boas vinhas - edição 2 - maio 2015

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Além deste número, que agora lhe chega às mãos, haverá ainda este ano uma segunda edição, que receberá junto com a carta de manifesto. Chamamos aqui a atenção para um especial cuidado a ter com a edição de Agosto, pois a folha de rosto conterá informação confidencial pertencente a cada viticultor a utilizar na apresentação da sua DCP (manifesto) da campanha 2015/2016. Jornal de distribuição gratuita aos viticultores, o Boas Vinhas é uma iniciativa da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) que conta com o apoio da Sapec, e que visa divulgar informação técnica sobre a viticultura, mas também sobre a Região. Boas Vinhas regressa em Agosto Edição n.º 2 | Maio de 2015 BOAS VINHAS // PÁG. 3 // PÁG. 7 // PÁG. 5 // PÁG. 4 Atenção às doenças da videira Jovens apostam nos Vinhos Verdes Entrevista “Estamos no bom caminho para controlar a Flavescência Dourada” A instalação de uma vinha na Região dos Vinhos Verdes CVRVV Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes | Directora: Maria José Pereira | Distribuição gratuita | Semestral | ISSN: 2183-5411 // PÁG. 6 // PÁG. 6 Castas autóctones em recuperação na EVAG Direitos de plantação com novas regras a partir de 2016

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Boas Vinhas - Edição 2 - Maio 2015

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Page 1: Boas Vinhas - Edição 2 - Maio 2015

Além deste número, que agora lhe chega às mãos, haverá ainda este ano uma segunda edição, que receberá junto com a carta de manifesto.Chamamos aqui a atenção para um especial cuidado a ter com a edição de Agosto, pois a folha de rosto conterá informação confidencial pertencente a cada viticultor a utilizar na apresentação da sua DCP (manifesto) da campanha 2015/2016.

Jornal de distribuição gratuita aos viticultores, o Boas Vinhas é uma iniciativa da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) que conta com o apoio da Sapec, e que visa divulgar informação técnica sobre a viticultura, mas também sobre a Região.

Boas Vinhas regressa em Agosto

Edição n.º 2 | Maio de 2015

BOAS VINHAS

// PÁG. 3

// PÁG. 7// PÁG. 5

// PÁG. 4

Atenção às doençasda videira

Jovens apostamnos Vinhos Verdes

Entrevista“Estamos no bom caminho para controlar a Flavescência Dourada”

A instalação de uma vinhana Região dos Vinhos Verdes

CVRVV – Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes | Directora: Maria José Pereira | Distribuição gratuita | Semestral | ISSN: 2183-5411

// PÁG. 6

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Castas autóctonesem recuperação na EVAG

Direitos de plantaçãocom novas regras a partir de 2016

Page 2: Boas Vinhas - Edição 2 - Maio 2015

2 | |BOAS VINHAS Maio de 2015

A nova fronteira do Vinho VerdeNutrição da raíz até à folhas

FichaTécnica

Estatuto EditorialBoas Vinhas é um jornal semestral de informação técnica que pretende, através de texto e imagem disseminar conteúdos sobre viticultura.Boas Vinhas é um jornal ao serviço do viticultor e quer contribuir para a divulgação de novas tec-

Quem diria, há dez anos, que hoje estaríamos assim? As vendas de Vinho Verde sobem consistente-mente há vários anos e, no primei-ro trimestre de 2014, aumentaram

mais de 14%, com a produção a deixar de dar resposta suficiente para as ambições que temos para o mercado.

A viticultura é a nova fronteira do Vinho Verde. É na viticultura que podemos mudar a Região. Porém, se é um sector com imensas oportunidades, cada uma destas é também um problema que precisa de ser resolvido.

Comecemos pelo ponto da situação. Qual-quer produtor de vinhos que queira perspecti- var a próxima década tem de tomar em séria conta o problema do abastecimento. Se não houver algum desastre no comércio, a escas-sez que temos hoje vai manter-se e até, possi-velmente, agravar-se. O Vinho Verde é hoje a Região do País que melhor remunera as uvas brancas e não irá deixar de o ser tão cedo.

Suportamos um custo bruto que é a estru-tura fundiária do Minho. O rendilhado de paisagem que os turistas tanto apreciam tem um custo real de competitividade, sendo que na viticultura as economias de escala são for-tíssimas. Como sabemos, o Estado apoia ou-tras Regiões para manterem a paisagem, mas, aqui, não parece haver interesse nisso.

A Região tem uma área suficiente, mas pro-duz aquém do que poderia. Estamos perto das 6 toneladas por hectare e não há motivo téc-nico nenhum para que não nos aproximemos das 9 toneladas. É certo que precisamos de plantar nova vinha até para compensar a que vai sendo abandonada ou arrancada, mas a chave está claramente na produtividade e não na multiplicação de vinhas pouco produtivas.

É natural que o preço da uva aumente acima da taxa de inflação, mas não nos devemos ilu-dir em pensar que aumentará em dois dígitos consistentemente. O aumento do preço da uva depende do aumento do preço de prateleira e este é limitado pelos produtos concorrentes. Está a ocorrer, é certo, mas a uma velocidade inferior à que todos desejamos.

O futuro da Região passa, pois, pela viticul-tura e o futuro desta passa pela rentabilidade da uva que depende, em primeiro lugar, de aumentarmos a produtividade e aumentar-mos as áreas médias por exploração.

Vinificadores e Adegas Cooperativas são essenciais no debate. Importa que cada em-presa e adega tenha um plano de apoio da viticultura ao longo do ano: acções de for-mação, demonstração de equipamentos e produtos, apoio técnico. O esforço conjunto ajuda, sem dúvida nenhuma, ao desenvolvi-mento da viticultura.

Pela parte da CVRVV estamos a alargar o programa nesta área: este ano, com duas edi-ções do Boas Vinhas, mais acções de forma-ção e o suporte do seguro de colheitas. Que o tempo nos ajude a ter uma grande colheita!

Boas leituras e Boas Vinhas! █

Manuel PinheiroPresidente da CVRVV

A manutenção da fertilidade do solo é, sem dúvida, muito importante para que as videiras possam desenvolver-se de for-ma vigorosa e sã, permitindo obter boas produções, tanto em quantidade quanto em qualidade. A NutriSapec, o ramo de negócio da Sapec Agro SA que se dedica à área da nutrição vegetal a nível nacional, conta com uma equipa especializada para o ajudar. Aqui ficam alguns conselhos.

Quer seja para realizar o acompanha-mento nutricional de uma vinha já insta-lada ou, sobretudo, para a instalação de uma nova parcela de vinha, deve sempre realizar a colheita de amostras de solo e proceder à sua análise. Assim, é essencial que recolha tantas análises de solo quan-tas as necessárias para que as amostras sejam representativas de todas as parce-las onde realizará a plantação/correcção.

Deve recolher, em média, 10 pontos de amostragem para constituir uma amostra representativa de uma unidade de amos-tragem. De quatro em quatro anos, deverá repetir a análise para acompanhar o esta-do de fertilidade do solo.

Após a recepção dos resultados, as cor-recções a realizar poderão ser ao nível do pH, matéria orgânica e/ou mineral, sendo que o objectivo final será sempre melho-rar o nível de fertilidade do solo.

A aplicação de correctivos de pH per-mite corrigir este parâmetro para valores ideais (entre 5,5 e 6,5), ou, pelo menos, para valores que não comprometam a disponibilidade de nutrientes e a tolerân-cia da videira em termos fisiológicos. Os correctivos orgânicos, por sua vez, permi-tem melhorar ou repor as características físicas, químicas e biológicas do solo.

Os restos vegetais ou animais mais ou menos decompostos que se encontram

Directora: Maria José Pereira | Propriedade: Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes | NIF: 501 873 635 | Sede da Redacção: Rua da Restauração, 318, 4050-501 Porto | Tel.: 226 077 300 | E-mail: [email protected] | Produção: BigQuestion | Impressão: SIG – Sociedade Industrial Gráfica – Camarate | Tiragem: 20.000 exemplares | Periodicidade: Semestral | ERC: Registo n.º 126529 | ISSN: 2183-5411 | Depósito Legal n.º 377222/14 | Jornal de distribuição gratuita | Os textos não respeitam o novo acordo ortográfico.

no solo irão, em parte, humificar-se (for-mar húmus), tornando-se matéria orgânica bem decomposta, com um elevado grau de estabilidade onde não se reconhecem os materiais originários, enquanto outra parte será decomposta por micro-orga-nismos, como bactérias, actinomicetas e fungos, que libertarão nutrientes para o solo através do processo mineralização.

Desta forma, percebemos que a matéria orgânica se relaciona directamente com a capacidade do solo fornecer lentamente azoto (N), fósforo (P), enxofre (S) e micro-nutrientes às culturas à medida que a mi-neralização vai ocorrendo. A capacidade de troca, propriedade coloidal da matéria orgânica e da argila, reflecte a capacidade potencial máxima que um solo tem para reter catiões, como por exemplo o cálcio (Ca++), potássio (K+), magnésio (Mg++), hidrogénio (H+), alumínio (Al++), sódio (Na+), sendo estes os mais comuns. Estes catiões servirão como nutrientes para as plantas uma vez absorvidos pelo sistema radicular. Uma vez que a capacidade de troca do solo depende do tipo de material argilo-húmico existente (tipo de argila e de matéria orgânica), é importante garantir a qualidade e quantidade adequada da ma-téria orgânica que vamos incorporar.

Assim, a NutriSapec criou a linha Orga-nik com três equilíbrios NPK (N - azoto, P - Fósforo, K - Potássio), 4-8-12, 4-12-8 e 8-8-8 que, além de realizar a correcção mineral, permite a incorporação de matéria orgânica uma vez que apresenta um teor de matéria orgânica de 30%. O correctivo apresenta-se sobre a forma de pellet, per-mitindo a utilização no espalhador conven-cional, tanto a lanço como localizado.

Após a plantação ou fertilização de ma-nutenção, é necessário acompanhar a

cultura e facilitar a disponibilidade de nu-trientes para as videiras. Realçamos ain-da a importância que os ácidos húmicos têm para diminuir os antagonismos e blo-queios entre nutrientes.

Os ácidos húmicos e fúlvicos presentes no produto Humistar que a NutriSapec co-mercializa são provenientes da Leonardite Americana de alta qualidade, garantindo desta forma a alta eficácia do produto.

Estimular o sistema radicular para que este comece a trabalhar será a garantia do bom estado nutricional, tal como promotor de um bom estado sanitário, uma vez que uma videira bem nutrida será mais resis-tente às intempéries, pragas e doenças. Como se referiu, o desenvolvimento radi-cular é essencial, sobretudo nas vinhas novas, uma vez que um sistema radicular bem desenvolvido irá garantir maior vigor, que é fulcral nos primeiros anos da videira, uma vez que precisamos de varas fortes e vigorosas para formar a estrutura que servirá de base ao tipo de condução que queremos estabelecer na nossa vinha.

Com esta noção, a NutriSapec desen-volveu o produto Ruter AN que é um estimulante do crescimento radicular à base de macronutrientes, micronutrien-tes quelatados e Ascophyllum nodosum (extracto de alga obtido a partir da ex-tracção a frio da Ascophyllum nodosum, preservando todos os agentes bioacti-vos das células). É especialmente indica-do para promover o enraizamento.

Tanto o Humistar como o Ruter AN podem ser utilizados juntamente quer na plantação com hidroinjector, ou via rega.

Nesta edição, ficamos por aqui quanto a sugestões. Boas vinhas, é o que a Nutrisa-pec lhe deseja até à próxima edição. █

Nutrisapec

Benefícios do revestimento biodiverso

nologias na área da cultura da vinha capazes de contribuir para uma viticultura rentável.Boas Vinhas distingue claramente os artigos de opinião dos artigos informativos, sem prejuízo de poder assumir as suas próprias posições, sempre no respeito da legislação em vigor.Boas Vinhas tem um âmbito regional e contribui

Editorial

para a divulgação de eventos, artigos práticos e/ou científicos, quando assim o entendam, so-bre todas as novidades que à viticultura dizem respeito.Boas Vinhas é uma publicação independente, sem qualquer dependência de natureza políti-ca, ideológica e económica.

O revestimento da vinha acarreta be-nefícios importantes na redução dos custos de produção, com im-pacto positivo na protecção e recu-peração da fertilidade do solo em

favor do ambiente e da paisagem. Tal como, aliás, dos sistemas de protecção integrada e de agricultura biológica, com resultados directos na quantidade e qualidade das produções.

A Fertiprado, ao longo de 25 anos, tem investigado e desenvolvido soluções adap-tadas às diferentes condições edafo-climáti-cas, permitindo aliar a rentabilidade da vi-nha às boas práticas ambientais.

O solo ocupado por um revestimento biodi-verso está permanentemente protegido contra fenómenos de erosão. A densa biomassa que constitui a parte aérea e o sistema radicular das plantas (que melhora também a capaci-dade de infiltração e retenção da água devi-do aos canais que as raízes formam no solo) protegem-no contra o impacto directo das gotas da chuva e impedem perdas de solo e nutrientes por arrastamento (erosão) e/ou per-colação. Por outro lado, como a reflexão dos raios solares se faz sobre o coberto vegetal e não directamente sobre o solo, é também re-duzido o efeito de evaporação, o que permite

disponibilizar durante mais tempo a água ne-cessária ao desenvolvimento da vinha.

Assim, um revestimento biodiverso tem a vantagem de garantir uma maior produção de biomassa e um nível de matéria orgânica no solo que vai sendo gradualmente incre-mentado. Este aumento da matéria orgânica melhora todas as propriedades físicas e quí-micas do solo, para além de aumentar o seu potencial produtivo, permitindo-lhe cum-prir melhor o seu papel de suporte de ecos-sistemas e de regulador do ciclo da água.

O azoto, nutriente mais abundante na atmos-fera terrestre (representa cerca de 80% do ar que nos rodeia) e também o macronutriente que as plantas necessitam em maior quantidade, é o elemento mais caro dos fertilizantes pela sua

difícil síntese e pelo seu alto custo energético. No entanto, nos revestimentos biodiversos,

cada leguminosa presente na mistura (devida-mente peletizada e inoculada com o seu Rhizo-bium específico), representa uma “micro-fábri-ca” de azoto proporcionando uma fertilização azotada gratuita, aumentando também de for-ma gratuita a fertilidade do solo.

Por outro lado, a manutenção das diversas espécies que compõem o revestimento biodi-verso na entrelinha da vinha e a consequente minimização da necessidade da utilização de herbicidas permitem evitar a compactação do solo pelo uso excessivo de maquinaria agrícola, ainda que, quando necessária, a cir-culação de máquinas e alfaias nas operações de tratamento e colheita seja facilitada.

Conscientes de que grande parte das vinhas do território nacional é de sequeiro e sabendo que é fundamental que não haja competição pela água e nutrientes entre as videiras e o re-vestimento, devem ser utilizadas (dentro das vá-rias espécies que compõem a mistura), varieda-des mais precoces para que estas se encontrem na fase final do seu ciclo vegetativo quando a humidade no solo começar a escassear.

É igualmente importante conhecer as ca-racterísticas edafo-climáticas e agronómicas da Região, de forma a que se possa seleccio-nar a mistura mais adequada às necessidades específicas da vinha. █

Fertiprado

Revestimento tem efeitos positivos

Page 3: Boas Vinhas - Edição 2 - Maio 2015

|| BOAS VINHASMaio de 2015 3Jovens apostam nos Vinhos Verdes

A Comissão de Viticultura da Re-gião dos Vinhos Verdes (CVRVV) e a Sapec, empresa portuguesa na área dos fitofármacos, assinaram um protocolo de cooperação ten-

do em vista, entre outros aspectos, a forma-ção dos produtores e a concessão de apoios à investigação na área da viticultura.

“A agricultura é uma actividade rica e livre”

Desde sempre habituado a trabalhar na agricultura, a ajudar os pais, Joaquim Re-belo não teve grande dificuldade em perce-ber o que ia fazer na vida. Gosta da terra

Texto de Ilídia PintoFotos de Hernâni Pereira

“A viticultura tem um grande potencial”

Nascido no seio de uma tradicional família de agricultores, em São Martinho de Rece-sinhos, Penafiel, Luís Landreiras sabia que os seus pais não o queriam a seguir as suas pisadas. Quanto mais não seja, porque se acreditava, diz, que “ser agricultor é empo-brecer alegremente”. Mas, quando chegou a altura de escolher o curso, “a paixão pela terra falou mais alto e Luís Landreiras aca-bou por se licenciar em Engenharia Agrope-cuária e fazer o mestrado em Agroecologia. “E não estou nada arrependido”, garante, invocando a natureza, o verde, o “sossego de trabalhar a terra”.

No entanto, procurou inovar, apostando em “castas melhores, em sistemas de con-dução mais adequados” e numa produção “com mais qualidade”. Tem oito hectares de vinha – Loureiro, Trajadura, Alvarinho e Arinto –, mas que pretende aumentar para 12 hectares, com uma aposta especial no Loureiro, casta que acredita ter um poten-cial enorme. Luís Landreiras lembra a acei-tação crescente dos mercados externos para os Vinhos Verdes e sublinha: “O sector tem grande potencial e pode ser bem remunera-do se for trabalhado bem e com qualidade”. E, por isso, não tem dificuldade nenhuma em aconselhar outros jovens, que tenham vontade e queiram trabalhar na vinha, a ar-riscarem. “Não se vão arrepender”, diz. █

“É uma aposta que vai valer a pena”

A viticultura não tem segredos para João Tomás. Já o seu avô era produtor e o seu pai seguiu-lhe as pisadas. Não admira, por isso, que o jovem João Tomás se tenha licencia-do em Engenharia das Ciências Agrárias e dado continuidade à tradição familiar. Não sem antes ter trabalhado em várias empresas, de áreas completamente distin-tas, dos vinhos ao sector dos materiais de construção. Em 2010, aproveitou os fundos comunitários para a instalação de jovens agricultores e decidiu arrancar com o seu projecto. Começou com 3,5 hectares de vi-nha, actualmente já explora 12 hectares, em Esposende e Barcelos, e aguarda aprovação de uma candidatura ao Vitis para mais dois hectares. No final deste ano, pensa candi-datar mais um hectare. “Inicialmente, o plano de negócios previa apenas 8,5 hecta-res. Mas temos procurado aumentar a área plantada para manter a viabilidade da ex-ploração”, explica o jovem viticultor.

João Tomás acredita que, no futuro, todo o esforço que está a fazer actualmente vai valer a pena. No entanto, reconhece que a agricultura, como qualquer outra atividade económica, tem de ser encarada de forma profissional e que “não basta a ilusão de ir buscar fundos comunitários”. Até porque o sector vitícola “não tem grandes margens de rentabilidade, não pode haver erros, é preciso trabalhar muito bem e numa lógica de longo prazo”, conclui. █

“Vinhos Verdes vivem momento especialmente bom”

Licenciado em Agronomia, Luís Vilaça aproveitou a atribuição de novas licenças de plantio de vinha para arrancar com o seu projecto, já que o seu pai tinha uma pro-priedade praticamente abandonada com quatro hectares, em Mazedo. Foi adqui-rindo propriedades em redor e acabou por duplicar a área, tendo hoje oito hectares de Alvarinho nesta freguesia do concelho de Monção, e outro tanto em Braga, embora aí só metade estejam plantados com Loureiro. Os outros quatro hectares foram submeti-dos, em 2014, ao programa Vitis.

É fácil ser jovem agricultor?, quisemos sa-ber. “Hoje começa a ser uma atividade que já se exerce com profissionalismo e torna- -se mais fácil sobreviver da viticultura. Mas o investimento inicial é um entrave porque estamos a falar de valores da ordem dos 10 mil euros que, embora custeados pelo Vitis, há que fazer a manutenção dessa

“A agricultura é cada vez mais exigente”

Filha de pais viticultores na Lixa, Sónia Lopes cresceu ligada à agricultura. A pai-xão ficou e, hoje, acumula a profissão de enfermeira com a actividade agrícola. Os pais tinham uma vinha em ramada e, há cinco anos, decidiram reconvertê-la. O que torna, assume, “muito mais fácil” os trata-mentos, a poda e a colheita. Para já, está plantado um hectare de vinha, mas a inten-ção é, “um dia”, expandir a área vitícola. Disponíveis para isso estão mais três hecta-res. Sónia gosta do que faz, mas reconhece que o trabalho agrícola é cada vez “mais exigente” e sujeito a “constantes fiscaliza-ções”, pelo que a formação e a actualização de conhecimentos são fundamentais.

Aos jovens que ponderam, eventualmen-te, dedicar-se ao mundo agrícola e à viticul-tura em especial, Sónia Lopes recomenda “que se informem bem” sobre quais as cas-tas que melhor se adaptam a zona específi-ca onde pensam instalar-se e que não hesi-tem em aproveitar os apoios comunitários à instalação de jovens agricultores. E, claro, que procurem o apoio de quem já está no terreno, designadamente, das cooperativas caso precisem de ajuda. █

Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, mais de metade dos agricultores portugueses têm idade igual ou superior a 65 anos. Quer isto di-

zer que estes profissionais são os mais ido-sos da União Europeia.

Mas, contrariando o sentido das estatís-ticas, há um número crescente de jovens a acreditar que esta é uma actividade de futu-ro. O Boas Vinhas dá-lhe a conhecer alguns exemplos de jovens viticultores da Região dos Vinhos Verdes e as razões da sua aposta neste sector. Em comum têm a ligação fami-liar à agricultura e uma vontade enorme de triunfar numa área de grande exigência.

Sónia Lopes

Luis Vilaça

João Tomás

Luis Landreias

Joaquim Rebelo

Vinhos Verdes e Sapec firmam protocolo de cooperação

e da vinha e tratou de arrancar com o seu próprio investimento. Arrendou umas ter-ras ao pai, em Castelões de Recesinhos, Penafiel, e avançou com um projecto Vi-tis para 20 hectares de vinha. Constituiu a Sociedade Quinta Divino Salvador e o ob-jectivo é criar um rótulo para o seu próprio vinho, que admite lançar daqui por três ou quatro anos, tendo em vista o mercado in-terno, mas também a exportação. E logo que estes 20 hectares estejam a produzir, avançará com a plantação de vinha em mais 12 hectares que tem disponíveis.

Joaquim Rebelo reconhece que a agricul-tura é hoje uma profissão envelhecida em Portugal, embora surjam cada vez mais jovens a apostar nesta actividade. Porque não há mais? “Falta motivação, incentivo para vir para a agricultura”, diz Joaquim Rebelo, que lamenta a existência, ainda, de algum preconceito no país para com esta profissão. Sobretudo porque, sublinha, “é uma actividade rica, livre e que faz muito melhor à saúde do que estar fechado num escritório”. Isto sem esquecer “que apren-demos muito com a natureza”. █

O acordo, subscrito no passado dia 8 de Abril, prevê a realização de acções de for-mação para um mínimo de 500 produtores ao longo do ano, com o apoio da Academia dos Vinhos Verdes. O objectivo é ajudar à constante melhoria das técnicas de planta-ção e amanho da vinha, bem como à ob-tenção de uma maior produção e de uma

melhor qualidade das uvas.Delineada está igualmente a publicação

de um livro branco sobre o estado da vi-ticultura na Região, assim como a realiza-ção de um projecto de investigação sobre castas desaparecidas na Região dos Vinhos Verdes. O objectivo deste projecto é fazer renascer essas castas na vinha e aproveitar

para as valorizar comercialmente.“É com muita satisfação que mantemos a

ligação à Sapec. A parceria entre as duas marcas tem sido muito proveitosa para am-bas as partes e acredito que, em 2015, os resultados serão tão bons ou melhores do que foram no passado recente”, destacou Manuel Pinheiro, presidente da CVRVV. █

instalação durante três anos até que ela dê rendimento”, diz. O que não significa que esteja descontente com a aposta. Bem pelo contrário. “Não é, de todo, uma actividade a desconsiderar”, frisa. Luís Vilaça subli-nha o “momento especialmente bom” que os Vinhos Verdes vivem, com uma enorme procura. “A qualidade tem sido excelente e temos condições para competir com outras regiões e outros vinhos. Os Verdes são mui-to bons”, conclui, com orgulho. █

Page 4: Boas Vinhas - Edição 2 - Maio 2015

O míldio da videira (Plasmopara viticola) é, talvez, a doença mais importante da vinha e a que mais prejuízos causa. O fungo hiber-na sob a forma de estruturas denominadas oósporos, que estão nas folhas caídas do ano anterior e que ficam à superfície do solo.

As condições ideais necessárias à ocorrên-cia de infeções primárias da doença são:█ Temperatura superior a 10°C;█ Crescimentos da vinha (novos lançamen-tos) com cerca de 10 cm;█ Precipitação igual ou superior a 10 mm.As infecções secundárias do fungo são menos exigentes em termos de condições, bastando

4 | |BOAS VINHAS Maio de 2015

Pulverizadores têm normas rigorosas

Atenção às doenças da videira

Inspecção obrigatória de pulverizadores

A inspecção dos equipamentos de aplicação de produtos fitofarma-cêuticos, juntamente com outras boas práticas, contribuem para garantir a aplicação das doses

correctas, a melhor distribuição da calda e, portanto, uma maior eficácia dos tratamen-tos com vantagens para o aplicador, consu-midor, ambiente e produtor.

A Diretiva n.º 2009/128/CE veio estabe-lecer um quadro de acção a nível comuni-tário para uma utilização sustentável dos pesticidas, definindo no capítulo III, art. 8.º, o regime de inspecção obrigatória dos equi-pamentos de aplicação de produtos fitofar-macêuticos autorizados para uso profissio-nal. Esta obrigatoriedade é transposta para a ordem jurídica interna pelo Decreto-Lei n.º 86/2010, de 15 de Julho.

Preparação do pulverizador para a inspecção• Lavar o equipamento internamente (depósito, filtros, elementos de filtragem, condutas, bicos, etc.) e externamente todas as partes que ficam expostas aos produtos fitofarmacêuticos. • Verificar se:█ O sistema de veio de transmissão por car-dans tem protecção (incluindo as correntes);█ Existe suporte de cardans;█ O manómetro funciona e tem escala e graduação adequadas à pressão de trabalho;█ A agulha do manómetro não vibra;█ O regulador de pressão funciona; █ Os filtros estão em bom estado e com

malha adequada; █ Não existem fugas em todo o sistema; █ A tubagem está em bom estado de conservação; █ Os bicos estão limpos, em bom estado e às distâncias correctas; █ O sistema anti-gotejamento funciona;█ O agitador funciona; █ Não existem vibrações durante a pulverização;█ Não existe desnivelamento entre os extremos da barra nem empenos; █ O ventilador funciona correctamente e a protecção está em bom estado.

Importante: apenas se enumeram alguns cuidados na preparação do equipamento para a inspecção, que não dispensam a con-

sulta do Decreto-Lei n.º 86/2010 para infor-mação mais pormenorizada.

Para dar início à inspecção é necessário que:• O proprietário/operador do equipamento esteja presente durante o acto de inspecção;• O pulverizador esteja bem limpo; • O pulverizador esteja cheio com água até, pelo menos, metade da sua capacidade;• O veio de transmissão por cardans esteja montado e com protecção.

Prazos de inspecção • Os pulverizadores devem ser sujeitos a inspecção e aprovação, pelo menos, uma vez antes de 26 de Novembro de 2016;a) Até 31 de Dezembro de 2019, os pulverizadores são inspeccionados e aprovados de cinco em cinco anos;b) A partir de 1 de Janeiro de 2020, os pulverizadores são inspeccionados e aprovados de três em três anos.• Os pulverizadores adquiridos depois da entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 86/2010 (isto é, após 13 de Outubro de 2010) devem ser sujeitos à primeira inspecção e aprovação, no prazo de cinco anos ou três anos – de acordo com as alíneas a) e b) acima referidas.

Pulverizadores sujeitos a inspecção obrigatória

Todos os pulverizadores montados, re-bocados e automotrizes que façam a dis-

EnguiRelva Centro IPP

A EnguiRelva está reconhecida pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária como Centro IPP desde

26 Maio de 2014. Para informação adicional, pode consultar o site www.enguirelva.com, ou utilizar os

telemóveis 96 607 80 96 / 96 368 76 75 ou o e-mail [email protected]

Tome nota Os pulverizadores referidos que não tenham a inspecção nos prazos estabelecidos ficam sujeitos a coimas previstas no referido Decreto-Lei. As inspecções aos equipamentos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos autorizados para uso profissional só podem ser realizadas por entidades reconhecidas pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária, designadas por centros de inspecção periódica obrigatória de equipamentos de aplicação de produtos fitofarmacêuticos (Centros IPP).

tribuição da calda por barras horizontais (incluindo as barras para aplicação nas entrelinhas) ou barras verticais (qualquer que seja o seu comprimento ou altura); tur-binas, pneumáticos (atomizadores) e pul-verizadores manuais com barras iguais ou superiores a 3 metros.

As pistolas de pulverização, eventual-mente existentes nestes equipamentos, de acordo com a legislação actual, não são de inspecção obrigatória. █

MíldioEscoriose

A escoriose (Phomopsis viticola Sacc.) é uma doença da vinha que ataca a planta desde o início do ciclo cul-tural, podendo ser responsável por quebras importantes na produção.

O fungo que causa esta doença passa o In-verno sob a forma de estruturas muito re-sistentes, os picnídeos, que são pontuações negras visíveis a olho nu. Contêm no seu interior os esporos que amadurecem durante o Inverno e que, após o abrolhamento, infec-tam os órgãos verdes da planta.

Apesar de esta doença não se disseminar facilmente pela água da chuva ou pelo ven-

to, se a videira se encontrar num estado fe-nológico susceptível (estado D) e tivermos um período de humectação superior a sete horas, surgem os primeiros sintomas nos es-trenós da base dos pâmpanos.

SintomasOs principais sintomas da doença são:

█ Sarmentos esbranquiçados com pontu-ações negras (picnídeos) nos primeiros entrenós;█ Folhas com pontuações negras e com um halo amarelo;█ Necroses corticais redondas ou lineares nos pâmpanos;█ Fendilhamentos longitudinais e transver-sais nos sarmentos;█ Estrangulamento ou quebra na base dos sarmentos (desnoca).

TratamentoO controlo mais eficaz da escoriose ocor-

re quando o tratamento é feito desde o en-tumescimento dos gomos da videira até às primeiras duas folhas livres. É absoluta-mente fundamental que o tratamento seja feito nesta fase, sob pena de não actuar sobre a doença.

Recomenda-se a aplicação de Maestro M ou Maestro F. Estes produtos, para além da acção directa sobre os fungos que combatem, potenciam as defesas naturais das plantas.

que a temperatura se situe entre os 24°C e os 30°C e a humidade relativa seja elevada.

SintomasOs principais sintomas da doença são:

█ Manchas de aspecto oleoso na página su-perior das folhas;█ Enfeltrado branco na página inferior das folhas;█ Deformação em báculo das inflorescências;█ Manchas em mosaico das folhas.

TratamentoA estratégia de controlo do míldio deve ser,

sempre que possível, preventiva. Para além de mais económica é também a mais eficaz.

Numa fase inicial, em que temos crescimen-tos mais lentos – e pensando, simultaneamen-te, no controlo da escoriose – recomenda-se a aplicação de Maestro M ou Maestro F.

Caso as condições e o estado de desen-volvimento da vinha exijam um tratamento com um carácter mais curativo, será mais indicado a aplicação de Vitipec Gold WG Advance, que garante também a protecção dos novos crescimentos.

No caso de estarmos numa fase de cresci-mentos muito grandes da videira e forte pres-são da doença, recomenda-se a aplicação de Ekyp Combi Azul ou Ekyp Trio Azul. █

Sapec Agro

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“Estamos no bom caminho para controlar a Flavescência Dourada”

Tratamento dos materiais depropagação da videira pela água quente

Manuel Cardoso, director regio-nal de Agricultura e Pescas do Norte, em entrevista ao Boas Vinhas, fala da situação da doença no Entre Douro e

Minho e do papel fundamental de todos os agentes num combate essencial para o su-cesso da viticultura.

Qual o ponto da situação da Flavescência Dourada no Entre Douro e Minho?Todos os anos são colhidas amostras de videiras em novas freguesias. Entre 2006 e 2014, colheram-se 2.338 amostras, o que tem vindo a comprovar a dispersão da doença. Neste momento, e apesar das medidas de contenção implementadas, na Região Vitivinícola dos Vinhos Verdes a doença encontra-se em 28 concelhos.

Já há áreas quantificadas com a Flavescência Dourada?As áreas de vinha dos 28 concelhos referidos correspondem à área afectada. Oficialmente, já temos confirmado 218,8 hectares de vinha arrancada.

O agente vector (Scaphoideus titanus) tem-se expandido?O inseto vector encontra-se presente em todos os concelhos da Região de Entre Douro e Minho, enquanto no Douro e em Trás-os-Montes está presente apenas em 30 freguesias de oito concelhos. A sua expansão não só está controlada, como em diversas áreas tem vindo a diminuir devido à realização dos tratamentos insecticidas obrigatórios nas datas aconselhadas.

Há alguma casta que se mostre mais resistente à Flavescência Dourada?Neste momento é prematuro afirmar que haja castas mais tolerantes e quais poderão ser. É necessário realizar projectos de investigação por entidades competentes para se obterem resultados conclusivos.

Os tratamentos vão manter as mesmas obrigatoriedades em 2015? Os produtos serão os mesmos?Sim. Os tratamentos insecticidas têm carácter obrigatório e com as novas freguesias positivas para a análise à existência de Flavescência Dourada irá mesmo aumentar o número de viticultores abrangidos por esta obrigatoriedade. Prevê- -se que os produtos sejam os mesmos.

O que tem sido feito em termos de preven-ção e de divulgação junto dos viticultores?Desde a confirmação do primeiro foco de Flavescência Dourada, no concelho de Amares, em 2007, que a Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Norte realiza, anualmente, diversas acções de informação e de divulgação, quer junto de viticultores, quer junto de técnicos. Entre 2007 e 2014, realizámos mais de 100 acções teóricas e práticas para quase 4 mil viticultores. Além das acções presenciais, têm sido elaboradas algumas fichas técnicas e o serviço de avisos agrícolas emite frequentemente, além das recomendações de tratamentos insecticidas, outras informações sobre esta doença.

As medidas aplicadas aos proprietários das vinhas abandonadas têm sido eficazes?Temo-nos debatido com algumas dificuldades na identificação dos proprietários dessas vinhas abandonadas. As medidas aplicadas têm visado, sobretudo, identificar e contactar os proprietários no sentido de os informar e esclarecer sobre as obrigações legais e sobre a doença e o que devem fazer com vista à sua contenção. Pensamos que esta informação está a ser bem interpretada pelos destinatários, permitindo-lhes que tomem decisões em conformidade. Estão ainda em curso algumas acções de carácter mais repressivo que, ao longo deste ano, irão ser percetíveis.

Como se processa a verificação e controlo das aplicações dos produtos nos viticultores?

Consciente da problemática do com-bate à Flavescência Dourada da vi-deira, a EVAG – Estação Vitiviní-cola “Amândio Galhano” dotou-se do primeiro equipamento de trata-

mento pela água quente homologado em Por-tugal. Desde 2013 que este equipamento está em funcionamento, ao serviço da viticultura, possibilitando esta prestação de serviço aos viveiristas e aos viticultores interessados.

Esta nova doença, que tem vindo a atacar as vinhas na Região Demarcada dos Vinhos Verdes, reconhecidamente a partir do ano de 2006, tem efeitos nefastos na viticultura e propaga-se através do insecto vector, mas também pela multiplicação de material ve-getativo contaminado.

Devem merecer, pois, particular atenção os procedimentos a adoptar nas operações de propagação da videira para se prevenir

esta via de dispersão da doença e garantir a melhor sanidade dos materiais a multiplicar. E não é tarefa fácil. É que para complicar as coisas, a maioria dos porta-enxertos uti-lizados na actualidade são assintomáticos e, portanto, nada garante a sua boa sanidade.

Por outro lado, os garfos podem provir de videiras que embora aparentemente sãs po-dem estar contaminadas, uma vez que a do-ença tem um tempo de incubação durante o qual não revela os sintomas, mas funciona já como fonte de contaminação.

Se bem que a realização dos tratamentos in-secticidas seja essencial para reduzir a disse-minação da Flavescência Dourada através do insecto vector, a forma de garantir a obten-ção de novas plantas sãs passa efectivamen-te pela submissão ao tratamento pela água quente de todos os materiais de propagação da videira: estacas, garfos e bacelos.

Em que consiste o tratamento pela água quente?

Este tratamento consiste na imersão dos materiais de propagação da videira em água aquecida a uma temperatura entre 50-51 ºC, durante 45 minutos.

Para que a eficácia do tratamento seja garan-tida e respeitada a integridade do material, de-vem ter-se em conta as seguintes condições:1 - O material a tratar deve estar bem atem-pado e bem conservado, isto é, com um bom teor de humidade e sem alteração de reservas.2 - O equipamento de tratamento deve ser fiável garantindo a homogeneidade da tem-peratura.

Assume particular importância o cumpri-mento dos seguintes procedimentos: █ O material a tratar deve ser aclimatado para o choque térmico que vai sofrer pelo que se recomenda que aguarde fora da câmara frigo-rífica durante 24 horas à temperatura ambien-te, previamente à realização do tratamento.█ Após o tratamento, deve igualmente aguar-dar à temperatura ambiente durante 24 horas, antes de ser guardado em câmara frigorífica.█ Para o tratamento de plantas enraizadas é

necessário proceder previamente à lavagem das raízes e no caso dos enxertos prontos deve-se fazer o tratamento antes de parafinar.█ No caso de estacas e de garfos, não se deve efectuar o tratamento fungicida ao mesmo tempo que o tratamento térmico.█ Preferencialmente, deve efectuar-se o tratamento térmico o mais perto possível da realização das operações de enxertia ou de plantação.

O respeito destes procedimentos é funda-mental para a preservação da capacidade ve-getativa dos materiais tratados. █

Através dos serviços técnicos da Direcção Regional da Agricultura e Pescas do Norte, que fazem a verificação do caderno de campo e das facturas comprovativas da aquisição dos insecticidas autorizados. O controlo está a ser intensificado e estão a ser desencadeadas medidas com sanções para os não cumpridores.

O que pode ser feito adicionalmente pela CVRVV, cooperativas, agentes económicose associações para estancar e fazer regredir a Flavescência Dourada, juntamente com a Direcção Regional?

Todas as entidades relacionadas com a fileira vitivinícola podem colaborar, quer na divulgação quer na sensibilização e formação dos viticultores, de modo a que todos conheçam o problema e que medidas devem ser tomadas para o controlar. Uma das medidas essenciais é também colaborarem na prospecção da Flavescência, uma vez que apenas o arranque e a destruição das plantas contaminadas pode conduzir a Região a atingir o objectivo de conter e controlar esta doença. O cumprimento das instruções de aplicação dos insecticidas é muito importante.

Podem os viticultores, em 2015, estar mais optimistas quanto à eficácia de todas as acções tomadas?Pensamos que sim. Essencialmente, porque o conhecimento da doença e a implementação das medidas para a conter têm chegado a cada vez mais viticultores. No entanto, devem estar cientes de que os tratamentos insecticidas, só por si, não resolverão oproblema, uma vez que não é possível matar todos os insectos vectores na Região e, enquanto existirem videiras doentes, a propagação da doença continua a ocorrer, nem que seja numa única videira num quintal. Quando, de facto, todos tiverem esta consciência e em conjunto tomarem as medidas adequadas, nomeadamente quando todos arrancarem e queimarem as suas plantas doentes e realizarem tratamentos insecticidas nas datas preconizadas pelas circulares de avisos agrícolas, estaremos no bom caminho para a contenção da dispersão da Flavescência Dourada na Região. Já estamos nesse bom caminho. Temos de continuar a acelerar o passo. A eficácia, neste caso, será proporcional à aceleração das medidas tomadas. █

Propagação da Flavescência Dourada

Freguesias afectadas

|| BOAS VINHASMaio de 2015

Entrevista

Cada tratamento custa 150 euros, mais IVA, e permite tratar em média 4.500 enxertos ou bacelos e 4.000 a 5.000 varas para garfos. Os interessados nestes serviços devem efectuar a respectiva marcação prévia junto da EVAG. Para mais informações, contactar o responsável, Engº João Garrido, pelo telefone 258 480 200 ou pelo e-mail [email protected].

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6 | |BOAS VINHAS Maio de 2015

Castas autóctones em recuperação na EVAG

Há na Região dos Vinhos Verdes um grande número de castas au-tóctones, que permitem a produ-ção de vinhos sui-generis, quer elementares quer de lote. Porque

muitas estão em vias de extinção, dada a sua

IDENTIFICAÇÃO MOLECULARCruzamento de Caiño Bravo (Amaral) x Alvarinho (Díaz-Losada et al., 2011)

SINONÍMIACainho de Moreira; Alvarinho Espanhol; Caiño blanco (Galiza)

EXPANSÃO GEOGRÁFICASub-Região do Lima

PARTICULARIDADES AMPELOGRÁFICASFolha adulta pequena, cuneiforme, trilobada, às vezes inteira, perfil plano a ligeiramente revoluto, com pelos prostrados na página superior e com o ponto peciolar e início das nervuras e pecíolo carminados. Cacho muito pequeno (9,9 cm x 5,1 cm), cónico, tendência a frouxo, de muito baixo peso (51g) e de pedúnculo e ráquis levemente carminado.Bago pequeno, uniforme e elíptico-curto (10,8 mm x 11,2 mm), cor verde amarela, polpa mole e suculenta, de muito baixo peso (1,1g), e com pedicelo de fácil separação.APTIDÕES CULTURAISCasta fértil (IFP = 1,711), mas muito pouco produtiva (0,63 kg/m2).Casta de grande expressão vegetativa, vigor médio (1,4 kg de lenha de poda/videira), de sarmento castanho amarelado e de baixo peso (34,4 g). Rebentação mais tardia (6 dias após Loureiro) e maturação tardia (7 dias após Loureiro).VALOR ENOLÓGICOMosto rico em açúcares que lhe permitem atingir em média 12,4% de álcool provável e igualmente rico em acidez (8,9 g ácido tartárico/L), que lhe advém dos teores em ácidos málico (3,37 g/L) e tartárico (4,93 g/L).Vinho de cor intenso, aroma frutado pouco intenso.

fraca expressão cultural – pouca produtivida-de, sensibilidade a doenças, etc. – o Boas Vi-nhas quer contribuir para as dar a conhecer.

A escassez de informação cultural sobre estas castas, hoje designadas por “minori-tárias”, tem levado ao seu estudo nos últi-

mos anos. O aumento do seu uso no futuro contribuiria para garantir uma maior bio-diversidade na vinha e, consequentemente, para a produção de vinhos diferentes. São castas já adaptadas às sub-regiões onde fo-ram plantadas há muitos anos, ou melhor

ainda, de onde surgiram, por mutação ou cruzamentos naturais.

Nesta edição, o Boas Vinhas dá-lhe a co-nhecer as principais características de duas castas da Sub-Região do Lima, uma branca, Cainho (B), e outra tinta, Doçal (T). █

IDENTIFICAÇÃO MOLECULARRecentemente identificada com a casta espanhola Corbillón (Díaz-Losada et al., 2011)

SINONÍMIADoçar; Espadeiro Doce; Doçal Aragão; Verdelho Doce; Folhal; Doçal Miúdo; Borralho

EXPANSÃO GEOGRÁFICASub-Região do Lima e Sub-Região de Monção e Melgaço

PARTICULARIDADES AMPELOGRÁFICASFolha adulta média a grande, orbicular, quinquelobada, com ondulação no ponto peciolar e às vezes entre as nervuras, bolhosa, perfil irregular, cor verde, seio peciolar pouco aberto em V, e seios laterais superiores abertos em chaveta, pecíolo curto. Cacho pequeno (12,2 cm x 7,4 cm) a médio, cónico e alado, medianamente compacto e de baixo peso (132 g).Bago médio e esférico-achatado (13,5 mm x 14,2 mm), polpa mole a ligeiramente suculenta, hilo aparente e de baixo peso (1,9 g).APTIDÕES CULTURAISCasta muito pouco fértil (IFP = 0,711) e muito pouco produtiva (0,32 kg/m2). Casta de média expressão vegetativa, vigor médio (1,3 kg de lenha de poda/videira), de sarmento castanho--claro e de fraco vigor (42,3 g). Rebentação mais precoce (11 dias antes Vinhão) e maturação mais tardia (pintor 8 dias após Vinhão).VALOR ENOLÓGICOMosto moderado em açúcares que lhe permitiu atingir em média 11,3% de álcool provável e acidez moderada (6,0 g ácido tartárico/L), que lhe advém de teores em ácido málico baixos (1,52 g/L) e superiores em tartárico (4,75 g/L).Vinho encorpado, de aroma suave, mas sem destaque particular.

CAINHO (B) DOÇAL (T)

Dos 1.640 hectares de reserva de direitos de plantação disponíveis em Julho de 2014, anunciados através do Despacho Normativo n.º 8/2014, foram atribuídos cerca

de 600 hectares. Já este ano, e dada a exis-tência de área disponível, o Despacho Nor-mativo n.º 5/2015, de 11 de Fevereiro, veio disponibilizar mais 1.449 hectares. As can-didaturas terminaram no passado dia 30 de Março e os candidatos serão notificados da decisão até 15 de Maio.

Direitos de plantação com novas regras a partir de 2016Os direitos de plantação concedidos devem ser utilizados no decurso das duas campa-nhas seguintes à da campanha em que são atribuídos, sem possibilidade de renovação.

E não se esqueça: esta distribuição de direitos é especialmente relevante porque é a última do regime legal atual. A partir do próximo ano, entram em vigor as novas regras, ao abrigo do Regulamento n.º 1308/2013, de 22 de Dezem-bro. Este normativo estabelece que de 1 de Ja-neiro de 2016 até 31 de Dezembro de 2030 os direitos de plantação passam a autorizações.

Eis as principais alterações a ter em conta:

█ As autorizações são válidas por um perío-do de 3 anos;█ A venda de autorizações fica vedada;█ A transferência de direitos cessa – se um viticultor arrancar uma vinha terá três anos para plantar uma nova vinha. Caso não instale a nova vinha no período de três anos, a autorização perde a sua validade e não poderá ser utilizada (o viticultor não pode ceder a autorização a terceiros, pelo que a reserva dos direitos é extinta);█ Os direitos de plantação “em carteira” a 31/12/2015 podem ser convertidos – a pedi-do do detentor em “autorizações de planta-ção” após 1 de Janeiro 2016. O pedido deve ser apresentado entre 1 de Setembro e 31 de Dezembro de 2015;

█ No caso da replantação, as autorizações são concedidas no espaço de 3 meses aos vi-ticultores que arrancam vinha e que tenham feito o respectivo pedido. A autorização é utilizada na mesma exploração em que foi efectuado o arranque;█ Em cada ano, o Estado atribuirá novas autorizações para uma área não superior a 1% da superfície total efectivamente plantada à data de 31 de Julho do ano anterior; as regiões que o pretendam podem limitar as novas auto-rizações na sua área a um valor inferior a 1%.

█ O candidato deve ser titular das parcelas de terreno a ocupar com vinha e possuir qualifica-ções e competências profissionais adequadas.

São, pois, alterações de fundo que o viticultor tem de considerar rapidamente para planear o futuro. Deste modo, caso tenha direitos em car-teira, tem de os usar em breve, especialmente se prevê necessitar de aumentar a área de vinha nos próximos anos. É que a partir de 2016 deixa de poder comprar direitos, tendo de se candi-datar à distribuição anual de 1%, podendo, ou não, ser contemplado. Em alternativa, terá de adquirir uma exploração já com direitos.

Vários pontos estão por determinar e serão clarificados nos próximos meses. Um deles é a possibilidade de cada região limitar as au-torizações que podem ser introduzidas na sua área. Cremos que para o Vinho Verde a opção é clara: não queremos que os nossos produ-tores sejam limitados nas candidaturas que pretendam apresentar. Porém, admite-se que o Douro e o Alentejo possam ter uma posi-ção diferente, solicitando a limitação. Sendo assim, o “saldo” é repartido por todo o país, o que – aritmeticamente – pode querer dizer que os nossos produtores poderão ter acesso mais facilitado às autorizações de que necessitam.

Um outro ponto a considerar é que as vi-nhas a plantar ao abrigo das autorizações não serão, em princípio, apoiadas pelo Vitis. Esta é mais uma questão a acompanhar. █

A leitura deste artigo não dispensa a consulta da legislação em vigor, designadamente o Regulamento Delegado (UE) 2015/560, da Comissão de 15/12/2014; e o Regulamento de Execução (UE) 2015/561, da Comissão de 7/04/2015.

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7A instalação de uma vinhana Região dos Vinhos Verdes

Conselhos técnicos para o sucesso de uma vinhaO Boas Vinhas recolheu a opinião de al-

guns técnicos da Região. Eis os seus conse-lhos para o sucesso de uma vinha.█ Se vai plantar vinha nova sobre vinha ve-lha arrancada, dê muita atenção à limpeza do terreno de raízes e lenha, pois são um veículo de doenças para as videiras novas, como a Podridão da Raízes e Doenças do Lenho (Esca, Eutipiose). Tenha presente que o ideal era o terreno ficar em repou-so quatro a cinco anos e ser melhorado por sementeiras anuais de cereais praganosos.█ Acompanhe regularmente a sua vinha: retire-lhe os ramos ladrões e oriente a ve-getação no sentido para a qual foi concebi-da (ascendente e /ou retombante), tentando que à floração esteja arejada para que

|| BOAS VINHASMaio de 2015

haja um perfeito vingamento. As castas vigorosas são mais exigentes nas despon-tas e mesmo desfolhas, o que é tanto mais importante quanto maior a sensibilidade à Podridão dos Cachos (ex: Pedernã/Arinto).█ Trate a sua vinha contra a cicadela vec-tora (Scaphoideus titanus) da doença da Flavescência Dourada, cujo primeiro tra-tamento acontece normalmente em Ju-nho-Julho. Esteja atento à informação do serviço de Avisos Agrícolas.█ Planeie os trabalhos atempadamente e considerando que surgirão alguns contra-tempos (afinal, é uma fábrica ao ar livre…).█ Não “fuja” aos tratamentos. Pode colocar em risco um ano de trabalhos. Trate no tem-po certo e com as máquinas calibradas. █

Escolha do terreno é essencial

Tubos protegem as plantas

Com o Regime de Apoio à Reestru-turação e Reconversão das Vinhas (VITIS) tem-se verificado um gran-de volume de reconversões e de no-vas plantações. Sendo este um tema

actual, há alguns factores a ter em conta: antes de passar às operações de campo, o viticultor deve ter claro qual o objectivo da produção. Ou seja, definir se pretende vender uva ou vinifi-cá-la, pois a instalação de uma vinha deve su-ceder a um projecto bem planeado, sem perder o objectivo da perspectiva do negócio.

Há, assim, dois aspectos a considerar: por um lado, o investimento; por outro, a qua-lidade da produção e escoamento. Todas as opções deverão ser tomadas com base em decisões técnicas adequadas numa política de qualidade e de produtividade que garanta a maior longevidade da vinha em produção.

A instalação da vinha inicia-se com uma cri-teriosa selecção do terreno. O sucesso depen-de muito do local onde é instalada (se o terre-no possui aptidão vitícola ou não). Em caso de dúvida, os produtores devem aconselhar-se.

Preparação do terrenoO declive do terreno condiciona o tipo de ar-

mação a efectuar para a instalação da vinha.█ Terrenos planos (declive inferior a 8%): sem riscos de erosão e sem condicionantes à mecanização, a instalação da vinha pode ser efectuada sem alteração do perfil original.█ Terrenos com declives entre 8% e 25%: a instalação pode ser feita armando o terreno em patamares largos ou segundo a linha de maior declive (vinha ao alto).█ Terrenos com declives acima dos 25%: tem de ser armado em patamares estreitos com 2,5 a 5 metros de largura.

Mobilização do soloe adubação de fundo

O solo deve ser mobilizado em profun-didade de modo a facilitar um bom desen-

volvimento das raízes (surriba a 1 metro de profundidade sempre que o terreno seja ho-mogéneo ou ripagem cruzada quando o ter-reno apresentar perfil irregular e pedregoso).

A surriba pode ser feita com uma charrua gigante ou com a pá frontal do bulldozer e, normalmente, aproveita-se para incorporar os correctivos orgânicos (estrume ou com-posto) e da acidez do solo (calcário, de pre-ferência magnesiano), bem como os adubos (fósforo e o potássio).

Após a surriba ou lavoura profunda, o terre-no deve ser regularizado com uma gradagem.

Castas e porta-enxertosA escolha das castas e respectivos porta-

-enxertos deve obedecer às condições do local, como solo e clima. Há que ter em conta que a Região apresenta uma enorme diversidade e que isso contribui para uma adaptação distinta das castas.

Seguem-se as escolhas do sistema de condu-ção, como a altura do tronco e orientação das sebes, o compasso de plantação e orientação das linhas. Estas decisões estão estreitamente ligadas à operacionalidade da futura vinha, no que respeita à mecanização e ao consumo em mão-de-obra. A experiência sugere que é preferível ter mais encargos na instalação do que na posterior manutenção.

A escolha da variedade do porta-enxerto depende, essencialmente, da adaptação do seu sistema radicular às características do solo (acidez, secura, etc.) e do grau de indução de vigor que transmite à casta. O solo desta Região é predominantemente de origem gra-nítica e, por isso, de textura mais ou menos arenosa, franca ou franca-arenosa ou ainda franca-argilosa nos solos de origem xistosa.

A sua origem geológica, associada às eleva-das quedas pluviométricas da Região, concor-rem para a natureza ácida dos solos – o que, para a vinha, deve ser corrigida para níveis de pH entre os 5,6 e os 6,5. É nesta gama de valo-res que os macro e micronutrientes se encon-tram disponíveis a ser absorvidos pela videira sem riscos de toxicidade. A escolha do porta--enxerto está associada às condições de secura do terreno, mas há outro aspecto na sua esco-lha: o vigor que influencia o ciclo vegetativo; adianta a maturação (Riparia, 101-14, 196-17 e SO4) ou retarda-a (110R, 99R, 140Ru e 1103P).

PlantaçãoActualmente, usam-se mais videiras já en-

xertadas (enxertos-prontos), uma vez que é uma técnica mais eficiente e prática em com-paração com o tradicional bacelo e enxertia

no local definitivo após um ano.O período normal de plantação de uma vi-

nha decorre na época de repouso vegetativo, de Janeiro a Março, devendo plantar-se mais cedo nos locais mais quentes e secos, e mais tardiamente nos locais mais frios e húmidos.

Todavia, hoje é possível plantar enxertos--prontos em vaso, no final da Primavera e princípio do Verão, processo que implica o recurso à rega, de preferência gota-a-gota.

A plantação dos enxertos ou bacelos na Região está hoje restrita a apenas dois modos de plantação: à cova ou recorrendo ao hidroin-jector. As videiras devem ser previamente po-dadas a 2 olhos – assim como as raízes, deven-do conservar-se apenas as que nasceram no nó inferior, as quais são podadas a 10 cm no caso da plantação à cova ou mais curtas, 3 a 5 cm, quando a plantação é feita com hidroinjector.

Esta última técnica permite a plantação de forma mais rápida, já que a planta fica logo regada, o que facilita o aconchego das terras às raízes, sendo que o terreno tem de estar bem mobilizado em profundidade, estruma-do e adubado – o que, em solos demasiado pedregosos, não pode ser utilizado.

No caso da plantação à cova é convenien-te fazer uma adubação localizada, devendo as raízes ficar bem posicionadas e nunca em contacto directo com os adubos. Também de-vem estar bem aconchegadas à terra.

Condução da vinhaA orientação das linhas deve dar prioridade

ao sentido Norte-Sul, já que traz mais ganhos de insolação sem riscos de escaldões nas ho-ras de maior calor. Contudo, considerando a mecanização da vinha, a orientação deve ser definida pela linha de maior comprimento da parcela. A videira na linha deve ser orientada no sentido do sol, salvo em zonas ventosas, em que se deve respeitar o sentido da domi-nância dos ventos, pois há castas muito sensí-veis à desnoca (exemplo: Loureiro).

A escolha da forma de condução da videira (altura do tronco, número de sebes e respec-tiva orientação) é da maior importância, pois define o potencial e boa funcionalidade das folhas que, associada a correctas intervenções em verde, concorrem para uma boa drenagem junto aos cachos e boa exposição dos mesmos.

Da altura máxima da sebe depende o espa-çamento entre as linhas, para que se evite o ensombramento de uma sebe sobre a do lado, pois tal espaçamento também deve contemplar a passagem do tractor (2,5 m). Já o espaçamen-to entre videiras na linha é um compromisso entre o vigor do bionte casta/porta-enxerto e a fertilidade do solo: quanto mais rico o solo, maior é o espaço que fica entre videiras. Caso contrário, a exuberância da vegetação prejudi-ca o microclima das folhas e cachos, agravan-do os ataques de doenças. Varia normalmente entre 1 e 2 metros para cordões sobrepostos e entre 2 e 3 metros para cordões simples.

Entre as formas de condução de videiras nes-ta Região predominam os cordões simples, a diferentes alturas de tronco, consoante se opte por um cordão mais alto para uma forma re-tombante ou mais baixo para uma ascendente.

Outras recomendaçõesOs bacelos (ou enxertos-prontos) devem fi-

car com a zona a enxertar (ou já enxertada) acima do nível do solo, para evitar afranca-mentos do garfo. Como normalmente é feita uma caldeira em cada videira para rega e/ou adubação de cobertura, há que ter em conta o correcto nível do solo.

É indispensável uma tutoragem das plantas, pois isso permite a verticalidade da zona da enxertia (a realizar ou já existente), além de as proteger de eventuais acidentes.

Actualmente, existem tubos que protegem as plantas do ataque de coelhos e que ser-vem de tutor, diminuindo os riscos de ata-que de doenças criptogâmicas e favorecen-do o seu crescimento.

A plantação de enxertos-prontos implica realizar tratamentos fitossanitários (anti--míldio e oídio) de imediato, pois são plantas já enxertadas sensíveis às referidas doenças.

Após a rebentação, segue-se um período de crescimento intenso, tornando-se necessário um complemento azotado fraccionado ao longo do ciclo. São recomendadas duas a três aduba-ções de cobertura, à base de Nitrato de Cálcio a 15,5%, ou Nitromagnésio a 20,5%, em doses individuais de cerca de 75g/videira, localiza-das na caldeira e seguidas de uma rega. █

Teresa Mota e João Garrido, EVAG

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8 | |BOAS VINHAS Maio de 2015

█ PELO S. MATIAS (25/02) COMEÇAM AS ENXERTIAS.█ PODA EM MARÇO, VINDIMA NO REGAÇO.█ MAIO COUVEIRO NÃO É VINHATEIRO.█ VINHA POSTA EM BOM COMPASSO, AO PRIMEIRO ANO DÁ AGRAÇO.█ VINHA ENTRE VINHAS CASA ENTRE VIZINHAS.

Provérbios da Vinha e do Vinho█ AGOSTO MADURA E SETEMBRO VINDIMA.█ UVAS, FIGO E MELÃO É SUSTENTO DE NUTRIÇÃO.█ EM DEZEMBRO CHUVA, EM AGOSTO UVA.█ AO TEU AMIGO E AO TEU VIZINHO, O TEU MELHOR PÃO E O MELHOR VINHO.█ VINHO QUE BASTE, CARNE QUE FARTE.

O Solar de Merufe, localizado na Sub-Região do Lima, mais exacta-mente em Geraz do Lima - Viana do Castelo, está inserido numa be-líssima paisagem, na qual a nature-

za se expressa em toda a sua plenitude e simpli-cidade. Oferece aos visitantes uma envolvente marcada pela calma, pela harmonia e pela serenidade, num conjunto de sensações que proporcionam uma experiência de bem-estar.

Há vários séculos que o Solar de Merufe protagoniza pedaços da História das Terras de Geraz do Lima. A lenda conta que a existência da quinta onde se situa o Solar é anterior à fundação de Portugal e, actualmen-

Solar de MerufeQuinta de MerufeRua de Merufe, n.º 174905-608 Geraz do LimaCoordenadas GPS: 41º 42” 6’ N - 8º 41” 18’ W

Telefone: +351 258 731 525Fax: +351 258 731 525E-mail: [email protected] Riba (966 125 666)

www.solardemerufe.comte, a realização de eventos e programas de enoturismo permitem perpetuar, de uma forma muito particular, a ligação da cultura do homem e da vinha para produção.

A apresentação de néctares que, ao longo de sucessivas gerações, honram e presti-giam o Solar, convida a uma visita guiada às vinhas, onde é possível conhecer como se faz a viticultura em Modo de Produção Biológico, assim como as plantas que aju-dam a controlar as pragas.

Numa visita à adega, pode ainda conhecer- -se todo o processo de vinificação dos vinhos e dos espumantes, assim como desfrutar de uma prova de três vinhos e um espumante. █

Ementa de cozinha tradicional

Pudim Abade de PriscosVinho proposto: Espumante de Vinho Verde Loureiro Reserva

Cabritinho do Gerês Assado no FornoVinho proposto: Vinho Verde da Casta Vinhão

Harmonização: Seleccionar um vinho da

Casta Vinhão com estrutura e complexidade (possibilidade de estágio em madeira), com frescura tradicional da casta ainda a marcar presença, tornando-o a companhia ideal para um prato de forno, contrabalançando o toque gordo da elaboração e permitindo refrescar o palato dos sabores intensos do cabrito.

Ingredientes1 cabritinho do Gerês (entre os 3,5 e os 4,5

kg); 1,8 kg de batata nova; 2 molhos de gre-los; 3 cebolas médias; 6 + 3 dentes de alho; 1 malagueta vermelha; vinho branco q.b.; azeite virgem q.b.; 1 molho salsa; sal q.b.; pimenta q.b.; pimentão doce q.b.

PreparaçãoCortar o cabrito em pedaços uniformes.

Arroz Cremoso de PolvoVinho proposto:Vinho Verde da Casta Alvarinho

Harmonização: Para um prato simples, mas de sabores intensos e com alguma estrutura, a escolha recai sobre um Vinho Verde da Casta Alvarinho com aroma complexo, fruta citrina e branca bem madura e nuances minerais de fundo. A boca untuosa e gorda do vinho faz a ligação ideal com a cremosidade do arroz, ao mesmo tempo que a sua estrutura férrea liga com o polvo e a acidez majestosa traz frescu-ra e equilíbrio, ligando com o toque de coen-tros presentes no arroz. Trata-se de um vinho ideal para ligar com um prato que necessita de estrutura e volume, sem nunca abdicar da frescura e acidez.

Ingredientes1 polvo médio limpo (1,5 a 2 kg); 1 cebola

branca; 1 pimento vermelho; 1 tomate madu-ro; 300 g arroz carolino; 1 dente de alho; sal q.b.; pimenta q.b.; azeite virgem q.b.; 1 colher de chá de vinagre de vinho branco; 2 colheres de sopa de coentros frescos picados.

PreparaçãoCozer o polvo em água abundante e umas

gotas de vinagre. Quando estiver cozido, reti-rar e deixar arrefecer. Coar a água da cozedu-ra e reservar. Cortar o polvo em pedaços de, aproximadamente, 2 cm. Separar as extremi-dades dos tentáculos e a cabeça. Pelar o toma-te e retirar as grainhas. Triturar e reservar.

Picar finamente a cebola e o dente de alho. Cortar em cubos pequenos o pimen-to vermelho. Num tacho largo com um fio generoso de azeite, aloirar a cebola, o alho e o pimento. Adicionar o tomate triturado e refogar. Adicionar metade dos coentros pi-cados e as pontas dos tentáculos do polvo,

Travessa do Taxa n.º 24710-449 BragaTel: 253 619 333Tlm: 912 492 [email protected]

Adaptação do Guia do Concurso de Vinhos Verdes e Gastronomia, CVRVV, edição 2014.

Restaurante DELICATUM

Entrada

Prato principal

Sobremesa

assim como a cabeça cortada em pedaços. Juntar 1,2 litros da água de cozer o polvo,

deixar levantar fervura e ajustar de sal e pi-menta, deixando apurar um pouco. Adicio-nar o arroz e deixar cozinhar em lume médio 10 minutos, mexendo regularmente. Juntar o restante polvo, envolver bem e terminar a cozedura do arroz, mexendo regularmente.

Finalizar com os restantes coentros pica-dos. O arroz deve ficar caldoso, mas com me-nos líquido que um típico arroz malandrinho, quase que a modo de um risotto, mas sem adição de qualquer gordura no final. Deve, por isso, seleccionar-se um arroz que solte bastante goma durante a cozedura. Deve ser empratado num prato fundo e ser servido de imediato. Tempo de confecção: 1h30 █

Escaldar o cabrito de modo a retirar o pos-sível sebo, para não marcar o sabor. Lavar imediatamente em água fria e deixar escor-rer. Picar a malagueta, os 6 dentes de alho, uma cebola, o sal, pimenta, pimentão doce, ramo de salsa, azeite e vinho branco.

Cobrir o cabrito com esta pasta e deixar ma-rinar no frio durante uma noite. Numa assa-deira, fazer uma cama com a cebola cortada às rodelas e colocar as batatas novas cortadas aos gomos. Juntar um pouco da marinada anterior, corrigir o ponto de sal e regar com azeite.

Assar durante, pelo menos, duas horas, até es-tarem bem assadas e tostadinhas. Numa outra assadeira, fazer também uma cama de cebola às rodelas e colocar o cabrito, juntando apenas uma parte da marinada. Assar no forno a 170º C durante uma hora. Retirar do forno e reservar.

Subir o forno para 210º C e voltar a colo-car o cabrito, de modo a tostar um pouco o exterior, ganhando uma capa crocante, mas mantendo o interior suculento. Dependendo do tamanho do cabrito, poderá levar entre 20 a 40 minutos esta fase de acabamento. Du-rante a assadura, arranjar os grelos e, perto do final, salteá-los em azeite e alho.

O cabrito poderá ser servido directamente nas assadeiras ou, em alternativa, emprata-do, procurando colocar um pouco de cada secção do cabrito (coxa, costela, febra), juntamente com uma porção de batata as-sada e grelos salteados. No entanto, dada a natureza tradicional do prato, e sendo ele mesmo um prato de partilha e de convívio, a melhor opção é ser servido nas assadei-ras. Tempo de confecção: 3h00 █

Harmonização: Uma sobremesa tão icó-nica merece um vinho igualmente especial e único para a acompanhar. Um espumante com o inusual tempo de 8 anos de estágio em cave, feito a partir da casta Loureiro, com notas doces de geleia de marmelo, brio-che, caramelo e mel, que vão ao encontro da doçura do pudim. A sua acidez cristalina e estrutura elegante complementam a ligação, trazendo frescura e equilíbrio.

Ingredientes15 gemas de ovo; 400 g de açúcar; 500 ml

de água; 40 g de toucinho fresco; 30 ml de Vinho do Porto Tawny; casca de limão (sem parte branca) q.b.; 1 pau de canela; 200 g de caramelo líquido

PreparaçãoLaminar finamente o toucinho. Levar a

água a ebulição e juntar o açúcar, o toucinho, a casca de limão e o pau de canela. Ferver até atingir o ponto de fio (aproximadamente 105 ºC). Retirar do lume, passar por um coa- dor e deixar amornar. Bater ligeiramente as gemas em frio, adicionar o vinho do Porto e bater novamente até homogeneizar. Juntar a calda, misturando cuidadosamente.

Fazer o caramelo líquido (com igual quan-tidade de água e açúcar, em lume médio até obter a cor e consistência desejada). Com o caramelo já frio, barrar uma forma de pu-dim com tampa. Adicionar a mistura obtida anteriormente e cozer em banho-maria, em forno quente e pré-aquecido a 250ºC, du-rante 1 hora. Desenformar quase em frio.Tempo de confecção: 2 h █

Chefes de cozinhaAndré Antunes e Joana Vieira

Rota dos Vinhos Verdes

Gastronomia e Vinho Verde