bloco k - vocÊ acha que pode esperar?

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BLOCO K – VOCÊ ACHA QUE PODE ESPERAR? Com a publicação do Ajuste Sinief 8 pelo Conselho Nacional de Política Fazendária CONFAZ - no início do mês de outubro, as indústrias e equiparados de médio porte podem ter recebido a prorrogação da implantação do Bloco K como um alívio ou um fôlego. Afinal, se antes esta obrigação abrangia todas as empresas do ramo e exigia o envio das informações a partir de 1º de janeiro do próximo ano, agora nestes casos, o prazo foi estendido e terá início a partir de 1º de janeiro de 2018. Ainda que o prazo tenha sido dilatado, vale a pergunta: você acha que pode esperar? A esta altura, os médios empresários da indústria tem obrigação de já saber e ter discutido este tema do café da manhã até o jantar. Sim, conhecer intimamente o assunto não é uma alternativa! Outro ponto relevante para estes empresários: é claro que podem e devem se abastecer dos melhores consultores fiscais, tributários e de tecnologia da informação, mas não devem de maneira alguma perder o foco pois, objetivamente, a administração, condução, preenchimento e elaboração do Bloco K se dará exclusivamente em âmbito interno de suas empresas. Ou seja, é vital que se abandone de uma vez por todas, a ideia errada que esta obrigação se restringirá aos escritórios de contabilidade ou serão eles os responsáveis pelos procedimentos. Para completar, o envio incorreto ou incompleto das informações pode acarretar em multa de até 1% do valor do estoque não escriturado. Com este sistema, as fases do processo produtivo e que compuseram o produto acabado estarão integradas de acordo com o consumo das matérias- primas, insumos, perdas ... é vital que se abandone de uma vez por todas, a ideia errada que esta obrigação se restringirá aos escritórios de contabilidade.

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Page 1: BLOCO K - VOCÊ ACHA QUE PODE ESPERAR?

BLOCO K – VOCÊ ACHA QUE PODE ESPERAR? Com a publicação do Ajuste Sinief 8 pelo Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ - no início do mês de outubro, as indústrias e equiparados de médio porte podem ter recebido a prorrogação da implantação do Bloco K como um alívio ou um fôlego. Afinal, se antes esta obrigação abrangia todas as empresas do ramo e exigia o envio das informações a partir de 1º de janeiro do próximo ano, agora nestes casos, o prazo foi estendido e terá início a partir de 1º de janeiro de 2018. Ainda que o prazo tenha sido dilatado, vale a pergunta: você acha que pode esperar? A esta altura, os médios empresários da indústria tem obrigação de já saber e ter discutido este tema do café da manhã até o jantar. Sim, conhecer intimamente o assunto não é uma alternativa! Outro ponto relevante para estes empresários: é claro que podem

e devem se abastecer dos melhores consultores fiscais, tributários e de tecnologia da informação, mas não devem de maneira alguma perder o foco pois, objetivamente, a administração, condução, preenchimento e elaboração do Bloco K se dará exclusivamente em âmbito interno de suas empresas.

Ou seja, é vital que se abandone de uma vez por todas, a ideia errada que esta obrigação se

restringirá aos escritórios de contabilidade ou serão eles os responsáveis pelos procedimentos. Para completar, o envio incorreto ou incompleto das informações pode acarretar em multa de até 1% do valor do estoque não escriturado. Com este sistema, as fases do processo produtivo e que compuseram o produto acabado estarão integradas de acordo com o consumo das matérias-primas, insumos, perdas

... é vital que se abandone de uma vez por todas, a ideia errada que esta obrigação se restringirá aos escritórios de contabilidade.

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ocorridas, embalagens, etc. previamente cadastradas e classificadas. O Bloco K é a versão informatizada do antigo Livro Modelo 3 de Registro de Controle da Produção e do Estoque que, se antes na sua versão manual era relegado pelo Fisco e pelos contribuintes, no Sistema Público de Escrituração Digital devolve a importância que o estoque de fato sempre teve. Isso porque as bases de cálculo dos tributos de maior importância arrecadatória e regulatória como ICMS, IPI, CSLL e IRPJ são determinados de acordo com a mobilização do estoque. Bem entendido que o manejo do estoque reflete diretamente no montante devido dos tributos, ato lógico compreende-se de forma clara que o Fisco tem toda intenção de fechar o cerco da sonegação, lançando mão das variações e diferenças de consumo e inventários que serão escancaradas no Bloco K. Fosse somente os casos de sonegação, é certo que a imensa

maioria dos empresários poderiam de fato, se sentirem aliviados com prazo maior estabelecido, mas ao contrário do que possa parecer, as indústrias

idôneas estão obrigadas ao mesmo impacto da nova obrigação porque ressentem

de um controle eficaz de sua produção. Em tempos que a governança corporativa e transparência fiscal caminham atreladas fortemente, idoneidade não é argumento para diferenciação, é um preceito mínimo para continuidade dos negócios. Tem se percebido uma movimentação de organismos como a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – no sentido de ressaltar o alto custo dos investimentos com a implementação, treinamento de pessoal e manutenção do Bloco K, ainda mais em tempos de instabilidade econômica desenfreada. Também tem se alertado que este sistema revelará os segredos industriais, já que a

...empresários da indústria tem obrigação de já saber e ter discutido este tema do café da manhã até o jantar.

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proposta do Fisco, é exigir a demonstração minuciosa das fórmulas dos produtos. É mais que necessário e urgente que se promovam ações, seja por meio de diálogo com o Fisco ou no uso de vias judiciais com o intuito de proteger o abalado setor industrial, mas não se deve crer que estas discussões terão o condão de frear a implementação e exigência da obrigação.

Por fim, ao menos as regras estão expostas e definidas e isso deve ser levado como uma vantagem pelos empresários. Na forma com que o Bloco K é exigido, pelo detalhamento do seu preenchimento e multas pela falta de controle, não é exagero afirmar que o trabalho é no mínimo árduo. E aí, você acha que pode esperar?

Alexandre Pantoja é advogado, especializado em Direito Tributário

pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo e pela Escola

de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.