boletim confluências (jan/fev 2014)

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BOLETIM ESCOLAR Confluências (2ª Série) janeiro / fevereiro 2014 Confluências Camões: uma Escola por Tempos e Marés Nesta edição: Scriptomanias Visitas de Estudo Sínteses Ler, Ler Muito... Desvelos Os Lusíadas Ler para viver Iniciativas / Aposenta- ções Intertextualidades Breves pp. 2-5 pp. 6,7 p. 8 p. 9 p. 10 p. 11 pp. 12,13 p. 14 p. 15 p. 16 A inolvidável fachada, mas agora com janelas da Biblioteca e escudo restaurados! A Escola Secundária de Camões foi selecionada pela Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (ANQEP) para a criação de um CQEP (Centro para a Qualifi- cação e Ensino Profissional).

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Page 1: Boletim Confluências (jan/fev 2014)

BOLETIM ESCOLAR

Confluências (2ª Série)

janeiro / fevereiro 2014

Confluências

Camões: uma Escola por Tempos e Marés

Nesta edição:

Scriptomanias Visitas de Estudo Sínteses Ler, Ler Muito... Desvelos Os Lusíadas Ler para viver Iniciativas / Aposenta-ções Intertextualidades Breves

pp. 2-5 pp. 6,7 p. 8 p. 9 p. 10 p. 11 pp. 12,13 p. 14 p. 15 p. 16

A inolvidável fachada, mas agora com janelas da

Biblioteca e escudo restaurados!

A Escola Secundária de Camões foi selecionada pela Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional

(ANQEP) para a criação de um CQEP (Centro para a Qualifi-cação e Ensino Profissional).

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Natal, uma época que deve ser passada em famí-lia, uma época de felicidade e alegria. Porém, não para mim. Com a chegada do inverno e do mês de dezembro, a

tristeza acumulada durante todo o ano apodera-se nes-tes dias de mim e da minha alma, pesando-me no pei-to. Um peso tão pesado que respirar se torna uma árdua tarefa quase impossível de realizar. O que foi em tempos uma tradição em que toda a

família participava alegremente, volveu-se hoje num ato solitário de imensa tristeza. O simples ritual de enfeitar a árvore de Natal é agora uma dolorosa tortu-ra que, apesar de tudo, continuo a ambicionar, apenas para reviver antigas memórias que me magoam pro-fundamente. No coração, carrego o desejo de um dia ter novamente

o Natal de que tanto gostava. Mas carrego também uma promessa que tenciono não quebrar, a de vir a dar aos meus filhos um Natal feliz e em família.

Joana Garcia, 11º E

Dizem que Dizem que tudo acontece por uma razão, Que o trilho (que é a nossa vida) já tem um destino definido. Contudo não entendem a desilusão, Que é sentir o nosso futuro a ser lentamente encolhi-do. Sentem a necessidade de nos reconfortar, De repetir vezes sem conta que somos bons o suficien-te. Fazem-no com boa intenção, Mas nunca saberão o que cada um de nós verdadeira-mente sente. A raiva, a frustração, a tristeza e o sentimento de impotência. E no fundo, bem lá no fundo, no fundo do que é a nos-sa essência, Uma réstia de esperança.

Anca Ciuntu,12º E

A minha realidade é o sonho No meio do mato deitada, entretida, perdida, maravilhada, descalça, despida, deitada, assisto ao chegar da madrugada.

Deito a cabeça na almofada… De olhos ainda semicerrados, envolve-me uma agradável frescura. Sinto todos os sentidos apurados, felicidade que me preenche e perdu-ra. Onde estou eu? Não interessa. Cheia de festa está esta sesta! Imagino, e sem pressa acordo. Floresta! Olá, querido mundo vegetal, natural, animal, percebes-me! És escape deste mundo canibal Onde não vivo, mas que me perse-gue… Caminho feliz e inconsciente por trilhos ainda incertos na minha mente. À minha volta, o verde predomina, Cor vibrante, dançarina. Entre ela, pontos lilases ou vermelhos ou amarelos são milhões de luzes fugazes dos tons cromáticos mais belos. As cores, os pontos ganham formas, suaves, mas vivas. Amorosas… São flores, como as invejo,

puras, chei-rosas, airo-sas. Ao longe, queda de água, simplicida-des que me encantam. A humidade afugenta a mágoa. No céu aberto, pássaros cantam. É então que sinto no espírito o refúgio que sempre procurei. Logicamente, parece ilícito, mas sabe bem a paz que encontrei. Refresca-me o cheiro do orvalho, o sol rompe a manhã, suspiro à beira de um carvalho «tenho de voltar amanhã!» Desperto. Olho a janela. O ritmo frenético da cidade percorre meus lençóis de flanela. Atento. Mas olho sem vontade. Penso com animosidade «Que lugar melancólico, tristonho, o real não me é mais verdade. A minha realidade é o sonho.»

Inês Dias, 12º H

Título: Confluências Iniciativa: Departamento de Estudos Portugueses Coordenação de edição: António Souto, Manuel Gomes e Lurdes Fernandes Periodicidade: Trimestral Impressão: GDCBP Tiragem: 250 exemplares Depósito Legal: 323233/11 Propriedade: Escola Secundária de Camões Praça José Fontana 1050-129 Lisboa Telefs. 21 319 03 80 21 319 03 87/88 Fax. 21 319 03 81

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Confluências

SRIPTOMANIAS

Um Natal mais triste Uma gata tão assanhada, robusta, com uma atitude

superior e assertiva, muito “dona do seu umbigo”, uma gata interesseira e independente.

Esta gata protegeu a minha vida, ou pôs em causa a sua própria vida, quando uma cadela me queria ata-car, e foi a partir desse momento que ganhei um res-peito imenso por ela.

Uma simples gata, tigrada, como se fosse desenhada, como uma tela. Foi-me oferecida pela minha irmã no meu aniversário (tinha eu 4 anos), e este, sim, foi e será sempre o melhor presente de toda a minha vida.

A sua morte, numa semana tão natalícia, foi deveras injusta …

Faltavam cinco dias para o Natal quando a notei enferma e com atitudes estranhas ao seu comporta-mento e personalidade, o que me deixou demasiado alerta e demasiado triste, com receio de a perder. Os meus pais decidiram imediatamente levá-la ao veteri-nário. Só de lá saiu no dia seguinte, com a prescrição de um antibiótico para infeções alojadas na bexiga, e também com um tipo de comida específico só existente em veterinários, o que lhe permitiu voltar a ter uma vida saudável.

Passados dois dias, eu e os meus pais decidimos ir com a Cleo (nome da minha gata) a outro veterinário e fazer um raio-x à bexiga, mas este exame não anun-ciou qualquer tipo de infeção. Devido às atitudes

inconscientes da Cleo, a veterinária decidiu fazer um raio-x ao cérebro por ter dúvidas se a Cleo não sofreria de um tumor ou de outro tipo de doença mental. O raio-x foi concluído e acompanhado das piores notícias que podíamos receber. A minha gata tinha um tumor que já tomava proporções gigantescas e que acabaria por afetar, como afetou, a sua visão, comportamento e equilíbrio. Cleo foi abatida, porque não suportávamos ver um ser tão especial em sofrimento.

A Cleo, no momento da sua morte, notámos pelo seu olhar que não nos queria deixar, a mim e à minha família.

O meu pai chorou, a minha mãe não se conformava com a morte e eu … e eu fui-me apercebendo de que o meu dia-a-dia já não continha a Cleo, e isso afetou-me imenso, até hoje …

Foi uma morte muito injusta. Mesmo já tendo ela doze anos, fazia parte da nossa família.

Lembro-me da morte dela, revejo ou imagino todas as imagens daquele momento e de tudo o que testemu-nhei, e sofri mais com a morte da Cleo do que com a de certos humanos, já que tenho o resto da família tão afastada de mim …

E continuo a perguntar: serão os animais assim tão irracionais? É que determinadas atitudes destes seres são por vezes mais humanas do que algumas atitudes de alguns Seres humanos.

Micaela Ribeiro, 11º E

A DESPEDIDA A mágoa de perder alguém é a

mesma de perder algo. Existe ape-nas uma dormência a mais. É um estado de elevação. Sei que aconte-ceu, mas não sei que aconteceu.

São como pessoas. São elegantes e hipnotizantes, mas quando nos apercebemos, estão a devorar-nos. São assim as ondas do mar que o levaram sem misericórdia.

Ele era capaz do impossível. Entrava na sala e esboçava um sor-riso na nossa cara. Ele era corajoso, ele era forte, ele era lutador, ele era alegre, ele era o meu ídolo, ele era o meu irmão.

Acho que não acredito muito nes-sas coisas de ele ir para o céu, mas gostava que fosse verdade. Gostava de saber que sempre que olhar para o céu vai lá estar uma estrela a bri-lhar e que essa estrelinha vai ser

ele. Gostava que ele estivesse comi-go onde quer que eu fosse.

Não o quero esquecer. Tenho medo de o apagar da minha memória. Sempre sonhei com o momento em que ele me diria que eu ia ser tia. Sempre sonhei com o momento em que eu lhe pediria para ser padri-nho do meu casamento e padrinho do meu filho. Sempre sonhei com a imagem dele a aplaudir-me no dia em que eu acabasse a faculdade. Foram apenas sonhos.

Deixou em Terra uma multidão que o amava, que o ama e que o amará para sempre.

Vou encontrar uma maneira só minha de me despedir dele. Uma maneira só nossa.

Tenho saudades do seu cheiro, do seu forte abraço. Tenho saudades de ouvi-lo chamar-me de maninha lin-da. Tenho saudades dele.

Sempre que uma música soar nas

minha cordas vocais, essa música será só para ele. Para ele e para mais ninguém, porque nunca me vou esquecer do dia em que ele, no final do meu concerto, me disse que eu era o seu orgulho.

Estarás para sempre no meu cora-ção e no coração das pessoas que te amam.

RIP

Daniela Campos, 11º E

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Coimbra, 20 de dezembro de 1987

Não sei porque escrevo, mas senti esta necessidade transcendente de compreender a imensidade dos meus pensamentos que não consigo organizar sem expres-sar. Mas é uma expressão que deve permanecer ape-nas minha, que não desejo partilhar. Tentei falar ao espelho, encontrar a identidade com que existo, comu-nicar com a minha própria entidade perdida. Como sempre, falhei na liberdade de ser e conheci o risível de conversar sozinho. Quedei-me face à minha figura, observei todo o contorno da minha constituição tentan-do reconhecer-me, a mim, a este corpo que acompanha a minha alma. Não encontrei o que procurava, não encontrei uma iluminação instantânea na qual espera-va sentir-me um todo, completo e compenetrado, iden-tificável. Perante um estranho senti a ameaça contra a convenção da minha existência. Senti-me perdido, sen-ti toda a gravidade inteirar-se do meu corpo, senti uma náusea profunda. E assim, nesta consciência que me apresentou a inércia, fechei os olhos, esqueci o metafí-sico. Iniciei um discurso revolto para expor as minhas muitas reflexões, as dúvidas e certezas, de forma a tentar encontrar a coesão que fundisse todos os peque-nos e grandes pensamentos num só, de forma a encon-trar a origem da imensa teoria que formava e desejava designar. Comecei assim: “Sozinho.” Uma revolta impetuosa cresceu dentro de mim, uma vergonha igno-miniosa. Mas apenas baixei os olhos, fugindo ao meu olhar, e suspirei. Que irrisório me tornara! E em con-formidade com tal perceção, ri-me. Ri de mim com escárnio. Patético, pensei.

Só mais tarde, longe desse momento do culminar da minha solidão me apercebi das néscias convenções e coartações que impomos até na nossa singularidade.

Coimbra, 25 de dezembro de 1987

Refleti sobre este testemunho em papel. Não o achei ridículo como esperava. Talvez pelo hábito, pela aceita-ção dos clichés que, embora escarnecíveis e escarneci-

dos, encontram a sua razão de ser nesse culto do romantismo, do poético. Continuarei. Continuarei, pois não sinto que escreva para mim, sinto que a minha escrita tem um destinatário figurativo, sinto-me acom-panhado na solitude. Ainda assim, tenciono manter este legado pessoal, minha propriedade que se degra-dará aquando da minha degradação.

Relembro esta noite em que abandonei a minha reali-dade, a materialização do amor. Esta noite de união em que escolhi a solidão. O egoísmo prevalece. Despo-jei-me da obrigação, refugiei-me, qual eremita. Tentei perpetuar a liberdade do espírito e da carne mas cedo compreendi que esta ideologia não passa de uma velei-dade. Esta poética utopia advém apenas do fascínio do sofrimento, da valorização do obscuro, do enaltecimen-to da autodestruição. Oh, o poder da influência, a pos-sessão da obsessão!

Sim, não posso completar a minha renovação espiri-tual sem a solidão. Não posso perpetuar o meu esclare-cimento sem a solidão. A plenitude inicia-se sempre num elemento e só depois se pode alastrar a um con-junto. A dificuldade está em transferir esse sentimento da unidade para o agregado. Mas esta capacidade é vital, caso contrário não existe evolução, não existe propósito.

Coimbra, 31 de dezembro de 1987

Agora, como de resto sempre, relembro. Pondero sobre o que me constituiu e constitui. Condeno o desti-no, a decisão da minha criação. Ainda tenho algumas lágrimas a derramar mas guardo-as para o final, para se moldarem ao alívio e não à angústia.

Desgostoso pensar que a Humanidade não alcançou a definição da sua designação. Desgosto pensar que Eu não alcancei a minha condição de Humano por procu-rar apenas a minha condição de Homem.

Mas persistirei – finalizar um ciclo, revigorar a vida. Despeço-me hoje do arrependimento.

Ana Maria Begonha, 10º L

DIÁRIO

Não sei porque escrevo

Memórias de infância

Toda a gente se lembra de alguns momentos preciosos da infância: as brincadeiras intermináveis, os amigos feitos nos 5 minutos que duravam um jogo de futebol, de saltar à corda, de jogar à apanhada ou à macaca ou, até mesmo, de ficar a desenhar no chão do pátio da escola com giz. Das melhores memórias que tenho são as de casa da minha avó. A comida, as brincadeiras, o aprender a contar, a ler, a aprender

técnicas de agricultura, coisas do anti-gamente.

Hoje voltei lá mais uma vez. A alegria de lá ir continua a ser a mesma e a comida continua a ser maravilhosa. E, sendo eu a primeira neta, sinto que tenho sempre direito a tudo. A diferença do antigamente é que não ia nem vinha embora sozinha e, ao fim do dia, a minha avó já não se importava que eu me fosse embora. Hoje em dia, por morarmos muito longe uma da outra, ela faz de tudo para não me deixar ir

embora quando tem mesmo de ser. Mas são estas pequenas coisas que caracteri-zam as avós.

Finalmente, entendo que a avó é uma segunda mãe que nos “estraga com mimos” e que quer apenas o melhor para nós. Apesar de já não ser uma criança, continuo a adorar ir a casa da minha avó e aprendo sempre com ela algo de novo, e sempre com sabores de há muitos anos.

Ana Catarina Lopes, 12.º E

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Confluências

SCRIPTOMANIAS

Saudades de ser feliz …

Era uma manhã enevoada, o céu deixava apenas vis-lumbrar silhuetas ao longe. Desfocadas, estas pare-ciam dançar, fazendo movimentos abúlicos por entre o frio e a pouca claridade. O inverno queria encher a cidade de frio e fazê-la esquecer que todas as outras estações existiam. O frio gelava-me de uma maneira tão contundente, como se me quisesse obrigar a não fazer aquele caminho. Os dias ficavam cada vez mais gelados e eram raras as janelas das casas que não fica-vam com flocos de neve colados aos vidros. As árvores estavam nuas. Na montanha, conseguia ver cabanas. Desejava por tudo estar ali, rindo com os montanhis-tas, ouvindo histórias dos sem medo.

Nessa manhã, estavam as crianças na rua a brincar. Por vezes vinha uma brise suave e gelada, e todos os meninos e meninas sorriam. Todos eram felizes. Todos. Os leves flocos de neve caíam sobre as suas caras radiantes. Os pequenos narizes vermelhos, polidos, perfeitos. Espalhavam felicidade. Mas… será que

aquelas crianças são mesmo felizes? Será que mentem, fingem ser quem não são? Todas elas sorriem como se não houvesse amanhã. Mas serão sorrisos verdadeiros? Saberão elas que no fundo nada é como parece? Não vão ser felizes, vão viver aprisionadas pela saudade e pelo sofrimento. Pudesse eu ler o futuro. Que inveja. Que saudades de ser feliz… Porém, tive de reconhecer que o olhar vitorioso na cara e o escarcéu das garga-lhadas daquelas crianças me enchia o coração. Ao menos sorriam, como se soubessem que a felicidade não dura para sempre, como se a quisessem armaze-nar num cantinho especial dos seus tão inocentes cora-ções. Passei a mão pela janela embaciada de um carro e desenhei uma estrela de oito pontas. O frio embaciou rapidamente a superfície vidrada como se quisesse apagar suavemente a estrela desenhada, como se qui-sesse eliminar a pouca esperança que eu tinha. Olhei de novo para as crianças. Invejava-as. Que saudades de ser feliz!...

Joana Almeida Flor, 10º L

Bloqueio de escritor

Já tinha ouvido falar dele… Conta-se que ataca nos piores momentos e que causa a maior agonia que um escritor pode conhecer. Mas nunca acreditei que realmente assim fosse. Peguei numa caneta e apontei-a vigorosamente ao papel. A minha mão não se moveu sequer um milí-

metro. As cabeças dos meus dedos comprimiram-se contra o seu bico, como que impedindo o maravilhoso instante em que a esferográfica beijaria a folha.

Ao mesmo tempo, os restantes músculos do meu cor-

po gelaram, causaram-me um arrepio. Depois, já não só os músculos, mas toda eu me encontrava envolta num frio atroz. Deixara de sentir a minha alma, deixa-ra de… Demasiado doloroso. Larguei a caneta. Uma onda de raiva invadiu-me o espírito, queria afogar-me em tristeza e melancolia. E quanto mais eu tentava combatê-la, mais ela se embrenhava no meu ser.

Quando finalmente caí em mim, percebi: não sabia o que escrever… não tinha nada para dizer… Havia sido atingida por aquilo que acreditava tratar-se apenas de um mito – um bloqueio de escritor.

Crede no que vos conto, que nunca em toda a minha vida senti tamanha aflição.

Adriana Jorge, 11º E

Quando acabares o texto tens o jantar no forno Sem paciência e sem vontade estou a escrever mais um texto. Caso per-guntem porquê, eu tenho uma res-posta preparada: é por vocês. Sinto a responsabilidade de fazer com que esqueçam a negativa do teste de Matemática. Tenho a difícil tarefa de vos fazer sorrir durante a época escolar. Está nas minhas mãos a capacidade de vos alegrar, distrair, e, principalmente, de vos pôr a ler! Estou a escrever por obrigação, trancado no quarto, desde hoje de

manhã, quase sem comer nem beber. Num jejum sem motivo, numa greve de fome sem razão, vou avançando pelas linhas da folha, com a velocidade de um camião numa estrada de terra batida, junto a uma ravina de 200 metros. Con-duzo com cuidado, não por gosto mas pelo medo de uma queda. Mui-tas vezes fico preso na lama e nem o pressionar do pedal nem os pedidos aos deuses me ajudam. Desespero; depois espero, e cansado de tanta espera, acabo por desesperar. No entanto, lá vem a ajuda, não sei de onde nem porquê, mas a vida acaba

por me inspirar a escrever. E aqui estou eu, dentro do meu Renault T440, sentado na minha confortável cadeira, inclinado sobre a, também minha, secretária. E escrevo (ou tento escrever)! Se dizem que “quem corre por gosto não cansa”, então eu estou muito cansado, com fome e com frio. A por-ta do meu quarto abre-se e a figura que aparece diz: “Eu vou ter que sair. Parece que um camião caiu de uma estrada a 200 metros de altu-ra… Quando acabares o texto tens o jantar no forno.

Renato Dias, 12º G

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Confluências

VISITAS DE ESTUDO

“Romanos à solta” em Lisboa

Os alunos de Humanidades do 10.º ano (turmas I, J e L) realizaram uma visita de estudo ao Museu Nacional de Arqueologia, de carácter interdisciplinar (disciplinas de História e Latim A), no dia 4 de fevereiro.

Divididos em dois grupos, alunos e professores tiveram oportunidade de ver com muito interesse a exposição “Religiões da Lusitânia. Loquuntur saxa”. Viram e ouviram testemunhos acerca da presença romana em Portugal a vários níveis, tendo sido convidados a decifrar, quais paleógrafos, inscrições latinas em aras e

outros objetos e imagens, que são testemunho de um passado milenar que, descodificado, se revela bem mais presente do que à primeira vista se suporia. No final da exposição, cada participante pôde escrever uma mensagem em latim, não eletró-nica, antes em tabuinhas de cera, qual “romano” de outrora no século XXI.

Prof. Mário Martins

Convento teu, Convento teu

Esta história é sobre nada e sobre tudo; tudo sobre nada e nada sobre tudo. É sobre mim, não, sobre 50 000 mins. É sobre um convento, não, um palácio, não, um convento. Enfim, é sobre um, um apenas.

Confuso? Sim, eu sei. Ainda não compreendi. 50 000? 600? 200? São só números? São. Não se compreende? Pois não. Sou carpinteiro, há já 7 meses que aqui fui chamado, chamado da minha vida, chamado de Sagres onde reparo e construo

navegações, chamado da minha casa onde deixei a minha mulher demasiado grávida para poder viajar comigo. Recebi hoje uma carta vinda de casa, como não sei ler nem a minha mulher escrever, tivemos de recorrer a um dos 300 que vão aqui albergar, para que soubesse hoje que sou pai há já 4 meses. Sou pai de uma menina, robusta e morena, olhos como os meus ao que parece.

Pedi autorização para ir conhecer a minha filha, mas infelizmente el-rei adoeceu e para salvação de sua alma todos devem morrer, enlouquecer, estar longe de tudo e volver ao nada. Por el-rei 50 000 devem trabalhar sem fim, morrer sem fim, viver a vida de outro. Viver a sua vida e não a nossa. Uma vida que nunca será nossa mas é no entanto a nossa todos os dias. Pois bem, afinal de contas é a vida de el-rei. Mas eu não sei contar, nunca me ensinaram.

Não sei escrever, não sei escrever o meu nome, o meu não existe, eu não existo. Sou um de 50 000 que nem contar sei. Sou um que não conto, um que os livros nunca conhecerão, mas para a minha mulher e a minha filha que escrever e contar não sabem, conto. Espero que uma vez o monstro erigido, minha mulher e minha filha possam comigo contar, que uma vez o monstro erigido possa à minha terra voltar, voltar à terra dos que não sabem contar, à terra onde conto e onde posso contar.

Uma carta nunca escrita, por ninguém que nunca soube contar, a um Rei que aprendeu a contar mas nunca o soube fazer.

Ana Botelho, 12º J

Afonso T

eixeira, 12º E

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Confluências

VISITAS DE ESTUDO

Fragmentos de uma visita a Mafra…

No passado dia 3 de fevereiro, segunda-feira, a nossa turma, juntamente com muitas outras do 12.º ano, realizou uma visi-ta de estudo a Mafra, no âmbito da leitura realizada (ou não realizada, dependendo dos alunos) do Memorial do Convento de José Saramago.

[…] 12.30 Chegámos à Vila Velha e a primeira coisa que as pessoas fizeram foi tirar fotografias! A professora explicou-nos onde, no Memorial, se podiam encontrar as referências ao local… Pois então, na Vila Velha pode

ser encontrada a casa da família dos Sete-Sóis! O senão é que essa casa não existe no mundo real. Por pura coincidência, logo após a professora ter explicado tal assunto, umas alunas decidiram perguntar qual das casas em redor era a dos Sete-Sóis. Momentos de risota são sempre bem-vindos. Não sei é se a professora gostou muito…

13.40 Voltámos à área do Convento e fomos almoçar, pois a fome já apertava… Sentámo-nos, num jardim, com mesas e bancos

de madeira e a professora juntou-se a nós. Partilhámos histórias, risota e até um bocadinho de comida… são momentos como este que provam que as relações de ami-zade entre alunos e professores podem ser maravilhosas. Após o almoço, demos um passeio pelo jardim, cada qual para seu lado. Eventualmente, voltaríamos a juntar-nos para iniciar a “verdadeira” visita.

15.10 Demos início à nossa visita, começando pelo exterior. A nossa guia explicou-nos um

pouco sobre o que iríamos ver e indicou-nos a famosíssima Pedra-Mãe que, de gran-diosa, tinha uma fenda. No entanto, os pobres trabalhadores é que a carregaram por oito dias.

Minutos depois entrámos na basílica e começámos a falar do Memorial de forma mais aprofundada. As comparações entre os dois planos, a crítica de Saramago… Tudo isto enquanto admirávamos o espa-ço. Seguia-se a visita aos 10% do palácio que iríamos ver. Vimos salas, o quarto do rei, salas, a sala de jogos, salas, o “quarto de banho” com uma “sanita” portátil, salas. Já referi que vimos salas? Montes delas, e montes de quadros também, e se des-culpam a honestidade, cada retrato mais feio que o outro! Enfim… Também vimos uns quartos fora do âmbito da obra, como o quarto onde D. Manuel II ficou antes de partir para Inglaterra (salvo erro). Faltando pouco para acabar a visita, fomos ver a biblioteca, e posso dizer que nunca tinha visto tanto livro junto. Pena que a obra não tenha sido acabada… Mas também o ouro já devia ser escasso. Talvez tenha sido melhor assim. Além disso, também conhecemos os três morcegos – Baltazar, Blimunda e Bartolomeu!

18.00 Finalmente, partimos. A viagem foi longa, mas podíamos aproveitar para pensar sobre os bons (e os menos bons) momen-

tos da visita. Foi um dia bem aproveitado!

Ruben Gaspar, 12º H

Rebeca C

aalog, 12º H

Diogo Costa, 12º E

Memorial do Convento Em Mafra, um convento, uma história, Um Rei e uma memória. Dois Amores nada iguais De diferentes classes sociais. D. João V e D. Maria Ana, Um amor de obrigação; Blimunda e Baltasar, Um amor de coração.

D. João V para um filho conceber, Um convento em Mafra teve que erguer. Para o mesmo acontecer, O povo teve que sofrer.

Baltazar, a Passarola Ajudou Bartolomeu a construir; Mas para o conseguir As vontades das pessoas tinham que possuir. Blimunda as vontades às pessoas retirou E a passarola assim voou. Com o esforço dos seus leais subordinados Foi-se erguendo o convento. A estes, D. João V não prestou o devido agradecimento, Caindo assim os seus súbditos Em esquecimento. Este herói coletivo, dissipado na história, É no Memorial do Convento Retratado e homenageado, E assim demonstrada toda a sua glória.

Marta Alcouce, 12º G

Ana

R. R

amal

ho, 1

2º E

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Confluências

SÍNTESES

O papel das viagens no percurso vital do ser humano Viajar é, sempre foi, e sempre será algo mágico e extremamente entusias-

mante. Desde os nómadas da antiguidade, aos tempos dos Descobrimentos, até hoje, viajar tem sido algo necessário para o ser humano.

Do meu ponto de vista, viajar enriquece-nos culturalmente e não só, também espiritualmente. Dei-xar a nossa zona de conforto e partir para uma aventura é uma experiência incrível. O contacto com outros povos, nem que seja do país, ou mesmo da cidade vizinha, abre-nos os horizontes e permite-nos ver mais longe. Falo, claro, por experiência própria. A minha vida tem sido uma viagem, que apesar de ter atingido um destino, está pronta a descobrir outros. E esta viagem mudou-me e continua a mudar todos os dias. Sinto isso quando falo com pessoas do meu país de origem, que nunca de lá saí-ram. Vemos as coisas, a vida em si, de forma diferente. Mas claro, as viagens não servem só para des-cobrir mais, viver aventuras e aprender. Servem também para nos distanciarmos da monotonia do dia-a-dia, para descansar e relaxar. Contudo, o viajar a que me tenho referido até agora tem a ver, de certa forma, com as viagens de longa distância, por assim dizer. Não posso deixar de me referir ao viajar que realizamos todos os dias, não apenas fisicamente, mas também espiritualmente. Mesmo presos na monotonia do dia-a-dia viajamos graças aos nossos pensamentos, que nos levam mais longe do que qualquer avião, comboio ou barco, alguma vez nos poderá levar. Viajar, portanto, faz parte do ser humano; a vida em si é uma viagem.

Viajar fisicamente ou espiritualmente é algo que surgiu naturalmente no ser humano e que se tor-nou essencial. Ao viajarmos aprendemos, crescemos e vivemos.

Anca Ciuntu, 12º E

Film Review Invictus by Clint Eastwood

The film Invictus, directed by

Clint Eastwood, stars Morgan Freeman playing the main role as former South African presi-dent Nelson Mandela and Matt Damon playing the role of South Africa’s national rugby team captain as François Pienaar. The genre of the film is widely up for discussion, but it is commonly classified as sport, drama, history and even as biography. Stirring is the word that best defines the movie. Perfect if you want to watch it with your fam-ily, once it gives a pretty soft and optimistic overlook on South Africa’s situation at the time.

The film starts back then when Mandela’s first takes office as President of South Africa, after decades of apart-heid regime rule and in the year of the preparation for the 1995 World Rugby Cup that would be hosted in that same country. The national rugby team called the Spring-boks, which had mostly whites on its players list and was still seen by blacks as an apartheid symbol, was almost loathsome and likely to be disbanded. And then comes Mandela with a solution for both Springboks and the country: to keep Springboks team of which Afrikaners felt proud and to gather prestige and international recogni-tion for South Africa by winning the Rugby World Cup, thus reuniting both black and white South Africans.

The film was overall stirring. Here the intention of the director of the film was very clear, making it remarkably

inspiring. This intention can be seen not only by the small and somehow subtle episodes that take place in the film – such as that one in which both black and white bodyguards of Mandela are playing rugby with each other and the other one which is divided into smaller ones in-terlaced with the final match showing a kid edging a po-lice car, between scenes, where two policemen are listen-ing to the match on the radio –, but obviously by the plot itself as well. With the exception of a few Freeman’s exag-gerations playing Mandela with extreme happiness, the performance of the cast was very good. Yet, you might find it a little bit disappointing if, like me, you were ex-pecting a keener insight on the social effects of the fall of the apartheid regime. But if not, then great! It might suit you just perfectly!

In conclusion: if you’re more headed to watch a film for the entertainment it provides you and the inspiration it gives you, then it’s an optimum choice; if, on the other hand, you are more headed to watch cleverer, more complex films, then you might get a little disappointed, but it’ll be fun if you just want to spend a good time with your family watching a film and, who knows, perhaps you’ll find yourself dreaming after watching it.

João Martins, 11º B

http://mensagensdosecundario.blogspot.com/2014/03/a-film-review-invictus.html

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Confluências

A leitura ajuda-nos a sonhar

Ler é uma forma de entrarmos dentro dos pensamentos de alguém durante algum tempo. Quer o autor queira, quer não, há sempre um toque pessoal em tudo o que se escreve, às vezes mais à vista, outras vezes bem escondido. Mas parte de nós e das nossas ideias ficam no que escrevemos. Ao ler, é como se tivéssemos acesso à mente de outra pessoa.

A leitura abre a mente a outras formas de pensar e de olhar para o mundo. Sem nos apercebermos, estamos não só a ganhar mais vocabulário e compreensão, mais também novas ideias. Muitas vezes, a nossa dificuldade é conseguir transformar os nossos pensamentos em palavras. Sabemos o que sentimos, só não sabemos como é que nos devemos expressar. A leitura ajuda.

Devemos ler de forma diversificada; vários temas, outras línguas, centenas de autores, livros recentes e livros antigos, de todas as partes do mundo. Devemos ler o que gostamos e o que não gostamos. Tudo isto irá ajudar-nos a expandir os

nossos pensamentos e a ter espaço para outras ideias e dife-rentes perspetivas.

A leitura fomenta a imaginação, é o nosso tubo de escape, deixa-nos ser algo durante uns minutos que no dia-a-dia se tornaria impossível. Podemos encarnar o nosso herói favori-to, ou refletir sobre outros assuntos, ou mesmo aprender a fazer coisas novas através da leitura.

É algo ao qual podemos aceder a qualquer hora, em qual-quer lugar, e de repente estamos noutro mundo, somos um outro alguém, com novas preocupações e medos, o mundo real começa a pouco e pouco a ficar cada vez mais desfocado, e o nosso mundo é o do livro.

A leitura ajuda-nos a sonhar, põe-nos a pensar, entristece-nos e alegra-nos, faz-nos querer ser mais, ser diferentes, ler mais, ler outros, ler tudo.

Carolina Mira, 12º G

“ Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras.” Yvette Centeno, parafraseando Álvaro de Campos

“Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras” é uma máxima que poderia ser a minha. Concordo totalmente com esta frase de Yvette Centeno, que exprime uma das minhas maiores paixões: ler. Considero que este é um hábito extremamente saudável e muito importante para a sociedade, desde a antiguidade e para sem-

pre. Os livros são um importante veículo de cultura e saber, através deles podemos aprender tudo, desde a História às Ciências

exatas, e também compreender o pensamento dos nossos antepassados longínquos. Através dos livros foi-nos transmitido o seu legado, de geração em geração, até aos dias de hoje, e sem isso a sociedade atual nunca teria evoluído tanto. Um exemplo, na área das ciências, é a ‘Origem das Espécies’ de Darwin, tão contestado na sua época, mas tão importante para a Biologia, atual-mente.

Mas os livros, para além de nos transmitirem sabedoria, também nos permitem sonhar e estimular a nossa imaginação. As histórias de encantar (e não só) são tão importantes como os livros científicos, principalmente na infância. Como dizia Einstein: “Se queres que o teu filho seja um génio, lê-lhe histórias de encantar”.

Para mim, ler sempre foi uma atividade muito importante, sempre li muito, sempre sonhei muito, e foi isso que me permitiu um dia ser capaz de escrever um livro. Mas não é só para os jovens que é importante ler muito, é importante para todos, e para todas as idades, pois exercita a mente e evita o envelhecimento cerebral, que pode causar doenças como o Alzheimer.

É indispensável que a leitura seja um hábito para cada vez mais gente e que seja muito estimulada a sua prática, nas escolas, instituições e em casa, pois é fundamental para a sociedade “Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras”.

Rebeca Csalog, 12º H

LER, LER MUITO, LER TUDO E DE TODAS AS MANEIRAS

Não há limites para o saber

É difícil frisar o papel que a leitura representa na formação de uma pessoa, e Yvette Centeno faz justamente uma refe-rência literária para tentar representar a importância de ler – “Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras”.

Existem milhares e milhares de livros cobrindo todos os temas. Ler muito e ler tudo permite a um indivíduo adquirir todo o tipo de conhecimento acerca de todo o tipo de matérias. Tome-se o exemplo de José Saramago, um homem de edu-cação humilde que, lendo, se tornou escritor, e um dos melhores que por cá tivemos.

“Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras”. Um acontecimento, uma história, um local podem ser vistos de muitas perspetivas diferentes. Quer-se saber mais sobre um país? Leia-se da sua história. Mais? Leia-se da sua geografia, da sua economia, da sua fauna e da sua flora. Leia-sa da sua cultura. Leia-se a sua literatura. A sabedoria e o conhecimento não são quantificáveis, não há limites para estes bens. Não pesam, não maçam, não ocupam espaço. Não têm impostos. Sobretudo, não têm valor.

“Ler, ler muito, ler tudo e de todas as maneiras”, pois é muito difícil explicar a importância que a leitura tem na forma-ção de uma pessoa. Só resta aconselhar a que se leia, leia muito, leia-se tudo e de todas as maneiras.

Bernardo Castro, 12º G

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Confluências

DESVELOS

Um canguru pode provar que foram os portugueses a descobrir a Austrália?

Livro de orações do século XVI que mostra um pequeno canguru desenhado levanta a hipótese de os navegadores portugueses

terem chegado à Austrália antes de 1606, ano da descoberta holandesa.

O manuscrito português, que terá sido feito entre 1580 e 1620, mostra

aquilo que parece ser um pequeno canguru numa das suas letras. Se for mesmo uma representação com 400 anos deste mamífero marsupial, o desenho sugere, escreve o diário britânico The Telegraph, que os explorado-res portugueses chegaram à Austrália antes de Willem Janszoon, o navegador holandês a quem se atribui a descoberta, em 1606. O documento, que foi comprado recentemente pela galeria Les Enluminures, de Nova Iorque, que o avalia em

11 mil euros, a um negociante de livros antigos em Portugal, é um volume de orações, em tamanho de bolso, que pertencia a uma freira e inclui, na página em que o canguru aparece, a partitura de uma procissão litúrgi-ca. Esta religiosa chamava-se, muito provavelmente, Catarina de Carvalho e vivia num convento nas Caldas da Rainha.

Lucinda Canelas Público, 16/01/2014 - 12:20

O manuscrito terá sido feito entre 1580 e 1606 Les Enluminures Gallery

Senhora minha avó

Estás presente nas minhas memórias desde sem-pre.

És um exemplo exímio de força, és o modelo pelo qual me guio. Sempre estiveste ao meu lado, nos bons e nos maus momentos, sempre me apoiaste e incentivaste a melhorar. Tudo isto com um carinho especial, o carinho de uma avó que ama os seus netos, mais do que a sua própria vida.

Fui recentemente forçada a ponderar uma hipótese que até há pouco tempo parecia tão remota, tão dis-tante, tão impossível como a de a Terra para de girar…

O que será de mim se as suspeitas se confirmarem? O que será de mim se o teu dia estiver para breve, o

dia em que terás de partir? Sem ti, ficarei desamparada, sem saber para onde

ir ou o que fazer. A minha vida perderá a sua maior razão. Questionarei tudo e todos, todas as certezas e incertezas, começando pela mais óbvia.

Qual o objetivo de uma vida, para que serve, afinal? Para sofrer?

Será, então, verdadeira a existência de Deus? Será Ele assim tão justo quanto se pensa, mesmo causan-do tanta dor e ceifando as vidas de autênticos anjos que sem asas voam sobre o céu que pisamos? Ou achará Ele que estará na altura de estas almas regressarem a casa; sentirá Ele a falta que lhe fazem?

São estas as dúvidas que me ocupam a cabeça e atormentam o coração a par com a ideia de que uma

vida sem ti estará, talvez, para breve. Não quero nem pensar que as recordações que

tenho de ti possam nunca mais repetir-se… Um verão sem ti, um natal sem ti, uma casa sem ti, um mundo sem ti…

Dói de mais, tudo isto Não consigo sequer imaginar ir a tua casa e não te

encontrar á porta, á minha espera, com essa tua expressão, cansada mas alegre por me ver, tão pró-pria de ti. Olhar e não te ver com os teus óculos e a tua bata de avó, como nós lhe chamamos, de cor escu-ra e carregada de flores miúdas. Ouvir o papagaio, que tanto amor tem por ti, chamar-te e não te ouvir responder. Sentar-me à mesa na hora da refeição, durante o estio, quando estamos todos juntos na ter-ra vizinha à que te viu nascer, e não ouvir mais a tua voz a contar aquelas histórias antigas que já a tia Olinda te tinha contado ou, até mesmo, as tuas lem-branças. Olhar para o meu avô e saber que também ele te perdeu…

Tudo isto é demasiado doloroso me faz chorar… Sei que o que mais queres é ver-me a mim e ao meu

irmão felizes e, quando partires, queres que conti-nuemos as nossas vidas normalmente porque estarás no céu a olhar por nós com um lugar a teu lado à nos-sa espera. Porém, não é suficiente, não para mim.

Posso estar a ser ingénua, mas o que mais peço é que fiques aqui, e, se as coisas se complicarem, não desistas de lutar.

Num mundo perfeito, jamais me deixarias.

Joana Garcia, 11º E

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Confluências

OS LUSÍADAS

Os Lusíadas - Alvará Régio da Edição de 1572

Eu el Rey faço saber aos que este Aluara virem que eu ey por bem & me praz dar licença a Luis de

Camões pera que possa fazer imprimir nesta cidade de Lisboa, hűa obra em Octaua rima chamada Os Lusiadas, que contem dez cantos perfeitos, na qual por ordem poetica em versos se declarão os principaes feitos dos Portugueses nas partes da India depois que se descobrio a nauegação pera ellas por mãdado del Rey dom Manoel meu visauo que sancta gloria aja, & isto com priuilégio pera que em tempo de dez anos que se começarão do dia que se a dita obra acabar de empremir, em diãte, se não possa imprimir nẽ vender em meus reinos & senhorios nem trazer a elles de fora, nem leuar aas ditas partes da India pera se vender sem licẽça do dito Luis de Camões ou da pessoa que pera isso seu poder tiuer sob pena de quẽ o contrario fizer pagar cinquoenta cruzados & perder os volumes que imprimir, ou vender, a metade pera o dito Luis de Camões, & a outra metade para quem os acusar. E antes de se a dita obra vender lhe sera posto o preço na mesa do despacho dos meus Desembargadores do paço, o qual se declarará & porá impresso na primeira folha da dita obra pera ser a todos notorio, & antes de se imprimir sera vista examinada na mesa do conselho geral do santo officio da Inquisição pera cő sua licença se auer de imprimir, & se o dito Luis de Camões tiuer acrecentados mais algűs Cantos, tambem se imprimirão auendo pera isso licença do santo officio, como acima he dito. E este meu Aluara se imprimirá outrosi no principio da dita obra, o qual ey por bem que valha & tenha força & vigor, como se fosse carta feita em meu nome, por mim assinada & passada por minha Chancellaria em embargo da Ordenação do segundo liuro, tit. xx. que diz que as cousas cujo effeito ouuer de durar mais que hum ano passem per cartas, & passando por aluaras não valhão. Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa a XXIIII de Setembro de MDLXXI. Iorge de Costa o fiz escrever.

PARECER DO CENSOR DO SANTO OFÍCIO

Vi por mandado da santa & geral inquisição estes dez Can-tos dos Lusiadas de Luis de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizerão em Asia & Europa, e não achey nelles cousa algűa escandalosa nem contrária â fe & bõs custumes, somente me pareceo que era necessario

aduertir os Lectores que o Autor pera encarecer a difficul-dade da nauegação & entrada dos Portugueses na India, usa de hűa fição dos Deoses dos Gentios. E ainda que sancto Augustinho nas sas Retracta-ções se retracte de ter chamado nos liuros que compos de Ordi-ne, aas Musas Deosas. Toda via como isto he Poesia & fingi-mento, & o Autor como poeta, não pretende mais que ornar o estilo Poetico não tiuemos por

inconueniente yr esta fabula dos Deoses na obra, conhecen-doa por tal, & ficando sempre salua a verdade de nossa sanc-ta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demonios. E por isso me pareceo o liuro digno de se imprimir, & o Autor mos-tra nelle muito engenho & mui-ta erudição nas sciencias humanas. Em fe do qual assi-ney aqui.

Frei Bertholameu Ferreira

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Confluências

LER PARA VIVER

“A eterna questão: quem foi primeiramente infiel, o homem ou a mulher? Qual dos dois sexos é, por natureza, inconstan-

te?”

Leitura pública da peça A Disputa, de Marivaux.

Biblioteca, dias 25 e 26 de fevereiro.

Coordenação—Professora Cristina Duarte

A Disputa – Marivaux

Já em 1592 Montaigne afirmava con-victamente a sua crença na teoria de que uma criança, ainda que criada em completa solidão e isolamento, tentaria uma forma de expressão verbal das suas ideias e sentimentos. Em 1774, n’A Dis-puta de Marivaux, esta tese materializa-se numa «experiência científica», reali-zada no âmbito de um aceso debate no seio de uma corte do século XVIII: Qual foi o primeiro sexo a cometer uma infide-lidade amorosa? O homem ou a mulher?

A fim de responder ao que parece ser uma discussão vã e inútil, realiza-se a referida «experiência» (decisão adequada ao contexto histórico, dado que estamos, em França, em pleno Iluminismo): qua-tro recém-nascidos órfãos – dois de cada género – são criados em completo isola-mento por dois fiéis servos. Dezanove anos mais tarde, agora adolescentes, são libertados da sua solidão e do seu limita-do universo com o objetivo de se conhe-cerem e de se estudarem as interações sociais e amorosas de uns com os outros - dando término à contenda.

O Príncipe e Hermianne observam o desenrolar dos acontecimentos, repre-sentam-nos, ao próprio público da peça, expondo desconfortavelmente os nossos próprios impulsos «voyeuristas». A peça constitui, assim, uma espécie de reality show do século XVIII. Os cortesãos espe-ram ansiosamente o desenvolver do dra-ma que orquestraram, assistindo a uma pseudo-representação dentro da própria representação, constituindo os jovens

não mais que atores atirados para a ribalta de um palco, sem qualquer guião ou indicação no que diz respeito a inte-rações com o mundo exterior.

Como resultado da sua hermética edu-cação, cada um criou um universo limi-tado, desconhecendo o que transcenda os limites sociais, físicos e intelectuais com os quais cresceu. É por este motivo que, ao ver pela primeira vez Églé, o “outro” desconhecido, Azor é incapaz de verbali-zar ou articular os seus sentimentos, podendo apenas expressar a sua admira-ção e atração por ela através do toque.

Na verdade, estes adolescentes procu-ram conhecer e assimilar, de forma empírica, o que lhes é dado como novida-de, tocando, sentindo o “outro”. De um modo geral, também não se envergo-nham nem dos seus corpos, nem das suas emoções, comunicando-as com cabal honestidade e fisicalidade - o que nos propõe uma reflexão em relação às normas sociais, ao que se considera “apropriado” e “desapropriado”, ao que nos é incutido e não inerente ou natural. Assim se desafia a monogamia e a cen-sura da sexualidade, entre outros aspe-tos.

A intenção de Marivaux não é pintar uma idílica paisagem de inocência e ingenuidade, mas expor, de forma algo desabrida e humorística, os nossos impulsos mais profundos, os nossos desejos mais egoístas e obscuros. O nar-cisismo e o egoísmo que Églé manifesta após se encantar com a beleza do seu reflexo num ribeiro ou a necessidade que tão laconicamente expressa em ser por todos amada e por todos admirada pela

sua formosura, independentemente das circunstâncias e das pessoas que possa ferir, são exemplos disso.

A peça aponta um espelho ao especta-dor. Tem por objetivo expor em hasta pública a nossa própria perfídia, aquela que tentamos tão arduamente ocultar do olhar e das bocas mexeriqueiras de todos. O espectador poderá sentir-se humilhado sem estar plenamente ciente do porquê desse funesto sentimento. Mas a verdade é que nas personagens do Príncipe e de Hermianne (que manifesta o seu desconforto perante o decorrer da ação - mais uma vez imitando a sensa-ção que percorre o público), de Églé, de Azor, de Mesrou, há reminiscências de nós próprios e do nosso íntimo. Somos violentados e despojados da nossa priva-cidade e assistimos à sua exposição, cruel e flagrante, ali mesmo, no palco onde decorre a ação.

No fim de contas, não é a moralidade dos jovens, que tão desavergonhadamen-te exprimem o seu desejo sensual, que não se embaraçam com a promiscuidade das suas afeições, mas a nossa conduta ética, a nossa malícia que é questionada. Indaga-se onde, de facto, residem as malícias sociais - nos outros e na sua volúpia? Ou em nós próprios?

É através deste mecanismo de escânda-lo, de “voyeurismo” (que ainda marca agudamente a sua presença nos reality shows dos nossos serões), de choque, de reflexão, de crítica que a peça tem man-tido a sua atualidade ao longo destes três séculos.

Inês Felizardo

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Confluências

LER PARA VIVER

Príncipe

É através do Príncipe que o espectador é levado a conhecer o tema central da peça, a disputa sobre qual dos sexos terá cometido a primeira infidelidade no amor, e a origem dessa mesma disputa. A ação inicia-se com um diálogo entre Her-mianne, a princesa, e esta personagem, no qual a primeira defende ter sido o sexo masculino a dar «o primeiro exemplo de inconstância e de infidelidade no amor». Apesar de parti-lhar a mesma opinião («o coração dos homens (…) está sem comparação mais sujeito à inconstância e à infidelidade que o das mulheres»), o Príncipe manifesta a necessidade de se «interrogar a própria natureza» para testar a validade de tal teoria. Assim, procurando assistir «ao começo do mundo e da sociedade» com o intuito de dar resposta a essa disputa, que já «há dezoito ou dezanove anos» surgira na corte de seu pai, este concede «liberdade [a quatro jovens] de saírem do seu recinto e de se conhecerem». É sobre as relações que estes irão estabelecer entre si, e às quais Hermianne e o Príncipe assistirão, que se debruça a peça.

No fim da diegese dramática, após ambos terem observado

o procedimento dos jovens, o Príncipe afirma que «os dois sexos não têm motivo para se censurarem», pois «vícios e virtudes, tudo é igual entre eles», acabando por admitir, porém, que o seu sexo «muda por tudo e por nada, sem procu-rar sequer um pretexto». Em tom irónico, como que em res-posta a Hermianne, este constata ainda que o «procedimento do [sexo feminino] é pelo menos mais hipócrita, e por isso mais decente».

Desta forma, por opção do dramaturgo, não é possível a nenhuma das duas personagens chegar a uma conclusão sobre qual dos sexos teria sido responsável pela primeira infidelidade, pelo que a disputa não é solucionada e perma-nece em aberto.

Convém também analisar esta obra à luz da época em que foi escrita, o século XVIII, e que influencia determinante-mente a forma como as mulheres são descritas ao longo da peça, como incapazes de qualquer «ousadia», «devido ao pudor e timidez natural que sempre tiveram», posição que é inicialmente defendida por Hermianne e pelo Príncipe.

Catarina Letria

Eglé

Eglé é uma das personagens principais de A Disputa, a célebre peça de teatro do dramaturgo francês Pierre Marivaux.

Tendo em conta as circunstâncias em que cresceu, Eglé apenas conhece o mundo real, a que todos nós estamos habituados, durante a sua puberdade. Antes disso, tinha sido criada e educada pelos seus amos Carrise e Mesrou, as únicas pessoas com quem teve contacto durante esse longo período.

Com a sua entrada em cena, entendemos que Eglé é uma jovem animada e entusiasta, pronta a conhecer o Mundo em que sempre viveu, mas que nunca conheceu. Para ela, tudo é uma novidade e a cada nova experiên-cia ou sensação parece delirar com a fogosidade com que vive cada momento.

Para a jovem Eglé, o mais importante é ser amada: quanto mais melhor e se forem muitos os pretendentes, melhor ainda. Ainda assim, a sua ingenuidade conquista os leitores ou espectadores e convence-os de que não existe qualquer maldade neste seu desejo.

Devido à sua beleza, referida várias vezes ao longo da peça, e à sua cativante personalidade, rapidamente se apaixona e, simultaneamente, inspira o mesmo sentimento em quem a rodeia.

Apesar do objetivo focado na peça ser a discussão de qual terá sido o primeiro sexo a dar sinais de inconstância, a série de paixões e de «despaixões» que se seguem são altamente cómicas e, apesar da longevidade deste texto dramático, actuais. A genialidade dessa comédia e a sua intemporalidade devem-se em grande parte ao modo como Marivaux pensou a personagem Eglé.

Joana Carvalhinho

Azor

Desde pequeno separado do mun-do por um capricho régio e com o fim de proporcionar à corte um espetáculo que lhes permitisse res-ponder à questão «Que sexo traiu primeiro, o homem ou a mulher?», Azor, um inocente, encantado e curioso jovem recebe, inconsciente-mente e a par de outros três huma-

nos, o papel de primeiro homem do mundo.

Em A Disputa, de Marivaux, eu considero que é Azor, o pueril homem que vê com espanto a sua cara refletida num riacho e que ama tanto delicada como sofregamente, que nos faz, leitores, acreditar na beleza de Églé, no deleite que provo-ca com a sua mera passagem. Uma

jovem transpirando «perfeição», cujas mãos são descritas como «suaves e brancas» e apaixonada-mente beijadas pelos seus amores. Azor, em contraste com outras per-sonagens, é muito humilde e dedica-do, embora, como os outros, não cor-responda às expetativas do Prínci-pe.

Duarte Bénard da Costa

Fotos gentilmente cedidas pelo Professor Lino das Neves

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Confluências

INICIATIVAS

Quatro professoras viram o seu pedido de aposentação deferido nos meses de janeiro e fevereiro do corrente ano.

A Escola Secundária de Camões deseja-lhes felicidades e um futuro longo e bem preenchido!

10 de fevereiro, 19h00 (Auditório) – Com vista a angariar verba para a aquisição de uma nova harpa, Rebeca Csalog, que é também aluna do ensino articulado na Escola de Música do Conservatório Nacional, reali-zou um concerto com este instrumento de cordas no Auditório da escola.

Lembramos, como noticiamos no Confluências anterior, que esta aluna apresentou recente-mente na Biblioteca da escola o seu primeiro romance Glyrmandia.

APOSENTAÇÕES

Profª Delfina Carvalho

Profª Fátima Mourato Profª Maria José Lúcio Profª Isabel Ribeiro

Dias 29/1 e 5/2 (Biblioteca) SEMINÁRIOS DE INFORMÁTICA

Com organização das Professoras Paula Abran-tes e Mónica Baptista

Estes seminários têm como principal propósito lançar a discussão sobre a educação informática e os objetivos da informática como disciplina. Ensinar informática vai para além da simples utilização de aplicações ou tecnologias. O seu contributo para uma nova educação e para o desenvolvimen-to das competências para o século XXI

exige que se reflita sobre novas temáticas, novos currículos e consequentemente discutir diversos paradigmas de ensinar e aprender informática.

Elegemos os jogos e a robótica como ponto de partida para a discussão.

O desenvolvimento tecnológico e o inegável interesse pelos jogos obriga-nos a uma reflexão e troca de ideias em torno desta temática e das técnicas e tecnologias usadas no seu desenvolvimento. De que forma podemos fazer uso das poten-cialidades dos jogos em prol da aprendizagem dos nossos alunos, é uma questão que tem estado na ordem do dia na

Comunidade Camões. Por outro lado, a Escola Secundária de Camões tem criado

condições para que se tente compreender o papel dos robots em contexto de sala de aula. Alguns estudos em que estive-mos envolvidos permitiram identificar potencialidades e constrangimentos do uso de robots para a aprendizagem dos nossos alunos. Por este motivo e porque ainda há perguntas por responder, consideramos necessário manter o diálogo e atualizar os nossos conhecimentos a fim de renovar a dis-cussão.

Este seminário não esgota a temática em torno do papel da informática na escola e o seu contributo para a educação do século XXI. Pretende acima de tudo iniciar a discussão por considerarmos que ela não tem sido feita de uma forma explícita. Professor Doutor Hélder Coelho – Os agentes no entreteni-

mento (jogos, cinema). Professor Doutor Luís Correia – Os Robots à conquista do

mundo e arredores. Professor Doutor João Neto – Jogos de tabuleiro e informá-

tica. Professor Doutor Hugo Miranda – A computação móvel

possível mas (ainda) não disponível: para além do face-book, do twitter e dos jogos.

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Confluências

INTERTEXTUALIDADES

[D. Olinda juntando resquícios de outono]

Poema das Folhas Secas de Plátano

As folhas dos plátanos desprendem-se e lançam-se na aventura do espaço, e os olhos de uma pobre criatura comovidos as seguem. São belas as folhas dos plátanos quando caem, nas tardes de Novembro, contra o fundo de um céu desgrenhado e sangrento. Ondulam como os braços da preguiça no indolente bocejo. Sobem e descem, baloiçam-se e repousam, traçam erres e esses, ciclóides e volutas, no espaço escrevem com o pecíolo breve, numa caligrafia requintada, o nome que se pensa, e seguem e regressam, dedilhando em compassos sonolentos a música outonal do entardecer.

São belas as folhas dos plátanos espalhadas no chão. Eram lisas e verdes no apogeu da sua juventude em clorofila, mas agora, no outono de si mesmas, o velho citoplasma, queimado e exausto pela luz do Sol, deixou-se trespassar por afiado ácidos. A verde clorofila, perdido o seu magnésio, vestiu-se de burel, de um tom que não é cor, nem se sabe dizer que nome tenha, a não ser o seu próprio, folha seca de plátano. A secura do Sol causticou-a de rugas, um castanho mais denso acentuou-lhe os nervos, e esta real e pobre criatura vendo o solo coberto de folhas outonais medita no malogro das coisas que a rodeiam: dá-lhes o tom a ausência de magnésio; os olhos, a beleza.

António Gedeão (Rómulo de Carvalho, antigo docente nesta escola)

plátanos desafiantes

Os alunos rabiscam respostas a um poema de torga. a mudez é recortada pela toada de um pássaro ou dois em ritual primaveril

calou-se agora. agora retoma a sala é permeável à natureza toda que é cada vez menos no presente da cidade o pássaro cala-se e um aluno pergunta

o que é uma videira e o pássaro agora com um coro consigo disposto nos plátanos desafiantes e um aluno pergunta

o que são beirais torga decididamente não é deste reino e só os pássaros insistem em fazer ninhos na escola fora dos sonhos de quem nela anda. de quem nela anda. de quem nela nada

António Souto

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Confluências

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Com o generoso apoio do Grupo Desportivo e Cultural do Banco de Portugal

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES http://www.escamoes.pt

BE/CRE http://esccamoes.blogspot.com/

A todos quantos colaboraram com a cedência de fotos e trabalhos para este Boletim, uma palavra de agradecimento.

BR

EV

ES

A página da escola foi reformulada e apresenta agora uma nova imagem. Descobre-a e... interage!

www.escamoes.pt

A ESCOLA SECUNDÁRIA DE CAMÕES, COMO OS CARTAZES ESPELHAM, CONTINUA COM UMA ATIVIDADE EXTRACURRICULAR DE CAUSAR INVEJA, DINÂMICA A QUE NÃO É ALHEIO O MOVIMENTO CAMONIANO