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A arte do minimalismo na indústria automobilística Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político O minimalismo tem se tornado uma arte na indústria automobilística. Findo os tempos de guerras mundiais, as indústrias identificaram, talvez apressadamente, um nicho de mercado para produtos minimalizados. Nessa época surgiram algumas propostas de modelo veicular minimal. Os expoentes, já falecidos, eram: Citröen Deux Chevaux, Volksvagen Sedan, Romiseta, Lambreta. Eram os expoentes do estilo e arquitetura minimalista da engenharia automotiva. Tão logo as famílias e as economias nacionais recuperaram a credibilidade no futuro estes espécimes (subespécies automotivas) mostraram que não serviriam aos propósitos dos consumidores, que vão além da mera racionalidade utilitarista. Um automóvel é mais do que um meio de transporte. Um automóvel é um meio de mostrar algo do seu proprietário, como, por exemplo, o seu estilo de vida. O automóvel é um tóten urbano móvel, que como a residência de uma pessoa reflete o seu gosto pessoal, a sua personalidade, o seu status, o seu poder, a sua riqueza, a sua capacidade financeira, o seu ego, o seu estilo de vida. Assim, mesmo veículos orientados para a utilidade objetivamente apenas refletem a condição humana de indivíduos que dão valor maior à utilidade, em detrimento da estética, do status, da riqueza, do poder, do ego, do estilo de vida. O automóvel é um cartão de visita mais importante do que a residência do indivíduo ou do seu endereço residencial, porque não se pode carregar a residência para todo lado, mas o automóvel é móvel, omnipresente, intrometido, conspícuo, e quem descuida deste fato evidencia uma grave falha em sua apresentação e representação pessoal. O minimalismo, levado às últimas consequências, serviu de referência para certas marcas de montadoras, as quais possuem manuais de orientação, dos passos concretos e detalhados à minúcias de como respeitar com rigor o estilo minimalista. Estes manuais podem ser perfeitamente decifrados por um observador atento e cuidadoso com os detalhes.

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A arte do minimalismo na indústria automobilística Roberto da Silva Rocha, professor universitário e cientista político

O minimalismo tem se tornado uma arte na indústria automobilística. Findo os tempos de guerras mundiais, as indústrias identificaram, talvez apressadamente, um nicho de mercado para produtos minimalizados. Nessa época surgiram algumas propostas de modelo veicular minimal.

Os expoentes, já falecidos, eram: Citröen Deux Chevaux, Volksvagen Sedan, Romiseta, Lambreta. Eram os expoentes do estilo e arquitetura minimalista da engenharia automotiva.

Tão logo as famílias e as economias nacionais recuperaram a credibilidade no futuro estes espécimes (subespécies automotivas) mostraram que não serviriam aos propósitos dos consumidores, que vão além da mera racionalidade utilitarista.

Um automóvel é mais do que um meio de transporte.

Um automóvel é um meio de mostrar algo do seu proprietário, como, por exemplo, o seu estilo de vida.

O automóvel é um tóten urbano móvel, que como a residência de uma pessoa reflete o seu gosto pessoal, a sua personalidade, o seu status, o seu poder, a sua riqueza, a sua capacidade financeira, o seu ego, o seu estilo de vida.

Assim, mesmo veículos orientados para a utilidade objetivamente apenas refletem a condição humana de indivíduos que dão valor maior à utilidade, em detrimento da estética, do status, da riqueza, do poder, do ego, do estilo de vida.

O automóvel é um cartão de visita mais importante do que a residência do indivíduo ou do seu endereço residencial, porque não se pode carregar a residência para todo lado, mas o automóvel é móvel, omnipresente, intrometido, conspícuo, e quem descuida deste fato evidencia uma grave falha em sua apresentação e representação pessoal.

O minimalismo, levado às últimas consequências, serviu de referência para certas marcas de montadoras, as quais possuem manuais de orientação, dos passos concretos e detalhados à minúcias de como respeitar com rigor o estilo minimalista.

Estes manuais podem ser perfeitamente decifrados por um observador atento e cuidadoso com os detalhes.

Tudo é cuidadosamente planejado no estilo minimalista automotivo. Desde o número de parafusos que vai afixar cada roda do automóvel: se três parafusos, quatro, cinco ou seis parafusos, indicando a classe econômica de referência do veículo, por exemplo; existe um fabricante que estabelece uma escala de distância entreeixos como referência minimal; outro critério é observando no número de barras horizontais na grade frontal do veículo: uma barra horizontal seria do modelo de entrada de menor custo de todos da linha, o seguinte superior imediato teria duas barras horizontais no desenho da grade frontal do veículo; o seguinte logo acima teria três barras horizontais na sua grade frontal, assim por diante, os veículos mais sofisticados em acabamento e preço teriam uma miríade de barras horizontais na sua grade dianteira; outro critério observado, visto costumeiramente em um determinado fabricante, inclusive fazendo parte do catálogo de acessórios opcionais é o número de raios do volante de direção, sendo dois o mínimo de raios para os modelos de entrada, três raios para os modelos de padrão de acabamento e preço imediatamente superior, e quatro raios para os veículos de altíssimo luxo.

Outros critérios são observados, como o tamanho e a quantidade de mostradores do painel de comando do motorista. Indicadores e marcadores minúsculos e em número escasso, como, por exemplo, indicador de velocidade, combinado com odômetro, e luzes espias para indicar a reserva de combustível, superaquecimento do motor, luzes espia para indicar pressão do óleo crítica fazem parte do pacote básico do modelo minimalista.

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Quanto ao acabamento, a falta dele é o primeiro indicativo de total incompatibilidade com o luxo, indicando o máximo do minimalismo; a qualidade e a quantidade de material de acabamento mais nobre é o indicativo mais evidente do estilo minimalista.

Coisas mais prosaicas foram verificadas neste esmero de alguns fabricante para indicar os modelos ultraminimalistas, como a falta de fechadura com chave na porta do lado do passageiro. Também podemos encontrar com frequência parte da carroceria desprovida de pintura externa, deixando evidente que o pobre não tem qualquer direito à estética.

O estilo minimalista levado ao extremo começa no próprio design do carro que traz um mínimo de preocupação e de empenho em harmonizar as linhas externas do veículo para torná-lo atraentemente bonito, harmonioso e agradável, ademais, numa carroceira tão pequena é mesmo um milagre que se consiga uma harmonização das extremidades e recortes necessários para encaixar as partes principais de um veículo fazendo um arremate suave entre a dianteira, a cabine de passageiros e a trazeira.

As dimensões do próprio veículo limitam as possibilidades de se obter um desfecho suave do encontro de ângulos na carroceria. Não existe solução geométrica possível para este caso de concordância que suavize e apare a resolução geométrica de forma suave e agradável, isso impede que apêndices estéticos sejam sequer adicionados no desenho do modelo: é um luxo impensável.

Alguns detalhes da própria segurança são negligenciados para atender ao minimalismo, como por exemplo, encontrar-se modelos sem o espelho retrovisor do lado do passageiro, ou luzes de ré sem par, ou também luzes de sinalização de emergência combinada com outros dispositivos de sinalização para economizar instalações, minimização dos faróis, minimização das luzes de freios, localização inadequada e tamanho inadequado das luzes de sinalização de mudança de direção, luzes de posição do veículo e de freio acionado.

Ligado à segurança, verifica-se a posição de dirigir do condutor, muitas vezes o volante é torto em relação ao eixo de simetria da cabine do automóvel, os pedais são desalinhados com o centro e banco do motorista, os retrovisores são pequenos e mal posicionados, os controles das luzes são pequenos, aglomerados, em lugares difícies de acionar, os pedais são pequenos e duros, os tapetes são opcionais, os protetores do motor são opcionais, os faróis e lanternas são expostos a qualquer colisão tornando-os inoperante em pequenos acidentes; os bancos possuem um mínimo de regulagem assim como os cintos de segurança, os extintores estão colocados nos lugares mais inconvenientes, podendo provocar desconforto para os passageiros e mesmo machucá-los ao tentarem alcançá-los.

Tudo isso é cuidadosamente planejado para o maior desconforto possível e para o menor custo possível, sem preocupação alguma com a estética e com a funcionalidade. Este desconforto inclui o barulho interno, a trepidação da suspensão pouco macia, as peças mal ajustadas, a fragilidade do material empregado, e o exíguo espaço para a distribuição dos dispositivos e componentes internos.

Tudo ali é planejado para demonstrar que o desastre perfeito não acontece sem um bom planejamento.

Por fim, saímos do fon-fon para o bi-bi, evoluímos para o fon-fon, mas, ainda se fabrica o bi-bi para os adeptos do minimalismo. Aquela buzina que anuncia o atropelamento do gato.

Diante deste descritivo é possivel identificar de que marca está se falando? Se voce identificou então voce é perspicaz e atento. Cuidado, minimalismo profissional faz mal a saúde e ao cidadão.