biodiesel de microalgas cultivadas em dejeto suíno biodigerido

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DHYOGO MILÉO TAHER BIODIESEL DE MICROALGAS CULTIVADAS EM DEJETO SUÍNO BIODIGERIDO CURITIBA 2013

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Estudos atuais mostram o grande potencial da utilização de microalgas para a produção de biodiesel e geração de energia devido ao seu rápido crescimento, produtividade e alto teor de lipídeos. O aprimoramento dos processos de produção e a diminuição de custos são os principais desafios a serem superados no desenvolvimento dessa tecnologia. Como o meio de cultivo corresponde a 75% do custo de produção da biomassa, o presente trabalhoteve o objetivo de avaliar a utilização de dejeto proveniente de suinoculturacomo alternativa ao meio de cultivo sintético no cultivo de microalgas. Oefluente suíno é rico em fósforo e nitrogênio e se configura como graveproblema ambiental se descartado incorretamente. Com base nesses dados, propôs-se três diluições do dejeto em água (5%, 10% e 30%). Os melhores resultados foram obtidos em cultivo em reator airlift na diluição de 10%, com concentração final de células igual a 5199 ± 458 x104 cél.mL-1 e produção efetiva de biomassa de 1,44 ± 0,04 g.L-1. Esses resultados são 70% e 40% superiores quando comparados ao meio de cultivo sintético usado comocontrole. Após a recuperação da biomassa, o óleo foi extraído e o biodiesel sintetizado por esterificação enzimática. O perfil lipídico dos ácidos graxos presentes no óleo consistiu em 29,12% saturados, 49,08% monoinsaturados e 20,5% poli-insaturados. A produção de óleo em 15 dias de cultivo com efluentesuíno correspondeu a 360 mg.L-1, sendo 46% superior ao cultivo controle. A conversão do óleo em biodiesel consistiu em 98,73% em 12 horas. Além disso, avaliou-se a capacidade de remoção de nutrientes do efluente pelas microalgas e alcançou-se uma diminuição média de 94,5% de nitrogênio amoniacal, nitrogênio orgânico e nitrogênio total. Os resultados puderam comprovar aeficiência da utilização de resíduo suíno como meio de cultivo e fonte denutrientes para as microalgas, a viabilidade da produção do biodiesel e a consequente biorremediação desse dejeto, demonstrando o potencial que ocultivo de microalgas apresenta em relação a produção de biocombustíveis e adequação ambiental de efluentes.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    DHYOGO MILO TAHER

    BIODIESEL DE MICROALGAS CULTIVADAS EM DEJETO SUNO

    BIODIGERIDO

    CURITIBA

    2013

  • DHYOGO MILO TAHER

    BIODIESEL DE MICROALGAS CULTIVADAS EM DEJETO SUNO

    BIODIGERIDO

    Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Engenharia e Cincia dos Materiais, Setor de Tecnologia, da Universidade Federal do Paran.

    Orientador: Prof. Dr. Andr Bellin Mariano

    CURITIBA

    2013

  • FICHA CATALOGRFICA

  • TERMO DE APROVAO

    DHYOGO MILO TAHER

    BIODIESEL DE MICROALGAS CULTIVADAS EM DEJETO SUNO

    BIODIGERIDO

    Dissertao aprovada como requisito parcial para obteno do grau de Mestre

    no Curso de Ps-graduao em Engenharia e Cincia dos Materiais, Setor de

    Tecnologia, Universidade Federal do Paran, pela seguinte banca

    examinadora:

    ________________________________

    Prof. Dr. Andr Bellin Mariano

    Orientador NPDEAS, UFPR

    ________________________________

    Prof. Dra. Marilda Munaro

    Departamento de Engenharia e Cincia dos Materiais, UFPR

    ________________________________

    Prof. Dr. Pedro Augusto Arroyo

    Departamento de Engenharia Qumica, UEM

    Curitiba, 23 de agosto de 2013.

  • A todos aqueles que enxergam na natureza e meio-ambiente o verdadeiro motivo pelo

    qual estamos aqui

  • AGRADECIMENTOS

    Aps 108 pginas arduamente escritas nesse trabalho, essa com

    certeza a seo mais difcil de se redigir.

    Agradeo a Deus por ter tornado esse momento possvel. Por ter chego,

    at ento, ao pice da minha carreira.

    minha me, amiga, parceira e conselheira de todas as horas, e meu

    pai (mesmo estando no cu), por terem a muito custo me dado a base

    necessria para atingir mais esse objetivo.

    Ao meu amigo, professor e orientador Dr. Andr Bellin Mariano, pelo

    companheirismo, apoio, suporte, orientao e injeo de nimo necessrios.

    Dbora Andreatta da Silva, que foi crucial em seus palpites,

    formataes e auxlio na reta final. Sem voc esse trabalho no teria

    acontecido.

    Aos meus amigos e colegas do NPDEAS, que de alguma forma tenham

    contribudo com esse trabalho, em especial Diego de Oliveira Corra, Bruno

    Miyawaki e Beatriz Santos.

    Por fim, agradeo aos porquinhos por produzirem grandes quantidades

    de dejeto rico em nutrientes e s microalgas, por no serem to exigentes e

    usarem esse resduo para sua prpria nutrio e crescimento.

  • O que conta Na vida (sabedoria)

    Que o contrrio se prove sem qualquer teoria

    Tirar dez Naquela prova dos nove

    (autor desconhecido)

  • RESUMO

    Estudos atuais mostram o grande potencial da utilizao de microalgas para a produo de biodiesel e gerao de energia devido ao seu rpido crescimento, produtividade e alto teor de lipdeos. O aprimoramento dos processos de produo e a diminuio de custos so os principais desafios a serem superados no desenvolvimento dessa tecnologia. Como o meio de cultivo corresponde a 75% do custo de produo da biomassa, o presente trabalho teve o objetivo de avaliar a utilizao de dejeto proveniente de suinocultura como alternativa ao meio de cultivo sinttico no cultivo de microalgas. O efluente suno rico em fsforo e nitrognio e se configura como grave problema ambiental se descartado incorretamente. Com base nesses dados, props-se trs diluies do dejeto em gua (5%, 10% e 30%). Os melhores resultados foram obtidos em cultivo em reator airlift na diluio de 10%, com concentrao final de clulas igual a 5199 458 x104 cl.mL-1 e produo efetiva de biomassa de 1,44 0,04 g.L-1. Esses resultados so 70% e 40% superiores quando comparados ao meio de cultivo sinttico usado como controle. Aps a recuperao da biomassa, o leo foi extrado e o biodiesel sintetizado por esterificao enzimtica. O perfil lipdico dos cidos graxos presentes no leo consistiu em 29,12% saturados, 49,08% monoinsaturados e 20,5% poli-insaturados. A produo de leo em 15 dias de cultivo com efluente suno correspondeu a 360 mg.L-1, sendo 46% superior ao cultivo controle. A converso do leo em biodiesel consistiu em 98,73% em 12 horas. Alm disso, avaliou-se a capacidade de remoo de nutrientes do efluente pelas microalgas e alcanou-se uma diminuio mdia de 94,5% de nitrognio amoniacal, nitrognio orgnico e nitrognio total. Os resultados puderam comprovar a eficincia da utilizao de resduo suno como meio de cultivo e fonte de nutrientes para as microalgas, a viabilidade da produo do biodiesel e a consequente biorremediao desse dejeto, demonstrando o potencial que o cultivo de microalgas apresenta em relao a produo de biocombustveis e adequao ambiental de efluentes.

    Palavras chaves: biodiesel, microalga, dejeto suno, biorremediao.

  • ABSTRACT

    Current studies show the great potential of using microalgae for biodiesel production and energy generation due to its simple structure, fast growth and high lipid content. The improvement of production processes and the reduction of the costs are the main challenges to be overcome in the development of this technology. As the culture medium corresponds to 75% of the production cost of biomass, this study aimed to evaluate the use of manure from swine as an alternative to synthetic culture medium in the cultivation of microalgae. The swine wastewater is rich in phosphorous and nitrogen and is configured as a serious environmental problem if discarded improperly. Based on these data, it was proposed three dilutions of manure in water (5%, 10% and 30%). The best results were obtained in airlift reactor cultivation at the dilution of 10%, with cell growth of 5199 458 x104 cl.mL-1 and effective biomass gain of 1.44 0.04 g.L-1. These results are 70% and 40% higher when compared to the control medium. The lipid profile of the fatty acids present in the oil consisted of 29.12% saturated, 49.08% monounsaturated and 20.5% polyunsaturated. Oil production in 15 days of culture with swine wastewater corresponded to 360 mg.L-1, 46% higher than the control cultive. The conversion of oil to biodiesel consisted of 98.73% in 12 hours. Furthermore, it was evaluated the capacity of microalgae to remove nutrients from wastewater and it was reached an average decrease of 94.5% of ammoniacal nitrogen, organic nitrogen and total nitrogen. The results could prove the efficiency of the use of pig waste as culture medium and nutrient source for microalgae, the viability of biodiesel production and the consequent bioremediation of this manure, demonstrating the potential that the cultivation of microalgae shows in the production of biofuels and the environmental suitability of effluents.

    Keywords: biodiesel, microalgae, swine manure, bioremediation.

  • LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 01 REPRESENTAO DE TRABALHOS LEVANTADOS NA BASE

    ISI DE ARTIGOS RELACIONANDO Scenedesmus COM

    PALAVRAS-CHAVE DE INTERESSE ...................................... 27

    FIGURA 02 TRS PRINCIPAIS SISTEMAS ABERTOS DE PRODUO DE

    MICROALGAS. (A) LAGOAS TIPO PISTA, (B) LAGOA TIPO

    CIRCULAR, (C) TANQUE ABERTO ......................................... 39

    FIGURA 03 DIFERENTES CONFIGURAES DE FOTOBIORREATORES

    TUBULARES. (A) PROTTIPO MINI-FOTOBIORREATOR, (B)

    REATOR TIPO AIRLIFT, (C) FOTOBIORREATOR DE 10 m .. 41

    FIGURA 04 FLUXOGRAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS NO NPDEAS

    .................................................................................................. 42

    FIGURA 05 FOTOBIORREATOR DE 10 m SITUADO NO NPDEAS. (A)

    FOTOBIORREATOR, (B) BOMBA DE CIRCULAO E

    COLUNA DE TROCAS GASOSAS, (C) VISO DETALHADA

    DOS RAMAIS ............................................................................ 43

    FIGURA 06 FLUXOGRAMA DAS METAS E ESTRATGIAS DE TRABALHO

    .................................................................................................. 47

    FIGURA 07 SALA DE CULTIVO. (A) VISO GERAL DA SALA, (B)

    MICROGRAFIA DA MICROALGA Scenedesmus sp. COM

    AUMENTO DE 400X ................................................................. 48

    FIGURA 08 BIODIGESTOR DE ONDE FOI COLETADO O EFLUENTE

    SUNO (CASTRO PR). (A) BIODIGESTOR TIPO LAGOA

    COBERTA, (B) EFLUENTE BIODIGERIDO COLETADO EM

    LAGOA DE ESTABILIZAO ................................................... 49

    FIGURA 09 DISPOSIO DOS CULTIVOS EM ESCALA LABORATORIAL

    .................................................................................................. 51

    FIGURA 10 CULTIVOS EM REATORES TIPO AIRLIFT.............................. 52

    FIGURA 11 CURVA TPICA DE CRESCIMENTO CELULAR. (1) FASE LAG,

    (2) FASE DE CRESCIMENTO EXPONENCIAL, (3) FASE DE

  • CRESCIMENTO LINEAR, (4) FASE ESTACIONRIA, (5) FASE

    DE DECLNIO ........................................................................... 53

    FIGURA 12 SISTEMA DE FILTRAO ....................................................... 55

    FIGURA 13 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE EXTRAO A FRIO DE

    LIPIDEOS PARA DETERMINAO ANALTICA ...................... 58

    FIGURA 14 PROCESSO DE FLOCULAO QUMICA. (A) ANTES, (B)

    ADIO DE CLORETO FRRICO HEPTAHIDRATADO E

    AGITAO, (C) MICROALGAS FLOCULADAS ....................... 59

    FIGURA 15 REPRESENTAO NORMAL SIMETRICA ............................. 63

    FIGURA 16 EFLUENTE SUNO APS O PROCESSO DE ESTERILIZAO

    .................................................................................................. 65

    FIGURA 17 RESULTADOS DAS ANLISES DE DENSIDADE CELULAR

    DOS CULTIVOS CONTROLE (MEIO CHU) E CULTIVOS COM

    DEJETO SUNO EM DIFERENTES DILUIES. (A) 5%, (B)

    10%, (C) 30%. ........................................................................... 66

    FIGURA 18 RESULTADOS DAS ANLISES DE BIOMASSA SECA DOS

    CULTIVOS CONTROLE (MEIO CHU) E CULTIVOS COM

    DEJETO SUNO EM DIFERENTES DILUIES. (A) 5%, (B)

    10%, (C) 30%. ........................................................................... 67

    FIGURA 19 RESULTADOS DAS ANLISES ESPECTROFOTOMETRICAS

    DOS CULTIVOS CONTROLE (MEIO CHU) E CULTIVOS COM

    DEJETO SUNO EM DIFERENTES DILUIES. (A) 5%, (B)

    10%, (C) 30%. ........................................................................... 69

    FIGURA 20 RESULTADOS DAS ANLISES DE pH DOS CULTIVOS

    CONTROLE (MEIO CHU) E CULTIVOS COM DEJETO SUNO

    EM DIFERENTES DILUIES. (A) 5%, (B) 10%, (C) 30%. ..... 71

    FIGURA 21 ATIVIDADES E EXPERIMENTOS EM ESCALA

    LABORATORIAL ....................................................................... 72

    FIGURA 22 RESULTADOS DOS CULTIVOS CONTROLE (MEIO CHU) E

    COM DEJETO SUNO DILUIDO A 10% REALIZADOS EM

    REATOR AIRLIFT. (A) DENSIDADE CELULAR, (B) BIOMASSA

    SECA, (C) ABSORBANCIA EM 540 nm, (D) pH. ...................... 74

  • FIGURA 23 ASPECTO DO LEO DURANTE A EXTRAO DE MATERIAL

    APOLAR A PARTIR DOS CULTIVOS REALIZADOS COM

    DEJETO SUNO EM REATOR AIRLIFT (LIPIDEOS +

    SOLVENTES) ........................................................................... 76

    FIGURA 24 CONVERSO DO LEO DE MICROALGAS A BIODIESEL POR

    ESTERIFICAO ENZIMTICA ............................................... 82

    FIGURA 25 ATIVIDADES E EXPERIMENTOS EM REATOR AIRLIFT ....... 85

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 01 TRABALHOS REALIZADOS COM A MICROALGA

    Scenedesmus sp. (1996 2013) .............................................. 26

    TABELA 02 MATRIAS-PRIMAS USADAS PARA A PRODUO DO

    BIODIESEL NO BRASIL DE 2008 A 2012 (VALORES

    EXPRESSOS EM m) ............................................................... 29

    TABELA 03 COMPARATIVO DE PREOS ENTRE O DIESEL FSSIL E

    BIODIESEL DE 2008 A 2012 (R$/m) ....................................... 30

    TABELA 04 RENDIMENTO ANUAL DE LEO PARA PLANTAS

    OLEAGINOSAS UTILIZADAS NA PRODUO DO BIODIESEL

    .................................................................................................. 32

    TABELA 05 EFETIVO SUNO NO BRASIL (1990 2009) ........................... 33

    TABELA 06 COMPOSIO MDIA DE RESDUO SUNO BIODIGERIDO . 34

    TABELA 07 PRODUO DE DEJETO POR DIFERENTES CATEGORIAS

    DE SUNOS .............................................................................. 35

    TABELA 08 COMPOSIO QUMICA DO MEIO CHU MODIFICADO ........ 38

    TABELA 09 PRINCIPAIS PRODUES CIENTFICAS DESENVOLVIDAS

    PELO NPDEAS DE 2008 A 2013 .............................................. 44

    TABELA 10 PROPORES DE NITROGNIO E FSFORO INICIAIS DOS

    CULTIVOS COM RESDUO SUNO ......................................... 50

    TABELA 11 CORRELAO DA DENSIDADE CELULAR E BIOMASSA

    SECA DOS CULTIVOS EM ESCALA LABORATORIAL ........... 70

    TABELA 12 CORRELAO DA DENSIDADE CELULAR E BIOMASSA

    SECA DOS CULTIVOS EM REATORES AIRLIFT ................... 74

    TABELA 13 RENDIMENTOS DE PRODUTIVIDADE DE LIPDEOS NOS

    CULTIVOS EM REATORES AIRLIFT ....................................... 77

    TABELA 14 TEOR LIPIDICO EM DIFERENTES ESPCIES DE

    MICROALGAS .......................................................................... 77

    TABELA 15 COMPOSIO DE CIDOS GRAXOS DE MICROALGAS DO

    GNERO Scenedesmus ........................................................... 78

  • TABELA 16 COMPARAO DA COMPOSIO DE CIDOS GRAXOS DAS

    MICROALGAS E DA SOJA, CANOLA E PALMA ..................... 80

    TABELA 17 REMOO DE NUTRIENTES DO RESDUO SUNO APS A

    SEPARAO DA BIOMASSA DE MICROALGAS ................... 83

    TABELA 18 REMOO DE NITROGNIO AMONIACAL DE DIFERENTES

    TRABALHOS ............................................................................ 83

  • LISTA DE SIGLAS

    ABIOVE Associao Brasileira das Indstrias de leos

    Vegetais

    BHT Butilhidroxitolueno

    CEPPA Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    DBO Demanda Bioqumica de Oxignio

    DQO Demanda Qumica de Oxignio

    EMPRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    KOH Hidrxido de potssio

    NPDEAS Ncleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia

    Autossustentvel

    PVC Poli Cloreto de vinila

    TECPAR Instituto de Tecnologia do Paran

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    cl Clulas

    g Grama

    pg Picograma

    ha Hectare

    Kg Quilograma

    L Litro

    m Metros cbicos

    mg Miligrama

    Mha Mega hectare

    mm Milmetros

    min Minutos

    mL Mililitros

    N Nitrognio

    nm Nanmetros

    P Fsforo

    rpm Rotao por minuto

    U Unidade de atividade enzimtica

    W Watts

    C Graus Celsius

    p Teste T de Student

  • LISTA DE SMBOLOS

    % Porcentagem

    R$ Real

    Delta

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ............................................................................................ 19

    1.1 ORGANIZAO DO DOCUMENTO ........................................................ 20

    2 REVISO BIBLIOGRFICA ....................................................................... 22

    2.1 MICROALGAS ......................................................................................... 22

    2.1.1 Chlorella sp. .......................................................................................... 23

    2.1.2 Spirulina sp. ........................................................................................... 24

    2.1.3 Dunaliella salina .................................................................................... 24

    2.1.4 Haematococcus pluvialis ....................................................................... 25

    2.1.5 Scenedesmus sp. .................................................................................. 25

    2.2 BIODIESEL .............................................................................................. 27

    2.2.1 Biodiesel de microalgas......................................................................... 30

    2.3 DEJETO SUNO ....................................................................................... 32

    2.4 FORMAS DE PRODUO DE MICROALGAS ........................................ 37

    2.4.1 Sistemas abertos ................................................................................... 38

    2.4.2 Sistemas fechados ................................................................................ 39

    2.5 CULTIVO DE MICROALGAS NO NPDEAS ............................................. 41

    3 DESAFIOS E OBJETIVOS ......................................................................... 45

    3.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................. 45

    3.1.1 Metas..................................................................................................... 45

    4 MATERIAIS E MTODOS .......................................................................... 48

    4.1 SELEO DAS MICROALGAS ............................................................... 48

    4.2 COLETA E MANUTENO DO EFLUENTE SUNO BIODIGERIDO ...... 49

    4.3 MEIO DE CULTIVO E CONDIES DE CULTIVO ................................. 49

    4.4 AVALIAO DO CULTIVO ...................................................................... 52

    4.4.1 Determinao da densidade celular ...................................................... 52

    4.4.2 Determinao da absorbncia ............................................................... 53

    4.4.3 Determinao de biomassa seca .......................................................... 54

    4.4.4 Determinao de lipdeo totais .............................................................. 56

    4.4.5 Determinao do pH dos cultivos .......................................................... 58

    4.5 RECUPERAO DA BIOMASSA ............................................................ 59

  • 4.6 EXTRAO E ANLISE DE PERFIL LIPDICO DO LEO DE

    MICROALGAS ......................................................................................... 60

    4.7 SNTESE DO BIODIESEL ....................................................................... 60

    4.8 ANLISE DA BIORREMEDIO DO RESDUO SUNO ......................... 62

    4.9 ANLISE ESTATSTICA .......................................................................... 62

    5 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................. 64

    5.1 VERIFICAO DA MELHOR CONDIO DE DILUIO DO EFLUENTE

    SUNO PARA CULTIVO DAS MICROALGAS ......................................... 64

    5.2 CULTIVO EM REATOR AIRLIFT ............................................................. 72

    5.2.1 Quantificao de lipdeos totais e sntese do biodiesel ......................... 76

    5.2.2 Biorremediao do efluente suno ......................................................... 82

    6 CONCLUSO ............................................................................................. 86

    6.1 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ....................................... 87

    REFERNCIAS .............................................................................................. 88

    ANEXOS ....................................................................................................... 103

  • 19

    1 INTRODUO

    A demanda energtica nos dias atuais aumentou exponencialmente e o

    desenvolvimento de combustveis alternativos e renovveis consiste em uma

    importante tarefa. O desenvolvimento tecnolgico requer que as matrizes

    fornecedoras de energia sejam cada vez mais eficientes e numerosas. As

    fontes convencionais e fsseis de energia, apesar de abundantes, no so

    renovveis e sua queima acarreta problemas ambientais, como o aquecimento

    global e a chuva cida. A pesquisa de energias renovveis e com menores

    ndices de poluio ganha destaque e se mostra fundamental para o futuro.

    Nesse contexto, uma alternativa promissora consiste na utilizao de

    microalgas como matria-prima para obteno de leo e produo de biodiesel

    a fim de atender a demanda de combustvel e gerao de energia para outros

    fins especficos.

    Apesar de apresentar vantagens, como a no competio com

    alimentos e reas agriculturveis (podendo ser cultivadas em vrios locais), o

    cultivo de microalgas para biocombustveis apresenta-se hoje como tecnologia

    cara e sem capacidade de competir com fontes tradicionais de leo como, por

    exemplo, as espcies vegetais oleaginosas. Dessa forma, aprimorar os

    processos envolvidos na produo de biomassa de microalgas de forma vivel

    um importante passo para se atingir certa autonomia energtica no

    dependente do petrleo. Os principais desafios apresentados por essa

    tecnologia so: o aprimoramento dos processos de cultivo e de isolamento do

    leo e a relao custo/produtividade dos meios de cultivo necessrios para

    produo da biomassa.

    Tradicionalmente as microalgas tm sido empregadas na gerao de

    alimentos para a aquicultura, na produo de alevinos e na cultura do camaro.

    Alm disso, devido sua capacidade de assimilar nutrientes presentes na

    gua, as microalgas podem ser utilizadas na biorremediao e tratamento de

    guas contaminadas. De acordo com Abdel-Raouf, Al-Homaidan e Ibraheem

    (2012), o uso de culturas de microalgas para o tratamento de guas residuais

    de alta carga orgnica iniciou-se h 75 anos inicialmente com os gneros

  • 20

    Chlorella e Dunaliella. Esse biotratamento interessante devido converso

    da energia solar em biomassa e incorporao de nutrientes como o nitrognio

    e o fsforo, que poderiam ocasionar o fenmeno da eutrofizao de corpos

    hdricos (de la NOE e de PAUW, 1988).

    Pensando sustentavelmente, os resduos originrios da criao de

    porcos podem se mostrar como alternativa para o barateamento e simplificao

    dos meios de cultivo das microalgas. Tais resduos so ricos em nitrognio e

    fosfato e so hoje dispensados em sua maior parte de forma incorreta,

    colocando em perigo a integridade ambiental e at mesmo a sade dos seres

    vivos. Alm de agregar valor cadeia produtiva de protena animal, prope-se

    um ganho de produtividade microalgal (e de produo de biodiesel) e uma

    alternativa a um problema ambiental atual.

    Neste contexto, o presente trabalho motivou-se pelo desenvolvimento

    de um meio de cultivo alternativo baseado em resduos sunos biodigeridos,

    como alternativa aos meios de cultivos sintticos. Desta forma, com a

    substituio dos nutrientes qumicos, props-se a reduo do custo de

    produo de biomassa com a avaliao concomitante da produtividade dos

    cultivos. O resultado do melhor processo desenvolvido foi submetido extrao

    de leo e converso biodiesel. Como contrapartida, desenvolveu-se no

    processo um sistema para fixao de nutrientes e gerao de gua

    ambientalmente adequada ao descarte.

    1.1 ORGANIZAO DO DOCUMENTO

    Esse documento encontra-se dividido em 6 sees. A primeira seo

    apresentou a introduo e a organizao do documento. A segunda seo

    apresenta uma reviso bibliogrfica acerca dos assuntos abordados nessa

    dissertao: microalgas, suas utilizaes e espcies; o biodiesel, sua utilizao,

    produo, panorama no Brasil e suas perspectivas; o dejeto proveniente da

    suinocultura, potencial problema ambiental e sugesto de reaproveitamento

    como meio de cultivo; formas de produo de microalgas e produo de

  • 21

    microalgas no Ncleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia

    Autossustentvel (NPDEAS) da Universidade Federal do Paran. Na terceira

    seo demonstra-se os objetivos propostos e metas traadas para se alcan-

    los. A quarta seo consiste das metodologias e materiais utilizados nesse

    trabalho para se obter os resultados, que esto apresentados e discutidos na

    quinta seo. Por fim, a quinta parte desse documento apresenta a concluso a

    que se permite chegar atravs desse trabalho e recomendaes para trabalhos

    futuros. Nos anexos so apresentados os laudos das anlises realizadas de

    perfil lipdico e teores de nutrientes.

  • 22

    2 REVISO BIBLIOGRFICA

    2.1 MICROALGAS

    Microalgas so micro-organismos autotrficos presentes em sistemas

    aquticos. Apresentam grande diversidade de formas, caractersticas e funes

    ecolgicas e podem tambm ser economicamente exploradas em diversos

    campos (CAMPOS, BARBARINO e LOURENO, 2010). A partir de 1950 as

    microalgas comearam a ser utilizadas como fonte de alimento e de

    substncias biologicamente ativas (AZEREDO, 2012). Em 1960 iniciou-se seu

    uso em escalas comerciais com o gnero Chlorella e a partir de 1970 as

    microalgas foram destinadas aquicultura e outros fins biotecnolgicos

    (SPOLAORE et al., 2006).

    Na alimentao, animal e humana, as microalgas representam uma

    fonte suplementar de protenas, carboidratos, cidos graxos, pigmentos

    naturais (como os carotenoides), vitaminas, entre outras substncias capazes

    de enriquecer o valor nutricional dos alimentos e produzir efeitos benficos

    sade como: melhoria da resposta imune, fertilidade e controle do peso

    (SPOLAORE et al., 2006; DERNER et al., 2006). Alm disso, apresentam

    atividades probiticas e imunomodulatrias, respostas de melhora na sade e

    aparncia externa dos animais (SPOLAORE et al., 2006).

    Algumas espcies podem ser utilizadas para obteno de compostos

    de interesse, como por exemplo, cidos graxos, cidos aminados e pigmentos,

    para indstrias de alimentos, farmacutica e qumica (DERNER et al., 2006;

    CAMPOS, BARBARINO e LOURENO, 2010). Os extratos microalgais

    tambm podem ser encontrados em produtos para a pele (cremes anti-idades,

    regenerativos ou refrescantes) (SPOLAORE et al., 2006).

    A composio bioqumica das microalgas, concentrao total de

    protenas, lipdeos e carboidratos, podem variar com as espcies e com as

    condies de cultivo, como a intensidade da luz, temperatura, nutrientes,

    agitao, pH e fase de crescimento (BROWN et al., 1997; MIAO e WU, 2004).

  • 23

    O interesse no uso de microalgas para obteno de biocombustveis

    vem crescendo recentemente (CHISTI, 2007). Os biocombustveis que podem

    ser obtidos de microalgas so: o biogs a, partir da biodigesto anaerbia da

    biomassa microalgal; o biodiesel, a partir do leo da microalga e o bio-

    hidrognio gasoso produzido fotobiologicamente.

    O cultivo desses micro-organismos apresenta vrias caractersticas

    interessantes quando comparado cultura dos vegetais superiores, uma vez

    que possuem maior eficincia fotossinttica e podem ser cultivadas em

    condies que seriam adversas a culturas convencionais (regies desrticas;

    guas degradadas, salinas ou salobras, entre outras) (BENEMANN, 1997).

    Alm disso, so eficientes na fixao de CO2 (dixido de carbono) e possuem

    produtividade maior em biomassa seca quando comparada com espcies

    vegetais (TEIXEIRA e MORALES, 2006).

    Ao final do processo de extrao do leo das microalgas para a

    produo de biodiesel, a biomassa residual pode ainda ser utilizada na

    produo de bioetanol, metano ou biofertilizantes devido sua alta relao

    nitrognio/fsforo ou, ainda, pode ser simplesmente queimada para gerao de

    energia em sistemas de cogerao (SINGH e GU, 2010; MATA, MARTINS e

    CAETANO, 2010).

    As espcies de microalgas mais cultivadas nos dias atuais no mundo

    so: Chlorela sp. e Spirulina sp., utilizadas principalmente para a

    suplementao alimentar; Dunaliela salina, fonte de caroteno e Haematococus

    pluvialis, para produo e processamento de astaxantina (AZEREDO, 2012).

    2.1.1 Chlorella sp.

    A microalga Chlorella sp. considerada boa fonte de protenas devido

    fcil assimilao dos aminocidos presentes na sua composio e, assim

    sendo, utilizada para a suplementao alimentar humana e tambm como

    alimento para a piscicultura. Em 1975 a produo mundial dessa espcie era

    de 200 toneladas por ano. Na dcada de 90 a produo atingiu os patamares

  • 24

    de 2000 toneladas por ano (RICHMOND, 2004). Hoje, os ndices de produo

    de Chlorela sp. so de aproximadamente 5000 toneladas por ano. Dentre os

    pases produtores, destacam-se Japo e Taiwan e o preo de venda praticado

    de vinte mil dlares por tonelada (LUNDQUIST et al., 2010; AZEREDO, 2012)

    2.1.2 Spirulina sp.

    Como a Chlorella sp., a microalga Spirulina sp. utilizada na

    alimentao, desde aproximadamente o ano de 1300, principalmente devido

    sua alta concentrao proteica (RICHMOND, 2004). Alm disso, possui

    reconhecido interesse farmacutico. A ingesto dessa microalga seria

    responsvel por inmeros benefcios. Relatos descrevendo a melhora da

    defesa e sistema imunolgico do organismo, inibio e preveno de diversos

    tipos de cncer e diminuio das taxas de colesterol so comumente

    encontrados na literatura (RICHMOND, 2004; CHEONG et al., 2010; KIM et al.,

    2010; JOVENTINO et al., 2012). As localidades lderes na produo dessa

    espcie microalgal so a sia e os Estados Unidos. A produo de

    Spirulina sp. era de aproximadamente 1000 toneladas por ano nos anos 90 e

    hoje produz-se at 5000 toneladas anuais a um preo de 10 mil dlares por

    tonelada (LUNDQUIST et al., 2010).

    2.1.3 Dunaliella salina

    A Dunaliella salina uma das espcies de microalgas mais robustas

    encontradas na natureza. Resiste a vrios tipos de ambientes hostis, como

    guas salobras e salgadas e variadas temperaturas, desde as mais baixas at

    as mais elevadas (AZEREDO, 2012). Possui interesse econmico

    principalmente pela sua produo de carotenoides. Os principais centros de

    produo de Dunaliella salina so locais onde h intensa luminosidade, como

  • 25

    por exemplo a ustrlia, China, Israel e Estados Unidos (del CAMPO, GARCA-

    GONZLEZ e GUERRERO, 2007). Sob condies ideais de temperatura e

    luminosidade, a taxa de -caroteno em biomassa seca de 10% (BEN-

    AMOTZ, 1999). O custo de produo da microalga Dunaliella salina de

    aproximadamente 3,2 dlares por quilograma (KITTO, 2012), enquanto que o

    preo comercializao da biomassa seca varia de 215 a 2150 euros por

    quilograma (BRENNAN e OWENDE; 2010).

    2.1.4 Haematococcus pluvialis

    A Haematococcus pluvialis tambm produzida com o objetivo de

    explorao de seus carotenoides, principalmente a astaxantina. Porm, essa

    espcie consideravelmente mais sensvel que a Dunaliella salina no que se

    refere a condies ambientais, alm de ser mais suscetvel ao ataque de outros

    seres vivos que, consequentemente, contaminam seus cultivos. (AZEREDO,

    2012). Por isso, a principal forma de cultivar a Haematococus pluvialis em

    reatores fechados (RANJBAR et al., 2008) com controle do mximo de

    parmetros possveis. Isso faz com que os custos se elevem

    consideravelmente quando comparados ao cultivo de outras espcies. A

    tonelada do carotenoide astaxantina custa 10 mil dlares e a produo mundial

    de apenas 100 toneladas por ano, devido alta sensibilidade da espcie

    (LUNDQUIST et al., 2010). Essa substncia utilizada como pigmento da

    carne de peixes, como salmes e trutas (LORENZ e CYSEWSKI, 2000).

    2.1.5 Scenedesmus sp.

    A microalga Scenedesmus sp. tem sido utilizada como agente

    biorremediador na remoo de nutrientes da gua, melhorando sua qualidade a

    curto prazo (MARTINEZ et al., 2000). Em condies adequadas, as microalgas

  • 26

    utilizam energia luminosa, carbono e nutrientes para gerar biomassa que pode

    ser posteriormente utilizada como matria-prima para diversos produtos, como

    biocombustveis (MATA, MARTINS e CAETANO, 2010). Como a espcie

    utilizada nesse trabalho foi a Scenedesmus sp., fez-se um levantamento da

    literatura sobre os objetos de estudos recentes realizados com essa microalga.

    Esse levantamento pode ser observado na TABELA 01.

    TABELA 01 - TRABALHOS REALIZADOS COM A MICROALGA Scenedesmus sp. (1996 - 2013)

    OBJETO DE ESTUDO MICROALGA AUTORES

    Biorremediao de

    resduos

    Scenedesmus acuminatus

    Scenedesmus sp.

    Scenedesmus obliquus

    Voltolina (1999); Adamsson (2000);

    Kim et al. (2007); Godos et al.

    (2010)

    Suplementao

    alimentar

    Scenedesmus obliquus

    Scenedesmus sp.

    Bishop (1996);

    Yen, Chiang e Sun (2012)

    Produo de

    biocombustveis

    Scenedesmus incrassatulus

    Scenedesmus obliquus

    Ho, Chen e Chang (2010); Choi et

    al. (2011); Miranda, Passarinho e

    Gouveia (2012); Arias-Pearanda

    et al. (2013)

    FONTE: O autor (2013)

    O resultado do levantamento dos ttulos de artigos na base de dados

    ISI (Web of Knowledge) do termo Scenedesmus forneceu o seguinte resultado:

    biofuel (3), bioenergy (1), waste (16), food (14), biodiesel (15), swine (4),

    supplement (4), oil (26), wastewater (31), photobioreactor (6), pond (13),

    sewage (7), biomass (40), methane (3), bioremediation (2), biodigester (0),

    pigment (35), ethanol (1), hydrogen (17). O resultado pode ser observado na

    FIGURA 01. Data da pesquisa 11/07/13.

  • 27

    FIGURA 01 REPRESENTAO DE TRABALHOS LEVANTADOS NA BASE ISI DE ARTIGOS RELACIONANDO Scenedesmus COM PALAVRAS-CHAVE DE INTERESSE FONTE: O autor (2013)

    No foram encontrados na literatura dados referentes ao custo de

    produo da biomassa nem produo mundial desta microalga. Desta forma,

    existe o potencial de desenvolvimento de uma nova matria-prima baseado no

    cultivo da microalga Scenedesmus sp. para diversas finalidades.

    2.2 BIODIESEL

    A diminuio das reservas de petrleo e os impactos ambientais

    ocasionados pela emisso de gases oriundos da combusto do diesel fssil

    fazem com que a produo de combustveis alternativos ganhe ateno. O

    consumo energtico mundial duplicou no perodo de 1971 a 2001 e a

    estimativa que a demanda por energia aumente mais 53% at 2030

  • 28

    (TALEBIAN-KIAKALAIEH, AMIN e MAZAHERI, 2013). Devido ao seu potencial

    para uso misturado ao diesel, o biodiesel, que caracterizado como

    combustvel renovvel e biodegradvel, apresenta um crescente interesse

    cientfico (XIONG et al., 2008).

    Grande parte da ateno global tem sido para reduzir emisses de

    carbono atravs utilizao de fontes de energias no convencionais e

    combustveis renovveis, visando minimizao da liberao de CO2 bem

    como o desenvolvimento da economia com baixos teores de gases produtores

    de efeito estufa (MATHEWS, 2008).

    De acordo com dados do Balano Energtico Nacional de 2009, o

    petrleo atingiu 41,9% da produo de energia primria do pas, porm um

    combustvel no renovvel (EPE, 2010). Para a substituio da matriz

    energtica petrolfera, prope-se a utilizao de misturas de biodiesel em diesel

    com perspectivas para substituio completa ao diesel fssil. Contudo,

    encontrar um substituto para o diesel em escala e preo apresenta-se como um

    grande desafio tecnolgico a ser vencido.

    Segundo a Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e

    Biocombustveis, (ANP, 2013), as matrias-primas mais utilizadas para a

    produo desse biocombustvel so o leo de soja (75,65%), gordura bovina

    (17,23%), leo de algodo (1,00%), leo de fritura (1,13%), leo de

    palma/dend (1,11%), gordura de porco (0,43%) e fontes diversas (3,45%). A

    TABELA 02 mostra ndices aproximados por matria-prima segundo a

    Associao Brasileira das Indstrias de leos Vegetais (ABIOVE, 2013) at

    2012. Pode-se notar a alta dependncia da soja e a pequena diversificao de

    matrias-primas para a produo do biodiesel.

    A Lei Federal N. 11.097 de 13 de janeiro de 2005 define biodiesel

    como: biocombustvel derivado de biomassa renovvel para uso em motores a

    combusto interna com ignio por compresso ou, conforme regulamento,

    para gerao de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou

    totalmente combustveis de origem fssil. Alm disso, essa lei fixa em, no

    mnimo, um percentual de 5% de biodiesel adicionado ao leo diesel tradicional

    para poder ser comercializado no Brasil. A legislao em relao ao biodiesel

    foi atualizada em 2008 com a resoluo n 7 da ANP, na qual o biodiesel

  • 29

    descrito como combustvel composto de alquil steres de cidos graxos de

    cadeia longa, derivados de leos vegetais ou de gorduras animais conforme a

    especificao contida no Regulamento Tcnico, parte integrante desta

    Resoluo.

    TABELA 02 MATRIAS-PRIMAS USADAS PARA A PRODUO DO BIODIESEL NO BRASIL DE 2008 A 2012 (VALORES EXPRESSOS EM m)

    MATRIA-PRIMA 2008 2009 2010 2011 2012

    leo de soja 801.320 (69%)

    1.250.577 (78%)

    1.960.822 (82%)

    2.152.298 (81%)

    2.042.730 (75%)

    Sebo bovino 206.966 (18%)

    258.035 (16%)

    327.074 (14%)

    357.664 (13%)

    469.215 (17%)

    leo de Algodo 18.353 (2%)

    59.631 (4%)

    57.458 (2%)

    84.711 (3%)

    123.325 (5%)

    Outras 140.489 (12%)

    40.206 (2%)

    41.086 (2%)

    78.088 (3%)

    83.683 (3%)

    Total 1.167.128

    (100%) 1.608.448

    (100%) 2.386.438

    (100%) 2.672.760

    (100%) 2.718.954

    (100%)

    FONTE: Adaptado de ABIOVE (2013)

    Comparado ao diesel convencional, o biodiesel contm maiores taxas

    de oxignio e menores taxas de enxofre e nitrognio, alm de menor emisso

    de benzeno, tolueno e monxido de carbono em sua combusto (TICA et al.,

    2010). A reduo na emisso de poluentes da ordem de 68% de

    hidrocarbonetos no queimados, 40% de material particulado, 44% de

    monxido de carbono, 100% de xidos de enxofre, e 80% a 90% de

    hidrocarbonetos aromticos policclicos (LEDUC et al., 2009; WU e LEUNG,

    2011).

    O encarecimento e a escassez dos combustveis fsseis fazem com

    que o interesse econmico da produo de biodiesel aumente

    consideravelmente (HUANG et. al., 2010). Porm, os custos envolvidos na

    produo do biodiesel so altos quando comparados ao diesel tradicional,

    mesmo com intenso incentivo dos governos Federal/Estaduais destinados a

  • 30

    isso. Os dados representados na TABELA 03 demonstram um comparativo

    entre as mdias de preos do diesel fssil e do biodiesel e comprovam que de

    2008 a 2012 o preo do biodiesel foi, em mdia, 23,5% maior que o preo do

    diesel. Pesquisas que objetivem a reduo de custos, simplificao de

    processos e explorao de matrias-primas so importantes e de fundamental

    importncia no cenrio atual (MENG et. al., 2009).

    TABELA 03 COMPARATIVO DE PREOS ENTRE O DIESEL FSSIL E BIODIESEL DE 2008 A 2012 (R$/m)

    2008 2009 2010 2011 2012

    Diesel (preos nominais distribuidora) 1.844,33 1.838,00 1.769,33 1.791,33 1.858,67

    Biodiesel (preos nominais de leiles

    da ANP) 2.256,11 2.279,48 2.102,33 2.214,00 2.384,20

    FONTE: Adaptado de ABIOVE (2013)

    2.2.1 Biodiesel de microalgas

    Mais de 95% do biodiesel de primeira gerao produzido mundialmente

    provm de leos de espcies vegetais comestveis. Deste modo, os

    biocombustveis de primeira gerao podem impactar negativamente a

    produo de alimentos, encarecendo seu valor de mercado (DEMIRBAS,

    2011).

    No caso da soja, a maior parte da matria-prima destina-se produo

    de rao animal e, assim, a utilizao de parte do leo para produo de

    biodiesel no afeta a produo de alimentos. Alm disso, houve substituio do

    leo de soja pelo leo de palma na produo de gordura hidrogenada j que

    esta fornece material livre de ismeros trans. Desta forma, a fabricao de

    biodiesel contribuiu economicamente com a cadeia produtiva da soja. Contudo,

    deve-se levar em considerao, em especial no caso da soja, as questes

    referentes ao alto uso de fertilizantes, pesticidas e agrotxicos na monocultura

  • 31

    (MILAZZO et al., 2013), bem como o uso de espcies transgnicas, cujos

    efeitos deletrios ainda esto em constante avaliao (GARCA et al., 2009).

    Os biocombustveis de segunda gerao, produzidos a partir de leo

    de cozinha usado ou gordura animal, no causam impactos na produo de

    alimentos, porm a sua produo exige que alguns desafios ainda sejam

    superados (AHMAD et al., 2011). A grande quantidade de cidos graxos

    saturados presente na gordura animal a torna slida em temperatura ambiente

    e confere propriedades ruins no fluxo a frio desses biocombustveis (AHMAD et

    al., 2011). Alm disso, essas matrias primas no apresentam escala de

    produo significativa ao ponto de fornecer material suficiente para substituir o

    diesel. Outras matrias-primas consideradas de segunda gerao para a

    produo de biocombustveis so as plantas oleaginosas no comestveis

    como o pinho-manso, jojoba e a mamona.

    O leo obtido a partir das microalgas classificado como matria-prima

    de biocombustveis de terceira gerao. uma potencial alternativa econmica

    interessante em relao aos combustveis de outras geraes. A produo de

    leo por microalgas pode ser 20 vezes maior se comparada a espcies

    vegetais oleaginosas (CHISTI, 2007; AHMAD et al., 2011; FENG, LI e ZHANG,

    2011).

    As microalgas so eficazes conversoras de energia luminosa em

    energia qumica e podem ser cultivadas em reas ociosas no apropriadas

    para a agricultura e, dependendo da espcie, em guas com altas taxas de

    sais e/ou contaminantes (HUBER, IBORRA e CORMA, 2006; GORDON e

    POLLE, 2007).

    O contedo lipdico das clulas das microalgas varia, em mdia, de

    20% a 40% em termos de biomassa seca, porm, alguns estudos relatam um

    contedo de lipdeos de mais de 85% para certas espcies de microalgas (MA

    e HANNA, 1999; LUQUE et al., 2010; MAIRET et al., 2011). Esses micro-

    organismos podem produzir de 25 a 220 vezes mais triglicerdeos do que

    plantas oleaginosas terrestres (AHMAD et al., 2011). A TABELA 04 mostra um

    comparativo da produo de leo de microalgas e de plantas oleaginosas.

    O custo de produo da biomassa de microalgas corresponde, em 75%,

    ao meio de cultivo utilizado para sua produo. Uma forma de desonerar os

  • 32

    processos de cultivo seria a utilizao de resduos com altas quantidades de

    nitrato e fosfato como, por exemplo, efluentes da suinocultura, bovinocultura,

    etc.

    TABELA 04 RENDIMENTO ANUAL DE LEO PARA PLANTAS OLEAGINOSAS UTILIZADAS NA PRODUO DE BIODIESEL

    CULTURA RENDIMENTO ANUAL DE LEO REA

    NECESSRIA (Mha)

    a (L/ha) (L/m

    2)

    Milho 172 0,02 1540

    Soja 446 0,04 592

    Canola 1190 0,12 223

    Coco 2689 0,27 99

    leo de palma 5950 0,60 45

    Microalga b

    136.900 13,69 2

    Microalga c

    58.700 5,87 4,5

    Microalga d

    19.567 1,96 13,5

    FONTE: Adaptado de Chisti (2007) NOTA:

    a Para atender 50% de todos os combustveis necessrios aos transportes no EUA;

    b 70% leo (peso por) em biomassa;

    c 30% leo (peso por) em biomassa;

    d 10% leo (peso por) em biomassa

    2.3 DEJETO SUNO

    Um dos principais problemas enfrentados pelos criadores de porcos o

    descarte inadequado do dejeto gerado pelos animais. Antigamente as criaes

    eram compostas por poucos exemplares, o que fazia com que o volume de

    dejeto fosse pequeno. Nesses casos, o resduo era aplicado nas plantaes da

    fazenda onde eram produzidos na forma de biofertilizantes. Porm, o crescente

    nmero de sunos fez com que os espaos de confinamento destinados sua

    criao tenham se tornado insuficientes, dificultando a dissipao e depurao

    dessa nova maior concentrao de dejeto (BARLOW et al., 1975).

    Outro problema enfrentado pela prtica de reaproveitamento do

    resduo em plantaes so as necessidades particulares de diferentes

    nutrientes de cada espcie vegetal, a vulnerabilidade e suscetibilidade dos

  • 33

    ecossistemas vizinhos e o custo da energia em decorrncia da aplicao do

    dejeto (FLOTATIS et al., 2009).

    A TABELA 05 mostra a evoluo do nmero efetivo de cabeas de

    porco no Brasil no perodo de 1990 a 2009. Uma informao muito relevante

    em relao a esse tema consiste no fato de que em algumas cidades

    pequenas, a produo de resduos decorrentes da suinocultura corresponde

    produo de esgoto sanitrio de grandes centros urbanos.

    Ainda de acordo com o IBGE (2010), o Paran o terceiro maior

    criador de porcos do Brasil, respondendo por 14,7% de todo o rebanho suno

    nacional. O estado possui 5.096.224 cabeas e o municpio de Toledo o

    terceiro municpio com maior quantidade de sunos do pas (490.780

    exemplares).

    TABELA 05 EFETIVO SUNO NO BRASIL (1990 2009)

    ANO EFETIVO DE REBANHO ANO EFETIVO DE REBANHO

    1990 33.623.186 2000 31.562.111

    1991 34.290.275 2001 32.605.102

    1992 35.532.168 2002 32.013.227

    1993 34.184.187 2003 32.304.905

    1994 35.141.839 2004 33.085.299

    1995 36.062.103 2005 34.063.934

    1996 29.202.182 2006 35.173.824

    1997 29.637.109 2007 35.945.015

    1998 30.006.946 2008 36.819.017

    1999 30.838.616 2009 38.045.454

    FONTE: Adaptado de IBGE (2010)

    O dejeto suno um dos resduos agroindustriais mais poluentes

    atualmente no mundo e, se no processadas de maneira adequada, as altas

    concentraes de matria orgnica, fsforo e nitrognio podem causar

  • 34

    inmeros problemas ambientais como a eutrofizao de rios e corpos hdricos

    (CARPENTER et al., 1998), contaminao de solos e mananciais subterrneos

    (KRAPAC et al., 2002), volatilizao de amnia e degradao de solos frteis

    devido super-fertilizao dos mesmos (APSIMON, KRUSE e BELL, 1987). A

    TABELA 06 aponta as quantidades de compostos nitrogenados e fsforo

    presentes no efluente suno. Alm disso, pode-se encontrar grandes

    concentraes de metais pesados (como o cobre, chumbo e zinco) nesse

    resduo (de la TORRE et al., 2000).

    TABELA 06 COMPOSIO MDIA DE RESDUO SUNO BIODIGERIDO

    NUTRIENTES QUANTIDADE DE NUTRIENTES POR

    VOLUME DE DEJETO LQUIDO (g.L-1

    )

    Nitrognio amoniacal 0,92

    Nitrognio orgnico 0,21

    Nitrognio total 1,15

    Fsforo total 0,34

    FONTE: Adaptado de Kebede-westhead, Pizarro e Mulbry (2006)

    Uma forma de se avaliar a carga orgnica de um efluente e,

    indiretamente, seu potencial poluente consiste na determinao da demanda

    bioqumica de oxignio (DBO). Nesta anlise, mensura-se a quantidade de

    oxignio necessrio para a oxidao completa da matria orgnica por unidade

    atravs de micro-organismos. Assim, altas taxas de DBO correspondem a

    efluentes com maiores teores de matria orgnica e, desta forma, um material

    com maior potencial poluente.

    Quando comparado ao esgoto domstico, os dejetos sunos se

    mostram extremamente poluentes. A DBO desses resduos

    aproximadamente 200 vezes maior que a dos esgotos comuns, sendo a DBO

    do esgoto domstico de 200 mg.L-1 enquanto a de resduos sunos de

    40.000 mg.L-1 (TECPAR, 2002).

    A prtica da digesto anaerbia, apesar de combinar a remoo de

    matria orgnica e produo de biogs para diversos fins, apresenta alguns

    inconvenientes como a baixa remoo de nutrientes (nitrognio e fsforo), a

    necessidade de um complexo sistema de controle de processos e variveis e a

  • 35

    relao desfavorvel de carbono/nitrognio de efluentes sunos (BURTON e

    TURNER, 2003). A relao carbono/nitrognio importante no que diz respeito

    eficincia na produo de biogs. As bactrias demandam nitrognio para

    produzir protenas e consumir o carbono presente no resduo e, por isso, deve

    haver uma proporo correta entre essas duas espcies qumicas, que

    normalmente da ordem de 20 a 30 partes de carbono para uma de nitrognio

    (ARRUDA et al., 2002; SGORLON et al., 2011).

    O peso dos porcos influi diretamente sobre a quantidade de dejeto

    produzida por eles (EMBRAPA, 2003). A gua ingerida determina a quantidade

    de urina e a mdia de produo de dejetos slidos pelos sunos de 2,4 kg por

    dia. A TABELA 07 mostra a produo dos principais tipos de dejeto produzido

    em fazendas de suinocultura bem como a variao dessa produo em

    diferentes categorias de porcos.

    TABELA 07 PRODUO DE DEJETO POR DIFERENTES CATEGORIAS DE SUNOS

    CATEGORIA

    ESTERCO

    (KG/DIA)

    ESTERCO E

    URINA

    (KG/DIA)

    DEJETOS

    LQUIDOS

    (L/DIA)

    ESTRUTURA PARA

    ARMAZENAMENTO

    (m3/ANIMAIS.MS)

    ESTERCO +

    URINA

    DEJETOS

    LQUIDOS

    25 100 kg 2,3 4,9 7,0 0,16 0,25

    Porcas de

    reposio,

    cobrio e

    gestantes

    3,6 11,0 16,0 0,34 0,48

    Porcas em

    lactao com

    leites

    6,4 18,0 27,0 0,52 0,81

    Macho 3,0 6,0 9,0 0,18 0,28

    Leites 0,35 0,95 1,40 0,04 0,05

    Mdia 2,35 5,8 8,6 0,17 0,27

    FONTE: Adaptado de TECPAR (2002)

  • 36

    A remoo de nutrientes de resduos por microalgas j executada h

    anos. Essa tcnica vantajosa frente aos sistemas tradicionais de tratamento

    como os reatores aerbios e anaerbios, que so mais caros, de operao

    complexa e requerem grandes quantidades de energia para sua utilizao

    (HOFFMANN, 1998; OLGUN, 2003; RUIZ et al., 2011). Contudo, a forma

    utilizada para esse processamento apresenta-se como sistemas abertos,

    consistindo em lagoas de estabilizao contendo as microalgas. No h nesse

    processo qualquer controle quanto contaminao do sistema por protozorios

    e bactrias e, alm disso, nenhuma forma de controle em relao as taxas de

    aerao, concentrao de biomassa produzida ou nutrientes removidos.

    Quando no existe uma preocupao na destinao desses efluentes e

    os dejetos so destinados aos cursos d'gua, comum encontrar grandes

    quantidades de biomassa de microalgas em reas de descartes de efluentes.

    As microalgas produzem oxignio e fazem com que a velocidade da

    degradao da matria orgnica em resduos seja aumentada (ASLAN e

    KAPDAN, 2006; BRITO et al., 2007; HODAIFA et al., 2010; HODAIFA,

    MARTNEZ e SNCHEZ, 2010).

    Nesse contexto, uma alternativa que pode-se mostrar eficaz a

    utilizao de resduos de suinocultura na composio e suplementao dos

    meios de cultivo das microalgas. De acordo com Basso (2003), os sistemas de

    confinamento utilizados hoje para a criao de porcos esto cada vez mais

    numerosos, aumentando a chance de contaminao de solos, mananciais de

    gua e recursos naturais. Tais dejetos j so utilizados como aditivo para

    aumentar a fertilidade de solos destinados a plantaes.

    Alm disso, ao remover nitrognio, carbono e fsforo da gua, as

    microalgas podem ajudar a diminuir a eutrofizao dos ecossistemas aquticos

    (RUIZ et al., 2011; OLGUN, 2003). Microalgas crescem de maneira

    considerada rpida e em condies desfavorveis, como em guas no

    potveis e reas no apropriadas para a produo de alimentos (MATA,

    MARTINS e CAETANO, 2010; MATA et al., 2011). Desta forma, sistemas

    produtivos de microalgas destinadas produo de biomassa para

    biocombustveis no enfrentariam as crticas normalmente referenciadas aos

    biocombustveis tradicionais como o biodiesel de soja e milho.

  • 37

    2.4 FORMAS DE PRODUO DE MICROALGAS

    Vrios artigos, trabalhando com a microalga Scenedesmus,

    descreveram modificaes bioqumicas e fisiolgicas nas clulas da microalga

    em funo de alteraes no meio de cultivo, ocasionando desta forma

    mudanas nas condies de crescimento e composio da biomassa

    (McLACHLAN, 1973; NICHOLS, 1973; KIM e GIRAUD, 1989; KIM e SMITH,

    2001). Uma grande variedade de meios de cultivo para microalgas foi

    desenvolvida, podendo ser citados como exemplo o Erdschreiber, Grund, ES,

    CHU, f/2 e ASP (McLACHLAN, 1973; NICHOLS, 1973). Porm, esses meios

    apresentam limitaes, j que carecem de nutrientes selecionados e

    necessrios para o aumento da produo microalgal em perodos de tempo de

    longo prazo (KIM e GIRAUD, 1989). Vale lembrar que a maioria dos meios de

    cultivos de microalgas foram tradicionalmente elaborados para manter as

    microalgas viveis em ceprios, bem como, servir de produo de alimentos

    para camares e alevinos. Neste caso, excessos de nutrientes ocasionam

    toxicidade a esses organismos e a concentrao de nutrientes no adequada

    para produo de biomassa com foco em produtividade. O custo do meio de

    cultivo, em funo da sua composio, por muitas vezes cara, dificultando e

    encarecendo ainda mais o processo de produo de biomassa como um todo.

    A TABELA 08 mostra a composio qumica do meio CHU (CHU, 1942)

    modificado, utilizado para o cultivo de microalgas no Ncleo de Pesquisa e

    Desenvolvimento de Energia Autossustentvel (NPDEAS) da Universidade

    Federal do Paran.

    O custo para a produo de 1000 litros de meio de cultivo CHU

    modificado de R$ 32,02 (valores de 2013).

    Existem vrios formatos de produo de microalgas. Os principais tipos

    de sistemas de produo so: tanque aberto, lagoa tipo pista e

    fotobiorreatores. Os dois primeiros so sistemas abertos enquanto o ltimo

    fechado. Esses sistemas de produo diferem entre si em parmetros como

    contaminao, evaporao da gua, produtividade, custos de processos e

    operao, entre outros (CHEN et al., 2009).

  • 38

    TABELA 08 COMPOSIO QUMICA DO MEIO CHU MODIFICADO

    REAGENTE FRMULA QUANTIDADE (g.L-1

    )

    Nitrato de sdio NaNO3 0,25

    Cloreto de clcio di-hidratado CaCl2.2H2O 0,025

    Sulfato de magnsio hepta-hidratado MgSO4.7H2O 0,075

    Fosfato de potssio dibsico K2HPO4 0,075

    Fosfato de potssio monobsico KH2PO4 0,175

    Cloreto de sdio NaCl 0.025

    Trplex III/EDTA C10H14N2Na2O8.2H2O 0,05

    Hidrxido de potssio KOH 0,031

    Sulfato ferroso hepta-hidratado FeSO4 0,00498

    cido brico H3BO3 0,01142

    Sulfato de zinco hepta-hidratado ZnSO4.7H2O 8,82 10-6

    Cloreto de mangans tetra-hidratado MnCl2.4H2O 1,44 10-6

    Molibdato de sdio NaMoO4.2H2O 1,19 10-6

    Sulfato de cobre penta-hidratado CuSO4.5H2O 1,57 10-6

    Nitrato de cobalto hexa-hidratado Co(NO3)2.6H2O 0,49 10-6

    FONTE: O autor (2012)

    2.4.1 Sistemas abertos

    Tanques abertos simulam o habitat natural das microalgas. Possuem

    variados formatos, sendo o mais comum o de tipo pista de corrida (PULZ,

    2001). Esses sistemas so geralmente constitudos por uma nica ou mltiplas

    unidades conjuntas com agitao produzida por meio de uma roda de ps,

    hlices ou bombas (CHEN et al., 2009). Uma variao desse sistema so as

    lagoas tipo pista circulares. A FIGURA 02 mostra as formas de lagoas tipo pista

    e cultivo de tanque aberto.

  • 39

    FIGURA 02 TRS PRINCIPAIS SISTEMAS ABERTOS DE PRODUO DE

    MICROALGAS. (A) LAGOAS TIPO PISTA, (B) LAGOA TIPO CIRCULAR, (C) TANQUE ABERTO.

    FONTE: Adaptado de Chen et al (2009).

    Esse modo de cultivo apresenta problemas tcnicos devido s

    caractersticas inerentes do sistema. Dentre eles citam-se as significantes

    perdas de gua por evaporao, a difuso de CO2 para a atmosfera, altos

    ndices de poluio e contaminao dos cultivos, baixa difuso da luz solar em

    todo o cultivo, alm da grande rea requerida para a instalao desses

    sistemas (PULZ, 2001). Durante vrios anos os sistemas abertos foram os

    principais meios de cultivo de microalgas (RICHMOND, 1990).

    2.4.2 Sistemas fechados

    Os sistemas fechados, tambm conhecidos como fotobiorreatores,

    possibilitam o controle de quase todos os parmetros de cultivo e, por

    consequncia, apresentam melhores desempenhos em produo de biomassa

    de microalga em relao aos sistemas abertos. Dentre eles, pode-se citar:

    menor risco de contaminao, menores perdas de CO2, maior reprodutibilidade

    de condies e cultivos, controle de temperatura e design variado de acordo

    com as necessidades e possibilidades disponveis (PULZ, 1992). A densidade

    celular alcanada em cultivos realizados em sistemas fechados alta devido

    ao controle relativo que se possui do ambiente de cultivo (LEE, 2001; UGWU,

    AOYAGI e UCHIYAMA, 2008).

    A B C

  • 40

    Fotobiorreatores tubulares compactos, construdos com vidro

    transparente, acrlico ou plsticos so os sistemas fechados de produo em

    massa de microalgas mais comuns e podem ser horizontais, verticais ou

    inclinados. (UGWU, AOYAGI e UCHIYAMA, 2008). A circulao realizada por

    bombas ou pela simples injeo de ar (sistema airlift). A FIGURA 03 demonstra

    algumas configuraes de fotobiorreatores tubulares.

    As vantagens de fotobiorreatores tubulares so o melhor

    aproveitamento da luz, contribuindo para um maior crescimento de clulas e,

    por consequncia, uma concentrao celular muito maior quando comparada a

    sistemas abertos; maior rea iluminada e menores ndices de contaminao

    (CHEN et al., 2009). Dentre as desvantagens pode-se ressaltar as quantidades

    de oxignio dissolvido e CO2 ao longo dos tubos crescimento e adeso das

    microalgas s paredes dos tubos (CHEN et al., 2009).

    Em reatores fechados, as trocas gasosas so dificultadas devido ao

    longo tempo que as microalgas levam para atingir a coluna de troca de gases.

    Por isso, as quantidades de CO2 ao longo dos tubos podem ser insuficientes

    para a reao de fotossntese, causando uma diminuio do crescimento

    microalgal. A alta quantidade de oxignio nos cultivos acaba por inibir o

    processo fotossinttico e, por consequncia, diminui o crescimento de

    biomassa das microalgas. O excesso de luz gera excesso de eltrons, os quais

    reagem com o oxignio produzido na fotossntese produzindo radicais livres e

    outros compostos reativos, como o H2O2 (MURATA et al., 2007). Alm disso, a

    luz estimula a formao de oxignio nascente altamente reativo por

    fotoativao, resultando na perda de atividade fotossinttica e morte celular

    (TRIANTAPHYLIDES, et al., 2008; SOUSA et al., 2013).

    Alm disso, os valores relacionados construo de fotobiorreatores

    so elevados. Os altos custos de reatores fechados se devem, principalmente,

    s caractersticas dos materiais envolvidos na sua construo (DASGUPTA et

    al., 2010). Os tubos devem ser transparentes; flexveis e durveis; no oferecer

    toxicidade; resistentes a agentes qumicos, metablitos produzidos pelas

    microalgas e s condies climticas (DASGUPTA et al., 2010).

  • 41

    FIGURA 03 DIFERENTES CONFIGURAES DE FOTOBIORREATORES TUBULARES.

    A) PROTTIPO MINI-FOTOBIORREATOR B) REATOR TIPO AIRLIFT C) FOTOBIORREATOR DE 10 m

    3

    FONTE: O autor (2013)

    2.5 CULTIVO DE MICROALGAS NO NPDEAS

    O Ncleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Energia Autossustentvel

    (NPDEAS), situado na Universidade Federal do Paran, produz microalgas

    com a finalidade de produzir leo e, posteriormente, biodiesel. O objetivo ser

    A B

    C

  • 42

    um prdio autossustentvel, produzindo toda a energia consumida a partir

    desses micro-organismos.

    O ncleo conta com todas as etapas produtivas, desde a coleta de

    microalgas e manuteno de cepas at o processamento e produo final do

    leo obtido das microalgas. Primeiramente, os micro-organismos so cultivados

    em escala laboratorial para a produo de pr-inculo. Gradativamente a

    produo escalonada at se estabelecer o cultivo nos fotobiorreatores.

    Aps a coleta, a biomassa microalgal seca para posterior extrao dos

    lipdeos. Os resduos dos cultivos so reaproveitados atravs de um

    biodigestor para a produo de biogs. A FIGURA 04 demonstra um

    fluxograma das operaes realizadas no NPDEAS.

    FIGURA 04 FLUXOGRAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS NO NPDEAS FONTE: Adaptado de Satyanarayana, Mariano e Vargas (2011).

    Os fotobiorreatores situados no NPDEAS so compostos por tubos de

    PVC transparentes e cada um possui volume de 10 m3. Os cultivos so

    desenvolvidos com meios variados, a aerao realizada por compressores

    industriais e a circulao do cultivo feita atravs de bombas centrfugas. Os

  • 43

    fotobiorreatores podem ser observados detalhadamente na FIGURA 03-C e

    FIGURA 05.

    FIGURA 05 FOTOBIORREATOR DE 10 m

    3 SITUADO NO NPDEAS. (A)

    FOTOBIORREATOR, (B) BOMBA DE CIRCULAO E COLUNA DE TROCAS GASOSAS, (C) VISO DETALHADA DOS RAMAIS.

    FONTE: O autor (2011).

    O NPDEAS estabeleceu-se como referncia no desenvolvimento de

    fotobiorreatores para produo de biomassa de microalgas. Atualmente so

    trs fotobiorreatores construdos. No total, j foram produzidas 11 dissertaes

    de mestrado, 1 tese de doutorado, 7 artigos em peridicos e mais de 50

    trabalhos completos em anais de congressos.

    Alm dos professores (5), complementam a equipe de pesquisa 2

    tcnicos, 12 alunos de mestrado, 2 alunos de doutorado, 2 engenheiros, 4

    alunos de graduao (iniciao cientfica), 10 alunos do ensino tcnico, uma

    secretria e uma auxiliar de servios gerais, totalizando 37 pessoas. A TABELA

    09 resume as principais produes cientficas desenvolvidas pelo NPDEAS de

    2008 a 2013.

    A

    B

    C

  • 44

    TABELA 09 - PRINCIPAIS PRODUES CIENTFICAS DESENVOLVIDAS PELO NPDEAS DE 2008 A 2013

    PATENTES

    Vargas et al., 2011. Photobioreactor System (Depsito nos Estados Unidos da Amrica) US2012088296-A1 / WO2012050608-A1.

    ARTIGOS

    Ribeiro et al., 2008. Transient modeling and simulation of compact photobioreactor.

    Torrens et al., 2008. Biodiesel from microalgae: the effect of fuel properties on pollutant emissions.

    Morais et al., 2009. Phaeodactylum tricornutum micralagae growth rate in heterotrophic and mixotrophic conditions.

    Ribeiro et al., 2009. The temperature response of compact tubular microalgae photobioreactors.

    Carvalho Jnior et al., 2011. Microalgae biodiesel via in situ methanolysis.

    Satyanarayana, Mariano e Vargas, 2011.

    A review on microalgae, a versatile source for sustainable energy and materials.

    D'Aquino et al., 2012. A simplified mathematical model to predict PVC photodegradation in photobioreactors.

    Oliveira et al., 2012a. Comparao entre trs bioprocessos para a produo de enzimas proteolticas utilizando resduos agroindustriais.

    Oliveira et al., 2012b. Production of methyl oleate with a lipase from an endophytic yeast isolated from castor leaves.

    Oliveira et al., 2013. Utilizao de resduos da agroindstria para a produo de enzimas lipolticas por fermentao submersa.

    Silva et al., 2013. Life cycle assessment of biomass production in microalgae compact photobioreactors. (aceito para publicao).

    Sugai-Guerios et al., 2013 Mathematical model of the CO2 solubilization reaction rates developed for the study of photobioreactors. (aceito para publicao).

    CAPTULO DE LIVRO

    Soares et al., 2010. Metodologias para obteno de biomassa e extrao de lipdeos de microalgas marinhas. In: Pereira, T. C. G. (Copel - Paran). Dossi de Pesquisa Fontes Renovveis de Energia.

    FONTE: O autor (2013)

  • 45

    3 DESAFIOS E OBJETIVOS

    A reviso bibliogrfica apresentou as formas de cultivo de microalgas

    para a produo de biocombustveis. Apesar das potenciais vantagens

    apresentadas por esses micro-organismos para essa finalidade, se faz

    necessrio aprimorar e/ou desenvolver processos e tecnologias que diminuam

    os custos envolvidos em sua produo. A separao da biomassa do meio de

    cultivo e a extrao do leo e sntese do biodiesel correspondem a

    aproximadamente 30% dos custos no processo de produo de microalgas,

    alm de demandarem grandes quantidades de energia, prejudicando o balano

    energtico da produo do biocombustvel. Alm disso, fatores como

    diminuio da contaminao dos cultivos, melhores adaptaes e designs de

    reatores que objetivem a maximizao de ganho de biomassa microalgal,

    prospeco de espcies robustas e com alto teor lipdico e simplificao e

    diminuio de custos envolvidos na extrao do leo e sntese do biodiesel

    devem ser observados e otimizados.

    3.1 OBJETIVO GERAL

    Dentre os desafios apresentados, selecionou-se o de diminuir custos

    atravs da utilizao de resduo agroindustrial (efluente de suinocultura) para

    produo de biomassa de microalgas. Alm disso, props-se tambm resolver

    o problema ambiental do descarte inadequado desse resduo.

    3.1.1 Metas

    Para atingir o objetivo geral, o trabalho foi dividido nas seguintes

    metas:

  • 46

    1. Coletar e caracterizar o resduo suno biodigerido;

    2. Avaliar o crescimento das microalgas frente ao resduo suno em

    pequena escala no laboratrio e determinar melhor condio de cultivo;

    3. Produzir biomassa de microalgas em FBR tipo Airlift de 12 L em

    condies externas avaliando produtividade em biomassa, leo e composio

    de lipdeos;

    4. Avaliar a eficincia de biorremediao do resduo suno em relao

    aos parmetros fosfatos e nitrognio total, orgnico, amoniacal;

    5. Extrair lipdeo da biomassa cultivada, determinar sua composio e

    produzir biodiesel atravs de esterificao enzimtica.

    A FIGURA 06 relaciona as metas estabelecidas com as respectivas

    estratgias para se alcanar o objetivo proposto.

  • 47

    FIGURA 06 FLUXOGRAMA DAS METAS E ESTRATGIAS DE TRABALHO

    FONTE: O autor (2012)

    Coletar e caracterizar o

    resduo suno biodigerido

    Avaliar o crescimento das

    microalgas frente ao resduo

    suno em pequena escala no

    laboratrio e determinar

    melhor condio de cultivo

    Produzir biomassa de

    microalgas em FBR tipo Airlift

    de 12 L em condies

    externas avaliando

    produtividade em biomassa,

    leo e composio de lipdeos

    Avaliar a eficincia de

    biorremediao do resduo

    suno em relao aos

    parmetros fosfato e

    nitrognio total, orgnico,

    amoniacal

    Extrair lipdeo da biomassa

    cultivada, determinar sua

    composio e produzir

    biodiesel atravs de

    esterificao enzimtica,

    Coleta de efluente suno de

    biodigestor em Castro PR e

    anlise de nutrientes

    Avaliao de densidade

    celular, anlise de

    absorbncia, determinao de

    biomassa seca, e anlise de

    pH

    Avaliao de densidade

    celular, anlise de

    absorbncia, determinao de

    biomassa seca, anlise de

    pH, determinao de lipdeos

    totais e anlise do perfil

    lipdico

    Determinao das cargas dos

    nutrientes aps o cultivo

    Extrao de lipdeo a frio com

    solventes, anlise da

    composio dos cidos

    graxos e esterificao

    enzimtica por lpases

    fngicas

    METAS ESTRATGIAS

  • 48

    4 MATERIAIS E MTODOS

    4.1 SELEO DAS MICROALGAS

    A microalga Scenedesmus sp utilizada nesse trabalho foi isolada e

    obtida a partir da rede de fornecimento aps a circulao de gua por alguns

    dias nos fotobiorreatores do NPDEAS, na Universidade Federal do Paran,

    sem qualquer adio de nutrientes ou inculo. A manuteno e repique das

    cepas foram realizados em sala de cultivo climatizada, podendo ser observada

    na FIGURA 07.

    FIGURA 07 SALA DE CULTIVO. (A) VISO GERAL DA SALA, (B) MICROGRAFIA DA MICROALGA Scenedesmus sp COM AUMENTO DE 400X

    FONTE: O autor (2012)

    A B A

  • 49

    4.2 COLETA E MANUTENO DO EFLUENTE SUNO BIODIGERIDO

    O dejeto suno foi coletado de biodigestor de propriedade particular

    situada em Castro-PR e acondicionado em freezer. A FIGURA 08-A mostra o

    local da coleta. Foram realizadas trs diluies distintas para os experimentos

    realizados com o efluente. O dejeto foi diludo em gua destilada nas

    propores de 5%, 10% e 30%. O efluente suno bruto foi submetido analise

    de cargas de fosfato, nitrato, nitrito, nitrognio total, nitrognio orgnico e

    nitrognio amoniacal, para posterior avaliao do grau de biorremediao.

    FIGURA 08 BIODIGESTOR DE ONDE FOI COLETADO O EFLUENTE SUNO

    (CASTRO PR). (A) BIODIGESTOR TIPO LAGOA COBERTA, (B) EFLUENTE BIODIGERIDO COLETADO EM LAGOA DE ESTABILIZAO

    FONTE: O autor (2012)

    4.3 MEIO DE CULTIVO E CONDIES DE CULTIVO

    Os cultivos foram realizados em escala laboratorial (frascos tipo

    Erlenmeyer contendo aerao) e em reator tipo airlift de 12 L com meio CHU

    A B

  • 50

    modificado (TABELA 04), havendo a substituio de xido de molibdnio por

    molibdato de sdio. Levando em considerao as caractersticas do resduo

    suno, a formulao de meio de cultivo utilizando o dejeto biodigerido foi

    realizada nas seguintes propores: 5%, 10% e 30%. A escolha das diluies

    foi baseada em experimentos prvios no laboratrio do NPDEAS que levaram

    em considerao a turbidez do meio e as quantidades de fosfato e nitrognio

    total em comparao ao meio sinttico CHU. Diluies do dejeto biodigerido

    acima de 30% no resultaram em crescimento de microalgas. A TABELA 10

    demonstra a quantidade de nitrognio e fosfato em cada diluio proposta.

    Todos os cultivos foram realizados em batelada.

    TABELA 10 PROPORES DE NITROGNIO E FSFORO INICIAIS DOS CULTIVOS COM RESDUO SUNO

    DILUIES FOSFATO

    (mg P.L-1

    )

    NITROGNIO

    ORGNICO (mg.L-1

    )

    NITROGNIO

    AMONIACAL

    (mg NH3 N.L-1

    )

    NITROGNIO

    TOTAL

    (mg NH3 N.L-1

    )

    5% 3,72 20,93 109,40 130,32

    10% 7,43 41,86 218,79 260,65

    30% 22,30 125,58 656,36 781,94

    CHU 61,58 - - 41,18*

    FONTE: O autor (2013) NOTA: *concentrao de nitrognio em nitrato de sdio

    Os cultivos realizados em escala laboratorial ocorreram em frascos

    Erlenmeyer de 2 L, utilizando um volume inicial de 1,6 L em cada frasco,

    composto por 400 mL de inculo com uma concentrao de 200 x104 cl.mL-1;

    aproximadamente 100 mL de solues-estoque de meio de cultivo

    autoclavadas e 1000 mL de gua destilada esterilizada. Nos experimentos com

    efluente suno, as solues estoque autoclavadas e a gua destilada foram

    substitudas pelas diluies do dejeto biodigerido nas propores 5%, 10% e

    30%. Os frascos foram mantidos sob constante iluminao (2 lmpadas de

    40 W cool daylight), sem fotoperodo, sob aerao contnua atravs de

    compressor da marca Schulz com injeo de ar vazo de 2 litros.minuto-1 e

    sob a temperatura de 17 C. A FIGURA 09 apresenta a disposio dos frascos

    de cultivo. Todas as condies foram realizadas em triplicatas e, assim, para

  • 51

    cada experimento foram realizados 12 cultivos independentes. Os cultivos

    foram realizados em batelada.

    FIGURA 09 DISPOSIO DOS CULTIVOS EM ESCALA LABORATORIAL FONTE: O autor (2012)

    Os cultivos realizados nos reatores airlift foram realizados ao ar livre e

    demandaram um volume aproximado de 11 L de inculo com uma

    concentrao inicial da ordem de 250 x104 cl.mL-1 realizados em meio de

    cultivo CHU modificado e dejeto suno na diluio de 10%, totalizando 11 L de

    cultivo. A aerao e agitao foram realizadas com ar atmosfrico atravs de

    compressor da marca Schulz, com fluxo de ar de aproximadamente 4 L.min-1. A

    FIGURA 10 mostra a configurao dos cultivos. Os cultivos foram realizados

    em triplicata. De acordo com a experincia de cultivos anteriores realizados no

    NPDEAS, estabeleceu-se perodo de 15 dias de cultivo para avaliao dos

    parmetros de cultivo. Ao final dos 15 dias as microalgas encontram-se na fase

    estacionria.

  • 52

    FIGURA 10 CULTIVOS EM REATORES TIPO AIRLIFT FONTE: O autor (2012)

    4.4 AVALIAO DO CULTIVO

    A avaliao dos cultivos foi realizada em funo da determinao dos

    seguintes parmetros: determinao da densidade celular, anlise

    espectrofotomtrica, anlise e quantificao de biomassa seca, anlise e

    determinao da quantidade de lipdeos totais, e determinao de pH.

    4.4.1 Determinao da densidade celular

    A densidade celular dos cultivos foi determinada por meio de

    contagens em microscpio ptico com aumento de 400X com o auxlio de

    cmaras de Neubauer e realizados ao longo dos dias de cultivo (LOURENO,

    2006). As contagens sempre foram realizadas em triplicata. O resultado foi

  • 53

    representado como a mdia 2 vezes o desvio padro. Os resultados foram

    representados em nmeros de clulas por mililitros de cultivo (cl.mL-1). Essa

    metodologia permite a identificao da fase estacionria e determinao do

    perodo de acmulo de lipdeos pelas clulas. A FIGURA 11 demonstra uma

    curva tpica do crescimento das microalgas. Nesse grfico possvel observar

    as distintas fases do crescimento dos micro-organismos em cultivos do tipo

    batelada que consistem em: fase de adaptao ou fase lag, fase de

    crescimento exponencial, fase de crescimento linear, fase estacionria e fase

    de declnio ou morte celular.

    FIGURA 11 CURVA TPICA DE CRESCIMENTO CELULAR. (1) FASE LAG, (2) FASE DE

    CRESCIMENTO EXPONENCIAL, (3) FASE DE CRESCIMENTO LINEAR, (4) FASE ESTACIONRIA, (5) FASE DE DECLNIO

    FONTE: Adaptado de Mata, Martins e Caetano (2010)

    4.4.2 Determinao da Absorbncia

    A determinao da absorbncia dos cultivos foi realizada em

    espectrofotmetro da marca Perkin-Elmer atravs do software Lambda 25 -

  • 54

    UV/VIS Spectrometrer com cubetas de caminho ptico de 1 cm e comprimento

    de onda de 540 nm. A gua destilada foi utilizada como branco para zerar a

    leitura do equipamento. Atravs da anlise de absorbncia pode-se determinar

    a turbidez dos cultivos, indicando maior ou menor presena de clulas e

    biomassa de microalgas. Como visto na FIGURA 10-B, o efluente suno possui

    natureza escura. Os cultivos realizados com o resduo apresentaram colorao

    mais turva de acordo com a proporo de diluio em gua. Por esse motivo,

    para a obteno de dados de aumento real desse parmetro, descontou-se o

    valor inicial da absorbncia de cada ponto da curva em todos os cultivos,

    incluindo o cultivo controle ( de absorbncia).

    Para se evitar distores nas leituras e interpretaes incorretas dos

    dados, quando a medida de absorbncia resultou em valor superior a 0,5

    realizou-se diluies para se atingir a faixa de 0,1 a 0,5. Isso consiste em uma

    prtica comumente realizada para determinao de absorbncia quando se

    realiza estimativa do crescimento celular com micro-organismos.

    4.4.3 Determinao de biomassa seca

    A determinao de biomassa seca (g.L-1) foi realizada diariamente

    atravs de metodologia gravimtrica sempre em triplicata em todos os cultivos.

    Foram utilizados microfiltros de fibra de vidro Macherey-Nagel GF-1, dimetro

    de 47 mm para filtragem utilizando bomba a vcuo. Primeiramente, os

    microfiltros foram levados estufa com temperatura de 60 C at atingirem

    massa constante para a retirada de sua umidade natural. A massa dos

    microfiltros secos foi aferida.

    Depois disso, trs amostras de 10 mL dos cultivos foram retiradas e

    filtradas separadamente. Os microfiltros com as amostras foram levados

    estufa a temperatura de 60 C at atingirem massa constante. O aparato de

    filtragem, consistindo de bomba, filtro, membrana e filtrado pode ser observado

    na FIGURA 12. As massas foram aferidas em balana analtica.

  • 55

    FIGURA 12 SISTEMA DE FILTRAO FONTE: O autor (2012)

    O clculo do mtodo gravimtrico utilizado para mensurao da

    biomassa seca em gramas por litros (g.L-1) foi:

    V

    FFLgBs 121 ).(

    (1)

    onde:

    Bs biomassa seca da amostra (g.L-1)

    F1 massa do microfiltro seco (g)

    F2 massa do microfiltro com biomassa seca (g);

    V volume de cultivo filtrado (L).

    O efluente suno apresenta grande quantidade de slidos totais em sua

    composio. Para uma avaliao mais correta do crescimento de biomassa, o

    valor de biomassa seca inicial de cada cultivo foi subtrado das respectivas

  • 56

    medidas dirias desse parmetro ( de biomassa). Desta forma, eliminando-se

    a interferncia dos slidos totais presentes no resduo nas diferentes

    concentraes trabalhadas, est sendo considerada apenas a biomassa

    produzida pelos cultivos.

    4.4.4 Determinao de lipdeos totais

    Para o clculo e mensurao dos lipdeos totais dos cultivos foi

    realizada a metodologia de extrao a frio desenvolvida por Bligh e Dyer (1959)

    e adaptada de Rodrguez et al. (2007). Para a extrao dos lipdeos utilizou-se

    uma soluo de metanol e clorofrmio. As anlises foram realizadas em

    triplicata.

    Em cada uma das triplicatas, foram maceradas e aferidas a massa de

    50 mg de biomassa seca anteriormente em estufa at massa constante. Aps,

    foram colocadas em tubos de polipropileno de 15 mL. A cada uma das

    amostras foi adicionado 3 mL da soluo de clorofrmio:metanol (2:1, v:v) e

    10 L de soluo de butilhidroxi tolueno (BHT) 1% em metanol, como proteo

    antioxidante e preservao da estrutura dos lipdeos poli-insaturados. Aps, as

    amostras foram submetidas por 3 ciclos de 15 minutos em banho de ultrassom

    (Unica Ultra Cleanner 1400, frequncia de 40 kHz). As amostras foram envoltas

    em papel alumnio para proteo contra a luz e evitar a foto-degradao do

    material. Tambm foram incubadas a 4 C por 24 horas para favorecer e

    aumentar a extrao de lipdeos.

    Em seguida, as amostras foram submetidas a mais 3 ciclos de

    15 minutos em banho no ultrassom e depois centrifugadas por 20 minutos a

    5000 rpm e 5 C. O sobrenadante foi recuperado e reservado. Adicionou-se

    1,5 mL da soluo de clorofrmio:metanol biomassa que foi sedimentada

    aps a centrifugao e essa mistura foi novamente centrifugada nas condies

    anteriores. A fase lquida foi recuperada e adicionada ao reservado.

    Por fim, adicionou-se 2 mL de gua destilada e 1 mL de clorofrmio ao

    reservado, agitou-se e centrifugou-se as amostras a 5000 rpm por 10 minutos a

  • 57

    5 C. A fase inferior foi recuperada e reservada em vial de massa conhecida. A

    fase aquosa foi lavada com 1 mL de clorofrmio, agitada e centrifugada nas

    mesmas condies anteriores. A fase inferior foi transferida ao vial e este foi

    levado capela de exausto, onde permaneceu at que todo o solvente

    evaporasse. A seguir o vial teve sua massa novamente quantificada. A

    FIGURA 13 representa o fluxograma referente extrao dos lipdeos. O

    clculo do mtodo gravimtrico utilizado para a mensurao de lipdeos foi:

    1000).( 121

    C

    BVVLmgLipdeos (2)

    onde:

    V1 massa do vial vazio (g);

    V2 massa do vial com lipdeos (g);

    B biomassa seca do cultivo (g.L-1);

    C biomassa seca (g);

    A determinao do teor de lipdeos em porcentagem consistiu em:

    C

    VVLipdeos

    100(%) 12

    (3)

  • 58

    FIGURA 13 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE EXTRAO A FRIO DE LIPDEOS PARA DETERMINAO ANALTICA

    FONTE: O autor (2013)

    4.4.5 Determinao do pH dos cultivos

    O pH dos cultivos foi determinado diariamente em phmetro digital da

    marca Gehaka PG 1800. Microalgas e organismos fotossintetizantes

    necessitam de dixido de carbono para o processo de fotossntese e produo

    de seu prprio alimento. A anlise do pH importante para avaliar

    indiretamente o consumo de CO2 pelas microalgas fornecido no processo de

    aerao. O gs carbnico confere uma natureza cida aos cultivos e medida

    que o pH se eleva a disponibilidade de dixido de carbono diminui,

    normalmente relacionado a uma grande presena de clulas e,

    consequentemente, uma maior demanda pelo gs citado.

  • 59

    4.5 RECUPERAO DA BIOMASSA

    Para a separao da biomassa microalgal do meio de cultivo foi

    utilizado o mtodo de floculao qumica por cloreto frrico heptahidratado

    (FeCl3.7H2O). As condies de agitao foram: agitao rpida (500 rpm) por

    2 minutos, agitao lenta (250 rpm) por 5 minutos e perodo de sedimentao

    de 24 horas. A quantidade de cloreto frrico adicionada foi a necessria para

    se obter uma soluo final de cultivo + floculante de 0,3 mmol.L-1. A FIGURA

    14 mostra as etapas de antes, durante e depois do processo de floculao.

    FIGURA 14 PROCESSO DE FLOCULAO QUMICA. (A) ANTES, (B) ADIO DE CLORETO FRRICO HEPTAHIDRATADO E AGITAO, (C) MICROALGAS FLOCULADAS

    FONTE: O autor (2013)

    A B

    C

  • 60

    4.6 EXTRAO E ANLISE DO PERFIL LIPDICO DO LEO DE

    MICROALGAS

    Aps a determinao da melhor condio de cultivo em escala

    laboratorial, o experimento conduzido em reator airlifting (11 L) forneceu

    biomassa suficiente para extrao do leo e posterior sntese de biodiesel.

    Uma amostra de leo isolada dessa biomassa foi submetida anlise para

    investigao do perfil lipdico e presena de cidos graxos (ANEXO 01). A

    anlise foi realizada pelo CEPPA (Centro de Pesquisa e Processamento de

    Alimentos) da Universidade Federal do Paran atravs de cromatografia

    gasosa.

    Os cidos graxos da biomassa foram extrados por saponificao. A

    biomassa contendo cerca de 80% de umidade foi diretamente saponificada na

    presena de NaOH (0,25 g.g de biomassa-1) e etanol (96,5% v/v 10 mL.g-1 de

    biomassa), e agitada em Shaker durante uma hora a 180 rpm e 60 C

    utilizando metodologia aprimorada por Schroeder et al. (2011).

    Depois disso, realizou-se hidrlise cida com a adio de HCl

    concentrado soluo alcolica at pH 1,0 para liberao dos cidos graxos

    livres. Desse meio os cidos graxos foram obtidos atravs de extrao

    utilizando hexano. O solvente foi posteriormente evaporado e os cidos graxos

    isolados.

    4.7 SNTESE DO BIODIESEL

    A sntese do biodiesel a partir do leo extrado das microalgas foi

    realizada por mtodo enzimtico atravs de lipases fngicas de Penicillium

    sumatrense e Aspergillus fumigatus, gentilmente cedidas pela biotecnloga

    Anne Caroline Defranceschi Oliveira. Tais enzimas foram cultivadas por

    Fermentao em estado slido (FES) utilizando semente de girassol como

    substrato. O slido fermentado passou por processo de delipidao a fim de

  • 61

    impedir a interferncia do material graxo presente no slido fermentado nas

    reaes de sntese.

    Para delipidao, o slido fermentado foi seco e submetido extrao

    do material graxo atravs da adio de 10 mL de hexano para cada grama de

    slido fermentado seco e incubados em shaker a 180 rpm e temperatura

    ambiente por 1 hora.

    Aps a delipidao obteve-se o extrato bruto enzimtico pela adio de

    5 mL de soluo de NaCl 1% para cada grama de substrato slido, sendo este

    mantido em agitao por 1 hora a 100 rpm. Filtrou-se e centrifugou-se a

    2000 rpm por 8 min, desprezando-se o precipitado. Com o meio fermentado

    recuperado, o extrato bruto foi liofilizado.

    A esterificao dos cidos graxos de microalgas foi realizada em

    frascos erlenmeyers de 125 mL, contendo um volume reacional de 10 mL. Em

    cada frasco foram adicionados o slido fermentado numa proporo

    equivalente a 60 U (unidade de atividade enzimtica), 50 mmol.L-1 de cido

    graxo, 450 mmol.L-1 de metanol e 10 mL de hexano. As reaes foram

    incubadas em Shaker a 30 C e 180 rpm, e acompanhadas por 12 horas.

    Para a determinao da converso de cidos graxos em steres foi

    utilizado um mtodo espectrofotomtrico descrito por Lowry e Tinsley (1976).

    Este mtodo foi usado previamente em trabalhos descritos na literatura, e

    apresentou grande preciso na quantificao de cidos graxos, demonstrados

    pelo acompanhamento simultneo da quantificao dessas substncias atravs

    de cromatografia gasosa (BARON et al., 2005; FERNANDES et al., 2007).

    Essa metodologia baseia-se na ligao entre os cidos graxos livres e

    os ons Cobre II em meio orgnico, possibilitando a avaliao do percentual de

    cidos graxos convertidos a steres. Desta forma, o acompanhamento da

    reao de converso de cidos graxos em steres fundamentou-se no

    acompanhamento do desaparecimento do substrato no meio reacional. Quando

    a quantidade de cidos graxos diminui em 100%, considerou-se que a reao

    teve 100% de converso biodiesel (metil steres). Assim sendo, para a

    realizao das anlises, a quantidade de 0,2 mL do meio reacional foram

    adicionados a 2,4 mL de tolueno e 0,5 mL da soluo de piridina e acetato de

  • 62

    cobre (5%). As reaes foram agitadas em vrtex por 30 segundos e a fase

    orgnica lida em espectrofotmetro em 715 nm.

    4.8 ANLISE DA BIORREMEDIAO DO RESDUO SUNO

    Aps o processo de separao e floculao qumica do cultivo de

    microalgas (descrito no item 4.5), o sobrenadante e o efluente suno bruto

    foram submetidos analise de cargas de fosfato, nitrato, nitrito, nitrognio total,

    nitrognio orgnico e nitrognio amoniacal para determinao de remoo de

    matria orgnica e biorremediao do resduo suno pelas microalgas

    (ANEXO 02 e ANEXO 03).

    4.9 ANLISE ESTATSTICA

    Os valores grficos de densidade celular, biomassa seca, absorbncia

    e pH apresentados nessa dissertao so as mdias das triplicatas das

    amostras de cada experimento duas vezes o desvio padro. O desvio padro

    foi multiplicado por 2 para abranger 95% de confiabilidade das amostras

    considerando uma distribuio normal, conforme a FIGURA 15.

    Para verificar se houve diferena estatstica entre os valores obtidos

    em todos os parmetros foi realizada a anlise de varincia pelo teste t com o

    auxlio do software ASSISTAT, verso 7.6 beta. O teste t foi aplicado ao nvel

    de 95% de confiabilidade de diferena estatstica (p < 0,05). Os pontos

    assinalados com asterisco (*) nos grficos demonstram que houve diferena

    estatstica entre as condies comparadas.

  • 63

    FIGURA 15 REPRESENTAO NORMAL SIMTRICA FONTE: Adaptado de Rodrigues (2008)

  • 64

    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    A microalga Scenedesmus sp. foi cultivada em batelada por perodos

    de at 15 dias em escala laboratorial sob condies controladas e em reatores

    airlifting expostos a condies ambientais, ou seja, sem controle de

    temperatura e luminosidade. Nos cultivos de escala laboratorial foram

    realizadas diariamente contagens celulares, quantificao de biomassa seca e