biografia líderes do pt - trajetórias e lutas

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CAPA

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Page 1: Biografia Líderes do PT - Trajetórias e Lutas

CAPA

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2012/20132012/20132012/20132012/20132012/2013

Líderes do PT na Câmara:

TRAJETÓRIAS E LUTAS

PPPPPesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoAthos Pereira

Líder:Líder:Líder:Líder:Líder: José Guimarães (CE) - 2013Líder:Líder:Líder:Líder:Líder: Jilmar Tatto (SP) - 2012

Liderança do PT na Câmara

ImpressãoImpressãoImpressãoImpressãoImpressãoNossa Gráfica e Editora LTDA.

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Pereira, Athos.

Líderes do PT na Câmara: trajetórias e lutas/pesquisa e redação:

Athos Pereira. — Brasília: 2012/2013.

200 p.

História dos Líderes políticos do Partido dos Trabalhadores (PT),

no período de 1980 a 2013.

Líder do PT na Câmara (2013): José Guimarães (CE)

Líder do PT na Câmara (2012): Jilmar Tatto (SP)

1. Líder Político, história, Brasil. 2. Partido dos Trabalhadores

(PT), história, Brasil. 3. Partido Político, história, Brasil. I. Título.

CDU 32:316.46(81)

Ficha catalográficaFicha catalográfica

Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

Page 4: Biografia Líderes do PT - Trajetórias e Lutas

Líderes do PTLíderes do PTLíderes do PTLíderes do PTLíderes do PTDeputado José Guimarães

Deputado Jilmar Tatto

PPPPPesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoesquisa e redaçãoAthos Pereira

Chefe de GabineteChefe de GabineteChefe de GabineteChefe de GabineteChefe de GabineteMarcus Braga

EdiçãoEdiçãoEdiçãoEdiçãoEdiçãoDenise Camarano

RRRRRevisão de Tevisão de Tevisão de Tevisão de Tevisão de TextosextosextosextosextosThaís Maria

FFFFFonte de pesquisaonte de pesquisaonte de pesquisaonte de pesquisaonte de pesquisaNúcleo de Documentação da Liderança do PT na Câmara

Fundação Getúlio Vargas (CPDOC)

PPPPProjeto Gráfico/Diagramaçãorojeto Gráfico/Diagramaçãorojeto Gráfico/Diagramaçãorojeto Gráfico/Diagramaçãorojeto Gráfico/DiagramaçãoSandro Mendes

CapaCapaCapaCapaCapaAlessandro Santanna

Liberdade de Expressão Agência e Assessoria de Comunicação

FFFFFotosotosotosotosotosGustavo Bezerra e Salu Parente

Assessor de ImprensaAssessor de ImprensaAssessor de ImprensaAssessor de ImprensaAssessor de ImprensaPaulo Paiva Nogueira

Expediente

Fotos de arquivos do Núcleo de Documentação da Liderança do PT;de gabinetes parlamentares; de ex-líderes e da Câmara dos Deputados

Expediente

Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

Page 5: Biografia Líderes do PT - Trajetórias e Lutas

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Page 6: Biografia Líderes do PT - Trajetórias e Lutas

ApresentaçãoApresentação

Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

Este livro contém um resumo da biografia de cada umdos deputados que exerceram o cargo de Líder do Partidodos Trabalhadores na Câmara dos Deputados ao longo dos33 anos de vida do PT e de sua representação nesta Casado Parlamento. Procura registrar a trajetória daqueles quelideraram a Bancada de deputados federais não só atravésde um simples “curriculum vitae”. Ele busca situar a atuaçãode cada Líder no contexto da época em que exerceu a função,os desafios de cada momento e a sua contribuição naconstrução desta imensa obra coletiva que é o PT.

Os resumos procuram, portanto, mostrar a atuação dosLíderes do PT em uma conjuntura em perpétuo movimento.Em determinado momento, um Brasil saindo de uma ditadurae procurando consolidar uma democracia; em outro,questionamentos sobre as limitações de um modeloeconômico que, no passado, foi importante para o País, masque já mostrava sinais de esgotamento. Mais adiante, debatessobre novos modelos econômicos, entre eles oneoliberalismo, imposto pelos centros mundiais docapitalismo. Mais recentemente, a implantação de um novomodelo desenvolvimentista que vem obtendo sucesso emnosso País, e em vários países vizinhos nos últimos 11 anos.

Esses resumos biográficos tratam da vida de pessoas quelidaram, durante seus mandatos, com grandes temas nacionaisque, de uma forma ou de outra, transitaram pelo Parlamento.Refiro-me a episódios como a memorável campanha pelaseleições diretas, que não triunfou de imediato, mas cavou otúmulo da ditadura; o processo constituinte que reestabeleceua democracia no País; o impeachment do presidente FernandoCollor, que funcionou como teste para as instituiçõesdemocráticas; as inúmeras comissões parlamentares deinquérito que tiveram lugar no Parlamento e que vãocontribuindo para consolidar a democracia; a resistência aoprojeto neoliberal, levada a efeito com tenacidade, mas dentro

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Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

dos limites da democracia; além de outros temas quepercorreram a pauta da Nação nas últimas três décadas.

Eles permitem ainda acompanhar a evolução do Partidoao longo do trajeto cumprido até agora. Retrata escolhas eadaptações feitas em matéria de política de alianças; mostraa opção por um determinado sistema de governo, opresidencialismo, aprovado pela base partidária; relata oprocesso de debate sobre uma reforma política cada vez maisnecessária; registra alterações em matérias de convicções ede propostas, além de outras questões que atravessam aatividade parlamentar e a atividade política em geral.

A expectativa é que eles sirvam para preservar a memóriados muitos que passaram pelo Parlamento em busca dejustiça social e de progresso econômico, e para criar umfundo de memória coletiva que contribua para que o impulsoque trouxe o PT até aqui possa prosseguir, não somente nocrescimento e na constante renovação do Partido, mas quesirva também à oxigenação e à democratização da sociedadecomo um todo, contribuindo para propagar cada vez mais osvalores da democracia, da liberdade e da igualdade.Participando desse esforço, damos uma contribuição para queas sombras da ditadura nunca mais ameacem a Naçãobrasileira. E exercemos o direito de buscar, por meiosdemocráticos, a construção de um País mais justo e mais feliz.

Esse trabalho foi coordenado pelo companheiro AthosPereira. Participante ativo da história recente do Brasil,particularmente das atividades da Liderança do PT na Câmarados Deputados, ele está qualificado para tratar desta históriaimediata, com equilíbrio e amplitude de visão. Ele assumetambém a responsabilidade por eventuais erros.

As críticas serão bem-vindas.Boa leitura!

Brasília, novembro 2013Brasília, novembro 2013Brasília, novembro 2013Brasília, novembro 2013Brasília, novembro 2013

Deputado José Guimarães (PT-CE)Líder da Bancada do PT na Câmara

Deputado Jilmar Tatto (PT-SP)Ex-Líder da Bancada do PT na Câmara

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SumárioSumário

Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

Adhemar Santillo.................................................

Airton Soares.......................................................

Djalma Bom........................................................

Irma Passoni........................................................

Luiz Inácio Lula da Silva.......................................

Plínio de Arruda Sampaio....................................

Gumercindo Milhomem.......................................

José Genoino......................................................

Eduardo Jorge.....................................................

Vladimir Palmeira.................................................

José Fortunatti......................................................

Jaques Wagner.....................................................

Sandra Starling.....................................................

José Machado......................................................

Marcelo Déda......................................................

José Genoino.......................................................

Aloizio Mercadante...............................................

Walter Pinheiro.....................................................

João Paulo Cunha................................................

Nelson Pellegrino..................................................

Arlindo Chinaglia.................................................

Paulo Rocha.........................................................

Henrique Fontana.................................................

Luiz Sérgio............................................................

Maurício Rands.....................................................

Cândido Vaccarezza..............................................

Fernando Ferro.....................................................

Paulo Teixeira........................................................

Jilmar Tatto...........................................................

José Guimarães....................................................

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asceu no dia 13 de novembro de 1939, em Ribeirão Preto, SãoPaulo. Foi criado em Anápolis, Goiás, para onde seus pais se mu-daram em 1944. Ao lado do irmão Henrique Santillo, que viria aser eleito governador de Goiás em 1986, Adhemar Santillo militoudesde os primórdios nas fileiras do MDB, o Movimento Democráti-co Brasileiro, em oposição à ditadura instalada no país em 1964.

Seu primeiro cargo eletivo foi o de deputado estadual emGoiás. O posto foi conquistado na eleição de 1974, realizadasob o signo do esgotamento do chamado “milagre econômico”.Nesta eleição o povo brasileiro rejeitou de forma nítida e massivaa ditadura, elegendo 15 candidatos ao Senado apresentados peloMDB, num universo de 21 vagas em disputa.

Primeiro Líder

da Bancada do PT

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Líder do PT de 11 de março a 6 de maio de 1980

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Adhemar Santillo

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Nas eleições seguintes, em 1978, Adhemar Santillo se elegedeputado federal pelo MDB de Goiás, numa disputa assombradapelo “pacote de abril de 77”, instrumento de arbítrio criado peladitadura para tentar impedir a reedição da fragorosa derrota daARENA, partido da ditadura, verificada em 1974.

Num momento de transição para a democracia, em que o povobrasileiro se libertava de um bipartidarismo imposto pelos milita-res, alguns deputados federais se filiaram ao nascente Partido dosTrabalhadores. Eram eles: Adhemar Santillo (GO), Airton Soares(SP), Luiz Cherccinel (SC), Edson Khair (RJ), Antonio Carlos de Oli-veira (MS) e Freitas Diniz (MA), todos oriundos da tendência autên-tica do MDB, sigla que acolhia todos aqueles que se opunham àditadura.

Adhemar Santillo foi escolhido por seus colegas para liderar aprimeira bancada do PT e exerceu o cargo entre 1º de março de1980 e 6 de maio do mesmo ano. Por questões de ordem regio-nal, desligou-se posteriormente do Partido.

Adhemar Santillo conquistou seu segundo mandato de depu-tado federal nas eleições de 1982, a primeira após a anistia eque registrou a volta da eleição direta para os governadores dosEstados, até então banida pela ditadura. Em seguida afastou-seda Câmara dos Deputados para ocupar o cargo de Secretário deEducação e Cultura do Estado de Goiás no governo de Iris Rezende(PMDB), também eleito em 1982.

Em 1985, a Nova República, inaugurada em 15 de marçocom a posse de José Sarney na Presidência, procurava eliminaraquilo que se denominou entulho autoritário. Um deles era a au-sência de eleições para prefeito das capitais, dos municípios clas-sificados como área de segurança nacional e das instânciashidrominerais. Seus prefeitos eram nomeados.

Anápolis era considerada área de segurança nacional pela di-tadura porque abriga uma base aérea. Em 1985, com a recon-quista do direito de escolher seus dirigentes, Anápolis elegeuAdhemar Santillo, em 15 de novembro, para governar a cidade até31 de dezembro de 1988. Nas eleições de 1996, Adhemar Santillofoi novamente eleito prefeito de sua cidade para um mandato de 4anos. Ele continua mantendo uma militância política ativa.

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Em defesa da democracia

e dos direitos humanos

Líder do PT de 6 de maio de 1980 a 27 de fevereiro de 1985

II

Airton Soares

N asceu em 1º de setembro de 1945, em Pirajuí, região de Bauru,no Noroeste paulista. Diplomou-se em Direito e Ciências So-ciais pela Universidade de São Paulo, participou dos movi-mentos estudantis de oposição à ditadura implantada em1964. Entre 1967 e 1969 fez um curso sobre desenvolvimen-to econômico da América Latina na Universidade de Harvard,nos Estados Unidos.

Airton Soares foi advogado de presos políticos e precursordos movimentos pelos direitos humanos e pela anistia. Nas elei-ções de 1974, quando o povo brasileiro se manifestou, nas ur-

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nas, de forma massiva contra a ditadura e elegeu grande ban-cada oposicionista no Congresso Nacional, ele foi conduzido àCâmara do Deputados por São Paulo, na legenda do MDB.

Em 1977, a bancada do MDB comandada por um líder datendência autêntica, Alencar Furtado, eleito pelo Paraná, recu-sou-se a fazer um acordo com a ARENA, partido da ditadura,sobre uma proposta de reforma do Judiciário, enviada pelo ge-neral Geisel ao Parlamento. O projeto foi rejeitado.

A reação da ditadura foi truculenta, impôs recesso parla-mentar e passou a legislar por decretos. Foram criadas aberra-ções, como a figura esdrúxula do senador biônico; um terço dosmembros do Senado passava a ser nomeado por AssembleiasLegislativas controladas pela ditadura e a representação mínimadas unidades da Federação passava de dois para quatro depu-tados, ampliando desta forma a representação das unidadesmenos populosas do País. Assim, a ditadura tentava impedir quese repetisse, em 1978, a derrota acachapante sofrida pela ARE-NA em 1974.

Airton sempre foi um deputado ativo e corajoso. Fazia parteda tendência autêntica do MDB, sigla que acolhia toda pessoaque se opunha à ditadura. Sua atuação abarcava temas diver-sos, ia da denúncia da operação Condor, pacto repressivo entreas ditaduras do continente Sul-Americano, ao apoio às grevesmassivas que, naquele ano de 1978, começaram a sacudir oABC paulista e, depois, o Brasil inteiro, assinalando o declíniodefinitivo da ditadura e fazendo com que a oposição deixassede ser apenas parlamentar e se transformasse num movimentode massas vigoroso.

Sua atuação passou igualmente pela denúncia de que asinvestigações levadas a efeito pelo Exército sobre o atentado doRiocentro era uma farsa, que tentava apresentar, como réus, osalvos do atentado terrorista, mal-sucedido, executado por ele-mentos do próprio Exército.

Com o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura, AirtonSoares filiou-se ao PT e se tornou seu Líder na Câmara, de 6 demaio de 1980 a 27 de fevereiro de 1985. Neste posto teve par-ticipação importante na articulação da histórica campanha dasDiretas Já.

Depois da derrota, na Câmara dos Deputados, da emendaConstitucional Dante de Oliveira, que restabelecia as eleiçõesdiretas para Presidente, um plebiscito, realizado entre filiadosao PT, recomendou o boicote ao Colégio Eleitoral e a continua-

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ção das lutas pelas eleições diretas. O Diretório Nacional aca-tou a posição assumida pela maioria dos filiados. Airton Soaresdiscordou da decisão e afastou-se do partido. Foi acompanha-do pelos deputados José Eudes (RJ) e Beth Mendes (SP).

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Dos piquetes das greves

ao plenário da Câmara

Líder do PT de 17 de fevereiro de 1985 a 12 de março de 1986

III

Djalma Bom

asceu em Medina, na região do Vale do Jequitinhonha, MinasGerais, no dia 29 de março de 1939. Trabalhou em fábricas doABC paulista durante a década de setenta. Entrou para a direçãodo Sindicato dos Metalúrgicos em 1975.

O Brasil estava em vésperas de assistir uma retomada vigoro-sa e inovadora de seu movimento sindical. Este movimento come-çava ali no ABC e Djalma estava em sua vanguarda, ao lado deLula. Djalma Bom fez parte da diretoria do Sindicato dosMetalúrgicos até 1980. Nesta condição, participou ativamentedas greves e das mobilizações operárias que começaram a mu-

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dar a natureza da oposição à ditadura. Aquela oposição estavadeixando de se limitar apenas a um ou outro discurso parlamen-tar no plenário de um Congresso Nacional desprovido de pode-res ou a algumas denúncias de torturas e outras arbitrariedadesdivulgadas pela imprensa internacional.

Desde 1978, com a primeira onda de greves no ABC, o novomovimento sindical autêntico associou a questão da democraciaà questão social. A oposição ao regime passou a contar com umnovo componente: a revolta de massas operárias contra a explo-ração capitalista e contra a opressão da ditadura. A ditadura co-meçou a vacilar. Bateu e prendeu, mas os operários resistiram.

A ditadura percebeu que o movimento se espalhava pelo país.Talvez por isso tenha evitado um banho de sangue. Optou porprosseguir na política da abertura lenta e gradual, inauguradapelo general Geisel. Ele mesmo revogou o AI-5 - que deu poderesabsolutos aos generais e suspendeu garantias constitucionais-,substituindo-o por uma draconiana Lei de Segurança Nacional,no fim de seu governo.

Em 1979, o general João Figueiredo, sucessor de Geisel, assi-nou a Lei da Anistia. Mas a política continuava em ziguezague. Tipomorde e assopra. Em 19 de abril de 1980, Lula e vários compa-nheiros, entre eles Djalma Bom, foram presos e enquadrados na Leide Segurança Nacional, em meio a uma greve que contou com aparticipação de 140 mil operários. Lula e seus companheiros fo-ram libertados no dia 20 de maio de 1980. Em 1981, Lula, nova-mente junto com Djalma Bom e outros companheiros, foram con-denados com base na LSN, recorreram ao STM que encerrou oassunto declarando-se incompetente para tratar do tema.

Em 1982 Djalma Bom foi eleito deputado federal pelo PT deSão Paulo. Tomou posse em 1983 e foi eleito presidente da Co-missão do Trabalho da Câmara dos Deputados. Em 1985 DjalmaBom foi eleito Líder do PT. Ele passou a comandar uma bancadareduzida, já que três deputados haviam se desligado do partidoporque resolveram comparecer ao Colégio Eleitoral. Além deDjalma, a bancada era formada por José Genoino, Irma Passoni,Luis Dulci e Eduardo Suplicy.

Djalma Bom, que também tem seus dotes artísticos, cantavatradicionais boleros nas festas do sindicato, viveu a felicidade de,como líder, assistir o PT romper um aparente isolamento em quese colocou logo depois da vitória de Tancredo Neves.

Já nas eleições para prefeitos das capitais, em novembro de1985, o PT mostrou força eleitoral. Não só venceu em Fortaleza,

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mas também conquistou resultados expressivos em São Paulo, PortoAlegre, Belo Horizonte, Vitória, Aracaju e Goiânia. No plenárioda Câmara, quando denunciava suspeitas de fraude contra o PTem Goiânia, Djalma Bom sustentou um arranca-rabo com a figu-ra insólita de Joaquim Roriz, que quase degenerou em troca detapa. Sua liderança foi coberta de êxito. Com ele, a classe operá-ria começava a trilhar os labirintos do parlamento.

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Uma voz dos movimentos

populares no Parlamento

Líder do PT de 12 de março de 1986 a 1º de fevereiro de 1987

IV

Irma Passoni

asceu em Concórdia, Santa Catarina, no dia 5 de abril de 1943.Foi professora do ensino médio e se ordenou freira pelo InstitutoBeatíssima Virgem Maria. Deixou o hábito em 1965.

Formada em Pedagogia, Irma Passoni, ao longo da décadade 1970 militou nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), nú-cleos da Igreja Católica que combinavam evangelização da popula-ção com conscientização política. Os desdobramentos lógicos eramas mobilizações populares contra a carestia e por moradias popula-res. Mas à medida que passava o tempo e o movimento ia sepolitizando, outras bandeiras entravam na pauta, como a luta pelaanistia.

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Em 1978, filiada ao MDB, Irma se elegeu deputada esta-dual. Levou para a Assembleia Legislativa de São Paulo a pautados movimentos sociais que representava. Mas, transitandoem um ambiente que pressent ia o f im próx imo dobipartidarismo, imposto pela ditadura, ela não demorou aingressar nas articulações que dariam origem ao PT.

Foi secretária-geral da Comissão Diretora provisória doPT do Estado de São Paulo e cumpriu a missão de organizar onúmero mínimo de Diretórios Municipais do Partido, naquelaunidade da Federação. Alcançada a legalização do PT, IrmaPassoni foi eleita a primeira secretária-geral do Diretório Re-gional no Estado de São Paulo.

Em 1982, Irma Passoni foi eleita deputada federal pelonovo partido, fez parte assim da primeira bancada federaleleita pelo PT. Na condição de deputada, participou das arti-culações e das mobilizações da histórica campanha pelas elei-ções diretas para Presidente da República. Com a derrota daEmenda Dante de Oliveira, que fez com que a eleição presi-dencial se desse no Colégio Eleitoral, Irma Passoni seguiu aorientação do partido, boicotou o Colégio Eleitoral.

Em 1986, Irma foi escolhida por seus colegas deputados doPT para ser a Líder da Bancada. Nas eleições de novembro da-quele ano, ela se reelegeu deputada, desta vez para cumprirfunções constituintes. No processo constituinte, ela representouo PT, como titular, nas comissões que trataram da Reforma Agrá-ria e da Ordem Econômica. A imprensa do PIG (Partido da Im-prensa Golpista) costuma dizer que o PT não assinou a Consti-tuição. Isso é mentira. Todos os 16 deputados da bancada assi-naram a Constituição e isto está registrado nos anais da consti-tuinte. O PIG repete esta calúnia porque não tem apego à ver-dade.

Na primeira eleição direta para Presidente, depois da di-tadura, em 1989, Irma teve participação destacada na me-morável campanha que levou o ex-presidente Lula ao segun-do turno, contra Fernando Collor. Apesar da derrota, o PTsaiu fortalecido, demarcou um território da esquerda na soci-edade e se firmou como principal força do campo democráti-co e popular. Nas eleições de 1990, o PT dobrou sua banca-da federal, passou a contar com 32 deputados. Irma se ree-legeu em São Paulo.

Na condição de deputada federal, Irma participou das arti-culações e das mobilizações que culminaram com a aprovaçãodo “impeachment” contra Fernando Collor. Hoje, Irma Passonicontinua militando nos movimentos sociais e no PT.

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Lula lidera PT na Assembleia

Nacional Constituinte

Líder da Bancada do PT de 1º de fevereiro de 1987 a 14 de dezembro de 1988

V

Luiz Inácio Lula da Silva

asceu em Garanhuns, Pernambuco, no dia 27 de outubro de 1945.Filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Mello (DonaLindu). Passou a maior parte de sua juventude na região industrialdo ABC paulista, trabalhando como metalúrgico, até se transfor-mar em dirigente sindical.

Luiz Inácio Lula da Silva entrou no movimento sindical mais porinsistência de seu irmão, Frei Chico, do que por projeto pessoal ou

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por alguma ambição. Naquele tempo, ele não se preocupava, nemcom o movimento sindical, nem com a política. Preferia pescar, di-zem alguns. Mas quando entrou no movimento mostrou talentoinvulgar.

Em maio de 1978, quando estourou a greve dos operários daScania-Vabis, ele já era Presidente do Sindicato dos Metalúrgicosde São Bernardo e Diadema, numa época em que a ditadura nãoadmitia nenhum tipo de greve. Sua tarefa, a partir daquele mo-mento, foi administrar a revolta da classe operária contra a explo-ração capitalista e a opressão da ditadura, numa conjuntura emque o desdobramento mais provável da greve seria um banho desangue, promovido pela ditadura. Saiu-se bem. Evitou um banhode sangue e acrescentou um nítido componente operário e popu-lar à oposição ao regime.

Antes, em 1977, a imprensa internacional havia divulgadoum documento do Banco Mundial que informava que os índicesda inflação brasileira, período 1973/75, foram manipulados. Lulaencomendou ao Dieese um estudo sobre os efeitos desta manipu-lação nos salários dos metalúrgicos. O estudo verificou que amanipulação resultou numa perda de 34,1% dos salários da ca-tegoria.

A partir do Sindicato de São Bernardo, Lula começou a articu-lar, com outros sindicatos, uma campanha pela reposição salari-al. Esta bandeira ganhou apoio de vários sindicatos no Brasil in-teiro. A campanha prometia. Mas então os operários da Scania-Vabis, de Diadema, deflagraram uma greve que alteraria signifi-cativamente o quadro, os rumos e os ritmos dos acontecimentos,porque foram seguidos, quase que instantaneamente, por 150mil operários de outras fábricas e de outras cidades, que tambémentraram em greve. Pela primeira vez a ditadura sofria uma con-testação em grande escala vinda da base da sociedade.

A greve se encerrou com um aumento salarial modesto, a sus-pensão da intervenção no sindicato e a promessa de retomadadas negociações salariais, num prazo de 45 dias. Ela revelou tam-bém um líder corajoso, com grande ascendência sobre sua base,que sabia tencionar e dialogar com inteligência e flexibilidade:Lula, o futuro Presidente do Brasil.

Não é exagero dizer que aquela greve fertilizou duas ideiasambiciosas de Lula e das pessoas mais próximas dele: a constru-ção do Partido dos Trabalhadores e a criação da Central Únicados Trabalhadores. Desde então, com afinco e sucesso, Lula sededicou a lutar por esses objetivos.

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Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

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O PT foi fundado em 1980, em seguida seus primeiros mili-tantes, inspirados por Lula, partiram para a campanha de filiaçãorequerida pela lei. Aliás, as leis que regiam o processo eramdraconianas e foram concebidas para impedir a legalização doPT, os obstáculos eram grandes, passavam por constituir diretóriosmunicipais em pelo menos 25% das cidades de pelo menos noveEstados da federação. Mas os militantes foram para a rua conver-sar com o povo e pedir adesões dentro do prazo legal, os requisi-tos estabelecidos estavam preenchidos. Luiz Inácio Lula da Silvacompareceu então ao Tribunal Superior Eleitoral em Brasília eprotocolou o pedido de registro. O TSE levou um tempo paraexaminar a documentação, mas logo deferiu “com louvor” o pe-dido de registro. O PT foi o primeiro partido a se legalizar depoisda reforma partidária baixada pela ditadura.

Esta foi sua primeira vitória. Talvez mais importante do que sepensa, pois nessa época se discutia internamente no PT se eledevia ser um partido de massas ou de quadros. Essa discussão,com uma pitada de trotskismo, tinha tudo para durar dez anos eparalisar o Partido no berço. Mas a ditadura resolveu o problemado PT, na medida em que exigiu para a legalização um grandenúmero de filiados, assim o PT já nasceu de massas.

Em 1982, quando a ditadura reestabeleceu as eleições dire-tas para os governos dos Estados, Luiz Inácio Lula da Silva foi ocandidato do PT a governador do Estado de São Paulo. Ficou emquarto lugar, mas teve gente no PT que viu nesse resultado moti-vos para comemoração. Sublinhavam que o Partido tinha obtidomais de um milhão de votos para governador em São Paulo eelegido oito deputados federais - seis por São Paulo, um pelo Riode Janeiro e um por Minas Gerais. Outros perceberam que ascampanhas petistas, limitadas por uma legislação restritiva da di-tadura, a Lei Falcão, conseguiu ser mais primitiva que as campa-nhas dos demais partidos que também estavam submetidos àsmesmas limitações.

Apesar do resultado, o PT conservou energias para, sob ainspiração de Lula, tomar iniciativas de vulto em 1983. Destaca-se a realização do Iº Conclat (Congresso Nacional da Classe Tra-balhadora). Este congresso reuniu, em São Bernardo do Campo(SP), 5059 delegados, representando 912 entidades sindicais detodo o país. Essa enérgica militância, reunida nos dias 26, 27 e28 de agosto, declarou fundada a CUT. Vale registrar que nemtodos os delegados eram petistas, mas todos eram sindicalistasautênticos, e que a legislação da época proibia a existência de

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centrais sindicais. Assim a CUT nasceu desafiando uma legalida-de caduca, herança do Estado Novo de Getúlio Vargas.

Não menos significativa foi a iniciativa do PT de abrir a cam-panha pelas eleições diretas para Presidente da República emcomício realizado no dia 27 de novembro de 1983, em frente aoestádio do Pacaembu, SP. Franco Montoro (PMDB), então gover-nador de São Paulo, foi convidado, vacilou e não compareceu.Coube a Luiz Inácio Lula da Silva dirigir-se à multidão (20 milpessoas) como principal orador da noite, para perorar pela de-mocracia e anunciar a disposição do PT de fazer uma ampla cam-panha pelas diretas.

Valeu a intenção do gesto. Para o dia 25 de janeiro de 1984,na Praça da Sé, dois meses depois do Pacaembu, foi convocadauma manifestação pelas diretas por um comitê suprapartidário,com o apoio do governador Franco Montoro e do PMDB. Este atoreuniu 200 mil pessoas. A Rede Globo mostrou imagens da mani-festação e informou a seus telespectadores que aquilo era umafesta em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo.Esta não foi a primeira nem a última vez que a Globo faltou coma verdade.

A partir do comício da Praça da Sé, a campanha pelas elei-ções diretas adquiriu dimensões monumentais. Em todas as gran-des cidades do Brasil multidões inumeráveis saíram às ruas paraclamar pelo reestabelecimento das eleições diretas para Presidenteda República. Líderes nacionais como Luiz Inácio Lula da Silva,Ulysses Guimarães e Leonel Brizola percorreram o país de pontaa ponta, animando multidões que exigiam o fim da ditadura. OBrasil nunca tinha visto semelhante grau de mobilização popular.

A direção do movimento resolveu canalizar sua energia paraa aprovação da Proposta de Emenda Constitucional nº 5/83, deautoria do deputado Dante de Oliveira (PMDB-MT), quereestabelecia as eleições diretas para Presidente da República. Omovimento cresceu tanto que até a Rede Globo passou a apoiá-lo. Dentro do PMDB, Ulysses Guimarães queria sinceramente asdiretas, Tancredo Neves também, mas não se importava de caval-gar o movimento para tornar-se Presidente via Colégio Eleitoral,que todos chamavam de espúrio e imoral.

A derrota da Emenda Dante de Oliveira, no plenário da Câ-mara, no dia 25 de abril de 1984, na medida em que bloqueavasaídas dentro da legalidade da ditadura, servia aos interesses deTancredo Neves que, por outro lado, não tinha vetos militares, aocontrário de Ulysses Guimarães, que não era bem visto na caser-

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na. Consta que esta má vontade decorria do fato de que o velhoUlysses certa vez comparou o general Ernesto Geisel com Idi AminDadá, um caricato ditador de Uganda.

A força da mobilização das diretas entrou em declínio, o querestava de sua energia estava sendo canalizado pela ala maismoderada do movimento para buscar uma vitória de TancredoNeves contra Paulo Maluf, o candidato da ARENA (PDS), dentrodo Colégio Eleitoral, que se reuniria para eleger o novo Presiden-te da República no dia 15 de janeiro de 1985. Para tanto eranecessário dividir a ARENA (PDS), partido de sustentação da dita-dura e ganhar parte de seus parlamentares para a candidaturaTancredo Neves.

Diante deste quadro, o PT convocou um plebiscito interno parasaber se sua bancada iria ou não ao Colégio Eleitoral. A esmaga-dora maioria dos petistas que participaram da votação disse quea Bancada devia boicotar o Colégio Eleitoral, espúrio e imoral emanter-se fiel à luta pelas diretas. O PT ainda se esforçou pararetomar as mobilizações, mas não teve forças nem aliados paratanto. Por outro lado, inegavelmente o povo deu seu beneplácitoà manobra capitaneada por Tancredo Neves para derrotar PauloMaluf no Colégio Eleitoral. Foi o que aconteceu. No dia 15 dejaneiro de 1985 Tancredo Neves foi eleito Presidente da Repúbli-ca, tendo como vice-presidente José Sarney, oriundo da ARENA(PDS), transitando para o então PFL. O PT manteve a posiçãotomada por sua base, boicotou o Colégio Eleitoral. Três dos oitodeputados do partido resolveram desobedecer esta decisão e com-pareceram ao Colégio Eleitoral para votar em Tancredo Neves.Foram excluídos do Partido.

A posse de Tancredo Neves estava prevista para o dia 15de março, no dia 14, véspera da posse, ele foi diagnosticadocom um quadro de diverticulite aguda. Não pode tomar posse,quem assumiu foi o vice-presidente, José Sarney, que passou agovernar com um ministério heterogêneo formado por TancredoNeves. A história mostraria que os médicos subestimaram agravidade da doença que acometera o Presidente. Após umalonga agonia, ele faleceu no dia 21 de abril de 1985. Nestedia, José Sarney se transformou no efetivo Presidente da Repú-blica. A Nova República concebida por Tancredo Neves seriatocada por José Sarney.

Desde a decisão tomada pelo PT de não comparecer ao Co-légio Eleitoral, muitas candidatas a cassandra vaticinam sem ne-nhum sucesso o isolamento e o fim próximo do partido. Entre elas,

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para citar algumas, cabe lembrar: Jorge Bornhausen, a mais as-sustadora, porque com uma conotação racial; Thomas Skidimore,preocupante porque muito próxima do perigoso Departamentode Estado Norte-Americano; Bresser Pereira, acadêmico ilustre quejá viveu melhores dias; Plínio Arruda Sampaio, que já foi maislúcido; além de uma caterva inumerável de colunistas da impren-sa golpista, jornalistas mercenários e aventureiros de toda espé-cie que, diariamente, desde 1985, cometem os piores vaticíniossobre o futuro do PT.

O calendário eleitoral da Nova República estabeleceu a rea-lização de eleições diretas para prefeitos das capitais, municípiosaté então considerados área de segurança nacional e estânciashidrominerais, no dia 15 de novembro de 1985. Nesta campa-nha, o PT, atuando num quadro democrático, produziu comuni-cação e propaganda criativas, fez um discurso menos “ideológi-co” e procurou falar dos problemas do dia a dia do povo. Des-mentindo cabalmente as cassandras do isolamento, obteve umresultado esplêndido. Elegeu a prefeita de Fortaleza. Em Goiâniaparticipou de uma disputa acirrada, ganha pelo outro lado comsuspeita de fraude. Em outras capitais, como São Paulo, BeloHorizonte, Porto Alegre, Aracaju e Vitória, o PT obteve tambémresultados memoráveis. Pela primeira vez, o Partido mostrou quetinha viabilidade eleitoral e isso não acontecia apenas em SãoPaulo. O Partido mostrou que tinha e tem uma vocação nacional.

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Em 1986, Luiz Inácio Lula da Silva se elegeu deputado federalconstituinte, pelo PT de São Paulo. Ele foi o Líder da Bancada,então formada por 16 parlamentares, durante os quase dois anosde funcionamento da constituinte. No dia da abertura dos traba-lhos constituintes, Lula, em nome da Bancada, protocolou na Mesada Constituinte uma proposta de Constituição, elaborada peloDiretório Nacional, com base num texto original preparado pelojurista Fábio Konder Comparato. Protocolou também uma pro-posta de Regimento Interno para os trabalhos constituintes.

Com isso a bancada do PT mostrou que tinha uma linhageral sobre o modelo de Constituição que queria para o país ese antecipou a uma manobra das elites que visava criar umacomissão de “notáveis”, batizada de Comissão Afonso Arinos.Ela ficaria encarregada de elaborar um esboço de Constituição,depois disso, só então, os míseros mortais constituintes seriamchamados a opinar. Com a ajuda do PT esta manobra elitista foirapidamente sepultada.

No processo constituinte, Lula representou o PT na Comissãode Sistematização. A bancada do PT considerou que suas preocu-pações essenciais não foram contempladas em dois capítulos daredação final da Constituição, um que tratava da questão agráriae outro que definia o papel das Forças Armadas. Na questão agrá-ria o PT considerou que o texto aprovado representava um retro-cesso em relação ao Estatuto da Terra, do general Castelo Bran-co. Na questão da segurança nacional, o PT defendeu que o pa-pel das Forças Armadas deveria se limitar à defesa das fronteirase à manutenção da soberania nacional sobre o território. Mas amaioria dos constituintes resolveu atribuir às Forças Armadas pa-pel tutelar sobre a democracia, o que não tem a ver com as soci-edades modernas.

Por estas razões, a bancada do PT votou contra o texto finalda Constituição. Mas optou por assiná-lo, por considerar que eletinha origem legítima e que foi elaborado num ambiente demo-crático. A imprensa golpista costuma dizer que o PT não assinou aConstituição. Mas isso é mentira. Até ela sabe disso. Neste livroestão reproduzidos os autógrafos dos deputados petistas sobre otexto original da Constituição.

É correto salientar que a influência do PT sobre o texto daConstituição foi maior do que as dimensões modestas de sua Ban-cada poderiam sugerir. Isso aconteceu graças à capacidade dearticulação de Lula e da Bancada com as demais forças demo-cráticas e progressistas presentes no processo.

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Terminado seu trabalho constituinte, Lula e o PT precisavamvoltar os olhos para a administração da esplêndida vitória nas elei-ções municipais de 1988, cujo emblema maior foi a vitória de LuizaErundina para prefeita de São Paulo. A partir de então, efetivamen-te o PT passou a responder pela administração de cidades queabrigam uma parte substancial da população do Brasil, como SãoPaulo, Porto Alegre, Vitória, Aracaju, Campinas e Santos. Soou ahora das cassandras, agora o PT tinha deixado de ser estilingue,passara a ser vidraça – proclamava a direita intolerante.

Esse quadro exigiu do PT a criação do modo petista de gover-nar, baseado na transparência e na participação popular,consubstanciado no orçamento participativo concebido em PortoAlegre e espalhado pelas prefeituras petistas de todo o Brasil. Oano exigia também uma resposta do PT à primeira eleição diretapara presidente da República desde o fim da ditadura.

A este desafio, o PT respondeu com a criação da Frente BrasilPopular, aliança entre o PT, o PSB e o PC do B, que apresentouLula como candidato a Presidente da República e José Paulo Bisol(PSB), como candidato a vice. Talvez por efeito de uma saudadepela disputa democrática pelo mais alto cargo da hierarquia re-publicana, a eleição de 1989 contou com 22 candidatos a Presi-dente da República.

Além de Luiz Inácio Lula da Silva, apresentado pelo FrenteBrasil Popular, participaram da disputa líderes importantes dosprincipais partidos. Entre eles, Leonel Brizola (PDT), Mário Covas(PSDB), Guilherme Afif Domingos (PL) e Paulo Maluf (PDS). O PMDBe o PFL, sócios majoritários do desgastado governo da Nova Re-pública, presidido por José Sarney, apresentaram os nomes deUlysses Guimarães, líder histórico da resistência democrática, eAureliano Chaves, último vice-presidente da ditadura. Apresenta-ram, mas não fizeram campanha. Cristianizaram seus candida-tos, como se diz no jargão político.

Fernando Collor, o jovem governador de Alagoas, oriundo daARENA, com passagem pelo PMDB, percebeu um vazio. Saiu doPMDB, criou um partido para seu próprio uso, PRN (Partido da Re-construção Nacional) elaborou um discurso moralista parademonizar José Sarney e contra os “marajás” do serviço público;cativou setores da grande imprensa com seu discurso populista dedireita. A rede Globo ainda vacilou, testou um discurso sobre cho-que de capitalismo na voz de Mário Covas, mas não se convenceude sua viabilidade. Concluiu que Fernando Collor era quem tinhamelhores condições para representar a direita no segundo turno

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contra o “demônio” Leonel Brizola. Nas pesquisas, com um discur-so liberal econômico radical, Guilherme Afif Domingos chegou aameaçar a liderança de Fernando Collor. Mas este reagiu mostran-do que, na constituinte, Afif votou sempre nas propostas mais reaci-onárias. A candidatura de Afif Domingos murchou.

Do lado direito do espectro político não houve surpresa.Fernando Collor chegou ao segundo turno com 28,52% dos vo-tos. A surpresa ocorreu do lado esquerdo do espectro. Luiz InácioLula da Silva superou Leonel Brizola por 400 mil sufrágios. Passouassim para o segundo turno com 16,08% dos votos. A disputapelo segundo turno opôs o Brasil organizado ao Brasil desorgani-zado. Curiosamente, Fernando Collor, o candidato das elites, con-seguiu conquistar o voto das camadas pobres e excluídas, en-quanto Luiz Inácio Lula da Silva reuniu o voto dos trabalhadoresformais ligados aos sindicatos, de classes médias urbanas, de se-tores que conservavam a memória da luta contra a ditadura e delíderes de partidos que se situavam no campo da democracia.

A rede Globo de televisão teve um papel importante no de-senlace do segundo turno. Fez uma edição tendenciosa do se-gundo debate promovido por ela entre Lula e Collor. Levou ao arrepetidas vezes uma “síntese” dos melhores momentos de FernandoCollor e dos piores momentos de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas ojogo baixo não ficou apenas por conta da rede Globo, inimigatradicional da democracia. Nas vésperas da eleição a polícia che-gou ao local onde o empresário Abílio Diniz era mantido em ca-tiveiro por sequestradores, um grupo de genealogia desconheci-da que incluía chilenos e canadenses. Com a ajuda de personali-dades como Dom Paulo Evaristo Arns e Eduardo Suplicy (PT-SP)estabeleceu-se o diálogo com os sequestradores. Abílio Diniz foilibertado e os sequestradores se entregaram sem disparar um tiro.Pouco depois, quando a polícia de São Paulo foi apresentar ospresos à imprensa, todos eles estavam vestidos com camisetas doPT, da campanha Lula Presidente. Era uma tentativa vil de associ-ar o PT ao terrorismo. Não foi a primeira, nem a última. Em Salva-dor, na Bahia, houve “lockout” nas linhas de ônibus que servemàs regiões mais afastadas da grande cidade. O objetivo era ób-vio: dificultar o deslocamento dos eleitores que moram nestes se-tores até os locais de votação. Neste quadro, no segundo turno,Fernando Collor obteve 49,94% dos votos. Luiz Inácio Lula daSilva ficou com 44.23% dos votos. Com este resultado, Luiz InácioLula da Silva, o PT e a Frente Brasil Popular demarcaram, na vari-ável geografia da política brasileira, um território que tem sido

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chamado de campo democrático e popular. Esta demarcação temse mostrado perdurável. Até hoje no Brasil, na derrota ou navitória, o PT tem se mostrado capaz de se reagrupar ou dereagrupar seus aliados para seguir em frente, sempre falando emnome de um setor tão expressivo como bem determinado da soci-edade.

Depois de digerir a derrota para Fernando Collor, o PT reali-zou seu 1º Congresso em São Bernardo do Campo, entre os dias27 de novembro e 1º de dezembro de 1990. O 1º Congresso doPT tratou de muitos assuntos. Destacam-se três: (I) Resolveu ado-tar políticas de alianças mais flexíveis; (II) Rejeitou a adoção ime-diata da palavra de ordem “Fora Collor”. Mas se comprometeu aacompanhar a evolução da conjuntura e até se engajar numaluta pelo impeachment de Fernando Collor, quando esta alterna-tiva se mostrasse viável. Foi o que aconteceu. (III) Decidiu que oPartido convocaria um plebiscito interno para se posicionar sobreo sistema de governo: presidencialismo ou parlamentarismo.

Fernando Collor assumiu o governo de forma assombrosa,sequestrando a poupança e mesmo o dinheiro da conta correntede toda a população. Esta era a única bala que ele dizia ter paramatar o dragão da inflação, logo ele, cuja campanha acusavaLula e o PT de terem a intenção de sequestrar a poupança.

Além desse começo assustador, Fernando Collor não tinhauma base parlamentar sólida, nem se empenhava em construí-lae, ainda por cima, foi criando indisposições com a imprensa quetinha feito sua campanha. Ora, este quadro, somado a denúnciasconstantes de corrupção contra um governo desastrado, era ocaldo de cultura ideal para gerar um clima pró-impeachment emtoda a sociedade. Fernando Collor ficou insustentável.

O PT esteve na vanguarda da CPI do PC Farias - tesoureiro dacampanha de Fernando Collor - que recomendou a cassação dopresidente e participou das articulações para ampliar a base domovimento pela cassação. Luiz Inácio Lula da Silva conversou atécom Roberto Marinho sobre o assunto. O PT fez também sua partenas mobilizações de rua pelo impeachment. No dia 29 de setem-bro de 1992 o plenário da Câmara aprovou o afastamento deFernando Collor da presidência da República. No dia 29 de de-zembro, quando o Senado se preparava para pronunciar oimpeachment, Fernando Collor renunciou ao cargo. Itamar Fran-co, vice de Fernando Collor, que já ocupava interinamente a presi-dência, foi então efetivado no cargo para completar o mandato.

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Em março de 1993, o PT realizou seu plebiscito interno sobresistema de governo. Mais de 70% dos filiados que compareceram àsurnas votaram pelo presidencialismo, contrariando assim a direçãonacional, que apoiava o parlamentarismo. Um mês depois, no ple-biscito nacional, realizado dia 21 de abril, aberto à participação detodos os eleitores brasileiros, o placar se repetiu, e mais uma vez opresidencialismo foi consagrado nas urnas. Neste ano de 1993, ocalendário previa também uma revisão da Constituição. Provavel-mente setores mais ambiciosos do neoliberalismo sonhassem comuma revisão abrangente da Carta, prevaleceu, no entanto, a posi-ção dos que preferiam uma revisão restrita. Apenas seis emendasforam aprovadas. Nenhuma de maior relevância. Uma delas insti-tuiu o FSE – Fundo Social de Emergência -; outra reduziu o mandatopresidencial de cinco para quatro anos; uma outra permitiu quebrasileiros tivessem dupla nacionalidade, etc...

Parecia que as coisas estavam dando certo para o PT e paraLuiz Inácio Lula da Silva. O partido apoiou o impeachment contraFernando Collor, mas negou seu apoio ao governo Itamar Fran-co, a vitória do presidencialismo veio com facilidade e o fracassoda revisão constitucional era previsto. O governo Itamar Francopatinava, o cargo estratégico de Ministro da Fazenda mudava demão com muita frequência. Luiz Inácio Lula da Silva estava en-trando em 1994 liderando as pesquisas de intenções de voto parapresidente. Só na metade de 1993, com a nomeação de FHCpara chefiar o setor econômico do governo, o ambiente ficou maisestável, o chefe tinha o aval unânime da elite brasileira e o apoiode Washington. Sua equipe era formada por técnicos que haviamatuado em todos os planos de estabilização pós-ditadura, tinhaexperiência e estava disposta a por em prática o consenso deWashington e suas políticas neoliberais. As primeiras medidas doPlano Real para combater a hiperinflação e estabilizar a econo-mia foram anunciadas em 27 de fevereiro de 1994. Lula continu-ava líder nas pesquisas. FHC afastou-se do governo, em março,para concorrer à presidência da República, apoiado por seu par-tido, o PSDB, em aliança com o PFL e o PTB e acreditando que aspolíticas recomendadas por Washington garantiriam sua eleição.

Deu certo, o alívio produzido pelo controle da inflação, garantiua eleição de FHC já no primeiro turno. Assim o projeto neoliberalchegou ao Brasil com a chancela de Washington e o apoio inte-gral da elite. Mas o PT não saiu da raia, manteve firme a demar-cação do campo democrático e popular e estava pronto paraoferecer uma oposição enérgica ao governo de FHC.

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1995 foi o ano da ofensiva neoliberal, quebra do monopólioda exploração do petróleo, das telecomunicações, do fornecimentodo gás canalizado, da navegação de cabotagem e da extinçãodo conceito de empresa nacional. Tudo isso passou pela Câma-ra, mas houve uma resistência tenaz, oferecida pelo PT e por seusaliados. Essas medidas passaram, mas o governo teve que pagarum alto preço.

A resistência não se deu apenas no Parlamento. O movimentosindical também se mobilizou, os petroleiros sustentaram uma grevede 32 dias. FHC chegou a mobilizar tropas do Exército para ocu-par refinarias de petróleo no Paraná, Mauá, (SP) e São José dosCampos. A CUT promoveu uma mobilização nacional de apoio àgreve. Na ocasião, os sindicatos tiveram suas contas bloqueadas,alguns praticamente passaram para a clandestinidade, 85 operá-rios foram demitidos. No governo Lula todos eles foram anistia-dos e reintegrados à Petrobras.

No campo da corrupção, o primeiro episódio foi o escânda-lo do SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia - contratoentre a empresa americana Raytheon e o Estado brasileiro paraa compra do material e a instalação do sistema destinado acontrolar nosso espaço aéreo. O deputado Arlindo Chinaglia(PT-SP) denunciou a empresa brasileira Esca, que havia sido con-tratada, sem licitação, para controlar a transferência detecnologia, havia fraudado a previdência e se credenciara comcertidões falsas de quitação de débitos previdenciários.

Em função desta denúncia a Esca foi excluída do projeto e oentão Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Mauro Gandra, renun-ciaria ao cargo. Mas este foi um caso raro. No governo FHC seuProcurador Geral da República, Geraldo Brindeiro, conhecidocomo engavetador geral, nunca investigava o Executivo, a PolíciaFederal raras vezes era acionada e a CGU era uma instituiçãopró-forma, praticamente não tinha quadro de pessoal e não fun-cionava.

Em 1996, FHC comemorou o maior feito social do Real, o povoestava comendo frango. Em 1997, enquanto a oposição começa-va a perceber que o câmbio administrado e sobrevalorizado estavacorroendo a precária estabilidade econômica, ou seja, que a ma-nutenção do controle de inflação através do populismo cambialnão era mais sustentável, os tucanos se dedicavam a comprar votospara garantir a aprovação de PEC da reeleição. A operação eracoordenada por Sérgio Mota, Ministro da Comunicação e homemforte de FHC, arquiteto do malogrado Reich de vinte anos dos tuca-

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nos. Os deputados Ronnie Von Santiago (PFL-AC) e João Maia (PFL-AC) venderam seus votos e confessaram. Os deputados Osmir Lima,Chicão Brígido e Zila Bezerra também foram citados mas não con-fessaram.

Mesmo assim a matéria seguiu tramitando como se isso fossenormal. Depois de aprovada na Câmara, a PEC da reeleição foienviada ao Senado, onde foi igualmente aprovada. Promulgadaem sessão solene das duas Casas, a reeleição para cargos doExecutivo passou a fazer parte do ordenamento jurídico brasileiropara servir aos interesses de FHC e de seu projeto neoliberal.Aqui, em nossa vizinhança da América do Sul, Carlos Menem, naArgentina, e Alberto Fujimori, no Peru, já haviam obtido o mesmo.Antes de seu colega brasileiro, ambos atropelaram as instituiçõesde seus países em nome de interesses pessoais e de uma espéciede messianismo neoliberal descabelado. Todos eles causaramdanos a seus países e conspiraram contra a democracia.

O modelo FHC de controle da inflação através da prática dopopulismo cambial (Real artificialmente valorizado) vinha fazendoágua, mas isso só ficou explícito depois das eleições. Com efeito,no dia 4 de outubro, FHC se reelegeu presidente da República noprimeiro turno. No dia 13 de novembro, pouco mais de um mêsdepois das eleições, foi anunciado um socorro financeiro ao Brasilde US$ 41,5 bilhões, fornecidos pelo FMI (Fundo Monetário Inter-nacional), BIRD (Banco Mundial), BID (Banco Internacional de De-senvolvimento) e BIS (Banco de Compensações Internacionais).

Estes empréstimos, concedidos por imposição direta de Bill Clinton,presidente dos Estados Unidos, visavam reeleger FHC e salvar o Real,depois de quatro anos de farra cambial e de privatizações selvagensdo patrimônio público. Só alcançou o primeiro objetivo, FHC realmen-te foi reeleito, mas o Real sofreu uma maxidesvalorização, impostapelo mercado, em meados de janeiro de 1999. Pedro Malan, Fazen-da, e Chico Lopes, Banco Central, ainda inventaram um artefato denome tucano e eficácia nula, banda diagonal endógena de variaçãocambial. O mercado não deu bola para esta retórica dos desespe-rados. Em poucas horas o Real estava flutuando e substancialmen-te desvalorizado. Isso para empresas endividadas em dólar era umapéssima notícia e para um governo que colocava títulos no merca-do também indexados em dólar era o anúncio do declínio. Logo opovo perceberia que tinha sofrido um estelionato eleitoral.

O segundo mandato de FHC decorreu sempre em um planoinclinado. Ele começou com o desastre da maxidesvalorização doReal, imposta pelo mercado em 1999; prosseguiu em 2000 com

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a festa da comemoração dos 500 anos da chegada dos portu-gueses ao território que hoje é o Brasil. Aquilo que era para seruma festa transformou-se num espetáculo grotesco de repressãoaos índios e aos sem terra, culminando com o ridículo da réplicada nau capitânia que ameaçava afundar a cada momento e queteve um desempenho bem pior que o da nave original pilotadapor Pedro Álvares Cabral.

Em 2001, o Brasil foi brindado por um apagão elétrico que du-rou 15 meses, afetou quase toda a população, causou um prejuízode R$ 40 bilhões, contribuiu para a redução do PIB e para a ampli-ação do desemprego. Hoje a imprensa golpista chama de apagãoqualquer interrupção do fornecimento de energia por mais breve queele seja. Trata-se de uma tentativa de borrar a memória de um episó-dio grave, que testemunha contra um modelo irresponsável deprivatização do setor elétrico, levado a cabo pelo governo de FHC.

2002 foi o último ano do governo FHC, quis a história que, nesteano, FHC recorresse ao FMI pela terceira vez para obter um emprés-timo. O FMI aceitou fazer o empréstimo, mas impôs uma condição,queria que ele fosse avalizado pelos três principais candidatos a Pre-sidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, Anthony Garotinho eJosé Serra. Os três foram chamados ao Palácio do Planalto e aceita-ram avalizar o empréstimo pedido por FHC, sem dúvida pensandoem evitar que o país quebrasse antes das eleições.

Foi neste ambiente que se realizaram as eleições de 2002. OPT entrou na disputa dentro de uma aliança mais ampla que astradicionais. Desta vez Luiz Inácio Lula da Silva tinha como candi-dato a vice o empresário José Alencar, indicado pelo PL, partidode centro-direita. Nem por isso a disputa foi isenta de golpes bai-xos. Foram para o segundo turno Luiz Inácio Lula da Silva e JoséSerra. O programa de televisão de José Serra colocou no ar umaatriz famosa anunciando que “tinha medo”. Era um medo assimmeio genérico, talvez do comunismo, talvez da cara do Lula ou decoisa ainda pior. George Soros, ex-patrão do então Presidente doBanco Central, Armínio Fraga, foi mais preciso e deu a manchetede todos os jornais da imprensa golpista: “É Serra ou o caos”. Nahora do voto, o povo brasileiro deve ter concluído que o caos erao governo FHC, ou que “pior que está não pode ficar” e votou emLula para presidente. Luiz Inácio Lula da Silva venceu com umavantagem de mais de 20 milhões de votos.

Ele tomou posse em apoteose, com milhares e milhares depessoas de todos os quadrantes do Brasil ocupando a Esplanadados Ministérios e a Praça dos Três Poderes. Tinha diante si uma

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tarefa gigantesca: pelo menos evitar que a economia brasileiraentrasse em colapso. O quadro era sombrio: o risco país era de2.400 pontos, a inflação de 2002 tinha sido de 12,5%, a proje-ção da inflação anualizada passava de 20%, a taxa Selic de jurosbásicos era de 25%, o dólar era cotado praticamente a R$ 4, asreservas cambiais eram praticamente nulas, a taxa de desempre-go era de 12,6%, o salário mínimo equivalia a US$ 70. E o paísacabava de assinar um acordo com o FMI comprometendo-secom medidas restritivas recomendadas pelo Fundo.

O espaço de manobra era pequeno. No começo do governodo Presidente Lula, o COPOM chegou a aumentar a taxa Selic dejuros para combater uma inflação que ameaçava sair do contro-le. O Ministério da Fazenda aumentou também a meta do supe-rávit primário, além das metas requeridas pelo FMI, e o governofoi extremamente parcimonioso no aumento do salário mínimono primeiro ano do mandato. Eram medidas de quem aindaestava se familiarizando com uma máquina que, nos últimos qui-nhentos anos, estivera em outras mãos. Além disso, o governoachava que precisava ganhar a confiança do mercado. E ga-nhou. Curiosamente, o único setor da economia que evitou dialo-gar com o governo moderado de Lula foi a imprensa golpistaque, quase sempre, aposta na desestabilização.

Quando o Presidente Lula assumiu o governo, os Estados Uni-dos estavam atingindo o ápice de seu unilateralismo em matéria depolítica internacional de única superpotência e Bush Jr. estava dan-do os retoques finais em seu plano de desencadear a segunda guerrado Iraque, contra o ex-aliado Sadan Hussein. O Itamaraty conde-nou de forma inequívoca a agressão. Mas o governo brasileiro evi-tou a retórica primitiva anti-americana tradicional. Talvez isto tenhapermitido o surgimento de uma relação direta entre o PresidenteLula e o Presidente Bush Jr. muito proveitosa para os dois países.

O Presidente Lula, desde o primeiro momento, partiu para con-quistar novos mercados para os produtos brasileiros. Sua primeiraviagem internacional, ainda como presidente eleito, foi à Argentinaa bordo de um jatinho fabricado pela Embraer. Desde então, semdescanso, procurou abrir novos mercados para produtos brasilei-ros, sem nenhum tipo de restrição a parceiros tradicionais, comoEstados Unidos, Europa e Japão, o Presidente Lula procurou estrei-tar laços comerciais com a China, com a Índia e com os demaispaíses da Ásia, com a Rússia e com as ex-repúblicas soviéticas, como mundo árabe e com África negra, com os países vizinhos daAmérica Latina, com a Austrália e com a Nova Zelândia.

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Ao executar esta política, o Presidente Lula não se importavaem se apresentar como caixeiro viajante dos produtos brasileiros.É possível que algum diplomata tucano tenha soltado algum mu-xoxo. Mas foi esta política que fez com que o Brasil voltasse a tergrandes superávits comerciais. Isto, combinado com uma novavalorização do papel do Estado como indutor da economia, per-mitiu que a economia saísse do marasmo e começasse a dar si-nais de recuperação. Isso começou a ficar visível já em 2004.

A retomada do crescimento começou a se verificar, o mi-nistro Antonio Palocci vinha conduzindo uma sábia política dedesdolarização das dívidas, uma inacreditável herança maldi-ta deixada por FHC. A política de busca de novos mercadoscomeçava a dar resultados. Com um superávit comercial cadavez maior, o Brasil partiu para construir uma reserva cambialcompatível com suas dimensões. No fim do governo do Presi-dente Lula estas reservas chegaram a US$ 300 bilhões. Emdezembro de 2005, em cadeia nacional de rádio e televisão, oministro Antonio Palocci anunciou que o Brasil havia quitadoantecipadamente todas as suas dívidas com o FMI e que nãomais renovaria acordos sobre a condução da política econô-mica com aquela instituição multilateral. Foi neste mesmo anoque começou a furiosa ofensiva, que prossegue até hoje, nosentido de desestabilizar o governo do Presidente Lula e suamemória. Essa ofensiva se baseou numa denúncia do entãodeputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) que, baseado num fatoreal de caixa 2 de campanha eleitoral, criou a tese de que o PTcomprava votos na Câmara para aprovar matérias do interes-se do governo. Esta tese é tão fantasiosa que o próprio RobertoJefferson não a sustentou nos autos do processo que tratou daquestão no STF.

A partir de então, a imprensa golpista desencadeou uma ofensi-va total para desestabilizar o governo. Só uma pessoa com a enver-gadura do Presidente, contando com as bases de apoio com que elecontava, podia suportar o que ele e seu governo suportaram emmatéria de calúnia, infâmia e difamação. A certa altura, talvez por-que tenha percebido que não dispunha de força suficiente para der-rubar o Presidente Lula, a imprensa golpista e sua oposição cativaadotou a tática de ir para as eleições de 2006 sem dispensar osataques sórdidos até o último dia de campanha, certa de que, com oPresidente “sangrando” todos os dias, a eleição seria um passeio.

A eleição não foi um passeio para a direita. O Presidente Lulavenceu-a, derrotando Geraldo Alkmin, no segundo turno, repe-

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tindo o placar de 20 milhões de votos de frente com que derrota-ra José Serra em 2002. O PT obteve a maior votação para depu-tado federal. Com semelhante diferença nem a direita brasileiramais alucinada ousou por em dúvida esta vitória límpida.

O Presidente Lula assumiu seu segundo mandato em 1º dejaneiro de 2007, novamente em apoteose popular, ao lado deum povo que havia reconquistado a esperança e que confiava emseu líder. No dia 8 de março de 2007, o Presidente Lula recebeuo Presidente Bush. Trataram, sobretudo, de questões relacionadascom a produção e a comercialização do etanol. Muitos acordosde cooperação foram assinados nesta área. Mas o aspecto maisimportante foi a demonstração de que Brasil e Estados Unidosmantinham boas relações, independentemente de eventuais di-vergências. Isso é tanto mais importante quando se considera quea oposição e a imprensa golpista procuram demonizar edesqualificar o Presidente Lula, considerando-o incapaz de bemrepresentar o Brasil. Ainda em 2007, o PNUD (Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento) passou a colocar o Bra-sil na lista das nações com alto índice de desenvolvimento huma-no.

Em 30 de abril de 2008, a agência de risco Standar&Poor’sconcedeu à economia brasileira o chamado grau de investimento,seguiram-na na concessão desta nota à economia brasileira, aagência Fitch e a agência Moody’s. O Presidente Lula sempre foicético com relação a estas agências. Costuma dizer que era preci-so criar agências para medir o risco destas agências. Mas o graude investimentos não deixa de ser um cartão de visitas. Ainda em2008 a Petrobras extraiu, em quantidades reduzidas, petróleo dachamada camada do pré-sal. A exploração desta riqueza tem po-tencial para ampliar substancialmente a economia do Brasil. Talvezseja nosso passaporte para o futuro, como disse a Presidenta DilmaRousseff.

Mas 2008 ficou marcado como o ano da tormentadesencadeada pelo pedido de concordata do Banco LehmanBrother’s de investimentos, no dia 15 de setembro. Este episódioampliou as dimensões de uma crise financeira que já existia. Comele, a ideia do deus mercado entrou em declínio. Produziu-se algocomo a queda do muro de Berlin do neoliberalismo em Wall Street.Era preciso chamar o Estado de volta.

Foi o que aconteceu, antes mesmo da eleição de seu sucessor,o Presidente Bush já utilizava recursos públicos para salvar grandescorporações privadas. Aqui no Brasil o Presidente Lula proclamou

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que a tsunami ia se transformar em marolinha e começou a agir,sempre tomando medidas diametralmente opostas às medidas queFHC adotava em situações parecidas. Nas crises, as medidas deFHC eram: aumento dos juros, aumento dos impostos, arrochosalarial e cortes no orçamento. O Presidente Lula fez o contrário:redução dos juros, redução de impostos, política de recuperaçãodo salário mínimo e mais investimentos em programas sociais e eminfraestrutura. Foi com esta receita que a tsunami virou marolinha eo Brasil saiu mais forte do primeiro round da grande crise, com ospoucos Bancos estatais que sobreviveram à fúria privatista tucana,atuando firmemente, na luta para irrigar com crédito uma econo-mia que de repente se via à míngua deste insumo básico.

Em novembro de 2008, o povo americano elegeu BarackObama presidente dos Estados Unidos. Depois do susto de setem-bro veio a esperança de novembro. O Presidente Lula manifestousua grande alegria pela vitória de Barack Obama. No primeiroencontro que manteve com o Presidente Obama em Washington, oPresidente Lula disse a ele: Rezo mais por você do que por mim,porque sei que os pepinos que você está enfrentando são maiores.

Em 3 de abril de 2009, na cúpula do G20, em Londres, a BBCvaza comentário do Presidente Obama cumprimentando o Presi-dente Lula e dirigindo-se ao primeiro-ministro da Austrália. “Esse éo cara. Eu adoro este cara. O político mais popular do mundo”. Adireita brasileira, sempre muito subserviente aos Estados Unidos,sofreu ataques de apoplexia galopante. Mas a vida continua e nemsempre as visões e opiniões entre duas nações soberanas são coin-cidentes. Embora também tenham percebido o golpe de estado emHonduras, com a destituição de Manuel Zelaya, em 29 de junho de2009, os Estados Unidos não tardaram em encontrar um “modusvivendi” com a ditadura de Roberto Micheletti. O Brasil, acompa-nhado de outros países sul-americanos agiu de forma diversa. Nuncareconheceu o governo do ditador Roberto Micheletti e levou umtempo para reconhecer o governo supostamente eleito de PorfírioLobo, colocando como condição a volta de Manuel Zelaya aHonduras, no gozo pleno de seus direitos políticos.

Ainda em 2009, no dia 2 de outubro, em Copenhague, oPresidente Lula teve um encontro esportivo com o Presidente BarackObama. O cenário era a conferência do COI (Comitê OlímpicoInternacional) que ia decidir qual cidade sediaria os Jogos Olím-picos de 2016. Estavam na disputa o Rio Janeiro, Tokio, Chicagoe Madri. O Presidente Lula e a diplomacia brasileira estavam emcampo para defender o nome do Rio. O Presidente Barack Obama

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e a diplomacia americana estavam lá para defender Chicago,domicílio eleitoral do Presidente Obama. O Rio de Janeiro foiescolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 no voto, dian-te de milhões de telespectadores.

Em 17 maio, de 2010, pintou outra bola dividida entre o Bra-sil e os Estados Unidos. As diplomacias do Brasil e da Turquiaconstruíram uma proposta para superar o impasse entre o oci-dente e o Irã sobre o programa nuclear iraniano. Para provar aomundo que não pretende construir a bomba atômica, o Irã acei-tou assinar um acordo com Brasil e Turquia através do qual eleaceitava entregar urânio baixamente enriquecido em território turcoe receber urânio enriquecido a 20%, um ano depois, no mesmolocal. Aceitando esta proposta, o Irã estava mostrando que o pro-jeto era pacífico, visava somente produzir energia elétrica.

O Brasil, a Turquia e o Irã assinaram um acordo nestes termos,no dia 17 de maio de 2010. A reação do Departamento de Estadofoi tão veloz quanto furiosa. Recusou qualquer possibilidade de di-álogo e começou a articular mais uma rodada de sanções econô-micas contra o Irã. Na verdade o Departamento de Estado nãoquer negociação com o Irã. Os termos obtidos pela diplomaciabrasileira junto ao Irã eram os termos sugeridos por Barak Obamaem carta ao Presidente Lula. A única surpresa aí é que os america-nos não acreditavam na capacidade brasileira de obter aquelaconcessão. Como a crise na região prossegue, de vez em quandoalguém se lembra de voltar à proposta feita pelo Brasil e pela Tur-quia.

O Brasil entrou em 2010 com a economia em crescimento, comreservas cambiais de US$ 300 bilhões, com inflação sob controle,com recordes em empregos, com aumento real do salário mínimode 53,5%, com 40 milhões de brasileiros integrados à classe média,com o país desfrutando das amplas perspectivas abertas por doisgrandes eventos esportivos programados para o Brasil: a Copa doMundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 ecom o marco legal da exploração de petróleo aprovado, com exce-ção da lei que tratará da distribuição dos royalties, cuja tramitaçãoestá adiantada e pode ser concluída ainda em 2012.

Com estas credenciais, o Presidente Lula, o PT e seus aliados,apresentaram o nome de Dilma Rousseff, ex-ministra das Minas eEnergia e da Casa Civil, militante destacada da luta contra a dita-dura, como candidata a Presidenta da República. A campanha,como sempre, foi pontuada por baixarias que infestam o universoda Internet e por ataques sórdidos à candidata e ao PT pela revista

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Veja que se alimentava dos esquemas montados pelo chefe do cri-me organizado em Goiás, Carlos Cachoeira, que se utilizava deantigos arapongas da ditadura para espionar e chantagear, e que,só há pouco, foram apanhados pela Polícia Federal. A matériapublicada na Veja, nas vésperas do primeiro turno, contra EreniceGuerra, substituta de Dilma Rousseff na Casa Civil, foi feita combase em material forjado por este esquema criminoso. Talvez a re-percussão deste tipo de matéria nos outros órgãos da imprensagolpista tenha provocado o segundo turno. Na época, EreniceGuerra pediu demissão. Mais tarde ela foi declarada inocente pelaJustiça, mas isso na imprensa só saiu em nota de pé de página,contrastando com as manchetes que procuravam incriminar EreniceGuerra.

Apesar de tudo, Dilma Rousseff foi eleita no segundo turno com11 milhões de votos de frente contra o tenebroso José Serra. No dia1º de janeiro de 2011, o Presidente Lula transmitiu o cargo à PresidentaDilma Rousseff diante de uma multidão de brasileiros originários dasmais diferentes latitudes. O Presidente Lula deixou o Palácio do Pla-nalto sob o aplauso de 87% dos brasileiros e a admiração do mun-do.

Em 2011, o ex-Presidente Lula dedicou-se à organização doInstituto Lula, entidade que se dedicará à preservação da memó-ria das lutas sociais. Ele dedicou-se também a fazer conferênciassobre suas experiências como Presidente do Brasil e a sua militânciapetista. Mas o ex-presidente Lula foi diagnosticado com um cân-cer na laringe em 29 de outubro de 2011. Submeteu-se a umtratamento rigoroso no hospital Sírio-libanês, em São Paulo. Nodia 7 de fevereiro de 2012, seus médicos informaram que o tu-mor maligno, que estava alojado na laringe do ex-presidente, ti-nha sido eliminado.

Desde que se liberou das fases mais intensas do tratamento,o Presidente Lula participou ativamente das campanhas do PT ede aliados em todo o Brasil para as eleições municipais de 2012.O resultado foi esplêndido, sobretudo quando se considera queo STF se prestou ao papel de montar um julgamento/espetáculopara funcionar como cabo eleitoral de uma oposição indigentede ideias, guiada por uma mídia furiosamente golpista. Desta-que especial coube ao resultado da cidade de São Paulo, ondeinsuspeitos institutos de pesquisas nunca admitiram que o candi-dato Fernando Haddad (PT) estaria no segundo turno. Mas elechegou lá e venceu a eleição. O ex-Presidente Lula tem razõespara se sentir feliz.

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Um pensador cristão

a serviço do progresso social

Líder do PT de 14 de dezembro de 1988 a 7 de março de 1990

VI

Plínio Arruda Sampaio

asceu em São Paulo em 26 de julho de 1930. Filho de João Batis-ta de Arruda Sampaio e Maria Aparecida Soares de ArrudaSampaio. Formou-se em Direito pela Universidade de São Pauloem 1954. Neste mesmo ano ingressou no Ministério Público eserviu em algumas comarcas do interior do Estado. Foi presidenteda JUC (Juventude Universitária Católica), entidade da Ação Ca-tólica, vinculada ao episcopado brasileiro. Militou no PDC (Parti-

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do Democrático Cristão) e nesta condição assessorou CarvalhoPinto, governador de São Paulo e Prestes Maia, prefeito da capi-tal. Em 1962 se elegeu deputado federal, pela legenda do PDC,atuou na Comissão que discutia a Reforma Agrária e participouda Frente Parlamentar Nacionalista.

Com o golpe de 1964, Plínio Arruda Sampaio teve seu man-dato cassado e seguiu para o exílio no Chile. Lá, sob o governode Eduardo Frei, eleito pela Democracia Cristã, Plínio trabalhouno ICIRA, órgão encarregado de colocar em prática a reformaagrária. Trabalhou também com a FAO, órgão da ONU para ocombate à fome. Em 1970 transferiu-se para os Estados Unidos econtinuou trabalhando para a FAO. Em 1975, concluiu um cursosobre desenvolvimento econômico pela Universidade de Cornelle retornou ao Brasil que já começava a viver os efeitos da abertu-ra em ziguezague, patrocinada por Geisel e Golbery.

No processo da quebra do bipartidarismo imposto pela dita-dura, que deu lugar ao pluripartidarismo, Plínio Arruda filiou-seao PT, em 1981. Candidatou-se a deputado federal em 1982sem sucesso. Em 1986 elegeu-se deputado constituinte.

Em 1988, Plínio Arruda Sampaio, com o apoio de Lula, dispu-tou a prévia interna do PT para a indicação do candidato do par-tido à prefeitura de São Paulo. Foi derrotado por Luiza Erundina,que ganhou a prévia e também a eleição, derrotando Paulo Maluf.

Coube a Plínio Arruda liderar a Bancada do PT no ano crucialde 1989, em que se realizaria a primeira eleição direta para presi-dente da República depois da ditadura. Plínio atuou na coordena-ção, articulação e na mobilização de uma das campanhas presi-denciais mais empolgantes de todos os tempos, da qual Lula sairiaderrotado no segundo turno, mas deixando demarcado na consci-ência do povo brasileiro a noção da existência de um campo de-mocrático e popular. Três décadas depois, apesar do esforço cotidi-ano do PIG, o Partido da Imprensa Golpista, esta consciência nãofoi eliminada, pelo contrário, está cada vez mais viva.

Nas eleições de 1990, Plínio foi o candidato do PT a governa-dor de São Paulo, sem sucesso. Prosseguiu militando no Partido enos movimentos pela reforma agrária até 2005. Nesse ano Plíniodiscordou do trato dado pela direção do PT ao episódio chama-do de mensalão e se desligou do Partido.

Filiou-se então ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade).Em 2010, aos oitenta anos, foi candidato a presidente da Repú-blica por aquele partido. Contribuiu para animar e oxigenar umacampanha tensa e marcada por ataques selvagens ao PT e à

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então candidata Dilma Rousseff, inspirados pela campanha debaixaria de José Serra. No segundo turno da disputa, Plínio teriadeclarado: “Dilma não é a candidata dos meus sonhos, masSerra é o candidato dos meus piores pesadelos”.

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Dirigente do movimento sindical

dos professores e Líder do PT

VII

Gumercindo Milhomem

asceu em Imperatriz, Maranhão, no dia 27 de novembro de 1949.Formado em Geografia pela USP, foi professor da rede pública deensino e militante do movimento sindical, participando ativamentedas articulações e mobilizações que deram origem ao PT e à CUT.

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Líder do PT de 7 de março de 1990 a 1º de fevereiro do 1991

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Presidiu a APEOESP (Associação dos Professores do Ensino PúblicoOficial do Estado de São Paulo), de 1981 a 1987.

Em 1986, Gumercindo Milhomem elegeu-se deputadoconstituinte por São Paulo. Durante os trabalhos constituintesrepresentou a Bancada do PT na comissão que tratou da or-ganização dos poderes e do sistema de governo. Atuou tam-bém, como suplente, na comissão que discutiu Educação,Cultura e Esporte. O DIAP (Departamento Intersindical deApoio Parlamentar) registra que ele deu seu voto favorável àspropostas e iniciativas apoiadas pelo PT e pelo campo pro-gressista, por isso atribuiu a seu desempenho a nota 10.

Em 1989, Gumercindo Milhomem apresentou à Câmarados Deputados um Projeto de Lei criando um piso salarialnacional para os professores. Esta ideia foi retomada maistarde pelo senador Cristóvão Buarque, aprovada pelo parla-mento e sancionada pelo Presidente Lula. Vários governado-res de Estados recorreram ao Supremo Tribunal Federal ques-tionando a constitucionalidade da Lei, obtiveram uma liminaraceitando parcialmente seus argumentos. Mas a luta dos pro-fessores prossegue pela consolidação do piso salarial da ca-tegoria.

No fim de ano de 2011, a CNTE (Confederação Nacionaldos Trabalhadores em Educação) obteve do Ministro FernandoHaddad, da Educação, o compromisso de que a correção dopiso salarial nacional do magistério seguirá a lógica da Lei11.738, que rege esta questão. A correção prevista é de22,22%.

Mas as pressões de governadores prosseguem. No encer-ramento dos trabalhos legislativos de 2011, a deputada Fáti-ma Bezerra (PT-RN), Presidente da Comissão de Educação,percebeu uma manobra, através de Projeto de Lei discreta-mente aprovado numa comissão, com poderes terminativos,que visava reduzir o percentual da correção para apenas 5%.Ela conseguiu esvaziar esta tentativa.

No ano de 1990 coube a Gumercindo Milhomem exercera liderança da bancada do PT. Era o primeiro ano doneoliberalismo alucinado de Fernando Collor, que começoucom o confisco da poupança e da própria conta bancáriados brasileiros. Significativamente, Fernando Collor fez aqui-lo que sua campanha terrorista dizia que Lula iria fazer.

No ano de 1992, Gumercindo Milhomem foi o vice nachapa de Eduardo Suplicy, candidato a prefeito de São Pau-

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lo. Não lograram êxi to, f icaram em segundo lugar.Gumercindo continuou apoiando os movimentos sindicais econtribuindo com a luta do PT.

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VIII

José Genoino

Da guerrilha do Araguaia

ao Parlamento

asceu no dia 3 de maio de 1946 em Quixeramobim, no sertão doCeará. Começou seus estudos na cidade de Senador Pompeu.Transferiu-se para Fortaleza para fazer segundo grau. Concluídoo segundo grau, Genoino ingressou na Universidade Estadual doCeará (UEC) no curso de Direito. Matriculou-se também na Uni-versidade Federal do Ceará (UFC), no curso de Filosofia e aindaconseguiu um emprego na IBM.

Líder do PT em duas ocasiões, de 1º de fevereiro de 1991 a 17 de fevereiro de 1992 e

de 24 de fevereiro de 1999 a 1º de fevereiro de 2000

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Em 1967 ingressou no clandestino PCdoB e atuou no efer-vescente movimento estudantil de então. No fim de 1968, na con-dição de presidente do DCE da UFC, compareceu ao 30º Con-gresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo. Ali, como todos os demaisparticipantes do Congresso, foi feito prisioneiro pela repressão daditadura. Posteriormente, enquadrado no Decreto nº 477, instru-mento criado pela ditadura para desarticular o movimento estu-dantil, José Genoino é expulso das faculdades onde estava ma-triculado e é proibido de se matricular em qualquer outra faculda-de nos três anos seguintes.

Posto em liberdade, José Genoino retomou o contato com oPCdoB, que o deslocou, em 1970, para as margens do rioAraguaia, no Sul do Pará, onde aquele partido estava criando umembrião de guerrilha, de inspiração maoísta, contra a ditadura.O foco concebido pelo PCdoB foi precocemente descoberto pelarepressão e passou quase toda sua existência sob o cerco totaldas Forças Armadas, de sorte que ele ficou constantemente nadefensiva. Teve poucas chances de se entrelaçar com os campo-neses.

José Genoino, um dos poucos sobreviventes da Guerrilha doAraguaia, foi feito prisioneiro pelo Exército, em abril de 1972. Foitorturado e condenado a cinco anos de prisão. Terminou de cum-prir a sentença em 1977. Em liberdade, deparou-se com umambiente político marcado pela abertura em ziguezague de Geisele Golbery. Ingressou no nascente movimento pela anistia e, em1981, filiou-se ao PT, junto com outros dissidentes do PCdoB.

José Genoino foi o deputado do PT que mais conquistou man-datos, desde as eleições de 1982, até as eleições de 1998. Em2002 foi candidato derrotado na campanha para governador deSão Paulo. Em 2006 voltou à Câmara do Deputados. Assim, elecumpriu seis mandatos. Na condição de deputado federal parti-cipou dos principais episódios da vida política do país e do PT,nestes 32 anos de vida do Partido.

Quando o PT abriu a campanha das Diretas Já, em 27 de novem-bro de 1983, em memorável comício na Praça Charles Miller, emfrente ao Pacaembu, Genoino estava lá. Desde então ele frequentou apauta dos grandes acontecimentos nacionais em nome do PT.

Quando a emenda Dante de Oliveira foi derrotada, em 1984,acompanhou o Partido no boicote ao Colégio Eleitoral, que tinhasido denunciado por todos como espúrio e ilegítimo.

José Genoino desempenhou papel destacado em momentosdecisivos da vida do Parlamento nacional, tanto como combativo

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representante do PT no processo constituinte, como em outrosepisódios marcantes do Parlamento, tipo a CPI do PC Farias, queculminaria com o impeachment de Fernando Collor, em 1992, ouna CPI dos Anões do Orçamento, que desbaratou uma quadrilhaque fraudava o Orçamento da União, cassou seis deputados eentregou à Justiça José Carlos Alves dos Santos, assessor técnicodo Senado, acusado pelo assassinato de sua própria esposa, AnaElizabeth Lofrano. Submetido a júri popular, José Carlos Alves foicondenado a 20 anos de prisão.

Desde 1990 verificou-se um movimento de moderação nas posi-ções adotadas tradicionalmente por Genoino. Isto foi percebido noabandono de conceitos ortodoxos, como a ditadura do proletariado,e na revisão de posturas táticas consideradas sectárias. Ou seja, eleadotou a democracia como valor universal. Da mesma maneira, foise afastando do estatismo rígido do stalinismo e moderando a retóri-ca nacionalista, típica de nosso desenvolvimentismo. Mas nada dissoimpediu que ele continuasse acatando as decisões partidárias, inclu-sive aquela que consagrou o presidencialismo, derrotando em ple-biscito a proposta de parlamentarismo, preferida por quase toda adireção nacional do PT.

José Genoino, junto com outros líderes, participou da articu-lação do movimento suprapartidário Reage Câmara que propôsuma Agenda Brasil. Esta iniciativa logrou importantes resultados,com destaque para a aprovação da Emenda Constitucional nº32/2001, promulgada no dia 11 de setembro de 2001. Estaemenda colocou ordem na prerrogativa presidencial de emitirMedidas Provisórias. Na prática ela reintroduziu o CongressoNacional no processo legislativo, quando acabou com a possibi-lidade de reedições ilimitadas de Medidas Provisórias.

Antes da Emenda Constitucional nº 32 era um descalabro, asMPs eram reeditadas indefinidamente, sempre com algum acrés-cimo ou alteração, a cada trinta dias e quase nunca eram votadaspelo Congresso Nacional. Pode-se citar o exemplo de uma dasMPs sobre medidas complementares do Plano Real, que na edi-ção original recebeu o número MP 1053. Ela foi reeditada 73vezes e só foi votada, de forma simbólica, em 16 de fevereiro de2001, cinco anos depois de editada. O atual rito de tramitaçãodas MPs assegura uma participação efetiva do Congresso Nacio-nal no processo, desde então as MPs são realmente discutidas.Esgotado o prazo de sua vigência, elas são consideradas caducasquando não foram votadas. As MPs têm sido aprovadas ou rejei-tadas pelo Congresso. Quase sempre, quando aprovadas, elas o

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são com alterações. Ou seja, o Congresso Nacional tem partici-pado efetivamente do processo legislativo.

É por isso que ao longo de seus dois mandatos, FHC editou5400 MPs, enquanto o Presidente Lula, em seus dois mandatos,editou apenas 419 MPs. Apesar destes números oficiais do CEDI(Centro de Documentação e Informação) da Câmara dos Depu-tados, a imprensa golpista insiste em denunciar os “abusos” deedições de MPs, no governo Lula. A aprovação da Emenda Cons-titucional foi, portanto, uma grande contribuição de José Genoinoe de outros parlamentares ao aperfeiçoamento do processolegislativo.

Em janeiro de 2003 José Dirceu foi nomeado Chefe da CasaCivil da presidência da República. Teve que então se afastar doposto de Presidente do PT, sendo substituído pelo 1º Vice-Presi-dente do Partido, José Genoino. Em 2005 a revista Veja, a partirde gravações clandestinas, produzidas pelo esquema de espio-nagem de Carlos Cachoeira, conseguiu produzir uma reporta-gem documentando um caso de suborno de Mauricio Marinho,Diretor do Departamento de Contratação, Administração eMaterial dos Correios, ligado ao deputado Roberto Jefferson,presidente do PTB.

Este episódio desencadeou uma ofensiva contra o PT que le-vou à constituição da CPMI dos Correios. Um dos desdobramen-tos desta crise foi a renúncia de Genoino do cargo de Presidentedo PT. Desde então ele vem sendo achincalhado, humilhado eofendido pela imprensa golpista. A partir de agosto de 2012 oSupremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento dos chama-dos réus do mensalão, Genoino é um deles.

A maioria do STF, fazendo um julgamento espetáculo rigoro-samente cronometrado com o período eleitoral e distribuindo con-denações sem provas, resolveu condenar também Genoino.

Dia 15 de novembro de 2013 José Genoino foi preso arbitra-riamente por ordem de Joaquim Barbosa, presidente do STF. Estegesto espetaculoso e ilegal confirma mais uma vez a naturezapolítica da condenação de Genoino e diz muito sobre a utilizaçãoeleitoreira do STF para servir a interesses subalternos.

O STF tripudiou sobre um homem íntegro, mas a história oabsolverá.

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Líderes do PT na Câmara: TRAJETÓRIAS E LUTAS

Governo Fernando Henrique Cardoso

é recordista em edição de Medidas

Provisórias (MPs)

MEDIDAS PROVISÓRIAS EDITADAS NOSGOVERNOS FERNANDO HENRIQUE E LULA

GOGOGOGOGOVERNOSVERNOSVERNOSVERNOSVERNOS MPsMPsMPsMPsMPs

FHC (1995-1998) 2609

FHC (1999-2002) 2791

FHC (1995-2002) – total 5400

LULA (2003-2006) 240

LULA (2007-2010) 179

LULA (2003-2010) - total 419

Ao contrário do que a imprensa golpista sempre publicou, FHC editou um número

muito mais elevado de Medidas Provisórias ao longo de seus dois governos

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63IX

Do movimento estudantil

à fundação do PT

Eduardo Jorge

asceu em Salvador, Bahia, no dia 26 de outubro de 1949, filho deGuilardo Martins Alves, oficial-médico do Exército, que chegou areitor da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e Maria da PenhaGomes Martins. Iniciou sua militância em João Pessoa, onde con-cluiu o segundo grau e ingressou na Faculdade de Medicina da UFPBem 1968. Ligado ao PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucio-nário), uma das dissidências do antigo PCB, Eduardo Jorge teve par-ticipação destacada no movimento estudantil que, naquele ano, agi-tou muitos países, inclusive o Brasil. Em 1969, foi preso, enquadrado

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Líder do PT de 17 de fevereiro de 1992 a 30 de dezembro de 1992

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na Lei de Segurança Nacional e cumpriu pena de cinco meses. Con-seguiu concluir o curso de Medicina em 1973.

Mudou-se para São Paulo onde voltou a ser objeto de perse-guição política. Esteve preso, por 10 dias, na temível OBAN (Ope-ração Bandeirantes) em outubro de 1974. Fez sua residência médi-ca na USP (Universidade de São Paulo), de 1974 a 1975. Em 1976foi aprovado em concurso de Medicina Preventiva e Saúde Públicada Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Tornou-se diretordo Centro de Saúde de Itaquera, bairro da Capital. Engajou-setotalmente nos movimentos populares de saúde e participou daluta pela fundação do PT. Foi o primeiro presidente do Diretóriozonal do PT de Itaquera e se elegeu deputado estadual em 1982.Seu mandato foi dedicado, sobretudo, a fortalecer e ampliar osmovimentos sociais, particularmente aqueles relacionados com asaúde da população.

Em 1986, Eduardo Jorge se elegeu deputado constituinte peloPT. Seus votos, na constituinte, seguiram o padrão adotado pelopartido. Assim, ele votou contra a introdução da pena de morteem nosso sistema penal, contra o mandato de cinco anos paraJosé Sarney, a favor do rompimento diplomático com países cujosordenamentos legais consagravam o racismo, entre outros itens.De primeiro de janeiro de 1989 a 2 de abril de 1990 esteve licen-ciado da Câmara dos Deputados. Neste período exerceu o cargode Secretário de Saúde do município de São Paulo, no governode Luiza Erundina.

Nas eleições de 1990 reelegeu-se deputado federal. Foi delea proposta de criação do SUS (Sistema Único de Saúde) que,desde então, vem sendo implantada, com maior ou menor suces-so, apesar da oposição sistemática da indústria farmacêutica dadoença e da direita política, sua aliada natural.

Em 1996 Eduardo Jorge apresentou uma Proposta de Emen-da Constitucional que visava instituir o parlamentarismo no Bra-sil. O gesto revelava inconformismo com a decisão da base doPT, tomada em plebiscito interno envolvendo todos os filiadosao partido em 1993, que rejeitou o parlamentarismo e consa-grou o presidencialismo. Aliás, muitos juristas consideram que osistema presidencialista é cláusula pétrea da Constituição e foiconsagrado duas vezes em plebiscitos nacionais, em 1963 e em1993. Esta cláusula só poderia ser alterada por AssembleiaNacional Constituinte.

Eduardo Jorge divergiu da bancada também na questão dacriação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação

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Financeira) e votou a favor desta medida proposta pelo governoFHC. Mais tarde, na renovação da validade da CPMF, a bancadaalterou sua posição. Votou a favor por considerar que esta contri-buição tinha a virtude de ser progressiva, pagava mais quem ga-nhava mais. E podia servir de instrumento de combate à sonega-ção fiscal.

Nas eleições de 1998, Eduardo Jorge reelegeu-se deputadofederal e, em 2001, licenciou-se para assumir a Secretaria daSaúde do Município de São Paulo, gestão Marta Suplicy. Ocupouo cargo até o fim do mandato da prefeita, em 2002, não concor-rendo nas eleições daquele ano. Desligou-se do PT no fim de2003 e filiou-se ao PV. Em 2005 foi nomeado por José Serra,então novo Prefeito de São Paulo, Secretário do Verde e do MeioAmbiente. Manteve esse cargo na administração Gilberto Kassab,que sucedeu a José Serra.

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nasceu em Maceió, Alagoas, no dia 11 de dezembro de 1944, filhode Rui Palmeira e Gabi Soares Palmeira. Seu pai foi constituinte em1946. Foi deputado federal entre 1946 e 1955. E senador, entre 1955e 1968. Sempre na UDN, com a extinção dos partidos políticos, decre-tada pela ditadura em 1965, integrou-se à ARENA, partido que deusustentação política à ditadura.

Em função dos mandatos federais cumpridos pelo pai, Vladimirmudou-se, com sua família, para o Rio de Janeiro, antiga capitalda República. Aí ele recebeu a maior parte de sua educação bá-sica. Em 1964 Vladimir Palmeira ingressou no curso de Direito daUniversidade do Brasil, atual UFRJ e começou a participar dasprimeiras movimentações estudantis pós-golpe. Tratou-se de pro-

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Vladimir Palmeira

Das barricadas de 68 à

Assembleia Constituinte

Foi líder do PT de 30 de dezembro de 1992 a 1 de dezembro de 1993

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testos contra a chamada Lei Suplicy, (referência ao nome do en-tão Ministro da Educação). Esta lei repressiva visava justamenteimpedir a organização e a livre expressão dos estudantes.

Em 1966 Vladimir Palmeira foi eleito presidente do Centro Acadê-mico Cândido de Oliveira, chamado de CACO-Livre porque não res-peitava as normas estabelecidas pela ditadura para o funcionamentodas entidades estudantis. A Lei Suplicy proibia que as entidades estu-dantis tivessem atividades políticas e extinguia a UNE. Em 1967 VladimirPalmeira foi eleito presidente da União Metropolitana dos Estudantes(UME). Neste ano sofreu sua primeira prisão, esteve detido durante 15dias pelo aparelho repressivo da ditadura.

1968 foi um ano de rebeliões estudantis e tensão política emtodo em o mundo. O ano começou em fevereiro, quando o Vietconglançou a ofensiva do Tet (ano lunar vietnamita). Esta ofensiva massivae inédita serviu para mostrar aos Estados Unidos que guerra do Vietnãnão tinha uma solução militar. A única saída passava pela mesa denegociação. Foi o que aconteceu. Mais tarde, com negociações,eles asseguraram uma retirada mais ou menos em ordem.

A mesa de negociações entre as partes envolvidas na guerra doVietnã seria instalada em Paris, a mesma Paris que, em maio de1968, ardeu sob o fragor de uma rebelião de estudantes que co-meçou em Nanterre, e se propagou pela França inteira, envolven-do até a classe operária numa greve geral sem precedentes nahistória recente do país. Esta rebelião não questionava apenas o“establishment” de direita, ela colocou em questão também a bu-rocracia dita de esquerda e os preconceitos arraigados nos campuse na sociedade. A rebelião protestou contra a presença americanano Vietnã, difundiu o movimento feminista, os direitos dos homos-sexuais e a crítica a todos os tipos de hierarquia.

O Maio francês percorreu todos os países da Europa e nãotardou a atravessar o Atlântico para chegar aos Estados Unidos,onde os “campi” foram sacudidos por uma rebelião que coloca-va os mesmos temas da rebelião europeia, dando destaque espe-cial para a condenação da agressão americana ao Vietnã e parao combate ao racismo contra os negros nos Estados Unidos. MartinLuther King pagou com a vida a ousadia de mobilizar multidõescontra a guerra e o racismo.

Em agosto, tropas do Pacto de Varsóvia, comandadas pelosrussos invadiram a então Tcheco-eslováquia para sufocar a pri-mavera de Praga, tentativa de Alexander Dubcek, líder do partidocomunista, de oxigenar, ainda que moderadamente, o opressivo“socialismo” imposto por Moscou aos países do Leste Europeu.

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O ano de 1968 no Brasil contou com quase todos os temassuscitados pelas rebeliões do hemisfério Norte, mas aqui, pelascircunstâncias, um inimigo se impunha. A ditadura era evidente-mente o inimigo principal. Vladimir Palmeira foi o maior líder demassas desta rebelião dos estudantes e de outros setores do povo.

As agitações de 1968 começaram com a abertura do anoletivo. No fim de março, o assassinato, pela polícia, do estudanteEdson Luis de Lima Souto, no restaurante do Calabouço, contri-buiu para que os protestos por mais recursos para a educação epelas liberdades democráticas se avolumassem. Esse clima deagitação teve como desdobramento a chamada marcha dos 100mil, realizada dia 26 de junho no Rio de Janeiro, de forma pacífi-ca, apesar das reiteradas ameaças de repressão, feitas pela dita-dura.

Vladimir Palmeira fez parte de uma comissão que foi recebidapelo General Costa e Silva, no dia 2 de julho, e que lhe entregouuma pauta de reivindicações do movimento. Os estudantes aindavoltariam às ruas de forma massiva em protesto contra o nãoatendimento de suas reivindicações, foi a passeata dos cinquentamil, mas o movimento começou a dar sinais de declínio.

Preso em agosto, Vladimir Palmeira passou 45 dias isolado.Libertado, por força de “habeas corpus”, ele voltou a ser preso,no mês de outubro, desta vez junto com os quase 700 delegadosque participavam do congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo.Em 13 de dezembro de 1968 a ditadura baixou o Ato Institucionalnº 5, assumindo-se como ditadura escancarada.

À radicalização do regime, a esquerda, que havia rompido com ovelho Partido Comunista Brasileiro, respondeu com uma radicalizaçãomilitarista. Afastou-se dos movimentos de massas e dedicou-se a pra-ticar ações armadas audaciosas, mas isoladas do povo. A economia,por sua vez, retomava o crescimento, o que reduzia a insatisfação coma ditadura. A esquerda armada e isolada do povo tornou-se alvo fácilda ditadura. Mesmo assim praticou ações espetaculares.

Em 4 de setembro de 1969, um comando formado por mili-tantes da ALN (Ação Libertadora Nacional) e MR-8 (MovimentoRevolucionário 8 de Outubro) sequestrou, no Rio de Janeiro, oembaixador Charles Burke Elbrick, dos Estados Unidos. Em trocado embaixador, os sequestradores exigiram e obtiveram a liberta-ção de 15 prisioneiros políticos e a leitura, por uma alta autorida-de, em cadeia de rádio e TV, de um manifesto da guerrilha.

Vladimir Palmeira era um dos 15 prisioneiros libertados e envia-dos ao México, em troca da libertação do embaixador americano.

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Do México, junto com a maioria dos presos libertados, Vladimir Pal-meira foi para Cuba, onde passou três anos. Só em 1972, ele troca-ria Cuba pelo Chile, então governado pelo socialista Salvador Allende.Com o sangrento golpe liderado por Augusto Pinochet, em setembrode 1973, que matou o Presidente Allende e promoveu um banho desangue no país, Vladimir Palmeira conseguiu exilar-se na embaixadado México em Santiago. E em seguida foi levado ao México, juntocom exilados de várias outras nacionalidades latino-americanas,naquele tempo um continente sufocado por regimes tirânicos. Qua-tro meses depois conseguiu refúgio na Bélgica.

Em Nivelles, no interior da Bélgica, trabalhou como operárionuma fábrica de peças para navios, a Twin Disc Internacional, maistarde matriculou-se na Escola de Economia da Universidade Livrede Bruxelas. Concluiu o curso em setembro de 1979 e, beneficiadopela Lei da Anistia, aprovada pelo Congresso Nacional e sancio-nada pelo General João Figueiredo em agosto, Vladimir Palmeiravoltou ao Brasil em outubro de 1979. Em 1980 Vladimir Palmeirase filiou ao PT e participou do trabalho de organização do partidono Estado do Rio de Janeiro. Em outubro foi o candidato do PT aoSenado, sem sucesso. Em 1986 elegeu-se deputado constituinte eem 1990 reelegeu-se deputado.

Na constituinte Vladimir Palmeira representou o PT nos deba-tes travados na comissão encarregada de redigir o capítulo daOrdem Econômica. Teve atuação destacada. Nas demais ques-tões polêmicas que percorreram o processo, acompanhou o par-tido.

Em 1989 Vladimir Palmeira acertou, sozinho, os números deum concurso da Mega Sena. Ganhou o equivalente a um milhãode dólares à época, 10% desta quantia foi doada à primeira cam-panha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República.

A escolha do novo Líder do PT realizada em 12 de dezembrode 1992 foi acirrada e opôs Vladimir Palmeira a José Dirceu.Para a surpresa de muitos, Vladimir Palmeira venceu José Dirceupor 18 a 17 votos. Esta decisão fortaleceu o campo dos petistasfavoráveis à manutenção do sistema presidencialista de gover-no, uma vez que Vladimir é um presidencialista convicto, tinhaum discurso bem elaborado sobre o assunto e é um polemistatemível. Este episódio também enfraqueceu o campo que apoi-ava a adoção do parlamentarismo. Ou seja, a grande maioriados membros do Diretório Nacional.

Em março de 1993 foi realizado plebiscito interno no PT so-bre sistema de governo. Cerca de setenta por cento dos filiados

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que compareceram à votação, optaram pelo presidencialismo ummês depois, em 21 de abril de 1993, no plebiscito nacional, en-volvendo toda a população, repetiu-se mais ou menos o mesmo“placar”. Pela segunda vez, em trinta anos, um plebiscito nacio-nal consagrou o presidencialismo como nosso sistema de gover-no.

Vladimir Palmeira cogitou ser o candidato a governador doRio de Janeiro em 1994. Disputou e venceu Milton Temer pelaindicação. O Diretório Regional resolveu, no entanto, desconsideraresta prévia e indicou Jorge Bittar para disputar aquela eleição.

Para as eleições de 1998, a Direção Nacional do PT trabalha-va para a construção de uma chapa Lula/Brizola, presidente evice. Uma das condições para a realização desta coligação naci-onal era o apoio do PT local a Anthony Garotinho, candidato agovernador do Rio de Janeiro pelo PDT. O PT do Rio de Janeiroreagiu e aprovou, em convenção estadual, a candidatura deVladimir Palmeira para o governo do Estado. Esta decisão foi anu-lada pelo Diretório Nacional e, em grau de recurso no EncontroNacional do PT. O PT nacional indicou o nome de Benedita daSilva como candidata a vice-governadora na chapa encabeçadapor Anthony Garotinho, que venceria a eleição naquele Estado.

Depois desta crise Vladimir Palmeira voltou-se para suas ativi-dades acadêmicas, dedicando-se a um doutorado, na Universi-dade Federal Fluminense, com tese que teve como título “Oleninismo até 1917: estratégia política e doutrina de estado”.

Em 2006, sem crise, Vladmir Palmeira foi indicado candidatoa governador do Rio de Janeiro, em aliança com o PC do B e PSB,fez uma campanha classificada de irreverente, mas não foi bemsucedido. Em 2008 resistiu às tentativas do Diretório Nacional dedesistir de lançar candidato próprio no Rio. As prévias do PT indi-caram Alexandre Molon como candidato. Molon não foi ao se-gundo turno, nesta etapa da eleição o PT apoiou Eduardo Paes,atual prefeito do Rio de Janeiro.

Em 2010 Vladimir Palmeira defendeu as trabalhosas negocia-ções que culminaram com o apoio do PT à reeleição do governa-dor Sérgio Cabral, garantindo a presença na chapa majoritáriada aliança de Lindberg Farias, hoje senador do PT. Vladimir foicandidato a deputado federal, sem sucesso naquela eleição. Em27 de junho de 2011, Vladimir Palmeira enviou uma carta aoDiretório Municipal do PT do Rio Janeiro desligando-se do parti-do. Na carta ele apresenta suas objeções ao reingresso de DelúbioSoares às fileiras do Partido, reingresso que acabava de ser sanci-onado pelo Diretório Nacional.

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73XI

José Fortunati

Do movimento sindical dos

bancários à liderança do PT

Líder do PT de 30 de dezembro de 1992 a 1º de dezembro de 1993

asceu em Flores da Cunha (RS), em 24 de outubro de 1955, filho deGeraldo Fortunati e Amélia Santini. Militante do movimento sindicaldos bancários, José Fortunati foi presidente estadual da CUT (RS) de1984 a 1986 e do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, de 1984a 1987. Teve participação destacada na mobilização vitoriosa dasociedade gaúcha contra a liquidação do Banco Sul Brasileiro.

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Em 1986 se elegeu deputado estadual constituinte pelo PT eatuou nas comissões de Direitos Humanos, Segurança Social eDefesa do Consumidor. Em 1988 concluiu sua formação superiorem Direito e Administração, pela Universidade Federal do RioGrande do Sul. Nas eleições de 1990 se elegeu deputado fede-ral.

O Ato das Disposições Transitórias, da Constituição Federalestabelecia, em seu Artigo 3º, que cinco anos depois da promul-gação da Constituição de 1988, portanto em 1993, haveria umarevisão do texto constitucional. Assim, atribuiu-se ao CongressoNacional poderes constituintes. Os deputados e senadores podi-am alterar a Constituição com maioria simples de 50% mais umdos votos. O líder da Bancada do PT no momento desta revisãoconstitucional era José Fortunati.

Havia, no entanto, divergência sobre a extensão da revisão.Alguns achavam que ela serviria apenas para rever o capítulo daorganização dos Poderes para adaptá-lo ao presidencialismo re-cém consagrado pelo povo no plebiscito realizado em 21 de abrildaquele ano. Outros advogavam uma revisão completa da Cons-tituição, certamente para adaptá-la ao neoliberalismo triunfanteno mundo, suspeitavam setores de esquerda.

Prevaleceu uma posição intermediária. Em 237 dias de trabalho,foram apresentadas quase trinta mil propostas, a partir das quaiselaborados 74 projetos de Emenda de Revisão. Apenas seis foramaprovadas. A primeira delas criou o FSE (Fundo Social de Emergên-cia) destinado a estabilizar a economia; outra criou a possibilidadede convocação, pelo Poder Legislativo, de Ministro de Estado ou quais-quer órgãos diretamente subordinados à Presidência da Repúblicapara prestarem informações sobre assuntos previamente determina-dos; uma terceira facultou a dupla nacionalidade brasileira em de-terminados casos e facilitou a requisição da nacionalidade brasileira;uma quarta ampliou o rol das inelegibilidades; a quinta reduziu omandato presidencial de 5 para 4 anos e a última suspendeu osefeitos da renúncia do parlamentar submetido a processo que viseou possa levar à perda do mandato.

Nesse processo houve divergência entre o Líder José Fortunatie a presidência do Partido exercida então por Ruy Falcão. JoséFortunati aceitava uma revisão mais extensa da Constituição. RuyFalcão queria restringir a extensão da revisão. Em 1995, já emoutro mandato, apesar das divergências com o Partido, JoséFortunati seguiu a orientação partidária contrária à quebra domonopólio estatal da Petrobras e das telecomunicações; contra a

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quebra do monopólio pertencente aos Estados na distribuição dogás canalizado; votou contra a abertura da navegação decabotagem ao capital estrangeiro e à revisão do conceito deempresa nacional.

Em 1996 houve prévia para a escolha do candidato do PT aprefeito de Porto Alegre. Participaram da prévia: Raul Pont, JoséFortunati e Clovis Ilgenfritz. A vitória coube a Raul Pont que foiindicado candidato a prefeito e venceu a eleição. Segundo colo-cado na prévia, José Fortunati compôs a chapa vitoriosa na con-dição de candidato a vice-prefeito. José Fortunati assumiu a vice-prefeitura de Porto Alegre em 1º de janeiro de 1997 e renunciouao cargo de deputado federal.

Em 2000, José Fortunati, ocupando o cargo de vice-prefeito,buscou a indicação para candidato a prefeito de Porto Alegre.Mas o PT local optou pela indicação de Tarso Genro, que foieleito. José Fortunati foi eleito vereador mais votado da cidade,mas estava insatisfeito. No ano seguinte trocou o PT pelo PDT.Nas eleições municipais de 2008, o PDT se aliou com o PMDB emPorto Alegre e elegeu a chapa formada por José Fogaça (PMDB)prefeito e José Fortunati (PDT) vice-prefeito.

Em 2010, José Fogaça renunciou ao cargo de prefeito dePorto Alegre para concorrer ao governo do Estado. Essa eleiçãofoi ganha por Tarso Genro no primeiro turno . Na Prefeitura, Fogaçafoi sucedido por José Fortunati que, em 2012, disputou a eleiçãopara prefeito de Porto Alegre e ganhou no primeiro turno.

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77XII

Jaques Wagner

Líder do PT de 1º de fevereiro de 1995 a 3 de fevereiro de 1996

Militante contra a ditadura,

Líder do PT, Governador da Bahia

asceu no Rio de Janeiro no dia 16 de março de 1951. Ele é filhode Joseph Wagner e de Cypa Perla Wagner, um casal de polone-ses que aportou no Brasil fugindo da Segunda Guerra Mundial eda barbárie nazista.

Fez seus estudos básicos no Rio de Janeiro e entrou na Fa-culdade de Engenharia da PUC, mas não chegou a graduar-se.Perseguido pela ditadura no Rio de Janeiro, fugiu para a Bahia.Conseguiu emprego numa empresa privada do Polo Petroquímicode Camaçari, como técnico em manutenção. Nesta circunstân-

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cia, trabalhando em condições subumanas, como todos os ope-rários do setor em Camaçari, Jaques Wagner foi um dos funda-dores do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias e EmpresasPetroquímicas, Plásticos e Afins do Estado da Bahia(Sindiquímica). Neste mesmo impulso participou da fundaçãoda secção baiana da CUT.

Jaques Wagner participou também da fundação do PT naBahia, foi membro do Diretório Regional e está filiado ao Partidodesde sua fundação, em 1980. Foi eleito deputado federal peloPT em 1990. Como deputado federal seguiu a linha geral dopartido, sem nenhuma vacilação, inclusive quando os represen-tantes da oligarquia regional manipulavam informações com oobjetivo de indispô-lo com a população.

Em 1994 Jaques Wagner se reelegeu deputado federal. Cou-be a ele, no primeiro ano do governo FHC, comandar a bancadado PT num momento de triunfo das ideias neoliberais. Soube agircom determinação e flexibilidade para conduzir a oposição par-lamentar a propostas como a quebra do monopólio da explora-ção do petróleo, até então pertencente à Petrobras, e à quebrado monopólio das telecomunicações, até então pertencente aoEstado. O campo conservador, representado por FHC, ganhouestas batalhas, mas pagou um preço político alto. O momentomais tenso deste período foi a greve dos petroleiros. FHC mobili-zou até tropas do Exército para reprimir a greve e ocupar refina-rias. A greve durou 31 dias. A categoria foi punida com interven-ções em suas entidades. Mas FHC perdeu a máscara. Ficou claroque ele não era nem social nem democrata. Desde esteenfrentamento, no qual os petroleiros mostraram força e tenaci-dade, o projeto de privatizar a Petrobras entrou em declínio.

Em 2002, Jaques Wagner foi o candidato do PT a governa-dor da Bahia. Não conquistou a vitória, mas exibiu uma“performance” brilhante, muito superior às expectativas mais oti-mistas. Começou a campanha com as pesquisas lhe atribuindo2% das intenções de voto. Mas nas urnas alcançou 38%, mos-trando ao Brasil que a oligarquia carlista da Bahia não era imba-tível.

Com a posse do Presidente Lula, em 1º de janeiro de 2003,Jaques Wagner foi nomeado para o cargo de Ministro do Tra-balho. Cabia a seu Ministério lidar com números que refletiama dramática situação em que viviam milhões de trabalhadores.O salário mínimo valia apenas 70 dólares, o desemprego erade 12,5%, a inflação ameaçava sair de controle. Jaques Wagner,

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junto com o Presidente Lula e os demais ministros começaram atomar as medidas para alterar esta situação, trazendo-a para oBrasil de hoje, onde o salário mínimo vale mais de 300 dólares,o desemprego é de 6%, o menor da história. E a inflação estácontrolada.

Jaques Wagner serviu ainda ao Presidente Lula, quando foinomeado para coordenar a Secretaria Especial do Conselho deDesenvolvimento Econômico da Presidência da República. Eledesempenhou também um papel crucial quando assumiu o Mi-nistério das Relações Institucionais, em meio a uma crise políticasuperdimensionada até o delírio pela imprensa golpista.

Superada a crise política, Jaques Wagner afastou-se do Mi-nistério e foi lançado candidato do PT e de uma ampla aliança agovernador da Bahia. Em outubro de 2006 Jaques Wagner foieleito governador da Bahia, no primeiro turno, com 52% dos vo-tos, derrotando o então governador Paulo Souto, representanteda oligarquia carlista.

Nas eleições de 2010, o PT indicou Jaques Wagner comocandidato à reeleição. A base que havia apoiado Jaques Wagnertinha se dividido e a aliança para a reeleição foi bem mais estrei-ta. Dela se retiraram o PMDB, o PV e o PPS, mesmo assim JaquesWagner venceu no primeiro turno com 63% dos votos. Seu opo-nente mais próximo, Paulo Souto, obteve 16% dos votos. Atual-mente Jaques Wagner exerce seu segundo mandato como gover-nador da Bahia.

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asceu em Belo Horizonte (MG) no dia 16 de janeiro de 1944,filha do Juiz de Direito Benedito Starling e de Cecília MeiraStarling. Concluiu seus estudos secundários na cidade mineirade Diamantina, no ano de 1962.

Trabalhou para a Petrobras na construção da Refinaria GabrielPassos, em Betim (MG). Influenciada pela JEC (Juventude Estu-dantil Católica) participou da Fundação do Sindicato dos Traba-lhadores da Indústria do Petróleo (Sindipetro). Participou da pri-meira diretoria do sindicato no cargo de secretária geral. Com ogolpe de estado de 1964, o sindicato sofreu intervenção, toda adiretoria foi cassada e Sandra Starling foi demitida. Em seguida

Líder do PT de de 3 de fevereiro de 1996 a 22 de janeiro de 1997

XIII

Sandra Starling

O pensamento e a ação de uma

feminista na construção do PT

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passou a trabalhar na Caixa Econômica de Minas Gerais, ondepermaneceu até 1971.

Terminou o curso de Direito na Universidade Federal de MinasGerais em 1972. A partir de 1975 tornou-se professora da Facul-dade de Filosofia e Ciências Humanas da mesma UFMG, ondetrabalhou até 1986. Na segunda metade da década de 1970,colaborou na imprensa alternativa (Movimento e Em Tempo) quenaquele tempo tentava se utilizar de alguns espaços da chamadaabertura política lenta, gradual e segura do General Geisel. Nestemesmo período participou das mobilizações e dos comitês pelaanistia ampla, geral e irrestrita.

Militante, desde os primeiros minutos do PT, filiou-se ao Parti-do em fevereiro de 1980, é coautora do Estatuto do PT. Já em1982 cumpriu a tarefa de ser a candidata a governadora do Par-tido contra o mitológico Tancredo Neves. Cumpriu a tarefa comaltivez. Em 1985, quando foi restabelecido o direito do povo ele-ger os prefeitos das capitais e das cidades consideradas áreas desegurança nacional, Sandra Starling foi a candidata a vice-prefeitade Belo Horizonte na chapa petista encabeçada por Virgílio Gui-marães. Esta eleição sepultou a lenda, segundo a qual, o PT, porter boicotado o Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, ti-nha se mostrado sectário e estaria condenado a manter-se isola-do da sociedade. Pelo contrário, em 15 de novembro o que se viufoi o PT vencendo em Fortaleza e obtendo resultados esplêndidosem várias capitais, como São Paulo, Porto Alegre, Vitória, BeloHorizonte, Aracaju e em Goiânia, com direito a suspeita de frau-de. Foi neste episódio que o PT se mostrou pela primeira vez comouma força eleitoral viável.

Em 1986 Sandra Starling foi anistiada da cassação que sofre-ra em 1964 e reintegrada à Petrobras. Ainda em 1986 foi eleitadeputada à Assembleia Estadual de Minas Gerais, cuja principaltarefa era redigir uma nova constituição para o Estado. Licen-ciou-se da Petrobras para cumprir seu mandato de deputada es-tadual.

Nas eleições de 1990, Sandra Starling elegeu-se deputadafederal e desenvolveu seu mandato dentro das linhas geraisestabelecidas pelo Partido, mas, no seu caso, ressaltando temascomo o combate à violência contra a mulher e as questões liga-das à ciência e tecnologia; ou participando de CPIs, como a quetratou da questão da esterilização massiva de mulheres, ou dacomissão especial que enquadrou Fernando Collor nos dispositi-vos da Constituição que definem o crime de responsabilidade.

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Em janeiro de 1993 ela licenciou-se da Câmara dos Deputadospara assumir o cargo de Secretária de Educação do município deBelo Horizonte no governo petista de Patrus Ananias.

Reeleita deputada federal em 1994, Sandra Starling voltou àCâmara para resistir à ofensiva neoliberal liderada por FHC. Es-teve na linha de frente do combate a quase todas as iniciativasdaquele governo. Em 1996, numa disputa acirrada, foi eleita Lí-der do PT, com um voto de frente. Quando da votação da PEC dareeleição, Sandra Starling questionou a nomeação do deputadoMendonça Filho (PFL-PE) para relator, alegando que ele não po-dia relatar uma matéria da qual era coautor. A presidência daCâmara acatou a questão de ordem, deixou Mendonça Filho chu-pando o dedo e deu a relatoria para Vick Pires Franco (PA). Surgi-ram depois gravações mostrando que Sérgio Motta, ministro dasComunicações de FHC, andou comprando votos de certos depu-tados para aprovar a PEC da reeleição. O PT saiu em campopara obter as assinaturas necessárias para a criação de uma CPIsobre o assunto. Elas foram obtidas. Mas, sob pressão do gover-no FHC, muitos deputados depois retiraram suas assinaturas.

Em 1998 Sandra Starling não concorreu à reeleição, mas con-tinuou sua atividade militante. Com a vitória do Presidente Lulaem 2002, Sandra Starling ocupou o cargo de secretária executivado Ministério do Trabalho, durante o primeiro semestre de 2003.Ela foi também indicada para representar o BNDES no conselhode administração da Aracruz Celulose.

Em 2010, Sandra Starling discordou frontalmente da políticade aliança do PT de Minas Gerais, que desistiu de lançar candi-dato próprio para apoiar a candidatura de Hélio Costa, do PMDB.Em função desta divergência ela se desligou do PT.

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Um economista na resistência

à ditadura e na construção do PT

Líder do PT de 22 de janeiro de 1997 a 11 de janeiro de 1998

XIV

José Machado

asceu em Tanabi, São Paulo, no dia 27 de janeiro de 1946, filhode Oswaldo Machado e de Hilda Gomes Machado. Ingressou nocurso de Economia da USP em 1968. Atuou no Centro Acadêmi-co da universidade e frequentou um grupo de estudos ligado àorganização clandestina de esquerda VAR-Palmares. Em funçãodisso esteve preso pelo aparelho policial da ditadura por mais deum ano. Graduou-se em Economia em 1975 e logo depois dedi-cou dois anos à pós-graduação na Unicamp. Em 1977 tornou-seprofessor da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).

José Machado participou da fundação do PT e, em 1981, tor-nou-se o primeiro presidente do Diretório Municipal de Piracicaba.

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Foi candidato a deputado estadual nas eleições de 1982,mas não obteve sucesso. Prosseguiu em sua militância petista e,em 1986, elegeu-se deputado estadual constituinte e participouativamente dos trabalhos constituintes. Nas eleições municipaisde 1988 foi eleito prefeito de Piracicaba.

Na administração de Piracicaba implantou o orçamentoparticipativo, o sistema integrado de transporte coletivo e tom-bou o engenho central, um patrimônio histórico que tambémpassou a ser utilizado como centro de lazer. Encerrado o man-dato de prefeito, José Machado tornou-se, em 1993, represen-tante da Unimep, no Comitê das Bacias Hidrográficas do riosPiracicaba, Capivari e Jundiaí.

Em 1994 foi eleito deputado federal. Neste posto teve açãodestacada nas comissões que tratavam de meio ambiente, defe-sa do consumidor, economia e desenvolvimento urbano, masparticipou também da Comissão de Constituição e Justiça, amais importante do Legislativo. Participou ativamente da resis-tência ao projeto neoliberal consubstanciado nas propostas fei-tas por Fernando Henrique Cardoso e apreciadas pelas duasCasas do Legislativo. Votou contra a quebra do monopólio dopetróleo, das comunicações, da navegação de cabotagem e daeliminação do conceito de empresa nacional. José Machado foitambém relator do Projeto de Lei que criou o Sistema Nacionalde Recursos Hídricos, legislação que procura manter o Brasilatualizado e preparado para uma época de aquecimento globale ameaças contra os mananciais.

José Machado teve ação importante na Frente ParlamentarSucroalcooleira, formada para pressionar o governo a investir numsetor que produz energia alternativa e tem grande capacidade degerar empregos. Em janeiro 1997 foi eleito Líder do PT e em feve-reiro assumiu a liderança do Bloco Parlamentar então formadopelas Bancadas do PT, PDT e PC do B.

Liderou a Bancada da oposição no voto contra a instituição dodireito à reeleição para cargos executivos, prefeitos, governadorese presidente. José Machado repercutiu e condenou a compra devotos para aprovação da reeleição. Este assunto continua repercu-tindo até hoje, já que o STF está distribuindo condenações por con-ta de uma compra de votos que não houve mas, naquela época,tanto os tribunais, quanto o Ministério Público ignoraram solene-mente as denúncias de compra de votos para a reeleição de FHC.Na verdade, as provas eram tão inquestionáveis que dois dos acu-sados de vender seus votos - Ronnie Von Santiago e João Maia -

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renunciaram a seus mandatos no dia 21 de maio de 1997, mas oscorruptores não foram incomodados.

Em 1998, José Machado foi reeleito deputado federal. Nestemandato participou da Comissão de Economia, Indústria e Co-mércio e coordenou uma subcomissão destinada a discutir Em-prego e Renda. Este mandato foi curto porque, em 2000, JoséMachado voltou a ser eleito prefeito de Piracicaba. Como prefei-to, prosseguiu em seus esforços para organizar e coordenar asações dos diferentes entes do Estado na proteção ao patrimôniohidrográfico da nação, participando da criação da Agência deCooperação de Municípios Brasileiros, fundada em 2002, e pre-sidida por ele no período de 2002 a 2004.

Em 2005, José Machado assumiu a Presidência da ANA –Agência Nacional de Águas. Em dezembro do mesmo ano foireconduzido ao cargo para um novo mandato que se prolongouaté 2009. Neste posto, tratou de assuntos relevantes para a pautado meio ambiente, particularmente, de problemas ligados àinterligação dos rios das Bacias do São Francisco.

Atualmente José Machado é assessor especial do Ministérioda Integração Nacional e continua trabalhando no sentido decompatibilizar o crescimento da economia com a preservação danatureza.

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89XV

A nova geração do PT

Líder do PT de 11 de fevereiro de 1998 a 14 de fevereiro de 1999

Marcelo Déda

asceu em Simão Dias, interior de Sergipe, em 11 de março de1960, filho de Manuel Celestino Chagas e de Zilda Déda Cha-gas. Fez o segundo grau em Aracaju, no Ateneu Sergipense, ondecomeçou a se interessar pela militância política, atuando no grê-mio estudantil. Ingressou na Faculdade de Direito da Universida-de Federal de Sergipe em 1980. Nesta época participou das ati-vidades e das entidades do movimento estudantil e deu sua con-tribuição ao processo de construção do PT.

Em 1982 foi candidato a deputado estadual pelo nascente PT,mas não obteve sucesso. Concluiu sua graduação em Direito em1984, passou a trabalhar para diversos sindicatos e a prestar as-sessoria jurídica à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

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A Nova República, instituída com a posse de José Sarney nocargo de Presidente da República, depois da morte de TancredoNeves, resolveu remover o entulho autoritário que era a nomeaçãopela ditadura dos prefeitos das capitais, áreas de “segurança naci-onal” e de estâncias hidrominerais. Convocou então eleições paranovembro de 1985 nestas cidades cujos prefeitos não haviam sidoeleitos pelo povo.

O PT apresentou como seu candidato a prefeito de Aracaju,Marcelo Déda. Ele não conquistou a vitória, mas obteve uma ex-pressiva votação, a exemplo do que ocorreu com outros candida-tos do PT em diferentes cidades do Brasil naquela eleição. Aliás,foi ali que, pela primeira vez, o PT demonstrou que era um partidoviável eleitoralmente e que tinha uma inequívoca vocação nacio-nal, apesar de sua origem paulista.

Em 1986, Marcelo Déda foi eleito deputado estadual consti-tuinte. Como Líder do PT na Assembleia Legislativa, participou daelaboração da Constituição do Estado e teve atuação destacadana Comissão de Agricultura, da qual foi presidente. Mas atuoutambém em outras áreas, como de Constituição e Justiça; Econo-mia e Finanças e de Serviço Civil. Nas eleições de 1990, ele ten-tou, mas não conseguiu a reeleição para deputado estadual.

Na esfera política, em 1992 ele foi eleito presidente do PT deSergipe. No plano profissional, passou a trabalhar como advoga-do do Sindicato dos Engenheiros de Sergipe e no escritório parti-cular de advocacia Déda e Melo. Foi também assessor jurídico doConselho Federal e Arquitetura (Confea) de 1993 a 1994.

Nas eleições de 1994, Marcelo Déda reencontrou o caminhoda vitória e se elegeu deputado federal. Seu primeiro mandato co-incidiu com o ímpeto triunfante do projeto neoliberal liderado porFHC. Sua estreia foi nas batalhas legislativas em que os tucanosbuscavam impor seu projeto e a oposição travava batalhas para,pelo menos, reduzir os prejuízos que seriam causados pela adoçãointegral da cartilha neoliberal. Esse esforço não foi em vão, a tenazresistência da oposição parlamentar e a desassombrada greve de31 dias dos petroleiros certamente contribuíram para fazer comque o governo tucano desistisse da privatização da Petrobras, doBanco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.

Marcelo Déda, naquele momento vice-líder da Bancada doPT, esteve na linha de frente das batalhas perdidas para evitar asprivatizações lesivas aos interesses nacionais. Assim, articulou evotou contra a quebra do monopólio do petróleo e das telecomu-nicações, se bateu contra a redefinição do conceito de empresa

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nacional e contra a abertura ao capital estrangeiro da navegaçãode cabotagem.

Durante este primeiro mandato, Marcelo Déda integrou a CCJ(Comissão de Constituição e Justiça), assim como comissões es-peciais que examinaram importantes Projetos de Lei e Propostasde Emendas Constitucionais. Entre eles, cabe ressaltar: a reformado Poder Judiciário; a quebra do monopólio do petróleo; a co-missão que discutiu a lei da Política Nacional de Petróleo; o pro-jeto de lei da imunidade parlamentar; e até a oportunista emendada reeleição, além de outras.

Em fevereiro de 1998 Marcelo Déda tornou-se Líder da Ban-cada do PT. Ele assumiu o cargo num momento em que já haviamsurgido sérios sinais da decadência tucana. Um dos sinais foi acompra de votos para aprovar a PEC da reeleição. Outro sinalinequívoco veio em dezembro de 1998, quando o Brasil foi obri-gado a assinar um acordo com o FMI. Só na segunda quinzenade janeiro de 1999, a crise se escancarou. O mercado impôsuma megadesvalorização do Real. Depois disso, o governo FHCnavegou na mediocridade, entre apagões e escândalos até suaderrota nas eleições de 2002.

Nas eleições de 1998, Marcelo Déda reelegeu-se deputadofederal. Este novo mandato foi mais curto porque, em 2000, Dédaconcorreu e venceu a eleição para prefeito de Aracaju no primei-ro turno com 52,3% dos votos. Como prefeito investiu em saúde eem obras de infraestrutura. Construiu e reformou hospitais e pos-tos de saúde e promoveu a integração viária de diferentes bairrosatravés da construção de novas avenidas e de um novo viaduto.Revitalizou a cidade que em sua gestão avançou significativamenteem seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nas eleiçõesmunicipais de 2004, Marcelo Déda foi reeleito prefeito no primei-ro turno com 71,3%, o que testemunha o sucesso de sua gestão.

Em março de 2006, Marcelo Déda renunciou ao cargo deprefeito de Aracaju para se candidatar ao cargo de governadordo Estado de Sergipe. Venceu no primeiro turno, com 52,48% dosvotos, derrotando o governador em exercício João Alves Filho quebuscava a reeleição.

A primeira gestão de Marcelo Déda como governador tam-bém foi bem sucedida, tanto é assim que, em 2010, ele conquis-tou a reeleição no primeiro turno praticamente repetindo o placarde 2006.

Vítima de câncer, Marcelo Déda faleceu no dia 2 de dezem-bro de 2013. Homem público exemplar, seu legado será semprelembrado e servirá de exemplo para as novas e futuras gerações.

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Verás que um filho teuNão foge a luta

Nem teme a quem te adoraA própria morte

Verás que um filho teuNão foge a luta

Nem teme a quem te adoraA própria morte

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José Genoino

Biografia completa na página 56, em seu primeiro mandato.

Líder do PT de 24 de fevereiro de 1999 a 1º de fevereiro de 2000

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XVII

Resistindo à ditadura, criando

espaço para a invenção do PT

Aloizio Mercadante

asceu em Santos, no dia 13 de maio de 1954, filho de OswaldoMuniz Oliva e de Iara Mercadante Oliva. Seu pai fez carreira noExército, alcançou o posto de General-de-Exército e foi coman-dante da Escola Superior de Guerra (ESG) de 1988 a 1990.

Aloizio Mercadante ingressou na Faculdade de Economia daUSP em 1973 e logo começou a atuar no movimento estudantilem oposição à ditadura, participando do esforço de reorganiza-ção do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Em 1975, presi-diu o Diretório Acadêmico de sua faculdade. Terminou o cursoem 1976 e, em seguida, matriculou-se no mestrado Unicamp.Concluído esse curso, em 1978 passou a dar aulas na PUC-SP.

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Líder do PT de 1 de fevereiro de 2000 a 7 de fevereiro de 2001

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Entre 1979 e 1984 foi presidente da Associação de Professoresda PUC-SP. Foi também vice-presidente da Andes – AssociaçãoNacional de Docentes do Ensino Superior – entre 1982 e 1983.

Naquele momento, na esfera propriamente política, atuou noPartido dos Trabalhadores. Em 1982, com o reestabelecimentodas eleições diretas para os governos estaduais, colaborou naelaboração do programa que foi defendido por Luiz Inácio Lulada Silva, candidato do PT ao governo de São Paulo. Atuou tam-bém no processo de fundação e consolidação da CUT, coorde-nando seu departamento de estudos entre 1985 e 1988.

Como membro do Diretório Nacional do PT, foi um dos res-ponsáveis pela elaboração do plano de governo que seria apre-sentado pelo candidato Lula nas eleições presidenciais de 89, aprimeira eleição direta para o cargo depois do reestabelecimentoda democracia.

Mercadante foi eleito deputado federal pelo PT de São Pauloem 1990. Concentrou sua atividade parlamentar no debate dasquestões econômicas e no combate à corrupção. Integrou a Co-missão de Finanças e Tributação e a Comissão Mista de Orça-mento.

Na crise política desencadeada pelas denúncias de corrupçãocontra Paulo César Farias, ex-tesoureiro da campanha do presi-dente Fernando Collor, Mercadante teve atuação destacada naCPMI criada para investigar os fatos. Ele advogou a aplicação doimpeachment de Collor e participou das articulações entre as for-ças políticas e a sociedade para que a medida fosse adotada.

Foi um dos 441 deputados que votaram pela abertura do pro-cesso de impeachment contra Collor, que, por força dessa deci-são, foi afastado do cargo no dia 2 de outubro. Em 29 de dezem-bro, pouco antes do Senado se pronunciar sobre o assunto, Collor,antevendo uma derrota, renunciou ao cargo de presidente daRepública, assumindo em seu lugar Itamar Franco, que vinha exer-cendo a presidência interinamente.

Aloizio Mercadante foi um dos principais interlocutores do PTjunto ao governo Itamar Franco na discussão sobre o pacote demedidas de ajuste fiscal que a crise impunha. Nesse diálogo de-fendeu a aprovação de uma reforma tributária e conseguiu a cons-tituição de câmaras setoriais com a participação dos trabalhado-res. Posteriormente, contribuiu para as negociações de acordocom a indústria automobilística.

A interlocução com o governo Itamar Franco era mais fácil,dada a sua trajetória de adversário da ditadura. O Diretório Na-

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cional do PT optou, no entanto, por manter-se na oposição, emrazão da natureza heterogênea do governo. Um sinal de que aoposição seria branda evidenciou-se no fato de que esta posiçãofoi tomada por apenas um voto de diferença no Diretório. Naocasião, Luiza Erundina não se embaraçou em aceitar o convitepara ser ministra da Administração de Itamar Franco, sem consul-tar o partido. Só então houve a reação: Erundina foi suspensa porum ano, mas antes de cumprir integralmente a suspensão, foidemitida por telefone por Itamar Franco.

Em verdade, naquela altura Itamar já havia passado o co-mando da política econômica para os tucanos, os quais, aplican-do as políticas recomendadas pelo Consenso de Washington,conseguiriam controlar a hiperinflação. Então, embriagados poreste primeiro êxito, os tucanos abraçaram um neoliberalismo cego,consubstanciado no populismo cambial, numa política deprivatizações selvagens e antinacionais, além de adotarem umaprática de negação do Estado-nação. Essas políticas levaram oBrasil à beira de um colapso que só não ocorreu porque os tuca-nos foram derrotados em 2002. Até Itamar Franco percebeu omau passo que tinha dado. Tanto é assim que mais tarde se la-mentou e chegou a dizer que FHC era mais falso que nota de trêsreais.

No segundo semestre de 1993 eclodiu a denúncia sobre aexistência de um esquema de corrupção dentro da Comissão Mistade Orçamento e que tinha influência na elaboração da peça or-çamentária. Um grupo de parlamentares participava de açõesfraudulentas e era coordenado pelo deputado João Alves (PPR)Partido Progressista Renovador, da Bahia.

Representando o PT, Mercadante contribuiu muito para que achamada CPMI dos Anões do Orçamento fosse instalada parainvestigar o caso e para que ela alcançasse algum êxito, inclusiveno sentido de criar mecanismos que visavam evitar novas fraudes.

Essa CPMI denunciou 18 parlamentares suspeitos de perten-cerem ao esquema criminoso. Desses, oito foram absolvidos, seisforam cassados. Quatro renunciaram ao mandato para evitar acassação. É sabido que esta CPMI, muito influenciada pelo PFL,poupou algumas figuras surpreendidas em flagrante delito. Sãogeralmente citados neste item Ricardo Fiúza (PFL-PE), que se afas-tou voluntariamente do Parlamento por um período, além de JoséCarlos Aleluia (PFL-BA) e de Sérgio Guerra, também conhecidopela alcunha de gigante do orçamento.

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Aloizio Mercadante, na campanha presidencial de 1994, vol-tou a fazer parte do grupo encarregado de elaborar a propostade governo da chapa encabeçada por Lula e que originalmenteteria como vice o ex-senador José Paulo Bisol, o mesmo que tinhasido companheiro de chapa de Lula na épica campanha de 1989.Por denúncias infundadas da imprensa, inicialmente no jornal ZeroHora (do qual receberia depois indenização por danos morais),Bisol foi afastado e substituído por Mercadante.

A candidatura de Aloizio Mercadante a vice-presidente foi ofi-cializada em julho, após acordo construído entre os partidos daFrente Brasil Popular. Durante a campanha ele procurou discutir oPlano Real, sempre elogiando a estabilização da moeda, mas cri-ticando o arrocho salarial e a elevação dos preços pelos empre-sários, pouco antes da entrada em vigor do indexador denomina-do URV – Unidade Real de Valor.

A candidatura a presidente de Lula que, há muito tempo vinhabem nas pesquisas, foi ultrapassada pela candidatura FHC nametade do mês de agosto, por conta dos efeitos do Plano Real.Os tucanos submeteram então o povo à melhor face do PlanoReal: a estabilidade dos preços. Mas outros aspectos do Consen-so de Washington, como o populismo cambial, as privatizaçõesselvagens, os apagões, o desemprego e a constante dependênciacom relação ao FMI ficariam para depois.

O embaixador Rubens Ricúpero, na ocasião respondendo peloMinistério da Fazenda, explicou isso bem num “off” que a TV Glo-bo vazou involuntariamente. Ele afirmou: “O que é bom a gentemostra, o que é ruim a gente esconde”. Assim FHC venceu aseleições de 1994 no primeiro turno.

Com a derrota da chapa do PT, Mercadante , em 1995, vol-tou a dar aulas no Instituto de Economia da Unicamp e na Facul-dade de Economia da PUC-SP. Continuou participando de vidapartidária e teve atuação destacada nas articulações que levaramJosé Dirceu à presidência do PT, no mês de agosto, na convençãodo partido realizada em Guarapari, Espírito Santo.

Em março de 1996, disputou, em prévia interna do partido,com Luiza Erundina e Tereza Lajolo, a indicação para candidato aprefeito de São Paulo. Com 58% dos votos, Luiza Erundina foiindicada candidata. Aloizio Mercadante obteve 41% dos votos.Posteriormente aceitou ser o vice de Luiza Erundina nas eleiçõesque se avizinhavam. Em maio de 1996, o PT de São Paulo oficia-lizou a chapa Erundina/ Mercadante, para uma disputa contraCelso Pitta, candidato apoiado por Paulo Maluf. Esta disputa não

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se decidiu no primeiro turno, mas, no segundo turno, Celso Pittalevou a melhor.

Com um discurso de crítica à política econômica de FHC, quejá dava sinais de esgotamento, expressos não somente nas altastaxas de desemprego, mas também num desequilíbriomacroeconômico cada vez mais visível, Aloizio Mercadante foieleito novamente deputado federal.

Os desequilíbrios macroeconômicos, que sempre estiveramno DNA do Consenso de Washington, começaram a aparecer.Assim, logo depois de vencer as eleições, em dezembro de 1998,FHC assinou um acordo de 40 bilhões de dólares para salvar oReal. Essa injeção de liquidez não foi suficiente. Na metade dejaneiro de 1999, primeiro mês do segundo mandato de FHC, omercado impôs uma macrodesvalorização do real de 40% emuma semana. Começava ali a degringolada da era FHC, que jávinha pontuada de inúmeros escândalos, como as privatizaçõesdo patrimônio público a preços irrisórios.

Em 1999, como deputado, coube a Aloizio Mercadante parti-cipar dos debates das propostas do governo para enfrentar a cri-se. Essas propostas de FHC eram típicas de quem estava acuado.Para enfrentar uma crise, os tucanos vinham com o receituárioneoliberal completo: aumento dos tributos, aumento do superávitprimário, aumento dos juros, tudo o que era necessário para pa-ralisar a economia, aumentar o desemprego, arrochar os saláriose ampliar a miséria em geral.

FHC governava por Medidas Provisórias, medidas essas im-postas, praticamente sem discussão, a um Congresso manietado,que só retomaria sua autonomia com a aprovação da EmendaConstitucional nº 32/01, promulgada em 11 de setembro de 2001,que proibiu a reedição de Medidas Provisórias. Com isso, o Parla-mento recobrou poderes. As MPs passaram a ser realmente discu-tidas e seu número foi substancialmente reduzido. Em seus doismandatos, FHC editou e reeditou 5.400 MPs. O presidente Lula,também em dois mandatos, editou 417 MPs, menos de 10% doque foi editado por FHC.

Em 2000, Aloizio Mercadante foi escolhido Líder do PT. Ascomemorações dos 500 anos da chegada dos portugueses aoterritório que hoje constitui o Brasil seria um bom momento parauma confraternização nacional. Mas as coisas não iam bem parao governo. Nas festividades marcadas para Porto Seguro, localdo desembarque da esquadra de Pedro Álvares Cabral, a PolíciaMilitar da Bahia agiu com truculência. Os índios e os sem terra,

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que compareceram para protestar mansa e pacificamente, apa-nharam mais do que seus antepassados, cinco séculos antes. Aréplica da Nau Capitania deu vexame. Transformou-se num exem-plo de involução da tecnológica, não podia desatracar, cada vezque se afastava do cais ameaçava naufragar. A nau original dePedro Álvares Cabral era melhor, não só atravessou o Atlântico,como foi até a Índia e retornou a Lisboa. A réplica de FHC nãoconseguia sair da Bahia de Todos os Santos. Para piorar este qua-dro sombrio, Paulo Henrique Cardoso, filho do presidente, foiacusado de superfaturar serviços contratados para a realizaçãode uma exposição sobre o Brasil, em Frankfurt, no quadro dascelebrações dos 500 anos.

Em 2001, enquanto assistia ao melancólico declínio do go-verno FHC, Aloizio Mercadante presidiu a Comissão de Econo-mia, Indústria e Comércio e integrou a Comissão Especial da Áreade Livre Comércio das Américas (ALCA), projeto de especial inte-resse dos Estados Unidos, cujo objetivo é ampliar e aprofundarsua hegemonia sobre a América do Sul.

Nas eleições de 2002, além de participar da equipe queelaborou o programa de governo que seria defendido pelocandidato Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral,Aloizio Mercadante foi candidato a Senador pelo estado deSão Paulo. Obteve uma vitória consagradora, quase 10,5 mi-lhões de votos, a maior votação para um senador em toda ahistória do Brasil.

Ele assumiu sua cadeira no Senado no de 1º de fevereiro de2003 e passou a exercer a liderança do governo naquela Casa.Sua principal tarefa era a aprovação das Propostas de EmendaConstitucional que tratavam da Previdência e do sistema tributá-rio. A margem de manobra do governo era limitada. Tinha rece-bido uma economia à beira do colapso. Esta situação se expres-sava em números sombrios: Risco país: 2.400 pontos; taxa Selicde juros: 25%; inflação: 12,5%; câmbio: Dólar a R$ 4; reservascambiais: praticamente nulas; desemprego: 12,6%; e saláriomínimo de 70 dólares.

A tramitação das propostas começou pela Câmara dos De-putados e a disputa foi mais acirrada em torno da reforma daPrevidência. O projeto previa até uma taxação de aposentadosdo setor público. Aí, setores que se pretendem de esquerda fize-ram um cavalo de batalha na defesa de privilégios de servidorespúblicos. Mas perderam. Em agosto este projeto já tinha sido apro-vado na Câmara e tramitava no Senado. Em dezembro, o Diretório

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Nacional do PT, com o apoio de Aloizio Mercadante, expulsou asenadora Heloisa Helena (AL) e os deputados Luciana Genro (RS),João Batista de Araújo (PA), o Babá, e João Fontes (SE). Estesparlamentares, mais adiante, participariam da fundação do PSOL– Partido Socialismo e Liberdade.

Euclides Scalco, ex-secretário geral do PSDB, num momentofilosófico, disse certa vez que o PT era fruto de uma necessidadehistórica e que o PSDB era fruto de um incômodo moral. Nestamesma tecla de navegação, poder-se-ia dizer que o PSOL é fru-to de um erro de cálculo. Seus fundadores certamente aposta-ram que o governo Lula seria um fracasso retumbante e quelogo o PSOL surgiria resplandecente como a salvação da lavou-ra.

Em matéria de reforma tributária até hoje a maioria do Con-gresso Nacional continua refratária. É muito difícil construir umamaioria disposta a aprovar uma reforma tributária mais ambicio-sa, capaz de simplificar o sistema e introduzir para valer uma tri-butação progressiva, taxando o cidadão segundo sua capacida-de contributiva. Neste campo minado, Mercadante conseguiu aaprovação de itens considerados emergenciais: prorrogação daCPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira)e também a aprovação da DRU (Desvinculação de Receitas deUnião).

Em fevereiro de 2004, a revista Época publicou uma matériabaseada em vídeo gravado por Carlos Cachoeira, mostrando queWaldomiro Diniz, então membro do governo Garotinho no Rio deJaneiro, pedia propina ao bicheiro de Anápolis Carlos Cachoei-ra. Isso provocou uma tempestade sobre o PT e o governo dopresidente Lula. Em seu posto, que era a Liderança do Governono Senado, Aloizio Mercadante trabalhou para reduzir os danos.Para tanto, contou com o apoio de José Sarney, do PMDB, por-tanto pertencente a um partido que não havia participado da ali-ança que elegeu Lula.

Num ambiente de luta política incessante, Aloizio Mercadantetentava barrar ou adiar CPIs como a dos Bingos, que só foi insta-lada na metade do ano de 2005, e depois ganhou o nome CPIdo fim do mundo, dado que funcionava como um Tribunal daInquisição, investigando todo e qualquer assunto em qualqueresfera do Estado, sem consideração para a definição constitucio-nal de fato determinado. Esta comissão funcionou, com inúmerasprorrogações, como um simulacro de Justiça conduzida pela fi-

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gura sinistra do senador Efraim de Moraes, um dos recordistas emfuncionários fantasmas do Senado.

Neste ambiente conturbado, Aloizio Mercadante ainda arru-mava tempo para apoiar a reforma do Judiciário, que introduziriaa súmula vinculante e um certo controle desse Poder. Além deoutros projetos importantes, como das parcerias público-priva-das, a Lei das Falências e a Lei de Biossegurança.

Em maio de 2005, a revista Veja, com um vídeo produzidopelo esquema do contraventor Carlos Cachoeira, apresentouMaurício Marinho, chefe do DECAM/ECT, recebendo uma propi-na. Importante registrar que a equipe de Carlos Cachoeira nãofez o registro por amor à moralidade, mas porque estava a servi-ço de outro esquema que disputava espaço com o esquema quesubornava Maurício Marinho.

Roberto Jefferson, líder do PTB, teve seu nome citado nas gra-vações. Isso gerou uma CPI sobre licitações nos Correios quedepois ganhou o nome de CPI do mensalão, marca criada porRoberto Jefferson com a intenção de significar que o governopagava mesada para que certos deputados votassem de acordocom os interesses do Planalto. Nos autos do processo do chama-do mensalão, o próprio Roberto Jefferson desmentiu esta versão.

A CPMI dos Correios (Mensalão) indiciou 19 deputados. Des-tes apenas três tiveram a cassação aprovada pelo plenário daCâmara: José Dirceu (PT-SP), Pedro Corrêa (PP-PE) e RobertoJefferson (PTB-RJ). Em geral o plenário rejeitou a tese de que exis-tia um mensalão, mas sim caixa 2, prática muito difundida emtodas as campanhas eleitorais. No caso José Dirceu, houve umjulgamento político. Dirceu não foi cassado por ter participado deum suposto mensalão, mas por seu trabalho na construção do PT.

Outros quatro deputados renunciaram a seus mandatos te-mendo uma cassação no plenário. São eles Paulo Rocha (PT-PA),Bispo Carlos Rodrigues (PL-RJ), José Borba (PMDB-PR) e WaldemarCosta Neto (PL-SP). Os doze restantes foram absolvidos pelo ple-nário da Câmara dos Deputados.

Em 2006, numa prévia interna disputada com Marta Suplicy,Aloizio Mercadante foi escolhido candidato do PT ao governo doEstado de São Paulo e buscou associar sua imagem à imagem dopresidente Lula que, naquela ocasião, buscava a reeleição.

O final desta campanha foi tumultuado por um episódio po-pularizado pelo nome de “aloprados”. No dia 15 de setembro,dois petistas, Valdeban Padilha e Gedimar Passos foram presospela Poliícia Federal em um hotel de São Paulo de posse de R$1,7

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milhão. Este dinheiro supostamente destinava-se a comprar umdossiê contra José Serra, preparado por Luis Antonio TrevisanVedoin, chefe da quadrilha dos chamados sanguessugas. AloizioMercadante e seu tesoureiro de campanha Giácomo Baccarinsempre negaram qualquer envolvimento com o assunto e foramdeclarados inocentes pela Justiça.

Esse episódio é cheio de mistérios. O delegado da PF EdmilsonBruno entregou à Rede Globo, às vésperas do primeiro turno, asimagens de montanhas de dinheiro capturado junto com osaloprados presos. Essas imagens foram para o ar imediatamente,com destaque e intensidade, com uma angulação que favoreciao aumento da pilha de dinheiro. O objetivo dos setores da im-prensa golpista era obter um efeito semelhante ao obtido com aexposição de um monte de dinheiro pertencente à campanha deRoseana Sarney em 2002. Esse episódio praticamente acaboucom a pretensão de Roseana de desafiar José Serra pela direita.

Desta vez o sucesso da operação não foi completo, mas cer-tamente contribuiu para que Aloizio Mercadante perdesse paraJosé Serra a disputa pelo governo de São Paulo, já no primeiroturno. E provavelmente contribuiu para que houvesse segundoturno entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alkmin na eleiçãopresidencial.

Hoje se sabe, pelo Wikileaks, que Tasso Jereissati, então pre-sidente do PSDB, informou ao Conselheiro Político da Embaixadaamericana em Brasília que a oposição contava com o fato políti-co novo que eclodiria na última metade de setembro e que issoteria peso para alterar o resultado das eleições que, todos previ-am, seria vencida pelo presidente Lula no primeiro turno.

Sabe-se hoje também que Idalberto Matias Araújo, o Dadá,araponga do esquema criminoso de Carlos Cachoeira, monitoroua operação que culminou com a prisão dos petistas e vibrou quan-do percebeu que os dois caíram na armadilha. Em fitas gravadasapreendidas na residência de Adriano Aprígio de Souza, ex-cu-nhado de Carlos Cachoeira, se pode ouvir Dadá comemorandoo feito, em conversa com Mino Pedrosa, ex-repórter da revista IstoÉ. Ali usa expressões como: Os petistas caíram, agora nós pega-mos o barbudo.

De volta ao Senado, em 2007, Aloizio Mercadante atuou nadefesa de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado e alvode uma furiosa ofensiva, como sempre moralista, de setores daimprensa conservadora e golpista. Neste episódio a imprensa re-virou até a vida pessoal de Renan Calheiros. Quando surgiu uma

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denúncia sobre tráfico de influência a favor da Schincariol, AloizioMercadante se pronunciou a favor de Calheiros se afastar do car-go de Presidente do Senado, para assegurar uma investigaçãoisenta. Renan Calheiros afastou-se do cargo de Presidente do Se-nado em 11 de outubro. Seu posto foi assumido interinamentepor Tião Viana (PT-AC). Renan Calheiros terminou renunciando àpresidência do Senado. Em 12 de dezembro foram realizadas elei-ções que levaram Garibaldi Alves (PMDB) à presidência daquelaCasa.

O Senado viveu, ainda no fim de 2007, um episódio impor-tante. A direita conseguiu derrotar uma proposta do governo deprorrogação da CPMF, de um golpe, uma oposição no Senadoliderada por figuras como Arthur Virgílio, Tasso Jereisatti, JoséAgripino, Heráclito Fortes, Marconi Perillo e Demóstenes Torres,além de outros, conseguiram eliminar do orçamento da saúde R$40 bilhões. Isso num país onde os ricos não gastam com saúde.Todas as suas despesas no setor privado da saúde podem serdescontadas do Imposto de Renda. Esta foi a maior derrota dogoverno do presidente Lula no Parlamento. Mas ela teve troco. Amaior parte dos líderes da direita no Senado foi varrida nas elei-ções de 2010. É verdade que alguns sobreviveram, Marconi Perilloe Demóstenes Torres, por exemplo. Mas Demóstenes já foi cassa-do pelo Senado e Perillo está seriamente danificado, desacredita-do por seu envolvimento com o esquema de Carlos Cachoeira,conforme constatou a CPMI que investigou o bicheiro.

Em 2009, a imprensa golpista descobriu e desnudou velhasmazelas da administração do Senado. Descobriu-se que atos se-cretos eram utilizados na gestão da Casa, que o controle de gas-tos era precário ou inexistente, que Agaciel Maia, o poderosoDiretor Geral, passava dinheiro por fora para senadores a fim desocorrê-los nos momentos de aperto, nomeava parentes e fantas-mas em geral, pagava hora extra para servidores em férias, vivianuma mansão de R$ 5 milhões e era suprapartidário na distribui-ção das benesses.

Em suma, não existiam dúvidas sobre o comportamento con-denável de Agaciel Maia e era claro que só agia como agiu por-que contava com cumplicidades nas sucessivas mesas diretorasque governaram a Casa nos últimos tempos. A oposição e suaimprensa golpista tentaram colocar a culpa total por estedescalabro nas costas de José Sarney. Não obteve sucesso por-que era evidente que seus principais líderes tinham ligações com-prometedoras com Agaciel Maia. Frustrou-se assim a tentativa de

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derrubar José Sarney para substituí-lo por Marconi Perillo, entãoprimeiro vice-presidente do Senado e homem de confiança doCarlos Cachoeira.

Aloizio Mercadante ressaltou a natureza oportunista da oposi-ção que votou em José Sarney e agora tentava crucificá-lo e, aomesmo tempo, tentava obscurecer o fato de que tinha responsa-bilidades no descalabro administrativo, já que a primeira secreta-ria, responsável pela administração, estava na mão do DEM eseus antecessores há décadas. A solução encontrada foi demitirAgaciel Maia e contratar a FGV – Fundação Getúlio Vargas -para fazer um projeto de reforma administrativa.

Em 2010, Aloizio Mercadante foi o candidato do PT ao gover-no de São Paulo. A disputa foi decidida no primeiro turno a favordo candidato tucano, Geraldo Alckmin, que obteve 50,63%. En-quanto Aloizio Mercadante ficou com 35,23% dos votos. A me-lhor votação obtida até hoje por um candidato do PT na disputapara o governo do Estado de São Paulo.

Com a vitória de Dilma Rousseff para presidenta da Repúbli-ca, Aloizio Mercadante foi nomeado Ministro da Ciência eTecnologia. Neste cargo ele foi o responsável pelo lançamento epelos primeiros passos do ambicioso projeto Ciência sem Frontei-ras que pretende colocar em instituições internacionais cem miljovens acadêmicos brasileiros em cursos de pós-graduação. Numareforma de gabinete, Dilma deslocou Aloizio Mercadante para oMinistério da Educação. Neste cargo, seu principal desafio é fa-zer com que 10% dos recursos do Orçamento da União sejamdestinados à educação.

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107XVIII

Walter Pinheiro

A vontade dos trabalhadores

no sindicato e no parlamento

asceu em Salvador, no dia 25 de maio de 1959, filho de JúlioNunes Pinheiro, ferroviário, e de Anatildes Freitas Pinheiro, costu-reira. Ele é técnico em Comunicação, com formação em eletrôni-ca pela Escola Técnica Federal da Bahia. Iniciou sua carreira pro-fissional em 1979, trabalhando na empresa de Telecomunicaçõesda Bahia (Telebahia). Atuou no movimento sindical e foi Presiden-te do Sindicato dos Telefônicos (Sintell). Participou também das

Líder do PT de 7 de fevereiro de 2001 a 20 de fevereiro de 2002

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51mobilizações e articulações que deram origem à CUT (CentralÚnica dos Trabalhadores) na Bahia, de quem foi secretário geral.Foi ainda coordenador do Movimento Nacional em Defesa doServiço Público e das Estatais.

Dentro do processo de abertura democrática lenta gradual esegura, patrocinada pela ditadura, foram reestabelecidas as elei-ções diretas para governadores em 1982. Neste pleito que repre-sentava um reencontro, ainda que limitado, da sociedade com ademocracia, Walter Pinheiro participou na condição de militantefiliado ao PT. Nas eleições de 1986, travada num ambiente maisarejado pela democracia, Walter Pinheiro foi candidato pelo PT auma vaga na Assembleia Legislativa da Bahia, mas não obtevesucesso. No período de 1991 a 1995, ele foi membro do DiretórioMunicipal de Salvador.

Em 1992, Walter Pinheiro foi eleito vereador à Câmara Muni-cipal de Salvador onde exerceu a presidência de duas comissões,uma comissão permanente: Defesa dos Direitos das Mulheres; eoutra temporária: Comissão Especial do Trabalho, Emprego eRenda.

Nas eleições de 1994, Walter Pinheiro concorreu a umavaga de deputado federal, obteve apenas uma suplência nacoligação encabeçada pelo PT. Com a posse do deputadoUbaldino Junior (PSB) na prefeitura de Porto Seguro (BA), abriu-se uma vaga na coligação. Como primeiro suplente, coube aWalter Pinheiro assumir esta vaga de deputado federal, em 2de janeiro de 1997.

Em 1998 Walter Pinheiro foi reconduzido à Câmara dosDeputados pela vontade do povo baiano. Aguardava-o no par-lamento nacional um cenário diferente daquele que prevaleceuna legislatura anterior. Em vez de um projeto neoliberal triunfan-te, ele se encontraria com a decadência do projeto tucano. Em1999 os tucanos haviam produzido uma maxidesvalorização doReal; em 2000, as festas dos 500 anos da chegada dos portu-gueses ao território que hoje é o Brasil foram um fracasso; em2001, ano em que Walter Pinheiro foi eleito Líder do PT, o gover-no FHC entregou um novo item do pacote tucano: o apagãoelétrico, que durou de 1º de julho de 2001 a 27 de setembro de2002. Segundo Delfim Neto, o país sofreu um prejuízo de R$45,2 bilhões nestes 15 meses de apagão. Esse foi certamente oapogeu da propalada e ostentada “competência” tucana.

Walter Pinheiro sempre foi um deputado atuante no proces-so legislativo, destacando-se como negociador e proponente de

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52emendas destinadas a melhorar os textos em debate. Ele foi pre-sidente da comissão que discutiu e reelaborou a proposta de Leidas Agências Reguladoras. Teve também participação destaca-da no debate sobre a elaboração de Lei Geral das Telecomuni-cações e do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico). Procurou criar diretrizes legais que facili-tassem a descentralização industrial no Brasil. Lutou sempre pelainstalação de parques tecnológicos, inclusive em Salvador.

O reconhecimento das profissões de agentes comunitáriosde saúde e combate às endemias contou com a atuação decisi-va de Walter Pinheiro. Ele participou também ativamente do es-forço pela criação da EBC – Empresa Brasil de Comunicação –e se empenhou ao máximo pela criação de duas universidadesfederais em território Baiano, uma no Recôncavo e outra no Valedo São Francisco.

Em 2008, Walter Pinheiro, indicado pelo PT e apoiado poruma coligação, disputou a prefeitura de Salvador e a disputa foipara o segundo turno. No segundo turno, Walter Pinheiro foi su-plantado por João Henrique (PMDB) que obteve 58,46% dos vo-tos, contra 41,54% atribuídos ao candidato do PT.

Em 2009 Walter Pinheiro licenciou-se da Câmara dos Depu-tados para assumir a Secretaria do Planejamento do governoJaques Wagner, do PT. Neste posto, Walter Pinheiro trabalhou noplanejamento de obras estratégicas para o futuro da Bahia, comoa ferrovia oeste-leste, o porto Sul, o novo aeroporto de Ilhéus emuitas outras.

Em 2010, eram duas as vagas em disputa para a renovaçãodo Senado. A aliança da qual fazia parte o PT e a base de apoiodo governador Jaques Wagner apresentou dois candidatos: WalterPinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB). Os dois foram eleitos. WalterPinheiro chegou em primeiro lugar com 31% dos votos.

Como evangélico, de confissão Batista, Walter Pinheiro de-sempenhou papel essencial nas articulações pró-Dilma Rousseffno segundo turno das eleições presidenciais de 2010, especial-mente para neutralizar as ondas de boatos, via internet, dissemi-nadas pela campanha de José Serra, para indispor a candidatacom o setor evangélico da sociedade.

Walter Pinheiro foi Líder da Bancada do PT no Senado. Con-tribuiu para a articulação das forças políticas que apoiam o go-verno da Presidenta Dilma Rousseff, para evitar reveses.

Em 2012, esteve na pauta do Senado o chamado escândalodo Carlos Cachoeira, bicheiro de Goiás flagrado, pelo Polícia

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Federal, em suas relações íntimas com Demóstenes Torres, se-nador pelo DEM, e com Marconi Perillo, governador de Goiás,eleito pelo PSDB. Como Líder do PT, Walter Pinheiro agiu comrapidez e eficácia para criar uma CPMI destinada a investigar oassunto. No âmbito da Comissão de Ética do Senado, a quemcabia examinar o caso específico do Senador Demóstenes Tor-res, a Bancada do PT, via Walter Pinheiro, indicou como relatoro senador Humberto Costa (PT-PE). Ele produziu um relatório,pedindo a cassação de Demóstenes Torres, que mereceu a apro-vação unânime dos senadores membros do colegiado. Submeti-da ao Plenário, a proposta foi também acolhida por maioriainequívoca.

O mandato de Demóstenes Torres foi cassado, ele voltoupara Goiás e reingressou no Ministério Público do Estado, deonde era originário. Cabe agora, a este Ministério Público e àJustiça, excluir este malfeitor do serviço público, se quiserem serrespeitados.

A CPMI do Cachoeira contribuiu para a cassação deDemóstenes Torres e para a desmoralização de Marconi Perillo,na medida em que quebrou todos os sigilos dos dois e permitiuque centenas de documentos comprometedores fossem divulga-dos. Ela permitiu também provar que as acusações contra ogovernador Agnelo Queiroz (PT-DF) eram fraudulentas e produ-zidas pelo esquema criminoso de espionagem montado porCarlos Cachoeira e por sua parceira, a revista Veja.

Além desta importante CPMI, Walter Pinheiro desempenhoupapel de coordenador e articulador de outras iniciativas no âmbi-to do governo, como a aprovação do programa Brasil sem Misé-ria e a aprovação da Lei de acesso à informação.

No campo de iniciativas do Poder Legislativo, cabe ressal-tar um avanço. O Senado aprovou por unanimidade uma PEC,de autoria do Senador José Sarney, que restringe o uso deMedidas Provisórias pelo Poder Executivo. Ora, FHC baixou5400 MPs, o Presidente Lula baixou apenas 417 para realizarum governo infinitamente melhor, o PT não tem porque temer arestrição ao emprego de MPs, dentro dos limites do razoável.

Walter Pinheiro teve importante papel na condução datramitação de projetos vitais no Senado Federal para a consolida-ção do Brasil como referência em crescimento econômico susten-tável com justiça social.

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Ricardo Stuckert

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113XIX

João Paulo Cunha

Das Comunidades Eclesiais

de Base à presidência

da Câmara dos Deputados

Líder do PT de 20 de fevereiro de 2002 a 3 de janeiro de 2003

asceu em Caraguatatuba (SP) no dia 6 de junho de 1958, filhode José Venâncio da Cunha e de Isabel Ribeiro da Cunha. Con-cluiu o segundo grau na Escola Estadual Major Telmo Coelho,em Osasco (SP), em 1978. Aí mesmo começou a trabalhar naempresa Braseixos S/A. e a participar das atividades da oposi-ção sindical, que era estimulada pelas Comunidades Eclesiaisde Base (CEBS). Militou também na organização dos primeiros

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movimentos dos Sem-Teto da região de Osasco e dirigiu o Cen-tro de Defesa dos Direitos Humanos de 1979 a 1981. Nesteano de 1981, ele deixou a Braseixos e empregou-se como pro-gramador de produção na Açotécnica S/A., localizada em Jandira(SP). Filiou-se ao PT em 1981 e foi um dos organizadores daSNAI – Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais – do Parti-do.

Nas eleições de 1982, com o apoio das CEBS, elegeu-severeador. A partir de então, assumiu responsabilidades nadireção municipal do Partido e foi líder da Bancada do PTna Câmara Municipal de Osasco, função que ocupou até1989. A partir de 1986 entrou na direção estadual e con-cluiu o curso de formação de governantes, na Escola deGoverno montada pelo PT.

Nas eleições de 1990, João Paulo Cunha foi eleito deputadoestadual. Foi Líder da Bancada do PT em seu primeiro ano demandato. E representou o Partido, como membro efetivo de duascomissões permanentes: Redação e Regiões Metropolitanas, de1991 a 1994. No período de 1993 a 1994, representou o PT,como titular, da Comissão de Finanças e Orçamento.

Em 1994, João Paulo Cunha elegeu-se deputado federal, tendocomo base eleitoral Osasco e região. Para governador do Estadode São Paulo, o candidato do PT, José Dirceu, não foi ao segundoturno da eleição. Nesta etapa da disputa, o confronto foi entreMário Covas (PSDB) e Francisco Rossi (PDT). João Paulo Cunha semanifestou pelo apoio, no segundo turno, a Mário Covas. Esta foia posição adotada pela direção regional do PT. Ela recomendouaos filiados e simpatizantes do partido que votassem em MárioCovas que, afinal, foi o candidato eleito.

Na Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha participou de co-missões permanentes importantes: Orçamento e Desenvolvimento Ur-bano. Representou também o PT na comissão especial que tratou dareforma política, numa época em que a grande maioria dos partidospensava apenas em mudanças cosméticas. Ainda não percebiam agravidade do encarecimento absurdo das campanhas, em funçãodo financiamento privado. E aceitavam, em nome da democracia,uma pulverização exagerada de siglas que, só com muito favor, po-dem ser chamadas de partidos.

Nas votações dos Projetos de Emendas Constitucionais (PECs)oriundos dos laboratórios neoliberais de FHC, João Paulo Cunhaseguiu a orientação do Partido, votando contra a abolição domonopólio estatal das telecomunicações, da distribuição de gás

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canalizado, exploração do petróleo, da abertura da navegaçãode cabotagem a embarcações estrangeiras e da extinção do con-ceito de empresa nacional.

Em 1995 foi eleito presidente regional do PT do Estado deSão Paulo. Coube a João Paulo Cunha, como presidente doDiretório Regional, administrar turbulências internas no partido,particularmente a crise do PT de Diadema. Em 1996 foi o candi-dato do PT a prefeito de Osasco, mas não obteve sucesso. Noinício de 1997 votou contra a aprovação da PEC que instituiu areeleição para prefeitos, governadores e presidente. Fez coro àsdenúncias de compra de votos para a aprovação desta PEC. Asrenúncias e as gravações dos deputados Ronnie Von Santiago eJoão Maia, do então PFL de Rondônia, confirmaram as suspeitasde que houve compra de votos. Atualmente, até Fernando HenriqueCardoso, principal beneficiário da fraude, admite que ocorreucompra de votos para sua eleição, mas desdenha: Isso foi coisade políticos regionais, disse ele em mensagem por e-mail a RobertoJanine Ribeiro, do Jornal Valor Econômico.

Talvez, com isso, FHC quisesse sinalizar que tucanos de altaplumagem mexem com trambiques maiores. Não com a comprade votos a R$ 200,00 mil a unidade. Quem sabe com privatizaçõesdo sistema telefônico no limite da irresponsabilidade, como RicardoSérgio disse por telefone grampeado ao próprio FHC.

Em 1998, João Paulo se reelegeu deputado federal. Deste pos-to no parlamento acompanhou o lento declínio do governo FHC ede seu projeto neoliberal. Essa decadência se expressou num pedi-do de socorro ao FMI, materializado logo depois das eleições de1998, na maxidesvalorização do Real, em janeiro de 1999, emnovo pedido de socorro ao FMI em 2001, no apagão elétrico,ainda em 2001, e no último recurso ao FMI, em 2002, quando acredibilidade de FHC estava tão em baixa que o FMI, para conce-der o novo empréstimo, exigiu o aval dos três principais candidatosa presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, José Serra e Anthony Garo-tinho. Um a um, os candidatos foram chamados ao Planalto paraavalizar o acordo. Cumpriram este ritual certamente para evitarque o Brasil fosse declarado quebrado antes das eleições de 2002.

Em 2002, João Paulo Cunha foi reeleito deputado federal.Nesta mesma eleição, além de, numa aliança, eleger Luiz InácioLula da Silva Presidente da República, o PT elegeu a maior ban-cada da Câmara dos Deputados. Pelo Regimento Interno cabiaa ele indicar o candidato a presidente da Casa. A bancada do

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PT indicou João Paulo Cunha como seu candidato e ele foi elei-to Presidente da Câmara dos Deputados.

No plano legislativo, o primeiro desafio enfrentado por JoãoPaulo Cunha foi a condução das propostas de emendas constitu-cionais do governo do Presidente Lula, particularmente daquelaque tratava da reforma da Previdência e que tirava alguns privilé-gios dos servidores públicos melhor situados na carreira. No con-junto da sociedade, aquela PEC não enfrentava quase nenhumaoposição, tal a obviedade e justiça de seus objetivos, tanto é as-sim que foi aprovada com apoio de votos da oposição parlamen-tar. Mas no interior da Casa sofreu uma oposição selvagem porparte de alguns servidores de diferentes órgãos e de parlamenta-res supostamente de esquerda. O episódio serviu até de motepara o aparecimento de uma sigla que se julga de extrema-es-querda, o que não deixa de ser curioso. João Paulo Cunha con-duziu o processo com isenção e censo democrático. Em meio àvotação, quando julgou que os manifestantes tinham ultrapassa-do os limites, chamou a polícia para contê-los. Quando achouque a polícia fez uso desproporcional da força, criticou-a, se res-ponsabilizou pelo ocorrido e pediu desculpas. A reforma foi apro-vada sem maiores danos, nem para a Câmara dos Deputados,nem para o Governo, nem para os servidores.

No plano administrativo, João Paulo Cunha ampliou signifi-cativamente a capacidade de comunicação da Câmara dosDeputados com a sociedade, não somente porque reforçou ojornalismo dos diferentes meios de comunicação da Casa, masporque, na área administrativa, dotou o Poder de meiostecnológicos que dão absoluta transparência a todos os gastosefetuados em cada setor da instituição.

Em 2005, o nome de João Paulo Cunha foi envolvido no es-cândalo do chamado mensalão imaginado pelo então DeputadoRoberto Jefferson (PTB-RJ). Segundo Roberto Jefferson, o PT efetu-aria pagamentos mensais a deputados para que votassem favo-ravelmente às propostas do governo. Importante ressaltar que estatese levantada por Roberto Jefferson sempre careceu de verossi-milhança e que, nos autos do processo, nem mesmo ele tentousustentá-la.

João Paulo Cunha foi acusado de ter sacado, por intermédiode sua esposa, R$ 50 mil em uma agência do Banco Rural, naqual Marcos Valério operava repasse de verbas. Em sua defesa,João Paulo Cunha apresentou um ofício do Tesoureiro Nacionaldo PT autorizando-o a efetuar aquele saque. Mais adiante surgiu

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outra denúncia contra João Paulo Cunha: A agência publicitáriade Marcos Valério, a SMP&B, que fora responsável por sua cam-panha publicitária para Presidente da Câmara, ganhou licitaçãopara fazer a publicidade da própria Câmara. Foi então abertoprocesso contra João Paulo Cunha no Conselho de Ética da Câ-mara que recomendou a cassação de seu mandato. Esta reco-mendação do Conselho de Ética foi submetida ao Plenário daCâmara que, no dia 5 de abril de 2006, rejeitou a decisão doConselho e absolveu João Paulo Cunha. Mas Antônio Fernandode Souza, procurador-geral da República, incluiu o nome de JoãoPaulo Cunha na lista de denunciados que encaminhou ao STF.

Sob intenso fogo da imprensa golpista, João Paulo Cunhavoltou a ser eleito deputado federal nas eleições de 2006 e2010. No julgamento/espetáculo do chamado processo domensalão, iniciado em agosto de 2012, para coincidir com operíodo de propaganda das eleições municipais, em decisãoque se configurou no dia 12 do mesmo mês, João Paulo Cu-nha foi considerado culpado. João Paulo Cunha aguarda a de-cisão final do Supremo sobre o Embargo Infringente por eleimpetrado.

O PT e outros setores democráticos da sociedade recebe-ram com espanto os procedimentos e métodos utilizados peloSTF neste processo. Eles parecem cheios de exceções capri-chosas e desconsideram princípios estabelecidos do direito li-beral. Às vezes lembram julgamentos ocorridos em Berlin, em1933, e Moscou, em 1936.

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XX

Nelson Pelegrino

Advogado dos movimentos

sociais e dos Direitos Humanos

Líder do PT de 3 janeiro de 2003 a 29 de janeiro de 2004

asceu em Salvador, Bahia, no dia 27 de dezembro de 1960. Éadvogado formado pela Faculdade de Direito da Bahia (UFBA)em 1986. Ainda no curso secundário participou das atividades doGrêmio. Sua militância política começou, portanto, no movimen-to estudantil. Foi presidente do Diretório Acadêmico da UFBA ediretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) de 1983 a 1984

De 1985 a 1990, Nelson Pelegrino atuou como assessor ju-rídico de diferentes sindicatos, como o Sintell (Sindicato dos Tra-balhadores nas Telecomunicações da Bahia), no Sindicato dosEmpregados de Empresas de Segurança e Vigilância do Estado

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da Bahia, no Sindicato dos Músicos Profissionais, no Sindicatodos Empregados de Empresas e Entidades Culturais e Recreati-vas, entre outros.

Entre os anos 1987 e 1990, Nelson Pelegrino foi assessor ju-rídico da bancada do PT na Assembleia Legislativa da Bahia. Em1995 foi membro do Conselho Estadual de Direitos Humanos daBahia, órgão consultivo da Secretaria de Estado da Justiça, Cida-dania e Direitos Humanos. Em 1990, foi eleito deputado estadu-al. Durante esta legislatura foi presidente do PT regional e Líderdo Partido na Assembleia Legislativa. Em 1994, Nelson Pelegrinofoi reeleito deputado estadual. Na Assembleia Legislativa da Bahiateve atuação marcante na área de defesa dos Direitos Humanos,presidindo a Comissão Permanente que trata do tema. Além dis-so, Nelson Pelegrino disputou a prefeitura de Salvador pelo PT emtrês eleições: 1996, 2000 e 2004.

Em 1998, Nelson Pelegrino foi eleito deputado federal. Che-gou à Câmara dos Deputados no começo de 1999, quando afase triunfante do neoliberalismo já era passado. A economia dopaís tinha sido severamente golpeada pela maxidesvalorizaçãodo Real, imposta pelo mercado em meados de janeiro, portanto,no primeiro mês do segundo governo de FHC que foi vazada erevelou as relações perigosas de Cacciola, dono do Banco Fonte-Cidam, com o então presidente do Banco Central, Francisco Lopes.

Como deputado federal, Nelson Pelegrino presidiu a ComissãoPermanente dos Direitos Humanos e foi membro do Conselho Na-cional de Defesa dos Direitos Humanos, órgão consultivo do Minis-tério da Justiça. Participou também dos esforços para articular pro-jetos que regulamentam e titulam as áreas de remanescentes dequilombos, assim como dos debates que levaram à regulamenta-ção da anistia aos perseguidos políticos da época da ditadura. Ain-da neste período esteve em Durban na África do Sul, integrando adelegação brasileira nas conferências mundiais contra o racismo.

Em 2002, nas eleições que levaram Luiz Inácio Lula da Silva àPresidência da República, Nelson Pellegrino foi reeleito deputadofederal pela Bahia. Em 2003, na estreia do governo do PresidenteLula, ele foi eleito líder do PT na Câmara dos Deputados. ComoLíder da maior Bancada da Casa, coube a ele a difícil tarefa deaprender e ensinar à Bancada como ser governo. Na época, al-gumas pessoas costumavam ironizar, diziam que o Brasil ia mal,porque o PFL, há quinhentos anos apoiando todos os governos,não sabia fazer oposição e o PT, que desde seu nascimento tinhasido oposição, não sabia governar. A experiência logo mostrou

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que o PT tinha capacidade para governar. Recebeu uma econo-mia à beira do colapso. Com risco país a 2.400 pontos, taxa dejuros a 25%, inflação a 12,5%, taxa de desemprego de 12,6%,salário mínimo de 70 dólares, reservas cambiais praticamentenulas. Quase toda a energia do primeiro ano do governo do Pre-sidente Lula foi gasta na luta para apagar o pavoroso incêndiocontido nos números acima citados. Mas o PT e seus aliados semostraram capazes de tirar o país da beira de um colapso econô-mico, colocando-o no caminho do desenvolvimento, pela primei-ra vez com distribuição de renda e inclusão social.

A primeira batalha importante enfrentada por Nelson Pelegrinofoi a da Reforma da Previdência. Um dos objetivos da iniciativa erareduzir privilégios de servidores públicos para manter de pé um siste-ma ameaçado por um déficit crescente. O clima ficou muito tensonos corredores do parlamento. A matéria foi aprovada, inclusive comtaxações dos inativos, até com votos da oposição. Mas NelsonPelegrino sofreu muita pressão, até de companheiros petistas de es-pírito mais corporativo, que terminaram por deixar o PT.

A segunda batalha foi a da reforma tributária. Aí a constru-ção de alianças foi e ainda é mais difícil. A bancada governistaconseguiu aprovar medidas emergenciais, como a prorrogaçãoda CPMF (Contribuição Provisória Sobre Movimentações Finan-ceiras) e da DRU (Desvinculação de Receitas da União). Medi-das mais ambiciosas, como a unificação da legislação sobre oICMS para simplificar o sistema tributário e combater a guerrafiscal ficaram para depois.

Mas muitas outras batalhas foram travadas no Plenário aolongo da liderança de Nelson Pelegrino. Entre elas cabe desta-car a aprovação da Lei que definiu um novo modelo para oSetor Elétrico, destinado a substituir o modelo tucano que en-trou em pane em 2001 e gerou um gigantesco e prolongadoapagão elétrico, causando severos danos à economia nacio-nal; a criação do Prouni, que abriu as portas do ensino superi-or para centenas de milhares de jovens pobres, também sofreuoposição acirrada em Plenário. Depois da derrota, o DEM ain-da recorreu ao STF para solicitar que fosse declaradainconstitucional a Lei que criou o Prouni. Também a criação doEstatuto do Desarmamento, bandeira essencial dos DireitosHumanos, requereu grande esforço, já que a bancada da balasempre foi muito forte no Congresso.

Nas eleições de 2006, Nelson Pelegrino foi reeleito deputa-do federal para cumprir seu terceiro mandato. Sempre preocu-

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pado com os direitos humanos, defendeu a criação de um siste-ma integrado entre os governos federal e estadual para admi-nistrar a política carcerária, atuou com empenho para a apro-vação da PEC 487/05, que ampliou e declarou as atribuiçõesda Defensoria Pública, assegurando sua autonomia funcional,administrativa e financeira.

No dia 4 de maio de 2009, a convite do governador JaquesWagner, Nelson Pellegrino deixou a Câmara dos Deputados paraassumir o cargo de Secretário de Justiça, Cidadania e DireitosHumanos da Bahia. Aí promoveu avanços significativos na pro-moção dos direitos humanos, através dos Planos Estaduais dosDireitos Humanos e de Educação e Direitos Humanos. O desa-fio sempre foi combater o crime organizado sem entrar na lógi-ca perversa da violência gerando mais violência. Em 29 de mar-ço de 2010, Nelson Pellegrino desincompatibilizou-se da Secre-taria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos para concorrerà reeleição como deputado federal. Nas eleições de 3 de outu-bro daqule ano, ele conquistou seu quarto mandato de deputa-do federal.

Neste seu quarto mandato, Nelson Pelegrino tem sido o coor-denador da Bancada da Bahia no Congresso Nacional. Nomea-do pela Presidenta Dilma Roussef, ele é um dos vice-líderes dogoverno na Câmara dos Deputados, participa, portanto, dos pro-cessos de debate e negociação das iniciativas do governo quepassam pelo parlamento nacional.

Nas eleições municipais de 2012, Nelson Pelegrino foi o can-didato a prefeito de Salvador, pelo PT, com o apoio de uma am-pla aliança. Passou para o 2º Turno com 39,73%, menos de umponto percentual atrás de ACM Neto, candidato do DEM. Mas foiderrotado no 2º Turno.

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Atuação no movimento sindical

na construção partidária

e no parlamento

Líder do PT de 29 de janeiro de 2004 a 23 de fevereiro de 2005

asceu em Serra Azul (SP), no dia 24 de dezembro de 1949, filhode Arlindo Chinaglia e de Maria Amélia Felício Chinaglia. ArlindoChinaglia é médico formado pela Universidade de Brasília em1975. Especializou-se em Saúde Pública na Universidade de SãoPaulo (USP) em 1977.

Entre 1977 e 1978 fez a residência médica e, em 1980,clínica médica no Hospital do Servidor Público do Estado deSão Paulo. Neste período presidiu a Associação dos MédicosResidentes e Internos daquele hospital. Trabalhou também como

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médico do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previ-dência Social (INAMPS).

Filiou-se ao PT na primeira hora, em 1980. Procurou sempreconciliar a atividade partidária com a militância sindical. Em de-corrência, teve participação destacada no 1º Congresso Nacio-nal das Classes Trabalhadoras, realizado em Praia Grande, SãoPaulo, de 21 a 23 de agosto de 1981, onde foi decidida a funda-ção da CUT – Central Única dos Trabalhadores . Depois destecongresso histórico, Arlindo Chinaglia participou, por uma déca-da, das direções colegiadas da CUT nacional.

Foi membro ativo das entidades representativas de sua cate-goria profissional, desde sua época de estudante até 1984, quandoassumiu a presidência do sindicato dos Médicos do Estado deSão Paulo por dois mandatos consecutivos. Em 1985 representoua CUT no XL Congresso da Confederatión Française Democratiquedu Travail, CFDT, ligada ao Partido Socialista Francês, em Bordeaux,na França. Exerceu também o cargo de vice-presidente da Fede-ração Nacional dos Médicos por um período de três anos.

Nas eleições de 1986 candidatou-se a uma vaga naAssembleia Legislativa do Estado de São Paulo, obteve apenasuma suplência. Foi eleito Secretário-Geral da CUT São Paulo parao exercício de 1987-88 e, em seguida, foi eleito presidente da-quela central para os exercícios 1988/89 e 1989/90.

Nas eleições de 1990, Arlindo Chinaglia elegeu-se deputadoestadual. Atuou sempre com determinação e firmeza no combateà corrupção e aos desvios do Executivo paulista. No período 1992/03, Arlindo Chinaglia foi Presidente do Diretório Regional do PTde São Paulo.

Em 1994, ele se elegeu deputado federal. Neste mandatoparticipou como titular de duas comissões permanentes: Fisca-lização e Controle e da Comissão de Constituição e Justiça(CCJ).

Este primeiro mandato de Arlindo Chinaglia como deputadofederal, coincide com o primeiro mandato presidencial de FHC,período, portanto, do apogeu do projeto neoliberal. Não obstante,Arlindo Chinaglia, já no terceiro mês do governo pediu a aberturade um inquérito para investigar a concorrência para o forneci-mento e instalação dos equipamentos para o Sistema de Vigilân-cia da Amazônia (Sivam) – projeto governamental destinado amonitorar o espaço físico da Amazônia brasileira através de umsistema integrado de radares e sofisticados equipamentos de co-municação, meteorologia e sensoreamento remoto -, vencida pela

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empresa americana Raython, com ajuda de muito lobby, até comcarta de Bill Clinton a Itamar Franco.

O Projeto Sivam era orçado em US$1,5 bilhão e vinha sendoobjeto de várias denúncias de superfaturamento e de corrupção,envolvendo pessoas do Ministério da Aeronáutica, da Secretariade Assuntos Estratégicos, da Embaixada brasileira em Washing-ton, de empresas nacionais e internacionais. A proposta de inves-tigação incluía também a Esca, empresa brasileira responsávelpelo gerenciamento do Sivam e pelo desenvolvimento de umsoftware de controle do projeto, escolhida sem licitação.

A denúncia, formulada e provada por Arlindo Chinaglia, deque a Esca fraudava a Previdência, fez com que o governo exclu-ísse aquela empresa do processo e assinasse o acordo apenascom a americana Raython. Arlindo Chinaglia articulou a criaçãode uma CPI para investigar este episódio, conseguiu o número deassinaturas legalmente exigido para sua criação, mas a iniciativafoi bloqueada pelo poder discricionário de Luiz Eduardo Maga-lhães (PFL-BA), então presidente da Câmara dos Deputados. Ain-da por iniciativa de Arlindo Chinaglia, passou a tramitar na Justi-ça Federal uma ação popular visando à anulação do contratocom a Raython.

Nas votações das PECs propostas pelo governo FHC, ArlindoChinaglia e toda a Bancada do PT opôs uma resistência tenaz.Votaram contra as propostas de quebra do monopólio dos Esta-dos sobre a distribuição de gás canalizado, contra a abertura danavegação de cabotagem para embarcações estrangeiras, amudança do conceito de empresa nacional, a quebra do mono-pólio estatal das telecomunicações e a quebra do monopólio daPetrobras na exploração do Petróleo. A Bancada do PT foi derro-tada em sua pretensão de deter a onda neoliberal, mas cobrouum alto preço em matéria de desgaste do governo FHC.

Neste período participou de um agrupamento interno deno-minado “Hora da Verdade”, situado à esquerda da “Articulação”,tendência hegemônica no PT. O objetivo era arejar e oxigenar oPartido principalmente em suas instâncias superiores, asseguran-do uma maior circulação de ideias e estimulando o debate demo-crático. No encontro nacional do PT, realizado no Rio de Janeiroem 1998, Arlindo Chinaglia, num acordo entre diferentes tendên-cias, foi conduzido ao cargo de Secretário Geral.

Em janeiro/fevereiro de 1997, dentro da linha determinadapelo PT, expressou sua posição contrária à PEC que instituía odireito à reeleição para prefeitos, governadores e presidente. Não

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se tratava de oposição de princípio à reeleição. Tratava-se de umcuidado de não permitir alterações nas regras do jogo durante ojogo e para beneficiar quem estava no governo. Ou seja, o PTpoderia aceitar a introdução da reeleição, desde que não fossepara a eleição do próximo ano (1998). Além dessa posição decombater um casuísmo evidente para beneficiar FHC, convémlembrar que aqui na vizinhança brasileira dois presidentes de re-putação duvidosa, Carlos Menen, na Argentina e Alberto Fujimori,no Peru, tinham antecedido FHC na obtenção do direito à reelei-ção, eram neoliberais e prontos para cometeram incontáveis atro-pelos contra seus países. Foi mais ou menos o que aconteceu comFHC, seu segundo mandato foi um desastre pior do que o primei-ro. Neste ano de 1997, Arlindo Chinaglia ainda exerceu com brioe rigor o cargo de Presidente da Comissão de Fiscalização e Con-trole.

Arlindo Chinaglia reelegeu-se deputado federal em 1998,coincidindo com o último mandato do declinante FHC, que foimarcado por episódios grotescos, como a maxidesvalorização doReal, imposta pelo mercado na metade de janeiro de 1999,apagão elétrico prolongado que causou danos consideráveis àeconomia nacional, em 2001, além de três recursos ao FMI, queprejudicaram significativamente a credibilidade do Brasil.

Neste período, Arlindo Chinaglia participou da luta parlamentarpara demonstrar os efeitos nefastos do populismo cambial sobrea macroeconomia, para denunciar a irresponsabilidade privatistado modelo aplicado pelos tucanos no setor elétrico e para alertarsobre as consequências da submissão do país ao FMI, submissãoque decorria da abdicação, pelos tucanos, do conceito de esta-do-nação, e de sua integral rendição ao deus mercado, entidademítica que, segundo os tucanos, teria capacidade de resolver to-dos os nossos problemas.

Em janeiro de 2001, Arlindo Chinaglia licenciou-se da Câ-mara para assumir a Secretaria de Implementação dasSubprefeituras, durante a gestão de Marta Suplicy à frente dacidade de São Paulo. Permaneceu neste cargo durante um ano esaiu bem avaliado, descompatibilizando-se para buscar e con-quistar novamente uma vaga na Câmara dos Deputados naseleições de 2002.

A nova Bancada tomou posse em fevereiro de 2003. Sua pri-meira tarefa foi defender a Reforma da Previdência que, emborajusta e conscienciosa, despertava forte resistência, não só na soci-edade, mas nos corporativismos mais alucinados. Também em

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torno de uma reforma tributária razoável, não se produzia umamaioria sólida. Ao governo e ao PT restou se conformar com aaprovação de apenas alguns pontos emergenciais.

Além disso, cabia à Bancada a defesa de um governo querecebera uma economia à beira do colapso: risco país a 2.400pontos, inflação a 12,5%, Dólar cotado a R$ 4, ausência práticade reserva cambial, desemprego de 12%. A posição adotada peloPresidente Lula não foi a de buscar confrontos, pelo contrário,procurou tirar o país, em ordem, da beira do abismo. Tomoumedidas impopulares para acalmar o mercado, os juros chega-ram aos 26,5%, a meta de superávit primário de 3,75% do PIB,foi aumentada para 4,25%. O poder de compra do salário míni-mo não se alterou no primeiro ano. E o papel da Bancada eraexplicar às bases a necessidade destas medidas.

Em outubro de 2003, depois de dez meses de uma dietaamarga, a economia já dava sinais de recuperação. Os C-Bonds,títulos brasileiros vendidos no exterior, estavam em recuperação,já alcançavam 93,64% do valor de face, o crédito do Brasil es-tava sendo reestabelecido; o risco país caíra de 2.400 pontospara 600 pontos, e o dólar estava sendo vendido a R$ 2,83, umcâmbio aceitável. Estes números sugeriam que teríamos um anode 2004 melhor.

Arlindo Chinaglia assumiu a liderança do PT em 29 de janeirode 2004. A economia confirmou os otimistas, nos primeiros 9meses de 2004 houve crescimento de 5,3%, com relação ao mes-mo período de 2003. Na geração de empregos 1,8 milhões devagas foram criadas. Nas eleições municipais o PT ampliou onúmero de prefeituras sob sua administração, perdeu, no entan-to, em São Paulo e em Porto Alegre.

Mas o centro da tática da oposição se revelou em 18 demaio, numa reportagem da revista Época, baseada num vídeofornecido por Carlos Cachoeira, em que se via Waldomiro Dinizpedindo uma propina a Carlos Cachoeira. Na época da grava-ção da fita, Waldomiro Diniz era Presidente da Loterj (Loteria doEstado do Rio de Janeiro), portanto membro do governo AnthonyGarotinho. Na época da divulgação, Waldomiro Diniz era as-sessor da Casa Civil, conduzida por José Dirceu. Diante da de-núncia, o governo demitiu Waldomiro Diniz e conseguiu bloque-ar, através de seus líderes, as tentativas de criar uma CPI parainvestigar o caso. O argumento era óbvio: se alguém quisesseinvestigar os desvios de conduta de Waldomiro que abrisse umaCPI na Assembleia do Rio de Janeiro.

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Desde então, a oposição deixou de ser um confronto de ideiase de propostas, passou a ser uma tentativa diuturna da imprensagolpista de convencer, sem sucesso, a população de que acorrupção começou no Brasil com o advento do governo Lula. Aoposição parlamentar ficou cada vez mais reduzida à função derepercutir e explorar os escândalos forjados com a ajuda de CarlosCachoeira ou superdimensionados de má fé com a intenção deobter dividendos eleitorais. Muitas vezes os “escândalos” atribuí-dos ao governo eram fruto da investigação sistemática levada acabo por órgãos do Estado como a Controladoria Geral da União(CGU) e a Polícia Federal. A intenção da imprensa golpista eraclara. Ela procurava fazer o amálgama, confundir a opinião pú-blica, apresentar o combate à corrupção que, pela primeira vezestava sendo travado, como sinal de aumento da corrupção. Estaconfusão interessa à oposição porque boa parte de seus mem-bros tem um vasto histórico de corrupção, não só nos governosanteriores, mas até hoje nos postos que lhes cabe ocupar. Valelembrar o caso de José Roberto Arruda, ex-governador do DistritoFederal e dos pupilos de Carlos Cachoeira, Demóstenes Torres,ex-senador por Goiás e Marconi Perillo, governador de Goiás.

No início de sua liderança, Arlindo Chinaglia respondeu àspressões e provocações surgidas a partir da matéria da Épocasobre as relações de Waldomiro Diniz com Carlos Cachoeira.Posteriormente surgiu um áudio deste mesmo Carlos Cachoeira,durante uma madrugada de Brasília, dentro da sede do MinistérioPúblico, em Brasília. Nesta gravação José Roberto Santoro, pro-curador privado de José Serra, disfarçado de Subprocurador daRepública, interroga Carlos Cachoeira. Na fita fica claro que elenão está nem um pouco preocupado em investigar os malfeitosde Waldomiro Diniz. Na verdade ele busca uma foto desteindigitado saindo algemado do Planalto para “ferrar” José Dirceue o Presidente Lula. Nesta fita, ele manifesta também a preocupa-ção de que, com a proximidade do amanhecer, ele venha a sersurpreendido pelo Procurador Geral da República, Cláudio Fontelesnum interrogatório suspeito durante a madrugada.

Por último, mas não menos importante, vale registrar que JoséRoberto Santoro foi um dos coordenadores da operação Lunus,que desmontou a candidatura Roseana Sarney à presidência daRepública, para viabilizar a candidatura de José Serra como orepresentante da direita na campanha de 2002. Com a divulga-ção da fita, José Roberto Santoro solicitou e obteve aposentado-ria do Ministério Público Federal, aos cinquenta anos. Desde en-

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tão se recolheu à sombra da aposentadoria precoce, mas nãodeve estar muito distante do ninho do ovo da serpente, que conti-nua chocando em alguns escaninhos do Ministério Público.

Ainda sob a liderança de Arlindo Chinaglia, a Bancada do PTfoi chamada a se posicionar sobre a sucessão de João Paulo Cu-nha no cargo de Presidente da Câmara. A maioria optou pelonome do deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP), contra o de-putado Virgílio Guimarães (PT-MG). Preterido na Bancada, VirgílioGuimarães se inscreveu como candidato avulso. No dia 15 defevereiro de 2005, além dos petistas citados, participaram da dis-puta também Severino Cavalcanti (PP-PR), apresentando-se comoo candidato do baixo clero e José Carlos Aleluia, representando oPFL.

Foram para o segundo turno Luiz Eduardo Greenhalg eSeverino Cavalcanti. No segundo turno venceu SeverinoCavalcanti, que obteve 300 votos, contra Greenhalg que obteve195 votos. Este foi o momento mais sombrio do PT no Parlamen-to. A bancada e o governo passaram a viver uma grande instabi-lidade em suas relações com o Presidente da Câmara, pessoaque não dispunha dos requisitos para exercer aquele cargo. Nes-te dia a direita parlamentar teve o que comemorar, fez uma apos-ta irresponsável e venceu, soube explorar a ligeireza de um parla-mentar petista. A instabilidade duraria até 28 de setembro, seismeses, quando Severino Cavalcanti foi substituído por Aldo Rabelo(PC do B – SP). Em outro capítulo este assunto será tratado. ADireção Nacional puniu Virgílio Guimarães com uma suspensãodo Partido, pelo ato de desobediência a uma decisão tomadademocraticamente numa instância partidária.

O mandato de Arlindo Chinaglia, como Líder do PT, encer-rou-se no dia 23 de fevereiro de 2005. Em seguida ele foi nome-ado Líder do governo na Câmara dos Deputados. Sua missãopassou a ser coordenar as bancadas governistas no que diz res-peito à tramitação das matérias legislativas e à defesa do governono debate político sobre o chamado escândalo do mensalão.

O clima no interior do Parlamento não podia ser mais tenso,diariamente os ataques virulentos se sucediam, Arlindo Chinagliarespondia com firmeza e serenidade a todos eles, fazendo-se res-peitar e deixando claro que nada temia. Severino Cavalcanti con-duzia as sessões mostrando muita insegurança, seus critérios nadistribuição das relatorias eram subjetivos e fisiológicos, sua prin-cipal preocupação era cumprir a promessa de campanha de darum aumento salarial e outras vantagens para os deputados.

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A oposição, que havia votado em Severino Cavalcanti com aintenção clara de bagunçar o coreto, logo apresentou a fatura,protocolou um pedido de abertura de um processo deimpeachment, contra o Presidente Lula. A oposição sabia que nãodispunha de dois terços dos votos dos deputados, condição ne-cessária para se abrir um processo de crime de responsabilidadecontra o Presidente da República. Mas era de seu interesse ampli-ar ao máximo a tensão política, e torcer para que ela contaminas-se a economia que começava a retomar o crescimento. Criandoum cenário de conturbação política e de paralisia econômica, aoposição considerava que estaria mais bem situada para venceras eleições de 2006.

Severino Cavalcanti, depois de analisar através de sua asses-soria, o requerimento de abertura de processo de Impeachmentcontra o Presidente Lula, talvez por patriotismo pernambucano,indeferiu o requerimento e frustrou o objetivo da oposição.

Essa decisão despertou a ira da oposição contra SeverinoCavalcanti. Daí em diante, o frágil Presidente da Câmara, quehavia feito a felicidade da oposição e de sua imprensa golpista,quando derrotou Luiz Eduardo Greenhalg, foi rapidamente trans-formado em bête noire pela imprensa golpista. Diariamente elepassou a ser bombardeado e ridicularizado até que, em setem-bro, o dono de um restaurante que funcionava dentro da Câmaraapresentou a cópia de um cheque de R$ 10 mil que, segundo ele,era o valor da propina que mensalmente ele pagava a SeverinoCavalcanti para que seu restaurante continuasse a funcionar nasdependências da Casa. Diante desta pressão, Severino Cavalcantirenunciou ao cargo de Deputado e consequentemente à presi-dência da Câmara.

A eleição para o novo presidente da Câmara foi marcadapara 28 de setembro de 2005. O governo e sua base aliadaapresentaram o nome de Aldo Rebelo (PC do B-SP) como candi-dato e a oposição apresentou o nome de José Thomaz Nonô(PFL-AL). A disputa foi acirrada, mas Aldo Rebelo venceu comuma margem estreita. Esvaziou-se aí o projeto de golpe parla-mentar da direita. Thomaz Nonô na presidência da Câmara eraa garantia de que toda e qualquer proposta de impeachmentcontra o Presidente Lula seria aceita. A proposta que SeverinoCavalcanti recusou foi redigida pelo promotor Thomaz Nonô eele parecia inteiramente compenetrado para desempenhar opapel de Carlos Luz, aquele presidente da Câmara que deson-rou o cargo quando junto com Carlos Lacerda e com o Almiran-

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te Pena Boto tentou impedir a posse de Juscelino Kubitschek.Não se sabe se FHC foi convidado para desempenhar o papelde Pena Boto ou de Carlos Lacerda.

Simultaneamente a essa crise de governabilidade da Câmaradesenrolava-se a CPI dos Correios, que era outra frente em buscada desestabilização do governo Lula. Ela foi instalada em 9 dejunho de 2005, com base em fitas produzidas pelo esquema CarlosCachoeira e divulgadas pela revista Veja. Ela encerrou-se em abrilde 2006, depois de denunciar 18 parlamentares, dos quais oitoforam absolvidos pelo plenário, 6 foram cassados e 4 renuncia-ram para não ser cassados.

O ambiente era sufocante para o PT e seus aliados; a impren-sa golpista jogava todas as suas fichas na derrota do PresidenteLula na eleição que se aproximava e na aniquilação eleitoral doPT. Jorge Bornhausem, porta-voz categorizado da direita, chegoua prever que sua turma estaria livre dessa raça (petistas) pelospróximos trinta anos. Esta afirmação, saindo de uma boca de as-cendência germânica de extrema-direita, pode causar arrepios elembrar campos de concentração e fornos crematórios, as laba-redas do inferno nazista.

Mesmo acadêmicos de direita, que podiam ser mais serenos,embarcaram nesta euforia anti-Lula e anti-PT. Thomas Skidimore,que assistiu o golpe de 1964 confortavelmente instalado na casado embaixador golpista norte-americano Lincoln Gordon, no Riode Janeiro, chamou Lula de “fantasma político” e prescreveu umafórmula para seus acólitos brasileiros administrarem a transiçãopara a era pós-Lula. Bresser-Pereira, acadêmico de boa reputa-ção se arriscou a afirmar: “a paralisação do governo é definitivae se tornou claro que o governo Lula terminou”.

Foi neste clima lúgubre que Arlindo Chinaglia partiu para aconquista da renovação de seu mandato. A expectativa da im-prensa golpista era de que a Bancada do PT fosse reduzida pelomenos em 50%. As urnas de 2006 frustraram as expectativas dadireita, Arlindo Chinaglia se reelegeu com relativa facilidade, oPresidente Lula se reelegeu no segundo turno praticamente com omesmo percentual obtido em 2002. Para deputado federal, o PTfoi o partido mais votado do Brasil. Perdeu oito vagas, ficou coma segunda maior Bancada, não em função de sua votação geral,mas por causa de uma imperfeição do sistema eleitoral que nãoassegura uma proporcionalidade rigorosa, o que acarreta estetipo de deformação. O fato de o Presidente Lula não ter obtido

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sua reeleição no primeiro turno, em função do chamado episódiodos “aloprados”, está explicado no capítulo XVI deste livro.

Conquistada a reeleição em 2006, Arlindo Chinaglia se lan-çou candidato a Presidente da Câmara dos Deputados. Além dele,apresentaram-se candidatos os Deputados Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Gustavo Fruet (PSDB-PR). Desta vez a disputa foi de baixorisco, o segundo turno foi disputado entre Arlindo Chinaglia eAldo Rebelo, dois membros convictos da base do governo. ArlindoChinaglia foi eleito por 261 votos a 243.

Na presidência Arlindo Chinaglia imprimiu rigor e austerida-de na administração, economizou nas horas extras pagas aos fun-cionários e cumpriu as promessas de votar as matérias prontaspara a ordem do dia independentemente de haver ou não con-senso sobre os temas. Foi assim na questão da reforma política.Ela havia passado por uma comissão especial presidida pelo de-putado Ronaldo Caiado (PFL-GO) e continha itens ambiciosos,como financiamento público de campanhas, voto em lista pré-ordenada, proibição de coligações em eleições legislativas e fide-lidade partidária definida em lei. Esta proposta tinha o apoio doPT e do PFL, os demais partidos estavam divididos ou eram con-tra. Ela foi derrotada em plenário. Mas é tão consistente que foireprocessada e pode voltar à ordem do dia a qualquer momentocom chances de ser aprovada.

Durante a gestão Arlindo Chinaglia, em 2007, a Câmaraaprovou a criação do Fundo de Desenvolvimento da EducaçãoBásica, que desempenha importante papel na qualificação e ex-pansão do ensino básico. A Câmara aprovou também a amplia-ção da licença-maternidade de 120 para 180 dias. A propostade prorrogação da CPMF foi aprovada pela Câmara, mas foirejeitada pelo Senado. Isso significou retirar do orçamento da saúdepública R$ 40 bilhões. É importante registrar que no Brasil os ri-cos não têm gastos com saúde. Tudo que eles gastam no sistemaprivado pode ser deduzido do Imposto de Renda. É por isso queretirar recursos da saúde é injusto e cruel. Naquela noite senado-res da direita, como Arthur Virgílio Neto, Tasso Jereissati, Efraimde Moraes, Heráclito Fortes e Marco Maciel puderam comemorarseu feito. Mas nas urnas de 2010 eles foram varridos do Senado.

Coube também a Arlindo Chinaglia, como Presidente da Câ-mara, assegurar a tramitação rápida e segura das Medidas Provi-sórias baixadas pelo Presidente Lula com o objetivo de conter osefeitos da crise financeira internacional, intensificados pela que-bra do Banco Leman Brothers verificada em 2008. O Brasil saiu-

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se bem daquele primeiro assalto da crise. Para desespero da im-prensa golpista, a vida mostrou que o Presidente Lula tinha razão.O tsunami transformou-se em uma marolinha.

Cumprido seu mandato de dois anos na presidência da Câ-mara, Arlindo Chinaglia participou como membro efetivo da Co-missão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. E presidiu aimportante comissão especial que tratou da definição de regraspara a exploração do pré-sal. Os projetos que tratam do pré-salforam aprovados, apenas um continua pendente, que é aqueleque estabelece as regras para a distribuição dos royalties do pe-tróleo e do gás entre os entes federativos.

Nas eleições de 2010, Arlindo Chinaglia participou da cam-panha que deu a vitória à Presidenta Dilma Roussef e reelegeu-sedeputado federal. No primeiro ano do governo da Presidenta DilmaRoussef, Arlindo Chinaglia foi relator da proposta anual de Orça-mento da União. No dia 13 de março de 2012, a PresidentaDilma Rousseff nomeou Arlindo Chinaglia para o cargo de Líderdo governo na Câmara, cargo que exerce até hoje.

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XXII

Paulo Rocha

Operário gráfico na construção

do PT e da CUT no Pará

Líder do PT de 23 de fervereiro de 2005 a 10 de agosto de 2005

asceu em Curuçá (PA), município de 30 mil habitantes, situado noNordeste do Estado, a 107 km de Belém, no dia 1º de abril de 1951,filho de Tomé de Assis Rocha e de Astrogilda Galvão Rocha. PauloRocha é técnico em artes gráficas e laboratorista fotomecânico.

Paulo Rocha filiou-se ao PT em 1981 e participou da executiva muni-cipal do partido até 1983. Neste ano, afastou-se da Executiva Municipaldo PT para assumir a presidência do Sindicato dos Trabalhadores nasIndústrias Gráficas de Belém. Em 1984 ele foi eleito presidente da CentralÚnica dos Trabalhadores, seccional do Pará. E, em 1986, passou a fazerparte da Comissão Executiva Nacional da CUT. Quando concluiu o man-dato de presidente do Sindicato dos Gráficos de Belém, passou a fazerparte da Comissão Executiva Regional do PT do Pará.

Em1990, Paulo Rocha foi eleito deputado federal. Na Câ-mara dos Deputados participou como membro efetivo da Co-missão do Trabalho, Administração e do Serviço Público e da

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CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investigouirregularidades na Previdência Social. Em seu primeiro congres-so, realizado em São Bernardo do Campo, de 27 de novembroa 1º de dezembro de 1991, o PT havia recusado a assumir deimediato a bandeira do Fora Collor, por julgá-la simplista e pre-cipitada. Mas deixou claro que a empunharia caso crescesse aconsciência de que Fernando Collor estava se isolando e fican-do cada vez menos capaz de governar.

Foi o que aconteceu em 1992, com uma sucessão de denúnciascontra um presidente que dispunha de uma base parlamentar limita-da, talvez de uma base social difusa, mas refratária a mobilizações eque contava com uma oposição da imprensa golpista, que haviafeito sua campanha, mas que agora mudara de lado. Diante dessequadro, o PT não teve dúvida, orientou sua base a assumir a bandeiraFora Collor, participou das articulações parlamentares que chegaram àCPMI que investigou e recomendou a cassação do presidente, partici-pou das articulações com a sociedade civil e recomendou a sua banca-da que votasse pela abertura do processo de impeachment contraFernando Collor. Paulo Rocha e toda Bancada do PT votaram peloimpeachment, no dia 29 de setembro de 1992. Data em que a Câma-ra decretou o afastamento de Fernando Collor das funções de Presiden-te da República.

Neste período, Paulo Rocha conseguiu aprovar uma lei de suaautoria. A Lei nº 8.632, de 4 de março de 1993, estabeleceu aconcessão de anistia a dirigentes ou representantes sindicais punidospor motivações políticas, por participação em movimentosreivindicatórios ou outra modalidade de exercício do mandato ourepresentação sindical. A lei assegurou ainda o pagamento dos sa-lários do período de suspensão disciplinar e, aos demitidos, a reinte-gração ao emprego com todos os direitos, no período compreendi-do entre outubro de 1988 e a sua publicação. Esta lei beneficiou,sobretudo, os funcionários públicos e trabalhadores de estatais de-mitidos pelo governo Fernando Collor.

Reeleito em 1994, Paulo Rocha foi relator de uma PEC que tratavade alocação de recursos para irrigação na Ilha de Marajó. No que dizrespeito às iniciativas do projeto neoliberal de FHC, alinhou-se com aBancada do PT, votou contra as quebras dos monopólios estatais, dastelecomunicações e do petróleo. Votou contra também a quebra domonopólio dos Estados na distribuição do gás canalizado. Da mesmaforma votou contra a quebra do monopólio nacional da navegaçãode cabotagem e contra a eliminação do conceito de empresa nacio-nal.

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No começo de 1997, Paulo Rocha se opôs ao projeto de EmendaConstitucional que instituiu o direito à reeleição para cargos majoritá-rios: prefeitos, governadores e presidentes. Em 1997, tornou-se mem-bro da recém-criada Comissão da Amazônia e Desenvolvimento Regi-onal, no ano seguinte foi presidente desta comissão permanente.

Nas eleições de 1998, Paulo Rocha elegeu-se pela terceiravez deputado federal pelo PT do Pará. No dia 10 de dezembrode 1998 o Senado aprovou o Projeto de Lei nº 929/95, de au-toria do deputado Paulo Rocha. No dia 29 de dezembro sancio-nou este projeto que define como crime as condutas que favore-cem ou configuram trabalho forçado ou escravo, nos termos doartigo 8º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,segundo o qual “ninguém é submetido à escravidão”. O projetoresultou de uma articulação com entidades governamentais enão-governamentais, com participação do Ministério do Traba-lho, do Ministério Público Federal; da Confederação Nacionalda Agricultura e do Fórum Contra a Violência no Campo.

Na legislatura que se iniciou em 1999, atuou na ComissãoPermanente da Amazônia e Desenvolvimento Regional. Teve atua-ção também na Comissão de Trabalho, Administração e ServiçoPúblico. Reelegendo-se novamente deputado federal, pelo Pará,na legislatura que se iniciou em 2003, Paulo Rocha voltou a atuarna Comissão de Trabalho e simultaneamente exercia a função depresidente do Diretório Regional do PT do Pará.

Em fevereiro de 2005, Paulo Rocha foi escolhido Líder do PT naCâmara dos Deputados. A CPI dos Correios, instalada depois queRoberto Jefferson (PTB) fez uma denúncia sobre um suposto mensalão,que seria pago pelo governo a parlamentares da base aliada, emtroca de votos pela aprovação de matérias de seu interesse, verificouque pessoa da confiança de Paulo Rocha recebeu R$ 420.000,00oriundos de uma conta de Marcos Valério, autorizado pelo Tesoureirodo PT. Diante desta denúncia, que caracterizava Caixa 2, temendo sercassado, Paulo Rocha renunciou ao mandato de deputado econsequentemente interrompeu sua liderança da Bancada. Foi substi-tuído interinamente no posto de Líder pelo deputado Fernando Ferro(PT-PE). Fernando Ferro conduziu a Bancada no processo de escolhado Deputado Henrique Fontana (PT-RS) para completar o mandato dePaulo Rocha, que estava na metade e, em seguida, exercer o mandatointegral de um ano, como é da tradição do PT.

Nas eleições de 2006, Paulo Rocha se reelegeu deputado federalpelo Pará. Em 2010, foi candidato pelo PT a uma vaga de Senadorpelo Pará. Eram duas as vagas em disputa, ele ficou em terceiro lugar,portanto, não obteve sucesso. No chamado julgamento do mensalãoPaulo Rocha foi declarado inocente.

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XXIII

Henrique Fontana

Em defesa dos governos Lula

e Dilma com firmeza

e determinação

Líder do PT de 1º de setembro de 2005 a 8 de fevereiro de 2007

asceu em Porto Alegre, em 18 de janeiro de 1960, filho deHenrique Fontana e de Mary Evangelina Sfredo Fontana. Formou-se em Administração, em 1982, pela Universidade Federal do RioGrande Sul (UFRGS). É formado também em Medicina, pela mes-ma UFRGS, em 1990.

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Henrique Fontana filiou-se ao PT em 1982. Participou, por-tanto, da construção do partido desde os seus primeiros passos epor ele foi eleito vereador em Porto Alegre, em 1992, quandoTarso Genro foi eleito prefeito para suceder Olívio Dutra, seu co-lega de partido. Em 1996, foi reeleito vereador, no pleito queelegeu Raul Pont (PT) para prefeito de Porto Alegre. Nesta ocasiãolicenciou-se da Câmara de Vereadores para exercer o cargo deSecretário de Saúde da capital gaúcha na administração Raul Pont.

Em 1998, Henrique Fontana desincompatibilizou-se da adminis-tração municipal, para disputar e conquistar uma cadeira na Câma-ra dos Deputados. Tomou posse em fevereiro de 1999, quandoFHC e seu neoliberalismo, alvejados por uma maxidesvalorizaçãovazada do Real, imposta pelo mercado, já haviam iniciado sua traje-tória de declínio. O resto do segundo mandato de FHC seria pontu-ado por episódios semelhantes à maxidesvalorização do Real, comoo apagão elétrico de 2001, além de três pedidos de socorro aoFundo Monetário Internacional (FMI), sempre com o pires na mão.

Em seu primeiro mandato, Henrique Fontana aplicou-se emparticipar dos debates sobre as grandes questões nacionais e emarticular os interesses do Estado do Rio Grande do Sul, entãogovernado por Olívio Dutra (PT), junto ao governo da União e aoCongresso Nacional. Neste mandato, atuou como membro efeti-vo da Comissão de Seguridade Social. Nesta área, apresentouprojeto de ampliação dos recursos para a saúde, com correçãodas tabelas de remuneração utilizadas pelo SUS. Propôs a cria-ção de uma CPI para investigar irregularidades cometidas pelosplanos de saúde. Apresentou uma proposta de regulamentaçãoda publicidade de medicamentos e também uma proposta quevisava reduzir os danos entre usuários de drogas injetáveis.

No plano mais geral, Henrique Fontana apresentou projetoque pretende estabelecer que a adesão do Brasil à ALCA (Área deLivre Comércio das Américas) só seria aprovada mediante plebis-cito envolvendo toda a população. O projeto ALCA tem um fortesabor neocolonial e depois da vitória do Presidente Lula, com oapoio da diplomacia Argentina pós-Menem, foi discretamenteposto em banho-maria. Mas, na hipótese de uma vitória republi-cana nos Estados Unidos, nas eleições deste ano de 2012, eleseguramente voltará com força. Ou seja, o projeto de plebiscitoapresentado por Henrique Fontana continua atual e pertinente.

Em 2002, Henrique Fontana foi reeleito deputado federal e asresponsabilidades da Bancada aumentaram com a chegada doPresidente Lula ao governo. Henrique Fontana já vinha ocupando

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um posto de vice-líder desde 2003. Quando o chamado escân-dalo do mensalão levou Paulo Rocha à renúncia, a Bancada es-colheu Henrique Fontana para sucedê-lo, concedendo-lhe um anoe meio de mandato como Líder.

No plenário da Câmara, como Líder do PT, revezando comArlindo Chinaglia, Líder do governo, Henrique Fontana lutou comoum leão na defesa do governo do Presidente Lula e do PT, duranteo chamado escândalo do mensalão. Os líderes da oposição coti-dianamente, contando com a mais ampla cobertura da imprensagolpista, insultavam, distorciam os fatos, e superdimensionavamos episódios. Henrique Fontana respondia com energia, mas semperder a serenidade, nem o sentido da lógica e ia desmontandoos discursos adversários. Assim, dentro do parlamento, o PT foiadministrando a crise.

Durante a Liderança de Henrique Fontana, o plenário tratoude matérias como a PEC que deu nova redação ao parágrafo 2ºdo Artigo 57 da Constituição, transformada em Emenda Consti-tucional nº 50/06, que estabeleceu que a sessão legislativa nãoserá interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizesorçamentárias. O Plenário aprovou também a PEC 548/02, queinstituiu o FUNDEB (Fundo Nacional de Ensino Básico). O plená-rio da Câmara aprovou ainda a PEC 548 /02, que estabeleceuampla liberdade para os partidos fazerem suas coligações eleito-rais. Esta reação pode ser interpretada como uma resposta à ten-tativa do STF de impor a chamada verticalização das coligações.Sem prejuízo de discussões futuras sobre reforma eleitoral no seuâmbito próprio, que é o Parlamento Nacional.

Na segunda metade de 2006, a Câmara dos Deputados so-freu um esvaziamento, a maioria dos parlamentares eram candi-datos à reeleição. O Presidente Lula também nesta eleição busca-va renovar seu mandato. Henrique Fontana logrou novo mandatode deputado nas urnas de outubro. Henrique Fontana encerrouseu mandato como Líder da Bancada do PT no dia 8 de fevereirode 2007. Em seguida, ele foi designado, pelo Presidente Lula,para o cargo de vice-líder do governo na Câmara dos Deputa-dos.

Posteriormente, em 23 de novembro de 2007, HenriqueFontana foi designado, pelo Presidente Lula, para o posto de Líderdo governo na Câmara dos Deputados, cargo que ocupou atéfevereiro de 2010.

Foi neste período que se deu o enfrentamento da maior crisefinanceira enfrentada pelo sistema capitalista desde 1929, que

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teve sua expressão mais dramática na quebra do banco america-no de investimento Lehman Brothers e que, em seguida, se espa-lhou por toda a economia americana, europeia e japonesa. Acrise atual dos países do primeiro mundo ainda está ligada aossolavancos provocados pela quebra do banco Lehman Brothers.

Felizmente o choque daquela crise se fez sentir com menosintensidade entre os países emergentes. Naquela época, o Presi-dente Lula disse que a tsunami da crise chegaria aqui como umamarolinha. Foi então achincalhado pela imprensa golpista quesempre torceu pelo pior. Mas o tempo mostrou que seu prognós-tico estava correto. Não porque ele tenha algum poder mágico,mas porque a economia brasileira estava mais forte. Haviaconstruído uma sólida reserva cambial, que permitia ao país re-sistir a ataques especulativos que ocorreram, mas não tiveramsucesso; o país havia ampliado seu mercado interno, que o torna-va menos vulnerável à natural retração da demanda para nossosprodutos exportáveis, e assim por diante.

Além desses pré-requisitos, construídos com antecedência, ogoverno do Presidente Lula reagiu de forma diametralmente opostaà forma como reagia FHC. Isso pode ser ilustrado desta forma.Diante da crise (I) FHC aumentava impostos, o Presidente Lulareduzia impostos, fazendo desonerações fiscais; (II) FHC aumen-tava juros, o Presidente Lula reduzia juros para facilitar o consu-mo; (III) FHC arrochava salários, o Presidente Lula aplicava políti-cas de aumento do salário mínimo para aumentar a capacidadede consumo da população. Aliás, num lance de ousadia, o Presi-dente Lula conclamou a população a continuar consumindo e anão se retrair diante da crise. Foi assim que o Brasil enfrentou aprimeira fase da crise. Agora estamos enfrentando a segunda faseda crise, sob a direção da Presidente Dilma Rousseff, com a mes-ma determinação. Este tema será explorado em capítulos posteri-ores.

Além das questões diretamente relacionadas com a crise, aCâmara dos Deputados, neste período em que coube a HenriqueFontana a Liderança do governo, tratou de várias outras matéri-as importantes. Destacam-se algumas: Transformou em Lei aMedida Provisória que autorizava o governo a criar a EBC –Empresa Brasil de Comunicação. Aprovou a MP que criou a cha-mada Lei Seca. Transformou em Lei as diretrizes para a políticade valorização do salário mínimo entre 2011 e 2023.

Para não cansar o leitor, serão citados apenas mais três pro-jetos longamente discutidos e aprovados pela Câmara. São três

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Projetos de Lei sobre a exploração do petróleo e gás do pré-sal: (I)Criou o Fundo Social do pré-sal – FS, com a finalidade de consti-tuir fonte regular de recursos para a realização de projetos e pro-gramas nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimentoda educação, da cultura, da ciência, da tecnologia e dasustentabilidade. (II) Pré-sal – A Lei autoriza a União a ceder àPetrobras o exercício de pesquisa e lavra de petróleo e outroshidrocarburetos na área do pré-sal. (III) Pré-sal – A Lei instituiu oregime de partilha da produção de petróleo e de outroshidrocarburetos no pré-sal e em outras áreas estratégicas.

Nas eleições de 2010, Henrique Fontana participou da coor-denação da campanha da Presidenta Dilma Roussef, no Rio Gran-de do Sul, ao mesmo tempo em que buscou e conquistou sua pró-pria reeleição. Na primeira metade do mandato da Presidenta DilmaRoussef, Henrique Fontana, em nome da Bancada do PT, dedicou-se, na condição de relator, à árdua tarefa de construir um projetode reforma política. Henrique Fontana sugeriu uma reforma políti-ca consistente, com itens como financiamento público de campa-nhas, proibição de coligações em eleições para cargos legislativos,voto em lista flexível e fidelidade partidária estabelecida em lei. Seuprojeto não foi à apreciação.

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XXIV

Luiz Sérgio

Metalúrgico da indústria naval

na construção do PT e da CUT

Líder do PT de 8 de fevereiro de 2007 a 12 de fevereiro de 2008

asceu em Angra dos Reis (RJ), no dia 9 de abril de 1958, filho deJosé de Oliveira e de Esolina Nóbrega de Oliveira. Filho de lavra-dor expulso de suas terras, sua origem política está nos movimen-tos sociais estimulados pela Igreja Católica comprometida com aTeologia da Libertação.

Iniciou-se na militância política no fim da década de 1979 naAção Católica Operária e nas Comunidades Eclesiais de Base,movimentos ligados à Igreja progressista. Em 1980 foi signatárioda Carta de São Bernardo, um dos documentos precursores domovimento que deu origem ao PT.

Em 1981 formou-se em mecânica na Escola Técnica do Riode Janeiro. No ano de 1983, concluiu o curso de leitura einterpretação de desenho mecânico e naval (delineador naval)

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no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Fre-quentou também a Escola de Formação Profissional do antigoEstaleiro Verolme.

Ativo no movimento sindical, Luiz Sérgio fez parte da chapavencedora das eleições para a direção do Sindicato dosMetalúrgicos de Angra dos Reis, em 1984, e, em 1987, foieleito presidente do Sindicato. Nas eleições municipais de 1988,Luiz Sérgio foi candidato a vice-prefeito de Angra dos Reis nachapa petista vitoriosa encabeçada por Neirobes Nagae. Em1992, Luiz Sérgio foi o candidato do PT à sucessão de NeirobesNagae. Venceu as eleições e fez uma administração bem suce-dida, o que lhe garantiu uma avaliação muito positiva da po-pulação, nada menos que 74% de aprovação, no fim de 1996quando concluiu seu mandato de prefeito. Certamente foi porisso que o sucessor de Luiz Sérgio foi José Marcos de Castilho,também ele filiado ao PT.

Ao deixar a prefeitura, Luiz Sérgio, assumindo um posto no PTmunicipal, passou a cuidar da organização do partido no municí-pio. Nas eleições de 1998 ele disputou e conquistou uma vagade deputado federal. Ao chegar a Brasília para tomar posse, emfevereiro de 1999, Luiz Sérgio se encontrou com um governo FHCe seu projeto neoliberal em decadência explícita. Na metade dejaneiro, primeiro mês do segundo mandato de FHC, o mercadoimpôs uma brutal desvalorização do Real. No ano de 2001 viriaum apagão elétrico prolongado e de grandes proporções queprovocou graves danos à economia nacional e desnudou airresponsabilidade da privataria tucana. Ao longo de seu segun-do governo, FHC recorreria mais duas vezes a empréstimos doFMI para manter a economia flutuando, ainda que à deriva.

Neste primeiro mandato, Luiz Sérgio foi um dos vice-líderesda Bancada do PT e integrou como titular a Comissão de Minas eEnergia da Câmara dos Deputados, órgão que adquiriu especialrelevância num momento de colapso explícito do sistema elétriconacional. Neste período, a Comissão de Minas e Energia organi-zou um Seminário sobre a crise de energia elétrica no Brasil queserviu de subsídio para a produção de uma brochura sobre otema. Detalhe importante: O Seminário acima referido foi reali-zado um ano antes do apagão de 2001.

Luiz Sérgio foi reeleito deputado federal pelo Estado do Rio deJaneiro em 2002. Voltou a Brasília no começo de 2003, comomembro destacado da base do governo do Presidente Lula. Vol-tou a ser vice-líder da Bancada do PT e a assumir um posto de

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membro da Comissão de Minas e Energia e da Comissão de Re-lações Exteriores e Defesa Nacional. Nesta legislatura acompa-nhou o PT em todos os embates. Tanto nos legislativos - em tornodas propostas de emendas constitucionais da Previdência Social,como nas propostas que tratavam da reforma tributária - comonos embates políticos, na defesa intransigente do PT e do governodo Presidente Lula contra os ataques insanos vindos da imprensagolpista e de sua clientela, a oposição demo-tucana.

Em 2006, quando o Presidente Lula foi reeleito, Luiz Sérgioconquistou seu terceiro mandato como deputado federal peloRio de Janeiro. Quando assumiu seu novo mandato, em feve-reiro de 2007, ele foi escolhido pela Bancada como seu novoLíder.

Na condição de Líder, coube a Luiz Sérgio conduzir, no plená-rio da Casa, a tramitação de inúmeras proposições de interessenacional. Vale ressaltar a PEC 272/2.000, que acrescentou arti-go ao Ato das Disposições Transitórias, assegurando o registronos consulados de brasileiros nascidos no exterior. Reparou assimgrave erro dos constituintes de 1988 que aprovaram um texto quetransformava em apátridas os brasileiros nascidos no exterior.

Foi também Luiz Sérgio que conduziu a Bancada do PT navotação da PEC que dispunha sobre a prorrogação da CPMF(Contribuição Provisória Sobre Movimentações Financeiras). OLíder defendeu a prorrogação com os mesmos argumentos usa-dos, na legislatura anterior, quando também havia votado pelacontinuidade da CPMF: ela pode ajudar no financiamento da saú-de pública, é um instrumento essencial no combate à sonegaçãofiscal e um dos poucos tributos cobrados no Brasil que é progres-sivo.

Na Câmara dos Deputados esta proposta foi aprovada, masno Senado ela foi rejeitada. Isto significou um corte de R$ 40bilhões no orçamento da saúde pública, praticado por senadoresque sempre tiveram assistência gratuita à saúde, pois, tudo queeles gastam no sistema privado pode ser descontado no Impostode Renda. Talvez por isso, os líderes dos cortes no orçamento dasaúde pública tenham sido expulsos do Senado pelo povo naseleições de 2010. Entre eles, Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Efraimde Moraes, Heráclito Fortes e Marco Maciel. Outros cairiam de-pois, por outros meios, como Demóstenes Torres e Marconi Perillo.

Sob a liderança de Luiz Sérgio, a bancada do PT deu suacontribuição para que o Plenário da Câmara dos Deputadosaprovasse a Medida Provisória que regulamentou o artigo 60

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do Ato das Disposições Transitórias que trata do FUNDEB (Fun-do de Nacional de Desenvolvimento do Ensino Básico), vital paraa ampliação e a qualificação da educação no Brasil. Contribuiutambém para aprovar iniciativas do Executivo, como aquela queconcedeu incentivos às indústrias de equipamentos eletrônicos ede semicondutores; assim como contribuiu para a aprovação epara aperfeiçoamentos do projeto do Supersimples, que serveaos pequenos empresários. Da mesma forma, sob a liderançade Luiz Sérgio, a Bancada do PT ajudou a criar a Super-Receita,que é a unificação da Receita Federal com a ReceitaPrevidenciária, racionalizando assim o aparelho encarregado derecolher os tributos.

Nesta legislatura, Luiz Sérgio, além de ter exercido o cargo deLíder da Bancada, foi membro titular do Conselho de Ética daCâmara, atuou como titular na Comissão de Relações Exteriorese de Defesa Nacional e ainda na Comissão de Viação e Transpor-tes.

Nas eleições de 2010, Luiz Sérgio participou da campanhavitoriosa da Presidenta Dilma Rousseff, no Estado do Rio de Janei-ro e se reelegeu deputado federal. No governo Dilma Rousseff,ele foi nomeado Ministro-Chefe da Secretaria de RelaçõesInstitucionais. Luiz Sérgio ocupou o posto até o dia é 10 de junhode 2011. Nesta data, a Presidenta Dilma resolveu substituí-lo porIdeli Salvatti. Luiz Sérgio foi então nomeado para o cargo deMinistro da Pesca. Permaneceu no cargo até 12 de fevereiro de2012, quando a Presidente Dilma Rousseff resolveu substituí-lopelo Senador Marcelo Crivela (PRB-RJ) para assegurar que aque-le partido da base tivesse representação no Ministério. Luiz Sérgiovoltou a ocupar sua cadeira de deputado federal pelo Rio de Ja-neiro, cumprindo seu quarto mandato.

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XXV

Maurício Rands

O saber jurídico a serviço da

construção do PT e dos

movimentos sociais

Líder do PT de 8 de fevereiro de 2008 a 3 de fevereiro de 2009

asceu em Recife, Pernambuco, em 17 de setembro de 1961, filhode Raimundo Rands Barros e de Maria Célia Coelho Barros. Mau-rício Rands é advogado, formado pela Faculdade de Direito doRecife, em 1982. Começou sua carreira profissional trabalhandopara sindicatos que, naquela época, estavam empenhados na cons-trução da CUT – Central Única dos Trabalhadores.

Em 1986 Maurício Rands foi aprovado em concurso públicopara a carreira de procurador da Prefeitura Municipal do Recife.

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Foi Procurador Geral do município mas renunciou à carreira deprocurador para dedicar-se à advocacia trabalhista, à militânciapolítica e à carreira acadêmica. Desde 1997 é professor na Fa-culdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Foivice-presidente da OAB(PE) e conselheiro federal da OAB.

Em 1990, foi para a Itália fazer pós-graduação em Direito doTrabalho e Relações Industriais na Università di Bari, onde perma-neceu até 1991. Da Itália transferiu-se para a Inglaterra para fa-zer mestrado e em seguida fez doutorado na Universidade deOxford, onde permaneceu até 1996, quando defendeu sua tesesobre Relações de Trabalho no Brasil. Voltando ao Brasil, concluiulicenciatura na Escola Superior de Magistratura do Recife e naUniversidade Católica de Pernambuco.

Maurício Rands iniciou sua vida partidária em 1981, quandose filiou ao PMDB. Deixou o PMDB em 1990, filiou-se ao PT etornou-se membro do diretório regional do Partido em Pernambuco.Em 2001, durante o primeiro mandato do prefeito João PauloLima (PT-PE), Maurício Rands foi nomeado Secretário de AssuntosJurídicos da Prefeitura de Recife. Criou a “Justiça Cidadã”, umaação que democratizava o acesso à Justiça nos bairros da perife-ria. Como reconhecimento dos méritos deste projeto, ele recebeuem 2003, o prêmio de “Gestão Pública e Cidadania”, patrocina-do pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Ford.

Nas eleições de 2002, Maurício Rands foi eleito deputadofederal pelo PT. Em seu primeiro ano de mandato, foi vice-líder daBancada do PT. Já em 2004, foi Presidente da Comissão de Cons-tituição e Justiça, pela qual obrigatoriamente passam todas asmatérias em tramitação na Casa.

Os debates políticos e legislativos no âmbito do parlamento,em 2003, foram dominados por duas reformas propostas pelogoverno do Presidente Lula. A reforma da Previdência, que tratavade eliminar alguns privilégios dos servidores públicos para impe-dir que o sistema quebrasse e uma reforma tributária que preten-dia adotar medidas emergenciais, simplificar o sistema, adotandoum único Código Tributário, além de medidas destinadas a elimi-nar a guerra fiscal.

A reforma da previdência foi aprovada até com o apoio dealguns setores da oposição. A resistência mais acirrada partiude setores de esquerda ligados a interesses corporativos do ser-viço público. O resultado no campo da reforma tributária foimais modesto. Conseguiu-se a prorrogação da DRU(Desvinculação de Receitas da União) e da CPMF (Contribuição

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Provisória sobre Movimentações Financeira), medidas essenci-ais para um governo que recebera a economia à beira de umcolapso e que precisava por ordem na casa com urgência. Mas,nas questões estratégicas, como a simplificação do sistema tri-butário, e a extinção da chamada guerra fiscal, não houve avan-ço. Aí, uma oposição difusa e dissimulada teve e ainda tem umamaior capacidade de travar os avanços.

Além da questão das reformas, no período em que MaurícioRands esteve na CCJ, como presidente, ou como membro efetivo,a Câmara tratou de muitas outras matérias. Destaca-se a MedidaProvisória que criou o Prouni (Programa Universidade Para Todos)e assegurou o ingresso de milhares de jovens pobres em institui-ções de ensino superior. Esse fenômeno, por sua vez, desperta aira da oposição que já chegou a recorrer ao STF para alegar ainconstitucionalidade da Lei que criou o Prouni.

Cabe mencionar também o Projeto de Lei Complementar,oriundo do Poder Executivo, que recriou a Sudene (Superinten-dência do Desenvolvimento do Nordeste). Esta agência, concebi-da e criada por iniciativa de Celso Furtado, foi extinta por FernandoHenrique Cardoso alegando como pretexto casos de corrupção.Mas, como quase nunca o governo dele esteve preocupado emcombater a corrupção, pode-se concluir que a verdade é outra.FHC, como bom neoliberal, não acredita no Estado como indutorda economia. Como bom tucano ele é devoto do deus mercado.Em campanha, o Presidente Lula prometeu recriar a Sudene. Cum-priu o prometido.

Outros projetos igualmente importantes tramitaram pela Câ-mara nesse período como aquele que criou isenções para impor-tações de bens destinados à pesquisa científica e tecnológica, oque criou a Empresa Brasileira de Pesquisa, o que instituiu as PPPs(Parcerias Públicas Privadas) e outros.

Em 2006, Maurício Rands participou da campanha nacional pelareeleição do Presidente Lula e buscou com êxito sua própria reelei-ção, quando retornou a Brasília, em fevereiro de 2007. Continuoucomo membro efetivo da prestigiada Comissão de Constituição eJustiça e vice-líder do PT. Em fevereiro de 2008, Maurício Rands foiescolhido pelo Bancada como o novo Líder do Partido.

O ano de 2008 foi marcante na política e na economia. Em1º de maio o Brasil recebeu o grau de investimento atribuído pelaagência Standard & Poor’s. O fato tinha importância para quemvinha saindo do fundo de um poço cavado pelos tucanos. Maistarde o País aprenderia que era necessária a construção de me-

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canismos de avaliação das agências de avaliação. Um sinal des-ta necessidade foi o pedido de concordata feito pelo Banco LehmanBrothers no dia 15 de setembro de 2008 e a incorporação doMerril Lynch pelo Bank of America. Isso significa que quem man-dava na política econômica dos tucanos estava quebrando. Quemesmo a Standard & Poor’s, primeira agência a conceder graude investimento ao Brasil, considerava nossa economia menosconfiável que as de países como Portugal, Itália, Chile, Croácia,México e Tailândia.

Em todo caso, nesse ano glorioso de 2008, o Brasil passou aser credor internacional, Barak Obama foi eleito Presidente dosEstados Unidos e o Presidente Lula, depois de receber com satis-fação o grau de investimento e a vitória de Barak Obama, anun-ciou que a tsunami econômica que naquele momento abalava oprimeiro mundo chegaria aqui como uma marolinha, causandocom esta declaração perplexidade e ranger de dentes nos arrai-ais dos colunistas da imprensa golpista. Hoje o Brasil é a sextamaior economia do mundo e seria interessante que uma agên-cia de avaliação de risco fizesse uma comparação entre a saúdeda economia brasileira e a saúde da economia dos países aci-ma referidos.

A economia do Brasil estava preparada para enfrentar a cri-se, não íamos sofrer um nocaute no primeiro round, como acon-tecia na era tucana. Naquela altura, o governo Lula já haviaconstruído uma reserva cambial de US$ 200 bilhões, a taxa dejuros era declinante e o mercado interno tinha sido expandidopelo aumento do salário mínimo e pelas políticas de transferên-cia de renda. O Presidente conclamou o povo a continuar con-sumindo e a não se render ao medo da crise e agiu emconsequência. Enviou ao Congresso Nacional uma série deMedidas Provisórias criando reduções de alíquotas edesonerações fiscais incidentes sobre automóveis, produtos dalinha branca, materiais de construção e outros.

O papel de Maurício Rands foi assegurar a tramitação des-tas matérias de maneira célere, com aperfeiçoamentos, mas semdeformações. Isto foi feito com empenho e agilidade, enquantoo Copom prosseguia com sua política de redução gradual dosjuros, o que para alguns parecia muito gradual, mas que permi-tiu que a taxa Selic de juros, no fim do governo Lula estivesse em10,50%, que ainda era alta, mas bem menor que os 25% herda-dos de FHC. Ao mesmo tempo, o governo abria conversaçõescom as centrais sindicais para delinear em lei uma política per-

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manente de recuperação do salário mínimo, o que foi concreti-zado. Foi assim que o Brasil venceu o primeiro round da crisemundial de 2008.

Encerrado seu mandato como Líder, em 2009, Maurício Randscontinuou servindo à Bancada e ao governo Lula até sua conclu-são gloriosa em 2010, com 87% de aprovação popular. Nas elei-ções deste ano, que elegeram Dilma Roussef presidente da Repú-blica, o PT foi o partido mais votado, obtendo 13.813.587 votos,para deputado federal e, com isso, elegendo a maior bancada daCâmara, composta por 88 deputados, entre eles Maurício Rands.

Maurício Rands assumiu seu novo mandato, mas logo se li-cenciou para assumir uma secretaria do governo de Pernambuco,liderado pelo aliado Eduardo Campos (PSB-PE). No processo depreparação para as eleições municipais deste ano de 2012, Mau-rício Rands disputou a indicação para a candidatura a prefeitocom o atual prefeito, João da Costa (PT-PE). Foi derrotado, de-nunciou fraude e recorreu à Direção Nacional. A Direção Nacio-nal determinou a anulação da prévia e a realização de nova pré-via, mas sem a participação dos dois envolvidos no primeiro epi-sódio, João da Costa aceitou esta decisão. Maurício Rands nãoaceitou, em protesto renunciou ao cargo de deputado federal ese desligou do PT e da Secretaria de Governo que ocupava.

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XXV

Cândido Vaccarezza

Atuando na reconstrução da UNE

e na organização do PT

Líder do PT de 3 de fevereiro 2009 a 2 de fevereiro de 2010

asceu em Senhor do Bonfim (BA), no dia 26 de setembro de1955, filho de Guilhermino Alves Vaccarezza e de Alsônia Alvesde Sousa Vaccarezza. Concluiu o segundo grau em Feira deSantana (BA). Começou suas atividades políticas na década de1970, participando do movimento estudantil, nas mobilizaçõespela reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE).

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Em 1974, iniciou o curso superior na Faculdade de Medicinada Universidade Federal de Bahia (UFBA). Madrugou na obra deconstrução do PT na Bahia. Em 1981 já era membro do DiretórioRegional do partido. Neste ano concluiu sua graduação em Me-dicina e mudou-se para São Paulo, onde fez residência médicaem ginecologia e obstetrícia no Hospital de Amparo Maternal.

Em 1983 fixou sua residência eleitoral e prosseguiu naobra de construção do PT. Foi presidente do Diretório Munici-pal da Cidade de São Paulo, Secretário-Geral do DiretórioRegional do Estado de São Paulo e Secretário-Geral doDiretório Nacional do PT. Participou também da coordenaçãode diversas campanhas do partido ao longo das décadas de1980 e de 1990.

De 1998 a 2000, foi Secretário de Cultura e Esporte dacidade de Mauá, na Grande São Paulo. Também em Mauá foidiretor do Hospital Municipal Nardini, de 2000 a 2001. Tendoconquistado uma suplência de deputado estadual nas eleiçõesde 1998, assumiu uma das vagas abertas na Bancada do PTna Assembleia Legislativa, em 2001, por deputados que foramchamados para compor o secretariado da Prefeita Marta Suplicy,eleita em 2000, em São Paulo.

Nas eleições de 2002, Cândido Vaccarezza conquistouum mandato de deputado estadual na Assembleia de SãoPaulo. Em 2003, ele presidiu a Comissão de Constituição eJustiça da Assembleia. Deste posto, participou do processode atualização e de compatibilização da Constituição do Es-tado de São Paulo com os novos ares democráticos que ema-navam da nova Constituição Federal. Foi autor de 54 altera-ções incorporadas à nova Constituição de São Paulo. Cândi-do Vaccarezza iniciou também o processo de consolidaçãodas leis do Estado de São Paulo, eliminando 13 mil normasobsoletas, contribuindo assim para simplificar a vida dos ope-radores do direito e dos cidadãos comuns.

O projeto, transformado em lei, que duplicou a área da zonaindustrial do bairro paulistano de Itaquera, teve o deputado Cân-dido Vaccarezza como autor. Foi dele também a iniciativa de criarum sistema de monitoramento de coleta e de transfusão de san-gue, impedindo assim que faltasse sangue nos hospitais públicose sobrasse nos privados. Esta lei impede também que hospitaisatrelem cirurgias a um número mínimo de doações. A lei estabe-leceu também a realização de testes no sangue coletado, paraimpedir a transmissão de doenças como Aids e hepatite.

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Foi também iniciativa de Cândido Vaccarezza um projetopioneiro em políticas de ação afirmativa, defendendo 50% devagas nas universidades públicas paulistas para estudantescarentes e que tivessem cursado o ensino médio em escolaspúblicas. Em 2004, foi líder da bancada do PT na AssembleiaLegislativa de São Paulo.

Nas eleições de 2006, quando o Presidente Lula foi reeleito,Cândido Vaccarezza foi eleito deputado federal por São Paulo.Na primeira metade de seu mandato, ele presidiu o Grupo deTrabalho da Consolidação das Leis. Sob a coordenação deCândido Vaccarezza este grupo de trabalho produziu, até ofim de 2008, onze projetos de consolidação de leis.

Entende-se por consolidação das leis a “reunião em umúnico diploma legal, de toda a legislação pertinente a um mes-mo assunto, de forma sistematizada, suprimindo dispositivosconflitantes, repetitivos, desatualizados e procedendo-se à re-vogação formal das leis incorporadas. É deixar apenas uma leique regule todos os aspectos de um assunto, revogando todasas anteriores. Não cabe à consolidação alterar leis e simorganizá-las de forma a não gerar dúvidas ou contradições”explica Cândido Vaccarezza.

Em 2009, Cândido Vaccarezza foi escolhido, por seus co-legas de bancada, para ser o Líder do PT. Neste posto, coube aele coordenar a intervenção do PT para continuar apoiando asmedidas adotadas pelo governo do Presidente Lula para con-ter a crise internacional, e também conduzir a aprovação deoutras matérias da pauta.

Entre elas, cabe destacar, a PEC 413/05 que criou o di-reito de divórcio após um ano de separação de fato ou dedireito; a PEC 391/09 que alterou o artigo 198 da Constitui-ção Federal para estabelecer plano de carreira e piso salarialprofissional nacional para o agente de saúde e para o agentede combate a endemias; a MP 451/08 que alterou as faixasde tributação mensal do Imposto de Renda da Pessoa Física,criando duas alíquotas: de 7,5% e de 22,5% e o Projeto deLei 836/03 que institui o cadastro positivo, cuja aprovaçãofez parte da estratégia do governo Lula-Dilma para reduzir osjuros. Isso para citar apenas algumas iniciativas a título deilustração.

Encerrado seu mandato como Líder do PT, no começo de2010, Cândido Vaccarezza foi nomeado para o cargo de Lí-der do governo na Câmara pelo Presidente Lula. Neste posto,

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continuou conduzindo a tramitação das matérias de interessedo governo e participando da campanha da candidata DilmaRousseff, do PT, à Presidência da República. Com DilmaRousseff eleita Presidenta e Cândido Vaccarezza reeleito de-putado federal, ele foi confirmado no cargo de Líder do go-verno na Câmara.

Como Líder do governo Dilma Rousseff na Câmara, a par-tir de 2011, coube a Cândido Vaccarezza conduzir a tramitaçãode matérias como os planos Brasil sem Miséria e Brasil Maior;a política permanente de aumento real do salário mínimo; oSuper Simples Nacional; o Programa Nacional de Acesso aoEnsino Técnico e ao Emprego (Pronatec); o Fundo Nacional dePrevidência Complementar dos Servidores Públicos (Funpresp);o marco civ i l da Internet e a prorrogação da DRU(Desvinculação de Receitas da União).

Como Líder do Governo Dilma Rousseff, CândidoVaccarezza teve ainda papel decisivo na aprovação de aumen-to de recursos para o programa Bolsa Família; para a aprova-ção do programa Minha Casa, Minha Vida; para a aprovaçãodo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), para a aprova-ção dos projetos que definiram os termos da exploração dopetróleo e do gás do pré-sal e para a aprovação do RegimeDiferenciado de Contratações para obras da Copa do Mundode 2014 e das Olimpíadas do Rio Janeiro, 2016.

Em maio de 2012, a Presidenta Dilma Rousseff, em meioà dificuldade para articular a base aliada, resolveu substituirCândido Vaccarezza por Arlindo Chinaglia no posto de Líderdo governo na Câmara dos Deputados. Ao deixar o cargoCândido Vaccarezza assumiu a coordenação do Grupo deTrabalho sobre as dívidas dos Estados e Municípios para coma União.

O grupo tomou a decisão de apresentar um projeto de leisobre o tema. A ideia é mudar o indexador das dívidas e criarum fundo federal para converter metade do que for pago pelosestados em investimento em infraestrutura. Será proposta tam-bém alteração na Lei de Responsabilidade Fiscal permitindoque os Estados possam renegociar suas dívidas com a União,já que isso hoje é vedado. Existe também o propósito de redu-zir os juros dos contratos de empréstimos da União para osEstados. Atualmente, variam entre 6% e 9% ao ano. A ideia étrazê-los para o patamar de 2% ao ano. O grupo de trabalhopretende também trocar o indexador utilizado nestas transa-

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ções. Trata-se de substituir o Índice Geral de Preços-Disponibi-lidade Interna (IGP-DI) pelo Índice Nacional de Preços ao Con-sumidor Amplo (IPCA), na correção das dívidas.

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asceu em Bom Conselho (PE), no dia 5 de setembro de 1951,filho de Linduarte Oliveira Ferro e de Eudorica Dantas Ferro.Fernando Ferro foi monitor da Faculdade de Engenharia da Uni-versidade Federal de Pernambuco (UFPE) e estagiário na Empresade Manutenção e Reparos de Motores Elétricos, no Recife. Fezestágio também na Alcoa Alumínios S.A., em Igarassu, no litoralNorte de Pernambuco. Concluiu sua graduação em engenharia

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Fernando Ferro

Eletricitário na resistência

à ditadura e na construção do PT

Líder do PT de 2 de fevereiro de 2010 a 1 de fevereiro 2011

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elétrica na UFPE, em 1975. Em 1976 foi contratado pela Com-panhia Hidrelétrica do São Francisco, em Recife. Em 1978 fezpós-graduação em sistemas elétricos de potência, na Escola Fe-deral de Engenharia de Itajubá (MG).

Fernando Ferro foi filiado ao Movimento Democrático Brasi-leiro (MDB) desde 1974. Com a chamada abertura política que,a certa altura, culminou na extinção do bipartidarismo impostopela ditadura e no advento de um sistema pluripartidário, FernandoFerro ingressou no PT e logo se tornou presidente do Partido nomunicípio de Garanhuns (PE), de 1981 a 1983. Nesta ocasiãopassou a fazer parte do Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco.Foi ainda Tesoureiro do Diretório Regional do PT de 1984 a 1986e Presidente do Diretório Regional de 1986 a 1992. Também foimembro do Diretório Nacional do PT de 1988 a 1992.

Nas eleições municipais de 1992 Fernando Ferro foi eleitovereador à Câmara Municipal de Recife. Durante o mandato, foivice-líder da Bancada do PT na Câmara Municipal, presidiu aComissão dos Direitos Humanos e foi membro titular de duascomissões permanentes da Casa: Comissão de Legislação e Jus-tiça e Comissão de Políticas Públicas.

Nas eleições de 1994 Fernando Ferro se elegeu deputadofederal. Renunciou então a sua cadeira de vereador em Recifepara assumir a vaga de deputado em Brasília, no começo de1995, ponto alto do projeto neoliberal inspirado por Washingtone tocado por FHC e sua base demo-tucana.

A trincheira mais constante de Fernando Ferro na Câmara foia Comissão de Minas e Energia. Foi deste posto que ele partici-pou das articulações do setor. Primeiro para resistir à ofensivaneoliberal para liquidar o setor elétrico e outros setores. Depois,para contribuir na reconstrução de setor seriamente danificadopela irresponsabilidade do governo FHC.

Mas, em 1995, o centro do embate foram as propostas deFHC no sentido da quebra do monopólio dos estados sobre adistribuição do gás canalizado; da quebra do monopólio estatalda exploração das telecomunicações; da quebra do monopólioda exploração de petróleo e gás, pertencente à Petrobras e, final-mente, a abertura da navegação de cabotagem ao capital es-trangeiro. O PT e toda sua Bancada votaram contra todas essasiniciativas. Foram derrotados, mas cobraram um alto preço políti-co por essas aventuras a FHC e a seus aliados demos e tucanos.

Por último, mas não menos importante, toda a bancada do PTse opôs firmemente à eliminação da definição do que é uma

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empresa nacional, para diferenciar o tratamento que deve ser dis-pensado pelo Estado a uma empresa nacional, do tratamentoque deve ser dispensado, por esse mesmo Estado, a uma empre-sa estrangeira. Do ponto de vista do PT, a aprovação desta medi-da revelou, no governo FHC, um servilismo abjeto e colonial, in-digno do grau de desenvolvimento já alcançado pelo Brasil.

Em janeiro/fevereiro de 1997, o PT e outras forças de oposi-ção se articularam para obstruir a tramitação do Projeto de EmendaConstitucional que instituía em nosso ordenamento legal o direitoà reeleição para chefes de executivos: prefeitos, governadores epresidente. As oposições não questionavam o princípio de reelei-ção. Questionavam o casuísmo que era alterar as regras do jogocom o jogo em andamento, aprovar uma alteração na Constitui-ção para beneficiar quem estava no governo. Ou seja, se a pro-posta fosse aprovar a reeleição para depois do fim do mandatode FHC, ela teria o apoio das oposições.

Mas o espírito pseudodemocrático de FHC e de seus aliadosnão se constrange com estes atropelos. Tocaram em frente, com-praram até votos de deputados como Ronnie Von Santiago (PFL-AC) e João Maia (PFL-AC) a R$ 200,00 mil a unidade, para apro-var a PEC da reeleição. Esbanjavam cinismo. Sérgio Mota pousa-va de profeta do Reich tucano de mil anos.

A vingança da história não se fez por esperar, foi imediata. Osegundo mandato com voto comprado foi um desastre. Começoucom uma maxidesvalorização do Real em janeiro de 1999, pros-seguiu em 2000 com uma vexatória festa da celebração da che-gada dos portugueses ao território que hoje é o Brasil; a réplicada Nau Capitania não saía do lugar, ameaçava afundar a cadamomento, a tecnologia empregada parecia mais primitiva do quea tecnologia empregada na nau utilizada por Cabral para atra-vessar o Atlântico em 1500. Em 2001 foi a vez do apagão elétri-co, uma prova ampla, geral e irrestrita da incompetência tucana.Finalmente, em 2002, foi a vez da terceira e última peregrinaçãode FHC aos cofres do FMI, de pires na mão.

Reeleito deputado federal em 1998, Fernando Ferro foi vice-presidente da CPI do Narcotráfico. Teve uma atuação destacadana CPI que golpeou forte o crime organizado em pelo menosquatro Estados e abriu boas pistas para investigações em outrasunidades da federação. Foi esta CPI que levou à prisão e conde-nação do então deputado Hildebrando Pascoal (PFL-AC) culpadode extermínio de seres humanos com emprego de métodos cruéis,como cortar com motosserra os membros das vítimas.

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Esta CPI também abriu o caminho para desestabilizar o im-pério do então deputado estadual José Carlos Gratz (PSL), bichei-ro, presidente perpétuo da Assembleia Legislativa do Espírito San-to, chefe local do crime organizado, espécie de Carlos Cachoeiracapixaba. A respeito do episódio disse Miguel Reale Júnior, entãoMinistro da Justiça de FHC: “Por todas as informações que rece-bemos, o deputado Gratz é quem realmente comanda o crimeorganizado que transformou o governador do Espírito Santo, JoséIgnácio (PSDB-ES), em refém da bandidagem”. Como se vê,Marconi Perillo não foi o primeiro governador tucano a percorreros caminhos do crime organizado. Miguel Reale Júnior deu estadeclaração pouco antes de pedir demissão do cargo de Ministroda Justiça, junto com o diretor-geral da Polícia Federal, ItanorCarneiro. Eles pediram demissão logo depois que o engavetadorgeral da República, Geraldo Brindeiro, engavetou o pedido deintervenção federal no Espírito Santo. Brindeiro certamente aten-deu um pedido de FHC.

A CPI do Narcotráfico prestou um serviço importante aoMaranhão, contribuiu para a cassação e prisão do deputado es-tadual José Gerardo (PPB), chefe do sistema de roubo de carrosnaquele Estado. No Piauí, a CPI do Narcotráfico contribuiu paraa prisão do perigoso Coronel José Viriato Correia de Lima, ho-mem de confiança do então governador Mão Santa (PMDB), comextensa lista de homicídios e de desvios de recursos da Uniãodestinados aos municípios para investimentos em saúde pública.E também por colocar cédulas falsas em circulação. Por isso, re-cebeu uma condenação ditada pela Justiça de Minas Gerais.

Lembrando que Fernando Ferro sempre foi membro efetivona Comissão de Minas e Energia da Câmara, vale registrar queesta comissão, juntamente com a Comissão de Defesa do Consu-midor, organizou um seminário no dia 14 de junho de 2000, queresultou em uma publicação: “Colapso Energético no Brasil e Al-ternativas Futuras” e uma “Carta ao Brasil”.

O seminário contou com a participação de várias personali-dades do mundo acadêmico, entre elas pessoas que assumiriampostos destacados no setor energético do governo do PresidenteLula, como Pinguelli Rosa, Ildo Sauer e Maurício Tolmasquim. Eleproduziu um diagnóstico preciso: o apagão já está em marcha eé produto de um modelo de privatização equivocado. Na “Cartaao Brasil”, o seminário reafirmou o diagnóstico e apresentou pro-postas: (I) suspensão imediata do processo de privatização dasempresas energéticas brasileiras; (II) complementação da legisla-

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ção do setor energético; (III) elaboração de um novo desenhopara o setor objetivando a universalização dos serviços energéticos,com boa qualidade e tarifas baixas; (IV) investimento na amplia-ção dos sistemas e no contínuo desenvolvimento tecnológico; e(V) implementação de mecanismos que garantam o controle dasociedade sobre as empresas.

Infelizmente, os piores prognósticos estavam corretos. Um anodepois do seminário promovido pela Comissão de Minas e Ener-gia o “Apagão Elétrico” de 2001 se estabeleceu. Ele foi de 1º dejulho de 2001 a 27 de setembro de 2002. Provocou um prejuízode R$ 45,2 bilhões – segundo o TCU -, reduziu o crescimento doPIB e castigou quase toda a população com punições pecuniáriaspara quem ultrapassasse determinados níveis de consumo de ele-tricidade. Para confundir a população, a imprensa golpista – ex-pressão criada por Fernando Ferro – chama de apagão qualquerinterrupção no fornecimento de energia elétrica, mesmo que cau-sada por acidentes corriqueiros, por mais curta que ela seja notempo. A imprensa golpista procura fazer esquecer que o apagãode 2001 durou um ano e três meses.

É também especialidade da imprensa golpista anunciar perio-dicamente, durante os governos do PT, catástrofes que não seconcretizam. Assim, de vez em sempre é anunciado um aumentoda inflação fora de controle, uma recessão, ou fim dos temposcom o advento de uma crise internacional, ou pela decisão teme-rária do Banco Central, de reduzir os juros. O aumento da noti-ficação de casos de gripe H1N1 é saudado com indisfarçadavibração pela imprensa golpista. Os acidentes aéreos, parece,eram debitados diretamente na conta pessoal do Presidente Lula.A morte de dois frangos em Marília (SP) – comentou uma vez oPresidente Lula – foi suficiente para o Jornal Nacional anunciar achegada ao Brasil da febre aviária que na época assombrava aÁsia. No caso das previsões do apagão elétrico do Seminário daComissão de Minas e Energia não havia terrorismo, nem manipu-lação, nem má fé. Tratava-se apenas de uma dedução lógica deum quadro de descalabro criado pelas privatizações do governotucano.

Nas eleições de 2002, que conduziram Luiz Inácio Lula daSilva à presidência da República, Fernando Ferro conquistou seuterceiro mandato de deputado federal pelo Estado de Pernambuco.Nesta legislatura voltou a ocupar uma vaga de vice-líder da Ban-cada do PT. Cumpriu também a tarefa de relatar a MP 144/03,que regulamenta o setor de geração, transmissão e distribuição

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de energia elétrica no Brasil. Das 259 emendas válidas apresen-tadas, Fernando Ferro acolheu 120. No Senado, a proposta rece-beu pequenas alterações e foi aprovada em votação simbólicacom o apoio de todos os líderes partidários. Nem essa unanimi-dade impediu que a mente do Ministro do STF Joaquim Barbosaconcebesse a ideia assombrosa de insinuar que houve compra devoto para a aprovação desta lei.

Fernando Ferro prosseguiu como um dos vice-líderes da Ban-cada do PT. Em 2005, na crise do chamado mensalão, quandoda renúncia de Paulo Rocha (PT-PA), Fernando Ferro assumiu aliderança do PT interinamente. Coube a ele conduzir a reunião daBancada do PT que designou Henrique Fontana (PT-RS) como osucessor de Paulo Rocha na Liderança. Em 2006, quando o Presi-dente Lula conquistou sua reeleição, Fernando Ferro conquistouseu quarto mandato de deputado federal.

Atuando quase sempre na Comissão de Minas e Energia,Fernando manteve-se ativo no segundo governo do PresidenteLula, e, em 2007, assumiu a Secretaria de Meio Ambiente do PT eem 2008 trabalhou pela anistia dos demitidos do governoFernando Collor. Em 2009 relatou o Projeto de Lei que cria umfundo de incentivos às energias renováveis no Brasil. Em 2010,último ano do segundo governo do Presidente Lula e ano da cam-panha vitoriosa da Presidenta Dilma Rousseff, Fernando Ferro erao Líder do PT na Câmara. Participou ativamente da campanhapresidencial e conquistou sua própria reeleição.

No segundo semestre de 2012, em plena campanha eleitoralnos municípios, quando a Presidenta Dilma Rousseff consolidousua marca na redução drástica dos juros, mostrando firmeza noenfrentamento da crise internacional e partiu para um ambiciosoprojeto de redução das tarifas de energia elétrica, Fernando Ferromanteve-se firme na defesa do governo da Presidenta Dilma e dolegado do Presidente Lula.

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XXVIII

Paulo Teixeira 173

asceu em Águas da Prata, São Paulo, em 6 de maio de 1961,filho de Wolgran Junqueira Ferreira e de Maria de LourdesTeixeira Ferreira. Começou seus estudos de segundo grau naescola estadual Timóteo Silva, em Águas da Prata, e concluiuno Idaho, Estados Unidos, na Wallace High School, entre 1978e 1979. De volta ao Brasil, fez o curso de Direito na Faculdadedo Largo do São Francisco, da USP.

Um olhar petista sobre o meio

ambiente e as novas mídias

Líder do PT de 1º de fevereiro de 2011 a 7 de fevereiro de 2012

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Em 1980, filiou-se e deu sua contribuição na fundação do PT.De 1985 a 1987 foi presidente do Diretório Zonal de São MiguelPaulista. No mesmo período foi monitor da Fundação do Bem-Estar do Menor (Febem) de São Paulo. Foi ainda administradorregional de São Miguel Paulista na gestão de Luiza Erundina echefe de gabinete da prefeitura municipal de Franco da Rocha de1992 a 1994.

Em 1994, Paulo Teixeira foi eleito deputado estadual por SãoPaulo. Em 1998, reelegeu-se deputado estadual. Seus mandatossempre estiveram articulados com grandes questões sociais. Comodeputado estadual conseguiu aprovar legislação obrigando osPlanos de Saúde a atender os portadores de HIV. Participou daação judicial que levou o Estado de São Paulo a distribuir a com-binação de antirretrovirais para todos os portadores do vírus. Afas-tou-se deste mandato em 2000 para assumir postos no governoda cidade de São Paulo que naquele ano elegeu Marta Suplicypara Prefeita.

Paulo Teixeira exerceu o cargo de vice-presidente do DiretórioMunicipal do PT de São Paulo de 1999 a 2000, e de 2001 a2004. Durante o mandato de Marta Suplicy foi secretário de Ha-bitação e Desenvolvimento Urbano da cidade de São Paulo. Nes-te cargo desenvolveu o programa Morar no Centro, pararevalorizar a região e permitir que setores da população com menorpoder aquisitivo morassem mais perto do local de trabalho. Foitambém ele o responsável pela urbanização de Paraisópolis e pelaconsolidação do bairro de Heliópolis.

De 2003 a 2004 foi diretor-presidente da Companhia Metro-politana de Habitação de São Paulo. Neste mesmo período cur-sou, na USP, o mestrado em Direito Constitucional. Em 2004, PauloTeixeira elegeu-se vereador, cumpriu este mandato até 2006, quan-do foi eleito deputado federal. De 2005 a 2008 foi membro doDiretório Nacional do PT.

Paulo Teixeira assumiu o mandato de deputado federal em feve-reiro de 2007, portanto, no começo do segundo mandato do Presi-dente Lula. Ao longo desta legislatura, foi membro das seguintes co-missões permanentes: Constituição e Justiça, Ciência e Tecnologia ede Meio Ambiente. Ele teve também participação destacada em co-missões especiais que trataram de temas específicos como: CriseEconômico-Financeira na Indústria; Fundos para Habitação de Inte-resse Social; Fontes Renováveis de Energia; Transporte Coletivo Ur-bano; Exploração e Produção do Pré-Sal; Limite de Despesa com

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Pessoal; Documentos Sigilosos e da Comissão Parlamentar de Inqu-érito (CPI) da Dívida Pública.

Em 2007, foram aprovadas pelo plenário da Câmara impor-tantes iniciativas, como a PEC 272/2000. Ela assegurou o direitodos brasileiros, nascidos no estrangeiro, de terem seus registrosde nascimento assentados nos consulados brasileiros. O plenárioda Câmara aprovou também a PEC que prorrogava a CPMF que,mais tarde, seria derrotada pela direita do Senado, provocandoum corte de R$ 40 bilhões no orçamento da saúde pública.

Paulo Teixeira participou dos esforços da Bancada do PT paraaprovar outras iniciativas importantes, como a que criou o arren-damento residencial com opção de compra, a que criou FUNDEB(Fundação Nacional do Desenvolvimento do Ensino Básico), a quecriou incentivos às indústrias de equipamentos para a TV digital ede componentes eletrônicos e as que criaram o Supersimples e aSupereceita, essenciais para a integração dos pequenos empre-endedores e para a racionalização do sistema federal de arreca-dação de tributos.

Como iniciativa do mandato, Paulo Teixeira é autor da PEC daMoradia Digna e do Projeto de Lei que cria o Serviço da MoradiaSocial. Desempenhou papel importante como interlocutor do go-verno na discussão e aprovação do Marco Regulatório dos Resí-duos Sólidos. É também autor do Projeto de Lei de incentivo àexploração de energias alternativas, por isso a Associação Brasi-leira de Energia Eólica concedeu-lhe um prêmio por seu apoio àviabilização do ingresso da energia dos ventos na matriz energéticabrasileira. No que diz respeito à utilização das novas tecnologiasde comunicação, Paulo Teixeira teve papel de destaque na lutapara bloquear a tramitação do Projeto de Lei de autoria do depu-tado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) sobre Internet. Este projetoconhecido como Ato Institucional nº 5 Digital visava impedir oacesso livre à rede e buscava criar condições para o florescimentode um monopólio também neste setor, a exemplo do que já existenas mídias tradicionais.

O ano de 2008 foi de aprofundamento da crise econômicainternacional e dos debates parlamentares sobre as respostas dogoverno aos desafios colocados pela retração geral internacionalda atividade econômica, pelo esgotamento das linhas de créditoe pela redução da demanda por nossos produtos de exportação.O Brasil pode responder com eficácia à crise porque o governodo Presidente Lula, àquela altura, já havia construído uma reservacambial respeitável, US$ 200 bilhões, capaz de resistir, como re-

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sistiu, a um ataque especulativo contra o Real; havia ampliado omercado interno que permitia a manutenção da demanda, mes-mo numa circunstância adversa, e não vacilou em utilizar os ban-cos estatais para assegurar liquidez financeira ao sistema econô-mico. A base parlamentar do governo, formada pelo PT e pelospartidos aliados, não hesitou em aprovar as medidas dedesoneração fiscal destinadas a estimular o mercado consumi-dor, o Banco Central retomou sua política de redução da taxaSelic de juros, o governo manteve as políticas de inclusão social,de aumento real do salário mínimo, e começou a discutir com ascentrais sindicais o estabelecimento em lei de uma política per-manente de recomposição do salário mínimo.

Fora do âmbito da crise, o plenário da Câmara aprovou ou-tras iniciativas igualmente importantes, como a que criou a EBC –Empresa Brasil de Comunicação. Aprovou emenda que alterou oSistema Nacional de Armas, que prorrogou até 31 de dezembrode 2008 o prazo para renovação de registro de propriedade dearmas de fogo; aprovou a chamada Lei Seca, que proibiu acomercialização de bebidas alcóolicas ao longo das rodovias fe-derais.

O Programa “Minha Casa, Minha Vida” foi inicialmente per-cebido como uma das respostas do governo do Presidente Lulaao agravamento da crise internacional. Depois se percebeu queele superou seus objetivos iniciais. O programa não só ajudou aevitar que o país entrasse em recessão, como aconteceu em qua-se todo mundo, mas contribuiu para gerar uma políticahabitacional de Estado. Paulo Teixeira, sempre ligado aos movi-mentos pela moradia sustenta: “Devemos comemorar os grandesavanços conquistados e defender a continuidade e a ampliaçãodo programa “Minha Casa, Minha Vida”. Mas devemos tambémaproveitar a força que o tema habitação ganhou com o ‘MinhaCasa, Minha Vida’ e lutar por melhorias no programa. Uma ques-tão fundamental como essa não pode depender do que cadagoverno quiser fazer frente a ela. Precisamos atuar para que oprograma ‘Minha Casa, Minha Vida’ seja transformado em umapolítica permanente do Estado brasileiro”. Paulo Teixeira assinalaa necessidade de cooperação e harmonia entre os Estados emunicípios e a União e sublinha que em São Paulo faltam harmo-nia e diálogo.

O episódio Pinheirinho, bairro popular do município paulistade São José dos Campos, violentamente despejado pela PM comordens de uma Justiça tão célere quanto sumária ressalta esta de-

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sarmonia e realça o compromisso de Paulo Teixeira, não só com aelaboração de leis justas, mas também com a mobilização da soci-edade para defender e ampliar seus direitos. Quando o Governode São Paulo interrompeu as negociações sobre a desocupação dePinheirinho e ordenou o despejo, Paulo Teixeira era um dos queestavam ao lado das vítimas, mobilizando os juristas democráticos,tentando sensibilizar as autoridades para deter a selvageria, procu-rando dar proteção às vítimas.

Em 2010, a Câmara tratou ainda de assuntos da mais altaimportância, sempre com a participação destacada de PauloTeixeira. Entre eles cabe citar a nova lei que estabeleceu diretrizespara a política de valorização do salário mínimo de 2011 a 2023.Esta lei estabelece a reposição da inflação mais um percentualigual ao crescimento do PIB. A Câmara aprovou também três pro-jetos sobre o pré-sal. O primeiro criou o Fundo Social com a fina-lidade de constituir fonte regular de recursos para a realização deprojetos e programas nas áreas de combate à pobreza e de de-senvolvimento da educação, da cultura, da ciência e tecnologia eda sustentabilidade ambiental. O segundo autorizou a União aceder onerosamente à Petrobras o exercício de atividades de pes-quisa e lavra de petróleo, de gás natural e de outroshidrocarbonetos. O terceiro dispõe sobre a exploração e produ-ção de petróleo sob o regime de partilha de produção, em áreasdo pré-sal e em áreas estratégicas. O quarto projeto trata da re-partição dos royalties do pré-sal, sua tramitação está adiantada.

Em 2011, Paulo Teixeira foi escolhido, por seus colegas, paraser o Líder da bancada na Câmara. Coube a ele conduzir a ban-cada em debates sobre temas como a constituição do consórciodenominado Autoridade Pública Olímpica - APO, que é um con-sórcio firmado entre a União, o Estado do Rio Janeiro e a cidadedo Rio de Janeiro para viabilizar a realização das Olimpíadas de2016 na capital carioca. Foi também Paulo Teixeira quem condu-ziu a Bancada no debate sobre medidas para assegurar asustentabilidade econômico-financeira do BNDES sobre autoriza-ção para garantia do financiamento do TAV – Trem de Alta Velo-cidade, no trecho Rio-São Paulo-Campinas.

O debate sobre o Código Florestal ocorreu também sob aliderança de Paulo Teixeira. Na ocasião, ele explicava que a ban-cada do PT defendia uma proposta equilibrada, que preserve nossacondição de potência agrícola e ambiental. Vale lembrar que oPT votou contra o relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que tratou

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da questão em 2010. Avaliou que o texto continha vários retro-cessos.

Então, a pedido do PT, o Presidente da Câmara dos DeputadosMarco Maia (PT-RS) criou uma Câmara da Conciliação. O traba-lho desta Câmara e a unificação da posição do governo contribu-íram para que o texto melhorasse. Voltaram ao texto a reserva emtopos de morro. Foi mantida a reserva legal de 80% na Amazônia;35% do Cerrado e 20% de outros biomas. A Área de PreservaçãoPermanente (APP), antes reduzida a 15 metros, voltou a serestabelecida em 30 metros.

Por outro lado, o governo conseguiu incluir temas do interessedos pequenos produtores rurais e agricultores familiares. Foiconstruída uma solução para a legalidade das plantações de café,uva e maçã em áreas de relevo, sem abrir mão da preservaçãodos topos de morro. Também ficou regularizado o cultivo do arrozem áreas de várzea. Diante disso a Bancada do PT resolveu votara favor do projeto, apesar de outras objeções e centrou seu esfor-ço na derrubada da emenda 164 do deputado Paulo Piau (PMDB-MG). Mais tarde a Presidenta Dilma Rousseff vetou parcialmenteo que foi aprovado na Câmara e editou a MP 571 versando sobreos trechos que haviam sido subtraídos pela emenda 164 e intro-duzindo regramento específico para regularização e recuperaçãode APP’s riparias, beira de rio, para pequenos produtores rurais eagricultura familiar indexada pelo tamanho da propriedade, ouseja, quanto menor a área da propriedade menor a obrigação derecompor . São essas MPs que reabriram o debate sobre o Códi-go Florestal em 2012.

Desde fevereiro de 2012, os temas suscitados pela divulga-ção da Operação Monte Carlo permaneceram na ordem do dia,apesar do esforço visível da imprensa golpista para distorcê-losou subestimá-los. A oposição não queria criar uma CPMI. Astuto,Ronaldo Caiado (DEM-GO) dizia: a Polícia Federal e o MinistérioPúblico já estão tratando do assunto. Não temos porque nos me-ter, argumentava ele. A Bancada do PT sempre quis a CPMI, por-que sabe do seu poder de quebrar sigilos e conhece MarconiPerillo, governador de Goiás. Além de ações que venham a de-correr da operação Monte Carlo, Marconi Perillo é objeto de maiscinco processos que correm na Justiça e sobre as quais nada sesabe, estão submetidas ao que se pode chamar de sigilo herméti-co de justiça. Vale registrar também que a Operação Monte Carloserviu para lembrar a Operação Vega, que reuniu provas e docu-mentos substanciais contra Marconi Perillo, Demóstenes Torres e

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Carlos Cachoeira e ficou engavetada pelo Procurador Geral daRepública, Roberto Gurgel, por mais de dois anos. A criação daCPMI do Cachoeira era, portanto, uma necessidade imperiosa.Ademais, quando percebeu que a CPMI seria criada de qualquerforma, a oposição aderiu em massa certamente para melhorsabotá-la.

A Bancada do PT indicou o nome de Paulo Teixeira paradesempenhar o cargo de vice-presidente desta importante CPMI,que foi instalada no dia 25 de maio de 2012. Demóstenes Tor-res teve cassado seu mandato de senador nos termos propostospelo senador Humberto Costa (PT-PE), por desvio de condutaética. À CPMI coube expor a documentação que prova queDemóstenes Torres, além de cometer desvios éticos, fez parte deuma rede criminosa comandada por Carlos Cachoeira e queenvolvia Marconi Perillo e outros membros do governo de Goiás.A CPMI expôs, portanto, o fato de que o crime organizado cap-turou o governo de Goiás.

A CPMI desmontou a armação urdida pelos arapongas deCachoeira e amplamente divulgadas pela imprensa golpista con-tra Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. O depoimen-to do governador e de seu chefe de gabinete, Cláudio Monteiro,eliminaram quaisquer dúvidas. Até membros da oposição deixa-ram claro que se convenceram de que os dois foram vítimas decalúnias maliciosamente forjadas pelos arapongas de Cachoeira.A documentação levantada e divulgada mostrou também que arevista Veja era o braço midiático do grupo criminoso de CarlosCachoeira. Infelizmente, a representação do PMDB na CPMI op-tou por não convocar o jornalista Policarpo Jr., chefe da sucursalda Veja em Brasília. Sem os votos do PMDB ficou impossível con-vocar esta figura, o principal elo de ligação entre Carlos Cacho-eira e a imprensa golpista. Esta foi uma falha grave desta CPMI.O desempenho de Paulo Teixeira e da Bancada do PT contribuiusubstancialmente para o sucesso, ainda que parcial, da comis-são.

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XXIX

Jilmar Tatto

asceu em Corbélia (PR), em 25 de junho de 1965, filho de JácomoTatto e de Inês Fontana Tatto, pequenos agricultores. Chegou aSão Paulo, junto com a família, no final da década de 1970.Formou-se em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras de Moema (SP) e logo em seguida começou a trabalharcomo professor. Iniciou sua militância política com participaçãonos movimentos populares na Zona Sul de São Paulo e nas Co-munidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica. Filiou-seao PT em 1981, portanto, durante a luta pela legalização do Par-tido. Exerceu o cargo de presidente do Diretório Municipal do PTde São Paulo no período de 1995 a 1996.

Longa trajetória de lutas

pela construção do PT

Liderança iniciada em 7 de fevereiro até dezembro de 2012

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Foi eleito deputado estadual à Assembleia Legislativa de São Pauloem 1998. Em 2001 assumiu a Secretaria de Abastecimento da Pre-feitura de São Paulo na gestão da prefeita Marta Suplicy (PT). Em2002 assumiu a Secretaria de Subprefeituras. Serviu também ao go-verno Marta nas secretarias de Transportes e de Governo. Entre asiniciativas que coordenou vale destacar a implementação do BilheteÚnico no sistema de transporte coletivo por ônibus. Neste sistema, opassageiro realiza viagens, pagando apenas o valor de uma, por umperíodo de duas horas.

Nas eleições de 2006, Jilmar Tatto foi eleito deputado federalpor São Paulo. Seu mandato coincidira com o segundo mandato doPresidente Lula, no qual o governo e sua base parlamentar tiveramque fazer face aos desafios da crise econômica desencadeada pelopedido de concordata do Banco Lehman Brothers.

Neste mandato, Jilmar Tatto foi escolhido vice-líder do PT e exer-ceu a presidência da Comissão de Desenvolvimento Econômico, In-dústria e Comércio. Atuou também como membro titular das comis-sões permanentes de Turismo e Desporto e Viação e Transportes. Fezparte ainda da comissão especial que analisou a Proposta de Emen-da Constitucional (PEC nº 336/09), sobre a recomposição das Câ-maras Municipais. Participou também da comissão especial que ana-lisou o Projeto de Lei (PL nº 694/95) sobre transporte urbano.

No cenário de 2007 a prorrogação da Contribuição Provisóriasobre Movimentação Financeira (CPMF) adquiria especial importân-cia. Essa iniciativa era perfeitamente compatível com a tática adota-da pelo governo do Presidente Lula de, na crise, não abrir mão deinvestimentos no social. Ora, a CPMF representava R$ 40 bilhõespara o orçamento da saúde pública. O deputado Jilmar Tatto, aBancada do PT e as bancadas aliadas corresponderam e aprovarama PEC da prorrogação da CPMF na Câmara.

Infelizmente, no Senado, onde a presença da direita era maisforte, não foi possível obter os votos necessários para aprovar aquelaPEC. A direita ensandecida composta por senadores como ArthurVirgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Heráclito Fortes (DEM-PI) e Efraim de Moraes (DEM-PB) comemoraram a façanha de elimi-nar R$ 40 bilhões das receitas da saúde pública. Isto é mais revoltan-te quando se considera que, no Brasil, rico não tem despesa comsaúde. Tudo que eles gastam no setor privado da saúde é desconta-do do Imposto de Renda. Além disso, a CPMF tinha a virtude de serum tributo progressivo, cada um pagava proporcionalmente à suacapacidade contributiva. Ela tinha também a grande virtude de fun-cionar como um instrumento de combate à sonegação. Sua elimina-

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ção serviu, portanto, aos ricos e aos sonegadores. Mas é importanteregistrar que este crime teve troco. Nas eleições de 2010 todos ossenadores acima citados, além de outros, foram derrotados.

Em junho de 2008, a Câmara votou e aprovou, com o apoio deJilmar Tatto, da Bancada do PT, e de aliados, a criação da CSS (Con-tribuição Social para a Saúde). No Senado, infelizmente esta iniciativanão recebeu o número suficiente de votos para ser aprovada. Masiniciativas desta natureza são válidas. É dever de todas as pessoascomprometidas com os interesses dos setores mais pobres da popula-ção lutar para ampliar os recursos destinados à saúde pública. Váriospaíses ricos da Europa estão taxando os mais ricos para sair da crise.Warren Buffet, o homem mais rico dos Estados Unidos, fez um apeloao Presidente Barak Obama, concitando-o a taxar mais fortemente osmais ricos como forma de sair da crise. Outros discutem a necessidadeda criação de uma CPMF internacional para criar um fundo destinadoao combate à fome e à pobreza nos países do terceiro mundo.

Ainda no ano de 2007, Jilmar Tatto participou do PED (Processo deEleições Diretas) do PT na condição de candidato a presidente nacionaldo partido, apresentado pela chapa “Partido é Pra Lutar”. Neste proces-so de eleição direta, aberta à participação de todos os filiados ao Partidoem todo o Brasil, Jilmar Tatto conquistou a segunda maior votação, ficouatrás apenas de Ricardo Berzoini que, no segundo turno, foi eleito presi-dente nacional do PT. Na composição da Comissão Executiva Nacional,coube a ele ocupar uma das vice-presidências do Partido.

Em 2009, Jilmar Tatto teve participação efetiva na Comissão Espe-cial que analisou o projeto de lei (PL nº 5.939/09) que autorizou oPoder Executivo a criar a empresa pública denominada Empresa Bra-sileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S/A (Petro-Sal). APetro-Sal terá o papel de representar a União nos consórcios e comitêsoperacionais que deverão ser criados para gerir os diferentes contratosde partilha. O objetivo desta empresa é diminuir a assimetria de infor-mações entre a União e as empresas de petróleo, por meio da atua-ção e acompanhamento direto de todas as atividades de exploração eprodução do óleo. A Petro-Sal é o olho da União sobre as petroleiras.

Em 2010 o povo brasileiro elegeu Dilma Rousseff presidenta daRepública para suceder o Presidente Lula que saiu do Palácio doPlanalto com uma aprovação consagradora de 87% da população.Ele entregou a Dilma Rousseff um país e uma economia bem diferen-tes daquilo que recebeu em 1º de janeiro de 2003. Em oito anos, oBrasil tinha deixado de ser devedor do FMI, passara a ser credor. Emsuas relações comerciais com o mundo o Brasil tinha deixado serdeficitário, passara a ser credor internacional e tinha construído uma

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reserva cambial de mais de US$ 300 bilhões. A relação dívida públi-ca líquida/PIB vinha caindo significativamente. A economia voltara acrescer. A distribuição de renda avançara, 40 milhões de brasileirosentraram na classe média.

Nesta mesma eleição de 2010, Jilmar Tatto se reelegeu deputadofederal pelo PT de São Paulo e voltou a Brasília, no começo de 2011,com a disposição de apoiar a Presidenta Dilma Rousseff com a mesmaenergia com a qual apoiou o governo do Presidente Lula. Escolhidocomo um dos vice-líderes do PT, Jilmar Tatto participou dos esforços daBancada para articular com outras forças democráticas a defesa e aaprovação de projetos importantes, como aquele que ratificou o pro-tocolo de intenções firmado entre a União, o Estado do Rio de Janeiroe o município do Rio de Janeiro, com a finalidade de constituir consór-cio público, denominado Autoridade Pública Olímpica. É este proto-colo que traça o quadro de compromissos entre os signatários parasustentar a realização das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016.

Em 2011, a Bancada tratou de viabilizar no Plenário a defesa deprojetos importantes como o TAV – Trem de Alta Velocidade - que faráa ligação Rio-São Paulo-Campinas, com o apoio financeiro do BNDES;a nova política do salário mínimo; o Código Florestal e muitos outros.

Em 2012, Jilmar Tatto foi escolhido líder por seus colegas deBancada do PT. O ano prometia e se tornou excepcionalmente ten-so. Em fevereiro, começaram a vazar informações obtidas pelaPolícia Federal, no decorrer da Operação Monte Carlo, a respeitodo domínio do bicheiro Carlos Cachoeira sobre o Estado de Goiás.As gravações mostravam que Carlos Cachoeira tinha o controle dasegurança pública e de outros setores do Estado, que ele tinha opoder de nomear e demitir secretários de governo e que podia influiraté nas promoções dos oficiais da PM. Ficou claro também que osenador Demóstenes Torres, padrão da moralidade hipócrita da im-prensa golpista, era um empregado do bicheiro, que o governadorMarconi Perillo era uma marionete nas mãos de Carlos Cachoeira eque Roberto Gurgel, Procurador Geral da República, havia ocultadopor dois anos e meio os resultados da Operação Vega que apontavapara as mesmas tripolias do mesmo grupo.

O assunto era suficientemente grave para justificar a criação deuma CPI. Mas nem a oposição nem a imprensa golpista queria saberde CPI. Ronaldo Caiado (DEM-GO), esperto, explicou que a PolíciaFederal e o Ministério Público já estavam cuidando do assunto, quenão havia porque sobrepor esforços. Ora, Jilmar Tatto sabia que oProcurador Geral da República havia ocultado por dois anos e meioos resultados da Operação Vega, ele não era, portanto, um entusias-

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ta de investigações sobre Carlos Cachoeira e sua grei. Ninguémignora também que Marconi Perillo responde a cinco processos naJustiça e que esses processos tramitam numa espécie de sigilo her-mético e perpétuo de justiça. Diante deste quadro, Jilmar Tatto, con-siderando o poder das CPIs de quebrar sigilo e dar visibilidade àstripolias de figurões, fincou pé, mobilizou a Bancada, articulou comos aliados, mostrou a necessidade da criação de uma CPMI, envol-vendo, portanto, as duas Casas, para poder contemplar o senadorDemóstenes Torres, embaixador de Carlos Cachoeira no Senado.

A imprensa golpista não queria a CPI para não expor o jornalistaPolicarpo Jr., chefe da sucursal da Veja em Brasília, espécie de sócionos “negócios” de Carlos Cachoeira na área de espionagem e chan-tagem. Mas quando ficou claro que a CPMI do Cachoeira ia sercriada, tanto a imprensa golpista como a oposição aderiram à causacom insuspeitado entusiasmo, certamente esta adesão servia à táticade inviabilizar as investigações. Assim, a CPMI do Cachoeira foi ins-talada dia 25 de maio de 2012. Demóstenes Torres teve seu manda-to de senador cassado pelo plenário do Senado nos termos de umparecer elaborado pelo senador Humberto Costa (PT-PE) e aprova-do pelo Conselho de Ética daquela Casa. O parecer de HumbertoCosta não cuidou das transgressões criminais cometidas porDemóstenes Torres, ele se limitou a demonstrar os desvios de condu-ta ética praticados pelo então Senador do DEM. Foi nestes termosque se conseguiu por unanimidade a aprovação, no Conselho deÉtica, do parecer que recomendava a cassação do senador goiano.No Plenário, a cassação de Demóstenes Torres não foi por unanimi-dade, mas por uma diferença expressiva.

O método usado pelo Senado para cassar o mandato deDemóstenes Torres tem a virtude inegável da celeridade. Mas padecedo vício de que ele só permite a punição do titular do cargo, preservaos suplentes do Senador. Assim, no imediato pós-cassação deDemóstenes Torres a vaga deixada por ele foi ocupada por WilderMoraes, ele mesmo ligado a Carlos Cachoeira e partícipe dos mes-mos esquemas de financiamento ilegal de campanhas de seu compar-sa. Decorre daí a necessidade da instrução de um processo que casseo conjunto da chapa, ou seja, Demóstenes Torres e seus suplentes,porque toda ela foi financiada ilegalmente pelo jogo do bicho.

Então, se ao Senado coube o mérito de cassar o mandato deDemóstenes Torres, à CPMI coube o mérito de reunir e divulgar adocumentação que comprova os crimes cometidos por Carlos Ca-choeira, Marconi Perillo e Demóstenes Torres. Esta documentaçãoservirá para instruir processos que levem a punições cabíveis a estes

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malfeitores. Não é concebível que Demóstenes Torres saia escorraçadodo Senado para assumir seu posto no Ministério Público de Goiás,como se nada tivesse acontecido.

A CPMI do Cachoeira cumpriu também o papel importante dedesmascarar as armações organizadas pelos esquemas de espiona-gem de Carlos Cachoeira e largamente divulgadas pela imprensagolpista contra Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, eseu então chefe de gabinete Cláudio Monteiro. Ambos comparece-ram à CPMI, deram depoimentos convincentes, colocaram seus sigilosà disposição da comissão e receberam, não sem emoção, o reconhe-cimento, até de parlamentares da oposição, entre eles Carlos Sampaio(PSDB-SP), de que eram inocentes. A CPMI do Cachoeira falhou noentanto quando não convocou para depor o jornalista Policarpo Jr.,sobretudo quando se sabe que ele uma vez depôs voluntariamenteno Conselho de Ética da Câmara, como testemunha de defesa deCarlos Cachoeira. É certo que ele poderia invocar o direito constitu-cional de ficar calado. Mas, neste caso, a não convocação soa comouma omissão do Legislativo. Funciona como um estímulo àdelinquência. Infelizmente, a bancada do PMDB e o deputado MiroTeixeira (PDT-RJ) se negaram a apoiar esta convocação essencial.

Antes do aparecimento desta história de Carlos Cachoeira, ha-via sido publicado um livro que se tornou “best seller”. Trata-se de “APrivataria Tucana”, de Amaury Ribeiro Jr. Este livro é uma narrativacentrada em documentação colhida pela CPMI do “Banestado”, atéentão inédita. Ele chama a atenção para o papel desempenhadopor José Serra no processo de privatizações executado pelo governode FHC e dos proveitos tirados por seus familiares e amigos. A im-prensa golpista naturalmente recebeu o livro com hostilidade, masterminou, em notas de pé de página, admitindo a existência do livroe até que ele esteve na lista dos mais vendidos. Surgiu na Câmaraentão uma proposta de CPI para investigar as denúncias. O LíderJilmar Tatto assinou o requerimento, que contém o número legal deassinaturas necessárias para a criação da CPI. A decisão de mandarinstalar a CPI é do Presidente da Câmara.

E foi neste ano tenso de 2012 que a imprensa golpista capturou oSupremo Tribunal Federal (STF) , cuja maioria aceitou desempenharsem sucesso um triste papel de cabo eleitoral de uma oposição des-norteada. A realização de um julgamento espetáculo, rigorosamentecronometrado com o processo eleitoral, tinha como objetivo demonizaro PT. Mas fracassou. O PT foi o partido mais votado do Brasil, obteve17,3 milhões de votos para prefeito no primeiro turno das eleições.Manteve intacto seu potencial de vitória nas presidenciais de 2014 e

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segue firme na condução de uma economia cada vez mais forte e naconstrução de um país democrático, socialmente justo e consciente deseu papel independente no cenário internacional. Neste cenárioapocalíptico, de luta maniqueísta do bem contra mal, montado pelamídia golpista, Jilmar Tatto atuou em São Paulo na campanha deFernando Haddad. Teve a satisfação de ver a ascensão de FernandoHaddad, que passou para o 2º Turno das eleições, contrariando osinstitutos de pesquisa e a imprensa golpista que nunca lhe atribuíram osegundo lugar. Jilmar Tatto encarou o 2º Turno consciente de queFernando Haddad era o candidato favorito e isso se confirmou.

Na pauta legislativa deste ano eleitoral figuram iniciativas impor-tantes aprovadas no Plenário da Câmara com o apoio da Bancadado PT, sob a liderança de Jilmar Tatto e aliados. Destaca-se a apro-vação da Lei que instituiu o Regime Diferenciado de Contratação(RDC) para construção e reforma de estabelecimentos de educaçãoinfantil e a aprovação da Lei que criou o Funpresp (Fundação dePrevidência do Servidor Público Federal). Esta iniciativa visa reduzir asgrandes discrepâncias que existem entre as aposentadorias do setorpúblico e do setor privado. Ela busca também ampliar a capacidadenacional de investimento. O Código Florestal voltou ao plenário daCâmara que aprovou uma versão, também aprovada pelo Senado,mas que ainda continha dispositivos insatisfatórios.

Finalmente, encerrado o segundo turno das eleições municipais,novos desafios aguardavam os deputados, que se debruçaram sobrea questão dos royalties do petróleo e do gás do pré-sal. A Câmaradiscutiu também a MP 579/2012 que trata da redução dos encargossetoriais de transmissão e distribuição de energia elétrica. Esta MP re-

duziu as tarifas de energia elé-trica para os consumidores in-dustriais em 28% e para osconsumidores residenciais em16%. O governo julga queeste é um projeto estratégicoe, por isso, Jilmar Tatto, líderdo PT, foi indicado presidenteda Comissão Especial quediscutiu o assunto.

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José Guimarães

Petista histórico tem a garra e

a coragem do povo nordestino

Atual Líder do PT na Câmara; Liderança iniciada em 20 de dezembro de 2012

asceu em Quixeramobim, Ceará em 13 de fevereiro de 1959,filho de um casal de camponeses, Sebastião Genoino Guimarãese Maria Laiz Nobre Guimarães. Entre seus irmãos está o deputa-do José Genoino, destacado militante do PT e ex-presidente doDiretório Nacional do partido. José Guimarães é advogado, for-mado pela UFC (Universidade Federal do Ceará).

No período da resistência à ditadura, José Guimarães, em1978, filiou-se ao MDB, militou no movimento sindical e no Co-mitê Brasileiro pela Anistia. Como bancário esteve na linha defrente da histórica greve dos bancários de 1979 que resultaria naconquista do sindicato para o campo do sindicalismo autêntico.Participou da campanha das Diretas Já (1983/84) e deu sua con-tribuição à construção da CUT.

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De 1979 a 1984 atuou como assessor parlamentar com de-dicação e competência no gabinete do deputado Iranildo Pereira,em seguida no gabinete da deputada Maria Luiza Fontenelle. Nomovimento estudantil, em 1985, exerceu o cargo de SecretárioGeral do Centro Acadêmico Clóvis Beviláqua da Faculdade deDireito da UFC. Neste mesmo ano filiou-se ao PT e foi um doscoordenadores da campanha vitoriosa de Maria Luiza Fontenellea prefeita da Fortaleza.

Na administração petista da capital do Ceará, exerceu o car-go de chefe de gabinete da prefeita e no ano de 1987 saiu dachefia do gabinete para ocupar o cargo de presidente do IPM(Instituto de Previdência do Município), de Fortaleza. No ano de1988 concluiu o curso de Direito. Durante todo este período mili-tou no movimento sindical dos bancários.

Em 1989 participou da memorável campanha Lula Presiden-te, atuando na coordenação dos trabalhos no Estado do Ceará.No período 1990-91 exerceu o cargo de secretário geral doDiretório do PT em seu Estado e em 1992 foi eleito Presidente doDiretório Regional. Exerceu mandatos que somaram oito anos àfrente do Diretório do PT do Ceará, tendo como tarefa principal ainteriorização da organização partidária, fazendo com que o par-tido chegasse a quase todos os municípios do Estado.

Nas eleições de 1998 foi candidato a deputado estadual peloPT à Assembleia Estadual do Ceará quando obteve a primeirasuplência. Em junho de 2000, assumiu o mandato de deputadoestadual. Sua principal tarefa na Assembleia Legislativa foi presi-dir a Comissão Especial do FINOR (Fundo de Investimento doNordeste), linha de investimento da União destinada aos diferen-tes Estados daquela região. Em 2001, José Guimarães tornou-selíder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Ceará emembro do Diretório Nacional do partido.

Em 2002, José Guimarães participou da coordenação dacampanha presidencial no seu Estado e concorreu, com sucesso,a uma vaga de deputado estadual. Assumiu seu novo mandatoem 2003, portanto, no início do primeiro governo do PresidenteLula. Desde o primeiro momento agiu no sentido de contribuirpara divulgar e explicar as ações do governo que se iniciava emBrasília e que iria mudar os rumos do Brasil.

Em 2005 houve uma tentativa de envolver o nome de JoséGuimarães em escândalos que tentavam criminalizar o PT e diri-gentes do partido. Esta tentativa não prosperou. Tanto a

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Assembleia Legislativa do Ceará, quanto o STJ – Superior Tribu-nal de Justiça -, o inocentaram em ação transitada e julgada.

Nas eleições gerais de 2006 que reelegeram o Presidente LuizInácio Lula da Silva, José Guimarães conquistou seu primeiromandato de deputado federal. Assumiu o cargo no começo de2007 e participou de todas as batalhas da bancada de sustenta-ção para viabilizar as obras do governo do Presidente Lula, coro-ando de sucesso seu segundo mandato, melhorando significati-vamente a vida de milhões de brasileiros e afirmando o Brasilcomo ator de destaque na cena internacional.

José Guimarães construiu uma trajetória ascendente na Câ-mara dos Deputados. Já em 2007, presidiu a subcomissão doNordeste. No ano seguinte coordenou a bancada petista na Co-missão Mista do Orçamento do Congresso Nacional. Foi eleitopor dois mandatos, coordenador da bancada federal do Ceará,ocupando também a vice-liderança do PT.

Em 2010, José Guimarães é reeleito com 210.366 votos dis-tribuídos por todos os 184 municípios cearenses. Foi o deputadofederal mais votado do PT no Estado. Em 2011 voltou a exerceruma das vice-lideranças da bancada, atuando, sobretudo, naComissão de Finanças e Tributação, como titular, e na Comissãode Desenvolvimento Urbano, como suplente. Neste ano ele atuoutambém, como titular, na importante Comissão Especial da Refor-ma Política.

No segundo mandato na Câmara, José Guimarães retornouàs comissões permanentes de Finanças e Tributação; de Consti-tuição e Justiça e Desenvolvimento Urbano. Assumiu a coordena-ção da Bancada do Nordeste no Congresso Nacional e foi eleitolíder do PT na Câmara dos Deputados.

Uma das grandes contribuições do segundo mandato de JoséGuimarães foi a aprovação da MP 527/2011 que criou o RegimeDiferenciado de Contratação (RDC), estabelecendo regras paraagilizar a contratação e execução das obras necessárias à reali-zação da Copa das Confederações, em 2013, da Copa do Mun-do de 2014, das Olimpíadas e das Paraolimpíadas de 2016. Oobjetivo do RDC é dar às obras agilidade com transparência,garantindo a execução em tempo hábil e com pleno acompanha-mento pelos órgãos de fiscalização e controle.

Vale registrar que o RDC foi aprovado pelo plenário da Câ-mara por 272 votos favoráveis e 76 contrários, tendo seu textosido mantido pelo Senado. A aprovação do RDC, após amplodebate público, tem permitido a realização de obras como as

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ampliações e as modernizações dos aeroportos das cidades se-des, as construções e reformas amplas de estádios, e aimplementação de várias obras de mobilidade urbana. A impor-tância e a complexidade do RDC são atestadas pelo fato de que amatéria teve quatro relatores antes de conseguir tramitar com su-cesso.

Em 2013, José Guimarães presidiu a Comissão Especial Mis-ta que tratou do novo marco regulatório do setor portuário. Apóslongas batalhas políticas e regimentais, com mais de 40 horas desessões, o Plenário da Câmara aprovou as novas regras do setor,que foram posteriormente ratificadas pelo Senado. Na comissãoespecial José Guimarães abriu o diálogo com todos os segmen-tos envolvidos com este setor.

A MP dos Portos tem o objetivo de facilitar a expansão dosinvestimentos públicos e privados no setor, aumentar a competi-ção e, ainda, retoma a capacidade de planejamento, além decriar um programa nacional de dragagens. A expectativa é deque a médio e longo prazo os gargalos sejam superados.

Mais recentemente, José Guimarães apresentou Projeto deLei que revoga parcialmente a atual Lei das Licitações, incorpo-rando dispositivos constantes do RDC, da Lei do Pregão e da Leidas PPPs (Parcerias Público-Privados), mas preservando metadedos dispositivos da Lei 8666, das licitações. Vale registrar que aCasa Civil da Presidência República considera que o RDC serviupara reduzir o tempo médio das licitações na Infraero de 243 diaspara 104 dias e no Departamento Nacional de Infraestrutura deTransportes (DNIT) de 279 dias para 79 dias.

Neste ano, coube a José Guimarães, na condição de Líder,conduzir a bancada do PT durante a tempestade desencadeadapelas legítimas manifestações de massas, que eclodiram a partirde junho, inicialmente contra as altas tarifas e as péssimas condi-ções dos serviços de transporte coletivo urbano, mas contandocom outros desdobramentos igualmente legítimos surgidos da pró-pria dinâmica das manifestações.

O governo da presidenta Dilma Rousseff reagiu às manifesta-ções com propostas. Reconheceu a legitimidade dos movimentose condenou a violência tanto dos vândalos quanto das polícias epropôs então um pacto nacional expresso em cinco pontos paraenfrentar a crise: (a) Responsabilidade fiscal; (b) Mobilidade ur-bana; (c) Educação; (d) Saúde e (e) Reforma Política.

As medidas correspondentes aos pontos acima mencionados,que precisam ser transformadas em lei, já estão em tramitação no

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Congresso Nacional. O deputado José Guimarães, na condiçãode Líder da bancada do PT, é um dos principais negociadores dostextos em exame e neste sentido vem sendo chamado cotidiana-mente a exercer sua reconhecida capacidade de diálogo e con-vencimento para construir maiorias necessárias à aprovação dasiniciativas propostas.

No campo da Educação, Dilma Rousseff propôs ao Congres-so Nacional a aprovação de 100% dos royalties sobre petróleo egás do pré-sal para educação. O Congresso aprovou uma fór-mula que garante 75% dos royalties para educação e de 25%para a saúde. Assegurou também que 50% do Fundo Social dopré-sal irá para a educação. José Guimarães desempenhou pa-pel decisivo na realização desta conquista. Com isso o governoDilma Rousseff obteve as condições para cumprir o preceito legalque destina 10% do PIB para investimento em educação.

No item saúde pública, o ponto mais polêmico e mais ousadoé o programa Mais Médicos. A Presidenta Dilma Rousseff enviouMedida Provisória ao Congresso que permite ao governo contra-tar médicos estrangeiros para trabalharem para o SUS nas cida-des do interior e em áreas da periferia das grandes cidades quenão dispõem deste tipo de profissional e para onde médicos bra-sileiros não quiseram ir. A presidenta Dilma Rousseff também con-tou com a atuação aguerrida do Líder José Guimarães para obtersua aprovação. A Bancada do PT posicionou-se bravamente paraaprovar o programa, sancionado pelo Governo.

Dos pactos propostos pela Presidenta Dilma Rousseff consta tam-bém a realização uma Reforma Política, precedida de um plebiscitoatravés do qual o povo decidiria sobre os principais temas. Apesarda resistência de várias forças políticas à participação popular nestedebate, a Bancada do PT levou adiante a iniciativa. O líder JoséGuimarães conduziu a articulação vitoriosa junto ao PDT, PSB e PCdo B, que culminou na conquista de assinaturas necessárias para atramitação de um Projeto de Decreto Legislativo que visa assegurar arealização de um plebiscito sobre a reforma política.

Neste episódio, mais de 200 deputados se mostraram favorá-veis a um projeto que procura viabilizar a consulta popular. ParaJosé Guimarães, a consulta popular sobre os temas da reformapolítica, caso venha a ser realizada, seria uma conquista históricaporque, certamente, contribuiria para a realização de uma refor-ma destinada a ampliar a democracia e combater a corrupção.

Sob o comando de José Guimarães, a bancada também apoiaos demais pontos do pacto proposto pela Presidenta Dilma Rousseff,

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pois está certa de que eles respondem a anseios prementes dasociedade e mais cedo do que podem imaginar alguns setores,prevalecerão sobre a visão dos céticos, cuja noção de democra-cia não inclui a participação popular.

Além da pauta positiva, é dever do líder acompanhar tambéma tramitação de projetos, das mais diferentes origens, que consti-tuem uma verdadeira pauta negativa. Nesse campo vale destacardois exemplos de projetos que procuram prejudicar setores frá-geis da população com a perda de direitos. Um deles, o PL 4330/2004, trata da regulamentação do trabalho terceirizado. Este pro-jeto tramita na Comissão de Constituição e Justiça com poderterminativo e visa precarizar direitos dos trabalhadores. A banca-da do PT, sob o comando de Guimarães, tem lutado para impedirque tal tipo de matéria seja aprovado.

O mesmo pode ser dito com relação à PEC 215/2000, quedispõe sobre a demarcação das terras indígenas. Ela tira poderesdo Executivo sobre a demarcação destas áreas e transfere estepoder ao Legislativo. O PT considera que esta é uma funçãotípica do Executivo e é compatível com agilidade e a capacidadeoperacional característica daquele Poder. A bancada do PT e seuLíder, José Guimarães, naturalmente se opõem a esta iniciativacontra os direitos dos povos indígenas.

José Guimarães se orgulha de ter elaborado e conduzido tesesvencedoras ao longo de sua carreira, como a construção da alian-ça que elegeu Cid Gomes governador, com vitória no primeiro tur-no; a unidade na escolha de Luzianne Lins para presidenta dodiretório estadual do PT, na composição pela reeleição de CidGomes e a eleição do primeiro senador do PT no Estado do Ceará.

O deputado José Guimarães, como não poderia deixar deser, tem demonstrado grande capacidade de articular os interes-ses do Ceará com os interesses do Brasil e, por isso mesmo éinterlocutor constante entre o governo federal e governo do Cea-rá, tem presença constante em todas as regiões do Estado, é figu-ra de destaque do Campo Democrático, principal tendência in-terna do partido no Estado.

Em função de sua atenção constante e destacada na vidaparlamentar, José Guimarães aparece de 2011 a 2013 na listados “Cabeças do Congresso Nacional”, elaborada anualmentepelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP)para apontar os parlamentares mais influentes do Parlamento. Eleestá também na lista do Anuário do Ceará 2013, como o deputa-do cearense mais influente no parlamento nacional.

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José Guimarães é um petista histórico, com forte presença eatuação nas instâncias partidárias. Foi secretário-geral e presi-dente do partido no âmbito estadual. Integrante do Diretório Na-cional é, atualmente, 2º vice-presidente nacional do PT. Estecearense traz as marcas da luta do nordestino contra o históricoabandono pelo poder central – realidade que só mudou com osgovernos dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.Ele encarna a vontade e a esperança do povo nordestino em lutapor melhores condições de vida.

A vida de José Guimarães no Congresso Nacional expressa arealização de seu compromisso pela construção de um Brasil e deum Ceará fundados sobre a visão de justiça social e democracia,com igualdade de oportunidades para todos, consubstanciadano pacto entre os governos do PT, sob Lula e Dilma, e o povobrasileiro.

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Após homenagem que recebeu na Câmara, em sessão pelos 25 anos da Constituição, o ex-presidenteApós homenagem que recebeu na Câmara, em sessão pelos 25 anos da Constituição, o ex-presidenteApós homenagem que recebeu na Câmara, em sessão pelos 25 anos da Constituição, o ex-presidenteApós homenagem que recebeu na Câmara, em sessão pelos 25 anos da Constituição, o ex-presidenteApós homenagem que recebeu na Câmara, em sessão pelos 25 anos da Constituição, o ex-presidenteLula junta-se à bancada do PT para esta foto históricaLula junta-se à bancada do PT para esta foto históricaLula junta-se à bancada do PT para esta foto históricaLula junta-se à bancada do PT para esta foto históricaLula junta-se à bancada do PT para esta foto histórica

José GuimarãesJosé GuimarãesJosé GuimarãesJosé GuimarãesJosé GuimarãesLíder da Bancada do PT na CâmaraLíder da Bancada do PT na CâmaraLíder da Bancada do PT na CâmaraLíder da Bancada do PT na CâmaraLíder da Bancada do PT na Câmara

Novembro/2013Novembro/2013Novembro/2013Novembro/2013Novembro/2013

“Lula tem dedicado a sua vida a aprender e aensinar novas lições sobre as formas de enfrentaros destinos. Sempre mostrando que a esperançareside na capacidade de organização política dos

humilhados e dos ofendidos para mudar seusdestinos e que o medo, o terror e a astúcia são as

armas dos opressores e, por mais poderosas quesejam, podem ser derrotadas. Este é o maior

legado do ex-presidente Lula”.

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CONTRA CAPA