biopolítica em foucault e agamben - pucrs.br · biopolítica em foucault e agamben ... foucault,...

3
XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Biopolítica em Foucault e Agamben Juliana Schneider Guterres , João Franscisco Haetinger, Castor M.M. Bartolomé Ruiz (orientador) Faculdade de Filosofia, Unisinos ,Centro de Ciências Humanas Resumo Este trabalho faz parte da pesquisa Biopoder, Política e Violência. Um estudo a partir de M. Foucault, W. Benjamin e G. Agamben, coordenada pelo Prof. Dr. Castor Bartolomé Ruiz, no Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Dentro disto, o trabalho faz um recorte conceitual e temático dentro do projeto de pesquisa principal, examinando o conceito de biopolítica em dois autores: Michel Foucault e Giorgio Agamben, apontando suas aproximações e distanciamentos. Introdução Foi Michel Foucault que pela primeira vez utilizou o termo em seu ensaio O nascimento da medicina social, numa conferência proferida no Rio de Janeiro em 1974. Para o autor, o capitalismo não teria acarretado uma passagem da medicina coletiva para a medicina privada, mas sim uma socialização do corpo, sendo o corpo uma realidade biopolítica. Para que possamos entender melhor o conceito de biopolítica, retornaremos aos termos gregos de zoe e bios, tal qual nos propõe Giorgio Agamben em Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I (2002), e veremos novamente a distinção que a cultura grega fazia entre as duas dimensões da vida humana. A zoe é entendida como a vida regida pelas leis da espécie, submissa à natureza que define o seu modo de ser, por isso uma vida natural. É ela que regula a vida do corpo, a natureza dos instintos, os desejos, as necessidades fisiológicas, o 1384

Upload: duongdieu

Post on 12-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Biopolítica em Foucault e Agamben - pucrs.br · Biopolítica em Foucault e Agamben ... FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: ... FOUCAULT, M. Segurança, território, população:

XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010

XI Salão de Iniciação Científica

PUCRS

Biopolítica em Foucault e Agamben

Juliana Schneider Guterres, João Franscisco Haetinger, Castor M.M. Bartolomé Ruiz (orientador)

Faculdade de Filosofia, Unisinos ,Centro de Ciências Humanas

Resumo

Este trabalho faz parte da pesquisa Biopoder, Política e Violência. Um estudo a partir

de M. Foucault, W. Benjamin e G. Agamben, coordenada pelo Prof. Dr. Castor Bartolomé

Ruiz, no Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

- UNISINOS. Dentro disto, o trabalho faz um recorte conceitual e temático dentro do projeto

de pesquisa principal, examinando o conceito de biopolítica em dois autores: Michel Foucault

e Giorgio Agamben, apontando suas aproximações e distanciamentos.

Introdução

Foi Michel Foucault que pela primeira vez utilizou o termo em seu ensaio O

nascimento da medicina social, numa conferência proferida no Rio de Janeiro em 1974. Para

o autor, o capitalismo não teria acarretado uma passagem da medicina coletiva para a

medicina privada, mas sim uma socialização do corpo, sendo o corpo uma realidade

biopolítica.

Para que possamos entender melhor o conceito de biopolítica, retornaremos aos termos

gregos de zoe e bios, tal qual nos propõe Giorgio Agamben em Homo Sacer: o poder

soberano e a vida nua I (2002), e veremos novamente a distinção que a cultura grega fazia

entre as duas dimensões da vida humana. A zoe é entendida como a vida regida pelas leis da

espécie, submissa à natureza que define o seu modo de ser, por isso uma vida natural. É ela

que regula a vida do corpo, a natureza dos instintos, os desejos, as necessidades fisiológicas, o

1384

Page 2: Biopolítica em Foucault e Agamben - pucrs.br · Biopolítica em Foucault e Agamben ... FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: ... FOUCAULT, M. Segurança, território, população:

XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010

desenvolvimento biológico – existindo independente da vontade humana e aquém da

liberdade e da cultura. Já a bios não é mera vida natural, ela transcende a zoe, na medida em

que é uma vida historicamente elaborada e que não se desenvolve conforme determinações da

natureza, mas a partir da potencialidade criativa humana, construída pela práxis dos sujeitos.

A partir daí pensaremos onde se encontram as teorias de Foucault e Agamben e onde

elas se distanciam.

Metodologia

O método de investigação preconizado na pesquisa toma os textos filosóficos de

Foucault e Agamben como objetos de investigação, visando explicitar a racionalidade que

neles se pressupõe, passível de ser trabalhada pela operação de ler e interpretar, para que, a

partir disso, seja possível tecer considerações sobre o tema.

Resultados (ou Resultados e Discussão)

Com a conferência de Foucault no Rio de Janeiro em 1974, houve pela primeira vez na

história a entrada dos fenômenos próprios à vida da espécie humana na ordem do saber e do

poder, no campo das técnicas políticas. A vida sempre fez pressão sobre a história, sobretudo

através das epidemias e da fome, mas somente quando estas foram relativamente controladas

é que a vida humana começou a ser objeto de poder e saber. Durante toda sua obra ele critica

a abordagem tradicional do problema do poder, baseada somente em modelos jurídicos ou

institucionais, indicando a necessidade de libertar-se do arcabouço da soberania.

A partir daí muitos teóricos puderam refletir sobre o assunto, incluindo nesta lista

Giorgio Agamben, que enriquece a discussão sobre o tema retornando aos conceitos gregos

sobre a vida e tecendo importantes articulações a partir daí ao nos colocar em contato com a

questão da vida nua, objeto a um só tempo de inclusão e exclusão, submetida ao soberano e

seu próprio arbítrio.

1385

Page 3: Biopolítica em Foucault e Agamben - pucrs.br · Biopolítica em Foucault e Agamben ... FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: ... FOUCAULT, M. Segurança, território, população:

XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010

Conclusão

Conclusões definitivas não nos parecem próprias no campo da Filosofia, mas podemos

apontar algumas direções que nos parecem verdadeiras, dentro do que estamos trabalhando.

Foucault tem o mérito de nos trazer à superfície o horizonte biopolítico – foi em sua obra que

o termo apareceu pela primeira vez e ele se dedicou a colocar em pauta este assunto. Mas, nos

parece que Agamben dá um salto teórico e conceitual para além de Foucault ao nos colocar a

questão da vida nua e uma continuidade de fundo entre o poder soberano e o biopoder e um

ponto de intersecção entre os dois modelos de poder que tão bem Foucault descreveu – o

jurídico-institucional e o biopolítico.

Referências

AGAMBEN, G. Homo sacer: o poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte: Editora

UFMG, 2002.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979, p. 79-98.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições

Graal, 1988.

FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São

Paulo: Martins Fontes, 1999. (Coleção tópicos)

FOUCAULT, M. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-

1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008. (Coleção tópicos)

RUIZ, C.M.M.B. Paradoxos do biopoder: a redução da vida humana a mera vida natural. In:

Filosofia Unisinos (vol.1, n. 1, jul/dez 2000). São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos

Sinos, 2000.

1386