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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Adamantinenses Integradas - Ano 3 - Nº 22 - julho/agosto/setembro de 2007 Boletim Científico da Medicina Veterinária da FAI Editorial Caros Alunos do Curso de Medici- na Veterinária da FAI, A Clínica Veterinária de nossa Fa- culdade está cada vez mais, sendo pro- curada pela população em busca de um atendimento especializado e de alto ní- vel técnico. A diversidade de casos au- menta, podendo cada um se tornar um relato científico. O número de prontuá- rios (fichas de atendimento) já ultrapas- sou 1500 em apenas 18 meses de funci- onamento. E tudo isso graças ao traba- lho que fazemos em equipe, para que vocês possam usufruir e valorizar o potencial que temos em nossas mãos. Nesta edição, apresentamos dois relatos de casos, um na área de obstetrí- cia, prolapso uterino em bovino, e ou- tro clínico-cirúrgico, obstipação intesti- nal canina. O artigo “Palavra do Pro- fessor” Professor mostra um grande problema de saúde pública, a criptococose, dado pelo descontrole populacional de pombos em locais pú- blicos, onde encontram abrigo e alimento. O mês de Agosto é conhecido como o “mês do cachorro louco”. Vocês sabem por quê? É dessa forma que muitas pessoas são alertadas sobre o perigo que a Raiva representa para a saúde da população. Embora o contá- gio possa acontecer durante todo o ano, é neste período que ocorre uma maior tendência de concentração de cadelas em período reprodutivo, havendo uma mai- or aproximação e promiscuidade entre os animais propiciando a propagação do vírus. No Brasil, o maior transmis- sor da Raiva entre os animais é o mor- cego hematófago. Os cães e gatos são os principais transmissores para os se- res humanos, embora qualquer mamí- fero seja susceptível e transmissor do vírus. Como esta enfermidade é 100% fatal, a erradicação total da Raiva hu- mana está condicionada ao controle de cães e gatos errantes e da vacinação dos animais de estimação, além do controle de morcegos hematófagos. E aí está a importância da nossa atuação, como mé- dicos veterinários . E, no mês de setembro come- moramos o nosso dia: O dia do vetrinario. Parabéns a todos nós, pois ser veterinário não é apenas uma pro- fissão e sim um dom, para salvar a vida de animais e garantir um alimento de origem animal saudável ao ser humano. Profa. Dra. Sandra Helena Gabaldi Wolf Coordenadora do Curso de Medicina Veterinária da FAI Prolapso Uterino Obstipação Canina

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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Adamantinenses Integradas - Ano 3 - Nº 22 - julho/agosto/setembro de 2007

Boletim Científicoda MedicinaVeterinária da FAI

Editorial

Caros Alunos do Curso de Medici-na Veterinária da FAI,

A Clínica Veterinária de nossa Fa-culdade está cada vez mais, sendo pro-curada pela população em busca de umatendimento especializado e de alto ní-vel técnico. A diversidade de casos au-menta, podendo cada um se tornar umrelato científico. O número de prontuá-rios (fichas de atendimento) já ultrapas-sou 1500 em apenas 18 meses de funci-onamento. E tudo isso graças ao traba-lho que fazemos em equipe, para quevocês possam usufruir e valorizar opotencial que temos em nossas mãos.

Nesta edição, apresentamos doisrelatos de casos, um na área de obstetrí-cia, prolapso uterino em bovino, e ou-tro clínico-cirúrgico, obstipação intesti-nal canina. O artigo “Palavra do Pro-fessor” Professor mostra um grandeproblema de saúde pública, acriptococose, dado pelo descontrolepopulacional de pombos em locais pú-blicos, onde encontram abrigo e alimento.

O mês de Agosto é conhecidocomo o “mês do cachorro louco”.Vocês sabem por quê? É dessa formaque muitas pessoas são alertadas sobreo perigo que a Raiva representa para asaúde da população. Embora o contá-gio possa acontecer durante todo o ano,é neste período que ocorre uma maiortendência de concentração de cadelas emperíodo reprodutivo, havendo uma mai-or aproximação e promiscuidade entreos animais propiciando a propagaçãodo vírus. No Brasil, o maior transmis-sor da Raiva entre os animais é o mor-cego hematófago. Os cães e gatos sãoos principais transmissores para os se-res humanos, embora qualquer mamí-fero seja susceptível e transmissor dovírus. Como esta enfermidade é 100%fatal, a erradicação total da Raiva hu-mana está condicionada ao controle decães e gatos errantes e da vacinação dosanimais de estimação, além do controlede morcegos hematófagos. E aí está aimportância da nossa atuação, como mé-dicos veterinários.

E, no mês de setembro come-moramos o nosso dia: O dia dovetrinario. Parabéns a todos nós, poisser veterinário não é apenas uma pro-fissão e sim um dom, para salvar a vidade animais e garantir um alimento deorigem animal saudável ao ser humano.

Profa. Dra. Sandra Helena Gabaldi WolfCoordenadora do Curso de Medicina

Veterinária da FAI

Prolapso Uterino

Obstipação Canina

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Boletim Científico do Curso de Medicina Veterinária da FAI (Faculdades Adamantinenses Integradas) - Ano 3 nº 22 - julho/agosto/setembro de 20072

Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

Prolapso Uterino Parcial em BovinoDr. Alexandre WolfProfessor do Curso de Medicina Ve-

terinária da FAI

Dra. Sandra Helena Gabaldi WolfProfessora do Curso de Medicina

Veterinária da FAI

Vinícius Buffon MaionAluno do 6º termo do Curso de Me-

dicina Veterinária da FAI

Arnaldo Sotero Luz e SouzaAluno do 8º termo do Curso de Me-

dicina Veterinária da FAI

Marco Antônio Gonçaves da SilvaAluno do 8º termo do Curso de Me-

dicina Veterinária da FAI

Talyta Maria Smith de VasconcellosBeraba

Aluna do 10º termo do Curso deMedicina Veterinária da FAI

Figura 01 - Esquema da Sutura de Bühner.

Figura 02 - Útero saindo pela rima vulvar. Note a presença das carúnculas e a coloraçãoavermelhada da mucosa (viabilidade tecidual)

ResumoO prolapso é o deslocamento do

útero de sua posição anatômica, atravésda rima vulvar, e ocorre comumente nomomento do parto.

Seu comprometimento com a re-produção futura, irá depender do tempode exposição do endométrio e da res-posta ao tratamento estabelecido.

Este artigo tem como objetivo, re-latar um caso de prolapso de útero emuma novilha, atendida na Clínica Veteriná-ria das Faculdades Adamantinenses Inte-gradas (FAI).

O tratamento constituiu de anestesiaepidural, anti-sepsia local, reposicionamentodo útero na cavidade abdominal e suturada rima vulvar, para que o mesmo regridae não prolapse novamente.

Introdução O prolapso uterino é uma patolo-

gia, que ocorre geralmente no puerpério ime-diato, ou seja, imediatamente após o parto.

Consiste do deslocamento por

eversão do útero de sua posiçãoanatômica, com exteriorização total ouparcial pela rima vulvar, geralmenteacompanhada de ruptura dos ligamen-tos uterinos. Tem como causas: heredita-riedade, defeitos anatômicos, fêmeas ido-sas e/ou multíparas (relaxamento do sis-tema de fixação do genital interno, liga-mentos e diafragma pélvico), distúrbioshormonais (excesso de estrógeno e/ourelaxina), parto distócico com tração for-çada do feto, indução do parto ouhipertonia uterina.

Pode acometer principalmente bo-vinos, ovinos, caprinos e suínos, sendoraro em eqüinos, cães e gatos.

A fêmea apresenta cólicas violen-tas, com a exteriorização do útero pelacérvix, que pode ser leve, somente coma observação por meio de espéculo va-ginal, ou grave, com a visualização daexpulsão completa/parcial do útero pelarima vulvar. Pode estar associado à re-tenção de placenta.

O prognóstico pode ser reserva-do a mau, podendo ocorrer morte súbi-

ta pelo rompimento do mesovário e/ou li-gamento largo do útero e, consequentemente,da artéria ovariana e/ou uterina, respectiva-mente, ou pela grave extensão das lesõeslacerativas e/ou necróticas da parede uterina.

Como tratamento, temos o conservativoou o radical (cirúrgico).

O conservativo consiste na repo-sição uterina para o local correto, sobanestesia epidural, anti-sepsia local, redu-ção do edema com água gelada e seu en-chimento com solução fisiológica e anti-séptico não irritante (ex. Kilol®) por 15minutos; além disso, pode-se envolver o

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Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

Figura 03 - Anti-sepsia com desinfetante apropriado para poder reintroduzir o útero à suaposição anatômica

Figura 04 - Reposicionamento do útero à sua posição anatômica

útero com uma atadura em espiral, inici-ando o mais próximo da vulva e terminandoo mais distante, para facilitar sua manipulação ereposição.

Após a reintrodução e reposiciomamentodo órgão, faz-se a sutura de Bühner (Fig.01), Flessa ou Caslick na vulva, dando tem-po para que ocorra a involução uterina,evitando a recidiva, permanecendo por10 dias. Ainda, deve-se realizar uma infu-são uterina com antibióticos (ex. tetraciclina)ou antibioticoterapia parenteral.

No caso de éguas, também se faz ne-cessária uma medicação para evitar a laminite

e, dependendo do caso, vacina antitetânica. Vale lembrar que o procedimen-

to conservativo, só poderá ser realizadoquando a mucosa uterina estiver viável,ou seja, sem lesões graves.

Já o tratamento cirúrgico, trata-seda amputação do útero, tomando o cui-dado para não comprometer o intesti-no, ou a ovario-salpingo-histerectomia,quando ocorrerem lesões necróticas daparede uterina, iviabilizando este tecido.

Relato de CasoUma primípara da espécie bovi-

na, com dois anos de idade, da raçaGirolanda, com prolapso uterino parcial,foi atendida na Clínica Veterinária das Fa-culdades Adamantinenses Integradas (FAI),após 12 horas do término do parto.

Na anamnese, o proprietário rela-tou que a vaca amanheceu com o úteroexposto após o parto, durante a noite.

O bezerro amanheceu morto e afêmea debilitada e com retenção de pla-centa. Tratava-se de um animal de primeiracria, não havendo, portanto, relato de in-cidência anterior e nem conhecimento deque sua mãe tenha apresentado alguma vezesta enfermidade, já que se pode ter a pre-disposição hereditária.

O touro, que cruzou com esta fê-mea, era de porte maior, o que provavel-mente foi determinante ao caso, pelo be-zerro ter nascido grande em relação à fêmea.

Durante a inspeção, havia a presen-ça de uma massa avermelhada com múl-tiplas carúnculas (formações de ligaçãoplacentária) saindo pela vulva, caracterizan-do-se como um dos cornos uterinos (Fig. 02).

O animal não apresentava compro-metimento sistêmico e nem lesõesteciduais que comprometessem a viabili-dade da parede uterina (Fig. 02).

Como tratamento, foi realizadauma anestesia epidural com lidocaína a 2%,para cessar as contrações uterinas e abdo-minais, facilitando a manipulação e areintrodução do útero para a cavidadeabdominal.

A mucosa uterina, foi cuidadosa-mente lavada e realizada a anti-sepsia com

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Figura 05 - Representação esquemática da infusão intra-uterina de líquido para a completarevesão do útero à sua posição anatômica e sifonagem do mesmo do interior do útero

Figura 06 - Procedimento da sutura de Bühner, utilizando agulha de Bühner e equipo de fluidoterapia

solução de Kilol® a 0,1% (Fig. 03), águagelada para reduzir o edema e areintrodução do útero à sua posiçãoanatômica (Fig. 04).

Para que a mucosa tivesse umacompleta reversão, foi realizada uma in-fusão intra-uterina e consecutivasifonagem para a retirada desta água (Fig.05 e 06). Em seguida, foi realizada umainfusão intra-uterina com 50ml detetraciclina. Após este procedimento, foifeita uma anti-sepsia na região perivulvarpara a realização da sutura de Bühner (Fig.06), garantido que o útero não venha aser ectópico novamente, permanecendoesta por 10 dias.

Ainda, foi prescrita a administra-ção de antibiótico associado aantiinflamatório parenteral (oxitetraciclinaLA,10mg/kg, IM, a cada 48hs, por 2aplicações, associada com diclofenaco de

sódio), e 500ml de solução glicosada a5%, adicionada de 100mL de gluconatode cálcio (Glucofós®), intravenosa, duasaplicações com 12hs de intervalo, para orestabelecimento geral do animal, já queteve grandes desgastes durante o parto.Foi recomendado ao proprietário, queretirasse esta fêmea da reprodução, poisessa patologia tem grandes chances derecidiva, além de reduzir a fertilidade, pelalesão uterina.

Considerações FinaisPor ser um animal de primeira cria,

sua reprodução futura pode estar com-prometida.

Apesar de não apresentar lesõesmacroscópicas teciduais na mucosauterina, estas podem ter ocorrido, difi-cultando uma futura implantação doembrião; ou, se não comprometer a sua

fertilidade, o prolapso uterino tem gran-des chances de ocorrer em um futuroparto, pois houve comprometimento dosligamentos, que mantém o útero em suaposição anatômica.

Ainda, a provável causa desta pa-tologia, pode ser devido ao partodistócico, causado pelo tamanho do be-zerro, já que outras informações não fo-ram fornecidas.

Referências Biblográficas

GRUNERT, E. Patologia e clinica

da reprodução dos mamíferos domés-

ticos. São Paulo: Varela, 2005.

JACKSON, P. G. G. Obstetrícia ve-

terinária. São Paulo: Roca, 2006.

PRESTES, N. C., LANDIM-

ALVARENGA, F. C. Obstetrícia vete-

rinária . Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, 2006.

TONIOLLO, G. H., VICENTE, W.

R. R. Manual de obstetrícia veteriná-

ria. São Paulo: Varela, 2003.

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Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

Tratamento Conservativo e Enterotomiano Tratamento da Obstipação Canina

M.V. Ana Carolina Caravieri Modes-to

Orientadora de Estágios do Cursode Medicina Veterinária da FAI

Ms. José Antonio MarcianoProfessor do Curso de Medicina Ve-

terinária da FAI.

Miriam Maymi TomaEstagiária da Clínica Veterinária da

FAI

Gilvane PiccininiLeandro Henrique Meza da SilvaAlunos da 8º Termo do Curso de

Medicina Veterinária da FAI

Revisão Final: Profa. Dra. SandraHelena Gabaldi Wolf

RESUMOUm caso clínico de obstipação por

compactação no intestino grosso em umacadela, foi atendido na Clínica Veterináriada FAI. Este trabalho, tem como objeti-vo, relatar os procedimentos terapêuticose cirúrgicos desta enfermidade em cães.

INTRODUÇÃOA obstipação, ou constipação

intratável, é um distúrbio adquirido quepode afetar cães e gatos. A obstipaçãoprimária, se deve à compactação docolón com material estranho. A secundá-ria, pode ser causada por qualquer outrodistúrbio, que venha a obstruir o trânsitonormal das fezes, ou que cause dor du-rante a defecação.

Sintomas como anorexia, episódi-os de vômito, tenesmo com a passagemde pequena quantidade (ou mesmo a au-sência) de fezes, ou pequenas quantida-

Figura01 - Animal arqueado e em estadocaquético

Figura02 - Animal arqueado e em estadocaquético

des de fezes líquidas, contendo sangue oumuco, e, a perda de peso são indícios dapresença de obstipação. Comumente, sãoanimais deprimidos e debilitados. Podehaver dor abdominal, dorso arqueado,andar rígido e relutância ao se mover. Parao diagnóstico dos casos suspeitos, é rea-lizado radiografia simples.

O tratamento pode serconservativo, visando a terapia de suportejuntamente com a tentativa dedesobstrução. Caso não resolva, há a ne-cessidade da enterotomia como interven-ção cirúrgica.

RELATO DE CASOUma cadela, sem raça definida,

com aproximadamente 6 anos, pesando17 quilos, foi atendida na Clínica Veteri-nária da FAI em Adamantina-SP. A quei-xa principal era a dificuldade em selocomover, e, considerável perda de peso.O proprietário relatou, que o animal ha-via sido atropelado há 10 meses, e, queapós este fato, notou um andar anormal,entretanto que nunca havia influenciadono estado geral de saúde da cadela. Há10 dias não se alimentava, apresentava dedois a três episódios de vômito por dia,e, contraía-se para defecar (Fig. 01 e 02).

Durante o exame clínico geral, fo-ram observados temperatura de 38,9°C,tempo de preenchimento capilar de trêssegundos e desidratação de 8%. No exa-me clínico sistêmico, foi encontrada sen-sibilidade dolorosa à palpação na regiãode intestino grosso e a presença de umamassa abdominal interna. No exame doaparelho locomotor não foi encontradanenhuma alteração digna de nota.

O animal foi encaminhado ao se-

Figura 03 - Exame radiográfico mostrandoduas massas radiopacas (enterólito) no terçofinal do intestino grosso

Figura 05 - Exame radiográfico no quarto diade tratamento conservativo com a presença dosenterólitos no terço final do intestino grosso

Figura 04 - Procedimento de enema realizadocom água morna e glicerina líquida

tor de radiologia, onde no exameradiográfico, foram encontradas duasmassas radiopacas (enterólito) no terçofinal do intestino grosso, como mostra aradiografia (Fig. 03).

O tratamento inicial foiconservativo, a base de enema e terapiade suporte. A correção da desidratação,foi realizada com Solução fisiológica(NaCl 0.9%) e Ringer lactato. Foram ad-ministrados cloridrato demetoclopramida (0,5 mg/kg, IV, BID) ecimetidina (4 mg/kg, IV, BID) para evi-tar a emese e proteger a mucosa gástrica,respectivamente. Flumexin meglunine foiutilizado como endotoxêmico (0,25 mg/kg, SC, QID) e a enrofloxacina foi o an-tibiótico de escolha (2,5 mg/kg, IM,SID). O enema foi realizado com água

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Artigo de Divulgação Científica - Relato de Caso

morna e glicerina líquida (Fig. 04). Nosegundo dia de tratamento, notou-se queo animal melhorou, estava mais alerta, eque apresentou quatro episódios de diar-réia líquida em quantidade considerável.

No quarto dia de tratamentoconservativo, foi realizado um novo exa-me radiográfico para acompanhamentoda presença do enterólito. Nesta radio-grafia observou-se, que a massa que es-tava posterior, havia reduzido de tama-nho e que a anterior aumentado; que hou-ve uma movimentação de ambas em di-

Figura 06 - Seqüência da intervençãocirúrgica – enterotomia

Figura 07 - Seqüência da intervençãocirúrgica – enterotomia

Figura 08 - Seqüência da intervençãocirúrgica – enterotomia

Figura 09 - Enterólitos retirados durante aenterotomia do intestino grosso

reção caudal do intestino grosso (Fig. 05).Por mais um dia o enema com agen-

te lubrificante e a massagem do conteúdoforam realizados, com o objetivo de con-duzir os enterólitos mais caudalmente,

Figura 11 - Seqüência da intervençãocirúrgica – enterotomia

porém sem êxito. Então, foi decidido,como segunda opção de tratamento, arealização da enterotomia, como interven-ção cirúrgica.

A medicação pré-anestésica utiliza-da foi a associação de tramadol 5% (4mg/kg, IM) e acepromazina 0,2% (0,05mg/kg, IM). A anestesia dissociativa utili-zada foi cetamina 10% (15 mg/kg) asso-ciada a xilazina 2% (0,5 mg/kg). Foi reali-zada também anestesia epidural comlidocaína com vasoconstritor (0,26 ml/kg).

O procedimento cirúrgico inicioucom uma incisão de pele retro-umbilicaldirecionada ao púbis. Foi realizadadivulsão manual do subcutâneo e incisãoda musculatura do abdômen, até adentrarna cavidade abdominal. Após localizaçãoda porção intestinal obstruída, (Fig. 06),foi colocado um clamp intestinal anteri-or à obstrução (Fig. 07) e dados dois pon-tos de apoio no local da enterotomia.Após a incisão, retirou-se o conteúdo (Fig.08, 09 e 10) e a enterotomia foi encerra-da com sutura simples, separada em duascamadas, utilizando-se fio inabsorvívelmonofilamentar (Fig. 11 e 12). A suturade musculatura realizada, utilizou nylon2-0, num padrão simples separado. O pa-drão de sutura para subcutâneo foiCushing com o mesmo tipo de fio, e apele foi suturada com Wolf contínuo.

Como pós-operatório, aantibioticoterapia instituída foi a associaçãode enrofloxacina e metronidazol injetáveise meloxicam como analgésico. Afluidoterapia foi realizada por três dias con-secutivos, com suspensão da alimentaçãooral. Após este período, uma alimentaçãolíquida foi introduzida por uma semana. Oanimal se recuperou bem, retornando aoestado físico normal em um mês.

CONCLUSÃOO exame clínico, deve ser bem de-

talhado na obstipação em cães, para suacausa ser diagnosticada corretamente, uti-lizando-se sempre do exame radiográfico.Deve-se tentar primeiramente o tratamen-

to conservativo, pois uma intervenção ci-rúrgica é sempre mais onerosa e os cuida-dos pós-operatórios são bem laboriosos.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADABICHARD,J.S.; SHERDING,G.R.

Manual Saunders: Clínica de peque-nos animais. 2.ed. São Paulo: Roca,p.859-900, 2003.

Figura 10 - Enterólitos retirados durante aenterotomia do intestino grosso

BOJRAB,J.M. Técnicas atuais emcirurgia de pequenos animais. 3 ed. SãoPaulo: Roca, p.236-40, 1996.

SLATTER,D. Manual de cirurgia depequenos animais. 2.ed. São Paulo:Manole, v.1, p. 744-6, 1998.

Figura 12 - Seqüência da intervençãocirúrgica – enterotomia

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Palavra do Professor

Doenças Graves Transmitida por Pombos:Criptococose e Meningite Criptocócica

Prof. Dr. Gildo MatheusProf. Ms. Milton Alves Junior

Professores de Anatomia Patológi-ca do Curso de Medicina Veterináriada FAI

Dada a importância dos pombos natransmissão de doenças graves, conside-ramos oportuno enfocar este assunto, jáque alguns prédios do Campus II da FAI,mais especificamente os Blocos II e IV,vêm servindo de dormitórios de pom-bos, (fig. 01) e, a despeito de todos osesforços envidados para afugentá-los, oproblema persiste. Daí resulta que as es-cadarias, pisos e paredes amanhecem commuitas fezes e dada à relevância destasaves como vetores de criptococose emeningite meningocócica, teceremos al-guns comentários enfocando ambas asenfermidades, embora ainda estas nãotenham ocorrido em nossa Faculdade.

Tanto a criptococose quanto ameningite criptocócica, são infecções pro-duzidas por fungos, mais especificamen-te pelo Cryptococcus neofarmans (fig. 02) dasvariedades neofarmans (sorotipo A e D) egatti (sorotipo B e C). Trata-se de um fun-

go saprofítico, que vive no solo, frutassecas, cereais, árvores e, principalmente, nosexcrementos de aves, particularmente pombos.

É sabido que, devido à alta concen-tração de leveduras na excreção de pom-bos e a alta incidência dessas aves em regi-ões urbanas, vários casos de criptococosetêm sido reportados após a exposição depessoas a locais com alta contaminaçãopor C. neofarmans.

A infecção acontece através dasvias respiratórias, pela inalação de poei-ras resultantes do ressecamento das fezesde pombos, razão pela qual, se recomen-da que a varredura seja efetuada, após oumedecimento prévio dos resíduos fecais,devendo-se utilizar luvas e máscara.

No hospedeiro sem imunodepressão,a infecção pulmonar inicia-se com oenvolvimento de linfonodo pulmonar,representado por pequeno granulomacriptocócico ou por pequena linfadenitepulmonar granulomatosa. A dissemina-ção para os demais órgãos e sistemas,ocorre como resultado tanto de uma in-fecção primária, quanto secundária.

Nos pacientes que apresentam qua-dro severo de imunossupressão, como nocaso de transplantados ou submetidos aaltas doses de corticóides por tempo pro-longado, assim como nos portadores deAIDS, observa-se alta freqüência de iso-lamento de fungos na urina e no sangue,altos títulos de antígenos polissacarídeosplasmáticos, grande número de levedu-ras no sistema nervoso central, com dis-creta reação inflamatória, associadas à altaincidência de manifestações clínicas e re-caídas. Nos pacientes portadores deimunossupressão grave, a doença disse-mina-se podendo comprometer fígado,Figura 03 - Lesão de pele causada pela criptococose

Figura 01- Pombo doméstico

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Palavra do Professor

Expe

dien

te

Boletim Científico do Cursode Medicina Veterinária da FAIUma Publicação Oficial dasFaculdades Adamantinenses Integradas.

Autarquia MunicipalCGC 03.061.303/0001-02

DiretorProf. Dr. Roldão Simione

Vice DiretorProf. Dr. Jurandir Savi

Editor - chefeProfa. Drª. Sandra Helena Gabaldi Wolf

Editor - assistenteProf. Dr. Márcio Cardim

Coordenador EditorialProf. Ms. Márcio Castro

Diagramação - Projeto GráficoFabrício Lopes

Assistente de Coordenação EditorialAna Paula Clapes Nunes

Revisão:Profª Neusa Maria Pais

Conselho CientíficoProf. Dr. Alexandre Wolf

Profª. Drª. Fernanda Cipriano RochaProf. Dr. Gildo MatheusProfª. Drª. Jaqueline Haddad MachadoProfª. Ms. Lílian BevilaquaProfª. Drª. Sandra Helena Gabaldi Wolf

Comissão de ÉticaProf. Ms. José Antonio MarcianoProf. Ms. Milton Alves Junior

Jornalista ResponsávelSérgio Barbosa Mtb nº 16.772/SP

Tiragem400 exemplares

Editora: Edições OmniaRua Nove de Julho, 730Fone/Fax: (18) 3522-1002CEP 17800-000 – Adamantina/SPSite: www.fai.com.br

E-mail:[email protected]

Impressão:OPA: Organização de Publicidade Adamantina

O Boletim Científico não se responsabilizapelos artigos assinados. Os mesmos sãode inteira responsabilidade de seus autores,não refletindo necessariamente

Expe

dien

te

Figura 02 - Cryptococcus neofarmans

pulmões, próstata, pele, rins, olhos, coração,linfonodos e adrenais, levando ao óbito (fig. 03).

Sabe-se ainda, que no estágio dedisseminação extrapulmonar, o sistemanervoso central torna-se o principal ór-gão afetado desenvolvendo meningitecriptocócica caracterizada por febre, fra-queza, dores no peito, rigidez da nuca,dor de cabeça, náuseas e vômito, sudoresenoturna, confusão mental e alterações navisão podendo, também, levar ao óbito.

Recomenda-se que todos os paci-entes com doença pulmonar ouextrapulmonar criptocócica realizem pun-ção liquórica, mesmo quando assintomáticado ponto de vista neurológico.

O tratamento precoce diminui amorbidade e previne a progressão da in-fecção e comprometimento do sistemanervoso central. O medicamento de elei-ção é a Anfotericina B, em nível hospitalar.

Até o momento não existem mé-todos preventivos específicos, a não seratividades educativas o que significa me-didas de controle de proliferação de pom-bos, restringindo-se a disponibilidade dealimentos e água e, principalmente, osabrigos visando reduzir a população. Oslocais com acúmulo de fezes, devem serumidificados, para que os fungos possam serremovidos com segurança, evitando-se, as-sim, a dispersão na forma de poeiras ouaerossóis.

Referências

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