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BINÁRIO BRUNO CASTRO SANTOS MARIA JOSÉ ORTIGÃO RAMOS JOÃO ESTEVES DE OLIVEIRA GALERIA ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA TRABALHOS SOBRE PAPEL

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BINÁRIOBRUNO CASTRO SANTOSMARIA JOSÉ ORTIGÃO RAMOS

JOÃO ESTEVES DE OLIVEIRA GALERIA ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA TRABALHOS SOBRE PAPEL

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Bruno Castro santosEM BUSCA DO RITMO PERDIDO

É cada vez mais difícil de compreender como o problema da nossa época consiste na falta de ritmo, quando por todo o lado uma infinda agitação parece procurar o sentido das coisas. Porém, constatamos que o abandono dos ritmos cósmicos, biológicos, sociais e psicológicos traduz uma degradação das vidas humanas de que estamos pouco conscientes. As rotinas quotidianas e a repetição mecânica dos gestos, especialmente dentro da cidade, diminuem o destino do homem como ser criativo. Como encontrar, de novo, os ritmos bons, belos e verdadeiros que coloquem em sintonia os passos das nossas vidas com os caminhos da Vida Universal?

A sugestão estética dos desenhos e padrões de Bruno Castro Santos parece resultar de um encontro da arqui-tectura e do design. Mas ele tem o cuidado de introduzir rupturas nesses padrões desenhados que quebrem a repetição, para introduzir talvez o mistério da individualidade, única e irrepetível, que vibra na simples diferença de um traço. Diz, então, que o «desenho fica resolvido».

De um ponto de vista ritmanalítico, a situação de Bruno Castro Santos como artista, conforme nos confidenciou, encontra-se entre o «esforço de chegar a uma intuição alta» e «um certo estado dormente da presente época que é inoperativo para as artes». Bruno diz-nos ainda isto: «A intuição selvagem está em extinção». Assim, parece ser entre aqueles dois pólos – o esforço para a intuição e a dormência do tempo – que procura resolver-se o combate e o tipo de trabalho de Castro Santos. Inicialmente, o título destinado a esta exposição era, justamente, palimpsesto. Com efeito, se esta performance parece vir já pós-histórica e depois do Minimalismo, os seus dese-nhos parecem sonhar ainda com o ritmo perdido.

– Mas que ritmo seria este? Ele mesmo o diz: o da vida universal contemplada por uma intuição selvagem. A pa-lavra «selvagem» deve ser aqui pensada num sentido libertador, como quem se afasta da repetição monocórdica da cidade e suas cacofonias, para se embrenhar num bosque mágico de sinestesias atravessado por ritmos capazes de gerar a intuição a que o artista aspira e a livre integração no Real. Porque não há uma única individualidade no grande Universo – nem num grão de areia, nem numa onda do mar, nem numa folha – que se repita. E é este mes-mo o sentido renovador do ritmo. A onda desenrola-se na areia, como o traço atravessa o espaço, semelhantes uns aos outros, mas sem repetição possível.

Certa vez, ao subirmos a escada irregular do seu atelier em Lisboa, observou ele que as estruturas em pedra va-riada (casas tradicionais, igrejas, etc.) deixam passar melhor a frequência dos terramotos em virtude dessa mesma irregularidade ou variedade rítmica, enquanto as estruturas de tipo industrial, com padrões repetidos e sem varia-ções, são muito mais rapidamente destruídas. Um desígnio é, certamente, pintar a força dessa rítmica variedade. Os jogos de base recta e curvilinear desenvolvidos por Bruno Castro Santos, ora de quase simetrias, ora de suges-tões de quase arabescos, aqui de esquemas ondulatórios, ali por vezes de elegantes tensões rítmicas, sugerem-nos, remotamente, a promessa do ritmo a reencontrar. Pois salvando-nos talvez da rotina mortal, só esse ritmo será verdadeiramente operativo para as artes.

Rodrigo Sobral Cunha

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Maria José ortigão raMosA MELHOR VIAGEM

Escrever sobre o trabalho de um artista que faz a sua primeira exposição individual é um risco imenso. Nós todos os que fizemos da crítica, da história, do comentário ou até do ensaio sobre arte uma prática de muitos anos, sabemos que nos apoiamos sempre em repositórios de palavras mais antigas que as que vamos escolher para determinado texto. Outros escreveram sempre, ou quase sempre sobre as obras do artista de que nos ocupamos agora. Outros nos fizeram pensar sobre o trabalho desse artista. E, claro, nada disto existe quando olhamos para o trabalho de alguém que faz uma primeira exposição. Dito de outra forma, de alguém, como é o caso de Maria José Ortigão Ramos, que entra pela porta grande no mercado da arte.

Deste modo, depois de anos de formação no Arco, esta artista surge na Galeria Esteves de Oliveira com uma série extensíssima de monotipias sobre papel. A escolha da galeria não é indiferente: a Esteves de Oliveira concentra-se exclusivamente na divulgação de artistas cujo trabalho se insere na área do desenho, entendida esta na sua acepção contemporânea, ou seja, como uma prática que se serve do papel como suporte, assumindo as especificidades que esta condição vai acarretar. Serialidade, repetição, rapidez, escala, consciência dos limites do suporte, domínio de uma escala tonal mais do que de uma gama cromática são características que associamos ao desenho. Percebe-se por isso que o exacerbar destas características (e repare-se que qualquer uma delas é já todo um programa de trabalho) acaba por tornar secundários os elementos que, até ao fim do modernismo, importavam ao desenhador, a saber: a presença de um lápis, o registo do inteligível, a subordinação às disciplinas nobres das (então) ditas belas-artes, a escultura e a pintura.

Neste ponto da história da independência do desenho, Maria José Ortigão Ramos opera um desvio certeiro, pleno de possibilidades criativas, na direcção do processo de criação de múltiplos. Paradoxalmente, a monotipia, técnica da qual todas as peças presentes nesta exposição relevam, não produz múltiplos, mas sim peças únicas. Consideremos o seu processo de trabalho. A artista serve-se de blocos idênticos de folhas com um formato básico, eliminando, ou não, os sinais do arrancar a folha ao bloco antes de começar a trabalhá-la. Sobrepõe depois tiras de acetato ou cartão em diferentes posições, mas que nas obras desta exposição estão apenas reduzidas a duas, a horizontal e, em raríssimos casos, a vertical. Passa depois o rolo com tinta, que pode estar mais ou menos diluída, sobre uma chapa de metal, e ao retirar as máscaras obtém resultados que são expostos tal e qual. Não há retoques. Há apenas a utilização ou não da cor – vermelho, verde, amarelo e azul –, ou da gama infinita dos cinzas, na tradução de uma vontade experimentalista que está em consonância com as próprias características de um exigente processo de aprendizagem que concluiu há pouco tempo.

Esta técnica é obviamente demorada e repetitiva. Por vezes, as diferenças entre os resultados finais são mínimas, e é necessário um olhar bem treinado para as detectar. Há muitas semelhanças, e elas não são fortuitas – a impres-são gravada, afinal de contas, além de ser uma técnica artística com larguíssimas tradições em Portugal é também um trabalho de tipo industrial -, entre o dia-a-dia da artista quando se dedica à tarefa de produzir as monotipias e o quotidiano de um operário na sua tipografia. O próprio conceito de série, aqui tão bem aprofundado e desenvol-vido, é um conceito que na sua origem foi apropriado pelos artistas do universo da indústria. Por isso, há de certa forma um parentesco, mesmo que distante, entre as monotipias de Maria José Ortigão Ramos e outras monotipias,

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datadas dos anos 60 e 70, feitas pelo então jovem Richard Serra a propósito de uma espiral, ou de círculos como que em movimento instável. Monotipias que, por vezes, se completavam com desenho a grafite. E há também aqui, claro, uma outra recordação longínqua, a de um também jovem Frank Stella a descobrir as ilimitadas possibilidades da aplicação metódica de uma trincha com tinta sobre a superfície da tela... mas esta já será, já é outra história.

Fica, portanto, a questão do tempo. É o tempo, aquele que cada peça demorou a fazer, e o diálogo que institui com as suas congéneres, que permanece depois da observação atenta da obra de Maria José Ortigão Ramos. O resultado final, e as associações, que poderemos fazer com as muitas imagens que povoam a nossa memória (da delicadeza dos efeitos atmosféricos de uma aguarela de Turner às muitas molduras dentro do quadro que aqui detectamos), será sempre secundário perante o trabalho e o tempo que ele exigiu da artista. Quando começa, ela não pode saber onde terminará. E é possível que isso também não seja muito importante. Desenhar, criar, é como viajar sem destino. Apenas com um caminho a fazer.

Luísa Soares de Oliveira

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Bruno Castro Santos

Bruno Castro Santos nasceu em Lisboa, Portugal, em 1972. Entre 1990 e 1998 viveu nos Estados Unidos, onde estudou Arquitetura no Southern California Ins-titute of Architecture (Sci-Arc), em Los Angeles, tendo posteriormente completado o Mestrado em Advan-ced Architectural Design na Columbia University, em Nova Iorque. Após uma década de prática e ensino da arquitetura, dedicou-se progressivamente às belas artes tendo concluído o Curso Avançado de Artes Plásticas da Ar.Co, Lisboa, em 2012. Em 2013 integra a exposição coletiva Ar.Co Bolseiros e Finalistas’012, no Museu da Cidade, em Lisboa e a exposição coletiva internacional Portas Abertas, no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora. No mesmo ano realiza a sua primeira mostra indivi-dual na Sala do Veado, Museu Nacional de História Natural em Lisboa, com desenhos de grande formato da série RED. Desde então, Bruno Castro Santos tem exposto regularmente em Portugal e no estrangeiro onde se destaca a exposição coletiva de 2015 no CAC Málaga, Centro de Arte Contemporânea. O seu traba-lho integra várias coleções privadas e institucionais tais como Coleção Figueiredo Ribeiro, Coleção do Museu da Presidência da República e a Coleção da Fundação Benetton. Vive e trabalha em Lisboa.

Formação Académica2012 – 2013 Courtault Institute of the Arts, Show casing Art History, London2011 – 2012 Ar.Co. – Centro de Arte e Comunica- ção Visual, Progrma Independente2008 – 2011 Ar.Co. – Centro de Arte e Comunica- ção Visual, Curso Avançado de Artes Plásticas1997 – 1998 Columbia University, New York, USA, Masters of Architecture in Advanced Architectural Design

1991 – 1996 Southern California Institute of Archi- tecture, Los Angeles, USA, Bachelors in Architecture1990 – 1991 Savannah College of Art & Design, Georgia, USA, (Bolseiro)

Exposições Individuais2015 Por Vezes, Certas Vezes, Outras Vezes Museu de História Natural, Lisboa2015 Por Vezes, Certas Vezes, Outras Vezes Palacete Visconde Balsemão, Porto 2013 “Red” - Sala do Veado, Museu Nacional de História Natural, Lisboa

Exposições Colectivas2016 “Open Window to the World: Portu- guese Art of Today” Centro de Arte Contemporánea, Málaga 2014 For a Minute there I Lost Myself Gale- ria Alecrim 50, Lisboa2014 Simpler than Biting An Apple. A Red Apple Galeria Alecrim 502013 Exposição de Finalistas do Arco, Museu da Cidade, Lisboa2011 Exposição de Outono, Ar.co, Almada2010 Exposição de Outono, Ar.co, Almada2009 Exposição de Outono, Ar.co, Almada

Coleções de Arte- Coleção Figueiredo Ribeiro - Coleção do Centro de Arte Contemporãnea de Málaga- Coleção da Fundação Benetton - Coleção do Museu da Presidência

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Maria José Ortigão Ramos

Nasceu em Lisboa em 1956.Vive e trabalha em LisboaTerminou o Curso de Arquitectura na E.S.B.A.L. em 1980

Estudou no Ar.Co Centro de Arte e Comunicação Vi-sual, onde finalizou o Curso Básico de Pintura (2010) e o Curso Avançado de Artes Plásticas (2012). Con-cluiu na mesma instituição o Projecto Individual em Artes Plásticas em Junho de 2015.

Exposições Colectivas2015 Ar.co bolseiros & finalistas 2014, Pavilhão Branco do Museu da Cidade2013 Ar.co bolseiros & finalistas 2012, Pavilhão Branco do Museu da Cidade2012 –2010 Ar.co Exposição de Outono “Open studio”, Quinta de S. Miguel Almada

Colecções de Arte- Colecção Figueiredo Ribeiro

BRUNO CASTRO SANTOS

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1 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

2 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

4 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

3 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

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5 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

6 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

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7 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

8 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

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9 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

10 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

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11 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

12 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 33 x 46cm, 2017

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13 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

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14 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

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15 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

16 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

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17 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

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18 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 58 x 76cm, 2017

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19 SEM TÍTULOLápis de cor e grafite sobre papel, 131 x 190cm, 2017

MARIA JOSÉ ORTIGÃO RAMOS

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1 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

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2 SEM TÍTULOConjunto de monotipias s/papel 21 x 28 cm e 21 x 29,5 cm

Assinadas no verso 2015

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3 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

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4 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

5 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21 x 29,5 cm

Assinado no verso 2015

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6 SEM TÍTULOConjunto de monotipias s/papel 21 x 28 cm e 21 x 29,5 cm

Assinadas no verso 2015

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7 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

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8 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

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9 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21 x 29,5 cm

Assinado no verso 2015

10 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21 x 29,5 cm

Assinado no verso 2015

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11 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

12 SEM TÍTULOMonotipia s/papel 21x 28 cm

Assinado no verso 2015

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13 SEM TÍTULOConjunto de monotipias s/papel 21 x 28 cm e 21 x 29,5 cm

Assinadas no verso 2015

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LAYOUT Atelier Henrique Cayate | Fotografia João D’Olivença / Luis BarataARTE FINAL Atelier Orlando Pires | PRODUÇÃO E ACABAMENTO LusoBIBLOS, Lda.

DÈPOSITO LEGAL 420178/17| N.º EXEMPLARES 500 | JANEIRO 2017