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RAFAEL TENÓRIO R.A. 910123815 BLOGS: FERRAMENTAS AO JORNALISMO CULTURAL Trabalho de avaliação da disciplina ............................................................ do curso de Comunicação Social com habilitação em ..........................................., do Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE). Orientador: Prof. ........................................................ UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO SÃO PAULO 2013

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RAFAEL TENÓRIO – R.A. 910123815

BLOGS: FERRAMENTAS AO JORNALISMO CULTURAL

Trabalho de avaliação da disciplina

............................................................ do curso de

Comunicação Social com habilitação em

..........................................., do Centro Universitário

Nove de Julho (UNINOVE).

Orientador: Prof. ........................................................

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

SÃO PAULO – 2013

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RAFAEL TENÓRIO – R.A. 910123815

BLOGS: FERRAMENTAS AO JORNALISMO CULTURAL

Trabalho de Conclusão de Curso - Comunicação

Social com habilitação em Jornalismo da

Universidade Nove de Julho (UNINOVE).

Orientador: Prof. Ms. Eduardo Natario

UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

SÃO PAULO – 2013

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RESUMO

A presente monografia, voltada para a área da comunicação social, tem por objetivo analisar

as características de blogs e das diversas ferramentas digitais existentes, no intuito de

identificar sua utilidade prática para o jornalismo cultural. Para tanto, os capítulos 1 e 2

trazem um histórico sobre o jornalismo cultural, a internet e o webjornalismo. Além disso, são

abordados pontos relevantes sobre blogs, ferramentas do suporte digital e o modo como o

jornalismo cultural pode se beneficiar desses elementos. Por fim, no capítulo 3, são analisadas

duas postagens específicas: uma do blog “Daniel Piza”, do jornalista homônimo, e a outra do

blog “A Biblioteca de Raquel”, da jornalista Raquel Cozer. Para a análise dessas postagens,

foram utilizados os seis pontos de impacto da internet no jornalismo, descritos por Marcus

Palacios e Nísio Teixeira.

Palavras-chave: Jornalismo Cultural; Webjornalismo; Blogs.

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Dedico esta monografia a minha família, por

sempre me incentivar e acreditar em mim

quando eu mesmo já não acreditava. Sem

eles, eu teria desistido de um sonho, e estas

páginas nunca teriam sido escritas.

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Agradecimentos especiais aos leitores dos

meus blogs, por seus comentários de

incentivo, e a todos os professores que tive

em minha graduação, que direta ou

indiretamente contribuíram para a realização

desta monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 07

1. EVOLUÇÕES: JORNALISMO CULTURAL E WEBJORNALISMO ........... 10

1.1. JORNALISMO CULTURAL .................................................................................. 10

1.2. INTERNET .............................................................................................................. 14

1.3. EVOLUÇÕES SE CRUZAM: CULTURA, JORNALISMO E WEB ..................... 21

2. FERRAMENTAS DIGITAIS PARA O JORNALISMO CULTURAL ............ 25

2.1 BLOGS ..................................................................................................................... 26

2.1.1 PLATAFORMAS DE BLOG .............................................................................. 27

2.1.2 ORIENTAÇÕES GENÉRICAS ......................................................................... 28

2.1.3 TÍTULOS ............................................................................................................ 29

2.1.4 OTIMIZAÇÃO PARA MOTORES DE BUSCA ............................................... 29

2.1.5 ORDEM DOS ELEMENTOS DA FRASE ......................................................... 30

2.1.6 VOZ PASSIVA ................................................................................................... 31

2.1.7 DOIS PONTOS ................................................................................................... 32

2.1.8 NEGRITO ............................................................................................................ 32

2.1.9 ENTREVISTAS PING-PONG PUBLICADAS EM BLOGS/SITES ................. 32

2.1.10 ENTREVISTAS PING-PONG NO JORNALISMO CULTURAL .................... 34

2.1.11 DEZ DICAS: JORNALISMO CULTURAL ....................................................... 35

2.1.12 LINKS ................................................................................................................. 36

2.2 FERRAMENTAS DIGITAIS .................................................................................. 37

2.3 JORNALISMO CULTURAL: USANDO FERRAMENTAS DIGITAIS ............... 44

3. APLICAÇÃO DE TEORIAS ................................................................................ 49

3.1 INTERNET E JORNALISMO: SEIS TRANSFORMAÇÕES ................................ 50

3.2 BLOG ‘DANIEL PIZA’ ........................................................................................... 52

3.3 BLOG ‘A BIBLIOTECA DE RAQUEL’ ................................................................ 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 60

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INTRODUÇÃO

De repente, web. Algo desconhecido. Um território inexplorado, obscuro, que as

pessoas, por curiosidade ou intenção de obter lucro (mais pelo segundo fator do que pelo

primeiro) passaram a percorrer. Por não saber enxergar esse novo ambiente, é natural que, no

início, tenha havido diversos erros, enganos e os incômodos prejuízos. No caso específico da

comunicação, é óbvio que muitos jornalistas da velha guarda torceram o nariz. Pudera,

mudanças tão radicais precisam de um certo tempo até que as pessoas consigam se acostumar.

Assim foi com a internet, no início, quando as empreitadas na web eram tão desafiadoras

quanto as jornadas de antigos navegadores, que imaginavam a terra como sendo plana,

temendo encontrar monstros marinhos e criaturas inimagináveis pelo caminho. Os navegantes

do nosso tempo, a bordo de Netscapes, Explorers, Firefoxes e Chromes também enfrentaram

alguns tipos especiais de “monstros” para que a internet se consolidasse. Mais do que isso,

para que esse intercâmbio alucinado de informações fosse possível. Para que, enfim, o

webjornalismo pudesse se desenvolver, engatinhando, até o que vemos atualmente. E não

pense que estamos no auge: a vasta gama de ferramentas oferecidas nesse universo internético

não raro são artefatos experimentais. Manuais de redação para web foram desenvolvidos,

muitos outros estão em processo de elaboração, e tão logo o que se descobriu agora não terá

mais validade amanhã.

As pesquisas EyeTrack e as desenvolvidas por Jakob Nielsen – considerado o guru da

facilidade de uso das ferramentas internéticas – foram decisivas para definir o que publicar na

web, e sobretudo como os leitores se comportam quando leem uma página da internet. É o

que afirma Guillermo Franco no manual Como Escrever Para a Web. A partir dessas

descobertas, elaboraram-se modos de redação que expõem a informação de forma mais

eficiente e acessível ao usuário. Foram cortadas redundâncias, rebarbas, excesso de vírgulas,

enfim, tudo o que faz um leitor qualquer fechar uma página e procurar por outra. Como fazer

os motores de busca apontar para seu conteúdo? Cabe aqui a valorização das tags, espécie de

etiquetas que se coloca nas páginas da internet, e dizem à motores de busca o que há nelas, e

se é preciso listá-las na página de resultados de busca, que o usuário aguarda com a ansiedade

frenética característica da época vigente. Em um mundo em que perder um segundo que seja é

ficar para trás, naturalmente as pessoas não querem perder muito tempo procurando o que

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desejam – e menos ainda destrinchando blocos maciços de texto. Uma vez que a informação é

encontrada, o webleitor deseja encontrar o âmago do assunto, a informação mais importante

logo no topo da matéria.

É curioso notar que esse panorama, ainda agora recente, também é uma forma de

cultura. É parte integrante da cibercultura, que afeta tanto o seu dia a dia quanto o dos

profissionais de comunicação.

A ascensão da cibercultura afetou diversos segmentos da sociedade, inclusive a Mídia.

Pelo fato de cada vez mais pessoas usarem a internet para diversos fins, inclusive o de obter

informações, várias publicações impressas ganharam uma versão online, agregando conteúdos

multimídia para complementar as matérias e fornecer aos leitores experiências de visualização

e interpretação que não estão disponíveis no impresso. Esse novo paradigma de comunicação

possui características próprias, ou seja, certos aspectos do jornalismo tiveram que ser

adaptados para se encaixar ao suporte digital. Assim como outros segmentos jornalísticos, o

jornalismo cultural vem aproveitando a capacidade da internet de disponibilizar conteúdos de

áudio e vídeo, bem como links e dados de outros sites para complementar o texto, dinamizar o

conteúdo das matérias e dar ao internauta um entendimento mais completo da obra ou

fenômeno cultural de que se fala. Existe a possibilidade de navegar por sites relacionados e

compartilhar a informação por meio de redes sociais, além de ser possível comentar

determinada matéria e debater o assunto com outros internautas. As possibilidades de acesso a

conteúdo multimídia, compartilhamento e interação fornecidas pela web ao jornalismo

cultural representam uma revolução no modo de produzir e consumir este tipo de jornalismo.

É necessário refletir e entender sobre como a web pode contribuir à produção jornalística,

quais as características necessárias à utilização desse suporte e as consequências diretas na

vida das pessoas que acompanham o jornalismo na internet.

E quanto a essa reflexão, é um processo fácil? Certamente não. Jornalistas

contemporâneos tem a vantagem de já terem nascido inseridos no contexto atual, enquanto os

profissionais de comunicação mais experientes estão tendo que se adaptar. E se é possível ao

jornalista experiente aproveitar essas ferramentas revolucionárias, por que um tipo de

jornalismo nascido em 1711 não poderia se beneficiar de uma tecnologia com tanto potencial

de encurtar distâncias e aproximar debates, não apenas os irrelevantes, mas também os de

interesse público?

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Estamos falando especificamente do jornalismo cultural, vertente jornalística em que

são abordados acontecimentos que dizem respeito às manifestações da cultura, como música,

teatro, cinema e eventos em que esses elementos estejam presentes (Bienal do Livro, Rock in

Rio, Festival de Cinema de Gramado). A pauta pode incluir fatos da cultura local, nacional ou

internacional. Atualmente, encontramos cadernos de Cultura em diversos grandes jornais

brasileiros, como O Estado de São Paulo (Caderno 2), Folha de S.Paulo (Folha Ilustrada) e O

Globo (Segundo Caderno). Com a popularização da internet, os jornais criaram versões online

de suas publicações, os chamados portais de notícia, com conteúdo especial e blogs

segmentados, por vezes se relacionando com editorias. É o caso do blog de Daniel Piza, sobre

cultura, futebol e política (hospedado no portal Estadão) e o de Raquel Cozer, sobre literatura,

quadrinhos e internet (hospedado no portal da Folha).

Unindo dois mundos, os objetivos desta monografia são os seguintes: mostrar como

veio se desenvolvendo o jornalismo cultural e o webjornalismo, estabelecendo relações entre

essas duas vertentes jornalísticas (Capítulo 1). No Capítulo 2, veremos as numerosas

ferramentas que o suporte digital/internet disponibiliza, e como o jornalista cultural pode

utilizá-las em prol de suas pautas, com enfoque especial para o modo como os blogs podem (e

são) valiosos aliados para o jornalismo cultural. Por fim, o Capítulo 3 é dedicado à aplicação

das teorias e ferramentas discutidas no Capítulo 2. Para tanto, analisaremos dois blogs de

jornalismo cultural: A Biblioteca de Raquel, de Raquel Cozer, e o blog Daniel Piza, do

jornalista homônimo (que inclusive faz parte dos teóricos que embasam esta monografia). Em

seguida, veremos algumas considerações finais a respeito do tema central desta monografia.

Óbvio que esta obra não pretende (e nem poderia) ser um manual definitivo da

aplicação dos blogs/suporte digital ao jornalismo cultural. A intenção aqui é colocar o assunto

na ordem do dia, abrir espaço para a discussão e ao menos enfraquecer a ideologia

preconceituosa de que os blogs não são mais do que diários eletrônicos de adolescentes.

Podem até ser, mas isso em nada diminui uma de suas muitas utilidades: a de serem

ferramentas poderosas ao jornalismo – em nosso caso específico, do jornalismo cultural.

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CAPÍTULO 1 – EVOLUÇÕES: JORNALISMO CULTURAL E

WEBJORNALISMO

Qualquer investigação científica que tenha por finalidade apurar como dois fatores se

afetam entre si, certamente deve partir, inicialmente, de uma pesquisa individual de cada um

desses fatores, para só então surgir o embasamento necessário para relacionar este e aquele

item analisado.

Daniel Piza (2011) afirma que o marco dos princípios do jornalismo cultural ocorre

em 1711, na Inglaterra, com a fundação da revista diária The Spectator. Para Castells apud

Prado (2011), a história do webjornalismo passa primeiro pela origem da internet, em 1957,

quando houve o lançamento do primeiro Sputnik, fato que motivou a ARPA a desenvolver as

pesquisas tecnológicas que, após evoluir ao longo do tempo, resultariam na internet dos

tempos atuais.

De acordo com Piza (2011), a internet vem sendo usada como um caminho alternativo

ao jornalismo cultural. É interessante notar como uma vertente jornalística se beneficiou de

uma ferramenta tecnológica que começou a se desenvolver quase dois séculos e meio depois.

Trataremos neste capítulo o histórico do jornalismo cultural, o desenvolvimento da

internet e, por fim, veremos como as vertentes cultural e web do jornalismo vêm interagindo.

1.1 – JORNALISMO CULTURAL

Os ensaios de Montaigne

Antes de serem lançadas as bases para o desenvolvimento do jornalismo cultural na

Inglaterra, houve fatores e elementos que influenciaram o surgimento dessa vertente de

jornalismo. Piza (2011) sustenta que o jornalismo cultural constituído por análise e crítica é o

produto de uma era pós-renascentista, quando máquinas e a imprensa já tinham sido criadas e

o Humanismo havia influenciado o teatro de Shakespeare, na Inglaterra, e a filosofia de

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Michel de Montaigne na França. Assim, os Ensaios de Montaigne são os precursores da

publicação que marcou o início do jornalismo cultural: a revista inglesa The Spectator.

The Spectator (1711)

Piza (2011) relata que o jornalismo cultural começou a ser construído pelos ensaístas

ingleses Richard Steele (1672-1729) e Joseph Addison (1672-1719) em 1711, quando

fundaram a revista diária The Spectator. A publicação tinha o objetivo de democratizar o

acesso à cultura, deixando de restringir seu debate aos centros acadêmicos e levando-a a

cafés, clubes e casas.

A partir desse periódico, vemos surgir alguns atributos indispensáveis ao jornalismo

cultural. “A revista falava de tudo – livros, óperas, costumes, festivais de música e teatro,

política – num tom de conversação espirituosa, culta sem ser formal, reflexiva sem ser

inacessível.” (PIZA, 2011, pg. 12). Sendo assim, essas características contribuíam para formar

um texto que levava ao leitor toda a sorte de elementos culturais que tivessem interesse

público. Os toques de humor, o conteúdo escrito de forma bem elaborada (com a vantagem de

não ser formal) e as reflexões de crítico ao alcance do cidadão comum terminavam por

simplificar o entendimento sem abdicar da qualidade do conteúdo.

Uma análise de contexto nos permitirá dizer que “a Spectator – portanto o jornalismo

cultural, de certo modo – nasceu na cidade e com a cidade.” (PIZA, 2011, pg. 12). Afinal, é na

cidade que acontecem eventos culturais e se desenvolvem costumes que se tornam motivo de

conversas e tema de debates – pertinentes ao jornalismo cultural, claro. Foi rompido, assim, o

paradigma de que a busca pelo conhecimento era algo que deveria ser conduzido com a

máxima seriedade possível. O conhecimento passou a ser algo divertido.

Críticos e autores

Com o surgimento da Spectator, estava livre o caminho para que críticos, escritores e

jornalistas culturais desenvolvessem seu trabalho. Daniel Piza (2011) enumera alguns deles:

Samuel Johnson (1709-1784): o primeiro grande crítico cultural. Escreveu resenhas

sobre a literatura dos escritores de seu tempo, ensaios sobre Shakespeare, estudos sobre a

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língua inglesa, reflexões sobre variados assuntos ao estilo de Montaigne, só que de forma

menos sofisticada, e romances como Rasselas.

William Hazlitt (1778-1830): sua crítica era referência no final do século XVII para

avaliar criações novas e reavaliar clássicos como Shakespeare. Polemista político e defensor

dos trabalhadores.

John Ruskin (1819-1900): tratado como semideus por seus seguidores. Marcou sua

época como uma das maiores influências sobre a literatura de Marcel Proust (1871-1922), que

foi crítico no jornal Le Figaro.

Sainte Beuve (1804-1869): considerado o papa francês da crítica oitocentista. As

críticas que publicava nos jornais Le Globe e Le Constitutionnel construíram um padrão para

o jornalismo cultural. Sua coluna “Causeries du Lundi” (Bate-papo da Segunda-Feira) em Le

Constitutionnel, por exemplo, é a precursora dos rodapés literários presentes em jornais atuais

de renome. Depois de Saint-Beuve, a carreira de jornalista cultural se consagrou, uma vez que

se tornou possível trabalhar exclusivamente como crítico e articulista, sem a necessidade de

estar vinculado a uma academia ou obra própria.

G.E Lessing (1729-1781): seus trabalhos foram desenvolvidos na Alemanha.

Popularizou-se como crítico de teatro, literatura e pintura escrevendo para o jornal Berliniche

Privilegirte Zeitung.

Ainda no século XIX, o jornalismo cultural se estabeleceu em países como os Estados

Unidos e o Brasil.

Edgar Allan Poe (1809-1849): a maior figura da crítica nos EUA pré-guerra-Civil.

Escrevia para revistas e os jornais do norte do país. Embora famoso atualmente por seus

contos de mistérios e certos poemas, no início da carreira Poe só era reconhecido em seu país

como crítico e ensaísta de vanguarda na América.

Henry James (1843-1916): romancista que se destacou nos jornais e revistas de Nova

York, como o New York Tribune. Enviava resenhas literárias e narrativas de viagem enquanto

esteve em Paris e Londres. Um trabalho relevante de sua autoria foi o ensaio A Arte da

Ficção, publicado pela Longman´s Magazine em 1884.

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Machado de Assis (1839-1908): considerado o maior escritor brasileiro, iniciou como

crítico de teatro e polemista literário. Escrevia ensaios e resenhas.

José Veríssimo (1857-1916): grande crítico de sua época e discípulo brasileiro de

Sainte-Beuve. Foi editor da Revista Brasileira. Em sua carreira, atuou como crítico, ensaísta e

historiador da literatura.

Novas mudanças ocorreram no estilo da crítica cultural no final século XIX.

George Bernard Shaw (1856-1950): Crítico de arte, teatro, literatura e música em

publicações como Saturday Review. Criou um novo modelo de jornalismo cultural através de

sua coluna no The World, misturando assuntos de polêmica política, observação social e

análise estética. A repercussão da coluna extrapolou as fronteiras da Inglaterra e atingiu

principalmente os Estados Unidos.

Shaw, ao criar um novo modo de analisar elementos culturais, estabeleceu que o

crítico cultural deve passar a levar em consideração, além das formas e fantasias, também as

ideias e realidades.

Karl Kraus (1874-1936): jornalista, crítico, filólogo e dramaturgo em Viena. Fundou

a revista Die Fackel (A Tocha) em 1899, abordando sátira política e comentário estético. A

Tocha foi fechada em 1936 em virtude do nazismo. Produziu pequenas pílulas com ideias e

provocações para leitura rápida e o drama Os Últimos Dias da Humanidade.

Quanto ao século XX, Piza (2011) destaca a importância da revista New Yorker. A

publicação surgiu em 1925, tendo como características principais a classe, a incisividade e o

humor. Em seu início, revelou críticos como a contista Dorothy Parker, bem como escritores

do porte de Irwin Shaw, J.D Salinger, John Cheever, John Updike e outros. Tiveram espaço

na New Yorker inúmeros cartunistas e o chamado jornalismo literário.

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Através desse breve recorte histórico, pode-se visualizar a evolução de um gênero

jornalístico. “Das conversações sofisticadas de Addison e Steele até as resenhas incisivas de

Zola, Kraus e Shaw, o jornalismo cultural tomou sua forma moderna.” (PIZA, 2011, pg. 19).

1.2 - INTERNET

A internet chegou para ficar, não é uma moda passageira e não haverá

retrocesso. Jamais os usuários de e-mail voltarão a escrever cartas e

deslocar-se até o correio para postá-las. No Brasil, o número de pessoas com

acesso à internet em casa ou no trabalho somava 66,3 milhões em novembro

de 2009, segundo pesquisa Ibope Nielsen. Nos Estados Unidos, as vendas de

revistas em 2009 tiveram uma queda de 12,4% em relação a 2008, segundo a

Audit Bureau of Circulations, enquanto a receita publicitária dos anúncios de

jornais e revistas que migraram para internet atingiu 5,5 bilhões de dólares

durante o terceiro trimestre de 2009. (FERRARI, 2010, pg. 23).

Primeira mensagem

Um rápido passeio pela história da internet mostrará que ela surgiu com a disputa entre

americanos e soviéticos pela supremacia militar e tecnológica. Castells apud Prado (2011)

esclarece que as pesquisas que originaram a internet como a conhecemos se iniciaram em

1957, com a Advanced Projects Research Agency (ARPA), sendo uma espécie de resposta

dos EUA ao lançamento do primeiro Sputnik pela então União Soviética.

Para tanto, em 29 de outubro de 1969, foi enviada a primeira mensagem entre

computadores de laboratório, na Califórnia. A intenção dos pesquisadores era que o texto da

mensagem fosse “Login”, mas a conexão foi interrompida e levou mais de uma hora para ser

restabelecida. Assim, a mensagem chegou incompleta ao computador de destino: apenas

“Lo”. Durante os dois anos seguintes ao da experiência, satélites foram lançados,

possibilitando a chegada da conexão à Europa.

Na mesma época, existiam outras ferramentas informatizadas. “É bom demarcar que,

em 1969, além do uso pela Arpanet, tínhamos o videotexto na BBC e o infobank no The New

York Times.” (PRADO, 2011, pg. 11).

Segue uma linha do tempo com datas relevantes e acontecimentos importantes para a

internet, de acordo com Magaly Prado (2011).

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1971: se inicia a produção digital em redações

1972 e 1973: criação do e-mail. Adoção de banco de dados pelo jornalismo, como no

caso do Philadelphia Inquirer. UPI (United Press International) e AP (Associated Press) são

exemplos de agência de notícia que adotaram a produção digital nesse período.

1974: a agência de notícias Reuters incorpora o uso do videotexto.

1975: surge o Altair. Prado apud Castells (2011) relata que o engenheiro Ed Roberts

construiu um computador primitivo chamado Altair (nome inspirado em um personagem da

série de TV Jornada Nas Estrelas). Apesar de rústico, o Altair era um computador de pequena

escala, dotado de microprocessador. Dessa forma, esse computador simples serviu como base

para o design dos Apples I e II, sendo que este último foi o primeiro microcomputador de

sucesso comercial, criado por Steve Wozniak e Steve Jobs na garagem da casa de seus pais,

no Vale do Silício.

1976: criação do Apple I e o microprocessador.

1977: criação do Apple II, com gráficos e disquetes.

1978: surgimento dos Bulletin Board Systems (BBS), sistemas de quadro de avisos,

que na prática funcionavam como fóruns eletrônicos primitivos. Apareceram inicialmente nos

EUA e depois se espalharam pelo mundo. Para funcionar, precisavam apenas de PCs,

modems e linhas telefônicas. Os diferentes fóruns eram classificados e acessados de acordo

com os interesses em comum entre os usuários.

1980: Minitel (rede nacional francesa de recuperação de informações) cria o

Columbus Dispatch via Compuserve, que se une à Associated Press em 1980. Publicação via

BBS pelo jornal regional News & Observer e publicação na AOL (América Online) pelo

jornal regional USA Today.

Meados de 1980: início do desenvolvimento do Linux, sistema operacional de código

fonte aberto e gratuito. Objetivo da comunidade Linux é a melhoria contínua do SO através de

uma programação coletiva e colaborativa entre os usuários que tiverem conhecimento técnico

para tanto.

1981: Castells apud Prado (2011) conta que neste ano a IBM lançou o Computador

Pessoal (PC), versão da empresa para o microcomputador. Entretanto, por ter sido criado com

base na tecnologia de terceiros, o PC foi clonado em larga escala, principalmente na Ásia.

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1982: TCP/IP (Transmission Control Protocol/Internet Protocol)

1983: PC é o Homem do Ano na Revista Time.

1985: Windows. Bancos de notícias online oferecidos por cerca de 50 jornais.

1988: “No Brasil, 1988 marca a união da UFRJ e da FAPESP com a Bitnet (acrônimo

para: Because It´s Time NETwork)”. (PRADO, 2011, pg. 14).

1989: criação do sistema de hipertexto por Tim Berners-Lee. Aparição da RNP (Rede

Nacional de Ensino e Pesquisa) e Alternex (primeiro provedor a permitir acesso às pessoas

físicas).

1990: invenção da WWW na Europa, no Centre Européen pour Recherche Nucléaire

(CERN) em Genebra. Criada por um grupo de pesquisadores do centro, comandado por Tim

Berners Lee e Robert Cailiau. No mesmo ano, aparece o primeiro motor de busca: Archie,

desenvolvido em Montreal, no Canadá. Castells apud Prado (2011) diz que a ferramenta foi

criada por Alan Emtage, um estudante da McGill University (universidade canadense).

1991: Gopher: “um protocolo de redes de computadores desenhado para indexar

repositórios, atuando assim como um mecanismo de busca de documentos na internet.”

(PRADO, 2011, pg. 17). Segundo Siqueira apud Prado (2011), foi em janeiro desse ano que a

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) estabeleceu a primeira

conexão à internet no Brasil.

1992: cobertura online da Eco-92. Destacam-se os sites da CNN e do Chicago

Tribune.

1993: Mosaic (primeiro navegador WWW, Pentium, a “quinta geração da arquitetura

x86 de microprocessadores criada pela Intel” (PRADO, 2011, pg. 17), e Mecanismos de

Busca (Spiders). Wired anuncia que sua publicação cibercultural é dedicada a Marshall

McLuhan. Publicações de destaque: Forbes, Time, e Noticias de Mérida (Venezuela).

1994: Barbrook apud Prado (2011) conta que 94 é o ano de lançamento do site da

Casa Branca. Aparece o navegador Netscape, Embratel cria a internet comercial. Rolling

Stones é a banda do primeiro show transmitido online. Lançamento do Telegraph.co.uk.

Chegada do Yahoo.

1995: Agência Estado é a primeira empresa brasileira de comunicação a ter um site.

No mesmo ano, o jornal Folha de S. Paulo lança a primeira página do jornal na internet.

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Windows 95, MSN e Internet Explorer (navegador da Microsoft). “Wall Street Journal e

Washington Post saem na frente e criam versões personalizadas.” (PRADO, 2011, pg. 20).

1996: The New York Times chega à internet.

1997: AOL atinge a marca de 10 milhões de assinantes. Surge o spam. Lançamento da

BBC News e o Drudge Report.

Em 1998, a Microsoft ganha ação em processo movido contra ela. O Drudge

Report [agência estadunidense de notícias via internet] publica Caso

Lewinski [Clinton negou, sob juramento, que tinha mantido relações sexuais

com a estagiária Monica Lewinski]. Temos o primeiro grande

engarrafamento na NET. O [jornal] The New York Times é atacado por

hackers. Temos apuração das eleições para presidente em tempo real. É

desse ano também o Internet Banking. E a Jovem Pan transmite on-line.

(PRADO, 2011, pg. 25).

1999: 3.250 jornais online. Aparece o Napster. Blogger.com (plataforma gratuita para

blogs) é lançado.

2000: no Brasil – iG e Último Segundo (criado em novembro de 1999, sua proposta

era a redação especialmente desenvolvida para a Web). Publicação de notícias online pela

Veja.

2001: Wikipedia.

2002: fotologs, Messenger e blogs.

2003: Lançamento do navegador Firefox pela Mozilla Foundation. Skype, iTunes e

RIAA (Associação da Indústria de Gravação da América) processando judicialmente usuários

da Web. Aparece o MySpace e as demais redes sociais, a partir dele.

2004: Orkut e Facebook. Wireless e webcams se tornam mais comuns.

2005: audiocast. Criação do YouTube por Steve Chen e Chad Hurley. Transmissão do

jornal noturno da CBS online e na TV, ao mesmo tempo. You Tube é vendido ao Google por

US$1,65bi.

2006: Twitter.

2007: Lançamento do iPhone. Google se torna a marca mais valiosa do mundo.

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A partir daí, a Web foi se estabelecendo como a conhecemos nos tempos

atuais. “A humanidade necessitava da orientação da elite cibernética para

alcançar a terra prometida. No momento em que todos tivessem acesso à

internet, a democracia participativa e a criatividade cooperativa seriam a

ordem do dia. (Barbrook apud Prado, 2011, 31).

Neste novo cenário, Prado (2011) identifica que o webjornalismo começou a se

consolidar a partir da segunda metade da década de 90, sendo o final dessa década a fase de

um estabelecimento mais abrangente dessa vertente jornalística - admissão de profissionais,

com investimento na boa remuneração dos mesmos, equipes maiores, entre outros. Neste

contexto, a web era a “Nova Economia” (PRADO, 2011, pg. 31). Sites webjornalísticos eram

a nova possibilidade de aposta para obter lucro.

A entrada das empresas na web foi sendo feita de modo cauteloso e lento. Afinal, a

internet era um território desconhecido, em que era necessário fazer testes e experiências, a

fim de saber se investimentos nesse novo segmento seriam rentáveis ou não.

As empreitadas no ambiente internético consistiam, inicialmente, numa simples

transposição do conteúdo impresso para a internet, sem nenhuma preocupação com a

linguagem própria que a web possui (até porque, dado o caráter desconhecido da internet,

ainda não havia sido descoberto sequer que a web tem uma linguagem própria, como acontece

com todos os diferentes meios). O leiaute das páginas era “muito feio” (PRADO, 2011, pg.

31) em comparação aos das páginas encontradas atualmente. Nem todos tinham a

preocupação de controlar o peso das fotos de forma a deixá-las “leves”, com a finalidade de

não atrapalhar o carregamento de um site, e até esse momento as fotos eram publicadas em

tamanho pequeno.

Os jornais, inicialmente, colocavam na internet suas principais matérias impressas.

Não havia atualização de informações no decorrer do dia, característica principal do

webjornalismo.

A internet, um ambiente novo, se mostrava promissor por não envolver custos altos e

possuir o atributo da facilidade. Sites que utilizavam cada vez melhor o potencial que a web

traz, como o dinamismo a possibilidade de disponibilizar conteúdos variados, eram a tradução

dos esforços das empresas de comunicação para aumentar os acessos a suas páginas. Foi aí

que as empresas de comunicação passaram a compreender que a web necessita de atualização

constante.

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Passado o período inicial de deslumbramento com as possibilidades internéticas (fins

de 99 e começo de 2000), as redações de webjornalismo passaram por modificações, como a

substituição de profissionais bem remunerados por funcionários contratados com um salário

bem mais baixo, ou por estagiários. No final de 2000, como o webjornalismo havia sido

superestimado e, portanto, não havia atingido as expectativas esperadas, nem os jornalistas em

cargos de diretoria escaparam das demissões em virtude da crise. Jornalistas conservadores, e,

portanto, contra a nova vertente web de jornalismo, observaram com satisfação a decepção

das empresas e profissionais que apostaram na novidade. “De modo geral, quando uma nova

tecnologia aparece, a demora em aceita-la é natural, até que se possa entender todas as suas

potencialidades e aplicações.” (PRADO, 2011, pg. 34). A esse período seguiu uma fase de

recuperação vagarosa, e a vantagem disso é que uma importante lição foi aprendida pelos

jornalistas: a de não arriscar em projetos hesitantes, utilizando o webjornalismo de forma mais

responsável e segura.

Nessa época, o webjornalismo sofreu, por exemplo, com as acusações de publicar sem

apuração, de consistir meramente numa sucessão contínua de cópia do trabalho alheio. É claro

que houve momentos de negligência, mas não em 100% dos casos. Mesmo nessa época, já

havia jornalistas da web que faziam seu trabalho de forma competente.

Prado (2011) relata que muitos canais suplementares (os mais ilustrativos e voltados

ao entretenimento) foram tirados da internet temporariamente para deixar os custos menores.

Obviamente, os canais de hard news foram mantidos nesse meio tempo. Houve cortes de

matérias exclusivas, e só a versão impressa ia para a versão online. Com a passagem da crise

webjornalística, os canais cortados voltaram a aparecer. No período de espera até que o

mercado se estabilizasse, houve tempo para preparar melhor os portais (melhorar o design,

arquitetura da informação, navegação, etc).

O panorama atual é o múlti (multimídia em diversas plataformas distintas). Destaque

para dispositivos móveis. No começo dos anos 2000, as rádios encontraram na web um

terreno fértil para continuar seu crescimento evolutivo.

Acontecem então mais mudanças no jornalismo, nos leitores e nos jornalistas. “Artigo

da AFP (Agence France Presse), publicado em 26 de outubro de 2009, fala de recuo na

circulação diária de jornais impressos nos Estados Unidos, mais de 10% em um ano, afetando

desde grandes jornais a tabloides.” (PRADO, 2011, pg. 36).

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Prado (2011) cita também um artigo do blogueiro Roy Greenslade no The Guardian,

segundo o qual os jornalistas americanos estariam ávidos para fazer jornalismo na internet.

Os dados aqui passam uma informação nítida: queda da tiragem e do interesse pelo

impresso, bem como interesse por parte de jornalistas no webjornalismo.

Percebendo essa nova tendência, o jornal O Estado de S.Paulo redefiniu

conjuntamente as versões online e impressa através de mudanças no projeto gráfico, em

março de 2010.

E as inovações não param por aí. The Times e Sunday Times, jornais britânicos do

empresário Rupert Murdoch, passaram a ter planos de acesso diário (1 libra) e semanal (2

libras), conforme noticiado em junho de 2010. Quem assinasse a edição impressa teria acesso

total aos sites de ambos os jornais.

A tendência de cobrar pelo conteúdo online se estendeu ao jornal francês Le Monde,

que desde 29 de março de 2010 oferece um pacote com acesso ao site, edição impressa e

acesso por iPhone. O leitor paga por esse pacote o valor de 19,90 Euros por mês durante três

meses. Passado esse período, o valor fica sendo 29,90 Euros. Quem quiser apenas o acesso

via iPhone desembolsa 15 Euros mensais. O francês Le Figaro incorporou o novo padrão de

mercado dando aos leitores três opções de pacote: o gratuito, que conta apenas com as

informações principais; o intermediário, pelo valor de 8 Euros mensais; e o Business, que

custa 15 Euros por mês.

Se aprofundar em todos os fatos que fazem parte da história da internet, e mais ainda,

do webjornalismo, é uma tarefa que preenche com folga todas as páginas de uma monografia.

Entretanto, por esse breve histórico, fica claro que as pessoas estão buscando mais informação

nos portais de notícia, e que as empresas de comunicação, em especial os jornais impressos,

vêm se adaptando ao novo modo de consumir material jornalístico, e tiveram de criar formas

para sobreviver nesse novo contexto, oferecendo ao usuário um conteúdo diferenciado,

dinâmico, sem jogar fora o jornal de papel, mas também sem abraçar totalmente os meios

eletrônicos de difundir notícias – cobrando, por tudo isso, é claro, de uma forma jamais vista

na história do jornalismo. A longo prazo, quais são as mudanças? E as consequências? Nos

capítulos seguintes, veremos como esse novo paradigma se desenvolve especificamente em

uma vertente jornalística: o jornalismo cultural.

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1.3 – EVOLUÇÕES SE CRUZAM: CULTURA, JORNALISMO E WEB

Agora que já traçamos um perfil histórico do jornalismo cultural e também do

webjornalismo, torna-se possível enxergar algum ponto em comum entre as duas vertentes.

Algum momento em que esses dois tipos de jornalismo se encontram, e de alguma forma se

complementam, se fundem e terminam por estabelecer uma relação parecida com a simbiose.

Duas pessoas diferentes que, encontrando alguma correspondência entre certas habilidades e

características, resolvem trabalhar juntas. Nesse caso, trataremos especificamente sobre como

podemos utilizar técnicas webjornalísticas (e seu vasto arsenal de equipamentos, aplicativos,

gadgets, internet e toda a sorte de parafernália tecnológica) em prol de melhorias palpáveis, e

que principalmente estimulem de forma mais interessante os sentidos do leitor. Que o façam

de certa forma, sentir quase o mesmo que sentiu o repórter ao fazer a cobertura de um show

musical. Ou quem sabe possa compartilhar das impressões do jornalista quando leu

determinado livro. E por que não poderia o leitor, tendo um contato mais aprofundado com a

notícia, discordar da crítica feita pelo jornalista cultural? Por que não poderia ele contestar?

Opinar? Fazer com que sua opinião seja vista por milhares, milhões de leitores, com os quais

poderia iniciar um debate acerca do assunto da matéria? Poderia o leitor interagir com o

jornalista? Indo mais longe, podemos pensar em um profissional chamado webjornalista

cultural? O arsenal do webjornalista é incrivelmente vasto. E é possível utilizá-lo para as mais

diversas vertentes jornalísticas. Esta obra focará em como é possível usar este arsenal na

cobertura da notícia cultural.

Também a Internet, na peneira, tem servido como caminho alternativo

para o jornalismo cultural. Embora as tentativas de revistas culturais

com alguma inteligência e sofisticação tenham fracassado ao apenas

“empatado”, esbarrando em questões e escala e financiamento, além

de prescindirem do prazer táctil e prático que existe nas edições em

papel, a demanda por esses assuntos é inequívoca. Incontáveis sites se

dedicam a livros, artes e ideias, formando fóruns e prestando serviços

de uma forma que a imprensa escrita não pode, por falta de

interatividade e espaço. (PIZA, 2011, pg. 31).

E quais seriam esses “serviços” que a imprensa escrita não consegue oferecer ao leitor,

por falta de interatividade e espaço? Quanto à interatividade, podemos tanto imaginar um site

hipotético quanto pensar nos já existentes. A questão da criação de fóruns é óbvia, uma vez

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que qualquer portal com um sistema de comentários encerra em si um espaço em potencial

para discussão acerca do tema em questão. O leitor, caso queira, tem a possibilidade de deixar

registrada sua opinião logo abaixo da matéria que acabou de ler. Interatividade. Se o jornalista

que escreveu a matéria julgar relevante, ele pode responder o comentário de seu leitor. Mais

interatividade. Um outro leitor, que tenha também lido a matéria e o comentário do leitor

anterior, pode partilhar da mesma opinião e tornar essa ideia pública através de um

comentário. Mas também pode ter uma opinião divergente, que entre em choque com a

opinião do primeiro leitor. Se houver disposição de ambas as partes, esses leitores podem

iniciar um debate, tendo como suporte o sistema de comentários da página. Interatividade

outra vez. Por esse motivo, e sob essa ótica, podemos afirma que o ambiente web possibilita,

em boa medida, a quebra do paradigma do receptor passivo. No caso do impresso, há uma

forma de interação muito limitada e não instantânea: as cartas. Que demoram a chegar ao

jornal ou revista. Levam tempo até serem lidas e analisadas, e mais tempo é gasto com a

definição de quais cartas de leitor serão publicadas, uma vez que o espaço do impresso é

finito. Por outro lado, com a internet, o leitor tem a possibilidade de ver seu comentário

publicado instantaneamente (a menos que o portal conte com algum sistema de moderação de

comentários, que precisam passar pela avaliação e aprovação do webmaster). Agora, pense

em como o jornalismo cultural pode enriquecer seu trabalho, levando em consideração

simplesmente o fator interatividade.

“O hipertexto, ou a escrita não sequencial com liberdade de movimentação entre os

links, é uma ideia simples e óbvia. É apenas a versão eletrônica das conexões literárias tal

como já as conhecemos.” (Nelson apud Prado, 2011, pg. 48). Apesar do princípio simples, o

hipertexto traz em si uma ideia sedutora. Ideia que também é uma possibilidade. A

possibilidade de levar o leitor a qualquer lugar da internet. De mostrar ao leitor algum

conteúdo relevante. Desde que se tenha a URL do material para o qual se deseja apontar. A

vantagem disso (aqui, mais uma vez sob a ótica do jornalismo cultural) é que obras culturais

citadas, que no impresso eram meramente nomes entre aspas, na web têm a possibilidade de

ganhar vida. Caso seja citado determinado livro, por exemplo, pode-se deixar um link para

uma resenha dessa obra literária. Pode-se remeter o leitor para uma página autônoma do site,

que, a critério do webmaster, conterá mais links para notícias correlatas, para materiais

suplementares, porém não menos relevantes (o que no impresso podemos identificar como o

conteúdo dos boxes), ou então, caso pertinente, pode haver o link de download para a versão

PDF do livro (obviamente, é preciso atentar ao fato de se estar ou não violando direitos

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autorais). Indo ainda mais longe, em uma entrevista com um cantor, o link pode apontar para

um vídeo no You Tube. Para o MySpace do artista, no qual está hospedado o arquivo de

áudio que representa um novo single, uma reviravolta na carreira desse artista, ou mesmo uma

reviravolta para algum cenário musical. Mais uma vez, pense no leitor tendo contato não com

palavras que despertam lembranças vagas, estranhamento ou façam o leitor virar a página por

não estar entendendo nada. Caso não conheça determinada passagem, ou deseje aprofundar

seu conhecimento a respeito do termo em questão, através de um clique o próprio internauta

poderá, dependendo da arquitetura de informação do portal, efetuar uma leitura não-linear.

Caso o conteúdo seja hierarquizado, separado, catalogado e etiquetado (tagueado) de forma

eficaz, o leitor terá autonomia para ir direto ao que lhe interessa, evitando perder um tempo

enorme num bloco de texto maior ainda até encontrar a passagem que lhe convém. Mais um

gadget poderoso no cinto de utilidades do jornalista cultural.

O Guia de Mídia Digital dá um exemplo de como conseguir fontes através

de redes sociais. A pauta era falar com personagem que estivesse

encalacrado no trânsito no meio de uma tempestade de neve. Ambiente

propício para tuitar, por exemplo; afinal, o microblog foi criado

primeiramente para funcionar em dispositivos móveis, como o celular.

Enfim, não demorou muito e a jornalista (da matéria da neve) postou

dizendo do que precisava e recebeu retorno imediato via Twitter. (PRADO,

2011, pg. 52).

Temos aqui o retorno da sempre presente discussão sobre microblogs e redes sociais.

Em especial o Twitter desponta com uma ferramenta imbuída do espírito jornalístico (passar

uma informação completa com apenas 140 caracteres requer um esforço de hierarquização,

domínio da língua empregada e, sobretudo, do velho conceito de pirâmide invertida,

habilidades de um bom jornalista). Franco (2008) nos conta que o Twitter é extremamente

jornalístico justamente por conta do caráter imediatista e instantâneo da informação. Uma

pessoa que esteja em um show musical, e que presencie algum fato interessante no evento, ou

mesmo um acidente que ali ocorra, pode, com a maior facilidade, sacar seu smartphone,

publicar a “manchete” através de sua conta no Twitter e dar um furo jornalístico. Isso mesmo.

Um furo, digno de jornalista, mesmo sem ter qualquer conhecimento específico na área. Se o

Twitter já é poderoso nas mãos do cidadão comum com o mínimo de sensibilidade para intuir

que algo que esteja ocorrendo é notícia, as possibilidades são amplificadas quando o mesmo

smartphone do exemplo está nas mãos de um jornalista. Note que, com tão poucos caracteres

disponíveis para transmitir informação, o Twitter obriga que a pessoa seja o mais direta e

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concisa que conseguir. É esse o indício de uma linguagem própria, diferente do meio

impresso? Podemos dizer que sim.

Seguindo a mesma lógica do Twitter, o status do Facebook é outra ferramenta valiosa,

conforme explica Franco (2008). Esse tipo de atualização do Facebook está sendo usado

como um microblog. A vantagem é que o emissor, neste caso, possui um público já

conquistado, que são os contatos do perfil/página do veículo nessa rede social. Ferramenta

que exige concisão.

Existem diversos outros exemplos, um para cada ferramenta que o universo internético

colocou à disposição do jornalista atual. A intenção aqui é analisar algumas ferramentas do

suporte digital até chegar à principal delas para esta obra: o blog. Lembrando sempre de

apontar sua usabilidade para o jornalismo cultural. Mas essas e outras indagações serão

discutidas no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 2 – FERRAMENTAS DIGITAIS PARA O JORNALISMO

CULTURAL

A vida digital com sua virtualização, seu hipertexto, alinearidade e mudança

de papeis na autoria foram aprimoradas graças às inovações tecnológicas.

Dentre elas se encontra a chamada web 2.0, que integra recursos e conceitos

como open source, código aberto ou software livre. Ferramentas de vital

importância para a ampliação da produção de informação na internet.

(VITOL, 2008, pg. 33).

O material gerado pela produção jornalística precisa ser formatado de acordo com o

tipo de mídia no qual ele será veiculado. Web, rádio, TV ou impresso, cada uma dessas

mídias possui particularidades, regras próprias que dizem ao jornalista como inserir nelas seu

material jornalístico. Conhecê-las é imprescindível.

Especificamente falando da web, padrões foram e vêm sendo estabelecidos, a fim de

que o leitor de sites/blogs noticiosos possa localizar com maior facilidade as informações que

procura. E além das páginas de conteúdo jornalístico, que por si só já são ferramentas digitais

para difundir informações, temos também diversas outras ferramentas presentes na internet

que ajudam o jornalista na elaboração de pautas, checagem de informações, entrevistas e

outras etapas do trabalho jornalístico, que nem sempre estão visíveis ao leitor.

Trataremos neste capítulo sobre os blogs, e as possíveis formas de utilizá-los no

jornalismo cultural, além de uma série de outras ferramentas digitais. Todos esses fatores

juntos contribuem para facilitar o trabalho do jornalista e disponibilizar matérias culturais

com maior qualidade para o leitor – no contexto da internet.

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2.1– BLOGS

O uso de blogs, redes sociais como Orkut ou Facebook, wiki, Twitter, entre

outras ferramentas da web 2.0, tenta trazer para o cotidiano do jornalismo o

diálogo possível, numa interação quem sabe mais “real” e profunda com o

leitor/ouvinte/espectador – que também, cada vez mais, assume para si o

papel de interator. (BLASQUES, 2010, pg. 3).

Inicialmente, podemos dizer que blogs são páginas da internet que abordam

determinado assunto. No entanto, um site poderia ser definido exatamente da mesma forma,

sendo essa definição superficial demais. Franco (2008) define os blogs como um tipo de

página da internet entre vários outros tipos. Mas com características únicas, que nos permitem

diferenciar um blog de um site.

“Os blogs, em essência, liberam o autor/editor de fazer o design: basta criar o

conteúdo, clicar e já está publicado na rede. Foi essa facilidade de criação e uso que os tornou

muito populares” (FRANCO, 2008, pg. 154).

Uma importante característica dos blogs é a facilidade de uso: o autor encontra à sua

disposição modelos prontos de design, bastando apenas escolher algum que seja adequado

para o tipo de conteúdo que se pretende publicar. O autor também não precisa ter

conhecimentos em webdesign/criação de sites, embora precise desses conhecimentos caso

queira fazer personalizações muito específicas em seu blog. O fato dos blogs não exigirem

nenhum conhecimento técnico aprofundado faz com que eles democratizem o acesso à

publicação de informações na internet.

De acordo com Franco (2008), blogs são versáteis por poderem abrigar diversos tipos

de conteúdo, como um parágrafo, o capítulo completo de um romance ou um texto mediano

com ou sem a estrutura de pirâmide invertida. Textos breves são ideais para o ambiente web,

seja para blogs ou sites, uma vez que são mais lidos em comparação a textos longos.

Para Briggs (2007), blogs são algo tecnologicamente avançado, de vanguarda,

revolucionários. Possuem atributos como rapidez, interatividade e liberdade, podendo ser

perigosos. São páginas da web que progressivamente adquirem força e influência. Vejamos

algumas de suas características:

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1- Jornal online de atualização constante (ao menos diária). Estilo de escrita informal.

Posts (como são chamadas individualmente as publicações de um blog) listados do mais

recente para o mais antigo.

2- Uso de links que apontam para informações disponíveis na internet, analisadas por um

blogueiro ou possivelmente uma equipe de blogueiros.

3- Sistema de comentários que permite aos leitores opinar a respeito das postagens,

possibilitando certo grau de interatividade para o público. O editor do blog pode optar por

permitir ou não comentários dos leitores, bem como ativar um recurso de moderação de

comentários - que nesse caso são publicados apenas após a aprovação do responsável pelo

blog -, estabelecer regras para comentários ou até mesmo excluí-los caso não sejam

pertinentes à postagem ou forem considerados ofensivos.

2.1.1 – PLATAFORMAS DE BLOG

De acordo com Crucianelli (2010), as plataformas de blog mais populares são Blogger

e Wordpress. A seguir, vejamos o que cada uma delas oferece:

Blogger: a plataforma mais simples de usar. Não exige conhecimentos específicos de

criação de páginas web. Aos modelos de design (chamados de templates) pode-se adicionar

uma vasta gama de elementos com funções distintas.

Wordpress: a plataforma mais difícil de manusear. Serve para criar e gerenciar blogs,

e constitui um sistema de gerenciamento de conteúdo, que, com download, permite

administrar sites. Esse software é open source: licença livre com permissão para alteração do

código. O crescimento da plataforma deve-se, entre outros motivos, ao grande número de

funcionalidades, versatilidade quando consideramos a qualidade, e também a comunidade de

usuários que ajudam a tornar o Wordpress popular. Destaca-se a oferta de modelos para essa

plataforma. Para blogs jornalísticos, é a ferramenta mais utilizada.

Outras plataformas de blog: LiveJournal, Webs e Blogia.

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2.1.2 – ORIENTAÇÕES GENÉRICAS

“Os textos num blog devem ser rápidos e objetivos: vá direto ao ponto e depois saia de

lá” (BRIGGS, 2007, pg. 59). Em outras palavras, publicar conteúdos em um blog exige

capacidade de concisão e objetividade, de modo que o resultado seja um texto curto, e que

contenha apenas a informação essencial. Caso o jornalista-blogueiro julgue necessário, pode

deixar informações mais aprofundadas para links que apontem para outras páginas do mesmo

blog ou outros locais da web.

Pensar no blog como um e-mail enviado para um conhecido é uma boa forma de

entender a mecânica envolvida no processo de blogar, na concepção de Briggs (2007). Uma

vez que os leitores de um blog sabem que o autor entende de um determinado assunto, não é

necessário provar tudo o que se escreve. É possível ser muito mais coloquial do que no caso

de uma matéria jornalística, e a possibilidade de escrever textos curtos combina perfeitamente

com o ambiente web.

Foco é uma característica importante para atrair eficientemente algum público-alvo e

fazer do blog uma referência no tema sobre o qual trata. Briggs (2007) afirma que o ideal é

que o blog seja focado em um assunto apenas. Dessa forma, o público entenderá melhor o

tema do blog, e o jornalista-blogueiro terá mais chances de se tornar uma fonte credenciada e

respeitada de algum tema específico.

Quanto à frequência de atualização, Briggs (2007) recomenda que isso ocorra ao

menos uma vez por dia, o mínimo para quem deseja formar uma audiência cativa. Uma

frequência de atualização de várias vezes ao dia se justifica pelo fato de, diariamente,

ocorrerem diversos acontecimentos dentro da área coberta pelo blog.

Uma das formas de encontrar tempo para várias atualizações diárias é fazer com que o

blog trabalhe para o jornalista-blogueiro. O modo de fazer isso é utilizar o blog para divulgar

notas e ideias para matérias, ajudando o jornalista a planejar seu trabalho jornalístico.

Conseguindo muitos leitores, a tendência é que eles, através de comentários, opinem sobre o

que o jornalista pretende fazer, permitindo que o produto jornalístico final seja cada vez mais

interessante para quem o lê. Essa estratégia também permite que o jornalista aprenda o que é

interessante para seus leitores, dentro da área que se cobre.

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2.1.3 - TÍTULOS

Mais do que nomear um texto, títulos na internet são úteis para dizer ao leitor se

aquele conteúdo é ou não o que ele procura. Para Franco (2008), é um recurso que advertirá

ao usuário o que ele encontrará no texto. Um bom título é especialmente útil para resgatar um

texto pobre, principalmente quando aparece em ambientes como resultados de motores de

busca, e-mails e RSS.

No momento da elaboração de títulos, existem palavras que não funcionam caso

colocadas no início. Os artigos (o, a, os, as...) são as piores escolhas para começar um título,

intertítulo ou itens de enumeração, sendo altamente descartáveis quando é necessário cortar

palavras de um texto em casos de campos com limite de caracteres.

Não começar com expressões de ligação, como: além disso, a saber, agora,

ainda que, aliás, ao menos, aparentemente, apesar disso, assim, até certo

ponto, certamente, com efeito, contudo, de fato, de toda forma, depois de

tudo, dito isto, em troca, em consequência, em uma palavra, enfim, em

princípio, ou seja, isto é, finalmente, mais ainda, mas, melhor dizendo, na

verdade, não obstante, ou seja, por conseguinte, portanto, por exemplo, por

ora, por outro lado, por último, pois bem, porém, vale dizer. (FRANCO,

2008, pg. 103).

Briggs (2007) defende a tese de que os títulos, na blogosfera, devem ser objetivos.

Blogueiros inexperientes tendem a escrever em seus blogs de modo exageradamente

irreverente, principalmente nos títulos, algo que deve ser evitado. A boa manchete de blog

deve antecipar o conteúdo do texto de forma atrativa e convincente.

2.1.4 OTIMIZAÇÃO PARA MOTORES DE BUSCA

O modo como um texto para a web é escrito influencia diretamente em sua colocação

(ranking) nos resultados de motores de busca. No caso do Google, Franco (2008) afirma que o

site classifica os resultados das buscas levando em consideração mais de 200 elementos

diferentes. Vejamos a seguir alguns deles.

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A. Uso de palavras-chave no corpo do texto: utilizar ao longo do texto palavras-chave

que tenham relação com o tema central do conteúdo. Isso ajudará os buscadores a identificar

sobre o que o texto fala, bem como melhorar sua colocação no Page Rank (ranking de

páginas).

B. Relação do conteúdo do corpo do texto com as palavras-chave: Obviamente, o

conteúdo de uma página deve ser pertinente às palavras-chave buscadas.

C. Palavras-chave em negrito/Strong Tags: quando o autor coloca em negrito as

palavras que julga relevantes, ele efetivamente faz com que essas palavras ganhem maior

destaque na análise da página.

D. Uso de palavras-chave no título da etiqueta (a tag): criar e aplicar tags com termos

de busca. O fator mais importante de SEO (Search Engine Optimization, otimização para

buscadores). Um meio eficiente para definir as palavras usadas nas tags é escrever o conteúdo

web seguindo o esquema da pirâmide invertida. Dessa forma, as informações mais

importantes se concentrarão no primeiro parágrafo, bem como as possíveis palavras-chave do

texto.

2.1.5 ORDEM DOS ELEMENTOS DA FRASE

Os conteúdos web requerem uma atenção especial quanto à ordenação dos elementos

da frase.

Percebemos que, quando se olha os parágrafos que seguem os títulos nas

páginas iniciais de notícias, com frequência se olha só o terço esquerdo

deles. Noutras palavras, a maioria das pessoas olha apenas o primeiro par de

palavras – e só continua lendo se é animada por elas. (Outing; Ruel apud

Franco, 2008, pg. 94).

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Sendo assim, quem escreve para a web tem apenas duas palavras para capturar a

atenção do usuário. Em caso de insucesso, ele irá procurar outros textos no mesmo blog/site

ou até mesmo pode acessar outra página. Baseado nisso, Franco (2008) recomenda que o

editor do conteúdo escolha as palavras da frase que sejam mais relevantes e as coloque no

início (especialmente em títulos e no primeiro parágrafo do lead). Essa técnica aumenta as

chances do texto cativar o usuário. Como não há regras definidas sobre quais palavras devem

ser favorecidas, essa é uma avaliação subjetiva, em que conta a sensibilidade do editor para

definir quais as palavras mais importantes em cada texto.

2.1.6 VOZ PASSIVA

Uma forma de dar maior ênfase à determinada parte da frase é escolhendo qual será o

sujeito gramatical. Gaya apud Franco (2008) exemplifica o caso com o seguinte exemplo:

- O marceneiro construiu o armário em uma semana

- O armário foi construído em uma semana pelo marceneiro

As duas orações têm o mesmo significado. No entanto, a primeira dá maior ênfase ao

marceneiro, e a segunda tem como foco de atenção o armário produzido pelo mesmo

marceneiro. Gramaticalmente falando, na segunda oração o objeto foi convertido em sujeito

gramatical, e o sujeito em agente da passiva.

E qual é a vantagem da voz passiva para o conteúdo web? De acordo com Franco

(2008), a utilização da voz passiva permite transferir os termos mais importantes para a

esquerda de títulos, parágrafos que seguem e os leads (posição em que a informação relevante

ganha visibilidade), deixando mais fácil para o usuário selecionar as informações que o

interessam. Essa técnica constitui uma estratégia de SEO (Search Engine Optimization –

otimização para motores de busca).

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2.1.7 DOIS PONTOS

Franco (2008) afirma que os dois pontos podem ser usados quando o autor do texto

deseja fazer uma afirmação sobre o assunto. Os termos que devem estar antes dos dois pontos

são os mais importantes na concepção do autor: as palavras que têm maior potencial para

chamar e prender a atenção do leitor, de forma que ele leia pelo menos o lead. Além disso,

essa é uma técnica muito utilizada em publicações impressas para reduzir o tamanho dos

títulos, algo extremamente útil para passar mais informação com menos palavras e também

inserir conteúdo em campos com limitação de caracteres (Twitter, dispositivos móveis, etc).

2.1.8 NEGRITO

Mais do que uma simples opção de formatação, “o negrito é um recurso de

diferenciação por cor” (FRANCO, 2008, pg. 146). Seus possíveis usos são diferenciar

perguntas dentro de uma entrevista, destacar as primeiras palavras de itens quando são feitas

enumerações, ou até mesmo dar maior ênfase a palavras/frases inteiras dentro de um texto.

Definir quais termos serão negritados é uma tarefa do editor web.

2.1.9 ENTREVISTAS PING-PONG PUBLICADAS EM BLOGS/SITES

Em comparação a publicações impressas, as entrevistas ping-pong apresentadas em

blogs/sites precisam de alguns cuidados especiais quanto à sua estruturação, repetição

desnecessária de informações e outros quesitos. Franco (2008) expõe algumas diretrizes úteis

para otimizar entrevistas ping-pong para a web:

A. Conservação do formato pergunta-resposta e identificação das perguntas com

negrito. Caso o editor estiver adaptando uma entrevista ping-pong de uma publicação

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impressa e as perguntas originalmente foram formatadas em itálico, deve-se colocá-las em

negrito (itálico não é recomendado para a internet por dificultar a leitura).

B. Seleção de somente um dos assuntos abordados na entrevista para começar o

texto, e desenvolvimento imediato do mesmo. A fim de evitar repetições, devem-se eliminar

introduções que resumem os tópicos tratados com o entrevistado ou antecipam suas

declarações, que voltam a aparecer na entrevista propriamente dita (técnica do jornalismo

impresso que deve ser evitada na web). As perguntas devem ser dispostas na página em

ordem de relevância decrescente (hierarquização de pirâmide invertida), podendo ser

necessário reordenar as perguntas.

C. Declarações colocadas entre aspas e atribuídas imediatamente ou em frases

seguintes. Fórmula de abertura mais fácil.

D. Criação de transição natural entre o tema de abertura e o formato ping-pong. A

forma mais indicada para isso é perguntar ao entrevistado a respeito do tema escolhido para

iniciar o texto. Pode-se também fazer uma caracterização da pessoa entrevistada e explicar o

porquê dela ter sido escolhida para responder perguntas.

E. Identificação, no início da primeira pergunta e da primeira resposta, do nome do

veículo/meio de comunicação e do entrevistado, respectivamente. Na sequência, o negrito

sinalizará as perguntas do veículo ao entrevistado, e o texto normal identificará as respostas.

F. Divisão temática das perguntas, identificadas por intertítulos. Caso seja possível

classificar as perguntas por tema, o resultado será um texto escaneável, em que o usuário

poderá visualizar com facilidade os temas abordados e ler primeiro os que julgar mais

interessantes. Caso o leitor escolha ler apenas alguns trechos da entrevista, a divisão temática

das perguntas assegura que o usuário terá deixado a página com as informações que ao

critério dele são mais relevantes.

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G. Verificar o tamanho dos parágrafos e orações. O objetivo é que não sejam

grandes demais. Ao dividir frases grandes em várias mais curtas, é necessário atenção para

não deturpar as ideias do entrevistado.

H. Evitar o clichê “Em entrevista exclusiva”.

I. Utilização cautelosa do negrito nas respostas do entrevistado. O uso

indiscriminado desse recurso pode confundir o leitor, uma vez que as perguntas, de acordo

com essas diretrizes, já são apresentadas em negrito.

2.1.10 ENTREVISTAS PING-PONG NO JORNALISMO CULTURAL

Piza (2011) dá alguns alertas quanto às entrevistas no formato pergunta-resposta

(ping-pong), tais como a necessidade do jornalista cultural se preparar previamente para a

entrevista, a fim de não perguntar a respeito de informações que poderiam ser obtidas através

de uma pesquisa; e não fazer perguntas inúteis. É comum no Brasil o receio de questionar o

entrevistado sobre críticas anteriores, fazendo-o defender-se delas, e também insistir que o

entrevistado esclareça o que disse, quando o mesmo foge das perguntas se utilizando de

evasivas e vaguezas.

Outro erro digno de nota é fazer as mesmas perguntas que outros jornalistas fizeram

em outras entrevistas, ou seja, fazer perguntas clichês. Quando se trata de alguma celebridade,

os fãs não querem necessariamente saber sobre todos os aspectos de sua vida ou o que ela

pensa sobre todo e qualquer assunto imaginável. No caso de uma entrevista com um grande

escritor, por exemplo, o jornalista cultural precisa ler seus principais trabalhos e entrevistas

anteriores, para que as perguntas feitas sejam originais e acrescentem algo de novo. Do

contrário, perderá credibilidade diante da pessoa que irá entrevistar. “Há muitas histórias de

entrevistados que mandaram o repórter dar meia volta ao perceberem que não tinham feito a

lição de casa.” (PIZA, 2011, pg. 85).

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2.1.11 DEZ DICAS: JORNALISMO CULTURAL

Piza (2011) enumera dez dicas para auxiliar o trabalho do jornalista em entrevistas e

reportagens no jornalismo cultural:

1. Sempre checar informações. Perguntar qualquer coisa a qualquer pessoa. Contrastar

pontos de vista.

2. O texto precisa de uma abertura atraente, levando o leitor ao ponto principal da

matéria com rapidez.

3. As informações do texto precisam estar amarradas umas às outras, para dar ritmo e

agilidade ao texto, sem que isso sacrifique as informações que a matéria contém.

4. O mais importante vem primeiro, os dados devem ser hierarquizados. De todo o

material jornalístico obtido, deve-se selecionar o que é mais interessante ao leitor

(naturalmente, isso significa que alguns dados apurados não devem ser publicados). É

necessário ser o mais preciso possível (“nos últimos quinze dias” é melhor do que

“ultimamente”). Determine o tamanho do parágrafo pela necessidade: se com um determinado

número de linhas a ideia ainda não foi explicada satisfatoriamente, ainda não é hora de

começar outro parágrafo.

5. Evitar expressões clichês (“procurar uma agulha num palheiro”, “final comovente”,

“cena intrigante”, etc.).

6. Título, foto, legendas e outros elementos devem estar coerentes com o texto, e a forma

de garantir isso é o jornalista interagir com a diagramação.

7. Uso de verbos como “ironiza” ou “alfineta” devem ser usados apenas quando o que o

entrevistado disse não mostrou o sentido contextual de sua declaração. Dar preferência ao

verbo “diz”, já que não há a necessidade de usar “afirma” ou outros sinônimos quando o autor

da fala pode ser identificado pelo contexto.

8. Jargões de um setor específico devem ser traduzidos sempre que houver essa

possiblidade. A exposição do assunto de forma inteligível é o que realmente demonstra

familiaridade com o tema tratado.

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9. No jornalismo cultural é permitido o uso de metáforas, riqueza verbal e humor

(diferentemente de outras vertentes jornalísticas). Texto e edição devem ser criativos. Dessa

forma, manuais de redação são apenas para que haja um ponto de referência, um meio de

padronização.

10. O texto precisa de um fecho.

2.1.12 LINKS

Franco (2008) define os links como um modo de ligar duas partes de um mesmo

documento ou dois documentos, como, por exemplo, textos, fotos, vídeos e outros tipos de

conteúdo. É possível direcionar o usuário para outra página do mesmo blog/site, a outra

página da internet, a um recurso multimídia e diversas outras possibilidades. Uma vez que os

links com frequência se destacam do texto que os rodeia através de uma cor diferenciada,

terminam por chamar a atenção e cumprem sua função inicial: serem clicados.

Através do uso de links, é possível dispor a informação em diferentes estratos: a

página principal pode ser usada para dados gerais, direcionados ao usuário que deseja apenas

saber o principal daquela notícia/tema. A informação aprofundada (que obviamente não irá

interessar a todos os leitores) pode ser publicada em uma página autônoma, e ligada à página

principal por intermédio de um link. Essa página com informação aprofundada, por sua vez,

pode conter links que direcionem a camadas ainda mais profundas de informação. Desse

modo, o leitor não precisará passar por todos os estratos de informação para encontrar o que

realmente lhe interessa. Só terão contato com as camadas de informação mais detalhada os

leitores que realmente tiverem interesse (os que se dispuserem a clicar nos links).

De acordo com Briggs (2007), links são uma forma eficiente do jornalista-blogueiro

citar suas fontes. Os melhores posts são os que contêm diversos links para outros sites, artigos

ou até mesmo outros blogs.

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2.2 – FERRAMENTAS DIGITAIS

O jornalismo digital representa a adaptação de uma modalidade

específica de conhecimento da realidade a um novo suporte

comunicacional, a tecnologia de transmissão digital de informações. A

definição do tipo de informação depende da forma de codificação dos

seus sinais. A informação digital designa a informação codificada por

algarismos decimais, ou mais geralmente, unidades binárias, os bits.

(PALACIOS; GONÇALVES, 1997, pg. 3).

A internet, com seu número gigantesco de páginas, reúne em si as mais diversas

ferramentas que podem e devem ser utilizadas pelo jornalista. As que veremos aqui facilitam

processos de apuração de informações, obtenção de documentos importantes, recuperação de

informações na web (mesmo que tenham sido excluídas ou estejam na Deep Web), entre

outras funções. Crucianelli (2010) enumera algumas ferramentas digitais úteis ao jornalista:

1. Motores de Busca: sua principal utilidade reside em recuperar informações.

Incorporam inclusões de milhões de páginas na internet, mostrando o local específico da web

que apresenta os termos inseridos para busca. O mais utilizado no mundo é o Google, apesar

de existirem diversos outros. Para a obtenção de imagens, o Bing se mostra uma eficiente

opção, dada a qualidade conseguida em buscas desse tipo.

2. Metabuscadores: buscadores avançados, que funcionam através do cruzamento de

informações por intermédio de buscadores trabalhando paralelamente. O Metacrawler

(http://www.metacrawler.com/), por exemplo, procura termos em diversos motores de busca

diferentes.

3. Pesquisa avançada do Google: útil quando se deseja obter melhores resultados nas

buscas por um tema específico. Disponível em: <http://www.google.com/advanced_search>

4. Localizando sites desaparecidos ou modificados: a Wayback Machine, hospedada

no Internet Archive (www.archive.org) é uma ferramenta eficiente para esses casos.

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5. Buscadores de blogs: buscadores especialmente focados em localizar blogs e

informações específicas dentro de páginas desse tipo.

Blogpulse: http://www.blogpulse.com

Icerocket: http://icerocket.com/

Technorati: http://technorati.com/

Twingli: http://www.twingly.com/search

BlogSearchEngine: http://www.blogsearchengine.com/

BlogDigger: http://www.blogdigger.com/index.html

6. Download gratuito de e-books e livros: para pesquisa e download desses tipos de

publicação.

JustFreeBooks: http://www.justfreebooks.info/es/

BookonHand: http://libros.bookonhand.com/

Book Finder: http://www.bookfinder.com/

BookFactory: http://www.booksfactory.com/

LibrosGratis: http://www.librosgratisweb.com/

Edom: http://www.edom.co.uk/ebooks/

PDFEbooks: http://search-pdf-books.com/

EbooksSearch: http://www.ebook-search-engine.com/

VirtualBooks: http://www.virtualbooks.com.br/ (em português)

7. Encontrando documentos em formatos específicos:

A. Em PDF

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1- http://www.pdfgeni.com/

2- http://www.pdfoo.com/

3- http://www.pdf-search-engine.com/

4- http://buscador-pdf.com/

5- http://pdfdatabase.com/

6- http://www.pdf-search-online.com/

7- http://www.pdfsearchengine.com/

B. Em Excel: http://www.data-sheet.net/

C. Em PowerPoint:

Slide Share: http://www.slideshare.net

Scribd: http://www.scribd.com

8. Buscando imagens:

Google Images: http://images.google.com/

Flickr: http://www.flickr.com

Flickr Babel: http://www.flickrbabel.com/es/

Picasa: http://www.picasa.com

TinEye: http://tineye.com

9. Encontrando vídeos:

YouTube: http://www.youtube.com

Google Videos: http://video.google.es/

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Yahoo Videos: http://br.video.yahoo.com/

Truveo Video Search: http://www.truveo.com/

Blinkx: http://www.blinkx.com/

Vodpod: http://www.vodpod.com

Daily Motion: http://www.dailymotion.com/

YaTv: http://www.yatv.com/

TUTV: http://www.tu.tv/

Fooooo: http://pt.fooooo.com/

10. Encontrando áudio e som:

FindSounds: http://www.findsounds.com/

Archive: http://www.archive.org

Radioteca: http://www.radioteca.com/

Radialistas: http://www.radialistas.net/

Odeo: http://www.odeo.com/

Gengibre: http://www.gengibre.com.br

11. RSS: sigla para Really Simple Syndication, ou Distribuição Realmente Simples. O

que um sistema RSS efetivamente faz é trazer ao usuário informações atualizadas toda vez

que há conteúdo novo disponível em uma página da internet. Caso o blog/site possua esta

funcionalidade, basta clicar na opção “Feed RSS” ou similar para que o recurso apareça no

menu do navegador. Clicando-se na opção correspondente com o botão direito do mouse, na

pasta Propriedades, torna-se visível a URL do canal de feed. É assinado, assim, o que se

chama de feed de notícias do conteúdo desejado. A vantagem é que os usuários simplesmente

fazem uma assinatura dos conteúdos que lhes interessam, são notificados quando há algo de

novo e recebem essas informações, sem precisar buscá-las.

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Apesar de existirem vários formatos de feed, o mais importante é o Atom, que faz uso

do Blogger, plataforma do Google para criação de blogs. Entre os leitores e buscadores de

feed RSS, destaca-se o Google Reader.

12. Publicando e compartilhando documentos: partindo do conceito de jornalismo

online colaborativo, essas ferramentas permitem criar documentos nos formatos

convencionais, armazená-los na nuvem e compartilhá-los com outros usuários. É possível

regular os níveis de compartilhamento de arquivos, que podem ser apenas para leitura, ou dar

permissão para edições, por exemplo.

Google Docs

Zoho: http://www.zoho.com

Show Documents: http://www.showdocument.com

DocShare: http://www.docshare.com/

Edocr: http://www.edocr.com/

Issuu: http://issuu.com/

DocsToc: http://www.docstoc.com/

ViewDocsonline: http://www.viewdocsonline.com/

13. Enviando e-mails pesados e/ou anônimos: há casos em que é necessário anexar

documentos de tamanho muito grande e/ou enviar arquivos de forma anônima (o que não é

possível com os servidores de e-mail convencionais, que não dão suporte ao envio de arquivos

muito grandes e deixam rastros quanto à relação remetente-destinatário). Para tanto, o

jornalista pode usar ferramentas específicas para estes fins, que além de permitirem o envio de

anexos pesados, também preservam a confidencialidade entre jornalista e fonte.

Um dos mais eficazes e usados por repórteres é o Filemail

(http://filemail.com/es/default.aspx). Possui capacidade de envio de anexos com até 2GB.

Além de armazenar documentos para envio, o sistema destrói o arquivo depois de alguns dias.

Uma vez que não pede inscrição prévia, o Filemail é seguro e anônimo, além de gratuito (a

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versão Premium, paga, oferece o envio de até 10GB em arquivos). A pessoa para a qual se

envia o documento recebe um link de download, disponível por tempo limitado.

Mais opções para a mesma finalidade:

https: / / www.hushmail.com/

http://www.sizablesend.com/

http://www.rapidshare.com/

http://www.streamfile.com/

http://www.mailbigfile.com/

http://host02.pipebytes.com/

14. Verificando se um e-mail foi lido: Mailinfo (http://www.mailinfo.com/web/)

15. Armazenando conteúdo:

http://www.4shared.com

http://www.mediafire.com

http://freetexthost.com/ (apenas texto)

http://www.adrive.com

http://www.box.net

http://www.zumodrive.com

http://www.badongo.com/

16. Videoconferência gratuita: o Skype é a opção mais usada. Gratuito e de fácil

utilização, mas exige download. Caso o jornalista precise fazer uma entrevista através de

videoconferência, há um aplicativo grátis para gravar conversas do Skype

(http://voipcallrecording.com/MP3_Skype_Recorder).

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17. Conversores PDF:

http://www.freepdfconvert.com/

http://www.pdfdownload.org

http://convert.neevia.com

http://www.pdfonline.com/

https://online.primopdf.com/

http://www.expresspdf.com/ConvertHtmlToPdf.aspx

http://www.somepdf.com/ (extrai imagens de um PDF)

http://www.guardarcomopdf.com/ (salva uma cópia de um documento em formato

PDF)

18. Vídeo em tempo real (cobertura ao vivo):

Livestream: http://www.livestream.com/

Ustream: http://www.ustream.tv/

Qik: http://qik.com/ (transmissão ao vivo via celular)

Bambusa: http://bambuser.com/ (transmissão ao vivo via celular)

19. Verificando a propriedade de um site:

http://whois.domaintools.com/

http://www.whois10.com/

http://whois-it.com/

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20. Coleção de ferramentas gratuitas:

What’s new: http://wwwhatsnew.com/

Go2Web20: http://www.go2web20.net/

2.3 – JORNALISMO CULTURAL: USANDO FERRAMENTAS DIGITAIS

A colaboração da internet registra-se no sentido de facilitar o acesso

ao jornalismo cultural praticado em outros países, o que contribui de

forma expressiva para a diversificação. Pois a leitura gratuita de

cadernos de cultura de publicações como El País ou Libération, entre

tantas outras, só vem somar nessa questão do combate à falta de

diversidade dos cadernos de cultura. Isso porque o interesse, o fascínio

e a paixão por cultura não são suficientes para criar um bom jornalista

cultural hoje. (LINDOSO, 2007, pg. 31).

Iniciemos analisando casos especiais de jornalistas que utilizam seus blogs como

ferramentas para a cobertura de áreas específicas.

Briggs (2007) relata que Mike Sando – repórter do The News Tribune que trabalha

efetuando a cobertura da equipe de futebol americano do Seattle Seahawks, e ganhador de um

prêmio do Editor and Publisher, em 2006, por ter o melhor blog de esportes dos Estados

Unidos – faz uma gravação das entrevistas coletivas para a imprensa das quais participa.

Imediatamente após, Sando publica a gravação completa em seu blog, visando oferecer aos

seus leitores acesso rápido a informações recentes e atualizadas. Na sequência, ele escreve

uma análise e envia um artigo para publicação na edição do dia seguinte do Tribune.

Outro caso digno de nota é o do jornalista Kevin Cullen, repórter do The Boston

Globe. De acordo com Briggs (2007), Cullen passou a utilizar um blog na Copa do Mundo de

2006. O jornalista comparou um texto de sua autoria, publicado no Globe, com o que foi

escrito por ele em seu blog, e julgou este último melhor. Um texto não muito longo, de 300 a

400 palavras, com boas citações, alguns dados estatísticos relevantes e uma atenção maior

para a cor. Por fim, Cullen avaliou que, para ele, a internet é melhor do que a versão impressa,

porque o beneficia como escritor e favorece seus leitores.

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Um ponto que merece destaque é a existência de uma espécie de colaboração dos

leitores de um blog com o jornalista-blogueiro responsável. Ao contrário das publicações

impressas, em que a preocupação com erros e possíveis críticas é quase obsessiva, na

blogosfera os leitores se mostram mais propensos a interações positivas com o autor.

“Os leitores são nossos amigos”, disse Bem Mutzabaugh, que tem um blog

sobre viagens de negócios para o USA Today, quando perguntado sobre o

que ele aprendeu como blogueiro nos últimos cinco anos. “Na versão

impressa é fácil você entrar em conflito com os leitores porque as pessoas

estão sempre procurando pequenos erros no seu texto. Isto faz com que o

jornalista fique na defensiva. Nos blogs, os leitores concordam com você e o

ajudam. Eles querem que a matéria esteja correta... Os leitores ajudam o blog

a ganhar importância, coisa que um autor individualmente não conseguiria.”

(BRIGGS, 2007, pg. 54)

No caso do repórter Mike Sando, verificamos que ele aproveitou uma importante

característica dos blogs: disponibilização de conteúdo multimídia (neste caso, a gravação na

íntegra da coletiva de imprensa). Obviamente, não seria possível inserir esse conteúdo no

jornal, e mesmo a transcrição da gravação, convertendo esse material em palavras que

pudessem ser impressas, não daria ao leitor a mesma sensação de proximidade com a notícia.

Mesmo que essa transcrição fosse feita, provavelmente só estaria disponível no jornal do dia

seguinte. Teríamos aqui um relato da coletiva, evidentemente com muitos cortes, já que o

espaço de um jornal é limitado. Além disso, a notícia teria que esperar até o dia seguinte para

ser publicada. Se Sando utilizasse esses métodos, com certeza ficaria para trás se outro

repórter postasse o material em um blog.

No entanto, Sando agilmente postou a entrevista coletiva completa em seu blog. Dessa

forma, os leitores que quisessem uma informação mais aprofundada poderiam conferir o

material inteiro, enquanto usuários que quisessem apenas uma noção geral dos fatos poderiam

simplesmente ler a análise do repórter. Além da utilização do suporte multimídia

característico dos blogs, temos aqui a redação concisa e objetiva própria de quem deseja

sobreviver na blogosfera. Por fim, o envio do artigo ao jornal impresso conclui o processo de

trabalho jornalístico. Note que o conteúdo do blog e do jornal obedece às características de

cada meio, oferecendo diferentes níveis de aprofundamento. A leitura do blog complementa a

experiência de ler o jornal, e vice-versa.

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Já o repórter Kevin Cullen percebeu as vantagens dos padrões de redação de um blog

jornalístico, em comparação a um texto publicado no meio impresso. Um bom texto, redigido

segundo um manual de redação para a web, sempre parecerá melhor do que aqueles escritos

por jornalistas que durante toda a carreira escreveram para jornais, e não conhecem as

particularidades de apresentação de informações na internet.

Os exemplos analisados até aqui estão relacionados com o jornalismo esportivo.

Verificamos que jornalistas que cobrem eventos esportivos tiveram sucesso ao integrar blogs

ao seu trabalho. No entanto, aplicar estes conceitos para o jornalismo cultural, ou qualquer

outra vertente jornalística, é somente uma questão de iniciativa das empresas de comunicação,

editores e jornalistas.

O jornalista pode começar inicialmente pela criação de um blog gratuito, ou

hospedado no site do veículo em que trabalha, caso haja essa oportunidade. O importante é

selecionar a tecnologia de publicação com a qual o jornalista se adapte melhor (ou usar bem a

tecnologia que lhe for imposta pelo veículo onde se trabalha). A partir daí, convém observar

as diretrizes e recomendações do item 2.1 e seguintes, que juntos formam as recomendações

gerais de um manual de redação para web. Essa é a preparação do meio que irá receber o

conteúdo.

Quanto à utilização das ferramentas digitais, o jornalista, ao efetuar a cobertura de,

digamos, um show, pode utilizar os serviços online de transmissão de imagens ao vivo, que os

leitores poderiam acessar através do blog do jornalista. Um post curto publicado via celular

(previamente configurado para enviar posts ao blog) poderia fornecer informações rápidas e

preparar os usuários para uma possível entrevista com os artistas logo após o show.

A entrevista poderia ser transmitida ao blog utilizando o mesmo serviço de

transmissão online de imagens. Assim, as pessoas que acompanham o blog do jornalista

poderiam acompanhar perguntas e repostas em tempo real. Outra alternativa seria gravar a

entrevista em vídeo ou somente áudio, e neste último caso, um post com informações gerais e

introdutórias acerca da entrevista poderia ser postado no meio tempo em que o jornalista

estivesse se locomovendo até a redação, sua própria casa ou outro local em que faria a edição

e publicação da entrevista no blog. Para se preparar para entrevistas, logicamente o repórter

faz um estudo prévio do entrevistado, o que poderia ser conseguido com pesquisa avançada na

internet através de motores de busca, metabuscadores, buscadores de outros blogs sobre

cultura e assim por diante (lembrando sempre de consultar fontes confiáveis). Quanto às fotos,

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um smartphone oferece um misto de boa qualidade fotográfica com baixo peso da foto

(dependendo do modelo). É claro que pode-se utilizar uma câmera digital, mas possivelmente

a foto teria que passar por um processo de tratamento de peso, algo menos provável com fotos

clicadas por um celular. Mais tarde, o jornalista, caso possuísse ao menos um notebook com

acesso à internet, poderia redigir um pequeno texto fazendo uma crítica objetiva do show,

intercalando texto e fotos (recortadas e com o peso tratado através das ferramentas digitais

online para edição de fotografias). Edição de vídeo e áudio, assim como a das fotos, poderia

facilmente ser executada através dos softwares apropriados ou os serviços online pertinentes,

que não exigem nenhum download, e são particularmente úteis quando o repórter está

viajando e dispõe de poucos recursos técnicos. Para subir as fotos/vídeos/gravações de áudio

para a plataforma de blog, bastaria conectar o cabo de dados do celular/câmera ao computador

e efetuar o upload. Uma vez editada a postagem, seria feita a publicação. Observaríamos um

texto escrito conforme o esquema de pirâmide invertida, curto, leve, objetivo, com toques de

informalidade e nem por isso deixando de ser jornalístico. Quanto ao uso do suporte

multimídia oferecido pela plataforma de blog, verificaríamos sua utilização na

disponibilização de um vídeo/áudio da entrevista, a utilização de fotos, links para outros

materiais correlatos (matérias de outros blogs sobre shows anteriores, por exemplo) / vídeos

de músicas do artista / prévia de uma música nova do artista gravada durante a entrevista, e o

que mais o jornalista julgar pertinente para dar ao seu leitor um contato mais aprofundado

com a notícia. Pensando na interatividade, o leitor poderia ter à sua disposição o sistema de

comentários, em que poderia opinar sobre a postagem e interagir com o jornalista, ou interagir

com outros internautas por intermédio de debates de ocasião que se formem nos comentários

de forma espontânea. Partindo para as possibilidades do leitor usando recursos da web, seria

possível compartilhar a postagem com amigos nas redes sociais, ou enviar um e-mail

diretamente ao jornalista, caso estivesse disponível no blog. Ao jornalista, caberia a função de

observar os comentários, incentivá-los e efetuar a moderação/controle dos mesmos se achar

necessário. Esse blog de jornalismo cultural, a fim de interagir com os leitores, certamente

deveria ter contas oficiais ao menos nas principais redes sociais do momento, que por sua vez

precisariam de um profissional para efetuar sua administração. O material do blog serviria

então para redigir matérias impressas, e vice-versa. Obviamente, a atualização do blog deveria

ocorrer ao menos uma vez por dia, de preferência aumentando progressivamente essa

periodicidade. Do contrário, a página não teria muitos acessos, como vimos ao longo deste

capítulo.

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Os exemplos se estendem à cobertura de qualquer manifestação cultural.

Especificamente falando da cobertura literária, a disponibilização de links para download de

livros em PDF que sejam citados na postagem é outra forma de usar a web em benefício do

jornalismo cultural. O jornalista deve ter cuidado para não violar direitos autorais, e saber

fazer uso de outras ferramentas digitais quando esta, especificamente, estiver indisponível.

Até agora, verificamos os blogs e ferramentas digitais como são usadas no jornalismo

esportivo, e traçamos algumas possibilidades de uso dentro do jornalismo cultural. No

entanto, essas possibilidades que levantamos já vêm sendo usadas em prol de um jornalismo

cultural conectado com as tecnologias mais recentes. É o que vemos nos blogs de Daniel Piza

e Raquel Cozer, ambos jornalistas culturais. No próximo capítulo, analisaremos como Piza e

Cozer usaram o potencial de seus blogs e as ferramentas digitais em benefício de seu trabalho

jornalístico e de seus leitores.

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CAPÍTULO 3 – APLICAÇÃO DE TEORIAS

Para entender de forma mais abrangente o modo como os blogs e demais ferramentas

digitais podem beneficiar o jornalismo cultural, veremos alguns elementos centrais do

impacto da internet no jornalismo em geral, com foco em sua vertente cultural. No entanto, se

faz necessário modificar a forma de enxergar o tema.

Para Lévy (1999), usar o termo “impacto” para falar da ação das novas tecnologias da

informação sobre a sociedade ou a cultura é algo inadequado. A metáfora sugere que a

tecnologia é um projétil, e que a cultura ou a sociedade são alvos vivos. O autor sugere pensar

que as novas tecnologias são, antes de mais nada, produtos de uma sociedade e de uma

cultura. Sendo assim, o que deveria ser enfatizado seria esta relação existente entre

tecnologia, cultura e sociedade. Uma tecnologia criada por uma sociedade que possui

determinada cultura.

O mesmo raciocínio pode ser usado para a relação entre tecnologia e jornalismo.

Sendo assim, não há propriamente um impacto, e sim uma ação de contato que gera

transformação. Transformação no modo de se fazer jornalismo. Isso porque dificilmente um

jornalista irá a uma biblioteca buscar algum dado se puder obter a mesma informação usando

um motor de busca. O que ocorre é que essa transformação proveniente do contato entre

tecnologia e jornalismo gera efeitos, positivos e negativos.

Com base nessa alteração de termos, e consequentemente, na forma de efetuar a

análise, trataremos a seguir das seis principais transformações promovidas pela internet no

jornalismo (embora o autor que veremos a seguir, Nísio Teixeira, chame a relação discutida

acima de impactos da internet no jornalismo). Em seguida, usaremos esses pontos principais

para analisar duas postagens específicas dos blogs de Daniel Piza e Raquel Cozer.

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3.1– INTERNET E JORNALISMO: SEIS TRANSFORMAÇÕES

Palacios apud Teixeira (2008) enumera as seis principais transformações promovidas

pela internet no jornalismo. Ao final deste item, veremos o efeito dessas transformações no

jornalismo cultural.

1- Caráter de hipertexto. Foi potencializado pelo suporte eletrônico digital. Oferece

conexão não apenas com textos, mas também com outros suportes de linguagem, tais como

áudio e vídeo.

2- Convergência multimidiática possibilitada pelo suporte digital. O resultado é a

transformação da internet e do webjornalismo em uma plataforma de publicação e

distribuição.

3- Periodicidade. O webjornalismo possui um conteúdo que pode ser atualizado a

qualquer momento, ao contrário dos suportes jornalísticos convencionais. Além disso, o

conteúdo jornalístico publicado via web alcança uma velocidade de divulgação comparável a

do rádio e da TV, feito que anteriormente era impossível para o texto de jornais e revistas.

Simultaneamente, é possível manter características do jornalismo impresso, como o caráter de

interpretação e análise.

4- Poder de seletividade. Assim como o leitor de jornal impresso seleciona as

informações que deseja por título, foto ou caderno específico, e geralmente não lê todo o

jornal, na internet este comportamento tende a se repetir, mas fazendo uso de elementos

próprios do suporte digital. Através de feeds de notícia, o leitor de blogs/portais de notícia

pode filtrar os diversos tipos de conteúdo e receber apenas as informações que julga

relevantes. As tags também são uma forma de filtragem de conteúdo, mostrando ao usuário

postagens de apenas um assunto específico. Outro representante do poder de seletividade do

leitor web é a possibilidade de adicionar qualquer página à pasta Favoritos.

5- Interatividade. O leitor web pode interagir com o autor do conteúdo através de e-

mail, redes sociais ou comentários. Os comentários possibilitam também interagir com outros

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leitores, o que pode criar fóruns de discussão sobre o assunto discutido na matéria publicada.

6- Pesquisa em bibliotecas de conteúdo multimídia. O suporte digital torna possível

compactar dados a fim de criar bibliotecas de textos, sons e imagens.

Considerando o suporte digital e o jornalismo cultural, Teixeira (2008) aponta as

seguintes possibilidades:

Disponibilização de trechos de entrevistas em áudio;

Disponibilização de CD que tenha sido objeto de crítica;

Inclusão de vídeo para ilustrar ou reforçar certas passagens de um texto informativo ou

interpretativo sobre material audiovisual;

Roteiros culturais podem respeitar a atualização de seus objetos de recomendação, que

são os eventos e espetáculos culturais. Esses roteiros podem ocupar, em teoria, qualquer

número de páginas, sem afetar o espaço destinado às matérias ou sofrer cortes por motivos de

espaço dentro do veículo;

Espetáculos de temporada podem ter suas respectivas críticas disponíveis durante todo

o seu período de exibição;

Deadline definido pela rapidez e precisão com que o material é publicado na web, e

não pela escala industrial de operação gráfica – entre 16 e 18 horas na maioria dos jornais

brasileiros.

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3.2. – BLOG ‘DANIEL PIZA

Falando de cultura, futebol e política, “Daniel Piza” não é um blog exclusivamente

dedicado ao jornalismo cultural, embora aborde pautas culturais em certas postagens. Com

base nos elementos tratados no item 3.1, analisaremos um dos posts do blog, intitulado A

Paixão de Madeleine. Trata-se de uma breve crítica sobre um CD da cantora Madeleine

Peyroux, novidade no cenário musical em julho de 2011.

Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/a-paixao-de-madeleine/>

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1- Caráter de hipertexto. Há um hipertexto/link no topo da área de visualização de

vídeo na postagem, que leva ao vídeo de uma das músicas do CD objeto de crítica. No quarto

comentário, na parte inferior da página, um leitor postou um link para o vídeo de uma música

que julgou pertinente ao contexto da postagem.

2- Convergência multimidiática possibilitada pelo suporte digital. A convergência de

múltiplas linguagens, múltiplos suportes e tipos de conteúdo possibilitados pelo suporte

digital, que neste caso é representado pelo blog em si. Verificamos a convergência de texto,

som e vídeo num mesmo elemento, que é a postagem.

3- Periodicidade. Qualquer blog oferece a possibilidade de atualização a qualquer

momento, ao mesmo tempo em que torna possível utilizar o caráter de interpretação e análise

do jornalismo impresso, bastando experiência e habilidade do jornalista.

4- Poder de seletividade. O blog, bem como todo o portal do Estadão, oferece suporte a

leitores de feed RSS, newsletter e tags, que são uma forma de filtrar conteúdo. Obviamente, é

possível adicionar a página do post à pasta de Favoritos.

5- Interatividade. Quatro comentários mostram que o blog é interativo. Os quatro

leitores usaram este recurso para dar sua opinião a respeito da crítica musical publicada. Se

quisessem, esses leitores poderiam concordar ou discordar da opinião dos demais, o que não

ocorreu.

6- Pesquisa em bibliotecas de conteúdo multimídia. O portal do Estadão, que hospeda

o blog de Daniel Piza e outros, possui seções que arquivam vídeos, fotos e infográficos,

organizados e separados por tipo de conteúdo, o que constitui uma biblioteca multimídia

pronta para consulta.

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3.3. – BLOG ‘A BIBLIOTECA DE RAQUEL’

Raquel Cozer trata sobre literatura em seu blog, hospedado no portal da Folha de S.

Paulo. O post a ser analisado chama-se “Livros e revistas gratuitos na web”, que destaca

livros e revistas que o leitor pode baixar de graça na internet.

Disponível em:

<http://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/07/25/livros-e-revistas-gratuitos-na-web/comment-page-

1/#comments>

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1- Caráter de hipertexto. Raquel utilizou links em toda a postagem. Praticamente todos

direcionam para versões em PDF ou TXT dos livros recomendados pela autora no post.

2- Convergência multimidiática possibilitada pelo suporte digital. Não há no post

convergência multimidiática significativa, possivelmente em virtude do objetivo da postagem,

que é divulgar links para download gratuito de e-books (o que não demanda utilização mais

pronunciada de material audiovisual para complementar texto).

3- Periodicidade. O blog tem o potencial de atualização constante, assim como qualquer

outro blog/site.

4- Poder de seletividade. Há suporte a leitores de feed RSS, bem como a filtragem de

conteúdo através das tags.

5- Interatividade. O blog oferece basicamente quatro opções de interação com a autora:

e-mail, página oficial do blog no Facebook, Twitter de Raquel e os comentários no próprio

blog. A interatividade da página é nítida tanto pelo número de comentários da postagem

quanto pelo fato de que a autora do blog conversa com seus leitores através do sistema de

comentários.

6- Pesquisa em bibliotecas de conteúdo multimídia. O portal da Folha, que hospeda o

blog de Raquel, oferece o Banco de Dados Folha, um acervo de material jornalístico que se

resume a textos e imagens. Embora não abrigue vídeos ou sons, o acervo não deixa de ser

uma biblioteca de conteúdo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma página na internet. Uma forma de democratizar a difusão de informações via

web, mesmo para aqueles que não possuem nenhum conhecimento em programação HTML,

e, portanto, dependeriam de um webdesigner para criar seu próprio site. Uma espécie de

veículo de comunicação que qualquer pessoa pode criar, com as mais diversas finalidades.

Divulgar informações. E essas informações podem ter algum teor jornalístico. Estamos

falando de blogs. Mais do que isso, estamos falando de jornalistas postando em blogs.

Surge aqui o termo “blog jornalístico”. Certamente, só há blog jornalístico quando há

um jornalista realizando todos os procedimentos de rotina em sua profissão, a fim de produzir

notícias. E então essa notícia é publicada em um blog. Simples? A resposta é não, uma vez

que é necessário realizar ajustes no material jornalístico para inseri-lo no suporte desejado, em

nosso caso, o blog. Já que existem diversas vertentes jornalísticas, optou-se, nesta

monografia, em discorrer sobre o modo como o jornalismo cultural pode se beneficiar de um

blog, e as demais ferramentas digitais que se encaixam a plataformas como Blogspot e

Wordpress. A junção das diversas teorias e dados aqui presentes apontaram algumas respostas

para o questionamento principal desta obra.

Inicialmente, é necessário encarar a web como um espaço midiático análogo ao da TV

e do rádio, no sentido de ter um formato definido e regras próprias. Dessa forma,

simplesmente copiar o texto de um veículo impresso e publicá-lo em um site não funciona,

porque o conteúdo está codificado para a leitura em papel, com suas diversas particularidades.

Na web, as pessoas querem um botão Curtir do Facebook ao final da matéria. Querem

compartilhar o conteúdo em suas redes sociais favoritas, enviar por e-mail. E querem achar o

que procuram muito rápido. Como vimos nas páginas anteriores, a objetividade jornalística

(que durante a pesquisa se materializa principalmente sob a forma da pirâmide invertida) se

mostra vital para a web justamente porque coloca a informação mais importante em primeiro

lugar, no ponto exato do texto em que terá mais visibilidade e, portanto, deixará mais fácil

para o internauta saber do que se trata aquele conteúdo, e se a informação é ou não o que ele

procura.

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Sendo assim, nota-se que, caso o jornalista cultural deseje postar em um blog, ele

precisará necessariamente saber ao menos os conceitos básicos presentes em manuais de

redação para a web. Do contrário, suas chances de ter êxito serão pequenas.

Além de saber codificar seu texto para a internet, o jornalista cultural precisa entender

a importância do suporte multimídia para os seus leitores e para o próprio jornalismo cultural.

Esse tipo de jornalismo tem muito a ganhar com as possibilidades da internet porque se torna

possível aproximar o leitor da pauta, do que se fala na matéria. Se tomarmos como exemplo

uma notícia que relate um acidente de trânsito, veremos que, ainda que seja mostrado um

vídeo amador gravado por um pedestre que esteve no local do ocorrido, a matéria nunca

poderia fazer o leitor presenciar o acidente, revivê-lo com toda a fidelidade possível. Se a

pauta for de cultura e a publicação estiver em um blog, as possibilidades se ampliam. Em uma

crítica musical, por exemplo, disponibilizando um link para um vídeo da música resenhada, o

leitor terá acesso direto ao que está sendo comentado. Quem acessar o blog e ouvir essa

música hipotética terá ouvido exatamente a mesma música que o jornalista ouviu e criticou

jornalisticamente. Não será uma representação de um fato que jamais acontecerá duas vezes, e

sim o contato direto do leitor com o que motivou a confecção da notícia. Aproximação entre

leitor e pauta. Na verdade, trata-se do fato do jornalismo cultural, muitas vezes, tratar de

objetos passíveis de reprodutibilidade técnica. Sendo assim, os blogs são um suporte que

abriga referências a conteúdos (ou os conteúdos em si) de forma eficiente justamente porque

neles podem ser inseridos conteúdos multimídia. Conteúdos esses que na maior parte das

vezes são criticados jornalisticamente e resultam nas resenhas, críticas e toda a sorte de

matérias de jornalismo cultural. É o que ocorre na postagem “A paixão de Madeleine”, no

blog Daniel Piza.

Ainda falando das possibilidades que a web traz ao jornalismo cultural, temos o link.

Esse elemento também promove a aproximação entre leitor e notícia no caso específico da

cobertura de livros. A lógica é simples: o jornalista cita um livro na postagem e deixa à

disposição do leitor um link para a versão em PDF do livro que se fala. Obviamente, não é

possível fazer isso quando o livro em questão ainda não tiver uma versão em PDF, ou quando

a versão para download do livro for ilegal, ou seja, quando for uma cópia que viola direitos

autorais. Mas é útil sobretudo para dicas de leitura, ou matérias do tipo “50 livros para ler

antes de morrer”. É o que verificamos na postagem “Livros e revistas gratuitos na web”, do

blog A Biblioteca de Raquel.

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Se pensarmos na blogosfera, os links, dentro de uma postagem, podem apontar para

outros posts do blog, ou até mesmo outros sites e blogs correlatos.

Nos portais de notícia que hospedam os dois blogs onde encontramos as postagens

analisadas, encontramos bibliotecas de conteúdo, que são importantes ao usuário para a

obtenção de informações históricas tanto sobre um tema específico quanto sobre a história do

veículo de comunicação que disponibiliza a biblioteca.

Quanto às ferramentas do suporte digital, cada uma delas tem uma utilidade bem

específica dentro do jornalismo cultural, como por exemplo fazer transmissões de vídeo ao

vivo. Na cobertura de um show, por exemplo, podem surgir oportunidades interessantes de

contato com fãs que tenham algo inusitado a dizer em uma fila de ingressos. Ou mesmo uma

rápida declaração do artista que se apresentou, ao passar rapidamente por um corredor ao qual

só se tem acesso com as credenciais necessárias, de imprensa, inclusive. Tarefas como edição

de imagem através de celular, uso do Twitter para “drops” (notícias rápidas”) e a

possibilidade de blogar pelo celular dá ao jornalista mobilidade, facilita seu trabalho e torna

matérias mais atrativas no ambiente web. Essas ferramentas digitais por vezes estão ligadas à

parte da matéria que o leitor não vê: os bastidores, desde a aprovação da pauta à publicação.

Outro ponto interessante é que muitas das ferramentas aqui abordadas são úteis não só

para o jornalismo cultural, mas também para qualquer tipo de jornalismo. Basta identificar as

necessidades e as possibilidades.

A blogosfera é um ambiente propício para a interação entre internautas, e também

entre quem produz conteúdo e quem o lê. Os comentários nas postagens (os de crítica

fundamentada e coerente, evidentemente) servem como um termômetro ao jornalista, que

saberá como o público recebe suas matérias. Caso o jornalista construa uma boa relação com

os leitores de seu blog, ele terá sempre à disposição opiniões sobre como ele poderá

desenvolver melhor o conteúdo, e saber sobre o que as pessoas querem saber. Note aqui uma

fonte de pautas em potencial.

Com base nos teóricos abordados, conclui-se que os blogs e o suporte digital têm

muito a oferecer ao jornalismo cultural, tanto aos jornalistas quanto ao público. A forma como

essa utilidade se desenvolve consta no decorrer desta monografia. Sendo assim, o jornalista

cultural tem disponível uma série de recursos para melhorar o seu fazer jornalístico. O embate

natural entre blogs que divulgam notícias e os grandes portais de notícia, bem como blogs

jornalísticos certamente é evidente, assim como a questão dos blogs fazerem jornalismo ou

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algo derivado do jornalismo, conforme artigo do Observatório da Imprensa, disponível no

endereço eletrônico

<http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/blogs_fazem_jornalismo>. Teixeira

(2008) aponta outras questões que certamente merecem pesquisas e debates:

A rentabilidade de um projeto webjornalístico em relação a um projeto convencional é

uma realidade. Mas como fica sua manutenção?

Jornalistas que diante de uma personalidade cultural fazem tietagem travestida de

reportagem.

Por fim, baseado no conteúdo desta obra, pode ser utilizado o neologismo ‘webjornalismo

cultural’ para designar o jornalismo cultural que tem como plataforma a internet.

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