biografias de compositores (para imprimir)

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B I O G R A F I A S BACH Johann Sebastian Bach Gênio traduz mistérios do sagrado Colaboração para a Folha On-line BIOGRAFIA Quem aprende a tocar Bach pode tocar qualquer música. Esse mito popular vivo entre os músicos é apenas uma pequena mostra da grandeza do trabalho do compositor alemão Johann Sebastian Bach. Gênio da matemática, ele também foi uma figura excêntrica --assim como sua arte, dificílima. Era obstinado em combinar as melodias da música e, graças a sua técnica, dominou como ninguém a ciência da composição em prol da harmonia perfeita. Nascido em 21 de março de 1685, em Eisenach, uma pequena cidade da Turingia, no centro da Alemanha, desde pequeno o caminho de Johann Sebastian Bach cruzou-se com o da Igreja Protestante de Martim Lutero, fundada na Alemanha do século 16, e da qual sua família, os tradicionais músicos Bach, fazia parte. Naturalmente, seu pai, o violinista Johann Ambrosius Bach, educou os seus oito filhos para que se tornassem proeminentes músicos seguindo a tradição dos Bach, que passaram sua herança musical de geração em geração por 200 anos. Só que o seu caçula superou a todos. Órfão de pai e mãe aos nove anos de idade, Johann Sebastian passou a adolescência em Ohrdruf com seu irmão mais velho, o violinista Johann Christoph. No fim do século 17, a Alemanha estava dividida em estados independentes, mas abertos a culturas européias, como as da Itália e França. Foi nesse cenário, que o jovem

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BIOGRAFIAS

B I O G R A F I A S

BACHJohann Sebastian Bach

Gnio traduz mistrios do sagrado

Colaborao para a Folha On-lineBIOGRAFIAQuem aprende a tocar Bach pode tocar qualquer msica. Esse mito popular vivo entre os msicos apenas uma pequena mostra da grandeza do trabalho do compositor alemo Johann Sebastian Bach. Gnio da matemtica, ele tambm foi uma figura excntrica --assim como sua arte, dificlima. Era obstinado em combinar as melodias da msica e, graas a sua tcnica, dominou como ningum a cincia da composio em prol da harmonia perfeita.

Nascido em 21 de maro de 1685, em Eisenach, uma pequena cidade da Turingia, no centro da Alemanha, desde pequeno o caminho de Johann Sebastian Bach cruzou-se com o da Igreja Protestante de Martim Lutero, fundada na Alemanha do sculo 16, e da qual sua famlia, os tradicionais msicos Bach, fazia parte.

Naturalmente, seu pai, o violinista Johann Ambrosius Bach, educou os seus oito filhos para que se tornassem proeminentes msicos seguindo a tradio dos Bach, que passaram sua herana musical de gerao em gerao por 200 anos. S que o seu caula superou a todos. rfo de pai e me aos nove anos de idade, Johann Sebastian passou a adolescncia em Ohrdruf com seu irmo mais velho, o violinista Johann Christoph. No fim do sculo 17, a Alemanha estava dividida em estados independentes, mas abertos a culturas europias, como as da Itlia e Frana. Foi nesse cenrio, que o jovem Bach adquiriu uma sofisticada formao cultural, absorvendo a arte dos compositores antigos e tambm a de seus contemporneos barrocos Antonio Vivaldi, Reincken e Frescobaldi, entre outros. Mas ele precisava de mais informao. Ento, com quinze anos de idade, alcanou meios de desenvolver plenamente a sua intelectualidade, matriculando-se na respeitada escola So Miguel de Lneburg. Consta-se que, ainda criana, transcrevia obras de autores em alemo, latim, francs ou italiano. vido por conhecimento, Bach estudava vrias horas, todos os dias. Tudo para aperfeioar seu domnio tcnico sobre a msica, que despertou o fascnio de diversas geraes --mais tarde Mozart e Beethoven tambm o chamariam de "o pai da harmonia". Esforado, o compositor alemo teve vrios empregos em igrejas e nas cortes que serviu na Alemanha. Em 1703, ele conseguiu seu primeiro trabalho, em Arnstadt, onde ocupou o cargo de organista da igreja de St. Boniface. E apesar da pouca idade, Bach j era um mestre em seu ofcio e fez transformaes musicais que escandalizaram seus superiores. Mas nem por isso mudou seu pensamento. No ano de 1707, casou-se com a sua jovem prima Maria Brbara e constitui famlia cedo. Ela lhe deu sete filhos durante os treze anos do casamento, mas durante uma viagem do marido subitamente adoeceu e morreu. Nessa poca, Bach fora nomeado Kapellmeister (mestre de capela) em Cthen. Sob a proteo do prncipe calvinista Leopold, ele ganhava um alto salrio e pde, sobretudo, dedicar-se composio de msicas instrumentais. Datam dessa poca seus concertos para violino e os seis Concertos de Brandenburgo, feitos sob encomenda para o duque de Brandenburgo. Um ano aps a morte de Maria Brbara, Bach casou-se novamente. Dessa vez, apaixonou-se pela filha de um trompetista da corte, a cantora Anna Magdalena, que se revelou uma companheira adorvel. Ele tinha 36 anos e ela 20. Ao todo, o casal teve treze crianas.Depois de vrios anos trabalhando nas cortes alems, em 1723, Bach retornou as suas origens e mudou-se para Leipzig, onde assumiu o posto de organista e professor da igreja de So Tomas. Totalmente voltado obra de Deus, consta que nos primeiros anos passados em Leipzig deixou de produzir msica "profana" e passou a escrever exclusivamente concertos religiosos. Seus historiadores contam que, nessa poca, Bach comps uma quantidade prodigiosa de msica eclesistica, entre elas duas de suas maiores obra-primas: Johannespassion (Paixo segundo So Joo, 1723) e Matthauspassion (Paixo segundo So Mateus, 1729). O gnio da cincia musical no acumulou riquezas, e trabalhou at os ltimos dias de vida para prover o seu sustento e dos entes queridos. Cercado por sua famlia, Bach morreu completamente cego no dia 28 de julho de 1750. Consta-se que, em seu leito de morte, ele tenha ditado ao genro Altnkiol sua ltima obra: Senhor, eis-me diante do Teu Trono, que foi executada em seu funeral. Bach est enterrado num sepulcro sem marca na igreja de So Tomas.CURIOSIDADESLeitura luz da lua

Sempre interessado em aprender cada vez mais, Bach no poupava esforos para avanar seus conhecimentos. Conta-se que certa vez, antes de completar 13 anos, ele pediu um livro emprestado ao seu irmo mais velho, Johann Christoph. Como este lhe negou, habilmente o menino encontrou uma soluo para resolver o problema. Assim, todas as noites aps irem se deitar, ele pegava o livro de msica e varava madrugadas estudando. Como no podia acender velas para no chamar a ateno do irmo, por muito tempo estudou tendo como nica claridade a luz da lua. Esse costume de transcrever obras na escurido, alis, perdurou por toda sua vida. Um esforo que certamente contribuiu para a sua completa cegueira.

Caminhada de 200 milhas a p

Embora nunca tenha feito viagens fora da Alemanha, o compositor alemo chegou a cometer verdadeiras loucuras para vivenciar a msica de outros artistas. Sua fama j era grande quando, em Arnstadt, resolveu pedir uma licena de quatro semanas do trabalho. Para ouvir o grande organista Dietrich Buxtehude, ele andou 200 milhas a p at chegar ao seu destino, Lubeck. O problema que demorou quatro meses para voltar. Essa "excentricidade" custou-lhe o seu emprego. Mestre sentimental

A profundidade da msica religiosa de Bach impressionante. E da mesma forma que compunha suas obras, ensinava seus discpulos a execut-las no coral da igreja. Tanto que um de seus alunos, Gottlieb Ziegler, comentou certa vez: "Quanto maneira de tocar o coral, meu professor, o mestre de capela Bach, ensinou-me de tal forma que no me limito a tocar os corais simplesmente seguindo a msica, mas inspirado no sentimento que indicam as palavras".

Trabalhei "duro"

Alm de produzir uma obra de imensa variedade e extenso, o grande Bach ainda foi organista, cravista, violinista, regente, diretor de servios musicais de igreja e professor de meninos. Quando lhe perguntavam o segredo de tanto talento, respondia sem hesitao ou rodeios: "Eu trabalhei duro.... Anel de Reincken

Bach escreveu para rgo durante toda a sua vida, sendo como organista virtuose e improvisador genial que seus contemporneos apreciaram sua arte. Consta que ao fim de um longo improviso sobre An Wasserflssen Babylon, o velho Reincken - sabidamente um homem orgulhoso - passou-lhe o anel que usava no dedo, e disse em alemo: "Eu pensava que esta arte morreria comigo, mas vejo que ela sobreviver no senhor". Improvisaes que tambm curvaram duques, prncipes e reis como Frederico 2 em Potsdam.

Nas mos de um charlato

Nascidos no mesmo ano e considerados os compositores alemes mais famosos da poca, Bach e Handel viveram uma infeliz coincidncia. Nunca se conheceram pessoalmente, mas ambos tiveram um destino parecido: quase cegos, foram operados pelo mesmo mdico, o ingls ambulante John Taylor. No entanto, as cirurgias de ambos no foram bem-sucedidas e, pelas mos de um charlato, eles ficaram completamente cegos. No caso de Bach, a cirurgia no apenas se revelou intil como contribuiu para agravar o seu estado geral e provocar um segundo ataque de apoplexia, privando-lhe os sentidos e movimentos.

Sistema de numerao BWV

As peas de Johann Sebastian Bach esto catalogadas com os nmeros BWV, sendo que BWV significa Bach Werke Verzeichnis (Lista das Obras de Bach). Compilado por Wolfgang Schmieder, o catlogo foi publicado em 1950. Uma variante desse sistema usa o S (de Schmieder) no lugar de BWV, para identificar o autor do sistema de numerao.

CONTEXTO HISTRICOO coral era a msica popular vigente na Alemanha luterana dos sculos 17 e 18, perodo em que a atividade cultural se desenvolveu amplamente. Por isso, no toa que a arte sacra de Bach apresenta um carter profundamente confessional, cantada para a glria de Deus. Entretanto, com sua tcnica, o gnio alemo fez alteraes no apenas no gnero, como em quase todas as categorias musicais eruditas que experimentava, tais como o concerto, a abertura, a cantata e a fuga."O estilo barroco, que se consolida na obra de Vivaldi, atinge seu apogeu com Bach. Mestre da arte do contraponto, ele experimentou todas as formas de msica misturando vozes com instrumentos como o cravo, o violino e o rgo. Nunca antes um coral havia experimentado essa forma", diz o maestro Walter Loureno, que apresenta programas dirios de msica clssica na Rdio Cultura FM. Junto com isso, o compositor trouxe tona o majestoso estilo polifnico do perodo do Renascimento. Afinal, suas canes exultantes eram destinadas aos cnticos de louvor dos protestantes alemes e falavam de um sentimento muito particular, como o Natal, a Pscoa, a Quaresma, o Advento, a festa da Reforma ou o Dia de Ao de Graas. Bach, claro, tambm empregou a tcnica do baixo contnuo em sua obra. Toda a sua msica de cmara e a parte mais importante de sua arte vocal envolvem esse tipo de escrita, que libera a melodia solista e permite ao canto alar vo. Segundo seus estudiosos, Bach alcanou seu virtuosismo no domnio do contraponto exatamente por sua capacidade em combinar qualquer melodia com uma outra, ou consigo mesma, de todas as maneiras imaginveis. Porm, como dava pouca importncia s modas musicais, suas composies, ao longo da vida, foram tornando-se desconhecidas. Em uma poca de predomnio da pera italiana, gnero que no cultivou, sua msica chegou a ser considerada anacrnica por uma gerao de msicos que no compreendia seu valor. Tudo isso, aliado decadncia do esprito religioso com o surgimento do Iluminismo no sculo 18, explica a pouca projeo de suas obras durante a vida.Contudo, sua msica permaneceu viva e foi adotada como modelo por outros msicos no sculo seguinte quando, em 1829, Felix Mendelssohn descobriu a Paixo segundo So Mateus e iniciou o movimento por reavivar e executar a msica instrumental mais antiga. Com a morte de Johann Sebastian Bach em 1750, os estudiosos de msica marcaram o fim da idade Barroca.

OBRASA produo artstica de Bach abrange praticamente todos os gneros musicais de sua poca, exceto os gneros dramticos da pera e do oratrio (seus trs oratrios se deram num sentido muito especial). Por obrigao de servio, Bach comps, durante anos, um grande acervo de peas sacras: mais de duzentas cantatas, vrios motetos, cinco missas, trs oratrios, e quatro paixes, sendo que a mais famosa delas, "A Paixo Segundo So Mateus" (1729), ficou conhecida como uma obra-prima da msica ocidental. Mas sua arte no ficou restrita apenas igreja protestante. Em sua obra tambm h uma missa catlica, a "Missa em Si menor", que comps em 1717, quando viveu na corte do Prncipe Leopold em Cthen. Alis, nos anos que passou a servio das cortes, Bach comps uma infinidade de trabalhos para a msica instrumental: centenas de peas para solo de teclado, sutes orquestrais de dana, trio de sonatas para diversos instrumentos, e concertos para vrios instrumentos e orquestra. Destes, os mais famosos so o seis concerti grossi compostos para o duque de Brandenburgo, em 1721, que ficou conhecido como "Concerto de Brandenburgo". Confira a seguir as principais obras do compositor alemo:

Msica sacra

Paixo segundo So Joo (1724)

Paixo segundo So Mateus (1727) dio

Oratrio de Natal (1734)

Missa em si menor (1749)

Magnificat (1723)

Mais de 200 cantatas de igreja, incluindo as obras Cantata do caf (1735) e Cantata dos camponeses (1742).

Msica de orquestra

Concertos Brandenburgo (1721); dois concertos para violino em l menor, mi maior (1717-23); Concerto para violino, em r menor (1723); Concertos para cravo (1738); oito concertos para cravo (r menor, mi maior, r maior, l maior, f menor, f maior, sol menor, r menor); trs concertos para dois cravos (d menor, d maior, d menor); dois concertos para trs cravos (r menor, d maior); um concerto para quatro cravos (l menor); quatro sutes para orquestra em d maior, si menor (com flauta), r maior, r maior.Msica de cmara

6 sonatas e partitas para violino (1720)

6 sonatas para violino e cravo (1717-23)

6 sutes para violoncelo (1720)

Oferenda musical (1747)

7 sonatas para flauta, 3 sonatas para viola da gambaMsica para teclado

7 tocatas (1708-1710)

Orgelbuchlein (Pequeno Livro do rgo, 1717)

Fantasia cromtica e fuga, em r menor (1720)

O cravo bem temperado (1722-1742)

Sutes Francesas (1722)

Sutes Inglesas (1724-1725)

Sutes Alems (1726-1731)

15 invenes, 15 sinfonias (1723)

6 Partitas (1731)

Concerto italiano (1735)

Variaes Goldberg (1741)

A arte da fuga (1745-1750)

SITES RELACIONADOSBiografia - (ingls) Pgina com informaes ilustradas sobre a vida e obra de Johann Sebastian Bach. O site tambm traz retratos em cores ou preto-e-branco mostrando as diferentes fases da vida do compositor alemo, incluindo uma com sua numerosa famlia. No site, h tambm um mapa mostrando as cidades em que morou na Alemanha.Cantatas de Bach - Pgina com a letra das msicas de Bach em ingls, espanhol, alemo e at portugus. Contm ainda um frum de discusses, textos sobre a Igreja Luterana e informaes dos lugares na Alemanha que o filho ilustre percorreu. Arquivo histrico em Leipzig - (alemo) Pgina oficial do museu dedicado a Bach, localizado em Leipzig, na Alemanha. No site, o internauta consegue comprar souvenirs como o busto do compositor barroco ou uma singela medalha com o rosto dele. Msica barroca - (ingls) Pgina com fotos e informaes sobre a msica barroca e seus principais msicos e compositores. No texto biogrfico de Bach h um link onde possvel ver uma ilustrao dos sales onde o msico se apresentava para a nobreza alem. No site o internauta tambm pode ouvir as principais obras no Windows Media. CDs barrocos - Pgina que traz os nomes dos principais CDs da arte barroca, incluindo as obras de Bach, Vivaldi e Handel. O catlogo de discos vem acompanhado de fotografias e um pequeno texto explicativo.

Amazon.com - (ingls) Pgina da loja Amazon.com onde possvel comprar o CD "JS Bach: Keyboard Trio Sonatas". O site traz pequenos trechos de todas as msicas para ouvir no Windows Media e Royal One Player.

Catlogo completo - (ingls) Pgina com o catlogo codificado das obras de Bach. Arvore genealgica - Pgina que mostra a origem dos msicos Bach.

BEETHOVEN

Ludwig van Beethoven

Fria ataca "Napoleo da msica"

Colaborao para a Folha On-lineBIOGRAFIA

"Atingi tal grau de perfeio que me encontro acima de qualquer crtica", escreveu certa vez Ludwig van Beethoven. Difcil discordar. Afinal, consenso dizer que Beethoven est para o mundo da msica assim como Shakespeare est para o da literatura e Michelangelo para o das artes. Mas, alm da confisso de uma justificada auto-suficincia de seu autor, a frase tambm expressa uma das caractersticas mais marcantes da personalidade do compositor alemo, que definia a si prprio, sem laivos de falsa modstia, como o "Napoleo da msica": Beethoven era dono de um comportamento intempestivo e gnio forte que por vezes provocava acessos de violncia fsica.

Conta-se, por exemplo, que, um dia, em 1806, hospedado no castelo do prncipe Lichnowsky, um antigo protetor a quem dedicara sua Sinfonia n 2, Beethoven recebeu o pedido de tocar para alguns oficiais de Napoleo. Em meio a um de seus j conhecidos surtos de ira, o compositor recusou-se terminantemente a sentar ao piano. Como resposta, o anfitrio, presume-se que em tom de brincadeira, ameaou prend-lo. Beethoven levou a advertncia a srio. Voltou imediatamente para Viena, e, chegando l, espatifou um busto de Lichnowsky.

Esse e outros episdios pitorescos da vida de Beethoven sempre foram um prato cheio para os muitos autores que se debruaram sobre sua biografia. Filho de um pai alcolatra, que o obrigava a levantar de madrugada da cama para tocar piano, o pequeno Beethoven teria motivos suficientes para ter evitado o caminho de uma carreira musical. O pai, Johann, msico medocre e frustrado, sempre batia nele entre uma bebedeira e outra, forando-o a estudar msica durante horas seguidas -- queria v-lo transformado em um novo Mozart.

Aos 13 anos, Beethoven viu-se na obrigao de abandonar a escola para sustentar a casa, uma vez que seu pai decidira trocar de vez o trabalho pelo lcool. O garoto arranjou vrios empregos, todos ligados msica, desde organista de teatro a professor. At que caiu nas graas de um nobre, o conde Ferdinand Ernst von Waldstein, que resolveu investir na carreira daquele jovem talentoso e de modos rudes, enviando-o para a civilizada Viena, primeiro como aluno de Mozart e, depois, de Haydn. Mozart no se impressionou muito com os dons do novo pupilo. J Haydn, afetuoso mas pouco rigoroso, ganhou de Beethoven o apelido de "Papai Haydn" e teve grande influncia sobre o compositor.

Mesmo com seu estilo pouco corts, Beethoven e seu piano comeavam a circular com desenvoltura pelos sales aristocrticos de Viena quando, em 1796, o compositor comeou a sentir os primeiros sintomas de uma surdez progressiva. Para qualquer msico, mesmo para Beethoven, um princpio de surdez pareceria um obstculo intransponvel. "Era-me impossvel dizer s pessoas: 'fale mais alto, grite, porque sou surdo'. Como eu podia confessar uma deficincia do sentido que em mim deveria ser mais perfeito que nos outros, um sentido que eu antes possua na mais alta perfeio?", escreveu numa carta de despedida aos irmos na qual sugeria que, desesperanoso da vida, iria cometer suicdio.

Contudo, em vez de se matar, Beethoven preferiu --como ele prprio observou-- "agarrar o destino pela garganta". Comeava ali o que os bigrafos consideram a segunda das trs fases da vida e da produo de Beethoven. Mesmo com o agravamento da doena, ele compe algumas de suas mais belas obras, como a Sinfonia n 3 ("Eroica") e a Sinfonia n 6 ("Pastoral"), esta ltima um de seus trabalhos mais populares at hoje. "Parecia-me impossvel deixar o mundo antes de ter dado a ele tudo o que ainda germinava em mim", explicou.

Pouco antes, j havia composto a bela Sonata ao luar, dedicada charmosa Giulietta Guicciardi, de apenas 17 anos, uma das muitas paixes do compositor que, alis, ficaria conhecido por seus inmeros casos de amor malsucedidos. Em um deles, vivido com a cantora Magdalena Willman, Beethoven viu seu pedido de casamento rejeitado sob a justificativa de que ele era mal-educado. Tornou-se, ento, um solteiro convicto. "Beethoven casou-se com sua msica", sugere o bigrafo Lewis Lockwood.

Na ltima dcada de vida, Beethoven ficou completamente surdo. Gastava as noites pelas tavernas, vestia-se como um maltrapilho, arranjava brigas com vizinhos. Os pulmes estavam em frangalhos, o fgado dissolvia-se no lcool, o reumatismo e as dores de cabea o atormentavam dia e noite, a surdez se fazia acompanhar de molstias oculares. Mesmo assim, continuava a compor obras-primas. Diz-se que a falta de audio havia libertado o compositor de todas as convenes musicais, possibilitando-lhe criar uma msica abstrata e completamente inovadora.

Trs anos antes de morrer, Beethoven assistiu a seu derradeiro e maior triunfo: foi efusivamente aplaudido durante a execuo de sua Nona sinfonia. O sucesso animou-o a escrever o que seria sua dcima sinfonia. Porm, no houve tempo para tanto. Ludwig van Beethoven morreu de cirrose heptica em 26 de maro de 1827, aps contrair pneumonia, numa tarde de tempestade sobre Viena.

CURIOSIDADES

De olhos bem abertos

Em 1825, j completamente surdo, Beethoven foi assistir a um ensaio fechado de um grupo que iria executar o seu Quarteto em mi bemol maior op. 127. Um dos violinistas, Joseph Bhm, registrou o episdio: "O infeliz estava to surdo que no podia ouvir o som celestial das suas prprias composies". Para espanto de todos, porm, Beethoven chamou a ateno do grupo para os menores erros de execuo. "Seus olhos seguiam os arcos, e assim ele era capaz de notar as menores flutuaes no tempo ou no ritmo, e corrigi-las na hora", anotou Bhn.

A verdadeira fortuna de Beethoven

Conta-se que um dia Beethoven foi visitar o irmo mais novo, Johann, que a essa altura era um homem rico. Na entrada da manso, um criado ofereceu-lhe, numa salva de prata, um carto de visitas onde estava escrito: "Johann van Beethoven, proprietrio de terras". O compositor pegou o carto e, instantes depois, devolveu-o ao criado, aps escrever no verso do papel a seguinte anotao: "Ludwig van Beethoven, proprietrio de um crebro".

O amor de Beethoven no cinema

Aps a morte de Beethoven, foi encontrada em seus papis particulares uma carta de amor, escrita a lpis, sem qualquer indicao sobre sua destinatria. "Meu anjo, meu tudo, meu eu", dizia a carta, redigida em tom de lamento. "Esqueceu de que voc no inteiramente minha e de que eu no sou inteiramente seu? Oh, Deus!", gemia Beethoven. At hoje os bigrafos discutem a identidade da musa secreta. A histria rendeu um filme, Minha amada imortal (Immortal Beloved), de 1994, dirigido por Bernard Rose, com Gary Oldman na pele de Beethoven.

Pssimo pai

Quando Karl, irmo do compositor morreu em 1815, Beethoven tomou para si a tarefa de criar o sobrinho, que tinha o mesmo nome do pai. Durante meses a fio, o msico travou nos tribunais uma batalha judicial para se tornar tutor da criana, retirando-a das mos da me, a quem julgava uma mulher imoral. Finalmente, aps obter ganho de causa, levou o menino para morar com ele. Mas Beethoven acabou revelando-se um tirano no papel de pai adotivo. Aps tentar o suicdio, Karl engajou-se no exrcito austraco e tratou de sumir da vida do compositor.

Fama eterna

A Nona sinfonia de Beethoven , sem dvida, uma das msicas mais conhecidas do mundo. Executada pela primeira vez em 1824, ela j foi includa na trilha sonora de vrios filmes, inclusive no controvertido Laranja Mecnica, de Stanley Kubrick. Outra composio muito famosa de Beethoven a Quinta sinfonia. Nos anos 70, a obra ganhou uma verso eletrnica que virou hit nas discotecas da poca. No mundo da propaganda, a Quinta (a do "tchan, tchan, tchan, tchan") j foi usada at para vender aparelhos de barbear.

CONTEXTO HISTRICO

A obra de Beethoven considerada um divisor de guas na histria da msica universal. Representa uma transio entre a msica do sculo 18, classicista, e a do sculo 19, romntica. Da primeira, assim como de seus mestres Mozart e Haydn, Beethoven conservou o rigor, o equilbrio e a disciplina formal. Mas, tambm, ao mesmo tempo, soube antecipar a intensidade de emoes e a liberdade tpica dos compositores romnticos. "Uma msica sada do corao, e que chegue ao corao", definia ele prprio.

No toa que Beethoven tenha vivido, igualmente, em um momento histrico marcado pelo signo da transio. A Revoluo Francesa de 1789, por exemplo, rebentou quando ele tinha apenas 19 anos. Com a revoluo, o Antigo Regime, conduzido pela aristocracia, cedia lugar para uma nova classe dirigente, a burguesia. justamente essa burguesia que passar a ser o principal pblico consumidor de arte e de msica na Europa naquele instante. Antes, no classicisismo, o artista era praticamente um servo da nobreza, que lhe encomendava as obras, levava-o para tocar em seus luxuosos sales e, em seguida, mandava-o jantar na cozinha, junto com os demais criados da casa.

Com os novos tempos ps-revolucionrios, comearam a aparecer tambm os primeiros espetculos pblicos. Msicos e compositores exibiam suas obras para um nmero cada vez maior de espectadores. Antes nivelado aos serviais, o artista ganhava personalidade prpria, o que ajudaria a reforar o carter de subjetividade e de individualidade artstica, to caro aos romnticos. Era esta uma moldura histrica perfeita para se despontar um carter to impulsivo e to independente quanto o de Beethoven, que sintomaticamente sempre se recusara a ser tratado como criado e comer na cozinha.

A msica de Beethoven, verdade, evoluiu consideravelmente ao longo dos anos. Suas primeiras composies, entre 1792 e 1800, apesar de j demonstrarem um marcante estilo pessoal, ainda esto muito prximas da msica tpica daquele sculo 18. Em sua segunda fase, entre 1800 e 1814, aps algumas experimentaes notveis, alcana seu ponto mximo de criao. , curiosamente, o perodo das primeiras manifestaes de sua doena. Ali, Beethoven consuma, com extraordinria genialidade, todos os recursos e possibilidades do classicismo.

A terceira e ltima fase de Beethoven, enfim, entre 1814 e as vsperas de sua morte, surpreender o pblico e a crtica da poca. Muitos de seus contemporneos no compreendero e torcero o nariz para aquela msica abstrata, composta em um estado de j absoluta surdez. Desta fase, ficaro sobretudo os ltimos quartetos e a portentosa Nona sinfonia. A herana que Beethoven deixou para a msica posterior ser avassaladora. Morto em 1827, sua arte e seu nome dominaro todo o sculo 19. Somente no sculo 20, com o Modernismo, os compositores eruditos conseguiro se libertar de sua suprema e esmagadora influncia.

OBRAS

Sonatas

Sonata Pattica, Opus 13 (1789)

Sonata em si bemol maior, Opus 22 (1800)

Sonata ao Luar, Opus 27 (1801)

Sonata em l bemol maior, Opus 26 (1801)

Sonata para violino e piano em d menor, Opus 30 (1802)

Sonata Apassionata, Opus 57 (1804)

Sinfonias

Sinfonia Nmero 3 em mi bemol maior (1803)

Sinfonia Nmero 5 em d menor (1807)

Sinfonia Nmero 6 em f maior (1808)

Sinfonia Nmero 7 em l maior (1811)

Sinfonia Nmero 9 em r menor (1823)

Quartetos

Quarteto em mi bemol maior, Opus 127 (1824)

Quarteto em l menor, Opus 132 (1825)

Concertos

Concerto para piano e orquestra nmero 5, Opus 73 (1809)

Concerto nmero 3, Opus 37 (1800)SITES RELACIONADOSMuseu Beethoven - Pgina oficial do Museu Beethoven, em Bonn, Alemanha. Permite uma visita virtual s dependncias e catlogos da instituio, alm de contar com uma lojinha de souvenirs para compras on-line. Em ingls e alemo. The Magnificent Master - Uma das pginas mais completas sobre Beethoven. Traz uma biografia dividida em captulos, informaes sobre a famlia, uma boa galeria de imagens, curiosidades e artigos sobre a obra do compositor. Em ingls e alemo. The Beethoven reference site - Pgina que abriga um interessante frum de discusses sobre Beethoven, alm de oferecer muitas informaes sobre a vida e a obra do compositor. Em ingls e alemo. Ludwig Beethoven Website - Pgina sobre Beethoven em quatro idiomas: ingls, espanhol, italiano e francs. Reproduz o texto integral da clebre carta enviada por Beethoven sua "amada imortal". Classical Net: Beethoven - Pgina com arquivos sonoros da obra de Beethoven e artigos sobre o compositor, destacando as principais gravaes disponveis. Contm tambm links para lojas virtuais, onde se pode comprar discos especficos. Em ingls. Classical Music Page - Alm de um bom nmero de arquivos sonoros com trechos de msicas, a pgina traz ainda biografia, artigos e um banco de imagens de Beethoven. Em ingls. Beethoven, o imortal - Uma seleo de informaes sobre Beethoven colhidas em vrias outras pginas da internet. Imagens, artigos, curiosidades, arquivos sonoros etc. Allegro - Um consistente guia on-line para o ouvinte de msica clssica, traz pginas sobre a histria da msica e biografias dos principais compositores, com comentrios sobre suas obras mais significativas. Em portugus.Bravssimo - Pgina em portugus, que inclui biografia e breves comentrios sobre a obra do compositor alemo.

BERLIOZHector Berlioz

Francs inova, mas coleciona fracassos.Colaborao para a Folha On-lineBIOGRAFIAEla era britnica. Seu nome, Harriet Smithson. Quando o compositor francs Hector Berlioz a viu no palco, interpretando Oflia, em Hamlet, de William Shakespeare, imaginou ter encontrado ali o amor de sua vida. Na verdade, segundo consta, teria se apaixonado duplamente. Por Harriet e pela obra de Shakespeare. Berlioz decidiu, ento, casar com as duas. Com Harriet Smithson, na igreja. Com a obra de Shakespeare, na msica.

Harriet, inicialmente, o desprezou. "Se voc no almeja minha morte, em nome da piedade (no ouso dizer do amor), faa-me saber quando poderei v-la", escreveu-lhe um suplicante Berlioz. Em vo. S aps sofrer um acidente, fraturar uma perna e ser alvo de uma campanha de solidariedade organizada pelo msico, a moa cedeu.

Os dois, Harriet e Berlioz, casaram e tiveram um filho, Louis. A relao, porm, durou pouco. Cerca de um ano depois, aps muitas traies da parte dela e uma montanha de dificuldades financeiras da parte dele, estavam separados. O amor pelo menos serviu de inspirao, ainda em sua fase platnica, para Berlioz compor, em 1830, a Sinfonia fantstica, uma de suas obras-primas.

J o casamento do compositor com a obra de Shakespeare foi mais duradouro. Amante da literatura, Berlioz tornou-se um pioneiro da chamada "msica de programa", isto , uma obra musical inteiramente baseada em um romance ou poema, gnero tambm conhecido como "poema sinfnico". De Shakespeare, em 1839, Berlioz transformaria Romeu e Julieta em sinfonia e, em 1860, baseado em Muito barulho por nada, comporia a pera Batrice et Bndict. "Desabando inesperadamente sobre mim, Shakespeare me fulminou. Reconheci a verdadeira grandeza, a verdadeira beleza e a verdadeira verdade dramticas", escreveu.

O grande problema para Hector Berlioz, que nasceu em 11 de dezembro de 1803 em Grenoble (Frana), sempre foi conseguir sobreviver como msico e compositor. Houvesse obedecido s determinaes familiares, teria seguido a profisso de juiz, como muitos de seus parentes, ou de mdico, como o prprio pai. Para conseguir algum sustento, dedicou-se ao jornalismo e escreveu crtica musical no Journal des Dbats, em Paris. Detestava aquele trabalho: "Escrever insignificncias a respeito de insignificncias, fazer mornos elogios a obras insuportavelmente maantes!", reclamava.

Em um momento em que o cenrio musical parisiense estava dominado pela pera, era mesmo de se esperar que a msica sinfnica e instrumental no encontrasse muitos adeptos. Assim, as execues das obras de Berlioz resultaram em retumbantes fracassos. Aps compor o seu Rquiem, uma das msicas mais conhecidas nesse gnero at hoje, o compositor submeteu-se ao constrangimento de oferecer a obra para sucessivos funerais, at finalmente conseguir v-la executada.

"Tenho certeza de que conseguirei me destacar com a msica. Quero ser algum, deixar na Terra rastros de minha existncia", registrou Berlioz em suas memrias. A verso musical que comps para Fausto, de Goethe, intitulada A danao de Fausto, foi apresentada para um teatro praticamente vazio. "Nada em minha carreira me feriu mais do que esta inesperada indiferena", escreveu.

Com as portas de Paris fechadas para a sua msica, Berlioz tornou-se regente de orquestra na Alemanha e, por sugesto do escritor Honor de Balzac, partiu logo em seguida para a Rssia. L, conheceu e influenciou o chamado "Grupo dos Cinco" (Moguchaya Kuchka), que reunia os principais nomes do romantismo musical russo. Quando retornou Frana, sua chegada foi jocosamente saudada pela imprensa parisiense como "a volta de Berlionovsky".

Depois do insucesso amoroso com a atriz Harriet Smithson, Berlioz casou-se pela segunda vez. Agora com Marie Recio, uma cantora espanhola que ficaria menos conhecida pelo seu limitado talento e mais pelas novas amarguras afetivas que traria ao compositor. O segundo casamento acabou quando Marie morreu, em 1862, vtima de um ataque cardaco. Cinco anos depois, de febre amarela, morria tambm o filho nico de Berlioz e Harriet Smithson, Louis.

Sexagenrio, vivo, sem o reconhecimento pblico, afundado em dvidas e com a sade debilitada, Berlioz passou seus ltimos anos de vida em completa solido. Aps nova viagem Rssia, onde foi aplaudido febrilmente, morreu em sua casa, em Paris, no dia 8 de maro de 1869.

CURIOSIDADES

Msica no plural

Ao contrrio da grande maioria dos compositores, Berlioz no comps concertos para instrumentos especficos - piano, violino, quarteto de cordas etc. Ele sempre se dedicou a compor para orquestras inteiras. Uma de suas frases mais clebres deixava clara esta sua preferncia: "Dizem que sempre escrevi para 500 msicos. No verdade. s vezes contento-me com 450".

Cinco tentativas

Quando jovem, Berlioz inscreveu-se cinco vezes no Grand Prmio de Roma, que dava direito a uma bolsa de estudos musicais naquela cidade europia. Na primeira vez, em 1825, foi sumariamente desclassificado. Dois anos depois, 1827, participou com uma cantata, Orphe Dchir par les Bacchantes, que foi considerada "inexecutvel" pelos jurados. Em 1828, ficou com o segundo lugar. Em 1829, o prmio foi cancelado. Finalmente, no ano seguinte, com A morte de Sardanapalo, ganhou o primeiro lugar e a bolsa de estudos em Roma.

Trocado por um milionrio

Amor, decididamente, no era o forte de Berlioz. Antes de casar com sua primeira esposa, Harriet Smithson, ele ficou noivo de uma pianista brilhante, Camille Mokel. Depois da temporada de estudos na Itlia, Berlioz voltou decidido a pedir a mo da moa em casamento. Mas, para sua surpresa, em sua ausncia, a moa decidira casar com outro, um milionrio fabricante de pianos.

Msica e macarro

Depois de sua temporada em Roma, Berlioz no teria os italianos em boa conta: "Para os italianos, a msica um prazer sensual e nada mais. Sentem por esta nobre expresso da mente o mesmo respeito que sentem pela arte da cozinha. Desejam uma partitura que, como um prato de macarro, possa ser assimilada imediatamente, sem que se vejam obrigados a pensar muito no assunto, ou at mesmo a prestar ateno", escreveu.

Blim, blom

No ltimo movimento de sua Sinfonia fantstica, Berlioz incluiu uma profuso de sons, para retratar uma espcie de orgia sobrenatural, em que uma legio de bruxas e fantasmas passam a atormentar o protagonista da histria. Entre os sons, aparecem inclusive os badalos de vrios sinos. Mais tarde, tal ousadia seria saudada como vanguardista. Para os contemporneos de Berlioz, contudo, aquilo no passava de um atentado ao bom gosto.CONTEXTO HISTRICO

A Sinfonia fantstica, de Berlioz, composta em 1830, marcou poca na histria da msica do sculo 19. Trata-se da primeira grande realizao da chamada "msica de programa", gnero que viria a ser consolidado pouco depois, na obra de Franz Liszt, e se tornaria um dos mais caractersticos do Romantismo.

Mais do que utilizar-se do texto literrio como inspirao, os compositores procuravam com os "poemas sinfnicos" reproduzir os diversos episdios ou assuntos contidos nele, chegando a "imitar" rudos, como batidas em portas e mesmo passos em escadas. No caso da Sinfonia fantstica, por exemplo, Berlioz quis contar a histria de um artista obcecado por sua paixo --na verdade, o compositor estava contando sua prpria histria de amor em relao atriz inglesa Harriet Smithson.

A Sinfonia fantstica um bom exemplo para entender esse tipo de composio e foi organizada em cinco movimentos - "Devaneios e Paixes", "Um baile", "Cena nos campos", "Marcha rumo ao cadafalso" e "Sab das Feiticeiras". No primeiro movimento, o artista se descobre apaixonado. No segundo, v sua amada valsando em um baile. No terceiro, busca esquec-la viajando para longe. No quarta, o artista sofre uma alucinao, pensa ter matado a amada e imagina ter sido condenado guilhotina. No quinto, a mulher morta levanta do tmulo e transforma-se em bruxa.

A cada movimento, os instrumentos procuram sugerir efeitos sonoros que vo "narrando" a histria ao ouvinte. Na estria da Sinfonia fantstica, o pblico presente apresentao recebeu um livreto que explicava o contedo de cada movimento, para que pudesse acompanhar a "narrativa" e seus desdobramentos. Este tipo de "msica com bula" foi um sucesso poca. E virou moda, quase uma febre.

A msica de Berlioz, alm de ter inaugurado a era dos poemas sinfnicos, situa-se numa vertente do Romantismo que se contrape quele representado por Felix Mendelssohn, este um tanto quanto conservador e, de certa forma, ainda tributrio da esttica classicista. O Romantismo de Berlioz mais progressista, j no se prende a formas rgidas, busca expressar estados emocionais e ir abrir caminho para uma corrente musical que desembocar na obra revolucionria de Richard Wagner. OBRASSinfonias

Sinfonia Fantstica (1830)

Haroldo na Itlia (1834)

Romeu e Julieta (1839)

peras

As Troianas (1859)

Benvenuto Cellini (1834-1838)

Rquiem

Missa dos Mortos (1837)

Aberturas

O rei Lear (1831)

O carnaval romano (1844)SITES RELACIONADOSThe Hector Berlioz Website - Pgina com muitas informaes sobre o compositor: biografia, lista de msicas, imagens, artigos, notcias e links selecionados. Em ingls e francs.

Muse Hector-Berlioz - Visita virtual ao Museu Berlioz, na Frana. Informaes sobre exposies, eventos, colees de imagens e documentos escritos. Em francs.

Festival Berlioz at La Cte Saint-Andr - Pgina oficial do Festival Berlioz, que acontece anualmente na Frana. Informaes sobre programao, reservas de hotel, passagens areas e entradas em concertos. Em francs, ingls e alemo.

Association nationale Hector Berlioz at La Cte Saint-Andr - Pgina da Associao Nacional Hector Berlioz. Traz a biografia de Berlioz, bibliografia e discografia selecionada, alm de lista de obras. Em francs.

Berlioz on the BBC - Pgina da BBC de Londres dedicada a Hector Berlioz. Traz perfil do compositor, discografia recomendada, curiosidades e arquivos sonoros. Em ingls.

Classic Music Archives - Boa coleo de arquivos sonoros com as principais composies de Berlioz, em MIDI e MP3. Traz ainda biografia, lista de obras, linha do tempo e links para lojas virtuais de discos. Em ingls.

Classical Net - Relao detalhada das principais obras de Berlioz, com recomendao de gravaes especficas, amostras de udio (MIDI), breve biografia e links selecionados. Em ingls.

Louis-Hector Berlioz - Arquivos sonoros, comentrios e artigos crticos sobre algumas das principais obras de Berlioz. Em ingls e francs.

Metropolitan Opera International Radio - Pgina em portugus, com biografia do compositor e uma srie de informaes, em tom didtico, sobre a pera As Troianas.

Label France - Pgina em portugus, com artigo biogrfico assinado pelo jornalista Gilles Macassar, da revista francesa de programao cultural Tlerma.BERNSTEIN

Leonard Bernstein

Com TV, regente americano se populariza.Colaborao para a Folha Online

BIOGRAFIA

Regente, compositor, pianista graduado, apresentador de televiso, comentarista e militante pela paz mundial. Este foi Leonard Bernstein. Como definiu seu professor de msica Fritz Reiner, "Leonard feito um giroscpio humano".

Filho dos imigrantes russos Jennie Resnick e Samuel Joseph Bernstein, o msico era norte-americano, nascido em 25 de agosto de 1918 na cidade de Lawrence, Massachussetts (EUA).

A maior incentivadora por seu interesse pela msica foi sua tia Clara, que lhe deu um piano de presente quando ele completou 10 anos. Passou a ter aulas particulares com a pianista Frieda Karp, e, em 1930, foi matriculado no New England Conservatory of Music.

Um dos maiores prazeres de sua vida era estudar, tanto que seu currculo acadmico era vasto. Formou-se na conceituada Universidade de Harvard, completou seu histrico disciplinar no Curtis Institute of Music, da Filadlfia, freqentou diversos seminrios especializados, e em 1940 esteve presente no curso de vero do Tanglewood Music Center, ministrado pelo maestro Koussevitzky.

Nessa poca conheceu o compositor Aaron Copland, que viria a se tornar seu amigo inseparvel. Eram cmplices em tudo, principalmente no trabalho.

Bernstein gravou quase todas as obras de Copland para orquestra.

A grande chance que teve de mostrar ao pblico seu talento aconteceu por acaso em 1943, quando precisou substituir s pressas o maestro Bruno Walter numa apresentao no Carnegie Hall. Foi to aplaudido que no dia seguinte seu nome estava na primeira pgina do jornal The New York Times.

Agraciado pela crtica, aps dois anos assumiu o posto de Diretor Musical da Orquestra Filarmnica de Nova York.

Sua forma enrgica de reger sofria a influncia de Mahler, e ainda conseguia chocar. Comps peas nos mais diversos estilos e foi o maestro norte-americano que mais fez apresentaes pelo mundo.

A primeira vez que Bernstein regeu um concerto fora dos Estados Unidos foi em 1944, na cidade de Montreal (Canad). Aps a Segunda Guerra, foi contratado para acalmar os nimos dos ingleses, seguindo depois para a Frana e para Praga, onde se apresentou no Festival Internacional de Msica.

Fez tambm inmeros concertos em Israel, pas escolhido por ele para a estria de diversas obras, entre elas a Sinfonia n 3 "Kaddish", estreada em 1963 na cidade de Tel Aviv.

Em 1951, Bernstein se casou com a atriz chilena Felcia Montealegre Cohn, com quem teve trs filhos: Jannie Anne Maria, Alexander Serge Leonard e Nina Maria Felcia.

Ele tornou-se ainda mais popular na dcada de 50, quando comeou a apresentar programas de televiso. Entre os mais famosos esto "Omnibus" (1954), em que ensinava msica clssica para leigos, e "Young Peoples Concert" (1958), na CBS.

Em 1957, chegou a ser aclamado pela estria de seu teatro musical West side story (Amor, sublime amor). A pea, que foi exibida na Broadway, conta a histria da rivalidade entre duas gangues no subrbio americano. Anos mais tarde, a obra seria adaptada para o cinema e ganharia o Oscar de melhor trilha sonora.

Cansado das apresentaes, na dcada de 70 passou a dedicar-se apenas s composies. Apresentou trabalhos famosos como o bal Dybbuk (1975), 1600 Pensylvania Avenue (1976) e Songfest (1977). Em 1978 enviuvou, voltou a dar aulas de msica e a realizar alguns breves concertos.

Um pouco antes de falecer em Nova York, no dia 14 de outubro de 1990, vtima de uma parada cardaca, fundou a Beta (The Bernstein Education Through the Arts Fund), uma entidade filantrpica dedicada msica.CURIOSIDADES

Bom samaritanoBernstein era considerado um humanitrio. Participou ativamente de diversas campanhas promovidas pela Anistia Internacional. Entre alguns eventos importantes dos quais participou est a turn "Jornada pela Paz", apresentada em Atenas e Hiroshima, em 1985, para homenagear as vtimas da bomba atmica.

Outro fato marcante aconteceu em 1989. Quando o muro de Berlim estava prestes a cair, Bernstein ofereceu um presente ao povo germnico, regendo uma orquestra em ambos os lados da Alemanha.

Pstuma homenagemO msico criou, em 1987, a Fundao Felcia Montealegre Fellowship, entidade carente que patrocina cursos de teatro a alunos de baixa renda. Segundo Bernstein, esta foi a melhor maneira que encontrou de homenagear sua falecida esposa. O grande vencedorA carreira de Bernstein foi marcada por inmeras premiaes, ttulos e homenagens. Ganhou por mais de 10 vezes o Grammy, recebeu medalhas de ouro da MacDowell Colony, da Beethoven Society, do Mahler Gesellschaft e tambm da Academia Americana de Artes e Letras. Alm disso, o Governo de Nova York o prestigiou com a Handel Medallion, maior honraria concedida pela cidade queles que se dedicam cultura. Em 1990, foi premiado com cerca de US$ 100 mil pela Japan Arts Association.

Mil facetasPor diversas vezes, Bernstein regeu orquestras inteiras sentado em frente a um piano. Alm de escolher o repertrio, ensaiar e conduzir os msicos, atuava como solista nas apresentaes.

ReconhecimentoEnquanto ocupou o cargo de Diretor Musical da Filarmnica de Nova York, ele registrou um nmero recorde de apresentaes, tornando a orquestra mundialmente conhecida e popular. Renunciou em 1969, e foi agraciado com o ttulo de Maestro Honorrio Vitalcio.CONTEXTO HISTRICO

Bernstein tinha grande interesse no Estado novo de Israel. Durante a Segunda Guerra, mais de 6 milhes de judeus foram mortos, roubados e tiveram sua cultura execrada. No final do holocausto, a idia de criar uma ptria aos judeus foi reforada pelo movimento sionista, do qual Bernstein fazia parte.

A ONU props a diviso da Palestina em dois estados: um rabe e outro judeu. Na poca, o territrio ainda pertencia Inglaterra. Poucas horas antes de se esgotar o mandato ingls sobre a regio, no dia 14 de maio de 1948, foi criado o Estado de Israel.

Durante todo esse processo de negociao, Bernstein esteve nos bastidores, torcendo por uma soluo pacfica. Em 1947, fez uma apresentao no deserto de Neguev, em plena frente de batalha entre os novos colonos e os antigos moradores rabes, regendo a Orquestra Filarmnica de Israel --na poca chamada de Orquestra Palestina. No repertrio estava a sinfonia "Ressurreio", de Mahler.

Ps-modernismo

Nas dcadas de 30 e 40, o objetivo principal era acabar com as diferenas entre alta cultura e cultura de massa. A arte deveria ser uma s. A era ps-moderna surgiu da constatao de que o mundo estava radicalmente mudado. A sociedade era outra a e as formas de expresso tambm.

Bernstein concordava com esse conceito, mas preferia ser classificado como um neo-romntico. Gostava de misturar estilos diversos como o jazz, a msica popular e a forma caracterstica de Mahler.

Segundo os especialistas, ningum melhor do que ele para tratar de assuntos modernos, como brigas de quadrilhas rivais, em peas eruditas do mais alto nvel. Em suas obras comum ver temas folclricos e regionais adaptados para o bal.OBRASSinfonias:

n 1Jeremiah (1944)

n 2The Age of Anxiesty (1949)

n 3Kaddish (1963)

Bals:

Fancy free (1944)

Facsimile (1946)

Dybbuk (1975)

peras:

Trouble in Tahiti (1952)

Songfest (1977)

Candide (1982)

A Quiet Place (1983)

Musicais para a Broadway:

On the Town (1944)

Peter Pan (1950)

Wonderful Town (1952)

Candide (1956)

West Side Story (1957)

1600 Pensylvania Avenue (1976)

Piano:

Touches (1981)

Thirteen Anniversaries (1988)

Arias and Barcarolles (1988)SITES RELACIONADOShttp://www.movimento.com - Pgina dedicada msica clssica com programao de eventos culturais, biblioteca, frum de leitores, artigos, bibliografias e comentrios crticos.

http://www.guiaerudito.com.br - Voltado divulgao da msica erudita, agenda de concertos, entrevistas, cursos, endereos de salas musicais. Biografias.

http://www.classical.net - Pgina especializada em msica clssica. Compositores, obras, fotos, biografias completas e artigos relacionados.

http://www.geocities.com/ - Biografia e obras dos principais artistas clssicos, informaes, servios relacionados, fotos, udio e arquivos.BIZET

Georges Bizet

Autor de Carmen triunfa aps crticas

Colaborao para a Folha Online

BIOGRAFIA

Foi um escndalo. Na noite de 3 de maro de 1875, a platia presente Opra-Comique de Paris saiu chocada com a estria de Carmen, de Georges Bizet. Acostumado com histrias ditas "edificantes", o pblico ficou incomodado com aquele espetculo singular, no qual uma cigana desprovida de qualquer moral, sem a menor sombra de remorso ou piedade, enfeitiava e levava os homens perdio. Em vez de final feliz, um assassinato em cena. Carmem morta pelo amante, a punhaladas.

A msica, to perturbadora quanto o enredo, foi motivo de igual controvrsia. A crtica, na imprensa da poca, mostraria-se dividida. A maioria, certo, tratou a pera de Bizet como um espetculo repugnante e obsceno. "Se fosse possvel imaginar Sua Majestade Satnica escrevendo uma pera, Carmen seria o tipo de obra que se esperaria", diria o Music Trade Review, de Londres.

Houve, porm, quem pensasse o contrrio. "Bizet quer pintar homens e mulheres de verdade, alucinados, atormentados pelas paixes, pela loucura. Assim, a orquestra conta suas angstias, seus cimes, suas cleras e a insensatez geral", foi a avaliao publicada no Le National, de Paris.

A originalidade de Carmen acabaria triunfando sobre os preconceitos e valores da poca. Mas Bizet no viveria a tempo de assistir a seu prprio triunfo. Exatamente trs meses aps a polmica estria, recolhido a Bougival, uma pequena cidade do interior da Frana, ele morreria de um ataque do corao.

Sua trajetria musical havia sido rpida e surpreendente. As primeiras obras, Os Pescadores de Prolas, de 1863, A bela moa de Perth, de 1867, e Djamileh, de 1872, pouco ou nada deixavam antever a revoluo proporcionada por Carmen.

Nascido na capital francesa em 1838, Bizet era filho de um professor de canto e de uma pianista. Aos nove anos, os pais o matricularam no Conservatrio de Paris. Em 1857, com 19 anos de idade, ganhou o cobiado Grande Prmio de Roma e foi estudar na Itlia, onde passaria trs anos. Os professores viram nele um promissor instrumentista, mas Bizet preferiu tentar uma carreira como compositor.

Pouco depois de retornar a Paris, perdeu a me, morta em 1861, e teve um filho com a empregada domstica que servia famlia. Casaria apenas em 1869, com Genevive, filha de Fromental de Halvy, seu antigo professor no Conservatrio de Paris. No ano seguinte, alistou-se na Guarda Nacional e foi lutar na guerra franco-prussiana. Aps enfrentar os campos de batalha, tentou retomar sua carreira de compositor. Foi quando apostou que sua pera Djamileh lhe traria a consagrao. Mas a obra foi recebida com frieza pelo pblico e pela crtica.

Ainda se refazendo do fracasso anterior, Bizet mergulhou no projeto que resultaria em Carmen, sua obra-prima. Aps ler a histria original do escritor francs Prosper Mrime, novela publicada pela primeira vez em 1845, decidiu transform-la em pera, com libreto escrito por Henri Meilhac e Ludovic Halvy. Sem nunca ter posto os ps na Espanha, Bizet pesquisou alguns elementos da msica espanhola e acrescentou alguns outros, derivados deles, mas fruto de sua prpria imaginao. Isso levou parcela da crtica da poca a denunciar um certo artificialismo da composio, que soaria como "msica francesa querendo se passar por espanhola".

Enquanto a parcela mais conservadora da crtica insistia em ver defeitos de ordem esttica e moral em Carmen, a obra comeava a chamar a ateno de importantes compositores contemporneos de Bizet. Morto aos 36 anos, o compositor no testemunhou a extraordinria repercusso que sua pera conquistaria logo a seguir. Nos dez anos seguintes, ela seria apresentada cerca de mil vezes, em diferentes montagens, em toda a Europa. Depois de arrebatar as platias em sua verso lrica, Carmen tambm seria celebrada no sculo 20, com vrias verses cinematogrficas, entre elas as dirigidas pelos cineastas Carlos Saura e Jean-Luc Godard.

CURIOSIDADES

Obra explorada como toque de celular

Carmen no cinemaPoucas histrias foram to filmadas quanto Carmen. Uma das primeiras adaptaes da obra para as telas foi feita ainda nos tempos do cinema mudo, por Charles Chaplin (Charlie Chaplin's Burlesque on Carmen), em 1916. Assim como Chaplin, que transformou o trgico enredo original em uma comdia, nem sempre as adaptaes seguiram a histria ao p da letra. Nos anos 80, o francs Jean-Luc Godard transformou a cigana Carmen em uma guerrilheira assaltante de bancos.

Bizet no celularA obra de Bizet, considerada imoral em seu tempo, tornou-se hoje um dos temas mais freqentes em aparelhos celulares em todo o mundo. A melodia de "Habanera" e de "Cano do Toureiro", ambas da Sute n. 2 de Carmen, esto disponveis em praticamente todos os modelos de aparelhos comercializados pelos principais fabricantes de telefones mveis do planeta.

Nietzsche, f de BizetO filsofo alemo Friedrich Nietzsche (1844-1900) era apaixonado pela obra de Georges Bizet, especialmente pela pera Carmen. Ele dizia ter assistido a ela dezenas de vezes. "Assistir Carmen foi um verdadeiro acontecimento para mim", escreveu. "Essa pera deixou-me uma impresso incomparavelmente trgica. Em relao a Tristo e Isolda e aos sentimentos rebuscados de Wagner, Bizet comps a antipera. Em Tristo, a morte pelo amor falsa, enquanto o apaixonado Don Jos, ao apunhalar sua amada, autntico", observou.

O (mau) conselho de LisztSe dependesse da opinio de Franz Liszt, Georges Bizet nunca teria largado a carreira de pianista para se tornar, ele tambm, compositor. Quando morou na Itlia, aps ganhar o Grande Prmio de Roma, Bizet foi orientado por Liszt a deixar suas composies de lado, at ento pouco promissoras, para investir tudo na carreira de instrumentista.

Carmen virou at novela de TVNo Brasil, a histria da cigana Carmen tranformou-se em novela de tev, escrita por Glria Perez, em parceria com Leila Mcolis. Exibida pela extinta TV Manchete, em 1987, a novela trazia Luclia Santos e Jos Wilker nos papis principais. Concorrendo com as superprodues da TV Globo, Carmen no conseguiu arrebatar muita audincia, a no ser nos captulos em que Luclia Santos aparecia nua em cena.

CONTEXTO HISTRICO

Msica incorpora escria e passionalidadeA novela Carmen, escrita por Prosper Mrime e publicada em 1845, rompeu com os clichs do Romantismo. Sua verso para pera, composta por Bizet, provocaria efeito semelhante em relao s tradies do teatro lrico. Mrime foi considerado spero demais para ser enquadrado na escola literria romntica. Seu poder de sntese, sua linguagem seca, j quase naturalista, seguia o caminho oposto da fico genuinamente romntica. A msica de Bizet provocar um estranhamento similar em seus contemporneos.

Quando Bizet decidiu transformar em pera aquela novela de Mrime, publicada cerca de 30 anos antes, o Naturalismo j era perfeitamente aceito em literatura. Mas o mesmo ainda no acontecia no mundo da pera, arte em que a frmula mais ao gosto do pblico era a de um entretenimento divertido ou, quando muito, feito para glorificar heris e heronas imaculadas.

Bizet introduziu a escria e o lado obscuro da vida no teatro lrico. A tragdia a que seus personagens esto submetidos no tem nada de nobre ou edificante, como era comum ocorrer nos trabalhos dos demais romnticos. A passionalidade e o mpeto quase selvagem da personagem Carmen foram traduzidos, por Bizet, em uma msica igualmente impetuosa, colorida e carregada de vibraes inusitadas.

"Se no tomarmos cuidado, isso terminar corrompendo totalmente nosso teatro lrico, anteriormente uma criana to doce e bem comportada em que at podamos ouvir obras maravilhosas", escreveu um crtico francs aps a estria de Carmen. "O tema dessa pera to repulsivo que alguns dos melhores artistas de Paris recusaram-se a participar do elenco. Na introduo, temos um tema barulhento e ruidoso, que comea de maneira selvagem, sem precedente", observou outro.

Hoje difcil encontrar algum, mesmo entre os no conhecedores de msica lrica, que ainda no tenha ouvido a abertura e mesmo alguns trechos da obra-prima de Bizet. Melodias como "La Habanera" e a "Cano do Toureiro" esto entre os clssicos mais conhecidos da msica universal.

OBRASperas

Os Pescadores de Prolas (1863)

A bela moa de Perth (1867)

Djamileh (1872)

Carmen (1875)SITES RELACIONADOSClassical Net - Pgina com bibliografia selecionada e gravaes recomendadas da obra de Bizet, com links para vrias lojas virtuais onde o material indicado est disponvel venda. Em ingls.

Projeto Musical - Biografia do msico, com curiosidades e links para compra de discos e livros. Em portugus.

Ministre des Affaires trangres. Pgina do Ministrio das Relaes Exteriores da Frana. Com biografia, discografia, cotaes sobre as principais obras e bibliografia relacionada a Bizet. Em francs.

Essentials of Music - Traz a biografia do msico, udio com trechos de Carmen e links para textos sobre o Romantismo musical. Em ingls.

Clssicos: Pgina com breve biografia de Bizet e alguns adios com trechos de obras do compositor em MIDI. Em portugus.

Opera Standford - Lista das peras de Bizet, com datas e informaes bsicas sobre cada uma delas. Traz sugestes de livros de referncia. Em ingls.

New York Opera City - Pgina sobre a vida e obra de Bizet, com informaes detalhadas sobre Carmen e sobre o contexto histrico e musical da poca.

The history of Carmen - Pgina que conta o processo de criao da obra-prima de Bizet, com informaes sobre as primeiras montagens e a repercusso da obra na Europa.BRAHMSJohannes Brahms

Ateu revive tradio de BeethovenColaborao para a Folha On-line

BIOGRAFIA

Muitos dizem que Johannes Brahms dominou, junto a Richard Wagner, a msica clssica da segunda metade do sculo 19. Um dos maiores nomes da cultura alem, o compositor dedicou-se a quase todos os gneros --exceto pera e bal-- por meio do que acreditava ser realmente uma msica pura. Talvez por isso seja to difcil compreend-lo.

Ele nasceu em 1833 em Hamburgo, umas das principais cidades porturias da Alemanha. Filho de msico --o pai era contrabaixista e tocava em tavernas da cidade--, desde pequeno possua dotes especiais para a arte. Aos sete anos, incentivado pela famlia, comeou fazer aulas de piano. O talento do menino era tanto que, com apenas dez anos, realizou o primeiro concerto pblico com composies de Mozart e Beethoven.

Pouco tempo depois, comeou a tocar nas noites com o pai. Foi neste perodo que se revelou como um homem bruto, extremamente grosseiro --zombava de todas as mulheres. Nesta mesma poca, iniciou as aulas de composio e conheceu importantes nomes da msica, como os violinistas Eduard Remnyi e Joseph Joachim e os compositores Franz Liszt e Robert Schumann.

Durante um longo perodo, Brahms percorreu algumas cidades alems e dividiu o tempo morando nas residncias de Joachim, em Hannover, e Schumann, em Dusseldorf.

Apenas com a morte de Schumann, ele finalmente decidiu arrumar um emprego. Passou a trabalhar como mestre de capela em Lippe-Detmond, uma pequena cidade germnica, onde ficou por pouco mais de um ano.

Em 1863, o compositor foi morar em Viena. na capital austraca que ele obtm sucesso e dedica-se exclusivamente composio. O mrito de grande compositor chegou com a estria do Rquiem alemo, em 1868.

Graas a essa obra, foi convidado para dirigir a Sociedade dos Amigos da Msica, principal centro artstico da cidade. Brahms ficou frente da instituio por cerca de trs anos (de 1872 a 1875).

Mesmo j consagrado como importante compositor, recebeu o ttulo de "sucessor de Beethoven" com a sua primeira sinfonia, em 1876. Pouco antes de morrer, depois de terminar o Quinteto de cordas op. 111 decidiu parar de compor -- inclusive deixou um testamento preparado. No entanto, voltou rapidamente rotina de msico e escreveu inmeras obras de cmara para clarinete.

Brahms considerava-se, orgulhosamente, um "pago" por no acreditar em Deus. Manteve-se solteiro e dedicou a vida s viagens pela Europa, principalmente Itlia. Morreu aos 63 anos, de cncer no fgado, no dia 03 de abril de 1897.

CURIOSIDADES

Morte de mulher de Schumann causa abalosErro que perdurou

Em 1860, Brahms cometeu, talvez, o maior erro da carreira. Junto com o violinista Joseph Joachim e outros dois msicos, ele assinou um manifesto contra a escola neo-alem e a "msica do futuro" de Franz Liszt e Richard Wagner. Por isso, mesmo sendo contrrio a criaes de polmicas, ficou conhecido como reacionrio e conservador por um longo tempo. Este rtulo s foi "retirado" no sculo 20, devido ao famoso ensaio "Brahms, o Progressista", de Arnold Schoenberg, o pai do dodecafonismo. Ele tentou provar, por volta de 1930, que Brahms era inovador e at mesmo revolucionrio.

Amor platnico?

H indcios de que a pianista Clara Schumann, mulher do compositor Robert Schumann, e Brahms viviam um amor platnico.

Morte

A cerimnia de enterro de Brahms foi acompanhada por uma multido de msicos de diversos pases da Europa. No entanto, nenhum parente ou mulher esteve presente no funeral do compositor. A aparncia do msico no leito de morte assemelhava-se com a de um personagem bblico: as barbas eram brancas e enormes. O corpo de Brahms est enterrado no Cemitrio Central de Viena, prximo aos tmulos de Beethoven e Schubert.CONTEXTO HISTRICO

Crticos dividem obra em quatro fasesNo perodo em que o nacionalismo ganha fora na Europa, e em especial na Alemanha, surgem, na segunda metade do sculo 19, dois grandes nomes no cenrio musical germnico: Johannes Brahms e Richard Wagner.

"Inimigos" musicais, no que se refere forma, um complementou o outro em termos de gneros, e ambos dominaram a msica do segundo perodo da escola romntica alem.

Brahms dedicou-se a todas as formas, exceto ao bal e pera. Considerado conservador por muitos contemporneos, o compositor conseguiu unir a preocupao formal do classicismo a uma expresso romntica de msica pura.

Os crticos dividem a obra de Brahms em quatro partes. Na primeira, a fase da juventude, o msico apresenta um romantismo spero e vigoroso, como no Primeiro concerto para piano. A segunda diz respeito consolidao como compositor, quando toma gosto pelo estudo dos clssicos, o que podemos ver no Rquiem Alemo, de 1868.

A outra etapa a da maturidade, quando ele alcana a perfeio formal e equilbrio, poca das obras sinfnicas e dos corais. A ltima fase refere-se ao final da vida do compositor, quando as obras ficam mais simples e concentradas, como no Quinteto para clarinete.

Brahms dedicou grande parte de sua produo ao piano, principalmente na juventude e na velhice, e utilizou com grande maestria a forma do tema com variaes.

Mas o gnero do compositor por excelncia foi a msica de cmara, tendo exemplos primorosos nas quatro fases de sua criao. Brahms tambm foi um grande compositor de canes, e explorou, j na etapa mais madura da carreira, obras orquestrais, cujos exemplos mximos so as quatro sinfonias.OBRASSinfonias:

No.1 em C menor (1855-76);

No.2 em D maior (1877);

No.3 em F maior (1883);

No.4 em E menor (884-45).

Concertos:

Concerto para piano No.1 em D menor (1854-58);

Concerto para piano No.2 em Bb maior (1878-81);

Concerto para violino em D maior (1878);

Concerto para violino e violoncello em A menor (1887).

Msica de cmara:

Sexteto de Cordas No.1 (1858-60),

Sexteto de Cordas No.2 in G major, Op.36 (1864-5);

Quarteto de Cordas No.1 e No.2 (1859-1873),

Quarteto de Cordas No.3 (1876);

Quinteto de Cordas No.1 (1882),

Quinteto de Cordas No.2 (1890);

Quinteto de clarineta (1891);

Quarteto de Pianoforte No.1 (1861),

Quarteto de Pianoforte No.2 (1861-62),

Quarteto de Pianoforte No.3 (1855-75);

Quinteto de Pianoforte (1864);

Trio de Pianoforte No.1 (1853-54),

Trio de Pianoforte No.2 (1880-82),

Trio de Pianoforte No.3 (1886);

Violoncelo sonata No.1 (1862-5),

Violoncelo sonata No.2 (1886);

violino sonata, No.1 (1878-79),

violino sonata No.2 (1886),

violino sonata No.3 (1886-88);

Scherzo in C minor, vn., pf. (1853).

Orquestra:

Serenades, No.1 em D (1857-58),

Serenades, No.2 em A (1858-59);

3 Hungarian Dances (1873);

Variations on a Theme by Haydn (1873);

Akademische Festouvertre (Academic Festival Overture) (1880);

Tragic Ov., (1880).

Coro e orquestra.:

Ein Deutsches Requiem (1857-68);

Rinaldo (1863-68);

Rhapsody (1869);

Schicksalslied (1871);

Triumphlied (1870-71);

Nnie (1880-81);

Gesang der Parzen (1882).

Piano:

Sonata No.1 em C maior (1852-53),

Sonata No.2 em F# menor (1852),

Sonata No.3 em F menor (1853);

Scherzo em Eb menor (1851);

Variations on a Theme by R. Schumann, em F# menor (1854);

4 Ballades (No.1 em D menor, No.2 em D, No.3 em B menor, No.4 em B) (1854);

Variations on a Theme by R. Schumann (1861);

Variations and Fugue on a Theme by Handel (1861);

Hungarian Dances (1852-69);

Variations on a Theme by Paganini (1862-63);

16 Waltzes (1865);

Variations on a Theme by Haydn (1873);

Liebesliederwalzer (1868-9);

Neue Liebesliederwalzer (1874);

rgo: 11 Choral Preludes (1896);

Fugue em A menor (1856);

Prelude and Fugue em A menor (1856);

Prelude and Fugue em G menor (1857).

Canes (mais importantes): Abend-dmmerung (Schack) No.5 (1868);

Am Sonntag Morgen (Heyse) No.1 (1868);

An eine Aeolsharfe (Mrike) No.5 (1859);

Auf dem Kirchhofe (Liliencron) No.4 (1886);

Blinde Kuh (Kopisch) No.1 (1871);

Botschaft (Daumer) No.1 (c.1860);

Dein blaues Auge (Groth) No.8 (1873);

Es liebt sich so lieblich (Heine) No.1 (1877);

Feldeinsamkeit (Allmers) No.2 (1877-78);

Geistliches Wiegenlied (Geibel) No.2 (1884);

Gestillte Sehnsucht (Rckert) No.1 (1884);

Immer leise (Ling) No.2 (1886);

Der Jger (Halm) No.4 (1884);

Kein Haus, keine Heimat (Halm) No.5 (1884);

Komm bald (Groth) No.5 (1884);

Der Kranz (Schmidt) No.2 (1881);

Lerchengesang (Candidus) No.2 (1877);

Liebestreu (Reinick) No.1 (1853);

Das Mdchen spricht (Gruppe) No.3 (1886);

Die Mainacht (Hlty) No.2 (1868);

Mein Herz ist schwer (Geibel) No.3 (1884);

Mit vierzig Jahren (Rckert) No.1 (1884);

Die Nachtigall (Reinhold) No.1 (1884);

Nachtigallen schwingen (Fallersleben) No.6 (1853);

O khler Wald (Brentano) No.3 (1876-77);

Salome (Keller) No.8 (1877);

Sapphische Ode (Schmidt) No.4 (1884);

Sonntag (Uhland) No.3 (c.1865);

Stndchen (Kugler) No.1 (1886);

Steig auf, geliebter Schatten (Halm) No.2 (1884);

Therese (Keller) No.1 (1877);

Vergebliches Stndchen (trad.) No.4 (1881);

Verzagen (Lemcke) No.4 (1877).SITES RELACIONADOSAmerican Brahms Society - fundada em 1983, a organizao desenvolve um trabalho de pesquisa da vida, msica e histria de Brahms. A instituio rene estudantes, msicos, professores, cientistas e doutores em msica, alm dos adoradores do compositor na Amrica do Norte, Europa e Japo.

Brahms-Hamburg Museum - dedicado ao compositor, o museu est localizado em Hamburgo, cidade natal de Brahms. O acervo tem manuscritos, objetos pessoais e fotografias do msico.

Johannes Brahms WebSourse - o site sobre o compositor traz biografias, lista das obras completas, relao de museus e outras instituies dedicadas a ele, alm de fotografias e referncias para pesquisa.

Brahms Museum - o museu est localizado em Viena, onde Brahms morou por um longo perodo da vida. Entre as atraes esto objetos pessoais e manuscritos do msico.CARLOS GOMES

Carlos Gomes

Europa se curva ao autor de "O Guarani"

Colaborao para a Folha On-line

BIOGRAFIA

Foi com Carlos Gomes que a arte brasileira, pela primeira vez na histria, conseguiu atravessar o Atlntico e foi aplaudida na Europa. Nascido em 11 de julho de 1836, na pequena Vila Real de So Carlos, atual Campinas (SP), o pequeno Tonico, como era chamado pelos familiares, era filho de Manoel Jos Gomes, mestre de msica e banda. Aos dez anos, com o auxlio do pai, aprendeu a tocar diversos instrumentos.

Quando adolescente, Carlos Gomes trabalhava em uma alfaiataria, costurando palets e calas. No tempo livre, aproveitava para aperfeioar os estudos musicais. J nessa poca, apresentava-se com o pai e o irmo mais velho, Pedro Sant'Anna Gomes, nos bailes e pequenos concertos da cidade. Ele era uma espcie de "coringa" da banda. Como sabia tocar vrios instrumentos, podia assumir qualquer posio do grupo.

Desde este perodo, Carlos Gomes j compunha canes religiosas e modinhas romnticas - que sempre estiveram presentes em seu repertrio. Em 1859, partiu em turn com o irmo e o amigo Henrique Luiz Levy. Ao chegar na capital paulista, ficou amigo dos estudantes da Faculdade de Direito do Largo So Francisco. Em homenagem aos novos companheiros, comps o Hino Acadmico e a modinha Quem sabe?, obras que o tornaram conhecido entre as repblicas estudantis.

No ano seguinte, com o objetivo de consolidar sua formao musical, mudou-se para o Rio de Janeiro, contra a vontade do pai, para iniciar os estudos no conservatrio da cidade. "Uma idia fixa me acompanha como o meu destino! Tenho culpa, porventura, por tal cousa, se foi vossemec que me deu o gosto pela arte a que me dediquei e se seus esforos e sacrifcios fizeram-me ganhar ambio de glrias futuras?", escreveu ao pai, aflito e cheio de remorso por t-lo contrariado. "No me culpe pelo passo que dei hoje. [...] Nada mais lhe posso dizer nesta ocasio, mas afirmo a que as minhas intenes so puras e espero desassossegado a sua beno e o seu perdo", completou.

No Rio, foi apresentado a D. Pedro 2, que se tornaria seu admirador e mecenas. O imperador o enviou a Milo para que aprimorasse os conhecimentos em msica. Anos depois, em 1870, Carlos Gomes iniciou-se a brilhante carreira do compositor, ao apresentar, no Teatro Alla Scalla da cidade italiana, a pera O Guarani, baseada no romance homnimo de Jos de Alencar. A obra rodou o mundo.

Foi nesta poca que conheceu a italiana Adelina Conte Peri, por quem se apaixonou. Pianista e professora, ela era colega de conservatrio do compositor. Em 1871, casaram-se. Embora a unio tenha sido um tanto quanto conturbada, tiveram cinco filhos --trs morreram prematuramente.

Com a morte de Mrio, um dos filhos do casal, o compositor entrou em profunda depresso e mudou-se para Gnova. "Mrio, subindo ao cu, aos cinco anos, me deixou na terra infeliz para toda a vida", escreveu o msico.

A partir desde momento, Carlos Gomes endividou-se, passou por grandes dificuldades financeiras, sofreu vrias crises nervosas e viciou-se em pio. H quem diga que manteve casos amorosos com vrias mulheres, o que justificaria a separao com Adelina, em 1885.

Ao longo da vida, Carlos Gomes esteve dividido entre duas ptrias, duas nacionalidades. Ao adotar a Itlia como segunda nao, o compositor foi duramente hostilizado pelos brasileiros, que o viam como um aproveitador do dinheiro pblico, j que tinha como "mecenas" o imperador D. Pedro 2. Em contrapartida, os italianos o enxergavam como um mercenrio, pois acreditavam que ele produzia arte com fins comerciais --O Guarani, inclusive, foi vendido a um editor.

Um ano antes de morrer, o compositor foi convidado para dirigir o Conservatrio do Par. Mesmo doente, aceitou o convite. Aps trs meses no cargo, Carlos Gomes morreu em Belm, no dia 16 de setembro de 1896, aos 60 anos.CURIOSIDADES

Casamento conturbado

Carlos Gomes conheceu a pianista e professora italiana Adelina Peri quando ela dava aulas no Conservatrio de Milo, pouco antes de 1870. Logo iniciaram um namoro. Mas os pais da moa eram contra o relacionamento. Eles s conseguiram se casar porque d. Pedro 2 enviou uma carta ao pai de Adelina dando timas recomendaes do compositor. Eles tiveram cinco filhos --mas trs morreram prematuramente. "[...] figura de 25 a 28 anos de idade, muito inteligente, uma irradiao geral de bondade e de amor infinito a Carlos Gomes. Cabelos negros, olhos pretos com fundo azul brasileira, dentes de rara beleza, ctis alva, estatura mdia [...]. Ao v-la ao lado do caboclo Gomes, sempre impaciente e de mau humor dir-se-ia uma ovelha ao lado de um leo", descreveu Andr Rebouas, engenheiro brasileiro e amigo do compositor. O casamento, j instvel devido a dificuldades financeiras por conta das dvidas contradas pelo msico, teve fim em 1885. H quem diga que Carlos Gomes descobriu que era trado pela esposa, e que, depois de atirar todos os pertences da pianista pela janela, deixou a casa e fugiu com os filhos.

Alforria

Carlos Gomes foi objeto de homenagens em todo o pas durante os ltimos anos do sculo 19. Em Salvador, por exemplo, um retrato a leo foi colocado no interior de um teatro, em uma cerimnia onde participavam cerca de 150 instrumentistas. Na ocasio, em nome do compositor, duas escravas receberam a carta de alforria.

Um caboclo na Europa

Quando morava em Milo, Carlos Gomes era visto, por muitos de seus contemporneos, como um "animal" perdido em terras estranhas. O poeta italiano Antnio Ghislanzoni o retratava como um selvagem, cabelos revoltados, vestido com pesados casacos de pele, caminhando, sempre sozinho pelas ruas da cidade italiana. Embora sempre de cabea baixa e cara emburrada, "era um rapaz extremamente doce e de carter invejvel".

A obra que virou abertura

A obra O Guarani, baseada no livro homnimo de Jos de Alencar, at hoje tem o tema de abertura executado no Teatro Alla Scalla, em Milo, nos incios de todos os espetculos. No Brasil, a obra ficou conhecida quando foi escolhida para iniciar o programa de rdio "A Hora do Brasil".CONTEXTO HISTRICO

A histria do Brasil e a vida de Carlos Gomes andaram de mos dadas --ambas buscavam uma identidade. Embora ainda sob o sistema imperial, de escravos e senhores, na segunda metade do sculo 19, o pas almejava transformao e ensaiava uma nacionalidade. Tanto o Brasil como Carlos Gomes definiram esta identidade como uma somatria de diversos fatores e influncias externas aliada a uma essncia original.

O cenrio cultural do Brasil monrquico desenvolveu-se com mais intensidade no Rio de Janeiro --na corte do Imprio-- e em So Paulo, onde, nos sales da aristocracia carioca e paulista, dominavam as canes francesas e italianas. neste mbito que surge o primeiro grande compositor brasileiro, que fez o pas ocupar um lugar de destaque na histria da msica.

Reconhecido internacionalmente como um compositor de peras, pode-se dizer que a msica de Carlos Gomes retrata a unio de distintas influncias histricas e culturais, que culminaram na adoo de um estilo muito peculiar na escola romntica.

Entre as composies do brasileiro possvel identificar quase todos os gneros, da msica sacra a modinhas, com destaque especial para a escola musical italiana.

O lirismo francs, o humor italiano e as pitadas das origens interioranas, aliadas ao estilo melodramtico vigente na poca, permeiam quase todas as cerca de 50 canes do compositor, seja na melodia ou nos temas.

Embora a obra mais famosa, que o consagrou, tenha sido O Guarani, Carlos Gomes, dotado de excepcional inspirao, ainda comps outras notveis peas musicais, como as peras Fosca (1873), Salvador Rosa (1874), Maria Tudor (1878), O Escravo (1889), Condor (1891) e o poema sinfnico Colombo.OBRASperas:

A Noite do Castelo (1861)

Joana de Flandes (1863)

Se sa Minga (1866)

Nella Luna (1868)

Guarany (1870)

Fosca (estria 1873)

Salvador Rosa (1874)

Maria Tudor (1879)

Lo Schiavo - O Escravo (1889)

Condor (1891)

Colombo (1891)

Canes:Missa de So Sebastio (1854)

Bela Ninfa de Minh'Alma (1857)

A Alta Noite (1859)

Hino Acadmico (1859)

Quem Sabe? (1859)

Suspiros d'Alma (1859)

Anlia Ingrata (1859)

Missa de Nossa Senhora da Conceio (1859)

Salve o Dia da Ventura (1860)

A ltima Hora do Calvrio (1860)

Lo ti vidi (1866)

Noturno (1866)

La Madamina (1867)

Eternamente (1867)

Lisa, me vos tu ben? (1869)

Saldao do Brasil (1876)

Hino a Cames (1880)

Tu m'ami (1885-90)

Pensa (1885-90)

Per me solo (1885-90)

Dolce rimprovero (1885-90)

Canta ancor (1885-90)

Povera bambola (1885-90)

Addio (1885-90)SITES RELACIONADOSMuseu Carlos Gomes - localizado em Campinas (SP) o museu rene objetos pessoais, peas e instrumentos -como o piano-do compositor. O acervo tambm traz inmeras partituras do pai e do irmo de Carlos Gomes.

Museu Historio Nacional - o arquivo histrico preserva, ainda, importante coleo referente ao compositor. Entre as raridades est o primeiro volume da partitura original de um de seus primeiros trabalhos, a pera "Joana de Flandres". Formada a partir de diversas doaes, a coleo rene 216 documentos, entre desenhos de cenrios, cartas, fotografias, partituras originais e libretos de algumas obras, como "Condor", "Morena" e "Colombo".

Projeto Carlos Gomes - projeto divulga a obra de Carlos Gomes no Brasil e no exterior, por meio da produo de suas peras.

Carlos Gomes - Vida e Obra - o site rene 40 textos do jornalista e escritor Lauro Machado Coelho sobre a obra de Carlos Gomes.CSAR FRANCKCsar Franck (1822-1890)

BIOGRAFIA

Csar Auguste Jean Guillaume Hubert Franck no estava mais vivo para desfrutar de seu reconhecimento. Talvez pelo fato de no ter sido muito ligado s peras (comps apenas quatro), numa Frana que impunha esse estilo e ainda resistente s canes sinfnicas e de cmara.

O fato de ter sido um brilhante terico para alguns, Franck foi mais grandioso nessa funo do que como compositor tambm pode ter contribudo para seu ostracismo.

O artista foi responsvel pela afirmao da forma cclica na msica clssica - melodia que se desenvolve em diferentes arranjos. O mtodo, j utilizado por Berlioz e Wagner, foi "reciclado" por Franck, o primeiro compositor a empreg-la na sonata e na sinfonia. Nem assim foi reconhecido. Alguns crticos afirmam que a forma cclica no foi bem entendida pelo pblico da poca.

Hoje, Franck considerado um dos principais compositores franceses da segunda metade do sculo 19. Inserido num momento de virada do romantismo para o ps-romantismo, suas composies acompanharam as rpidas mudanas pelas quais passavam a Europa e contriburam para uma espcie de "renascimento" da msica instrumental na Frana.

Nascido em Lige (Blgica) em 10 de dezembro de 1822, construiu toda sua carreira na Frana, onde passou a maior parte da vida. Seu talento foi desde cedo explorado por seu pai, Nicolas Joseph, um balconista quase sempre desempregado que via no filho uma boa oportunidade para enriquecer.

O jovem Franck estudou na L'cole Royale de Musique de Lige, a partir 1830, perodo em que seu pai organizou uma srie de concertos pelo pas. Em 1835 a famlia Franck se muda para a Frana.

Dois anos depois o msico ingressa no Conservatrio de Paris; suas primeiras composies datam desse perodo. Apesar do seu momento produtivo e do aperfeioamento de tcnicas romnticas, Nicolas Joseph Franck retira o filho prematuramente do conservatrio em abril de 1842. Csar Franck, pensava o pai, no podia perder tempo ali e deveria partir para a consagrao nos palcos europeus. Para essa empreitada a famlia Franck retornou para a Blgica.

Franck perdia, assim, a oportunidade de conquistar o prestigiado "Prix de Rome", que oferecia uma bolsa para estudos de msica clssica em Roma.

Para se livrar de vez das ambies do pai repressor, Franck sai de casa no vero de 1846. Em 1848, tambm contraindo a vontade do pai, casa-se com Flicit Saillot, cujo nome artstico era Desmousseaux, filha de atores da comdia francesa. Tiveram quatro filhos.

Para se manter, comeou a improvisar: deu aulas particulares, em escolas pblicas e instituies religiosas, at se tornar organista de Notre Dame de Lorette, em Paris.

A pecha de "improvisador" pegou depois das excelentes improvisaes como organista da igreja de Sainte Clotilde, entre 1858 e 1890, com seu rgo Cavaill-Coll. Religioso, foi antes organista de outra igreja, Saint Jean Saint Franois (at 1857).

Fracasso e sucessoCsar Franck colecionou diversos fracassos ao longo da vida. O primeiro e talvez o mais marcante que contribuiu para deciso de sair de casa foi a apresentao da cantata "Ruth", em janeiro de 1846, que recebeu pesadas crticas. O mesmo ocorreu com seu famoso poema sinfnico "As Beatitudes", com as "Six Pices" (1862), sua primeira grande obra , e a mais popular delas, a "Sinfonia em Re menor".Se o Franck compositor era considerado pouco criativo, o Franck professor conseguiu respeito. Em 1871, para surpresa de muitos, foi nomeado professor no Conservatrio de Paris, substituindo Benoist. Somente aps atingir esse posto que pde se naturalizar francs, em 1873. Torna-se presidente da Sociedade Nacional de Msica, na Frana, em 1886.

Franck passou a ter um certo reconhecimento no fim da vida. Seu concerto "String Quartet" foi muito aplaudido na Sociedade Nacional de Msica, em 1890.

Em maio de 1890, Franck sofreu um acidente de carro e a partir da sua vida ficou por um fio. Morreu no dia 8 de novembro do mesmo ano por complicaes na pleura. Foi enterrado no cemitrio Montparnasse, em Paris. Como homenagem, seu jazigo foi adornado com uma escultura de Auguste Rodin.CURIOSIDADES

Ruptura com o pai

Por pouco o pai de Csar Franck no vai ao seu casamento. A relao entre ambos j estava azeda e s piorou quando o msico anunciou a unio com uma filha de atores da Comdia Francesa. Nicolas Joseph cedeu e acabou indo cerimnia, fevereiro de 1848, na igreja de Sainte Clotilde, onde o filho era organista.

Dormindo com o inimigo

A mulher de Csar Franck, Flicit Saillot Desmousseaux, teria criticado explicitamente e com virulncia algumas de suas obras, especialmente o "Quinteto de Piano" e a "Sinfonia em Re menor", uma de suas msicas mais reproduzidas e talvez a mais famosa. A relao do casal teria piorado muito a partir dessas crtcas.

Msica na corte

Em 1834, com apenas 11 anos, Csar Franck realizou um dos sonhos de seu ambicioso pai. O msico apresentou-se para o rei belga Leopoldo 1.

Crticas cidas

A "Sinfonia em R menor", a obra mais conhecida de Franck e uma das mais executadas do artista at hoje, foi considerada um fracasso para quem assistiu estria, na noite de 17 de fevereiro de 1889. Charles Gounod (1818-1893), compositor francs, afirmou poca que a msica era a "incompetncia elevada a dogma".

Ciumeira

Franck provocou inimizades quando se tornou professor titular no Conservatrio de Paris. que suas aulas de rgo logo se transformaram em aulas de composio e seus alunos, freqentemente, se tornavam melhores que outros professores da escola de msica.

Cinema

A "Sinfonia em Re menor" inspirou o diretor Billy Wilder. A msica de Franck pode ser ouvida no clssico filme noir "Pacto de Sangue", de 1944.CONTEXTO HISTRICO

Lutas nacionalistas europias so cenrios da vida do compositor

O perodo em que Csar Franck viveu foi marcado pela onda nacionalista na Europa. Ele sentiu isso na pele ao ser recusado no conceituado Conservatrio de Paris porque no havia nascido na Frana, mas na Blgica. Tempos depois, o compositor se naturalizou francs.

Os conturbados fatos polticos de sua poca serviram como cenrios em momentos cruciais quando, por exemplo, teve que passar pelas barricadas at checar igreja para seu casamento, em 22 fevereiro de 1848 dia seguinte da publicao do "Manifesto Comunista", de Karl Marx e Friedrich Engels. Paris e o mundo ferviam.

A identidade e formao cultural de Franck se misturavam - especialmente com a Alemanha, rival da Frana, cujas marcas ficaram expostas na guerra Franco-prussiana (1870-1871). A mesma Alemanha de Wagner talvez o msico que mais tenha influenciado as obras de Csar Franck.

Outros artistas tambm fizeram a cabea de Franck, especialmente no perodo em que estudou no reconhecido Conservatrio de Paris (1837 e 1842). O artista absorve as influncias de professores como Zimmermann, Benoist, e Anton Reicha (1770-1836). Alm de ter contato com obras de outros brilhantes compositores de sua poca como Franz Liszt, Bizet, Chopin e Berlioz.

De aluno a professor

Csar Franck fez escola. Deixou sua marca no apenas nas suas obras, mas sobretudo em seus alunos. Lecionou para msicos como Vincent D'Indy (seu principal pupilo), Henry Duparc, Arthur Coquard, Alexandre Guilmant, Ernest Chausson, Sylvio Lazzari, Joseph Guy Ropartz, Pierre de Brville, Albric Magnard, Gabriel Piern, Gabriel Faur.

Essa turma era conhecida como "grupo de Franck" ou "escola de Franck". Esses compositores eram responsveis por divulgar e levar as composies de Csar Franck para toda a Frana, contribuindo para quebrar a hegemonia da pera no pas.

To rico e importante quanto o momento histrico de Franck foi o romantismo, que predominou por quase todo o sculo 19, dando um lugar eterno e atemporal a um dos gneros musicais mais sublimes, a pera.OBRASMsicas sacras

Ruth (1846)

Redeno (1871-72)

As Beatitudes (1769-79)

Panis angelicus (1872)

Msica para orquestras

Segundo Grande Concerto em sol menor, com solo de piano (1835)

Psych (1886-88)

Sinfonia em R menor (1886-88)

Msica de Cmara

Sonata para violino (1886)

Quarteto para cordas (1889)

O Preldio (1884)

Msica para rgo

Six Pices (1862)

Trs corais (1890)

peras

Ghiselle (1890)

Hulda (1882-1885)

Le valet de la ferme (1851-1853)

Stradella (1884)SITES RELACIONADOSBiografia completa do compositor Csar Franck (e de muitos outros), com fotos e bibliografia (em francs)

Pgina com a vida e obra do artista organizada pelo Ministrio de Relaes Exteriores da Frana (em francs, ingls ou espanhol)

Pgina com informaes sobre o mundo musical de Csar Franck e de msicos inspirados pelo artista naturalizado francs (em francs)

Fotos, mp3, catlogo com todas as obras de Csar Franck (em ingls)

Imagens dos jazigos onde esto enterrados diversos compositores clssicos, incluindo Csar Franck. So primorosas obras de arte a serem desvendadas, nada mrbidoCHOPIN

Frederic ChopinMelancolia marca menino prodgio

Colaborao para a Folha On-line

BIOGRAFIA

"Tirem seus chapus, senhores; ele um gnio". Foi assim que, em um clebre artigo, o compositor alemo Robert Schumman referiu-se a Frederic Franciszek Chopin, ento um jovem polons de apenas 20 anos, tuberculoso e muito tmido, que resolvera trocar a provinciana Varsvia pelas luzes da sofisticada Paris. O elogio derramado de Schumann no era toa. Nascido em 22 de fevereiro 1810, na pequena cidade polonesa de Zelazowa Wola, Frederic Franciszek revelou-se um menino prodgio ao compor e executar publicamente sua primeira obra musical aos oito anos de idade.

Conta-se que, antes mesmo de aprender a escrever, o garoto j tentara compor melodias. Aos 15 anos, era considerado pela crtica "o maior pianista de Varsvia". Logo viu-se que sua arte no ficaria confinada Polnia, cuja capital, naquele ano de 1830, estava prestes a ser invadida, saqueada e incendiada pelas tropas do czarismo russo. "Ah, a cidade ardendo e eu sem poder matar sequer um moscovita", queixou-se, numa carta a um amigo, na viagem a caminho da capital francesa.

Em Paris, ele encontrou fama e dinheiro. E, a partir da, Frederic Franciszek Chopin passou a ser afrancesadamente conhecido como Frdric Franois Chopin --ou, simplesmente, Chopin. A fama s aumentou. O dinheiro ele gastava com tanta ou maior facilidade e voracidade-- quanto ganhava.

Enquanto dava aulas de piano aos filhos e esposas dos parisienses mais abastados, fez contato com futuros mestres do mundo musical da poca, a exemplo de Liszt e Berlioz. Passou a vestir-se impecavelmente: roupas de linho branco importado, lenos de seda no pescoo, capas pretas e sobrecasacas encomendadas aos melhores alfaiates da Frana. Andava em um cabriol prprio, contratou um cocheiro e meia dzia de criados. "Se eu fosse mais tolo do que sou, acreditaria ter chegado ao topo de minha carreira", escreveu ao pai, Nicholas Chopin, professor de francs e literatura no Liceu de Varsvia.

O rapaz estava certo. Ele iria ainda bem mais longe em sua promissora carreira. Ao lado de seu inegvel talento, a sade frgil, os modos aristocrticos e o comportamento reservado ajudaram-lhe a consolidar a imagem de "gnio esquivo" entre seus pares. Um caso de amor platnico e um romance proibido contriburam para que Chopin mergulhasse em um estado permanente de melancolia profunda, trao de personalidade que para sempre seria sua marca registrada.

Em 1829, seus olhos azuis-cinzentos se depararam com os de Constncia Gladkowska, uma estudante de canto do Conservatrio de Varsvia. Foi uma paixo fulminante, mas Chopin jamais teve coragem de declarar-se a ela. Mais adiante, conseguiu pedir a mo de outra moa, Maria Wodzinska, uma polonesa que conhecera na infncia e reencontrara em Paris. O namoro no seguiu adiante por determinao expressa da me da jovem, que no queria v-la casada com um "pianistazinho tuberculoso". As cartas que enviara amada foram providencialmente devolvidas. Chopin as guardou em um nico envelope, no qual escreveu: "Moja bieda" ("Meu sofrimento").

A introspeco de Chopin refletia-se tambm em seu modo singular de apresentar-se ao piano, ao ponto de ele ser censurado por alguns crticos da poca, que consideravam "fraca" e "com pouco volume" a sonoridade que o msico extraa do instrumento. Berlioz foi um dos primeiros a chamar a ateno para o fato de que, com isso, na verdade, Chopin inaugurava um novo estilo de tocar, mais intimista que o habitual. "Chopin executa suas composies com extrema doura, com pianssimos delicados, os martelos tocando de leve nas cordas, de tal maneira que somos tentados a nos aproximar do instrumento para prestar ateno, como faramos ao ouvir um concerto de silfos ou de duendes", escreveu Berlioz.

Depois do caso de amor fracassado com Wodzinska, Chopin acabou unindo-se, em 1838, com a controvertida escritora Aurore Dupin, que assinava seus escritos com o pseudnimo masculino de George Sand. Os dois formaram um casal singular. Ele, esquivo e doente. Ela, oito anos mais velha, expansiva, divorciada, don