biodeterioracao de tinta latex (1)

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UFSM Dissertação de Mestrado BIODETERIORAÇÃO DE TINTAS LÁTEX COM E SEM BIOCIDA, EXPOSTAS AO MEIO AMBIENTE EXTERNO E EXPERIMENTO ACELERADO Flayane Höehr Silva PPGEC Santa Maria, RS, Brasil 2009

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apostila técnica

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  • UFSM

    Dissertao de Mestrado

    BIODETERIORAO DE TINTAS LTEX COM E SEM

    BIOCIDA, EXPOSTAS AO MEIO AMBIENTE EXTERNO E

    EXPERIMENTO ACELERADO

    Flayane Hehr Silva

    PPGEC

    Santa Maria, RS, Brasil

    2009

  • BIODETERIORAO DE TINTAS LTEX COM E SEM

    BIOCIDA, EXPOSTAS AO MEIO AMBIENTE EXTERNO E

    EXPERIMENTO ACELERADO

    Por

    Flayane Hehr Silva

    Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria

    (UFSM, RS), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Engenharia Civil

    PPGEC

    Santa Maria, RS, Brasil

    2009

  • Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertao de Mestrado

    BIODETERIORAO DE TINTAS LTEX COM E SEM

    BIOCIDA, EXPOSTAS AO MEIO AMBIENTE EXTERNO E

    EXPERIMENTO ACELERADO

    elaborada por

    Flayane Hehr Silva

    como requisito parcial para obteno do grau de

    Mestre em Engenharia Civil

    COMISSO EXAMINADORA:

    ______________________________________________ Prof. Dr. Eng. Denise de Souza Saad - UFSM

    (Presidente/Orientador)

    ______________________________________________ Prof. Dr. Eng. Monica Regina Garcez UNIPAMPA

    ______________________________________________ Prof. Dr. Eng. Joaquim C. P. dos Santos- UFSM

    Santa Maria, 17 de fevereiro de 2009.

  • Aos meus pais Floriano e Elaine por estarem sempre ao meu lado em cada passo do

    meu caminho, sendo meu porto seguro e meu irmo Floriano, pelo carinho, apoio,

    compreenso e incentivo. A Osvaldo de Campos Melo, pelo apoio, incentivo e pacincia.

  • AGRADECIMENTOS

    Universidade Federal de Santa Maria, instituio que viabilizou minha formao no curso

    de Engenharia Civil e esta Ps-Graduao;

    professora Dra. Eng. Denise de Souza Saad por possibilitar-me o ingresso no curso e

    orientou-me durante a pesquisa;

    Eng. Danielle de Souza Saad pela ajuda na organizao dos dados;

    Ao Professor Dr. Cesar Tadeu Pozzer pelo desenvolvimento de um Software que viabilizou a

    obteno de resultados importantes;

    Ao Senhor Elton Hehr pela ajuda na obteno desse ttulo;

    A toda a minha famlia que sempre me apoiou em cada degrau da escada.

  • SUMRIO

    LISTA DE TABELAS.........................................................................................................................9

    LISTA DE QUADROS .....................................................................................................................13

    LISTA DE GRFICOS .....................................................................................................................14

    RESUMO...........................................................................................................................................16

    ABSTRACT.......................................................................................................................................17

    CAPTULO I - INTRODUO........................................................................................................18

    - Objetivo Geral: ................................................................................................................................19

    - Objetivos Especficos: .....................................................................................................................20

    CAPTULO II - REVISO BIBLIOGRFICA................................................................................21

    1. A Biodeteriorao e sua Classificao ......................................................................................21

    1.1. Fatores que Influenciam a Biodeteriorao ..........................................................................22 1.1.1. gua .................................................................................................................................23 1.1.2. Nutrientes .........................................................................................................................23 1.1.3. Carbono ............................................................................................................................24 1.1.4. Outros fatores ...................................................................................................................24

    2. Bioreceptividade .......................................................................................................................24

    3. Biofilme e sua formao ...........................................................................................................28

    4. Os Organismos Deteriorantes....................................................................................................30

    4.1. Bactrias ...............................................................................................................................32

    4.1.1. Ao das Bactrias no Concreto e Argamassas................................................................33

    4.1.2. Ao das Bactrias em Material Rochoso ........................................................................35

    4.1.3. Ao das Bactrias na Madeira ........................................................................................36

    4.1.4. Ao das Bactrias nos Metais .........................................................................................37

    4.2. Algas e Cianobactrias..........................................................................................................40

    4.3. Fungos...................................................................................................................................42

    4.3.2.1. Podrido Parda .................................................................................................................49

    4.3.2.2. Podrido Mole ..................................................................................................................50

    4.3.2.3. Podrido Branca ...............................................................................................................50

    4.3.2.4. Medidas Preventivas em Relao ao Ataque Fngico em Madeira .................................51

  • 5. TINTAS ....................................................................................................................................51

    5.1. Composio das Tintas .........................................................................................................53

    5.1.1. Resinas..............................................................................................................................54

    5.1.2. Pigmentos .........................................................................................................................55

    5.1.3. Solventes ..........................................................................................................................55

    5.1.4. Fillers................................................................................................................................56

    5.1.5. Aditivos ............................................................................................................................57

    5.1.6. Espessantes.......................................................................................................................58

    6. Biodeteriorao de Pinturas ......................................................................................................59

    6.1. Biocidas ................................................................................................................................62 6.1.1. Atuao e composio dos Biocidas ................................................................................63

    CAPTULO III - MATERIAIS E MTODOS..................................................................................69

    7. Experimento em meio ambiente externo...................................................................................70

    7.1. Preparao de Substratos ......................................................................................................70

    7.2. Carbonatao ........................................................................................................................71

    7.3. Tintas utilizadas e pintura dos paineis ..................................................................................72

    7.4. Exposio dos paineis...........................................................................................................75

    7.5. Avaliao da temperatura ambiente, temperatura superficial e umidade .............................76

    7.6. Coleta de Amostras...............................................................................................................78

    7.7. Incubao, Isolamento e Caracterizao...............................................................................78

    9. Anlise Estatstica das Tintas Expostas ao Meio Ambiente Externo........................................80

    CAPTULO VI - RESULTADOS E ANLISE................................................................................82

    10. Experimento no meio Ambiente Externo .............................................................................82

    10.1. Resultado da Contaminao Fngica....................................................................................82

    11. Resultados de temperatura superficial (TS), temperatura ambiental (TA) e umidade(H) ..101

    12. Resultados da Anlise Estatstica........................................................................................106 12.1. Emprego do Teste t.........................................................................................................106

    12.2. Anlise das Varincias (ANOVA):.....................................................................................119

    12.3. Teste de Tukey....................................................................................................................121

    13. Testes de Bioreceptividade Acelerada ................................................................................122

    13.1. Comparao entre as tintas de primeira linha .....................................................................135

    13.2. Comparao entre as tintas de segunda linha .....................................................................136

    13.3. Comparao entre as tintas com o mesmo acabamento......................................................137

    13.4. Comparao entre as tintas com o mesmo fabricante .........................................................139

    CAPTULO V - CONCLUSES ....................................................................................................141

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................................150 BIBLIOGRAFIA DE IMAGENS....................................................................................................157

    ANEXO I .........................................................................................................................................160

  • ANEXO II........................................................................................................................................161

  • LISTA DE TABELAS Tabela 1-Evoluo das tintas imobilirias no Brasil.(fonte: ABRAFATI,2007) ...................................52 Tabela 2- Biodiversidade fngica na Tinta 1 .........................................................................................83 Tabela 3 Biodiversidade fngica na Tinta 2........................................................................................83 Tabela 4 Biodiversidade anual da tinta 3 .............................................................................................83 Tabela 5 Biodiversidade anual da tinta 4 .............................................................................................84 Tabela 6 Biodiversidade anual da tinta 5 .............................................................................................84 Tabela 7 Biodiversidade anual da tinta 6 .............................................................................................84 Tabela 8 Biodiversidade anual da tinta 7 .............................................................................................85 Tabela 9- Percentagem de Contaminao da Tinta em relao Tinta 6 (de referncia). .....................91 Tabela 10 Biodiversidade anual das tintas utilizadas........................................................................100 Tabela 11 Dados mdios de Temperatura Superficial (TS), Temperatura Ambiental (TA) e Umidade por um perodo de 12 meses.................................................................................................................101 Tabela 12 Dados Sazonais de Temperatura Superficial (TS), Temperatura Ambiental (TA) e Umidade. ..............................................................................................................................................103 Tabela 13 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 2 ..............................................................................106 Tabela 14 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 3 ..............................................................................107 Tabela 15 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 4 ..............................................................................107 Tabela 16 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 5 ..............................................................................108 Tabela 17 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 6 ..............................................................................108 Tabela 18 Sada do teste t para Tinta 1 e Tinta 7 ..............................................................................109 Tabela 19 Sada do teste t para Tinta 2 e Tinta 3 ..............................................................................109 Tabela 20 Sada do teste t para Tinta 2 e Tinta 4 ..............................................................................110 Tabela 21 Sada do teste t para Tinta 2 e Tinta 5 ..............................................................................110 Tabela 22 Sada do teste t para Tinta 2 e Tinta 6 ..............................................................................111 Tabela 23 Sada do teste t para Tinta 2 e Tinta 7 ..............................................................................111 Tabela 24 Sada do teste t para Tinta 3 e Tinta 4 ..............................................................................112 Tabela 25 Sada do teste t para Tinta 3 e Tinta 5 ..............................................................................112 Tabela 26 Sada do teste t para Tinta 3 e Tinta 6 ..............................................................................113 Tabela 27 Sada do teste t para Tinta 3 e Tinta 7 ..............................................................................113 Tabela 28 Sada do teste t para Tinta 4 e Tinta 5 ..............................................................................114 Tabela 29 Sada do teste t para Tinta 4 e Tinta 6 ..............................................................................114 Tabela 30 Sada do teste t para Tinta 4 e Tinta 7 ..............................................................................115

  • Tabela 31 Sada do teste t para Tinta 5 e Tinta 6 ..............................................................................115 Tabela 32 Sada do teste t para Tinta 5 e Tinta 7 ..............................................................................116 Tabela 33 Sada do teste t para Tinta 6 e Tinta 7 ..............................................................................116 Tabela 34 Tabela resumo para o teste t das diferentes tintas empregadas ........................................117 Tabela 35- Resumo com os resultados do teste estatstico ANOVA ...................................................119 Tabela 36- - Evoluo da contaminao em nmero de pixels ............................................................129 Tabela 37-Evoluo da contaminao em mm2 ...................................................................................130 Tabela 38-Evoluo da contaminao em mm2/h ................................................................................131 Tabela 39-Evoluo da contaminao em mm2 ...................................................................................132 Tabela 40-Teste t para o teste acelerado. .............................................................................................133 Tabela 41 Anlise das Varincias para o teste acelerado. .................................................................135

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Edificao atacada por diversos tipos de biodeterioraes. (acervo do autor) .......................21 Figura 2- Biodeteriorao esttica (Foto Flayane H. Silva) ...................................................................22 Figura 3- (a) Microrganismos crescendo em teto de banheiro (biodeteriorao) ; (b) Microrganismos desenvolvendo-se em paredes de garagem (foto: Flayane H. Silva)......................................................23 Figura 4 - (a) bioreceptividade de ordem primria, (b) secundria e (c) terciria em um material ptreo. (fonte GUILLITTE, 1995, p. 217). ........................................................................................................26 Figura 5- (a) Bioreceptividade extrnseca em rocha ; (b) Semi- extrnseca ou bioreceptividade secundria. (fonte: Guillitte,1995,p.218) ...............................................................................................27 Figura 6 - Seqncia de formao do Biofilme (traduzido pelo autor) . ................................................29 Figura 7- (a) Gallionella ferruginea e (b) Pseudomonas sp....................................................................37 Figura 8 - Tubo de ao carbono com tubrculos de xido de ferro.(fonte: Gentil,1996.p.96)...............39 Figura 9- Esporos e Hifae do fungo Cladosporium sphaerospermum crescendo em argamassa (PINHEIRO, 2003. p. 102).....................................................................................................................43 Figura 10- Alternaria sp., onde (a) Microscopia tica (b) Morfologia dos esporos (Ellis,1993) ...........44 Figura 11- Aspergillus sp.: (a) Microscopia tica (b) Morfologia dos esporos (Ellis,1993) .................45 Figura 12 Cladosporium sp(a) Microscopia tica (b) Morfologia dos esporos (Ellis,1993)................46 Figura 13 Curvularia sp(a) Microscopia tica (Ellis,1993)..................................................................46 Figura 14 Penicillium sp.(a) Microscopia tica (b) Morfologia dos esporos (Ellis,1993)...................47 Figura 15Epicoccum sp.:(a) Microscopia tica (b) Morfologia dos esporos (Ellis,1993) ..................48 Figura 16- Parede celular vegetal...........................................................................................................49 Figura 17 -Madeira atacada por podrido Parda ....................................................................................49 Figura 18-(a) Madeira com Podrido Branca, (b) madeiramento de telhado infectado. (fonte: arquivo do autor) .................................................................................................................................................50 Figura 19 Desenvolvimento de microrganismos em pintura interna (a) e externa (b).(foto : Flayane H. Silva) .................................................................................................................................................62 Figura 20-Formulaes qumicas do CMIT- C4H4ClNOS (CMIT: 5-cloro-2metil-isotiazona-3-one) e MIT - C2H5NOS (MIT: 2-Methyl-4-Isothiazolin-3-One.) .(SinoHarvest Corp.). ..................................64 Figura 21 - Frmula Qumica da Benzisotiazolinona- C7H5NOS (1,2-Benzisothiazolin-3-one).(Fonte: SinoHarvest corp.)..................................................................................................................................66 Figura 22- (a) Carbendazim; (b) Diuron. (fonte: SinoHarvest corp.).....................................................67 Figura 23-Organograma de avaliao ambiental....................................................................................69 Figura 24- Organograma do teste acelerado...........................................................................................69 Figura 25- Painel de cimento e argamassa. (Foto: Flayane Hehr Silva) ..............................................70 Figura 26- Caixa de Carbonatao. Etapas: (a) Montagem do estrado; (b) Colocao das placas; (c) Remoo do ar, com bomba de vcuo. (Fotos: Flayane H. Silva) .........................................................71 Figura 27: Localizao geogrfica dos expositores em relao ao centro de tecnologia da UFSM.( fonte: Google Earth, acesso em 18 de maro de 2009) ..........................................................................75 Figura 28- Expositores externos: a) Foto do expositor 01; b) Foto do expositor 02;.............................76 Figura 29- Esquema do arranjo para a fixao do termopar no substrato. .............................................77

  • Figura 30- (a) Registrador H08 HOBO; (b) Sensor de medio de temperatura modelo TMC 50-HD.(fonte: catlogo do fabricante).........................................................................................................77 Figura 31- Cultura fngica da pelcula de tinta dos paineis tipo A.(Foto: Flayane H. Silva). ...............78 Figura 32 - Freqncia dos fungos em janeiro.......................................................................................92 Figura 33- Frequncia dos fungos em fevereiro.....................................................................................93 Figura 34- Frequncia dos fungos em maro .........................................................................................93 Figura 35- Frequncia dos fungos em abril............................................................................................94 Figura 36 - Frequncia dos fungos em maio ..........................................................................................95 Figura 37 - Frequncia dos fungos em junho.........................................................................................95 Figura 38 - Frequncia dos fungos em julho..........................................................................................96 Figura 39 - Frequncia dos fungos em agosto........................................................................................97 Figura 40 - Frequncia dos fungos em setembro ...................................................................................97 Figura 41 - Frequncia dos fungos em outubro......................................................................................98 Figura 42 - Frequncia dos fungos em novembro..................................................................................98 Figura 43 - Frequncia dos fungos em dezembro ..................................................................................99 Figura 44 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 1. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...123 Figura 45 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 2. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...123 Figura 46 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 3. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...124 Figura 47 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 4. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...124 Figura 48 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 5. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...125 Figura 49 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 6. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...125 Figura 50 - Sequncia de crescimento fngico da amostra de tinta 7. ( foto: Flayane Hoehr Silva) ...126

  • LISTA DE QUADROS Quadro 1- Classificao de organismos baseada nas suas exigncias nutricionais. (fonte: KUMAR; KUMAR, 1999.p.4)................................................................................................................................31 Quadro 2: Atividades microbianas as quais afetam a durabilidade da pedra. (fonte:ALLSOPP et al., 2004) ......................................................................................................................................................36 Quadro 3: Ao corrosiva das bactrias atravs de metablicos agressivos. (fonte: VIDELA,1981.p.14)...............................................................................................................................39 Quadro 4: Condies bsicas para o desenvolvimento dos microrganismos.(FAZENDA, 1995).........60 Quadro 5: Os biocidas mais utilizados para proteo da tinta durante a armazenagem (FAZENDA, 1995, p.646) ...........................................................................................................................................63 Quadro 6- Referncia e tipo de tintas utilizadas na pesquisa. ................................................................73 Quadro 7- Biocidas presentes na formulao das tintas estudadas. .......................................................73 Quadro 8- Frmula qumica e estrutura molecular dos biocidas............................................................74 Quadro 9: composio qumica das tintas utilizadas (fonte: fispq de cada tinta)...................................74 Quadro 10 - Resumo dos resultados.....................................................................................................118 Quadro 11- Resumo dos resultados obtidos do teste ANOVA, onde foram marcadas as tintas estatisticamente iguais..........................................................................................................................121 Quadro 12-Resultado final dos grupos de tinta ....................................................................................122 Quadro 13 - Crescimento acelerado em pelculas de tinta pintadas em placas de Petri com meio agar malte.....................................................................................................................................................127 Quadro 16 - Resumo dos resultados obtidos........................................................................................134 Quadro 17-Comparao da composio entre as tintas 4 e 7 ( fonte :FISPQ de cada tinta)................144

  • LISTA DE GRFICOS Grfico 1- Biodiversidade anual da tinta 1.............................................................................................85 Grfico 2- Biodiversidade anual da tinta 2.............................................................................................86 Grfico 3- Biodiversidade anual da tinta 3.............................................................................................87 Grfico 4- Biodiversidade anual da tinta 4.............................................................................................87 Grfico 5- Biodiversidade anual da tinta 5.............................................................................................88 Grfico 6- Biodiversidade anual da tinta 6.............................................................................................88 Grfico 7-Biodiversidade anual da tinta 7..............................................................................................89 Grfico 8-Contaminao mdia mensal por tintas. ................................................................................90 Grfico 9- Contaminao mensal total por tinta. ...................................................................................90 Grfico 10- Contaminao anual total (a) Valores totais (b) Valores percentuais..............................91 Grfico 11-Frequncia anual total da biodiversidade observada no estudo de campo.........................100 Grfico 12 - Temperaturas mdias ambientais e superficiais num perodo de 12 meses.....................102 Grfico 13-Umidade relativa do ar mdias num perodo de 12 meses.................................................103 Grfico 14 Grfico representativo dos valores mdios sazonais: (a) Dia mdio da temperatura superficial e ambiental;(b) Dia mdio da Umidade..............................................................................104 Grfico 15- Evoluo da contaminao em pixels das 7 tintas empregadas........................................129 Grfico 16- Evoluo da contaminao sobre papel filtro em mm2.....................................................130 Grfico 17- Evoluo da contaminao sobre papel filtro em mm2/h..................................................131 Grfico 18- Evoluo mdia do acrscimo de contaminao sobre papel filtro em mm2 ....................132 Grfico 19- Grfico comparativo entre o desenvolvimento da biomassa, no experimento de crescimento acelerado entre as tintas classificadas como de primeira linha, independente do fabricante...............................................................................................................................................................136 Grfico 20- Grfico comparativo entre o crescimento fngico acelerado das tintas classificadas comercialmente como de segunda linha, independente do fabricante. ................................................137 Grfico 21- Comparativo entre as tintas de acabamento fosco, independente do fabricante e da classificao comercial da linha...........................................................................................................138 Grfico 22- Grfico comparativo entre as tintas de acabamento semibrilho, independente do fabricante e da classificao comercial da linha. ..................................................................................................138 Grfico 23- Representao grfica da comparao do crescimento fngico no processo acelerado, nas tintas do fabricante A, independente da classificao comercial e acabamento final. .........................139

  • Grfico 24- Representao grfica da comparao do crescimento fngico no processo acelerado, nas tintas do fabricante B, independente da classificao comercial e acabamento final. .........................140

  • 16

    RESUMO

    Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Engenharia Civil

    Universidade Federal de Santa Maria

    BIODETERIORAO DE TINTAS LTEX COM E SEM

    BIOCIDA, EXPOSTAS AO MEIO AMBIENTE EXTERNO E

    EXPERIMENTO ACELERADO

    Autora: FLAYANE HEHR SILVA

    Orientadora: DRA. DENISE DE SOUZA SAAD

    Data e Local da Defesa: SANTA MARIA, 17 DE FEVEREIRO DE 2009

    Este trabalho tem por objetivo o estudo da contaminao fngica, tendo como substrato

    argamassa pintada com pelcula seca de tinta latx com e sem biocida, material amplamente

    utilizado no revertimento das paredes de residncias e estabelecimentos comerciais. Procurou-

    se identificar as espcies fngicas mais comuns encontradas na regio, como tambm a

    evoluo do biofilme, e a incidncia da microbiota fngica em diversas pocas do ano. Foram

    identificadas as espcies de maior incidncia na regio em relao aos doze meses do ano,

    levando-se em considerao as temperaturas tanto ambientais como de superfcie do substrato

    e a umidade relativa do ar. Alm do experimento ambiental, foi empregado o ensaio acelerado

    utilizando-se papel pintado com os diversos tipos de tinta.

    Os resultados demonstraram que os principais contaminantes so Cladosporium sp. e

    Penicillium sp., estando esses fungos presentes nas quatro estaes do ano. Os demais

    contaminantes, mas em menor proporo, so os fungos: Alternaria sp., Aspergillus nigrum e

    A. aureum, bem como os fungos Curvularia sp., Phoma sp. e Epicoccum nigrum, alm de

    outros dois fungos que no apresentaram esporulao. No ensaio ambiental a tinta com melhor

    desempenho foi a tinta 7, semi-brilho, denominada comercialmente de primeira linha. O

    resultado do experimento acelerado demonstrou a necessidade de um melhor desenvolvimento

    do mesmo para sua aplicao, devido aos resultados diversos em relao ao ensaio de campo.

    Palavras-chaves: Agentes Biodeteriorantes, Biocida, Biodeteriorao, Bioreceptividade,

    Fungos, Mofos, Tinta ltex.

  • 17

    ABSTRACT

    Master dissertation Post graduation course of Civil Engineering

    Federal University of Santa Maria

    BIODETERIORATION OF WATER-BORNE PAINT,

    WITH AND WITHOUT BIOCIDE, EXPOSED TO THE

    EXTERNAL ENVIRONMENT AND ACCELERATED

    EXPERIMENT.

    Author: FLAYANE HEHR SILVA

    Superviser: DRA. DENISE DE SOUZA SAAD

    Data and Place: SANTA MARIA, FEBRUARY 17, 2009

    The aim of this work is the fungal contamination assessment on mortar painted with

    waterborne paint with and without biocide, this material is widely used in building. The

    identification of the commonest fungal species in this region and during one year and the

    biofilm gradual development was analysed and environment temperature, superficial

    temperature and humidity were also evaluated. Beyond the environment experiment, paper

    painted with 7 waterbonr paint were setting in controlled environment.

    The results showed that the main contaminants were Cladosporium sp. e Penicillium sp., that

    were settled on paint during all seasons. The others contaminants were:

    Alternaria sp., Aspergillus nigrum e A. aureum, Curvularia sp., Phoma sp. e Epicoccum

    nigrum and two fungal mycelia. In the environmental experiment, the best performance was

    paint 7, halb-brightness paint, commercially called first line. The controlled experiment

    showed that it needs a better development for its application, because it had a diverse results

    in relation to the field assay.

    Keywords: Biodeterioration agent, biocide, biodeterioration, bioreceptivity, fungi, mould,

    waterborne paint.

  • 18

    CAPTULO I

    INTRODUO

    Biodeteriorao um termo relativamente novo para um problema muito antigo, pois

    foi h aproximadamente 40 anos que se estabeleceu para o termo Biodeteriorao uma

    definio cientfica. Hueck definiu biodeteriorao como qualquer mudana indesejvel nas

    propriedades do material causada pelas atividades vitais dos organismos (HUECK apud

    ALLSOPP et al., 2004, p. 1).

    A primeira referncia aos problemas causados pelos microorganismos na construo

    civil est no Antigo Testamento, onde existe orientao do que fazer e que providncias

    deveriam ser tomadas ao surgir lepras nas residncias. A palavra lepra nada mais do que

    uma referncia a manchas, doenas nas casas. Uma das passagens mais interessantes diz :

    O sacerdote antes de entrar para examinar a mancha, mandar que tirem para

    fora tudo que h na casa, a fim de que no haja contaminado nada do que houver

    nela. E s ento entrar para visitar a casa. Examinar a mancha, e se a mancha que

    est nas paredes da casa estiver em cavidades esverdeadas ou avermelhadas,

    parecendo profundas nas paredes, o sacerdote sair da casa e, tendo passado pela

    soleira da porta, fech-la- por sete dias.

    (Levitico 14 36:38, pg. 158)

    Nem todos os fungos e bactrias so prejudiciais sade humana, por exemplo,

    existem muitos fungos comestveis, bactrias que vivem no organismo. As leveduras que

    fermentam o po, cerveja e vinho, seus metablitos podem servir de remdios, entre outros.

    Muitas substncias de considervel valor econmico so produtos do metabolismo

    microbiano. A produo comercial dos antibiticos um bom exemplo (PELCZAR,1981).

    No se deve confundir Biodeteriorao com Biodegradao, apesar de ambas

    envolverem organismos vivos. Hueck tambm definiu biodegradao como o aproveitamento

    pelo homem da capacidade dos organismos de tornarem os resduos mais teis ou aceitveis

    (HUECK apud ALLSOPP et al., 2004, p. 1).

    A decomposio orgnica do material faz parte do ciclo de nitrognio e de processos

    similares e de extrema importncia para o meio ambiente, visto que sem bactrias e outros

  • 19

    microrganismos trabalhando em conjunto, a vida na Terra seria destruda por seu prprio

    processo natural(PELCZAR,1996, p. 67).

    As edificaes esto naturalmente sujeitas a diversas agresses, como aes

    mecnicas, radiao solar, mudanas de temperatura, umidade do ar e ao de agentes

    biolgicos (Saad,2002). A biodeteriorao no provocada apenas por microrganismos, mas

    tambm por insetos, roedores, plantas, enfim qualquer tipo de ser vivo que de alguma forma

    favorea a deteriorao de materiais, inclusive a ao do homem.

    Na construo civil, alm dos microrganismos, os insetos como cupins, baratas, traas,

    etc, alm de ratos , morcegos, pombos so um problema cada vez maior nos centros urbanos e

    reas rurais. Entretanto, muitos desses agentes biodeteriorantes tambm trazem com eles no

    s prejuzos ao patrimnio em si, mas tambm para as pessoas que residem em locais onde

    existe este problema .(SAAD, 2003)

    A contaminao microbiana em materiais de construo e em monumentos histricos

    leva a um custo elevado para manuteno e reparos. Singh apud Saad (2002) cita que somente

    no Reino Unido, na dcada de 90, mais de 400 milhes de libras esterlinas foram gastos ao

    ano com esse objetivo.

    Alm dos custos financeiros existe ainda o fator humano, a presena dos

    microorganismos nos ambientes internos das residncias, escritrios e estabelecimentos

    comerciais so grandes causadores de reaes alergnicas e potencializadores de doenas

    respiratrias nos ocupantes ou usurios dos locais onde existe a presena dos agentes

    patolgicos.

    O estudo que ser desenvolvido envolver a anlise de filmes de tintas, em ambiente

    controlado e expostos ambientalmente, monitorando-se umidade, temperatura e temperatura

    superficial, fazendo-se uma anlise da contaminao microbiana sofrida pela pelcula de

    tintas, com e sem a presena de biocida.

    Os objetivos do trabalho so:

    - Objetivo Geral:

    Avaliar o desempenho de tinta ltex, com e sem biocidas, frente ao de fatores tais

    como temperatura ambiental e superficial, umidade bem como a ao de agentes

    microbiolgicos e qumicos em ensaio acelerado e expostas ao meio ambiente.

    Avaliando assim a contaminao fngica em diferentes tipos de tinta base de gua do

    mercado, que esto disponveis aos usurios, sendo que as mesmas foram expostas

  • 20

    ambientalmente com monitoramento de temperatura ambiental e superficial, umidade, alm da

    microbiota fngica deteriognica.

    - Objetivos Especficos:

    a) Avaliar o desempenho das tintas ltex expostas ambientalmente por um perodo mnimo de

    um ano em termos de contaminao fngica;

    b) Utilizar tcnicas tradicionais, como cultura em meio gar malte, observao a olho nu e por

    microscopia ptica e anlises estatsticas na avaliao do biofilme aderido tinta ltex, com e

    sem biocida;

    c) Avaliar a correlao das tintas expostas ao meio ambiente e dos ensaios acelerados

    empregando papel filtro em relao biodeterioraio fngica da pelcula;

    Para tanto, o captulo 2 descreve conceitos de biodeteriorao e sua classificao,

    juntamente com os fatores que a influenciam. Descreve-se tambm como h a formao do

    biofilme e o comportamento e ao dos microorganismos como fungos, bactrias e algas,

    juntamente com seus mecanismos de deteriorao em diversos materiais. Ainda no mesmo

    captulo so descritas medidas preventivas que podem ser adotadas para prevenir ou controlar

    a contaminao, bem como a biodeteriorao em pinturas.

    No captulo 3 descrevem-se os materiais e mtodos empregados, a preparao do

    substrato, as tintas utilizadas, a preparao das amostras, alm da descrio do modo de

    registro da temperatura, a umidade e a temperatura superficial.

    Os resultados obtidos e sua anlise sero apresentados no captulo 4 em forma de

    tabelas, representao grfica e documentao fotogrfica, bem como seu tratamento

    estatstico.

    No capitulo 5, so apresentadas as concluses as quais se chegou no decorrer da

    pesquisa e comprovadas por meio de experimentao e anlise e cruzamento dos resultados.

    Esto tambm anexados dissertao, planilhas, tabelas e documentos que foram utilizados

    para a obteno de alguns resultados e anlises estatsticas.

  • 21

    CAPTULO II

    REVISO BIBLIOGRFICA

    1. A Biodeteriorao e sua Classificao

    Os materiais de construo civil como concretos, argamassas, pedras, tintas, plsticos,

    madeiras, materiais cermicos e materiais metlicos, entre outros, so suscetveis

    colonizao de microrganismos capazes de acelerar o mecanismo de envelhecimento do

    material at a sua deteriorao.

    Existem vrios tipos de deterioraes causadas por organismos vivos como a

    deteriorao fsica ou mecnica como exemplificado na figura 1, onde o crescimento e o

    movimento dos organismos causam danos ao material construtivo. Um exemplo disso so

    fissuras e desabamentos causados por razes, ratos e camundongos roendo cabos, blocos de

    concreto (com agregado leve), divisrias de gesso e madeira .

    Figura 1- Edificao atacada por diversos tipos de biodeterioraes. (acervo do autor)

    Biodeteriorao esttica aquela que ocorre na superfcie apenas pela presena dos

    organismos ou metablitos nas edificaes, alterando sua colorao. Um exemplo clssico de

    biodeteriorao esttica a formao de manchas escuras causadas por microrganismos como

  • 22

    algas, fungos, bactrias e cianobactrias sobre superfcies de prdios. O biofilme que se forma

    no oferece qualquer alterao na composio qumica ou no desempenho do material, mas

    altera sua aparncia esttica (KUMAR E KUMAR, 1999; PINHEIRO, 2003)

    Figura 2- Biodeteriorao esttica (Foto Flayane H. Silva)

    A biodeteriorao bioqumica assimilatria ocorre quando o organismo se nutre do

    prprio material, utilizando-o como fonte de energia. Em geral esse tipo de biodeteriorao

    ocorre em conjunto com a biodeteriorao bioqumica desassimilatria, pois durante o

    desenvolvimento do biofilme so excretados cidos e compostos pigmentados os quais

    danificam o material (KUMAR E KUMAR, 1999).

    1.1. Fatores que Influenciam a Biodeteriorao

    O crescimento e desenvolvimentos de microrganismos nas construes so

    influenciados por diversos fatores, entre os principais deles esto: umidade, falta de

    ventilao, utilizao que se d ao cmodo ou edificao, qualidade do ar interno, condies

    trmicas, ar externo, variaes sazonais, temperatura, microclimas internos, projetos de

    construo, tipos de materiais utilizados na construo, tipo de acabamentos, distribuio

    geogrfica, materiais orgnicos, ocupao, manuteno e gerenciamento (SAAD, 2002).

    Pode-se observar que, dos fatores que favorecem o crescimento fngico em uma

    edificao, os principais deles so a umidade e a temperatura ( figura 3), que podem vir a ser

  • 23

    a b

    minimizados com projetos envolvendo maior ateno no que diz respeito ventilao e

    iluminao da edificao (SAAD, 2003).

    1.1.1. gua

    Toda forma de vida necessita de gua para seu desenvolvimento. Um dos fatores

    fundamentais para a determinao do tipo de microrganismos e seu desenvolvimento a

    interao da quantidade de gua disponvel (Aw) existente no meio, com a capacidade de

    absoro do material (SHIRAKAWA, et al. 1998).

    A gua de significativa importncia, pois a maioria dos microrganismos somente

    nutre-se quando as substncias qumicas que necessitam esto dissolvidas, somente assim

    podem absorver os nutrientes necessrios para seu desenvolvimento (PELCZAR, 1996).

    Figura 3- (a) Microrganismos crescendo em teto de banheiro (biodeteriorao) 1; (b) Microrganismos desenvolvendo-se em paredes de garagem (foto: Flayane H. Silva)

    1.1.2. Nutrientes

    Para o desenvolvimento dos microrganismos, necessria a presena de nutrientes e

    de fontes de energia e carbono. A disponibilidade desses nutrientes, de fontes de carbono e de

    energia so os responsveis pela seleo de microrganismo que dar incio a biodeteriorao.

    Estes elementos so necessrios para a sntese e funes normais dos componentes

    celulares, sendo encontrados na natureza em forma de compostos orgnicos e inorgnicos,

    todos presentes no habitat natural dos microrganismos (PELCZAR, 1996).

    1 Fonte: http://www.microbiologia.vet.br/ImagensMicologia.htm

  • 24

    Certos elementos qumicos so de extrema importncia para o desenvolvimento das

    clulas, tais como carbono, nitrognio, hidrognio, oxignio, enxofre e fsforo (PELCZAR,

    1996).

    1.1.3. Carbono

    O Carbono um elemento importante para o crescimento microbiano, segundo Pelczar

    (1996), compondo a formulao qumica de trs das maiores classes de compostos orgnicos:

    os carboidratos, os lipdeos e as protenas, fornecendo assim energia necessria para o

    crescimento celular, sendo portanto unidade bsica da composio celular (PELCZAR, 1996).

    1.1.4. Outros fatores

    Fatores como temperatura, pH, concentrao de oxignio e o intervalo de tempo so

    determinantes no desenvolvimento e na seleo da comunidade microbiolgica que pode

    desencadear o mecanismo de biodeteriorao (SAAD, 2003).

    2. Bioreceptividade

    Muitos materiais de construo esto propensos contaminao biolgica. Desde os

    anos de 1960, poca na qual a indstria petroqumica teve seu grande desenvolvimento, as

    alteraes nas propriedade fsico- qumicas dos materiais dividiu-os em dois grupos distintos,

    o grupo dos materiais biodegradantes e os biodeteriorantes (GUILLITTE,1995).

    O termo biodeteriorao utilizado com relao degradao do material, aplicando-

    se tal conceito de degradao por agentes ou substncias biolgicas (GUILLITTE,1995).

    Entretanto, a presena de colnias de organismos vivos em determinados materiais no

    acarreta necessariamente uma degradao fsica ou qumica, apenas mudanas estticas, como

    na cor e, em determinados casos, reversvel de acordo com o tipo de material

    (GUILLITTE,1995).

  • 25

    Segundo Gibson (GIBSON, 1981 apud GUILLITTE,1995), alguns autores consideram

    a mudana de colorao esteticamente aceita, inclusive como uma proteo natural contra

    agresses do homem e da poluio, tendo efeitos benficos ao ambiente.

    A influncia das caractersticas dos materiais no processo de colonizao ainda

    pouco compreendida, com exceo da acidez, que uma caracterstica que torna seletiva a

    colonizao do material para alguns organismos (GUILLITTE, 1995).

    A bioreceptividade tambm pode ser conceituada, segundo Guillitte (1995), como um

    dos meios de elucidar o impacto da colonizao no material, sem a necessidade de recorrer a

    uma aproximao analtica.

    O termo suscetibilidade na cincia mdica descrito como a vulnerabilidade que um

    organismo apresenta em relao a doenas e infees. Outra definio dada a aptido de um

    organismo para abrigar um agente patognico e permitir seu desenvolvimento ou

    multiplicao sem necessariamente padecer (TOMA et al, 1991 apud GUILLITTE, 1995).

    Em decorrncia dessas conceituaes Guillitte (1995) definiu o termo bioreceptividade

    como a capacidade (tendncia) do material de ser colonizado por organismos vivos, sem

    necessariamente sofrer biodeteriorao e ainda pode-se, segundo o mesmo autor, definir

    bioreceptividade como conjunto de propriedades do material que contribuem para a fixao e

    desenvolvimento da flora e da fauna (GUILLITTE,1995).

    As caractersticas bioreceptivas dos materiais podem ser de ordem fsica como a

    rugosidade e a porosidade da superfcie, permeabilidade e capacidade de reter ou no umidade

    e composio qumica da superfcie do material (GUILLITTE,1995).

    Para indicar esse potencial inicial da colonizao, Guillitte (1995) sugere o uso do

    termo bioreceptividade primria. O termo bioreceptividade somente aceito quando as

    propriedades dos materiais permanecem bastante semelhantes ou idnticas aps a colonizao

    pelos microorganismos, em relao ao seu estado inicial, tanto no mbito fsico como no

    qumico.

    Como a evoluo dessa colonizao acarreta novas caractersticas ao substrato e o

    deixa potencialmente suscetvel a novas colonizaes, surge um novo tipo de

    bioreceptividade, que o autor classifica como bioreceptividade secundria. Contudo, no se

    deve supor que o material no pode ser afetado, pois qualquer atividade humana pode afetar a

    bioreceptividade do material e a formao desse biofilme, como aplicao de biocidas,

    alterao da rugosidade da superfcie atravs de polimentos e at mesmo alterao do

    microclima, em locais onde a umidade, a temperatura e a luminosidade podem ser controladas

    (GUILLITTE,1995).

  • 26

    Na Figura 4, onde est ilustrado o processo de biodeteriorao de um material ptreo,

    as setas brancas indicam o processo de colonizao dos microrganismos, as setas pretas

    mostram a deteriorao fsico-qumica sofridas pelo material, atravs de cidos orgnicos e as

    linhas descontnuas, mecanismos de biodeteriorao (GUILLETTI,1995).

    Outros termos utilizados para definir essa bioreceptividade so: bioreceptividade

    extrnsecas, semi- extrnsecas e intrnsecas. Onde o primeiro termo se refere no diretamente

    s propriedades do material em si, mas a colonizaes como vegetao que pode se

    estabelecer em conseqncia das condies geradas, tais como depsitos de solo, poeira e

    matria orgnica. A bioreceptividade semi- extrnseca refere-se diretamente e

    simultaneamente s propriedades de substrato e s dos depsitos de substncias exgenas2

    (GUILLITTE,1995).

    Figura 4 - (a) bioreceptividade de ordem primria, (b) secundria e (c) terciria em um material ptreo. (fonte GUILLITTE, 1995, p. 217).

    Todavia, quando a colonizao depende principalmente das propriedades do material,

    sem considerar a contribuio de exgenos, utiliza-se a expresso de bioreceptividade

    2 Refere-se ao que cresce exteriormente ou para fora. Que est superfcie.

    (c)

    (b)

    (a)

  • 27

    intrnseca (GUILLITTE, 1995), como o caso da colonizao de microrganismos em pelcula

    de tinta, que trata esse estudo.

    Salienta-se tambm que as trs fases da bioreceptividade descritas anteriormente: a

    bioreceptividade intrnseca, extrnseca e semi- extrnseca, segundo Guillitte (1995) e

    ilustradas pelo autor na Figura 5 podem ocorrer em um mesmo substrato.

    O conceito de bioreceptividade trabalhado por Guillitte vem complementar um

    conceito desenvolvido por Heimans (1954) chamado acessibilidade, em que explica o

    processo de colonizao de materiais envolvendo outros fatores ambientais e onde

    acessibilidade foi definida como as caractersticas ambientais que determinam a abundncia

    de fontes de disporos3 , proximidade e capacidade de transporte, e inclusive a exposio do

    material para essas fontes e vetores4 (HEIMANS,1954 apud GUILLITTE,1995, p. 217).

    Com base nesses princpios, pode-se considerar a possibilidade de avaliar a

    bioreceptividade de um material atravs da inoculao de microrganismos em ambiente

    controlado sob condies ambientais ideais para seu desenvolvimento ( GUILLETTI e

    DREESEN, 1995).

    Figura 5- (a) Bioreceptividade extrnseca em rocha ; (b) Semi- extrnseca ou bioreceptividade secundria. (fonte:

    Guillitte,1995,p.218)

    3 Unidade orgnica destinada propagao das plantas superiores, e que consiste essencialmente no embrio, acompanhado de estruturas acessrias, podendo ser uma semente, um fruto, um bolbilho, etc. 4 Traduo do autor.

    (a) (b)

  • 28

    A Figura 5 ilustra a bioreceptividade em material ptreo e onde, na Figura 5-a, a seta

    representa o mecanismo de colonizao em rocha que apresenta uma bioreceptividade

    extrnseca. Na Figura 5-b, as setas pretas representam a deteriorao fisco-qumica da rocha e

    as setas brancas representam a colonizao de microrganismos, exemplificando a

    bioreceptividade semi-extrnseca ou secundria do material (GUILLETTI,1995).

    A bioreceptividade em materiais de construo como o concreto e alvenaria de tijolos

    e argamassa importante, sendo que o concreto, segundo Guillitte e Dreesen (1995), em

    experincias laboratoriais apresentou um alto grau de bioreceptividade primria, semi-

    intrnseca e quase-intrnseca devido a suas caractersticas naturais, como alta porosidade,

    capilaridade e a solubilidade do cimento em presena de cidos orgnicos (GUILLITTE e

    DREESEN,1995).

    A argamassa de tijolos no mesmo estudo apresentou uma bioreceptividade de ordem

    primria inferior ao concreto, sendo que a argamassa, por sua maior porosidade, apresentou

    maior ndice de biodeteriorao devido a sua bioreceptividade de ordem extrnseca secundria

    mais significativa que o tijolo, apesar deste apresentar maior capilaridade (GUILLITTE e

    DREESEN,1995).

    Apesar desse conceito ser relativamente novo, o processo pode ser importante para o

    desenvolvimento de ferramentas para seleo de materiais construtivos (GUILLITTE, 1995).

    A bioreceptividade promove a formao de uma camada superficial em diferentes

    materiais, sendo essa camada composta por organismos e seus metablitos e denominada de

    biofilme.

    3. Biofilme e sua formao

    O biofilme so ecossistemas microscpicos compostos por diversas formas de

    microrganismos. So formados em ambientes onde h presena de gua por microorganismos

    vivos com atividades metablicas, nas quais so produzidas substncias extracelulares

    compostas por produtos cidos e polissacardeos somados decomposio de organismos

    mortos (SHIRAKAWA, 1998). Os microrganismos que compem esse ecossistema consistem

    em um consrcio complexo de bactrias aerbias e anaerbias, algas, fungos e protozorios

    (SHIRAKAWA, 1999 apud Pinheiro, 2003, p. 47).

  • 29

    A formao do biofilme, como demostra a figura 6, inicia-se com a fixao de

    macromolculas de protenas, polissacardeos, ou seja, carboidratos que fornecem por

    hidrlise outros carboidratos de menor massa molecular e ainda, para a formao da colnia,

    necessitam de cidos nuclicos, graxos, lipdeos e poluentes sobre a superfcie do material,

    no apenas para a nutrio, como tambm fornecendo ancoragem (PINHEIRO, 2003). Essas

    substncias modificam a superfcie do material, alterando sua hidrofobicidade5 e sua carga

    eltrica superficial e proporcionam a adeso do microrganismo (LEWANDOWSHY;

    CUNNINGHAM, 1998 apud Pinheiro, 2003).

    Aps a sua fixao no material, os microrganismos passam a se multiplicar e a produzir

    uma substncia com propriedades adesivas, de aparncia gelatinosa, composta

    predominantemente de exopolissacardeos (EPS), estabelecendo assim a formao do

    biofilme (LEWANDOWSHY; CUNNINGHAM, 1998 apud Pinheiro, 2003, p.47).

    A formao do biofilme condio para a fixao de outros microrganismos, pois ele

    fornece suporte para a adeso de outras partculas, dando origem assim a microambientes com

    concentraes diferenciadas de elementos vitais para o desenvolvimento microbitico, como

    oxignio e variaes de pH, favorecendo assim o acmulo e a manuteno de umidade

    (SHIRAKAWA, 1998).

    Figura 6 - Seqncia de formao do Biofilme (traduzido pelo autor) 6.

    5 uma medida fsico-qumica da fora de interao em um sistema de duas fases (fase aquosa e superfcie das clulas no presente caso). Fonte: www.iq.unesp.br/flotacao/MODULO2/glossario.htm

    6 fonte: The Microbial World -University of Wisconsin < http://www.bact.wisc.edu

    /themicrobialworld/biofilm_formation.gif>

    Adsoro Reversvel de

    bactrias (sc)

    Adsoro irreversvel de bactrias

    (sec-min)

    Diviso e crescimento celular das bactrias (hr-dias)

    Produo e exopolmero e formao do

    biofilme (hr-dias)

    Adsoro de outros

    microrganismos ao biofilme (dias-meses)

  • 30

    Na sequncia da Figura 6 tem-se (1) adsoro reversvel do microorganismo (bactria),

    que pode levar segundos para ocorrer; (2) Adeso irreversvel do microrganismo no material,

    sendo que essa fase pode durar de minutos a segundos; (3) Reproduo e crescimento,

    durando horas ou dias; (4) produo de exopolissacardeos (EPS) e formao do biofilme e

    finalmente (5) h a fixao de outros microorganismos no biofilme, essa etapa permanece

    durante meses, pois medida que novos organismos so incorporados ao biofilme este tem a

    tendncia de um crescimento, cada vez maior.

    4. Os Organismos Deteriorantes

    Pode-se dizer que os microrganismos so bastante versteis, adaptando-se facilmente

    ao meio, pois so muito diversificados no que diz respeito s exigncias nutricionais,

    necessitando elementos qumicos como Carbono(C), Nitrognio(N), Fsforo(P),

    Hidrognio(H), Oxignio (O), Enxofre (S), Sdio (Na), Ferro (Fe) entre outras molculas

    (PELCZAR, 1996).

    Esses microrganismos causam uma perda anual de bilhes de dlares apenas em

    produtos materiais, ou seja, que no so de natureza alimentar, como papel, madeira, tecidos,

    borracha, metais entre outros (PELCZAR, 1981).

    Segundo Pinheiro (2003) os microrganismos so agentes deteriorantes de materiais de

    origem mineral como, por exemplo, rochas calcrias e arenitos, onde por meio da

    biodeteriorao ocorre a solubilizao do clcio e do potssio, tendo como mecanismos

    principais o ataque qumico atravs dos cidos e substncias enzimticas, a tenso entre os

    sais, complexo e aes do prprio biofilme (SAND e BOCK, 1991; SHIRAKAWA, 1994

    apud Pinheiro, 2003).

    Dentre os microrganismos esto os procariticos, como as bactrias, que so

    organismos de morfologia simples. Entretanto algumas so capazes de se desenvolver em

    ambientes extremos devido a sua particular capacidade metablica, podendo desenvolver-se

    praticamente em todos os lugares do planeta (PELCZAR, 1996).

    Outros microrganismos biodeteriorantes importantes so classificados como

    eucariticos, como algas e fungos, juntamente com a associao de ambos, chamados liquens.

  • 31

    Esses organismos possuem uma ampla variedade de formas e processos celulares, existindo

    algumas excees e, embora diferentes das clulas animais, os fungos possuem parede celular.

    Podem apresentar-se de forma unicelulares, como multicelulares e macroscpicos

    (PELCZAR, 1996).

    Os microrganismos podem ser classificados como auttrofos e hetertrofos, baseando-

    se em suas caractersticas nutricionaiscomo demonstra o quadro 1. Os chamados autotrficos

    nutrem-se de componentes inorgnicos presentes na superfcie, os heterotrficos, ao contrrio,

    so organismos que se desenvolvem apenas em locais em que existam componentes orgnicos

    necessrios para seu desenvolvimento, ambos preferem tambm superfcies com alto teor de

    umidade (KUMAR E KUMAR,1999).

    Categoria

    Nutricional

    Fonte de

    energia

    Fonte de

    Carbono

    Doadores

    de eltrons

    Receptores

    de eltrons Grupo de organismos

    Fotoautotrficos Luz do Sol CO2 gua Oxignio e

    orgnicos

    Organismos aerbios:

    Cianobactrias , Algas (Bacillariophyta

    ou Diatoms),Algas (Chlorophyta),

    Lquenes, Musgos e

    hepaticpsidas,Plantas superiores.

    Quimioautotrfagos

    Resulta de

    reaes

    qumicas

    CO2

    H2 Fe 2+ NH4+ NO2

    S, S 2O32-

    oxignio

    Organismos aerbios:

    Bactrias de hidrognio,

    Bactrias frreas,

    Bactrias de Nitrificantes,

    Bactrias sulfo-oxidantes.

    Orgnica Oxignio

    Organismos aerbios:

    Bactrias fotossintetizantes,

    Algumas algas. Fotoheterotrficos

    ou Fotoorganotrficos

    Luz do Sol Orgnica

    H2S H2

    Orgnica

    Organismos de Anaerbicos:

    Bactrias sulfurosas verdes e prpuras

    Bactrias prpuras no-sulfurosas

    - - Oxignio

    Organismos aerbios:

    Actinomycetos,Animais,

    Fungos e bactrias aerbicos Quimioheterotrficos

    ou quimioorganotrficos

    Reaes

    qumicas

    Orgnica

    Orgnica

    S1S2O32-

    H2S

    Orgnicos NO2

    - SO4

    2-

    Organismos de Anaerbicos:

    Bactrias fermentadoras,

    Bactrias Desnitrificantes,

    Bactrias redutoras de enxofre.

    Quadro 1- Classificao de organismos baseada nas suas exigncias nutricionais. (fonte: KUMAR; KUMAR, 1999.p.4)

  • 32

    Os fatores ambientais em regies tropicais com altas temperaturas e alta umidade

    relativa proporcionam um ambiente favorvel para o desenvolvimento da maioria dos

    organismos. A presena de luz solar tambm essencial para organismos fotossintetizantes e

    prov a energia necessria para biossntese. Entretanto, essa regra no se aplica a organismos

    Quimiossitetizantes, que sobrevivem sem a presena da luz e sua energia provm de reaes

    qumicas (KUMAR; KUMAR, 1999).

    4.1. Bactrias

    Bactrias so organismos procariotos, diferente dos eucarotos por no possuirem

    membrana nuclear e outras estruturas intracelulares. Algumas apresentam flagelos para a sua

    locomoo, por esse motivo possuem agilidade em meio lquido (PELCZAR, 1996).

    Por serem dotadas de habilidade para sobreviver em ambientes hostis, como locais de

    salinidade ou acidez elevados e altas temperaturas, podem ser encontradas nos mais diversos

    ambientes, sendo responsveis pela deteriorao de matria orgnica (PELCZAR, 1996).

    As bactrias so microrganismos tipicamente unicelulares com tamanhos que variam

    de 0,5 a 3,0 m. Devido a seu tamanho apresentam uma elevada relao entre superfcie e

    volume que vem a permitir uma transferncia rpida de substratos solveis na clula, por

    consequncia, sua populao mais significativa que as de organismos maiores como os

    fungos (TOUMELA, 2000).

    Bactrias, por exemplo, algumas espcies de bacilos so capazes de formar paredes

    muito resistentes a calor, radiao e at mesmo a desinfeco qumica (HAUNG, 1993 apud

    TOUMELA, 2000)

    As bactrias apresentam-se morfologicamente com trs formas bsicas que podem ser

    esfricas, cilndricas ou espiraladas. As clulas de formato esfrico so denominadas cocos,

    podendo ser arredondadas ou de forma ovide (achatadas). As clulas de forma cilndricas so

    denominadas bacilos, podendo haver diferena de comprimento e largura, dependendo da

    espcie a ser observada. J os espirilos so clulas de forma espiraladas, com formas

    helicoidais (PELCZAR, 1996).

    Bactrias como os Actinomicetos tm forma multicelular, apresentando filamentos

    assemelhando-se a fungos, podendo se tornarem to numerosos a ponto de sua colnia ser

  • 33

    visvel no substrato. Esses microrganismos, como alguns fungos, tm a capacidade de

    degradar celulose e solubilizar lignina, tolerando maiores temperaturas e pH mais elevado que

    os fungos. Portanto, os Actinomicetos so importantes agentes de degradao de

    lignocelulose, embora seu grau de degradao seja inferior ao apresentado pelos fungos

    (TOUMELA, 2000).

    Quanto a sua respirao, elas podem ser aerbias ou anaerbias. As bactrias

    anaerbias podem ser facultativas ou obrigatrias (ou estritas). As bactrias anaerbias

    facultativas so assim classificadas devido capacidade de realizarem respirao aerbia

    quando o ambiente fornecer oxignio e anaerbia, na falta deste elemento qumico

    (LINHARES, 1992)

    Os principais grupos de bactrias envolvidos na biodeteriorao de materiais de

    construo civil so: bactrias quimioautotrficas sulfo-oxidantes e nitrificantes e bactrias

    heterotrficas, inclusive, os actinomicetos (GAYLARDE e MORTON, 1997)

    4.1.1. Ao das Bactrias no Concreto e Argamassas

    As bactrias quimioautotrficas so organismos que utilizam compostos qumicos

    inorgnicos como fonte de energia e como fonte de carbono, o dixido de carbono

    (PELCZAR, 1996), sendo agentes biodeteriorantes de rochas e materiais cimentcios como o

    concreto e as argamassas (PINHEIRO, 2003, SAAD, 2003).

    Bactrias sulfo-oxidantes como Thiobacillus concretivorus tm como ambiente ideal

    substratos expostos a ambientes que contm dejetos. Essas bactrias metabolizam os sulfetos,

    transformando-os em cido sulfrico, que ataca a argamassa. Os efeitos da produo desses

    cidos na superfcie do material causam uma reao corrosiva devido reduo do pH do

    substrato e consequentemente a perda de sua integridade (PAULA et al, 2005).

    Durante essa reao qumica os sulfatos que se originaram tendem a precipitar-se na

    superfcie do material cimentcio e so lixiviados, ou dissolvidos ou ainda, estando esses

    localizados no interior dos poros do substrato, recristalizam-se podendo formar elementos

    com caractersticas expansivas ocasionando assim fissurao ou esfoliaes na argamassa

    (KUMAR e KUMAR, 1999).

    O concreto tambm alvo das bactrias dessulfovbrios que transformam enxofre em

    cido sulfrico que, em contato com a gua, tem ao descalcificante, portanto agressiva nos

    compostos do concreto (ANDRADE et al., 2003 apud LIMA, 2007). A biodeteriorao

  • 34

    causada pelas bactrias sulfo-oxidantes consiste no ataque do cido sulfrico aos constituintes

    clcicos da pasta de cimento, cujas reaes envolvem fenmenos como lixiviaes e formao

    de etringita expansiva (FERREIRA e ALMEIDA, 1999 apud Pinheiro, 2003). Esses

    fenmenos acarretam desde a fissurao, desagregao e problemas de coeso entre a pasta de

    cimento e os agregados e, por conseqncia, a perda de resistncia mecnica do concreto

    (NEVILE, 1997).

    Um dos grandes problemas de degradao do concreto se d em dutos de concreto

    utilizados em obras de saneamento, embora o esgoto domstico tenha pH alcalino, portanto

    no deteriorando o concreto. Entretanto, quando se renem dois fatores como temperaturas

    elevadas e a presena de bactrias aerbicas, ocorre deteriorao do material (NEVILLE,

    1997).

    Os compostos de enxofre presentes no esgoto no tm propriedades deteriorantes,

    porm quando dissolvidos pela umidade na superfcie exposta do concreto e submetidos

    oxidao pela ao das bactrias aerbicas, resultando em cido sulfrico e a pasta de cimento

    vai sendo dissolvida, ocasionando assim a deteriorao do concreto acima do nvel de esgoto

    no interior dos dutos. O mesmo fenmeno pode ocorrer em tanques de leo (NEVILLE,

    1997).

    Outras bactrias nocivas estrutura dos materiais cimentcios so as nitrificantes,

    como as Nitrossomas e as Nitrobacter, que oxidam compostos de amnia e xidos e cidos

    nitrosos. Esses organismos so responsveis pela produo do cido ntrico, que capaz de

    dissolver os componentes clcicos atravs da formao do nitrato de clcio solvel,

    enfraquecendo no s cimentos, como tambm mrmores e arenitos (BOCK, 1990; SAND e

    BOCK,1991a, 1991b apud Pinheiro,2003). A ao das bactrias nitrificantes caracterizada

    pela formao de eflorescncias na superfcie dos materiais (KUMAR e KUMAR, 1999).

    O ataque de bactrias heterotrficas d-se atravs de cidos orgnicos que

    proporcionam a perda de material por meio da lixiviao, bem como modificao da

    porosidade, permeabilidade e a perda de sua colorao caracterstica em decorrncia das

    substncias extracelulares sintetizadas por esse grupo de bactrias (KUMAR e KUMAR,

    1999).

  • 35

    4.1.2. Ao das Bactrias em Material Rochoso

    O desenvolvimento de espcie biolgica especfica em uma superfcie rochosa

    determinado pela natureza e propriedades do material, como os minerais que formam a rocha

    e sua porcentagem relativa na composio, pH, salinidade, umidade e textura. Tambm

    depende de certos fatores ambientais, tais como temperatura, umidade relativa, luminosidade,

    poluio atmosfrica, quantidade de chuva. Portanto, a resposta dos microrganismos para uma

    superfcie potencial de colonizao depende das caractersticas ecolgicas e fisiolgicas

    exigidas para o desenvolvimento das espcies e essas condies so atendidas perfeitamente

    em se tratando de climas tropicais (KUMAR e KUMAR, 1999; WARSCHEID E BRAAMS,

    2000).

    Em ambientes de clima tropical foram identificados trs grupos bacterianos como

    principais responsveis pela deteriorao de estruturas em pedra, o grupo das bactrias

    quimioautotrficas sulfo-oxidantes e bactrias nitrificantes; as fotoautotrficas e bactrias

    heterotrficas, inclusive as actinomicetos (KUMAR e KUMAR, 1999).

    As sulfo-oxidantes atacam as pedras sob condies aerbicas atravs da produo de

    cidos inorgnicos, oxidando o enxofre presente em nutrientes do solo, convertendo-o em

    cido sulfrico. Este reage com os elementos que compem a rocha, formando sulfatos na

    superfcie da rocha em forma de crostas, os quais podem ser dissolvidos pelas guas pluviais

    (KUMAR e KUMAR, 1999).

    Pode ocorrer tambm um processo de cristalizao, em que esses sulfatos em forma de

    soluo so absorvidos pelos poros das pedras e voltam a cristalizar-se no interior da rocha,

    criando tenses nas paredes do poro causando micro-fissuraes e, por conseqncia,

    ocasionando esfoliao na pedra. Este fenmeno comumente observado em rochas calcrias

    (LEPIDA e SCHIPPA,1973 apud Kumar e Kumar, 1999).

    Algumas bactrias heterotrficas tm presena representativa em material ptreo nas

    regies tropicais, sendo que seu mecanismo de deteriorao atravs da produo de cidos

    biognicos, que podem causar a dissoluo da rocha atravs da formao de ctions como

    Ca+2, Fe+3,Mn+2,Al+3 e Si+4. Algumas dessas bactrias tambm so associadas descolorao

    da rocha (KUMAR e KUMAR, 1999).

    As bactrias hoje no so apenas agentes biodeteriorantes, pois algumas delas so

    capazes de sintetizar carbonatos de clcio, podendo ser usadas como agentes de controle

    biolgico, atuando como protetor de superfcies de rocha calcria. Todavia, essa escolha deve

  • 36

    ser cuidadosa, pois podem ocorrer efeitos deletrios, como alterao da colorao da rocha

    entre outros (Revista Cincia Hoje n 200, 2003).

    O quadro 2 exemplifica os efeitos observados nas rochas pela ao dos

    microorganismos, a atividade microbiana no substrato e a relao dos princiapais agentes

    biodeteriorantes.

    Efeito observado Atividade microbiana Principais organismos envolvidos

    Alteraes na cor Presena de clulas ou produtos pigmentados

    Algas, cianobactrias, fungos

    Reteno de gua Presena fsica Produo de muco

    Todos

    Estmulo para o crescimento de organismos heterotrficos e superiores.

    Presena de clulas vivas ou mortas e seus produtos

    Algas, bactrias fotosintticas, incluindo cianobactrias

    Desagregao do material Penetrao e crescimento no interior da pedra

    Fungos, actinomicetos, cianobactrias, algas e liquens

    Formao de ptinas Oxidao de ctions translocados

    Bactrias oxidantes de ferro e mangans, fungos, cianobactrias

    Degradao (Corroso) Produo de cidos Fungos, bactrias, cianobactrias (tambm liquens)

    Enfraquecimento e dissoluo da estrutura

    Mobilizao e quelao de ons

    Todos

    Dissoluo alcalina Absoro de ons H+ pelas clulas

    Algas, cianobactrias

    Destruio de camadas de silicatos Liberao de poliis (por exemplo, (glicerol, polissacardeos)

    Todos

    Quadro 2: Atividades microbianas as quais afetam a durabilidade da pedra. (fonte:ALLSOPP et al., 2004)

    4.1.3. Ao das Bactrias na Madeira

    As bactrias xilfagas atacam de forma discreta, sendo que seus efeitos no so

    evidentes em curto prazo. O ataque se d essencialmente em madeiras que esto submersas ou

    enterradas, em condies anaerbias (SANTINE, 1988).

  • 37

    4.1.4. Ao das Bactrias nos Metais

    A corroso um processo eletroqumico, em que a existncia de uma zona andica,

    onde h a oxidao que conduz a dissoluo do material e uma reao catdica simultnea.

    Quando ocorrer a corroso microbiana, o processo semelhante, mas com a participao ativa

    de microrganismo nesse fenmeno eletroqumico (VIDELA, 1981).

    Nos metais, quando ocorre a degradao bacteriana, os microrganismos podem oxidar

    o ferro (Fe), a exemplo da Gallionella ferruginea, ou reduzir os metais, tais como o ferro (Fe)

    e o mangans (Mg), atravs de suas atividades enzimticas, como acontece durante a corroso

    causada pela ao das bactrias Pseudomonas sp. e Shewanella sp. (GENTIL, 1996)

    Figura 7- (a) Gallionella ferruginea7 e (b) Pseudomonas sp8

    Os microrganismos podem participar de diversas formas no processo corrosivo,

    podendo ser pela produo de substncias enzimticas durante seu crescimento ou

    metabolismos, atravs de substncias de ordem qumica diversa como cidos, lcalis, sulfetos

    entre outros que transformam o meio inicialmente inerte, em meio agressivo ao material.

    Outra forma de participao biolgica na corroso atravs da formao de clulas

    eletrolticas de concentrao diferenciais, diversas vezes aludidas como clulas de aerao

    diferencial, porque muito frequentemente surgem de um gradiente de oxignio resultante do

    esgotamento de oxignio pela colnia microbiana, onde ela est em contato com o metal

    7 fonte:http://biology.kenyon.edu/Microbial_Biorealm/bacteria/proteobacteria/Gallionella/galionella_abw.jpg 8 fonte: www.microscopyconsulting.com/Gallery/images

    a b

  • 38

    (ALLSOPP et al.,2004). Este fenmeno facilmente encontrado em tubulaes de ferro ou

    em tanques de combustveis feitos de alumnio (Al) ou ligas de Alumnio (VIDELA, 1981).

    Atualmente pode-se classificar a corroso microbiana por diferentes critrios, atravs

    do mecanismo em que os organismos participam ou produzem o processo de corroso, pela

    relao com a concentrao ou presena de oxignio, pela natureza do metal corrodo, pelo

    meio em que o processo se desenvolve ou pelo tipo de microrganismos envolvidos no

    processo deteriorante (VIDELA, 1981).

    No que diz respeito contribuio bacteriana no processo corrosivo, a classificao

    mais amplamente utilizada de acordo com o mecanismo envolvido no fenmeno, que se

    classifica por trs formas: atravs da produo de substncias corrosivas metabolizadas, tais

    como cidos e lcalis, participao cintica no processo como, por exemplo, atravs da

    despolarizao catdica no caso das bactrias sulfato-redutoras e atravs da criao de zonas

    de concentrao de oxignio diferenciadas dentro das clulas, tal como ocorre com tubrculos

    (VIDELA,1981).

    Tambm existem critrios que classificam de acordo com a ausncia ou no de

    oxignio e sua aerao diferencial e, tambm, em decorrncia do tipo de ligas afetadas, como

    metais ferrosos ou no ferrosos e materiais no metlicos (VIDELA, 1981).

    Bactrias que atacam o ferro, transformando os compostos solveis em compostos

    insolveis, tais como hidrxido de ferro, so extremamente nocivas. Os compostos podem ser

    excretados formando assim pednculos ou faixas de ligao entre as clulas, como no caso da

    bactria Gallionella ou depositados em uma bainha ao redor de alguns organismos, como no

    caso da Sphaerotilus (PELCZAR, 1981).

    Essas deposies e acmulo de material insolvel no sistema de distribuio de guas

    podem acarretar uma perda significativa de fluxo hdrico ( figura 9) e ainda a alterao da

    qualidade da gua, pois algumas dessas bactrias tambm produzem substncias

    mucilaginosas que podem dar colorao gua e alterar seu sabor e odor de forma indesejvel

    (PELCZAR, 1981).

    Outras bactrias, como as bactrias do gnero Thiobacillus podem ser responsveis

    pela corroso de canos de ferro em consequncia da produo de cido sulfrico pela

    oxidao do enxofre (PELCZAR, 1981).

    O processo biocorrosivo pode encontrar maior resistncia em determinadas ligas

    metlicas, como no ao inoxidvel. Nesses casos, o biofilme pode estimular a corroso de

    duas formas, atravs da formao de clulas de aerao diferencial ou ainda pelo aumento da

    taxa de reao catdica (CRAVO et al., 2002).

  • 39

    Para a reduo da biocorroso em metais, devem ser tomados certos cuidados como

    limpeza do local, reduo da quantidade de gua e melhoria da drenagem, evitar espaos

    mortos, utilizar quando possveis biocidas ou outros mtodos de controle de organismos

    biolgicos e mtodos qumicos ou eletroqumicos de controle de corroso (GENTIL, 1996).

    O quadro 3 referece a ao corrosiva das bactrias, atravs de deteriorao qumica

    decorrentes de metablicos agressivos. O quadro lista o tipo de orgamismos deteriorantes e os

    metablicos corrisivos, os materiais por eles afetados, as condies para que ocorra a

    biodeteriorao e o meio ambiente em que geralmente ocorrem.

    Microrganismos Produto corrosivo Materiais afetados pH Meio Ambiente

    Gnero Thiobacillus Sulfetos,

    Sulfatos,

    Sulfossulfatos e

    cido sulfrico.

    Ferro,

    Ligas,

    Concreto.

    0,5 7,8 Efluentes,

    Lodo, gua do mar,

    Rios e solos.

    Gnero Ferrobacillus on frrico,

    cido sulfrico

    Ferro e ligas 1,4 7,0 Depsitos de pirita e minas

    Gnero Lactobacillus cidos orgnicos Ao - Refinarias

    Gnero Desulfovibrio cidos sulfdrico e Sulfetos Ferro e ligas,

    Alumnio.

    5,5 9,0 Efluentes, lodos, solos, gua do

    mar ou rios

    Gnero

    Gallionella

    Chrenothithrix

    Septothrix

    Hidrxido Frrico Ferro 4,0 10,0 guas com ferro em soluo

    Quadro 3: Ao corrosiva das bactrias atravs de metablicos agressivos. (fonte: VIDELA,1981.p.14)

    Figura 8 - Tubo de ao carbono com tubrculos de xido de ferro.(fonte: Gentil,1996.p.96)

  • 40

    4.2. Algas e Cianobactrias

    As algas so microrganismos com estrutura celular eucaritica, sendo classificadas

    nutricionalmente como seres fotoautotrficos, embora algumas espcies possam crescer

    heterotroficamente. Quando crescem fotossinteticamente, produzem oxignio (O2) e utilizam

    dixido de carbono (CO2) como a nica fonte de carbono. As algas, ao contrrio das plantas

    superiores fotossintetizantes, no necessitam de sistema vascular para transportar nutrientes,

    pois todas as suas clulas so capazes de absorver diretamente nutrientes dissolvidos

    (PELCZAR, 1996).

    Segundo Jaag (1945) apud WARSCHEID E BRAAMS (2000), a colonizao de

    superfcie inicia com microrganismos fototrficos. Esses organismos crescem sobre as

    superfcies externas das construes, causando descolorao e deteriorao fsico-qumica dos

    materiais de construo civil. O crescimento e atividade metablica desses organismos so

    regulados por parmetros naturais como luz e umidade (WARSCHEID e BRAAMS, 2000,

    GAYLARDE e GAYLARDE, 2000).

    As algas esto associadas juntamente com as cianobactrias a patologias que envolvem

    alterao da colorao de rochas devido presena de clulas pigmentadas, reteno de gua,

    alm de auxiliar no crescimento de novos microrganismos e organismos heterotrficos

    superiores, facilitando sua fixao pela presena de organismos vivos ou mortos formando um

    substrato rico em nutrientes. Pela penetrao no interior da rocha e pela sua fixao

    possibilitam a degradao do material, acarretam em dissoluo alcalina quando ocorre a

    absoro de ons H+ pela sua atividade celular e auxiliam na destruio de silicatos do material

    rochoso atravs da liberao de poliis (ALLSOPP et al., 2004).

    A maior incidncia da ao de algas e cianobactrias so encontradas em edificaes e

    monumentos de pedra e, em sua maioria associadas a outras bactrias, apresentando-se em

    forma de manchas diversas, podendo ser identificadas por sua colorao: manchas pretas,

    produzidas pela degradao da clorofila, ferro e minerais de mangans, manchas verdes

    oriundas de algas fotossintetizantes e cianobactrias; manchas vermelhas ou alaranjadas que

    derivam de pigmento oriundos de bactrias quimio-organitrficas e produtos da degradao de

    cianobactrias e algas, com enriquecimento frreo (PIETRINI et al., 1985; REALINI et al.,

    1985; URZI et al., 1992; SCHOSTAK, 1993 apud WARSCHEID e BRAAMS,2000).

    As algas fotossintetizantes colaboram no mecanismo de biodegradao das rochas,

    fornecendo oxignio durante o processo para as atividades enzimticas das bactrias, fungos e

  • 41

    outros microrganismos presentes no biofilme (ISKANDAR e SYERS, 1972 apud

    WARSCHEID e BRAAMS,2000).

    Alguns exemplos da ao das algas e cianobactrias observados por pesquisadores so:

    sobre o feldspato, sua atuao resulta na formao de hidrxidos de alumnio que se

    precipitam nos poros do material; sobre os carbonatos, ocasiona o aumento da taxa de

    dissoluo do ferro, contribuindo para a formao de ptinas; sobre a calcita, resulta na

    liberao de clcio (WARSCHEID e BRAAMS, 2000).

    As cianobactrias criam biofilmes coloridos na superfcie de monumentos e edifcios

    histricos, tornando a superfcie aderente a outras substncias presentes no ambiente, as quais

    se fixam no biofilme, como plens, lubrificantes, poluio originando ptinas de difcil

    remoo e ainda danos fsico-qumicos causados pelas substncias que ali so aderidas

    (HYVERT, 1973; DANIN, 1983; SAIZ-JIMENEZ, 1994 apud KUMAR e KUMAR, 1999).

    Esses microorganismos tambm so largamente encontrados em biofilmes nas paredes

    externas das edificaes em regies da Amrica Latina, formando uma biomassa composta

    por algas, cianobactrias, fungos, bactrias e outros organismos simbiticos como liquens. As

    regies tropicais e subtropicais apresentam uma caracterstica que proporciona maior

    facilidade de desenvolvimento desses organismos, sua umidade natural, no sendo necessria

    nenhuma fonte de gua. Em decorrncia do desenvolvimento dos microrganismos

    fotoautrotficos, ou seja, que produzem seus nutrientes a partir de substncias inorgnicas e

    utilizando a luz como fonte de energia, as algas e cianobactrias podem causar deterioraes

    fsico-qumicas e descolorao do substrato (GAYLARDE; e GAYLARDE, 2000; ALLSOPP

    al., 2004).

    Alm disso, esses organismos so facilmente encontrados em pontos da edificao que

    apresentam maior umidade, como prximos a tubulaes com vazamentos ou calhas de

    telhados, em reas frequentemente molhadas pela chuva e com sistema de drenagem

    insuficiente ou inadequado, enfim nos locais da alvenaria em que existam fontes de luz e gua

    (ALLSOPP et al., 2004).

    A biodeteriorao mais evidente causada por algas e cianobactrias est ligada

    esttica, causando manchas no s em rochas, como em materiais cimentcios, madeira e

    superfcies pintadas. O requisito bsico para que ocorra esse tipo de biodeteriorao

    simplesmente haver luz suficiente para seu desenvolvimento. O aparecimento dessas manchas

    de colorao variada e crescimento rpido, podendo ser em tons de verde, rosadas ou marrons,

    do edificao uma aparncia de desleixo (GAYLARDE e GAYLARDE, 2000, ALLSOPP

    et al. 2004).

  • 42

    Outra caracterstica que tambm facilita a proliferao desses organismos a

    facilidade de fixao, em especial a revestimentos rugosos que propiciam proteo contra

    dessecao. Apesar de que as cianobactrias serem muito resistentes a condies extremas de

    umidade e temperatura, sua maior proteo se d a partir dos seus pigmentos internos, que

    protegem as clulas contra os raios UV (ALLSOPP et al. 2004).

    4.3. Fungos

    Os fungos so organismos eucariontes, no-fotossintticos e, embora existam algumas

    formas unicelulares como as leveduras, a maioria so multicelulares, apresentando estruturas

    denominadas de hifas, cujo conjunto denomina-se miclio (LINHARES, 1992) .

    Sua nutrio por absoro de molculas orgnicas simples, que pode ser originria de

    uma digesto extracorpria do prprio fungo . Sua respirao pode ser aerbia ou anaerbia

    (LOPES, 1988).

    Sua reproduo em forma de esporos, que so dispersos pelo ar e um dos meios de

    classific-los atravs desses esporos sexuais e de seus corpos de frutificao durante seu

    perodo reprodutivo (PELCZAR, 1996).

    Apesar de alguns fungos serem utilizados para alimentos e produo de bebidas, deve-

    se salientar que tambm algumas espcies causam problemas tanto ao homem, quanto aos

    materiais. Dentre eles destacam-se: problemas de sade, mau cheiro, degradao do substrato

    das pedras, do metal, dos plsticos, madeiras, papel, vidros etc. Tambm existem organismos

    do reino Fungi que so extremamente teis para a medicina, como Penicillium do qual

    extrada a penicilina (LINHARES, 1992; PINHEIRO, 2003).

    A penetrao das hifas causa uma degradao mecnica nos materiais e sua produo

    de metablicos e excreo de enzimas produzem uma ao qumica (SAAD, 2002,

    PINHEIRO, 2003)

    Os fungos necessitam de gua para a germinao dos seus esporos, uma temperatura

    entre 20 a 25C, pequena quantidade de oxignio e luz e nutrientes (carbono e nitrognio). As

    construes apresentam em geral um substrato ideal para a sua proliferao (PINHEIRO,

    2003).

    A biodeteriorao de materiais de construo civil, atravs de microrganismos,

    principalmente do reino Fungi, caracterizada pelo efeito antiesttico, causando manchas na

  • 43

    superfcie do material atravs da ao dos cidos orgnicos e inorgnicos produzidos durante

    o seu metabolismo e pela penetrao das hifas na estrutura cristalina do material (SAAD,

    2002, PINHEIRO, 2003).

    Segundo os estudos de GMEZ-ALACRON e TORRE (1994) em rochas, foram

    constatadas tenses causadas pela penetrao de hifas que variam de 4,5 a 8,0 mm de

    profundidade em rochas como granito e arenito, entre outras.

    4.3.1. Ao dos Fungos em Pedras , Concretos e Argamassas

    Entre os fungos filamentosos encontrados na biodeteriorao de materiais de

    construo civil, como as pedras naturais e os materiais cimentcios, destacam-se os gneros

    Aspergillus, Fusarium, Penicillium e Cladosporium, que podem atuar associados com outras

    espcies de fungos, bactrias e algas (SAAD, 2003). Alm desses, foi observada tambm a

    presena de leveduras em concretos deteriorados (PINHEIRO, 2003).

    Os principais cidos produzidos por esses fungos so os cidos glucnico, ctrico,

    fumrico e oxlico, que podem solubilizar os minerais das pedras naturais e dos materiais

    cimentcios, como o alumnio, o clcio, o sdio, o potssio, o mangans e o ferro,

    decompondo os silicatos, os feldspatos e as micas desses materiais (PINHEIRO, 2003). Alm

    disso, esses cidos produzidos podem reduzir o pH para menos de 5, aumentando os danos e a

    corroso no concreto armado (SAAD, 2003).

    .

    Figura 9- Esporos e Hifae do fungo Cladosporium sphaerospermum crescendo em argamassa (PINHEIRO, 2003. p. 102).