todo-Poderoso. Sua

    f inquebrantvel espera que o Eterno Misericor-

    dioso no permitir que os amargos sofrimentos, o martrio a morte de seu Filho nico, Nosso

    Senhor Jesus Cristo, sejam estreis e impotentes

    para a salvao deste seu humilde servo.

    Depois determinou que seus poucos bens

    (seus livros, suas roupas, suas drogas e suas

    ervas) fossem distribudas com eqidade e

    disps sobre seu enterro, para o qual esco-

    lheu a igreja de So Sebastio, alm de pedir

    que ali entoassem os Salmos 1, 7 e 30. Entre

    a leitura cada um deles, se distribuiria dinhei-

    ro aos pobres que estivessem em frente

    igreja. A escolha dos Salmos representa a

    confisso de sua f e a convico de que sua

    vida no tinha que desaparecer com ele, mas

    passar para a eternidade.

    Aps ditar seu testamento, viveu apenas trs

    dias. A morte no o assustava, segundo ele a

    morte era o fim de sua jornada trabalhosa e a

    colheita de Deus. Faleceu no dia 24 de se-

    tembro, dia de So Ruperto, festa muito im-

    portante e celebrada em Salzburgo. O prnci-

    pe arcebispo da cidade, ordenou que os fu-

    nerais do grande mdico fossem celebrados

    com toda pompa.

    Cinqenta anos depois de sua morte, seu

    tmulo foi aberto. Retiram-se seus ossos que

    foram transladados para outra sepultura mais bem disposta, encravada numa das paredes

    da igreja de So Sebastio. O executor testa-

    mentrio de Paracelso, Miguel Setznagel,

    mandou colocar uma lpide de mrmore ver-

  • Pgina 23 Volume I1I, edio XX

    melho sobre o tmulo, com uma inscrio

    comemorativa em latim, que dizia o seguinte:

    Aqui jaz Felipe Teofrasto de Hohenheim, famo-

    so doutor em medicina que curou toda espcie

    de feridas, a lepra, a gota, a hidropisia e vrias

    outras doenas do corpo, com cincia maravilho-

    sa. Morreu no dia 24 de setembro de 1541.

    A terapia das plantas

    A fitoterapia a cincia que estuda a utiliza-

    o de produtos de origem vegetal com fina-

    lidades teraputicas, sendo para prevenir, atenuar ou curar um estado patolgico. A

    palavra fitoterapia formada por dois radi-

    cais gregos: fito vem phyton, que significa

    planta, e terapia vem de therapia, que signi-

    fica tratamento, ou seja, tratamento em que

    se utilizam plantas medicinais.

    Embora muitas pessoas ignorem a importn-

    cia das plantas medicinais, sabe-se que toda a

    farmacologia tem como base exatamente os

    princpios ativos das plantas. Na verdade, a

    farmacologia moderna no existiria sem a

    botnica, a toxicologia e a herana de conhe-

    cimentos adquiridos atravs de sculos de

    prtica mdica ligada ao emprego dos vege-

    tais. Apesar do avano da tecnologia, que dia-

    riamente cria novos compostos e substncias

    sintticas com poderes medicinais, mais de

    40% de toda a matria-prima dos remdios

    encontrados hoje nas farmcias continua sen-

    do de origem vegetal.

    Todo medicamento, inclusive os fitoterpi-

    cos, deve ser usado segundo orientao m-

    dica. claro que dificilmente chega-se a uma

    overdose de ch de camomila, mas h ainda

    muitas plantas cujos efeitos no so bem co-

    nhecidos e seu uso indiscriminado pode pre-

    judicar a sade. Por outro lado, vrios estu-

    dos cientficos comprovam que a fitoterapia pode oferecer solues eficazes e mais bara-

    tas para diversas doenas.

    Algumas ervas importantes e seus

    principais usos

    Aafro: Tanto o leo (empregado em mas-

    sagens) como a tintura so teis para comba-

    ter anemia, a fraqueza e a melancolia.

    Alecrim: O leo das flores, em massagens

    leves, alivia as dores reumticas. O ch das

    folhas til contra a epilepsia, a lepra, a sfilis

    e as feridas em geral.

    Amendoeira: Seus frutos, tnicos e fortifi-cantes, melhoram as inflamaes e so indi-

    cados para os casos de bronquite.

    Anglica: O ch das folhas tonifica o esto-

    mago. O ch da raiz, aplicado externamente,

    ajuda nos casos de gangrena e nas mordedu-

    ras venosas. O ch da planta inteira, tomado

    diariamente em jejum, muito eficaz nas to-

    ses crnicas.

    Arnica: O sumo vegetal muito bom para

    curar feridas, nas contuses e fraturas.

    Arruda-silvestre: Provoca a menstruao e

    combate a anemia das adolescentes.

    Artemsia: O ch indicado contra a epilep-

    sia e a coria (distrbio enceflico caracteri-

    zado por movimentos musculares anormais e

    espontneos, que sugerem uma dana). Cozi-

    da em vinhos e ingerida em pequenas doses

  • Pgina 24 Boletim da Sociedade das Cincias Antigas

    freqentes um excelente antiabortivo.

    Camomila: Quando colhida na conjuno de

    Marte com a Lua e o Sol, tem o poder de

    curar ndulos linfticos das doenas tumorais

    do trax. teis em crises de histeria e nas

    febres intermitentes.

    Canela: Pela destilao prolongada de suas

    folhas obtm-se um leo avermelhado que

    funciona como um tnico excelente, quando

    aplicado com massagens suaves.

    Celidnia: importante escolher aquelas

    que nascem em runas ou locais abandona-

    dos. A raiz macerada um bom remdio pa-

    ra a garganta e para as inflamaes graves.

    Cevada: O ch das sementes ou as prprias

    sementes cozidas constituem um bom diur-

    tico e refrescante do sangue.

    Erva-cidreira: Paracelso ensinava que o ch

    desta planta alivia as dores do parto e auxilia a expulso da criana e da placenta.

    Erva-de-so-joo: til nas clicas e nas di-

    arrias dolorosas.

    Laranjeira: A casca do fruto, em infuso,

    combate a hemorragia uterina. Como alimen-

    to, a fruta benfica para a garganta e os in-

    testinos.

    Loureiro: Suas vagens tm propriedades ver-

    mfugas. A ao de qualquer parte da planta

    antimicrobiana. O suco das folhas, tomado na

    dose de 3 a 4 gotas diludas em gua, ajuda na

    menstruao, corrige os desarranjos do est-

    mago, melhora a surdez, as dores de ouvido

    e as manchas do rosto. Ideal quando colhida

    sob a influncia de Marte.

    Nogueira: O ch das folhas, por decoco (2

    xcaras grandes, duas vezes ao dia), um

    bom tratamento para feridas, erupes cut-

    neas e tumores. Deve ser usado por tempo

    prolongado. Na Idade Mdia, o ch de no-

    gueira era um famoso tratamento contra a

    sfilis. A casca da raiz um forte antdoto pa-

    ra vrios venenos e cura as inflamaes da

    boca, alm de ser vomitiva.

    Oliveira: O leo de oliva tem a propriedade

    de condensar energia vital e fora energtica

    quando ingerido ou utilizado em massagens

    vigorosas na pele.

    Penia: Com as sementes que surgem da

    primeira florada faz-se um colar para ser de-

    pendurado no pescoo de uma criana epi-

    lptica; concomitantemente deve ser minis-

    trado um ch da decoco de parte das se-

    mentes. O ch das folhas alivia as dores de

    cabea e as dores do parto.

    Sndalo-vermelho: A massagem com o leo

    ou com o p perfumado da casca til con-

    tra hemorragias.

    Sene: O ch por decoco tem um forte

    efeito purgativo. Melhor quando colhido na

    Lua cheia.

    Tanchagem: O ch da raiz cicatrizante

    para lceras internas e externas, bom nas

    enxaquecas e nos casos de fluxo menstrual

    muito abundante. Com as folhas prepara-se

    um cataplasma, timo tratamento para a fe-

    bre amarela, disenteria e doenas inflamat-

    rias dos olhos.

    Videira: O cataplasma feito com uvas assadas

    e transformadas em p muito bom para as

    dores severas do abdome. O suco das folh