bola de fogo em cachoeiro

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1 Bola de Fogo em Cachoeiro Nasci em Cachoeiro do Itapemirim em 1954, saímos de lá em agosto de 1963 e fomos para Linhares, eu tinha pouco mais de nove anos. Lá por 1961 ou 1962, não sei bem, jogávamos bola colegas, vários primos e eu na rua diante da casa de tio Gabriel Gava, no Morro Santo Antônio, onde tanto ele, esposa e filhos quanto nós morávamos. Era um entardecer, os fominhas de bola que éramos queríamos jogar enquanto não escurecesse de todo ou pais e mães nos chamassem, o que acontecesse primeiro. Nesse dia era bem tarde, depois das seis, já escuro, cruzou no céu uma bola de fogo, uma coisa bem visível. Fiquei impressionado mas não muito, pois nada aconteceu, nada caiu na Terra nem fez barulho. Não dei importância, era apenas um fenômeno inofensivo. Só muito depois fiquei sabendo dos chamados “meteoritos rasantes”, os que passam perto da Terra, uns a 1,8 milhão de quilômetros, outros até dentro da órbita da Lua (entre 300 e 450 mil km, média de 380 mil km). Um chegou a 50 mil km, creio que sobre o Texas. Nunca ouvi falar de um que tenha chegado mais perto que isso, embora o cometa que supostamente caiu um Tunguska (veja o texto de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, O Livro de Ouro do Universo, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, p. 278, Tunguska – Um Mistério Cósmico) em 30 de junho de 1908, a 800 km a noroeste do lago Baikal, na Sibéria, Rússia, tenha explodido sobre o solo, devastando dois mil km 2 . Terá sido mesmo um meteorito ou uma bola de fogo clássica? Nenhum astrônomo que eu tenha lido relatou nada, mas naquela época a astronomia no Brasil estava capengando das pernas. Havia poucos pesquisadores e todos eles estavam ocupados demais. Por outro lado, quem teria se preocupado, dentre todos os que viram, em ir relatar às chamadas autoridades? O povo não gosta de se envolver com os governos e, a menos que alguém pergunte com força, ninguém diz nada. Porém aquela coisa ficou na minha memória. Um dia, tendo condições disso, pretendo perguntar a alguém sobre o fenômeno. É de ver como estamos todos envoltos em perigos além da nossa imaginação. Se foi um meteorito que passou tão rasante a ponto de transformar-se

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Cachoeiro de Itapemirim, quem diria, participava da astronomia em minha infância; só que nunca ouvi ninguém mais falar disso

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Page 1: bola de fogo em Cachoeiro

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Bola de Fogo em Cachoeiro Nasci em Cachoeiro do Itapemirim em 1954, saímos de lá em agosto de 1963 e fomos para Linhares, eu tinha pouco mais de nove anos. Lá por 1961 ou 1962, não sei bem, jogávamos bola colegas, vários primos e eu na rua diante da casa de tio Gabriel Gava, no Morro Santo Antônio, onde tanto ele, esposa e filhos quanto nós morávamos. Era um entardecer, os fominhas de bola que éramos queríamos jogar enquanto não escurecesse de todo ou pais e mães nos chamassem, o que acontecesse primeiro. Nesse dia era bem tarde, depois das seis, já escuro, cruzou no céu uma bola de fogo, uma coisa bem visível. Fiquei impressionado mas não muito, pois nada aconteceu, nada caiu na Terra nem fez barulho. Não dei importância, era apenas um fenômeno inofensivo. Só muito depois fiquei sabendo dos chamados “meteoritos rasantes”, os que passam perto da Terra, uns a 1,8 milhão de quilômetros, outros até dentro da órbita da Lua (entre 300 e 450 mil km, média de 380 mil km). Um chegou a 50 mil km, creio que sobre o Texas. Nunca ouvi falar de um que tenha chegado mais perto que isso, embora o cometa que supostamente caiu um Tunguska (veja o texto de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, O Livro de Ouro do Universo, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, p. 278, Tunguska – Um Mistério Cósmico) em 30 de junho de 1908, a 800 km a noroeste do lago Baikal, na Sibéria, Rússia, tenha explodido sobre o solo, devastando dois mil km2. Terá sido mesmo um meteorito ou uma bola de fogo clássica? Nenhum astrônomo que eu tenha lido relatou nada, mas naquela época a astronomia no Brasil estava capengando das pernas. Havia poucos pesquisadores e todos eles estavam ocupados demais. Por outro lado, quem teria se preocupado, dentre todos os que viram, em ir relatar às chamadas autoridades? O povo não gosta de se envolver com os governos e, a menos que alguém pergunte com força, ninguém diz nada. Porém aquela coisa ficou na minha memória. Um dia, tendo condições disso, pretendo perguntar a alguém sobre o fenômeno. É de ver como estamos todos envoltos em perigos além da nossa imaginação. Se foi um meteorito que passou tão rasante a ponto de transformar-se

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em fogo na atmosfera, imagine se ele tivesse caído! É como uma bala passar ao lado do corpo. Um perigo de fato detestável. E todos nós ali inocentes. Também, quem poderia fazer qualquer coisa? Até hoje, passados 40 anos, os astrônomos dizem que não poderiam detectar nenhum meteorito ou cometa que viesse diretamente para a Terra, ameaçando atingi-la, ao contrário do que dizem os filmes, nos quais eles são detectados até meses antes. A Rede Cognata diz que meteorito solto = MORTE SÚBITA, como já vimos. Vitória, segunda-feira, 22 de julho de 2002. José Augusto Gava.