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O PROGRAMA DE BLOQUEIO E ETIQUETAGEM NO CONTEXTO DE GERENCIAMENTO DE RISCO E PREVENÇÃO DE INCIDENTES. João Roberto Caruso Tayti Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 – Santo Amaro Cep: 04696-000– São Paulo – SP [email protected] RESUMO O programa de Bloqueio e Etiquetagem é uma ferramenta auxiliar, bastante eficaz na gestão de risco. O seu método de aplicação, visa a identificação de possíveis liberações abruptas e ou inesperadas de ações relativas à manifestação de energia, objetivando a prevenção de incidentes e acidentes, por consequência. Idenfificando-se de maneira clara os pontos passíveis de liberação de energia, procede-se inicialmente á um programa de implantação em todo o ambiente, em que o risco está inserido. Tratar o “Bloqueio e Etiquetagem” de forma incorreta ou parcial, não implica em eficácia desta ferramenta, podendo inclusive potencializar os riscos. Através da visão de um processo de gestão de risco, colocamos a importância da aplicação correta e integral desta ferramenta, que possibilita trabalhos com isolamento de energia. Palavras-chave: Gerenciamento de Riscos; Bloqueio e Etiquetagem; Isolamento de Energia.

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O PROGRAMA DE BLOQUEIO E ETIQUETAGEM NO CONTEXTO DE GERENCIAMENTO DE RISCO E PREVENÇÃO DE INCIDENTES.

João Roberto Caruso Tayti

Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro Av. Engenheiro Eusébio Stevaux, 823 – Santo Amaro Cep: 04696-000– São Paulo – SP [email protected]

RESUMO

O programa de Bloqueio e Etiquetagem é uma ferramenta auxiliar, bastante eficaz na gestão de risco. O seu método de aplicação, visa a identificação de possíveis liberações abruptas e ou inesperadas de ações relativas à manifestação de energia, objetivando a prevenção de incidentes e acidentes, por consequência.

Idenfificando-se de maneira clara os pontos passíveis de liberação de energia, procede-se inicialmente á um programa de implantação em todo o ambiente, em que o risco está inserido.

Tratar o “Bloqueio e Etiquetagem” de forma incorreta ou parcial, não implica em eficácia desta ferramenta, podendo inclusive potencializar os riscos. Através da visão de um processo de gestão de risco, colocamos a importância da aplicação correta e integral desta ferramenta, que possibilita trabalhos com isolamento de energia.

Palavras-chave: Gerenciamento de Riscos; Bloqueio e Etiquetagem; Isolamento de Energia.

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1. INTRODUÇÃO

Na gestão, identificação e comunicação do risco dentro do processo produtivo, identificam-se vários pontos em que esse controle requer a adoção de técnicas adicionais. Deve-se buscar nelas, maiores especificidades para se obter o domínio e ou eliminação destes riscos. Em especial o “Bloqueio e Etiquetagem” pode ser um poderoso aliado dentro desta perspectiva. Neste trabalho, serão abordados aspectos diversos ao Gerenciamento do Risco e em especial ao programa de “Bloqueio e Etiquetagem”.

O “Bloqueio e Etiquetagem” é aplicado com o objetivo de eliminar todas as formas de energia presentes, durante os trabalhos que ocorrem fora do regime dito normal de operação; visa também a eliminação de qualquer desvio ocasionado por falha no processo (este pode ser de curta ou longa duração), como limpeza total ou parcial do equipamento e área de entorno, nova configuração e mudança do processo, mudança de ferramental, ajustes no processo, manutenção de máquinas e equipamentos periféricos, serviços em instalações no entorno, ou qualquer outra atividade que possa expôr as pessoas à ação danosa do controle inadequado, ou ausência deste, das energias utilizadas para execução do processo produtivo. A norma em que se baseia esse trabalho (OSHA 1910.147) as chamam de “energias perigosas” (harzardous energy).

O controle dos riscos da liberação abrupta de ações advindas de energias resultantes de máquinas, equipamentos e instalações industriais, será abordado aqui com a terminologia já consagrada no meio industrial como “Bloqueio e Etiquetagem”, também reconhecida como “Controle de energia perigosa”, “Programa de Travamento de Energia”, “Isolamento de Energia”, “Lockout/Tagout” ou simplesmente “LOTO”.

Esse programa foi instituído pela OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH ADMINISTRATION (OSHA), em sua área de abrangência nos Estados Unidos da América, em 2 de janeiro de 1990, com o nome de “The Control of Hazardous Energy Sources (Lockout/Tagout)”, referenciado pelo número 29 CFR 1910.147.

A execução do “Isolamento de Energia” é realizada dentro de uma hierarquia, resultante da necessidade de execução de trabalhos em locais de liberação de energia. No ambiente de trabalho, a quase totalidade dos trabalhadores são envolvidos de forma direta ou indireta neste processo.

A pessoa que executa o Bloqueio e Etiquetagem é habilitada a executar uma tarefa num determinado local, podendo não estar habilitada num outro local. Sendo assim, o caso onde o trabalhador é aquele que, de alguma forma coloca seu corpo, parte dele ou de um terceiro em contato com uma área, onde pode ser liberada de forma abrupta ou inesperada, qualquer tipo de energia, será designado como “trabalhador autorizado”; lembrando que essa denominação está atrelada à permissão dada a ele, pois muitas vezes ele só é habilitado, por exemplo, em equipamentos específicos, enquanto em outros equipamentos não está designado como “trabalhador autorizado”.

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Essa designação também não oferece uma liberação total de ação, onde esse funcionário estaria habilitado; ela é somente parcial, pois este funcionário é habilitado como responsável por exemplo, pela troca de matéria prima, porém pode não estar habilitado a executar alguma mudança de ferramenta em determinada máquina hipotética.

No caso do “trabalhador afetado”, que como o próprio nome já diz, designa o funcionário que, embora não vá executar o tipo de trabalho descrito há pouco, pode ser afetado por ação deste, passa a ter também um papel ativo neste programa de Bloqueio e Etiquetagem.

Este programa oferece um nível adicional de segurança, assim como os dispositivos de segurança estanques, sendo que um não anula o outro.

Pode-se enumerar um sem fim de ações, que não obstante à sofisticação crescente dos sistemas de proteção de máquinas e o aumento no rigor da legislação, haverá sempre um desvio. Daí a necessidade de um programa adicional, que contemple todos os processos dentro do ambiente de trabalho, que envolva todos os que atuam direta ou indiretamente neste ambiente; e que seja sobre tudo, uma condição para a execução de qualquer tipo de trabalho e objeto de auditorias periódicas.

O programa de Bloqueio e Etiquetagem não deve ser encarado como mais uma ferramenta de segurança, mas sim uma filosofia de trabalho, vindo a se tornar um conhecimento tácito, criando raízes culturais nos métodos de trabalho.

1.1 - Objetivo

O objetivo deste trabalho é contribuir, à partir de análise de multicasos, com uma abordagem correta do “Bloqueio e Etiquetagem”, discutir a sua aplicabilidade e eficácia, além de colocar em pauta a criação de norma regulamentadora e norma técnica específica, buscando-se um aprimoramento nas ferramentas de gestão.

Tem o objetivo também de discutir a correta aplicação deste programa de Bloqueio e Etiquetagem, contextualizando-o dentro de um Programa de Gestão de Riscos, através da ilustração de diversas situações e experiências do autor, na implantação do programa de Isolamento de Energia, numa empresa de embalagens, além de outras experiências vividas em empresas do ramo Portuário, Mineração, Ferroviário, Autopeças, Eletrodomésticos e Manufatura de Papel.

1.2 Justificativa

A discussão e reflexão, aliadas à uma exaustiva análise da norma OHSA 1910.147 e diversos casos práticos, visa possibilitar uma maior compreensão deste programa, inserindo-o num contexto de Gerenciamento de Risco, com real aplicabilidade e efetividade; não permitindo que este seja introduzido erroneamente, como um programa acessório, mas sim como condição de trabalho.

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Importante alertar também, que o uso parcial pode reduzir sua eficácia, quando não potencializar o risco. E por fim, discutir a possibilidade deste programa vir a fazer parte de uma norma técnica específica e/ou de uma norma regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego.

2.0 A LEITURA CRÍTICA DA NORMA OSHA 1910.147

Todo o procedimento é originário da OSHA “The Control of Hazardous Energy Sources (Lockout/Tagout)”, 29 CFR 1910.147. Sendo essa regulamentação seguida nos vários estados dos Estados Unidos e também seguida no Canadá, com um procedimento alinhado, com modificações parciais.

Na Europa não está alinhado ainda com a mesma filosofia de importância, igual ao país de criação.

No sitio de rede da OSHA, temos páginas dedicadas somente a essa ferramenta, inclusive com um vastíssimo repertório de perguntas, respostas e casos de aplicação. Muitas dessas páginas estão em espanhol, mostrando-se acessível ao número crescente de intérpretes deste idioma.

À seguir, será descrito de forma sucinta o funcionamento deste programa. Conforme comentado anteriormente, o propósito do “Programa de Isolamento de Energia”, é estabelecer critérios de identificação, travamento e etiquetagem de formas de energias que apresentem riscos aos trabalhadores e terceiros.

A premissa deste programa é a de que deve haver envolvimento da alta direção. O responsável pelo programa deve ser o gestor do local (quem realmente tem o poder de decisão), em que será introduzida esta sistemática afim de que as responsabilidades e importância não sofram depreciação. Cabe a esse gestor, além de indicar um coordenador específico, também promover a execução com toda a documentação, procedimentos internos, registros, treinamentos e medição da efetividade do programa.

Outra premissa, refere-se à distribuição de responsabilidades. Não cabendo ao SESMT o papel de único “dono” do programa. Essa atribuição é dividida capilarmente por toda a liderança, pois a efetividade e os resultados, dependem da responsabilidade do programa ser corretamente atribuída.

Este programa pode ser iniciado com a correta aplicação e o uso de travas. Os demais dispositivos como cadeados, chaves de segurança, quadros, etc, serão apresentados no próximo tópico, junto das figuras ilustrativas.

Para o uso de travas, é imprescindível não só a identificação correta dos pontos por especialistas, como proporcionar o local em que esta possa ser colocada, pois em muitos equipamentos não existe essa possibilidade. Essa trava uma vez instalada, deve evitar qualquer possibilidade de restauração de energia.

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Esses dispositivos devem ser padronizados, disponibilizados aos “trabalhadores autorizados” e terem registrados e entrega destes.

Seqüência genérica dos passos iniciais do isolamento de energia, através do uso das travas:.

a. Todos os trabalhadores afetados devem ser avisados que o equipamento será travado. Operação possível somente aos “trabalhadores autorizados“ neste equipamento. Seu nome deve estar no procedimento junto da máquina e esse documento deverá mostrar o treinamento em dia.b. Antes de realizar essa operação, o equipamento deverá estar numa posição neutra, afim de que quando ligado, faça algum movimento ou libere energia de forma inesperada. c. Toda ou qualquer energia remanescente, deve ser dissipada afim de que mesmo travado, o equipamento possa desprender energia. d. Agora sim serão colocados os dispositivos de travamento com o respectivo cadeado.e. Verifica-se então, se o travamento foi efetivo e se realmente não há nenhum outro envolvido na área, sem que esteja habilitado e trabalhando de acordo com o procedimento. f. Deve haver após essa verificação, a correta posição dos controles para a “posição de não acionamento”.

Um acontecimento comum, é o esquecimento de se destravar estes equipamentos na mudança de turno. Neste caso, o trabalhador é requisitado à voltar para o local de trabalho para proceder à troca de cadeados. Não se recomenda usar a chave mestra.

Seqüência genérica dos passos de restauração de Isolamento de Energia:

-Não deve haver outro trabalhador na área, sem que tenha feito também o travamento.

-Todos os dispositivos, ferramentas e material auxiliar, devem ser retirados. -Todas as guardas, barreiras e proteções, devem ser recolocadas e deve-se conferir a sua integridade. -Os acionamentos devem estar na posição de repouso ou desligados. -Só agora serão retirados os dispositivos usados para o isolamento de energia.

Quando mais de um trabalhador precisar executar algum serviço no mesmo local, seja como auxiliar ou outro serviço independente, será necessário que o mesmo execute o travamento adicional. O fato de a máquina já estar isolada, não autoriza outro membro a executar o trabalho. É necessário cada funcionário colocar seu cadeado, pois enquanto estiver travado significa que não está salvo para uso. O trabalhador autorizado aplicará uma trava à caixa, contendo a chave. No caso do líder deste fazer alguma verificação ou inspeção e, este adentrar a área de risco, o mesmo deverá também executar o travamento e ser autorizado, com seu nome no procedimento e com dispositivos próprios.

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A norma proporciona algumas exceções, porém estas devem ser analisadas commuito critério e sofrer uma análise consensual. No caso de exceções, deve-seproceder como descrito abaixo.

-Instalar um controle de parada/início na máquina ou estação de produção. Este controle deve ser posicionado de forma que fique visível e ao alcance do empregado, limpando o acúmulo durante todo o tempo.

-Propiciar proteções com travas internas no ponto da operação. Estastravas devem ser projetadas e posicionadas para prevenir a passagem intencional ou inadvertida de qualquer tipo de energia.

-Inspecionar e testar as travas internas freqüentemente, para assegurar operação apropriada, além de documentar estes testes.

-Deverá haver mais de dois dispositivos de segurança independentes.Caso uma curta interrupção ocorra com freqüência, deverão ser aplicadas as travas.

3.0 DISPOSITIVOS MAIS COMUNS USADOS EM BLOQUEIO EETIQUETAGEM

Os dispositivos usados para travamento e etiquetagem, estão ilustradosabaixo e veremos com mais detalhes a aplicação destes.

Figura 1 – Equipamentos usados para “LOTO” Fonte: The safety lockout/tagout Website

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Travas devem ser padronizadas, disponibilizadas aos “trabalhadoresautorizados” e terem registradas a entrega destas.

Figura 2 – Travas usadas para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

Os cadeados usados no programa, como podemos ver no exemplo abaixo,devem ser padronizados, identificados de maneira clara a demonstrar que são específicos para esse programa e devem receber uma numeração para seremcontrolados, pois ele é de uso pessoal e intransferível. Só o responsável pode fazer uso dele, consistindo em falta grave, o uso por outro funcionário.

Figura 3 – cadeados usados para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

Outro cuidado em relação aos cadeados refere-se à chave. Esta deve ficar num local onde só o responsável tenha acesso a ela, impedindo que outro funcionárioseja tentado a abrir algum ponto travado.

Figura 4 – chaves mestra usadas para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

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Junto com o travamento, deve-se usar as etiquetas indicando quem travou, quando travou, motivo do travamento. O uso de fotografias na etiqueta é recomendável. Estas também devem ser padronizadas e seu uso e distribuição, padronizados.

Figura 5 – Etiquetas usadas para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

Em várias situações nos deparamos com equipamentos que podem ser transferidos constantemente, ou ainda equipamentos periféricos a outros. Neste caso o travamento é feito no ponto de alimentação, como podemos verificar nos exemplos abaixo:

Figura 6 – Travas para plugs usadas para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

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Figura 7 – Travas para plugs 2 usadas para “LOTO” Fonte: The safety lockout/tagout Website

Nem todo travamento é possível de ser efetuado com os exemplos acima,principalmente em linhas de pressão operadas por manoplas. Neste caso o travamento pode ser executado da forma ilustrada á seguir:

Figura 8 – Travas usadas sistemas de vapor e gás Fonte: The safety lockout/tagout Website

Na sequência, a sugestão de um conjunto para travamento que deve serdisponibilizado na quantidade compatível ao uso rotineiro. Lembramos mais umavez, que estes dispositivos sãocontrolados, auditados e padronizados.

Figura 9 modelos de material usados no “LOTO” Fonte: The safety lockout/tagout Website

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Em casos de dificuldades de isolar algum ponto, o mercado oferece algumasopções “universais”, como o exemplo a seguir:

Figura 10 – involucro usado para “LOTO”Fonte: The safety lockout/tagout Website

Ao lado um exemplo de multitravamento. Figura 11 – Múltiplo travamento. Fonte: The safety lockout/tagout Website

Outro exemplo de dispositivo para múltiplos trabalhadores. Neste caso aschaves internas referem-se aos pontos travados, sendo possível abrir a caixa somente quando todas as chaves externas estão disponíveis.

Figura 12 – caixas usadas para “LOTO” Fonte: The safety lockout/tagout Website

Quadro para procedimento em grupo, usado para serviços de grande porte, instalação ou projetos que envolvam vários grupos, diferentes equipes, etc.

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Figura 13 – quadro de gerenciamento. Fonte: The safety lockout/tagout Website

DISCUSSÃO

O programa de bloqueio e etiquetagem é uma ferramenta que pode ser muitoeficaz no gerenciamento de risco, objetivando a prevenção de incidentes e acidentes. Seu método de aplicação visa sobretudo, a identificação de qualquer liberação abrupta e/ou inesperada de ações relativas e/ou resultantes de manifestações de energia.

Ações advindas de manifestações usualmente encontradas dentro do ambiente de trabalho, tais como: energia elétrica, superfícies superaquecidas, emissão de radiações, deslocamentos de corpos e objetos, desprendimento inesperado de corpos com energia acumulada, seja por efeito de gases, fluidos, molas etc., além de outras manifestações que venham a atingir ou colocar em risco, a integridade das pessoas envolvidas direta e indiretamente no local em que o risco é passível de ocorrer. .Com a definição clara e suscinta dos pontos passíveis de liberação de energia,procede-se inicialmente a um programa de implantação em todo o ambiente emque o risco está inserido.

Visa-se sobretudo, habilitar adequadamente pessoas capazes de realizartrabalhos, pelo método de identificar e isolar o perigo, por meio de travamento (bloqueio) com dispositivos padrões em qualquer equipamento, máquina ou instalação; afim de que se dificulte ao extremo, qualquer tipo de liberação abrupta e/ou inesperada das ações descritas há pouco e, na sequência identificarmáquinas, equipamentos e/ou dispositivos por meio de etiquetas, tambémpadronizadas.

Verifica-se na prática, que o uso deste programa é muito restrito e muitas vezesse confunde com o simples ato de “bloquear e etiquetar” isoladamente. Existe

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uma falta de clareza com relação à aplicação eficaz e sistêmica do programa de bloqueio e etiquetagem (lockout tagout).

Após a revisão da NR-10, tem-se usado o bloqueio e etiquetagem nos serviços de intervenção em sistemas e equipamentos elétricos. Esse tipo de abordagem é muitas vezes, somente a aplicação restrita e superficial. Por conta disto, muitos profissionais da área de saúde e segurança ocupacional, atribuem ao “lockouttagout” a finalidade única de ser uma técnica voltada exclusivamente para serviços elétricos.

Outra grande parcela dos profissionais especializados, a usa exclusivamente para serviços de manutenção, limitando sua aplicação apenas para uma parte de todo o público envolvido. A potencialidade que o programa oferece fica limitada, quando não descaracterizada. Deve-se ter uma implantação abrangente, envolvendo todas as áreas, instalações e equipamentos. técnica específica, para se buscar um aprimoramento nas ferramentas de gestão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a implementação do programa em sua totalidade, este passou a ser usado por toda a planta dentro da metodologia proposta, não tendo mais uma aplicação segmentada e pouco eficaz.

A exposição do colaborador, antes restrita a proteções exigidas pela legislação, programas de comportamento, programas de auditoria de pontos de riscos, trabalhos em altura, espaços confinados etc, agora está coberta justamente onde o risco no trabalho dinâmico encontrava fragilidades.

Só o treinamento inicial e a disponibilidade de material não é suficiente. Deve haver uma postura crítica da liderança, além de auditorias periódicas.O constante turn over é um obstáculo para o programa.

O mapeamento das fontes com possível liberação de energia deve ser exaustivo, pois pode-se encontrar situações onde haja uma falsa imagem de segurança, expondo de maneira mais crítica o colaborador.

Quando não há a premissa de ferramenta usada antes da execução de qualquer trabalho, não há efetividade na sua rotina.

Deve ser uma ferramenta adotada como primordial pela diretoria, pois sem essa importância, existirá a tendência deste programa diluir-se, inclusive criando-se um comitê interno de segurança com participação da alta direção, lideranças, especialistas de cada setor e outros colaboradores. A participação do SESMT deve ser apenas como apoio.

È fundamental adotá-lo já na integração dos novos funcionários e também na revisão periódica de toda a planta.

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Após a aplicação efetiva do programa, os acidentes ocorridos por despreendimento de energia, decorreram de desvios na aplicação do programa, para sobretudo, ganhar tempo de produção, comodismo na operação e no processo de travamento e etiquetagem, pressão ou descaso da liderança, falsa sensação de segurança.

Fica assim evidenciado que deve haver um trabalho suplementar na liderança, nas auditorias internas, “POKA YOKE”, afim de evitar que o caminho mais fácil (e inseguro) seja contornado, além da definição clara de valores para o colaborador.

Deve ser aplicado preferencialmente junto com outras ferramentas, algumas de caráter comportamental, outras obrigatórias por legislação como o PPRPS.

Outro aspecto importante, é que esta ferramenta deve ser conduzida pelo corpo de operação e a esse corpo, deve ser dada a responsabilidade da efetividade de seu funcionamento. Como todo programa estratégico, é uma ferramenta de longo prazo, que envolve mudanças culturais e organizacionais.

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