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blue days carlos rezende

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Catálogo da exposição Blue Days, de Carlos Rezende, para PLUS Galeria de Arte

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Page 1: Blue Days Port

blue days

carlos rezende

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Examina os bolsos, primeiro o esquerdo, depois o direito.Segue-se a manipulação sistemática dos volumes oleosos, tirando-os do bolso e os colocando na boca seca. Salivando e colocando de volta no outro bolso. E assim sucessivamente.As bolas de ferro estavam comprimidas no espremedor de madeira. Testada sua capacidade de resistência, poderia carregá-las nos bolsos.O esvaziamento, as alternâncias, a freqüência, a exaustão.O ritual obsessivo da retirada de uma esfera do bolso direito, umedecê-la, colocá-la no esquerdo. Punha na boca, salivava e a devolvia ao bolso direito. Retirava uma segunda esfera do mesmo bolso, umedecia e colocava no bolso esquerdo. E assim sucessivamente.O bolso esquerdo vazio. Pausadamente retirava as bolas de metal, uma a uma do bolso direito, umedecia e transferia para o bolso esquerdo. Sua língua áspera ia em direção a arestas inexploradas.Segue adiante com a transferência das bolas de metal do bolso esquerdo da calça para os bolsos do casaco. Uma a uma, umedecidas. No que restava uma bola de metal a ir do bolso para o casaco, recomeçava o ciclo.Cinco bolas no bolso direito do casaco, seis no esquerdo, ainda restavam duas no bolso extra.Seis bolas no bolso, cuidadosamente recolocadas, umedecidas.Esse mecanismo de distração, mover uma bola de um bolso para outro, poderia ser facilmente representado por uma circunferência e uma seta.O resultado da operação, esferas cuidadosamente umedecidas, uma a uma, em repetição. Algumas umedecidas duas vezes, nem uma sem umedecer.Ao término de toda a seqüência de transferências, escolher outro bolso ainda vazio e recomeçar, indefinidamente, até o final da operação.Mecanismo de medir a imprecisão, uma ação compulsiva, ditada pela obsessão da passagem do tempo.Tira uma bola de metal do bolso, solta-a sobre a mesa.Os rituais obsessivos preenchem a tarde de ócio e inutilidades voluptuosas. Prever a penetração de um sexo com dedos úmidos, a transferência das bolas de metal, número circense espetacular sem qualquer interesse, a não ser para a evolução do seu estranho método de demarcar o tempo.A repetição absurda desses pequenos gestos o auxiliava na compreensão da essência do tempo. Da durabilidade das coisas associadas à sua dureza, à materialização dos elementos não-naturais.Numa bola de metal, por exemplo, num sentido ordinário, podia entrever afinidades temáticas, no senso estrito do termo.Nas suas divagações sobre a natureza das inutilidades, citava um obscuro inventário de conexões possíveis, arquivados em aparente continuidade. Genealogia espacial desprovida de lógica e eficiência.Riscadas, rasuradas, três circunferências a lápis Derwent, acompanhados ao lado por palavras, detalhes anatômicos, páginas com informações sobre o seu método obsessivo de demarcar o tempo. Desenhos, notas, rascunhos, elementos arranjados em desordem aparente, esquemas curiosos.

{ memorial poético }

Por Carlos Rezende

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g1.03 x 0.72 m

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Aquarela e lápis Koh-i-noor azuis sobre papel Fabriano 100% algodão 300g76 x 56 cm

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Relativismos e questionamentos nos trazem ao tempo e suas medidas. Lógico: o tempo. Suas medidas e desmesuras à parte, me atenho ao Espaço. Esse, que todos conhecemos desde que nascemos. O eixo Z (junto com o X e o Y). O Volume.

Tendo-o por certo, tomo enfim uma régua, ou trena, ou lasers espaciais – traduções em linguagem de partes que compõem as três dimensões que primeiro criamos e depois nos prenderam. Método, idiossincrasia, melancolia.

Sabe-se por definição que um prisma de base retangular, volume formal tipo para a definição de um espaço, implica três medidas. Voltamos ao X, Y e Z. Tiro minha trena do bolso. Abro, fecho. É inútil. Como se movimentar num espaço que não se mede? Como existe um espaço que não tem volume?

Na ânsia de nomear, criam-se signos. Letras e números são inseridos num método. Símbolos que se prestam a codificar e expressar a realidade. No entanto, a linguagem é reducionista. Nomes e números exprimem a grandeza, mas não a experiência. O processo se faz, assim, de irrealidades ordenadas de modo a formar um conjunto de referências à experiência.

Virtualidade.

Num espaço sem volume, a escala das coisas muda. Um plano infinito, eixos X e Y ainda bem definidos. Um pouco de volume, ainda que virtual. Podemos medi-los numa busca esquizofrênica por controle dos signos daquela experiência que nos assombra. Trocam-se os centímetros pelos pixels, mas mantém-se, no ícone, a forma da trena.

O infinito numa tela, em escala. Uma janela na imensidão sem volume. Virtualidade. Ir para fora afundando cada vez mais dentro de si. Melancolia. Bem-vindo ao mundo. Respire e acostume-se.

por Tarik Hermano

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Ficha TécnicaProgramação Web – SOFUN http://www.sofun.art.br/

Fotos (tratamento) – Orlando Lemos (Ólux) e Bruno GalizaTextos – Andrea Regis, Tarik Hermano

DJ convidado para a vernissage – Hugo Siqueira http://function.com.br

AgradecimentosAndrea Bersanetti, Claudia Nunes, Eduardo Bueno, Holly Armishaw,

Hugo Siqueira, Jardel Sebba, Oscar Fortunato

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